r e v i s t a b r a s i l e i r a d e a d m i n i s t r a ç ã o • Ano XXIII • Nº 95 • Julho/Agosto de 2013
Entrevista
Adm. Rodrigo Paolilo incentiva o empreendedorismo
Valorização
Programa de Certificação Profissional começará no segundo semestre
Terceiro setor gira com voluntários
Pessoas querem ser socialmente úteis, sem esperar remuneração pelo seu trabalho
Inclusão é uma questão de ordem
Sobram barreiras e elas devem cair para aumentar a interação da pessoa com deficiência
Sustentabilidade, 9 771517 200009
00095
a opção estratégica
R$ 9,90
Não é mais só uma questão de marketing. Ser sustentável é regra e uma necessidade de sobrevivência Confiança e autoconhecimento são bases de modelos de gestão inovadores
Editorial
Questão de sobrevivência U
ma discussão ganhou
regido pela cumplicidade está inserido na alma da relação
grande
empresarial entre os sócios. No outro, a base se fixa no
em
interferência
relevância
face no
da
cotidiano
sua da
sociedade. A sustentabilidade não é mais só uma peça de publicidade para reforçar o marketing das ADM. SEBASTIÃO LUIZ DE MELLO Presidente do CFA
empresas e organizações de outras naturezas. Trata-se de estratégia de sobrevivência e contribuição à vida. Está intimamente ligada
a um novo modelo de desenvolvimento, onde a riqueza social, ambiental e cultural tem tanto peso quanto a riqueza
O fato de refletir e pensar em maneiras para construir uma sociedade cada vez melhor passa, necessariamente, pela ação. Muitos dos problemas sociais são resolvidos através de atitudes voluntárias de pessoas que doam parte do seu tempo para auxiliar o próximo. Pois a matéria que pode ser conferida nesta edição trata do voluntariado praticado por abnegados que buscam edificar a sua obra enquanto cidadãos. Mais um exemplo de preocupação com o dia a dia das pessoas
econômica. O tema da reportagem de capa da presente
está exposto na pauta desta edição da RBA. O aumento da
edição da Revista Brasileira de Administração (RBA)
interação da pessoa com deficiência na sociedade na última
é mais que um simples conceito. É uma opção estratégica. Estudos e demais iniciativas comprovam que pensar em sustentabilidade não é apenas pensar no outro, no meio ambiente em todos os aspectos; é pensar na própria atividade – em se sustentar. Tanto que empresas já encaram o investimento em sustentabilidade como um bem
década incita que governo, empresas e cidadãos sejam chamados a pensar e a trabalhar na promoção da inclusão nos espaços públicos e privados. Não há mais cabimento em concordar com o descaso com as mínimas limitações do próximo. Promover políticas e ações de integração total e irrestrita é mais que obrigação.
necessário e passam a perceber que há retorno. Esse ponto é
Na seção dedicada às entrevistas, o personagem é
fundamental para que o tema deixe de ser visto como custo e
o presidente da Confederação Nacional de Jovens
passe a ser contabilizado como investimento e a fazer parte
Empresários (Conaje), Adm. Rodrigo Paolilo, que sai em
da estratégia do negócio.
defesa da estratégia de atuação clara e dos bons e bem
Também fazem parte do qualificado “recheio” do número 95 da RBA duas reportagens produzidas e compartilhadas pela HSM Management sobre modelos de gestão inovadores adotados por brasileiros de sucesso no mundo corporativo. Num deles, um tipo avançado de relação de confiança
4
autoconhecimento e no benchmarking.
rba | revista brasileira de administração
planejados projetos. Paolilo passou por grandes empresas multinacionais, tendo feito um dos seus principais trabalhos na Votorantim Cimentos, além de ter tido vivência internacional, por meio de intercâmbio na Espanha. Boa leitura!
ACESSE fb.com/cfaadm www.cfa.org.br rba@cfa.org.br
CFA
CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO
Sumário Ano XXIII • Nº 95 • JULHO/AGOSTO de 2013
ENTREVISTA
10
Presidente da Conaje incentiva empreendedorismo O Adm. Rodrigo Paolilo defende em entrevista que o melhor caminho é começar ainda jovem e que qualquer profissional pode ser empreendedor, não precisa ser empresário.
DESAFIO DO ÓCIO
33
Paraquedismo ajuda nas relações interpessoais Adm. Angelo Araújo, de Roraima, conta como o esporte entrou na sua vida e contribuiu para melhorar suas relações interpessoais e sua noção de
Acessibilidade
58
Inclusão tem que ser luta e dever de todos O aumento da interação da pessoa com deficiência na sociedade coloca para o governo, empresas e cidadãos a missão de pensar e trabalhar na promoção da acessibilidade.
trabalho em equipe.
LEITOR | 08
ARTIGOS
CONEXÃO | 52
16
CONSELHO | 54
EDUARDO PEDREIRA Ganhar a vida e não perder a alma
24
ADM. LEANDRO VIEIRA O espetacular (Administrador) Homem-Aranha
50
ADM. MURILO LEMOS DE LEMOS Eficiência pública
6
rba | revista brasileira de administração
revista brasileira de administração
CAPA
26
Sustentabilidade: opção estratégica e questão de atitude Mais que um simples conceito, sustentabilidade é uma opção estratégica. Pelo menos é como deve ser encarada pelos empresários nos dias de hoje. Afinal, não é mais só uma questão de marketing. Ser sustentável é uma regra e uma necessidade de sobrevivência.
18
38
O trabalho voluntário se transformou
Reportagens produzidas e
numa forma de auxílio ao próximo
compartilhadas pela HSM
que promove e resgata a cidadania.
Management trazem o sucesso
Tal modalidade tem crescido em
de brasileiros que adotaram a
organizações do terceiro setor.
cumplicidade e o autoconhecimento
Voluntários movimentam o terceiro setor
Modelos de gestão fixam base na confiança
como bases diretivas.
23
64
A caixa amarela pouco mudou
Copa traz oportunidade para ramo do entretenimento
ao longo dos anos. É mais que
Evento esportivo, marcado para
tradicional. A Maizena, que nasceu
acontecer nos meses de junho e
para servir de goma para tecidos,
julho de 2014, abre espaço para
ganhou a cozinha e está presente em
empreendedores que trabalham
vários pratos.
com produções culturais, empresas
Da lavanderia direto para as receitas da cozinha
de eventos e ações de varejistas em espaços públicos.
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
7
LEITOR
As mensagens para a RBA podem ser enviadas para SAUS, Quadra 1, Bloco L, Edifício Conselho Federal de Administração, Brasília/DF, CEP 70070-932, ou para o e-mail: rba@cfa.org.br.
Sobre o texto “A Máfia Montessori”, parabéns pela matéria, superinteressante! Gostei também de ver abordada a valorização da leitura (leitura solidária). Adm. Mônica Bacellar Tomaselli
Parabéns pela matéria de capa da
Gostaria de agradecer pelo
edição 94. É muito bom ver que o
envio do exemplar e ressalvar
foco da publicação está convergindo
que estou muito grato de fazer
para a coisa mais importante na
parte também desta equipe.
Administração: as pessoas.
Exemplar com informações
Bárbara dos Santos
de grande valia e com
A RBA vem acertando bastante com seu conteúdo relevante e atual. Mais
propriedades. Adm. Alan Silva
uma vez minhas congratulações.
O interesse em receber todas
Pedro Henrique Gomes
as revistas RBA está no
Gostei bastante do novo formato da revista. Parabéns pela qualidade das matérias. Geovana Nogueira Nossa, muito bom o encarte da HSM Management! Conteúdo aprofundado, de qualidade, e não preciso pagar nada a mais por isso! Bianca Almeida
fato de ser a fonte da minha atualização constante, pela alta qualidade e pelos conteúdos atraentes com aplicabilidade prática. Sou Administrador pela Universidade Católica do Paraná, turma de 1974, tendo registros nos CRAs do Paraná, Minas Gerais e, desde 1987, Rio Grande do Sul. Agradecendo atenção e providências, meus cumprimentos pela excelente revista, orgulho da nossa classe. Adm. Ademar Joenck
8
rba | revista brasileira de administração
Leitor da RBA, mantenha sempre o seu endereço atualizado. Se houver qualquer alteração, encaminhe-a para rba@cfa.org.br ou pelo telefone: (61) 3218-1818.
Recebi a edição 93 da RBA e gostei muito da nova apresentação, bem como do conteúdo cada vez mais rico, em especial a matéria “Não basta empregar”, que enfatiza a importância de uma empresa cuidar bem de seus funcionários. Iniciei a minha especialização em Gestão de Pessoas e estou muito encantada. Compreendo como uma boa Gestão de Pessoas faz a diferença na vida dos colaboradores de uma organização. Adm. Iracema Trindade Recebi esta semana o exemplar de n.º 93 da RBA. A publicação é de excelente qualidade. Quero parabenizar toda a equipe da revista. Adm. Antonia Chaves Vasques
Primeiramente, quero parabenizá-los pelo excelente conteúdo da Revista Brasileira de Administração. Sempre pago minha anuidade em janeiro para receber tão importante fonte de informação. Adm. Vagner Araujo
Acuso recebimento da RBA nº 93 com o tema discutido no momento (PPP – Parceria Público-Privada). Parabéns a todos do conselho editorial. Nós, administradores, precisamos do sucesso dessa equipe. Ubaldo Santana Muito boa! Estava precisando mesmo. Renan Resplandes Melhor a cada edição! Cícero Júnior Bem, gostaria primeiramente de parabenizar o Sr. Eduardo Rosa Pedreira pela ótima abordagem em seu artigo com o tema “O Administrador e o exercício do poder”, no qual trata de forma objetiva o que acontece com quem não está preparado para assumir a responsabilidade de administrar uma empresa, deixando-se corromper pelo poder. A meu ver, para isto alguns de nós não estão hábeis e, ao assumirmos grandes “poderes”, digamos assim, também estaremos na situação de ter que estar preparados para grandes responsabilidades. Porém, essa situação é de longa data. O que nos resta é trabalhar para estarmos preparados para nos adaptar à situação quando formos expostos a essas grandes responsabilidades. Despeço-me com grande satisfação por ter lido e compartilhado a respeito.
Darlyson Ferreira
EXPEDIENTE
Editor | Conselho Federal de Administração Presidente | Adm. Sebastião Luiz de Mello Vice-Presidente | Adm. Sergio Pereira Lobo CONSELHEIROS FEDERAIS DO CFA 2013/2014 Adm. João Coelho da Silva Neto (AC) • Adm. Armando Lobo Pereira Gomes (AL) • Adm. José Celeste Pinheiro (AP) • Adm. Nelson Aniceto Fonseca Rodrigues (AM) • Adm. Ramiro Lubián Carbalhal (BA) • Adm. Francisco Rogério Cristino (CE) • Adm. Rui Ribeiro de Araújo (DF) • Adm. Hércules da Silva Falcão (ES) • Adm. Dionízio Rodrigues Neves (GO) • Adm. José Samuel de Miranda Melo Júnior (MA) • Adm. Alaércio Soares Martins (MT) • Adm. Sebastião Luiz de Mello (MS) • Adm. Gilmar Camargo de Almeida (MG) • Adm. Aldemira Assis Drago (PA) • Adm. Lúcio Flávio Costa (PB) • Adm. Sergio Pereira Lobo (PR) • Adm. Joel Cavalcanti Costa (PE) • Adm. Carlos Henrique Mendes da Rocha (PI) • Adm. Rui Otávio Bernardes de Andrade (RJ) • Adm. Ione Macedo de Medeiro Salem (RN) • Adm. Valter Luiz de Lemos (RS) • Adm. Paulo César de Pereira Durand (RO) • Adm. Carlos Augusto Matos de Carvalho (RR) • Adm. José Sebastião Nunes (SC) • Adm. Silvio Pires de Paula (SP) • Adm. Adelmo Santos Porto (SE) • Adm. Renato Jayme da Silva (TO) CONSELHO EDITORIAL Prof. Adm. Idalberto Chiavenato • Prof. Carlos Osmar Bertero • Prof. Milton Mira de Assumpção Filho CONSELHO DE PUBLICAÇÕES Adm. João Coelho da Silva Neto • Adm. Gilmar Camargo de Almeida • Adm. José Sebastião Nunes • Adm. Renato Jayme da Silva • Adm. Francisco Rogério Cristino COORDENAÇÃO DOS CONSELHOS EDITORIAL E DE PUBLICAÇÕES Adm. Adelmo Santos Porto PRODUÇÃO Coordenação Editorial: Straub Design • Diretor Executivo: Adm. Wilgor Caravanti • Editor– Chefe: Francisco José Z. Assis • Diretor de Arte: Ericson Straub • Redação: Ana Graciele, Cinthia Zanotto, Mara Andrich, Nájia Furlan e Raquel Bocato • Revisão: Mônica Ludvich • Diagramação: Indianara Barros e Debora Pinheiro • Colaboradores: Cícero Nogueira, Cristina Teresa Santos e Marina Lourenção • Impressão: Plural Indústria Gráfica • Tiragem: 118 mil exemplares REPRESENTAÇÃO COMERCIAL Conecta Marketing Direto (Wladimir Reis) Tel.: (11) 4208-2883 E-mail: publicidade@cfa.org.br ASSINATURAS E-mail: rba@cfa.org.br Portal: www.rbaonline.org.br Telefone: (61) 3218-1818 Fax: (61) 3218-1833 A RBA é uma publicação bimestral do Conselho Federal de Administração sob a responsabilidade da Câmara de Desenvolvimento Institucional, Conselheiros: Adm. Adelmo Porto, Adm. Dionizio Neves e Adm. Carlos Augusto, e da coordenadora técnica RP Renata Costa Ferreira. As matérias não refletem necessariamente a opinião do CFA. A RBA é certificada pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC) como de circulação controlada de conteúdo dirigido
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
9
ENTREVISTA POR_Mara Andrich
Empreender desde cedo Presidente da Confederação Nacional de Jovens Empresários (Conaje), Administrador Rodrigo Paolilo, faz defesa da estratégia de atuação clara e dos bons projetos bem planejados
A
dministrador formado pela
Paolilo contribuiu para o trabalho de-
Universidade
da
senvolvido pela Associação de Jovens
Rodrigo
Empreendedores da Bahia (AJE-BA),
Paolilo é o novo presidente da Confede-
ocupando o cargo de vice-presidente
ração Nacional de Jovens Empresários
no período de 2010-2012. Antes (de
Bahia
Federal
(UFBA),
(Conaje) para cumprir a gestão 2013-2015.
10
rba | revista brasileira de administração
2011 a 2013) já havia participado da
A Conaje tem como objetivo incentivar
Conaje à frente da Diretoria de Plane-
o empreendedorismo do jovem brasi-
jamento e Gestão. Passou por grandes
leiro. Para Paolilo, essa característica
empresas multinacionais, tendo como
ainda não é tão comum na cultura do
um dos seus principais trabalhos
país – e, justamente por isso, a impor-
feitos na Votorantim Cimentos, além
tância da Conaje é fundamental –, mas
de vivência internacional, por meio de
vem crescendo paulatinamente.
intercâmbio na Espanha.
Foto: Charles Damasceno
RODRIGO PAOLILO,
presidente da Confederação Nacional de Jovens Empresários - Conaje
JULHO/AGOSTO – 2013
Entrevista RBA: Das ações desenvolvidas na gestão anterior, quais o senhor considera mais urgentes de serem levadas à frente? Por quê? RP: A Conaje tem uma estratégia de
O espírito empreendedor normalmente é barrado pelo frágil ambiente de negócios brasileiro. Alta carga tributária, infraestrutura deficitária, baixa qualificação de mão de obra, alto custo trabalhista, entre outros fatores de
RBA: Agora como presidente da
Administração (RBA): A Conaje
Conaje, qual a primeira ação que
tem como objetivo principal esti-
o senhor deverá colocar em prá-
mular o empreendedorismo entre
tica para garantir esse estímu-
os jovens brasileiros, seja por orien-
lo aos jovens? O que contribuiu
tação, capacitação profissional ou
para que o senhor chegasse à
representação política. O senhor
presidência da Conaje?
Revista
Brasileira
poderia falar um pouco mais sobre como a Conaje atua no país?
12
RP: A Conaje está atingindo sua maturidade e reconhecimento institucional
atuação clara e bons projetos desenhados. Buscaremos manter as ações desenvolvidas na gestão anterior, aprimorando sua aplicação para gerar resultados de maior impacto. Estamos trabalhando forte no planejamento e na organização interna e no fortalecimento da atuação em rede. Para uma organização como a Conaje, esses fatores são fundamentais para o sucesso. Além disso, manteremos e ampliaremos os compromissos de agendas e ações institucionais firmados na gestão passada, incorporando uma forte atuação internacional. RBA: Na sua opinião, os jovens brasileiros têm essa característica do empreendedorismo no “sangue”, ou ainda não é uma cultura brasileira? Aliás, o que é “empreendedorismo” para o senhor?
Rodrigo Paolilo: A Conaje con-
e precisamos avançar no impacto que
grega e integra movimentos de jovens
causamos no ecossistema empreen-
empresários e empreendedores de
dedor brasileiro, especialmente en-
todos os setores e regiões brasileiras.
tre os jovens. Para isso, precisamos
Estamos presentes em 22 estados,
aprofundar a sustentabilidade da enti-
com aproximadamente 250 associa-
dade e potencializar o impacto dos seus
ções e 3,6 mil jovens em nossa rede.
projetos e ações. Faremos isso com um
Nossa atuação se dá por meio de pro-
modelo de gestão forte, planejamento e
jetos, eventos e ações em rede, bali-
foco em resultados. Minha experiência
zadas em três pilares: capacitação,
associativista como um dos fundado-
vas futuras. Ainda assim, não creio
relacionamento e representatividade.
res da Brasil junior – Confederação
que o empreendedorismo faça par-
Atuamos de maneira independente e
Brasileira de Empresas Juniores –
te da cultura brasileira, que está
apartidária, buscando formar os me-
aliada à minha formação profissional
baseada na busca da estabilidade,
lhores jovens empreendedores, crian-
(Administrador, focado e apaixonado
principalmente por meio de con-
do uma rede de relacionamento forte
por gestão) contribuíram bastante
cursos públicos. Muitos dos jovens
e representando os interesses desta
para que eu chegasse à presidência da
interessados em empreender ain-
rede principalmente na busca por um
Conaje e serão fundamentais para o
da não conhecem o real sentido e
melhor ambiente de negócios no Brasil.
exercício da função com qualidade.
o desafio de empreender no Brasil.
rba | revista brasileira de administração
RP: Em pesquisas recentes sobre empreendedorismo, acompanhamos o avanço no interesse do jovem pelo assunto e com uma caraterística mais qualificada, o chamado “empreendedorismo por oportunidade”. Isso é muito positivo e nos deixa animados com as perspecti-
atitude
exige
diferenciada,
proativa,
questionadora.
Qualquer
fissional
ser
pode
uma
Foto: Charles Damasceno
Empreendedorismo
pro-
empreende-
dor, não precisa ser empresário. O Brasil precisa de empreendedores em todas as áreas (políticos, médicos, advogados, professores, cientistas etc.) e a Conaje busca fomentar esse espírito junto aos jovens. RBA: Como tornar essa característica ainda mais forte nos jovens? Como “prepará-los” ou mesmo estimulá-los para serem mais
Foto: Marco Túlio de Assis
Rodrigo Paolilo e Charlde Damasceno
empreendedores? RP: Tudo começa pela educação doméstica e escolar. A primeira categoria advém de aspectos culturais, de valorização da atitude empreendedora por parte dos pais e da forma como eles estimulam isso junto a seus filhos. Quanto à educação escolar, nós acreditamos que o empreendedorismo deve ser ensinado e estimulado nas escolas e universidades. Existem excelentes exemplos internacionais e aqui no Brasil já temos modelos sendo aplicados com impresgeral
do
ensino,
na
formação
Rodrigo Paolilo e Fabrizio Guaglianone Foto: Marco Túlio de Assis
sionantes resultados na qualidade cidadã e no aumento da perspectiva profissional dos jovens. A Conaje atua em parceria com instituições como Junior Achievement, SEBRAE, metodologia OPEE (Orientação Profissional Empregabilidade e Empreendedorismo) e escolas e universidades de todo o Brasil para conseguir avanços nesse campo. Acreditamos que o ensino de empreendedorismo deve ser incluído como disciplina extracurricular, principalmente nas escolas de tempo integral, além de compor as grades curriculares de todos os cursos universitários.
Rodrigo Paolilo e o presidente da Brasil Júnior, Marcus Barão
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
13
Entrevista RBA: O que pode “emperrar” o
que esses três fatores unidos farão a dife-
Membro
espírito empreendedor no Brasil?
rença para o sucesso dos empreendimen-
te do Bloco Mercosul de Jovens
tos dos jovens do programa.
Empresários, é também presiden-
RP: O espírito empreendedor normalmente é barrado pelo frágil ambiente de negócios brasileiro. Alta carga tributária, infraestrutura deficitária, baixa qualificação de mão de obra, alto custo trabalhista, entre outros fatores. RBA: Em quais ramos o senhor
RBA: O projeto “Empreendedores do Futuro” tem como objetivo implantar o ensino do empreendedorismo em escolas. Ele já funciona na prática no Brasil?
fundador
e
presiden-
te da Federação Iberoamericana de Empresários (FIJE), atuante em 23 países. Recentemente foi convidado a representar o Brasil na Aliança de Jovens Empreendedores do G20 na Rússia para a conferência anual.
RP: Esse projeto está em atuação em
Estaremos também em Angola, par-
cinco estados filiados à Conaje e será
ticipando do Congresso Lusófono de
ampliado para outros cinco ainda neste
Jovens Empreendedores, formado
ano. Trata-se de uma série de ações para
por oito países de língua portuguesa.
RP: O jovem é capaz de empreender e
implantação da cultura e do ensino em-
Por meio dessa atuação internacional,
se destacar em qualquer área, basta se
preendedor nas escolas, principalmente
buscamos ampliar o network, trocar
preparar e trabalhar com muita vonta-
por meio da parceria com a metodologia
experiências, discutir ações de estí-
de. O setor de serviços vem crescendo
OPEE, que dispõe de conteúdo comple-
mulo ao empreendedorismo e gerar
bastante, especialmente aqueles que
to e de grande qualidade para alunos do
negócios entre os jovens empreende-
envolvem tecnologia e inovação, em
Ensino Fundamental e Médio.
dores. Além disso, fazemos missões
considera que o jovem seria mais empreendedor no Brasil? E quais ramos são promissores?
que os jovens normalmente possuem mais facilidade. Os estímulos governamentais nesses setores são maiores e o mercado está em franca expansão. RBA:
A
Conaje
desenvolve
vários projetos, inclusive o “Minha
RBA: Como funciona, em linhas gerais, a atuação internacional da Conaje?
internacionais anuais. Em outubro deste ano iremos com 40 jovens empresários brasileiros ao Vale do Silício e à Universidade de Stanford conhe-
RP: A Conaje é referência mun-
cer as melhores práticas no desenvol-
dial no empreendedorismo jovem.
vimento de startups e inovação.
Primeira Empresa”. Então, a atuação do órgão não se restringe apenas a jovens já bem-sucedidos, não é? Qual a importância desses cursos que capacitam os jovens que ainda estão começando suas carreiras? RP: Exatamente. Trabalhamos com todos os perfis de jovens empreendedores, desde os já estabelecidos, herdeiros de grandes empresas, aos que ainda não abriram seu negócio. A capacitação em gestão e empreendedorismo é fundamental para o jovem iniciar sua jornada empreendedora com mais embasamento, minimizando os riscos dos efeitos de sua pouca experiência. O projeto “Minha Primeira Empresa” está sendo aplicado em Goiás e une capacitação, crédito e acompanhamento especial. Acreditamos
14
rba | revista brasileira de administração
Rodrigo Barbosa Paolilo Formado em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) Presidente da Confederação Nacional de Jovens Empresários (Conaje) É sócio-diretor da Creperia Mariposa – Franquia Boulevard 161 e da Escola de Idiomas Español Atuou no Movimento Empresa Júnior entre os anos de 2002 e 2004, exercendo liderança em todas as esferas, inclusive como um dos fundadores e primeiro presidente do Conselho da Confederação Brasileira de Empresas Juniores (Brasil Júnior) Registrado no Conselho Regional de Administração da Bahia (CRA-BA) sob o número 23.734
INOVAÇÃO E APRENDIZAGEM NO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO FLORIANÓPOLIS - SC 29 DE SETEMBRO A 2 DE OUTUBRO DE 2013
PALESTRA MAGNA DE ABERTURA
“O PAPEL DO DOCENTE NA INOVAÇÃO E APRENDIZAGEM NOS CURSOS DE ADMINISTRAÇÃO”
XXIV ENANGRAD
CO-REALIZAÇÃO
REALIZAÇÃO
®
R
CRA - RS
PATROCÍNIO
CRA - SC
APOIO
OPINIÃO ILUSTRAçÃO_debora pinheiro
E
Ganhar a vida e não perder a stou lendo a biografia de Steve Jobs. Um homem de negócios, um líder cultuado
como sendo uma das pessoas mais importantes para as mudanças no mundo em que vivemos. Por meio de sua genialidade criativa, revolucionou a maneira como lemos, ouvimos música, vemos filme... Seu legado nos avanços tecnológicos colocando dispositivos a serviço de necessidades que nem imaginávamos que tínhamos é, sem dúvida, algo para a história.
16
ALMA
Jobs foi um filho adotivo. Seus pais
O fundador da Apple viveu com in-
biológicos deram-no para adoção esta-
tensidade os anos de sua juventude,
belecendo uma única e clara condição:
a confluência entre os movimentos
seus futuros progenitores deveriam ter
de contracultura do final da década
capacidade financeira de dar a ele um
de 1950 e a irrupção de uma vertente
ensino superior, pagando sua univer-
tecnológica que naquele momento já
Apesar de toda esta aura em torno do
sidade. Apesar de ter uma relação sau-
se fazia anunciar no Vale do Silício.
mito, leio sua história buscando en-
dável e feliz no lar adotivo, o fato de ter
Havia uma forte conexão entre os jo-
xergar o homem por trás do líder, a
sido “abandonado” deixou-lhe uma fe-
vens daquele tempo com a espiritua-
pessoa escondida nos bastidores do
rida interna que, na minha visão, levou
lidade oriental. Steve mergulhou tão
empreendedor de sucesso.
para todos os seus relacionamentos.
fundo em uma busca por iluminação
rba | revista brasileira de administração
espiritual que passou algum tempo
rida original não nos ajuda a entender
Nunca saberemos as respostas a es-
na Índia aos cuidados de gurus. Era
sua inabilidade de tratar os outros com
tas perguntas. Uma certeza, porém,
visível sua sede por transcendência:
pouco menos de arrogância agressiva?
tenho. Sem a base de uma espiritua-
desde as loucas dietas frugívoras, os
Quantas foram as vítimas dos seus
lidade saudável, todos nós vamos ser
períodos sem tomar banho, os retiros
acessos de raiva e humilhações públi-
engolidos por aquilo que fazemos.
prolongados, até a frequência nas co-
cas? Quantos talentos podem ter se
Nossa identidade será definida por
munidades espirituais alternativas.
perdido por conta disto? Ainda: mesmo
nossa posição e seremos sempre jul-
Toda esta busca pela espiritualidade
com toda a sua busca pela espirituali-
gados pelos resultados que produzi-
e a constatação clara de um conjunto
dade, parece-me, não encontrou uma
mos. Por trás deste ícone chamado
de habilidades que ainda na juventude
experiência espiritual capaz de ajudar
Steve Jobs há uma pessoa, um filho
prenunciava o grande homem de ne-
a lidar com as lacunas mais profundas
abandonado e amado, um jovem em
gócios que seria o levaram a uma crise:
do seu ser. Quem sabe este vazio ex-
busca de Deus e de mudar o mun-
abrir mão de tudo e viver num mostei-
plica outro aspecto complexo da sua
do, um próspero empresário e um
ro em busca daquilo que é realmente
maneira de ser. Vivia com intensidade
homem que tomba lentamente por
essencial, ou continuar investindo
obsessiva tudo quanto se propusesse a
uma doença certamente assustadora.
em algo que poderia revolucionar o
fazer. Quando resolvia algo, fazia acon-
mundo em termos tecnológicos? Foi
tecer, nem que para isso precisasse
Como Jobs, eu também tenho um
quando seu guru na época deu-lhe
mover “céus e terra”. Esta sua compul-
um conselho: mesmo dentro de uma
são o levou tantas vezes à manipulação
empresa você pode desenvolver sua
e mesmo a viver uma distorção da rea-
espiritualidade. Ou, por outras pala-
lidade: o real, para um obsessivo como
vras, um homem de negócios não pre-
ele, não está ligado aos fatos, mas como
cisa abrir mão de sua busca espiritual!
estes se adequam ao seu olhar.
O resto da história já sabemos. Aquele
O criador do iPhone, como sabemos,
garoto transformou-se num dos mais
morreu de câncer! Já é conhecimen-
bem-sucedidos empresários da nossa
to comum que esta não é uma doença
geração. Não seria louco ou ingênuo de
puramente física, tem também suas
questionar o seu sucesso. Olhando um
fontes ligadas às questões emocio-
pouco para além de todo o glamour do
nais. Fico pensando até onde todo o
seu legado, não consigo deixar de ver,
sucesso profissional e as enormes
em toda a sua trajetória, a presença do
cargas que este traz não fizeram Ste-
menino ferido por conta do abandono
ve perder-se de sua espiritualidade.
sofrido quando era bebê. Não estaria
Em que ponto seu próprio sucesso
aí mesmo uma das explicações para
não foi ao mesmo tempo uma prisão
sua maneira intratável de ser? Esta fe-
emocional?
guru! Ele um dia disse que não vale a pena ganhar o mundo inteiro e perder a si mesmo. Ele tem me ensinado a ganhar a vida (trabalho) sem perder a
Foto: Divulgação
minha alma (espiritualidade).
é professor de Sustentabilidade Corporativa da Fundação Getúlio Vargas e coautor do livro “Gestão Sustentável de Negócios”.
JULHO/AGOSTO – 2013
terceiro setor POR_Mara Andrich
Difícil de
administrar O terceiro setor vem crescendo cada vez mais no Brasil. Mas será que o País está preparado para atendê-lo?
O
filósofo e professor Mario
profissional bem-sucedido?”, “será que
utilização de recursos privados para
Sérgio Cortella faz um desa-
a minha profissão pode ajudar algum
fins públicos. E estas organizações
fio a todas as pessoas que le-
segmento da sociedade?”, e por aí vai.
têm crescido ano a ano: segundo da-
rem o seu livro. Já no título, ele dispara
E é neste ponto que algumas pessoas
dos do Cadastro Central das Empresas
e pergunta: “Qual é a tua obra?”. No
procuram o trabalho voluntário, pois
(Cempre) do Instituto Brasileiro de
livro, Cortella lembra da importância
veem nele um meio de edificar a “sua
Geografia e Estatística (IBGE), en-
do líder espiritualizado, que sabe bem
obra” enquanto cidadãos. Utilizam de
tre os anos de 2002 e 2005 houve um
quais são seus objetivos, que nunca
sua profissão para praticar este tipo de
crescimento de 22% no número de
para de procurar o sentido das coi-
trabalho em prol de terceiros. Outros
fundações privadas e associações sem
sas e conhece a importância da ética
são voluntários em sua área de atua-
fins lucrativos no Brasil. Entre 2006 e
para realizá-los.
ção, aproveitando, assim, o que estu-
2010 este crescimento também foi ve-
daram nos bancos acadêmicos não só
rificado, embora desacelerado: 8%.
Mas diante da indagação “qual é a tua obra”, inevitavelmente outras perguntas podem surgir, como: “O que estou
18
para ganhar salário, mas também para ajudar quem precisa.
Segundo os últimos dados do IBGE (de 2010), existem oficialmente no
fazendo no meu dia a dia?”; “o que
O trabalho voluntário pode ser prati-
Brasil 290 mil fundações privadas e
posso fazer para ser uma pessoa me-
cado em diversas frentes, inclusive no
associações sem fins lucrativos, sen-
lhor?”; “o que posso fazer para ser um
terceiro setor, que se caracteriza pela
do que 210 mil delas não possuem
rba | revista brasileira de administração
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
19
Ilustrações: Debora Pinheiro / Foto: Shutterstock
Terceiro Setor funcionários formalizados, o que leva
que uma das grandes dificuldades que
a crer que funcionam com voluntários
enfrenta é no recrutamento e seleção
ou com autônomos. “São pessoas que
de funcionários, principalmente no
querem ser socialmente úteis, sem es-
que diz respeito à remuneração que,
perar a contrapartida da remuneração
segundo ela, não compete com o setor
pelo seu trabalho”, chama a atenção
privado. E isso ainda é somado à falta
a professora da disciplina de Gestão
de respaldo jurídico na captação de
de Pessoas na Pontifícia Universida-
receita para o terceiro setor. “O gestor
de Católica de São Paulo (PUC-SP),
necessita criar estratégias das mais di-
Mestre em Administração e psicóloga
versificadas possíveis para contar com
Maria de Fátima Alexandre.
as receitas necessárias e garantir suas
A Administradora Adriana Jacob é um exemplo disso. Uma vez por semana ela ministra, voluntariamente, um curso de auxiliar administrativo para 20 jovens e adolescentes carentes na cidade de São Mateus (ES), por meio do Projeto Araçá, uma ONG idealizada por universitários do curso de Pedago-
manda da instituição”, reclama. Ela explica que a Afece conta com parte dos recursos próprios provenientes de campanhas, promoções e eventos diversos, e outro montante proveniente de órgãos oficiais conveniados. E além das dificuldades financeiras,
Norte do Espírito Santo (CEUNES/
ainda há os entraves culturais. Apesar
UFES) em 1994. Além do trabalho
de Nilda estar otimista em relação ao
voluntário, Ana é professora remune-
fato de que o terceiro setor vem con-
rada, também em São Mateus. Ela diz
quistando o seu espaço, mesmo que
que se sente grata por poder preparar
lentamente, ela diz que o brasileiro
os jovens que não têm condições finan-
ainda está caminhando a passos len-
ceiras para fazer um curso. “As pessoas
tos para reconhecer a sua responsa-
são o patrimônio mais valioso de qual-
bilidade social. “É grande o número
quer organização”, observa. Para ela,
de pessoas que doam o que sobra,
uma das grandes dificuldades no ter-
mas são poucas as pessoas que se
ceiro setor no Brasil é a capacitação de
dispõem a assumir um compromisso
pessoas. “Acredito que deveria haver
sério de voluntariado transformador”,
mais cursos de formação voltados para
comenta Nilda.
uma maior divulgação da importância e do crescimento desse setor na sociedade”, afirma.
rba | revista brasileira de administração
de ampliação e diversificação pela de-
gia e Biologia do Centro Universitário
a atuação no terceiro setor. E também
20
despesas, além das suas necessidades
A Administradora Marilande, que mora na cidade de Xinguá, no Pará, também avalia que o terceiro setor enfrenta grandes desafios. Ela trabalha
A pedagoga Nilda Mott Gonçalves,
há oito anos na Comissão Pastoral da
por sua vez, coordena uma institui-
Terra, uma entidade religiosa, ligada
ção que atende cerca de 180 pessoas
à igreja católica, criada em 1975 para
com deficiência, em Curitiba (PR) — a
apoiar os direitos dos trabalhadores
Associação Franciscana de Educação
rurais. Segundo ela, um dos problemas
ao Cidadão Especial (Afece). Lá tra-
é a questão financeira. Marilande tra-
balham 150 voluntários. Ela afirma
balhou seis meses como voluntária do
setor de documentação da ONG, mas
ou voluntárias – têm ligação estreita
prometidos para trabalhar em prol
depois de fazer o curso de Adminis-
com a causa pela qual decidiram lutar.
de uma causa e não da remuneração,
tração ficou responsável pelo setor de
Mas ela explica que não é muito fácil
hora porque muitas vezes, quando re-
Gestão de Recursos da Pastoral. Ela
definir uma instituição do terceiro
munerados, os valores não são muito
conta que nos últimos anos a Pastoral
setor. “Elas são muito diversas, tanto
atrativos. Marilande sente na pele as
tem vivido “na corda bamba” quando o
em termos de foco de atuação quanto
dificuldades para a contratação de fun-
assunto são recursos. “O que percebo é
de dimensão e forma de gestão. Então
cionários para a ONG. Ela explica que
que as doações vindas de entidades do
não podemos falar de uma organização
muitas ONGs ainda realizam seu tra-
exterior têm diminuído cada vez mais.
típica do terceiro setor, mas apontar
balho com pessoas que não possuem
Isso ocorre porque com algumas po-
para o que aparece como característica
habilitação específica para lidar com a
líticas que o governo tem implantado
mais frequente. E podemos encontrar
gestão dos recursos.
(Bolsa Família, por exemplo) a imagem
instituições que trabalham apenas
do Brasil lá fora tem melhorado, dando
com funcionários efetivos, outras com
a falsa impressão de que o país não tem
efetivos e funcionários e, ainda, um nú-
mais problemas com miséria, desem-
mero grande trabalhando apenas com
prego, saúde etc.”, comenta.
voluntários”, observa.
Segundo a professora Maria de Fáti-
Aliás, uma das grandes dificuldades
ração de renda (produtos feitos pela
ma Alexandre, geralmente as equipes
do setor é o quesito “funcionário”.
organização). Sendo assim, a contra-
que trabalham em organizações do
Hora porque trata-se de voluntários
tação no terceiro setor torna-se um
terceiro setor – equipes remuneradas
que devem estar devidamente com-
pouco mais complicada.
Segundo a professora Maria de Fátima, isso acontece porque o terceiro setor tem sua fonte de recursos em investimentos privados (doações), públicos (convênios e subsídios) e ge-
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
21
Terceiro Setor
Não podemos simplesmente transferir estas ferramentas para o terceiro setor com pequenas adaptações. Todo o processo de gestão do terceiro setor deve ser desenhado de acordo com sua especificidade”
22
rba | revista brasileira de administração
Como explica a professora, o segun-
é diferente no terceiro setor. “Mas a
do setor – empresas – se destaca pelo
forma como isso será gerenciado de-
desenvolvimento
pende da identidade do segmento e o
de
ferramentas
de gestão para a contratação, e isso pode ser uma referência para o terceiro setor. Mas com ressalvas. “Não podemos simplesmente transferir estas ferramentas para o terceiro setor com pequenas adaptações. Todo o
seu compromisso”, diz. Na opinião da Administradora Marilande, parcerias entre o Governo e o terceiro setor poderiam auxiliar no bom andamento das ONGs, bem como
processo de gestão do terceiro setor,
uma reforma tributária que levasse
inclusive o de gestão de pessoas, deve
em conta o terceiro setor. “Deveriam
ser desenhado de acordo com sua
ser criadas mais políticas de incentivo,
especificidade”, orienta. Os confli-
regulamentação e capacitação do vo-
tos existem em qualquer área. E não
luntariado”, opina.
POR_FRANCISCO JOsÉ z. ASSIS
A
caixa amarela pouco mudou. A cena de índios norte-americanos da tradicional tribo Sioux sacando do milho o seu amido gravada no bico de pena está na memória e faz parte de uma longa história de sucesso. A Maizena é mais um clássico exemplo de marca que virou sinônimo do produto. Ou você busca por amido de milho quando vai fazer compras num supermercado? O sim, neste caso, soa estranho. Com bom e variado uso na culinária, a Maizena teve origem nos Estados Unidos, no ano de 1854, pelas mãos de Wright Duryea. Ele fundou a Fábrica de Amido Rio Oswego e, mais tarde, recrutou a família para ampliar os negócios e criar a Companhia Produtora de Amido Duryea, que tinha como carro-chefe a fina farinha da caixa amarela.
ORIGEM DO NOME O nome Maizena tem origem na palavra espanhola que representa o cereal que é o insumo básico do preparo da farinha: o milho, ou melhor, “maíz”. O termo foi utilizado pelas tribos de índios norte-americanas Sioux e Iroquês, que viviam no sul dos Estados Unidos, para designar as espigas levadas pelo navegador genovês e descobridor da América, Cristóvão Colombo. O milho também inspirou a cor da embalagem, que até hoje segue.
doces e os molhos consistentes, grossos, a lavanderia também pede passagem para ser chamada de abrigo natural da Maizena. Ocorre que, a princípio, a função do fino pó branco extraído do milho era servir de goma para tecidos e deixá-los mais encorpados. Contudo, como ingrediente culinário veio a consolidação. O uso do amido de milho em substituição à farinha de trigo recebeu estímulos. Padeiros e fabricantes de biscoitos aceitaram a dica e uma das invenções caiu na graça do povo: a Bolacha Maizena. Durante a Segunda Guerra Mundial, a escassez e os altos preços do trigo favoreceram o avanço do amido de milho, que passou a ser utilizado também na receita de pães.
Sucesso nacional A Maizena desembarcou no Brasil em 1874. Na época, as mercearias dispunham seus produtos em sacos. Arroz, feijão, batatas, tomates e demais itens do cotidiano do brasileiro eram vendidos a granel. Diante desse cenário, as caixinhas amarelas se destacavam e as donas de casa foram “pescadas” não só pelo visual, mas também pelo fato de o amido de milho servir para o preparo de diversos pratos. Em 1927 chegou a São Paulo o engenheiro L. E. Miner. Ele veio analisar o mercado local para saber da viabilidade de fabricar a Maizena no país, pois,
Da roupa à panela
até então, o produto vinha dos Estados Unidos e era apenas
Apesar de a referência mais forte ser reivindicada pela cozinha, de onde saem o saboroso e nutritivo mingau, os biscoitos, os
embalado no Brasil. Passados três anos, a Refinações de Milho Brasil (RMB) abriria suas portas na capital paulista.
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
23
O espetacular (administrador)
Homem-Aranha O que temos a aprender sobre Administração com o mais simpático e cativante dos super-heróis?
A
o ser picado por uma aranha
muito mais de sua inteligência e sa-
radioativa, o jovem Peter
gacidade do que de seus poderes arac-
Parker adquire força e pode-
nídeos na hora de enfrentar seus ini-
res proporcionais aos de um aracnídeo,
migos. Na verdade, entre as porções
tornando-se o popular super-herói
homem e aranha, a que mais se destaca
Um administrador que lança teias Com
grandes
poderes
vêm
grandes responsabilidades. Nosso
é a natureza humana do personagem.
herói aprendeu muito cedo o signi-
Diferente de um Super-Homem, a
Sem a máscara, Peter ainda se vira nos
ficado dessas palavras. Ao abrir mão
quem praticamente tudo é possível
30 para administrar suas vidas acadê-
de impedir a fuga de um assaltante,
caso não haja uma porção de kryptonita
mica, profissional e pessoal. E não pen-
algo que seria extremamente fácil
por perto, o Homem-Aranha se vale
se que é fácil.
para alguém com suas habilidades,
conhecido como Homem-Aranha.
revista brasileira de administração
Peter jamais imaginaria que o mes-
bem essa premissa em um brilhan-
mo assaltante viria a matar o seu Tio
te artigo publicado na Harvard
Ben, a verdadeira figura paterna de
Business Review em 2010: “O
sua vida. A culpa e o remorso ajuda-
simples ato de vender um café, por
ram a talhar o seu caráter, mas foi a
exemplo, já exige muito mais co-
consciência de sua responsabilidade
nhecimento do que como preparar e
que transformou Peter Parker em um
servir a bebida. Onde foi cultivado
verdadeiro herói. “Se você é bom em
o grão? Em que condições de traba-
algo, fazer o bem é uma obrigação mo-
lho, com que pesticidas? O copo é de
ral”, diria o Tio Ben.
papel reciclado? Quantas árvores
Quando começamos nossas carreiras em Administração, não fazemos ideia dos poderes que iremos desenvolver. Boa parte das pessoas considera apenas o simples exer-
foram derrubadas e quanta água foi usada para fabricá-lo? A tampa de plástico solta toxinas? E fecha bem o suficiente para que a bebida não derrame e queime a pessoa?”.
cício de sua função como o limi-
Trocadilhos à parte, os resultados
te de sua responsabilidade. Para o
de nossas escolhas se espalham por
Administrador, nunca é assim. Suas
uma imensa teia. É a consciência
decisões implicam consequências
do tamanho de nossa responsa-
que vão muito além de seus efeitos
bilidade que determinará o quão
diretos e visíveis. Elas repercutem no
bons poderemos ser, o quão im-
tempo e impactam, positiva ou nega-
portantes as organizações às quais
tivamente, o bem-estar da sociedade.
estamos à frente podem se tornar.
Rosabeth Moss Kanter, professora da Harvard Business School, ilustrou
O Administrador exerce um papel determinante na construção do edifício social. Grandes poderes, grandes responsabilidades. Apesar de ter sido criado por Stan Lee e Steve Ditko há exatos 50 anos, Peter Parker, o Homem-Aranha, exerce identificação imediata na juventude de qualquer tempo: ele é o nerd tímido e desajeitado que sofre bullying no colégio, pena para conquistar a primeira namorada,
Foto: Arquivo pessoal
É a consciência do tamanho de nossa responsabilidade que determinará o quão bons poderemos ser, o quão importantes as organizações às quais estamos à frente podem se tornar”
adquire autoconfiança ao descobrir seus poderes e decide fazer a diferença no mundo a partir da noção exata de suas responsabilidades. Um exemplo a ser seguido por todo e qualquer Administrador.
criador do Administradores.com e autor do livro Seu Futuro em Administração (Campus/Elsevier)
JULHO/AGOSTO – 2013
CAPA POR_Nájia Furlan
Sustentabilidade, uma questão de
atitude Não é mais só uma questão de marketing dentro das empresas e organizações de outras naturezas. Ser sustentável é uma regra e uma necessidade de sobrevivência
26
rba | revista brasileira de administração
M
ais que um simples con-
marketing sem resultados para ne-
ceito, sustentabilidade é
nhuma das partes.
uma opção estratégica.
Pelo menos é como deve ser encarada pelos empresários nos dias de hoje. “É o caminho para um novo modelo de desenvolvimento em que a riqueza social, ambiental e cultural tenham tanto peso quanto a econômica.” É assim que o Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP), entende e divulga o tema.
Para a especialista, existem dois caminhos para o Administrador assumir a sustentabilidade como estratégia e levá-la para o plano de ação. “Novas experiências acadêmicas, que tragam a vivência da visão sistêmica, da complexidade e inter-relação presentes nas realidades locais, em cada território, e a tradução da sustentabilidade em ferramentas, processos e metodologias, linguagem e formato já familiares nas empresas; e a incorpo-
Porém, como assumir os riscos e des-
ração de critérios de sustentabilidade
tinar parte dos esforços e dos recursos
na avaliação de desempenho da em-
para investir em áreas cujo retorno fi-
presa e dos colaboradores, incluindo
nanceiro, aparentemente, não existe?
os gestores”, complementa Nicolletti.
E, ainda, como colocar em prática o desenvolvimento sustentável? Mariana Nicolletti, coordenadora da Plata-
Necessidade
forma Empresas pelo Clima (EPC),
Como comprovam os estudos e as
do centro de estudos da FGV, explica: “Em se tratando de sustentabilidade, é preciso assumir cenários em longo prazo, ou seja, no desenvolvimento da atividade, prezar pelo equilíbrio cultural, ambiental, social e econômico, atendendo às necessidades das gerações presentes sem comprometer as gerações futuras”.
iniciativas do GVces, pensar em sustentabilidade não é apenas pensar no outro, no meio ambiente em todos os aspectos; é pensar na própria atividade – em se sustentar. “Um grupo de empresas já encara o investimento em sustentabilidade como um ‘bem necessário’, no sentido de que não apenas mercados passam a valorizar ou exigir
Por isso, segundo a pesquisadora,
critérios de sustentabilidade, como o
quanto mais a sustentabilidade se
retorno do investimento começa a ser
aproximar da estratégia da empresa,
percebido. Isso é fundamental para
de sua visão, missão e valores, maior
que o tema deixe de ser visto como
a chance de se tornar prática e deixar
custo e passe realmente a ser conta-
de ser o que vem sendo chamado de
bilizado como investimento e a fazer
green wash (um “ecobranqueamen-
parte da estratégia do negócio”, certi-
to”), ou seja, apenas uma jogada de
fica a coordenadora da EPC.
Em se tratando de sustentabilidade, é preciso assumir cenários em longo prazo, ou seja, no desenvolvimento da atividade, prezar pelo equilíbrio cultural, ambiental, social e econômico, atendendo às necessidades das gerações presentes sem comprometer as gerações futuras” Mariana Nicolletti
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
27
Capa
As análises de cenário, por exemplo, muitas vezes consideram apenas as variáveis mais diretas, com um escopo muito restrito e de curto, no máximo médio prazo. A mudança se dá ao se perceber que outros recursos e atores são fundamentais para a sobrevivência do negócio no longo prazo (às vezes até antes disso)” De acordo com ela, um movimento
causa-efeito, simplista e objetivo.
importante que vem acontecendo é o
A maior parte das empresas, também;
exercício, realizado por um grupo de
as análises de cenário, por exemplo,
empresas pioneiras, de contabilizar
muitas vezes consideram apenas as
as externalidades de suas atividades
variáveis mais diretas, com um escopo
para considerá-las na tomada de deci-
muito restrito e de curto, no máximo
são. “As externalidades são os impac-
médio prazo. A mudança se dá ao se
tos negativos e positivos gerados pela
perceber que outros recursos e atores
atividade privada, mas assumidos pela
são fundamentais para a sobrevivência
sociedade ou pelo governo. A poluição
do negócio no longo prazo (às vezes até
do ar e dos rios é um bom exemplo de
antes disso)”, conclui.
externalidade negativa. Uma vez que as externalidades são contabilizadas, processo que despeja resíduos em um
Sustentabilidade x Mudanças climáticas
rio, por exemplo, será mais alto que o
Até pouco tempo atrás, era difícil ima-
o preço de um bem produzido por um
de outro que tem um processo de reaproveitamento e tratamento dos resíduos”, exemplifica.
ginar que, para se desenvolver, uma empresa tinha que pensar em temas como as mudanças climáticas. O que mudou, segundo Mariana Nicolletti,
28
rba | revista brasileira de administração
Ação
coordenadora da Plataforma Empre-
Não é uma tarefa simples inserir a sus-
Estudos em Sustentabilidade (GVces)
tentabilidade no dia a dia da empresa.
da Escola de Administração de Empre-
Como alerta Mariana, isso exige uma
sas de São Paulo, da Fundação Getúlio
mudança de paradigma e o entendi-
Vargas (FGV-EAESP), é que a relação
mento de que todos os atores estão
direta deste e de outros temas relacio-
interligados, “assim suas ações reper-
nados à sustentabilidade com os negó-
cutem em todos os demais”. “Apesar de
cios está cada vez mais evidente – pela
entendermos isso, ainda não atuamos
regulação, pelo mercado e pela dispo-
assim, ainda funcionamos no modo
nibilidade e acessibilidade de recursos.
sas pelo Clima (EPC), do Centro de
Boas práticas Confira outros bons exemplos de práticas sustentáveis listados pelo Centro de Estudos
atividade é dependente, fortalecendo sua resiliência e reduzindo a necessidade de investimento em infraestrutura;
em Sustentabilidade (GVces) da Escola de
b) Elaboração de planejamento estratégico
Administração de Empresas de São Paulo,
envolvendo diversos stakeholders para in-
da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP):
corporar diversas visões sobre o negócio e
a) Iniciativas público-privadas de pagamento
suas atividades;
por serviços ambientais, como a conserva-
c) Incorporação de critérios de sustentabilida-
ção e restauração de mata ciliar, prezan-
de na escolha de fornecedores e projetos
do pelo equilíbrio do ecossistema e pela
de desenvolvimento que já fazem parte da
disponibilidade de recursos dos quais sua
cadeia e ainda não atendem aos critérios.
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
29
Capa Mercados
w
Regulação
Disponibilidade e acessibilidade de recursos
Como expõe a pesquisadora: a)Regulação – a meta voluntária de
b)Mercados – entre os critérios de
c)Disponibilidade e acessibili-
redução das emissões assumida pelo
sustentabilidade considerados em al-
dade de recursos – recursos como
Brasil, anunciada na COP-15 em Cope-
guns mercados consumidores está a
água, alimentos e energia têm disponi-
nhague, é de 5% em relação à projeção
pegada de carbono do produto e entre
bilidade e acessibilidade impactadas
para 2020, que se reflete no Plano Na-
as externalidades, a emissão de car-
pelas mudanças do clima e as empre-
cional de Mudanças Climáticas e no
bono é uma das menos complicadas
sas precisam otimizar seu uso, além
Plano Indústria elaborado pelo Minis-
de serem contabilizadas, uma vez que
de buscar alternativas, tecnológica e
tério do Desenvolvimento, Indústria e
o carbono é precificado em sistemas
territorialmente.
Comércio Exterior (MDIC) envolvendo
de comércio de emissões e em inicia-
os maiores emissores. Temos também
tivas de taxação;
metas estaduais sendo assumidas. São Paulo e Rio de Janeiro são um exemplo;
30
rba | revista brasileira de administração
A organização acredita que a prosperidade da comunidade, da economia, a saúde do meio ambiente e a qualidade de vida também levam benefícios aos negócios. Já que uma sociedade mais próspera certamente trará melhores oportunidades comerciais ao HSBC – no presente e no futuro –, contribuindo para a perenidade de nossa operação” PAULO STEINER
Sustentabilidade x Inovação De acordo com o diretor executivo do HSBC, Paulo Steiner, responsável pela área de sustentabilidade, o banco acredita que o financiamento de negócios que tenham foco nas mudanças climáticas é benéfica para os clientes, para o próprio HSBC e para toda a sociedade. “Por meio da estratégia de Climate Business, os colaboradores da empresa são preparados para identificar essas oportunidades e gerar novos negócios. As empresas financiadas atuam em diversos ramos de operações, entre elas a produção de energia de baixo carbono (bioenergia, energia hidrelétrica, solar e eólica); implantação de projetos de eficiência energética; adaptação de infraestrutura para redução do impacto ambiental”, explica o executivo. Segundo Steiner, o Brasil é uma das regiões identificadas como de alto potencial na criação de oportunidades relacionadas à estratégia. “Por isso, as áreas de Sustentabilidade Corporativa e Pessoa Jurídica do banco estão trabalhando no fomento de iniciativas voltadas a esses setores específicos. A atuação também envolve a busca por investimentos que contemplem a redução do impacto ambiental em operações já existentes”, comenta. Ele conta que foram capacitados 40 gerentes de relacionamento, somente no ano passado. Neste ano serão capacitadas outras 20 pessoas e, a partir de então, os resultados serão computados. “Também será priorizado o relacionamento com um grupo de 10 a 15 clientes que atuam em setores chave e apresentam alto potencial para esse tipo de negócios – em especial em iniciativas que envolvem eficiência energética, saneamento básico e energias renováveis”, revela Steiner. O diretor executivo do HSBC ainda menciona que, desde 2011, o Climate Business Council é presidido pelo CEO do Grupo HSBC, Stuart Gulliver. O conselho monitora as ações que envolvem novas oportunidades de negócio associadas às mudanças climáticas. Nessa linha, pesquisas realizadas pelo banco e divulgadas pelo CEO mostram que “os negócios relacionados a uma economia de baixo carbono já geram um retorno anual superior a US$ 500 bilhões e que, até 2020, devem crescer para mais de US$ 2 trilhões ao ano”. “A organização acredita que a prosperidade da comunidade, da economia, a saúde do meio ambiente e a qualidade de vida também levam benefícios aos negócios. Já que uma sociedade mais próspera certamente trará melhores oportunidades comerciais ao HSBC – no presente e no futuro –, contribuindo para a perenidade de nossa operação”, conclui o diretor.
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
31
Capa Oportunidade. Se por um lado essas adversidades trazem riscos para os negócios, também trazem oportuni-
Uma empresa sustentável
dades. Estas, segundo a coordenadora,
A Mexichem Brasil, que detém as marcas Amanco, Plastubos e Bidim, também é
exigem investimento, mobilização de
um exemplo de sustentabilidade integrada à estratégia de negócio. Segundo a
recursos da empresa, para que sejam
empresa, sua atuação é sustentada pelo conceito de triplo resultado: econômi-
exploradas. “É importante fazer uma
co, social e ambiental. “Toda e qualquer ação/produto desenvolvido pela marca
análise de cenário e um diagnóstico de riscos de oportunidades. Essa é uma etapa importante, comum às metodologias de elaboração de projetos em adaptação. A partir dessa primeira análise, as metodologias com viés econômico seguem por uma comparação entre investimento e custo, isto
primar pela preservação e pela sustentabilidade do meio ambiente. Por isso, a Mexichem Brasil conta com programas de ecoeficiência em todas as suas unidades fabris”, afirma Patrícia Barreros, gerente de Comunicação e Marketing da empresa, também responsável pela área de Sustentabilidade. Segundo a gerente da Mexichem Brasil, o entendimento é o de que ter uma gestão sustentável também significa compartilhá-la. “É preciso que ela esteja presente em nossas fábricas e disseminada para nossos públicos. Assim a sustentabilidade, que já integra todos os nossos projetos e ações, nos permite construir
é, quanto a empresa terá de custo e de
um negócio perene que garanta ganhos de longo prazo. Esse é o desafio abra-
perdas caso não invista em adaptação
çado pela Mexichem Brasil para os próximos anos”, comenta.
(corrigida por uma taxa de desconto)
Alguns dos projetos adotados pela empresa, em 2012, foram a introdução da
versus o investimento necessário no
cabotagem na logística; a utilização de 100% de matéria-prima reciclada na
presente”, completa.
marca Bidim; e a continuidade de programas como a promoção de acesso ao
Segundo Mariana, para identificar e entender essas oportunidades, inclusive de novos negócios, é fundamental
crédito por meio do cartão CredConstrução (principalmente por população de baixa renda); o investimento em profissionalização, com a parceria do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), para formação e qualificação de instaladores hidráulicos; o programa de reutilização da água (Projeto Hydros),
o diálogo com stakeholders – outros in-
entre outros. “Para que possamos crescer de forma sustentável, devemos buscar
teressados ou afetados pelos mesmos
o crescimento de toda a nossa cadeia de valor, o que temos feito por meio de
riscos (outras empresas do mesmo se-
diversas ações”, conclui a gerente.
tor, com a cadeia de valor e com governo, academias e organizações sociais).
Exemplo . Essa e outras iniciativas podem ser consideradas de sustentabilidade quando envolvem relações de ganha-ganha entre os diversos atores envolvidos. Nesse caso ganham a empresa, o produtor e a economia local. Um exemplo é o que fez o HSBC, em parceria com a seguradora Allianz. A empresa mapeou os riscos das mudanças climáticas e criou um seguro agrícola para ajudar os fazendeiros a lidar com perdas relacionadas a esse evento meteorológico.
32
deve apresentar vantagens econômicas, oferecer benefícios para a sociedade e
rba | revista brasileira de administração
desafio do ócio Fotos: Arquivo pessoal / Shutterstock
POR_Cinthia Zanotto
$em
preço Administrador roraimense conta como o paraquedismo entrou na sua vida e a forma como o esporte o ajudou a melhorar suas relações interpessoais e seu desenvolvimento no trabalho em equipe
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
33
Desafio do Ócio
L
eonardo Da Vinci, entre
mento, Cláudio achou toda aquela
as várias das suas contri-
história “maluca”, disse, mas precisou
buições para o mundo, es-
de um mês para tomar coragem e fazer
creveu certa vez sobre algo parecido
o mesmo. Desde então, o Administra-
com um paraquedas. “Se um homem
dor já realizou saltos em Manaus, São
dispuser de uma peça de pano imper-
Paulo, Estados Unidos e, também, na
meabilizado, tendo seus poros bem
sua região preferida para praticar o es-
tapados com massa de amido e que
porte, a Barra do Vento, em Boa Vista,
tenha dez braças de lado, pode atirar-
na capital de Roraima, onde mora com
se de qualquer altura, sem danos para
sua família. O lugar é o seu favorito
si.” O texto que faz referência ao gênio
pela paisagem e, também, por preva-
italiano é de 1495 e, por isso, ele aca-
lecer o espírito de irmandade com os
bou sendo considerado um dos pro-
outros atletas, o que entende ser fun-
jetistas precursores do equipamento,
damental em qualquer ambiente.
escreveu a Confederação Brasileira de Paraquedismo em seu site.
de costume, pelo fato de o avião com
a saltar de torres, para depois pular
o qual realizavam os saltos não mais
de balões e, mais tarde, dos aviões.
prestar serviços na capital, ele ainda
Daí em diante campeonatos vieram
“faz área” com os atletas da região
e o esporte se desenvolveu à medida
uma vez por mês, quando um avião
que a tecnologia avançou. Isso sig-
de Manaus vai ao encontro deles em
nifica maior repercussão e o cresci-
Roraima. Tal episódio não é visto
mento no número de adeptos ao para-
como um obstáculo para Cláudio, da
quedismo. Um desses é o roraimense
mesma forma como os gastos com a
Adm. Cláudio dos Santos Moby, um
prática – nada baratos, informou o es-
apaixonado pela prática.
portista – também não o são. Para ele, “a emoção não tem preço”, reconhece.
do um de seus amigos, o também
Além do lado emocional, o esporte ain-
Administrador Angelo Araújo, co-
da proporciona ao atleta desenvolver
meçou a saltar. Em um primeiro mo-
qualidades profissionais voltadas à
A Administração e o paraquedismo têm ligação principalmente na relação interpessoal, pois sempre estamos conhecendo pessoas de outras cidades e até países. Já nos saltos, prevalece o espírito de equipe, pois todos têm a sua função em busca do objetivo, que é executar o salto”
rba | revista brasileira de administração
cionar todos os sábados, como era
A partir de Da Vinci, o homem passou
Tudo começou no ano de 2004, quan-
34
Apesar de o local ter parado de fun-
área de Administração, entre elas a
junto a uma formação de quatro inte-
to pelas condições meteorológicas e,
relação interpessoal e o trabalho em
grantes, um episódio memorável para
principalmente, reconhece ele, pelos
equipe. “A administração e o paraque-
o atleta graças ao trabalho realizado
treinamentos periódicos, “pois cada
dismo têm ligação principalmente na
pelo time. “Foi uma experiência mui-
salto que nós realizamos é treinado
relação interpessoal, pois sempre es-
to interessante, pois temos que, além
em solo. Tudo deve ser bem detalha-
tamos conhecendo pessoas de outras
de competir, trabalhar o nosso lado
do para que não ocorram incidentes.
cidades e até países. Já nos saltos, pre-
emocional. Ou seja, a gente sempre
Para participar de grandes formações,
valece o espírito de equipe, pois todos
tem que estar levantando o ânimo
o atleta tem que estar bem preparado
têm a sua função em busca do objetivo,
um do outro, principalmente quando
tecnicamente”, acrescentou.
que é executar o salto”, explicou. Durante os quase dez anos de paraquedismo, Cláudio participou de alguns campeonatos, quando realizou saltos com equipes em diferentes modalidades. Em 2012, o paraquedista fez parte de um time que viajou até o Arizona (Estados Unidos) para tentar quebrar o recorde brasileiro e sul-americano. A equipe não foi bem-sucedida naque-
realizamos um salto com pontuação baixa. Na equipe não tem um líder. Quem se destaca é aquele que sempre dá estímulo ao time”, contou.
Entre todos os paralelos traçados pelo paraquedista em relação ao seu lazer e à Administração, Cláudio consegue apontar alguns benefícios trazidos
O planejamento também é um ponto
pelo paraquedismo à sua vida profis-
ressaltado pelo Administrador na ro-
sional e pessoal. “A prática do para-
tina de um paraquedista. Por ser um
quedismo trouxe-me a oportunidade
esporte considerado de risco, precisa
de conhecer novas culturas, pessoas,
haver cuidados quanto à revisão sis-
além de possibilitar desenvolver um
temática dos equipamentos, o respei-
espírito de equipe”, concluiu.
la ocasião, mas voltou a saltar em 2013, quebrando o recorde com uma formação de 103 atletas. Porém, ele não pôde participar desse feito. Mesmo assim, o Administrador não fechou o ano passado sem ter quebrado o recorde do norte e roraimense em um campeonato realizado em Manaus. Entre os saltos que realiza em equipe, um atleta pode participar de um time de duas pessoas, quatro e até grandes formações com mais de 100 competidores. Tudo depende da mobilidade na qual está inscrito. Uma das vezes em que Cláudio saltou em equipe foi no Campeonato LatinoAmericano, um evento realizado por ele e outros parceiros na cidade de Boa Vista, com a ajuda do Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae). Nessa data, ele competiu
O Administrador Cláudio dos Santos posa para foto junto a outros paraquedistas antes de saltar
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
35
PROCURANDO NOVAS FORMAS
DE SE DIFERENCIAR NO MERCADO DE TRABALHO? Certificação Profissional, o caminho para a valorização
O QUE É? A Certificação Profissional é um programa do Sistema CFA/CRAs - com adesão voluntária - voltado para Administradores e Tecnólogos que desejam se distinguir no mercado de trabalho. Um programa criado para certificar o conhecimento e as habilidades de Profissionais de Administração em suas áreas específicas de atuação.
QUANDO SERÁ LANÇADA A CERTIFICAÇÃO DO SISTEMA CFA/CRAs? Neste semestre faremos o lançamento do programa e todas as informações serão divulgadas na próxima edição da Revista RBA. Saiba mais em: www.cfa.org.br
DESENVOLVA SUA CARREIRA COM UM SELO DE QUALIDADE
POR_redação de HSM MANAGEMENT
Por que
eles vencem
(e por que incomodam) UM MODELO DE GESTÃO INOVADOR, DESENVOLVIDO COM BASE EM AUTOCONHECIMENTO E BENCHMARKING, FINALMENTE PÔS BRASILEIROS NO CONTROLE DE MARCAS FORTES GLOBAIS, COMO HEINZ E BUDWEISER, CONFORME REPORTAGEM HSM MANAGEMENT
A
cerveja Stella Artois tem
individuais da maior cervejaria do
sua origem em 1366. Três
mundo – a AB InBev – e por que em-
tradicional + Modelo de gestão tradicional
brasileiros vestidos de je-
presas que movimentam mais de US$
ans e camisa convenceriam seus fabri-
64 bilhões por ano estão ligadas a eles
cantes belgas, no ramo há mais de 600
de um modo ou outro. Não é só o di-
anos, de que o modelo de gestão deles
nheiro; somando seu negócio de bebi-
seria o melhor para a companhia? Eles
das aos demais, eles têm nas mãos um
sabiam que não. Então, convocaram o
poderoso portfólio de marcas globais,
pensador norte-americano Jim Collins
de Budweiser a Heinz, de Burger King
como porta-voz e organizaram várias
a Stella Artois.
sessões de apresentação de sua cultura e seu método. Os belgas aprovaram.
38
Cerveja pode ser um negócio tradicional, mas o detalhismo e a atenção à co-
1 Modelo de negócio/produto
2 Modelo de negócio/produto inovador + Modelo de gestão tradicional 3 Modelo de negócio/produto tradicional + Modelo de gestão inovador 4 Modelo de negócio/produto inovador + Modelo de gestão
O pequeno cuidado, tomado em 2004,
municação observados são sinais que
explica um pouco como os cariocas
revelam um modelo de gestão inova-
Jorge Paulo Lemann, Marcel Tel-
dor. Para entender melhor o que eles
Jorge Paulo, Marcel e Beto costumam
les e Carlos Alberto “Beto” Sicupira
fazem, pense nos quatro modelos de
encaixar seus negócios no terceiro
se tornaram os maiores acionistas
empresas arquetípicos:
tipo, contrariando pesquisas e análi-
rba | revista brasileira de administração
inovador
SAM WALTON
JIM COLLINS
GOLDMAN SACHS
WARREN BUFFETT
VICENTE FALCONI
ses segundo as quais é preciso ser um
rante um bom tempo; só recentemente
feitas ao longo dos anos com Jorge
Google ou uma Amazon, inovando em
este vem investindo mais em inovação
Paulo Lemann e Marcel Telles e em
tudo, para ter sucesso desproporcio-
de produto por meio de companhias
análises de quem trabalha direta e
nal nos dias de hoje. Talvez o primeiro
como a Braskem e a ETH.
frequentemente com eles, como Jim
desses modelos de empresa esteja superado de fato, na medida em que deve haver alguma capacidade de inovação para garantir a sobrevivência diante da concorrência crescente, mas o que prova a 3G Capital, empresa voltada a investimentos globais de longo prazo que pertence ao trio, é que um modelo de gestão inovador é suficiente para alavancar um produto/modelo de negócio tradicional. Trata-se do oposto da Apple, que reúne produto inovador e modelo de gestão tradicional. Mas
A vitória segue ao alcance dos mais
Collins e Vicente Falconi.
tradicionalistas, portanto, mesmo que sejam brasileiros, porém, é necessário desenvolver e impor um modelo de gestão inovador e eficaz. Então, vem a pergunta: como se faz isso? Como eles o fizeram e em uma escala tal que, em 2013, apenas cinco anos depois de a InBev se tornar AB InBev, o trio se atreve a comprar a fabricante de alimentos Heinz em parceria com o investidor Warren Buffett?
O PORQUÊ DE VENCEREM (MAIS DO QUE PERDEREM) O modelo de gestão inovador é a resposta, e a gênese deste não é de agora que é investigada pela imprensa especializada e analistas de mercado. Como os três são low profile, arredios a exposições públicas, todos buscam entendê-los principalmente por meio
tem afinidade com o que fez o bem-su-
É o que este dossiê quer desvendar,
das histórias contadas por quem pri-
cedido grupo brasileiro Odebrecht du-
apoiado em uma série de entrevistas
va de seu convívio – o primeiro livro
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
39
ELES SÃO LOW PROFILE POR_Cristiane Correa Faço matérias sobre empresas controladas pelo trio Lemann-Telles-Sicupira desde 1999, quando ingressei no jornalismo de negócios. Depois de produzir várias reportagens a respeito de AmBev, Lojas Americanas e GP Investimentos (da qual eles se desligaram há quase uma década), comecei a perceber que havia ali uma cultura única. Não que fosse perfeita ou unânime, mas tinha características muito claras – o sonho grande, o foco, a busca por fazer melhor a cada dia, a meritocracia etc. – e trazia resultados excepcionais. Em 2007, comecei a tentar convencer os três empresários a fazer um livro.
CAPA DO LIVRO
Eles, muito low profile, só desconversavam. Diziam que não era hora e que não tinham interesse nesse tipo de exposição. Em 2011, entendi que a hora nunca chegaria e resolvi escrever mesmo sem seu apoio. Àquela altura, os três já haviam comprado a Anheuser-Busch e o Burger King. A fórmula que criaram não é perfeita, mas trouxe mais sucessos que fracassos. Sem dúvida, Lemann, Telles e Sicupira são os empresários brasileiros com maior alcance global e, de algum modo, servem de inspiração para uma nova geração de empreendedores que ganha corpo no país nos últimos anos. Quem começa negócio próprio quer se espelhar em modelos vencedores e assim é o deles, ao menos até agora. O interesse provocado pelo livro e as histórias que conto ali confirmam isso. A primeira edição – 30 mil exemplares – durou poucos dias e outros 25 mil já foram encomendados. Se antecipasse tamanha movimentação, teria começado
é jornalista e autora de Sonho Grande – Como Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira revolucionaram o capitalismo brasileiro e conquistaram o mundo (ed. Sextante), lançado em abril último. Trabalhou por 12 anos na revista Exame, onde foi editora-executiva
a trabalhar nele antes.
sobre o trio, que acaba de sair, traz
mistura explosiva de autoconheci-
culturas que achávamos eficientes e
muitas delas [veja quadro na próxima
mento aplicado e disposição de apren-
fomos adaptando ao nosso jeito. Hou-
página]. Também foram didáticos os
der com os outros (e compartilhar o
ve três influências grandes: uma foi
princípios de gestão que divulgaram,
aprendizado) – benchmarking, expres-
do Goldman Sachs, que nos ensinou a
que HSM Management publicou em
são em inglês que significa “cópia das
primeira mão em 2001, quando ainda
melhores práticas alheias”, é palavra-
eram 18 (depois, demos a versão sinte-
chave no dicionário 3G.
tizada de 10 princípios, em 2010).
Então, tentamos organizar em uma
do Sam Walton, de ter o sonho grande.
A primeira e unânime conclusão é: o
lista simples seus principais aprendi-
Não adianta ir direto ao pote de ouro,
trio de empresários coloca a simpli-
zados, sobre si e com os outros:
é preciso percorrer o arco-íris todo
cidade em primeiro lugar – como diz
O Garantia e as três verten-
antes, motivando os funcionários e
Jorge Paulo, e isso, por si só, pode ser
tes originais. Quem as explica
um enorme diferencial em uma cultu-
é Jorge Paulo: “Nossa cultura teve
ra fonte é a GE. Sempre lemos tudo
ra como a brasileira, que tende a com-
origem no Banco Garantia, onde es-
sobre o que Jack [Welch] executava;
plicar. E optar permanentemente pela
távamos o Marcel, o Beto e eu, além
achávamos os relatórios anuais da GE
simplicidade foi o que os levou a uma
de outros sócios. Copiamos pessoas e
uma bíblia [sobre eficiência e eficácia]
cultura meritocrática, a treinar pessoas, a lhes dar oportunidades, a cobrar trabalho duro. Outra foi o Walmart,
tratando bem os clientes. E a tercei-
– ficávamos surpresos com aquilo dis-
no Japão com o [Konosuke] Matsushi-
ponível para todos lerem e ninguém
ta, grande empresário do pós-guerra,
prestando atenção”.
que construiu uma empresa colossal, a
Se não manteve contato direto com Welch, Jorge Paulo fez questão de conhecer pessoalmente Sam Walton e os banqueiros do Goldman Sachs. A isso, somou traços de sua personalidade. O mais notável são a extrema competi-
Panasonic. Perguntei o que recomendava para um homem de negócios ter sucesso e ele disse: ‘Você tem de ser mais amado – pelas pessoas que trabalham na empresa e pelas pessoas que compram os produtos’. Nunca esqueci”.
tividade e o fanatismo de esportista –
O trio conseguiu ser amado por suas
como diz o CKO da HSM, José Salibi
equipes. Há quem diga até que os fun-
Neto, ele disputa uma partida de tênis
cionários inspiram-se em seu modo de
com um amigo como se fosse final de
vestir e de falar, como fazem os jovens
Wimbledon. Outro, muito relevante, é
com os roqueiros que são seus ídolos. E,
fruto da formação protestante de seu
quando levam bronca – e essas broncas
pai: a valorização da educação sobre to-
já foram famosas no passado, as de Beto
das as coisas. Vem daí também um es-
principalmente–, a maioria aceita bem,
pírito mais coletivista do que individu-
como uma manifestação de quem não
alista, propenso a compartilhar coisas
gosta de perder, não como vestígio de
em vez de guardar tudo para si, como
uma cultura de comando e controle.
reza o patrimonialismo luso-brasileiro. E a própria inclinação a atuar com sócios tem a ver com autoconhecimento: por comparação, Jorge Paulo entendeu logo que Marcel era muito bom na gestão da mesa de operações do Garantia.
Jim Collins. A relação de Collins
A primeira e unânime conclusão é: o trio de empresários coloca a simplicidade em primeiro lugar – como diz Jorge Paulo, e isso, por si só, pode ser um enorme diferencial em uma cultura como a brasileira, que tende a complicar”
com o trio começou também com Jorge Paulo, no início dos anos 1970, quando
Vicente Falconi. O brasileiro
este assistia a uma aula do professor
mais influente na cultura 3G é esse
em Stanford. O tema era Sam Walton,
discreto consultor mineiro, de quem
que, como Collins reforçava, prepara-
vem o tripé “liderança-conhecimento
Matsushita. Quando o foco dos
ra o Walmart para existir sem ele por
técnico-método analítico” [leia mais
três começou a migrar do banco de
meio de uma cultura forte. Jorge Pau-
sobre isso na página XX]. Em contato
investimentos para negócios voltados
lo discordou, argumentando que Sam,
com eles desde os tempos de Brahma,
a consumidores finais, como Lojas
a quem conhecia pessoalmente, era
mais frequentemente com Marcel Tel-
Americanas e Brahma, foram neces-
fundamental para o sucesso da em-
les, Falconi não se cansa de elogiar o
sárias mudanças. De modo próprio
presa por sua visão diferenciada. Os
rigor com que implantam suas ideias.
à Administração pós-moderna: eles
dois discutiram, e o impacto do deba-
“Todo mundo acha que tem método,
aplicaram características do setor fi-
te sobre o brasileiro se sente até hoje:
mas não tem. E não tem jeito de obri-
nanceiro ao comércio e à indústria,
cultura é um dos alicerces do modelo
gar a ter. Mas a liderança da empre-
como a aposta em talentos – Jorge
de gestão inovador da 3G Capital e ter
sa pode induzir as pessoas à análise,
Paulo e Marcel contam que entrevista-
negócios “feitos para durar” é uma má-
como aconteceu com o Brito na Am-
vam 800 candidatos no Garantia para
xima do trio de empresários. O próprio
Bev [Carlos Brito presidiu-a em 2004].
contratar 20 e que se envolvem direta-
sistema de partnership que é sua mar-
Numa reunião, quando o sujeito che-
mente na seleção de pessoas até hoje
ca serve para que os jovens conduzam
gava lá com um plano de ação, Brito
– e a disposição de correr riscos com o
os negócios adiante sem depender dos
pedia para ele mostrar a análise. Não
próprio patrimônio. Mas uma influên-
mais velhos. Além disso, a exemplo de
tendo, ele desacreditava as ações pro-
cia forte veio da terra do sol nascente.
Collins, hoje Jorge Paulo declara que se
postas. Fez isso tão sistematicamente
As palavras são de Jorge Paulo: “Estive
vê “como um professor”.
que dali a pouco todos faziam análise.”
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
41
Warren Buffett. Amigo de Jor-
financeiro e no curto prazo, e donos
tem de ser impiedoso. E nós, no Brasil,
ge Paulo desde o final dos anos 1990,
internos comprometidos com o curto,
não somos: se uma pessoa não entrega
quando os dois ocupavam cadeiras
o médio e o longo prazo.
resultado, mas é uma doçura de quem
no Conselho de Administração da Gillette, o megainvestidor influencia
todo mundo gosta, pode apostar que
deixa influenciar por eles. Seu foco
O PORQUÊ DE INCOMODAREM
em negócios tradicionais – que sejam
Sob essas inspirações, nasceu o mo-
os três empresários tanto quanto se
“simples e fáceis de compreender” – é uma das lições que compartilham. Também encontram eco no trio sua aversão à ostentação e a visão de que os executivos precisam sentir-se donos de uma empresa para desempenhar bem seu papel.
delo de gestão 3G, cujos três princi-
de empresa ideal tem muito de Buffett:
lar capacidade gerencial a serviço de inovações científicas e tecnológicas é
próximas páginas. Fiel a sua máxima
Quanto à meritocracia, talvez seja o
de simplificar, Jorge Paulo resume: “A gente acredita muito no indivíduo, mas sabe que as pessoas têm de trabalhar nho grande. Também crê em rachar os lucros. E o resto é trabalhar muito duro,
possui sócios majoritários que decidem com visão de longo prazo, acio-
Há, naturalmente, críticas ao modelo e Falconi trouxe à tona uma das razões: “Para executar a meritocracia, você
Brasil que precise mudar, não a 3G. Quanto à inovação, Jorge Paulo, que visitou o Google, disse que, “se fosse jovem e estivesse começando, investiria em tecnologia”. Quem sabe seus filhos e os de seus sócios não farão isso, ainda que nos Estados Unidos? De todo modo, o trio tem feito bastante pela competitividade brasileira: suas fundações incentivam a educação gerencial [leia na
Fotos: Divulgação
para que as decisões façam sentido
o fato de eles não porem sua espetacu-
um segundo motivo de incômodo.
com todos tentando educar todos”.
nistas minoritários que pressionam
uma empresa ligada à 3G. Além disso,
pais elementos são desenvolvidos nas
juntas – e na direção comum de um so-
A definição que Marcel Telles nos deu
ela continua na empresa”. Só não em
anos 1950 - 1960
1989 - 1993
1998 - 2000
O início do Garantia
Brahma e GP Investimentos
Ambev
School, surfe e tênis
Aos 31 anos, com sócios,
Surfista no Rio, Jorge
Jorge Paulo compra a
Paulo tenta a carreira de
corretora Garantia. Em
tenista. Disputa provas
1972, Marcel ingressa ali
do grand slam, mas,
e, em 1973, é a vez de
percebendo que não
Beto, companheiro
estaria entre os primeiros,
de pesca submarina.
desiste. Mergulha na
Em 1982, já banco de
gestão norte-americana,
investimentos, o Garantia
faz estágio no Credit
faz o takeover das Lojas
Suisse e, voltando ao
Americanas na bolsa –
Brasil, trabalha na Invesco,
Beto, 34, vai gerenciá-la,
financeira que quebra.
nos moldes do Walmart.
Às vésperas da eleição de Collor, o Garantia compra a cervejaria Brahma pelo equivalente a US$ 60 milhões e coloca Marcel, 39, para gerila – pega fogo a guerra das cervejas com a rival Antarctica. Em 1991, Jorge Paulo cria a Fundação Estudar, que dá bolsa de estudos a talentos potenciais. Em 1993, o trio lança o segmento de private equity no Brasil, com a GP Investimentos, a cargo de Beto. O objetivo? Adquirir negócios, melhorá-los e vendê-los. ALL, Gafisa, Telemar e Hopi Hari passam por ali. Eles aprendem que, quando não conseguem implantar sua gestão, as coisas não vão tão bem e que startups, como o Submarino, absorvem atenção demais.
Em meio à crise asiática, eles vendem o Garantia ao Credit Suisse – os jovens não querem tocar o negócio, o que é uma decepção. Em 1999, compram a Antarctica lançando a AmBev, onde se dedicam a implementar seus princípios de gestão. A cada cinco anos, o negócio cresce mais que nos cinco anteriores. Em 2000, trazem a Endeavor para o Brasil e criam a Fundação Brava.
Harvard Business
42
1971 - 1982
rba | revista brasileira de administração
Ilustração: Murien Frega
Estive no Japão com o Matsushita. Perguntei o que recomendava para o sucesso e ele disse: ‘Ser mais amado’”
O que vem a seguir? Jim Collins termina o prefácio do livro Sonho Grande, de Cristiane Correa, com essa pergunta inevitável. Desde o primeiro movimento de internacionalização, em 2004, quando surgiu a cervejaria InBev, parece ter mudado o padrão de aquisições de Jorge Paulo, Marcel e Beto: o intervalo entre elas se reduziu drasticamente. Pode ser circunstancial – o aproveitamento de oportunidades surgidas com a crise financeira, somado às ameaças de
Jorge Paulo Lemann
concorrentes emergentes nesse cenário consolidador –, mas há um estoque de líderes a apoiá-lo. Qual o alvo? Como Marcel disse à HSM Management,
página XX] e eles internacionalizam-se
eles procuram “empresas fortes, onde donos façam dife-
por meio de marcas fortes globais, o que
rença; empresas antigas e bem-sucedidas no mundo todo
é quase inédito no país.
que poderiam melhorar muito com um turnaround”. Alguns fazem especulações sobre Coca-Cola e Pepsi, que,
O foco no branding, uma de nossas
além de cumprirem tais requisitos, integram a indústria de
maiores fragilidades na era da globa-
bebidas, sua velha conhecida. Para outros, até Walmart,
lização, pode vir a ser sua maior con-
como varejista, estaria na lista, apesar da eficiência ge-
tribuição. Talvez eles até realizem o
rencial comprovada. Enquanto corriam as apostas, Jorge
sonho dos brasileiros de que, um dia,
Paulo e Marcel adquiriram, por meio de seu fundo Innova,
Guaraná Antarctica seja tão popular
o controle da sorveteria Dilletto – para competir, quem
no mundo quanto Coca-Cola.
sabe, com a Häagen-Dazs.
2003 - 2004
2006
2008
2010
Internacionalização
Online também
Nos Estados Unidos:
E o Whopper...
E o ketchup Heinz...
O trio deixa o GP em busca do duradouro e, um ano depois, em meio à consolidação do mercado cervejeiro, orquestra a fusão da AmBev com a belga Interbrew (com Jim Collins como porta-voz), criando a segunda maior cervejaria mundial; o CEO da InBev é Carlos Brito. Funda ainda a 3G e Alex Behring a lidera.
A Americanas.com adquire o Submarino, criando a B2W e firmando presença de destaque no comércio online, que em 2012 já movimentará R$ 22,5 bilhões. Os consumidores ainda esperam, contudo, sentir o impacto da eficiência 3G.
os trens do leste e a Bud
Jorge Paulo, Marcel e
Na sequência de
A 3G arremata por US$ 1,5
Beto adquirem a segunda
aquisições de símbolos
bilhão 8,3% da CSX, cujos trens maior rede de fast-food
2013
norte-americanos em
percorrem 23 estados no leste
dos Estados Unidos, o
quatro anos, a 3G Capital
norte-americano. Enfrentando
Burger King, por US$
anuncia a compra da
resistência nacionalista, a InBev
3,26 bilhões, e ele é
empresa de alimentos
adquire a Anheuser-Busch por
comandado por Bernardo
Heinz por US$ 28
US$ 52 bilhões; Carlos Brito
Hees, ex-presidente da
bilhões, em parceria
é o CEO da AB InBev, a maior
ALL, como CEO, e Alex
com o megainvestidor
cervejaria do mundo.
Behring, como chairman.
Warren Buffett.
JULHO/AGOSTO – 2013
POR_redação de HSM MANAGEMENT
Cumplicidade é o 1o
Ilustração: Murien Frega
tradeoff
O CLIMA DE CONFIANÇA COM INTERDEPENDÊNCIA QUE JORGE PAULO, MARCEL E BETO DELIBERADAMENTE CONSTRUÍRAM É A PRIMEIRA DAS TRÊS PERNAS PRINCIPAIS DE SEU MODELO DE GESTÃO INOVADOR, COMO MOSTRA a REPORTAGEM
rba revista | revista brasileira brasileira de administração de administração
M
esmo que eles passem
Como explicar um relacionamento tão
PERSONALIDADES (E HISTÓ-
mais tempo no exterior
maduro e produtivo entre sócios? O
RIAS)
SEMELHANTES. “Todos
do que no Brasil, ninguém
principal vetor parece ser justamen-
sempre gostamos de sonhar sonhos
ousa questionar a brasilidade de Jorge
te o da cumplicidade, essa confiança
grandes e de construir coisas. E, além
Paulo, Marcel e Beto. Afinal, se até são
com interdependência. A seguir, HSM
disso, sempre nos entusiasmamos com
chamados informalmente pelo nome
Management apresenta as principais
facilidade”, pondera Marcel. “Sempre
em vez do sobrenome, os três empre-
características que sugerem como eles
sários não diferem muito da maioria de nossos jogadores de futebol. No entanto, quando se trata de sua capacidade de evitar burocracia e papelada, levantam-se dúvidas sobre a autenticidade do DNA. Entre esses homens, e até entre eles e suas equipes, palavras e apertos de mão dispensam carimbos em cartório, e-mails comprobatórios, processos decisórios de múltiplas instâncias. Não se trata de um simples alinha-
construíram o sentimento. FORMA
INTELIGENTE
DE
ATUAR. “Temos o sonho grande comum, mas damos certa liberdade para o indivíduo também, para ele se realizar dentro da sua individualidade –essa forma de atuar em trio é, sem dúvida, a responsável por boa parte do
quisemos negócios que durassem, que ficassem para as futuras gerações. E gostamos de lidar com os mais jovens”, comenta Jorge Paulo. O fato de Marcel e Beto terem educação formal de primeira linha e serem workaholics como ele também os aproximou, conforme o livro Sonho Grande. “Além disso, temos um grande diferencial, acho, que muitos brasileiros têm: a atitude. Não
nosso sucesso”, analisa Jorge Paulo. “E
ficamos perdendo muito tempo com o
ninguém quer roubar a cena para si;
passado, com o que aconteceu ou dei-
cada um respeita a individualidade do
xou de acontecer. Não deu certo? Par-
outro e o ajuda a crescer.”
timos para outra”, lembra Marcel.
mento; a relação deles se baseia em um tipo avançado de confiança. Na definição de José Salibi Neto, CKO da HSM, e Sandro Magaldi no livro Movidos por Ideias (ed. Campus/Elsevier), esse tipo se rege pela cum-
Jorge Paulo é o estrategista. Marcel, o Administrador por excelência. Beto é quem abre novas frentes”
plicidade. De origem latina, a palavra remete a “enroscar, dobrar enrolan-
Marcel acrescenta:“Foi ótimo cada um
HABILIDADES
ter arrumado um negócio para tocar
TARES. A autora de Sonho Grande,
sozinho em algum momento e assim
Cristiane Correa, definiu os três para
se realizar. Não caberíamos os três em
HSM Management: “Jorge Paulo é o
um negócio só juntos e ao mesmo tem-
estrategista, a pedra fundamental des-
po; seríamos animais muito grandes
sa cultura. Foi ele quem trouxe para o
Faz mais de 40 anos que o trio 3G
para um negócio só. No início, o Jorge
Brasil os conceitos de meritocracia e
é interdependente. Desde que se
ficou tocando o banco, o Beto foi tocar
partnership. Marcel é o administra-
conheceram no Banco Garantia, têm
as Lojas Americanas e eu fui tocar a
dor por excelência. No Garantia, era o
convívio intensivo, trocando infor-
Brahma –negócios grandes o suficien-
responsável pela mesa de operações,
mações, tendo ideias, correndo ris-
te para ocupar cada um de nós”. Para
o ‘coração’ do banco. Na Brahma, foi
cos, movimentando bilhões de dóla-
ele, o fato de cada um poder tomar de-
o responsável por transformar uma
res (até hoje, mais ganhando do que
cisões sem pedir permissão aos outros,
cervejaria envelhecida em uma má-
perdendo), todos juntos. Às vezes
em um mecanismo de deferimento, faz
quina de ganhar dinheiro. Beto é quem
concordam, às vezes discordam, mas
toda a diferença do mundo.“Fazer isso
abre novas frentes. Quando o Garan-
sempre ficam bem.
requer uma convicção muito forte.”
tia comprou as Lojas Americanas, em
do”, fazendo-nos pensar em um tipo de interdependência que serve como uma luva para a agilidade necessária no mundo dos negócios atual, conforme Salibi e Magaldi.
COMPLEMEN-
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
45
dois sócios com quem pretendo fazer mais coisas”, comenta Jorge Paulo. ADMIRAÇÃO. “Tenho dois sócios espetaculares, o Marcel e o Beto”, diz Jorge Paulo. “O Jorge é uma pessoa especial. O cérebro dele já veio com a maioria dos arquivos que eu e o Beto copiamos depois”, afirma Marcel. Beto, por sua vez, vive contando com a admiração dos dois amigos, como no episódio relatado em Sonho Grande em que prometeu vestir-se de odalisca e dançar na Praça Mauá, no centro carioca, caso a empresa conseguisse uma margem Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) de 6%. Ele cumpriu. FUTURO COMUM. Nas palavras de Jorge Paulo: “Como temos vários negócios juntos, estamos educando nossas famílias juntas sobre os negócios que temos; não pretendemos que Marcel Telles foi entrevistado por HSM Management em janeiro-fevereiro de 2011, quando avisou: “Temos interesse em empresas estáveis onde possamos aplicar nossos conceitos básicos de eficiência, gente e cultura – nesse tipo de empresa, eles têm grande efeito – e cujo negócio não possa ser totalmente virado de cabeça para baixo por uma inovação ou nova tecnologia”.
uma época em que bancos não com-
muito e, ao mesmo tempo, sempre
pravam empresas, mesmo sem nenhu-
consegui jogar tênis, praticar pesca
ma experiência ele foi tocar a varejis-
submarina e conviver com minha fa-
ta. Depois montou a GP, o primeiro
mília, que é superlegal. Acontece o
private equity do Brasil. E, até no que
mesmo com meus sócios: cada um tem
se refere às ONGs dos três, foi quem
seus interesses, hobbies especiais, to-
primeiro deu apoio ao empreendedo-
dos têm família”.
rismo, trazendo a Endeavor para cá”.
um papel executivo em nenhuma das empresas em que possuímos participação, mas achamos produtivos os diversos membros conhecerem os outros, trocarem ideias, com o objetivo de que deem valor àquilo que nós construímos. Queremos que entendam que o conjunto vale mais do que qualquer coisa individualmente. Estamos tentando fazer com que nossos familiares continuem essa sociedade de três, por-
SORTE. Nas palavras de Marcel, “o
que esta funciona muito bem”.
EMPATIA NATURAL. “O fato é que
fato de o Jorge ser dez anos mais velho
nos damos bem: pescamos juntos a
que a gente foi importante: ele cum-
GOSTO PELO RISCO. “Um fator que
vida toda, pescamos de mergulho. Hoje
priu aquela função do irmão mais ve-
pesco menos, mas pescamos juntos a
lho, que dá liga à relação”.
vida toda”, conta Jorge Paulo.
46
nenhum membro das famílias tenha
nos manteve juntos todo esse tempo foi a aptidão para correr riscos. Jamais teríamos feito o que fizemos se não ti-
PRAZER. “Essa sociedade é um dos
véssemos topado juntos correr alguns
RESPEITO PELA VIDA PESSOAL
grandes prazeres da minha vida. Não
riscos. É a competência que nos dis-
DE CADA UM. Quem dá o depoimen-
apenas financeiramente; é ótimo che-
tingue da maioria dos outros empresá-
to é Jorge Paulo: “Eu sempre trabalhei
gar à minha idade e saber que tenho
rios”, diz Jorge Paulo.
rba | revista brasileira de administração
SEGURANÇA. “Às vezes, eu não concordava com alguma coisa que os dois faziam, ou eles não concordavam comigo, mas nós sabíamos que, se algo desse errado, poderíamos contar um com o outro”, comenta Marcel. Vale a pena fazer um adendo sobre o fato de os três praticarem pesca submarina juntos, que até poderia ser um elemento da lista por si só, mais importante do que parece. Imagine o leitor que, no momento em que mergulham no fundo do mar, um tubarão ou uma garoupa mais agressiva ataque um membro do grupo. Os outros forçosamente terão de se arriscar para de-
CUMPLICIDADE AMPLIADA É evidente que os sócios Jorge Paulo, Marcel e Beto não conseguem replicar com todos os outros donos internos de suas empresas o mesmo grau de cumplicidade que cultivam entre si. Mas, em muitos casos, o que era confiança entre os executivos já se tornou cumplicidade em alguma medida, dando um passo adiante para incluir esse senso de dependência. A confiança dos sócios é reverberada
nesse esporte e, segundo os manuais
método. Isso ficou claro, por exemplo,
de psicologia social, é do tipo que fica
no depoimento que João Castro Ne-
registrada na pele para sempre, crian-
ves, presidente da AmBev, deu à HSM
do potencialmente interdependência.
Management: “Temos um princípio,
o sentimento no corpo de funcionários e em sua atuação social.
considerada algo chato. E a cumplicidade? O fato de os resultados de cada um interferirem na remuneração variável do outro cria uma dependência na prática. É isso que faz, como diz o consultor Vicente Falconi, com que pessoas bem encaixadas na cultura 3G torçam o nariz para quem tem desempenho sofrível. E, somando a dependência formal à confiança, vefuncionários das empresas do trio.
zida em princípios como por causa do
“cumplicidade ampliada”, “instilando”
ambiente de confiança, apesar de ser
rifica-se certa cumplicidade entre os
mum a situação de ameaça e proteção
positivo: eles criam uma espécie de
da ao método, é ótima para gerar um
fato de todos conhecerem as regras do jogo, tanto devido à cultura tradu-
tra, hors-concours, é quase um reforço
deduz de Castro Neves, a rotina, liga-
nas empresas ligadas à 3G Capital pelo
fender o amigo. Pois não é nada inco-
Na cumplicidade 3G, um elemento ex-
Também cria confiança. E, segundo se
o 7, que prega o bom senso e a simplicidade em tudo que se faça, o que tem a ver com disciplina. Brincamos que temos reuniões marcadas para 2020; é que nossa reunião do sistema de gerência precisa ocorrer todo dia 15. Isso é disciplina, isso cria simplicidade”.
Cada vez mais, Jorge Paulo, Marcel e Beto tentam expandir esse senso de cumplicidade para além das fronteiras organizacionais, investindo em melhorias para a sociedade. Participam de organizações não governamentais, como a Endeavor, voltada ao estímulo do empreendedorismo: a Fundação Estudar, que oferece bolsas de estudo a talentos promissores sem recursos, a fim de que tenham acesso a um ensino de primeira linha (João Castro Neves, CEO da AmBev, foi um dos beneficiados por bolsa nos anos 1990), e a Fundação
Jorge Paulo Lemann concedeu entrevista ao CKO e diretor-editorial José Salibi Neto em duas edições: na de março-abril de 2001 e na de janeiro-fevereiro de 2008, ano em que compraria a Anheuser-Busch
Brava, com a qual tentam influenciar positivamente a gestão pública. Esta, tocada por Beto, financia o trabalho de consultoria de Vicente Falconi para revolucionar a Administração pública. As boas intenções demonstradas por essas fundações, consideradas ONGs sérias, comprometidas e eficazes, são um construtor natural de cumplicidade com a sociedade.
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
47
TRÊS MOSQUETEIROS DE SMARTPHONE, POR_ADRIANA SALLES GOMES
smartphones à mão para trocar ideias em voz baixa nas viagens, estejam no deserto de Gobi ou num parque temático.
“O cérebro do Jorge já veio com a maioria dos arquivos; eu e o Beto só copiamos. O que é software para mim e para o Beto já era hardware no Jorge.” Com essa analogia elegante, Marcel Telles descreveu à HSM Management a ascendência que Jorge Paulo Lemann tem sobre os dois.
É fundamental entender o trio de empresários como trio, em vez de eleger um artífice isolado do sucesso, como teimam em fazer alguns. Embora a jornada do herói seja charmosa aos de fora, o que salta aos olhos é eles realmente terem achado um modo de atuar em equipe, algo supremamente difícil em se
Muitas das raízes do modelo de gestão 3G remetem mesmo a Jorge Paulo, a sua personalidade, a suas experiências ou aos benchmarkings que pessoalmente fez. Mas que ninguém se iluda: um livro sobre a aventura 3G jamais poderia ser uma jornada de herói do tipo Odisseia. Deve, no mínimo, fazer uma versão contemporânea de Os Três Mosqueteiros. Jorge Paulo caberia bem no papel do estrategista Athos, mentor do grupo; impetuoso, Beto inspiraria Porthos; e Marcel faria as vezes do equilibrado e persistente Aramys. Eles lutam muito me-
48
de espadas cruzando no alto ao grito “todos por um”, têm
tratando de sócios. Segundo Marcel nos disse em entrevista, o trio sempre teve “essa coisa de ‘defer’, ou ‘deferir’ em inglês; todos se consultam, mas o que um decidir está decidido. E, se o barco afundar, quem decidiu sabe que pode contar com os outros para segurar o mastro”. Na prática, a comunicação é intensa: eles se falam – ou se escrevem – o tempo todo e se encontram ao vivo também. As esposas estudam juntas, os filhos acampam em turma.
lhor juntos do que separados, quando fortalecem e protegem uns
Esses
aos outros. Já D’Artagnan teria intérprete rotativo: um dia, pode-
–“workaholics são normais”, ensinou-lhes a cultura Goldman
ria ser um dos executivos formados pelo trio, como João Castro
Sachs –, tanto quanto os de Alexandre Dumas gostavam de lu-
Neves, CEO da Ambev; em outro, um estagiário recém-aprovado
tar. Mas esse traço talvez tenha sido mal compreendido: eles
no disputadíssimo programa de trainees da AmBev. No lugar
aproveitam, e valorizam, a vida privada.
mosqueteiros
ENTENDENDO O TRADEOFF
talento, determinaram que os filhos
Por que o título desta reportagem fala
Sócios que brigam –e põem tudo a
em tradeoff? O termo, consagrado por
perder– constituem a regra, não a ex-
Michael Porter, significa abrir mão de
ceção. A cumplicidade é a vacina para
uma coisa para ter outra. E é exata-
isso, mas, dados os tradeoffs, não é para
mente isso que o trio Jorge Paulo-Mar-
qualquer um. Como Salibi e Magaldi
cel-Beto faz todos os dias ao optar pela
alertam, a cumplicidade é, sempre,
cumplicidade. Alguns exemplos: cada
uma construção e requer esforço. Na
um tem de saber tolerar o erro do outro;
lista de cúmplices empresariais no-
devem lidar com o ciúme que sua rela-
tórios do livro Movidos por Ideias há
ção eventualmente desperte em outros
poucos nomes, como os de Bill Gates e
executivos; precisam controlar seu ego
Steve Ballmer, ou os de Bill Hewlett e
em prol da equipe (e, como esportistas
Dave Packard. E, graças a uma mistura
competitivos que são, supõe-se que te-
explosiva das lições aprendidas com
nham um mínimo de altivez) pelo bem
o modelo de partnership do Goldman
das empresas em que são acionistas, e
Sachs e com o autoconhecimento, o
para não fechar portas para nenhum
trio 3G também está lá.
rba | revista brasileira de administração
não podem trabalhar nelas.
contemporâneos
adoram
trabalhar
OPINIÃO ILUSTRAçÃO_MARCOS BERMUDEZ
Eficiência M
uito se fala sobre a necessidade de reforma e aumento da eficiência da Administração
Pública. Os órgãos públicos são constantes vítimas de modismos e gurus mirabolantes, com fórmulas mágicas e soluções prontas importadas dos manuais de “best practices” da Administração Empresarial. Essas panaceias de prateleira podem até funcionar no curto prazo, mas não resolvem efetivamente o problema no médio e longo prazos – sendo que os sintomas da ineficiência logo voltam a se manifestar. Parte-se do falso pressuposto de que o ambiente organizacional público é igual ao privado, respondendo da mesma forma a uma dada solução. Existem enormes diferenças no Brasil entre as organizações públicas e privadas na sua essência: clima e cultura organizacionais e marco legal. No que diz respeito à gestão de pessoas, por exemplo – notoriamente destacada por vários mestres da Administração como um dos principais sistemas a serem aprimorados na busca por aumento da eficiência organizacional –, fatores como estabilidade no emprego e concurso público como mecanismo para recrutamento e seleção da grande maioria das vagas já são justificativas mais que suficientes para a necessidade de analisar as organizações públicas sob lentes diferentes das que usamos para tentar compreender, diagnosticar e gerir as empresas privadas.
50
rba | revista brasileira de administração
Pública As poucas vagas nos governos sem
teger o servidor público de persegui-
estabilidade e concursos (os cargos
ções partidário-ideológicas. Por outro
de confiança ou de livre provimento)
lado, tende a levar à acomodação dos
muitas vezes são ocupadas utilizan-
funcionários. Junte-se a isso o pro-
do-se de critérios de amizade, paren-
cesso seletivo por concurso público,
tesco, alinhamento político e/ou troca
que tenta blindar os cargos públicos
fisiológica de favores entre grupos de
contra o fisiologismo e clientelismo na
poder. Essas posições são justamen-
sua ocupação. Por imposição do prin-
te os cargos de comando no topo das
cípio constitucional da impessoalida-
organizações: funções de direção e
de, os concursos acabam priorizando
assessoramento
critérios mais objetivos de seleção,
ocupadas sem critérios técnicos.
valorizando mais o conhecimento teórico dos candidatos que suas habilidades práticas – gerando discrepâncias entre o perfil do candidato e a vaga pleiteada e, consequentemente, contribuindo para a desmotivação.
estratégico
sendo
Resultados: desalinhamento estratégico, impossibilidade de implementação de planos estratégicos de longo prazo (pois, como explicado, no universo público as chefias são altamente rotativas, conforme a mudança de mandato político, e os níveis tático e operacional são estáveis), conflitos frequentes entre chefes e subordinados. Para alterar este quadro, grande parte das ferramentas que a Administração oferece não é adequada. Observa-se no país, nas últimas décadas, aumento significativo do número de cursos de bacharelado em Administração Pública e afins, que buscam – à luz da Ciência da Administração – inovar em metodologias e modelos de análise e ação, trazendo soluções fundamentais, originais e específicas para a melhoria da gestão pública.
Foto: Arquivo pessoal
A estabilidade no emprego busca pro-
ADM. Murilo Lemos de Lemos é mestre em Administração Pública (EAESP-FGV).
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
51
Temos novidade para você, leitor!
Imagem: divulgação
CONEXÃO
A RBA e a HSM fecharam parceria e agora você terá desconto de 20% sobre o preço de capa deste livro. Entre no link: http://migre.me/f5xRR ou www.hsmstore.com.br e digite no campo Cupom/Valepresente o código RBA2013.
Vencedoras por opção A obra é resultado de nove anos de pesquisa. Enumera os princípios necessários para construir uma empresa de sucesso em tempos imprevisíveis focando não apenas o desempenho, mas também os cenários instáveis que os líderes de hoje enfrentam. Também ajuda o leitor a entender o caminho da excelência trilhado pelo que o autor chama de empresas 10X, um seletíssimo grupo com desempenho pelo menos 10 vezes superior à média de seu mercado. Autor: Jim Collins e Morten T. Hansen Categoria: Administração/Administração de Vendas e Marketing Editora: HSM | Edição: 1ª/2012 | Nº de páginas: 352
Imagem: divulgação
LEIA MAIS Gestão por competências sem mistérios Com a leitura deste livro, implantar a gestão por competências deixa de ser algo teórico e complexo. O grande diferencial da obra é que, ao usar o formato de um projeto prático comentado, o autor apresenta sistemas, quadros, tabelas, formulários e outros instrumentos sem se alongar em divagações teóricas tão comuns em publicações sobre este importante tema. É indicado para estudantes e profissionais de Administração, principalmente os de Recursos Humanos, e também para leitores que estejam interessados em modernas práticas administrativas e desejam aprimorar seus negócios. Autora: Credson Ribeiro Junqueira | Editora: Baraúna (edição digital) Categoria: Administração
Imagem: divulgação
Edição: 1ª/2009 | Tamanho do arquivo: 9244 kb
A Arte da Guerra — A Arte do EmpreenDEdorismo Este livro trata de muito mais do que simplesmente a arte da guerra. Uma tradução mais exata em português consistiria em uma única palavra: estratégia. O fato de o livro ser sobre estratégia e não sobre guerra explica por que os métodos se aplicam tão bem a qualquer atividade de negócios que exija previsão e análise. Ele é capaz de transformar uma ideia vaga que você possa ter sobre estratégia em um conjunto de princípios claros e bem definidos. As pessoas, erradamente, veem a guerra e, de forma mais geral, a competição como um processo antagônico, destrutivo, mas Sun Tzu a via como um componente necessário de um mundo produtivo. Por fim, a visão de competição de Sun Tzu implica muito conhecimento. Saber como realizar certo tipo de tarefa não é o bastante. A vitória, segundo ele, é daquele que tem maior conhecimento em todas as áreas relacionadas à sua organização. Autora: Gary Gagliardi | Editora: M. Books | Edição: 1ª/2003 | Nº de páginas: 120 Categoria: Administração/Administração de Vendas e Marketing
52
rba | revista brasileira de administração
Imagem: divulgação
De pernas pro ar Alice (Ingrid Guimarães) é uma executiva de 30 e poucos anos, casada com o dedicado João (Bruno Garcia), mãe de um filho e muito bem-sucedida profissionalmente. É uma típica workaholic que tenta se equilibrar entre a rotina de trabalho e a família. Sua história se cruza por acaso com a da estonteante vizinha Marcela (Maria Paula). Como nas típicas comédias de erros, Alice perde o emprego e o marido no mesmo dia. É aí que ela descobre, com ajuda da vizinha, que é possível ser uma profissional de sucesso sem deixar os prazeres da vida de lado. Alice decide ajudar a nova amiga a salvar seu negócio – um sex shop falido – e Marcela decide ajudar Alice a descobrir os prazeres dos sex toys. O filme discute com leveza e humor os deliciosos conflitos das mulheres modernas, expondo também conceitos da Administração, como gestão de negócio e alavancagem de vendas. Elenco: Ingrid Guimarães, Bruno Garcia, Cristina Pereira, Maria Paula, Antônio Pedro, Denise Weinberg, Flávia Alessandra, João Fernandes, Marcos Pasquim e Rodrigo Candelot Duração: 97 minutos | Gênero: Comédia | Direção: Roberto Santucci Roteiro: Marcelo Saback e Paulo Cursino | Ano: 2010 | País de origem: Brasil Distribuidora: Downtown Filmes
REDE saiadolugar.com.br O site se propõe a divulgar dicas, artigos, vídeos e entrevistas sobre empreendedorismo, Administração, marketing e estratégia.
administradores.com.br O portal reúne empresários, profissionais e acadêmicos para tratar de Administração e áreas afins, como marketing, finanças e recursos humanos.
endeavor.org.br Site do Instituto Empreender Endeavor Brasil, que busca gerar emprego e renda através do fomento à cultura empreendedora no Brasil.
mundodomarketing.com.br A página web produz e publica reportagens, divulga cases, artigos e entrevistas sobre PDV, marca, brand, promoção, eventos, endomarketing e pesquisa.
bbc.co.uk/portuguese Site da conceituada empresa de comunicação do Reino Unido expõe notícias em português do Brasil e do mundo sobre os mais variados temas.
dominiopublico.gov.br O portal é uma biblioteca virtual de referência. Desenvolvida em software livre, permite a coleta, integração, preservação e o compartilhamento de informações.
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
53
CONSELHO POR_Adm. Sebastião Luiz de Mello - Presidente do Conselho Federal de Administração (CFA)
na Administração O
Conselho Federal de Administração (CFA) postou, em sua página no Facebook, uma imagem com a seguinte pergunta: “Qual filme que todo
Ilustração: Shutterstock
Administrador deve assistir?”. A princípio, acreditei que seria apenas mais uma ação para envolver os seguidores e promover a integração com o público. Ledo engano. À medida que ia lendo as respostas – foram 251 no total – ficava cada vez mais surpreso. Foram várias as sugestões de filmes interessantes, alguns inclusive eu já assisti; outros eu espero assistir muito em breve. Mas o que mais me chamou atenção foi a sugestão de uma internauta ao indicar um desenho animado. No início pensei que se tratasse de um equívoco. Afinal, quais as lições que uma animação pode trazer para o mundo dos negócios e para a vida do Administrador? Conduzido pela curiosidade, fui conhecer o filme indicado: Monstros S.A. A animação americana, produzida em 2001 pela Pixar Animation Studios em parceria com a Walt Disney Pictures, já me chamou a atenção pelo nome. O final S.A. – ou Inc. no original em inglês – indica que se trata de algo relacionado a uma empresa. E é isso mesmo. O filme conta a história de uma grande organização produtora de energia de uma cidade fictícia: Monstrópolis. Para gerar energia, os monstros da cidade precisam assustar crianças todas as noites. Os gritos que elas emanam com o susto são, então, armazenados para levar comodidade ao mundo dos monstros. E tudo dentro desta empresa é semelhante a uma corporação do mundo real.
54
rba | revista brasileira de administração
Os funcionários precisam bater me-
mica que deixou marcas em diversos
Perceba que a crise é um momento
tas; os processos são bem definidos; os
países. Muitas pessoas perderam
para trocar ideias e promover corre-
funcionários trabalham em equipe –
seus empregos, empresas fecharam
ções necessárias para manter a em-
enquanto um monstro assusta a crian-
as portas e governos acumularam dí-
presa competitiva no mercado. Este,
ça, outro faz o apoio; a empresa tem
vidas bilionárias. Como sobreviver a
por sinal, passa por constantes mu-
um diretor geral, também chamado de
tamanha tempestade? Como tirar do
danças que precisam ser acompanha-
Chief Executive Officer (CEO), uma di-
caos uma ideia promissora?
das pelas empresas.
O monstro do desenho sugerido pela
Precisamos ter a determinação de
Entretanto, a organização tem passa-
internauta não teve medo e, o princi-
um monstro e a sensibilidade de uma
do por várias dificuldades. Os índices
pal, não se abateu diante das dificul-
criança para encarar, diariamente, de-
de energia estão caindo e os monstros
dades. Pelo contrário: encontrou uma
safios importantes. Na crise, quem se
começam a ficar preocupados. Eis que
oportunidade e promoveu um proces-
abre para o novo encontra mais opor-
um deles, Sulley, o protagonista da his-
so de reorganização na empresa. É isso
tunidades. Afinal, a arte de adminis-
tória, conhece uma simpática garoti-
que nós, Administradores, precisamos
trar se concretiza e ganha contornos
nha e, em meio à crise, tem uma ideia
fazer diante de cenários desfavoráveis.
de perfeição justamente em momen-
retoria; entre outros aspectos.
que pode mudar o rumo da empresa.
Sugiro,
portanto,
que
todos
os
tos difíceis. É em mar bravio que se destaca quem melhor navega.
Esta é, então, uma das grandes li-
Administradores assistam ao filme.
ções de Monstros S.A. para os
Como é uma animação infantil, apro-
Na próxima edição da RBA, o presi-
Administradores e que serve de
veite o momento e convide filhos e/
dente do CFA, Sebastião Mello, trará
exemplo, também, para gestores pri-
ou netos para dividir com você esse
mais dicas de filmes com importantes
vados e públicos. O mundo passou,
momento prazeroso e que traz mui-
ensinamentos para os profissionais de
recentemente, por uma crise econô-
tas lições para o mundo dos negócios.
Administração.
Brasil sediará o XIII FIA e IX Congresso Mundial de Administração Eventos acontecerão em Gramado (RS). As inscrições já podem ser feitas no site www.fia.org.br A cidade gaúcha de Gramado receberá, de 30 de
brasileiros a chance de trocar conhecimento com
outubro a 2 de novembro, o XIII Fórum Internacional
profissionais de outros países e de conferir palestras com
de Administração (FIA) e IX Congresso Mundial de
renomados conferencistas. “O FIA e o Congresso são eventos
Administração. Neste ano, ambos os eventos trazem como
já consagrados e tenho certeza de que os participantes sairão
tema central “O Futuro: da Administração, das Carreiras e
de lá com ideias e propostas que ajudarão a construir um
dos Negócios no Mundo em Reconfiguração”.
mundo melhor”, diz o vice-presidente do Conselho Federal de
Durante os eventos serão realizadas conferências e painéis
Administração (CFA), Adm. Sergio Lobo.
segundo estes eixos temáticos: cenários e tendências,
Os interessados em participar dos eventos e/ou enviar
gestão de pessoas, negócios (novas fronteiras/inovações),
trabalhos para avaliação devem acessar o site www.fia.org.br.
sustentabilidade, estratégia e execução. Além disso, o
O XIII FIA e o IX Congresso Mundial de Administração
XIII FIA e o IX Congresso Mundial terão espaço para
são uma realização do CFA e dos Conselhos Regionais
apresentação de trabalhos científicos.
de Administração do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e
Os organizadores estão otimistas e acreditam que a realização desses eventos no Brasil oportunizará aos Administradores
Minas Gerais (CRA-RS/CRA-RJ/CRA-MG). Fonte: CFA
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
55
Conselho
XXIV ENANGRAD está com inscrições abertas Proposta do evento é promover debates sobre o papel do ensino de Administração na atualidade. O Encontro, voltado para profissionais e ESTUDANTES de Administração, acontecerá em Florianópolis (SC), de 29 de setembro a 2 de outubro Fonte: CFA Começaram os preparativos para o XXIV Encontro Nacional
Durante o XXIV ENANGRAD acontecerá, ainda, o VI
dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD).
Seminário Nacional de Coordenadores dos Cursos de
O evento acontecerá de 29 de setembro a 2 de outubro de
Administração (SENANGRAD); o XVII Seminário Nacional
2013, em Florianópolis (SC). Nesta edição, os profissionais e
ANGRAD/MEC/INEP/CFA,
estudantes de Administração de todo o país discutirão o tema
Ministério da Educação, do Instituto Nacional de Estudos
“Inovação e Aprendizagem no Curso de Administração”.
e Pesquisas Educacionais (INEP), do Conselho Nacional de
A proposta do encontro promovido pela Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ANGRAD) é promover um rico debate sobre o efetivo papel do ensino de
56
com
a
participação
do
Educação e do Conselho Federal de Administração; e oficinas pedagógicas sobre aprendizagem efetiva, casos de ensino, inovação pedagógica e sensibilização docente.
Administração no atual contexto brasileiro. Para isso, o evento
Inscrições – Os interessados em participar do
reunirá especialistas renomados para discutir o assunto em
XXIV ENANGRAD já podem fazer a inscrição no site
palestras e seminários, além da apresentação de trabalhos sele-
www.enangrad.org.br. Confira, abaixo, os prazos e valores da
cionados dentro de 11 áreas temáticas, entre outras atividades.
inscrição. Outras informações estão disponíveis no site.
Inscrições
*Associados
Não Associados
*Apresentador
Estudantes
13/5 a 29/6/2013
R$ 505,00
R$ 1.005,00
R$ 405,00
R$ 355,00
30/6 a 31/7/2013
R$ 585,00
R$ 1.175,00
R$ 405,00
R$ 395,00
01/8 a 19/9/2013
R$ 675,00
R$ 1.355,00
R$ 405,00
R$ 435,00
NO EVENTO
R$ 705,00
R$ 1.405,00
R$ 405,00
R$ 455,00
rba | revista brasileira de administração
CRAs
Conselhos Regionais de ADministração
CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DO ACRE (CRA-AC) Presidente: Adm. MARCOS CLAY LÚCIO DA SILVA Av. Brasil, nº 303 - Sala 201 - 2º andar - Centro Empresarial Rio Branco - Centro - 69900-191 RIO BRANCO/AC Fone: (68) 3224-1369 E-mail: craacre@gmail.com Horário de funcionamento: das 8h às 18h CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DE ALAGOAS (CRA-AL) Presidente: Adm. ALAN HELTON DE OMENA BALBINO Rua João Nogueira, nº 51 - Farol - 57051-400 MACEIÓ/AL Fone: (82) 3221-2481 - Fax: (82) 3221-2481 E-mail: gabinete@craal.org.br Home page: www.craal.org.br Horário de funcionamento: das 7h às 13h CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DO AMAPÁ (CRA-AP) Presidente: Adm. EDILJANE MARIA CAMPOS DA FONSECA Rua Jovino Dinoá, nº 2455 - Centro - 68900-075 MACAPÁ/AP Fone: (96) 3223-8602 E-mail: cra.macapa@gmail.com Horário de funcionamento: das 8h às 17h Atendimento público: das 9h às 15h CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DO AMAZONAS (CRA-AM) Presidente: Adm. JOSÉ CARLOS DE SÁ COLARES Rua Apurinã, nº 71 - Praça 14 - 69020-170 MANAUS/AM Fone: (92) 3303-7100 - Fax: (92) 3303-7101 E-mail: conselho@craamazonas.org.br Home page: www.craamazonas.org.br Horário de funcionamento: das 8h às 17h30
CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DO MARANHÃO (CRA-MA) Presidente: Adm. ISABELLE CRISTINE RODRIGUES FREIRE MARTINS Rua José Bonifácio, 920 - Centro - 65010-020 SÃO LUÍS/MA Fone: (98) 3231-4160/3231-2976 Fax: (98) 3231-4160/3231-2976 E-mail: crama@cra-ma.org.br Home page: www.cra-ma.org.br Horário de funcionamento: das 8h às 14h CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DE MATO GROSSO (CRA-MT) Presidente: Adm. LUIS CESAR SIMÕES DE ARRUDA Rua 5 - Quadra 14 - Lote 5 - CPA - Centro Político e Administrativo - 78050-900 - CUIABÁ/MT Fone: (65) 3644-4769 Celular: (65) 8401-2485/8157-0160 - Fax: (65) 3644-4769 E-mail: cra.mt@terra.com.br Home page: www.cramt.org.br Horário de funcionamento: das 9h às 17h CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL (CRA-MS) Presidente: Adm. HARDUIN REICHEL Rua Bodoquena, nº 16 - Amambaí - 79008-290 CAMPO GRANDE/MS Fone: (67) 3316-0300 E-mail: presidencia@crams.org.br Home page: www.crams.org.br Horário de funcionamento: das 8h às 17h30 CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DE MINAS GERAIS (CRA-MG) Presidente: Adm. MARCOS SILVA RAMOS Avenida Afonso Pena, nº 981 - 1º andar - Centro Ed. Sulacap - 30130-907 - BELO HORIZONTE/MG Fone: (31) 3274-0677/3213-5396 Fax: (31) 3273-5699/3213-6547 E-mail: presidencia@cramg.org.br Home page: www.cramg.org.br Horário de funcionamento: das 8h às 18h
CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DA BAHIA (CRA-BA) Presidente: Adm. ROBERTO IBRAHIM UEHBE Av. Tancredo Neves, nº 999 - Ed. Metropolitano Alfa Salas 601/602 - Caminho das Árvores - 41820-021 SALVADOR/BA Fone: (71) 3311-2583 - Fax: (71) 3311-2573 E-mail: cra-ba@cra-ba.org.br Home page: www.cra-ba.org.br Horário de funcionamento: das 9h às 17h30
CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DO PARÁ (CRA-PA) Presidente: Adm. JOSÉ CÉLIO SANTOS LIMA Rua Osvaldo Cruz, nº 307 - Comércio - 66017-090 BELÉM/PA Fone: (91) 3202-7889 - Fax: (91) 3202-7851 E-mail: gabinete@crapa.org.br Home page: www.crapa.org.br Horário de funcionamento: das 9h às 15h
CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DO CEARÁ (CRA-CE) Presidente: Adm. ILAILSON SILVEIRA DE ARAÚJO Rua Dona Leopoldina, nº 935 - Centro - 60110-001 FORTALEZA/CE Fone: (85) 3421-0909 - Fax: (85) 3421-0900 E-mail: presidente@cra-ce.org.br Home page: www.craceara.org.br Horário de funcionamento: das 8h30 às 18h
CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DA PARAÍBA (CRA-PB) Presidente: Adm. FRANCISCO DE ASSIS MARQUES Av. Piauí, nº 791 - Bairro dos Estados - 58030-331 JOÃO PESSOA/PB Fone: (83) 3021-0296 E-mail: crapb@crapb.org.br Home page: www.crapb.org.br Horário de funcionamento: das 8h às 12h e das 13h às 17h
CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL (CRA-DF) Presidente: Adm. CARLOS ALBERTO FERREIRA JÚNIOR SAUS - Quadra 6 - 2º Pav. - Conj. 201 - Ed. Belvedere 70070-915 - BRASÍLIA/DF Fone: (61) 4009-3333 - Fax: (61) 4009-3399 E-mail: presidencia@cradf.org.br Home page: www.cradf.org.br Horário de funcionamento: das 9h às 17h CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO (CRA-ES) Presidente: Adm. MARCOS FELIX LOUREIRO Rua Aluysio Simões, nº 172 - Bento Ferreira - 29050-632 VITÓRIA/ES Fone: (27) 2121-0500 - Fax: (27) 2121-0539 E-mail: craes@craes.org.br Home page: www.craes.org.br Horário de funcionamento: das 8h30 às 17h30 CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DE GOIÁS (CRA-GO) Presidente: Adm. SAMUEL ALBERNAZ Rua 1.137, nº 229, Setor Marista - 74180-160 GOIÂNIA/GO Fone: (62) 3230-4769 - Fax: (62) 3230-4731 E-mail: presidencia@crago.org.br Home page: www.crago.org.br Horário de funcionamento: das 8h às 18h
CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DO PARANÁ (CRA-PR) Presidente: Adm. GILBERTO SERPA GRIEBELER Rua Cel. Dulcídio, nº 1565 - Água Verde - 80250-100 CURITIBA/PR Fone: (41) 3311-5555 - Fax: (41) 3311-5566 E-mail: presidencia@cra-pr.org.br Home page: www.cra-pr.org.br Horário de funcionamento: das 9h às 18h CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUCO (CRA-PE) Presidente: Adm. ROBERT FREDERIC MOCOCK Rua Marcionilo Pedrosa, nº 20 - Casa Amarela 52051-330 - RECIFE/PE Fone: (81) 3268-4414/3441-4196 - Fax: (81) 3268-4414 E-mail: cra@crape.org.br Home page: www.crape.org.br Horário de funcionamento: das 8h às 14h Atendimento público: das 8h às 12h CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DO PIAUÍ (CRA-PI) Presidente: Adm. PEDRO ALENCAR CARVALHO SILVA Rua Áurea Freire, nº 1349 - Jóquei - 64049-160 TERESINA/PI Fone: (86) 3233-1704 - Fax: (86) 3233-1704 E-mail: administrativo@cra-pi.org.br Home page: www.cra-pi.org.br Horário de funcionamento: das 12h às 19h
CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DO RIO DE JANEIRO (CRA-RJ) Presidente: Adm. WAGNER SIQUEIRA Rua Professor Gabizo, nº 197 - Ed. Belmiro Siqueira Tijuca - 20271-064 - RIO DE JANEIRO/RJ Fone: (21) 3872-9550 - Fax: (21) 3872-9550 E-mail: secretaria@cra-rj.org.br Home page: www.cra-rj.org.br Horário de funcionamento: das 9h às 17h CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DO RIO GRANDE DO NORTE (CRA-RN) Presidente: Adm. KATE CUNHA MACIEL Rua Coronel Auriz Coelho, nº 471 - Lagoa Nova 59075-050 - NATAL/RN Fone: (84) 3234-6672/9328 - Fax: (84) 3234-6672/9328 E-mail: cra-rn@crarn.com.br Home page: www.crarn.com.br Horário de funcionamento: das 12h às 18h CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL (CRA-RS) Presidente: Adm. CLÁUDIA DE SALLES STADTLOBER Rua Marcílio Dias, nº 1030 - Menino Deus - 90130-000 PORTO ALEGRE/RS Fone: (51) 3014-4700/3014-4769 - Fax: (51) 3233-3006 E-mail: diretoria@crars.org.br Home page: www.crars.org.br Horário de funcionamento: das 8h30 às 17h30 CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DE RONDÔNIA (CRA-RO) Presidente: Adm. ANDRÉ LUIS SAONCELA DA COSTA Rua Tenreiro Aranha, nº 2978 - Centro - 78902-050 PORTO VELHO/RO Fone: (69) 3221-5099/3224-1706 - Fax: (69) 3221-2314 E-mail: presidencia@craro.org.br Home page: www.craro.org.br Horário de funcionamento: das 8h às 17h Atendimento público: das 8h às 14h CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DE RORAIMA (CRA-RR) Presidente: Adm. UBIRAJARA RIZ RODRIGUES Rua Prof. Agnelo Bitencourt, nº 1620 - São Francisco 69305-170 - BOA VISTA/RR Fone: (95) 3624-1448 - Fax: (95) 3624-1448 E-mail: craroraima@gmail.com Home page: www.crarr.org.br Horário de funcionamento: das 8h às 18h Atendimento público: das 8h às 14h CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DE SANTA CATARINA (CRA-SC) Presidente: Adm. ANTONIO CARLOS DE SOUZA Av. Pref. Osmar Cunha, 260 - 8º andar - Salas 701 a 707/ 801 a 807 - Ed. Royal Business Center - 88015-100 FLORIANÓPOLIS/SC Fone: (48) 3229-9400 - Fax: (48) 3224-0550 E-mail: crasc@crasc.org.br Home page: www.crasc.org.br Horário de funcionamento: das 8h às 18h CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DE SÃO PAULO (CRA-SP) Presidente: Adm. WALTER SIGOLLO Rua Estados Unidos, nº 865/889 Jardim América - 01427-001 - SÃO PAULO/SP Fone: (11) 3087-3208/ 3087-3459 - Fax: (11) 3087-3256 E-mail: secretaria@crasp.gov.br Home page: www.crasp.com.br Horário de funcionamento: das 8h às 17h30 Atendimento público: das 9h às 17h CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DE SERGIPE (CRA-SE) Presidente: Adm. DIEGO CABRAL FERREIRA COSTA Rua Senador Rollemberg, nº 513 - São José - 49015-120 ARACAJU/SE Fone: (79) 3214-2229/3214-3983 Fax: (79) 3214-3983/3214-2229 E-mail: cra-se@infonet.com.br Home page: www.crase.org.br Horário de funcionamento: das 8h às 14h CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO DE TOCANTINS (CRA-TO) Presidente: Adm. ROGÉRIO RAMOS DE SOUZA 602 Norte - Av. Teotônio Segurado - Conj. 1 - Lote 677006700 - PALMAS/TO Fone: (63) 3215-1240/3215-8414 E-mail: atendimento@crato.org.br Home page: www.crato.org.br Horário de funcionamento: das 8h às 18h
Listagem atualizada até o dia 14/06/2013 JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
57
acessibilidade POR_Cinthia Zanotto
um dever de todos Com o aumento da interação da pessoa com deficiência na sociedade na última década, governo, empresas e cidadãos são chamados a pensar e a trabalhar na promoção da inclusão nos espaços públicos e privados
R
afael Bonfim é jornalista,
como jornalista responsável na revista
de acesso disponíveis a pessoas com
formado pela Pontifícia
Aymará Cidades, veículo que coman-
deficiência, tanto no espaço público
Universidade
dou por dois anos. E não para por aí.
como em áreas privadas.
O extenso currículo desse profissio-
Rafael fez parte da primeira turma do
nal curitibano, hoje com pouco mais
projeto de inclusão da pessoa com de-
de 30 anos, é igual ou tão melhor que
ficiência do HSBC, em 2006, época em
o de muitos jovens de sua idade. Rafael
que as empresas passaram a aderir à
é qualificado e possui todas as atribui-
inclusão com mais frequência graças
ções para ocupar uma vaga disponível
ao então rigor do governo em fiscali-
Católica
do Paraná (PUCPR) em 2007, com MBA em Gestão Social e Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Positivo (UP). No momento, cursa MBA em Gerenciamento de Projetos na Fundação Getúlio Vargas (FGV). É fluente em inglês, blogueiro da versão
58
na sua área de atuação. A única barrei-
eletrônica do jornal Gazeta do Povo e
zar o cumprimento da Lei de Cotas,
ra capaz de impedi-lo de ser o candida-
estabelecida em 1991. Ou seja, se não
escreve sobre a inclusão de pessoas
to escolhido pelos contratantes não é
incluíssem, as companhias teriam que
com deficiência. Além disso, ele con-
a cadeira de rodas usada para se loco-
arcar com multas cobradas para cada
quistou o Prêmio Aberje 2011 na cate-
mover decorrente da deficiência física
vaga não preenchida. Nesse tempo,
goria Mídia Impressa, quando atuava
com a qual nasceu, mas a falta das vias
Rafael usava transporte público para
rba | revista brasileira de administração
se deslocar entre sua casa, o trabalho e a faculdade. E, se para um cidadão sem algum tipo de deficiência já não era uma jornada fácil, para o jornalista a rotina ficava ainda mais árdua. Há sete anos, um dos maiores obstáculos encarados pela sociedade para realizar a inclusão esbarrava, justamente, na questão da mobilidade urbana. Pela falta de calçadas apropriadas, pelo transporte público não adaptado e prédios sem estrutura de acessibilidade, incluir a pessoa com deficiência era uma tarefa tida como difícil para as empresas e instituições. Isso porque se o governo não oferecia sair de casa e chegar até o trabalho em tempo hábil, como contar com esse funcionário da mesma maneira como se contaria com os outros? Como incluir, se desde a saída de casa a pessoa com deficiência passa por um processo de exclusão?
Fotos: Arquivo pessoal / Shutterstock
os meios necessários para uma pessoa
JULHO/AGOSTO – 2013
Acessibilidade
Para Mirella Prosdócimo, titular da Secretaria Especial do Direito da Pessoa com Deficiência de Curitiba, a mobilidade é o primeiro ponto a ser levado em consideração na hora de promover a inclusão da pessoa com deficiência na sociedade, pois, se esse cidadão não tem os recursos necessários para se locomover de um lugar para outro, já não poderá exercer um dos seus primeiros direitos: o de ir e vir. “A mobilidade é uma questão primordial da pessoa com deficiência. Sem ela não dá para realizar todas as demais atividades”, disse. Mirella sabe disso, pois ela mesma faz uso da cadeira de rodas para se locomover. Com um discurso recheado de conhecimento, ela, atualmente, trabalha no governo pensando em “promover os direitos da pessoa com deficiência, tendo em vista seu protagonismo e autodefensoria, por meio de parcerias com os demais órgãos e com a sociedade civil organizada”, descreveu no site da prefeitura da capital paranaense.
60
Um dos participantes dos programas de inclusão da UNILEHU em foto tirada em uma das ruas mais movimentadas de Curitiba, a XV de Novembro
com a mobilidade e a inclusão, outras instituições recebem apoio de Mirella nesse mesmo sentido. Uma delas é a Universidade Livre para a Eficiência Humana (UNILEHU), que desde 2005 trabalha com a inclusão da pessoa com deficiência e da diversidade no mercado de trabalho. Nascida como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), a UNILEHU esteve envolvida no projeto do HSBC, pelo qual Rafael pôde ter acesso ao mercado de trabalho naquela opor-
Apesar de a secretária trabalhar mui-
tunidade. Daquele tempo em diante, a
to com a capacitação e conscienti-
instituição cresceu e hoje, mesmo com
zação dos funcionários dos órgãos
sede em Curitiba, desenvolve projetos
públicos envolvidos de alguma forma
para todo o Brasil.
rba | revista brasileira de administração
Temos visto maior preocupação para que as pessoas usuárias de cadeiras de rodas tenham acesso aos lugares. Mas ainda achamos que é algo muito forçado e incipiente” andréa koppe
Fotos: UNILEHU
Alunos da ONG tiram foto em frente à sede do HSBC, empresa na qual pretendem ser contratados
Andréa Koppe, desde o nascimento no comando da organização, enxerga os avanços sociais em direção à melhoria da mobilidade urbana e privada rumo à inclusão de todos no caminho para promover uma sociedade mais igualitária. Ao mesmo tempo, ela fala dos entraves ainda enfrentados por
Grupo de esportistas participa de evento realizado na capital paranaense
pessoas usuárias de cadeiras de rodas
vários casos em que as pessoas têm
tenham acesso aos lugares. Mas ain-
um emprego, mas, por causa des-
da achamos que é algo muito forçado
se elevador, não conseguem chegar
e incipiente. Os tubos de ônibus de
[ao trabalho], ou precisam fazer ca-
foi uma espontaneidade, mas penso
Curitiba, por exemplo, em sua maio-
minhos alternativos”, reconheceu a
que a legislação existente acabou por
ria, precisam de manutenção. Em vez
presidente da OSCIP. Além disso, ela
promover maior acesso e autonomia
de ter uma rampa, que nunca precisa
ressalta os problemas com as calça-
para pessoas com deficiência. Temos
de manutenção, têm um elevador que
das e a baixa porcentagem de ônibus
visto maior preocupação para que as
depende desse cuidado. Sabemos de
adaptados na cidade.
esses cidadãos nos setores público e privado. “Teve avanços mesmo, principalmente uma preocupação voltada pela legislação, o que é uma pena. Não
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
61
Acessibilidade
Rafael tem uma opinião parecida com a de Andréa e, apesar de hoje possuir um carro, lembra-se de situações vividas quando usava o transporte público curitibano. Entre essas várias ocasiões, ele fala sobre os problemas enfrentados em relação à acessibilidade atitudinal: quando não está em questão a arquitetura, mas a atitude das pessoas. “Um exemplo emblemático é num ônibus. Se o elevador está quebrado e você tem cobradores e motoristas com boa vontade e te ajudam a subir a escada, não se está resolvendo o problema, mas acaba fazendo aquele momento ser ‘menos pior’, não melhor, para a pessoa com deficiência. Na época em que eu andava de ônibus, essa atitude era muito rara. Os próprios passageiros não gostavam quando eu embarcava no veículo, pois demorava mais para entrar. E aí o motorista também não gostava, pois ele ficava mais tempo parado. Era um clima hostil em relação à minha presença ali ”, contou.
62
rba | revista brasileira de administração
Time de basquete participa de campeonato com apoio da UNILEHU
Acessibilidade pelo Brasil Na outra ponta do Brasil, a situação não parece ser muito diferente. A Administradora Maria Lúcia de Lucena, mentora do site Deficiente Legal, vive em Roraima e afirma haver frotas de ônibus adaptados na cidade, mas muitas vezes esses veículos estão quebrados. Além disso, os táxis também não são adaptados.
parte das pessoas com deficiência
ela entende que enquanto esses cida-
em atuação no mercado de trabalho
dãos não passarem a se inserir com
está empregada em órgãos governa-
mais vontade nos meios sociais, não
mentais. Mesmo com a exigência do
haverá grandes mudanças na cidade,
cumprimento de contratar as pessoas
pois “enquanto não tiver alguém para
portadoras de deficiência (PDCs), os
utilizar, por que eles vão melhorar?”,
prédios do governo também não estão
pergunta a Administradora. Para ela,
completamente adaptados para rece-
precisa existir o desejo da pessoa com
ber esses profissionais, da mesma for-
deficiência em conquistar cada vez
ma que as empresas.
mais o seu espaço.
Embora coloque em pauta esses as-
Saiba mais acessando:
pectos, Maria Lúcia enxerga o outro
Super Normais:
Outro ponto relevante para a Admi-
lado. A inclusão da pessoa com defici-
nistradora é a acessibilidade em es-
ência ainda não é tão familiar à popu-
tabelecimentos públicos e privados.
lação local. Aos poucos, a conscienti-
Deficiente Legal:
Roraima é um estado muito novo e
zação acontece por meio de iniciativas
www.deficientelegal.com.br
com poucas empresas de grande por-
como a dela, em divulgar informações
UNILEHU:
te estabelecidas por lá. Por isso, boa
a respeito do tema no site. No entanto,
www.unilehu.org.br
www.facebook.com/supernormais
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
63
oportunidade de NEGÓCIO POR_Raquel Bocato
Entretenimento se beneficia com Copa Evento esportivo abre espaço para produtoras culturais, empresas de eventos e ações de varejistas em espaços públicos
“T
odos os espaços podem
todas as manifestações artísticas, diz
se tornar lugares de
ela. “A economia criativa, de modo ge-
manifestação cultural.”
ral, tende a se beneficiar com o evento.”
Para a empresária Mariana Bergel, proprietária da Boia Fria Produções, produtora cultural que atua nas áreas musical e editorial, agora é a hora de estruturar planos para fazer da Copa
64
rba | revista brasileira de administração
Bergel planeja a elaboração de projetos para dar vida à cultura brasileira durante o evento esportivo, que acontece de 12 de junho a 13 de julho do ano que vem no Brasil. “Estou desen-
do Mundo no Brasil um grande pal-
volvendo um festival conceitual, que
co de manifestações artísticas. Não
integre diferentes tipos de arte”, conta
se trata apenas de shows e concertos
ela, que trabalha com artistas como o
de todos os gêneros musicais, mas de
rapper Dexter, Ed Motta, Azymuth e
Elza Soares. Para isso, deve recorrer ao mecenato, “que é o que tem funcionado no cenário cultural brasileiro”. Há diversas formas de viabilizar financeiramente essas iniciativas –
Não se trata apenas de shows e concertos de todos os gêneros musicais, mas de todas as manifestações artísticas. A economia criativa, de modo geral, tende a se beneficiar com o evento”
uma delas, por lei de incentivo. Para isso, elaborar o projeto, conceituá-lo e orçá-lo devem estar no topo da lista de prioridades dos empreendedores. Já há alguns aprovados pelo Ministério da Cultura, como “Uma Viagem Cultural pelos Países da Copa” e “Caravana da Copa”. O primeiro deve reunir manifestações culturais de 32 países que participarão do torneio no Brasil e está autorizado a captar R$ 3,35 milhões. O segundo poderá ter até R$ 2,56 milhões e visa preservar o patrimônio cultural brasileiro e promover a memória do futebol. Representantes da iniciativa privada poderão abater o total ou parte do valor desembolsado no Imposto de Renda,
rios que têm lojas em shoppings para
voca impacto na receita. O mês dos na-
atrair público.
morados dá novo fôlego aos empresários. Daí a necessidade de investir para
como estabelecido pela Lei Rouanet
“Administradores e lojistas já estão
(Lei nº 8.313/1991). As empresas que
fazendo brainstorming para definir
patrocinam essas manifestações po-
que estratégias adotar nesse período”,
A lista do que pode ser feito é extensa.
dem ter uma redução de até 4% do im-
destaca Marcelo Shioda, diretor da
Começa com parcerias com grandes
posto devido, o que tem atraído um nú-
ABLSAN – Planejamento e Comercia-
empresas para oferecer lazer aos fun-
mero cada vez maior de investidores.
lização de Shopping Centers. Aliado
cionários. Passa pela reunião de lojis-
Os shoppings centers também se preparam para encantar turistas brasileiros e estrangeiros nesse período. A ideia é lotar esses centros de compras, que se transformaram em polos de lazer e em centros de convivência, até
aos quatro “Ps” do marketing – praça, preço, produto e promoção –, esses players tentam emplacar um quinto elemento: a paixão do brasileiro e do turista que vem ao país nesse período pelo futebol.
maximizar o retorno durante o evento.
tas para interagir com shows, apresentações e brincadeiras nos dias de partida. Termina com estratégias de merchandising direcionado, que incluam alguma opção de lazer. E não é apenas a Administradora que deve li-
mesmo durante as partidas, com a exi-
Tradicionalmente,
Shioda,
derar esse processo. Os lojistas podem
bição de jogos nos cinemas. O sistema
os lojistas têm redução de fluxo de
oferecer ideias e sugestões para captar
digital para a projeção de filmes pode
pessoas nos horários de transmissão
público e estimular a venda de seus
ser um grande aliado dos empresá-
de jogos da Copa do Mundo, o que pro-
produtos e serviços.
explica
JULHO/AGOSTO – 2013 | nº 95
65
Fotos: Shutterstock
Oportunidade de Negócio
Governo oferece cursos de capacitação O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) oferece cursos ligados à cultura para capacitar profissionais para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Coordenado pelo Ministério da Educação, em parceria com a Secretaria de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, contam com aulas
Até quem ainda não está de portas abertas pensa em possibilidades de atrair público no período do torneio esportivo. É o caso de André Pinto Dias, sócio da Demark Administração de Shopping Centers, que deve inaugurar o Shopping Porto Miller Boulevar em Porto Feliz (a 110 quilômetros da capital paulista) em outubro deste ano. Boa parte das 90 lojas do empreendimento é focada em entretenimento e vai de cinemas a parque de diversões e boliche. “É um período muito curto e precisamos tirar o maior pro-
para a formação de agentes culturais, cantores populares e editores de animação, entre outros. O objetivo é que sejam ofertadas 30 mil vagas até o fim de 2013 e 22 mil em 2014. Os cursos são voltados a públicos como estudantes de Ensino Médio e Educação para Jovens e Adultos (EJA), trabalhadores rurais, desempregados, indígenas e pessoas com deficiência.
veito dele”, explica. Festival é uma possibilidade, especialmente se a cidade for escolhida como centro de treinamento de algum time, “o que pode acontecer, já que a cidade tem um que é considerado um dos melhores do país”, segundo Dias.
pings e organizar-se para ter balcões de informação com ca-
No caso de uma seleção estrangeira, cogita ele, é possível
pacidade para atender em mais de um idioma.
oferecer algo ligado ao país dos atletas. O idioma não seria uma barreira, uma vez que a maioria deles vem em excursão com intérprete, segundo Dias.
66
Quanto isso custaria a esses centros? A maioria absoluta desses estabelecimentos conta com um fundo de promoção, pago mensalmente pelo shopping e pelos lojistas, para ações
Se as estratégias de entretenimento ainda estão em defini-
de divulgação. A verba pode ser utilizada para viabilizar
ção, há ações que já podem ser colocadas em prática, consi-
essas ações. “No caso de parceria com empresas, o investi-
dera Shioda. Está na hora de adaptar a sinalização dos shop-
mento pode ser compartilhado”, explica Shioda.
rba | revista brasileira de administração