Revista Pixel TV | Fevereiro | 2021

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NESTA EDIÇÃO Capa

Reportagem

Ascensão Preta

Audiodescrição

Pág. 14

Pág. 6

Carimbo

In Dicas

Vitrine

Ratched

Para assistir, ler e ouvir

Promoções

Pág. 11

Pág. 19

Pág. 20

Telas O Gambito da Rainha Pág. 22

Fala Queer Representatividade Pág. 28

Perfil

Traçados

Elliot Page

Série lacradora

Pág. 30

Pág. 36


Editorial Assédio: um crime também intelectual De acordo com o dicionário Oxford, assédio significa “insistência impertinente ou perseguição constantes em relação a alguém”. Não sem razão, muito temos ouvido essa palavra associada à importunação sexual. Ondas de denúncias, iniciadas na indústria cinematográfica e com o movimento #MeToo, transpassaram esferas e países, mostrando um problema estrutural grave na sociedade. Mas hoje queremos reconhecer outra forma de assédio: o intelectual. Antes de entrar no tema, é importante frisar que a Pixel TV não deseja aqui se aproveitar de um movimento ou fazer comparações sobre a gravidade entre os problemas. Contudo, acreditamos que há muito para ser melhorado e que há espaço para promover diferentes discussões. Uma conversa não invalida a outra. A história da Pixel TV começou há 6 anos e, apesar de altos e baixos, nunca parou. Nossa missão foi sempre a mesma: compartilhar informação sobre conteúdos e produções audiovisuais com um formato único e inerente da paixão de quem escreve. Sabíamos que existiriam dificuldades, mas não contávamos que uma das maiores fossem as tentativas de nos tirar essa originalidade. Não foram raras vezes que buscaram se apropriar do nosso formato e conteúdo. Tivemos que brigar com as ferramentas disponíveis – como denúncias e bloqueios – a fim de evitar essa “insistência impertinente”, como define o dicionário. E sabemos que isso não acontece só com a gente. Seja divulgando conteúdo sem citar a fonte ou mentindo que algo de outrem é seu, não faltam exemplos. Essa conduta é bastante prejudicial não só para o autor, que perde os direitos e o controle de suas criações, como para quem as acessa. Nós, “da comunicação”, sabemos que para dar a uma mensagem o efeito desejado é necessário um caminho “limpo” entre emissor e receptor. Então, se o último não identifica corretamente o primeiro, a mensagem ganha outro significado. O assédio intelectual também precisa ser combatido. Sua tolerância, aceitação resignada, desmotiva a produção de conteúdo e diminui a diversidade das possibilidades de criação, que deveriam ser ilimitadas frente ao potencial humano e tecnológico. Diga não ao assédio intelectual. #nóstambém vamos lutar por isso! Amanda Pioli Jornalista, redatora da Revista Pixel TV.

Redação Amanda Pioli Ana Flávia Miranda Carol Cadinelli Cinthia Quadrado Gabriela Assmann Maísa França Maria Clara Lima Fotógrafa Mariana Sperandio Colunistas Maria Clara Lima Mariana Sperandio Mariela Assmann Editoras Maísa França Maria Clara Lima Mirele Ribeiro Revisão Gabriela Guimarães Ilustrações Raquel Lima Projeto Gráfico Wellington Pereti Diagramação Camila Hiraishi Arte Rayssa Bevilaqua Direção Executiva Maria Clara Lima Jornalista Responsável Mirele Ribeiro - MTB 78.114/SP

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Revista Pixel TV edição #3 fevereiro de 2021. Essa publicação é distribuída gratuitamente via web para você carregar onde quer que for. Seja no celular, no Ipad, na telinha do computador. Para isso, basta acessar o nosso Issuu! http://issuu.com/revistapixeltv


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REPORTAGEM

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• PIXEL TV | Fevereiro 2021


Imagem Divulgação

Ver através de palavras Você já pensou na importância da audiodescrição? O recurso é essencial para garantir igualdade e independência às pessoas cegas ou com baixa visão Por Cinthia Quadrado

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Passos para a tradução de imagens em palavras Segundo Luciane Molina, pedagoga e especialista em educação com foco na deficiência visual, “a técnica consiste em colocar imagens em palavras, bem como expressões em sentimentos e emoções. Cenários, figurinos, paisagens e outras informações relevantes ganham movimento e contorno na audiodescrição, que leva às percepções imagéticas na mente do espectador”. As principais diretrizes para essa tradução incluem objetividade, vocabulário amplo e descrição ordenada. “Deve ser breve e concisa, evitando expressões com significados parecidos, afirmações óbvias ou interpretação de emoções para que o espectador tire suas próprias conclusões”, explica Luciane. O vocabulário amplo auxilia nesse processo para descrever as características do que se pretende visualizar, deixando claras formas, texturas, tamanhos, posição em relação a um ponto de referência, cor, ângulo de visão, posição do narrador, entre outros. “A audiodescrição precisa, ainda, ser ordenada. Começando por características mais amplas até chegar a uma referência de suas partes, detalhadamente, sempre procurando posicionar elementos conforme a relação com os demais. O audiodescritor é a ponte entre a imagem não vista e a imagem construída por meio de referências sonoras, conduzidas e esculpidas na imaginação de quem as ouve”, complementa Luciane.

Um longo caminho pela frente... Ao longo do tempo, houve avanços no assunto, mas ainda há muito a ser feito. Como a perda de visão aumenta

desigualdades, dificulta cuidados básicos e impõe barreiras para trabalho e educação, recursos como a audiodescrição e o braille precisam de divulgação e incentivo - de instituições, sociedade civil e do governo - para garantir igualdade e independência às pessoas com deficiência. “Apesar da legislação em prol das pessoas com deficiência - como a Lei 13.146 (2015), que traz normas para promover o exercício dos direitos e liberdades - há um longo caminho pela frente. A divulgação dos benefícios e resultados positivos que as ações geram é bastante importante”, considera Claudia Scheer, supervisora da área de produtos radiofônicos da Fundação Dorina Nowill para Cegos. Imagem Divulgação

Imagine sentar-se no sofá para assistir à sua série preferida, porém, de olhos vendados. Atento, você escuta as falas e os detalhes da cena - desde o estilo das roupas até a expressão feita pelos personagens. A riqueza de informações, que dá contexto e facilita a compreensão da trama, é fruto da audiodescrição (AD), técnica utilizada para auxiliar pessoas cegas ou com baixa visão. “Trata-se de um recurso que permite o acesso a produtos cujo conteúdo seja essencialmente visual através da transformação das imagens em palavras”, explica Angela Daou Paiva, psicóloga e audiodescritora da Laramara, Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual . Cerca de 36 milhões de pessoas no mundo são cegas e outras 217 milhões têm baixa visão, segundo a OMS. No Brasil, há mais de 6,5 milhões de pessoas com alguma deficiência visual (cegos, com baixa visão ou grandes/permanentes dificuldades para enxergar), de acordo com o IBGE (2010). “Quase 80% das informações chegam às pessoas por meio da visão, por isso a audiodescrição é imprescindível”, afirma Regina Oliveira, coordenadora de revisão em braille. O recurso é utilizado em produtos visuais (séries, filmes, programas, teatro, eventos esportivos, acadêmicos e culturais) e possui extrema importância no que diz respeito à inclusão social e à participação efetiva da pessoa com deficiência visual nas esferas social, cultural e educacional. “A audiodescrição dá acesso à informação, permite fazer-se presente de forma autônoma sendo protagonista de suas próprias ações”, destaca Angela.

Claudia Scheer

A partir da divulgação e promoção de conhecimento sobre o tema, as pessoas podem tomar dimensão da importância das ferramentas de acessibilidade e incorporá-las no dia a dia, em diferentes grupos e atividades que participam. “Sempre levando em conta que um recurso não pode e nem deve substituir o outro. O braille, por exemplo, é indispensável para a


Programação inclusiva Por lei, as emissoras de TV aberta são obrigadas a oferecerem uma programação com AD de pelo menos duas horas semanais - desde julho de 2011 - ampliadas a cada ano até chegar às 20 horas semanais em 2020. A Anatel também lançou uma resolução, em 2018, que obriga que a AD esteja disponível na TV por assinatura. A teoria, infelizmente, não se aplica à prática. Apesar de 96,4% das casas brasileiras terem televisões e 86,6% possuírem sinal digital de televisão aberta, segundo a PNAD (2018), nem todas emissoras possuem uma programação acessível exigida pela legislação. Globo e TV

Cultura destacam-se pela exibição de programas, filmes e séries. A TV Brasil e a Record, por sua vez, disponibilizam sua grade online. “Existe a obrigatoriedade, no entanto, isso ainda não é um fato consolidado”, relata Angela. E, mesmo que 86% dos brasileiros tenham usado a internet para assistir a vídeos (programas, séries e filmes), em 2018, algumas plataformas de streaming ainda possuem limitações de catálogo (nem todos os títulos estão disponíveis com AD ou há produções com AD apenas em inglês) ou problemas de compatibilidade nos aplicativos (quando o recurso não é compatível com o modelo de TV do usuário). Imagem Divulgação HBO

minha autonomia: para adquirir produtos (alimentos e medicamentos), ter privacidade (acessar faturas e extratos bancários) e me sentir segura (painéis de elevadores)”, destaca Regina. Assim, os recursos de acessibilidade precisam acompanhar a evolução tecnológica, em aplicativos, redes sociais, sites, entre outros meios, adaptados às necessidades das pessoas cegas ou com baixa visão, além de terem uma inserção simplificada no dia a dia. “Desse modo, os objetivos de inclusão serão alcançados por meio da conscientização da sociedade e da efetiva participação da pessoa com deficiência visual, que é, em essência, a protagonista desta caminhada”, finaliza Angela.

Big Little Lies

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HBO Inclusão

Imagem Divulgação HBO

A HBO anunciou a expansão de conteúdos disponíveis no HBO Inclusão, aplicativo gratuito (Android ou iOS) para assinantes da HBO e HBO Go. O app oferece audiodescrições em português para cegos ou pessoas com baixa visão e legendas adaptadas com visualização e zoom ajustados para pessoas com deficiência visual. As novas séries disponíveis são The Outsider, Perry Manson, I May Destroy You, Pátria e O Negócio. Antes mesmo da expansão, Game of Thrones, Euphoria, Chernobyl e Big Little Lies já podiam ser acessados com AD. “Esperamos expandir a experiência de entretenimento da HBO para todos os nossos fãs, alcançando públicos cada vez mais diversos, como a comunidade de pessoas com deficiência visual e auditiva, a quem servimos por meio de tecnologia e da inovação”, afirma Gustavo Grossmann, head de General Entertainment Networks da WarnerMedia Latin America. “O HBO Inclusão permite que mais pessoas tenham a oportunidade de se relacionar com nossas histórias e debater tópicos atuais”, complementa. O aplicativo pode ser utilizado individualmente em dispositivos móveis sincronizados por áudio com a transmissão, permitindo que os usuários assistam ao conteúdo junto de outras pessoas, integrando-os à experiência de grupo.

O Negócio

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Confira:

Oferece AD em 36 idiomas, a maioria na língua original da produção. Samantha! e 3% são acessíveis no Brasil, porém ainda há títulos internacionais que não são. Em 2020, até mesmo aconteceu uma campanha #ImplementaADNetflixBrasil para apontar problemas de acessibilidade em plataformas e aplicativos.

Tem 17 opções de idiomas, mas há limitações de títulos com AD. The Mandalorian, por exemplo, ainda não está disponível para cegos e pessoas com baixa visão.

Em 2020, começou a implantar o Closed Caption (Legendas Ocultas) em todos os seus originais gradativamente, além de prometer que o recurso de AD será ampliado.

Possui alguns títulos com AD, legendas, faixas alternativas ou combinações das opções. No entanto, a variedade de recursos compatíveis depende do dispositivo que você está usando.


CARIMBO

A ESTRANHA NO NINHO

Nota: 7,5 Por Gabriela Assmann Ficha Técnica: Título: Ratched Duração: 1 temporada Gênero: Suspense Censura: 18 anos Criadores: Evan Romansky e Ryan Murphy Elenco: Sarah Paulson, Finn Wittrock, Judy Davis, Sharon Stone, Cynthia Nixon, Jon Jon Briones e Charlie Carver Ano de produção: 2020 País de origem: Estados Unidos Fevereiro 2021 | PIXEL TV •

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Imagens Divulgação Netflix

A bem sucedida parceria de Sarah Paulson e Ryan Murphy teve mais um capítulo em 2020, a série Ratched. Segundo dados da própria Netflix, a produção foi a melhor estreia da plataforma no ano. Apenas 28 dias após o lançamento, 48 milhões de assinantes já haviam começado a assistir o seriado. Mas afinal, o que chamou atenção de tanta gente? Os números expressivos refletem a qualidade da série? Vamos explorar esses e outros pontos nessa crítica - com spoilers - sobre Ratched. Assim como já ouvi de outras pessoas, eu também tenho uma relação de amor e ódio com o diretor e produtor. Sou fã declarada de algumas de suas obras, como Glee, Pose e American Crime Story, mas também tenho severas críticas a outras, como Scream Queens. Então, o que me motivou a dar uma chance à Ratched foi o protagonismo de Paulson, de quem sou fã e os inúmeros elogios que li pelas redes sociais. A série conta a história da enfermeira Mildred Ratched, a grande vilã de Um Estranho no Ninho, romance de Ken Kesey, escrito em 1962 e adaptado para o cinema em 1975. Ao contrário de muitas críticas que li, que acham que a personagem não precisava disso, eu gosto muito da premissa de Ratched, que pretende humanizar os vilões, mostrando o que está por trás daqueles que muitas vezes são considerados “monstros”. Nesse ponto, acredito que a série acerta quando se propõe a mergulhar fundo não somente na história da enfermeira, desde a sua infância, mas também em seu psicológico. Mais do que entender as motivações que podem vir das circunstâncias pelas quais ela passou na vida, a

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narrativa bem contada permite com que o espectador consiga perceber de que forma o cérebro de Mildred lida com tudo isso. Porém, é quando aparecem as características tradicionais às obras de Ryan Murphy que a história começa a me incomodar. O que talvez tenha como objetivo dar camadas de complexidade à personagem, me soa muitas vezes “fake”. Gosto da forma como a sexualidade de Mildred

é abordada, visto que devido ao preconceito existente na época a mesma escondeu isso durante muito tempo, sofrendo e mergulhando em uma vida ainda mais solitária. Apesar disso, a maneira como a mesma tem mudanças de personalidade bruscas assim que passa a se envolver com Gwendollyn Briggs me incomoda. Talvez fosse necessário mais tempo para que se desenvolvessem as mudanças mais sutilmente.


Imagens Divulgação Netflix

Outro fato que merece atenção é o excesso de subtramas dentro da principal, outra característica do showrunner. O passado de Mildred na guerra é desnecessário, bem como as subtramas focadas no Dr Richard Hanover. Elas tiram o foco e ocupam um tempo que poderia ser aproveitado para se aprofundar ainda mais no psicológico de Mildred, na relação da mesma com o irmão e em tudo que aconteceu na infância dos dois.

Um exemplo desse excesso são as cenas de sexo de Mildred no hotel, quando ela encarna outro papel e a trama opta por levar à história para a experiência da enfermeira na guerra. Em minha opinião, os traumas da infância eram suficientes para justificar a maldade da personagem, sem precisar desse outro aspecto. De positivo, destaco o elenco, que conta com grandes atuações

de Sarah Paulson, Sharon Stone, Cynthia Nixon e Finn Wittrock, por exemplo, a fotografia incrível, que ajuda muito na ambientação do clima de horror e os figurinos impecáveis, que transportam o espectador diretamente para a década de 40, na qual se passa a série. E eu, que iniciei o texto falando que geralmente as obras de Murphy para mim são 8 ou 80, coloco Ratched em uma posição intermediária, assim como The Politician. Gostei de diversos aspectos e me vi envolvida na trama. Mas, mais do que este envolvimento com a trama, me senti assim com a personagem. Apesar do tradicional excesso promovido por Ryan, consegui ter empatia com Mildred e um desejo de conhecer mais sua história, seus propósitos e sua relação com Gwendolyn. Ainda assim, acho que a série propositadamente não traz tanto carisma para ela, senão correria o risco de criar uma psicopata adorável, como é o caso de Vilanelle de Killing Eve. Por fim, gostaria que a primeira temporada tivesse mergulhado mais no psicológico de Ratched e acho que ela, por si só, poderia ter contado uma boa história. Pela forma como terminou a season 1, acho que a segunda temporada vai mergulhar mais na história de Edmund Tolleson e em uma possível perseguição dele com a irmã. O que ao meu ver são todos indícios de que, mais uma vez, Murphy vai se perder nos excessos de suas próprias tramas. Porém, como pra mim ver Sarah Paulson em tela é sempre um presente, vou pagar pra ver.

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CAPA

ASCENSÃO PRETA Por Maria Clara Lima, Cinthia Quadrado, Amanda Pioli, Gabriela Assmann

Chefe de hospitais, advogados famosos, médicos renomados, profissionais de alto escalão. Se existe algo em comum nas séries da Shonda Rhimes, a escolha de pessoas pretas no elenco é, sem dúvidas, a mais marcante. São iniciativas como as da showrunner, de promover pretos e pretas em suas produções, que combatem anos e anos de personagens identificados com apenas uma parte muito específica da população. Ou seja: que lutam contra preconceitos e promovem a diversidade. Basta olharmos para Bridgerton, a nova série sensação da Netflix e parte do universo Shondaland: é multicolorida e o reflexo do mundo em que vivemos - com as liberdades poéticas de uma ficção. Baseada nos livros de Julia Quinn, a história é situada em Londres do século XIX, quando duques e rainhas não discutiam suas raças. Mas em “Bridgerton”, pretos e pretas fazem parte da nobreza. Tanto é que a rainha Charlotte (Golda Rosheuvel), uma mulher negra, ascendeu ao trono, resultando em um mundo mais receptivo e cheio de oportunidades iguais; onde o “fora do comum” passou a ser não ter pessoas negras na elite e na classe média.

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De acordo com a própria Shonda Rhimes, a decisão de mudar a etnia dos personagens dos livros faz com que a série se torne representativa. “Mas isso não seria distorcer a história?”, Questiona-se por aí. E a resposta logo se associa a outra pergunta: É possível dar uma perspectiva menos “colonizadora” às produções de época? Na verdade, não é Shonda Rhimes que precisa se justificar ao corrigir um problema. A dona dos livros, Julia Quinn, aprovou as mudanças no seriado e disse, em entrevista à Entertainment Weekly, que “Bridgerton não é uma aula de história; é um show para um público moderno”, observou.

“É claro que havia pessoas de cor que existiam nessa época e lugar, mas o show lhes dá mais poder que as suposições históricas permitem. Ele imagina uma aristocracia britânica onde a Rainha Charlotte é mestiça (um fato que alguns historiadores sugerem que há evidências), elevando, assim, outras pessoas de cor a ducados e posições de status”. Por sua vez, a produtora executiva Betsy Berrs é enfática ao afirmar: “Não é um elenco daltônico. Tentamos imaginar a história e o mundo da maneira que queríamos vê-lo,” finaliza. Como telespectadora assídua, acredito que “Bridgerton” torna-se mais encantadora ao abraçar a diversidade.



Imagens Divulgação Netflix

Black Lives para sempre Dentro do movimento antirracista, a mídia participa cada vez mais como um agente que impulsiona o clamor público. Vemos isso do posicionamento dos canais, na contratação de pretos e pretas para cargos executivos, até na busca por diversidade nos seriados. Para o professor de Comunicação da Unesp, Juarez Xavier, nunca houve um envolvimento popular tão grande como o agora, especialmente representado em movimentos como o Black Lives Matter. Ele lembra, porém, que o audiovisual sempre foi importante para refletir os anseios da sociedade,

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Imagens Divulgação Netflix

A Netflix está sintonizada com a realidade.

ao mesmo tempo em que representa as lutas das minorias. No caso da Netflix, o serviço por streaming vem apostando no público jovem e engajado. Além de Bridgerton, ano passado estrearam 13 produções com pretos entre os protagonistas. “São produções importantes, porque implicam nas estruturas do estado, entre outras questões”, afirma, enfatizando ainda que o racismo é um tema importante, bem como um fator mercadológico. “São produções importantes porque implicam nas estruturas do estado, entre outras questões”. Para o professor, a Netflix se ater a esse problema mostra que ela está sintonizada com a realidade.

Veja a série:

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Imagens Divulgação Netflix

Meio a Meio

pretas da Netflix a estrearem em Em 2020, das 40 séries e minissé- 2020. Os dois seriados contabiries que estrearam na Netflix, 17 lizam mais de 8 pessoas pretas eram protagonizadas por pessoas no elenco. pretas. Isso significa que quase metade das produções do servi- Sobre o Livro ço de streaming no ano passado Bridgerton é baseada em uma sétraziam pessoas negras no elenco rie de romances históricos escritos principal. 29 produções têm ao por Julia Quinn. Suas comédias menos um preto ou preta entre afiadas a levaram a ser comparada à sua heroína, Jane Austen; os personagens. ela é uma das 16 autoras incluídas no Hall da Fama dos Escritores de Destaque As séries “#black AF” e “Queen Romance da América; seus livros Sono” foram as produções mais venderam 10 milhões de cópias

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somente nos EUA; e eles foram traduzidos para 32 idiomas. O primeiro livro da série “Bridgerton” foi publicado em 2000 e, em 2006, o oitavo e último da sequência foi publicado, embora compilações de vários epílogos e novelas aos livros iniciais aumentam esse total. O título inicial da série, “The Duke and I”, comemorou seu 20º aniversário de publicação em 5 de janeiro.


IN DICAS

Para assistir: O Disney+ está entre nós! Os fãs das produções da Disney podem comemorar! O serviço de streaming já está por terras tupiniquins – por um valor de R$27,90 – trazendo clássicos, produções originais e lançamentos, até então, não vistos no cinema devido à pandemia de Covid-19. Exemplo disso são os longas Mulan e Soul. Presente em mais de 20 países, a plataforma se coloca de vez na briga

pelo mercado do streaming concorrendo com Netflix e Prime Video, até porque, logo que chegou ao Brasil, o Disney+ retirou grande parte dos seus conteúdos destas plataformas. A pergunta que fica é: vale a pena assinar o Disney+? Se você quer nostalgia e porque não dizer, magia, sim! Está aí uma ótima pedida para aproveitar o tempo em família no cenário de pandemia.

Para ler: 70 anos da TV Brasileira 2020 marcou os 70 anos da televisão brasileira. E produções para retratar o assunto não faltam. Comemorado em setembro, o aniversário traz uma reflexão sobre a evolução de telejornais, folhetins, programas de auditório, entre outros – desta mídia que é parte integrante da família brasileira há anos. Se você deseja conhecer um pouco mais sobre o formato televisivo e a sua

trajetória, “Biografia da Televisão Brasileira” é uma boa pedida. Lançada em 2017, a obra de Flávio Ricco e José Armando Vannucci apresenta uma perspectiva bem interessante para os amantes das telinhas em 928 páginas. Uma boa oportunidade para conhecer sobre o seu programa favorito, a história dos canais, além dos astros e estrelas que se consagraram no meio.

Para ouvir: Podcasts HQs e tecnologia. Produzido pelo site PapelPop, o Um Milkshake Chamado Wanda também é destaque no mundo pop em um programa com muito humor, novidades dos famosos e entrevistas exclusivas. Fechando nossa lista, temos o Derivado Cast que aborda o universo das séries de TV. Criação do site Série Maníacos, antigo conhecido entre os fãs de seriados, a produção possui mais de 200 episódios com especialistas e fãs do que se passa nas telinhas. Pronto, já pode escolher o seu preferido e aumentar o volume!

Imagens Divulgação

O consumo de podcasts cresceu vertiginosamente durante a pandemia do novo coronavírus. Então, aproveitamos essa deixa para indicarmos alguns destaques da cultura pop em versão áudio. Original da CNN Brasil, o Na Palma da Mari traz a jornalista, famosa pelos looks geeks, Mari Palma, em um podcast exclusivo sobre cultura pop com temas diversos e convidados ilustres. Entre os mais ouvidos do segmento em 2020 no Spotify temos o famoso Nerdcast, do canal Jovem Nerd. Pioneiro no assunto, o podcast reúne temas como cinema,

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VITRINE

2021 chegou, mas a pandemia ainda não terminou. E, dentre tantas coisas ruins causadas por um cenário complicado, algumas coisas resultaram em vantagens para os fãs de séries – que, além de terem encontrado mais tempo em suas rotinas para se atualizar em suas histórias e realities favoritos, presenciaram as lojas mais descoladas

da internet fazendo promoções e fornecendo brindes temáticos, a gosto do freguês. Já virou 2021, e o cenário econômico melhorou para algumas pessoas que tiveram oportunidade de conseguir um novo emprego, de serem readmitidas em suas funções anteriores, ou que, aos poucos, voltam a receber seus salários

de forma integral. Porém, algumas lojas dentre as descoladas que mencionamos permanecem nesse esquema: promoções e brindes para tornar a vida do fã um pouco mais alegre em um cenário ainda difícil. Hoje, a Pixel traz algumas dicas para você, que quer se mimar com referências à sua série favorita.

A loja, que sempre traz estampas super criativas com foco em séries animadas e animes, está com diversas promoções de camisetas, itens de decoração e capinhas de celular. Comprando três itens da mesma categoria, você paga um valor unitário bem menor e, de quebra, pode escolher dois mimos dentre os mais de 50 disponíveis. Tem mimo de Pokémon, de Friends, de Lilo e Stitch, de desenhos da Cartoon Network... Vale a pena conferir!

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Nerd Universe

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Imagens Divulgação

Chico Rei A loja de camisetas mais queridinha do Brasil anda trazendo promoções relâmpago para quem quer expressar o seu amor pelas séries favoritas através do guarda-roupa. Em geral, as promoções duram poucas horas, e abaixam os preços das camisetas em mais de 50% para quem levar a partir de três itens. Com designs exclusivos que referenciam desde animes como Naruto e Pokémon, passando por clássicos das séries como Família Dinossauro e Breaking Bad, e chegando até referências mais contemporâneas, como La Casa de Papel e RuPaul’s Drag Race.

chicorei.com/camiseta/camiseta-sashay-away-7896.html chicorei.com/sketchbook/sketchbook-fleabag-14891.html

Nerdstore Com estampas voltadas principalmente para as séries de ficção científica e fantasia, as camisetas da Nerdstore fazem muito sucesso entre os fãs de Dark, Stranger Things e Ricky & Morty, por exemplo – ainda mais quando a loja decide fazer a promoção “leve três e pague duas”. Além disso, a loja também apostou em trazer a alma dos fãs para algo bem característico do momento: as máscaras.

nerdstore.com.br/produto/mascara-de-tecido-how-you-doin/ nerdstore.com.br/produto/mascara-de-tecido-oh-geez/

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TELAS

SEU MAIOR ADVERSÁRIO É... Você. Pode parecer autoajuda ou uma mensagem de um coach motivacional, mas no xadrez, assim como em qualquer esporte (e na vida, de um modo geral), nós somos nossos maiores adversários e, muitas vezes, inimigos também. Não existe “e se...”. É necessário se mover e para cada movimento há uma consequência, já dizia Isaac Newton. Ser a peça branca nem sempre vai te garantir a vitória e optar pelo Gambito da Rainha pode ou não surtir efeito em seu oponente. A grande questão é: você está realmente preparado(a) para o que vem depois? Fotografias Mariana Sperandio Texto Maísa França



Tudo começa e termina aqui. A tomada de decisão antecede as partidas e a análise das jogadas anteriores lhe preparam para uma próxima


Mergulhar numa partida é se embeber de muitas fontes


Xeque-mate

Movimentos certeiros podem desestabilizar seu oponente

Possibilidades para chegar à vitória

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Cumprimentos ao adversário. Ao encarar o desafio você se abre para a glória ou derrota

Créditos do ensaio: Mariana Sperandio é uma fotógrafa brasileira especializada em fotografia artística, com retratos glamorosos, sombrios e enigmáticos. As histórias por trás das imagens retratam suas paixões mais íntimas, medos e contemplações interiores. Protagonizado pela modelo Karielly Cardoso de Oliveira, o ensaio foi inspirado na minissérie O Gambito da Rainha (2020), da Netflix.

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FALA QUEER

COLUNA

Representatividade. Por Mariela Assmann

Imagens Divulgação

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É difícil encontrar alguém que não tenha ouvido falar na palavra título/tema dessa coluna com significado tão importante nos últimos anos. E que bom. No Dicionário de Política de Norberto Bobbio, “representatividade é a expressão dos interesses de um grupo na figura do representante”. Trazendo para uma linguagem mais direta e acessível, representatividade é se identificar com alguma situação ou contexto, se ver em alguém. E, quando falamos na representatividade em obras televisivas, literárias ou cinematográficas, é sentir que a sua história está sendo contada. Em se tratando de minorias sociais esse fenômeno tem sua importância potencializada. A representatividade deveria acontecer o tempo todo, em todos os lugares. Mas devido ao conservadorismo, ao preconceito e à ignorância da sociedade, ela acaba não acontecendo da forma como deveria. E, aí entra a mídia, uma ferramenta poderosa na pauta da representatividade. Mas porque representatividade na mídia é tão importante quando falamos dos mencionados grupos? Ou, mais especificamente, da comunidade LGBTQIA+, sujeito da presente coluna? De forma simplista, a exposição a personagens pertencentes à comunidade afeta a forma como a população em geral enxerga a mesma, bem como as questões de política pública relacionadas a essas pessoas. Essa “exposição” ainda tem efeito sobre os próprios membros da comunidade, especialmente sobre adolescentes e, se bem feita, auxilia no processo de descoberta e entendimento da própria sexualidade e identidade. Até a década de 80, os códigos de práticas de produção utilizados por Hollywood proibiam, ainda que indiretamente, a representação da homossexualidade. Durante esse período, os poucos personagens LGBTQIA+ representados ou eram abusadores de crianças ou vítimas de alguma violência. Foi nas décadas de 70 e 80 que representações positivas começaram a acontecer, mas elas ainda se restringiam a personagens menores, sem um arco a ser desenvolvido, e eram raras.


Foi em 1997 que um seriado de televisão (Ellen) teve, pela primeira vez, uma protagonista LGBTQIA+. Se tratava de Ellen Morgan, uma mulher lésbica interpretada por Ellen Degeneres, que posteriormente revelou ter a mesma orientação sexual da personagem. E a representatividade trazida pela série teve um impacto profundo não apenas no público, mas também na própria indústria. Nos anos que seguiram nasceu Will & Grace, outro baluarte da representatividade LGBTQIA+. E outros seriados de sucesso, como Dawson’s Creek, Spin City, ER e Buffy the Vampire Slayer, trouxeram personagens não heterossexuais de forma recorrente, em mais um passo gigante de representatividade. A década de 90 ficou marcada, então, como a década da “representatividade relevante”, ainda que as personagens ainda trouxessem com eles uma série de estereótipos equivocados. No Brasil, seguimos um caminho um tanto quanto parecido. As primeiras personagens LGBTQI+ apareceram já na extinta TV Tupi. Mas foi na década de 70, com as novelas Assim na Terra Como no Céu e O Rebu, ambas da TV Globo, que o movimento se confirmou. Confirmou-se também a tendência de se representar esses personagens de forma negativa, bem como a representação de homossexual que se tornou clássica nas telenovelas das décadas seguintes: o mordomo gay com afetações. Apenas na década passada que histórias homoafetivas passaram a ser contadas com mais qualidade e de forma mais completa e complexa, e que os primeiros beijos entre personagens de mesmo sexo foram exibidos em horário nobre. E, foi ainda mais recentemente, no final daquela década, que a representatividade passou a ser mais diversa e inclusiva, e que estereótipos passaram a ser derrubados. Nos últimos anos personagens trans começaram a ganhar espaço, ainda que de forma tímida. E embora as histórias ainda passem longe da representação que a comunidade quer, precisa e merece, alguns avanços podem ser observados, como a escalação de atrizes trans (como Gabrielle Joie e Glamour Garcia) para interpretar essas personagens. É claro que a jornada ainda está longe do fim. A representatividade LGBTQIA+ ainda foca muito no G e no L, é muito cisgênero e branca e atende quase que exclusivamente aos padrões de beleza impostos pela sociedade. Se representatividade significa se ver na telinha, é necessário que ela seja diversa e inclusiva. Mas saber que tanto já foi conquistado dá ainda mais força para que tiremos nossas múltiplas bandeiras do armário e sigamos nessa jornada.

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RESSIGNIFICANDO O MUNDO Como o ator de uma pequena província canadense impacta o planeta Por Maria Clara Lima

Há um pequeno factóide sobre a água que acho particularmente interessante: existe exatamente a mesma quantidade de água na Terra agora do que quando ela foi formada. Apesar do tempo e de importantes e profundas mudanças, nosso planeta preserva a sua essência desde sempre, assim como nós, em nossas jornadas. Partimos de situações e premissas inesperadas, chegamos em lugares desconhecidos, mas é importante lembrar quem somos como essência. Elliot Page sabe muito bem disso. O ator de 33 anos, nascido em Halifax, na Nova Escócia, cresceu na capital marítima do Canadá e ponto mais ao leste do país no Oceano Atlântico. Um local pequeno, bucólico e com ares conservadores. Mesmo assim, saiu dessa remota província canadense para as telas do mundo, conquistando a audiência indie com filmes como “Juno”, que recebeu uma indicação ao Oscar, e “MeninaMá.Com”; e estrelando em campeões de bilheteria como “X-Men 2” e “Inception”. Atualmente, Elliot atua como Vanya Hargreeves no elenco principal da série da Netflix The Umbrella Academy. Uma carreira brilhante por si só, mas realmente especial se pensarmos que além de todo esse sucesso, Elliot ainda tem tempo para produções como “Há Alguma Coisa na Água” (tradução livre), narrado e dirigido por Page. O documentário, lançado em 2019 e disponível na Netflix, é um relato pertubador sobre as injustiças e crimes causados pelo racismo ambiental contra indígenas e negros na província na qual Elliot cresceu. O filme começa retratando as condições na comunidade negra fora de Shelburne, Nova Escócia, onde a correlação entre água de poço contaminada e taxas elevadas de câncer passou despercebida pelos olhos dos governantes. O documentário também explora as comunidades indígenas da Nova Escócia que foram afetadas negativamente pela poluição da água, como Boat Harbor e as terras tribais Mi’kmaw. A obra ainda esmiúça a relação de mulheres dessas comunidades com a água, com o lixo despejado em suas terras e com o futuro desses povos. Elliot Page abraça as suas origens para tratar de um assunto sério e amplificar a voz dos menos privilegiados. Ao mostrar para o mundo as atrocidades ecológicas de sua própria província, ele expõe também a importância de ressignificar o mundo.

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Elliot Page nasceu em 21 de fevereiro de 1987. Filho de uma professora e um designer gráfico, ele estudou em uma escola de prestígio em Halifax. Em 2014, em uma conferência do Time to Thrive, Elliot revelou sua orientação sexual ao mundo. Em um discurso emblemático proferido em frente à jovem plateia LGBTQIA+ no Hotel e Cassino Bally’s, em Las Vegas, Elliot disse: “Me cansei de esconder, e me cansei de mentir por omissão. Estou aqui hoje porque sou gay, e porque talvez eu possa fazer a diferença”. Em 2018, ele casou-se com a dançarina Emma Portner.

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Prazer, meu nome é Elliot


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Jair Bolsonaro em entrevista com Elliot Page

A pauta LGBTQIA+ permeia sua agenda de assuntos, como no documentário da Viceland “Gaycation”. Na série, Page chegou a entrevistar Jair Bolsonaro, na época deputado federal, questionando o parlamentar sobre as declarações preconceituosas em relação a homossexuais. É engraçado lembrar que Page era chamado de “mini Canadense” na época, porque nesta entrevista ele reafirmou toda a sua grandeza. No dia 1° de dezembro de 2020, o ator revelou ser um homem trans em uma carta impactante para seus seguidores no Twitter e Instagram. “Eu amo ser trans. E eu amo ser queer. E quanto mais eu me mantenho perto e abraço totalmente quem eu sou, mais eu sonho, mais meu coração cresce e mais eu prospero,” disse em sua rede social.

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“Olá amigos, quero compartilhar com vocês que sou trans, meus pronomes são ele/they e meu nome é Elliot. Eu me sinto com sorte por estar escrevendo isso. Estar aqui. Por ter chegado a esse ponto da minha vida. Sinto uma imensa gratidão pelas pessoas incríveis que me apoiaram ao longo desta jornada. Eu não posso começar a expressar como é notável finalmente amar quem eu sou o suficiente para buscar meu eu autêntico. Tenho sido infinitamente inspirado por tantos na comunidade trans. Obrigado por sua coragem, sua generosidade e trabalho incessante para tornar este mundo um lugar mais inclusivo e compassivo. Oferecerei todo o apoio que puder e continuarei a lutar por uma sociedade mais amorosa e igualitária.” Elliot Page

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Elliot aproveitou o momento para falar sobre como sua alegria é “frágil”, acrescentando que ele teme a discriminação e a violência contra a comunidade trans. Aproveitou também para citar o grande número de pessoas trans que foram assassinadas somente em 2020 (a maioria das quais eram mulheres trans negras e latinas). A oportunidade de amplificar a voz das comunidades menos favorecidas faz parte da essência do ator. Sorte a nossa.


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Alguns papéis de destaque da carreira de Elliot:

Juno

Inception

Amor por Direito

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TRAÇADOS

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