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LEITE
NUTRIÇÃO . PRODUÇÃO . ORDENHA
MAIS PRODUTIVAS
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VACAS COMENDO MENOS E PRODUZINDO MAIS
Mais produtivas e artesanal Rebanhos produzindo mais leite com menos alimento são a nova fronteira da pesquisa agropecuária amigas do meio ambiente
Vacas comendo menos e produzindo mais. É possível? “Com toda certeza”, garante a pesquisadora da Embrapa, Mariana
Magalhães Campos, coordenadora das pesquisas sobre eficiência alimentar em bovinos de leite que vêm sendo conduzidas na entidade. Recentemente, a Embrapa Gado de Leite concluiu seus primeiros estudos com fêmeas da raça Girolando. Outro trabalho vem sendo desenvolvido com fêmeas da raça Gir Leiteiro em lactação. Essas são pesquisas pioneiras em bovinocultura de leite no país. Até então, só havia estudos recentes sobre eficiência alimentar em bovinos de corte. “Na sociedade humana, há pessoas que comem menos do que outras e ganham mais peso; com as vacas é a mesma coisa. Algumas podem apresentar melhores resultados, em termos de produção, alimentando-se em menor quantidade ou igual às outras”, completa. Os estudos possuem aspectos complexos, mas em linhas gerais, o que os pesquisadores fizeram, num primeiro momento, foi observar as características (fenótipos) dos bovinos, que apresentavam potencial para produzir mais, com menos alimento. Em uma segunda etapa, os fenótipos serão associados aos genótipos, que são as características genéticas determinantes do fenótipo. As pesquisas com marcadores genéticos darão à ciência as condições necessárias para se obter vacas mais eficientes, possibilitando uma nutrição de precisão com animais selecionados. Conforme explica a pesquisadora, a identificação de fenótipos qualificados para eficiência alimentar de fêmeas leiteiras nas fases de cria, recria, pré-parto, lactação e período seco, permitirá a geração de uma base de dados consistente, possibilitando a identificação de características genéticas que poderão ser incluídas nos programas de melhoramento de bovinos de leite. Em outras palavras, o produtor poderá encontrar, nas centrais de inseminação e produção de embriões o material genético (sêmen ou embrião) que lhe garanta um rebanho com a melhor relação consumo de alimentos/produção de leite. Isso já é possível com outras características, também genéticas, como resistência a endo e a ectoparasitas, problemas de cascos, conformação, produção de sólidos no leite etc.
Pesquisadora da Embrapa, Mariana Magalhães Campos
Resultados
Um dos primeiros resultados do projeto foi provar que as diferenças de eficiência alimentar podem ter início já na fase de aleitamento das bezerras. Segundo Mariana Campos, “foi possível, de forma pioneira, realizar essa avaliação para diferentes índices como consumo alimentar residual, ganho de peso residual e consumo e ganho residual”. O consumo foi dividido entre o esperado e o observado. Animais com consumo menor que o estimado são considerados mais eficientes comparados aos animais com consumo maior que o estimado. Essa característica foi denominada “consumo alimentar residual”.
Nos experimentos, ao avaliar as bezerras mais eficientes para consumo alimentar residual, os pesquisadores verificaram diferenças na digestibilidade de nutrientes, fazendo com que algumas vacas obtivessem maior digestibilidade da dieta. Também foram encontradas diferenças no metabolismo das proteínas, na fase de aleitamento.
Para chegar a estas conclusões, os pesquisadores monitoraram 80 bezerras Gir e Girolando. Duas ferramentas de pesquisa utilizadas durante a avalição foram a máscara facial acoplada ao animal para mensurar trocas gasosas e a termografia infravermelha, método não invasivo utilizado para indicar alterações biométricas térmicas no metabolismo animal. Os estudos levaram seis anos para ser concluídos.
Benefícios
Para o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Thierry Ribeiro Tomich, a seleção de animais com maior eficiência alimentar contribuirá para a sustentabilidade dos sistemas de produção. Os bovinos são emissores de metano (CH4) na atmosfera, um dos gases com maior potencial de provocar as mudanças climáticas. “Uma produção mais eficiente diminui a emissão desse gás”, afirma o pesquisador.
O pesquisador destaca ainda que, além da sustentabilidade ambiental, a otimização da nutrição animal pode influenciar de forma expressiva na viabilidade econômica do sistema de produção. Segundo dados da Embrapa, a alimentação representa o principal custo da atividade leiteira (entre 50% e 60%), reduzindo a margem de lucro dos pecuaristas. “Vacas que utilizam os alimentos de forma mais eficiente, consomem menos para atingir o mesmo nível de produção e, dessa forma, são mais lucrativos e produzem mais leite por área cultivada”, conclui.
Os trabalhos realizados pela Embrapa Gado de Leite despertaram o interesse da Universidade de Nottingham, na Inglaterra, que possui linha de pesquisa semelhante, estudando raças de clima temperado. A parceria com a Embrapa irá incorporar as raças de clima tropical.
Também são parceiras do projeto a EPAMIG, a Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro, a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, além de várias universidades federais brasileiras.
GENÉTICA leiteira em alta
A venda de animais melhoradores continua aquecida, com valorização de várias raças tanto em leilões quanto dentro da porteira
DIVULGAÇÃO, MARCELO CORDEIRO E GUSTAVO MIGUEL
Ademanda pela genética das raças leiteiras vem se mantendo forte em 2020. A venda de animais melhoradores e de material genético ficou acima do ano passado. Conforme mostra o Index da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA), os números das vendas de sêmen das raças leiteiras foram crescentes a cada trimestre, sendo no primeiro, 4%; no segundo, 15%; e 18% no terceiro trimestre. Isso representa uma venda de 3.969.447 doses, contraponto às 3.526.666 doses do mesmo período de 2019. O relatório também apontou que, de janeiro a setembro deste ano, foram coletadas produzidas 1.773.599 doses contra as 1.328.855 doses do mesmo período de 2019. “A cada nova edição do Index Asbia, estamos seguros em afirmar que o produtor de leite realmente acordou para
o impacto do melhoramento genético na sua atividade. A genética é o único insumo permanente, de elevado custo-benefício e que atua ao mesmo tempo pelo aumento da produção e pela redução de custos”, afirma o presidente da associação, Márcio Nery. Segundo ele, somando leite e corte, 2020 deve fechar com a marca histórica de 25 milhões de doses de sêmen vendidas.
Os pecuaristas também sentem porteira adentro esse aquecimento do mercado. “A procura por machos Guzolando aqui no Espírito Santo é muito grande por conta da velocidade de ganho de peso e da qualidade da carcaça desses animais. A venda de fêmeas também está aquecida, pois elas permitem uma boa produção de leite seja a pasto ou em confinamento”, atesta o criador Carlos Fontenelle, da fazenda Fontenelle, localizada no Baixo Guandu/ES.
Ele seleciona Guzolando há 20 anos, cruzamento produzido a partir da própria base genética de Guzerá. A fazenda Fontenelle é detentora do maior rebanho Guzolando registrado pela ABCZ. Como o foco é a produção de genética, todos os animais são vendidos logo após a desmama. “O índice de recompra é alto. Isso comprova a aceitação que o Guzolando tem no mercado”, reforça. Resultado que o criador credita em parte à dupla aptidão do Guzerá.
Segundo criador Dalton Canabrava Filho, que comanda a fazenda Central Leite, em Curvelo/MG, mercado não falta para o Guzolando. “É preciso ter animais em maior escala para atender o mercado, pois quem compra Guzolando não quer saber mais de outro cruzamento. A rentabilidade é muito boa”, garante Canabrava. São do criatório os primeiros touros Guzolando registrados pela ABCZ.
O rebanho da Central Leite é composto por animais de várias composições raciais dentro do Guzolando, formados a partir de uma genética leiteira de Guzerá e Holandês selecionada de forma criteriosa. “O Guzerá fornece adaptabilidade, rusticidade, bons úberes, boa estrutura e conformação ao Guzolando. São fêmeas muito longevas e que vão registrando um aumento nas lactações a partir da segunda cria. No meu rebanho, a média por lactação está acima de 7 mil kg em 305 dias nas CCG 1/2 e acima de 5 mil kg nas ¼. Tudo isso garante uma rentabilidade maior ao negócio pecuário”, assegura o criador.
Criador de Guzolando e Guzerá Dalton Canabrava
A criadora Mila de Carvalho Laurindo e Campos, da Fazenda Recreio, no município de São José de Ubá/RJ, também vivencia a valorização da genética leiteira em 2020. Com um rebanho composto das raças Gir, Guzerá, Guzolando e Girolando, ela destaca que a seleção criteriosa dos bovinos e os constantes investimentos em melhoramento genético têm garantido a produção de animais de cada vez mais produtivos e eficientes. Uma das ferramentas mais tradicionais e simples para quem faz seleção de animais leiteiros, o Controle Leiteiro é realizado desde a década de 1940 na quando quem tocava o negócio era o senhor Joaquim, avô de Mila. “É uma ferramenta a mais no processo de seleção, uma vez que possibilita identificar os animais mais produtivos e também avaliar a qualidade do leite produzido. Unimos essas informações as obtidas em outras ferramentas, como por exemplo a genômica e o Teste de Progênie”, diz Mila. Vários reprodutores da Recreio participam da prova zootécnica que avalia os touros. A fazenda também genotipa seus animais.
Leilões e vendas de animais
Conhecedor experiente do mercado pecuário leiteiro, o CEO do Grupo MF Rural, Roberto Lucas, afirma que essa tendência de alta nos preços dos animais confirmada em 2020 deve se manter em 2021. “O mercado de gado de leite esse ano foi muito bom. Houve o susto inicial da pandemia em março, mas dias depois o mercado se mostrou consistente. Tivemos até agora um aumento de 43% em valores dos animais ofertados pela plataforma da MF Leilões. Já em relação ao número de animais ofertados e vendidos tivemos um crescimento de 51% comparado ao mesmo período de 2019”, informa Lucas.
De acordo com o CEO do Grupo MF Rural, como o mercado de leite está consistente, esta é a hora de investir na pecuária leiteira para colher bons frutos nos anos que virão.
Mila de Carvalho Laurindo e Campos, da Fazenda Recreio
Fonte: ASBIA