Revista Piloti 2ª Edição

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PILOTI

nº 2 julho/2016 MINHOCÃO - DEMOLIR OU CONTINUAR? Veja a defesa de duas profissionais sobre a polêmica DO PASSADO AO PRESENTE: Conheça um pouco da história da arquitetura da Mesopotâmia e de Chavin de Huantar

PIONEIRISMO E CONTINUIDADE A trajetoria da Mulher e da Arquiteta ´

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´ sumario 4

[ AGENDA ] 2016 É O ANO DA ARQUITETURA EM SÃO PAULO! Confira os principais eventos de arquitetura e urbanismo na cidade de São Paulo... não deixe passar, tá?

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TENDÊNCIAS DA ARQUITETURA Telhado embutido; azulejos; ambientes integrados; retrô.

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[ DEPOIMENTO ] SIGNIFICAÇÕES ARQUITETÔNICAS Com a palavra, Jennifer Novais.

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[PERFIL] MIES VAN DER ROHE Um dos grandes nomes do modernismo e da arquitetura mundial, autor dos aforismos “menos é mais” a “Deus está nos detalhes”.

12 [HOMENAGEM] GABRIEL – BRASIL Depoimentos, desenhos e uma poesia sobre alguém muito especial.

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[VAMOS FALAR DE CIDADE] A AUTOCONSTRUÇÃO E A EXPANSÃO URBANA PERIFÉRICA A origem do processo de autoconstrução e expansão da periferia e seu papel na configuração da cidade.

21 [ENTREVISTA] NABIL BONDUKI Bonduki, arquiteto e urbanista fala sobre o processo de autoconstrução na cidade.

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[BAIRROS] PARI – ENTRE O CARÁTER OSCILATÓRIO E O PROTAGONISMO DE UMA PRODUÇÃO CULTURAL Origem e importância do bairro do Pari dentro do contexto de urbanização e industrialização de São Paulo e a influência da cultura boliviana.

24 [HISTÓRICO] MESOPOTÂMIA A evolução de técnicas construtivas e a representatividade da Mesopotâmia nas construções.

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[HISTÓRICO] CHAVIN DE HUANTAR Conheça a antiga cidade de Chavin de Huantar, no Peru. Importante no processo de construção monumental, sendo parte do conjunto embrionário das civilizações andinas.

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PROTAGONISMO FEMININO NO MUTIRÃO AUTOGERIDO PAULO FREIRE O papel fundamental da mulher na Associação de Construção Comunitária Paulo Freire na região de Tiradentes em São Paulo.

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PILOTI PARTICIPARAM DESTA EDIÇÃO Bianca Nascimento Carboni Bruna Murbach de Oliveira Felipe Vieira de Almeida Jade Guirau (ilustração crônica) Júlia Luna Andrade Juliana Dias Machado João Pedro Oliveira Gabriel Monteiro Giulia Pestana (capa) Larissa Fernandes de Morais

LIVRO- EM DEFESA DO PLANEJAMENTO URBANO O livro de Cecília Lucchese conta um pouco da história do planejamento urbano no Brasil, de 1950 a 1980, além da trajetória de Harry Cole, urbanista carioca.

Larissa Oliveira de Moraes

DA MULHER E DA ARQUITETA A trajetória da conquista feminina no campo da arquitetura e urbanismo, através dos nomes de Lina bo Bardi, Rosa Kliass, Denise Scott Brown, Elizabeth Wilbraham e Zaha Hadid.

Letícia de Pádua Perez

34 [FACHADA] PIONEIRISMO E CONTINUIDADE: A TRAJETÓRIA

38 [PERFIL] LINA BO BARDI Uma mulher de plurais: Arquiteta, designer, cenógrafa, ilustradora e editora.

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[POLÊMICA] MINHOCÃO – DEMOLIR OU CONTINUAR? A discussão ganha a defesa de duas arquitetas-urbanistas, Cecilia Lucchese e Ana Carolina Carmona. Dentro de cada polêmica cabem múltiplas facetas de reflexão.

50 [ LE CRONIQUIER] DA SENSIBILIDADE AGREGADA A história de Simone.

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[DETALHES] Espaço para outras artes que também estão em nossas vidas.

56 [CHARGE] Porque arquiteto não é decorador.

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Larissa Soares Machado

Mariana de Freitas Gomes Mayara Almeida Matheus Wey Tatyanne Yukie Vitor Nascimento Oliveira


editorial editorial Está edição pode ser facilmente contemplada por um verbete conhecido:

[“Colaboração”- Ajuda, auxílio, trabalho em equipe em prol de um objetivo comum. A colaboração, por conseguinte, é uma ajuda que se presta para que alguém possa fazer algo que, de outra maneira, não teria conseguido fazer ou só com muita dificuldade. ] A criação de uma revista é uma grande aventura, vivenciada na coletividade; um experimento com as palavras, pode-se assim dizer; e em seguida a preocupação em inserir a matéria de forma visualmente agradável – aventura na comunicação visual para muitos aqui... Sim, a palavra dessa edição é a colaboração. Cada página possui a marca da nossa equipe, com a vontade de tentar algo novo, aprendendo uns com os outros, sempre. Agradeço a todos que tiveram vontade de pesquisar, e dedicar um tempo dentro dessa rotina tão agitada para um trabalho além das obrigações. E o resultado? Uma edição completíssima, com certeza! Afinal, tendo em vista a Arquitetura e o Urbanismo, sempre existe algo a se dizer. Um abraço!! Revista Piloti

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AGENDA

2016 É O ANO DA ARQUITETURA EM SÃO PAU L O!

Por Júlia Luna

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ós sabemos que o tempo livre é difícil (e como sabemos!), mas nem só da faculdade vive um futuro arquiteto. É importante também, que se esteja em constante contato com novas experiências e descobertas arquitetônicas. Então vale a pena reservar um tempinho e aproveitar a oportunidade de participar de importantes eventos como os que listamos abaixo, que vão acontecer nesse ano de 2016 em São Paulo. E lembre-se: não deixe que a faculdade atrapalhe seus estudos!

11ª edição Bienal de Arquitetura de São Paulo A Bienal de Arquitetura de São Paulo organizada pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) se distancia da forma tradicional de fazer bienais uma vez que contará com exposições, instalações, seminários, oficinas e outros eventos em diversos espaços públicos da cidade, que serão ocupados por profissionais e jovens arquitetos durante o período do segundo semestre de 2016 até 2017.A Bienal promove a discussão e reflexão sobre temas relacionados à área, e esta foi intitulada como “Em Projeto”, e questiona o significado do termo “projeto” a fim de abrir caminhos e discussões sobre as possíveis formas de se “fazer” cidade. As informações são acessíveis até mesmo para leigos, colaborando com o enriquecimento e aprendizado daqueles que participarem do evento.

DISPONÍVEL EM: http://images.adsttc.com/media/images/551e/ea1c/e58e/ cef2/4700/01c9/large_jpg/6693115587_a08ea02d14_b.jpg?1428089368

Fonte: AU Pini e IAB

Latin America in Construction: Architecture 1955-1980

DISPONÍVEL EM: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/ canal/imagens/i468837.jpg

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Exposição inaugurada recentemente, já realizada no MoMa (Museu de Arte Moderna de Nova Iorque) nos EUA, vai ter sua próxima edição na cidade de São Paulo. É considerada a maior exposição sobre arquitetura latino-americana e trará ícones sobre o modernismo de diversos países do continente, entre eles o Brasil, é claro, com obras de arquitetos ilustres como Paulo Mendes da Rocha, Lucio Costa, Lina Bo Bardi, Vilanova Artigas, Affonso Eduardo Reidy, Oscar Niemeyer, entre outros. Tal exposição é de grande importância tanto para profissionais da área, como para estudantes de arquitetura que buscam inspirações (nacionais e internacionais). Assim, para aqueles que visitarem a exposição será possível expandir o repertório arquitetônico e tomar conhecimento do que é produzido fora do Brasil e como esses projetos têm influência sobre o que é produzido aqui. O Museu da Cidade será a entidade representante da edição paulista do evento.


Bienal Ibero-Americana de Arquitetura e Urbanismo (BIAU) Essa exposição foi adiada recentemente devido a problemas que inviabilizavam sua execução e ainda não foi apresentada uma nova data. Também aconteceria no Parque do Ibirapuera, no Pavilhão da Bienal (Pavilhão Ciccillo Matarazzo) projetado por Oscar Niemeyer. Promovida pelo Ministério de Fomento do Governo da Espanha em parceria com o Conselho Superior de Arquitetos da Espanha, esta era a oitava edição do evento e segunda em território lusófono, sendo que a primeira edição aconteceu em Lisboa (2008). O evento aconteceria entre os dias 4 e 8 de julho na cidade de São Paulo e estava sendo organizado pelo Departamento de São Paulo do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) sendo que, além de promover a divulgação de pesquisas, trabalhos, projetos e discussões sobre arquitetura, tanto de profissionais como de estudantes da área, a exposição contava com a presença dos arquitetos espanhóis Ángela García de Paredes e Ignacio García Pedrosa como comissários do evento, que busca promover a expansão e interação entre a arquitetura profissional e acadêmica, bem como entre a nacional e internacional.

DISPONÍVEL EM: http://www.cidadedesaopaulo.com/sp/images/stories/fotos_bienal/ bienal_093f.jpg

ENEA SAMPA 16 O ENEA é o Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura e terá a edição de 2016 sediada na nossa querida cidade de São Paulo! É um evento organizado anualmente pela FeNEA (Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil) que é composta por estudantes de arquitetura de diversas faculdades, inclusive, a Comissão Organizadora dessa edição possui como integrantes, alguns alunos do IFSP, olha só que orgulho! A proposta do ENEA é proporcionar a integração dos estudantes entre si, com palestras, debates, apresentação de trabalhos e oficinas; e também promover a integração com a cidade, através da apropriação de espaços públicos para a realização das atividades do evento. Essa edição está bastante focada na mistura, ou seja, em proporcionar um evento bem heterogêneo, que alcance pessoas do Brasil inteiro. O ENEA acontece durante uma semana e está previsto para o mês de agosto. Para mais informações, fiquem ligados na página no facebook: ENEA SAMPA 16:

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AGENDA

INTERFAU

DISPONÍVEL EM: https://scontent.fgru5-1.fna.fbcdn. net/v/t1.0-9/308091_389304961140091_156653992_n. jpg?oh=b6bf2a238d6b14a22faa68fcc3368b63&oe=583368B0

Tá aí um evento que os estudantes curtem viu?! Depois de um semestre bem puxado (que todo estudante de arquitetura sabe como é!); nada mais justo que 9 dias de jogos, festas, piscina, sol e muita curtição, não é mesmo? É isso mesmo: 9 dias de muito amor! É tradição em muitos cursos, a realização de eventos de integração e jogos entre as faculdades, e a arquitetura não fica para trás não: o evento é um dos inters de maior duração e acontece normalmente na “semana do saco cheio” no mês de setembro, em algum lugar do interior de São Paulo, sendo que nos últimos dois anos foi realizado em um camping na cidade de Caconde. Quem já participou de alguma edição só tem boas histórias para contar e com certeza não deixará de ir de novo!

DISPONÍVEL EM: https://scontent.fgru5-1.fna.fbcdn. net/v/t1.0-9/1016991_537684932968759_2096218607_n. jpg?oh=4f4d204a1defc75bfb2bf7ff99bafbe4&oe=57EC55F8

Esses foram alguns dos eventos mais significativos do ano em SP, mas não dá para esquecer das diversas visitas guiadas e exposições que nossa cidade nos oferece todos os dias! É só se informar e pesquisar, que com certeza será fácil encontrar um rolê cultural pela cidade. Por onde quer que seja a visita, o que importa é abrir os olhos para admirar essa bela cidade que nos presenteia a cada dia com novas formas de expressão, arte, arquitetura e intervenções no espaço urbano, formando uma verdadeira exposição a céu aberto.•

DISPONÍVEL EM: http://woomagazine.com.br/wp-content/uploads/2016/01/12509768_204497299896834_8130109189487268793_n.jpg

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Tendências da arquitetura

por Larissa Fernandes

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elhado embutido: Com a cada vez maior utilização de ângulos retos na arquitetura, influência direta do Modernismo (tomemos como base obras como a Casa de Vidro e o MASP, ambas da arquiteta Lina Bo Bardi), os telhados tradicionais, com grande inclinação, aparentes e de telhas cor-de-laranja, têm desaparecido, dando lugar a telhados “invisíveis”, que não aparecem na fachada e parecem não estar lá. Com inclinação infinitamente menor, os telhados embutidos, se não forem bem pensados, podem acarretar problemas relacionados à infiltração de água. Por este motivo, este tipo de telhado pede por calhas com maior vazão, possibilitando uma maior resistência às intempéries climáticas. Esteticamente, os ângulos retos possibilitam um projeto mais limpo e conciso.

Fonte: http://estudio12b1.hospedagemdesites.ws/wp-content/uploads/2016/06/sobrado18.jpg

Volta dos azulejos: Os azulejos são herança da época colonial, advindos da cultura portuguesa para o Brasil. Durante vários momentos na arquitetura brasileira, este revestimento foi utilizado, e ele volta com força neste ano. Usando motivos mais geométricos e com uma nova releitura de cores, ele esteve fortemente presente na Exporevestir 2016. Fonte: http://bangalow.com.br/wp-content/uploads/2016/05/Azulejaria-Estúdio-Mosaico-585x390.jgp

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Ambientes integrados: Com uma diminuição dos espaços dentro de uma casa, e as pessoas vivendo em apartamentos cada vez menores, cada vez mais as separações entre ambientes, principalmente entre sala e cozinha, estão deixando de ser feitas por uma parede sólida, e passando a ser feitas por balcões, ou até deixando de existir. A fluidez apresentada nesta configuração, se combinada com uma grande janela em fita ao fundo, transforma o ambiente, tornando-o mais agradável e aberto. Ideal para dar uma maior dimensão a espaços pequenos, a integração entre ambientes vem se impondo e sendo utilizada com maior frequência. O uso de vidro como ‘divisória’ permite que a ideia de fluidez permitida pelos ambientes integrados continue, sem afetar uma divisão mais precisa dos ambientes do espaço.

Fonte: http://encrypted-tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ7mpNXp4bPxKWCwxEctk86IQUJzFZoHgHEz-JbugMMEWpVbGVEyzaaWahp0

Retrô: há algum tempo, vem aparecendo uma tendência ao retrô, na moda, na decoração e, também (claro), na arquitetura. A volta ao uso de cores vivas nos ambientes (principalmente na cozinha e na sala), de forma equilibrada e precisa, nos remete aos anos 70, e esta tendência vem sendo muito observada. Móveis antigos restaurados, eletrodomésticos moldados da mesma maneira que reinava no mercado durante a segunda metade do século 20 vêm sendo cada vez mais utilizados. Também nos papéis de parede esta tendência é observada, surgindo cada vez mais motivos florais, que nos remetem ao tempo do “flower power”. • Fonte: http://www.delavie.com.br/blog/wp-content/uploads/2016/01/12.jpg

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depoimento

SIGNIFICAÇÕES ARQUITETÔNICAS Por Jennifer Novais

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rquitetura é coisa de menos. Menos impossibilidades, menos quadradismo, menos “mais do mesmo”, menos ”ih, isso aí não fica de pé”, menos seguir o curso do rio. Menos é mais, quem diria. Bendito seja Rohe, que conseguiu fazer o menos ser tão mais em uma só frase. Ser arquiteto – ainda que não formados merecemos crédito na praça – é muito mais que levantar projetos inanimados. É bem mais que decorar a casa da tia de graça, ou receber o prêmio Pritzker por um bom trabalho. Ser arquiteto é saber, antes de usar o AutoCAD, construir relações. Nós não fazemos casa de bem-bonito-aos-olhos sem motivo. Todo projeto abriga uma vida, que sem a qual não tem valor nenhum. Por mais genérica que a arquitetura às vezes seja, ela está ali de alguém para alguém. Para alguéns. Acho que o entra e sai das portas que pensamos em cada planta é o que nos move, afinal. O curso de arquitetura do Instituto Federal ensina, antes de qualquer coisa, que é preciso ter paciência. Que nem tudo sai como o planejado. Que nem sempre temos o instrumental necessário para dar o nosso melhor trabalho. Que a gente precisa aprender a lidar antes de aprender a projetar. E é exatamente isso que resume, ao meu ver, a arquitetura. Saber lidar com o que temos para criar o que não temos ainda. Para fazer chabadabadá a partir do nada. Além disso, o IFSP também ensina o quão importante são as relações. O quanto a vida é interdisciplinar e que existe um pouco de todos os cursos em cada curso. Um pouco de todo mundo em cada um. Para definir com propriedade, o curso que estamos construindo é fruto inteiriço das ligações entre aluno-aluno, professor-aluno e aluno-espaço que criamos durante esse tempo. Um curso feito de fora para dentro, através de vínculos e do tempo (este que, como bem disseram os maias, é como aranha: tece devagar). E é isso. Em tempo: eu só gostaria de dizer que é bom arranjar outro adjetivo para definir a graduação em arquitetura, porque, dentro de tanta grandeza, “curso amor” não dá conta mais.

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perfil

MIES VAN DER ROHE por Vitor Oliveira

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e “menos é mais” a “Deus está nos detalhes”, os aforismos de Mies van der Rohe servem para expressar de maneira lacônica os princípios do arquiteto que é considerado um dos grandes nomes do modernismo e da arquitetura mundial. Refletindo os interesses e valores de sua época, Mies se afastou de movimentos como o art-nouveau em direção àquela que considerava ser a verdadeira arquitetura, de edifícios industriais e que refletiam a pura técnica de construir. Nascido em Aachen, na Alemanha, no dia 27 de março de 1886, Maria Ludwig Michael Mies adotou o nome Ludwig Mies van der Rohe quando começou a trabalhar efetivamente como arquiteto, apesar de não ter uma formação acadêmica formal. Até seus 19 anos o contato com seu pai Michael Mies, que trabalhava com o corte e desenvolvimento de peças em pedra, ajudou a desenvolver em Mies o respeito pelos materiais que ele carregaria em suas obras. Em 1905 mudou-se para Berlim onde começou a trabalhar com Bruno Paul, o que o levou ao seu primeiro projeto conhecido como Riehl House (1907), de estética mais clássica alemã. Ingressa em 1908 no escritório de Peter Behrens, onde trabalharam nomes como Walter Gropius e Le Corbusier, sendo influenciados pela visão modernista e do design industrial de Behrens. Com o tempo o trabalho de Mies foi cada vez mais reconhecido, trabalhando principalmente em projetos residenciais para famílias de classe alta em Berlim. Em 1925, porém, Mies realizou o Weissenhofsiedlung (ou, em tradução live, o assentamento de Weissenhof), uma exposição que serviu para difundir o estilo internacional e desenvolver ideias para unidades habitacionais durante o período entre guerras, no qual convidou 12 arquitetos que realizaram projetos que exploraram novos materiais, ideias de arquitetura e design, e conceitos de habitação, além de ter um grande vínculo com a produção industrial da época. 1929 foi o ano em que concebeu um de seus principais projetos: o pavilhão alemão para a feira mundial de ’29 em Barcelona, mais conhecido como Pavilhão Barcelona. Este sintetiza alguns dos principais conceitos do arquiteto, como a geometria precisa, o minimalismo, e a expressividade dos materiais, presente não só no uso de materiais exóticos como o mármore, ônix e travertino, mas também nos materiais industrializados, como a estrutura metálica e o vidro. Também é possível perceber que o espaço se torna amplo, com poucas divisórias, e com uma permeabilidade possível pelas paredes de vidro, além de ter seu volume construído por linhas perpendiculares entre si, demonstrando a simplicidade expressa na frase “menos é mais”. Para o pavilhão também foi projetada a famosa cadeira Barcelona, um dos ícones do design de mobiliário que perdura até hoje na arquitetura de interiores.

10 | piloti Fotografia Antonio Moutinho


Mies van der Rohe tornou-se diretor da Bauhaus em 1930, sucedendo Hannes Meyer, trazendo ao currículo da escola um foco maior em forma e função, por meio da arquitetura e do design de interiores, em detrimento das discussões ideológicas e outras disciplinas artísticas. Isso acabou causando atrito entre o diretor e o corpo discente mais radical da Bauhaus. Em 1932 a instituição fechou por pressão do governo nazista da Alemanha, mas continuou com algumas operações até o ano de 1933 em Berlim. As atividades como educador continuaram quando Mies se mudou para os Estados Unidos, onde se estabeleceu como diretor da Escola de Arquitetura do Armour Institute em 1937, sendo depois responsável pelo projeto de remodelação e construção do campus do agora denominado Illinois Institute of Technology (1939), outro projeto notável por ser uma universidade completamente projetada por um arquiteto modernista, que também redefiniu o currículo de Arquitetura do instituto. Com o crescente número de comissões, Mies resolveu sair do IIT em 1958 para focar em seus próprios projetos. Já aos 72 anos o arquiteto projetou outro importante edifício para a sua carreira: o Seagram Building (1958). Com 39 andares, o Seagram é o maior dos trabalhos de Mies, e é famoso por suas janelas cor de âmbar e estrutura em steel frame, além de conter uma praça com uma fonte em sua entrada, garantindo um espaço público em Manhattan. Em seus últimos anos o arquiteto concluiu o projeto da Neue Nationalgalerie (1968) em Berlim, considerada por muitos um testamento da arquitetura moderna e dos princípios que nortearam as obras de Mies van der Rohe, com suas paredes de vidro sustentadas por uma estrutura de metal de dois andares. Mies faleceu em Chicago no dia 17 de agosto de 1969 de um câncer de esofago, e deixou um enorme legado que influenciou e influencia a obra de diversos arquitetos que percebem nele os preceitos de uma arquitetura que preza pelos seus materiais e por sua técnicas construtivas. A simplicidade, leveza e elegância, perceptível em projetos como a Casa Farnsworth (1951), e a visão e pioneirismo do Edifício de Escritórios Friedrichstrasse (1921) que, apesar de nunca construído, previu um modelo que no futuro seria amplamente utilizado em edifícios corporativos, demonstram o talento e a capacidade de Mies de projetar ambientes únicos, e de influênciar diversas gerações de arquitetos, seja quanto a técnica, expressividade ou escolha de materiais. Mies não só disse como provou que ao projetar espaços o arquiteto deve estar atento a cada escolha, pois “Deus está nos detalhes.” •

Bibliografia: http://www.miessociety.org/ BLASER, W. Mies van der Rohe. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

Fotografia Yousuf Karsh

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homenagem

GABRIEL Brasil

No dia 7 de Abril nosso querido amigo e colega Gabriel da Silva Santos, conhecido carinhosamente pelo apelido “Brasil”, faleceu e sua ausência ainda é sentida por todos que fizeram parte de sua vida. Decidimos então dedicar um espaço na edição desse semestre da Revista Piloti para homenagear essa pessoa que tanto nos marcou com seu jeito único de ser. Para tanto, convidamos três pessoas próximas do Brasil que, por meio de palavras, puderam expressar seus sentimentos. Também convidamos alunos da arquitetura para nos mandar desenhos que pudessem deixar registrada toda a vida e luz que Gabriel emanou.•

12 | piloti Fotografia Gabriela Russo


Gabriel, um arquiteto humano

ou um humano arquiteto?

por Bianca Alves de Jesus

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lha, ele parece o Brasil! Vamos chamá-lo de bixo Brasil!”; “Olha que cabelo lindo!”; “Aquele do cabelo bonito?”; “O que fica no bar?”; “Aquele que só vai às aulas que gosta?”. Mais que um futuro arquiteto e urbanista, o Gabriel da Silva Santos era um grande pensador sobre a realidade das cidades brasileiras. Escrevia seu caminho com a calma, a tranquilidade e a delicadeza que um escultor produz a sua obra: não faltava paciência pra arrumar cada detalhezinho que parecesse não estar de acordo e não havia pressa de acabar cedo, não. Apelidado de Brasil no dia do trote(ou Bra para os íntimos), o Gabriel era uma figura incrível e absolutamente única: com seu estilo exuberante, exalava bons perfumes, visuais, acessórios e simpatia. Seus projetos costumavam ser grandes demais para folhas do tamanho sugerido e tampouco para serem finalizados – o Bra tinha a necessidade de pensar muito antes de fundamentar qualquer ideia ou concepção. “Arquitetura não pode ser monumental”; “quero que as pessoas andem assim ó, e, do nada, ah! Uma capela!”. O Bra também acreditava no poder da arquitetura em escala humana, e, mesmo que sempre desenvolvesse projetos espaçosos, usufruía da maneira mais eficiente de fazê-la se esconder por dentre os edifícios já existentes. Mas agora, se é que me permitem, vamos fugir um pouco da arquitetura: O Brasil era uma pessoa muito iluminada e todos que tiveram a oportunidade de o conhecer sabem do que estou falando. Lembro-me de um dia em que estava em dúvida se ia a uma oficina de modelo vivo organizada pelo núcleo de desenho do IFSP, e ele me disse: “A vida vai embora e você não vai aproveitar o que tem de bom, Bianca! Vai lá e seja feliz. Quer saber? Eu vou também!”. O Bra, mais do que qualquer outro, sabia o valor da vida e tentava não perdê-lo mesmo que estivesse em semanas de prova; Até mesmo se estivesse estourando em faltas de alguma matéria... Ele deixaria de ir à aula se tivesse um motivo maior, como o desenvolvimento de um projeto novo ou até mesmo assistir a outra aula que abordasse um assunto de seu interesse. Virava a noite desenvolvendo ideias, mas não virava cumprindo responsabilidades que não o levariam a nada. Ele sabia mais do que ninguém que a vida de um universitário pode ser sim calma, tranquila e feliz: bar duas vezes por semana; aulas pesadas só se estivesse no clima; muita pesquisa por conta para aprender tudo o que queria. No dia em que soubemos que o Bra tinha nos deixado, foi um choque imenso. A notícia foi recebida pouco antes de chegar à aula de modelagem, aula da qual o Bra sempre gostou, porém achava um pouco chato ter que entregar maquetes sobre coisas repetidas, e há menos de um mês ele tinha passado cerca de duas horas numa papelaria escolhendo os materiais que utilizaria em sua próxima maquete, mesmo não fazendo mais a matéria. Nós, universitários, sempre achamos que devemos fazer escolhas na nossa vida, que devemos deixar de ter lazer, deixar de conviver com a família para conseguirmos nos dedicar à vida acadêmica, mas pasmem: Gabriel fazia os melhores doces da família, possuía a maior quantidade de amigos que você pode imaginar e se divertia em tudo o que fazia, porque esse era seu objetivo de vida. Comprava infinitos livros para que pudesse ler, e possuía os melhores papos sobre urbanismo que você pode imaginar: tudo isso sem deixar nada de lado. Saudades ficarão, sejam elas da sua risada, do seu carisma, do seu sonho de trabalhar no escritório do Angelo Bucci (SPBR), do seu sonho de projetar um bar, da sua vontade de ser você mesmo sempre sem ofender nem desrespeitar ninguém. Da sua arquitetura humilde, e, acima de tudo, humana. Que vivamos, projetemos e amemos mais como o Gabriel. •

“Que vivamos, projetemos e amemos mais como o Gabriel”

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RAIO DE SOL homenagem

por Vanessa Acquaviva Carrano

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e tem uma coisa que eu sei é que a amizade salva e torna tudo melhor. Você pode amar uma pessoa e não ter amizade com ela, porque uma coisa não exclui a outra... mas complementa. Cheguei então a conclusão de que a amizade é um dos afetos mais importantes que existe, porque independente da relação que você tenha com a pessoa, é na amizade que você encontra compreensão ao invés de julgamentos e cobranças. Então a amizade se torna um dos amores mais sinceros, porque na amizade você ama alguém por aquilo que ela é e não pelo que você quer que ela seja. Acho que é por isso que em meio a tantos desapontamentos, são os amigos que nos consolam. E eu tive um dos melhores amigos que alguém poderia ter, daqueles que você ama incondicionalmente... Ele era como um raio de sol, aquecia o coração das pessoas ao redor e, ainda que eu sinta a falta dele cada vez mais e que isso se torne mais difícil a cada dia, eu só consigo agradecer por tudo, desde o dia em que o conheci, até o dia que dei o último abraço e desci na minha estação. Eu conheci meu raio de sol no primeiro dia de todos na faculdade, estava chovendo e nós bixos estávamos só esperando o que ia acontecer no trote. Então eu vi um par de olhinhos meigos de um garoto que também estava marcado na montagem dos bixos de arquitetura... eu reconheci você e aquela foi a primeira vez que te vi olhando fixamente para mim, nunca esqueci esse momento. Aí então fomos para essa primeira recepção e como nós ainda éramos poucos, foi fácil enfileirar a gente no muro e começaram os apelidos. Você estava do meu lado e chegou a sua vez, então a moça que estava nomeando a gente olhou para você e disse: “Você vai ser o Brasil!” E naquela hora ninguém entendeu nada, mas esse foi um nome que nunca mais foi esquecido. (Durante a jornada, não importava onde a gente estava, sempre ouvíamos do nada alguém diferente gritando: “Brasiiil!” E dava pra sentir na entonação da voz das pessoas a alegria que você causava por simplesmente estar ali, por você ser simplesmente você. E eu confesso que é muito estranho não ouvir mais essas exclamações todos os dias.) Então fomos lá para fora e começaram a voar as tintas... na verdade foi você que fez voar tinta em um cara que jogou um pote inteiro de guache em você. E ele não gostou muito de você ter jogado o excesso de tinta verde de volta e você logo soltou a frase: “Ué, mas se a gente tem que levar na brincadeira, eles também têm!”. Tão engraçado lembrar desse dia, porque você não deixou ninguém tocar no seu cabelo (E que cabelo, hein. Quem amaciou, cheirou e admirou esse cabelão sabe do que eu tô falando.) E eu podia jurar que você era uma pessoa que podia ficar brava... mal sabia eu que era só impressão e que você na verdade era a pessoa que carregava o sorriso que curava a gente. Bom, claro que você também perdia a paciência de vez em quando, por incrível que pareça..., mas até sua braveza era leve. A próxima lembrança que me marcou, foi a primeira vez que eu ouvia sua risada. Aquela mesma: inconfundível, gostosa, que puxava as outras ao redor e que ia bem a qualquer hora. Nós estávamos lá espalhados pelos bancos e sofás daquele galpão que virou marmiteiro, então não mais que de repente soou aquela gargalhada pelo salão. Eu não sei o que você achou engraçado, mas eu ri sozinha e na mesma hora já ouvi alguém da nossa turma rindo também e comentando como a risada do Brasil era engraçada... Bom, e a outra “primeira lembrança” que me marcou; foi o dia que eu fiz você dar risada pela primeira vez. A gente estava lá no ateliê e eu nem lembro a besteira que falei, só me lembro de você rindo e de eu ter ficado feliz em ouvir aquela risada de novo. (Acho que logo eu me tornei viciada naquela risada, porque até hoje me pego esperando ouvi-la em situações que eu sei que você acharia algo engraçado. Aquela risada única que era como uma música que todo mundo gostava de ouvir, minha música favorita... natural, verdadeira, bonita, cativante, reconfortante, alegre, inconfundível, linda que só ela.) E assim foi. De repente a gente estava desenhando, conversando, comendo, enchendo a cara, rindo juntos... e você se tornou alguém fundamental na minha vida, daqueles amigos que são como almagêmea, com quem a gente compartilha amores e divide desde as coisas mais simples até os valores mais profundos. Quando eu vi, já estava completamente apaixonada pela forma como você interagia com o mundo.

“Com você era tudo melhor. Porque se tem uma coisa que você trouxe, essa coisa foi alegria.”

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Às vezes eu largava tudo o que eu estava fazendo só para te dar um abraço, me demorava um pouco ali, depois voltava... Porque você abraçava como ninguém. Quem já teve a oportunidade de se perder nos seus braços, não sabe a sorte que tem. Com você era tudo melhor. Porque se tem uma coisa que você trouxe, essa coisa foi alegria. E era tão bom, você trazia consigo aquele conforto que a gente só sente com a presença de uma pessoa muito querida. Até a sua teimosia encantava, porque sua resistência se tratava apenas em não deixar que mudassem o seu jeito único de levar a vida. E teve gente que aprendeu muito com isso. As suas histórias, as suas ideias, sua forma de viver... era tudo tão seu, tudo tão original. Quem imaginaria que uma pessoa como você há uns anos atrás no seu técnico colocou um lustre de dez mil reais em um projeto, ou que degustou sei lá quantos tipos de água só para projetar... Era lindo ver a sua paixão na arquitetura, singular e teimosa, que não se prendia a nenhuma limitação e que se desenvolvia de uma maneira tão... sua. (Vide exemplo do projeto da capela, que tinha mais de 1.000 m² quando era para ter no máximo 36 m² - com direito a obelisco e ao seu famoso anfiteatro.) Você e sua singularidade. E quando surgiu o deboísmo e aquilo era totalmente você?? É, aquilo foi sensacional. Sabe, é difícil expressar como você foi uma pessoa incrível e falta que você me faz. Você marcou a vida de tantas pessoas de um jeito tão bom, tudo o que você trouxe para gente não tem preço. Você é um daqueles que faz a gente compreender que nem todas as pessoas são difíceis de lidar e que a convivência pode ser algo prazeroso sim, porque você não deixava nenhuma adversidade afetar o seu jeito de ser e sempre fez a gente feliz. Não é à toa que foi você o motivo de eu ter força para continuar tantas vezes. Você dizia que eu tinha mania de sumir e que a frase que você mais falava porque repetia ela umas três vezes por dia era: “Cadê a Vanessa?!”. Mas agora a situação meio que se inverteu, não é mesmo? Ainda assim, a sua presença continua tão viva. A sua voz ainda está fresquinha na memória, seu jeito de falar, suas frases, seus bordões... Só é esquisito não ter você aqui do nosso lado, com o seu caminhar e o jeito que você tinha de subir ou descer cada degrau de cada vez. Toda hora ainda dá aquele impulso de virar e te mostrar alguma coisa, contar algo, rir de alguma referência, fazer uma pergunta, tentar montar algum quebra-cabeça alcoólico que a gente tinha, ou só te abraçar e gritar que você é lindo e cheiroso. Até as surpresas fazem falta, não só as coisas previsíveis. Porque se tem uma coisa que a saudade faz, é crescer. A despedida foi cedo demais, aquelas últimas duas semanas de preocupação e saudade não foram fáceis... e tudo o que veio depois era inacreditável. Mas por você eu enfrento os dois lados e eu só tenho a agradecer por cada momento que vivi contigo. A perda é como dizem... irreparável. E não dá para descrever a dor de não ter você aqui. Mas o que permanece é o seu dom da alegria constante, porque você deixou um rastro de felicidade por onde passou. Você faz parte de mim, você faz parte da identidade da arquitetura. Obrigada por ter sido quem você foi, Gabriel. Você foi a melhor pessoa. A sua companhia foi uma das coisas mais preciosas que eu já tive e te amar tanto valeu muito a pena. Sinto sua falta o tempo todo, de todo o tempo que tem..., mas estar ao seu lado foi uma honra. Eu sempre vou te amar. •

Inspiração num grande amigo para alguns versos, para a vida por Marina Miraldo

Esse grande amor que guardo Juro guardar pela eternidade O verdadeiro significado de amizade Está nas dobras do seu riso, a eternidade do seu sorriso. Como diziam de um melhor arquiteto Constrói barreiras permeáveis de amor Dono de todos os ruídos pulsantes e de toda cor É arquiteto de felicidade

E este destino implacável, tortuoso, que esmorece Não conseguirá mudar esta sua lição de alegria Pois viverá para sempre em nossos corações. Meu amigo, obrigada por me ensinar que o valor da vida está nas pequenas coisas, num momento de risada, num abraço apertado, num olhar sincero. O seu brilho é um presente, é onipresente, é eterno. Muito obrigada por tudo! Da sua sempre, Marinanina.•

Amigo irmão das melhores recordações Parceria eterna Mostre-me o caminho da sua paz

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homenagem

Vanessa Acquaviva

Mateus Wey Bianca Alves

arissa Fernandes

Juliana Dias Larissa Fernandes

Julia Medeiros

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Mayara Almeida

Vitor Oliveira


Daniela Gonçalves

Valéria Frajuca

Erika Tempobon Erika Tempobono

Mayara Barbosa

Mayara Barbosa

Letícia Padua

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A AUTOCONSTRUÇÃO

vamos falar de cidade

QUAL O PROPÓSITO DO SALÁRIO MÍNIMO? É definir um piso limite de valor do trabalho que ofereça, ao trabalhador, acesso aos requisitos mínimos necessários para viver. Assim, o custo do salário seria o valor necessário para alimentação, moradia, etc. Assim, quanto maior o custo de vida, maior deveria ser o salário.

O QUE É PROVISÃO? É um conjunto de ações necessárias para que a construção da moradia aconteça. A moradia pode ser oriunda de provisão formal ou informal.

Bibliografia: BALTHAZAR, Renata Davi Silva. A permanência da autoconstrução: um estudo de sua prática no município de Vargem Grande Paulista.

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Q

uem vivencia a cidade de São Paulo está acostumado a ver as favelas onde sobrevivem a parcela da população com menor renda ou pelo menos é conhecedor da sua existência. E quem nunca viu aquela casa na periferia da cidade, sem adornos e acabamentos que aparentemente não foi feita por um profissional da área? Mas a pergunta mais importante é: quantas dessas pessoas pararam para pensar sobre a origem dessa forma de habitação e seu papel na configuração urbana da cidade? A verdade é que essas favelas, constituídas de moradias autoconstruídas por seus usuários, assim como muitas casas localizadas na periferia da cidade, contém na sua origem e trajetória relação direta com Tratava-se de a desigualdade social e segregação espacial da atual metrópole de “um modelo de urbanização São Paulo. Para que essa relação sem urbanidade, que destinou seja estabelecida e analisada voltaremos no tempo, com base para os pobres uma não-cidade, nos dados apresentados na longínqua, desequipada e, sobretudo, dissertação de Renata Balthazar desqualificada como espaço e como – Arquiteta e Urbanista com graduação e Mestrado na FAU lugar. ” USP e atualmente dona de uma (ROLNIK, 1997, p.53) empresa de construção e arquitetura que tem por objetivo oferecer uma alternativa contemporânea de moradia por um preço acessível - que tratam da crise habitacional no período em que a cidade agroexportadora se transforma na cidade capitalista e industrial. Muitos já ouviram nas aulas de história que o Brasil teve sua industrialização tardia e de forma acelerada e desordenada, atrelada a esse crescimento acelerado da metrópole industrial está a crise habitacional. A quantidade de casas de aluguel não atendia a demanda por habitação, os cortiços foram estigmatizados como locais insalubres e passaram a ser proibidos na área central, levando à expulsão da população mais pobre para a periferia. Essa população de baixa renda, expulsa do centro, passa a autoconstruir em lotes invadidos, dando origem


E A EXPANSÃO URBANA PERIFÉRICA

Por: Larissa Machado

“ A moradia de aluguel foi uma solução para os operários e também para a classe média. Pela alta rentabilidade que gerava para seus investidores, predominou na cidade de São Paulo até a decada de 1940, quando transformações políticas e econômicas desestimularam o investimento privado nesse setor.”(BALTHAZAR, 2012, p. 37). Um dos fatores que influenciou nesse desestímulo foi o congelamento dos preços do aluguel, que também conteve a elevação dos custos do salário. Com o desinteresse do setor na provisão de moradias populares e o Estado sem condições financeiras para solucionar o déficit-habitacional instaurou-se a crise do aluguel, que contribuiu para o agravamento da crise habitacional. Quando a escassez de moradias passa a afetar a classe média, a questão habitacional se torna pauta nas discussões do governo “O auto empreendimento na periferia, gerando o percebe-se o papel da habitação território da aventura individual, da propriedade privada, e nalogoestabilidade política do país. “A da moralidade cristã e conservadorismo político – no espaço habitação operária torna-se, portanto, da casa em construção, do lote bagunçado, da quadra clandestina, uma questão envolvida em objetivos de ordem econômica, política e social. da rua oficializada, do ponto de ônibus sempre cheio, do tempo ” (BONDUKI, 1994, p.82). A solução infinito até o trabalho – formou a base do que chamo de modo de proposta pelo poder público e pela vida paulistano, que se tornou hegemônico na cidade como um mídia foi a autoconstrução na periferia da cidade, assim o Estado se ausenta verdadeiro referencial cultural estruturador do cotidiano de da função de solucionar os problemas da habitação popular e transfere esse papel seus habitantes. ” para o próprio trabalhador.

(BONDUKI, 1994, p.261).

A autoconstrução passa a ser incentivada pelo Estado e pela mídia como forma de habitação apropriada, saudável e barata, criando uma máscara que escondia os aspectos negativos da moradia autoconstruída na periferia através de uma ideologia que valoriza o esforço (empregado na construção da própria moradia), o sacrifício (de se locomover por longas distâncias para chegar no trabalho), a poupança (gerada pela construção de uma casa com custo reduzido) e, sobretudo, a propriedade privada (o orgulho de ser proprietário). O loteamento da periferia foi enfim viabilizado pela instalação de transporte coletivo e a facilitação da compra de lotes viabilizou a autoconstrução, as irregularidades das construções eram toleradas e não houve nenhum controle estatal da expansão territorial dessas moradias. Os trabalhadores passaram então a autoconstruir suas moradias distantes do centro da cidade, afinal não haviam opções e a autoconstrução parecia atrativa devido ao seu custo reduzido. O que o trabalhador não sabia é que essa forma de provisão de moradia popular era ferramenta governamental para redução dos custos do salário, possibilitando assim sua redução, com o intuito de acelerar o desenvolvimento econômico dessa nova cidade industrial.

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A AUTOCONSTRUÇÃO

vamos falar de cidade

E A EXPANSÃO URBANA PERIFÉRICA INDICAÇÕES DE LEITURA BONDUKI, Nabil Georges. Origens da habitação social no Brasil (1930-1945): o caso de São Paulo. São Paulo, FAUUSP, Tese de doutorado, 1994. ROLNIK, Raquel. Brasil e o Habitat. In: Habitar contemporâneo: novas questões no Brasil dos anos 90 / Angela Gordilho-Souza (org). Salvador, 1997. Obs.: As frases utilizadas na composição da página foram retiradas das indicações de leitura acima.

Bibliografia: BALTHAZAR, Renata Davi Silva. A permanência da autoconstrução: um estudo de sua prática no município de Vargem Grande Paulista.

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“Por volta da década de 1950, as condições de infraestrutura nas áreas periféricas se agravaram e, como o apoio das Sociedades de Amigos de Bairros, os moradores começaram a exigir melhorias do governo. É o início da problematização da periferia. ” (BALTHAZAR, 2012, p.43). Como resultado da luta dos movimentos de moradia são criados leis e planos de melhoria das condições de infraestrutura da periferia. Na década de 1980 a autoconstrução é institucionalizada e passa então a ser encarada como uma alternativa para solucionar o problema habitacional. Mas será? É possível que a autoconstrução na periferia, que esteve diretamente relacionada com a desigualdade e segregação espacial em que vivemos atualmente seja, ao invés de um problema habitacional, uma solução? “De acordo com Oliveira (2003,2006), enquanto for causa e, ao mesmo tempo, efeito, de desigualdades econômicas e sociais, a autoconstrução será um problema. ” (BALTHAZAR, 2012, p.66). Desse ponto de vista a autoconstrução é um problema (e não uma solução) que é reflexo do uso do poder político e econômico por uma minoria, oriundo da implantação de um modelo capitalista que dificulta o acesso à moradia devido a incompatibilidade do salário mínimo com o custo da moradia formal. Porém, existem também estudiosos que apontam pontos positivos na autoconstrução, como a autonomia na definição do programa da casa e a possibilidade de ampliação ao longo do tempo. E ainda tiram desse modo de provisão a culpa da redução do salário dos trabalhadores no período de industrialização. “Ferro (2006, p.230) defende que a autoconstrução, e outras formas de subsistência, resultam dos baixos salários, que por sua vez, resultam do desequilíbrio entre a oferta e a demanda de força de trabalho, e não o contrário”. (BALTHAZAR, 2012, p.59). Problema ou solução, a autoconstrução está presente na paisagem urbana paulista, palpável às mãos e aos olhos de quem caminha e vive a cidade. Uma clara expressão da desigualdade e da segregação espacial que predomina até os dias atuais.


Entrevista com Nabil Bonduki QUEM? Bonduki é arquiteto e urbanista, formado pela USP (1978), mestrado (1987) e doutorado (1995) em Estruturas Ambientais Urbanas pela USP. Atualmente é Professor Titular de Planejamento Urbano da FAU USP. Tem experiência na área de Habitação, Planejamento Urbano e Regional, História Urbana e Meio Ambiente, atuando principalmente nos seguintes temas: política habitacional, política urbana, movimentos sociais, condições de moradia, urbanismo, história urbana e meio ambiente.

A ENTREVISTA... 1. É pertinente considerar que a autoconstrução na periferia da cidade já tenha sido estimulada pelo governo como forma de habitação apropriada, com o intuito de reduzir os custos do salário? Segundo Bonduki, por volta dos anos 30 e 40 há um início de intervenção do estado na produção da habitação, em um contexto de crescimento da população e falta de moradias. Nesse período: “Vai se montar, explicita ou implicitamente, uma estratégia de enfrentamento do problema da habitação que estava baseado no trinômio: compra de lote a prestação, casa própria e autoconstrução. ”. Com relação à redução dos custos do salário: “Agora aí é questão de saber quem vem antes, se é o ovo ou a galinha, certo? Ou seja, se os salários são reduzidos porque tem autoconstrução ou se existe autoconstrução porque os salários são reduzidos. ” 2. Na sua opinião, a autoconstrução pode ser encarada como uma solução para o problema habitacional? Se sim, de que forma? “Ela é uma solução para um país de baixa renda, mas que foi muito mal... se ela fosse assumida como uma estratégia e ela fosse combinada com outras políticas, ela poderia ser utilizada e poderia dar outros resultados. Ou seja, se tivesse um controle do processo de implantação de loteamentos, se os loteamentos fossem implantados com infraestrutura, com adequados espaços públicos, reservando áreas públicas, a autoconstrução poderia se combinar com um processo de desenvolvimento urbano mais adequado e ela viabilizar a produção de unidades a um custo mais baixo. ” 3. Atualmente existe a Anistia de Imóveis. Qual a sua opinião sobre o assunto? “A anistia se torna muitas vezes (prefiro usar o termo regularização) inevitável frente a esse processo, porque esse processo foi tão avassalador e gerou tantas situações irregulares que o que você faz depois que isso já está consolidado? [...] É inevitável regularizar. ” •

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bairros

ENTRE O CARÁTER OSCILATÓRIO E O PROTAGONISMO DE UMA PRODUÇÃO CULTURAL Por Letícia Padua e Felipe Vieira de Almeida

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esde suas origens, o Pari trouxe consigo sementes que geram as grandes pluralidades e contradições que permeiam hoje em seu espaço físico e simbólico. Caracterizado pela presença de atividade industrial crescente em seu espaço, é possível conectar o Pari a um momento de urbanização e industrialização de São Paulo que também englobou o Bom Retiro e o Brás. Essa movimentação em áreas ainda pouco povoadas e desconectadas do então núcleo da cidade, criou bairros onde as indústrias dividiam espaço com um ambiente quase rural. Em conjunto com os moradores antigos, ocuparam o bairro os proletários e também uma nascente classe média que se ocupava das atividades comerciais que acompanhavam a manutenção dessa população. Todavia, há peculiaridades no desenvolvimento do Pari. Enquanto a industrialização de bairros até então periféricos trazia a mão de obra que se alojava como podia, no Pari a configuração quase rural ainda existente permitiu que a ocupação do espaço se desse de forma mais horizontalizada, incluindo cortiços que, ao compartimentar, supriam uma demanda coletiva por espaços minimamente individualizados. A classe média burguesa teve no Pari casas de dois andares nas quais normalmente o segundo andar se dedicava à habitação e o térreo abrigava a atividade comercial da família. Nesse cenário de industrialização nascente, o Estado teve iniciativas pontuais que tentavam mais alimentar as atividades fabris do que realmente urbanizar de forma ampla essas regiões, por isso a ação estatal veio inicialmente na forma de conexão para trazer e escoar mercadorias. Foi assim que esses bairros adquiriram também o caráter de ocupação oscilatória de acordo com a hora do dia e o funcionamento das fábricas. Muitos estavam ali somente para trabalhar e os que ficaram para morar se viam em um bairro cada vez mais estruturado para uma lógica que não necessariamente se relacionava com a habitação e com a inserção social e cultural daquelas pessoas.

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P A R I Av. Carlos de Campos

O que permitiu uma ascensão maior do comércio de rua e das atividades pequeno burguesas no Pari foi justamente uma negligência em relação à implantação de vias de acesso e expressas se compararmos com o processo que se desenrolava ao mesmo tempo no Brás e no Bom Retiro. Dessa relação de dependência entre a massa proletária que habitava os cortiços e a pequena burguesia, que fornecia um mínimo de atividade comercial necessária aos moradores dos bairros, surge a base perfeita para o funcionamento de fábricas e empresas, que dispõem ali de um meio no qual encontram mão de obra barata, abundante e próxima sem nem ao menos terem que arcar com um mínimo de infraestrutura para seus trabalhadores, já que, para os padrões da época, esse aspecto vinha sendo aparentemente sanado pelo comércio local, ainda que na prática fosse uma exploração dupla do proletariado local. Nesse contexto de globalização, que prevê uma massa proletária e, por isso, um grande interesse pela mão de obra barata, as imigrações são facilmente notadas. Tendo como ponto principal a busca de melhores condições de vida, as migrações atingem a maioria dos países. Tanto os com economias mais frágeis, que acabam se tornando polos de emigração, como os com economia equilibrada tornam-se principais destinos de imigrações. O Brasil, grande receptor de imigrações, como a de bolivianos para o bairro do Pari, tem como dever buscar compreender a sua cultura, para que seja possível a construção de uma sociedade multicultural mais justa e menos excludente, favorecendo o fortalecimento de sua identidade.

Como forma de representar a valorização dessa cultura, podemos exemplificar o estudo da gastronomia, assim como fez Rosana Fernandes dos Santos em sua dissertação para obtenção do título de Mestre em Filosofia do Programa de Pós Graduação em Estudos Culturais, com o tema “A gastronomia e a Feira Kantuta: cultura e identidade de imigrantes bolivianos em São Paulo”. Esse estudo, a fim de verificar suas atividades voltadas à gastronomia e o que essas atividades poderiam representar em suas vidas como possibilidade de trabalho, lazer e cultura, buscou uma aproximação com pessoas que atuam na Feira Kantuta, localizada na Praça Kantuta, batizada com esse nome devido a uma flor andina que tem as cores, verde, amarelo e vermelho, as mesmas cores da bandeira da Bolívia. A escolha dos alimentos, seus modos de produzi-los, as formas de combinação e elaboração demonstram como a sociedade se organiza econômica e socialmente. A gastronomia aparece como forma de geração de trabalho e renda, entretanto quando indagados sobre sua representação e levados a refletir sobre o seu papel, percebem-na também como uma forma de expressão cultural, assim como as danças e festividades ali apresentadas. A Feira Kantuta efetivamente serve de rede de apoio aos imigrantes bolivianos, que chegam à cidade de São Paulo. Ainda que os imigrantes não se vejam protagonistas dessa produção cultural, a cultura permeia a ação dos mesmos e lhes possibilita uma afirmação identitária.•

SAIBA MAIS: “A estagnação urbana como parte da metrópole paulistna do século XXI - o caso do Pari” por Penha Elizabeth Pacca “A gastronomia e a Feira Kantuta: cultura e identidade de imigrantes bolivianos em São Paulo” por Rosana Fernandes dos Santos

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historico

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MESOPOTAMIA por Mariana de Frei t as

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Essas aberturas eram, provavelmente, colocadas de forma perpendicular à direção dos ventos predominantes, com isso a ventilação forçada era facilitada, proporcionando maior conforto à moradia. A estrutura da casa na maquete era feita de terra, possivelmente de tijolo cru, adobe ou taipa de pilão. O trabalho com o adobe se iniciou na região que conhecemos como Crescente Fértil, que é, na verdade uma faixa de terra que forma uma lua crescente, que compreendia as regiões férteis dos vales do Rio Nilo, no Egito; do Rio Jordão, na Palestina; e dos Rios Tigre e Eufrates atual é o Iraque. Essas regiões eram conhecidas naquele tempo como o Baixo e Alto Egito, a Fenícia, a Assíria, a Mesopotâmia e o Elam. Devido ao sedentarismo que se manifestou por essas regiões, em especial na Mesopotâmia, que pode ser considerada o berço das civilizações no Velho Mundo, foi fundamental para a descoberta do tijolo de barro cru e do adobe, elementos que podemos observar sempre nas construções de casas, templos e estabelecimentos comerciais nas principais cidades-Estado às margens dos Rios Tigre e Eufrates.

Existem registros construtivos, e um deles é uma maquete de cerâmica de uma casa, feita em 4000 a.C. e que foi encontrada numa tumba de Semnan, nas proximidades do Teerã, que fica ao norte do Irã. As maquetes como essas na verdade eram colocadas nas tumbas dos proprietários, junto com outros pertences pessoais do falecido. É importante dizer que já eram executadas construções com soluções definitivas tanto para a iluminação interna por meio de aberturas, janelas na parte superior bem abaixo da cobertura. Essas aberturas serviam para garantir o conforto térmico, minimizando o forte calor do verão bem como servindo para refrescar o ambiente, permitindo trocas térmicas entre o ar quente que gravitava próximo à cobertura e o impulsionado pelo vento.

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FOTOS: 1.MUSEU DE IMAGENS 2.MUSEU DE IMAGENS 3.PORTAL ALEXANDRIA 4.GLOGSTER

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Irã pode ser considerado uma terra com paisagem natural bem diversificada, pois ela abrange desde um dos desertos mais áridos do mundo, Deserto de Lut, até grandes picos nevados, como os dos Montes Elburz. Essa paisagem tão heterogênea abriu portas para o surgimento de inúmeras civilizações, que mesmo diferentes entre si, possuem um certo intercâmbio de conhecimento em diversas áreas, inclusive na engenharia e na arquitetura. O lugar que hoje é o Irã, era habitado antigamente por comunidades que ficavam do lado ocidental dos Montes Zagros e acabaram se relacionando com os povos que habitavam a baixa Mesopotâmia, da mesma forma, tanto as populações nos limites dos desertos trocaram conhecimentos com outros povos do Oriente Médio, assim como povos mais distantes como o Afeganistão, a Índia e a China. Esse intercâmbio de culturas, foi fruto das rotas comerciais que ligavam a região da Mesopotâmia com o Oriente e o Ocidente. A diversidade cultural e étnica, além da troca de experiências e ensinamentos, acabou por se tornar característica da região e isso funcionou como forma de consolidação dos impérios que surgiram desses povos que detinham conhecimentos científicos, tecnológicos, artísticos e construtivos que impressionam o mundo até hoje. 3


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historico

Dentre várias construções realizadas por esse povo, existe uma que se destaca e que merece nossa atenção, os zigurates, que são pirâmides tronco-escalonadas. Erguidas em plataformas horizontais com bases retangulares ou quadradas, cada uma das plataformas, construída com tijolos maciços, é circundada em sua periferia por um muro levemente inclinado para dentro e enrijecido por colunas também feitas de tijolos, com isso, a estabilidade aumentava e os esforços dos empuxos internos do material eram suportados. Os zigurates, além de servirem como templo, eram sinônimo de grandeza contemplativa tanto para os próprios habitantes da Mesopotâmia como aos estrangeiros. Ele era como um grande refúgio dos sacerdotes e detentores do conhecimento das ciências, da medicina, da escrita, dos saberes num geral. O zigurate conferia aos sacerdotes o domínio privilegiado sobre todas as coisas da terra, sendo eles conhecedores das forças da natureza, da vontade dos astros e dos deuses eram sempre respeitados e ouvidos, além de serem mediadores entre os deuses e os homens, senhores perpétuos do plantio, que orientavam as populações com relação ao plantio e à colheita. Uma técnica construtiva com tijolo merece ser ressaltada, porque já era encontrada nos Zigurates. É conhecida como intertravamento e cruzamento entre fileiras, o que evitava juntas verticais e contínuas.

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Para termos uma noção do quão importante essa técnica é, podemos dizer que ela é utilizada até hoje, servindo para dar rigidez e resistência nos muros ou paredes que construímos. Outro conhecimento que pode ser atribuído aos construtores da Mesopotâmia e do Vale do Ur e que eram aplicados nos Zigurates é a técnica conhecida como amarração das alvenarias nos cantos das paredes. Além disso existem vestígios de um tipo de argamassa utilizada na região da Mesopotâmia, formada por betume e areia do deserto, servindo como o primeiro ligante entre as camadas de tijolos, crus ou queimados, sendo o betume o que substituiu o barro, da mesma forma que o tijolo substituiu as pedras. A Mesopotâmia tem muito a nos ensinar na área da construção, é impressionante como a sociedade dessa época não se acomodou em técnicas construtivas já conhecidas, através do não comodismo na busca por conhecimentos e cada vez mais avanços, sempre valorizando também as técnicas já conhecidas como uma base para a inovação. •


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CHAVIN DE HUANTAR C

p o r Jul iana Dias

havin de Huantar se caracterizou como um local que concentrou a cultura do povo Chavin na região andina de 1500 a 900 A.C. Hoje representa um sítio arqueológico de grande importância, no qual uma série de escavações já foram realizadas e inúmeras técnicas construtivas e conhecimentos que, de certa forma, estariam presentes em épocas posteriores foram descobertos. É perceptível através desses estudos que Chavin de Huantar representou uma das bases da construção monumental através do uso da pedra polida, justificado pela localização de Chavin e suas características climáticas.

Um pouco de sua geografia...

A região do Vale do Rio Mosna, vertente oriental do Glaciário da Cordilheira Branca no Peru possui um regime de chuvas regulares (chegando a 800 mm por ano). Esse fato exigia uma solução construtiva que aguentasse as intempéries, diferente dos métodos adotados na costa do Pacifico, local em que o uso de materiais associados ao barro como adobe ou o concreto de barro eram ideais, o que na região de Chavin, entretanto, seria altamente degradável. É predominante o uso de pedras como o granito nas construções em Chavin, que em um primeiro momento se ateve às pedras lascadas e posteriormente desenvolveram-se formas que permitiam o aparelhamento de pedras, agora polidas e com quinas vivas e faces paralelas ou com formato adaptado à construção.

A Cultura Chavin

Podemos considerá-la um dos conjuntos embrionários das civilizações andinas, em contribuição com outras culturas mais antigas como a Caral (presente no Vale do Supe, a 200 quilômetros ao norte de Lima, no Peru) que de certa forma deram origem à práticas, culturas e costumes na região, expandindo-se além dela em sua trajetória histórica. Tratava-se de um povo de certa forma hierarquizado, marcado pelas práticas religiosas xamânicas (baseada na figura do xamã, no papel de intermediação entre a realidade profana e a dimensão sobrenatural) através de rituais de agradecimento, pedidos ou enaltecendo figuras divinas e sobrenaturais que eram muitas vezes representados pela imagem do jaguar, com formas felinas.

Bibliografia e indicação de leitura: A História das Construções – José Celso da Cunha 2-Das grandes pirâmides de Gisé ao templo de Medinet Habu

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historico

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Divisao da sociedade Los sacerdotes- formada pelos cientistas

conhecedores da astronomia.

Os especialistas em agricultura também eram valorizados, praticamente “engenheiros”.

As”cabezas clava”

Essas cabeças esculpidas eram dispostas enfileiradas nas paredes externas das construções e chegavam a pesar 250 quilos!! Eram os guardiões do templo e suas formas misturavam traços humanizados com felinos, serpentes e aves. 2

La nobreza guerrera- protegiam contra invasões

e revoltas, garantindo omodo de vida Chavin e as suas áreas de expansão.

El pueblo- massa popular, pagadores de tributos

aos governantes.

Templo Novo e Tempo Velho

O templo Velho é constituído de troncos de pirâmide de pedra justapostos e possui uma grandeza serena que se mistura à paisagem ao redor. Contém ainda um templo subterrâneo que abrigava a estátua conhecida como Lánzon, representação de uma divindade local. O templo novo acrescentou uma nova entrada ao velho através de um portal constituído de colunas cilíndricas em jogo de claro e escuro. As paredes externas das construções eram formadas pela sobreposição de pedras fixadas umas às outras com barro e pequenos fragmentos de pedra. A disposição das pedras seguia uma lógica baseada no assentamento em dois níveis diferentes. Na face inferior eram dispostos blocos maiores e de certa forma rudes, em sua face superior uma disposição que seguia duas fileiras de blocos finos e duas de blocos maiores.

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28 || piloti piloti 28

FOTOS: 1.http://mysite.du.edu/2;3. WIKIPEDIA

Las “plazas”

Com formato quase de um quadrado perfeito e com aproximadamente 50 m de lado era um local onde se desenvolviam ritos e cerimônias segundo a religião xamânica, na intenção de agradar aos deuses atraindo benefícios para a região como os pedidos por chuvas. Ainda existia uma segunda praça, em formato circular semelhante a uma arena, cujo centro coincidia com a sala que abriga a estátua Lánzon.


Lanzon

A estátua Lánzon é um monólito, monumento ou obra constituída por um só bloco de pedra, no qual está retratada uma figura antropomórfica. Se chama Lanzón pois seu formato se assemelha a um projétil, cujas pontas estão cravadas no teto e no piso da galeria. Possui três faces adornadas por desenhos em relevo representando uma divindade que era cultuada pelos habitantes.

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Sistema de escoamento No que diz respeito à arquitetura monumental, Chavin possuía um dos maiores sistemas de drenagem de águainvestigados através da arqueologia, que dentro do possível, resgata os costumes e técnicas desenvolvidas no período ativo de Chavin. Foi desenvolvido um interessante sistema de escoamento, que permitia à praça quadrada, por exemplo, permanecer sempre seca, não impedindo dessa forma as reuniões que ali eram realizadas. Isto era possível através de bueiros e canais de drenagem que desembocavam na galeria principal, destino das águas canalizadas.

´ Portal das falconideas

Uma passagem mística envolvida por duas colunas cilíndricas que servem de apoio a dois lintéis de granito, ricamente decorados com figuras iconográficas em baixo relevo como um capitel. Essa disposição modifica a unidade arquitetônica predominante em Chavin.

Galerias ^ ^ subterraneas

Imaginemos uma complexa rede de passagens subterrâneas um tanto quanto estreitas, sustentadas por paredes que são capazes de traduzir a sua sequência de construção, formadas por grandes pedras retangulares dispostas em conjunto com pequenas janelas que permitiam a comunicação e uma ventilação mínima entre os ambientes. As galerias eram locais por onde passavam grupos em peregrinação à estátua Lánzon, restando ainda várias atividades que poderiam ter sido ali realizadas, mas que as escavações ainda não puderam ou não são capazes de nos dizer, restando ao recurso da imaginação a compreensão, talvez uma das partes mais fascinantes no estudo de antigas civilizações, imaginar as partes ainda obscuras que talvez um dia tenham respostas. •

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vamos falar de cidade

Protagonismo

Feminino

no mutirão autogerido

Paulo Freire

E

m meio a uma cidade que cresce e seus espaços se tornam cada vez mais caros e disputados, a população de baixa renda encontra uma grande dificuldade em arrumar um bom lugar para morar. Como uma alternativa, a autoconstrução é comumente praticada nas favelas onde não existem projetos e cada casa é construída individualmente, os mutirões autogeridos surgem como uma oportunidade para a população deixa renda de possuir uma habitação de qualidade. O conjunto habitacional Paulo Freire, dentre os diversos existente em São Paulo, se destaca por diversos motivos, dentre eles o protagonismo feminino (inclusive no serviço pesado da construção) e a autonomia dos moradores na decisão de todas as etapas do processo. Reunindo 100 famílias da região Tiradentes na Zona Leste, a Associação de Construção Comunitária Paulo Freire foi fundada em 1988, e através de manifestações, ocupações e discussões com a Prefeitura da cidade de São Paulo em 1999 a Associação finalmente conseguiu um terreno que pudesse iniciar a construção. O projeto inicial foi imposto pela prefeitura seguindo o padrão Cingapura. Porém os mutirantes em parceria com a USINA CTAH que dava assessoria técnica, conseguiram brigar para obter maior autonomia e desenvolver seu próprio projeto. A autogestão é uma possibilidade de democratizar a arquitetura, de forma que essa possa ser utilizada e pensada por todos, pois dá ferramentas e sugere técnicas construtivas àqueles que estão edificando suas próprias moradias. Na construção do conjunto habitacional Paulo Freire, os moradores não tiveram uma participação superficial como é comum na arquitetura comercial hegemônica, mas uma participação profunda e estrutural, onde cada detalhe era pensado em conjunto com a Assessoria Técnica.

“Eles não são apenas consultados, eles fazem parte do processo tanto quanto nós. Nós como arquitetos levamos referências, possibilidades, mas eles estão pensando junto com a gente o que eles vão construir.” ISADORA – Arquiteta

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Texto por Mayara Almeida

SAIBA MAIS: • “Porque a representação igualitária para mulheres na arquitetura é o melhor para todos” <http://www.archdaily.com.br/ br/784236/> • “Mulheres na arquitetura: onde estão, quais seus desafios” <http://au.pini.com.br/arquiteturaurbanismo/221/mulheresna-arquitetura-quais-seusdesafios-264486-1.aspx> • “Mulheres na construção civil” <http://conhecimentopratico.uol.com. br/geografia/mapas-demografia/48/ artigo279776-1.asp> • Documentário “Capacetes Coloridos” sobre a construção do Conjunto Paulo Freire <https://www.youtube.com/ watch?v=M3hnzDHEfz8> • Entrevista: “Beatriz Tone fala sobre as mulheres do Mutirão Paulo Freire” <https://vimeo.com/136753390>


Não foi uma conquista fácil, e durante vários períodos a construção ficou parada por falta de verbas.

“O governo falha porque tem que dar uma moradia digna para o povo, não tem uma moradia digna. Os prédios que eles fazem; o quarto não cabe uma cama, a cozinha não cabe a mesa...” ANGELA – Mutirante Assim que o terreno foi conquistado os mutirantes foram para a obra. O serviço era dividido por grupos; os que cuidavam do almoxarifado, os que iam para a construção, os que cuidavam das crianças, etc. Beatriz Tone (arquiteta da USINA CTAH) estima que cerca de 80% dos trabalhadores durante a semana eram mulheres que representavam suas famílias fazendo um trabalho pesado e manual, desde limpar o terreno até rebocar paredes e fazer acabamento. O que desmente o pensamento de que a construção civil é uma ocupação exclusivamente masculina, e que as mulheres são um sexo frágil e incapaz de desenvolver um serviço pesado. Dora Ferreira (mutirante e atualmente síndica do condomínio) participou tão ativamente desde o principio da aquisição desse espaço, da participação nas manifestações, discussões na prefeitura até o trabalho no canteiro de obra, que foi uma das primeiras a conquistar um dos apartamentos no conjunto_ que são distribuídos seguindo um sistema de pontuação, gerados pela participação política e construtiva que o representante da família tiver.

“O papel das mulheres é decisivo para que não seja um espaço de trabalho embrutecido e hierarquizado” PEDRO - Arquiteto

O projeto do conjunto Paulo Freire possui três tipologias, para melhor atender a composição de cada família. Ele possui uma estrutura metálica, que permite vãos que liberam o solo para uso coletivo. A sua cor verde foi escolhida e votada pelos próprios moradores. Algo que chama atenção em sua arquitetura são suas varandas grandes e compartilhadas com os vizinhos, voltadas para o centro do conjunto, o que permite uma maior integração entre os moradores. O condomínio não possui estacionamento e nem área de lazer para as crianças, o que motivam reclamações dos moradores, uma vez que o transporte público é muito ineficiente na região e porque as crianças não podem brincar fora do conjunto, por este estar inserido num bairro perigoso.

“Quando eu entrei aqui, era só um terreno. A gente fez tudo, desde a fundação, os prédios foram levantando, hoje eu olho e acho isso tudo muito bonito.” MARIA DAS DORES (DORA) – Mutirante Diversas mulheres foram extremamente importantes para a construção do conjunto habitacional Paulo Freire. Luiza Erundina, por sua política de habitações populares e incentivo aos mutirões autogeridos, que abriram caminho para vários conjuntos, incluindo o Paulo Freire; Beatriz Tone que foi uma das arquitetas responsáveis pelo projeto do conjunto habitacional e pelo diálogo com os moradores; Dora, Angela, Cristiane e muitas outras mutirantes, responsáveis pela conquista do terreno, pela construção e pela organização que possibilitou uma habitação de qualidade pra muita gente. Embora o objetivo principal tenha sido a conquista de uma moradia digna. O envolvimento das mulheres nas politicas de habitação em todo o processo da conquista do conjunto mostrou a elas a força que tinham. Segundo relato de Dora Ferreira e Beatriz Tone foi possível observar uma evolução na independência e autoconhecimento das mulheres. No inicio, muitas reclamavam de insatisfação com seus parceiros, por diversos motivos; como a falta de companheirismo na luta pela moradia, por abusos psicológicos e chegando até a violência doméstica. Gradualmente houve uma clara transformação interna de várias delas, muitas se divorciaram e ganharam autonomia e mudaram completamente de vida no período do mutirão. Elas perceberam o poder e a capacidade que tinham, conforme iam ganhando seu espaço na política e conquistando seu direito a moradia.

“Ai você entra e vê que não é só isso, você encontra um monte de pessoas que tem um monte de outros problemas e você fala: poxa, se a gente conseguiu se organizar para ter uma moradia, a gente também pode se organizar pra ter escola, pra ter transporte, pra ter um monte de outras coisas como emprego, educação, tudo. Você sabe que agora você é forte, porque você conseguiu o que era pior, porque é terrível você pagar aluguel, morar numa área de risco, isso é triste. E tudo envolve a política e antes eu acho que esse lado estava um pouco adormecido CRISTIANE – Mutirante.”

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O tema abre espaço para um debate e uma reflexão da importância que tem as mulheres no ramo da construção civil. Segundo dados do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo) cerca de 60% dos arquitetos registrados são mulheres. Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), no período de 2006 a 2010 dobrou o número de mulheres registradas em serviços relacionados à construção civil, como; serventes, carpinteiras, ajudantes de obra, pedreiras, soldadoras, técnicas em segurança do trabalho e engenheiras, e esse crescimento esta sendo cada vez mais impulsionado pela falta de mão de obra masculina e pelas altas demandas.

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Embora as mulheres estejam conquistando cada vez mais espaço, a área no geral ainda é bastante sexista. O Instituto Americano de Arquitetos publicou uma pesquisa sobre diversidade e inclusão na profissão, onde mais de 7.300 profissionais e estudantes de arquitetura participaram, mais de 70% das entrevistadas diziam não se sentir representadas na profissão e metade delas afirmam que recebem menos que homens e possuem menor probabilidade de serem promovidas. As mulheres estão atuando na área, mas ainda são pouco valorizadas. Apenas duas mulheres já ganharam o premio Pritzker (a maior premiação da arquitetura); Zaha Hadid e Kazuyo Sejima. No entanto, as pesquisas¹ apontam os diversos benefícios para quem incentivar a diversidade de gênero nas empresas, pois melhoram a base de valores sociais, econômicos e até ambientais. Assim como ocorreu o processo de empoderamento das mutirantes no conjunto Paulo Freire, toda a conquista do espaço da mulher no reconhecimento da profissão está sendo conquistada com muito empenho e luta feminina, que assim como em outros ramos tem mostrado a importância da igualdade de gêneros para uma sociedade mais evoluída e democrática.


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livro que publiquei em Fevereiro desse ano conta um pouco da história do planejamento urbano no Brasil, no período que vai principalmente de 1950 a 1980. Ele fala da trajetória de estudos e profissional de um urbanista carioca – Harry Cole – que viveu num período em que o planejamento urbano era considerado a única ferramenta capaz de transformar as cidades em locais saudáveis e agradáveis para se viver. Esta era a crença de Harry Cole e da maioria dos urbanistas daquela época, que militavam pela aplicação dos princípios do planejamento na gestão e construção das cidades, num período em que o Brasil construiu sua nova capital, mas que também, a partir do golpe militar de 1964, viu o planejamento se instituir como política de Estado, na sua versão autoritária e de remédio (amargo?) que deveria ser tomado por prefeitos e governadores.

Essa geração de profissionais de planejamento foram os que me formaram na vida acadêmica, mas principalmente na vida profissional, e após trabalhar muitos anos com planejamento de cidades, quis muito entender porque eu fazia planejamento de uma certa maneira, e este foi um dos motivos que me levou à pesquisa que resultou neste livro. Ela me permitiu compreender porque determinadas formas de agir e trabalhar me foram ensinadas, mas principalmente me permitiu, a partir do mergulho nas origens intelectuais de parte do planejamento realizado no Brasil, avaliar com espírito crítico a minha própria prática profissional, aquilo que aprendi e aquilo que eu ensinava e transmitia.

“Em Defesa do Planejamento” Texto por Maria Cecília Lucchese

Para isso, o livro fala de muita coisa: fala de como foi formado Harry Cole, como era o ensino na Faculdade Nacional de Arquitetura (hoje FAU UFRJ) na época em que ele estudou, e como era pensado e entendido o planejamento urbano na Inglaterra nos anos 1950, onde ele fez sua pósgraduação e também trabalhou no órgão que era uma espécie de prefeitura em Londres, o London County Council. Fala ainda de como era o trabalho dos jovens responsáveis pelos projetos urbanísticos para a construção de Brasília, e também como se criou uma tradição de planejamento urbano nos anos 1970, que se difundiu a partir do SERFHAU – Serviço Federal de Habitação e Urbanismo, e que foi responsável pelo financiamento e pela metodologia usada na elaboração de inúmeros planos diretores naqueles anos. E ainda fala dos trabalhos profissionais de Harry Cole, sobre alguns planos diretores e alguns projetos de cidades elaborados em seu escritório de projetos. Se você quiser entender um pouco mais da história do planejamento naqueles anos, esse livro é ótimo para começar. E ele quer te mostrar que o planejamento urbano é importante para gastarmos bem os poucos recursos que temos disponíveis em nosso país, e que planejar, ter um Estado nos seus diversos níveis que sabe planejar e planeja, é a melhor forma de evitarmos, de um lado, obras desnecessárias e que ficam inacabadas, e de outro, garantir a participação da população nas decisões sobre os rumos que devem tomar as nossas cidades. Compre, leia, e espero que você se divirta, como eu me diverti escrevendo-o.•

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fachada

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movimento feminista surgiu através da conscientização da mulher de que seu papel na sociedade estava sendo ditado por outros e não por ela mesma. Dessa forma, surgiram as chamadas sufragetes, grupo de mulheres que faziam manifestações pelo direito ao voto, em Londres, alcançando-o em 1918, sendo esse caracterizado como o primeiro movimento feminista. Desde então a mulher em todo o mundo participou de movimentos e alcançou importantes conquistas, como o voto, em 1932, no Brasil, e a inserção nas universidades, sendo a primeira mulher licenciada arquiteta a norte-americana Marion Mahony Griffin, em 1894. Da primeira estudante de arquitetura do sexo feminino até os dias atuais milhares de mulheres conquistaram o direito de estudar arquitetura e milhares efetivamente têm se inserido no mercado de trabalho. No entanto, a figura feminina neste campo constantemente parece estar relacionada a alguma deficiência de reconhecimentos e valores. Se em diversos países do mundo o número de arquitetas é muito inferior ao de homens arquitetos, com aproximadamente 20% dos profissionais da arquitetura sendo mulheres na Inglaterra, por exemplo, no Brasil o número de estudantes e profissionais da arquitetura mulheres em muito

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excede o de homens, com aproximadamente 61% dos profissionais de arquitetura sendo mulheres. Entretanto, o que poderia ser considerada uma vitória no reconhecimento e em oportunidades para a mulher no Brasil é acompanhado, muitas vezes, por desvalorização e descaracterização da profissão. A profissão do arquiteto no Brasil é, diversas vezes, vista como o simples desenhar de alguma estrutura, ou esculturalismo do ambiente construído, destituída de maiores buscas e preocupações que as estéticas, associadas ao senso comum da preocupação da mulher nessa área. Frente a isso, a visão dominante é a de que aos engenheiros cabem todos os encargos que de fato tornarão arte em estrutura, pensamento associado, também, à predominância masculina nesta outra profissão. Ou seja, a conquista feminina na arquitetura foi acompanhada da degradação da visão desta profissão no Brasil. Não que a profissão não seja vista com bons olhos pela população no geral, mas não é vista de acordo com seus potenciais e capacidades. Mais do que enfeitar o ambiente construído, o profissional da arquitetura tem o potencial de participar de grandes mudanças, ou ao menos de engajar-se na busca das mesmas. O desenhar de um espaço pensandose no ser humano que se relacionará com o mesmo também é objeto de trabalho da arquitetura, e nesse sentido a arquiteta Lina Bo Bardi foi uma pioneira, com seus projetos únicos que contestam a perda do valor crítico que vinha ocorrendo no movimento Moderno e neste ambiente dominado por homens, mostrou a preocupação social, como a acessibilidade de todos os públicos e a inserção da cultura na vida de todos com o MASP e seu vão livre, e no SESC Pompeia, assim como a preocupação com a história e a cultura, a capacidade crítica do espaço, as questões ambientais e sociais.


continuidade: lher e da arquiteta

Por Bruna Murbach de Oliveira

Enfim, Lina Bo Bardi mostra, em seus trabalhos, como a arquitetura pode ser um exercício completo, integrando diversos pensamentos e encarando diversos desafios. Tamanhas contribuições da arquiteta, no entanto, não a eximiram de enfrentar diversas barreiras para a realização de seus trabalhos e no reconhecimento por eles, assim como diversas outras figuras femininas cujos feitos recorrentemente permanecem na penumbra dos trabalhos dos homens ou da autoria das figuras masculinas envolvidas no projeto, enfrentando os múltiplos desafios de buscar espaço para sua atuação em um cenário marcado majoritariamente pela atuação masculina. Um cenário internacional tão marcado pela atuação masculina foi também sentido por Rosa Kliass, arquiteta paisagista brasileira que não apenas viuse inserida num contexto marcado majoritariamente pela atuação masculina, mas inseriu-se, ao decidir atuar no paisagismo, em um contexto no qual, no Brasil, a única referência conhecida era masculina, o paisagista Burle Marx. A arquiteta então passou, desde sua graduação na universidade, a engajar-se pela expansão do paisagismo no Brasil, o “desenho do vazio”, efetivamente pensado por arquitetos. Sua atuação pioneira levou-a ao projeto do parque do Morumbi, primeiro elaborado por um profissional, na cidade de São Paulo, encadeando na promoção de mais 44 praças para a cidade, além da criação, por ela, da Abap, Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas, em 1976, passo importante para a consolidação da profissão no país e do reconhecimento da importância do paisagismo como disciplina própria de atuação no projeto do espaço da cidade, em especial ao espaço público, ofertado a todos. Esse pensamento do espaço público para todos permeia seus trabalhos, como o Vale do Anhangabaú e o Parque da Juventude, nos quais a crítica em relação à demanda leva a projetos que valorizem a beleza do espaço, mas não dissociada dos sistemas naturais a ele conectados nem aos sistemas humanos, às atividades que

nestes espaços serão desenvolvidas e que deles farão espaços significativos à cidade. Assim, sua atuação mostrou como a mulher pode protagonizar sua história e trabalhar em prol de todos, abrindo caminhos inéditos e trazendo grandes impactos em seu campo profissional. Também a arquiteta norte-americana Denise Scott Brown é autora de trabalhos considerados icônicos à arquitetura do país no desenvolvimento do chamado, pós-modernismo, nos quais a arquitetura do movimento moderno foi contestada com a inserção de técnicas vernáculas, a crítica à monotonia dos prédios de aço e vidro em ampla construção no período e a reinserção de ornamentos à arquitetura, consagrada tanto em seus trabalhos teóricos, como o livro “Learning from Las Vegas”, de 1972, quanto em edifícios como Sainsbury Wing na National Gallery de Londres, expandindo a relevância de suas contribuições à arquitetura internacional. Essas consagrações, no entanto, raramente foram destinadas a ela. A arquiteta trabalhou em conjunto com seu marido e parceiro Robert Venturi desde a década de 60, tanto em seu livros e teorias quanto nas ideias por trás de seus projetos, mas para a imprensa e muitos nomes da arquitetura ela deveria estar apenas por trás das tarefas do lar ou de atividades secundárias, uma mulher não poderia ser, em igual nível a um homem, autora de tais projetos. Tal concepção foi uma luta constante da arquiteta em toda a sua carreira profissional, luta esta que ganhou destaque com as petições realizadas em 2013 por sua inclusão no prêmio Pritzker, atribuído somente a Venturi, em 1991, e com maior sucesso, em 2016, com a vitória do casal pelo prêmio da medalha de ouro do American Institute of Architects, sendo ela a primeira mulher a receber em vida o prêmio e apenas segunda mulher a recebê-lo desde sua criação em 1907, mostrando como a luta das mulheres pelo reconhecimento profissional é árdua e passa, constantemente, pela penumbra de sua figura frente aos nomes masculinos com os quais compartilham seus projetos.

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Parque da Juventude - Rosa Kliass

Seattle Art Museum - Denise Scott Brown e Robert Venturi

Estar às sombras, e lutando não somente pelo reconhecimento por seus trabalhos, mas também pelo direito de atuação da profissão é refletido na vida da considerada primeira arquiteta, Elizabeth Wilbraham, inglesa que no século XVII, aprendeu a arquitetura por meio de viagens a países como Itália e Holanda e por meio de importantes livros de arquitetura, como os “Quatro Libri” de Palladio, criando seus próprios projetos, muitos deles para casas de parentes, mas também igrejas e prédios governamentais, assim como partes das universidades de Oxford e Cambridge e do Palácio de Buckingham. No entanto, como mulher, ela não poderia ser arquiteta e por ser da aristocracia, não poderia ter uma profissão, de forma que muitos de seus projetos foram feitos escondidos, não podendo Wilbraham ao menos assinar grande quantidade de seus desenhos e nunca podendo supervisionar as obras de seu trabalho. Essa tarefa cabia a homens designados pela mesma, que, assim, diversas vezes receberam a autoria pelos trabalhos da arquiteta. Sua influência também estendeu-se, além de factualmente projetar aproximadamente 400 edifícios, ser a tutora daquele que seria conhecido como maior arquiteto de seu tempo, Christopher Wren, projetando 18 das 52 igrejas atribuídas ao arquiteto após o Grande Incêndio de Londres. Assim desde a primeira arquiteta até os dias atuais uma longa jornada foi percorrida, jornada esta que, claro, confunde-se com a jornada percorrida pelas mulheres pelos seus mais básicos direitos, direitos de igualdade, de atuação, de profissão, de acesso ao conhecimento e ao reconhecimento. Direitos rejeitados e conquistados em uma luta constante e diária, tanto das milhares de arquitetas do planeta, como das milhares de mulheres, em geral. Esta jornada foi contemplada por vitórias, inegavelmente, desde o voto das sufragetes, até a entrada das mulheres no âmbito das decisões políticas, e até mesmo do reconhecimento da mulher como ser pensante e ativo na sociedade, tanto quanto os

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homens, com os mesmos direitos ao estudo e ao trabalho intelectual e não apenas ao trabalho do lar - representação da opressão da mulher aos interesses masculinos, opressão que ainda afeta diversas mulheres, diversas arquitetas que acabam por abandonar a profissão ou não atingir os mesmos patamares de reconhecimento que os homens ao, diversas vezes, não terem tempo de dedicaremse tanto à profissão quanto os homens quando são obrigadas socialmente a seguirem um papel na vida familiar que consume seu tempo e energia. A ascensão das mulheres na profissão, além deste empecilho, também está relacionada à sua visualização no campo de trabalho como devendo ser subordinada a um homem, não sendo responsabilizada pelas grandes – mesmo quando autora destas – ideias ou contratada para elevados cargos, como descreve Denise Scott Brown. A arquiteta ressalta, no entanto, que sem a conscientização por trás do movimento feminista, da necessidade de igualdade entre gêneros e de que, na realidade, isso não ocorre, a mulher acaba culpando a si mesma pelos insucessos. Frente a isso, percebe-se que o caminho da luta das mulheres, embora há muito iniciado, ainda é muito vasto. Desde receber o mesmo reconhecimento e oportunidades que os homens, quanto ter os objetos de seu estudo e trabalho tão valorizados e compreendidos quanto aqueles de maioria masculina, há inúmeras batalhas a serem vencidas. Cabem à reflexão, à expressão dessas ideias e à continuidade dessa luta, os caminhos para que a arquitetura possa ser vista como objeto complexo e verdadeiramente importante de estudo e prática e – quando isto é feito, para que sua praticante mulher, assim como os homens, seja considerada e reconhecida em todo o seu potencial transformador. Cabe, assim, às novas gerações de mulheres e arquitetas dar continuidade a esse caminho no qual tantas pioneiras deixaram suas marcas, tomando consciência da realidade que a cerca e batalhando para transformá-la. • 1. http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.162/5213?page=3 2. http://www.seattleartmuseum.org/about-sam 3. http://www.archdaily.com.br/br/784732/zaha-hadid-falece-aos65-anos-de-idade 4. http://www.designboom.com/architecture/zaha-hadid-timelinecareer-projects-03-31-2016/


Para Assistir: As Sufragistas (2015) Direção: Sarah Gavron País: Inglaterra/França Duração: 1h47min

O filme mostra o movimento sufragista e a luta das mulheres inglesas do início do século XX por seus direitos de voto e participação política através dos olhos de Maud Watts, que se junta ao movimento, ilustrando como a vida das mulheres é permeada de sacrifícios, decisões e árduos posicionamentos na busca pela igualdade de direitos e tratamento. Mostra também como as mulheres passaram de uma luta pacífica a uma luta considerada violenta, ao atirar pedras em patrimônios materiais, na busca da proteção contra a violência diária das pedras nelas atiradas em forma de opressão, desigualdade e agressões físicas e morais.

Dicas de Leitura A arquiteta Denise Scott Brown, já em 1975 escreveu “Room at the top? Sexism and the Star System in Architecture”, no qual contava os desafios que, ainda hoje, as arquitetas enfrentam. O site do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil publicou uma série de artigos sobre importantes arquitetas para a profissão no Brasil, disponível em: <http://www.caubr.gov.br/?p=40124> Uma entrevista com a arquiteta paisagista Rosa Kliass pode ser lida no site da revista AU, em < http:// au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/223/criadorade-paisagens--271201-1.aspx > Já com a arquiteta Denise Scott Brown, há uma entrevista disponível em < http://www.designersandbooks.com/blog/stilllearning-from-denise-scott-brown > Mais informações sobre Elizabeth Wilbraham podem ser vistas em < http://www.independent.co.uk/ arts-entertainment/architecture/elizabeth-wilbrahamthe-first-lady-of-architecture-2215936.html> O depoimento de Sir Peter Cook sobre a medalha da RIBA concedida à Zaha Hadid pode ser integralmente lido em < http://www.archdaily.com.br/ br/784732/zaha-hadid-falece-aos-65-anos-de-idade >

Zaha Hadid (1950 - 2016)

A arquiteta iraquiana Zaha Hadid faleceu em Março deste ano. Autora de um grande número de projetos em todo o mundo, de museus a estádios olímpicos, a arquiteta é considerada uma das mais famosas arquitetas mulheres do mundo com projetos tanto icônicos quanto polêmicos – tomandose os questionamentos do “star-system” da arquitetura – mas que, ainda assim, tem como uma mulher a figura central na projeção de edifícios considerados inovadores por suas formas sinuosas e fluídas. Zaha Hadid foi a primeira mulher a receber o prêmio Pritzker de arquitetura, em 2004, assim como a primeira mulher a receber sozinha a medalha de ouro do RIBA – Royal Institue of British Architects , em 2016, pelo que o arquiteto Sir Peter Cook considerou “obra, embora rica em forma, estilo e maneirismo, possui uma qualidade que alguns de nós poderiam se referir como sendo um ‘olhar’ impecável”.

Heydar Aliyev Center - Zaha Hadid

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perfil

ina bo bard Por Bianca Carboni

Por Bianca Carboni

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ma mulher de plurais: Arquiteta, designer, cenógrafa, ilustradora e editora. Italiana e brasileira. Achilina di Enrico Bo nasceu em 1914 em Prati di Castello, Roma, Itália, onde, aos 26 anos, se formou em Arquitetura. Em desacordo com a ideologia da cidade neste período, Lina se transferiu para Milão. Tendo lá permanecido por apenas 6 anos, nossa artista se viu atuante em 3 revistas, sendo elas: “Lo Stile – nella casa e nell’arrendamento”, “Grazia, Belleza, Vetrina” e “L’illustrazionoe Italiana”. Retornando para Roma, após o fim da Segunda Guerra Mundial, funda a revista “A – Cultura della Vita” com o crítico Bruno Zevi. Após seu casamento com Pietro Maria Bardi, o casal viajou para o Rio de Janeiro, quando conheceram a arte brasileira, pela qual se apaixonaram. Graças a um convite de Assis Chateaubriand para Pietro fundar e dirigir um Museu de Arte Moderna, mudaram-se para São Paulo e, em 1951, ano de conclusão do seu primeiro projeto construído, A Casa de Vidro, Lina se naturalizou brasileira, concretizando, mais uma vez, sua pluralidade. “Naturalizei-me brasileira. Quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu não nasci aqui, escolhi este lugar para viver. Por isso, o Brasil é meu país duas vezes, e eu me sinto cidadã de todas as cidades, desde o Cariri ao Triângulo Mineiro, às cidades do interior e da fronteira”-Lina Bo Bardi Em 1958, a arquiteta viajou a Salvador, onde foi convidada a dirigir o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), além de projetar o restauro do Solar da Unhão e inserir em seu espaço a sede do museu. Lina, então, retornou a São Paulo (1966), onde veio a falecer, no ano de 1992.

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A partir da análise de seus projetos, encontra-se o perfil de uma arquiteta preocupada com a sociedade, com as consequências de seus projetos na região em que se inserem, com a história e a geografia das cidades. A Casa de vidro foi projetada valorizando o perfil natural de seu terreno, no bairro do Morumbi, em São Paulo. Lina utiliza de Pilotis, criando uma fachada principal suspensa. Seguindo também o princípio de suspensão de edifícios, elevado por quatro pilares e duas vigas, nasceu, em 1968, o Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand). No nível da rua, o museu da espaço para um vão livre, que demonstra a valorização das relações sociais, dos locais de lazer e reunião de indivíduos. Hoje, a área projetada por Lina Bo Bardi, apresentando de um lado a Avenida Paulista e, de outro, a 9 de julho, é local de passagem e permanência de grande número de pessoas, um refúgio contra a correria e movimento constantes da avenida Paulista. Ali encontra-se um local para se sentar, observar a cidade. O vão livre do Masp é palco de mobilizações públicas, onde são expostos os ideais daqueles que ali se encontram. Em Uberlândia, no ano de 1975, foi construído em sistema de mutirão, contanto com a participação da arquiteta, seu projeto da Igreja do Espírito Santo do Cerrado. Lina Bo Bardi projetou ainda o Sesc Pompéia (1982), dando nova função ao galpão de uma antiga fábrica de tambores, em São Paulo. Sua pluralidade é expressa não apenas em suas múltiplas áreas de atuação ou na naturalização como brasileira, mas também em sua visão das cidades, na preocupação com os âmbitos sociais, culturais e históricos.•

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Bibliografia:

http://institutobardi.com.br/

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polemicas Texto por Bruna Murbach Edição por Juliana Dias

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730 metros de concreto sobre as vias de São Paulo hoje não representam mais, apenas, o enorme peso deste material, mas o de uma decisão para o destino do Elevado Costa e Silva, o Minhocão, via expressa elevada 5,5 m, ligando os eixos leste e o oeste da cidade de São Paulo, e para todos os cidadãos da cidade. Se a implantação dessa grande estrutura ocorreu, durante a ditadura civil-militar, em 1971, de maneira autoritária e coercitiva, o que a população procura fazer agora é ter sua voz ouvida quanto ao novo papel do elevado, definido pelo Plano Diretor da Cidade de São Paulo como tendo de ser desativado até 2030. Uma vez que continuar como está, opinião que 53% dos moradores da cidade manifestaram (Data Folha) mesmo diante do trânsito caótico vivido todos os dias no viaduto,

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configura-se fora de questão, duas grandes vertentes surgiram para a delimitação de um novo papel para o Minhocão: sua transformação em parque ou sua demolição. A demolição dessa enorme estrutura, embora tenda a trazer um grande entulho à cidade, procuraria contornar os problemas de poluição do ar e sonora, assim como a degradação da área subjacente ao Minhocão, desprovida de luz solar e marcadamente ponto da manifestação de problemas sociais. Aqueles que defendem a criação de um parque, no entanto, criticam o desperdício da estrutura armada e defendem as potencialidades desse enorme espaço linear que pode trazer lazer e contato com a natureza não apenas para o centro, mas para toda a cidade, resignificando essa marca em seu espaço.


por Juliana Dias

Demolir ou continuar?

Frente a essa dualidade de discussões, procura-se encontrar soluções para tantas cicatrizes deixadas no espaço da cidade, a poluição, a desvalorização da área, os problemas de saúde de seus moradores, o caos do trânsito, conciliando-a aos coágulos que vem se formando, a ocupação do espaço como área de lazer e convívio, quando fechada, ou ainda mais, a mobilização do cidadão para pensar no espaço urbano e procurar interagir e intervir neste. Mas quem será o cidadão beneficiado com o destino do Minhocão? Para quem se articula cada uma dessas propostas? Que questões serão priorizadas, a saúde do morador do prédio vizinho ou dos paulistanos que lá passearão? A

segurança do transeunte abaixo da estrutura, ou a comodidade daqueles que passam acima? Que efeitos serão gerados com essa mudança, gentrificação das áreas próximas, expulsão de seus moradores, melhorias sociais, maior ou menor qualidade de vida ao cidadão?

Para pensar nessas questões, seguem os textos de duas arquitetas-urbanistas, Ana Carmona e Cecilia Lucchese, a favor da criação de um parque e do desmonte, respectivamente, pois dentro de uma polêmica cabem múltiplas facetas de reflexão.

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Viaduto P a r qu e o u N U N C A M A I S?

polemicas

por Maria Cecília Lucchese

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minhocão é a bola da vez nas discussões sobre a cidade de São Paulo. Bola que já foi jogada para o alto várias vezes, que foi rebatida, quicou e ficou no chão esquecida por vários anos. Já tivemos inúmeros projetos para dar um novo destino a essa estrutura implantada entre moradias, inclusive um concurso de ideias em 2006, ganho pelos arquitetos José Alves e Juliana Corradini, para quem o minhocão deveria ser transformado em um túnel elevado, e construído em seu teto um parque linear. A proposta, apesar de premiada, não saiu do papel. O que de fato impede a alteração do uso do minhocão ou a sua derrubada ou ainda a sua desmontagem, forma mais recente de solução quando se pensa na retirada da estrutura de concreto? A meu ver é a falta de recursos para investir numa real transformação daquela paisagem urbana, que não foi (e não é) considerada como prioritária para os prefeitos que se sucederam na Prefeitura durante todos esses anos de discussão. Para atender às necessidades de mobilidade urbana da cidade ao mesmo tempo em que se

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Diário Centro do Mundo

responde à demanda de setores cada vez mais numerosos da sociedade, que lutam por novas áreas de lazer na cidade, foram tomadas medidas paliativas, que se não respondem concretamente às demandas, pelo menos também não as ignoram. Foi sancionada uma lei municipal em março deste ano, de iniciativa do vereador José Police Neto, transformando o minhocão em parque. A lei concretamente não altera nada. O viaduto continua tendo os mesmos usos durante e no final de semana que vem tendo há anos, o que se pretende criar é um conselho gestor do “parque”, que viria a discutir soluções. Isso levará a algo concreto? Realmente não acredito. O que se observa é que os conflitos de interesse em torno do local estão cada vez mais presentes e, ao mesmo tempo em que moradores das redondezas passam a usar cada vez mais o elevado nos momentos que este fica fechado aos carros, grupos com diferentes objetivos se organizam e tentam ser ouvidos na intenção de definir os futuros rumos do elevado.


Mas o que está em jogo quando se fala em desativar completamente o minhocão, seja qual for o destino que se queira dar a ele? É a mobilidade da cidade de São Paulo. O elevado faz parte da ligação rápida (?!) leste-oeste da cidade. Ele não é um elemento isolado de 2,8 km, ele é parte da integração do eixo Lapa/Itaquera. Não existem dados de quantos veículos usam o Minhocão todos os dias, mas a Companhia de Engenharia de Tráfego- CET fez um estudo do impacto que haveria no trânsito de outras vias da região, tirando-se o viaduto, e concluiu que não haveria grandes impactos (jornal Metro de 09/06/2015). De fato, os veículos procurariam outros caminhos se a via se tornasse muito congestionada. Mas podemos invadir as áreas residenciais no entorno com mais trânsito? Ou ainda, podemos realmente dispensar uma via de ligação entre a zona leste e a zona oeste, mais direta e mais rápida? Selecionei alguns dados da Pesquisa OD do Metrô de 2012.

No sentido Leste temos cotidianamente 6 milhões de viagens, enquanto que no sentido contrário temos cerca de 3 milhões. Somam-se a estas mais 1,7 milhão de viagens no sentido Leste e 1 milhão no sentido contrário, que são viagens esporádicas, mas que também tem grande impacto no trânsito desses dois eixos da cidade. Pelo modal de transporte individual temos um número de viagens indo para a Zona Leste de cerca de 2,3 milhões e no sentido Oeste de cerca de 1,1 milhão. E sabemos que a maioria dos carros em São Paulo trafega com um único passageiro. Apesar do número de viagens em transporte coletivo ser muito grande, o transporte individual também é muito significativo. Quantas dessas viagens passam pelo minhocão todos os dias? 5% 10%? 20%? 30%? Se simularmos que 10% passam pelo minhocão, teremos cerca de 350 mil viagens diárias, o que é um número bem elevado. Está bem, isso foi somente um exercício para pensarmos numa quantidade de viagens que sabemos ser grande, porque o verdadeiro fluxo não foi medido até hoje, já que nunca se pensou seriamente em desativar o minhocão.

Caso isso acontecesse, melhor do que distribuir o tráfego pelas ruas próximas, o ideal seria se aproveitar os terrenos da ferrovia na zona oeste – tão perto - para construção de uma via alternativa, ao mesmo tempo em que se investiria em um sistema de transporte coletivo rápido lá, um transporte sobre pneus ou trilhos (BRT ou VLT). Mas para poder usar esses terrenos pode ser que seja necessária a construção do ferroanel (projeto do governo Estadual que ainda não saiu do papel) uma vez que trilhos da CPTM são compartilhados com trens de carga, cujo sistema foi privatizado. Mas a questão é: isso vem sendo debatido, vem sendo estudado pelas esferas de governo que atuam sobre a cidade de São Paulo? Não, não vem. E enquanto isso não for feito, teremos o elevado priorizado para a mobilidade, com seu uso alternativo no final de semana e a noite. Mas agora suponha que isso foi debatido, e vamos poder usar o elevado de outra forma, ou desmontá-lo. O que faríamos então? O transformamos em parque? Desmontamos?

1 A) Bela Vista, Bom Retiro, Brás, Cambuci, Consolação, Liberdade, Pari, República, Santa Cecília, Sé B) Zona Leste C) Alto de Pinheiros, Barra Funda, Lapa, Perdizes, Vila Leopoldina

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polemicas

Minha opinião é de que ele deva ser desmontado. Que se aproveitem suas vigas e lajes em passagens que precisam ser construídas pela cidade e se libere o sol e a chuva para chegar às vias daquele trecho. Que se ilumine os andares térreos dos edifícios. Todos tem direito à luz do sol! E que se tenha um projeto de revitalização para a São João tornando-a um pulmão verde para aquela região, e dando-lhe diversos usos: é possível um canteiro central amplo, com ciclovia, pista de caminhada e até alguns bolsões de estar: a Avenida São João tem 26m de largura, se considerarmos as calçadas! Se projetarmos calçadas largas (5 metros cada uma), duas pistas para veículos nos dois sentidos, e em alguns trechos bolsões de estacionamento, teremos entre 6 a 4 metros de canteiro central para caminhadas, ciclovias e áreas de estar, isto é, um pouco mais do que aquele espaço ocupado hoje pelos pilares e canteiro central. Ganharíamos ainda integralmente a praça e áreas verdes atravessadas pelo minhocão: a Praça Marechal Deodoro, o Largo de Santa Cecília, as pracinhas na esquina com a Rua Mário de Andrade e a na esquina com a Rua Perdizes. E ainda poderíamos implantar uma bela “avenidaparque” no seu significado mais correto, criando um boulevard ligando o Vale do Anhangabaú ao Parque da Água Branca, acrescentando-se no caminho o Largo do Paiçandu e o largo entre as ruas Vitória e Aurora. Ganharíamos mais: em termos ambientais, o gás-carbônico produzido pelos veículos, e que hoje em parte fica preso por causa do elevado, seria dispersado mais rápido. Para a diminuição da poluição do ar contribuiria também o plantio

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de árvores no canteiro central. O ruído ao nível da rua cairia alguns decibéis, pois o elevado também faz com que ele reverbere. Com isso melhoraríamos significativamente a qualidade ambiental daquela área, o que teria impacto na qualidade de vida das pessoas que ali moram e que ali trabalham. Temos ouvido que a retirada do minhocão vai gentrificar aquela área, expulsando a população de menor renda. A área é bem localizada em termos urbanos: é central, tem comércio e serviços e vários atrativos por perto. É claro que o minhocão deprecia o valor dos imóveis, por todos os inconvenientes que ele causa à vida naquele local. Agora, não vejo diferença no que acontecerá em termos de valorização dos imóveis, se tivermos um parque sobre o viaduto ou se não tivermos viaduto. Em ambos os casos, a área vai valorizar e poderá expulsar moradores de menor renda. Como evitar? Não fazendo o parque? Não retirando o minhocão? Parece-me uma incoerência em termos urbanos, afinal o que todos nós queremos é melhorar a qualidade de vida das pessoas nos vários bairros da cidade. Não é justo para a cidade e para seus moradores não melhorar urbanisticamente as áreas centrais imaginando-se que só assim os mais pobres vão poder continuar ali morando. Os pobres merecem uma cidade de qualidade, tanto nas regiões periféricas quanto no centro.


por Juliana Dias

Para tentar evitar a expulsão é necessário que o poder público aja antes das mudanças, pensando numa política de produção/locação de habitações sociais para aquela área. É preciso ouvir os moradores de menor renda e atender suas necessidades de moradia, e isso tem que ser feito antes de uma intervenção. Na verdade, isso já deveria ter sido feito. Somente assim se poderá garantir a permanência daqueles que querem ali ficar, mas não tem condições de arcar com aluguéis mais altos. Parece que temos um bom caminho a percorrer para vermos mudanças reais ao longo da São João. Podemos até lá, além de lutar por alterações, promover a discussão e exercitar nossa criatividade. Afinal, todos aqueles que querem mudanças, com ou sem o elevado, querem acima de tudo uma cidade em que se possa viver melhor, ter diversão, alegria, saúde e segurança. Uma cidade com pessoas na rua, com ruas que não sejam meros locais de passos apressados e buzinas estridentes. Somos privilegiados, pois somos profissionais que podemos propor soluções concretas. Não vamos nos omitir nesse debate! •

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Minhocão: possibilidades do sim Texto por Ana Carolina Camona

U

ma grande obra de infraestrutura, toda em concreto. Extensão de 2730 metros, largura de 15,5 a 23 metros, altura de 5,5 metros – daí o nome “Elevado”: “Elevado Costa e Silva”, pois foi Maluf, e a ditadura militar, quem o fizeram. Inaugurado em 1971, parte da Praça Roosevelt, segue pela Rua Amaral Gurgel, Avenida São João, Praça Marechal Deodoro, Avenida General Olímpio da Silveira, chega no Largo Padre Péricles.

que desenham, ensaiando a cidade. Paisagem que cria paisagem. Um grande passeio, por onde passam cachorros, bicicletas, skates; a rua alta, de onde se vê o verde (como já escreveram em seus muros), e as árvores na altura das copas (como os pássaros), e os automóveis de cima, e as fachadas (tantas, e tão variadas) de frente.

Assassina parte do bairro de Santa Cecília, escurece ruas e avenidas, asfixia largos e praças. Passa a uma distância de apenas 5 metros das janelas dos apartamentos, fonte de ruído e poluição, desvalorizando imóveis – e pessoas. Monumento ao automóvel, recente e eterna desgraça. Uma cicatriz urbana, uma ferida cinza. Ode à sujeira, símbolo máximo da feiura, expressão de todo abandono e de qualquer decadência. Teto dos sem-teto, suporte de quem não suporta mais: “todo homem deve gritar”. Uma vida que se improvisa, sob os pilares; mas não por isso menos viva. Grafites, pixos, cartazes e colagens, tinta cinza da prefeitura, e novamente grafites, pixos, cartazes e colagens… Dias de sol: improváveis piscinas, pastel, pipoca, água de coco; dois bailarinos que dançam e alguns de nós

Um movimento, do não ao sim, passando pelos muitos e inúmeros “pode ser”: pode ser esse o caminho para o Minhocão. Hoje, coisa rara na nossa sociedade ignorante da cidade, vemos o Elevado causando polêmica, até mesmo nos jornais de grande circulação; não apenas arquitetos, mas também políticos, escritores, moradores, artistas, se apropriam da discussão, e querem também, como deve ser, fazer urbanismo. Opiniões diversas se delineiam, as pessoas se associam e procuram defender suas opiniões: Movimento Desmonte do Minhocão, Associação Amigos do Parque Minhocão, entre outros grupos, posicionam-se e ampliam o debate. Equilibrandose entre as várias posições, a prefeitura declara o Minhocão “parque”, sem entretanto proceder à implantação física de um parque nos moldes tradicionais.

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A minha defesa é a de que sim, o Minhocão deve permanecer: não apenas como um parque (como discutirei mais à frente), mas como um manifesto da cidade que queremos e, ao mesmo tempo, da que não queremos, da cidade que já se foi, e da cidade que ainda é. Pode-se refletir sobre a questão a partir da noção da “história presente”, conceituada por Lina bo Bardi, que propõe considerar o passado como presente histórico, “ainda vivo”, desenvolvendo a capacidade de entender esse passado historicamente, “sabendo distinguir o que servirá para novas situações que se apresentem hoje”. É a consciência histórica – que Lina lindamente concretiza no projeto do Sesc Pompéia – que precisa ser retomada para pensarmos o Minhocão: como pensamos a relação entre passado e presente, na cidade de São Paulo?

Como lidamos com as partes “feias”, violentas e indesejáveis de nossa história? Queremos simplesmente esquecê-las ou assumiremos o desafio trabalhar com elas de forma dialética, problematizadora? Percebo que, dentre os defensores da derrubada do Elevado, predomina uma postura saudosista, quando argumentam que, antes do Minhocão, a cidade era melhor e mais bonita; com isso, parecem pretender voltar atrás na história e na cidade (como se isso fosse possível), removendo qualquer vestígio dessa grande obra viária. Em nome do passado, ou mesmo em nome do futuro, querem apagar tudo aquilo que descrevi nos parágrafos iniciais desse texto e que constitui parte da nossa história e da nossa memória.

por Ana Carmona

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por Juliana Dias

polemicas

Um desses passadistas chega ao cúmulo de mostrar uma foto da Praça Marechal Deodoro pré-Minhocão, quando a cidade era “bonita, europeia, modernista” (sic), defendendo que bastaria olhar a imagem para se convencer de que a derrubada seria a única alternativa; gostaria de lembrá-lo que, mesmo que fotograficamente mais aprazível, nem por isso a São Paulo de então era um sonho de igualdade, liberdade e fraternidade, e que, se com a derrubada do Minhocão ele espera um ressurgimento urbano à la Jardins de Versalhes... socorro, pare o mundo que eu quero descer! É preciso deixar claro, entretanto, que, em relação ao Minhocão, a defesa da “história presente” só tem sentido porque consideramos que sim, há ali coisas que “servem” às necessidades atuais, que têm potencial de qualificar a cidade e a vida de seus habitantes,

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hoje. E nesse ponto entro na segunda parte de minha argumentação: a de que o Elevado é uma grande obra de infraestrutura urbana, uma das maiores e mais impactantes que temos em São Paulo, e isso não pode ser desprezado. Claro que não estou fazendo uma defesa da solução viária: estou chamando a atenção para o fato de que a nossa trajetória rodoviarista, autoritária, tecnicista etc. etc., e o nosso amor pelo concreto armado, nos deixaram um “suporte” (para usar um termo da arte) com um potencial fantástico. Um suporte que, dependendo do uso que se dá a ele, pode conectar ruas, bairros, pessoas; que pode trazer ao cidadão (e não ao carro) novos pontos de vista, inusitados, reveladores; que pode instigar experiências urbanísticas que trabalhem concomitantemente as várias escalas da cidade.


O arquiteto Rem Koolhaas tem uma frase de efeito que diz: “a infraestrutura é muito mais importante que a arquitetura”. Não sei se em absoluto, mas no ponto em que está o debate, tendo a concordar com ele; da transformação do Minhocão, poderia surgir um grande equipamento urbano (cujo impacto iria muito além de seu entorno imediato), e a possibilidade de estimular e permitir outras formas de se pensar e, principalmente, fazer arquitetura na cidade – algo que não aconteceria se o Elevado fosse eliminado e as ruas e avenidas liberadas simplesmente voltassem à configuração urbana usual (via/ semáforo/ calçada esburacada/ fiação exposta/ árvore nenhuma, ou ainda o modelo chique mas tão pobre da Oscar Freire, que varia pontualmente em relação ao anterior). [Parênteses, aqui, para a História da Arquitetura: já tivemos outros Minhocões. Minhocões progressistas, aliás: primeiro, os conjuntos habitacionais do Pedregulho e da Gávea, no Rio de Janeiro, construídos entre o fim dos anos 1940 e início dos 1950 e projetados por Afonso Reidy. Pelas suas formas serpenteantes no alto do morro, que se queriam também paisagem, ambos logo foram apelidados de “minhocão”; podem considerados verdadeiros experimentos de cidade, nos quais a habitação interligava-se indissoluvelmente aos equipamentos urbanos (como escolas, mercado etc.), e no qual a arquitetura, generosa, repropunha o espaço da cidade (o melhor exemplo disso, sem dúvida, é o solo urbano que o edifício principal recria, na rua elevada). Já o Minhocão da UnB, universidade idealizada por Darcy Ribeiro, foi projetado por Niemeyer e construído por Lelé na década de 1960; é um enorme edifíciorua curvo, entremeado de jardins, que abriga vários institutos e faculdades; uma proposta na qual a arquitetura, tal como uma geografia (como diz Paulo Mendes da Rocha), propunhase a estruturar o território e, ao mesmo tempo, promover o encontro entre pessoas e conhecimentos diversos, antes isolados e fragmentados. Nesses projetos todos, a intenção foi a de criar edifícios-estrutura, ou ainda edifícios-paisagem, edifícioscomunicação, edifícios-cidade, enfim, uma arquitetura-urbanismo – superando talvez a própria dicotomia presente na frase de Koolhaas.]

Voltando. Note-se que, nessa defesa do grande equipamento urbano, o Minhocão poderia ser um parque, contemplando o lazer – entendendo lazer como “cultivar o corpo e o espírito”, individual e coletivamente, ou seja, um espaço para a prática esportiva, mas também para atividades culturais e políticas. Um parque linear que aconteceria nas alturas e também no nível do chão, pois os elevados têm justamente essa qualidade de duplicar o disputado solo urbano (qualidade em que nunca reparamos pelo fato deles estarem sempre destinados ao carro). Mas, para além do lazer, a sua estrutura e localização central nos colocam a possibilidade de trabalhar outras necessidades fundamentais da cidade, que poderiam ser articuladas por esse grande suporte: mobilidade e transporte, habitação popular, educação, apenas para citar as mais elementares. Em determinados trechos, a estrutura poderia sustentar ou abrigar edifícios e equipamentos públicos, ou ainda ser diretamente conectada (via passarelas, por exemplo) a edifícios próximos, ampliando ainda mais as possibilidades de conexões e da criação de espaços públicos variados e interessantes. Um último ponto, e um alerta para os arquitetos: o que está em jogo nessa discussão toda tem como ponto chave uma reafirmação da noção de projeto. Não do projeto de arquitetura convencional, assinado por X ou Y, mas sim o projeto como intenção, como um “lançar à frente”, ou seja, um projeto de futuro para a nossa cidade. Um projeto coletivo, popular, construído passo a passo, que reconheça as nossas vicissitudes e limitações, e que faça frente aos processos de especulação imobiliária e gentrificação que certamente acontecerão se o Elevado se transformar. Um anti-High Line, um projeto que, acredito, já começou a ser implantado, quando as pessoas se apropriaram do Minhocão. Enfim: um projeto que conecte, incorpore, e não se esqueça, da história, da violência, assim como da vida e da arte. •

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cronica

Da Sensibilidade por Homem de chapéu-coco

A

nos pintando círculos, bolas, esferas, espirais, cavando buracos e andando por viadutos. Simone procurava os oblíquos e os escuros para discernir em seus modelos o que a inquietava, tentava capturar algo de muito importante sabendo que bastaria olhar diretamente e essa essência sumiria, se resignava a encarar tudo com um olhar periférico tentando vislumbrar esse vir a ser. Nessa fixação quase paranóica ela desenvolveu a tal ponto seus objetos de estudo e sua técnica de pintura que mal tinha chegado aos 25 anos quando alcançou o prêmio máximo que é costume dar aos artistas: uma vida de indigente e o título de vagabunda. Na tentativa de não morrer de fome, fez a prova e conseguiu uma vaga no curso de Arquitetura pensando que ali teria uma mínima perspectiva de vender seu tempo a troco de dinheiro e algum respeito. Terminou uma enorme tela, habitada por mancha preta ao centro que parecia se aprofundar em espiral para dentro de si mesma. Feita durante o curso, diz-se por aí que essa pintura só pôde ser concluída porque a inauguração do bandejão afastou a fome da artista por um tempo. Ela sabia que aquela era a confluência de todos os seus esforços, sua primeira e talvez última grande obra. Decidiu mostrá-la a seus professores primeiro, que lhe disseram: “Mas isso não é Belo, não causa suspiros sublimosos e para se dizer uma artista você devia saber que essa é a única razão da arte. Medíocre, mas é assim que se melhora.” “Parece um buraco negro ein. Se você calcular dá pra saber onde tem um desses sem precisar olhar, a física nos permite isso.” “Esse círculo não está muito redondo ein, vamos refazer?” “Uma vez aconteceu uma coisa comigo que tem tudo a ver com isso que você está me mostrando (conta uma história longa e só levemente relacionada ao contexto), mas enfim.” “Nossa, essa profundidade quase circular se espiralando me lembra fractais, já ouviu falar? São as coisas mais lindas!” “Lindíssimo, gostei muito dessa cor intensa, mas talvez esteja ainda um pouco cru. O importante é continuar ousando, não perca essa criatividade, é o que importa.” “Podia ter detalhado mais esse buraco, você ainda está muito presa ao que existe na sua cabeça. Da próxima vez olha mais pro que está ali.” Saiu querendo esconder a tela, enfiá-la num lugar onde ao menos se manteria distante da incompreensão rasa do especialista. Duvidou também de si mesma, talvez estivesse fadada ao mercado, esse ente quase mitológico com quem o diretor se orgulhava de flertar, pensou isso já percebendo a correlação entre o esvaziamento teórico e o objetivo mercadológico que tinham para sua mente. Já era noite quando foi embora, aproveitou que era uma quinta e parou no bar para pelo menos anestesiar as próprias preocupações. Deixou a tela encostada no balcão e sentou ao lado para beber. Lá pela terceira garrafa alguns veteranos se aproximaram pedindo para ver a pintura.

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e Agregada

ilustração Jade Guirau Anos depois lembraria daquela noite como um filtro que lhe permitiu entender do que realmente se tratava a formação de uma pessoa em um meio de vozes dissonantes e onde acontecia a parte relevante dessa coisa que vai pelo nome de educação. A tela passou de mão em mão e ela ouvia desinteressada os elogios que as pessoas lhe dirigiam. Uma veterana prestando atenção detidamente balançava desatenta o copo de cerveja em uma das mãos. Sériassorrindo ela disse absorta: “Gente, tem um labirinto na fundura dessa tela que se enraiza pra dentro de mim.” O comentário pareceu morrer ali, mas viveu no não desistir da pintora. •

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D E T A

DESENHO POR: GUILHERME CAJAIBA

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L H E S

Sesc Pompeia por Lina Bo Bardi. São Paulo FOTOGRAFIA POR: MARIA RADUAN 53 | piloti

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D E T A

Gare do Oriente por Santiago Calatrava. Lisboa, Portugal FOTOGRAFIA POR: ANTONIO CARLOS MOUTINHO

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L H E S

DESENHO POR: GIULIA YOSHIMURA PESTANA

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CHARGE por Matheus Wey

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