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ROTA TURÍSTICA GASTRONOMIA: BELÉM - BRAGANÇA CHEF OFIR NOBRE POR ADENAUER GÓES SABOR SELVAGEM

ENTREVISTA COM JOSÉ CONRADO SANTOS

HERANÇAS PORTUGUESAS

NA AMAZÔNIA RELAÇÕES TRANSNACIONAIS ENTRE NAÇÕES IRMÃS

REVISTAPZZ.COM.BR R$ 10,00 5,00

EDIÇÃO 27 - MAIO 2017

bragança A ROTA TURÍSTICA BELÉM-BRAGANÇA INTERLIGA O PASSADO E O PRESENTE, A TRADIÇÃO E A MODERNIIDADE NO NORDESTE PARAENSE

FOTOGRAFIA

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LITERATURA

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ARTES VISUAIS

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DOCUMENTÁRIOS

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ECONOMIA l

GASTRONOMIA



VISITE O PARÁ. ESTA É A SUA VIAGEM DE DESCOBRIMENTOS. A premiada culinária paraense é só uma amostra das maravilhas que você vai encontrar no Pará. Comece em Belém, a Cidade Criativa da Gastronomia eleita pela Unesco. Visite o Marajó, o paraíso cercado pelas águas do rio e do mar. Depois conheça as praias surpreendentes do rio Tapajós, onde se destaca Alter do Chão, em Santarém, uma das mais belas do mundo. Ainda há um mundo a ser descoberto na Amazônia.

Secretaria de Turismo


XXI FEIRA PAN-AMAZÔNICA DO LIVRO

ABERTURA - 26/05/2017 ÀS 19H 27/05 A 04/06/2017 - DE 10 ÀS 22H - ENTRADA FRANCA hangar - belÉM - PARÁ

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PAÍS HOMENAGEADO

POESIA

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ITINERÁRIO HISTÓRIA

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Bragança: Um olhar por Dário Benedito Rodrigues. Bragança Antiga por Gerson Guimarães

LITERATURA

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Dossiê da Liteatura de Bragança por Carlos Pará

FOTOPOESIA

Edição 27 | 2017

Editor Responsável Carlos Pará 2165 - DRT/PA

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Diagramação Carlos Pará

Poema Benquerença de Alfredo Garcia / Fotografia de Flavio Contente

LUSOAMAZÔNIA

Produção Executiva Carlos Pará Adriana Lima

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O Projeto Heranças Portuguesas na Amazônia une Nações Irmãs

ENTREVISTA

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Entrevista com José Conrado Santos - Presidente do Sistema FIEPA

RADAR

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Impressão e Acabamento: Marques Editora Distribuição Belém, Pará, Brasil, Portugal

A BELÉM QUE QUEREMOS por José Maria Mendonça.

ECONOMIA

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O Cacau do Pará assume o ranking nacional de produção. Mãos que Tecem Ecojoias - Produção das Artesãs da Vila do Castelo

CULTURA POPULAR

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Trilhos: o Caminho dos Sonhos por Leôncio Siqueira

TURISMO

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Rota Turística Histórica e Cultural Belém-Bragança Ecoturismo - A Caminhada de José de Alencar na Rota

CÍRIO DE NAZARÉ

email revistapzz2017@gmail.com Twitter @revistapzz

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O XXIX Festival Junino em Bragança é destino do Turismo no Brasil A Cavalgada de Bragança em sua XIII Edição

DOCUMENTÁRIO

Contatos (91) 98335-0000

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Facebook https://www.facebook/revistapzz cartas Av. Magalhães Barata, 391, Belém, Pará, Amazônia, Brasil Cep 66093-400 Issn: 2176-8528 site: revistapzz.com.br Parceiros

Círio de Nazaré em Bragança por Dário Benedito

ESPECIAL

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A Festividade de São Benedito por Armando Bordallo

GASTRONOMIA

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O Chef Ofir Nobre -Saberes e Sabores de Bragança

ENSAIO FOTOGRÁFICO

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Paula Giordano: Farinha com Sabor e Amor .

ENSAIO

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Valdir Sarubbi - O Artista e a Obra por Mariana Bordallo

NOSTALGIA BRAGANTINA

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HERANÇAS PORTUGUESAS

NA AMAZÔNIA RELAÇÕES TRANSNACIONAIS ENTRE NAÇÕES IRMÃS

Amilcar Pereira - Um bragantino Notável por Fabricio Castanho

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PZZ BRAGANÇA / HISTÓRIA

BRAGANÇA Dário Benedito Rodrigues O historiador DÁRIO BENEDITO trata da gênese de uma cidade, com muitas controvérsias, mas que nasceu de frente para o rio e que foi entrecortada pelas vias de uma estrada de ferro, tratando dos que singraram as águas e abriram caminhos nas florestas.

U

m dos grandes patrimônios do ser humano reside na articulação da memória cultural, política e social de diferentes sujeitos em diversas situações, espaços e contextos. A utilização desse recurso se deve, em muitos casos, às experiências de homens e mulheres que legaram à contemporaneidade os seus sonhos, seus medos, suas lutas, suas paixões... Sua história é feita por pessoas e se apresenta quase sempre numa relação entre o que foi, o que é e o que será. Relembrar, rememorar, sempre nos permite vincular passado e presente, amor e intrigas, vida e morte, sem discurso anacrônico ou prolixo. Embora se permita saudosista, o discurso trata da gênese de uma cidade como Bragança, que nasceu de frente para o rio e que foi entrecortada pelas vias de uma estrada de ferro, pelos que singraram as águas e abriram caminhos nas florestas, acabando por constituir o que pode ser chamado de sociedade caeteuara, comunidade bragantina. Por muito se percebe ainda um tempo ditado pela imaterialidade e uma definição de espaço ditada pelo consciente coletivo. Tipo o tempo da maré, ou o tempo da extinta estrada do trem. Vamos “lá embaixo” quer dizer na feira, e também “vamos subir”, subindo as praças, numa definição de cidade que segue em direção dos bairros mais afastados do centro. Costumes e culturas em comum até hoje, não só aqui, mas em vários lugares do Pará. Essa Bragança se foi um pouco de nós. Permaneceu escrita nos amontoados de documentos, em arquivos particulares e nos acervos de tantas memórias escritas e por escrever. Quem sabe ainda Bragança seja um enigma para a geração de hoje, que não conhece de fato o ser bragantino, que precisa acreditar para ver a beleza e a história desse lugar abençoado, cujo passado envolve nobres, escravos e caboclos, casas reais e casas humildes, política, cultura, economia,

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Bragança é um desses lugares que indicam vida e amor. A natureza exuberante e o colorido animal e vegetal dão um toque especial às margens do Caeté, antes Cayté (ou ainda Caité, como se defende que o seja hoje!) por incluir um elemento fundamental na historicidade tão desconhecida por muitos de seus filhos. trabalho e religiosidade. Nada é tão paradisíaco, bem se sabe, mas real, na sua riqueza natural e cultural, na intelectualidade, no tempo em que grandes nomes, mitos construídos e personalidades estavam entre nós, políticos, burgueses, imigrantes, gente que a geração atual parece desconhecer por ainda não ter a oportunidade de assim o fazer. Em outras palavras, Bragança é um desses lugares que indicam vida e amor. A natureza exuberante e o colorido animal e vegetal dão um toque especial às margens do Caeté, antes Cayté (ou ainda Caité, como se defende que o seja hoje!) por incluir um elemento fundamental na historicidade tão desconhecida por muitos de seus filhos. Algumas reflexões podem nos aproximar desse passado. Eis.

Uma “talvez” Bragança, do século XVII ao XVIII Esse percurso histórico de Cayté à Bragança não é tão fácil de ser descrito, ainda porque precisa conter uma análise das iniciativas que formaram o que hoje temos por cidade, as várias vozes, os vários pensamentos sobre o espaço, os vários cenários e paisagens que fizeram essa história.

SER BRAGANTINO Quem sabe ainda Bragança seja um enigma para a geração de hoje, que não conhece de fato o ser bragantino, que precisa acreditar para ver a beleza e a história desse lugar abençoado, cujo passado envolve nobres, escravos e caboclos, casas reais e casas humildes, política, cultura, economia, trabalho e religiosidade.


foto: flávio contente

Um ponto a ser evidenciado é a tentativa europeia de conquistar território pelos franceses, no início do século XVII, quando Daniel de La Touche, com sua expedição, visitou as terras da nação tupinambá em 1613. A exatidão da data não existe, talvez ainda por ser descoberta, mas o território do Cayté já existia. Aqui, La Touche e seus liderados passaram mais de trinta dias, colheram suprimentos, solicitaram ajuda indígena e continuaram a sua viagem, “desenharam” o lugar na documentação e acabaram por fugir dos portugueses, conforme os escritos dos padres Devreux e Betterdorf. Uma origem? Não se pode ter tanta clareza nisso. Os conceitos de colonização e conquista sempre estão em discussão, no percurso historiográfico e nas construções feitas da chamada Amazônia colonial. Essa chamada origem está vinculada à presença dos franceses nesse controverso 08 de julho de 1613. Nesse intento, nessas conquistas se desenvolveu um controle português, a partir da fundação de Belém em 12 de janeiro de 1616, e que pode ser con-

siderada um fator muito importante para a implementação administrativa de Portugal numa evidente interseção com o domínio do litoral e da foz do Amazonas, forçados pelas ameaças de franceses, holandeses e ingleses, mas ainda sob a tutela da coroa de

baram no século XVII. Os tratados de Utrecht, de Madri e de Santo Ildefonso, todos assinados no século XVIII, revelam que os problemas de fronteira se mantiveram por muito tempo. Devemos atentar para o fato de que desde o final do século XVII, o chamado Estado do Maranhão era formado por capiEsse percurso histórico de Cayté tanias reais (Maranhão, Grão-Pará e Piauí) e por várias capitanias particulares (Tapuià Bragança não é tão fácil de ser tapera, Caeté, Cametá e Ilha Grande de Jodescrito, ainda porque precisa conter anes), que mantiveram diferenças quanto à uma análise das iniciativas que forsociedade, cultura e atividade econômica. Segundo informação do Ensaio Corográfimaram o que hoje temos por cidade, co do Pará, criada sob as ruínas da Vila de as várias vozes, os vários pensamenSouza do Caeté, contava com seis palhotos sobre o espaço, os vários cenários ças e para cá (à esquerdo do rio) foi traslada 1644, foi povoada na metade do século e paisagens que fizeram essa história. em XVIII por “famílias e homens solteiros dos ilhéus angrenses e michaelenses”, a vila de Castela (Espanha). Bragança tinha três ruas paralelas ao rio, conE, como nos lembra Rafael Chambo- tornadas por casas cobertas de telha.Tinha-se leyron. Evidentemente, esses conflitos um largo em frente à freguesia e outro maior contra os “invasores estrangeiros” não aca- detrás, onde ficava a cadeia. www.revistapzz.com.br 7


PZZ BRAGANÇA / HISTÓRIA

S

eus habitantes eram qua- com o nome de Vila Sousa do Caeté. tro mil e quatrocentos e Muitos anos depois, o antigo povoado oito brancos, quatrocen- ficou conhecido como Vila Cuera, ou tos e oitenta e dois escra- Vila que-era. vos e mil e oitenta e cinco Álvaro de Souza, filho e sucessor índios mestiços livres. De- de Gaspar, foi incansável em tentar votavam à Nossa Senhora manter o controle da capitania para do Rosário a sua devoção principal, sua família, permitindo a fundação do mas o coração já era bendito, por aldeamento missionário de São João aquilo que estava por nascer. Baptista, onde os padres reuniram Cultivavam aqueles antigos mora- os índios tupinambás e construíram dores da vila um bom café, algodão e a igreja já extinta. Álvaro conseguiu mandioca. Possuíam fazendas de cria- de Felipe IV da Espanha a posse defição nos seus primeiros campos afas- nitiva do território e imediatamente tados da sede, em fundou a Vila Souza pequenas propriedo Caeté, hoje VilaEm 8 de julho de 1613,“Ravardière que-era, ao lado didades, mas com um rio, dentro do do Caeté, mas partiu do Maranhão acompanhado reito território, que exque experimentava de ínúmeros selvagens em viagem dificuldades de acescelente para a multiplicação do gado. e comunicação de reconhecimento a Amazônia, so Contudo, não houcom Belém, mesmo chegando até o rio Pará, a fim de com a possibilidade ve quem estabelecesse ali uma fa- ajudar os tupinambás na luta contra de maior intercessão zenda maior para com o Maranhão. seus tradicionais inimigos Camara- Não faltaram intea pecuária. Captase do documento não faltaram pins [...] Nessa viagem Ravardière resses, certa queixa, certo dissabores, não faltoca nas aldeias de Cumã, Gurupy taram disputas. E descontentamento, certo desejo existiram lógicas oue Cayté encontrando os índios de impulsionar tras, como as desses tupinambás onde passou um mês, donatários. a nova vila, com um comércio am- saindo dessa última a 17 de agosto Essa manutenção plo, com algo que das conquistas porindo aportar à aldeia Meron de a transformasse tuguesas do século “para o qual há XVII, no entanto, só onde demandou, diretamente, à tudo quanto o significavam uma Taba-Pará, a Vigia”. pode permitir”. ocupação no sentiÈ preciso sado militar, religioso lientar que esse e econômico. Seria processo de controle do espaço em apenas no século XVIII, por uma farta que hoje se localiza Bragança se deu historiografia e fontes, que os portucom a ajuda de diversos braços e vo- gueses programariam uma política zes, num lugar em que o cenário po- colonial, por assim dizer, seguramente dia permitir, inclusive, um embate administrativa, graças às iniciativas do rigoroso e subjugo de populações in- Marquês de Pombal, assim como um dígenas, que resistiram e em aspectos projeto de cidade. coloniais, de afirmação dos domínios Chama a atenção o documento de portugueses. Depois, a introdução de 1750: negros na primeira metade do século Em 1750, Manoel Antônio de Souza XVIII, só realiza uma conjunção de es- e Melo requereu do Rei D. João V, em forços para melhorar esse empreendi- carta de 12 de março de 1750, ajuda mento, aliado aos militares, colonos e para administrar a Capitania do Caité, religiosos, como os jesuítas da Aldeia com mão-de-obra de índios, ajuda na de São João Baptista, unindo-se e coleta de sal, além de solicitar condiafastando-se em determinados mo- ções como legítimo filho e herdeiro mentos. de José de Souza e Melo, chamado de O primeiro núcleo populacional da Porteiro-Mor. Com o falecimento do colonização na região do rio Caeté (ou rei em 1750, assume o trono D. José Caité = caa + y + eté = mato bom, ver- I. Sebastião José de Carvalho e Melo dadeiro, na língua tupi), buscou firmar foi nomeado como Secretário de Esa tentativa de controle e dominação tado e em 1751, o irmão de Sebastião nas áreas da União Ibérica na América, Carvalho foi nomeado Governador do

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POVOAMENTO Segundo informação do Ensaio Corográfico do Pará, criada sob as ruínas da Vila de Souza do Caeté, contava com seis palhoças e para cá (à esquerdo do rio) foi traslada em 1644, foi povoada na metade do século XVIII por “famílias e homens solteiros dos ilhéus angrenses e michaelenses”, a vila de Bragança tinha três ruas paralelas ao rio, contornadas por casas cobertas de telha. Estado do Grão-Pará e Maranhão. Era Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Tais autoridades tornaram-se referências especiais para os estudos acerca do projeto de consolidação do que era o estado do Grão-Pará a partir do território de Caité e a Vila de Bragança. Contrário ao pedido de Manoel Antônio de Souza, o rei D. José I decidiu retirar dele os direitos sobre a área da capitania pelo decreto de 14 de junho de 1753, o que incorporou todo o território à Coroa, pondo fim à história da Capitania do Cayté (ou Caité, ou ainda Cahité, como está escrito em vários documentos), que passou a pertencer novamente ao Grão-Pará. Motivações não faltaram, como a falta de mão-de-obra indígena para os colonos, entre tantos desentendimentos destes com os jesuítas, aliados momentâneos dos indígenas, como a


FOTO: ACERVO DILAMAR CASTANHO

sublevação de 1741, quando os moradores fizeram um motim conspiratório, expulsando dois padres jesuítas da aldeia, cuja notícia o próprio rei D. João V recebeu por carta de 22 de outubro de 1742, do governador João de Abreu de Castelo Branco.

Mendonça Furtado e a Vila de Bragança O Governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado fez um levantamento das condições e das comunidades existentes nessa região para determinar onde se estabeleceria novos núcleos urbanos, de acordo com o projeto do Marquês de Pombal, seu irmão. Em 11 de outubro de 1753, por carta ao rei D. José I, o governador escolheu a Vila de Souza do Caeté como local para a implantação desse projeto, a ereção

de uma primeira vila oficial, sugerindo a fundação de Bragança, primeira vez em que se grafa o nome, em homenagem à família real. Ele relata a existência de uma “vila assentada sobre a terra medianamente empolada na margem

À medida que as ordens religiosas penetravam no interior do vale Amazônico, Francisco Coelho de Carvalho, promovia a distribuição de terra para particulares fundarem capitanias esquerda ou ocidental do rio Caeté, três léguas acima da sua foz jacente...”. Nessa mesma carta, Furtado indica providências para a instalação de casais vindos das ilhas dos Açores a fim

de povoarem a nova vila. O aldeamento indígena, conforme o documento, sustentaria as relações de trabalho suplementar para a agricultura e transporte (terrestre e fluvial) de produtos da lavoura para o comércio e uma escola de Língua Portuguesa seria criada para facilitar a comunicação entre colonos e índios. Diz o documento: Sendo Vossa Majestade servido ordenar pelo seu Conselho Ultramarino que eu fosse distribuindo a gente que aqui se achava das Ilhas pelos sítios que me parecessem mais proporcionados em que podem trabalhar com mais gosto em terra própria e sendo Vossa Majestade servido ao mesmo tempo mandar-me avisar pela sua Secretaria de Estado de que tomara a sólida e importantíssima resolução de incorporar na Coroa as terras que neste Estado pertenciam a alguns donawww.revistapzz.com.br 9


PZZ BRAGANÇA / HISTÓRIA

tários, me pareceu que não devia perder tempo em povoar as poucas palhoças que até agora se conhecia pela Vila do Caeté ou de Sousa, fundando naquele sítio importante e útil sítio uma populosa vila que faço tenção sendo Vossa Majestade servido fundar com o nome de Bragança. E completa: Os moradores desta nova Vila ficam situados numas terras fertilíssimas muito perto do mar Oceano e muito abundante de peixe, e caça, e aonde já há algumas marinhas, e com assistência destas gentes se podem ampliar em forma que provam esta terra de tal de sorte que senão veja fundar com o nome de Bragança. E completa: Os moradores desta nova Vila ficam situados numas terras fertilíssimas muito perto do mar Oceano e muito abundante de peixe, e caça, e aonde já há algumas marinhas, e com assistência destas gentes se podem ampliar em forma que provam esta terra de tal de sorte que senão veja a grande necessidade deste gênero, em que agora se acha. Junto com a criação da Vila de Bragança, Furtado comunica que para sustentar o projeto era preciso articular áreas próximas à Bragança que a ligassem com a capital do Grão-Pará, viabilizando a criação e fortalecimento da Vila de Ourém, próxima ao Guamá como entreposto de comércio e comunicação. Mendonça Furtado considera Ourém importante a fim de garantir o sucesso do novo empreendimento, como se lê: Na chamada casa Forte do Guamá, tenho mandado ajuntar mais de 150 índios que se tem tomado de diversos contrabandistas com intento de fundar naquele sítio, outra nova vila, de gente da terra, que também sendo Vossa Majestade servido, faço tenção de que se conheça pela nova Vila de Ourém, e para que os rapazes se possam criar com civilidade lhe mandei abrir uma escola aonde me dizem que se vão criando muito bem, e aprendendo nela a Língua Portuguesa. Esta nova vila é sumamente importante porque além de nela poder haver trabalhadores, que ajudem aos lavradores do rio Guamá a cultivam as terras, haverá nelas canoas prontas para transportarem os gêneros do Cayté, e facilitar assim a comunicação daquela nova vila com esta cidade. A Vila de Bragança foi palco das experiências que serviriam de base para a implantação das futuras regras do Diretório dos Índios, de dois anos depois (1755/1757), no que se pode perceber na análise documental. A intervenção no trabalho missionário dos jesuítas deu 10 www.revistapzz.com.br

A intervenção no trabalho missionário dos jesuítas deu conta de acomodar os índios junto aos colonos, dando-lhes tarefas e permitindo seu casamento, com o aval da Coroa, para povoar a vila. conta de acomodar os índios junto aos colonos, dando-lhes tarefas e permitindo seu casamento, com o aval da Coroa, para povoar a vila. É fato notório a solicitação para a criação e equiparação do porto do Caeté, a fim de garantir o transporte de gêneros da agricultura da vila através da interseção daqui com o Guamá, o que justificaria o desenvolvimento agrícola desta região e as medidas econômicas adotadas nessa empreitada colonial: Como esta Vila tem um braço do rio que se comunica quase com o Guamá, somente com pequeno trabalho de sete ou oito horas de caminho de terra, faço tenção de por no porto do tal rio Cayté alguns casais para ali terem canoas prontas para a comunicação e fazendo alargar um pequeno varadouro que há por entre aqueles matos, fazendo por ele uma boa estrada, ficarão comunicáveis aqueles rios, e os moradores se poderão livrar dos perigos do mar transportando todos os seus gêneros com grande facilidade pelo dito rio Guamá a esta cidade. É interessante observar também o comportamento do governador Mendonça Furtado em relação aos indígenas, antes mesmo das medidas do Diretório que lhes “concedeu” civilidade e cidadania europeia. Ele afirma a necessidade de manter relações amigáveis com os índios (chamados “naturais”), sugerindo o casamento para fins de povoamento como medida real, avaliando, até aquele momento, o processo evangelizador. É notável a avaliação que Furtado deu a conhecer ao seu rei. O objetivo era de dar a conhecer aos naturais dele, que os honramos e estimamos, sendo este o meio mais eficaz de trocarmos o natural ódio que nos tem pelo mau tratamento, e desprezo com que os tratamos em amor à boa fé (...) sem cujos princípios, não é possível que subsista e floresça esta larga extensão de país. Em 1754, no ofício de 30 de setembro, o Ouvidor Geral do Pará, João da Cruz Diniz Pinheiro, por ordem de

VILA QUE ERA O primeiro núcleo populacional da colonização na região do rio Caeté (ou Caité = caa + y + eté = mato bom, verdadeiro, na língua tupi), buscou firmar a tentativa de controle e dominação nas áreas da União Ibérica na América, com o nome de Vila Sousa do Caeté. Muitos anos depois, o antigo povoado ficou conhecido como Vila Cuera, ou Vila que-era. Mendonça Furtado, relatou seus progressos a Sebastião José de Carvalho e Melo, informando que trouxe um grupo de engenheiros e astrólogos para traçar a estrada até Ourém solicitada pelo governador. Traçaram também as primeiras quadras da nova cidade. Mais uma vez, alguns outubros prevaleceram na nossa história colonial. Em 20 de outubro de 1758, o ProvedorMor da Capitania do Pará, João Inácio de Brito e Abreu, escreveu ao Secretário de Estado da Marinha e Ultramar Tomé Joaquim da Costa Corte Real, descrevendo as duas localidades que deram origem à cidade de Bragança, informando que a nova Vila de Bragança era formada da Aldeia de São João Baptista (dividida por um braço de rio e por uma ponte de madeira) e da área onde hoje é o traçado do polígono histórico de Bragança, onde existia uma outra Igreja de frente para o rio (a então Igreja de Nossa Senhora do Rosário). Essa informação nos determina qual o formato do primeiro traçado


FOTO. FLÁVIO CONTENTE

urbano de Bragança, com algumas ruas e duas praças, duas igrejas, Casa de Câmara e Cadeia, dezenas de casas e uma população formada por colonos portugueses, açorianos e indígenas. Bragança, portanto, foi constituída pela união da Vila Souza do Caeté (já transferida de Vila-que-era à margem esquerda do Caeté) com a aldeia missionária de São João Baptista, que graças à sua posição geográfica privilegiada, entre Belém e São Luís, ganhou importância política e econômica. E só em 02 de outubro de 1854, através da resolução n.º 252, assinada pelo Presidente da Província Sebastião do Rego Barros, é que vila tornou-se cidade, com o nome de Bragança. Dário Benedito Rodrigues é bragantino, historiador e professor. Exerce a função de Diretor da Faculdade de História da Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança.

Prof. Dário Benedito

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PZZ BRAGANÇA / HISTÓRIA FOTOS: ADRIANA LIMA

DILAMAR CASTANHO

tece o descaso com a cultura e com o nosso patrimônio. As autoridades deixando se destruirem coisas que representam a identidade MEMÓRIA E VIDA da cidade. Veja o Palácio da Prefeitura e a Casa da Cultura, estão em ruínas, desabanNascido em maio de 1949, em Bragança, Di- do.” explica Dilamar. lamar Castanho fez de sua casa, um universo Na Bragança da sua infancia e juventude particular coletivo. Sua casa é um antiquário Nascido em maio de 1949, em de grandes relíquias históricas de Bragança, desde fotografias a objetos raros, oratórios, Bragança, Dilamar Castanho fez de imagem rara de São Benedito, gramophone, sua casa, um universo particular relógios de parede, esculturas, obras de arte, máquinas, brinquedos. Até poltronas do ancoletivo. Sua casa é um antiquário tigo cinema Olimpia da cidade tem em um de grandes relíquias históricas de canto da sala. Desde garoto, gosta de coleBragança. cionar. Começou com selos. Muita coisa herdou da família. Outras, adquiriu por aí, em Bragança nos interiores, em viagens. É com haviam personalidades marcantes, como o esse olhar que vê Bragança. “Hoje Bragança poeta, escritor e jornalista Jorge Ramos, o é a terra do já teve. O que mais lamento é a qual tem uma fotografia em sua parede em questão cultural. Aqui tinha muita cultura. uma solenidade. Estudou em Belém, trabaCinema, Saraus, Discussões, Violões pelas lhou no Incra. É apaixonado por sua terra, ruas, poetas, escritores, jornalistas. Tudo na Dilamar Castanho é descendente de espamais perfeita harmonia e intensidade. Dan- nhóis. A residência dele está em um ponto do um clima à cidade, uma aura poética e estratégico da cidade, bem em frente a Pramágica que hoje vai se perdendo. Hoje acon- ça Antonio Pereira quase ao lado do Teatro 12 www.revistapzz.com.br

Museu da Marujada. Os compartimentos de sua casa estão lotados com fragmentos da memória de Bragança, de ontem e de hoje e tudo está catalogado, segundo seu administrador. Ele conta que, por ver o descaso com as coisas, resolveu adquirir pouco a pouco o imenso acervo. Não recebe ajuda de ninguém e o custo é todo dele que mantém tudo funcionando e limpo. É comum baterem em sua porta e lhe procurarem para saber, pesquisar ou conhecer algo. Mantém a entrada gratuita a todos que se interessam e desejam conhecer o acervo de sua exposição permanente que conta a história da cidade e de sua gente, desde o começo até o momento contemporâneo. Dilamar é auto-didata, pesquisador e historiador, conhece os primórdios da história de seu lugar e se revolta quando imagina que uma terra de muitos intelectuais do tipo César Pereira, Jorge Ramos, Gerson Guimarães, De Castro Souza, os Irmãos Bordallo, Rodrigues Pinajé e muitos outros, não pode estar relegada ao abandono nos seus aspetos histórico, cultural, bem materiais e imaterias.


BRAGANÇA ANTIGA Algumas Fotografias do Acervo de Dilamar Castanho

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PZZ BRAGANÇA / LITERATURA

Eis, aqui, BRAGANÇA ANTIGA, torrão que a todos abriga, berço fértil e generoso onde o PAI me fez nascer; Quero neste solo amigo, pelo Caeté banhado fazer nele o meu jazigo quando por Deus for chamado. GERSON GUIMARÃES

BRAGANÇA ANTIGA

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POEMA: GERSON GUIMARÃES FOTOGRAFIA: www.revistapzz.com.br ACERVO DILAMAR CASTANHO


português bem bragantino querendo que na seresta se tocasse a “Pátria Amada”. Bragança do Jovelino com seu olhar penetrante lá na Farmácia Minerva preparando o meu “purgante”. Bragança do Chico Torres, do Augusto e do Otávio, do Figueiro e do Amaral, homens de muita pujança que consideram Bragança uma terra sem igual. Terra do Jorge Abdon, do Cazuzinha Batista lá da fazenda distante; Terra da Tia Silvana, vestida toda bacana, desfilando pelas ruas com seu traje cativante. Terra do Luiz Otávio, do grande Tião Gonzaga que morreu na juventude carregando a sua cruz; Bragança do Malachias do “Zebu” - o Emílio Dias e do mestre Américo Luz. Bragança do seu “Bigu”, do “Munguba” e do Joao “Sete”. Bragança do seu Simplício a alegria da Marujada; do seu Raimundo Rodrigues la da “Boca da Estrada”. Bragança do João “Correte”, bom pescador e pedreiro. Terra do Mário Queiroz e do seu Dico Pinheiro. Bragança do seu Florêncio, - o Puluca do Roial e do Major Benedito Caudilho do Cacoal. Terra do Antonio Pereira, do Juvenal Oliveira e do seu Lulu Belém: Terra do seu Bernardino, do Pessoa - o “Pequenino” do Virgílio e Zé Vieira, do Mário Antunes, também. Terra do Martinho Bruno, do Dirceu Alves Ferreira, do Ciriaco Oliveira amante das poesias; Terra do seu Petrolino, do funcionário Perilo e do velho Zé Farias. Bragança do Elias Rodrigues, do seu Marcelo Castanho, do velho Pedro “Pretinho” proprietário do Riozinho onde se tomava banho. Terra do André Risuenho, Homem bondoso e ordeiro. Terra do seu Turiel,

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Bragança do Cunha Junior, na imprensa escrita daqui. Bragança do Zito Cezar, GERSON que fez festa ao Centenário GUIMARÃES e ajudou o proletário a enfeitar seu Tapiri Bragança antiga, Bragança, Terra do Senador Lobão, terra de paz e esperança, do Ramiro - o Capitão de saudosas serenatas ”Comendador do Arimbú”; na doce Bragança do seu Cecim, quadra feliz; turco de bom coração, das feéricas procissões, que ficava a tarde inteira, das noites de orações esperando pelo trem na velha Igreja Matriz. lá na praça da Estação. Terra de homens de fibra Bragança do Justo Rosa, e de almas paternais com o seu primeiro ônibus falando nas praças públicas de modelo original, nos tempos eleitorais. fazendo horário dos campos Bragança do Rio Caeté e trazendo a caboclada agitando as suas águas, pra festinha do arraial. carregando as suas mágoas Terra do Armindo Ribeiro, pra longe dos palmeirais. animando o Cine Olímpia Bragança da Velha Aldeia e chamando a mocidade do Riozinho e do Morro, com seu gesto cordial. do Ora Bolas e Panair, Terra da preta Leocádia, e do Perpétuo Socorro, de dona Maria Pretinha onde o fiel se agita do gostoso tacacá ao sol das tardes amenas, vendido naquela pracinha. numa contribuição bendita Bragança do Zé Bragança, para assistir as Novenas. do Almerindo e do Cordeiro, Bragança das gerações do Godêncio “Fogueteiro”, de bondosos corações do velho Alcino Tupy, voltados aos semelhantes; o saudoso seresteiro que referto de esperança Bragança das noites frias, fazia acordar Bragança dos inesquecidos dias da Aldeia ao Jiquirí. das festas, dos arraiais: Terra do Padre Coroli, Bragança dos que morreram, com o seu cavalo branco que partiram pro outro mundo de cuidada ferradura; pra não voltar nunca mais. Terra do Oscar Acioly Bragança de Augusto Correa, governando a Prefeitura. - a fera deste torrão Terra do Vitaliano, -que causava muito susto o nosso padre e poeta, quando entrava em ação. exímio compositor Bragança do Pedro Sousa, que milhões de bem nos faz; da velha Tipografia, que chegou da velha Europa imprimindo o Bragantino e preparou a “tropa” para representar Bragança, com o artigo pequenino lá no Teatro da Paz. que o Filenilo escrevia. Bragança do Zé Soares, Bragança do “Duca Rosa” na marcação da quadrilha que vendia “todo prosa” nas festinhas sociais. o seu gostoso café, Terra da Luzia Rosa, no mercado da cidade; que com a sua voz maviosa Terra do Padre Luis, despertava os palmeirais. o Sacerdote feliz Terra do De Castro e Sousa que dirigiu o colégio do Rodrigues Pinagé disseminando a bondade. do inolvidável Zezé, Bragança de Dom Eliseu, vindo do Caratateua sempre alegre e sorridente, para fazer serenata o mais brilhante presente na ponte da beira mar; que Pio XII nos deu. O som do seu violino Bragança do Padre Gerosa, falava ao bragantino o dedicado Vigário, fosse grande ou pequenino que morreu com muita idade que devia levantar. abraçado ao seu Rosário Bragança do seu Emídio,

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BRAGANÇA ANTIGA

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do doutor Simpliciano e do seu Pio Cavalheiro. Terra do seu Vadiquinho do Eduardo e do Sereno, Bené Alves e Amorim, E do seu Elias Sobrinho, morador do “Caeté”. Terra do Padre Machado o Vigário iluminado que aumentou a minha fé. Terra do Luis Antônio da panela que luzia; Terra da dona Diloca; e do Germano Garcia. Bragança do seu Hilário - o grande “Serapião” com jeito de milionário montando o seu alazão. Bragança do “Caramujo”, vendendo carne de gado la no mercado Central; Bragança do seu João Braga, que passava o dia cantando para “espantar o mal” Bragança da Maricota, professora modelar; com ela nao tinha história qualquer coisa a palmatória fazia silenciar. Bragança da Theodomira, mestra de grande valor, que com sua “regua gigante” silenciava o estudante corrigindo com amor. Bragança da Dorotéia ensinando no Riozinho com amor e doação; Bragança do Bibiano conduzindo a todo pano o trenzinho da colônia para a antiga estação. Bragança da marujada, da saudosa cavalhada disputando um Medalhão. Bragança do velho Zuza, o locutor pioneiro que animava a Aldeia com seu modo zombeteiro. Bragança do seu Ormindo, o nosso antigo sineiro que chamava o povo ordeiro pra Igrejinha de São João. Eis, aqui, BRAGANÇA ANTIGA, torrão que a todos abriga, berço fértil e generoso onde o PAI me fez nascer; Quero neste solo amigo, pelo Caeté banhado fazer nele o meu jazigo quando por Deus for chamado.

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PZZ BRAGANÇA / LITERATURA

Carlos Pará

DOSSIÊ LITERATURA DE BRAGANÇA

“A divulgação da Literatura de Bragança constitui-se na revelação de obras poéticas que merecem divulgação para o público leitor da PZZ e para as novas gerações conhecerem o valor inigualável dos escritores e poetas da “bragantinidade”, e assim poder serem reconhecidos e admirados pelos seus conterrâneos e ganhar uma janela no cânone da literatura paraense universal. Este breve estudo dos poetas e prosadores de Bragança constitui-se na revelação de obras literárias, que merecem divulgação para o público-leitor da PZZ e para as novas gerações conhecerem o valor inigualável dos escritores da “bragantinidade”, e assim poderem ser reconhecidos e admirados pelos seus conterrâneos e ampliar o alcance do texto literário, em função de um fenômeno mais extensivo que engloba, seja a linguagem, a sociedade, seja a história. As poesias aqui reunidas são recortes da produção de autores que revelam uma existência de reflexões sobre os anseios, o cotidiano, as tradições e amores à terra natal, trazendo para este ensaio “as cores, os sabores e os humores de Bragança” como diz um verso do poeta Jorge Ramos. Trazer ao conhecimento do grande público a coletânea da obra poética de Fernandes Bello, Acrisio Motta, De Castro e Souza, Jorge Ramos, Cirene Guedes, Bolivar e Armando Bordallo, Maria Lúcia Medeiros, Aviz de Castro, Gerson Alves Guimarães, Nélio Gonçalves, Lindanor Celina, Alfredo Garcia e outros, é apenas um punhado da farinha literária que Bragança prepara em seus fornos centenários e mágicos, um traço do perfil do rosto da literatura paraense. 16 www.revistapzz.com.br

A maioria desses poetas e escritores, personalidades multifacetadas, precisam ser editados e reeditados. No artigo jornalístico do professor João Jorge Pereira dos Reis, afirma que Antonio Cicero Fernandes Bello é o poeta mais antigo da Literatura Bragantina que se tem registro, considerando a literatura

Esta publicação, mais do que prestar uma justa homenagem aos grandes poetas bragantinos, propõe-se a resgatar um débito histórico com os poetas dessa região, que desenvolvem ou desenvolveram um trabalho intenso e profícuo ao longo da história bragantina. como obras artisticamente escritas e classificadas de ficção, poesia e teatro. Paraense da cidade de Bragança nasceu no dia 18 de maio de 1854. Ingressou na Faculdade de Direito do Recife onde estudou o poeta baiano Castro Alves (1847-1871), conquistando o título em Ciências Jurídicas e Sociais a 05 de novembro de 1881.

De Castro Souza Trabalhou como promotor em Penedo (AL); Juiz de Direito em Água Branca (AL), Pão de Açúcar (AL), Curuçá (PA), Guamá (PA), Mazagão (PA) e Óbidos (PA); Juiz substituto na Vigia (Pará). Não obteve transferência para sua terra natal devido ser um desafeto do governador Augusto Montenegro. Em 1884 a 1888 exerceu o cargo de deputado


BRAGANÇA DE CASTRO SOUZA

estadual ao lado do Padre Mâncio Caetano Ribeiro. Depois da fundação (1894) da “Mina Literária” por Álvares da Costa, Alcides Bahia, Acrisio Motta, Eustachio de Azevedo, Euclides Dias, Guilherme de Miranda, João do Rego, Leopoldo Sousa, Licínio Silva, Luiz Barreiros, Marcos de Carvalho, Manuel Lobato, Natividade Lima, Paulino de Brito, Raul Azevedo e Theodoro Rodrigues, fez parte da agremiação ao lado de Arthur Lemos, Antônio de Carvalho, Arthur Viana, Anésia Schüssler, Artúnio Vieira, Albuquerque Mendonça, Antônio de Macedo, Bertoldo Nunes, Bezerra de Albuquerque, Barão de Guajará, Barão de Marajó, Bertino Miranda, Barroso Rebelo, Cantidiano Nunes, Carlos Victor, Duarte Pinto, Euclides Faria, Emílio Goeldi, Esmeralda Cervantes, Frederico Rhossard, Fabiliano Lobato, Fran Paxeco, Flávio Cardoso, Getúlio Santos, Guajarina Lemos, João Malcher, Juvenal Tavares, José Barbosa, João Lúcio de Azevedo, João Baena, Lauro Sodré, Luiz Lobo, Marques de Carvalho, Maria Valmont, Manuel Barbosa, Marcolino Fagundes, Olavo Nunes, Ovídio Filho, Rodrigues Vale, Vilhena Alves e Vasco Abreu. Por causa do naufrágio do vapor Guará, perdeu quase toda a produção em versos. Mas conseguiu preparar Versos d’Outrora, livro desaparecido. Em 1900 publicou Guia de Navegação, um manual em diálogos com base no Regulamento para evitar abalroamentos no mar do Governo Federal. Morreu em 1922 na capital paraense. Como homenagem há um distrito em Viseu (PA) com seu nome. Nesta edição divulgamos seu soneto: No Amazonas. Mas foi no início da década de 20 que destacamos o início dessa vasta literatura bragantina na qual destacamos A Revista Bragantina, órgão do Centro Social Estudantino, que tinha como diretores Armando Bordallo e Oswaldo Pacheco e como editor, o Bolivar Bordallo. Depois de um ano de fundação do Centro, já se sentiam fortes e animados para a publicação de uma revista que veio para suprir uma lacuna no círculo social da época. O aparecimento da Revista Bragantina é a prova inconfundível do esforço e boa vontade de seus diretores, entre eles Armando Bordallo da Silva, Oswaldo Newton Pacheco, José Nonnato Schwartz, Lauro da Cunha Oliveira, Bolivar Bordallo da Silva, Orlando Henrique de Araújo, Simpliciano Medeiros Junior, Pedro Hélio de Mello, Antônio Fernandes Medeiros, Sebastião José da Silva coadjuvados por aqueles que estimavam Bragança, contribuindo para o seu soerguimento. A Revista Bragantina sobreviveu por três anos e em quatro edições (primeira geração)

Terra da Promissão, a nossa terra, ninho de amor, de paz e de beleza, tanta doçura virginal encerra, que até parece o altar da Natureza onde a alma, às vezes, entre sonhos, erra.. Onde pulsar um pátrio coração, onde existir um peito bragantino, há de haver sempre um pouco de emoção de um grande afeto, puro e peregrino, ante o esplendor de tanta floração. Perante o seu domínio fascinante, não há quem ante o céu azul nao vibre, nem com seu fulvo sol não louve e cante. E por mais que a imaginação se libre, não há beleza que o Caeté suplante! Nessa planície imensa que êle banha, se repartindo em igarapés sombrios, a força das florestas é tamanha, são tantos os encantos e atavios, que a nossa terra as outras terras ganha!

Acrisio Motta temos o registro intelectual e literário de uma geração que entrou para a história de Bragança e do Pará. A Revista tinha muito anunciantes: Fábrica Oriental - Saboaria e Extração de Óleos, do Grupo F. Ramos; Companhia Nacional de Navegaçao Costeira que fazia linha Belém Recife e tinha sede em Bragança, Caixa Rural de Crédito - Sociedade Cooperativa de Respónsabilidade Ilimitada que fornecia Empréstimos a Lavradores, e muitos outras fábricas e lojas que anunciavam e ajudavam a manter o projeto do períodico que durou de 1929 a 1931. A mocidade estudiosa, a vida de conhecimentos, que se entrega as lides do estudo, buscando a luz clara e fulgente que os havia de guiar na senda do trabalho e do progresso, teve nessa Revista o baluarte de suas ideias contribuindo para o aperfeiçoiamento intelectual do povo bragantino. Nas páginas da Revista Bragantina foram ensaiados os primeiros passos para a carreira das letras de homens notáveis: Armando Bordallo, Bolivar Bordallo, Rodrigues Pinagé, De Castro e Souza, Sebastião Silva, Hamilton Torres, Eimar Tavares, Cyriaco Oliveira. Uma geração que entrou para a história fazendo muito alarde e merece o devido destaque. Desses que entraram para o hall dos notáveis, destacamos, o poeta bragantino, Antonio Teles de Castro e Souza, ou preferencialmente De Castro e Souza, letrista, pioneiro e ilustre, autor do Hino de Bragança, era considerado por Vicente Salles um mito e uma figura das mais extraordinárias de quantas se manifestaram entre os criadores da Música Popular Brasileira. A vida passou para esse boêmio, depois de iluminar-lhe a existência, breve e fugaz. Muito jovem, deixou

E quando o rio, feliz, numa cantiga, refresca as matas com preciosas linfas, nos nossos olhos a ilusão se abriga, de ver faunos correndo atrás das ninfas, como nos tempos bons da Grécia antiga... Na graça da mulher, já nem se fala; que ela é tão linda, esbelta e imaginosa, que, mais que as flores, todo o aroma exala.. É a única no mundo que é dengosa, que as almas prende, que seduz e abala!... Seja a cabocla cheia de embaraços, ou a moça culta empenhada em zelos, nos olhos trás o brilho dos espaços, tem o negror das noites nos cabelos e o odor das plantas aromais nos braços... Na boca trêmula, húmida de beijos, tem as tintas vermelhas do verão Na voz possui melódicos harpejos. E quando adora, trás no coração um infinito mundo de desejos! A noite, quando a lua timorata desata a esteira argentea e luminosa Bragança, em reverberações de prata, logo adormece, calma, venturosa, ao som de uma indisível serenata! São os queixumes graves dos Romeus, às Dulcineas reservando sustos em versos tristes como são os meus... São as vozes da brisa e dos arbustos subindo ao céu para falar a Deus! E de Braganca eterna vigilante, a cruz iluminada da Matriz levando o seu clarão léguas distante, mostra como o seu povo é bem feliz e abençoado por Deus a todo o instante. Por isso, nesta lira que não cansa, canto, feliz, alegre, satisfeito, o berço onde nasceu minha esperança... E de joelhos em terra e mãos no peito, rezo pelo destino de Bragança!

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PZZ BRAGANÇA / LITERATURA

Sebastião José da Silva a terra natal. Educou-se na Europa. Passou longa temporada em Paris. “Voltou ao Brasil por volta de 1914, talvez tangido pelos primeiros rumores da I Guerra Mundial e foi morar durante uns 15 anos no Rio de Janeiro, vivendo quase exclusivamente da sua poesia, como declamador e conferencista. Ali publicou a comédia em 2 atos “Abnegação”. Pianista, também tangia o seu violão. No Rio, estudou música com Júlio Mendes Pereira. Publicou poemas e sonetos em várias revistas, principalmente em O Malho, da qual se pode recolher copiosa colaboração. Pertencendo a geração e ao grupo de Álvaro Moreyra, colaborou em Paratodos. Além da Revista Bragantina, publicou “Quinze Sonetos” em 1931. De Castro e Sousa viveu na época em que o cinema norte-americano começou a impor os gêneros da música popular daquele país. Foi pioneiro e um dos mais fecundos criadores de letras de foxes, Charlestons, swings. Seu nome aparece assim em centenas de edições brasileiras de músicas norte-americanas. Produziu diversas obras sem parceria. Publicou, entre outras, “Garça Branca”, foxtrot, editado pela casa Ceará Musical, de Fortaleza, e “Zélia” (opus 6), valsa lenta, estampada no suplemento n° 105 da Revista Musical Rio de Janeiro, de 15 de novembro de 1927 Poe volta de 1930, retornou ao Pará. Viveu ainda em Bragança e em Belém, produzindo nessa ocasião o Hino de Bragança, musicado por Raimundo Mota da Cunha. Amigo de muitos criadores da MPB contribuiu com letras de valsas, sambas, marchas, etc. Parceiro de Augusto Vasseur no fox-trot “Anhangá” (Diabos Vermelhos); de Pedro de Sá Pereira no tango-canção “Ao reflorir do amor”: de Luis Nunes Sampaio (Sampaio Careca) no tango 18 www.revistapzz.com.br

“Caridade”, de tantos outros compositores, colheu também parte do seu sucesso como letrista da compositora carioca Serafina Moura do Vale, a celebre Viúva Gerreiro, proprietária da loja de música e casa editora. A dupla produziu principalmente valsas: “Teus sorrisos me encantam”, valsa dolente,- “O amor pode mais que a morte”, valsa triste; “Não penses... em cousas tristes”, valsa apaixonada,- “Virgem da paixão”, valsa sentimental, etc. Em Belém, contribuiu com o fox “Caminho dos Namorados”, para a revista “Gosto de quem me entende”, representada no Teatro Glória, na quadra nazarena de 1933 pela troupe Cantuária. Carregando seu sonho e sua miséria, De Castro e Souza produzia incessantemente, mas sempre ao meio de uma vida errante e boemia. Desapareceu em circunstâncias misteriosas, pouco mais sabendo de sua vida aventureira. Diz-se que também produziu um livro de contos intitulado “Comédias da Vida” . Outro personagem desse contexto que destacamos é Sebastião José da Silva, pai de Armando e Bolivar Bordallo, que também colaborava com textos e poemas na Revista. Sebastião José nasceu no ano de 1874 em uma família pobre, portanto não teve oportunidade para grandes estudos, mas, teve sorte ao encontrar na adolescência um médico já cego que o “adotou”, a quem ele lia e guiava, e que lhe ensinou literatura, francês, e principalmente o gosto pela leitura de grandes autores. No final do século XIX foi parar em Bragança onde trabalhou na loja de tecidos do Sr. Nazeazeno Ferreira, vindo a se tornar sócio, e assim ele passou a ser comerciante. Depois de casado, tornou-se o próspero dono de uma casa comercial chamada “Tupi”. Ele mesmo era conhecido como “Seu Tupi”. Sebastião, como comerciante, participou ativamente na vida da cidade. Foi vogal, uma espécie de vereador, para o triênio 1903-1906, assumindo o cargo a 15 de novembro de 1903. Em 1923, também como vogal, foi o orador oficial do Conselho Municipal na Sessão Magna comemorativa ao Centenário de Independência do Brasil, ocasião em que foi inaugurado o Monumento do Centenário situado ao centro da Praça Coronel Batista Júnior, em frente à Igreja Matriz e a Diocese de Bragança. Em 26 de Junho de 1927, juntamente com outros comerciantes, fundou a Caixa Rural de Crédito de Bragança. Esta era uma sociedade cooperativa, de responsabilidade ilimitada, pelo sistema Raifaisen, com o objetivo principal de conceder pequenos emprésti-

mos à lavradores de criadores da cidade e interior. Sendo que esta sociedade foi transformada no Banco Rural de Crédito de Bragança em 15 de Setembro de 1929, tendo ainda Sebastião José da Silva participado como sócio fundador, juntamente com os mesmos sócios fundadores da Caixa Rural de Crédito. Ele possui diversas poesias inéditas, assim como, Crianças, e uma outra, “Baile na Roça” – 1920, foi publicada em um número da Revista Bragantina. Seus filhos, Armando Bordallo, presidente do Centro Social Estudantino e seu irmão Bolivar Bordallo da Silva, também foram pessoas que atingiram um alto grau de prestígio e notabilidade na história de Bragança e no Pará.

Armando Bordallo Mariana Bordallo, filha de Armando Bordallo da Silva, escreve na biografia ainda inédita de seu pai que ele nasceu em Bragança em 1906. Foi farmacêutico, Médico Obstetra, Sanitarista, Médico do Exército, de Desportos, Inspetor Médico Escolar, pesquisador, folclorista, Diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi, antropólogo, professor, membro da Academia Paraense de Letras e de várias outras Associações Científico-Culturais que ele ajudou a fundar ou apenas se associou. Em 1927, ele se formou no curso de Farmácia e, em 1930, concluiu o curso de Medicina defendendo a tese “Das Vitaminas e das Avitaminoses”, analisando a composição química de produtos amazônicos: o açaí, a banha de tartaruga, o óleo de boto e a farinha d’água. No ano seguinte à sua formatura, passou a atuar como médico sanitarista em


CANÇÃO BRAGANTINA (Julho/55)

diversos interiores do Pará – inclusive no próprio Município de Bragança. Essa experiência de proximidade com o povo, seus hábitos e costumes, coletando material que ia encontrando nas estradas percorridas a cavalo, levou-o a refletir sobre a necessidade de investigação e registro da cultura do caboclo paraense. E ao longo de anos de labor e de pertinaz observação escreveu Contribuição ao estudo do Folclore Amazônico na Região Bragantina (1958 | 2ª edição em 1981). Percorrendo o município, em todas as direções, acostumou-se a investigar e observar tudo o que diz respeito à terra e ao homem. Assim todos os seus quadrantes foram esquadrinhados, perscrutados, levantado o contorno da costa marítima, e relacionados os hábitos, os costumes, as superstições e crendices dessa gente hospitaleira, boa e simples. A partir de 1933, tornou-se professor: preparador de Física e Química no Ginásio “Paes de Carvalho; Cinesiologia na Escola de Educação Física do Pará; Biologia Educacional no Instituto de Educação do Pará; Biotipologia e Alimentação na Escola de Assistência Social do Pará; Assuntos de Natureza Médica no Curso Intensivo de Educação Física (Departamento Nacional de Educação Física do Ministério de Educação Física e Saúde em Belém); por fim, foi professor Catedrático da Cadeira de Antropologia na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras do Pará (UFPA). A partir de 1938, passou a morar definitivamente em Belém, onde criou a família, firmou-se profissionalmente como médico e professor e, ampliou o círculo de amigos, fazendo parcerias importantes. No ano de 1947, o Dr. Armando e seu amigo Paulo Maranhão, idealizaram e fundaram o INSTITUTO DE ANTROPOLOGIA E ETNOLOGIA DO PARÁ, dedicado aos estudos da região amazônica. Os membros do Instituto eram os mesmos companheiros que o acompanhavam nas reuniões do Instituto Histórico e Geográfico do Pará. Durante muitos anos, o Instituto, que tinha como sede provisória o Museu Paraense Emílio Goeldi, promoveu palestras e publicou 10 títulos, sendo a primeira obra publicada: Aspectos Antropossociais da Alimentação na Amazônia (Trabalho lido em sessão pública do Instituto, dentro do plano de divulgação e educação por este estabelecido) do Dr. Armando Bordallo da Silva em 1949. No ano de 1950, durante reunião do Instituto de Antropologia e Etnologia do Pará no Museu Emílio Goeldi, foi criada a Comissão Paraense de Folclore. E, seguindo as idéias difundidas pela Campanha Nacional de Folclore, criada por Renato Almeida, a

BOLIVAR BORDALLO Canta povo bragantino, cheio de amor e de fé, glorificando o destino do formoso Caité. Cantigas, simples, bonitas que o povo sabe cantar; são elas como pepitas qual um tesouro a brilhar. Guardam consigo a beleza da tradição popular; são tesouros, são riqueza, e vivem n’alma a bailar.

Bolivar Sebastião JoséBordallo da Silva fim de preservar e documentar as tradições culturais, antes que a modernização as extinguissem, a comissão criou a I JORNADA PARAENSE DE FOLCLORE. Como Secretário da Comissão, o Dr. Bordallo escolheu Bragança, para sediar o evento que contou com a presença do folclorista Edson Carneiro, representando o ministro Renato Almeida, Zaíde Maciel (do Rio de Janeiro), Bruno de Meneses, De Campos Ribeiro, Jacques Flores, Washington Costa, e o jovem estagiário, futuro antropólogo e pesquisador do Museu, Edson Diniz, dentre outros. Em 1951, o Dr. Bordallo foi convidado pelo Governo do Estado para administrar o Museu Paraense Emílio Goeldi. A avidez pelo saber lhe concedeu um conhecimento eclético, passando por diversas áreas do saber. A consciência de seu papel como educador, o levou a escrever sobre diversos assuntos: alimentação, geografia, economia, folclore, etc. Além de suas diversas obras, ainda deixou algumas obras inéditas: Folclore Brasileiro na Amazônia, atualmente entregue ao Magnífico Reitor da Universidade Federal do Pará para sua publicação; e a Bibliografia Antropológica da Amazônia. Bolívar Bordallo, seu irmão, foi o primeiro orador no Centro Social Estudantino que publicava a Revista Bragantina, onde publicou seus primeiros versos, poemas sobre Bragança e suas belezas naturais, sobre a Selva Bragantina, sobre o Amor e artigos de Sociologia Crítica, questionando sobre a missão dos homens no desenvolvimento, ou na evolução propriamente, da sociedade que se debate agonizante na pequena esfera global enfatizando a importância da educação para

Do “bumbá”, da “Marujada”, das cavalhadas velozes, “da Ladainha”cantada, do caboclo , a quatro vozes; do “Xingue”, do “Tum-tum-pá”, do “Bagre”, do “Retumbão”, falam todos , um a um, da popular tradição. Canta povo bragantino, cheio de amor e de fé, glorificando o destino do formoso Caeté. ******* PIRÃO E CHIBÉ ( 17.04.62) BOLIVAR BORDALLO Crepita, ainda, o fogo no caqueiro sobre o convés daquela igarité; o peixe assado cheira no braseiro, todos comem pirão, bebem chibé. “Eu vou fazer o meu pirão gostoso”; - diz marujo que n’alma não tem mágoa “Quero um bocado grande, generoso, farinha, mais farinha do que água”. “Como é bom este peixe com pirão que a gente come com qualquer comida! No convés de qualquer embarcação o pirão é pirão, a vida é vida!” “E depois do pirão, do peixe assado, numa cuia bem funda e bem pretinha, a gente bebe o chibé distiquarado, com muita água, açúcar e farinha.” Crepita, ainda, o fogo no caqueiro sobre o convés daquela igarité; o peixe assado cheira no braseiro, todos comem pirão, bebem chibé...

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PZZ BRAGANÇA / LITERATURA

o desenvolvimento moral e social. Nesse periódico também escrevia sobre Estudos sobre o Comércio falando da sua origem: definição e importância como função social e econômica. Significativa era a sua colaboração intelectual no periódico. Em 1946 publica o livro: “Fatores dos Descobrimentos e Conquistas no Século XV” e para o Professor e Coordenador do Curso de História do Campus Bragança da UFPA, Dario Benedito “Sua maior contribuição para a sociedade em geral, fruto de suas observações foi, com certeza o livro Cronologia Bragantina – um capítulo na História da Amazônia, que ficou sem lançamento e continua inédito”. Para ele “A história de Bolívar começa em 25 de setembro de 1907. Bolívar, como muitos outros, não só por ter lutado pelos interesses econômicos, culturais e educacionais da região Bragantina, mas por ter sido professor em muitas instituições de ensino de sua época, exerceu o ofício de advogado, e também historiador, garimpando em variados registros as informações necessárias para escrever uma parte interessante história de Bragança, como um atento observador. Sua vida foi dedicada à Educação e à produção do conhecimento, tendo Bolívar assumido com fervor a tarefa de educar, como missão pessoal, a fim de promover e elevar a condição cultural, social e econômica das pessoas, especialmente de Bragança. Mas, o conhecimento, o amor aos livros e à História, era algo que ele passava a todos sem distinção, além da sua gentileza e tratamento da família em ocasiões onde estava com irmãos, sobrinhos e parentes. Entre 1950 e 1969 escreveu um livro de poemas inspirado na tradição popular e no canto do povo bragantino que para ele são “Cantigas, simples, bonitas que o povo sabe cantar; são elas como pepitas, qual um tesouro a brilhar, são tesouros, são riqueza, e vivem n’alma a bailar”. O livro ainda inédito é dividido em “Séries” e na Série I inicia com as DANÇAS E DIVERSÕES: Canção Bragantina, Boi – Bumbá, Marujada, Cavalhada, Ladainha, Xingue – Xingue, Tum - tum - pá, Bagre, Retumbão, Paisagem Bragantina. Os poemas Canção Bragantina, Marujada, Bagre e Retumbão já foram publicados num livrinho do Instituto de Artes do Pará organizado por Paes Loureiro em 2000 por ocasião dos festejos da Marujada. Na Série II - BEBIDAS E MANJARES: Açaí, Aluá e gengibirra, Pirão e chibé. Na Série III UTENSÍLIOS E TRABALHOS DOMÉSTICOS: O ciclo do guarumã - tipiti, paneiro, urupema, tolda, canastra e tupé. Ciclo da palha - cofo e meaçaba. Louça de barro - igaçaba e alguidar. Cuia. A Série IV - ASSUNTOS REGIONAIS, HÁBITOS E COSTUMES: Roçado e queima; A roça do caboclo; Vamos mexer farinha; Ferra do gado, Caranguejo está andando; Pescaria 20 www.revistapzz.com.br

de arrasto. E na Série V - MITOS, LENDAS E ESTÓRIAS, Crendice Popular; Curupira; Lobisomem; O boto da cunhã; A Cobra - grande; A onça e a chuva; Frechado de sapo; O Urutaí e a coruja; O casamento da filha do Maguari. O livro organizado pela Prof.ª Mariana Thereza Athayde Bordallo da Silva além de ser um legado da vida e obra desse notável professor, poeta e ativista cultural é um inventário sobre os saberes e práticas vitais do povo bragantino, da cultura em seus múltiplos aspectos e que precisa ser conhecido e reconhecido como arte e conhecimento.

Rodrigues Pinagé

Benedito Cesar Pereira Benedito Cesar Pereira, ex-prefeito de Bragança, além de escrever versos foi autor da Sinopse da História de Bragança compilou de cronistas eruditos, escritores e historiógrafos bragantinos, diálogos e informações dos irmãos Bordallo e muitos outros que menciona no prefácio. Escrever a história de uma terra e de um povo é sempre um processo que vai além da consulta de documentos históricos guardados em arquivos públicos ou privados, exige-se dialogo com os mais antigos, muito que estão no limiar da vida, prontos para levarem consigo toda a vivência e conhecimento sobre a vida e do lugar. Um árduo trabalho em pesquisar livros, compilando trechos para enfeixá-los numa só obra. A pequena história de Bragança, que o estudioso conterrâneo João Araújo tentou descrevê-la, num trabalho bem urdido, porém, não terminado e que intitulou de - PAÌS DOS CAETÉS”, - narrando desde as primeiras fundações das Capitanias do Maranhão e a do Grão Pará, o de-

senvolvimento do Pará e a Região do Caité e logo após por Benquerença, No capítulo BRAGANÇA FOLCLORICA dedicamo-lhe Bruno de Menezes, Rodrigues Pinagé, De Campos Ribeiro, Jacques Flores. Fazia parte da geração dos notáveis, autor do poema épico MANI DE URUTA, CONTO CAETEUARA — A LENDA DA MANDIOCA o qual narra a miscigenação do branco e do índio, e a lenda da mandioca, raiz cultuada pelos índios tão presente na cultura do povo bragantino. Inventou o termo sociedade caeteuara, assim como a marajoara possuíam tecnologias sociais, mitos, cultura, arte, muito complexas, o que demonstra uma evolução social e espiritual. Outra figura que contribuiu com a produção literária em Bragança foi o potiguar Rodrigues Pinagé, grande poeta, autor de muitos livros de poemas “tornou-se tipógrafo na própria terra natal indo trabalhar em “A República” e mudou-se para o Pará aos 16 anos de idade, em 1911, quando o extrativismo do látex da serigueira ainda impressionava na balança econômica da Amazônia .Pinagé veio tentar uma nova vida se estabelecendo primeiramente em Bragança, onde numa bela noite de luar recitou na ponte sobre o rio Caeté “Caité, em ti repousa,/ Muita cousa sagrada,/ Muita cousa (Pereira, l963) e depois seguiu para a cidade de Belém, lugar onde exerceu o ofício de arrumar as letras no jornal “A Província do Pará”, cujo trabalho pesado abrange segundo Ildefonso Guimarães um “tempo em que esta profissão marcará o início de algumas férteis carreiras literárias entre moços pobres, Machado de Assis foi uma delas e, aqui também, o nosso Bruno de Menezes”


BRAGANÇA

Mais tarde o incêndio criminoso no prédio “A Província” como forma de vingança política e alguns jornalistas do quadro funcional acabaram perseguidos sem trela, fez Pinajé mudar de orgão informativo para o matutino “Estado do Pará”. Através da atividade gráfica recebeu forte influencia decisiva ao assumir plenamente a convicção literária por meio de contatos com as figuras importantes das letras paraenses: Humberto de Campos, Vespasiano Ramos, Bruno de Menezes, Ernâni Vieira, Lucilo Fender, Eustáquio de Azevedo, Jacques Flores, Eduardo Filho, Terêncio Porto, Aires Palmeira, Jose Sunoes, Romeo Mariz, irmãos Marques de Carvalho, Alves de Souza, Elmano de Queiroz e outros. Celebrou o laço matrimonial com Raimunda Gomes Pinagé, vindo ao mundo um casal de filhos: Olivar e Odeisa O poeta explorou profundamente as reações humanas e alcançou até o estado do metafisico, apresentando composições itinerantes nas formas presa e livre. Em várias poesias são concebidas o sonho vivido pelo indivíduo mesmo com o passar do tempo e às vezes se aproxima ao tratamento dado por Raimundo Côrrea, discorre o significado da vida e do amor recheados pelas decepções, sensualidade e encantamento” escreve Jorge Pereira na Revista Bragança Ilustrada sobre o poeta. Pinagé tinha amigos e um amor incondicional a cidade de Bragança. Tinha um sítio que sempre frequentava e dedicou muitos poemas e contos sobre o lugar como este que publicamos “BOM DIA BRAGANÇA” E ao folhear as páginas da Revista Bragantina encontramos o poema “Nocturno” de Eimar Tavares , diferente no estilo e na forma dos outros poetas de seu tempo, com versos modernos e um olhar sinistro sobre a cidade: “A MINHA RUA, QUANDO DORME, PARECE UM TÚNEL SINISTRO POR ONDE UM TREM VAE PASSAR...” Pesquisando sobre este autor, Olga Savary, o incluiu na Antologia de poetas paraenses - POESIA DO GRÃO PARÁ, Eimar Tavares que nasceu em Bragança no dia 12 de maio de 1909 e faleceu no dia 26 de julho de 1987. Estudou no Instituto Lauro Sodré, formando-se em tipografia, profissão onde fez amizade com escritores, jornalistas e poetas, entre estes Acy Araujo e Rodrigues Pinagé. Eimar auto-intulava-se um “serviçal das letras”, tendo organizado várias pequenas antologias, chegando a publicar, artesanalmente e em pouquíssimos exemplares, duas delas, a saber: Mini-antologia: Poetas da Belém Nova, reunindo poetas dos anos 20, e Poemas Esquecidos, publicados anteriormente A Província do Pará. Além desses trabalhos

jorge ramos

Jorge Ramos e de sua militância na imprensa local, publicou um livro de sonetos (perfis) e um folheto datilografado e distribuído entre seus colegas do DNER intitulado Musa Rodoviária. Livros: Amuletos & Bibelôs, Belém, Oficinas Gráficas do Instituto D. Macêdo Costa, 1934; Musa Rodoviária. Folheto artesanal; Mini-antologia: Poetas da Belém Nova; e Poemas Esquecidos. 1986. Inéditos: Janela da Poesia — mini-antologia reunindo poetas publicados na página de arte de O Liberal; Poetas Bragantinos. Antologia; Belém do Para; Antologia Preservativa da Imagem da Cidade; Versos Vadios — Poesias do Tempo da Flor; e Um Assobio no Escuro — Poesia reunida (1940 a 1984). Eimar Tavares colaborava, também, com o PQP-Um jornal pra quem pode — de Raymundo Mario Sobral, hoje transformado em revista, com o qual também colabora desde o primeiro momento. No PQP, Eimar assinava textos humorísticos, trovas e sonetos de duplo sentido. Tencionava, nesse gênero, publicar um livro em parceria com o poeta vigiense José Ildone, intitulado Dama de Paus. O obelisco comemorativo do 1º centenário da cidade instalado na Vila Que Era ou Cuera em Bragança no período da gestão municipal de Cesar Pereira, consta na parte larga do pé do obelisco, os versos do Poeta Eimar Tavares: “Tradição é eternidade que o povo traz na lembrança Este marco é de saudade dos que fundaram Bragança”. Até o momento de concluirmos essa edição não conseguimos encontrar um retrato seu mas devido ao seu trabalho e sua persononalidade faz

Bragança beira-rio, cidade presépio, minha Bragança de São Benedito, cheia de sonhos e de poetas: - Onde estás De Castro e Souza? - Em que estrela te escondes Alírio Pinheiro? Eu te pergunto, Bragança minha, onde perdi aquela pureza da infância, onde ficou aquele meu primeiro sonho-fantasia, em que pedra está o epitáfio muito frio e muito triste do meu primeiro desengano?... Ah, casarão colonial de tanta luz, meu berço, de vento batido, sobrado da Rua do Mar, onde aprendi a ser livre como o vento, a ser sentimental com as cantilenas dos barqueiros, a ser poeta com o poente sobre o Caeté e a lua cheia, amarela, como rosa chá, despetalando-se em miríades, encanto mudo que nunca esqueci... Ah, Bragança de meus amores, finados amores, onde a luz do luar haviam violões em serenatas, em que mundos perdi a rara e doce emoção de já não saber te contemplar tranquila e serena nessas noites misteriosas, como fazia outrora!. Ah, a alma de tua tradição afro-ameríndia, cidade cheia de lendas e muitos amores: - Lá vai São Benedito, preto velho, bom e batuta, todo fim de ano na sua esmolação!... (Santo milagroso, Santo do meu povo, a tua casa e a casa da gente cabocla que confia muito na tua proteção!...) São Joao, meu São Joao da Aldeia!... Ah, que saudades, vou passar fogueira novamente, vou acender o meu balão, Meu São Joao, “acende a fogueira do meu coração”, há invernia e tristeza, a tua casa o vento levou, mas em nos, Voz do Deserto, ainda restou a tua sagrada devoção!... São Raimundo da Penca, os trilhos da velha ferrovia eram o caminho e o convite, havia a tua fé, a tua grande procissão e a cabocla brejeira, a mulata festeira, festa do povo que o vento e o progresso levou! Sta. Teresinha, a pálida monja de Antônio, o devoto aos teus pés, na capela do morrozinho, casais enamorados e tardes tão líricas, construíram castelos em sonhos tão puros e tão cândidos!... Recebe o teu devoto que se foi tão contente de te conhecer como a mais santa de todas as santas!... Bragança beira-rio, cheia de sonhos, e sempre havia a menina-moça de cabelos cheios de viração, e no rosto uns olhos doidos cheios de emoção!... Bragança minha, há saudades no coração, eu te trago minha alma, minhas magoas e minhas palavras pobres, eu toco tua terra e me redimo, e nestas ruas encontro a tua madrugada sorrindo para mim, e há a eterna promessa sempre renovada de ser sempre teu, minha doce amante, e sinto, de leve, teu beijo de amor nos meus lábios que sussurram eternamente:

-VIVA A BRAGANTINIDADE!.

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PZZ BRAGANÇA / LITERATURA parte da composição do rosto da literatura bragantina. Agora, destacamos a grande figura de Jorge Ramos, que nas palavras de Celso Luiz Ramos de Medeiros, organizador da antologia de poemas “Toda a poesia de Jorge Ramos” declara que o poeta foi homem de seu tempo, um dos fundadores da revista trimestral Bragança llustrada, que circulou no Estado do Pará entre 1950 e 1954, recheada de páginas literárias divulgando poetas e contistas paraenses. O poeta Jorge Ramos dedicou-se também ao jornalismo diário e semanal, atuando nos jornais O Estado do Pará e em O Liberal, ambos de Belém, bem como no Jornal do Caeté, de Bragança, exercendo os cargos de Secretário Geral e Diretor, até a sua morte, em 1981. O Jornal do Caeté foi inaugurado a 18 de Março de 1964, quando circulou o primeiro número. O seu atelier de trabalho funcionava em prédio próprio, já tendo circulado 587 números até fevereiro de 1963 e seu âmbito de ação não foi somente em Bragança e no interior desse município. Espraiava-se na Estrada de Ferro de Bragança, Belém, Amazônia e outros Estados onde contava com avultado número de assinantes anuais. Era impresso em prédio italiano, movido à eletricidade ou motor e sua tiragem era de dois mil exemplares. Circulava aos sábados, com variada colaboração (Cesar Pereira, Sinopse da História de Bragança). O Diretor-proprietário era o Senador Lobão da Silveira e, Secretário o Dr. Jorge Ramos, que tendo assumido as funções de Prefeito Municipal, deixou essa secretaria, logo depois ocupada pelo Sr. Gerson Alves Guimarães, também eleito e empossado Vereador à Câmara Municipal bragantina. A direção técnica do Jornal sempre esteve à cargo do inteligente Alacides Lúcio Ribeiro. Alguns dos operários tipógrafos foram os jovens José da Silva Costa, Maximiano Alves Cunha, José Sousa do Rosário, João Coelho e Nélio Fernando Gonçalves, que emprestaram o labor de suas competências para o maior sucesso do “Jornal do Caeté”. Nesse veículo de Jornalismo da Cultura Amazônica e da Zona Bragantina, Jorge Ramos, poeta primoroso, contista e cronista renomado, foi autor de reportagens jornalísticas de grande repercussão, abordando temas sociais, políticos e econômicos, cujas linhas denunciavam os descasos das autoridades para com as aflições do povo humilde. Advogado militante, especialmente no Tribunal do Júri e na Justiça Trabalhista, foi também professor destacado que marcou a juventude estudantil de seu tempo com seu saber, 22 www.revistapzz.com.br

transmitindo conhecimentos com rara proficiência. Exerceu cargos eletivos de Prefeito de Bragança - mandato não concluído por perseguição política da ditadura militar de 64 - e de Deputado Estadual por uma legislatura. Considerado um grande tribuno, era orador requisitado nas grandes solenidades, quando demonstrava a sua erudição e eloquência. Mas é no seu fazer poético, fundado em grande talento literário e sensibilidade invulgar, que Jorge Ramos derrama, de forma apaixonada, o amor a terra natal, Bragança. Ele deu provas, falando ou escrevendo, de sua capacidade de traduzir o sentimento humano mais profundo em todas as suas nuances. Em seu poema BRAGANÇA exalta a cidade cheia de sonhos e poetas.... Neste poema que exalta a cidade e suas expressões simbólicas e onde inaugura o conceito de “Bragantinidade”, conceito muito utilizado por estudiosos da cultura de Bragança. -VIVA A BRAGANTINIDADE!.

Gerson Guimarães Gérson Guimarães nas palavras de Dário Benedito provoca admiração por sua magnífica memória e escrita, o que ficará para sempre naquilo que deixounos de herança algo que era também tão seu: o significado da alma bragantina. O enredo, a ação e a emoção de Gérson Guimarães nos lembra da importância da valorização das coisas de Bragança, como seus defensores. O autor, com forte personalidade opina e até mobiliza a atitudes dos leitores. Ao mesmo tempo, faz análises sociais e chama a atenção para os fatos que ele, narrador prefere contar, mas deixa

Maria Lúcia Medeiros sugerido que caiba ao leitor o trabalho de defender a história e a cultura de Bragança para as gerações futuras. Seu poema Bragança Antiga escorre versos inspirados com essa “alma bragantina”, pensando na grandeza do Natal de Jesus e na Festa de São Benedito. Nos sentimentos que Brotaram do coração do caboclo do Caeté, que se deleita com o marulhar, o balanço das canoas, com as folhas das palmeiras, com a contagiante alegria do “Rex-Bar” verdadeiro “consulado” para os romeiros visitantes. São recordações dos seus tempos de menino, quando subia no coreto da praça, mexia com o “Rolinha”, apanhava pitomba do quintal do mestre Pedro Sousa, para comer com os colegas na saudosa “Ponte do Cordeiro”. Leiam, reflitam e naveguem no tempo passado para conhecer Bragança da Estrada de Ferro, do Fuluca do Roial, da Ponte de Ferro, do Trem do Bibiano e da Marujada de São Benedito. Em cada verso vai um pedaço de sua “Alma Bragantina” Sem poder nunca deixar de lembrar A poeta, escritora e professora Maria Lúcia Medeiros que nasceu em Bragança em 15 de fevereiro de 1942. Morou em Bragança até os doze anos, quando mudou-se para Belém do Pará. Licenciou-se em Letras pela Universidade Federal do Pará, onde foi professora e pesquisadora. Estreou na ficção com o livro de contos Zeus ou a menina e os óculos (1988). Depois publicou Velas, por quem? (1990), Quarto de Hora (1994), Horizonte Silencioso (2000) e Céu Caótico (2005) Um de seus contos, “Chuvas e Trovoadas”, foi adaptado para o cinema em um curta da


Lindanor Celina paraense Flávia Alfinito. Neste conto de Maria Lúcia Medeiros, quatro meninas têm aulas de costura nas tardes entediantes que se arrastam nos trópicos da belle époque na Amazônia. Além de escrever poemas e livros, colaborava com jornais, revistas literárias e no Poema Benquerença podemos ver a relação de amor, poesia e filosofia por Bragança. Para o professor Dário Benedito, sobre Bragança, Maria Lúcia deixa uma pista em seu depoimento no documentário intitulado A Escritura Veloz, de Mariano Klautau Filho (produção independente, em VHS, de 1994): “Eu nasci em Bragança, uma cidade simples do interior, com um trem de ferro e um rio na frente. Tive, portanto, uma infância bem brasileira: quintal, primos, frutas, tios, igreja, cinema Olympia. Em Belém já cheguei quase adolescente e meus fantasmas viviam sob as mangueiras, nas ruas largas, na arquitetura imponente de uma cidade de 250 mil habitantes que era Belém dos anos 50. Quando descobri os livros, descobri um outro jeito de viver. Personagens, situações, lugares ajudavam meu aprendizado do mundo. Ler para mim sempre foi uma salvação. Agora, escrever, acho que sempre escrevi. Lembro que muito menina eu me recolhia e escrevia, escrevia para mim”. A escritora, a pesquisadora, a professora e a bragantina com sua seriedade foi uma escritora de excelente produção literária, além da função de professora e poeta. Reconhecida como uma das maiores contistas paraenses. Tornou-se um dos mais importantes ícones literários do Pará, explica Dário Benedito.

Outra alma bragantina que ficamos surpreso pela quantidade de obras vem da escritora Lindanor Celina que nasceu em Castanhal mas tinha o amor incondicional à Bragança. Pela ordem: Menina Que Vem de Itaiara; Estradas do Tempo-Foi; Breve Sempre; Pranto Por Dalcídio Jurandir; Afonso Contínuo; Santo de Altar; A Viajante e Seus Espantos; Diário da Ilha; Eram Seis Assinalados; e os publicados após sua morte, Crônicas Intemporais e Para Além dos Anjos. Foi em Bragança, o doce lar de São Benedito, do rio Caeté de águas turvas e reluzentes, da Marujada festiva e das palmeiras imperiais, servida por um trem que ligava Belém, que Lindanor Celina encontrou cenário e inspiração para escrever Menina que Vem de Itaira, marco inicial de uma fecunda trajetória literária. “Digo sempre que o bragantino que vive em outras plagas e que de repente sinta no peito a imensa saudade de rever a pátria caeteura, não é preciso deslocar-se até lá — embora, inigualável o prazer de fazê-lo. Basta somente ler o romance, que ali encontrara, com riqueza impressionante de detalhes, a Bragança de antanho, a bela cidade histórica, com mais de 400 anos, de grande e reconhecida tradição cultural” declara o leitor e escritor Nélio Gonçalves — que conhece e viveu em Bragança —, e fica pasmo de ver esmiuçados ante seus olhos, com tamanha e inigualável precisão, fatos, costumes e tradições locais de uma época áurea da cidade — da infância e adolescência da escritora —, o que revela sua prodigiosa memória. Nas suas obras reflui uma força esplendorosa, algo metafisico, misterioso, o domínio, a sutileza transcendental no discorrer, que eu pondero, seja oriundo daquela pequena palavra a que o homem, se quiser equilibrar-se, mais ou menos, na plataforma do positivismo terreno, tem que cimentar os pés: a fé. Deus, Jesus, Nossa Senhora (as varias) são evocações divinas comuns no seu escrevinhar torrencial. E isso, com certeza, palmilhou toda a existência, fruto, na certeza, da sua formação religiosa. Quem viveu em Bragança conhece bem da força espiritual reinante naquele pedaço de mundo, resultado da forte presença da igreja católica, levando-se a aspirar salutar religiosidade por todos os poros. O misticismo que emerge das obras da escritora é fruto da religiosidade haurida em Bragança nos primórdios da sua infância e adolescência. Em 2002 morreu na França, onde seu corpo foi cremado e suas cinzas, por desejo seu, esparzidas sobre as águas da baía do Guajará, em Belém, demonstrando todo o amor que nutria pela terra paraense, uma constante nas suas obras. A literatura de Bragança é muito vasta e tem muitas vertentes, não caberia nesta matéria toda a sua complexidade. O que demosntra o acervo do bibliófilo, professor e escritor João Jorge Reis que ocupa a Academia de Letras de

Lindanor Celina

Ubiratan Rosário Bragança tendo como patrono, o escritor José Ubiratan da Silva Rosário que ocupou a Cadeira nº28 da Academia Paraense de Letras, lugar ocupado anteriormente por seu antigo patrão no jornal “Folha do Norte”, acadêmico Paulo de Albuquerque Maranhão, depois por Paulo Maranhão Filho e o professor e conferencista Pedro José Martin de Mello. Vice-presidente da Comissão Paraense de Folclore, o escritor foi também membro da Associação Paraense de Escritores. Graduado e pós-graduado pela Universidade Federal do Pará em História e em pesquisa sobre áreas amazônicas (Núcleo de Altos Estudos Amazônicos), Ubiratan Rosário lecionou a disciplina Cultura Brasileira que entregou ao público brasileiro o ensaio Cultura Brasileira: estudos e roteiros de aula, lançado a nível nacional, em Curitiba, pela Scientia et Labor, livraria da Universidade Federal do Paraná, com edição da Gráfica e Editora Universitária da UFPA. Ganhou o prêmio “José Veríssimo” da Academia Brasileira de Letras pelo ensaio Amazônia, Processo Civilizatório, Apogeu do Grao-Pará que obteve a unanimidade, mediante o parecer do saudoso Alceu Amoroso Lima, oTristão de Athayde.Também ganhou o prêmio em teatro, com a peça “O Lord e a esquadra fantasma na Amazônia”, da APL. Ubiratan Rosário é bragantino ao chegar a “Pérola do Caeté” aos seis meses de idade, vindo de Viseu. Viveu também em Castanhal, no tempo do trem, e em Santarém, bem defronte do rio Tapajós. Foi repórter da “Folha do norte”, e na UFPA, lecionou várias disciplinas: Antropologia Cultural, História do Pará (Amazônia), Cultura Brasileira, História Medieval e Antiga. O que serviu de subsidio para escrever um dos clássicos da literatura bragantina que foi o livro SAGA DO CAETÉ - Folclore, História, www.revistapzz.com.br 23


PZZ BRAGANÇA / LITERATURA

João Jorge Reis

Leôncio Siqueira

Jornlismo na Cultura Amazônica da Marujada, Zona Bragantina, Pará. Enre a literatura e o teatro Aviz de Castro é teatrólogo, historiador e poeta. Desde 1974 quando começou a fazer teatro para um grupo do MOBRAL de Bragança, a pedido de uma professora, montou o texto, fez uma mesclagem de textos biblicos e versos para um espetáculo da Semana Santa. Recentemente montou a peça “Morte e Vida Severina” de João cabral de Melo e Neto que há tempo desejava montar. Tem várias poesias e um livro de poesia com versos sobre Bragança que deseja publicar. Os poemas Conversa de Marujo e Vinte e Seis de Dezembro foram publicados numa Antologia Poética idealizada por João de Jesus Paes Loureiro que publicou uma Antologia sobre a Marujada. Em seu rico acervo documental podemos realizar a pesquisa que serviu de base para estre breviário literário onde consultamos revistas e fotografias. Outro acervo significativo e fundamental para a realização deste trabalho citamos o escritor, pesquisador, bibliófilo e escritor João Jorge Pereira dos Reis que nasceu na cidade de Bragança (PA) em 16 de maio de 1971. Graduado em Letras (Língua Portuguesa) com pósgraduação em Estudos Literários pela Universidade Federal do Pará (UFPA) é Membro da Associação de Leitura do Brasil e Sócio-fundador da Academia de Letras do Brasil/Seccional de Bragança (PA), ocupando a Cadeira Nº 06 (Patrono: José Ubiratan da Silva Rosário). Professor de Língua Portuguesa no Ensino Médio da Secretaria de Educação do Pará (SEDUC) é Sócio-colaborador da Academia Bragantina de Artes e Cultura Popular (ABACP). Ex-docente da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Fundação Universidade do Tocantins (UNITINS) e da rede municipal de ensino de Belém. Autor de artigos, matérias e colunas nos jornais Folha de Bragança, O Imparcial, Panorama Popular (Capanema), O Bragantino: jornal do povo, O 24 www.revistapzz.com.br

Aviz de Castro

Semanário eTribuna do Caeté. Um dos organizadores de “Bragança: aspectos gerais” (SENAI|Bragança, 1991), autor de “Bragantinidade & Caeteuara” (2015) e “Poesia da Primeira Geração da Revista Bragantina” (2013). Destaca-se em sua produção literária uma tese sobre Acrisio Motta que foi poeta, contista, cronista, jornalista e funcionário postal. Nasceu em Bragança (PA) a 25 de junho de 1886. Foi membro-fundador da Mina Literária. Escreveu para Gazeta Postal e Folha do Norte. Publicou o livro de poemas “Coisas Profanas” (1894) É patrono da Cadeira Nº 03 da Academia Paraense de Letras (APL).Morreu em 17 de agosto de 1907 na capital paraense. Como homenagem póstuma, Folha do Norte lançou a obra “Fadas & Lobisomens” (literatura infantil) em 1908. Administra o blog pessoal “Bibliófilo Bragantino” (https://bibliofilobragantino.blogspot.com.br/). Afora, evidentemente, os mais novos escritores, Reinaldo Gonçalves, Quintino Leão, Fernando Vieira, Leôncio Siqueira, todos com obras publicadas, além de outros. Academia de Letras e Artes de Bragança (ALAB) A ideia de fundar a Academia de Letras e Artes de Bragança consagrando os Patronos das Cadeiras, ilustreis e notáveis nomes da literatura bragantina: De Castro e Souza (poeta, músico e autor do hino de Bragança), Coutinho de Campos, Lindanor Celina, Maria Lúcia Medeiros, Cesar Pereira, Henrique Lelis, Rodrigues Pinagé, Heymar Tavares, Armando Bordallo. Ao ser criada a Academia Bragantina de Artes e Cultura Popular, impôs-se a obrigação de fazer um levantamento das obras de escritores bragantinos. A realização deste breviário da literatura bragantina se iniciou numa visita, acompanhado por Leôncio Siqueira, à casa do escritor Nélio Fernandes que também reúne em sua biblioteca obras de autores bragantinos, descendentes de bragantinos ou de autores que falam sobre Bragança. Depois do seu retorno

Nélio Gonçalves às suas origens bragantinas, Nélio após mais de duas décadas afastado, e agora por motivos prazerosos vem lustrando esse feliz volver. Já como autor de algumas obras, o contato e ingresso na Academia de Letras e Artes de Bragança permitiu, sobremaneira, e de forma mais enfática, esse mergulho no rico e empolgante universo literário de Bragança. Nélio Fernando Gonçalves, nasceu na Vila de Umarajó em Bragança. Formado em Direito pela Universidade Federal do Pará, exerceu a advocacia e depois ingressou no serviço público, vindo a exercer a magistratura noTribunal da Oitava Região. Publicou em 1999, SilêncioTransparente, que ganhou o prêmio literário de menção honrosa Malba Tahan e em 2004, A Vitória-Régia Mágica. Publica depois o romance, Pássaro do Crepúsculo, retrato de uma sociedade injusta e transgressora de princípios éticos básicos. Do que a torpeza é capaz de causar às pessoas mais necessitadas, como o velho - um nicho do saber -, vilipendiado, um passadio de miséria e privações. Da destruição da flora e dizimação da fauna, com assassínio de animais indefesos para satisfazer a gula insaciável por comida e pelo ignóbil lucro. Mas é, também, um relato de amor, o que a amizade verdadeira é capaz de construir, o reverdecer do altruísmo, da compaixão e da ternura. Sua bagagem literária, vem de quando ainda era infante, labutando nas oficinas do famoso Jornal do Caeté, sob a batuta do saudoso mestre Alcides Lucio Ribeiro, onde pôde absorver, e se deleitar, na faina diária, com o componedor as mãos - utensílio no qual o tipógrafo ia alinhando os caracteres tipográficos (letras), para formar as palavras a escritos de alguns renomados escritores da época, dentre eles, Jorge Daniel de Souza Ramos e Gerson Alves Guimarães. Recentemente, a literatura bragantina perde uma de suas pérolas, a Professora Cirene Maria Guedes da Silva, Cirene Guedes, Membro Efetivo da Academia de Letras e Artes de Bragança, ocupante da Cadeira nº 6, que tem como Patrono D. Eliseu Maria Corolli. Prazer imensurável e, profusso, a qualidade e a quantidade de seus poemas, todos escritos à mão, que permaneciam adormecidos em seus cadernos pautados, afora


Alfredo Garcia

Girotto Brito

os que vagavam em folhas avulsas. Num caderno pautado de capa dura, cor azul, ela ia escrevendo seus poemas e numerando suas páginas (174), um poema em cada página. A estes juntaram-se um monte de folhas avulsas, certamente destacadas de outros cadernos aramados e, mais outro caderno, de capa rosa, mais organizado, com 60 folhas. Computou-se, ao todo, cerca ou mais de quatrocentos poemas. Um fato inusitado, contudo, chamou atenção de Nélio Gonçalves, organizador do livro “Versos Molhados de Cirene Guedes”: todos estavam fortemente manchados de água, especialmente o primeiro, de capa azul, denotando-se que em algumas páginas havia muita dificuldade de ler certas passagens dos poemas. Indagando-lhe, então veio a explicação: seus escritos eram sobreviventes de uma enchente do Rio Caeté com o encontro das aguas do igarapé do Riozinho, bairro onde residia, durante um rigoroso inverno, que invadiu cômodos de sua casa. Disse que salvou o que foi possível salvar, ou o que estava ainda legível (no caso, as folhas avulsas destacadas) fácil chegando-se a conclusão de que vários outros escritos certamente foram perdidos. Infelizmente. Depois da enchente, com receio de perdê-los durante outras possíveis, despachou o caderno azul para guarda na casa do Professor Ribamar Oliveira, e o outro, para casa de parentes. Ao reunir e ler, cuidadosamente, todo o seu conteúdo - depois de forma hábil e diligentemente digitado pelo Andrei Gonçalves - Nélio Gonçalves levou um enorme susto prazeroso: “em minhas mãos estavam o produto da maior poeta bragantina de todos os tempos – perdoe-me se cometo injustiça por esta afirmação. Chego a esta conclusão por absoluto conhecimento de causa: há muito procuro acompanhar e colecionar tudo o que se vem produzindo de literatura em Bragança e, nos Encontros Culturais promovidos pela Academia de Letras e Artes procuro sempre, expor todas estas obras para conhecimento do público participante. É imprescindível dizer da surpresa deste público em ver o quanto de

Leila Nascimento

literatura já se produziu em Bragança!” Dentre os escritores e poetas mais notáveis de Bragança citamos Alfredo Garcia-Bragança nascido em Bragança em 1961, desde 1986 o escritor vem construindo sua história na literatura brasileira com livros de contos, poesia e crônicas, além de diversos títulos em literatura infanto-juvenil. Já publicou 33 livros, até dezembro de 2014, sendo dois deles em parceria: “Cidade das Águas” (2004, Paka-Tatu, esgotado) e “Epifanias” (2009, Paka-Tatu), o primeiro com o poeta Ronaldo Franco e o segundo com o contista H.G. Neto, filho de AG-B. É bacharel em Comunicação Social, especialista em Teoria Literária e Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Pará. Desde 1993 mora no município de Ananindeua com sua mulher Gleice, os filhos Alfredo Neto, Frederick Charles e Glenda, além dos cães Barney e Agatha. Leila Nascimento, escritora jovem, de uma sensibilidade a flor da pele e que dia após dia vem amadurecendo e aprimorando o seu pensamento e a sua escrita. Desde o seu primeiro livro, “Nectar da Verdade” publicado em 1998, já era perceptível o talento de Leila. Maria de Nazaré Lima de Freitas diz que: “Naquela época, ainda mais tímida do que é hoje, dava para sentir que “muito” ainda estava mergulhada no medo de extravasar e que Ihe ia no pensamento: palavras loucas para “boiar”, buscar ar e surgir nas páginas. Hoje, mais madura, mas ainda insegura, é uma maravilhosa promessa a Literatura de Bragança, do Pará e sim, por que não? Do Brasil. Sua caminhada está no início e ainda teremos muitas e boas notícias sobre ela. Henrique Lelis nasceu em Bragança em 15/07/41 formou-se na escola católica Elizeu Carolli, era querido em seu meio social, dinâmico burocrata exerceu funções na prefeitura como secretário, concursado do BASA. Ele deixou obras primas da crônica jornalística cujo acervo consta em parte no Tribunal do Caeté, além de algumas obras escritas, como “Chuva dos Santos - A Crônica Bragantina” no qual ele discorreu sobre aspectos da cultura e folclore bragantino inspirando-se na Marujada de São

José Ribamar

Benedito, como bibliografia outros vultos literários, como Augusto Corrêa, Zito César e Armando Bordallo. Citamos o Escritor, professor, designer e editor. Girotto Brito, autor dos livros “Ambrosia: sementes líricas de Girotto Brito”, “Os três lados da moeda: vida e morte em poesia” e “Contos para uma noite de insônia”, “Um olhar além do espelho” e coautor em diversas antologias de contos e poemas. Reside na cidade de Bragança, Pará, onde fundou em 2016 a Pará.grafo Editora, casa editorial voltada para o resgate de obras amazônicas de grande relevância literária, mas esquecidas pelo mercado editorial. Ocupa a cadeira de n° 36 na Academia de Letras do Brasil - Seccional Bragança. Importante destacar a atuação de José Ribamar Gomes de Oliveira, escritor e pesquisador bragantino. Devido a formação moral e religiosa que recebia dos avós maternos, de 1967 a 1969, estudou no Seminário Santo Alexandre Sauli, dos padres barnabitas. A experiência foi proveitosa, pois, ajustou-lhe na formação intelectual e religiosa, com apoio dos padres Vitaliano Vari, Vitório Granshini, Miguel Giambelli e Dom Eliseu Maria Coroli, que o incentivou em 1972, a entrar no campo jornalístico, através da Rádio Educadora, onde foi redator do “Jornal Falado Educadora”, ao lado do intelectual Prof. Gerson Alves Guimarães. Em razão de sua eficiência na Rádio, recebeu convite do Vigário Geral da Prelazia do Guamá para trabalhar no Movimento de Educação de Base –MEB e do Sistema Educativo Radiofônico de Bragança – SERB. Durante treze anos visitou as comunidades da então Prelazia do Guamá, nos municípios de Bragança, Augusto Corrêa, Viseu, Tracuateua, Ourém, Capitão Poço, São Miguel do Guamá, Irituia e outros. Através da Rádio Educadora, em convênio com MEB/SERB, ministrou cursos profissionalizantes, voltado ao produtor rural. Durante vinte anos foi funcionário da EMATER-PARÁ, escritório local de Bragança e Unidade Didática de Bragança-UDB. Em 2001, lançou o livro “Humano no Divino”. Nessa data, junto com os bragantinos www.revistapzz.com.br 25


PZZ BRAGANÇA / LITERATURA

Foto oficial da instalação da Academia de Letras do Brasil - ABL Seção Bragança em 01/10/2013 Ubiratan Rosário, Henrique Lélis do Rosário e Nélio Fernando Gonçalves, foi idealizada a criação da Academia de Letras e Artes de Bragança-ALAB. Em 4 de julho de 2003, o autor foi empossado como o primeiro acadêmico da ALAB, na cadeira nº 10, que tem como patrono o escritor bragantino, Eimar Cesar Tavares. No dia 5 de julho de 2003, em Capitão Poço, durante a cerimônia do 60º aniversário de Ordenação Sacerdotal do bispo Emérito Dom Miguel Maria Giambelli, na presença de Dom Vicente Zico, arcebispo emérito de Belém, e Dom Luis Ferrando, bispo da Diocese de Bragança, fez circular o segundo livro “O Missionário Barnabita”. Esta obra foi traduzida para o idioma italiano, sob o título “Un Vescovo Bresciano in Amazzonia”, cujo lançamento ocorreu na cidade de Flero – Itália, em 21 de outubro de 2006, constituindo um fato inédito na literatura paraense. Em 2006, para fechar a trilogia de resgate religioso, lançou “Divina Humana Igreja”, um livro histórico-religioso que resgata a chegada dos Padres Jesuítas em Bragança, em 1672. Em 2012 foi convidado a ir em BH, mas precisamente em Ribeirão das Neves, receber Título Honorífico de literatura devido a seu livro “De Vila Cuera a Bragança”. Naquele momento estava presente na cerimônia o Presidente Nacional da ALB, Dr. Mário Carabajal Lopes e o Presidente da ALB- Belo Horizonte, Dr. Mauro Morais que estimularam a organizar uma ALB no Norte do Brasil. “Perguntaram se topava esse desafio. Disse que sim. Aonde seria a primeira academia? Muito orgulhoso, disse: em Bragança, terra de cultura e que seria em 2013 pelo transcurso dos 400 anos da chegada dos primeiros europeus no Caeté. E vim de 26 www.revistapzz.com.br

lá com a nomeação de Presidente Pro-Tempore” comenta. No segundo semestre de 2012 começou a arrebanhar os intelectuais da Pérola do Caeté indo vis-a-vis com cada um – falava da sua experiência e gostaria de evidenciá-los. “Com a boa vontade, comecei a expandir as ABs pelo Estado do Pará. No dia 30 de agosto de 2014, com a presença do Presidente Nacional e do Pro-Tempore Prof. José Carlos Oliveira criamos a ALB de Tomé Açu com 30 sócios, amaioria escritores; em novembro de 2015, no Teatro Waldemar Henrique, com minha presença e dio Presidente Nacional demos posse aos acadêmicos de Belém do Pará, entres professores, mestres , filósofos e doutores de renome estadual. No mês de março de 2017 fora fundada a Academia Sul/Sudeste do Pará , com sede em Marabá, arrebanhando mais 30 acadêmicos e, ainda, para este anos teremos as ALBs de Tracuateua e Augusto Corrêa. É um arrebanhar cultural que partiu de sua visão cultural em prol do Estado do Pará. Para coordenar este movimento que me debruço noite e dia, o Conselho Nacional de Academias, através de seu Presidente NACIONAL Dr. Mário Lopes Carabajal, nomeou-me como Presidente Regional do Estado do Pará” explica Ribamar. Sentindo o abandono dos escritores e poetas do Caeté, pensou e repensou e entrou no desafio: criar a Escola dos Poetas e Escritores de Bragança. “Muitos bragantinos taxaram-me de “louco intelectual” que buscava o impossível. Fazer o bem não é ser “louco” é ter uma perspectiva de futuro à juventude. Então convoquei Professora Lena Amorim para nortear o projeto.

Está aí a Escola funcionando com trinta (30) jovens, preparando poetas e escritores para o amanhã. Foram nomeados por decreto da ALB os gestores, a grade curricular, etc. tendo como local de funcionamento o Salão Nobre do 33º Batalhão da Polícia Militar. Está experiência, segundo informações da ALB- Nacional é a única com esta visão em nível nacional. E para resguardar esta organização fundei A Academia Juvenil de Letras do Brasil, a 7ª no território nacional, com abrangência da ALB” declara entuasiamado o escritor José Rimar. ESCRITORES DA ALB Prof. José Ribamar Gomes de OliveiraProf. João Jorge Pereira Reis Dr. Fernando Augusto Prudente Vieira Sr. José Maria Azevedo Costa Prof. José Ribamar Correia Ribeiro Profª Mariana Bordallo Prof. José Carlos Oliveira Dr. Eduardo Turiel do Nascimento Prof. Francisco de Assis Weyl Albuquerque Costa Prof. Huarley Mateus do Vale Monteiro Dr. Paulo Sérgio Weyl Albuquerque

Colaborou nesta matéria, o escritor, pesquisador, bibliófilo João Jorge Pereira dos Reis que administra o blog pessoal “Bibliófilo Bragantino” (https://bibliofilobragantino.blogspot.com.br/).


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Alguns dos livros do acervo do bibliรณfilo Joรฃo Jorge Reis sobre Brangaรงa e de Bragantinos.


PZZ BRAGANÇA / LITERATURA

BRAGANÇA, BOM DIA RODRIGUES PINAGÉ Estás em festas, Bragança ! Venho de longe rever A cidade que não cansa de progredir e crescer; Mas, fere-me esse urbanismo, emudece o meu lirismo que outrora te decantou. Vejo apenas a cidade que aumenta a minha saudade da cidade que passou ! O Progresso encheu de ruas o teu solo que se expande, sepultando as margens ruas do tranquilo Rio Grande; Não há mais lírios nos campos, nem tochas de pirilampos pintalgando a escuridão; Hoje, a lâmpada ilumina a figura pequenina do soturno lampeão. Tudo é novo onde resides, custa, porém, olvidar a quitanda do Aristides, onde eu ia merendar; Naquele tempo, o Comércio dava chuteira ao Propércio e camisa ao Pinagé; Um — defendia o “Bragança”; O outro — cheio de esperança, defendia o “Caeté”. Descubro ao longe um Cruzeiro, dia e noite solitário, como ficára o madeiro sem o Jesus, no Calvario; Entre mangueiras se alteia lembrando a Igreja da Aldeia, onde, ainda jovem, rezei, pedindo, quando eu voltasse, minha igrejinha encontrasse, coitada. . . não encontrei! Nas noites deslumbradoras, Luzia, não canta mais as valsas inspiradoras dos meus ricos madrigais, Nao ha tertulias na ponte, nem há livro que nos conte tudo o que ali se passou! So eu sei dessa beleza! Se outro souber. . . com certeza foi a lua que contou!

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Recordo a festa animada, lá no sítio do “Ferreira” Comia-se panelada, dancava-se, a noite inteira; Mundico Matos, roncava, na rede branca e sonhava com as glórias de São Jose, e despertando, com sede, corria, a lavar a rede nas águas do igarapé! Vejo Vicente Monteiro, ninando o Chumucuí, — o saudoso pioneiro dos violinos daqui; Pelos rios e regatos, escuto Mundico Matos, alegrando o Jiquiri; Uricica — o gênio mago — Cunha Junior e Tiago, no Prata e no Bacuri. Macuica! Surge agora, no teu fogoso corcel; Vamos! Vamos, Tia Aurora, ao cinema do Israel; Vem, Zito Cesar Pereira, traze a tua baladeira, hoje, esta- bem, não chuveu; Vamos caçar passarinho! Onde está meu Riozinho, em que rua se escondeu? Nao sei do Grêmio “Horas Vagas” que o bragantino fundou, — Silogeu que, nestas plagas, um rastro de luz deixou; E o jornalizinho A CIDADE, publicando, por bondade, os versos dos menestréis, e onde Augusto Correia, assinava, às onze e meia, meu vale de dois mil reis! Bragança! Es sempre Bragança, no Presente ou no Passado, És Futuro e és Esperança de um povo civilizado; Pelos espaços se evole a benção de D. Corolli, — fluído das mãos de Jesus — e venha, lá das alturas, redimir as criaturas da terra de Santa Cruz! Quando da vida sumir-me,

para nunca mais voltar; Quando Deus quiser punir-me e Braganca me chorar, quero que as suas palmeiras sejam minhas carpideiras, murmurantes e gentis; Façam por toda a cidade um canteiro de saudade com os poemas que Ihe fiz! BENQUERENÇA MARIA LÚCIA MEDEIROS Velhas casas com varandas Vou abrir vossas janelas debruçadas sobre o rio... Escutar vossas histórias Penetrar vossos segredos Resguardar vossa memória De um trem rasgando a terra e dos trilhos arrancados de vossa trilha perdida De fumo, arroz e feijão vossa produção perdida. Onde o jornal de Belém no fim da tarde chegando nesse tempo e nesse trem? Virou pó de fantasia? Virou gemido sem grito? Parou na curva o apito? Velhas casas com varandas Vou abrir vossas janelas debruçadas sobre o rio... O rio é minha cidade refletida sobre a tarde Cinema Olímpia da praça Matinées de seriados o mundo visto em pedaços o mundo visto por mim Igrejas, as ruas tortas, meninos brincando à porta, cirandas, manga e jasmim. 0 rio é minha cidade refletida sobre a tarde. O rio é minha cidade O pai, a mãe, a família, raízes, galhos trançados no tempo que nem sabia. O rio é esse batuque da Marujada chegando espelhos, fitas, gingados Marujos soltos na terra Marujos, sonho e chorado. O rio conta a vossa história longa história desse povo tristeza feito alegria marcada na cantoria. Os corpos, louco bailado As vozes, pranto velado Os pés marcando o compasso dessa negra alegoria. O rio é minha cidade refletida sobre a tarde.


O rio é Pedro Pretinho, Cereja, Serra e Lagoa Vem lá das bandas da Aldeia, Vem lá de trás do Riozinho Velhas casas com varandas Me lembram a casa das tias fiapo de manga nos dentes e cadeiras de balanço... O rio é minha cidade O rio é vossa memória. O rio é essa janela o terço, o doce, o confeito, (o primo, a tarde e a terra) O rio é minha janela aberta neste poema.

A REVOLTA DO MAR LÉLIA NASCIMENTO A cidade dormia Envolvida pelo manto da noite E a lua, desnuda e prateada Tentava seduzir o mar. Mas este, doente e enfraquecido Não conseguia refletir em suas águas A beleza do luar. A lua, chorosa e cabisbaixa. Angustiada tentou se apagar Pois sem o espelho do mar Reluzir não teria graça E ninguém jamais Voltaria a ver o luar. O mar, doente e abatido Transbordava lágrimas de poluição Imundícies temperadas de ignorância Manchando suas águas, Sem a menor compaixão. E a cidade, que tanto já perdera Esvaziava-se do encanto do mar E de tristeza a lua se apagava E todos ficariam sem o luar. Seria a vingança mais perfeita, Que o povo não poderia suportar Pois não veriam mais o esplendor das ondas. Não veriam mais os véus do luar. E se o mar morrer, Morre também o luar Pois a lua, muito vaidosa Sem espelho, onde há de se mirar? E o Homem, sem o mar, meu Deus... Como há de se acabar

ORAÇÕES DA TARDE ARMANDO BORDALLO DA SILVA Seis horas. O dia esmaece e declinando vae o sol. Tudo entristece.. De quando em quando, entre os leques farfalhantes dos burutys, distingue-se por instantes as jurutys. No céo azul, alvacenta, a lua desabrocha sonolenta e nua. E cadenciosamente, a vaga vem bater-se fortemente na fraga. Que majestoso quadro e belo panorama! As jurutys modelam bem tristes canções, e aos vagalhões, o mar, extático, rebrama ao céo, rugindo cavernosas orações. Bragança, 8-8-1923 NO AMAZONAS FERNANDES BELLO Ruge caudal o rio, - o sem rival do mundo, As vagas atirando às pedras da beirada, A canarana desce, em grupos enlaçada, E o cedro passa lesto e some-se no fundo. Qual em dia invernoso, horrífico, iracundo, Solta rouco trovão, horrenda gargalhada Tal, das águas a flor, de fauce escancarada, O enorme jacaré se mostra furibundo. O esquivo peixe-boi oculta-se medroso... Arremete-lhe o arpão, com próspera destreza, O velho pescador que o espreita cuidadoso, No entanto, o curumim, ali, na correnteza, Feliz e sem temor, na igara jubiloso, Conduz na sararaca a tartaruga presa. CEGO HAMILTON TORRES Olhos sem vida, olhos sem luz, parados dentro das órbitas escuras... Cégo: - Sentes o anseio dos desesperançados porque o mundo é um vacuo, é caos, é pégo! Vão-se-te na alma triste, ignorados desejos ... (Ante os males que carrego, seria o mais feliz dos desgraçados, se o meu instincto de homem fosse cégo! ) Na calma de horizontes apagados, na agonia de crepusculos incertos, sentes maior o teu pensar profundo... Que fiques sempre assim de olhos fechados... - Pobre de mim que vou, de olhos abertos, contemplando as miserias deste mundo!

CANÇÃO AO AMOR PURO A BRAGANÇA JORGE RAMOS (Ao dr. Lobão da Silveira, com apreço e admiração) Eu sou árvore desta terra! Minhas raizes estao profundas neste solo, há mais de trezentos anos que fui plantado aqui e nasci assim liberto, entre o sol e a chuva, sentindo a seiva prodigiosa e eterna da minha santa Bragantinidade. Por isso sou árvore desta terra e os meus bragos são verdes de esperança, que esgalho ao vento e ao beijo da matina. Chamo-me Ramos e ramos sou desta floresta heroica de Bragança, onde descansarei para sempre, um dia. Aqui não há machado que me derrube, porque nesta floresta nao há lenhadores maus. Mas se um dia for preciso o meu lenho, para acender o lume na cabana do caboclo, para construir a casa do meu irmão bragantino ou para levantar pontes puteis ao Povo, ah, podem vir os milhares de machados, que eu serei o alimento da fogueira, as paredes das casas ou o sustentáculo das pontes. Nesta floresta lendária e indestrutível, estiveram as grandes árvores do passado, maiores que eu, mais heróicas e mais santas, que abrigaram ninhos por entre ramos, que deram sombras ao viajor cansado, que deram inspiração aos poetas sonhadores, que sentiram a necessidade de ser árvore para ficar na terra para sempre. Mas um dia também foram abatidas, como eu espero ser, para erguer o futuro e deram de si a própria vida e o cerne, para Bragança, estendida ao sol e a chuva, prosperar, andar e progredir sempre mais. Ser árvore desta terra e o meu maior destino ficar nela sentindo que dela tudo vira: a seiva clorofiliana que me circula nas veias, o Amor, que constrói e dignifica, a União, que eleva e anima e a Paz, que consola e faz sonhar. Eu sou árvore desta terra e nesta terra estarei para sempre, ajudando a erguer nos meus braços verdes de esperança, o orgulho e a dignidade de ser Bragantino!

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PZZ BRAGANÇA / FOTOPOESIA

1. A cidade não é feita de pedra ou calcário, mas sim do meu lembrar sempre tão vário. 2. A cidade não é feita de asfalto ou cimento mas sim do desgarrar do meu sentimento. 3. Esta é a cidade planície da memória onde vão e vêm constantes fantasmas de mim toda hora. 4. A cidade são fragmentos do que eu fui no que eu vou sendo como retratos esquecidos em um álbum amarelecendo. 5. Etérea cidade és um bando de nuvens em aboio livres pairando em mil formas por prados infinitos.

9. Ainda assim, cidade teu nome é alguma coisa que volta e meia me assunta; por vezes te chamo saudade, noutras te alcunho angústia. 10. Então vem um trem de ferro atravessando teus caminhos e longe se ouve o silvo da máquina que vai e vai indo. 11. O trem... eu vi uma vez o bicho resfolegando caminho acima Entre fogo & metal, aquele cavalo medonho Os homens diziam: - Vixe! A mulherada: - Credo! e o tremzão nem aí belo belo belo belo belo serpenteando entre os verdes.

15. 21. (Antes que tudo, Mas muito mais que a memória cidade, escrita no tempo e nas coisas tu pulsas em mim Cidade fragmentada nas entranhas do tempo, o áspero verso do que se vive Nas relembranças, E pairas - estranho pássaro fugidio - está impresso na gente. como um verso dolorido 22. que desssangra Verso que é viço e é fogo o tempo-foi) é faca é foice e fecunda 16. a dorida dor de saber-se Então, revejo memória de tempo algum. O menino em mim Catando palavras 23. No chão ocre Verso catado no barro E juntando sílabas dos idos de manso menino Soprando ao vento que julgava saber do mundo O primeiro poema o que nunca foi aprendido. 17. 24. Então, revejo Verso urdido nos quereres o que fui/fomos e o que fica de sempre sonhados amores é um desenho inútil verso urdido nas entranhas grafite na parede de dias, madrugadas e noites. de uma casa em ruínas.

18. 12. De que é feita Também lembro a tua essência, memória? 6. Que o rio dessa vaga matéria Inauguro-te, cidade Sempre me instigou chamada tempo tantas vezes de mim partida Segredos contares fluídica e dou-te o nome que me acode: e a sonhar com reinos pelos sete que escapa entre os dedos vou te chamar Memória. mares e o que não podemos ver? ou da fortuita dor 7. 13. de lembrar o que é o antes Memória... Também lembro no espelho da face de hoje? por exemplo a lembrança Que contava dos sinos Um a um 19. Com suas vozes e dobrados Os paralelepípedos De todas formas anunciando ladainhas Dos caminhos onde andava eu canto teus desígnios sentinelas as horas da agonia Em um tempo Ó tu cidade das nuvens o Finados. Onde, ainda, pois em mim o que é hoje Não sabia o significado foi moldado 8. Da palavra paralelepípedo. na argamassa do ido Por exemplo, o cântico e em si tem sido das carroças pelas ruas 14 o que sou. e os ecos das cantorias Era um tempo aquele dos meninos anunciando Em dezembro as gostosuras da tapioca, Demorava a chegar da pupunha cozida, E a gente podia tecer do bolo-de-corda. O tempo do dia bem devagar Como se fizesse Um infindável bordado

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25 Verso que, enfim, é pura memória elidida em mim, no tempo, nas coisas, verso de toda uma vida. Versos do Livro “Benquerença” de Alfredo Garcia.


FOTO: FLAVIO CONTENTE

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PZZ BRAGANÇA / LUSOAMAZÔNIA

O projeto heranças portuguesas na amazônia realiza o intercâmbio entre a Amazônia e Portugal para ressaltar e valorizar a cultura luso-amazônica e o processo de desenvolvimento , formulando ações de cunho linguístico, histórico – cultural, educacional, turístico e econômico. Bem como, despertar o interesse pelos laços histórico-culturais que ligam os dois países, promovendo ações e divulgando a potencialidade da região amazônica para o ECOturismo.

O

s laços fraternos entre Brasil e Portugal têm ressonância muito forte no Pará, Estado que congrega uma das mais significativas comunidades portuguesas no nosso país e no mundo. A própria história justifica o fato, se considerarmos os primórdios da colonização paraense, desde a fundação de Belém, pelo português Francisco Caldeira Castelo Branco, em 1616, e a presença marcante em terras amazônicas de Pedro Teixeira, entre outros. A partir dali, a influência Lusitana permanece presente na região, seja nos usos e costumes do povo, , na língua, na arquitetura ou na visível mistura entre as raças negra e indígena. Embora um tanto descaracterizada, podemos dizer que Belém do Pará é quase uma cidade “portuguesa, com certeza”. Sensível a essa forte influência lusitana, a Secretaria de Estado de Turismo do Pará - SETUR, e as Prefeituras Amazônicas consorciadas e as Câmaras Municipais Portuguesas das cidades de Almerim, Alenquer, Santarém, Óbidos, Faro, Prainha, Porto de Móz, Portel, Viseu ,

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possuem um plano de política cultural, que valoriza as origens e marcas culturais. As entidades referidas apoiam enquanto participes, o projeto da Professora e antropóloga, autora e coordenadora geral, Maria Nazaré Santos Paes de Carvalho, atividades que visam ressaltar as marcas Portuguesas na Amazônia, manten-

O projeto da Professora e antropóloga, autora e coordenadora geral, Maria Nazaré Santos Paes de Carvalho, propõe atividades que visam ressaltar as marcas Portuguesas na Amazônia, mantendo assim, sempre estreitos os vínculos entre os dois Países irmãos, através de ações, evidenciando as questões do ecoturismo na Amazônia. do assim, sempre estreitos os vínculos entre os dois Países irmãos, através de ações, evidenciando as questões do ecoturismo na Amazônia, facilitando a visita

tanto à região amazônica como a Portugal, aprofundando o conhecimento e compreendendo a história de Portugal e a sua relação com o exterior desde o achamento no século XVI até os nossos dias. O principal objetivo do projeto é realizar o intercâmbio entre a Amazônia e Portugal para ressaltar e valorizar a cultura luso-amazônica e o processo de desenvolvimento desta região, formulando ações de cunho linguístico, histórico – cultural, educacional, turístico e econômico. Bem como, despertar o interesse pelos laços histórico-culturais que ligam os dois países, em terra amazônica e em território português, promovendo ações e divulgando a potencialidade da região amazônica. Neste sentido, descobrir “Heranças Portuguesas na Amazônia” 500 anos depois, resgatá-las e conservá-las enquanto patrimônio histórico para facultar contatos e experiências entre as cidades amazônicas e portuguesas homônimas ou não, fortalecendo os mecanismos de aproximação entre escolas, bibliotecas, setores empresariais, instituições, fundações para a permanência do projeto em vigor.


ALGUMAS AÇÕES DO PROJETO: 1 – Ciclo de Conferências na Embaixada do Brasil em Lisboa – 1998 . Continuidade durante 3 anos seguidos

Nazaré Paes de Carvallho

Com o projeto Heranças Portuguesas na Amazônia, pretendese sensibilizar toda a comunidade luso-amazônica para a necessidade urgente de trocar e preservar a cultura, a língua, o turismo e as atividades socioeconômicas dos dois países irmãos. PROJETO HERANÇAS PORTUGUESAS NA AMAZÔNIA Programação a ser cumprida no mês de Maio de 2017 22/05 - Recepção na Embaixada na Delegação do Pará e homenagem Dr. Antonio Bacellar Carrelhas. 23/05 - Lançamento do Livro “ Pedro Teixeira” 24/05 - Partida para Bragança ( transporte ofertado pelo I.P.B) 25 e 26/05 - Programação do Instituto Politécnico I.P.B – com visita a Universidade de Salamanca. 31 a 3 de Junho- Encontro Literário da Lusofonia em Bragança. 04 de junho - Final da Programação .

2- Conferência na Casa do Brasil em Santarém de Portugal quando da abertura da mesma ao lado da Igreja do túmulo de Pedro Alvares Cabral 1998/1999. 3- Visita de intercâmbio Parlamentares presentes: prefeito de Óbidos, Porto de Móz, Portel do Pará – 2002. 4 – Intercâmbio Técnico entre intelectuais da Amazônia em visita as cidades homônimas em Portugal – Presente Heliana Brito Franco, Anaíza Vergolino, Walci Monteiro, Helena Fragoso, Nazaré Santos Correa, Nazaré Paes de Carvalho – 2004. 5 – Viagem do Reencontro – Festejos dos 500 anos do Descobrimento do Brasil – 12 dias em navio visitando as cidades homônimas do médio amazonas paraense – 2000 6 – Visita do presidente Marcio Soares via Fundação Marcio Soares – 2 dias em Belém visitando Assembléia Legislativa, UFPa/ UNAma – Tema: União Européia 2004. 7- Abertura da Casa de Estudos Luso- Amazônicos – UFPa – 2004. 8- Intercâmbio Docente entre as universidades - Coimbra/ Porto/Nova de Lisboa/Insófona / Bragança de Portugal – 2008 . 9- Intercâmbio Discente Bragança do Pará com Bragança de Portugal – 2010 . 10 – Encontro da Lusofonia – 2 dias em Bragança / 2 dias em Belém – 2014 . 11- Visita às Universidades Portuguesas pelo então Reitor Professor. Dr. Alex Fiuza de Melo – Convite das Universidades Portuguesas – 2007 . 12- Visita do Prof. Dr. Tourinho, atual reitor da Ufpa à Lisboa e Bragança de Portugal para a assinatura do acordo de Cooperação Acadêmica – 2017 .

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PZZ BRAGANÇA / ENTREVISTA

AMAZÔNIA PORTAL DE INTEGRAÇÃO REGIONAL JOSÉ CONRADO SANTOS CONCEDE ENTREVISTA ESPECIAL PARA A REVISTA PZZ PARA FALAR DO ATUAL CONTEXTO DE CRISE ECONÔMICA E POLÍTICA QUE O PAÍS ENFRENTA E das perspectivas de desenvolvimento do estado do pará em um novo cenário de investimentos e ações integradas NA REGIÃO ATRAVÉS DO PROGRAMA PRÓ-AMAZÔNIA PZZ – Vivemos um novo momento de turbulência política, que afeta o desenvolvimento do Pará, assim como de todo o Brasil. E isso ocorreu justamente no período em que retomávamos a nossa economia, a nossa produção industrial e nossos postos de trabalho. Como esses acontecimentos afetam a credibilidade do Brasil e qual o posicionamento que o SISTEMA FIEPA neste cenário? Dr. José Conrado – Os acontecimentos afetam a credibilidade do Brasil, sendo portanto prejudiciais a todos nós. Por isso, não devemos retroceder. Pelo contrário, temos que continuar lutando para não perder o que conquistamos e para seguir em frente com as medidas necessárias para que o Brasil continue no rumo certo, sem esquecer que toda e qualquer direção que a nação tiver que tomar deve respeitar a Constituição. A indústria confia que as instituições e a sociedade encontrarão as soluções para superar essas novas adversidades. O país precisa enfrentar a atual crise política com serenidade e espírito público. 34 www.revistapzz.com.br

Mais do que nunca, devemos manter a confiança e o otimismo para construir, juntos, o país que sonhamos para nossos filhos. O Brasil já venceu outras crises sérias. Vamos superar mais esse momento desafiador. Temos de continuar avançando. A proposta de modernização das leis do trabalho,

Os acontecimentos afetam a credibilidade do Brasil, sendo portanto prejudiciais a todos nós. Por isso, não devemos retroceder. Pelo contrário, temos que continuar lutando para não perder o que conquistamos e para seguir em frente com as medidas necessárias para que o Brasil continue no rumo certo em discussão no Congresso Nacional, valoriza o papel dos sindicatos e fortalece o diálogo entre empresas e empregados. O pro-

jeto construído no Legislativo é um avanço porque representa o consenso possível e a busca por equilíbrio nas relações trabalhistas. A proposta não reduz ou elimina qualquer direito do trabalhador consagrado na Constituição como o 13º salário, férias, hora-extra, INSS, FGTS, entre outros. Pelo contrário, a valorização da negociação coletiva permite que empresas e empregados encontrem ajustes específicos à realidade em que vivem. Hoje, mesmo que empregados e empresas concordem sobre algo, o acordo não é possível. PZZ – E como será papel da Federação das Indústrias neste contexto? Dr. José Conrado – A Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) atua de forma decisiva em prol do desenvolvimento do setor produtivo paraense. Composta por três instituições – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Serviço Social da Indústria (Sesi), Instituto Euvaldo Lodi (IEL), e ainda pelo Centro Internacional de Negócios (CIN) e pela Rede de Desenvolvimento de Fornecedores (Redes), o Sistema Fiepa busca fornecer serviços


Para José Conrado Santos Presidente do Sistema FIEPA e Coordenador do Ação PróAmazônia, os acontecimentos afetam a credibilidade do Brasil, sendo portanto prejudiciais a todos nós. "Por isso, não devemos retroceder. Pelo contrário, temos que continuar lutando para não perder o que conquistamos e para seguir em frente com as medidas necessárias para que o Brasil continue no rumo certo". declara

José Conrado Santos de formação profissional, implantação de indústrias e bem estar do trabalhador industrial. A Fiepa passou a influenciar cada vez mais os destinos do Estado ao reivindicar infraestrutura, defender grandes projetos e estimular a verticalização da produção. Essa é uma luta que transcende os interesses industriais e beneficia toda a população paraense. Hoje, a Federação é a porta-voz dos interesses do setor industrial perante a sociedade e ao poder público, participando ativamente das principais ações que determinam os rumos da economia paraense. São filiados à Federação 40 sindicatos, que reúnem representantes dos variados segmentos produtivos e que tornam a entidade uma das principais instituições de classe da história do Pará. O papel da Federação das Indústrias fica na intermediação com esses setores e os interesses do setor industrial na promoção de ações que estimulem a integração regional, o desenvolvimento econômico e a intermediação com o poder público. Questões como o excesso de burocracia, o tempo longo para a concessão de crédito e

as altas exigências de garantias reais para disponibilizar o acesso a capital de giro para pequenas e micro empresas e a insolvência fiscal das empresas em decorrência da crise econômica, procuramos tratar, em reuniões com os representantes de federações de indústrias estaduais que compõem a Ação Pró-Amazônia com o Ministério da Integração Nacional, sua equipe técnica e representantes da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e do Banco da Amazônia. Além disso, o Pará tem um grande potencial de atração de novos negócios a partir dos diversos segmentos como madeireiro, cosmético, móveis, alimentos e bebidas, entre outros. Para transformar essa potencialidade em negócios, é preciso proatividade construída a partir da parceria de diferentes agentes setoriais. Recentemente na XIII Feira da Indústria do Pará (FIPA), discutimos essa construção de parcerias na palestra “Metodologia de Atração de Investimentos Diretos”, realizada pela Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), por meio do Centro Inter-

nacional de Negócios (CIN), Companhia de Desenvolvimento Econômico do Pará (CODEC), Confederação Nacional da Indústria (CNI) e APEX Brasil. Mesmo o país impactado pela crise econômica e, mais tarde, pela crise politica. Nesse cenário, o momento atual então impõe o desafio de recuperar espaço na atração de novos negócios, o que não pode ocorrer sem parcerias. É preciso entender que existe a necessidade dessa conexão entre os diversos parceiros para a gente conseguir ampliar esses investimentos para país. Em meio a esse cenário de crise, o Norte do Brasil tem vantagens competitivas importantes e vamos trabalhar para se manter equilibrados nessa situação. O Pará é um estado que hoje tem se consolidado, que tem contas em dia, que tem procurado fazer seu dever de casa, de forma que temos uma segurança jurídica que vem sendo amplamente trabalhada no sentido de oferecer isso aos investidores. Isso traz uma tratativa diferenciada para o investidor, que começa a perceber o Estado como uma oportunidade de negócios. PZZ – Como o Sistema FIEPA vem trabalhando para elevar a produção industrial no Pará? Dr. José Conrado – O setor produtivo paraense, por meio do Sistema FIEPA, vem trabalhando há bastante tempo para alcançar índices positivos na produção industrial, acompanhando os investimentos que estão chegando e incentivando a atração de novos investimentos para o Estado. Um resultado positivo desse esforço veio com a notícia de que o Pará se destacou como o único estado a ter registado crescimento na produção industrial em 2016, avançando 9,5 %, de acordo com pesquisa do IBGE. No geral, a produção brasileira cresceu 2,3%, mas em estados como São Paulo, por exemplo, houve retração, com recuou de 5,5%. www.revistapzz.com.br 35


PZZ BRAGANÇA / ENTREVISTA Além da mobilização por mais investimentos no Pará, o Sistema FIEPA dá suporte a competitividade da indústria local por meio de cursos de educação profissional e serviços de Tecnologia e Inovação, oferecidos pelo Senai Pará, e dos programas de saúde, segurança e educação do trabalhador da indústria oferecidos pelo Serviço Social da Industria, Sesi Pará. Para ampliar essas demandas e preparar mão de obra qualificada para o mercado e para a indústrias, estamos revitalizando todas as Unidades do Sistema FIEPA no Pará. Assim como fizemos com as Unidades de Cametá, Marabá, Santarém,no início de maio deste ano com a presença do Robson Andrade, presidente do Conselho Nacional da Indústria – CNI, inauguramos a nova unidade do SENAI Mauriti, em Belém. Com as obras feitas no local, a instituição duplicou sua capacidade de atendimento, além de expandir sua atuação em áreas estratégicas do mercado de trabalho. Os investimentos realizados na escola criam um ambiente favorável para os empreendimentos que queiram se instalar no estado. Os investimentos têm chegado e temos possibilitado, por meio de nossas expertises, um cenário muito confortável para que as indústrias se desenvolvam. Essa moderna estrutura que inauguramos do SENAI ratifica nosso empenho em oferecer sempre o melhor para o setor produtivo. Muito me orgulha saber que o Pará, representado por esta unidade, tem contribuído com a nossa missão de capacitar bons profissionais e desenvolver tecnologia para contribuir para um país mais independente e competitivo. A unidade ganhou um novo bloco administrativo e um novo pavimento com dezesseis novas salas de aula. Além disso, foram ampliados e modernizados os laboratórios que irão abrigar toda a área automotiva, o que faz do SENAI Mauriti um Centro de Referência na área. Foram 1.500,00 m² de área acrescida e 1.400 m² de área reformada. Com a ampliação, será possível ofertar mais de 60 cursos nos segmentos da área Automotiva (Mecânica de Automóveis e Mecânica Diesel), Mecânica de Motocicleta, Vestuário, Alimentos, Tecnologia da Informação, Segurança na Operação de Equipamentos Móveis e Logística, nas modalidades de Aprendizagem, Qualificação Profissional, Iniciação e Aperfeiçoamento e Habilitação Técnica. O SENAI Mauriti atua em Belém desde 1970, sendo a segunda escola da instituição fundada no estado do Pará. Inicialmente criado para atender prioritariamente a área de Mecânica Diesel, era conhecido como Centro Diesel da Amazônia. Com a diversificação de segmentos atendidos, a escola 36 www.revistapzz.com.br

passou a chamar-se SENAI Centro de Desenvolvimento da Amazônia (CEDAM). Em 47 anos de existência, a unidade do SENAI já capacitou mais de 74 mil pessoas para o mercado de trabalho. Com o espaço novo e mais moderno, a instituição reforça sua posição como referência em educação profissional e em soluções para o setor produtivo. PZZ – Na ocasião do mês da indústria, o Sistema FIEPA também inaugurou a Escola Sustentável do SESI em Ananindeua. Uma referência para outras instituições de ensino e demais edificações sustentáveis ? Dr. José Conrado – Também pudemos

ciceronear o presidente da CNI, que participou da solenidade de inauguração da ESCOLA SUSTENTÁVEL DO SESI, localizado em Ananindeua, região metropolitana de Belém. O SESI Ananindeua foi todo pensado a partir do conceito de sustentabilidade, proporcionando maior interação dos alunos com a preservação dos recursos naturais e criando um novo estilo de educar. A escola possui sistema fotovoltaico, que a partir da captação da energia solar gera cerca de 50% do consumo total de energia da escola e converte em créditos o excedente repassado ao Sistema Nacional de Energia. Uma Estação de Tratamento de


Membros do Ação Pró-Amazônia Esgoto (ETE) separa os resíduos, tratando e devolvendo os líquidos para reaproveitamento e os sólidos para adubo. Um sistema de captação recolhe a água da chuva e dos sistemas de refrigeração, concentrando em uma cisterna 60 mil litros de água, que pode atender por até cinco dias a higienização dos banheiros e irrigação das áreas verdes sem depender do sistema público de abastecimento. O SESI possui 600 escolas no Brasil e poucas dispõem dos recursos e benefícios que a Escola do SESI de Ananindeua tem. É dessa educação pautada nestes princípios de cidadania e sustentabilidade que o Brasil e

o mundo precisam para um futuro melhor. Atualmente a escola é referência para outras instituições de ensino e demais edificações sustentáveis. PZZ – Qual a importância da criação de uma rede de cooperação econômica e política através do Ação Pró-Amazônia, neste sentido? Dr. José Conrado – Em reunião, ocorrida na FIEPA, foram retomados os apontamentos considerados relevantes pelo setor produtivo e que precisam ser repensados para dinamizar mais a indústria e agroindústria no Pará; foram discutidas as soluções pro-

postas pelo grupo de trabalho técnico, que envolvem as federações que compõem a Ação Pró-Amazônia, como a Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa); (FIEAM); (FIEAC); (FIEAP); e outras, além do Ministério da Integração Nacional; a SUDAM e o Banco da Amazônia. A maior parte dos temas tratados na reunião envolveu as dificuldades que o setor produtivo, principalmente de micro e pequeno porte, têm para obter financiamento por meio dos programas de fomento na região. Este diálogo constante envolvendo a indústria, o governo federal e as instituições de fomento, como a SUDAM e o Banco da Amazônia é fundamental para atendermos de maneira adequada as demandas emergenciais dos empresários que buscam mais competitividade neste momento no mercado. Por meio destas reuniões técnicas, esperamos contribuir para criar um ambiente de negócios mais qualitativo para quem investe na Amazônia. Outro ponto que debatemos é com relação ao tempo de resposta de nossos processos no Banco da Amazônia. Uma das questões que estamos estudando também é a oportunidade em trabalhar de maneira conjunta com outras agências de fomento como a Caixa, o Banco do Brasil e o BNDES, para termos condições, coletivamente, de arcar com mais projetos estruturantes. Precisamos sem dúvida ter mais opções bancárias para ampliar o acesso ao crédito aos empreendedores da Amazônia. Desde 2011, já foram gerados negócios na ordem de R$ 100 bilhões ?entre os estados da Amazônia. Já a relação comercial da região com as demais localidades do Brasil registram um montante de R$ 200 bilhões. Diante dessa constatação, percebeu-se a necessidade de maior aproximação comercial, institucional e estratégica entre os estados amazônicos. Para viabilizar essa aproximação, foi criado o Portal de Integração da Amazônia Legal, materializado em cerimônia de assinatura do convênio de cooperação técnica entre Sudam, Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) e Ação Pró-Amazônia, grupo ligado à Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e que reúne as nove federações das indústrias da região. O portal virá no sentido de criar e consolidar um canal direto para que os estados amazônicos possam conhecer melhor o mercado de seus vizinhos, apresentando soluções para que os investimentos aplicados na Amazônia sejam interiorizados na própria região. Os Estados não podem se manter de costa entre si. Precisamos de maior integração. É através dessa maior inter-relação entre os estados que alcançaremos o dewww.revistapzz.com.br 37


PZZ BRAGANÇA / ENTREVISTA senvolvimento regional. Para isso, vamos aplicar no Portal de Integração da Amazônia Legal a mesma metodologia que vem sendo desenvolvida pela Redes. Aqui no Pará, por exemplo, com o trabalho da Redes conseguimos elevar de 19 para 51% a contratação de bens e serviços realizada pelos grandes projetos. Antigamente, os empreendimentos de grande relevância econômica se instalavam aqui, mas compravam de outras regiões. Fizemos um trabalho com as empresas locais e com as grandes indústrias, no sentido de capacitar os micro e pequenos empreendedores e aproximá-los dos grandes. Foi assim que revertemos a situação das compras locais. Esperamos fazer o mesmo na região amazônica. Este é o objetivo deste Portal. PZZ – E como será a metodologia de implantação deste programa? Dr. José Conrado – Primeiro faremos um mapeamento e um estudo de cenário da região. Após este trabalho de prospecção local, a ideia é identificar todos os projetos anunciados para os nove estados da Amazônia Legal. Com conhecimento dos investimentos futuros, faremos uma capacitação com as empresas locais, promovendo a qualificação delas para que venham a atingir o nível de excelência exigido pelos grandes projetos e, assim, possam se tornar fornecedores de bens e de serviços. Esta ferramenta irá potencializar o aumento do volume de negócios na Amazônia Legal e também a maior interiorização de riquezas na região. Ao utilizar a mesma metodologia da Redes, o Portal já nasce com uma fórmula de sucesso para ampliar a comercialização de bens e de serviços entre os estados da Amazônia. A Idea é promovermos o lançamento do Por- dade de outros países. Esperamos que este tal ainda este ano, na sede do CNI. quadro se reverta. A CNI e as 27 Federações de Indústrias estão fazendo sua parte. NosPZZ – A inovação e a competitividade são sos investimentos, nos últimos anos, cresceu palavras que já foram incorporadas no dis- muito na inovação e em ações para buscarcurso e nas ações da Federação. Fale mais mos a competitividade. O Instituto do Senai sobre estes dois temas. de Tecnologias Minerais é um exemplo deste Dr. José Conrado – Até por direciona- esforço do Sistema Indústria. Acredito que, mento da CNI, as Federações, sempre em por meio do desenvolvimento de pesquisa e defesa do segmento industrial, vem focando processos inovadores e tecnológicos na área e intensificando suas ações para o alcance da mineração, conseguiremos interferir posidestes dois caminhos, a inovação e a com- tivamente não só no setor mineral, mas em petitividade. Acredito até que, a inovação é toda a cadeia produtiva que depende e está caminho pelo qual chegaremos na compe- diretamente ligada a ele. Este será um grantitividade. Infelizmente, com o passar dos de salto da indústria paraense e brasileira. anos, a indústria perdeu força. Em 1980, por Já a REDES - Inovação e Sustentabilidade exemplo, nossa participação no PIB era de Econômica, do Sistema FIEPA, foi responsá45%. Atualmente, a relevância das indústrias vel por 5.550 visitas técnicas de qualificação para o PIB caiu para 28%. É o triste fenômeno de fornecedores locais desde sua criação da desindustrialização. Infelizmente, as polí- no ano 2000, uma iniciativa que incentiva ticas governamentais de apoio ao segmento e fortalece a cadeia de fornecedores locais não atingiram o mesmo nível de agressivi- e os prepara para atender as demandas da 38 www.revistapzz.com.br

indústria. Em 16 anos de atuação da Redes, as mantenedoras da entidade já movimentaram RS 81,7 bilhões em compras locais. Quando o Governo do Estado lançou o programa Pará 2030, veio reforçar todo esse trabalho que o Sistema FIEPA vem fazendo, uma vez que esse programa prevê a agregação de valor a matéria-prima aqui produzida. O mais novo exemplo em andamento é a criação de um Polo Têxtil no Pará, que deverá investir na produção de tecido a partir da celulose solúvel, produzida pela Jari Celulose no município de Almeirim. Iniciativas como essa trazem benefícios para a economia local e incentivam o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Pará. Dentro desse cenário incerto, o que hoje causa maior preocupação no setor produtivo é a geração de emprego. Há um crescimento significativo na produção industrial e nas exportações, mas os postos de trabalho não acompanham esse ritmo. Então é tarefa do


PZZ – Nos últimos anos, a indústria vem alcançando espaço relevante na pauta econômica local. Dados da Fiepa apontam que, até 2020, serão investidos mais de R$ 170 bilhões no Pará, dos quais 90% são recursos do segmento industrial. Até pelo seu alto poder de empregabilidade e os efeitos dinamizadores da economia regional, como associar os interesses industriais ao desenvolvimento econômico regional? Dr. José Conrado – Esta sempre foi uma preocupação real da Federação. Queremos desenvolver a indústria, queremos o fortalecimento, o crescimento dos parques industriais, mas também não esquecemos o nosso papel para com o desenvolvimento das regiões. Não à toa, investimos na Redes para qualificar os micro e pequenos empreendedores. Ao capacitá-los fazemos com que eles tornem-se fornecedores, potenciais clientes dos grandes projetos e que injetam uma quantidade bastante expressiva de recursos em nossa região. Isso é o que eu chamo de interiorização dos investimentos. Fazendo o micro crescer e se fortalecer, estamos possibilitando que aquele empresário gere mais riquezas para sua região, empregue mais mão de obra, exporte mais. Dessa forma todos ganham. É preciso que todos os nossos governantes tenham essa percepção e se sensibilizem com a causa empresarial. Quem gera riquezas e dá emprego à população é o setor produtivo. A força da economia está no setor produtivo.

Reunião do Ação Pró-Amazônia setor fazer uma prospecção para o futuro para sejam reconquistados alguns segmentos importantes, até mesmo na geração de emprego. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Diese), a Construção Civil, por exemplo, um dos setores que tradicionalmente mais geram postos de trabalho, apresentou queda de 21,53% de empregos em 2016 e a Industria de Transformação registrou queda de 5,37%. São atividades que movimentam a economia do estado, mas que ao longo dos últimos anos vem perdendo a sua importância por fatores como a crise econômica e por que o Brasil não avança na sua Reforma Trabalhista, outra questão que estamos acompanhando de perto e participando presencialmente das discussões. Por ultimo, é importante destacar que o estado do Pará esta vivendo um momento bom. Ao longo dos anos, ele tem se deslo-

cado dessa crise, mas para aproveitar esse bom momento, é importante alinhar as concessões das licenças. Há um conflito entre os órgãos federais e os órgãos estaduais, que tem se tornado mais forte nos últimos anos e impacta negativamente no crescimento da cadeia de valores no estado do Pará. O Sistema FIEPA, acompanha de perto essa questão e já levou o assunto ao presidente Michel Temer, para que a aplicação de leis federais que não se relacionam com as leis estaduais não crie impactos negativos no nosso crescimento. Esse alinhamento, aliado a boa vontade dos investidores, seguramente serão catalizadores para que o Estado possa dar um salto ainda maior nesse crescimento. E quem ganha com isso não é só o setor produtivo, mas toda a população, por meio da geração de renda, impostos e outros benefícios que uma produção industrial forte e competitiva traz para o Estado.

PZZ – Qual a importãncia da Indústria Criativa neste cenário? Dr. José Conrado – A Indústria Criativa tem uma importância estratégica, neste cenário de crise econômica. A criação de novos processos produtivos dentro das fábricas, o desenvolvimento de novas formas de escoamento da produção e a implantação de novos modelos de negócio constituem exemplos saudáveis de inovação criativa. O Sistema FIEPA acredita e aposta na forte vinculação entre criatividade e inovação empresarial. Tanto que, em agora na XIII Feira da Indústria em 2017, foi conduzida pelo tema “Indústria Criativa” onde reuniu uma programação que incluiu consultorias técnicas, palestras, bate-papos com especialistas, entre outras dinâmicas, em um ambiente onde foi possível ao visitante conhecer, interagir e compartilhar experiências com as indústrias que estão desenvolvendo ideias criativas para incrementar o setor.

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PZZ BRAGANÇA / RADAR

Foto: Carlos Pará / PZZ

A BELÉM QUE QUEREMOS Por José Mendonça

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Engº JOSÉ MARIA DA COSTA MENDONÇA - Vice-Presidente da Federação das Indústrias do Pará - FIEPA - Presidente do Centro das Indústrias do Pará - CIP - Presidente do Conselho Temático de Infraestrutura da FIEPA 40 www.revistapzz.com.br

crise, principalmente quando provocada por erros de terceiros, é difícil; porém, tem o seu lado positivo que é unir os atingidos. Neste momento, estamos tentando aprovar as reformas trabalhista e previdenciária, sem as quais o Brasil conhecerá o caos; esta é a discussão no cenário nacional. Já no cenário local, temos verificado uma preocupação geral e constante com Belém, a nossa capital. Nossas entidades passaram a se preocupar efetivamente com a nossa cidade. De repente, todos nós, de forma geral, passamos a discutir sobre o nosso potencial turístico. A discussão sobre Belém tem nos trazido

grandes ideias, como a do engenheiro Nelson Chaves, em transformar a área do antigo Aero Clube no “Parque de Belém”, que, inicialmente solitária, ganhou muitos adeptos. Todas as bênçãos ao amigo Nelson que nunca desistiu de seu sonho de quase 30 anos, de ver consolidado seu projeto que, agora ao que parece, todos querem vê-lo materializado. O “Projeto Belém Porto Futuro”, apresentado pelo Ministro Helder Barbalho, cujo conceito é a revitalização da área portuária de nossa capital, permitindo com que seja criado ao longo de nossa orla um belíssimo complexo turístico que servirá como interação com a nossa “Estação das Docas”; um presente dado a Belém pelo Governador Almir Gabriel, a qual se soma o Terminal


Foto: Carlos Sodré / Ag. Pará

Hidroviário Luiz Rebelo Neto, construído pelo Governador Simão Jatene, dando dignidade aos passageiros de nossas embarcações quando da sua chegada a nossa capital. Este projeto ainda dá um arranjo no trecho final da Av. Souza Franco, um lamaçal transformado nesta bela avenida pelo Prefeito Nélio Lobato, projeto executado pela ECCIR sob a batuta de meu eterno guru, engenheiro Manoel Ibiapina Cavaleiro de Macedo, e posteriormente rejuvenescida pelo Prefeito Hélio Gueiros, chegando até o aprazível “Ver-o-Rio”, construído pelo Prefeito Edmilson Rodrigues, de uma beleza simples e regional; tudo isso motivará o Prefeito Zenaldo Coutinho, como é de sua vontade, restaurar a feira do “Ver-o-Peso”, seus mercados e anexos. Para que isso possa ocorrer, temos que nos unir, em um só pensamento de transformar Belém em uma cidade eminentemente turística. Na contramão dessas boas ideias, tomamos conhecimento que o antigo prédio da Receita Federal, localizado exatamente no meio deste corredor turístico, foi doado à Justiça do Trabalho, que ali se instalará. Não temos condições de opinar sobre as suas necessidades, muito embora saibamos que, caso a reforma trabalhista seja aprovada, deverá cair o número de ações, resultando em uma menor necessidade de espaço físico. Porém, alertamos o Senhor Prefeito de Belém para o problema com a mobilidade urbana, pois essa instituição criará um fluxo de pessoas, cujo objetivo não é, nem visitar o corredor turístico nem ter acesso ao Centro Comercial, mas sim participar de um processo judicial, com seus Juízes, Funcionários, Advogados, Prepostos, Reclamantes e testemunhas, que, embora estranhos, se somarão ao público foco destes empreendimentos. Esta preocupação não tem nenhum sentido de crítica e sim de alerta para que no futuro tenhamos uma Belém que atenda com dignidade os turistas que aqui virão, dando-lhes conforto e mobilidade para que todos conheçam a beleza da nossa “Cidade das Mangueiras”, livre de um fluxo de pessoas que nada tem a ver com este propósito. Além do mais, do ponto de vista de engenheiro, agora sim no sentido de crí-

tica, este prédio foi construído na década de 60, sofreu um incêndio de grandes proporções que lhe causou danos estruturais. Não tenho conhecimento do custo da restauração e adequação, porém, uma obra desta envergadura e complexidade, dificilmente, ao começarmos, saberemos o custo final; são paredes, tubulações, etc.. muito antigas. Na brincadeira, comentamos entre nós, engenheiros, ao

Esta preocupação não tem nenhum sentido de crítica e sim de alerta para que no futuro tenhamos uma Belém que atenda com dignidade os turistas que aqui virão, dandolhes conforto e mobilidade para que todos conheçam a beleza da nossa “Cidade das Mangueiras”, livre de um fluxo de pessoas que nada tem a ver com este propósito. derrubarmos uma parede, caem três e os problemas se sucedem, e concluiremos que o correto seria implodi-lo para construção de algo novo, sem custos para o governo, através de uma parceria público-privada, em uma atividade inserida no contexto de nossos planos turísticos, talvez um hotel de primeira linha com vistas para o nosso belo rio mar. Reafirmo, a decisão posta está na contramão dos sonhos da sociedade belemense.

Metrópole da Amazônia Um dos problemas mais destacados da cidade de Belém do Pará é o trânsito e a mobilidade urbana. É preciso um plano que eleve a qualidade de vida e que leve em conta, quem mora na cidade e que vem a negócios e ao turismo, conhecer a cidade. Finalizamos, rogando que a “Justiça do Trabalho” fique onde está, na Praça Brasil, onde já foram enterrados os sonhos de muitos empreendedores, não por culpa de seus dirigentes, juízes e funcionários, mas simplesmente pela nossa CLT caduca, um misto de fascismo de Benito Mussolini, dos anos 40, com o esquerdismo de Lênin, implantado no Brasil a partir dos anos 60, com um interregno de 20 anos do regime militar, crescente no que caracterizamos de “anos da redemocratização” tão bem simbolizados pelos Governos de Fernando Henrique e Lula. Este registro, seguramente, permitirá manter nossos sonhos onde se inclui a restauração total do “Centro Comercial Histórico”, o “Complexo Feliz Lusitânia” e o “Corredor Turístico de Belém”, do “Ver -o-Rio” até o “Porto do Sal”, às margens do Rio Pará.

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PZZ BRAGANÇA / ECONOMIA

Foto: Sidney Oliveira / Ag. Pará

O CACAU DO PARÁ QUALIFICAÇÃO E INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA

Ampliação, qualificação e inovação na cadeia produtiva do cacau Por Carlos Pará

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produção cacaueira no Pará gerou em 2016 uma receita de R$ 888 milhões e uma safra superior a 118 mil toneladas, numa área de quase 120 mil hectares de terra, passando à frente da Bahia que era maior produtor brasileiro. Um trabalho que vem sendo desenvolvido como política pública por vários anos e por vários atores envolvendo a Federação da Agricultura do Pará – FAEPA, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca – SEDAP, Universidade Federal do Pará (UFPA), Cooperativas, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Pro-

fissional e Tecnológica (Sectet) em parceria com a Comissão Executiva do Plano de Lavoura Cacaueira (Ceplac) favoreceu para a qualificação dos produtores de Cacau do Pará que beneficiam a amêndoa da fruta derivando diversos produtos e o principal derivado, o chocolate, o Pará já exporta, mas ainda é pouco. Uma parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA) vai viabilizar o Laboratório de Análise Sensorial para classificação das amêndoas de cacau que hoje é feita em Itabuna, na Bahia. Está previsto também o processo de certificação de indicação geográfica para o cacau de várzea e orgânico. O presidente da Faepa, Carlos Xavier, também propôs a implanta-


ção de 250 pequenas unidades processadoras de chocolate. O plantio de cacaueiro, que começou ao longo da Transamazônica, perto da cidade de Medicilândia, na verdade não atinge a floresta pelo seguinte: “A expansão da agricultura e de grãos no Pará acontece exatamente na área de pastagem e não se derruba mais uma árvore da floresta, porque existe o compromisso do desmatamento zero, desde 2008, com o projeto Preservar, desde quando está sendo feito uma substituição de culturas agrícolas nas áreas antes destinadas à pastagem de bois, que ainda representa a maior presença na economia do estado”. A convivência das plantações de cacau com a floresta amazônica e a necessidade de instalar pequenas indústrias de processamento para que 99% da produção não continue sendo exportada, ou para o exterior ou para outras regiões do Brasil é um dos objetivos dessa nova política. A ideia é compra garantida com recursos de R$ 1 milhão, oriundos do Fundo de Desenvolvimento da Cacaicultura no Pará (Funcacau). Os trabalhadores e gestores da fábrica serão capacitados para atuar na produção. E na reunião do Funcacau, presidida pelo titular da Sedap, Hildegardo Nunes, discutiu as ações prioritárias a serem implementadas em 2017 no setor. Em razão do crescimento da produção é necessário investir na infraestrutura laboratorial, pondo em funcionamento a biofábrica de cacau, já montada em Medicilândia, na região da Transamazônica, para produção de mudas enraizadas. Será intensificado o treinamento nas unidades de processamento artesanal de chocolates de origem, incluindo as bombonzeiras. A transferência de conhecimento e difusão de tecnologia serão feitas por meio de clínicas tecnológicas e oficinas para produção de cacau orgânico e técnicas de irrigação. Na área de Defesa Sanitária, estão previstos a capacitação de técnicos ao Plano de Contingência da Monilíase para impedir a contaminação dos plantios no Pará, além do reforço no combate à Vassoura de Bruxa. O cacau alimenta a indústria do chocolate, que mostrou seus avanços no IV Festival Internacional de Cacau e Chocolates da Amazônia.

Carlos Xavier - Presidente da FAEPA

Engenheiro químico Cesar de Mendes

ORGANIZAÇÃO

Para o engenheiro químico Cesar de Mendes, diretor da empresa Chocolate De Mendes, “a cadeia produtiva do cacau está muito bem organizada. Porém, o que se precisa é comunicação entre os atores, já que, às vezes, um está atrás de uma tecnologia que o outro já possui. Mais um ponto a ser observado seria o final da cadeia. Precisa-se de um estímulo na área de comercialização”. Segundo a secretária adjunta da Sectet, Maria Amélia Enríquez, “existem muitos componentes no aspecto da produção da cadeia, mas ainda há gargalos na industrialização e na comercialização, por isso da Secretaria aprofunda o diálogo no sentindo de um trabalho conjunto”. Maria Amélia Enríquez cita os programas Inova Pará e Pará Profissional, pelos quais a Sectet pode atuar. O primeiro possibilita a criação e o fortalecimento de ambientes de inovação, para dar suporte à cadeia produtiva do cacau, e o outro atua especificamente na qualificação da mão de obra.

Crescimento da Produção A alta taxa de crescimento anual da produção de cacau em território paraense, que chegou a 7%. Em 2016 foram produzidas aproximadamente 118 mil toneladas do fruto. A cadeia cacaueira gera 265 mil empregos, sendo 53 mil diretos e 212 mil indiretos.

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PZZ BRAGANÇA / ECONOMIA

MÃOS

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QUE TECEM ECOJOIAS


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m uma colônia de pescadores de Bragança, Pará, moradoras unem arte e talento para transformar a própria realidade. A Associação dos Ruralistas do Castelo desenvolve uma ação, onde as mulheres usam escamas e couro de peixe para confeccionar acessórios. As artesãs Liliane, Heloisa e Joelma, participantes e iniciadoras desta ação, desenvolvem um trabalho de confecção de colares e peças oriundas das sobras do peixe, escamas e peles. Nas mãos das artesãs, as escamas são retiradas manualmente, lavadas e higienizadas, tingidas e preparadas para ganharem durabilidade e virarem verdadeiras obras de arte no ramo das biojóias. Este material é adquirido diretamente junto aos pescadores locais. As artesãs fazem parte da associação da Vila do Castelo, no município de Bragança, Pará. O processo de criação iniciou com um curso profissionalizante realizado na Associação pela Secretaria de Pesca local, o qual ensinou às artesãs o manejo da obra prima, o processo de limpeza e higienização e tingimento das escamas para a montagem e produção da biojóia.

“O processo iniciou com um curso realizado na associação sobre o processo de limpeza da escama e todo o procedimento de tingimento das escamas, no curso que foi ensinado a confeccionar flores e colares.

Texto: Adriana Lima Fotografias: Flavio Contente Na vila do castelo três artesãs desenvolvem um trabalho com ecojoia, com a matéria prima que vem das águas, dos barcos pesqueiros, das sobras dos peixes, das escamas dos peixes.

As biojóias se caracterizam pela valorização da cultura local e sua produção comercial, levando em conta a sua história, seus valores e sua tradição. A produção da Vila do Castelo, é caracteristicamente pesqueira, a qual fornece as artesãs a matéria prima necessária para a confecção de seu artesanato, marcando no tempo, uma nova concepção de produção artística na comunidade. A elaboração criativa partiu da relação que as artesãs têm com a sua cultura. Flores e colares são confeccionados a partir das escamas de peixes e da pele fornecidas pelos pescadores da região. O processo de preparação desse material demanda de uma capacitação especifica a qual é fornecida pela Secretaria de Pesca, Sebrae e parcerias como universidades. Uma peça apresenta um tempo de produção no mínimo de 7 dias, dependendo da peça a ser confeccionada. A matéria prima fornecida passa inicialmente por um processo de limpeza e higienização das escamas e pele, tingimento feito de forma natural com a utilização de sementes, cascas e resíduos como o café até chegar na perfuração das peças. No caso da pele, o processo é bem mais específico e demorado, pois necessita para o curtimento desta com o uso de um produto químico chamado Tanino, comercializado apenas no sul e sudoeste do país, encarecendo o processo. Outra dificuldade encontrada é a necessidade de apoio financeiro para a compra do maquinário necessário para realizar a perfuração das escamas, muitas artesãs se machucam gravemente quando

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PZZ BRAGANÇA / ECONOMIA

As mulheres que estão envolvidas, estão engajadas no aprimoramento do processo. O processo do curtimento da pele, esbarra no investimento do produto químico (tanino), necessário para trabalhar a pele, o qual é comercializado em Santa Catarina.

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chegam nesta etapa de preparação da matéria prima. Não são todas as mulheres da comunidade que se envolvem no processo de produção, apesar de serem convidadas, muitas não se identificam com o trabalho. No estado do Pará, ainda há uma necessidade de incentivo para a construção de uma visão emancipatória das mulheres nas comunidades. Muitas ainda não despertaram para a necessidade de se engajarem em ações e projetos, os quais possibilitam, além de renda, uma profissão. Ainda há uma necessidade de aponderar-se para algo além do cotidiano comum. O mercado de biojóias é um mercado em grande expansão e com potencial para exportação. A beleza e a originalidade dos produtos, bem com a vertente da sustentabilidade associada com o desenvolvimento do produto, atraem consumidores interessados não só no consumo, como no investimento desse produto no mercado. As biojóias produzidas pelas artesãs ganharam destaque na Feira do Artesanato Mundial, ocorrida no Hangar Centro de Convenções da Amazônia. Após a feira, a comunidade começou a comercializar as peças em eventos e exposições em diversos estados brasileiros, ganhando reconhecimento e notoriedade no trabalho. Com esse destaque, a Secretaria de Pesca e a Casa do Empreendedor, fomentaram o trabalho com novos cursos e novas oportunidades às artesãs para o aperfeiçoamento da técnica. Hoje, a produção das artesãs da Vila do Castelo, é reconhecido pelo Sebrae, o qual dá suporte à Associação promovendo o empreendedorismo na região. A comunidade despertou o interesse dos comerciantes locais. O empresariado G Pesca, demonstrou grande interesse no curtimento da pele do pescado oferecido às artesãs com possibilidades de investimento na ação. A Associação das Mulheres da Vila do Castelo recebe convites para expor seus trabalhos em varias regiões brasileiras, apesar de ter o trabalho reconhecido e apreciado, a Associação encontra grande entrave na parte de incentivo financeiro nessa divulgação em relação a passagens e hospedagens das artesãs nas feiras e exposições. Apesar do apoio vindo da prefeitura, ainda há necessidade de incentivos maiores para que essa arte seja apreciada e reconhecida em todas as partes do Brasil.

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PZZ BRAGANÇA / CULTURA POPULAR

Ana Paula Rebelo

XXIX FESTIVAL

JUNINO

no período de 08 a 11 de junho DE 2017 ACONTECERÁ O Festival Junino de Bragança, evento tradicional realizado em sua 29ª edição, O QUAL visa o desenvolvimento, A produção e criação de expressões culturais populares DE quadrilhas, boisbumbás, cordões de pássaros, grupos musicais.

O

Festival Junino de Bragança é um evento tradicional, que em 2017 será realizado em sua 29ª edição, que visa o desenvolvimento, produção e criação de expressões culturais populares. Uma grande estrutura é montada na Estação Cultural Armando Bordallo da Silva, a praça de eventos da cidade, onde quadrilhas, bois-bumbás, cordões de pássaros, grupos musicais se apresentam e mais de 50 mil pessoas circulam pelo evento nos 4 dias de festejo, que neste ano de 2017 ocorrerá no período de 08 a 11 de junho. Segundo Bezerra (2008) , as experiências sociais e as representações identitárias locais, através da festa, são (re)atualizadas, ritualizadas e celebradas. Através deste evento há o fortalecimento e divulgação dos grupos culturais e dos mestres da cultura popular, de modo a incentivar a cultura local. Algumas edições do Festival Junino foram realizadas homenagens a esses grandes mestres, como no caso, em 2008 a homenagem foi ao grande mestre do carimbó Verequete, que nasceu em Bragança. A Estação Cultural é toda ornamentada com decoração típica, como bandeirinhas, mastro, estandartes, entre outros adereços. E mais, o evento conta ainda em média com 40 (quarenta) barracas de palha com decoração característica para venda de bebidas e comidas típicas. Há ainda no evento a “Casa Caeteuara”, também com o intuito de divulgar e valorizar a cultura local, um espaço para a comercialização 48 www.revistapzz.com.br

e demonstração do artesanato e de outros produtos locais (doces, mel, mandicoeira, cestas, panelas de barro, etc.) à população residente, bem como aos visitantes de outros municípios e turistas. A “Casa do Xote” é um espaço onde os participantes do evento poderão dançar ao som do xote bragantino tocado na rabeca, uma das danças mais representativas do nosso município. E a “Casa de Farinha” que se trata de um espaço de demonstração do processo de produção da farinha de mandioca e outros produtos derivados dessa raiz milenar, importante produto base na alimentação da população bragantina, desta forma, por meio desse espaço a mandioca ganha destaque no evento. Toda essa mistura dá um toque bem peculiar ao festejo, é o jeito do Norte do Brasil de festejar as brincadeiras juninas. A peculiaridade desse evento influenciou na escolha do município como representante da Região Norte em um processo de seleção promovido pelo Ministério do Turismo e a Embratur para receber apoio para promover seus festejos juninos em nível nacional e internacional, com ações de promoção, comunicação e apoio à comercialização. O edital não prevê repasse de recursos públicos para os locais contemplados, mas entre as ações possíveis de serem realizadas por meio do edital destacam-se press trips – visitas de jornalistas e influenciadores digitais aos destinos -, encontro de negócios, inclusão da festa no Calendário de Eventos Juninos, transmissão ao vivo nas redes sociais do MTur, divulgação dos destinos e cobertura jornalística

A peculiaridade desse evento influenciou na escolha do município como representante da Região Norte em um processo de seleção promovido pelo Ministério do Turismo e a Embratur para receber apoio para promover seus festejos juninos em nível nacional e internacional, com ações de promoção, comunicação e apoio à comercialização.


atividades de lazer são mescladas como a visita a praia de Ajuruteua, diversos balneários, nossas igrejas centenárias, casas de farinha, produção de panelas de barro, cachaça artesanal e etc., tornando-se um consumidor com grande potencial para diversas opções de atrativos disponíveis no município e em toda a Região. Outro aspecto importante do turista atraído pelo nosso Festival Junino, é o fato deste turista retornar depois, com a família ou amigos, para conhecer melhor outros locais que lhe agradaram e que não deu tempo de conhecer neste primeiro momento, ou pelo simples prazer de mostrar aos seus, aquilo que experimentou do turismo em Bragança, por conta da oportunidade dada ao participar do evento. Dinamiza ainda, toda a cadeia produtiva,

O município de Bragança é um dos destinos prioritários do turismo regional, no Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil, do Ministério do Turismo desde a sua criação em 2004, integrando o Mapa do Turismo Brasileiro. Em 2015, com a nova categorização o município é classificado dentro da categoria C. dos festejos. Além disso, o município de Bragança é um dos destinos prioritários do turismo regional, no Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil, do Ministério do Turismo desde a sua criação em 2004, integrando o Mapa do Turismo Brasileiro. Em 2015, com a nova categorização o município é classificado dentro da categoria C. Dada a importância do município para o turismo no Estado do Pará, diversas manifestações culturais fomentam a atividade entre elas o Festival Junino, evento de grande importância para Bragança, uma vez que motiva um fluxo turístico considerável para a cidade, incentiva o desenvolvimento socioeconômico local, contribuindo para geração de empregos, renda e criação de infraestrutura que beneficia não só o turista, como a população da cidade. Em um momento que é necessário con-

tornar os efeitos da “baixa estação”, visando fomentar o turismo em diferentes épocas do ano, para existir um equilíbrio da demanda, a realização do Festival Junino de Bragança, apresenta-se como uma solução ideal para o destino, durante o mês de junho, elevando a taxa de ocupação hoteleira da cidade neste período, devido não termos férias escolares que contribuam para geração desses fluxos turísticos. O evento movimenta um grande número de pessoas durante a sua realização, provocando uma grande movimentação econômica na cidade e na região como um todo, visto o evento oportunizar espaço para apresentação e venda de produtos e grupos culturais, oriundos de vilas e arredores. É importante observar que, apesar do turista do Festival Junino ter como motivação o interesse de conhecer a cultura local, por meio de suas manifestações culturais, outras

representada, neste caso, por produtores locais, identificados por artesãos, produtores agrícolas, como a farinha de mandioca, a cachaça artesanal, entre outros, vendedores de comidas típicas, grupos culturais que expressam as brincadeiras de bois, pássaros e quadrilhas; o que comprovam todos os benefícios oriundos deste evento de tradição, além de abrilhantarem os dias de festa em torno da rica cultura regional, para ser mostrada e apresentada aqueles que visitam o município. Deste modo, o desenvolvimento do turismo cultural, focado em nosso Festival Junino, abrange um amplo e diversificado conjunto de atividades econômicas, com importância destacada no setor de serviços, na indústria e no comércio em geral. Portanto, em termos econômicos o Turismo estimulado através do nosso Festival Junino, pode gerar muitos benefícios, tais como incremento na receita global do município, viswww.revistapzz.com.br 49


PZZ BRAGANÇA / CULTURA POPULAR

to que um turista participante gasta três vezes mais do que um turista comum; e melhorar a imagem da nossa cidade, uma vez que o participante é um elemento divulgador do local. Além da geração de emprego e renda para comunidade local, consequente diminuição das desigualdades sociais, e igualmente, melhorias na infraestrutura local como consequência do desenvolvimento do turístico. Mesmo porque além da questão simbólica dos festejos juninos, existe a questão econômica e social que deve ser considerada, o evento Festival Junino impacta diretamente na economia do município de Bragança. Em números são 4 dias de festejo, 15 atrações musicais, 30 grupos culturais, 40 barracas de vendas de comidas típicas, onde no mínimo 3 pessoas trabalham perfazendo assim um total de 120 vendedores de comida, 4 comunidades produtoras de farinha que vendem durante o festival 800 Kg de farinha de mandioca além de outros derivados, 15 grupos de artesãos na Casa Caeteuara, 70 seguranças, palco som e luz. Movimenta o comércio local de armarinhos, lojas de tecidos, costureiras, coreógrafos, músicos, mestres, cantadores, além das atividades informais e de bares, hotéis e restaurantes. Cerca de 300 empregos diretos, 900 indiretos, geração de renda, estimulo a economia criativa, mobilização de redes. 50 www.revistapzz.com.br


“Em números são 4 dias de festejo, 15 atrações musicais, 30 grupos culturais, 40 barracas de vendas de comidas típicas, onde no mínimo 3 pessoas trabalham perfazendo assim um total de 120 vendedores de comida, 4 comunidades produtoras de farinha que vendem durante o festival 800 Kg de farinha de mandioca além de outros derivados, 15 grupos de artesãos na Casa Caeteuara, 70 seguranças, palco som e luz.” www.revistapzz.com.br 51


PZZ BRAGANÇA / CAVALGADA

CAVALGADA

A Cavalgada de Bragança EM sua décima terceira edição deverá contar novamente com a participação de comitivas de 25 municípios do Pará e mais dos Estados: do Ceará, Tocantins, Maranhão, Rio Grande do Norte e Minas Gerais.

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Cavalgada de Bragança é o principal evento direcionado para a cultura rural realizado na região bragantina. Idealizada por um grupo de amigos liderados por Wallailson Guimarães, a Cavalgada de Bragança foi realizada pela primeira vez em 2005, contando com cerca de (50) cinquenta cavaleiros e público estimado de apenas (100) cem pessoas. Em sua décima edição em 2014, reuniu em torno de (1.600) um mil e seiscentos cavaleiros e um público de mais de (30.000) trinta mil pessoas. Graças a evolução do evento, em sua décima terceira edição a cavalgada de Bragança deverá contar no52 www.revistapzz.com.br

vamente com a participação de comitivas de 25 municípios do Pará e mais dos Estados: do Ceará, Tocantins, Maranhão, Rio Grande do Norte e Minas Gerais. Evento que faz parte do Calendário Oficial do Município, de acordo com a Lei Municipal nº 3.861/2006 é declarada como Patrimônio Cultural e Imaterial de Bragança (Lei nº 4.182/2012) tornando sua conservação de interesse público pelo excepcional valor no resgate da prática da montaria. Além de ser uma excelente oportunidade para negócios, vez que é grande o número de Produtores rurais, Pecuaristas e pessoas ligadas à Agricultura Familiar, que se concentram na região.

Graças a evolução do evento, em sua décima terceira edição a cavalgada de Bragança deverá contar novamente com a participação de comitivas de 25 municípios do Pará e mais dos Estados: do Ceará, Tocantins, Maranhão, Rio Grande do Norte e Minas Gerais.


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PZZ BRAGANÇA /DOCUMENTÁRIO

Leôncio Siqueira

TRILHOS O CAMINHO DOS SONHOS

O audacioso projeto da estrada de Ferro BelémBragança foi colocado em prática: Transformou a área geográfica central do Nordeste do Pará em um grande celeiro agrícola,possibilitando o deslocamento das pessoas e o escoamento da produção.

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s sonhos traduzidos em realidade se transformaram no meu primeiro trabalho literário: TRILHOS: O CAMINHO DOS SONHOS (Memorial da Estrada de Ferro de Bragança), uma trilha que eu havia trilhado, um caminho de ferro que transportou por cinco gerações o desenvolvimento sócio econômico e cultural de toda uma região, que plantou o diferencial miscigenado de tantas raças ali instadas, que interagiu, entre os povos distribuídos em todo percurso, entrelaçando famílias, aproximando-os cada vez mais, germinando a semente da paz. Foi o “Caminho de Ferro” que permitiu o escoamento de toda a produção agrícola e pecuária do Nordeste do Pará, transformado no “Celeiro Econômico do Estado”. “A FUMAÇA E AS MARCAS DOS TRILHOS NO CHÃO.” Difusas lembranças dilapidadas pela amnésia do tempo. O retrato da transposição de uma época em que a colonização desenvolvida inicialmente pelos jesuítas é aniquilada por determinação do Ministro de Portugal, Marques de Pombal, culminando com os conflitos da Adesão do Pará à Independência e em seguida a Revolta da Cabagem. O momento em que o embrião da Belle Époque aflora no solo da Província do Grão

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Pará, a Colonização Paraense se encontra totalmente esfacelada; não havia comida para tantos que chegavam à caça da seringueira a “Árvore da fortuna”. O audacioso projeto foi colocado em prática: Transformar a área geográfica central do Nordeste do Pará em um grande celeiro agrícola, construir uma estrada de ferro, possibilitando o deslocamento das pessoas e o escoamento da produção, e interligar a linha férrea, as localidades litorâ- nas era a velocidade do desenvolvimento, neas através vicinais rodoviárias. transportando o homem e o fruto de seu trabalho, interagindo completamente em todos os lugares nascidos de seu útero e O audacioso projeto foi colocado distribuídos por toda a extensão da grande em prática: Transformar a área trilha que se interpunha entre Belém e Brageográfica central do Nordeste gança e outros lugares interligados a linha tronco por vicinais, ocupando uma grande do Pará em um grande celeiro denominada “Zona Bragantina” com agrícola, construir uma estrada de área 12.317Km², começando em Belém e termiferro, possibilitando o deslocamento nando no rio Emboraí, limites com o estado do Maranhão. das pessoas e o escoamento da O “Progresso” de mãos dadas com a produção, e interligar a linha agricultura, a colonização, a imigração e a Emigração, deslizavam por sobre as fitas de férrea, as localidades litorâneas aço, penetrando no coração da floresta, esatravés vicinais rodoviárias. coando a produção agrícola, base do desenvolvimento de todos os lugares, que como A Estrada de Ferro de Bragança é uma as sementes ali plantadas, germinaram, reunião de lembranças infindas, muitos, transformando-se hoje nas belas cidades do incontáveis momentos, fragmentos de um nordeste paraense. período marcante do Modernismo e da As classes sociais se fundiam e se transEvolução, onde a velocidade das máqui- formavam; a imigração, responsável pela


localização de milhares de estrangeiros nessa área, fez nascer uma nova raça, nenhum outro estado brasileiro possui tanta diversidade de povos em um espaço proporcionalmente pequeno, eram: Italianos, franceses, espanhóis, alemães, prussianos, belgas, americanos, turcos, argentinos, ingleses, negros escravos da Guiné, Moçambique, Açores, emigrantes nordestinos e nativos; um universo de miscigenação responsável pela beleza do povo paraense. A força dessa comunhão está enfaticamente definida na palavra “BRAGANTINIDADE”, criada pelo bragantino, poeta, escritor e professor Jorge Ramos, referindo-se a força, o amor e a alma do povo bragantino, fruto dessa miscigenação. O próprio título, “Trilhos: O Caminho dos Sonhos” tem som e gosto de poesia. Reflete, saudoso, a Estrada de Ferro de Bragança, cujos trilhos embalaram o sonho de milhares de seres humanos que se instalaram e construíram suas vidas ao longo do seu percurso, criando vilarejos que se desenvolveram graças ao seu

vai-e-vem diário. Nas suas composições, o trem carregava sonhos e ilusões. Alguns partiam para ver a capital, Belém, e voltavam. Iam e voltavam. Outros iam e nunca mais apareciam. Uns iam ficando pelas suas paradas com o sonho de construir suas vidas, outros fincavam o pilar em Belém, e havia aqueles que partiam para outros mundos, como fizeram Lindanor Celina (escritora) e Valdir Surubi (artista plástico). O trem era a segura ponte da travessia entre o sonho e a realidade ansiada. Para aqueles que viviam ou que nasceram na “cidade com um rio na frente e servida por um trem”, como sempre se referia a escritora Maria Lúcia Medeiros, a maria-fumaça era o mais seguro fio condutor para uma realização maior: a busca de um mundo novo. (Dr. Nélio Fernando Gonçalves, Desembargador e Vice Presidente da Academia de Letras e Artes de Bragança). Meu saudoso amigo Bernardino Antunes em um dos nossos bons “papos” lá na Pérola do Caeté, falou-me certa vez:

ENTRE O SONHO E A REALIDADE Autor: José Leôncio Ferreira de Siqueira.

Uma mistura não sabe de onde, Parece que se esconde na alma do escritor Que quando fala, que quando escreve, aflora vivo O sentimento, de felicidade, saudade e dor. A vida! O sonhar eterno com a realidade, Só se vê passar quando termina. Nem mesmo a sina de viver sonhando, Ou saber quando vai se acordar, Desperta o tempo de esse divagar. O tempo se transforma em canto, faz rolar o pranto Da saudade eterna que ficou pra trás. A vida que eu passei sonhando, Segue seu caminho, e eu correndo atrás...

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PZZ BRAGANÇA /MEMÓRIA

U

- Eu tinha onze anos quando viajei pela primeira de trem de Belém a Bragança; a viagem parecia que nunca terminaria, e eu não queria que terminasse. Eu não conseguia dormir porque imaginava que tudo era um sonho, a sensação de ver a floresta correndo em sentido contrário ao nosso, lugares diferentes, pessoas diferentes, o novo preenchendo a minha mente de lembranças inesquecíveis. A cidade grande que começava em São Brás, os armazéns aonde meu pai fazia as compras, os pastéis que davam água na boca, nunca antes tinha visto daquele tamanho! Eram enormes e rechonchudos. Não sei por quanto tempo contei da minha viagem para os meus amigos, acho que nunca parei, agora mesmo estou contando para você. Osmar França, ex-prefeito de Benevides, ex-funcionário da E.F.B., aonde ocupou o cargo de telegrafista, a quem tive o prazer de conhecer no ano 2010 logo que me instalei em Benevides onde estou escrevendo a história do município. No ápice dos seus 84 anos, muito inteligente e com uma mente extremamente lúcida, faloume do bonde puxado a tração animal que trafegava pelo ramal interligando Benfica a Benevides com uma extensão de 9 quilômetros. Disse ele mostrando-me o lugar: O bonde saia daqui da Praça N.S. da Conceição, seguindo pela a estrada do Maratá até chegar a Benevides na atual Rua Pinto Braga com Avenida Paul Begot. Nesta última estava a 1ª Estação Ferroviária de Benevides. A área construída estendia-se até o centro da atual avenida, toda coberta de zinco. Lembrase que naquela época ainda chegavam muitos nordestinos em busca de terras, e que estes despejavam seus urinóis com fezes e urina pelas janelas do trem. Walter Arbage Presidente da Câmara municipal de Belém recordou com saudade os idos tempos de estrada de ferro em uma conversa que tivemos em seu gabinete. Dizia ele: As pessoas se reuniam na estação de Timboteua, ansiosas aguardando a chegada do trem, uma festa que se repetia todos os dias. A expectativa maior era pelas correspondências transportadas pelo trem. Ali mesmo era aberto o malote e lido os nomes dos destinatários que entre salvas de palmas e gritos de alegria recebia sua correspondência. Tudo acontecia entre o ir e vir daquela maravilhosa e gigantesca máquina e seus vagões.

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ma grande solenidade marcou o começo da realização de um sonho, conforme o relato de Ernesto Cruz em A História dos Municípios Paraenses: “Às 8h30m chegaram ao lugar designado para a cerimônia, onde hoje está a estação rodoviária de São Brás, numerosas pessoas, especialmente convidadas, conduzidas em 12 bondes da Companhia Urbana Paraense, puxados à tração animal”. No primeiro veículo iam S. Excia. Redima. O Sr. Dom Antônio de Macedo Costa e o Sr. Bernardo Caymari, da empresa concessionária. Nos demais, o que Belém possuía de mais representativo nos diferentes círculos social, econômico e político. Era um acontecimento digno das alegrias que todos deixavam transparecer. Reunidos, o Visconde de Maracaju e as

A história foi relegada; o delicado momento de sua extinção, 1964, início de um governo ditatorial, diretamente interessado na consumação desse fato, favoreceu ainda mais que a amnésia do tempo acelerasse o processo de esquecimento. principais autoridades da Província, foi iniciada a cerimônia de colocação dos primeiros trilhos feita pelos engenheiros Batista Weower e Moura de Campos sobre dois dormentes de mármore. Neles estavam gravados os seguintes dizeres: ESTRADA DE FERRO BELÉM - BRAGANÇA “Estrada de Ferro de Bragança” – Primeira estrada de ferro construída na Província do Pará, inaugurada em 24 de junho de 1883, sendo Presidente o Exmo.sr. General Visconde de Maracaju – Estrada de Ferro de Bragança – Organizada e construída por B. Caymari, sendo Engenheiro Chefe M. B. Batista; Primeiro Engenheiro H. E. Weower; Engenheiro Ignácio B. de Moura, A. O. R. da Costa Martin, F. Martin; Auxiliar H. Sholl; Contador Elkin Hime Júnior; Diretores da Barão de Mamoré, Otto Sinom e Michel Calógeras”. O assentamento do primeiro trilho, fixado com oito pregos de bronze prateado, cada um deles cravado por uma autoridade, dava início à construção da tão esperada ferrovia. A mãe natureza abria seus braços para

aqueles que a agrediam, rasgando suas entranhas, derrubando suas árvores seculares. Assim seguiam os cassacos, como foram chamados os desbravadores, com seus terçados, machados, picaretas e serras, abrindo picadas para o assentamento dos dormentes e dos trilhos. Paralelamente eram colocados os postes da rede telegráfica, responsável pela comunicação entre as estações. Dentre as muitas alterações acontecidas durante a construção da ferrovia, a primeira delas foi a mudança do lugar onde seria construída a estação de Belém, saindo da Av. Tito Franco (atual Almte. Barroso) com o Boulevard da Câmara (atual Dr. Freitas), para o Largo de São Brás (atual Praça Floriano Peixoto). Poucos são os que ainda lembram com detalhes a história de nossa ferrovia, quando muito, sabem apenas que havia uma estrada que se interpunha entre Belém e Bragança, por aonde um trem ia e vinha. A história foi relegada; o delicado momento de sua extinção, 1964, início de um governo ditatorial, diretamente interessado na consumação desse fato, favoreceu ainda mais que a amnésia do tempo acelerasse o processo de esquecimento. Os trilhos foram arrancados, as magníficas estações construídas ao longo de todo o percurso, símbolos arquitetônicos da cultura moderna que fazia parte da revolução mecânica, foram covardemente demolidas e devastadas pela força insensata e irresponsável de uma outra revolução. O abandono irresponsável de um incalculável patrimônio da Rede Ferroviária Federal, que somente a partir de 2007, começou a ser levantado pelo IPHAN, ou seja, 46 e seis anos depois do acometimento dessa insanidade, já seria suficiente, entretanto, a desarticulação da agricultura, responsável pela economia de todo o nordeste do Pará, o abandono do povo e suas lavouras que se perderam sem ter como escoar, as cidades e vilarejos que eram tocados única e exclusivamente pelo trem e que tiveram que rasgar caminho até alcançar a rodovia que passava á quilômetros de seus centros, transformou-se em cicatrizes perenes. A região estacionou no tempo por quase trinta anos, transformando a realidade que parecia um sonho, em pesadelo. Apenas a fumaça paira teimosamente no céu, confundindo-se com as nuvens, avistada pelos sonhadores que ainda vêem e escutam o trem e seu apito.

INAUGURAÇÃO DO PRIMEIRO TRECHO

Em 09 de novembro de 1884, aconteceu a viagem inaugural do primeiro trecho, um percurso de 33 quilômetros entre as estações de Belém e Benevides, com o tempo de 1h08min. Nesse mesmo trecho foram construídas as paradas e as estações ferroviárias


Antiga Estação de Trem em São Brás - Belém

Antiga Estação de Trem na XVI de Novembro - Belém

Cassacos

de Entroncamento e Ananindeua. Era uma bela manhã de domingo. O primeiro trem saiu exatamente às 8h00 da manhã e o segundo as 14h00, conduzindo autoridades e convidados das esferas política, social e administrativa, dentre eles o Presidente da província, o Conselheiro João Silvestre de Sousa, o Bispo Dom Antônio de Macedo Costa, Corpo Diplomático residente em Belém, os engenheiros Weower, Moura de Campos, entre outros, e as classes empresarial e social como um todo. Coube ao Engenheiro Pinto Braga, diretor da colônia, organizar todo o cerimonial da festa e receber os convidados. O destaque da festa ficou coube ao Engenheiro Bernardo Caymari, que apesar de não estar presente naquele grande acontecimento, por motivo de doença, encaminhou, através do Conselheiro Tito Franco, Presidente do Clube Amazônia, ao seu representante Domingos Olímpio, cartas de alforria, concedendo liberdade a vinte escravos residentes na região, comungando com os acontecimentos de 30 de março de 1884, quando foram libertados seis escravos em uma solenidade presidida pelo Presidente da Província Visconde Maracaju, gerando uma conotação com repercussão nacional, facultando a Benevides o honroso título de “A terra da liberdade” e traduzindo o espírito fraternal e humano dos quais os responsáveis por tão grande obra estavam revestidos. Para se imaginar o grande passo que havia sido dado, basta comparar o tempo de oito horas que se gastava através de rio e mata única forma de acesso, até então, para se chegar a Benevides, com o tempo do trem. No retorno a capital às proximidades do quilômetro 14, entre Marituba e Ananindeua, por volta das 17h30m, aconteceu o primeiro descarrilamento na Estrada de Ferro de Bragança. O acidente foi provocado devido uma chave da agulha do desvio, que funcionava nesse local, achar-se meio aberta, provavelmente devido à ignorância de algum transeunte. O acidente provocou o recurvamento de dez metros de trilhos e dormentes, obrigando os passageiros a retornarem a Benevides, e outros, prosseguirem a pé até Belém, numa estafante viagem de 5h. Quatro meses depois da inauguração do primeiro trecho, os trilhos chegaram a Santa Izabel, sendo em 16 de março de 1885 aberta ao público. No final do mesmo ano, chegou ao Apeú. Chegada dos trilhos a Bragança: 29 de março de 1908. Inauguração de E. F.B. 03 de abril de 1908. www.revistapzz.com.br 57


Antiga Estação Ferroviária da Vila Pinheiro Em 1869, o local onde hoje se encontra Icoaraci foi registrado e loteado ainda com o nome de Vila Pinheiro. Só em 1943 o nome Icoaraci foi oficializado, depois da vila ter se tornado distrito de Belém no ano de 1938. O edifício foi inaugurado em 1906 para servir de estação principal do Ramal de Pinheiro e está situado no quilômetro 22, a partir da Estação do Entroncamento. Depois de desativada a função de estação no edifício, em 1964, este serviu para abrigar um mercado municipal, até 1978. Hoje encontra-se completamente abandonada.

Antiga Caixa Dágua da Ferrovia e Oficinas - MARITUBA A área onde hoje se situa o Município de Marituba, nasceu como vila operária da estrada de ferro, constituindo-se nas duas últimas décadas do século XIX. Possui diversas edificações que de alguma forma estão relacionadas à Antiga Estrada de Ferro de Bragança, como caixa d’água, oficinas, casa dos operários, garagem de locomotivas e marco. A Caixa d’água é uma edificação que juntamente com as construções citadas anteriormente formam um conjunto arquitetônico e situa-se à margem da Avenida Fernando Guilhon, sendo ladeada por praças, residências e comércios. Representa um dos principais símbolos do município.

Antiga Estação ferroviária do Apeú O edifício da antiga estação ferroviária foi inaugurado em 1885 como ponta de trilhos da estrada de ferro, até então com 61Km. É uma edificação isolada que se situa à margem da Avenida Barão do Rio Branco, sendo ladeada por praças e residências. Está implantada no terreno com sua maior dimensão na fachada frontal, voltada para a praça e a fachada posterior voltada para a Avenida Barão do Rio Branco. Esta avenida originalmente advém da estrada de ferro, portanto sua atual configuração mostra o percurso do trem e seu desvio. A estação foi o motivo do crescimento do comércio, configurando-se como núcleo da vila.

Ruínas da Antiga Estação ferroviária de Moema Sem informações sobre os detalhes desta construção, somente deduções podem ser tiradas das ruínas e dos relatos encontrados em fontes bibliográficas. De acordo com essas mesmas fontes, tal edificação era, talvez, uma das mais requintadas de toda a Estrada de Ferro de Bragança, talvez pelo fato de que se tratava da parada do Retiro Moema, onde ficava a casa de veraneio do Intendente da Capital na época, Senador Antônio Lemos. Assim como as edificações do seu entorno (chalé e capelas) a qualidade deveria estar nos materiais e acabamentos da antiga estação, provavelmente na cobertura com lambrequim diferenciado das demais estações, que não pode ser comprovado, pois a edificação está em ruínas.

Antiga Estação ferroviária de Santa Isabel Em Santa Izabel foram inauguradas três estações, a primeira com a chegada da estrada de ferro em 1885 construída em taipa, substituída em 1907 por uma totalmente importada da Inglaterra. Na década de 1950, por falta de manutenção, foi demolida e a nova estação foi construída em outro endereço. A estação já foi sede do Rotary Club junto com o SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto), posteriormente Casa da Amizade e Biblioteca, e atualmente abriga uma escola de ensino infantil.

Ruínas de Ponte sobre o Rio Marapanim O Município de Anhangá, hoje São Francisco do Pará, iniciou-se com a chegada da estrada de ferro, possivelmente em 1897, ano em que foi aberto o trecho Apeú-Jambu-Açu. Em 1963 o município passou a se chamar São Francisco do Pará, porém, já em 1944 era considerado município. Hoje o que resta da ponte é apenas o embasamento em pedra de ambas as margens do igarapé. As medidas das bases são 4,80 x 5,40 , com altura de 4 metros.

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Antiga Estação Ferroviária de Nova Timboteua

Antiga Estação ferroviária de Tauari Foi inaugurada no dia 1° de janeiro de 1908 no km 191 a primeira estação de Tauari, sendo o conjunto ferroviário local composto, ainda, por um desvio e duas casas geminadas para funcionários da estação. O prédio da antiga estação existente hoje substituiu a edificação anterior e possui estilo de características do ecletismo simplificado. Tauarí tem seu nome originário do grande número de árvores tauarizeiro no início da ocupação da vila, que em 1906 possuía somente quatro moradores caboclos. Os nordestinos foram os primeiros imigrantes a chegarem, ainda na primeira década. Com a implantação e o advento da ferrovia a economia mostrou mudança com a instalação das primeiras casas comerciais, junto com a facilidade de transporte para escoar a produção de arroz, algodão, milho e feijão. Assim também era a facilidade de acesso à região, na década de 1920 chegam os estrangeiros advindos principalmente do Líbano, Turquia, Portugal e Espanha.

Mercado Municipal de Igarapé -Açu No ano de 1932, oGovernador Barata visita a cidade de Igarapé-Açu , deu ordem ao Intendente coronel La Roque, para demolir o mercado municipal construído no ano de 1919 em paredes de tábuas, já que este prédio encontrava-se em péssimas condições de uso. Em Igarapé-Açu havia uma estação do trem com um grande número de pessoas que ali passavam em viagem, e por isso não poderia ter um mercado municipal em situações precárias em que se encontrava. O coronel La Roque achou bem entregar uma foto de um prédio, que o mesmo fotografou em uma das suas visitas a Suíça ao Engenheiro da Secretaria de Obras do Estado do Pará o suíço Schumandek, para ser o modelo do novo Mercado Municipal. Realizadas as devidas adaptações na confecção da planta, o engenheiro Schumandek deu inicio a construção do mercado. Após oito anos, ou melhor, em oito de junho de mil novecentos e quarenta (08/06/1940), o Prefeito JoséGermano de Melo inaugura o novo Mercado Municipal.

Antiga Ponte de Ferro sobre o rio Jambu-Açu A Vila de Jambu-Açu, que deu origem ao Município de Igarapé-Açu, era também ponto de parada das locomotivas. A vila, que existe até hoje, situa-se ao longo da PA-320, tendo fim no igarapé onde está localizada a ponte, esta por sua vez, é um elemento isolado, implantado paralelamente à PA-320, no local onde, obviamente, seguia a Antiga Estrada de Ferro de Bragança. Em seu entorno encontra-se a vila, no sentido Bragança-Belém, e áreas descampadas no sentido oposto. A ponte apresenta uma composição rítmica, com simetria rígida, em decorrência da padronização das peças de sua estrutura.

Antiga Estação Ferroviária de Peixe Boi Estação Ferroviária de Peixe-Boi foi inaugurada em 1° de março de 1907, no quilômetro 163. Esta era do tipo 3ª classe constituída por um triângulo de reversão, desvio de 150 metros e caixa d’água com bomba. A edificação esta implantada num terreno levemente inclinado, que aumenta sua cota em direção ao rio e ao norte. A construção fica na esquina da Rodovia Pa-242 (Avenida Marechal de Ferro) com a Travessa Plácido de Castro. Essa é atualmente usada como centro comercial municipal e sindicato dos trabalhadores rurais, no qual também funcionou um gabinete odontológico inaugurado no ano de 1998. O estado de conservação geral da antiga estação é bom, apesar das modificações adotadas para a adaptação aos novos usos.

Ruínas de Ponte sobre o Rio Marapanim O Município de Anhangá, hoje São Francisco do Pará, iniciou-se com a chegada da estrada de ferro, possivelmente em 1897, ano em que foi aberto o trecho Apeú-Jambu-Açu. Em 1963 o município passou a se chamar São Francisco do Pará, porém, já em 1944 era considerado município. Hoje o que resta da ponte é apenas o embasamento em pedra de ambas as margens do igarapé. As medidas das bases são 4,80 x 5,40 , com altura de 4 metros.

Em 1888, Serafim dosAnjos Costa requereu junto ao governo provincial área de terras onde hoje se localiza a sede municipal de NovaTimboteua. O local atraiu novos moradores e em 1892 o núcleo já estava instalado. O Povoado de Timboteua foi reconhecido em 1895, porém a população entrou em decadência eopovoadoacabouseextinguindoem1906,emfunção da construção da Estrada de Ferro de Bragança, que passava a alguns quilômetros dali.Com a estação ali erigida, surgiu um núcleo às margens da estrada de ferro, que foi denominado de Tabuleta, por causa da existência de um marco da quilometragem da via férrea. A estação, no entanto, já se chamava Timboteua desde a inauguração. Era esta, aliás, a estação mais alta de todas as da rede bragantina: estava a 50 metros de altitude. Em 1915, devido ao progresso,Tabuleta atingiu a condição de povoado. Essa denominação não perdurou, optando os moradores pela nomenclatura de NovaTimboteua, para diferenciar da “velha” Timboteua. O Município de Nova Timboteua foi criado em 1943. A estação é uma edificação isolada que se situa à margem da Avenida Barão do Rio Branco, sendo ladeada por praças, residências e pontos comerciais.

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PZZ BRAGANÇA / TURISMO Sidney Oliveira / Ag. Pará Foto: JMConduru Sidney Oliveira / Ag. Pará

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Antiga Caixa D´água Ferroviária - Livramento O Distrito de Livramento localizado no Município de Igarapé-Açu / PA, tem esse nome devido ao rio que corta o local, entretanto, o rio que outrora foi conhecido pelo nome de Livramento, hoje é denominado Maracanã. A estrada de ferro chegou na localidade no ano de 1906, logo pressupõe-se que a caixa d’água data-se da mesma época. A caixa d’água está situada na margem esquerda do Rio Maracanã, junto à ponte, e com esta, formava o conjunto de equipamentos necessários para a continuação das viagens, já que a água que armazenava servia para encher as caldeiras das locomotivas. Seu partido arquitetônico é simétrico, sua volumetria corresponde a pé-direito duplo, com 7,15 metros. A estrutura é formada por 4 pilares delgados de seção retangular, travado por um vigamento quadrado, que a partir do solo seguem em direção ao centro da caixa, sendo interrompidos por um vigamento circular, que sustenta a base da caixa d’água propriamente dita, também circular. Toda a estrutura é em concreto armado.

Antiga Ponte da Estrada de Ferro sobre o Rio Livramento A ponte está situada sobre o Rio Maracanã, que alaga as suas margens nos primeiros meses do ano. Forma conjunto com a caixa d’água em concreto armado que está situada em uma de suas cabeceiras. Seu partido é retangular, apresentando simetria formal rígida. Sua volumetria corresponde a uma altura de 4,50 metros em sua parte mais alta, os pilares em concreto. Sua estrutura de embasamento é em pedra e concreto. Nas margens encontram-se estruturas de sustentação em concreto armado, de onde saem os pilares também em concreto que demarcam o ponto onde a ponte já não está mais em contato com o solo e atravessa o rio. Entre essas duas estruturas nas margens, estão localizadas as vigas longitudinais em ferro, que dão sustentação a toda a estrutura superior de fechamento lateral da ponte. Esta estrutura de fechamento lateral trata-se de peças metálicas que se cruzam e formam desenho geométrico constante e padronizado de acordo com o tamanho e disposição das peças. As peças que sobem verticalmente sem inclinação dão origem aos pórticos que se repetem por toda a ponte, de forma rítmica e simétrica.

Antiga Estação Ferroviária de Mirasselvas O Distrito de Mirasselvas antes da chegada da estrada de ferro já existia, porém se tratava de uma vila bastante pequena, com moradores basicamente advindos do nordeste e de algumas tribos indígenas. A estrada de ferro chegou naquela localidade no ano de 1908, ano em que foi construído o edifício que servira de estação. Apresenta volumetria constituída por um único pavimento, com pé direito de aproximadamente 5,45m (não possui mais o forro). Seu partido é regular, e originalmente a planta era simétrica. Hoje, pelas alterações sofridas devido às reformas a planta não apresenta esta simetria, apesar de volumetricamente ainda manter essa característica. A edificação é eclética, com pequena influência art decò, perceptível em seu sobressalto na volumetria central e sua marquise em concreto.


Inauguração de E.F.B. 03 de abril de 1908. (relato).

Antiga Estação ferroviária de Bragança A estrada de ferro chegou a Bragança no ano de 1908, com a conclusão das obras dos trilhos e da Estação de Bragança da Estrada de Ferro de Bragança. A ruína está situada no interior de uma obra de uma grande rede de lojas do Pará, estando situada à Avenida Nazeazeno Ferreira, s/n°. Algumas características como o tipo de tijolo, o embasamento e alguns materiais achados, além de relatos, dão conta que ali naquele local de fato se situava a antiga estação.

Às 23 horas do dia 2 de abril de l908, o Senhor Governador Augusto Montenegro partiu em comboio especial, de uma parada na Gentil Bittencourt com a 22 de junho, com destino à Bragança, acompanhado de sua comitiva. Às 6 horas e 45 minutos, o trem se aproximou de Bragança. Antes mesmo de entrar na cidade, o povo se aglomerava às margens da estrada, saudando o governador, que, postado na plataforma, agradecia com efusivos gestos. Todos reunidos, no final da linha férrea o Senhor Comendador José Barbosa dos Santos Sobrinho pela firma Pereira e Barbosa & Cia., falou, dirigindo-se ao Governador Augusto Montenegro: “Como acabais de verificar, a firma Pereira e Barbosa & Cia. chegou com os trilhos da Estrada de Ferro de Bragança até seu ponto terminal. Deixou ela de colocar o último grampo para que seja colocado por V. Exª., para cujo ato vos convido, felicitando-vos por ter sido no governo de V. Exª. que esta grande obra teve fim.” Numa salva de prata, o Visconde de Monte Redondo ofereceu ao Governador um grampo e um martelo de prata, colocando o Dr. Augusto Montenegro o grampo no dormente. Feito isso, o Desembargador Santos Sobrinho retirou o grampo do dormente para em seguida colocá-lo em um estojo de madeira, sobre cuja tampa se lia os seguintes dizeres: *Conclusão da Estrada de Ferro de Bragança, saudações dos construtores do último trecho, Pereira Barbosa & Cia., ao Exmo.sr. Governador do Pará Dr. Augusto Montenegro*. Terminado esse ato, o governador Augusto Montenegro falou que era com o mais vivo prazer que realizava naquele momento o último ato de assentamento dos trilhos da Estrada do Ferro de Bragança. Acrescentou que desde 1875 se cuidava levar aquelas duas fitas de aço até a importante e rica cidade de Bragança. Agradeceu o auxílio prestado pela firma construtora e os esforços do Dr. Inocêncio Hollanda, engenheiro chefe de obras. Terminou o seu discurso brindando o povo. Encerrada a sessão, foram erguidos vivas ao Governador e ao Senador Antônio Lemos.

EXTINÇÃO DA ESTRADA DE FERRO ra; 18 – Joaquim Távora; 19 – Timboteua; junto ao Governo dos Estados Unidos foO déficit da ferrovia foi a grande arma encontrada pelo Ministro da Aviação, General Juarez Távora, no Governo Militar do também general, Humberto de Alencar Castelo Branco, para justificar sua assinatura no ato que extinguiu a Estrada de Ferro de Bragança no ano de 1964. Apesar de toda a luta do povo bragantino, dos políticos da terra e do Estado como um todo, o Governo Federal não abriu mão de sua decisão e, de maneira inflexível, determinou a data máxima para o funcionamento da ferrovia: 31 de dezembro de 1964. De acordo com os relatórios do Coronel Roberval Silva Presidente do Grupo de Trabalho da Estrada de Ferro de Bragança, relacionamos os números e respectivos nomes das locomotivas existentes na época da extinção da Estrada de Ferro. Trinta locomotivas, sendo quatro a diesel não identificadas. 1 – Santa Izabel; 2 – Belém; 3 – Crespo de Castro; 4 – São Braz; 5 – Lauro Sodré; 6 – Pará; 7 – Apeú; 8 – Bragança; 9 – Peixe Boi; 10 – Caripi; 11 – Jambu-Açú; 12 – Quatipuru; 13 – Maracanã; 14 – Pinheiro; 15 – Augusto Montenegro; 16 – Marituba; 17 – Sá Perei-

21 – Açaiteua; 22 – Desmontada; 23 – Rio Branco; 24 – Anhanga; 25 – Capanema; 26 – Cametá; 27 – José Serrão; 28 – Castanhal; 29 – Igarapé-Açu; 30 – Tauarí.

O levantamento da situação econômica das ferrovias do Brasil, realizado a partir de 1964, no Governo de Juscelino, tinha com resultado o déficit de todas elas. Apesar do plano de metas do referido governo ser: “Quanto Mais rodovias, maior o desenvolvimento”, as ferrovias foram mantidas. O presidente Janio Quadros em seus discursos de campanha na Capital Paraense e em Bragança, assumiu o compromisso de revitalizar e manter a Bragantina, chegou inclusive a enviar quatro locomotivas a diesel, renunciando logo depois. O país vivia um momento de transição política com a subida ao poder do regime militar. 31 de março de 1964 determinava o marco inicial do Governo Ditatorial, o Presidente Humberto Castelo Branco é empossado, para em seguida, dois meses depois, autorizar a extinção de Estrada de ferro de Bragança. A subserviência e a dependência do Brasil

ram determinantes para a extinção da nossa ferrovia. Os americanos estavam produzindo transportes automotivos em grande escala, precisava vendê-los, e a custo do sacrifício do mais importante meio de transporte de nosso Estado, a Estrada de Ferro de Bragança, o Pará foi o escolhido para receber a frota de veículos americanos. Diversas justificativas foram feitas: “A ferrovia deficitária era apenas de transporte de cargas”, ou “A Belém Brasília estava chegando para interligar o Pará ao resto do Brasil”. A covardia insana de nosso governo, não se preocupou com a população, com a produção agrícola das várias colônias que se estendiam de Belém a Bragança, que a partir da extinção, perderam-se por falta de transporte para escoá-las, obrigando o agricultor a abandonar o campo e mudar para a área urbana em busca de outra forma de sobrevivência. No dia 31 de dezembro de 1964, a “Maria Fumaça” fez sua última viagem, seu apito soava com lamento de despedida, restando apenas: “NO CÉU A FUMAÇA E AS MARCAS DOS TRILHOS NO CHÃO”. www.revistapzz.com.br 61


Israel Pegado / Edna Moura / Lázaro Magalhães

ROTA TURÍSTICA Rota Turística Histórica e Cultural Belém-Bragança cria eixo de desenvolvimento econômico no Estado. A Setur preparou o Mapa de Oportunidades de Negócios da Rota belém bragança, que será feito com base nas informações documentais e pesquisas de campo dos inventários das oferta turística dos 13 municípios que compõem a rota.

Ponte da Estrada de Ferro sobre o Rio Livramento 62 www.revistapzz.com.br


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FOTO: FLAVIO CONTENTE

A

Rota Turística Belém-Bragança é um processo que passa pela organização do Estado, mas fundamentalmente do empresário e do cidadão, no que possa significar desenvolvimento, a partir de uma estratégia, que traz impactos positivos para a economia local. A ideia é que o fluxo que passa pela BR-316 possa ser desviado para os atrativos dos municípios, através da sinalização turística, promoção e divulgação da rota, além de informações disponibilizadas a partir de aplicativos móveis, que servirão para estimular e motivar as pessoas a conhecerem esses destinos. As oportunidades de negócios são muitas. Incluem restaurantes, cerâmica, pontos de venda de artesanato, hortifrutigranjeiros, especiarias como queijo caseiro, compotas, entre outros e balneários com infraestrutura de serviços, que poderão se beneficiar diretamente com um tempo de permanência maior dessas pessoas em seus municípios. O turismo é um setor que agrega valor na maioria das demais atividades produtivas, e abrirá inúmeras oportunidades aos 13 municípios que compõem a rota. “Uma rota turística, como a Belém-Bragança que estamos construíndo, precisa ser trabalhada sob a ótica do tempero cultural, porém deve ser também dimensionada numa visão da paisagem, dos produtos que possam ser adquiridos e daqueles que possam ser consumidos. Trata-se, na realidade, de desenvolver um trabalho sob o princípio da economia e da mobilidade das pessoas. Neste sentido, é fundamental a participação de empresários, em todos os seus níveis, através das associações comerciais, no fortalecimento dos negócios já existentes e naqueles que ainda possam ser criados”, explica o secretário de Estado de Turismo, Adenauer Góes. Além do mais, a Rota Turística Belém-Bragança, no próprio nome das cidades de seu início e fim de percurso, já denota os fortes laços e as relações existentes entre o Pará e Portugal. São heranças da chamada Amazônia Lusitana. Como é de notório conhecimento histórico, no começo do século 17 várias potências europeias brigavam pela posse de colônias além-mar. A Coroa Portuguesa então determinou o envio de uma expedição à foz do rio Amazonas, com vistas a consolidar a sua posse sobre a região em três embarcações, sob o comando de


PZZ BRAGANÇA / TURISMO

“Uma rota turística, como a BelémBragança que estamos construíndo, precisa ser trabalhada sob a ótica do tempero cultural, porém deve ser também dimensionada numa visão da paisagem, dos produtos que possam ser adquiridos e daqueles que possam ser consumidos. Tratase, na realidade, de desenvolver um trabalho sob o princípio da economia e da mobilidade das pessoas. Neste sentido, é fundamental a participação de empresários, em todos os seus níveis, através das associações comerciais, no fortalecimento dos negócios já existentes e naqueles que ainda possam ser criados”, explica o secretário de Estado de Turismo, Adenauer Góes.

Adenauer Góes. Francisco Caldeira Castelo Branco. No dia 12 de janeiro de 1616, as embarcações ancoraram na baía de Guajará, onde foi fundado o Forte do Presépio, núcleo da atual cidade de Belém, capital do Pará. Isolado do resto do Brasil por séculos, o Pará sempre foi o estado brasileiro mais ligado a Portugal. Quase 15% dos municípios do Pará (16 de 144) foram fundados por portugueses com a exata mesma denominação de cidades e vilas portuguesas. São cidades do Pará e também de Portugal, por exemplo: Santarém, Bragança, Soure, Faro, Viseu, Aveiro, Almerim, Chaves, Ourém, Óbidos, Oeiras, entre outras. E os municípios paraenses de Monte Alegre e Vigia são vilas de Portugal. Fora que Belém é um bairro de Lisboa. Aliás, Belém do Pará possui um raro acervo dessa herança portuguesa no Feliz Lusitânia, complexo turístico composto pelo Forte do Presépio, Praça Dom Frei Caetano Brandão, Palacete das Onze Janelas, Museu de Arte Sacra e Catedral Metropolitana de Belém.

PRODUÇÃO ASSOCIADA

A estratégia impacta em vários segmentos da atividade turística. Um deles, o turismo rural, vem se destacando com o incentivo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), que desenvolve atividades nos âmbitos municipais atendendo contextos geopolíticos e vocações naturais, de 64 www.revistapzz.com.br

Programa Emater na Rota. forma a melhorar a qualidade de vida do produtor rural. A Emater mapeou propriedades rurais familiares com potencial turístico, propôs a implantação de um sistema de informações geográficas para o turismo rural, participou de oficinas com o objetivo de identificar princípios orientadores, diretrizes e fontes de captação de recursos, entre outros pontos, para a promoção do desenvolvimento do setor. Dentro desse trabalho, a criação da Rota Turística da antiga estrada de ferro Belém-Bragança destaca-se como um

programa importante na consolidação do desenvolvimento do Turismo Rural, seja na comercialização de produtos agrícolas, como na revitalização da identidade e da história do território cortado por ela, agregando potencialidades turísticas, produtivas, culturais e ambientais. A Emater identificou vários pontos de comercialização de produtos agrícolas na Rota Belém-Bragança, cujos fornecedores são orientados constantemente a melhorar o desempenho produtivo. No âmbito da produção agropecuária foram pontuadas, na rota, potenciais ativida-


des em Marituba, Benevides, Castanhal, Santa Izabel do Pará, São Francisco do Pará, Igarapé-Açu, Nova Timboteua, Peixe-Boi, Capanema, Tracuateua e Bragança, com circuito estendido até Salinópolis e São João de Pirabas. Para facilitar a comercialização destes produtos, a Setur criou a Cesta Feira do Turismo, um evento itinerante, que reúne produtos hortifrutigranjeiros e o artesanato dos pequenos produtores dos municípios da Rota Turística Belém -Bragança e circuitos turísticos agregados, realizado no Parque da Setur, a cada dois meses, na última sexta-feira do mês. Na feira, os consumidores da capital paraenses encontram frutas, molho de pimenta, maniva, macaxeira, tucupi, limão galego, pato, casadinho (cheiro verde, cebolinha e chicória), couve, mel, própolis, farinha, panela de barro, licor, doces caseiros, entre outras iguarias da culinária local, produzidas em municípios como Marapanim, Bragança, Santa Bárbara, Igarapé-Açu e Capanema. A Cesta Feira do Turismo é aberta ao público em geral e permite aos moradores da capital e visitantesum canal de vendas permanente com produtos de qualidade, sem a figura do atravessador, tornando a relação custo-benefício vantajosa e atraente.

A iniciativa busca gerar oportunidade de negócios e renda para trabalhadores agrícolas de 28 municípios do estado, com a comercialização da produção associada ao turismo, que é realizada nesse eixo econômico composto pelo Polo Belém e Polo Amazônia Atlântica. A ação é resultado de uma parceria entre a Secretaria de Estado de Turismo (Setur), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e Núcleo de Gerenciamento Pará Rural. “Queremos que dar conhecimento às pessoas daquilo que chamamos de produção associada ao turismo, que temos nos municípios da Rota Turística Belém -Bragança. A proposta da Cesta Feira do Turismo é fazer este link, garantindo que os produtos comecem a ter para eles a vantagem de empreender em turismo. É uma ação indutora para geração de negócios nestes locais. Levar com o turismo o fluxo de pessoas para consumir os produtos da rota, mas também apresentar os atrativos desta região e, claro, despertar a vontade no consumidor de também conhecer esses locais”, explica a diretora de Políticas em Turismo da Setur, Fátima Gonçalves.

A criação da Rota Turística da antiga estrada de ferro Belém-Bragança destacase como um programa importante na consolidação do desenvolvimento do Turismo Rural, seja na comercialização de produtos agrícolas, como na revitalização da identidade e da história do território cortado por ela, agregando potencialidades turísticas, produtivas, culturais e ambientais.

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Programa Emater na Rota - Bragança

Programa Emater na Rota - Bragança

Governo do Estado investe em moradia na Rota

Curso Boas Práticas e Manipulação de Alimentos

QUALIFICAÇÃO

Um total de 2.548 trabalhadores da cadeia produtiva do turismo foi capacitado em 2016. Este foi o resultado obtido pela Setur no trabalho de qualificação da mão de obra local nos polos turísticos paraenses. A consolidação da estratégia de desenvolvimento econômico no eixo da Rota Belém-Bragança foi preponderante para os números finais, com a capacitação de 2.131 profissionais. O processo de capacitação, que envolve palestras e aulas teóricas e práticas dos cursos ministrados, alcançou 19 municípios: Belém (incluindo os distritos de Icoaraci e Mosqueiro), Ananindeua, Marituba, Bragança, Capanema, Castanhal, Igarapé-Açu, Salinópolis, Santa Maria do Pará, Barcarena, Canaã dos Carajás, Soure, Salvaterra, Peixe-Boi, Nova Timboteua, Ponta de Pedras, São Francisco do Pará, Tracuateua e Maracanã. Entre os cursos oferecidos pela Setur, por meio do Programa Estadual de Qualificação do Turismo (Peqtur), em 2016, estão Cozinha Brasil, Projeto Vigilância e Saúde, Gestão de Pequenos Negócios Turísticos, Oficina de Contação de Estórias, Qualidade no Atendimento ao Turista, Garçom e Garçonete, Oficina de Literatura e Cordel, Cozinha Regional, Projeto Biizu, Policiamento Turístico, Con66 www.revistapzz.com.br

dutor de Trilhas e Caminhadas, e Monitor de Turismo Religioso. Para execução do programa, a Setur conta com parceiros considerados primordiais para o êxito e credibilidade dos cursos, visando o crescimento organizado do setor de turismo. Entre eles estão a Agroindustrial Palmasa S. A., Associação Ecoilha, Capitania Dos Portos, Fundação Escola Bosque, Hiléia Indústrias e Produtos Alimentícios S. A., Marinha do Brasil, Pará 2000, Perfumaria Chamma da Amazônia, BPA, Cibrasa e Faam, além das secretarias municipais de Turismo e das agências distritais. A gerente de Qualificação Profissional e coordenadora do Peqtur, Flávia Lima, enfatiza o mérito do programa e a relevância dos parceiros. “O maior desafio em 2016 foi superar as dificuldades financeiras que o Brasil e o mundo atravessam, levando cursos de qualidade que transformam os trabalhadores em autônomos na área do turismo, pois sem qualificação não há como entrar no mercado e não há como visualizar oportunidade de trabalho. Sem os parceiros não teríamos alcançado estes números expressivos para situação econômica do país”, diz. O Peqtur é um dos instrumentos que integra o Plano Estratégico de Turismo do Estado do Pará, o Ver-o-Pará, que tem como objetivo a qualificação de profis-

“Queremos que dar conhecimento às pessoas daquilo que chamamos de produção associada ao turismo, que temos nos municípios da Rota Turística Belém-Bragança. A proposta da Cesta Feira do Turismo é fazer este link, garantindo que os produtos comecem a ter para eles a vantagem de empreender em turismo. É uma ação indutora para geração de negócios nestes locais. Levar com o turismo o fluxo de pessoas para consumir os produtos da rota, mas também apresentar os atrativos desta região e, claro, despertar a vontade no consumidor de também conhecer esses locais”, explica a diretora de Políticas em Turismo da Setur, Fátima Gonçalves.


Setur entrega Inventário Turístico nos municípios da Rota.

Seminário: Conhecendo a Rota Turística

Reunião da Setur e Prefeituras de Marituba, Benevides e Santa Izabel.

O Peqtur é um dos instrumentos que integra o Plano Estratégico de Turismo do Estado do Pará, o Ver-o-Pará, que tem como objetivo a qualificação de profissionais para melhorias, quantitativas e qualitativas, no setor de turismo do Estado, além de geração de emprego e renda. Desde de 2011, quando foi criado, o programa já capacitou mais de 16 mil profissionais ligados direta ou indiretamente a cadeia produtiva do turismo. Reunião da Setur e Prefeitura de Igarapé-Açú www.revistapzz.com.br 67


PZZ BRAGANÇA / TURISMO

sionais para melhorias, quantitativas e qualitativas, no setor de turismo do Estado, além de geração de emprego e renda. Desde de 2011, quando foi criado, o programa já capacitou mais de 16 mil profissionais ligados direta ou indiretamente a cadeia produtiva do turismo. Neste ano, a secretaria já iniciou cursos que incluem os segmentos de cultura, natureza e negócios. São eles: Qualidade no Atendimento ao Turista, Manipulação de Alimentos, Hospitalidade Turística, Cozinha Brasil, Atendimento e Informações Turísticas para Taxistas, Gestão de Negócios, Boas Práticas na Manipulação de Alimentos, Monitor de Turismo Cultural, Circuitos Religiosos e Condutor de Trilhas e Caminhadas. Todos beneficiando, de uma forma ou de outra, o eixo econômico da Rota Turística Belém-Bragança. Para o historiador Leôncio Siqueira, de certa forma a rota turística contribui para reproduzir o desenvolvimento econômico que a extinta ferrovia Belém-Bragança permitiu entre 09 de novembro de 1884, quando teve seu primeiro trecho inaugurado, até 30 de dezembro de 1964, quando foi desativada. “Historicamente, a estrada de ferro nasceu para escoar a produção dos municípios que a compõem a região, mas acabou por se transformar num corredor de desenvolvimento, através da troca de informações, conhecimento, mercadorias e a interação de pessoas”, conclui ele.

Hortfruti

ROTEIRO DE VIAGEM

O passeio rodoviário na rota já é considerado patrimônio cultural e imaterial dos paraenses. E recentemente, com investimentos da Setur, ganhou sinalização rodoviária, que orienta quem quer descobrir suas atrações. São 223 quilômetros, que podem ser percorridos preferencialmente sem pressa, e com muita atenção aos detalhes e atrativos espalhados por um percurso que se estende do Distrito de Icoaraci, e do Bairro de São Brás, em Belém, até o município de Bragança, no nordeste paraense. Quilômetro a quilômetro, e a cada palmo de pontes, velhos casarios e, por vezes, até ruínas, picadas na mata e trechos de terra batida – francos convites a

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Feijão Caupi


FOTO: SIDNEY OLIVEIRA/AG.PARÁ

Farinha de Bragança FOTO: SIDNEY OLIVEIRA/AG.PARÁ

CajuÁçú

Produção de mel e própolis

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almas mais aventureiras -, o que essa rota turística nos conta é a história da extinta Estrada de Ferro de Bragança, que nos áureos tempos do Ciclo da Borracha, no final do século XIX e início do século XX, ligou Belém a uma das mais antigas cidades da Zona do Salgado. A rota envolve 13 municípios, além de Belém e Bragança: nos trilhos da estrada de ferro se entrelaçaram também os caminhos de Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Izabel do Pará, Castanhal, São Francisco do Pará, Igarapé-Açu, Nova Timboteua, Peixe-Boi, Capanema e Tracuateua. E os atrativos e descobertas se espalham pela BR-316 (Belém a Castanhal), PA-320 (Castanhal a Igarapé-Açu), PA-242 (Igarapé -Açu a Capanema) e BR-308 (Capanema a Bragança).

HISTÓRIA SOBRE TRILHOS

Após 80 anos de funcionamento – o seu primeiro trecho foi inaugurado em 1884 -, a Estrada de Ferro de Bragança (EFB) foi melancolicamente desativada em 31 de dezembro de 1964, sob o peso da ditadura militar. Francamente alinhado com uma grande necessidade norte-americana de expansão dos mercados consumidores de automóveis em todo o planeta, o Brasil daquela época reverberava um ideário de modernidade, que via nas auto-estradas a redenção e nas ferrovias a representação máxima do atraso. Entre os maiores exemplos desse momento peculiar do Brasil estão os trilhos arrancados de todos os quilômetros iniciais da ferrovia, que partia de São Brás. Tudo para a construção da Avenida Almirante Barroso. Também são chocantes, nesses capítulos da história paraense, os registros de como comunidades inteiras, formadas ao longo do caminho férreo, foram simplesmente abandonadas, de um dia para o outro, sem conexão de transporte com o resto do Estado, após a extinção da circulação dos trens naquele último dia de dezembro de 1964. Populações inteiras ficaram ilhadas. “Muitos que partiram naquele dia para a capital não puderam mais voltar as suas cidades de origem”, conta o escritor e historiador paraense Leôncio Siqueira, autor do livro “Trilhos: o caminho dos sonhos”, que narra a história da Ferrovia Belém-Bragança.

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E sem notícias do que havia acontecido, muitas cidades tiveram que abrir novos caminhos e restabelecer, de novo, a comunicação com o Estado. São fatos que reverberam até hoje no ordenamento socioeconômico da região. “A Estrada de Ferro de Bragança surgiu num cenário único. Belém havia crescido 400% em pouco tempo, movida pela economia da borracha, e havia necessidade de suprir demandas alimentícias. Ao mesmo tempo, nossa agricultura estava esfacelada por acontecimentos que marcaram o século XIX, como a Cabanagem”, destaca Leôncio Siqueira. Foi assim que governos do Pará passaram a investir na formação de colônias agrícolas rumo ao nordeste paraense, sendo Benevides a primeira, com mais de 364 europeus instalados em 1865. “A estrada de ferro foi o motor desse desenvolvimento, criando comunidades que deram origem a diversos municípios, que hoje se estendem até Bragança. Transportando cargas e pessoas, foi um vetor de grande interação cultural e econômica”, afirma o escritor. De Belém a Castanhal – Resquícios dessas páginas da história do Pará ainda estão à disposição de olhares mais curiosos na própria Região Metropolitana de Belém, embora a maior parte dos vestígios tenha sido apagada - como a estação ferroviária, de onde partiam as locomotivas, em São Brás, demolida para dar lugar ao atual Terminal Rodoviário. Em Icoaraci, uma dessas raridades é o casario da antiga Estação Pinheiro, o ponto final do ramal da Estrada de Ferro de Bragança, que levava o trem de passageiros até o distrito. O velho prédio ainda pode ser visto na Praça da Matriz. Da mesma maneira, ainda resiste a centenária construção da Caixa D'Água de Marituba, com seus serenos pilares marcados por arcos, à margem da agitada BR-316. Na época, as caixas d’água eram importantes no trajeto de toda a ferrovia porque a água era essencial para o funcionamento das locomotivas a vapor. Em Benevides e Santa Izabel, antigas estações e até velhas moradias de

Para o pesquisador Leôncio Siqueira, a rota turística contribui para reproduzir o desenvolvimento econômico que a extinta ferrovia BelémBragança permitiu entre 09 de novembro de 1884, quando teve seu primeiro trecho inaugurado, até 30 de dezembro de 1964, quando foi desativada. “Historicamente, a estrada de ferro nasceu para escoar a produção dos municípios que a compõem a região, mas acabou por se transformar num corredor de desenvolvimento, através da troca de informações, conhecimento, mercadorias e a interação de pessoas”, conclui ele.

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de empregados da ferrovia ainda podem ser vistas em prédios públicos, transformados em repartições, centros comerciais e até agências postais. A fazenda Moema também guarda ruínas. E para além das velhas estações desativadas, ruínas, caixas d’água e pontes de ferro que ainda podem ser visitadas ao longo da rota histórica da estrada de ferro, poucas relíquias dos trens que cruzavam o Estado no passado podem ser vistas em lugares públicos. Uma delas é o vagão que foi, no passado, inteiramente dedicado a servir de transporte para o governador Magalhães Barata pelo interior do Estado. Ele está preservado e permanece em exposição no Parque Residência, na Avenida Magalhães Barata, em São Brás. Outra raridade é a locomotiva Castanhal 28, a única, entre as várias que circulavam pela ferrovia, que pode ser visitada. A velha “maria-fumaça”, que passou a ligar Castanhal à rede ferroviária bragantina a partir de 1904, hoje está exposta em praça pública na “Cidade Modelo”. Ela pode ser conferida, detalhe a detalhe, no galpão especial instalado na Praça da Associação Comercial e Industrial de Castanhal, no Bairro Estrela. A partir de Castanhal, as diversas opções de banhos em igarapés e rios, intercaladas por belas estruturas remanescen-

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tes das estações, pontes e trilhos da estrada de ferro, fazem do trecho seguinte da Rota Turística Belém-Bragança o mais atrativo. Na PA-320, o destaque é a parada nas águas do igarapé que banha a localidade de Jambu-Açu, no município de São Francisco do Pará. Além das belezas do tranquilo balneário, é lá que fica a Ponte Invertida, construída totalmente em ferro, sobre as águas frias do Jambu-Açu. No trecho da PA-242, que liga Igarapé -Açu a Capanema, o destaque é a parada obrigatória na ponte de ferro sobre o rio Livramento, na comunidade quilombola de Nossa Senhora do Livramento. A estrutura de metal tem uma beleza peculiar, aliada a mais uma caixa d´água da ferrovia. Igarapé-Açu marca exatamente a metade do caminho para Bragança, e toda a extensão da rota histórica na PA-242 encontra-se em excelente estado. A estrada também está incluída entre as cinco prioridades de novos investimentos nas rodovias paraenses, previstos para os próximos dois anos. O Governo do Estado quer pavimentar seus outros 23 quilômetros, que ligam Santo Antônio do Tauá a Castanhal. Ainda na PA-242, enquanto Nova Timboteua e Peixe-Boi guardam mais duas estações ferroviárias, as caudalosas águas do Rio Peixe-Boi, e a bem cuidada área para veranistas, convidam ao banho refrescante

Locomotivas e Vagões

A locomotiva de nome Castanhal, assim como o vagão que se encontra atrelado a ela, percorreu os caminhos da Antiga Estrada de Ferro de Bragança, mas hoje repousa no Município de Castanhal, sob uma gare que não é a original e sim uma réplica construída na Praça do Estrela, já que a estação original ficava situada onde hoje é a Avenida Barão do Rio Branco. A locomotiva ali se encontra por esforço do Prefeito Pedro Mota, que lutou para que ela permanecesse na cidade após o término da ferrovia. A locomotiva e o vagão são os únicos objetos no entorno que se relacionam diretamente à estrada de ferro, e atuam como elemento decorativo na praça. O número exibido na frente da locomotiva foi mudado, antes era o 24, agora aparece o 28. A locomotiva é toda em ferro, sendo composta basicamente de três partes principais: a base, onde estão as rodas; a caldeira, onde estão afixadas as peças que fazem parte do sistema de funcionamento a vapor; e a cabine do maquinista.


Sidney Oliveira / Ag. Parรก

Sidney Oliveira / Ag. Parรก

Flavio Contente

Flavio Contente

Simone Reis

Carlos Parรก

Adriana Lima

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PZZ BRAGANÇA / TURISMO

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FOTO: FLAVIO CONTENTE

em águas límpidas. A partir de Capanema, a rota histórica também guarda boas surpresas e diversidade de opções. Para os mais aventureiros há um trecho sem asfalto de 16 quilômetros, que leva à localidade de Tauari - onde encontramos outra estação desativada. São cerca de 40 minutos por uma trilha off-road de piçarra, que corta várias comunidades – sugerida apenas para quem partiu para o passeio com veículos aptos a vencer obstáculos naturais, como a lama. Também é possível chegar a Tauari pela BR-308 (o trecho final que leva a Bragança), em 22 quilômetros de asfalto. De Tauari, também por bons nove quilômetros de asfalto, se chega a um dos melhores balneários da Rota Histórica da Ferrovia Belém-Bragança. Na localidade de Mirasselvas, outra estação ferroviária pode ser encontrada – esta mais preservada -, mas a grande atração é o banho nas águas escuras, mas surpreendentemente cristalinas, do Rio Quatipuru. Ele é a penúltima oportunidade de banho sossegado em águas refrescantes antes de Bragança. O próximo balneário, Bucania, fica às margens da BR-308, e também se destaca pela beleza. As águas espelhadas do Rio Caeté contrastam com o movimento frenético do porto. Lá em cima, o casario e a Igreja de São Benedito ajudam o céu azul de Bragança a emoldurar a chegada de um novo dia. Com 120.124 habitantes, Bragança fará 403 anos de fundação no próximo dia 8 de julho. A fartura da pesca foi uma das principais redenções da região quando a bancarrota veio dos trilhos arrancados da extinta ferrovia. O mar é o melhor amigo da cidade, que no baú de tesouros dos bragantinos é a “Pérola do Caeté”. A recuperação completa do trecho de 37 quilômetros da PA-487, que liga Bragança à Praia de Ajuruteua, também foi incluída na lista de prioridades do Governo do Estado para os próximos dois anos. Já foram concluídas as obras de todas as pontes desse trecho, construídas em concreto. Agora será feito um novo recapeamento integral da estrada, que rasga a vasta região de mangue preservado. Tão preservado que não é difícil a viajantes, olhando pela janela, lembrarem da lenda de Ataíde – o ser mítico, de membros enormes, que espanta quem maltrata a natureza, na crença dos homens que ganham a vida na lama de Bragança, catando caranguejos.

Igreja da Comunidade Quilombola do Livramento


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PZZ BRAGANÇA /ECO TURISMO

CAMINHO DE NAZARÉ. A ROTA DA ESTRADA DE FERRO

Inspirado no Caminho de Santiago, José de Alencar, fez o Caminho de Nazaré pela extinta rota da ferrovia Belém Bragança no Nordeste paraense com a esperança de que peregrinos - de Nossa Senhora de Nazaré ou de Santiago - ou mochileiros sigam essa Rota, que tem tudo para motivar crentes e caminhantes. Além da fé e da peregrinação, história e cultura marcaram essa caminhada de sonhos. 76 www.revistapzz.com.br


C José de Alencar, desembargador do trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da Oitava Região (Pará e Amapá), atualmente aposentado. Foi Corregedor Regional e Presidente do Tribunal. Fez o Caminho de Santiago duas vezes (Caminho Francês e Caminho Aragonês) e a Trilha Inca Clássica. Motociclista fez duas vezes a Rota 65 (Chicago a Los Angeles). Rodou de Ananindeua a Ushuaia (Terra do Fogo, cidade mais austral do mundo) e de Ananindeua a Deadhorse, no Alaska). A caminhada teve o objetivo de demostrar a viabilidade de manter uma rota de peregrinação pela rota da antiga Estrada de Ferro de Bragança - EFB, em dez dias (nove pernoites). Na direção Bragança/ Belém seria o Caminho de Nazaré e na direção inversa seria o Caminho de São Benedito. A rota seria sempre pelo traçado da EFB. O modelo seria o mesmo do Caminho de Santiago, com uma credencial carimbada em cada paróquia por onde o peregrino fosse passando. Ao final da peregrinação receberia um documento da Arquidiocese ou da Diocese, confirmando o cumprimento da peregrinação para fins canônicos (pietatis causæ). Quem fizesse a caminhada por motivos não religiosos receberia um documento de boas-vindas.

omecei - e terminei a primeira etapa do Caminho de Nazaré, pela Rota da Estrada de Ferro de Bragança - EFB, que já era da RFFSA velha de guerra, quando me entendi. Confessadamente inspirado no Caminho de Santiago, vou fazer o Caminho de Nazaré com a esperança de que peregrinos - de Nossa Senhora de Nazaré ou de Santiago - ou mochileiros sigam essa Rota, que tem tudo para motivar crentes e caminhantes. Se não for sonhar muito, espero que ela um dia de torne também patrimônio imaterial do Nordeste Paraense. História e cultura é o que não falta. Falta assoprar as cinzas que recobrem as brasas. Hoje cedo parti da Parada 29 - eu sou do tempo em que parada era... parada (e de trem) - a última estação do ramal ferroviário. Tem esse nome porque ali passa a Travessa 29 da Colônia Agrícola. Nada a ver com a quilometragem. Seis quilômetros depois passei na Vila Tijoca, o primitivo núcleo urbano da Colônia Agrícola Benjamim Constant (a Estrada de Ferro começou a ser construída no início da Velha República e fez-lhe essa homenagem bem ao gosto dos militares positivistas). Nasci em Bragança - no Hospital Santo Antônio Maria Zaccaria, dos barnabitas até hoje - e me criei na Benjamim Constant. A velha estação do trem de Benjamim, depois de ser escola, foi abandonada e está sendo destruída. Manoela, do Museu Goeldi - que encontrei vindo de Belém para visitar Manoel Horácio, seu pai, na Benjamim - pediu que a Câmara Municipal tombe a Estação (no bom sentido). Está demorando. Pode ser que tombe materialmente antes. Incentivei-a a levantar recursos - conte comigo, Manoela - para pelo menos dar uma manutenção que impeça o processo de arruinamento. Ela ficou animada. Eu também. A vila vinha encolhendo. Agora, com a luz elétrica, está crescendo outra vez. A casa de meus pais ainda está de pé, pela metade. A Capela de São Raimundo Nonato está bem cuidada. O Cemitério mais ou menos. Visitei o túmulo de minha avó, que era imigrante espanhola (da família Alonso, ainda hoje numerosa em Bragança). Identifiquei outros nomes de famílias

tipicamente espanhóis: Turiel (galegos), Quadros e Monteiros (aportuguesados). Mais uns poucos quilômetros e reencontro Zaíra e Rita, filhas de Manoel Borges, o lendário fabricante da melhor farinha d'água de Bragança. Zé Rodrigues, esposo de Rita, não estava. Havia saído para o batente em um de seus ônibus (aliás, o ônibus estava na casa, ele dirigia o pau-de-arara, que ainda roda nestas bandas). Alonguei, troquei um dedo de prosa - saí ganhando, pois é sempre um prazer conversar com essas duas irmãs e relembrar o passado da velha Estrada - fiz fotos, dei mais uma pernada e cheguei na Parada Costa, hoje Parada Alta, passando batido pelo que um dia foi a Parada Laranjal, que não consegui descobrir onde era. Nem tapera existe mais. Da Parada Alta em diante não deu mais para seguir o leito da ferrovia, porque virou caminho para um areal e ali morreu. Mais alguns metros e avistei Bragança na linha do horizonte. Penso ter visto até o Rio Caeté (acho que vi porque a maré estava alta, conferi depois). Reencontrei o leito da ferrovia mais adiante, na Parada Jiquiri, a última antes de chegar em Bragança. Mas também não deu para prosseguir, pois virou uma quase-rua e termina pouco adiante. Com o cansaço já batendo, cheguei a legendária Ponte do Sapucaia, sobre o Rio Caeté, que conforme a universal piada infame ruirá o dia que sobre ela passar uma virgem (uma moça, como se dizia aqui). Atravessei a ponte e prossegui pelo que restou do traçado original até chegar na Avenida Alacid Nunes, exatamente onde ela termina, obstada pelo aterro da avenida (no Caminho de Santiago quando isso acontece fazem um túnel para os peregrinos continuem passando no ponto exato onde ele sempre esteve e continuará por muitos séculos dos séculos, amém). Arrodeio e reencontro o leito mais adiante, para chegar ao final desta primeira etapa, no exato local onde existia a imponente Estação da EFB, onde chegavam e partiam os trens da Colônia e de Belém. Cansado mas alegre e emocionado, senti-me como viajando ao passado, meu e da região. Leia mais no Blog: blogdoalencar. blogspot.com.br www.revistapzz.com.br 77


PZZ BRAGANÇA / CÍRIO

Dário Benedito Rodrigues *

CÍRIO DE BRAGANÇA Bragança possui um dos Círios do Pará mais antigos, isso se deve à organização empreendida pelos padres barnabitas da capital, que se instalaram na cidade bem antes de 1930.

E

m Bragança, um turbilhão de fé arrasta mi- religiosidade, morando entre os populares e sendo muito lhares de pessoas que em caminhada sob benquistos por eles. o sol escaldante da cidade, homenageiam Uma fonte em especial, já anunciada numa publicação e cultuam Maria, sob o título de Nossa Se- de 2003, trata de um registro antigo do Círio bragantino. Alnhora de Nazaré. Os quilômetros que sepa- guns fatos se confundem com esta fonte jornalística e talvez ram a pequena Igreja de São Benedito da seria oportuno e mais próximo da análise histórica afirmar Catedral de Nossa Senhora do Rosário (an- que o Círio de Bragança possui bem mais que os cem anos tiga Igreja Matriz), no centro da cidade, testemunham um festejados em 2003, pela observação atenta ao que traz o mistério que só se compreende pela linguagem da fé, um texto do jornal, “O Caeté”, pertencente ao coronel Antônio desafio para os que tentam desvendar a paixão inexplicável Pedro, em matéria de primeira página daquela edição, acerna história do catolicismo ligada à jovem Maria de Nazaré, ca do Círio. mãe de Jesus Cristo. Um olhar diferenciado notará que ao descrever o “NoCertamente, como uma festa reliticiário da Festividade da Virgem de giosa e centenária nas terras braganNazareth”, o jornal anuncia o costume Em Bragança, um turbilhão de do itinerário, daí mesmo, ao se aplicar tinas, a presença de ordens religiosas se remonta à fundamental intervenfé arrasta milhares de pessoas uma análise histórica, não se trata, ção desses religiosos no curso da vida portanto, do primeiro círio, mas de um que em caminhada sob o sol social, cultural e religiosa do povo registro acerca dele, já que o cortejo bragantino, por vezes questionável. escaldante da cidade, homenageiam tinha percurso costumeiro, o que não Segundo relatos orais, recolhidos an- e cultuam Maria, testemunham um significa ter sido o centésimo Círio, teriormente, a festa da padroeira de possivelmente uma das fontes mistério que só se compreende mas Bragança, Nossa Senhora do Rosário mais antigas a relatar a festa. era bem mais pomposa e participada pela linguagem da fé, um desafio Para nos informar, diz o jornal “O que as demais, sendo organizada por para os que tentam desvendar a Caeté” na parte à direita da página iniuma irmandade. Por circunstâncias cial, de 29 de novembro de 1903 que do tempo, a instituição da festa do paixão inexplicável na história do “no domingo da festa, ás 5 horas da Círio de Nazaré nas terras do Caeté catolicismo ligada à jovem Maria tarde, sahirá em procissão a Imagem pode ser considerara um aspecto de de Nazaré, mãe de Jesus Cristo. da Virgem de Nazareth, percorrendo o intensa circularidade cultural entre itinerário do costume”. tradições religiosas que vinham de Em virtude da proximidade de datas, Belém. em Bragança a festa do Rosário foi perdendo gradualmente o Se Bragança possui um dos Círios do Pará mais antigos, seu esplendor, quando da introdução da festa de Nazaré, no isso se deve à organização empreendida pelos padres bar- mês de novembro. Em algumas entrevistas se nota que a pomnabitas da capital, que se instalaram na cidade bem antes pa da padroeira de Bragança, homenageada em uma quinzena de 1930. Por certo, o Círio antecede esse fato. Como a Igreja do mês de outubro, com preparação de lugar (barraca da sanMatriz de Bragança estava sob a administração eclesiásti- ta), procissão, andor, diretoria, irmandade religiosa, votos e proca da Diocese de Belém, os vigários colados eram as figu- messas cedeu espaço à introdução do culto a Nossa Senhora de ras que melhor interagiam com a população, em nome da Nazaré, mais devotada na capital. 78 www.revistapzz.com.br


FOTOS: lúcio coutinho

Ainda pelo mesmo registro, o Vigário da época era o Cônego Miguel Joaquim Fernandes (1814-1904), sacerdote bragantino e defensor de ideias políticas liberais, muito influente e que, após seu falecimento, fora substituído, segundo fontes, pelos padres Paulo Maria Lecouriex, Eduardo Maria Meda, Florence Maria Dubois e Carlos Maria Rossini, que foram residir no prédio onde funcionaram as primeiras salas do Instituto Santa Teresinha em 1938 e hoje sedia a Fundação Educadora de Comunicação. Essa mesma moradia serviu para abrigar também as primeiras Irmãs do Preciosíssimo Sangue – preciosinas – que vieram em 12 de agosto de 1938 com o padre Eliseu Coroli ajudá-lo nos trabalhos de educação. Esses padres pioneiros, entre os problemas de saúde, idioma, manutenção financeira e dificuldades de comunicação com Belém, retornaram à capital do Estado. Outros faleceram anos depois, como o padre Meda, em 1906. Dezenove anos depois, assumiu a Paróquia do Rosário o então Secretário do Bispa-

O Círio de Nazaré em Bragança, em face de desentendimentos entre a Prelazia do Guamá e a Irmandade do Glorioso São Benedito de Bragança, à época, teve o trajeto da procissão modificado, cuja trasladação saiu da Igreja Matriz à capela da Maternidade de Bragança e de lá saiu a procissão, diferentemente da Igreja de São Benedito como o é atualmente. do, padre Luiz Borges de Sales, que revitalizou o Círio de Nazaré com uma comissão formada pelos senhores Mariano da Costa Rodrigues Filho, Filenilo da Silveira Ramos e Julião Risuenho. Mais tarde, com o falecimento do cônego Sales, o padre Salvador Tracaiolli assumiu a paróquia, dando prosseguimento com a celebração da festividade nazarena. Em 14 de abril de 1928, o papa Pio XI criou um novo território prelatício, com o título de Prelazia de Nossa Senhora da Conceição do Gurupi, dada à administração dos barnabitas, liderados por Francisco Richard como administrador apostólico, sendo Ourém escolhida como sede. Em 1934, Bragança passou a pertencer a esta prelazia, inclusive escolhida como sua sede, sendo a padroeira modificada para o título de Nossa Senhora do Rosário. Um dos fatos curiosos que nos foi anunciado pelo Jornal “Folha do Caeté”, de novembro de 1949, trata da mudança feita no trajeto da www.revistapzz.com.br 79


PZZ BRAGANÇA / CÍRIO

procissão. O Círio de Nazaré em Bragança, em Outra relíquia importante da festa naface de desentendimentos entre a Prelazia do zarena é a primeira réplica em madeira Guamá e a Irmandade do Glorioso São Bene- da imagem de Nossa Senhora de Nazaré, dito de Bragança, à época, teve o trajeto da confeccionada na Itália, a pedido do enprocissão modificado, cuja trasladação saiu da tão vigário da Basílica, dom Miguel Maria Igreja Matriz à capela da Maternidade de Bra- Giambelli, falecido em 2010. A peça foi gança e de lá saiu a procissão, diferentemen- encomendada ao artista italiano Giácomo te da Igreja de São Benedito como o é atual- Mussner, que a fez em dois modelos. A mente. O retorno da saída do Círio de Nazaré imagem escolhida para o Círio de Belém, da Igreja de São Benedito só se deu em 10 de colocada pela primeira vez na berlinda novembro de 1957 por determinação de dom em 1969, foi a que não contém em seu Eliseu Coroli, para contemporizar questões entalho o manto em formato triangular, relacionadas a esses desentendimentos. Mas ficando a segundo réplica, com o manto em 1953, a procissão saiu do Instituto Santa esculpido junto ao corpo da imagem desTeresinha em 14 de novembro. Dessa década tinada à Bragança. O abrigo da imagem em diante, o Círio de Bragança cresceu e atin- hoje é, há muitos anos, o gabinete pessoal giu as vilas congêneres à Bragança, como em de dom Eliseu Coroli, sob os cuidados das Urumajó, por exemplo, em 1958. O itinerário Irmãs Missionárias de Santa Teresinha. Foi da procissão só foi modificado no ano de 2001, dom Miguel Giambelli que organizou, por quando administrava a exemplo, a descida paróquia de Nossa Seda imagem enconO hino “Virgem de Nazaré”, outro trada pelo caboclo nhora do Rosário o sacerdote bragantino paícone dessa festa, é originalmente Plácido do altar intidre Aldo Fernandes. O tulado “Glória” até o um poema de autoria da poetisa novo percurso saindo da presbitério da basíIgreja de São Benedito lica, já que o evento paraense Ermelinda de Almeida passa por vários bairros feito de forma e que foi musicado, por volta dos era (Centro, Riozinho, Mormodesta e simples. anos 60, pelo padre Vitaliano Vari, ro, Alegre, Cereja, Padre Fato interessante Luiz) e pelas outras duas relacionado ao Círio também barnabita, que era Vigário paróquias de Bragança foi a inauguração da de Bragança e professor no Instituto Rádio Educadora de (Sagrado Coração de Santa Teresinha. Jesus e Nossa Senhora Bragança, em 12 de do Perpétuo Socorro), novembro de 1960, como num “abraço de Maria de Nazaré” a seus quando o então arcebispo dom Alberto filhos bragantinos. Ramos abençoou os estúdios e o padre Vários fatos recorrentes ao Círio de Naza- Miguel Giambelli iniciou as transmissões ré podem ser aqui lembrados, assim como de sonoras da emissora. No outro dia, a Edusuas relíquias e objetos. A berlinda – um tipo cadora realizou um dos seus primeiros de transporte europeu adaptado para receber grandes desafios: a transmissão do Círio a imagem de Maria – de mais cento e vinte de Nossa Senhora de Nazaré, que se toranos é um deles. Entre os anos de 1955 e 1965, nou seu trabalho inicial e pioneiro. segundo dados da Basílica de Nazaré, por iniO hino “Virgem de Nazaré”, outro ícociativa da Sra. Benedita Ferreira, sabedora da ne dessa festa, é originalmente um poema construção de outra nova berlinda para a pro- de autoria da poetisa paraense Ermelinda cissão em Belém, procurou o então vigário da de Almeida e que foi musicado, por volBasílica de Nazaré, padre Afonso di Giorgi pro- ta dos anos 60, pelo padre Vitaliano Vari, pondo-se a recuperar a antiga peça em madei- também barnabita, que era Vigário de ra e doá-la para Bragança, com a ajuda do pa- Bragança e professor no Instituto Santa dre e dom Mário de Miranda Vilas-Boas. Assim Teresinha. A Guarda de Nazaré, criada em foi feito. Esta berlinda em madeira, hoje no 1974, teve como seu fundador e primeiMuseu de Arte Sacra de Bragança, foi restau- ro presidente o também barnabita padre rada novamente em 1982, por iniciativa do Sr. Giovanni Incampo, que exerceu a função Afonso Maria de Ligório Cavalcante, fato noti- de vigário da Paróquia de Nossa Senhora ciado pelo extinto jornal “Folha de Bragança”, do Perpétuo Socorro em Bragança e por do jornalista Soares Filho. Este carro foi usado muitos anos superior provincial da ordem. até 2000, quando outra peça foi confeccionada Entre outros fatos, citamos a atuação e doada à paróquia do Rosário. Abaixo, a foto do padre Luciano Brambilla, sacerdote da berlinda de Nossa Senhora no Museu de barnabita colaborador de dom Eliseu CoArte Sacra da Diocese de Bragança . roli que viveu e trabalhou em Bragança 80 www.revistapzz.com.br


FOTOS: lúcio coutinho

CÍRIO - TRASLADO HISTÓRICO

O Círio refletiu (refletirá) a busca pela valorização da história bragantina, percorremos, enfim, essa “trasladação” histórica até Belém, retornando em “Círio” à Bragança. entre 1952 e 1978. Quando da sua experiência como vigário da Basílica, em 1981 e juntamente com a diretoria do Círio na capital, conseguiu recursos junto ao governo federal para a construção do Centro Arquitetônico de Nazaré, inaugurado em 1982. Além disso, através de seu trabalho. Em entrevista ao jornal “Voz de Nazaré”, padre Giovanni Incampo, então Superior da ordem no Norte do Brasil, relatou: “Padre Luciano era muito ligado espiritualmente com o saudoso dom Eliseu Coroli e com dom Miguel Giambelli, com certeza padre Luciano adquiriu uma riqueza espiritual e de conhecimentos em Bragança e trouxe para a Paróquia de Nazaré”. Padre Luciano foi um dos organizadores de procissões e romarias que hoje compõem a programação da festa nazarena, como a romaria fluvial, ocorrida pela primeira vez em 08 de outubro de 1978 e a romaria rodoviária, realizada inicialmente em 07 de outubro de 1989, que ainda saía do Monumento da Cabanagem, no Entroncamento. O Círio refletiu (refletirá) a busca pela valorização da história bragantina, percorremos, enfim, essa “trasladação” histórica até Belém, retornando em “Círio” à Bragança. Reunimos alguns dados, factuais por certo, e os colocamos à disposição, leitura e posterior reelaboração, percebendo o quanto imbricado está a história da religiosidade católica bragantina e sua influência com Belém, pela presença dos padres barnabitas, pela força do laicato, pelos aspectos que ligam as duas festas religiosas e pela vinculação de Bragança aos títulos de Maria, mãe de Jesus, chamada de Nossa Senhora, a partir de sua Concei(p)ção, de Nazaré, ou com o Rosário nas mãos, abençoando os seus filhos e filhas de Bragança. * Dário Benedito Rodrigues é bragantino, historiador, pesquisador e docente da Faculdade de História na Universidade Federal do Pará, em Bragança.

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PZZ BRAGANÇA / ESPECIAL

Texto: Armando Bordallo da Silva Fotografias: Flavio Contente

SÃO BENEDITO

& A MARUJADA E

O culto divino de São Benedito é um dos maiores e mais antigos de Bragança. Remonta a 1798, quando foi fundada a Irmandade, que desde então tem mantido esta festividade com o mesmo brilho e fervor religioso.

ste ano comemora-se 183 (cento e oitenta e três) anos de fundação da Irmandade do Glorioso São Benedito de Bragança, da instituição da Festa e do aparecimento da Marujada. É uma comemoração festiva que o povo de Bragança se assola alegremente para realizá-las anualmente, graças ao profundo sentimento de fé e de culto a lembrança de seus antepassados. Felizes os povos ou as comunidades que se apegam ao seu Folclore, com o mesmo ardor com que cultivam a Fé, porque, como a Esperança, a Fé e o Folclore devem ser as últimas coisas a morrer no seio do povo. Eis porque esta trindade de sentimentos consolida o amor, a terra, a família, sociedade e a religião. Este amor a terra deve ser um salutar bairrismo com que as instituições seculares são mantidas, a Economia consolidada, a Sociedade congregada, a Família mantida coesa, o Comércio próspero e finalmente o Progresso em evolução crescente, caracterizando a Civilização. Esta é a Cultura que herdamos dos nossos antepassados. É a civilização que se exterioriza evoluindo em hábitos e costumes próprios da comunidade. O culto divino de São Benedito é um dos maiores e mais antigos de Bragança. Remonta a 1798, quando foi fundada a Irmandade, que desde então tem mantido esta festividade com o mesmo brilho e fervor religioso. Reza a tradição que os escravos pediram permissão aos seus senhores

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para erguerem uma Igreja ao Santo, de profunda devoção entre os negros, bem assim uma confraria. O primeiro Compromisso da Irmandade é de 3-9-1798, assinado pelas seguintes pessoas: — Pedro Amorim, Simiam da Costa, Pedro Rodrigues, Luciano de Amorim, Francisco Pereira, Francisco Ferreira, Matheus Ferreira, José Manuel, Xavier Felipe, Barnabé Pinto, Domingos Ribeiro, Antônio da Cunha, João Divino e Calisto da Costa. Tempos depois organizou-se um segundo Compromisso ou Estatuto, porque o primeiro era “escaço em provi-

A maior manifestação cultural e religiosa da Irmandade da Marujada é durante a realização da festividade do Glorioso São Benedito que inicia oficialmente em 18 de dezembro como ápice no dia 26 do mesmo mês quando é celebrado o dia de São Benedito dências que se acham neste; e não estar aprovado pelo poder temporal como é de lei”. Traz a data de 1-5-1853 e o assinaram: — José Albano de Melo a rogo de Raimundo Antônio Vieira, Agostinho de Brito a rogo de Athias Antonio da Sllva Ribeiro, Antônio da Silva Nery a rogo de Miguel Arcanjo da Silva e muitos os outros. Finalmente surgiu um terceiro Com-

promisso que é aprovado em Assembleia Geral da Irmandade em data de 7-7-1946. Por motivos óbvios tornou-se uma sociedade de personalidade civil, de acordo com as leis brasileiras, com o apoio de Flodoaldo de Oliveira Teixeira, Benedito Augusto Cezar, Li Paulino dos Santos M6rtires, Tomás dos Santos Martins, Manoel Serapião da Mota, Sebastião Ancho Barbosa, Manuel Inácio Martins Pereira, Cândida Maria das Mercês, Odorico Antônio do Nascimento e muitos outros. Em épocas recuadas dezesseis Irmãos Constituidores eram incumbidos de sua administração. Usavam, como insígnia, uma Imagem de São Benedito, em prata, de mais ou menos quinze centímetros, presa ao peito, por uma fita. Ao que parece os últimos Irmãos Constituidores foram estes: — Raimundo Pretinho (pai de D. Serafina), Veríssimo, Roberto, Mestre Belém e João Luz. A Igreja de São Benedito, se nos louvarmos na tradição, foi a primeira desde o tempo da fundação de Bragança. Tendo 08 escravos construído sua Igreja, que é a atual Matriz foi por consentimento recíproco dos interessados trocada propriedade dos templos. Os negros conservaram a então Matriz e a paróquia investiu-se na posse da novel Igreja erecta pelos pretos. Transfluídos 183 anos da instituição da Irmandade as festas tem sido celebradas, sem interrupção, desde aquela época. Possui valioso patrimônio e a sua Igreja apresenta um aspecto de esmerado trato. Durante esse dilatado tempo, outras Irmandades fundadas, desapareceram com vultosos bens.


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FOTO: RENATO CHALU FOTOS: RENATO CHALU


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festa inicia-se a 18 de dezembro e termina a 26 do mesmo mês, dia consagrado a São Benedito, sendo há longos anos, a mais brilhante e a mais concorrida do município. Os atos religiosos são efetuados pelos padres da paróquia e constam de novenas, missa cantada a grande instrumental, no dia 26, procissão a tarde e ladainha à noite. A Igreja ergue-se na frente da cidade, ao alto do barranco do rio Praça Primeiro de Outubro. Por ocasião da festa o “Largo” recebe vistosa ornamentação. Ao centro do arraial, um coreto de madeira é destinado a banda de música e ao lado um pequeno barracão para os leilões. A esquerda da Igreja é construído o barracão da Marujada, onde dançam todas as noites. Fronteiro a Igreja, entre as palmeiras reais, plantadas no cimo do barranco do rio levantado o mastro votivo do santo, no primeiro dia da festividade. Após a alvorada, às seis da manhã, a banda de música e a Irmandade vão buscar o mastro, que é trazido processionalmente até o local designado. Este mastro a exemplo dos das demais festas, é todo enfeitado de folhas, frutos e encimado por uma bandeira branca, com a efígie do Santo. Os porta-estandarte vem a frente e atrás os esmoladores e os tocadores rufando os tambores, caixa de santo, tamborins e “onça”. Desde junho três grupos de esmoladores recebem imagens de São Benedito. Percorrem o município nos seus mais remotos pontos e até os municípios vizinhos, angariando espórtulas dos devotos. O primeiro grupo visita a região dos campos e a costa marítima do Caeté ao rio Quatipuru. O segundo grupo o alto Caeté e o terceiro grupo penetra a costa oceânica do Caeté ao Gurupi e a parte central dessa região. No primeiro domingo antes do começo da festa, chegam os santos a cidade. A recepção é pomposa. No “Padilha”, local à margem direita do Caeté e a pouca distância, se reúnem os esmoladores, em hora de pendente da maré 84 www.revistapzz.com.br

Felizes os povos ou as comunidades que se apegam ao seu Folclore, com o mesmo ardor com que cultivam a Fé, porque, como a Esperança, a Fé e o Folclore devem ser as últimas coisas a morrer no seio do povo. de enchente do dia. Saem da cidade inúmeras canoas, barcos e lanchas em busca do santo, numa verdadeira procissão fluvial. É um espetáculo grandioso; na vanguarda do préstito a lancha “Gurupi” conduz o santo, os esmoladores e tocadores. Em pé, na proa da embarcação, dois porta-estandartes fazem o entrelaçamento das bandeiras. Na cidade a banda de música executa alegres dobrados e o espocar de girandolas de foguetes e os vivas da incomputável massa que se comprime em toda a margem do rio, dá uma nota festiva a recepção. O glorioso Sao Benedito é recebido na residência do Sr. Caramujo e daí, dias depois, e recolhido à sua Igreja. A Igreja é de estilo colonial, com uma torre lateral esquerda e a sacristia do mesmo lado. A fachada é um quadrilátero encimado por um triângulo isósceles, tendo no ápice superior uma cruz de ferro iluminada. Há uma só porta de acesso ao salão, com janelas do coro ao alto. A torre, de cerca de 20 metros de altura, sustem dois sinos. Nas paredes externas e internas e nos pequenos altares, nada existe de escultura nem digno de especial reparo. Encravado no fundo do salão está o altar-mor, de feitura singela. Não sendo o primitivo, pois há poucos anos sofreu radical restauração. Os últimos procuradores da Irmandade foram os Srs.: — João da Cruz Pacheco, comerciante, já falecido; Flodoaldo Teixeira, industrial, também falecido; o notário público Antonio D. Miranda; Ocimar Fernandes e, presentemente, Arsênio Silva, aos quais foi confiada a missão de guardiães e zeladores de precioso patrimônio.

MARUJADA

Bolivar Bordallo da Silva Alegres bimbalham os sinos na Igreja de São Benedito; e o povo entoando os seus hinos louvores cantam ao Bendito. O grupo festivo de dança, com os seus chapéus emplumados, recorda da antiga Bragança escravos pretos irmanados. A "Capitoa" vai a frente, com o seu pequeno bastão, e as marujas, saudando a gente, perpetuam a tradição. Miçangas, espelhos e fitas, blusas brancas, saias de cor, levam as marujas catitas para o batuque do tambor. Ao som da rabeca estridente, e na cadência do tambor, choram as violas tristemente, ronca a onça no marcador. Dançam o "Bagre" e o "Retumbão”, quadrilha, lundu e o "chorado", no terreiro do Barracão ao lado da Igreja arrumado. Alegres bimbalham os sinos na Igreja de São Benedito; e o povo entoando os seus hinos louvores cantam ao Bendito. 16/12/60


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arujada é dança conhecida em todo o Brasil; trata-se de um auto dramatizado na tragédia marítima da nau Catarineta e onde predomina o canto sobre a dança. Do folheto “A Marujada”, publicação da Divisão de Educação e Recreio do Departamento de Cultura de São Paulo, que nos parece ser de autoria de Nicamor Miranda, transcrevemos o seguinte trecho: — É sabido que desde a época das navegações, estas foram celebradas em bailados e entremeasses, em Portugal. Tais tradições, transportadas para o Brasil fixaram-se num bailado popular que provavelmente em fins do século XVIII ou princípios do seguinte, recebeu organização mais ou menos erudita de poetas certamen-

Há uma origem comum da Marujada com a Irmandade de São Benedito. Quando em 1798, os senhores acederam ao pedido de seus escravos para a organização de uma Irmandade e foi realizada a primeira festa em louvor de São Benedito, os negros em sinal de reconhecimento, incorporados, foram dançar de casa em casa dos seus benfeitores. No ano seguinte nova manifestação de agradecimentos, com danças a porta, ficando como praxe, daí por diante essas exibições coreográficas. te alfabetizados. Generalizou-se então com o título de “Chegança de Marujos”, nome ao que parece já completamente esquecido da boca do nosso povo. Mas no Nordeste, o bailado persiste ainda bem vivo, de feição nitidamente popular e mesmo folclórico, dotado de peças musicais anônima e de movimentação coreográfica e dramática tradicional, exclusivamente organizada por pessoas do povo”. E a seguir: — Abandonamos a denominação “Chegança de Ma88 www.revistapzz.com.br

rujos”, usada em livros eruditos como os de Silvio Romero e Melo Morais Filho, não só por não existir mais atualmente no povo, como porque nada prova ser ela uma denominação folclórica. O bailado atualmente tem diversos nomes que variam de região para região, chamam-se “barca” na Paraíba e “Fandango” no Rio Grande do Norte, outro nome bastante espalhado é o Marujada, por nós escolhido definitivamente”. Escreve Melo Morais Filho (1946, pg.

206): — “É o cordão dos marinheiros que puxando um navio conduzindo uma âncora, um mastro, etc. anuncia nas ruas a chegança dos marujos. Caboclos, cabras, crioulos e pardavascos, lindos, ágeis, vestidos à maruja fardados, fantasiados com propriedade, incumbem-se de seus papéis, indo desempenhar a chegança numa praça. Imitando o balanço do bordo, seguidos das figuras principais, lá passam cantando uma cangaço, que prenuncia o combate:


MULHERES A Marujada é constituída quase que exclusivamente por mulheres, cabendo a estas a sua direção e organização. Os homens são tocadores ou simples acompanhantes. Não há número limitado de marujas, nem tão pouco há papéis a desempenhar.

rujos , “Barca”, “Fandango”, etc. Ela é uma fragata, manifestação folclórica tipicamente bragantina. Constitui uma organização profana a parte da Irmandade de São Benedito, amparada pelos atuais Estatutos. Há uma origem comum da Marujada com a Irmandade de São Benedito. Quando em 1798, os senhores acederam ao pedido de A Marujada de Bragança em nada se asse- seus escravos para a organização de uma melha ao auto marítimo existente em todo Irmandade e foi realizada a primeira feso Brasil com o nome de “Chegança de Ma- ta em louvor de São Benedito, os negros Ó nau fragata, ó marcha para a guerra!... Ê lô... Se não for por mar, há de ser por terra!... Ê lô...”

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em sinal de reconhecimento, incorporados, foram dançar de casa em casa dos seus benfeitores. No ano seguinte nova manifestação de agradecimentos, com danças a porta, ficando como praxe, daí por diante essas exibições coreográficas. Esta é pois a tradição da origem da Marujada em Bragança. E tanto e assim que a Marujada somente sai para dançar nas ruas de Bragança, no dia de Natal, no de São Benedito e no dia 1.° de Janeiro, muito embora desde o início da festa compareça aos seus barracões, para ensaios, e dança, todas as noites. A Marujada é constituída quase que exclusivamente por mulheres, cabendo a estas a sua direção e organização. Os homens são tocadores ou simples acompanhantes. Não há número limitado de marujas, nem tão pouco há papéis a desempenhar. Nem uma só palavra é articulada, falada ou cantada, como auto ou como argumentação. Não há tão pouco dramatização de qualquer feito marítimo, nem qualquer referenda a nau Catarineta. A nossa Marujada é estritamente caracterizada pela dança, cujo motivo musical único é o retumbão. A organização e disciplina é exercida por uma Capitoa por uma Sub-Capitoa. A primeira Capitoa foi eleita pelas marujas em assembleia mas daí por diante é a Capitoa quem escolhe a sua substituta, nomeando a SubCapitoa, que somente assumirá o bastão de direção por morte ou renuncia daquela. As Marujas se apresentam tipicamente vestidas: — usam uma blusa ou mandriao branco, todo pregueado e rendado e a saia, encarnada, azul ou branca com ramagens de uma dessas cores, e uma grande saia rodada indo quase ao tornozelo. A tiracolo cingem uma fita azul ou encarnada, conforme a ramagem ou o colorido da saia; na cabeça ostentam um chapéu todo emplumado e cheio de fitas multicores e no pescoço trazem um colar de contas ou cordão de ouro com medalhas. A parte mais vistosa dessa indumentária é o chapéu cuja base ou chapéu propriamente dito era antigamente feito de feltro, coco ou cartola; os de fabrico moderno são de carnaúba, palhinha ou mesmo de papelão. Seja qual for o material empregado na estrutura básica do chapéu, ele é forrado na parte interna e externa. A aba com papel prateado ou estanhado; lateralmente com papel de cores; e em torno, formando um ou mais cordões em semicírculo, presos nas extremidades, em pontos equidistantes, são colocados voltas ou alças de casquiIho dourado, prateado ou colorido. Entre as algas, por cima das voltas, são também colocados espelhinhos quadrados ou redondos. Ao alto plumas e penas de aves de diversas cores, formam um largo penacho com mais ou menos cinquenta centímetros de altura. Da aba, na parte poswww.revistapzz.com.br 89


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terior do chapéu, descem ao longo da costa da maruja, numerosas fitas multicores. O maior numero ou largura das fitas, embora não indicando hierarquia, e reservado às mais antigas. Os homens, músicos e acompanhantes, se apresentam de calça e camisa branca ou de dor, chapéu de palha de carnauba revestido de pano, tendo a aba virada de um dos Iados, fixada com uma flor de papel encarnada ou azul, e são dirigidos por um Capitão. Os instrumentos musicais são: — tambor grande e pequeno, a “onça” ou cuíca, pandeiros, rabeca, viola, cavaquinho e violino. Na rua, as marujas caminham ou dançam em duas filas indo a frente de uma delas a Capitoa, e a frente da outra a Sub-Capitoa, empunhando aquela um pequeno bastão de madeira, enfeitado de papel, tendo na extremidade superior uma flor. Atrás e no centro, fechando as duas alas vão os tocadores e os demais marujos. Em fila a dança é de passos curtos e ligeiros, em volteios rápidos, ora numa direção, ora noutra, inversamente. Assim elas caminham descrevendo graciosos movimentos, tendo os braços ligeiramente levantados para frente a altura da cintura como se tocassem castanholas. Dançando obedecem a música plangente do compasso marcado pelo tambor grande em ritmo de “bagre”. A Marujada dança preferentemente nos 90 www.revistapzz.com.br

seus barracões situados, um ao lado da Igreja e o outro próximo a casa do juiz ou juíza. Sai a rua nos dias de Natal, São Benedito e 1.° de Janeiro e não recusa os convites, para dançar, em casas de família, iniciando as mesmas, com a reverência tradicional de seus antepassados. A 26 de dezembro, consagrado a São Benedito, há na casa do juiz um lauto almoço do qual participam todas as marujas e pessoas especialmente convidadas. O jantar é oferecido pela Juíza, a noite desse dia. A 1.° de Janeiro o juiz escolhido para a festa seguinte é o anfitrião do almoço desse dia. Durante o ágape é transmitido ao novo Juiz da Festa, o bastão de prata, encimado por uma pequena Imagem de São Benedito, que é o emblema do juiz, usado nos atos solenes da festividade. Da descrição da Marujada ressalta quanto ela é diferente das “Cheganças de Marujos”, das demais unidades federativas. Por que então o nome de Marujada? É termo ainda não explicado. Pensamos todavia que a palavra foi empregada, pela analogia certamente encontrada, pelos bragantinos de então, com as festas de Marujada, Chegança de Marujos, Barca e Fandango, de outros pontos do País, anteriores a nossa Marujada e certamente no conhecimento das nossas populações daquela época. Ocuparam o cargo de Capitoa, desde a

Felizes os povos ou as comunidades que se apegam ao seu Folclore, com o mesmo ardor com que cultivam a Fé, porque, como a Esperança, a Fé e o Folclore devem ser as últimas coisas a morrer no seio do povo. sua fundação até o presente, as seguintes pessoas: Leocadia Maria da Conceigao, escrava de Jose Caetano da Mota. Serafina Maria da Conceigao, ate 1928, quando faleceu. Olimpia Maria da Conceigao, deixou a fungao em 1933, por sua vontade, sendo substituida por: Silvana Rufina de Souza, nascida em 10 de julho de 1867 e falecida em 26-11-1948. Maria Agostinha da Conceigao, atualmente Capitoa, sendo que sua Sub-Capitoa era Candida Maria de Morais, falecida em 31-4-1957, sendo substituída por Benedita Tamanquinho. Exerceram o cargo de Capitao, dirigindo os homens: — 1.° Estevao; 2.° Calixto; 3.° Jorge Francisco da Silva; e 4.°, atualmente, Raimundo Epifanio.


“Olhando a Marujada, era feliz, alienava por momentos as mortificações que agora castigavam os meus dias. Só ver a Tia Joana sair dançando o Retumbão, volteando no ar a bonita saia encarnada, cheirosa! Tia Joana, capitoa vitalícia da marujada, me entendi vendo-a naquele posto, gente lhe tomando benção com todo o respeito. Mal comparada a um padre, uma freira, uma madrinha muito estimada. Mesmo fora do São Benedito, quando era apenas uma pacata cidade. Quando assumia não mais o comando de uma legião de marujos, mas o governo do tabuleiro de broas, sequilhos, roscas de tapioca, de sua banca de tacacá. Mas ainda ali, se impunha. Pessoas chegando, saudando-a com reverência e estimação: "A benção, Tia Joana" "Deus te abençoe, minha filha. O que vai hoje?" Dezembro, o seu tempo áureo.Nesse mês, rainha era ela. Que não havia - desde canoeiros, carregadores, às mais altas autoridades - quem não comparecesse a barraca de solo batido, ao lado da igreja, a vê-Ia dançar. E os marujos? Ai, para eles, que por mais requestado senão ela? Dançar com Tia Joana, o privilégio, que não era para qualquer novato, não senhor. Não era com duas risadas que um merecia ser aceito como seu cavalheiro. Sim, rainha era ela. Seu traje o mais rico, a saia, da roda a mais ampla, a anágua mais rendada, o chapéu, o mais cintilante de espelhos e pedrarias, fitas que dele pendiam e lhe chegavam aos pés, as mais abundantes, de mais variado colorido; preso à alvura de sua blusa, o ramo de cravo e alecrim mais perfumado. E o cordão de ouro, as pulseiras e brincos, a faixa a tiracolo? Pesar da idade (quando a conheci, já netos tinha) quem mais ágil no passo do lundu, no maneiro, ingênuo requebrar das danças tão encantadoras no seu primitivismo? Porque assim é a marujada. Rememorando os volteios do típico bailado regional, eu me espanto de como neles não se descobria lascívia alguma, nem sequer o quente langor de certas danças tropicais. Tudo tão puro, entre eles, uma alegre, respeitosa reverência, como num ritual. Mas Tia Joana, dizia eu, era a invicta. Qual, mesmo dentre as mais jovens, persistia dançando sem parar, por tanto tempo? Os marujos, os mais graduados,

sucediam-se com seus pares. lam cansando, empapando a camisa de suor, davam lugar ao seguinte que, por sua vez, bailava a não mais poder. Vinha outro e mais outro, e Tia Joana volteando sempre, machucando de leve o chão, os ligeiros passos sutis, o sorriso de Cândida vitória, inocente desafio ali, soberana, no meio do salão. Duas grandes atrações, na marujada: Tia Joana e a cantoria dos marujos. Me deixassem, eu ficaria horas esquecidas junto deles, embevecida, atrás de decifrar-lhes os versos, muitos descosidos, desconexos, sem aparente sentido, mas

“Sim, rainha era ela. Seu traje o mais rico, a saia, da roda a mais ampla, a anágua mais rendada, o chapéu, o mais cintilante de espelhos e pedrarias, fitas que dele pendiam e lhe chegavam aos pés, as mais abundantes, de mais variado colorido; preso a alvura de sua blusa, o ramo de cravo e alecrim mais perfumado. E o cordão de ouro, as pulseiras e brincos, a faixa a tiracolo. Pesar da idade (quando a conheci, já netos tinha) quem mais ágil no passo do lundu, no maneiro, ingênuo requebrar das danças tão encantadoras no seu primitivismo? Porque assim é a marujada. Rememorando os volteios do típico bailado regional, eu me espanto de como neles não se descobria lascívia alguma, nem sequer o quente langor de certas danças tropicais. Tudo tão puro, entre eles, uma alegre, respeitosa reverencia, como num ritual.” de um encanto! Beleza nas vozes incultas, na entrecortada estrofe que saia do peito dos homens rudes. Sempre achei beleza no cantar dos homens. Das raras coisas que tinham poder de me botar quieta, ouvir cânticos, mormente masculinos. Nesse tempo, que sabia eu de um coral, de um conjunto orfeônico? Que escutara além das serenatas das gaiatas trovas dos "Filhos da Candinha", das ladainhas a quatro vozes tiradas pelos pretos velhos? E a toada dos marujos. Caboclos recendendo a suor e aguardente, eu ficava juntinho, os olhos pregados nos rostos brilhan-

tes, bebendo-lhes as palavras. Como os admirava, assim, os olhos meio fechados, a cabeça um tanto pendida para trás, e o canto saía, meio grito, meio chamado, lamento ou prece. Difícil aquilo para mim. Mais que me esforçasse, conseguia assimilar apenas alguns versos, por vezes informes, truncados. Uma quadrinha quando a repetiam, enxertavam-Ihe novas expressões, palavras outras, um final diferente. Bem fazia o Dário, colega nosso do grupo, menino ainda e com fama de poeta, de pesquisador. De nós, o de maior talento, não sei como até hoje não disse palavra a seu respeito, o mais brilhante, o mais arteiro da escola. No quarto ano, possuía cadernos inteirinhos de poesias, de sua lavra. Pois esse Dário, tempo de marujada, sua mãe sabia dele? Parece até que se mudava pras barracas da Juíza e do largo, as noites passava-as acompanhando-os, ouvindo-os, escrevinhando coisas, até o amanhecer. Apanhando no ar os versos que eu aprendi tão poucos. De memória guardo os mais conhecidos, os que mamãe cantava, os que a Rita, mais as filhas moças da Domingas, quando meus pais saiam, libertas de todo respeito e temor, iam para o quintal, entoavam em roda, imitando os marujos: "Oi já chegou são Benedito nesta noite de alegria (bis) Oi senhora dona da casa vá rezando ave-maria" (bis) Os circunstantes fazendo o tambor: Tempo de cupu, peixe-pedra baiacu oi tempo de cupu, peixe-pedra baiacu" Vinham os petitórios, na voz fina, um tanto esganiçada da Nádia, a mais velha da Domingas: "Oi quando eu entro nesta casa (bis) vou olhando para cumeeira Oi senhora dona da casa (bis) traga logo a manicuera" Trecho do romance: “A Menina que veio de Itaiara” de Lindanor Celina

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RETUMBÃO A dança de preferência da Marujada é o Retumbão. O seu compasso musical e rítmico é o do lundum. Parece-nos que o Retumbão é o próprio lundum, que nos ficou com aquele nome, insulado neste grupo, em Bragança, sem ter sofrido as influências da civilização, que o modificou progressivamente da senzala ao salão aristocrático. Comparando-se o nosso Retumbão ou o lundum primitivo, como pensamos nos, com as descrições feitas sobre o lundum dançado nos salões aristocráticos do Brasil ou da Europa, em que ele apareceu com características extremas de uma música é uma dança exótica, lubrica e sensual, o nosso Retumbão é menos cheio desses requebros excitantes, predominando sobre isso, a preocupação dos passos coreográficos. As maneiras e o donaire com que é dançado, Ihe dão certas características próprias, embora se possa reconhecer na música cadenciada pelo tambor grande e no estilo da dança, um ritmo primitivo. Se o lundum, em Bragança, ficou insulado, nesse isolamento, manteve as formas primitivas da dança original. Assim, menos influenciada de ritmos estranhos, essa dança formalística e mais de acordo com a indole dos negros, e dançada no compasso dos instrumentos musicais africanos, introduzidos pelos escravos. No lundum os circunstantes formam roda, batem com as mãos o ritmo e um só par dança. No Retumbão os circunstantes também fazem roda sem no entanto, marcar o compasso por meio de palmas e geralmente dois pares dançam de uma só vez. O homem vai, em primeiro lugar, sozinho, dançar no salão; executando rápidos volteios, convida a dama fazendo ligeiro aceno com a mão e batendo mais fortemente o pé em direção da escolhida. Dançam sempre dois a dois, separados, fazendo círculos, em torno do salão em volteios ligeiros, ora para a direita, ora para a esquerda, estalando fortemente os dedos como castanholas. Os homens acompanham as mulheres, ora na frente, ora atrás, seguindo-lhes os passos como se fosse uma fuga interrompida bruscamente ora numa direção ora noutra, incitados pelos meneios da mulher. Assim dançam muito tempo; dançam até um cansar, quando então, batendo duas vezes com o pé no chão se retira da roda o que está fatigado. O que fica dançando faz sozinho alguns volteios pelo salão após o que escolhe o seu par batendo o pé no chão fortemente e com a mão Ilhe fazendo ligeiro aceno. As mulheres geralmente dançam muito bem e melhor do que os homens. No final da dança as mulheres para fazerem galhofa ou mostrarem sua agilidade e pericia costumam, a um descuido do cavalheiro mete-lo debaixo do rodado de sua grande saia, enlaçando-o com os braços e o apertando a altura do pescoço. Quando isto ocorre sai o dançarino apupado pelos circunstantes, sob o motejo dos companheiros e dificilmente volta ao salão. As músicas executadas pelos tocadores, nos bar92 www.revistapzz.com.br

racões são as mesmas que qualquer jazz tocaria nas festas da cidade, mas de quando em vez tocam o Retumbão, em que o tambor grande, a "onça" e o pandeiro predominam, marcando o compasso e o estilo dessa dança que se choca com os ritmos das danças modernas. Esse ritmo pode ser reproduzido de memória, pelo dizer onomatopaico, do seguinte versinho: É tempo de cupu, peixe pedra, baiacu. O lundum toma vários nomes na Zona Bragantina. Assim, em Bragança e Quatipuru e Retumbão; Carimbó, Corimbó ou Curimbó nas demais regiões da zona, especialmente em Capanema, Salinópolis, Marapanim, etc. com pequenas variações? de ritmo e denominações de passos, como: "dança do peru", "banho", etc. Uma outra dança quase desaparecida em Bragança, e o "Bagre"; espécie de quadrilha,

dançada em roda, marcada em trances deturpado e com grande número de participantes. Os pares formam círculo e o marcador comanda, determinando os passos: — "Eia avante" — os pares, pelas mãos, vão até ao centro do círculo e voltam a posição primitiva. "Granchê de duble", grita o marcador e os cavalheiros metem o braço direito no braço direito da dama dão uma volta e enfiam o braço no braço da dama seguinte, até a terceira dama, quando o marcador avisa — "Já cheguei". Daí, em seguida, sempre comandando o "granchê de duble" prossegue o marcador, até alcançar o seu par e igualmente, os demais participantes. Neste ponto o marcador comanda novamente,— "Ei Chavá"— e o cavalheiro dá uma volta com a sua dama e dança igualmente com a seguinte, avançando sempre, até alcançar o seu par. Restabelecida a roda pelos pares, dançando sempre, pelo apoio simples de uma das pernas e largando a outra, alternadamente, vão os pares, ao comando do marcador, "enfiando o bagre", isto é, se entrelaçando, seguros pelas


BAGRE

RETUMBÃO

BOLIVAR BORDALLO

BORDALLO

BOLIVAR

A manhã já vai raiando e o salão ‘inda está cheio: a música - está tocando, e os pares - em revolteio.

mãos, enfiando a cabeça por debaixo do braço do par seguinte, até voltar à primitiva posição. O "bagre" é uma dança em que o compasso musical é o binário simples, em ré maior, sendo o ritmo o mesmo do Retumbão, no entanto mais “alegro”. Os tocadores, para dar mais ênfase a esse ritmo e mais entusiasmo a dança, cantam versinhos de improviso e os cavalheiros de quando em vez batem os pês com o mesmo propósito. Há também uma dança denominada "Chorado" em que os participantes fazem roda e uma mulher sai sozinha para dançar. Decorridos alguns momentos, ela escolhe o seu par, batendo mais fortemente com os pés no solo, em direção ao eleito e com os dedos Ihe fazendo ligeiro aceno. Um os par dança de cada vez. O ritmo e o Retumbão, em sol maior, e o sapateado repinicado em gestos propositados, é a nota dominante desta dança. Infelizmente, por falta de aparelhagem, deixamos de incluir, no presente trabalho, o registro sonoro e gráfico destas danças, apresentando tão somente a música escrita do retumbão.

Retumba, ah, a música dolente, dançadores começam a chegar; a “Marujada”, vem festivamente para a sua “barraca”, vem dançar. A “capitoa”, airosa, surge a frente; O Chorado e o Retumbão suas marujas seguem seu bastão; são as danças preferidas; o tambor-grande chama toda a gente, e os dançadores entram no salão. mas, conforme a tradição O cavalheiro bate o pé no chão; outras não são esquecidas. no meio do terreiro ele se lança; Dançaram a noite inteira, maneia com a cabeça e com a mão, e a manhã já vai raiar; chamando sua dama para a dança. agora, a dança primeira, A dançarina alegre e satisfeita, e o Bagre, pisando miudinho no salão, para enfiar. trás a saia rodada que lhe enfeita “Atenção! Muita atenção!” e sobre seu corpinho o cabeção. Grita, ao centro, o marcador; Em gráceis revolteios a donzela e os pares pelo salão procura se esquivar aos galanteios formam todos em redor. do exímio dançador que se revela, também afeito aos rápidos volteios. “Cada qual com o seu par!” Rodando em volta a dama o cavalheiro, - Que esta dança se inicia, persegue sempre o par pelo salão, e o Bagre p’ra se dançar com um jeito de galo de terreiro com prazer, com alegria. que lhe arrastasse as asas pelo Várias ordens, pela frente, chão.... se sucedem no salão: Às vezes, um detalhe engraçado O “Eia! Avante!”, de repente, se registra. Não é fácil se dar. leva os pares pela mão. É um golpe de astucia exagerado O marcador se perfila (continua) e, no comando que presta, que “p’ra exemplo” a mulher vai aplicar! ordena aos pares em fila Um passo a frente e outro para trás, em viravolta simples e ligeira, o melhor de toda a festa: o cavalheiro dá um passo a mais “Eia. avante! Enfia o Bagre...” para ficar bem junto a companheira. A saia enfunada, e o pé ligeiro, Os pares se entrelaçando, seguindo o mesmo caminho, a dançarina espera o tempo azado para enlaçar com a saia o vão a cabeça enfiando companheiro, sob os braços do vizinho. que fica sobre a mesma, Formam comprida enfiada, embaraçado ... com jeito tão natural, E o dançador que fica sob a saia, como se fossem cambada apupado por toda aquela gente, do peixe bem regional. encabulado, quase que desmaia e nunca mais se vê surgir-lhe a frente. É uma quadrilha nativa *(E o dançador que fica sob a saia, que a festa vai encerrar, pegado de surpresa, não protesta; ficando n’alma festiva apupado e tristonho sai da raia, O Bagre para enfiar”. e nunca mais se vê dançar na festa). A música é simples e não cansa; 16/10/61 os pares se sucedem no salão; na alegria e prazer daquela dança o tambor continua o “Retumbão”. 14/05/58 www.revistapzz.com.br 93


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ESMOLAÇÕES DE SANTO E LADAINHAS Quem vê pela primeira vez uma comissão de santo em esmolações, pelo nosso interior, e ouve o bater cadenciado e plangente de uma caixa de santo, acompanhada pelo flautim de imbaúba (Moracea — Cecropia palmata e outras), certamente não se esquecera jamais. Os grupos por vezes numerosos andam por determinada zona do município, quando se trata de um santo de Igreja ou capela local e por várias zonas do município, quando se trata de santo da cidade, como as esmolações em benefício de São Benedito. Estes grupos são solicitados a visitar as residências dos promesseiros. Não raro as famílias fazem promessas dando animais ao santo devoto, como por exemplo: — galinhas, patos, carneiros, bois e cavalos. As promessas quando pequenas, são entregues as comissões na ocasião da visita; as outras maiores são entregues diretamente ao Procurador da Irmandade, as vésperas do dia de São Benedito, para o grande leilão, depois da missa. A mesa de leilão, nessa ocasião parece mais um grande bazar, tal a variedade de coisas a leiloar: desde o franguinho, boi ou cavalo ou desde o cacho de pitombas, a um número as vezes considerável de arrobas de tabaco. 94 www.revistapzz.com.br

As comissões de santo obedecem, durante as caminhadas a pé, a seguinte ordem: a frente, dois porta-bandeiras com os estandartes do santo, os quais vão entrelaçando os mesmos em movimentos típicos, ora para um lado ora para outro; logo após um homem ou mulher, melhor vestido, com uma grande toalha branca, de magnifico bordado e renda, a tiracolo, levando nas mãos o Santo e a seu lado uma pessoa com um guarda-chuva aberto para abrigar do sol ou da chuva; atrás os tocadores: uma caixa de santo, um flautim, a viola, a "onça", tambores e pandeiros. As viagens se fazem a pé, a cavalo, em montarias ou em canoas a vela, conforme a região que percorrerem. É um dia festivo a chegada dos esmoladores. Eles são generosamente obsequiados nas residências dos promesseiros. O dono da casa hospeda não somente os esmoladores como os acompanhantes durante um ou dois dias. Os vizinhos se reúnem trazendo também as suas oferendas. As mesas de almoço e jantar se sucedem e o café é oferecido a intervalos regulares e frequentes. Ao chegar a casa de um devoto, só a caixa toca cadenciadamente — bembam, bem-bam, e assim levam o santo para a saia da casa, onde é logo improvi-

sado um altar sobre uma pequena mesa. Se é tarde do dia, ai fica para passar a noite. Mal escurece, depois do jantar, os tambores são percutidos chamando os moradores da vizinhança. Em dado momento, anunciando o início da ladainha, a caixa de santo batida - bem-bam, bem-bam, reclamando silêncio. Há um certo quê de místico, no toque dessa caixa, pois impõe silêncio e provoca respeito a todos os circunstantes. Os rezadores ajoelham-se em frente ao altar improvisado, geralmente três homens, iniciando a ladainha, a três vozes, cantando a folia e fazendo coro as mulheres. Em seguida é rezada a ladainha propriamente dita e finalizando o bendito, sempre fazendo coro as mulheres e demais assistentes. As ladainhas, nas residências de nossos caboclos do interior, ou são feitas pela presença de uma comissão de esmoladores ou em dia de santo da devoram da família, em dias fixados, anualmente. Os vizinhos de toda a redondeza são convidados com bastante antecedencia e muitas vezes, durante alguns dias são rezadas, logo ao anoitecer e em sequencia, em barracões adrede preparados, os bailes, noites e dias seguidos. Depois da ladainha, em certas ocasiões há leilão de oferendas ou de coisas


[Maria Que é mãe do Salvadô. Abre-se a porta do céu Para ver o que havia Havia uma formosa luz No rosario de Maria. Abre-se a porta do céu A muito tempo não se abria Para entrar irmao devoto Filho da Virgem Maria. Vamos dar a despedida Em cima do sacramento Entrou com alegria Apartai com sentimento Deus vos pague e agradeça Quem nos fez este favô No reino do céu se veja Nos pés de Nosso Sinhô. Sr. Sr. Sao Benedito é nosso [Imperador Deus salve. Deus salve Eu quero que ele me salve Quando deste mundo eu for. Lá vai, lá vai São Benedito em sua bandeira voando Deixando o dono da casa Com seus filhinhos chorando Sr. Sr. São Benedito é nosso [Imperador Deus salve.Deus salve Eu quero que ele me salve Quando deste mundo eu for.

especialmente confeccionadas para isso, predominando os produtos de mandioca e macaxeira, como sejam: — alqueires de farinha dagua e seca, beijus, bolos, roscas, etc. Enquanto isso, é vendido ou distribuído aos presentes a manicuera, o mocororó e até mesmo, as vezes, a maniçoba. A cachaça nem sempre e parcimoniosamente distribuída ou consumida, dai não raro, estas reuniões, terminarem em "esgrú”) e cacetadas, facadas e até morte. Os nossos caboclos, essencialmente católicos por tradição, rezam essas ladainhas geralmente, imbuídos do maior respeito e fé. A doença, os insucessos na lavoura e até mesmo epidemia em animais são causas predominantes de suas promessas, constituídas especialmente em dádivas, ladainhas ou receber esmoladores e os manter um ou dois dias em suas residências. A ladainha, no entanto, e por vezes cantada pelo simples prazer de cantar alguma coisa, quando trabalham em conjunto. As companhias de lanço dos Pescadores, navegando os nossos rios, em busca dos pontos de pesca, descem em suas canoas, junto a margem e a sombra dos mangais, ao bater cadenciado dos remos, quebrando a monotonia e o silêncio do rio enluarado. Em dado momento, cessando aquele ruído, os Pescadores em três ou quatro vozes começam a cantar uma ladai-

nha, enchendo de sons e ecos, os estirões do rio, de ponta a ponta. No silêncio da noite, ao sussurrar da brisa e do marulho da correnteza do rio, este cantochão tem a sublimidade de um ato de fé a chocar-se com a natureza exuberante e iluminada, para receber, da humildade dos sentimentos desses Pescadores, esse hino de alegria, esperança e fé, com que lá se vão cantando, horas a fio, descendo o rio, ora na cadência dos remos, ora cantando uma ladainha, ora na toada de cantigas de "boi”. *** Uma comissão de esmolação de santo ao chegar em uma casa, primeiro canta a folia; a noite a novena e o bendito, e para sair, novamente a folia de despedida. Recolhemos os versos de folias:

Meu mano vãmo cantá como irmão O Sinhô São Benedito há de nos dá a salvação. Meu companheiro me ajuda, meu companheiro me ajuda, Deus Ihe bote em bom lugar. Meu sinhô São Benedito me ajudai tenha muitos anos de vida neste mundo. Se ajuntá costa com costa quem apanha num é só eu. Vou subindo para o céu, pelo um fio, pelo um cordão, numa ponta vai São Pedro, na outra vai Sao João, no meio vai um rosário, da virgem da Conceição. Abre a rosa gira-sol, do botão acende a luz, nasceu um cravo e uma rosa no sacrário de Jesus. Cheirou cravo e cheirou rosa, cheirou flor de laranjeira, O sinhô São Benedito, é o nosso pai verdadeiro.

Deus salve a dona da casa quem encontrou São Benedito Na sua casa de aurora Bom Jesus seja consigo.

Vamos cantá a despedida, nós queremos apartar, adeus oh! pombinha branca e adeus oh! pomba do ar.

Abre a porta do sacrário Que eu quero rezar lá dentro Eu quero pagar uma promessa Eu devo pro casamento.

Vou-me embora, vombora, vamos andando, eia, eia! a despedida estou dando.

Quando eu vejo cantoria Na cantoria tambem vou Valha-me, valha-me a Virgem www.revistapzz.com.br 95


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CAVALHADA A véspera do dia de São Joao ou de São Pedro realiza-se a Cavalhada. O Jogo das Argolinhas, do Brasil-colônia, admiravelmente descrita por Jose de Alencar em "As Minas de Prata", por Luiz Edmundo em "O Rio de Janeiro ao tempo dos Vice-Reis", por Manuel Querino em "A Bahia de outrora" e em outros autores, e praticado em Bragança, ate o presente, com a denominação de Cavalhada, nome vulgarizado em todo o país. Entre nós, por todas as suas características, isto é, por ser primitivamente realizado no período das festas juninas, como porque seus integrantes eram caboclos, sem influência dos negros ou seus descendentes, era um jogo deste ciclo. Todavia perdeu esta característica, pois também, por ocasião da festa de São Benedito, vem o mesmo sendo efetuado com a participação de negros ou mulatos. O auto popular em que eram rememoradas as lutas entre cristãos e mouros, e justas entre cavalheiros e cavaleiros, não está mais na reminiscência dos participantes da Cavalhada; ou porque esta festa popular já aqui tenha chegado incompleta no enredo do auto, o fato é que a sua origem é ignorada. Do entrecho somente a disputa das argolinhas permaneceu. Por isso os proprietários de cavalos aproveitam essa oportunidade para exibirem as excelentes qualidades e os bons andares de suas montarias. Por vezes aparecem ainda dois partidos — o azul e o vermelho participando dessas disputas. Presentemente a competição reveste mais um caráter pessoal que partidário. Um inquérito analítico seria infrutífero, pois nenhum dos participantes seria capaz de fornecer dados objetivos sobre a gênese do jogo nesta região. Como veremos na descrição, nenhuma luta existe, nem passos, nem danças, nem diálogos, etc. Tudo se passa como se fosse apenas a disputa de uma argolinha de prata e a vaidade. alias muito natural de vaqueiros, de apresentar boas montadas, com bons andares. A tarde do dia 23 ou 28 de junho, vésperas de São Joao e de São Pedro, os cavaleiros oriundos dos Campos e os da cidade, se reúnem em casa do Juiz da Festa e precedidos pela banda de música, dirigem-se a Praça da República ou 96 www.revistapzz.com.br

Largo da Aldeia, ornamentada com bandeiras e cordões de bandeirinhas. No centro desta, de dois postes laterais e diametralmente opostos, a uma altura conveniente, e estendido um fio de arame do qual pendem as argolinhas de prata. Chegam os cavaleiros e estacam no começo do Largo. A banda de música toma posição perto da linha das argolinhas onde já se encontram as autoridades, a Diretoria da Festa e pessoas gradas. A Cavalhada apresenta um aspecto garboso, com os cavaleiros ostentando camisas de cores variadas, calças brancas, gorro de tecido branco na cabeça ou chapéus de palha, algumas vezes, cobertos de pano e ornados de flores de papel, azul ou vermelho. Suas montarias, bem tratadas, se apresentam com arreios simples ou bem ajaezados. A praça está literalmente cheia. Cavalos e cavaleiros desfilam em saudagao as autoridades. Voltam depois a primitiva posição, no início da praga, e, ao sinal do juiz, em desabalada carreira, saem as duplas, uma apos outra; a seguir, novamente aos pares partem os cavaleiros abraçados até o fim da praga. Terminada esta primeira exibição inicia-se o jogo propriamente dito. Em veloz arrancada os cavaleiros levando na mão direita uma pequena lança de madeira, porfiam una após outros, para enfiar e tirar a disputada argolinha, numa demonstração invulgar de agilidade. A argolinha conquistada e oferecida &s senhoras e senhoritas, que retribuem essa gentileza amarrando no braço esquerdo do cavaleiro uma vistosa fita, que comprovara as argolinhas obtidas. Assim prossegue o tornelo ate a ultima argolinha. É interessante notar-se entre os cavaleiros um palhaço, correndo desengonçado e com trejeitos ridículos, ora sentado de frente na sela, ora de costas, ora tentando tirar uma argolinha ou causando atrapalhação entre os disputantes. É a parte cômica do jogo. Findo o torneio os cavaleiros não deixam escapar o ensejo para por em destaque as qualidades de seus cavalos. Estabelecem-se as porfias em marcha baixa, em meia marcha e em marcha alta ou esquipado sob a admiração e os aplausos dos circunstantes .


O auto popular em que eram rememoradas as lutas entre cristãos e mouros, e justas entre cavalheiros e cavaleiros, não está mais na reminiscência dos participantes da Cavalhada; ou porque esta festa popular já aqui tenha chegado incompleta no enredo do auto, o fato é que a sua origem é ignorada. Do entrecho somente a disputa das argolinhas permaneceu. Por isso os proprietários de cavalos aproveitam essa oportunidade para exibirem as excelentes qualidades e os bons andares de suas montarias.

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PZZ BRAGANÇA / ESPECIAL

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SANTO PRETO BENEDITO LADAINHAS MELODIOSAS DE LOUVOR E FÉ CELEBRANDO O PATRONO DA IRMANDADE SANTO PRETO BENEDITO. FITAS COLORIDAS EM CHAPEUS DE PALHA ADORNADAS, RABECA ARTESÃ EM HARMONIA, SONORIZANDO MARUJADAS BRAGANTINAS, RAÍZES AÇORIANAS FINCADAS NO CAETÉ. SEGUE EM FRENTE A ROMARIA CABOCLA, ANDOR COM SANTO PRETO BENEDITO EM OMBROS FORTES CARREGADOS, PASSOS RITIMICOS EM CANTOS CADENCIADOS, PISANDO VELHOS CAMINHOS, RUAS CENTENARIAS COM JANELAS E SACADAS ENFEITADAS. NA BRAGANÇA, PEROLA DO CAETÉ E A MARUJADA PELA CIDADE SE ESPALHA, LEVANDO ALEGRIA EM BATUQUES RITIMADOS, ENERGIA DE SECULAR TRADIÇÃO, ORLEANDO AS MARGENS DO VELHO RIO. MASTRO SANTO, COM FLORES DO MATO ENFEITADO, ZIGUEZAGUEANDO ATÉ O FINAL DE SUA TRAJETÓRIA, EM PASSOS TROPEGOS POR CAJUÍ ENCHARCADOS A C M CAVALCANTE

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PZZ BRAGANÇA / GASTRONOMIA

Carlos Pará Eduardo Souza

CHEF OFIR

SABOR SELVAGEM Chef Ofir Oliveira atua há mais de três décadas na divulgação, valorização e resgate da culinária da Amazônia, a qual tem origem indígena com forte influência africana.Ele também é reconhecido por utilizar a gastronomia como meio de conscientização para a preservação do meio ambiente.

O

Chef Ofir Oliveira há mais de trinta anos atua no ramo da gastronomia. Recentemente foi proposto a ele, o título de Doutor Honoris Causa pela Faculdade do Pará – ESTÁCIO/FAP em decorrência de sua contribuição cultural, científica e acadêmica para o desenvolvimento e disseminação dos valores inerentes à Região Amazônica. Título que o próprio chef destina ao povo bragantino de onde adquiriu os conhecimentos, a inspiração de seus principais pratos e de sua devoção ao santo protetor dos pretos, São Benedito, santo milagreiro que favorece a fartura e multiplica o alimento da mesa dos bragantinos. Atualmente grandes universidades do Pará, do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, através de seus alunos, estudam as propostas, ideias e experiências do mestre Ofir. O fato de terem outorgado a maior condecoração que uma instituição pode conceder a uma personalidade, aprovado por unanimidade, favorece para a construção de uma política pública unindo e integrando governos, universidades, institutos e a sociedade como um todo. O reconhecimento e a certificação do trabalho, a experiência de vida desse nobre Chef, que foi convidado a ser o coordenador do Curso de Gastronomia que será implantado no Pará, faz o diferencial 100 www.revistapzz.com.br

na área da Gastronomia. A partir da gênese da gastronomia amazônica é que falamos da gênese da gastronomia Brasileira.

ORIGEM

Ofir nasceu dentro da floresta amazônica, em Calçoene, no Amapá, onde sua mãe nasceu também. Seu pai nascido na Bolívia, era filho de imigrante nordestino. Depois vai para Bragança e se torna regatão e leva tabaco para trocar por Ouro nas minas de Oiapoque. “Nasci em uma pequena cidade do interior da Amazônia, onde convivi com rios, animais, florestas e costumes indígenas de uma Amazônia intocada, que deixaram em mim conteúdos afetivos que seriam importantes para minha expressão artística anos depois. Minha mãe era professora de culinária, cozinhava com maestria. Ela fazia banquetes em Bragança e eu ajudava a fazer e servir. Lembro de um banquete para umas 400 pessoas em decorrência da consagração do Bispo Dom Miguel Maria Giambeli quando foi encomendado para ela fazer. Tudo foi feito de forma impecável e eficiente” lembra Ofir. “Meu pai foi o primeiro a montar uma fábrica de rádio em Bragança, o único que estudava eletrônica em Bragança, montava aparelhagens há 60 anos atrás, logo no início das aparelhagens. Criou uma geração ensinando eletrônica. E a sua mãe ensinou uma geração dando aulas de culinária em Bragança” relembra o Chef.

“Nasci em uma pequena cidade do interior da Amazônia, onde convivi com rios, animais, florestas e costumes indígenas de uma Amazônia intocada, que deixaram em mim conteúdos afetivos que seriam importantes para minha expressão artística anos depois...”.


FOTO: RENATO CHALU

DEVOÇÃO

Católico de família e por tradição, Ofir conheceu em Bragança, a Marujada, uma das mais belas festividades do Estado em devoção ao São Benedito, santo protetor dos escravos e símbolo da multiplicidade dos alimentos, diz-se, a mais forte expressão cultural e religiosa de Bragança, e uma das mais tradicionais e antigas do Pará, introduzida pelos escravos em 1798. Devoção e servidão ao Santo, Ofir prometeu e seguiu, já foi esmolar por semanas nos campos do interior da região. Vestiu-se de Marujo e acompanhou a Marujada por muitos anos da sua vida. Devoto de São Benedito prepara os pratos como um ritual de agradecimento aos feitos em sua família. Peixe a Capitoa com o Sururu e o Retumbão, são os pratos principais de seu cardápio. Esses pratos falam a história de Bragança, da origem do negro, do índio e do português na cidade. Toda a cultura é bragantina, uma cultura que vem de dentro da floresta, seu conhecimento, sua vivência, mesmo sem

ter vivido diretamente na floresta, mas seu pensamento vem de dentro dela. Devoção que se enraíza na família, na qual sua filha, Luana de Souza Oliveira,

Devoto de São Benedito prepara os pratos como um ritual de agradecimento aos feitos em sua família. Peixe a Capitoa com o Sururu, foi o carro chefe de se cardápio, o Retumbão, os pratos que falam a história de Bragança, da origem do negro, do índio e do português na cidade. Mestra em Turismo e Hotelaria, Docente e Pesquisadora do Instituto Federal do Tocantins – IFTO. Desenvolveu “Uma proposta de Interpretação patrimonial

para a Festividade de São Benedito como alternativa para a melhoria e desenvolvimento da atividade turística em Bragança-PA”, observamos que esta manifestação cultural realizada a mais de dois séculos não é alvo de uma política de valorização, divulgação e preservação enquanto patrimônio cultural e atrativo turístico! Principalmente, por falta de iniciativa do Poder Público e em algumas situações de parte da própria população. O que gera falta de informações e infraestrutura disponíveis aos turistas que vão para esta localidade com o intuito de conhecer esta tradição. Na tese de Luana Oliveira, propõe a aplicação de técnicas interpretativas que colaborem com o desenvolvimento local e melhoria da experiência turística, fundamentada no sentimento de cidadania ligado ao de pertencimento, encorajando a conservação e defesa da memória cultural, histórica, social, política e ambiental da região. www.revistapzz.com.br 101


PZZ BRAGANÇA / GASTRONOMIA

SABOR SELVAGEM

O chef é fundador da Associação Sabor Selvagem e criador das expedições amazônicas trazendo alunos de universidades de gastronomia do Brasil e do exterior para interagir com as comunidades ribeirinhas da Amazônia, líder do Convivium SlowFood. “Estamos preocupados em trabalhar uma culinária autêntica do Brasil nas universidades. O ensino de gastronomia se preocupa em plagiar, em copiar as técnicas dos outros. Ou seja, a francesa, a inglesa, chinesa e outras de qualquer lugar, menos da Amazônia” explica o Chef. O Chef Ofir Oliveira já participou em Faro (Portugal) das comemorações do Ano do Brasil em Portugal dando aula magna em Coimbra, levando os sabores e saberes do caboclo. Foram esses posicionamentos que proporcionaram ao Chef um reconhecimento local, regional, nacional e internacional.

SLOWFOOD

"Hoje trabalhamos o conceito do Slow Food, uma política ecologicamente correta. Todo o meu trabalho é fundamentando na culinária e na cultura Amazônica como um todo e acaba se tornando um referencial da gastronomia” comenta Ofir. “Nós colocamos as técnicas amazônicas que possuem o nosso conhecimento ancestral e inovador em alguns casos, para o contexto atual. Essas técnicas poderão serem usadas pelo mundo a fora. Porque são resultados de milhares de anos sendo executadas com eficiência. Ou seja, além do aproveitamento dos produtos dentro de tecnologias amazônicas. A ciência que desenvolvemos tem um papel fundamental e preponderante no processo de elaboração de um prato, mas o que nós propomos, não é o que vai ser servido na mesa do almoço ou do jantar, de forma colorida ou bem apresentada, nem tão pouco só um festival, mas sim, através dos festivais, das aulas de gastronomia de cozinha e cultura amazônica podemos executar uma política pública. O conceito do Slow Food, envolve o trabalho familiar e comunitário, gerando renda para os pequenos produtores (agricultores e pescadores) e garantindo o consumo próprio, o excedente de todo o pescado na safra é jogado fora para não reduzir o preço. Se perde e não se aproveita. Na proposta do slow food vamos aproveitar o excedente, industrializá-lo com um produto de altíssima qualidade e valorar as espécies que não são cotadas no mercado mas que possuem uma riqueza 102 www.revistapzz.com.br

de nutrientes e sabor incondicional como o Bagre, o Cangatão, Dourada, a nível de sabor são excepcionais" explica o Chef.

AMAZÔNIA: NOVOS PORTUGAIS O projeto “Amazônia: Novos Portugais” propõe a criação de uma nova rota de especiarias para levar os mais variados produtos culinários do Pará a Portugal, especialmente de 30 cidades paraenses homônimas de cidades portuguesas. Para isso será realizado no dia 5 de julho em Lisboa, no Hotel Vila Galé Ópera, um jantar para 50 convidados entre empresários, jornalistas, críticos e formadores de opinião do ramo de restaurante, turismo e entretenimento, no intuito de despertar o interesse de instituições portuguesas neste novo e potencial mercado. Serão realizadas harmonizações gastronômicas com especiarias seculares da culinária amazônica - descobertas em pesquisas junto a comunidades tradicionais - e elementos da culinária portuguesa. Peixes, vinhos, azeites e doces, junto com molhos, pimentas, farinhas, frutas, chocolates e licores amazônicos. Acreditamos que a proposta terá uma boa receptividade

em terras lusitanas, tanto pelo exotismo e história assim como pela intensidade e diversidade do sabor. O empreendimento também tem uma forte vertente social, pois envolve um trabalho de valorização e aperfeiçoamento de mestres de cultura, agricultores familiares, pescadores e pequenos produtores que receberão cursos, oficinas e consultorias no intuito de organizar e qualificar a produção dessas comunidades que serão beneficiados com a venda dos produtos na Europa, pois toda a matéria-prima virá dessas comunidades. No evento em Lisboa será lançado oficialmente o projeto que envolve inicialmente cinco atividades paralelas. São elas: Expedições Amazônicas; Cursos & Oficinas (Belém e Santa Bárbara); Cidades Vitrines; Programa de TV e Festivais Gastronômicos e Culturais.

EXPEDIÇÕES AMAZÔNICAS

Receptivo de grupos de alunos, pesquisadores, chefs de cozinha, empresários do ramo de restauração e turismo, ou simplesmente pessoas interessadas em conhecer in loco o ecossistema social e biológico de onde provém os insumos de uma das melhores gastronomias do mundo. As expedi-


O SlowFood tem como principal característica o uso de ingredientes de procedência natural. desenvolvidos para comércio na Europa.

CURSOS & OFICINAS

(Belém/Santa Bárbara) Realização de cursos e oficinas gastronômicas no Espaço Sabor Selvagem, que funcionará a partir de junho de 2017 como restaurante, escola e laboratório, e no Empório Chicano em Santa Bárbara, onde o visitante aprendiz terá contato direto com grande parte dos produtos que serão trabalhados nas oficinas. A ideia é receber grupos de pessoas interessadas em cultura amazônica, de forma a atrair profissionais que possam enriquecer o intercâmbio com a comunidade local através de um processo de retroalimentação de conhecimento. Aproveitaremos também a vinda dos chefs e pesquisadores nacionais e internacionais para promover pequenos debates com produtores locais, gerando verdadeiras trocas de experiências e fazendo com que este intercâmbio cultural multiplique-se em meios de integração comercial.

ções acontecerão uma vez por mês, e fazem diferentes rotas gastronômicas pelo Estado do Pará. Durante 1 (uma) semana o grupo será acompanhado pelo chef Ofir Oliveira e os participantes farão uma imersão total na cultura local, visitando lugares sagrados da Amazônia como os campos de Bragança, os alagados do Marajó, os açaizais do Baixo Amazonas, os manguezais do salgado, as ilhas atlânticas, sempre ficando hospedado em casas de pescadores, ribeirinhos e camponeses, vivenciando seu dia-a-dia e sua forma de plantar, colher, pescar e cozinhar. As casas de ribeirinhos serão adaptadas para receber os turistas e visitantes que vierem para a Amazônia, inclusive com barcos e transporte rodoviário à disposição. Os visitantes conhecerão o maior número de paisagens e ingredientes possíveis, aprenderão técnicas tradicionais dessa culinária para poder replicá-la no Brasil e no mundo e ainda terão facilidade de acesso aos produtos através do contato direto com os produtores locais. Este projeto trará inúmeras vantagens para os municípios envolvidos, gerando receita extra para as cidades que receberão turistas e pesquisadores de todo o mundo, e para as comunidades de produtores rurais que terão toda sua produção revertida nos produtos

PROGRAMA DE TV “Sabor Selvagem” O programa está em plena fase de produção e será lançado no primeiro semestre de 2018 em canais de TV e internet. O foco são os sabores selvagens amazônicos que serão apresentados pelo chef Ofir Oliveira, incansável pesquisador da culinária local, e que conduzirá o público a vivenciar experiências únicas pelo interior da Amazônia. O programa vai a fundo na cultura paraense desvendando seu DNA a partir da culinária e indo além, atrás de história de pessoas e rituais antigos que se perpetuam por milênios, sempre com um tom de novidade e mistério sugeridos por estes lugares com ingredientes, animais e paisagens únicas no planeta.

FESTIVAIS GASTRONÔMICOS E CULTURAIS

Realização de festivais multi-sensoriais que apresentam o que há de melhor em gastronomia e música amazônica em um ambiente visualmente adaptado para tal experiência, com músicas temáticas e projeções audiovisuais que representem diversas facetas de uma das culinárias mais cobiçadas no mundo atualmente. Através de harmonizações gastronômicas, performances musicais ao vivo e projeções de mapping com animações de imagens da culinária regional faremos uma viagem entre séculos de história, revelando traços fundamentais desta cultura e mostrando toda a cadeia CIDADES VITRINES produtiva e social que está por trás de cada Esta ação busca o aperfeiçoamento téc- produto e receitas que serão apresentadas, nico e organização da produção local para promovendo uma experiência única e real suprir as necessidades que serão abertas sobre as riquezas da Amazônia. com a venda dos produtos no Brasil e na Europa, promovendo qualificação de pro- ESPAÇO SABOR fissionais e estabelecimentos do município SELVAGEM como uma contrapartida dos alunos que O Espaço Sabor Selvagem é um lugar vierem de fora, que através de consultorias e destinado a pesquisa e experimentação palestras introduzirão novos conhecimentos gastronômica e funciona como restaurante, desde gestão de negócios até implementaescola e laboratório. A ideia do espaço é ção de receitas incentivando o turismo e o comércio local. O projeto piloto será realiza- desenvolver cursos e oficinas de culinária do em Bragança e de lá seguirá para outros amazônica de raiz, e assim criar um municípios paraenses que ofereçam raros e calendário de ações voltadas para a educação saborosos exemplares da culinária regional. cultural e gastronômica na região. Desta Em parceria com as prefeituras dos municí- forma pretendemos atingir o máximo de pios serão ocupados espaços da cidade que pessoas interessadas nessa área, além de sirvam como vitrine das iguarias culinárias estimular a valorização e a divulgação destes locais, sempre com música, performance e conhecimentos tradicionais para o Brasil e cenografia características, como food boa- para o mundo. O Espaço será inaugurado ts ou barcos restaurantes, tendas ou food nos dias 10 e 11 de junho com um curso de trucks adaptados a cenários regionais, ocu- farinha ministrado pelo Mestre Bené de pações temáticas temporárias em lugares Bragança, considerado um dos melhores importantes das cidades como praças e or- mestres farinheiros do mundo, juntamente las. A ideia é qualificar a cidade, ampliar seu com showcookings do chef Ofir Oliveira. Mais cardápio de opções gastronômicas, culturais informações: (91) 98155-4000 / 2121-6096 / e de entretenimento, e ainda gerar renda E-mail: restaurantesaborselvagem@gmail. para o município. com

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ENSAIO FOTOGRÁFICO

Paulo Vergolino

Farinha com amor e sabor Fotografias de Paula Giordano.

Paula Giordano investiga para além do mero registro, o detalhe - notamos em seu sensível trabalho, alguns pontos que não podem ser desconsiderados, entre outros a busca quase que obsessiva pelo detalhe, onde nada escapa à essa atenta lente.

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PZZ BRAGANÇA / ENSAIO FOTOGRÁFICO

A

lgo nos chama a atenção quando vemos aqui para a região Sudeste do Brasil, um grupo cada vez maior de profissionais da culinária, a nos confessar que não podem prescindir deste ou daquele produto importado do Norte do País. Seria porque hoje a região está finalmente saindo do tão esperado e longo sono do esquecimento? Certamente não. Somos um País de dimensões continentais e ao longo dos anos foram se criando verdadeiros micro-países dentro de um mesmo país. Assim é o Pará, o Amazonas, o Ceará, o Rio Grande do Sul e toda essa pluralidade de estados que forma o que chamamos a nossa grande Casa. Precisamos

“Atualmente os chefs, designers, artistas, historiadores estão, junto com a modernidade, percebendo que voltar ao passado e reaprender com o que foi feito, redescobrindo-o mais e mais vezes, faz muito bem. Basta misturá-lo com o presente, salpicando um cadinho de pimenta, que o futuro passa a ser bem melhor, ou menos insosso. ” apenas olhar para dentro e não cultivar e consumir a história dos outros. Assim aconteceu com o grande visionário Mário de Andrade (18931945) que, em suas viagens pelas regiões na época fora do eixo Rio/São Paulo, já pregava a valorização do que verdadeiramente era nosso – a Cultura. Atualmente os chefs, designers, artistas, historiadores estão, junto com a modernidade, percebendo que voltar ao passado e reaprender com o que foi feito, redescobrindo-o mais e mais vezes, faz muito bem. Basta misturá-lo com o presente, salpicando um cadinho de pimenta, que o futuro passa a ser bem melhor, ou menos insosso. Em se tratando de Norte, 106 www.revistapzz.com.br

região importantíssima para a coroa portuguesa desde a criação e fundação das 14 primeiras capitanias hereditárias, durante o período colonial nos séculos XVI ao XVIII, junto com a horda de novos habitantes que por aqui chegavam - portugueses, franceses, holandeses, espanhóis e africanos (vindos como escravos do atual Senegal, de Gambia, da Nigéria, de Angola, Tanzânia e Moçambique) encontravam-se os indígenas – comedores de mandioca, de tartaruga, de peixe, de frutas, de gente e de toda sorte de alimentos que esta vasta, rica e recém descoberta terra pudesse produzir. Ora, não é novidade para nenhum de nós que a miscigenação tão ventilada e cantada em verso e prosa, quando se trata de ser brasileiro, só pôde existir, porque havia comida em abundância para suprir a instauração de uma nova Portugal. E assim se fez e assim se faz até hoje. O alimento é algo que ultrapassa fronteiras e se torna indispensável pelo simples fato de sermos humanos. Entre muitos alimentos que hoje fazem parte do nosso cotidiano estão alguns que são imprescindíveis para o bom humor à mesa de qualquer cidadão nascido por aqui. O milho, o café, a banana, o coco, a cana de açúcar, o feijão e a mandioca, apenas para chamar a atenção para alguns. Segundo pesquisas recentes e consultas à publicações e aos mais variados sites especializados, só o último dessa lista é verdadeiramente brasileiro. Relatos sobre a mandioca são identificados desde 1615, como na publicação francesa do acervo da Biblioteca Nacional de Paris “Suite l’Histoire des choses plus memorables advenuës em Maragnan ès années 1613 & 1614” em que integrantes de uma expedição daquela nacionalidade relatam ter sentindo-se mal ao ingerir farinha sem o costume de fazê-lo, ou mesmo em Turim, no ano de 1911, quando tipitis são usados para decorar um dos interiores do Pavilhão Brasileiro na Exposição Internacional, realizada naquela cidade e com grande participação dos produtos da indústria florestal do Pará, sobretudo


Giordano investiga para além do mero registro, o detalhe - notamos em seu sensível trabalho, alguns pontos que não podem ser desconsiderados, entre outros a busca quase que obsessiva pelo detalhe, onde nada escapa à essa atenta lente. do município de Bragança, que para lá enviou seus produtos. Em 1963 encontramos o autor do livro “Santa Maria de Belém do Grão Pará”, Leandro Tocantins, a reproduzir receitas de pato no tucupi, açaí e maniçoba, todos saboreados, segundo ele, com farinha de mandioca ou farinha d’água. O que percebemos depois desses interessantes relatos, é que a mandioca – assim como a farinha feita dessa raiz tuberosa, vem acompanhando o desenvolvimento das gentes do Norte há centenas de anos - só no Brasil já foram identificadas cerca de 4.000 variedades, segundo dados da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) - a própria farinheira, tão comum nas mesas nortistas e nordestinas é uma peça de design brasileiro, criada para suprir o mercado nacional. Esse amor pelo produto em questão remonta a costume tão arraigado na alma do povo brasileiro e, sobretudo do paraense - comer e servir bem. A farinha, que complementa magistralmente o queijo e a goiabada, é usada também para engrossar sopa, enfeitar doces de bacuri, cupuaçu e está, paulatinamente, sendo descoberta pelo turista estrangeiro, ávido de novidades. Em que pese uma crescente demanda pelo produto, a produção caseira resiste até hoje. Regiões como o município

de Bragança, criado por decreto em 1854, são produtoras dos melhores tipos. Percebemos que a produção não se industrializou ali porque, do contrário, é prezada por ser feita dessa forma – caseira – e ensinada através das gerações de produtores, o que de alguma forma contribui com certa poesia e tipicidade, tão raros nos tempos atuais. Esse olhar, voltado para o que é genuíno, por incrível que possa parecer, é recente. O cotidiano passa através do olhar de quem tem capacidade de enxergar algo corriqueiro e/ou até comum, para se tornar coisa que beira o extraordinário. Assim foi a descoberta da fotógrafa Paula Giordano, que nos presenteia com essa exposição sobre a farinha de Bragança - como paraense, a artista foi buscar um dos muitos aspectos do que é pertencer a essa terra e, esse pertencimento a levou a registrar momentos de quem trabalha a produção da farinha. O seu conjunto fotográfico está aqui reunido e condensado por conta das limitações do próprio espaço, a uma pequena constelação não superior a 20 trabalhos, selecionados de um conjunto de mais de 600 fotos. Giordano investiga para além do mero registro, o detalhe notamos em seu sensível trabalho, alguns pontos que não podem ser desconsiderados, entre outros a busca quase que obsessiva pelo detalhe, onde nada escapa à essa atenta lente. Portanto, saltam aos nossos olhos as formas da palha que trançada forma o tipiti, o negrume dos tachos de ferro que esquentam e torram a farinha, a mão amorosa do produtor que mistura a pasta da mandioca e em um gestual constante e quase sagrado produz seu sustento, enfim, aspectos que são trazidos para a capital do Pará, só possíveis por quem decidiu não desligar seu passado. Até porque certos www.revistapzz.com.br 107


PZZ BRAGANÇA / ENSAIO FOTOGRÁFICO

A fotógrafa não se coloca como um elemento alheio ao momento e sim, por amor ao que faz, segue retendo esses momentos mágicos onde a história é viva e a cultura acontece sem aborrecer o que e quem é fotografado. aspectos, não podem ser esquecidas ou apagados de nossa memória cultural. Nada mais justo do que homenagear essa gente que trabalha e derrama o fruto do seu trabalho em nossas refeições. Paula optou por isso - voltou as suas origens, encontrou o nascedouro do elemento fotografado e o trouxe graciosamente para nós através do seu labor. Outro aspecto que nos pareceu relevante na obra da artista, foi a importância dada ao colorido, presente em cada uma das peças aqui expostas. Paula Giordano gosta da cor e sabe registrar o contraste entre o foco e o não foco. Sentimos quase que uma explosão de colorido que se justifica quando em conjunto com a sombra. O processo de trabalho não é esquecido pelo seu olhar - que parecem não interferir na feitura da farinha mais do que o necessário. A fotógrafa não se coloca como um elemento alheio ao momento e sim, por amor ao que faz, segue retendo esses momentos mágicos onde a história é viva e a cultura acontece sem aborrecer o que e quem é fotografado. Acreditamos que as práticas artísticas, de um modo geral fazem bem, assim com o conhecimento que nunca se esgota. Aqui juntamos alguns elementos históricos e artísticos para que em conjunto e em constante diálogo, possam contribuir um pouco com este trabalho de fotografia que nasce com a certeza de sucesso. Longa vida à farinha do Pará e a quem, ao molde de Paula Giordano, dela não se esquece, enchendo a boca de água só em recordar de tal preciosidade. Paulo Leonel Gomes Vergolino – Curador independente e Membro da Associação Paulista dos Críticos de Arte APCA . Inverno de 2015. 108 www.revistapzz.com.br


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PZZ BRAGANÇA / ENSAIO FOTOGRÁFICO

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PAULA GIORDANO Tem como enfoque do seu trabalho, o homem e suas diversas formas de expressão. Fotografia precisa ter emoção. Sempre manteve relação com diversas formas de arte como pintura, dança e teatro; contudo, é no estudo da fotografia e no desenvolvimento de suas habilidades nesse universo, há cerca de três anos, que vem encontrando espaço para seu desenvolvimento artístico, pessoal, e a expressão de sua sensibilidade. Procura não se prender a regras ou estéticas simplesmente, busca desafios a cada novo trabalho, o que lhe faz produzir trabalhos diversificados. Investe seu olhar qualificado na procura incansável pelo que há de sentimento na imagem. Em novembro de 2013 teve sua primeira participação em concursos de artes, sendo selecionada para a XXII Mostra de Artes Primeiros Passos CCBEU, com a fotografia entitulada “Sem Farinha não há trabalho”. Em dezembro de 2013, foi contemplada com o terceiro lugar no concurso de edital de pautas para 2014, da Galeria Theodoro Braga do CENTUR. Em novembro de 2014, apresentou sua primeira exposição individual, entitulada "Casa de Farinha", nessa galeria. Em dezembro 2014, participou com 2 obras, da exposição coletiva "Instâncias da Luz", na Galeria Fidanza do Museu de Arte Sacra de Belém. Possui obras no acervo de ambas as galerias. Em abril de 2015, foi selecionada pela galeria Urban Art Belém e seus curadores, para participar da Exposição Coletiva "Eu Vivo Belém", com a obra "Torre de Rapunzel". Em Junho de 2015, foi convidada pelos curadores Adan Costa e Rodrigo Barata a participar da exposição "De Vagar - Coletiva sobre o silêncio e seus resgates", apresentando o tríptico da série "Ouvindo a solidão". Atualmente, cursa pós graduação em "Arte Fotográfica" na Faculdade Estácio-IESAM e desenvolve projetos fotográficos voltados para a religiosidade, a relação do homem com o divino. Em maio de 2016 realizou a exposição “Entre Luz e Escuridão – Fotografias”,na Galeria Theodoro Braga.

paulagiordano@yahoo.com

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PZZ BRAGANÇA /ENSAIO

Mariana Bordallo

VALDIR SARUBBI

V

O ARTISTA E SUA OBRA

aldir Evandro Sarubbi de Medeiro, nascido em Bragança em 10 de outubro de 1939, era descendente de uma família tradicional de políticos. Seu pai, Simpliciano Fernandes de Medeiros Júnior foi ex -prefeito da cidade e seu avô, o Major da Guarda Nacional, Simpliciano Fernandes de Medeiros, era o Intendente de Bragança quando da inauguração da Estrada de Ferro Belém-Bragança em 1913. Sarubbi viveu a infância e a juventude perto da família, mas, ao iniciar sua carreira como artista plástico, mudou-se para São Paulo onde foi apresentar sua instalação Xumucuís na XI Bienal Nacional de São Paulo (BITAR, 2002, p. 06). A obra é uma expressão de sua memória cultural, evocando os brinquedos de miriti do Círio de Belém, os papeis de seda picados e as faixas horizontais nas cores branca e vermelha são as cores da Marujada, a centenária procissão em homenagem a São Benedito , festa que ocorre na cidade de Bragança no final de dezembro. Em São Paulo, Sarubbi passou a dedicar-se exclusivamente à arte e, ao longo 112 www.revistapzz.com.br

dos anos seguintes, construiu uma carreira sólida como professor, desenhista, gravador e artista plástico reconhecido e estimado. A crítica de arte e professora Ernestina Karman considerava Sarubbi um desenhista paciente, meticuloso na limpeza do trabalho, pesquisador constante (...) sem dúvida alguma Valdir sarubbi integrou-se já entre os melhores desenhistas nacionais. (BITAR, 2002, p.36). O crítico Olívio Tavares assim se refere ao trabalho de Sarubbi (...) leituras metafóricas para outras realidades do rio; talvez o fundo, se visível; talvez a água ao microscópio pululante de vida. Outra, talvez,

A água, sempre presente na obra de Sarubbi, é a matiz que não se via na série anterior, ... a cor surgiu mais audaciosa e declarada, embora os coloridos fossem sóbrios e exatos a própria superfície, observada de certa distância, pontuada por fragmentos da selva; insetos pequeniníssimos, animais, folhas secas... (Olívio Tavares de Araújo apud BITAR, 2002, p. 61). Neste ponto, a arte de Sarubbi já estava consolidada e definida em sua vida e trazia de seu passado na pequena cidade da Amazônia o material para compor trabalhos plenos de memórias culturais. Assim, as primeiras fases de seu trabalho tiveram uma forte influência amazônica. A primeira série, assim determinada no site oficial do artista , é nomeada Meditação Labiríntica e se inicia em 1972.

Trabalhando com aquarelas e nanquim, formando labirintos, fitas e arabescos, esses traços lembram os desenhos decorativos da cerâmica marajoara, caminhos ou rios. Nesse momento surgem também as mandalas (processo de individuação, de identificação com a totalidade da personalidade com o self (JUNG; 1998; p.114). Com as mandalas, Sarubbi ganhou diversos prêmios importantes em Salões Brasileiros (BITAR, 2002, p. 34) e afirmava que: Foi a partir daquele desenho que me senti artista... (BITAR, 2002, p. 34). M a i s tarde esse tema reaparece na criação do painel do metrô de São Paulo. Na segunda Série, Este Rio é Minha Rua, os labirintos se transformaram no próprio rio, ou, nos rios de sua infância, e trouxe para seu trabalho os símbolos relacionados ao rio e a sua afetividade: a paisagem amazônica, as cores, os povos indígenas (canoas, remos, tangas, muiraquitãs). ... ( ) seus labirintos da fase anterior transformaram-se em uma paisagem vista a partir de detalhes símbolos da população ribeirinha amazônica, juntamente com o rio visualizado em toda a sua ancestralidade. (BITAR, 2002, p. 40) A água, sempre presente na obra de Sarubbi, é a matiz que não se via na série anterior, ... a cor surgiu mais audaciosa e declarada, embora os coloridos fossem sóbrios e exatos (BITAR, 2002, p. 41). Aqui ele faz uma homenagem ao poeta Ruy Barata através do verso de um de seus poemas transformado em canção: Este rio é minha rua/ Minha e tua mururé/ Piso no peito da lua/ Deito no chão da maré. Na terceira série, intitulada: Antiguos Dueños de Las Flechas, o artista passou a usar a pintura a óleo mais intensamente,


www.revistapzz.com.br 113 Sem título (série Antiguos Dueños de Las Flechas) . Acervo: Lutfala Bitar.


PZZ BRAGANÇA /ENSAIO

Sarubbi em sua primeira exposição no CCBEU em Belém

realçando a cor e destacando a textura (BITAR, 2002, p. 47) e passa também a utilizar um recurso novo: a aerofotogrametria . Sobre aerofotogrametrias, mapeei poeticamente as aldeias desaparecidas nas beiras dos rios. Minha pintura mostrava artérias fluviais vegetalizadas, resguardadas por flechas, e artérias vegetais que se fluvializavam, encimadas por fitas de um colorido puro (Sarubbi apud BITAR, 2002, p. 47). Nesses trabalhos, Sarubbi sinalizava nos mapas os locais onde antes deveriam existir aldeias indígenas com manchas vermelhas como sangue e complementava com a imagem de flechas, o que dava uma ideia de luta e de morte desses povos. As fitas de Meditações Labirínticas que antes saiam do desenho, agora se misturam às flechas e recebem novo enfoque. Esta série foi nomeada com o título de uma

Em todas as fases de seu trabalho, Sarubbi colocou suas saudades e suas lembranças nas obras que produziu. Como afirmou no livro de Rosana Bitar: é a nossa memória que faz com que façamos arte

Mistério da Estrela (série Meditações Labirínticas)

Painel na Estação da Barra Funda no Metrô de Sâo Paulo 114 www.revistapzz.com.br

música interpretada pela cantora argentina Mercedes Sosa que homenageia os índios da tribo Toba, e assim, relembra todas as tribos indígenas das Américas massacradas pela colonização, a floresta massacrada pelas derrubadas ilegais, os rios poluídos e toda a destruição da natureza. Na quarta série: Geofagia, a ênfase não estava na cor, mas na abstração. Geofagia deu início a um progressivo e incansável exercício de abstração, onde as rasgaduras eram os rios que o acompanharam por toda sua obra (BITAR, 2002, p. 52). Formando um grande painel composto por elementos nativos, combinando pedaços de mapas com secções de troncos e matérias orgânicas, abstraindo a forma dos rios como se fossem rasgaduras, numa verdadeira arqueologia da memória, tracei, através de uma geofagia sensual, os rumos de minha obra. (Sarubbi apud BITAR, 2002, p. 52) O artista tirava da terra os elementos para compor seus trabalhos, abstraindo formas, usando mapas para falar de suas memórias. O termo geofagia quer dizer exatamente: alimentar-se da terra . Imagens que contavam sua história, imagens que alimentavam sua afetividade e sua memória. Raízes, rios, troncos, mapas são metamorfoseados e abstraídos. Sarubbi universalizou a região ama-


zônica através do desenho contemporâneo, ultrapassando a linguagem regionalista, conseguindo manter a pureza do seu caráter primitivo (BITAR, 2002, p. 53). A quinta série: Memoriae – o resgate do rio, concentra-se em uma memória voltada ao interior do artista, relacionada ao processo de amadurecimento pessoal e estético. Minhas obras recentes são pinturas e desenhos que deixam entrever uma outra visão do rio. Não mais o rio e seus elementos concretos e figurativos, mas uma visão abstrata do rio. Me importa agora outro tipo de memória, que se refere à poética dos elementos mutantes e cambiantes da água do rio, transformados em luz. Tento chegar à essência da pintura através da cor (BITAR, 2002, p. 59). Assim, dando continuidade ao tema central de sua obra, Sarubbi apresenta o rio, ou, as águas do rio, vistas sob uma nova perspectiva. É o rio visto de perto, muito perto, de dentro mesmo: o reflexo da água, o fundo do rio, a areia, etc. Com esta série, o artista rece-

A sexta séries: Memórias de Alexandria. Nesta série Sarubbi uniu as artes plásticas com a literatura. Ele fez uma releitura da obra “Quarteto de Alexandria” do escritor britânico Lawrence Durrell. Unindo desenho e gravura, relevos e lápis de cor, o artista privilegiou a recriação de climas relativos aos personagens, sentimentos e emoções ressaltam mais que o ambiente externo . Sem título (série Este Rio é minha Rua)

beu o prêmio de melhor pintor do ano (1992) pela APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte. Foi também premiado no VII Salão Brasileiro de Arte (Fundação Mokiti Okada/ São Paulo) com o prêmio “Viagem ao Japão” (BITAR, 2002, p. 60). A sexta séries: Memórias de Alexandria. Nesta série Sarubbi uniu as artes plásticas com a literatura. Ele fez uma releitura da obra “Quarteto de Alexandria” do escritor britânico Lawrence Durrell. Unindo desenho e gravura, relevos e lápis de cor, o artista privilegiou a recriação de climas relativos aos personagens, sentimentos e emoções ressaltam mais que o ambiente externo . Essa interação entre elementos de natureza diversa cria texturas ricas e ambíguas, que podem remeter o espectador à obra literária sem fazer nenhuma literatura, já que o trabalho possui um valor pess oal e intransferível, sem depender de apoios de interpretação (BITAR, 2002, p.56)

Sem título (série Este Rio é minha Rua) www.revistapzz.com.br 115


PZZ BRAGANÇA /ENSAIO

Com esta série ele recebeu o prêmio APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte de melhor pesquisa do ano (1988) e na International Art Competition de Nova York , foi premiado com o Certificate of Excelence for outstanding achievement in Works on paper . A sétima séries: Outras Memórias, pinturas, aquarelas e desenhos, abstrações coloridas como uma forma de aprofundamento em seus próprios sentimentos e emoções. Permitindo que sua obra surja naturalmente como resultado de sua vida interior e sem se preocupar com modismos, interesses de crítica e de mercado . Em outras memórias, Sarubbi continuou como simples espectador, verificando os resultados impregnados de lembranças, ao mesmo tempo que retirava elementos do real para a criação de um mundo surreal. (BITAR, 2002, p. 65) O artista identificou esta série como sendo Outras Memórias, mas, subtendidas, eram as mesmas memórias que acompanharam o artista por toda sua obra, a paisagem amazônica, reveladas em cores fortes mais contundentes que nas séries anteriores, em aquarelas, a pintura a óleo, a tinta acrílica, o nanquim, o lápis de cor e a colagem (BITAR, 2002, p.65). A carreira internacional de Sarubbi iniciou com participação na Bélgica em 1973, mas não se restringiu a isso. Ele participou de diversas exposições na Espanha, Alemanha, Chile, Romênia, Japão, México, Cuba, Portugal e outros países na Europa, na Ásia ou nas Américas. Em 2000, Sarubbi ganhou uma bolsa da Pollock-Krasner Foundation dos EUA em reconhecimento à excepcional qualidade de seu trabalho (BITAR, 2002, p. 25). Marina Marcondes , contou que o Atelier em que ele trabalhava foi muito elogiado ao ser visitado pela comissão: organizado e vivo, simples e essencial . Sarubbi aproveitou o prêmio para tratar de sua saúde antes de seguir para os Estados Unidos realizando a troca da prótese cardíaca, que havia sido adiada por tantos anos. Infelizmente, essa cirurgia apressou sua morte e ele não teve a oportunidade de usufruir o prêmio recebido, além de ter deixado muitos trabalhos inéditos.

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Em Belém, como aluno do Colégio do Carmo, foi convidado a participar do Norte Teatro Escola, grupo teatral criado por Benedito e Maria Sylvia Nunes e com o grupo atuou em diversas peças. Em 1960, na inauguração da Tv. Marajoara, Sarubbi foi convidado por Maria Sylvia Nunes para participar como realizador, adaptando textos literários para o teleteatro apresentados na TV aos domingos de noite. Em 1962, Sarubbi formou-se em Direito pela Universidade Federal do Pará, mas, o coração de artista o levou a repensar a vida ao descobrir um problema cardíaco. Ele decidiu seguir seu coração e passou a se dedicar à Arte. Em 70,

participou da seleção para a XI Bienal Internacional de São Paulo tendo sido aprovado para compor um grupo de 30 artistas brasileiros que iriam representar o Brasil na Bienal. Ele apresentou a obra intitulada Xumucuís, uma instalação composta por uma série de bastões de pau-de-chuva feitos de miriti e cobertos por papel de seda, brancos e vermelhos. Ao lado, um aviso para que as pessoas movimentassem os bastões a fim de produzir sons que pareciam com chuva, cachoeira, etc.. Assim, Valdir assumia uma tendência moderníssima no Brasil naqueles tempos, o da arte interativa. Em São Paulo, o fato de estar longe


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da família, da cidade natal e de sua cultura deve ter despertado no artista uma necessidade de “retorno às origens”: Bragança – mundo afetivo permeado de família e da identidade cultural amazônica. Por mais adaptado ao novo ambiente e à nova cultura, a criança e o jovem que ele um dia foi, ainda estavam afetivamente presos à sua cultura primeira. Assim, a obra produzida por Sarubbi, nesse primeiro momento em São Paulo, é cheia de símbolos que identificam as memórias afetivas de seus primeiros anos. Os desenhos detalhados, transformados em azulejos e Mandalas

A carreira internacional de Sarubbi iniciou com participação na Bélgica em 1973, mas não se restringiu a isso. Ele participou de diversas exposições na Espanha, Alemanha, Chile, Romênia, Japão, México, Cuba, Portugal e outros países na Europa, na Ásia ou nas Américas. Em 2000, Sarubbi ganhou uma bolsa da Pollock-Krasner Foundation dos EUA em reconhecimento à excepcional qualidade de seu trabalho. da fase Meditação Labiríntica que lembram os detalhes da casa azulejada de seus avós em Bragança. Em todas as fases de seu trabalho, Sarubbi colocou suas saudades e suas lembranças nas obras que produziu. Como afirmou no livro de Rosana Bitar: é a nossa memória que faz com que façamos arte (2002, p. 76). Sua obra é sua vida, seus afetos, suas lembranças. Sarubbi traduziu essas reminiscências em arte com uma linguagem universal, plenamente compreensível em Belém, em São Paulo, na Alemanha ou no Japão. Preso a essas memórias afetivas dos primeiros anos de vida e à bagagem cultural amazônica, Sarubbi transcendeu o regional e se tornou um artista universal, transformou sua arte em obras de infinita elegância e beleza, frutos de um conhecimento estético sem acasos, sedimentado na pesquisa, no talento, na disciplina e na paixão pela vida da ‘umidade’ amazônica (BITAR; 2002; p. 15).Assim, a obra produzida por Sarubbi, nesse primeiro momento em São Paulo, é cheia de símbolos que identificam as memórias afetivas de seus primeiros anos. Os desenhos detalhados, transformados em azulejos e Mandalas da fase Meditação Labiríntica que lembram os detalhes da casa azulejada de seus avós em Bragança.

REFERÊNCIAS BITAR, R. Sarubbi. Belém, 2002; CELINA, Lindanor. Menina que vem de Itaiara. RJ: Conquista, 1963; PAES LOUREIRO, João de Jesus. Obras Reunidas: vol. Cultura Amazônica – uma poética do imaginário, SP: Escrituras, 2001;

OUTRAS FONTES CENTRO NACIONAL DE FOLCLORE/ Museu/ Quem Foi Edison Carneiro <http://www.cnfcp.gov.br/interna.php?ID_ Materia=162 > acesso em 17.10.2013; CENTRO NACIONAL DE FOLCLORE/ O Centro/ Histórico < http://www.cnfcp.gov. br/interna.php?ID_Secao=1 > acesso em 17.10,2013; Relatório da I Jornada Paraense de Folclore – realizada em Bragança/Pará, de 22 a 27.12.1958, não assinado, mimeografado em papel timbrado com o símbolo da Jornada (Maruja), 02 cópia – Acervo Bordallo da Silva; Impresso da I Jornada Paraense de Folclore (equipes e programação) – Acervo Bordallo da Silva; MEDEIROS, Maria Lúcia. A Escritura Veloz. 1994 em < http://www.ocaixote.com.br/ caixote18/ 18cx_contos_ mlmedeiros.html > acesso em 17.12.2008; METRO DE SÃO PAULO < http://www.metro.sp.gov.br/cultura/arte-metro/livrod i g i t a l / a r q u i v o s / a s s e t s / b a s i c- h t m l / page185.htmlC > acesso em 08.09.15.

Mariana Bordallo recentemente defendeu no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA/ UFPA) sua Dissertação de Mestrado no Programa de Pós-Graduação na área de Letras em Linguagens e Saberes da Amazônia (PPLSA), que trata da vida, arte e obra de Valdir Sarubbi, obtendo conceito excelente.

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PZZ BRAGANÇA / NOSTALGIA BRAGANTINA

Fabrício Castanho

Amilcar Pereira

AMILCAR PEREIRA O ilustre bragantino que governou o Estado do Amapá, Amilcar da Silva Pereira nasceu no Município de Bragança, Estado do Pará, em 16 de fevereiro de 1919, filho de Antônio Manoel Pereira e D. Argentina Pinheiro da Silva e irmão do notório politico Antônio Pereira, ex prefeito de Bragança e deputado estadual.

O

ilustre bragantino que governou o Estado do Amapá, Amilcar da Silva Pereira nasceu no Município de Bragança, Estado do Pará, em 16 de fevereiro de 1919, filho de Antônio Manoel Pereira e D. Argentina Pinheiro da Silva e irmão do notório politico Antônio Pereira, ex prefeito de Bragança e deputado estadual. Desde cedo mostrou-se interessado pelas causas voltadas à saúde do ser humano. Após os estudos primário e ginasial, ingressou na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, diplomando-se em 1945. Enquanto se adaptava à profissão, foi professor de Ciências Físicas e Naturais no Colégio Progresso Paraense em Belém e, no dia 15 de fevereiro de 1946, foi contratado pelo governo do Amapá, assumindo o cargo de Diretor do Posto Médico do Município de Oiapoque. Com o pedido de exoneração do Prefeito Dr. Sérgio Olindense Ferreira, foi nomeado para o cargo

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no dia 16 de novembro do mesmo ano. Em fins de 1947 casou-se com a jovem professora Oneide Cruz da Silva Pereira. Transferiu-se para Macapá, passando a exercer a Medicina nas diversas áreas da antiga Divisão de Saúde, destacando-se como: Chefe de Serviço de Pediatria do Hospital Geral de Macapá; Diretor do Posto de Puericultura Iracema Carvão Nunes; Professor no Colégio Amapaense, exercendo posteriormente o cargo de Diretor do Colégio; participou da fundação do Centro de Estudos Dr. Lélio Silva, órgão oficial da Sociedade Médica do Território do Amapá; integrou a Comissão Científica, na condição de Presidente, tendo como membros os doutores Mário Medeiros Barbosa e Carlos Alclepíades de Lima. Em 16 de maio de 1954, foi designado por ato do governo, para responder pelo cargo de Secretário Geral, ratificado em 10 de julho do mesmo ano. Assumiu o cargo de Governador do Território em 2 de fevereiro de 1956, substituindo o Capi-

tão Janary Gentil Nunes, nomeado para a Presidência da Petrobrás, tendo como Secretário o Sr. Pauxy Gentil Nunes. Durante seu governo, destacaram-se a implantação da Companhia de Eletricidade do Amapá em 3 de setembro de 1955; a criação do Município de Calçoene e a posse do primeiro Prefeito Coaracy Barbosa em 25 de janeiro de 1957; a inauguração do Porto de Santana. De repente ocorreu o desastre aéreo na localidade de Carmo do Macacoari que ceifou as vidas do Deputado Coaracy Nunes, do Suplente Hildemar Maia e do piloto Hamilton Silva, enlutando o povo amapaense. O Amapá não podia ficar sem representante na Câmara Federal, e o Partido Social Democrático - PSD apresentou o nome do Dr. Amílcar da Silva Pereira para completar o mandato, tendo como suplente o Dr. Aurélio Távora Buarque. Em 3 de outubro de 1958, candidatou-se e foi eleito, derrotando a oposição liderada pelos candidatos Dr. Dalton Lima e Amaury Farias.


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