EMOÇÃO É DAR MAIS À FAMÍLIA Com um carro assim e o fim-de-semana à porta, só apetece viajar. No novo Seat Alhambra o espaço é totalmente versátil. Cabem as crianças, o cão, as malas e, desta vez, ainda levamos tudo para a festa da Maria. A família, encantada. Tecnologia da mais avançada, segurança garantida, portas de correr eléctricas e tecto de abrir panorâmico! Eu, feliz. Um motor potente, económico e com emissões de carbono reduzidas! Um automóvel surpreendente.
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S3 FORNO BIG CAPACITY Em cada cozinha projectada com a nova colecção de electrodomésticos S 3, o requinte do design e as performances profissionais encontram o talento e o prazer de quem os utiliza. O forno S3 big capacity da Scholtès, com mais 20% de espaço, oferece as performances de três fornos num espaço standard. As suas 57 funções de cozedura asseguram sempre o máximo resultado e graças ao separador termo isolante mais receitas podem ser preparadas em simultâneo, utilizando ao mesmo tempo duas temperaturas diferentes. Scholtès S 3 é uma colecção completa e coordenada: a máxima expressão do prazer de cozinhar.
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editorial :: blue design
Design Delicatessen UM DOS PRATOS FORTES DESTE NÚMERO é o trabalho da dupla de designers holandesa Scholten & Baijings. Os seus vegetais carnudos em matéria têxtil, de cores sedutoras e encanto táctil, que não hesitámos em chamar para a capa, são o verdadeiro food for thought. Porque nos atraem, e ao mesmo tempo nos fintam os sentidos, são um maravilhoso trompe l'oeil desenhado para alegrar os olhos e activar o cérebro. São um jogo de aparências, um exemplo de “design delicatessen” projectado com minúcia, onde o realismo é levado ao absurdo e se revela (ou desmorona) nas bainhas cosidas com linha branca das alcachofras de pano. Partindo destes vegetais, é fácil fazer-se a ponte para outros realismos levados para a mesa, dos quais as lustrosas couves de Bordallo são porventura o exemplo mais próximo e querido. Também elas, embora fossem símbolo de uma certa rudeza (a “rudeza” do povo levada para as mesas burguesas) eram, à sua maneira, delicadas. A delicadeza, nas suas diferentes formas e intensidades, permeia grande parte dos projectos e objectos que reunimos neste número. Ela está na simplicidade de um prato de cerâmica, desenhado pelos irmãos Bouroullec para a Alessi, mas também no rigor e na subtileza que Miguel Vieira Baptista, o nosso convidado de honra deste número, imprime a cada um dos seus projectos. Despojada, despida de tudo o que é supérfluo, verdadeira, a delicadeza volta a aparecer, como sensibilidade, atitude e ambição, nos projectos do arquitecto britânico John Pawson, o pai do minimalismo contemporâneo, a quem o Design Museum de Londres dedica uma restrospectiva que visitamos nas nossas páginas. A mesma verdade, a busca daquilo que é original porque remete, antes de tudo, para as origens, emerge do projecto de Manuel Aires Mateus na Lagoa das Furnas, uma intervenção tão subtil que os volumes arquitectónicos surgem como uma segunda natureza num lugar inacreditavelmente poderoso. Comestíveis ou não, as delicatessen de hoje tendem a ser mais rigorosas e despojadas que outrora.
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E, também, estranhamente, mais autênticas. É por isso que estão aqui.
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MADALENA GALAMBA mgalamba@blue.com.pt
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DESIGN
SUMÁRIO
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W W W. B LU E . C O M . P T
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11 B R A N D N E W D E S I G N As últimas novidades das primeiras marcas.
22 P E R F I L Benjamin Hubert e Felipe Oliveira Baptista brilham com luz própria.
26 D E S I G N I N T R O : S C H O L T E N & BAIJINGS A inspiração da dupla do momento.
32 SPECIAL GUEST: MIGUEL VIEIRA BAPTISTA Entrevista ao (in)disciplinado MVB, entre o rigor e a provocação.
48 F O C O : D E S I G N P A R A C R I A N Ç A S Eles também querem. E nós mostramos que é de pequenino que se torce o pepino.
58 PROJECTO DESIGN: FORMAFANTASMA A criatividade é o pão nosso de cada dia no projecto Autarchy.
62 P R O J E C T O D E S I G N : M A K E I T R E A L A Interforma faz a ponte entre e o talento e a indústria.
64 FOCO: ESPAÇOS DE BANHO Propostas para mergulhar no sonho.
72 DESIGN GURU: GIULIO IACCHETTI Mostra porque tem tudo para relançar o stile italiano.
Espaços privados e públicos que brilham.
76 PROJECTO: TRIENAL DE ARQUITECTURA O maior evento do género na Península Ibérica.
IDEIAS
17 B R A N D N E W A R Q U I T E C T U R A
106 B L O G G E R O Alfaiate Lisboeta é bem mais do que street style.
108 C U L T O : M Ú S I C A A música alternativa já não é o que era (e ainda bem!)
78 P R O J E C T O : C E N T R O D E
114 S N E A K P R E V I E W
INTERPRETAÇÃO DAS FURNAS
Levantamos o véu e descobrimos o design mais fresco.
O projecto de Aires Mateus revela a segunda natureza da
Entrevista com o arquitecto britânico a propósito da retrospectiva no Design Museum de Londres.
94 S P O T : P E N S Ã O F A V O R I T A Romântica e cool, é a cara da nova movida do Porto.
A arte que vem.
111 L I V R O S Para folhear o design.
112 M O R A D A S Procure e encontre.
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110 E X P O S I Ç Õ E S
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Lagoa.
GUIA
ARQUITECTURA & INTERIORES
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BD-FICHA TÉCNICA 2010:BD-FICHA TÉCNICA 2010 10/15/10 12:56 PM Page 10
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BLUE MEDIA Rua Vera Lagoa, n º 12, 1649 - 012 Lisboa, Tel.: 217 203 340 | Fax geral: 217 203 349 | Contribuinte nº 508 420 237 DIRECTOR GERAL Paulo Ferreira | DIRECTORA Madalena Galamba, mgalamba@blue.com.pt DIRECTOR DE ARTE E PROJECTO GRÁFICO BLUE DESIGN Pedro Antunes, pantunes@blue.com.pt | COLABORAM NESTA EDICAO Ricardo Polónio (Fotógrafo) | Susana Alcântara (Arte) DIRECTOR COMERCIAL Paulo Ferreira, pferreira@blue.com.pt | DEPARTAMENTO DE MARKETING & PUBLICIDADE Maria Reis, mreis@blue.com.pt; Fax publicidade: 217 203 349 PRE-IMPRESSAO Nuno Barbosa, nbarbosa@blue.com.pt | DISTRIBUICAO Logista | IMPRESSÃO União Europeia DEPÓSITO LEGAL 257664/07; Registado no E.R.C. 125205 | PROPRIEDADE: MBC Lazer, S.A. { INTERDITA A REPRODUÇÃO DE TEXTOS E IMAGENS POR QUAISQUER MEIOS }
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CANECAS, DE VARIOS AUTORES PARA A DOMESTIC
Tea for Two CONHECÍAMOS A DOMESTIC DOS WALLSTICKERS, de vinil, dos espelhos mágicos e de outros objectos de consumo para casas modernas. Agora os franceses mergulham ainda mais no quotidiano com esta colecção de canecas, primorosamente ilustradas por talentosos e irreverentes designers da actualidade (como os Timorous Beasties). São objectos siameses, para comprar aos pares, combinar e separar, tendo como certeza que também a solo valem por si.
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TAPETES JAPAN COLLECTION, DE ENRIQUE EGUINO PARA A INTERFORMA
Japan on the floor É UMA CRÓNICA DE UM PAÍS, onde a modernidade, a cultura milenar e as tradições se cruzam e convivem alegremente, esta Japan Collection, composta de dez tapetes tecidos manualmente e em pura lã. Original, versátil e colorida, apresenta-se com diversas formas, tamanhos, cores e texturas, inspirados nas metrópoles e paisagens nipónicas. Em cada tapete há uma história, contada por Enrique Eguino, o designer espanhol que vive na segunda maior ilha japonesa, essa província tão interessante e bela, que é Hokkaido. Locais como a Cascata Nikki no rio Daiya, o palácio de Kyoto, a porta xintoísta Tori e o arranha-céus Udal, em Tokyo, ou mesmo o tradicional Kimono e a típica figura feminina da gueixa, foram inspirações para os estampados desta colecção, escolhidos por Eguino, o designer que além de residente, junta a si um espírito de viajante atento e apaixonado pela cultura e pela essência do Japão. Disponível em exclusivo nas lojas Interforma de todo o país.
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OVALE, DE RONAN & ERWAN BOUROULLEC, PARA A ALESSI
Expressiva “TENTÁMOS QUE FOSSE ORIGINAL, MAS TAMBÉM RÚSTICA E TRADICIONAL”. É assim que os irmãos Ronan e Erwan Bouroullec descrevem a colecção Ovale, um serviço de mesa completo que marca a entrada dos designers bretões no catálogo da italiana Alessi. O desejo de simplicidade é evidente e a expressividade das várias composições possíveis nasce do cruzamento entre a modularidade e a delicadeza formal. Os Bouroullec mais uma vez inspiram-se no quotidiano, nos gestos de todos os dias, para criar objectos invulgares, onde o rigor e a contenção, longe de limitar, representam uma infinita
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abertura de possibilidades. www.bouroullec.com, www.alessi.com
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design :: brand new
CAMA COL-LETTO, DE NUSA JELENEC PARA A LAGO
Aninhada COMO UM NINHO. OU UMA CAMISOLA DE GOLA ALTA. A cama ColLetto, desenhada por Nusa Jelenec para a Lago é visualmente confortável, mas não só. O nome, “Col”, remete para a palavra gola, que numa camisola de lã, sobe e desce para nos proteger do frio. Um anel de espuma macia à volta do colchão enrola-se ou desenrola-se e forma uma barreira visual, táctil e sonora, criando diferentes níveis de protecção e intimidade. Distinguida com vários prémios, a Col-Letto tem um perfil invernal. Mas no Verão, a gola pode ser retirada facilmente. Prende-se com velcro.
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SECRETÁRIA REWRITE, DE GAMFRATESI
Tempo ao Tempo O DESIGN DA DINAMARQUESA STINE GAM e do italiano Enrico Fratesi é o retrato de um casamento feliz. Porque eles são um casal na “vida real”, porque trabalham juntos, e porque os seus projectos são um misto de simplicidade escandinava e ironia à italiana. Bruno Munari é uma referência óbvia que não escondem, mas a dupla encontra inspiração noutros lugares, como o quadro de Vilelm Hanmershoi, representando uma mulher à espera, a imagem na origem da serena secretária Rewrite. À espera de ser produzida (os GamFratesi têm peças editadas pela Swedese e pela Casamania, por exemplo) este espaço de trabalho é um casulo contemporâneo, um ninho para se criar, e uma reflexão despojada sobre o conceito de tempo.
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www.gamfratesi.com
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LOJA MUJI, EM LISBOA
Essencial É INCRÍVEL COMO BASTA PRONUNCIAR A PALAVRA “MUJI”, para que as antenas dos design buffs de todo o mundo se arrebitarem automaticamente. A “marca sem marca” vinda do Japão, conhecida pelo seu design simples, funcional e a preços justos, instala-se num espaço de 300 m2 na Rua do Carmo, onde teremos direito a tudo: objectos para a casa, utensílios de cozinha, cadernos, canetas e lápis, acessórios, roupa, produtos de beleza e, sim, mobiliário (embora quase todo por catálogo). É o mundo Muji em todo o seu esplendor, num espaço onde o produto (e não toda a parafernália que se lhe acrescenta) é o protagonista. O minimalismo à japonesa nunca foi tão bom.
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www.muji.com
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AGI OPEN 2010, PORTO
Design na Casa da Música TODOS OS ANOS A ALLIANCE GRAPHIQUE INTERNATIONALE, se reúne para partilhar ideias, sendo uma das iniciativas mais importantes do design de comunicaçãoque junta prestigiados profissionais da área. Este ano o encontro é no Porto e a organização ficou a cargo de dois membros da Aliança, com atelier na cidade Invicta, os R2 Design. O AIG Open 2010 ocorre na Casa da Música a 11 e 12 de Outubro, dias em que se leva a cabo um ciclo de conferências e de workshops abertos ao público. Presentes estarão Abbott Miller, Ahn Sang-Soo, Bruno Monguzzi, Cyan, Étienne Mineur, Javier Mariscal, Marian Bantjes, Michael Bierut, Niklaus Troxler, Paula Scher, Peter Knapp, Pierre Bernard, Sara Fanelli e Stefan Sagmeister, convidados que prometem dinamizar o debate e a reflexão sobre processos criativos no design e abrilhantar a troca de ideias entre conferencistas, membros da AGI e público em geral. Dirigido a estudantes de design e a profissionais, o encontro é subordinado ao tema “Process is the Project”, o que traduz
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a oportunidade para conhecer os designers que têm marcado a cultura visual internacional nas últimas décadas e de saber mais sobre
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a aventura que é criar, em áreas tão diversas como o design gráfico, as novas tecnologias, a direcção artística, a fotografia, a ilustração e a fotografia ou o cinema de animação. A reforçar o tema, o AGI Open 2010 prolonga-se numa exposição que revela projectos de alguns dos designers membros da Alliance, onde cada um mostra graficamente o seu processo de trabalho, mapeando influências e referências. Intitulada “Mapping de Process”, está patente de 14 de Outubro a 10 de Novembro, no Palacete Pinto Leite, à Rua da Maternidade, 3, no Porto. Mais detalhes em www.agiopen2010.com.
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DR, DE CLAUDIO BELLINI PARA A FREZZA
Sólida UMA SECRETÁRIA DE LINHAS SÓBRIAS, e cheia de estilo para o escritório ou para casa, que pode ser uma requintada mesa de reuniões ou uma bonita mesa de refeições, como sugere Cláudio Bellini, que desenhou para a Frezza (www.casamania.it) esta DR, uma peça que se adapta a ambientes diferentes porque se veste para cada ocasião, ao gosto do seu freguês. Às linhas expressivas e dinâmicas, cheias de personalidade e leveza, juntam-se materiais requintados e composições variáveis e, da clássica versão totalmente de madeira, neste caso, a nogueira e o seu colorido único e predicados de qualidade e durabilidade, às versões que misturam tampos de vidro e vernizes coloridos, a DR alimenta todos os desejos de quem procura uma mesa que ultrapasse os preceitos habituais do design industrial para as linhas de mobiliário executivo. A secretária de Bellini pode adquirir-se com o sentido de ser uma peça para a vida que junta o bom design a matéria prima da melhor, natural e ecologicamente sustentável, e a versatilidade que a forma de viver dos dias que correm gosta e impõe. Em Portugal, a DR está disponível através da Fluxograma, a empresa portuguesa especializada em mobiliário de escritório, representante de prestigiadas marcas do sector. Tanta tecnologia seria em vão. Mas assim, agradece-se. www.fluxograma.com
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LIVING ARCHITECTURE
Novos Dias, Noites Claras JUNTAR OITO AMIGOS, MARCAR VOO PARA LONDRES, e ir viver uma experiência em louvor da arquitectura é a proposta da empresa inglesa Living Architecture que, sob a tutela de Alain de Botton, nos reserva uma mão cheia de casas projectadas pela livre inspiração de arquitectos contemporâneos, de várias nacionalidades. Alain de Botton, autor do livro The Architecture of Happiness (alaindebotton.com), é o mentor da ideia que oferece ao mundo a deliciosa oportunidade de ver e de sentir novas e diferentes sensações através da arquitectura e do design futurista. Espalhadas por lugares serenos, bonitos e poéticos do Reino Unido, as casas da Living Architecture alugam-se pelo tempo que se quiser, a preços de amigo. Cinco casas em estreia absoluta, cinco novas abordagens arquitectónicas para viver com os cinco sentidos. A partir de 22 de Outubro ficam disponíveis a surpreendente The Balancing Barn e a romântica The Shingle House, a primeira em Suffolk, e a segunda na praia de Dungeness, rente a Romney Marsh. As restantes abrem nos meses vindouros, uma já em Dezembro, outra durante o Inverno de 2011 e a última nos alvores da Primavera. Espreite o site, conheça as casas e a sua história, planeie a sua estadia.
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www.living-architecture.co.uk
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BIENAL DE ARQUITECTURA DE VENEZA, VÁRIOS AUTORES
Portuguesas em Veneza, com certeza A BIENAL DE VENEZA, 12ª EXPOSICAO INTERNACIONAL DE ARQUITECTURA, decorre até 21 de Novembro, sob o tema People Meet in Architecture, e no Pavilhão de Portugal mostra-se um projecto que pretende revelar a arquitectura contemporânea portuguesa e a sua relação com a história e cultura nacional. Chama-se “No Place Like –4 houses, 4 films”, envolve quatro reputados arquitectos e quatro artistas plásticos, e trata-se de um trabalho produzido pela Direcção-Geral das Artes do Ministério da Cultura, em colaboração com a Trienal de Arquitectura de Lisboa, comissariado por Rita Palma, Júlia Albani, Delfim Sardo e José Mateus. Através de quatro casas da autoria dos arquitectos Manuel e Francisco Aires Mateus, Ricardo Bak Gordon, João Luís Carrilho da Graça e Álvaro Siza, e de filmes ficcionais assinados por Filipa César, João Onofre, João Salaviza e Julião Sarmento, numa abordagem sobre a relação das casas com os contextos em que se inserem, viajamos até ao Bairro da Bouça, no Porto, para apreciar o traço de Siza Vieira; a Campo de Ourique, em Lisboa, onde Bak Gordon projectou uma habitação; à pacata Comporta para ver a inspiração conjunta da dupla Aires Mateus; e aos arredores da bela Évora, onde se abrem as portas da Casa Candeias, de Carrilho da Graça. Um bairro na cidade, atracado como um barco, uma casa na praia com o chão de areia, outra camuflada num bairro da cidade e uma que olha para a planície. Como as mostrar? Este foi o mote de apresentação da exposição à imprensa, que esperamos inspire e leve ainda mais visitantes ao Pavilhão de Portugal na Bienal de Arquitectura de Veneza, localizado na Universidade Ca’Foscari, em Veneza.
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Saiba mais em www.dgartes.pt/veneza2010/index.htm
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design :: perfil
Benjamin Hubert
MATÉRIA SÉRIA Benjamin Hubert é a nova coqueluche do Brit design. Parte do quotidiano, reformula arquétipos e o seu design é simples e táctil. A matéria está no núcleo dos seus projectos, em edição limitada ou destinados à produção em série. TEXTO MADALENA GALAMBA
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MAIS DO QUE UMA “estrela em ascensão”, Benjamin Hubert (1984) é um foguetão a rasgar os céus do planeta design. Escolhido pelas redacções de 25 países da revista Elle Deco como Jovem Designer do Ano, na última edição dos International Design Awards, o benjamim do Brit design lançou, no último ano, uma mão cheia de projectos, que vão do mobiliário à iluminação, passando por objectos de consumo. Em auto-produção ou colaborando com a indústria, da edição limitada à produção em série, são peças tão sólidas e maduras que é difícil acreditar que tenham saído das mãos de um novato. Mas é assim que as coisas funcionam para Hubert, nascido e criado em Inglaterra (estudou design industrial na Loughbourough University), um newcomer com incontinência criativa que acumula prémios dentro e fora do seu país. O projecto Labware, um sistema de iluminação que combina vidro soprado e cortiça (portuguesa), e entretanto produzido pela Authentics, foi eleito produto do ano nos prémios 100% design/Blueprint, em 2009, e é um excelente exemplo do talento de Hubert para explorar as potencialidades da matéria, ensaiando combinações luminosas e tácteis que despertam os sentidos e transportam memórias. O seu design é honesto, simples, funcional, mas também extremamente imaginativo e sedutor. Evoca memórias, reinventa formas e funções, e redistribui tudo com um particular sentido das proporções e da escala.
tornou-se um pouco a “imagem de marca” de Hubert. Noutra série de luminárias, Float, os arquétipos são de novo rebaralhados, e a matéria também: as aparências enganam, e o que parece vidro, é, na realidade, alumínio 100% reciclado (trabalhado com uma técnica que normalmente se aplica à madeira!).
“O PROJECTO LABWARE, PRODUZIDO PELA AUTHENTICS, foi produto do ano, nos prémios 100%
Um talento de peso, leve como o ar. e
design/Blueprint. Combina vidro soprado
www.benjaminhubert.co.uk
e cortiça portuguesa.”
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pareça tão leve como uma folha de papel. Produzido pela Decode,
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Só isso explica que um candeeiro com um abat-jour de betão (numa folha com uma espessura de 4mm, é certo), Heavy Light,
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design :: perfil
Felipe Oliveira Baptista
SORRISOS DE CROCODILO Já não era sem tempo. A Lacoste decidiu enveredar por uma estratégia de rejuvenescimento que pode, finalmente, cortar com a linha actual. E sim, já não era sem tempo que alguém desse a Felipe Oliveira Baptista carta branca para revolucionar. TEXTO NUNO MIGUEL DIAS
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“A NOVA LINHA LACOSTE L!VE e a próxima colecção Primavera/Verão, serão já da responsabilidade do novo director criativo da marca francesa.”
NÃO NOS CABE FAZER UM ENSAIO de como estamos por demais orgulhosos em ter um nome português numa casa tão icónica como a Lacoste. Felipe Oliveira Baptista até poderia ter nascido em Tuvalu (um exemplo como outro qualquer) e falar um dialecto que de Camões só teria a pala sobre o olho (direito ou esquerdo?), mas continuaria a ser notícia. Porque é bom. Ponto. Nem sequer constitui surpresa, pelo menos no ramo, que uma prestigiada marca francesa o contrate para director criativo. Talvez a Lacoste não fosse, de facto, a mais esperada. Mas isso tem a ver com algum imediatismo que comporta a dificuldade em imaginar o arrojo, característica do português, associado ao relativo tradicionalismo que a marca de sportswear representa. É, no entanto, amplamente sabido que a Lacoste, fundada em 1933, deseja rejuvenescer a sua imagem e tal não passará apenas pelas linhas das suas futuras colecções. A entrada do designer português dá-se depois
Disse, das suas colecções em nome próprio, que se inspirava numa
da saída de Christophe Lemaire (que ocupava o cargo desde 2000),
“mistura eclética entre formas, texturas e musculaturas de cavalos,
para a Hermès (de onde sai Jean Paul Gaultier), e basta ler as gordas
o trabalho da escultora belga Berlinda de Bruyckere, tendas de
da imprensa especializada para perceber que depositam no homem
campismo, pintura e fatos de criança holandeses do século XVII,
grandes aspirações de mudança. A próxima colecção Primavera/Verão
a obra do fotógrafo espanhol Ortiz Echagüe, elementos do traje
já será da sua responsabilidade criativa e espera-se mais feminina.
tradicional português (capas e capuchos dos Açores, Ribatejo,
Para além disso, há a nova linha Lacoste L!ve, de lançamento previsto
Beiras e Douro), referências religiosas e o livro ‘Nuits Blanches’,
para 2011, e que também já terá o seu cunho.
de Helmut Newton”. E isto é pouco para quem já assistiu a alguns acidental (foi para Londres a pensar em ser designer gráfico)
aos 18 anos, e licenciou-se pela Universidade de Kingston, em Inglaterra.
e de quem se espera uma volta de 180 graus numa das marcas mais
A partir daí, foi somar. Recebeu, em 2002, das mãos de Karl Lagerfeld,
old school. Mas, atenção, em recentes declarações à “Interview
o primeiro prémio no consagrado Festival de Hyères. No ano seguinte
Magazine”, Felipe Oliveira Baptista foi “adiantando” que é preciso não
(e em 2005), venceu o prémio ANDAM (Association Nationale pour le
esquecer que a Lacoste não é alta-costura mas sim sportswear,
Développement des Arts de La Mode) e, ainda em 2003, cria a sua
com a sua maior fatia de mercado nos E.U.A, pelo que, contudo,
própria marca que, hoje em dia, tem lugar reservado na semana da moda
haverão algumas surpresas.
de Paris. O seu percurso ficou densamente marcado por ter desenhado
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para a Maxmara, Cerruti e para o próprio Christophe Lemaire – que agora “substitui” na Lacoste – e ainda por colaborações com a UniQlo, a Nike e o calendário oficial da Couture.
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desfiles do homem que “caiu” na moda de forma absolutamente Felipe Oliveira Baptista nasceu nos Açores, viveu em Lisboa até
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SCHOLTEN AND BAIJINGS com segredos escondidos. Nem tudo o que parece é no design dos holandeses Scholten & Baijings. E a simplicidade parece simples. TEXTO MADALENA GALAMBA
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Vegetais que não se comem, porcelana de papel, cómodas
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DESIGN DELICATESSEN FOTOS CORTESIA SCHOLTEN & BAIJINGS 27
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intro :: design
”O SEU GRANDE ATRIBUTO É O ESPLENDOROSO E IMAGINATIVO USO DA COR. mesmo quando usada com delicadeza, em pinceladas leves e translúcidas, a cor é sempre estrutural e estruturate em SCHOLTEN & BAIJINGS”
HÁ UM ANO, eram praticamente desconhecidos. Hoje, Carole Baijings e Stefan Scholten, formam uma das duplas mais entusiasmantes do design holandês. Embora de holandês, honestamente, o seu design tenha relativamente pouco. O amor pelos pormenores quase imperceptíveis, a delicadeza minimal, a volumetria origami presente em mais do que um projecto, transporta-nos mais facilmente para a harmonia japonesa do que para a rudeza dos diques holandeses. Mas é um detalhe. O casalinho maravilha de Amesterdão causou sensação em Milão, apresentando um aparador na Established & Sons, uma colecção de mesas de madeira para a marca japonesa Karimoku, e dois projectos, Total Table e Vegetables, em Ventura Lambrate e no Spazio Rossana Orlandi, respectivamente. Para quem acaba de chegar, estar nos sítios mais trendy de Milão, com alguns dos projectos mais comentados e aplaudidos da semana do design, é obra. Só que o estúdio Scholten & Baijings não acaba de chegar. Os dois designers fundaram o atelier em 2000 e, com projectos em autoprodução ou encomendas, têm trabalhado com empresas e instituições, com destaque para os projectos realizados para
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museus holandeses (como o Museu de História
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Nacional, o Museu de História de Amesterdão e o Museu Zuiderzee). O seu grande atributo é o esplendoroso e imaginativo AMSTERDAM ARMOIRE (2010)
uso da cor. Mesmo quando usada com delicadeza,
Inspirado nas antigas cómodas dos
em pinceladas leves e translúcidas, ou traços finos
agricultores holandeses do séc. XVIII, este aparador tem segredos
e subtis, a cor é estrutural e estruturante no trabalho
escondidos e reencena, com ironia,
de Scholten & Baijings. Se a maioria dos designers
a ideia de status symbol.
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Projecto :: design
COLOUR TABLES (2010) Karimoku New Standard. Para a editora japonesa Karimoku, o atelier Scholten & Baijings desenhou estas mesas de apoio em diferentes tamanhos, com motivos e cores diferentes.
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VEGETABLES (2010) Um trompe l'oeil tĂŞxtil em vegetais sugestivos, para comer com os olhos. Os efeitos de cor e as texturas tornam as couves e as alcachofras inacreditavelmente reais.
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intro :: design
”AS MEMÓRIAS E AS NARRATIVAS, TOMADAS NUM MISTO DE LIRISMO E HUMOR, são de novo resgatadas em wooden travel
case, onde se regista a transformação de uma carapaça de tartaruga nuns óculos
em edição limitada). As marcas da fita-cola
ao produto no fim do processo (o acabamento),
usada para fechar as maquetes ficaram visíveis,
para Scholten & Baijings, a cor é um princípio,
mas era esse o objectivo.
e está no princípio.
O projecto Paper Porcelain conta a história
Muitas vezes fluorescente, frequentemente
do seu processo de fabrico, mas a habilidade
em tons pastel, a cor nunca agride, por muita energia
de contadores de histórias de Scholten & Baijings
que liberte. É sempre delicada, como uma película
não termina aqui. Em Amsterdam Armoire, editado
deliciosa que retira opacidade aos objectos
pela Established & Sons, a dupla de designers
e os torna vivos.
inspirou-se nas antigas cómodas de agricultores
É isso que acontece quando visitamos o site.
holandeses do século XVII, que eram pintadas
Propositadamente, sobre o fundo branco,
com ilustrações de objectos remetendo para a posição
as fotografias dos projectos (e são muitos, entre
social dos seus donos. Os designers pegaram
design de produto, design de interiores,
na ideia e tornaram-na contemporânea. No interior
exposições, etc.) surgem todas a preto e branco.
do aparador encontramos fotografias de trabalhos
Um preto e branco com muito pouco contraste,
do atelier, imprimidas a laser. Por fora, Amsterdam
diluído em cinzentos neutros e apagados.
Armoire é um exemplo do virtuosismo de Scholten
Quando clicamos, as fotografias ganham vida.
& Baijings para trabalhar os motivos gráficos e a cor
Acendem-se. Porque de repente, sobre o fundo
em superfícies emocionantes. Aqui como noutros
cinzento-claro, aparecem pontos de cor,
projectos, as grelhas geométricas, os efeitos de luz,
ou linhas de cor, já que grande parte dos projectos
as transparências e a sobreposição de padrões dão
se desenvolvem a volta de motivos gráficos,
forma a um design minimal e lírico, apurado
grelhas, geometrias coloridas. São objectos animados
nos detalhes e de uma simplicidade desarmante.
pela cor, ou pelo jogo entre a neutralidade
As memórias e as narrativas, tomadas num misto
e a afirmação, entre a ausência e a presença.
de lirismo e humor, são de novo resgatadas na série
Mas estas linhas cromáticas são apenas
Wooden Travel Case, onde a superfície de madeira
um dos aspectos do trabalho de Scholten & Baijings,
da caixinha é decorada com “histórias” particulares,
um design tão rico de sentidos e multifacetado
como a transformação da carapaça de uma tartaruga
quanto as chávenas do serviço de mesa para a Total
nuns óculos Wayfarer.
Table. Para este projecto, Carole e Stefan começaram
De facto, nem tudo o que parece é. Se em Wooden
por fazer modelos em cartão, partindo
Travel Case se brinca com a inocência (ou a perda
de um desenho e fazendo dobras no material
dela), em Vegetables, somos presenteados com
para conseguir os volumes. Os modelos ficaram tão
uma selecção de horticultura que se come
perfeitos que os designers decidiram fazer moldes
unicamente com os olhos. Vegetais apetecíveis,
directamente a partir do cartão, para depois fabricar
fresquíssimos e coloridos, que vemos mas
o serviço de porcelana (e não necessariamente
não comemos. e
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acrescenta a cor, como um toque final, que se cola
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wayfarer.”
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design ::
DESENHO PARA A INSTALAÇÃO “A minha cozinha em Amesterdão durante 45 dias”, 2008
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MIGUEL VIEIRA BAPTISTA O (IN)DISCIPLINADO TEXTO MADALENA GALAMBA
HÁ DOIS ANOS, Miguel Vieira Baptista (Lisboa, 1968) foi um dos designers convidados para participar na exposição “Come to My Place”, durante a primeira experiência holandesa da Experimentadesign. E o que levou na mala? Pão alentejano, azeite e vinho. Alguns objectos das indústrias portuguesas (como as facas e os copos). Alguns objectos de design português (como os bancos do seu amigo Fernando Brízio). Alguns objectos desenhados por si (a mesa, a bancada, a caixa). Alguns azulejos Viúva Lamego, que compôs num painel a rasgar. E uma bicicleta. Uma bicicleta em Amesterdão. Portuguesa. A bicicleta é um intruso. Mas continua a estar em casa, porque é uma bicicleta Órbita. Improvável nas colinas de Lisboa,
oportunidade para brincar. O pormenor da bicicleta é como o pormenor do puxador ou o pormenor do candeeiro ou o pormenor da mesa (ou do canto da mesa). Face à atenção minuciosa, dedicada e delicada, que consagra a cada pormenor do seu trabalho, realizamos que não é só Deus, mas o diabo, que está nos detalhes, preparado para nos tirar o tapete, subtilmente, quando menos
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brilhar no topo do bolo. Sem grande alarido. Mas está lá. É mais um pormenor, pequenino, inofensivo mas poderoso. Um sinal de que este senhor, empenhado em mostrar que o design é uma coisa muito séria, no fundo não perde uma
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obrigatória no “plat pays” que é Amesterdão, é a pequena provocação de Miguel Vieira Baptista. Uma cerejinha reluzente a
esperamos. 33
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FOTO RICARDO POLÓNIO
design ::
MIGUEL VIEIRA BAPTISTA Atelier, Alcântara, 2010
Miguel Vieira Baptista explica que para a exposição de Amesterdão escolheu a cozinha, porque é o espaço onde se vê a diferença. O menos standard. O mais específico de cada cultura e de cada lugar. Nesta divisão, encenada e feita para ser vivida (as pessoas eram convidadas a sentarem-se à mesa, a comer e a beber), Miguel Vieira Baptista criou um microcosmo, onde está Lisboa (onde nasceu e cresceu, onde vive e trabalha) e onde estão partes de si. Mas não só. GERAÇÃO “Não sabia que queria fazer design, sabia que queria alterar, transformar as coisas. Havia a vontade de transformar o espaço, essencialmente. E os primeiros sinais aparecem aí.” No quarto, ainda miúdo, Miguel Vieira Baptista ensaia as várias
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combinações possíveis a partir de alguns elementos existentes. Simples. Móveis, escada de beliche, secretárias, prateleiras,
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tudo era movido, literalmente arrastado de um lado para o outro, para transformar o espaço. “Os meus pais saíam e quando voltavam estavam tudo diferente. Houve uma altura em que passei o meu colchão da cama para cima dos dois guarda-fatos, que eram compridos. Os meus irmãos eram mais novos e não conseguiam lá chegar.” Nessa transformação, já se adivinha a procura de diferentes soluções. Respostas a problemas. O design. “Quando entrei para o IADE, ia com a ideia de fazer design de interiores. Mas rapidamente percebi que havia outras coisas que me estavam a apaixonar, que tinham a ver com o design gráfico. Entrei para o IADE em 1987 e nessa altura estavam
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“A MINHA COZINHA EM AMESTERDÃO DURANTE 45 DIAS” (2008) Esta instalação foi montada com uma selecção de objectos quotidianos e produtos que davam ao visitante uma ideia de Lisboa como cidade. A escolha da cozinha foi clara. A cozinha é o lugar que mais varia de cultura para cultura, distinguindo-as.
FOTO LUÍS SILVA CAMPOS
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design :: EXPOSICAO “MVB” Loja da Atalaia, Bairro Alto, 2003
a acontecer imensas coisas. Como a revista 'Face', do Neville Brody. Fiquei completamente doido. Apaixonava-me imenso a ideia de livro, de edição, de revista. Até da sua matéria. Depois, através do design gráfico, comecei a interessar-me gradualmente pelo design de produto.” No regrets, mas ainda assim as coisas são como são, foram como foram: “A minha formação no IADE não foi perfeita. Aquilo que o IADE me deu foi um contexto, que tinha a ver com o facto de eu estar no Chiado, de ter amigos nas Belas Artes, de ir para a Bertrand ver revistas e livros.”. Aquele contexto, naquela altura, acabou por ser determinante. O primeiro “formador” de Miguel Vieira Baptista, que hoje dá aulas na ESAD.CR das Caldas da Rainha, e portanto ele próprio formador das novas gerações de designers. O Chiado no início dos anos 1990 era criativamente explosivo. Assistia-se ao boom da movida criativa Lisboeta. E participava-se nele. O designer menciona a Loja da Atalaia, as Manobras de Maio, a ModaLisboa... De repente, o Chiado ficou pequenino. Miguel Vieira Baptista saiu, foi para Copenhaga, trabalhar num atelier. Fez uma pós-graduação em design de produto na Glasgow School of Art. “Desde criança que tive esse fascínio por sair daqui. Fazia isso com os meus pais. Pertenço a uma geração que teve essa facilidade. Sempre me senti muito bem em sítios mais 'civilizados' do que Portugal. O design sempre me empurrou para fora. Se calhar é a inerência de viveres num sítio como Portugal. Precisas de sair para perceber onde é que estás.” Descobrindo a cultura do objecto em diferentes latitudes, traz os seus troféus. Um livrinho de Jasper Morrison (“Design, Projects and Drawings, 1981-1989”). Uma revista. Depois volta sempre. Nunca pensou em ficar lá fora. Se tivesse pensado teria ficado. PROJECTO “Adoro projectar, isso faz parte da minha vida. E não é só projectar, é montar o projecto, pô-lo a andar.” O rigor e a honestidade, a obsessão com os detalhes, transparece em todas as fases do projecto. Toda a parte técnica, de resolução de problemas, fascina Miguel Vieira Baptista. “Em todas as experiências que fiz ligadas à indústria, por poucas que fossem, reconheci-me imenso nesse contexto. Talvez até por uma questão de formação. Aprendes a pensar assim, que tens um cliente, um brief, que tens determinadas balizas, condicionantes. Sempre foi essa a minha lógica. Mesmo tendo a liberdade total, no contexto de uma galeria, onde não tenho nenhum cliente específico nem nenhum constrangimento de qualquer ordem, eu continuo a fazer design industrial em potência. São peças que poderiam ser industrializadas.” Ele cria as suas próprias balizas. As peças são construídas industrialmente, embora não sejam produzidas em série. Muitas peças que mostrou até hoje no contexto de uma galeria são edições abertas, que deixam espaço para a possibilidade de industrialização. Ele chama-lhe “design de autor em séries pequenas”. A versatilidade de Miguel Vieira Baptista deixa-o à vontade em várias áreas, ao ponto de as distinções entre design de produto e design de espaços deixarem de fazer muito sentido.
escala diferente que não é a da mão, mas a do corpo.” As escalas mudam, mas a atitude mantém-se. A maneira de pensar e encarar o trabalho, racional, contida, rigorosa, coloca-o do lado dos clássicos. “Sou um bocado conservador. Sou um misto de conservador e de provocador, porque uma das coisas que me apaixonou e me fez seguir por esta área, tem a ver com uma certa vontade de provocar. Quando crias, provocas. Quebras com determinadas soluções, quebras com o passado. Eu adoro provocar reacções. Podia ter sido actor ou podia ter tido
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da 'decoração'. Tem muito a ver com cenografia. Está mais próximo do produto, só que tem uma
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“O design de espaços que faço não é arquitectura, nem design de interiores no sentido mais próximo
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EXPOSIÇÃO “DRAWER” Galeria Appleton Square, 2010
FOTO MARCO PIRES
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design ::
uma banda. Queria fazer qualquer coisa que pudesse tocar as pessoas, que lhes pudesse tirar o tapete de alguma forma.” É isso que faz no tapete Figo, um jogo geométrico e cromático com um inesperado buraco, o vazio a irromper pela plenitude. “Por um lado há essa vontade de alterar e provocar, por outro, odeio o ridículo. Não é um ódio visceral. Acho ridículo o ridículo. A provocação disparatada não faz sentido para mim, nunca gostei de palhaços. Gosto de subtileza, do humor que não é da gargalhada boçal, um humor em que se calhar nem te ris, mas ficas a pensar.” Não é um provocador de grandes gestos, provoca baixinho. E talvez por isso as pessoas associem o trabalho de Miguel Vieira Baptista a um certo conservadorismo. “Sempre me senti muito bem nesse universo, e acho que isso tem muito a ver com a minha personalidade. Todas as áreas da criação têm muito a ver com um questionamento de ti próprio. É quase um trabalho de divã. Acho que quanto mais próximo estiver aquilo que tu fazes daquilo que tu és, mais verdadeiro e honesto é o teu projecto. Eu muitas vezes digo isso aos meus alunos. Se são tipos um bocado desorganizados, desarrumados, é bom trabalharem isso, partirem daí, fazer com que os projectos batam certo.” “Desorganizado” e “desarrumado” são adjectivos que dificilmente se colam ao trabalho de Miguel Vieira Baptista. Para ele, a expressividade emerge das coisas mais simples e da capacidade que têm de nos surpreender. Os pormenores, por mais subtis que sejam, estão lá sempre. Obsessivamente. Excesso de Zelo? “No design de espaços às vezes essa obsessão com os detalhes é excessiva, porque as pessoas nem reparam, e aos seus olhos está perfeito. No design de produto é diferente. São objectos que convivem com as pessoas muito mais tempo, muito mais vezes, e por isso é inevitável que mais tarde ou mais cedo repares nos detalhes. Ou por questões de funcionamento, ou por questões de desgaste.” A atenção aos detalhes e a necessidade de controlo para que nada fique solto, leva-nos ao devir dos objectos. Quantos objectos andam por aí à solta para nos darmos mal com eles... “O que procuro num objecto talvez tenha a ver com a função. Para além do funcionalismo, uma qualidade estética, uma beleza, uma calibração das proporções e da forma requintada. Quando começo a projectar, a maioria das vezes o primeiro esquiço do objecto é muito próximo do resultado final. Portanto acabo por trabalhar outras questões de afinação.” O exemplo óbvio é o candeeiro de aço pintado Terrier. A aparência não é muito diferente do esquiço inicial, a forma já lá está. “Depois vou esculpindo, trabalhando a forma, o funcionamento, as questões do detalhe construtivo.” VIAJAR (CULTURA MATERIAL) “Desde cedo que percebi que o design era uma disciplina de exterior, de contacto com o estrangeiro.” Em Londres, Nova Iorque, Paris, Tóquio, fascina-o a cultura material própria de cada lugar. O design é um “alibi”. A desculpa perfeita para sair daqui e beber outras culturas, geralmente, uma “fatia acima”. Sem lamentações. “Sempre me revi muito na cultura anglosaxónica. Se calhar tem muito a
imenso o trabalho do Jasper Morrison nesse sentido, sobretudo o trabalho dos anos 90, que foi para mim sem dúvida uma grande referência. A cultura anglosaxónica marcou-me sobretudo ao nível da formação, da educação. O meu trabalho e a minha maneira de pensar consegue rever-se bem nesse universo. Não é que estivesse sempre a olhar para o trabalho de Jasper Morrison. Nem seria saudável. As pessoas às vezes têm dificuldade em assumir as influências. Mas é uma referência. Nada vem do zero. Acrescentamos sempre uma camada.”
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conservador. Mas depois, por outro lado, há essa contenção formal, que é muito britânica. Revejo
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ver com a liberdade, a possibilidade, o facto de estar tudo em aberto, e nesse sentido não ser
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design ::
“Com o tempo, comecei a perceber que também me
Eu tive de arrumar todos estes conteúdos dentro do espaço
reconhecia na cultura germânica, que tinha muito a ver
limitado.” Parece quase um brinquedo. “Sim, tem esse
com a minha personalidade. Pela estética, pelo rigor, pela
lado de carrinho ”, continua, “Queria que fosse modular e
depuração, pelo lado racional.”
que fosse casual. Que não fosse uma coisa estranha, como
É a adoração por Dieter Rams, que o levará a comissariar
uma nave espacial. Queria que tivesse elementos que
uma exposição sobre o “bom designer” alemão no CCB,
fossem do quotidiano, como o fole de autocarro articulado.
em 2001. O triângulo de inspiração fecha-se com um
Mas a peça tinha de ter um impacto, e tinha de ser uma
último vértice, o Japão. Não é por acaso que Jasper
peça que falasse daquilo que era. A Voyager é um veículo.
Morrison faz uma vénia ao próprio Rams, e se encontra
Super mecânico, bruto, e queria que retivesse esse lado.”.
com Naoto Fukasawa no SuperNormal. Não é por acaso
“Há projectos mais complexos que outros. A Voyager 03 é
que o rigoroso Miguel Vieira Baptista se deixa tocar pela
o projecto. É um sonho. Super completo. E complexo.”
sensibilidade nipónica (e os Toys, que espreitam pelo meio
Mas há outros momentos que destaca da sua colaboração
dos livros, nas estantes do seu atelier). Do Japão, sobretudo
com a EXD. A Voyager 01, um espaço modular que
na arquitectura e no design gráfico, retém o lado funcional
viajava para dentro de um espaço e que se desdobrava em
e minimal, a contenção, mas ao mesmo tempo sente
vários conteúdos, numa lógica de relação com o interior. E
o inevitável distanciamento, porque a cultura japonesa
as exposições que concebeu e produziu, e até o projecto “A
é apesar de tudo mais longínqua, e difícil de descodificar.
minha cozinha em Amesterdão durante 45 dias” (2008).
No fim dos anos 90, com a Protodesign, Miguel Vieira
“Sempre estive envolvido com a EXD. A EXD, como a
Baptista viaja muitas vezes a Frankfurt, para apresentar
Modalisboa, foi um cliente que me permitiu fazer coisas
os projectos na feira de mobiliário. “Aprendi muito nessa
que de outra forma nunca teria feito.” E fazer muitas
altura, foi muito importante para mim e alarguei muito
coisas. Na EXD, o designer reúne as várias vertentes do
a rede de relacionamentos de que te falava.” Foi por essa
seu trabalho (comissariado e design expositivo, design de
altura que se deu o encontro com Hans Maier Achen, na
espaços e de produto).
época, à frente da Authentics. Alguns projectos em protótipo foram editados pela Authentics. “Houve da parte
DESENHAR
dele uma empatia com aquilo que eu estava a projectar.”
“Não sou nada virtuoso do desenho, nem sou muito bom
São projectos como o candeeiro de suspensão Terra (1997)
a desenhar. Mas o desenho é para mim uma ferramenta
que ficaram no catálogo da Authentics. Mais tarde, já
de trabalho fundamental. É uma ferramenta inventiva e de
a partir do atelier MVB, seria a vez de editar o tabuleiro.
fixação de ideias.”
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O desenho à mão funciona com um arquivador de
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VOYAGER (EXD)
memórias, onde, visualmente, vai guardando coisas. Mas
“O camião Voyager 03 é uma caixa, mas é uma caixa que
o desenho tem também uma importante função de
tem que circular dentro das normas rodoviárias, mas por
comunicação. É através do desenho que Miguel Vieira
outro lado tinha de conseguir chegar a uma praça e ter um
Baptista “fala” com os seus colaboradores, no atelier,
enorme impacto em termos urbanos, e para além disso
durante a fase de projecto, mas também nas oficinas, com
tudo tinha de ter conteúdos. É um contentor que se
os construtores e as pessoas envolvidas na produção.
relaciona com o espaço urbano.”
Num perfeccionista, a etapa do desenho técnico
Pela estrada fora, a Voyager 03 era um atrelado em
é naturalmente crucial. Toda a resolução de detalhes,
movimento. Estacionada, transformava-se no pretexto
o rigor, a afinação, passam por aí. “O desenho livre,
e no lugar de uma “viagem imóvel” pelos meandros do
o desenho técnico e as maquetes, que funcionam para
design e não só (espaço de leitura, ecrãs, experiências
mim como desenhos tridimensionais, são os pilares base
sensoriais, maquetes, elementos de design gráficos).
do desenvolvimento da maior parte dos projectos,
“Tinhas de criar ao visitante uma série de momentos
especialmente em design de produto.”
e de objectos dentro desse objecto que fossem sendo
O desenho, à mão, é o ponto de partida do projecto
descobertos e utilizados. Surpresas que o retivessem ali.
Lápis- Drawing Experience (2007), uma exposição
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DESENHOS DE ESTUDO Camião expositivo, “Voyager03”, 2003
DESENHOS DE ESTUDO do camião expositivo “Voyager03”, 2003 Dispositivo modular itinerante desenvolvido para expor vários conteúdos da produção cultural Portuguesa. Entre 2003 e 2005 a Voyager esteve em Barcelona, Paris, Madrid, Lisboa, Estrasburgo, Praga e várias cidades
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FOTOS EXD
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Portuguesas, tendo sido visitada por 65.000 pessoas.
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design ::
EXPOSIÇÃO≠ “DIETER RAMS HAUS” NO CENTRO CULTURAL DE BELÉM, 2001 A ideia era criar um espaço expositivo capaz de conter toda a obra de Rams. Uma simulação de uma casa parecia a solução mais natural, onde o visitante poderia encontrar os objectos no seu contexto habitual, contrariando uma solução
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museológica mais convencional.
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FOTO EXD 2001
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design ::
comissariada por Miguel Vieira Baptista que reunia
alemão, então com quase 70 anos, já estava reformado da
objectos-lápis e desenhos realizados por um painel de 20
Braun. Miguel Vieira Baptista começou a organizar a
designers conceituados. “Apesar de ser um objecto
produção da exposição, recorrendo a vários
completamente minimal, e contido, consegues perceber
coleccionadores privados, mas também ao Vitra Design
através de cada lápis a cabeça e o modus operandi de cada
Museum, e até ao próprio Dieter Rams, que comprou o
um dos designers convidados.” Alfredo Haberli desenhou
sistema de prateleiras da Vitsoe para o mostrar na
um lápis que era uma linha que era uma cadeira (como
exposição de Lisboa.
em Taking the Chair for a Walk) e Martí Guixé um lápis em
“Para além da vontade que tinha de fazer a exposição e de
madeira comestível, fácil de roer. Cada projecto revelava
fazê-la de uma determinada forma, tinha um enorme
não só a sua autoria, mas a importância do desenho
apoio, uma enorme estrutura e logística por trás.” A
manual como ferramenta projectual, no fundo, a
grande questão era como mostrar aquele impressionante
inquietação de Vieira Baptista.
corpo de obra. O lado da museologia e do comissariado
Num projecto recente, Drawer, a exposição que
ligado ao design interessava-lhe muito. Já tinha alguma
apresentou este verão, na galeria Appleton Square, o tema
bagagem no campo do design expositivo, com alguns
ressurge. Drawer é a gaveta onde se guardam os projectos.
trabalhos para o ICEP, por exemplo. “Interessava-me tudo
Drawer é o desenhador que os concebe, fixa e perfecciona
menos mostrar o design de Dieter Rams numa vitrine.”
até à exaustão.
Em vez disso, fez uma casa. “Quando fui à casa de Dieter objectos desenhados por ele. Ele tinha desenhado a casa
“Muito antes de imaginar que alguma vez faria uma
onde vivia, e para além disso, vivia rodeado dos seus
exposição sobre Dieter Rams, fiquei com a caixa da
objectos. Da secretária à aparelhagem de som, aos sofás,
máquina de barbear Braun do meu pai. Adorava aquela
ao picador, à máquina de café. Era tudo Braun ou
bolinha cor de laranja”. A bolinha cor de laranja talvez
Vitsoe...” Miguel Vieira Baptista não ficou perturbado com
tenha sido a primeira imagem, o primeiro sinal. Rams
este regime material quase totalitário. “São objectos dele,
antes de Rams.
são funcionais, porque não? Ele justificava, dizendo que
“Na Alemanha, consegui conhecer ainda melhor o
os testava. Mas eu acho que também passava pelo facto de
trabalho de Dieter Rams. E de outros, como Wagenfeld.
serem tudo primeiras séries, ou protótipos, que lhe
Dieter Rams tinha sido director do Centro Alemão de
chegavam de graça. Why not?”
Design. Um dia, estava na feira de Frankfurt, com um
“A tua cultura material também se faz porque conheces
catálogo de Dieter Rams na mão, e comecei a falar com
outras coisas, porque estás em contacto com outros
um desses amigos do stand do lado, que era do Centro
objectos, outras experiências. Mas é óbvio que qualquer
Alemão de Design. Ele disse-me 'se o Rams te interessa
designer é uma esponja. Qualquer designer onde vai, o
tens de comprar um livro que é fantástico. E ele ainda está
que vê, está a observar.”
vivo!' Eu pensava que o Rams já tinha ido... Se calhar
E numa casa, numa haus, entra-se pela porta. E foi isso
pelas datas dos produtos dele, se calhar pela quantidade
que Miguel Vieira Baptista fez, começando pelo puxador
de coisas que tinha feito. De repente fiz um clique e, em
desenhado por Rams, preso a uma porta gigante, por onde
2000, propus à EXD fazer uma exposição sobre a obra do
se entrava para a exposição. A ideia fixou-a num desenho,
Dieter Rams no CCB. E fui à procura de Dieter Rams.
uma linha que partia do puxador para desenhar o resto da
Consegui os seus contactos e fui a casa dele. Isto era uma
casa. No apartamento reinventado, cada objecto ocupava
altura em que o Dieter Rams ainda nem tinha ressurgido
o lugar que ocuparia naturalmente num contexto
na Wallpaper nem na Icon. Era ainda uma coisa muito
doméstico, e cada objecto, na medida do possível, estava
local, muito alemã. Se bem que os objectos dele
exposto de maneira a ser tocado, mexido, interagindo com
estivessem por todo o lado. A varinha mágica.
os outros objectos e com as pessoas. Uma exposição de
A máquina de café...”
design consumada. Com simulações de janelas, azulejos
Foi a casa de Rams e começou o “namoro”. O designer
em MDF, uma escala doméstica, humanizando o enorme
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DIETER RAMS HAUS
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Rams, tudo fez sentido. A casa dele estava cheia de
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pé-direito do CCB, Vieira Baptista construiu um
não conhecia a casa, nem a forma de trabalhar, nem
apartamento dentro do museu, com atelier, cozinha,
os timings, nem nada. Depois, comecei a perceber
sala e casa de banho.
a dinâmica da ModaLisboa e fiquei mais solto. Mas tive
FOTO MIGUEL ÂNGELO GUERREIRO
sempre carta branca para fazer o que quisesse.” MODALISBOA
Há alguma constante, é um percurso contínuo ou feito de
Em 2001, quando a Voyager 01 passeava pela Europa
rupturas? “Havia sempre a necessidade de fazer rupturas.
e Dieter Rams ocupava o CCB, Miguel Vieira Baptista
O que fica da ModaLisboa, que apesar de tudo é um
é convidado por Mário Matos Ribeiro para fazer o design
evento para um grupo restrito de pessoas, por convite, são
de espaços da ModaLisboa. Os convites a arquitectos
imagens: fotografias e vídeos na televisão. De uma edição
e artistas plásticos para intervirem nos espaços da
para a outra, tem de haver uma alteração qualquer nos
ModaLisboa, eram uma tradição. Faltava um designer.
espaços que são mais registados, para marcar cada
Miguel Vieira Baptista foi contratado para fazer tudo. Todos
momento.” Por isso a procura de espaços extraordinários
os espaços. Das salas de desfile aos bastidores, da sala VIP
para o evento era sempre um dado muito importante. “Há
aos stands dos patrocinadores. E as ligações, muitas vezes
lugares fantásticos em Lisboa que foram descobertos pela
escondidas do público, espécies de “passagens secretas”,
Modalisboa, que sempre teve esse papel dinamizador da
mas funcionais. E produto: sofás gigantes, iluminação,
cidade.” No Armazém 23, fez uma caixa com uma
mobiliário. “Na altura eram 4 mil metros quadrados de
enorme janela, com uma rede quase transparente em vez
projecto. Havia budget. Para mim foram projectos
de vidro, com vista para o rio. No Museu de História
fantásticos.” Entre 2002 e 2007, foram dez edições da
Natural, uma das edições mais memoráveis para o
ModaLisboa. De armazéns portuários ao Convento do
designer, arredou móveis e utilizou o espólio do museu,
Beato. Até Cascais.
como animais embalsamados reunidos numa instalação.
“No início fui mais acompanhado, mais amparado, porque
De qualquer modo, notava-se em todos os projectos uma
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INSTALACÃO DA PEÇA “PORCELANA & CORTIÇA” Exposição “Sótão”, Marz Galeria, 2009
certa contenção. Era preciso criar um espaço
“As galerias são só um contexto que os designers
suficientemente neutro para que os criadores pudessem
encontraram para trabalhar, para fazer projecto. São
intervir, se assim o quisessem. Deixar espaço para que
espaços para apresentar experiências, evoluções
a obra se sobreponha ao espaço, e não o contrário (como
projectuais que muitas vezes ficavam escondidas. Mas
acontece, depois, no projecto de interiores para a galeria
quando as lanças, mesmo no contexto da galeria, essas
Marz). “Para além da pele do projecto, a minha
peças estão resolvidas. Pelo menos no meu caso.”
preocupação era sempre resolver funcionalmente aqueles
São experiências que funcionam. A incursão nas galerias
espaços, e trabalhar articuladamente com todas as
começou com Cristina Guerra, em 2005, com Fernando
equipas.” A máquina da moda era um gigante que o
Brízio.
designer foi capaz de domar. O lado efémero dos projectos
“Há uma diferença entre a exposição que fiz na Marz e a
era aliciante. A oportunidade de ver as coisas feitas, bem
exposição que fiz na Appleton. Na Marz, era um
feitas, mais rapidamente.
bocadinho o revelar de um universo que estava
Na Marz, subimos ao sótão. Na Appleton, abrimos
preparados para irem para a indústria. Muitos contêm em
a gaveta. As duas exposições mais recentes de Vieira
si a hipótese de se converterem num programa.”
Baptista repetem a ideia de projectos guardados, em
São protótipos acabados, prontos para serem produzidos
carteira, à espera de vez. Ou não. Às vezes as maquetes
por qualquer empresa.
preferem não esperar. São levadas ao extremo,
“Na Marz havia quase uma vontade pedagógica de
autonomizam-se, como produto. Outras, assumem-se
mostrar que o design é uma disciplina séria, que dá
como maquetes (como o aparador em cartão), e mesmo
trabalho, que não fala só da forma exterior. No fundo, há
assim estão acabadas.
um trabalho intelectual intenso por trás dos projectos, um
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Appleton, mostro produtos que estão resolvidos e
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escondido, que estava nos bastidores, no atelier. Na GALERIAS
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design ::
pensamento estruturado, e a galeria é um espaço onde
Um desenho técnico em grafite, feito à mão em longas
podes mostrar isso, onde as pessoas estão atentas, têm
horas, com uma minúcia quase doentia, repousa no chão,
mais tempo para pensar, e há quase uma sacralização do
encostado à parede. É ali o seu lugar. Não é uma obra de
objecto. Irrita-me profundamente aquela ideia que se tem
arte, não pode estar pendurado. “Na Appleton era quase
dos designers que é a de que fazem assim 'porque é giro'.
o processo inverso do que apresentei na Marz. Queria
Qualquer criador pensa antes de fazer, há um trabalho
mostrar que estou agarrado a esse lado da indústria que
intenso, de reflexão, de voltar atrás. Às vezes as pessoas
entretanto se perdeu em Portugal, mas que sei e gosto de
acham que é realmente fácil, que é fútil. As artes plásticas
trabalhar.”
há muito que resolveram esse problema.”
Apresentou uma série de objectos em pequenas séries,
Um outro olhar. A aura do espaço galerístico assenta bem
alguns em edição indefinida para deixarem em aberto
a estes objectos. Numa loja, pensamos se funciona, se não
a possibilidade de serem produzidos industrialmente.
funciona, se precisamos ou não daquilo. Ali não. Por isso,
É o caso do candeeiro Terrier ou das caixas Carril.
podemos contemplar demoradamente objectos como 78
Mas em Drawer também há quase esculturas, como
RPM (rotações por minuto). O desenho aqui é uma linha,
os dois cilindros separados à nascença, Gémeos Falsos,
que se enrola à volta de uma base paralelipípeda para
um exercício geométrico tridimensional, que revela o seu
chegar à forma final. A matriz nunca poderia ser cilíndrica.
poder de ilusão num olhar mais atento. E uma mesa de
Uma base com arestas que depois são suavizadas pela lã
apoio cuja leveza da forma contrasta com o seu peso
enrolada. O desenho linha transforma-se em desenho
matérico: 47Kg, inscritos na sua pele, que é também
acumulativo, como no novelo, e os seus padrões
o seu corpo, de cimento.
geométricos. Faltava um torno para fazer girar a base.
“O trabalho de acompanhamento, de interesse, de
Então pensou no gira-discos. E o desenho é marcado pelo
profunda dedicação que encontro por parte das galerias,
tempo. O tempo que cada peça demora a fazer,
é uma coisa que nunca encontrei na indústria.” Com esta
cronometrado, não ao mílimetro, mas ao segundo.
estrutura, porque é que ainda não existe uma galeria
O contexto da galeria impõe-lhe um ritmo, obriga-o a
exclusivamente dedicada ao design em Portugal? Porque
apresentar o seu corpo de trabalho periodicamente. Desde
existe mercado, existem compradores (e a quantidade de
o verão, Miguel Vieira Baptista é oficialmente representado
pontinhos vermelhos nas paredes, no dia da inauguração
pela Marz. É a primeira vez que uma galeria de arte
dá conta disso). Será só porque somos um país pequeno?
portuguesa inclui na sua “lista de artistas” dois designers
“Acho que realmente o problema é do público, porque
(Vieira Baptista e Fernando Brízio). Em 2008, Miguel Vieira
cada exposição é superdivulgada, e até corre bem a
Baptista desenvolveu o projecto de interiores da galeria,
inauguração, mas depois o público não segue.
procurando que o espaço não rivalizasse com as obras que
O desinteresse das pessoas é cultural. As pessoas não se
contém. Talvez a intervenção mais autoral seja o corpo
interessam. Os portugueses, quando estão lá fora, fazem
principal da entrada, encostado à montra, que começa
não sei quantos quilómetros para irem à (extensão do
como arquitectura e se transforma em mobiliário, quase
MoMA) PS1, em Nova Iorque. Vão ao outro lado,
como um “packaging” que se abre, em planos que se
metem-se no comboio, ou estão na fila do MoMA que dá
transformam em mesas, bancos, balcões.
três voltas ao quarteirão. E cá, acham que ir a Alvalade, à
Na Appleton, Miguel Vieira Baptista resolveu empurrar
Marz, é longíssimo!” e
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os objectos para um canto. Não foi inocente. Queria
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guardá-los a um canto, como se guardam as coisas numa gaveta, projectos que um dia ganharão corpo. Queria também mostrar que apesar de estarem numa galeria, estes objectos não são arte. São design. E, por isso, em vez de os deixar espreguiçar a sua aura pela imensidão das paredes, amontoou-os naquela esquina, encenando uma escala doméstica que em certa medida os dessacraliza.
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design ::
SALA DE DESFILES
FOTO DANIEL MALHAO
ModaLisboa, 23ª edição, 2004
DETALHE DA SALA DE DESFILES
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FOTO MLX
ModaLisboa, 23ª edição, 2004
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design :: foco
EU TAMBÉM! Longe de fácil concepção, com a ideia fixa nos verbos brincar e aprender, o design para crianças é uma arte fascinante. Sabe o que sentem, do que gostam e o que precisam para se desenvolverem saudavelmente. TEXTO GUI ABREU DE LIMA FOTO RICARDO POLÓNIO
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design :: foco CASA CABANA Alex Hellum, Kidsonroof
SE VULTOS DA LITERATURA se escusam a escrever para a infância, sentindo a dificuldade absoluta de captar a atenção de um miúdo com a sua prosa, também o mais inspirado e criativo designer pode conceber para a infância sem grande impacto. Para estar à altura dos mais pequenos, para olhar como eles olham, para sentir o que sentem, para falar a sua linguagem, para entender os seus códigos e valores, para dominar o universo do seu raciocínio é preciso talento. Há adultos que resistem a distanciar-se da própria infância, das memórias de menino, do sabor dos primeiros anos de vida, e que não trocam essa forma de estar pela vida séria a que a idade obriga. Talvez sejam estes homens e mulheres “acriançados” os mais aptos a criar um mundo exterior dirigido à infância, mais aprazível e adaptado às suas necessidades e desejos, à sua sede natural de brincar, de imaginar, de experimentar e de matar a curiosidade que é, afinal, aprender. A pedagogia e a psicologia infantil ajudam, mas saber comunicar com uma criança é unanimemente considerado um dom, com que nem todos nascem. Cada menino é único, com o seu ritmo próprio e interesses diversos. Mas é o adulto a mola do seu desenvolvimento. A ele cabe a tarefa de entrar no mundo simples e puro das crianças, às vezes difícil, porque os adultos complicam. No design a regra mantém-se e as marcas sabem que desenhar para o universo infantil, principalmente para a primeira infância, tem muito que se lhe diga. Afinal aquilo que encanta ou surpreende o olhar dos adultos pode ser
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indiferente ou desinteressante para uma criança. É pois
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”LONGE DE FAZER UM MUNDO DE ADULTOS À ESCALA REDUZIDA,
salutar para o design o apoio de profissionais e técnicos das
pintado de cores primárias, o design
ambientes adequados ao questionamento, à descoberta e à
infantil contemporâneo invoca, provoca, amacia, conforta, estimula, emociona, faz companhia, ensina”.
áreas do desenvolvimento infantil e humano, daí que o recurso a consultores seja prática corrente. Acresce que o design, por si só, não significa desenvolvimento. Mas trata-se de uma peça importante na criação de aprendizagem. Por isso, as salas de aulas estão diferentes, os quartos dos miúdos também. A estética é convidada a entrar. Isso é muito gratificante para quem projecta para o universo infantil, quer seja na concepção de objectos e espaços estritamente lúdicos, para o ambiente doméstico ou para lugares destinados à partilha de conhecimento.
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ALMA Javier Mariscal. Me Too, Magis
BABY CHAIR Ben af Schultén, 1965. Artek
CHILDREN’STOOL Alvar Aalto, 1933. Artek
BABY ROCKET Eero Aarnio. Artek
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design :: foco
Ainda assim, como lembra o Professor Edward Melhuish, Consultor da Magis para a linha Me Too, os adultos preocupam-se muito mais com a vida e a experiência social dos seus filhos do que com a forma como o mundo inanimado interfere e os influencia, defendendo mesmo que as experiências promovidas pelo que é palpável, na rua ou em casa, são mais importantes no progresso social do que a educação formal veiculada pela família ou pela escola. A interacção com o meio cria habilidade de socialização, promove a interpretação, a gestão de sentimentos, a criação de pensamento próprio, de opinião, de crítica. Pestalozzi, pioneiro em educação, referiu que “dentro da sala de estar de cada família estão reunidos os elementos básicos da verdadeira educação humana no seu conjunto.”. O design pode então ajudar as nossas crianças a estruturarem-se e a cresceram mais seguras de si, mais esclarecidas, confiantes e aptas à vida. Pode contribuir para
encontramos objectos verdadeiramente fascinantes do
a percepção de regras e limites, para a estruturação da
ponto vista visual, funcional e educacional. Geniais
inteligência emocional. E se há quem mereça bom design
exemplos, como a italiana Perludi (perludi.com),
são os miúdos. E se há designers que trabalham com gozo,
que aposta na alta qualidade, na segurança, no Comércio
são os que desenham para os miúdos. Porque a inspiração
Justo, na sustentabilidade e, obviamente, no bem-estar
esbarra com a alegria, a aventura, a fantasia, o riso,
e no desenvolvimento saudável dos seus pequenos clientes.
a ternura. E isso vê-se em cada objecto, dos brinquedos ao
Mobiliário multifuncional e design com combinações
mobiliário. Sente-se nas cores, nas formas, nas texturas.
modulares, materiais naturais e 100% recicláveis, como a
Longe de fazer um mundo de adultos à escala reduzida,
madeira e um rol de tecidos naturais. A Magis, e a sua
pintado a cores primárias, o design infantil contemporâneo
Me Too (magismetoo.com), a encantar desde 2004, surge
de qualidade invoca, provoca, amacia, conforta, estimula,
quando, três anos antes, o seu presidente adquiriu para a
emociona, faz companhia, ensina. Não subestima as
neta, que revelava gosto pelo desenho, uma secretária,
capacidades de leitura e de observação das crianças,
produzida por uma empresa alemã, que continha um
sabendo que elas compreendem o mundo sensorialmente
mecanismo inteligente capaz de fixar o tampo a diferentes
e da forma mais pura, exploram naturalmente o que as
alturas e inclinações. Comprou-a, e embora a sua
rodeia, desde que lhes seja dada permissão e liberdade.
concepção fosse de óptima qualidade e a ideia brilhante, apercebeu-se de uma pequena grande falha: para uma
A LIBERDADE DE EXISTIR E DE SER. É assim
criança aquele mecanismo era difícil de compreender e de
que aprendem melhor. A primeira infância é fundamental
manusear. Agora, Eugenio Perazza dá à estampa, através
no desenvolvimento. É uma fase de rápido crescimento
da Me Too, autênticas pérolas do design infantil, assinadas
mental, em que toda a vivência marca indelevelmente a
por designers de várias nacionalidades, escolhidos a dedo e
criança. E é o melhor tempo para investir na sua formação,
com um critério – gente capaz de pensar com a cabeça de
de perceber que brincadeiras mais gosta, que ambiente a
uma criança. E gente assim foi chegando. Javier Mariscal de
estimula, de explorar todas as possibilidades, inclusive nas
Barcelona, que desenhara a mascote dos Jogos Olímpicos
acções de rotina, como comer, tomar banho, lavar os
de 92, é o inventor da cadeira Alma, da mesa Linus, e dos
dentes ou cortar as unhas. E se o design ajuda à tarefa, hoje
sofás Piedras; Eero Aarnio, finandês, que em 1968 lança a
podemos contar mais do que nunca com ele.
Bubble Chair, cuja mulher segredara ao senhor Perazza que
A produção abunda, as grandes marcas dedicam-se a
o marido passava a vida a brincar com os óculos ou, à
projectar linhas dirigidas às crianças e, entre elas,
mesa, com as garrafas e os copos, é autor do popular
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SEGGIOLINA POP
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Enzo Mari. Me Too, Magis
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design :: foco
ZOO TIMER George Nelson, 1950. Vitra
ANYO CHAIR E ANYO STOOL Naoto Fukasawa. Driadekosmo
UTEN.SILO
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Dorothee Becker, 1969. Vitra
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Design :: spot
PIEDRAS Javier Mariscal. Me Too, Magis
PANTON CHAIR JUNIOR
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Verner Panton, 1959. Vitra
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design :: foco
cãozinho Puppy e da cadeira-baloiço Trioli; o guru da linguagem visual Enzo Mari, assina a robusta cadeira Seggiolina Pop; Satyendra Pakhalé, da Índia, um autêntico escultor do design, deu à Me Too o divertido tapete Puzzle, que a miudagem remonta a seu bel-prazer; o badalado Martí Guixé, que desenhara para a divertida Camper, engendrou a Football Tape, uma fita adesiva que em último plano serve para fazer bolas de futebol em 3D. A eles se juntam outros nomes do design que contribuem com o seu talento para o sucesso do projecto infantil da Magis. Depois, com belas idades, chegam-nos os já clássicos do século XX, como as peças com a chancela da Artek (artek.fi), que faz renascer mobiliário infantil de outros tempos, criado por grandes nomes da arquitectura e do design – Alvar Aalto, Ben af Schuktén e Eero Aarnio – ou através da Vitra (vitra.com), o famoso Elephant Stool, de Sori Yanagi (1954), o Eames Elephant (1945), de Charles & Ray Eames e a Panton Júnior, de Verner Panton (1959), com que as crianças deliram, pelas suas curvas e cores. Neste segmento o universo empresarial é vasto, ora com marcas e autores famosos nos bastidores, ora com artistas
PORCUPINE DESK
emergentes e pequenas empresas. Por isso, adquirir
Hella Jongerius. Vitra
móveis, jogos, brinquedos, roupas e acessórios dos mais diversos, pensados para as crianças de hoje com base no conhecimento veiculado pelas Ciências Sociais e Humanas, no que às necessidades motoras e sensoriais para o bom desenvolvimento dos mais novos concerne, é fácil. E evitar dar presentes menos inteligentes já não implica
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sempre um grande investimento financeiro.
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”A PRODUÇÃO ABUNDA, AS GRANDES MARCAS DEDICAM-SE A PROJECTAR LINHAS
O cartão, por exemplo, é um material de baixo custo,
dirigidas às crianças, e entre elas,
urbanidade), longe de consolas e computadores.
encontramos objectos fascinantes do ponto
Especialista na matéria e com uma colecção de cair
de vista visual, funcional e educacional.”
com sede em Amesterdão e distribuição em Portugal.
reciclado e reciclável, em que se aposta cada vez mais, com resultados bem interessantes. Casinhas em tamanhos diversos e diferentes fins, são a alegria de bebezões ou das meninas, construções lúdico-pedagógicas para mais velhos, são “brinquedos que ensinam” e mantêm meninos, principalmente citadinos (e vítimas dos males da
para o lado é a holandesa Kidsonroof (kidsonroof.com), Investigue o leitor este domínio em www.kidsmodern.com e diga-nos se o design infantil não é uma viagem ao País das Maravilhas. e
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JOY A vers達o infantil das cadeiras Him/Her. Fabio Novembre Joy. Casamania.
PUPPY Eero Aarnio. Me Too, Magis
DINNER
EAMES ELEPHANT Charles & Ray Eames, 1945. Vitra
BALL CLOCK
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Naoto Fukasawa. Driade
George Nelson, 1948. Vitra 57
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AUTARCHY
Y
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Design :: expo
DE FORMAFANTASMA PÃO, PÃO, DESIGN, DESIGN
Depois de “Baked”, e novamente baseado no folclore e espírito de celebração por trás da Cene di San Giuseppe, na Sicília, o estúdio Formafantasma apresenta, até ao final do ano, e um pouco por todo o mundo, a instalação “Autarchy”. O que é? É, antes de mais, PÃO! O nosso de cada dia? E isso interessa? TEXTO NUNO MIGUEL DIAS FOTO CORTESIA FORMAFANTASMA
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design :: projecto
E SE CADA UM DE NÓS fizesse parte de uma
um fabricante de vassouras “à antiga”, e Poilane,
comunidade que se auto-infligira, embora de forma
a sobejamente famosa padaria francesa, numa tentativa
serena, natural e segura, um embargo? Para que a
de fazer com que o sorgo (para quem não sabe,
Natureza, ela própria, pudesse ser acolhida no seu seio
um cereal) seja o elo de ligação entre estas artes,
de uma forma que se julga ter perdido no tempo.
um processo de produção quase perfeito, sem
Voltar a cultivar, colher e processar o que se come, da
desperdícios. Este ano, Autarchy passou pelo Salão
forma mais pessoal possível, para criar, assim, uma
do Móvel de Milão, pelo Sothebys’, em Londres e
poderosa ferramenta que pudesse servir a mais básica
viajará, até Dezembro de 2010, até Basileia, Paris, Nova
das necessidades humanas. Na base de uma ideia
Iorque, Amesterdão, Viena, Polónia, Nápoles, Saint
(ou ideal?) assim só pode estar, obviamente, o pão!
Etienne, Abu Dhabi e Istambul, com mais uma passagem por Londres, entretanto.
Autarchy é uma instalação, uma colecção de receptáculos e fontes de iluminação funcionais mas
Andrea e Simone são italianos mas estão baseados
também duráveis, secos de forma natural ou,
em Eindhoven, Holanda, cidade onde se conheceram,
em alternativa, cozidos a baixa temperatura.
aquando do curso em Design de Comunicação, tempo
Manufacturados com material totalmente biológico
em que iniciaram actividade conjunta ilustrando livros
(70% de farinha, 20% de desperdícios provenientes
e revistas. Os interesses em comum agigantaram-se
de agricultura, 10% de calcário), até as cores utilizadas
durante o mestrado na Design Academy Eindhoven
em cada um dos objectos são obtidas através de uma
que terminaram, em Julho de 2009, com uma tese sobre
selecção de vegetais, especiarias e raízes que são secas,
o Artesanato e Folclore Sicilianos. Desde aí que
fervidas e filtradas para obter os seus corantes naturais.
o trabalho da Formafantasma aborda importantes
Isto não é outra coisa que homenagear o simples,
questões em termos de design, como sejam a
o “descomplicado” dos quotidianos que o poderiam,
importância do seu papel no artesanato popular
de facto, ser, assim o desejassem. A instalação sugere
e as relações entre a tradição e o folclore locais, numa
uma forma alternativa de produzir bens essenciais
abordagem crítica à sustentabilidade e à significância
através de conhecimentos culturalmente herdados
dos objectos como vector cultural. Os designers nutrem
e que devem ser considerados em toda a sua riqueza
uma espécie de amor pelos objectos e acreditam
e valor inquestionáveis, que estão hoje e para sempre
que o design pode desempenhar um papel
muito acima dos ditames de quaisquer tendências
importantíssimo como ponte entre o artesanato,
modernas, com o fim único de podermos encontrar
a indústria, o objecto e o utilizador. Pretendem, não só
soluções simples e sustentáveis.
com Autarchy, mas com a Formafantasma, criar uma
Autarchy é, também, um projecto aberto, onde
prática de design que una o artesanato e a indústria,
a informação e o conhecimento são partilhados,
necessidades locais dentro do contexto global actual
apresentando para isso os diferentes passos na pesquisa
e a um nível conceptual, a fim de estimular uma relação
e explicando todos os materiais, processos usados
mais consciente e crítica do utilizador com os objectos.e
e sua transformação em cada um dos produtos. Para que cada um de nós possa considerar a hipótese
de secagem utilizados nestes (como o forno para cozeduras e moinho). Andrea Trimarchi e Simone Farresin (27 e 30 anos, respectivamente), ou seja, os Formafantasma, convidaram, para levar a cabo esta instalação, Giuseppe Brunello,
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os produtos tem por base o fabrico e diversos processos
www.formafantasma.com
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de fazê-lo por si. Até o mobiliário usado para exibir
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design :: projecto
INTERFORMA
MAKE IT REAL O SONHO, REALIDADE A primeira edição
do programa Interforma Make it Real terminou com um balanço
mais que positivo. Os vencedores do primeiro desafio Portfolioday em Portugal, João Gonçalves e Rita Trindade, já estão a estagiar na Alemanha, nas consagradas marcas Hulsta
como é o formato Portfoliodays. Os nossos parceiros alemães
Três dias em que os jovens designers portugueses tiveram
ficaram altamente agradados e surpreendidos com a qualidade
a oportunidade de entrar em contacto com os profissionais
dos portefólios apresentados”, acrescenta a responsável da
(como Miguel Rios, que deu uma conferência no dia de
empresa, que destaca a “garra” com que os jovens designers
encerramento, e Bettina Hermann, Head of Design na Rolf Benz
abraçaram o desafio e a motivação que evidenciaram ao
e responsável pelos workshops) e sobretudo de mostrar o que
trabalhar os seus portefólios durante os workshops.
valiam, através do seu cartão de visita pessoal e intrasmíssivel,
Na Alemanha, os vencedores realizam agora um estágio
o portefólio. Mas a ideia não era apenas mostrar os portefólios.
em duas consagradas empresas da indústria do mobiliário.
Era debatê-los criticamente e melhorá-los. Com a iniciativa
“Fizemos a ponte e estabelecemos o diálogo entre o que é feito
Make it Real, a Interforma propunha-se fazer a ponte entre
do ponto de vista criativo e a indústria. Não pedimos projectos,
a emergente criação nacional no campo do design e a indústria.
pedimos portefólios e depois ajudámos os seus autores
Ou, o que é o mesmo: fazer do sonho realidade. A adesão
a prepará-los e a afiná-los para os apresentarem às empresas
dos jovens designers ao desafio Portfolioday – a oportunidade
de uma maneira atractiva. São jovens cheios de energia e de
de mostrar e debater, em directo, as suas propostas de trabalho
talento e estamos esperançados que tanto a Rita como o João
com os profissionais da indústria – foi muito positiva. Os autores
possam ter algum dos seus projectos lançados nestas empresas
dos dois melhores portefólios, João Gonçalves e Rita Ferreira,
de referência”, conclui Margarida Ferreira.
convenceram o júri e, agora, cada um a realizar um estágio
Não só os portefólios vencedores, mas todos os portefólios dos
internacional (nas empresas de mobiliário alemãs Hulsta e Rolf
participantes seleccionados para integrar o workshop, estão
Benz, respectivamente), estão a convencer os seus pares.
reunidos numa exposição itinerante que percorre as lojas
“O balanço desta primeira edição do programa Make it Real
Interforma, de norte a sul do país. Depois de Alfragide
é muito positivo”, declara Margarida Ferreira, CEO da
e do Algarve, seguem-se Braga e Santa Maria da Feira,
Interforma. “E é especialmente positivo porque não tinhamos
espelhando a vontade de divulgação e o espírito didáctico
grandes momentos de contacto com designers emergentes,
da iniciativa. e
e parece-me que conseguimos criar uma ponte entre os jovens criadores e a indústria, num contexto de inovação,
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Foram três dias intensos, de debates, worskhops e conferências.
D E S I G N
e Rolf Benz.
www.interformamakeitreal.com.pt 63
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ROCA KHROMA
COLECÇÃO KHROMA PARA A ROCA
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Cor inesperada
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QUEM NOS ACOLHE A CADA MANHÃ, MERECE TODA A ATENÇÃO. FALAMOS DOS ESPAÇOS DE BANHO, ESSA ZONA TÃO INTIMISTA, A QUE O DESIGN NÃO FICA INDIFERENTE, SABENDO COMO É IMPORTANTE NO ESPACO HABITACIONAL. POR ISSO, HÁ PROPOSTAS IRRESISTÍVEIS E NOS EXEMPLOS DE TOPO, A MARCA ROCA.
do meio ambiente. Afinal, é nesse universo doméstico
de equipamentos para espaços de banho e uma
que o consumo inevitavelmente dispara, e que a Roca
referência na criação e definição de tendências, a Roca
pretende mitigar. Em 2009, lançou o W+W,
está presente em mais de 135 países, mantendo
um lavatório-sanita com design funcional e plena
parcerias com reconhecidos arquitectos (Moneo,
consciência ecológica – o inovador sistema Reusing
Chipperfield, Siza Vieira, Herzog & De Meuron),
Water a direccionar as águas residuais do lavatório
designers de interiores e estúdios de design (Benedito
para o autoclismo. Este ano, através da Fundação
Design, Giugiaro, Schmidt & Lackner), projectando-se
We Are Water, a Roca marca ainda mais a sua
na soma perfeita que é a tecnologia, o design
posição em prole da Terra.
e a inovação, e elevando-se com uma política que visa
Agora a Roca surpreende, juntando ao design
criar e desenvolver produtos sustentáveis que incluam
e à tecnologia, emoções fortes. De feliz inspiração,
sistemas de poupança de energia e de água, em nome
chama-se Khroma e é um projecto de espaços
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LÍDER MUNDIAL NA COMERCIALIZAÇÃO
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ROCA KHROMA
de banho, em que a cor é a rainha e fonte
móvel de rodas e cinco lavatórios rectangulares,
de inspiração e de bem-estar. É a primeira colecção
que podem ser murais ou colocados sobre bancadas.
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de banho completa que incorpora a cor e a textura
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suave na criação de espaços personalizados, capazes
Para todos os espíritos e gostos, a filosofia subjacente
de causar sensações. Todos os elementos da colecção
à Khroma resume-se em duas palavras: “Unexpected
têm um aspecto colorido. Os sanitários, nas versões
colour”. Inesperadas e complexas, porque escolher
de pé ou suspensa, foram desenhados com o encosto
entre o incontornável “Passion Red” (vermelho
e os tampos em quatro cores opcionais.
clássico, mas urbano e contemporâneo), o carismático
A mesma combinação repete-se no lavatório,
“Street Grey” (cinzento moderno e cheio de estilo),
integrado num móvel base, com o espelho
o sempre cool “Oxygen Blue” (azul contemporâneo
e a iluminação. A Khroma dispõe ainda de um versátil
e diferente, sem ser excêntrico) ou o glamoroso “Silver
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Grey” (cinzento vanguardista que transmite força,
Mais-valia do projecto Khroma é o design
sobriedade e elegância) pode ser para uns
contemporâneo mas sóbrio, coadjuvado pelas texturas
um inequívoco amor à primeira vista, mas tarefa
suaves, com coberturas dotadas de um acabamento
árdua para outros. Culpa da selecção cromática
agradável ao toque, fino e confortável.
certeira de Vincent Gregoire, o prestigiado desenhador
O material acolchoado mantém-se quente e limpo
de tendências da empresa Nelly Rodi e autor
e permite usos diversos. Tudo tão harmonioso,
de projectos para marcas como a L'Oréal, a Louis
personalizado, activo e colorido, que o risco é passar
Vuitton e a H&M. Gregoire explica que “introduzir
a preferir a casa-de-banho à sala de estar.
e uma parte da identidade de cada um.” Para ele, “um toque de cor, é um toque de vida”.
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e
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a cor no banho significa integrar a vida, a emoção
CONTACTOS www.roca.com
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FARAWAY KOS
SISTEMA FAR AWAY, DE LUDOVICA E ROBERTO PALOMBA PARA A KOS
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Viajar na fluidez
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SEM LIMITES, ABERTO A INÚMERAS CONFIGURAÇÕES, E CAPAZ DE NOS LEVAR PARA LONGE, É ASSIM FARAWAY, O PREMIADO (E ACTUALIZADO) SISTEMA DE ESPACOS DE BANHO DESENVOLVIDO PELOS ARQUITECTOS LUDOVICA E ROBERTO PALOMBA PARA A ITALIANA KOS.
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nómada, na sua possibilidade construtiva
a frente) são uma das novidades da linha que cria
(é naturalmente aberta a inúmeras configurações)
uma estética nova, leve e subtil, mas de grande
mas também na sua capacidade evocativa.
impacto arquitectónico. Em versão arredondada
As suas linhas, fluidas e elegantes, são portadoras
ou quadrada, os lavatórios são sempre expressões
de emoções, e evocam paisagens distantes
assimétricas de um rigor e equilíbrio únicos.
num universo de intimidade por definição. Um híbrido entre rigor e sensualidade, as formas
e
CONTACTOS www.palombaserafini.com www.kositalia.com
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orgânicas das banheiras Vis-à-Vis (para colocar frente
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O CONCEITO É SIMPLES: uma casa-de-banho
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AXOR BOUROULLEC AXOR HANSGROHE
AXOR BOUROULLEC, DE RONAN & ERWAN BOUROULLEC PARA A AXOR HANSGROHE CONTACTOS www.bouroullec.com www.axorhansgrohe.com
Composição livre O DESIGN É LIMPO, quase límpido. Substancial e fluido. Os produtos —lavatórios, torneiras, banheira, unidades de duche e acessórios—são aparentemente tão simples e silenciosos que custa a acreditar que tanta pesquisa (seis anos) tenha estado envolvida na sua concepção. Um olhar mais atento revela que sob a sua superfície clara e desobstruída existe um mundo de possibilidades. É um sistema radicalmente novo, que assenta na flexiblidade e permite inúmeras composições ao gosto do utilizador. A primeira incursão dos irmãos Bouroullec, megaestrelas do design de mobiliário, na área do design de produto não podia ter sido mais inspirada.
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OFURÓ RAPSEL
BANHEIRA OFURÓ, DE MATTEO THUN PARA A RAPSEL
Mergulho de luxo OFURÓ SIGNIFICA BANHEIRA (e, também, imersão) em japonês. E Ofuró é o nome categórico desta generosa e convidativa banheira de madeira desenhada por Matteo Thun para a Rapsel. A inspiração é nipónica, a harmonia visual e a sensação ao tacto também. É feita de cedro siberiano e foi pensada para que nela possamos mergulhar e vir à tona com a mesma leveza com que nos deixamos prender pela sua forma imaculada. É um luxo contemporâneo que bebe de raízes ancestrais e por isso é perfeita. Em Setembro, foi lançada a versão “dupla” para um banho de imersão a dois. Imbatível.
CONTACTOS www.matteothun.com rapsel.wordpress.com
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design :: guru
GIULIO IACCHETTI:
PROJECTAR EMOÇÕES Imaginativo, intuitivo, mas também racional, Giulio Iacchetti encarna a refrescada ironia do novo stile italiano. O designer e art director acredita que o design de hoje deve projectar emoções. TEXTO MADALENA GALAMBA
GIULIO IACCHETTI (Cremona, 1966) teve uma
projecto e o que procurava nos designers
formação clássica, em arquitectura, no Politécnico
que convidou?
de Milão. Mas a essa base acrescenta frescura,
A Il Coccio era uma marca muito popular em Itália
irreverência, e talvez por isso seja um dos mais
durante os anos 1980 e 90, em parte graças a um spot
requisitados designers italianos. O seu talher descartável
publicitário muito original. Mas sempre me fascinou o
Moscardino, desenhado em conjunto com Matteo Ragni,
facto de um dos últimos projectos de Achille Castiglioni
contrariou obstinadamente o fim para o qual tinha sido
ter sido o humidificador Fischietto, desenhado em 1998
desenhado. As pessoas guardam-no, os museus (como
precisamente para a Il Coccio. Há dois anos, a empresa
o MoMA) também o querem para o seu espólio.
mudou de proprietário e eu fiquei responsável por
Como o resto do design de Iacchetti, é um objecto
desenhar uma nova colecção.
simples, sincero e encantador. Iacchetti conjuga o seu
A minha ideia era actualizar os humidificadores em
trabalho como designer (para grandes editores como a
termos de forma e na sua funcionalidade, e integrá-los,
Casamania, a Foscarini, a Alessi e a Danese) com o
com harmonia, nos interiores contemporâneos.
papel de art director.
Envolvendo mais designers, representou a possibilidade de explorar e partilhar com eles diferentes pontos de
Qual foi a inspiração para Moscardino,
vista. A sua peça para este projecto,
A ideia de Moscardino era combinar duas funções
La Fabbrica del Vapore, tem um elemento
normais da cutelaria, colher e garfo, para melhor
lúdico que atravessa o seu trabalho.
satisfazer as necessidades dos jantares volantes,
Concorda? É intencional?
das happy hours, etc. Com o Matteo Ragni procurei
Gosto de trabalhar por analogia e síntese, e a ironia
desenhar um objecto que fosse descartável
é muitas vezes uma maneira eficiente de atingir
e com uma forma acessível, simpática:
esse efeito.
o resultado é que as pessoas não o deitam fora! O que é, na sua opinião, o design para Um projecto muito bonito onde esteve
as pessoas?
envolvido recentemente foi a série de
Há tantas linguagens no design quanto línguas faladas
humidificadores Il Coccio Design Edition.
no mundo: cada pessoa pode reconhecer-se
Qual foi a parte mais estimulante do
na sua própria língua.
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e venceu o Compasso d'Oro em 2001?
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que desenhou com Matteo Ragni
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guru :: design Prefere projectar uma coisa que desconhece ou uma coisa da qual sabe muito? Os dois projectos têm o seu encanto. Projectar o que já se conhece exige um compromisso no sentido de refinar e melhorar o que já existe. Desenhar algo totalmente novo é um desafio excitante que te faz sentir como uma espécie de pioneiro na tua vida. Qual é o seu projecto preferido? Adoro os detalhes dos objectos que desenho. Por exemplo, na cadeira Bek (Casamania), gosto da curva entre o apoio das costas e as pernas de trás. Em Tropico, um candeeiro editado pela Foscarini, gosto do pequeno elemento em forma de diamante; na série Olivia (espaço de banho, para a Globo) gosto da simplicidade da linha dos elementos suspensos na parede. Qual é o seu projecto de sonho? Gostava de desenhar um sapato para andar pelo mundo... Quantos quilómetros serão de Milão a Lisboa?! Três qualidades para um objecto ter sucesso? Ninguém pode saber qual a receita para o sucesso. E eu arrisco que o importante é que o projecto seja sincero, bom e uma verdadeira expressão da cultura contemporânea. LA FABBRICA DEL VAPORE
Qual foi o primeiro passo do projecto BEK,
O humidificador vaporoso desenhado para a Il Coccio.
para a Casamania? O primeiro passo foi um modelo à escala 1:10 em polipropileno. Nesse protótipo já estava todo
Qual é o lugar da função no design contemporâneo? A performance de um objecto tem de ser um dado adquirido. Hoje é muito mais interessante projectar emoções. Onde é que encontra inspiração (na vida em geral e no design em particular)? Aparentemente a inspiração tem origem em factores externos, mas eu gosto mais de pensar que a inspiração coincide com uma intuição, uma coisa mais íntima e pessoal que vem de dentro. Os meus mestres são as
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pessoas que me levam a um estado de inquietude,
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desassossego, onde nunca estou satisfeito, como Enzo Mari. Desenha muito à mão? Desenho muito. Felizmente, graças a uma colaboração com a Moleskine, recebo imensos blocos de notas e de esquiços que preencho num tempo récord.
o espírito de Bek! O que pode dizer-nos sobre o novo sistema Bloom? Bloom pode ser descrito com um gesto, a rotação de 45 graus dos eixos verticais. Esta intuição simples tornou possível a construção de um sistema estável com uma ligação especial entre o chão e os elementos verticais. Como é que o seu design se integra no espírito Casamania? Antes de ser uma empresa muito respeitada no cenário de produção italiano, para mim a Casamania é um conjunto de caras, de pessoas. Cada vez que tenho um projecto para a Casamania tenho um diálogo imaginário com o Loris (project manager) e o Elis (CEO). Este diálogo continua a desenvolver-se até à apresentação dos produtos. Esta harmonia especial torna o trabalho para a Casamania excitante e divertido! www.giulioiacchetti.com, www.casamania.com
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BEK (2008) Um dos ícones da Casamania, a cadeira dobrável Bek é uma solução versátil perfeita para espaços contract.
BLOOM (2010) O sistema Bloom é o mais recente projecto de Iacchetti para a Casmania.
SISTEMA BEK
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Cadeiras e mesa com altura regulável.
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design :: projecto
TRIENAL DE ARQUITECTURA DE LISBOA ELA AÍ ESTÁ DE ALICERCES e paredes prontas, janelas e portas abertas. A Trienal de Arquitectura de Lisboa 2010 vem falar de casas, revisitar projectos e conceitos, remexer passados e futuros, pensar no urbanismo e na habitação, esse universo vital ao homem. “Falemos de Casas”, pois, é o mote da segunda edição deste que é o maior evento da Península Ibérica no campo da arquitectura e que se desdobrará em três grandes exposições, uma conferência internacional subordinada à relação entre a arquitectura e a política, e outros projectos associados, que estarão patentes em galerias de arte de Lisboa e instituições culturais. A festa que debate e celebra esta arte complexa e fascinante que resolve o espaço construído, leva-nos ao Museu Colecção Berardo, ao Museu da Electricidade e ao Museu do Chiado. No primeiro estende-se a mostra “Falemos de Casas: Entre o Norte e o Sul”, dando-nos conta das condições de habitação e de novas soluções encontradas na especificidade das várias regiões do globo. No segundo, o “Projecto Cova da Moura”, é a resposta dos estudantes de Arquitectura à pergunta “Como é possível a arquitectura contribuir para melhorar, em concreto, as condições de vida das pessoas deste bairro?”. O júri anunciará o vencedor e
A FESTA DA ARTE QUE RESOLVE O ESPAÇO CONSTRUÍDO leva-nos ao Museu Colecção Berardo, ao Museu da Electricidade e ao Museu
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do Chiado
três menções honrosas durante a exposição. A par desta e ainda no núcleo da Fundação EDP, revela-se “A House in Luanda: Patio and Pavilion”, o concurso lançado pela Trienal de Lisboa em parceria com a Trienal de Luanda, que seleccionará a melhor proposta de concepção de uma unidade familiar em Luanda. Por fim, no Museu do Chiado, vê-se “Quando a Arte Fala Arquitectura: Construir, Desconstruir, Habitar”, uma apresentação de obras que apoiam a reflexão sobre este mundo sucessivamente destruído por conflitos globais, em que a arte se obriga a pensar o sentido da habitação, da construção afectiva do espaço, do casulo e das condições mínimas de sobrevivência. Até 16 de Janeiro de 2011, são três meses e tempo bastante para viver este grande evento como ele merece. e www.trienaldelisboa.com
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projecto :: arquitectura
CENTRO DE MONOTORIZACAO E INVESTIGAÇÃO DAS FURNAS, S. MIGUEL, ACORES, P R O J E C T O D E M A N U E L A I R E S M AT E U S
SEGUNDA NATUREZA A NATUREZA, MAIS DO QUE O PROJECTO, EM EVIDÊNCIA. O ARTIFÍCIO SILENCIADO NUM PROJECTO DE ARQUITECTURA MAGISTRALMENTE INTEGRADO NA PAISAGEM -NATURAL E CULTURAL- DA LAGOA DAS FURNAS. VOLUMES ARQUETIPAIS, SIMPLES E COMPACTOS, REVESTIDOS COM A PEDRA BASÁLTICA DA REGIÃO, REMETEM PARA A MEMÓRIA DA ILHA. E O SILÊNCIO OUVE-SE.
POR MADALENA GALAMBA FOTOS FERNANDO GUERRA
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O LUGAR É IMPONENTE, REFERENCIAL. A Lagoa das Furnas, na ilha de S. Miguel, nos Açores, tem a monumentalidade dos espaços sagrados. E no entanto é uma paisagem tocada. Viva e vivida, “contaminada” pelo homem, que nela inscreve as marcas da sua passagem, “dos seus gestos, das suas vidas”. Há uma linguagem prévia, codificada num sistema cultural sedimentado ao longo de anos e anos, que se torna vísivel na relação (nas relações) entre comunidade e território. E é aí que começa a intervenção. É aí que a intervenção se recolhe como uma presença que não procura protagonismo nem impõe sentidos. “Propor transformações na paisagem significa operar essa sintaxe, propor relações diferentes entre signos e não necessariamente inventar sinais. Não será nunca propor significados. Transformar a paisagem poderá, também, significar alterar os metabolismos activos que
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geram as marcas, isto é, actuar directamente nas relações entre as comunidades e o território.” lê-se na Memória do projecto. O projecto de requalificação das margens da Lagoa das Furnas, entregue ao atelier de Manuel Aires Mateus, inclui a criação de um percurso pedonal completo em torno da lagoa, a construção de edifícios (centro de monotorização, residências temporárias e edifícios técnicos) complementada com mobiliário exterior, e a intervenção no coberto vegetal. Face à monumentalidade do lugar, onde, engolido pela dimensão e serenidade da paisagem, “o Homem desaparece”, a resposta, para fazer sentido, tinha de estar marcada pela humildade. 80
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projecto :: arquitectura
”O PROJECTO SURGE EM CLARA CONTINUIDADE com a arquitectura vernacular da ilha, partindo da memória colectiva e da matéria”
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projecto :: arquitectura
Ao mesmo tempo recolher-se e abrir-se (como o pátio no interior do volume principal), assumindo a impossibilidade de controlar a natureza (qualquer tentativa seria em vão, inútil e disparatada) e revelando o seu impulso de se relacionar com ela, e até de a domesticar pontualmente. Nem sagrada nem profana, a Lagoa das Furnas exibe em toda a sua extensão uma hesitação constante sobre a relação entre o carácter natural e o carácter artificial do espaço. Aqui flutuamos na imensidão, ali abraçamos a ilusão de que podemos controlar o que nos escapa. Como é que isso se resolve? “Limitando claramente o que é natureza e compreendendo o poder da natureza sobre o artifício naquele contexto.”, responde o arquitecto Manuel Aires Mateus. O lugar estava “em equilíbrio” e é essa “condição que se pretende fazer perdurar no tempo e reforçar”. Assim, o projecto surge em clara continuidade com a arquitectura vernacular da ilha, “partindo de uma memória colectiva da forma e da matéria”. Os dois edifícios principais – Centro de Monotorização e Interpretação Ambiental e Residências Temporárias – inscrevem-se nessa memória como mais um traço, subtilmente deixado na paisagem que tudo silencia. São volumes monolíticos, arquétipos de base rectangular e cobertura de águas inclinadas, revestidos a pedra de basalto da região (a mesma que se usa nos muros cinzentos que percorrem a ilha verde). Formas simples, reduzidas, e ainda assim com espaço para “rasgar”: o pátio, presente noutros projectos do atelier (a Casa em Coruche, por exemplo) e que surge como um vazado ou uma subtracção ao volume. O pátio é um “espaço intermédio entre interior e exterior” e na medida em que coloca as duas dimensões em diálogo, acaba por encarnar a relação entre mundo artificial e o mundo natural que o projecto tão bem equaciona. A intenção, explicam os arquitectos, era “criar um lugar íntimo e protegido do exterior que por sua vez se relacionasse com a natureza aberta”. E lá está: a natureza que inevitavelmente nos escapa mas que cremos domesticar, tornando-a dócil, por fugazes momentos. Recortado
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desde a zona central (o vértice das quatro águas) até rasgar um dos alçados
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”ENQUANTO EDIFÍCIO COM UMA VOCAÇÃO DE PERMANÊNCIA, o centro de interpretação está revestido, no interior, com uma pele de madeira maciça”
do Centro de Interpretação (o volume de maior dimensão e mais “dissonante” do conjunto), o pátio possibilita o acesso ao interior revelando os compartimentos principais do edifício.
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interior :: projecto
O espaço está organizado em três grandes núcleos programáticos: a zona mais pública (recepção, cafetaria, loja), a sala multiusos/auditório e a área de trabalho, mais reservada. Enquanto edifício com uma vocação de permanência, o Centro de Interpretação está revestido, no interior, com uma pele de madeira maciça. De fora é captado como uma “escultura”, um “bloco de matéria que intencionalmente se recorta para captar a luz e a própria Lagoa”. A relação entre a massa/matéria e o vazio prolonga-se nestes volumes: “As construções evocam uma iconografia subconsciente. Mas a sua identidade não se extingue aí. Tão intuitivo como sabermos que uma construção se declara com cobertura inclinada é percebermos que valores estão em jogo na arquitectura vernacular. As paredes enquanto fronteiras sempre fizeram parte da nossa história. A sua espessura sempre foi uma demarcação inequívoca de um limite. É o estabelecimento de dois universos com características radicalmente distintas. No que desenhamos usamos essa lógica. As paredes, as coberturas, são limites, com identidade dada por uma matéria. O desenho tão claramente estabelece uma imagem exterior, como define um interior protegido e autoreferenciado.” O edifício destinado às Residências Temporárias é um volume compacto, compartimentado em quatro unidades residenciais com características semelhantes (espaço principal revestido a madeira maciça, casa de banho, kitchenette e zona de arrumos). Em cada um dos quatro alçados, um vão de madeira atravessa e rasga a pedra permitindo o acesso e a entrada de luz. Os quatro vértices da cobertura variam na sua altura, que se reflecte no pé direito interior das unidades.
residenciais comunicam entre si através de portas, o que permite uma maior flexibilidade do espaço (podem ser usadas individualmente ou ligadas, se os ocupantes formarem uma família). No exterior, o mobiliário urbano construído em pedra de basalto, aço cortene (um material que regista a sujeição da matéria ao tempo) e ferro forjado (na área das caldeiras, para maior resistência) é uma extensão do conceito do projecto onde a simplicidade e a redução imperam. Mais uma vez a ideia era “que estivesse tão integrado que a sua presença não reclamasse protagonismo. O valor emocional daquele lugar já existe. É evidente. Não precisa de qualquer adição.” e
”AS PAREDES ENQUANTO FRONTEIRAS SEMPRE FIZERAM parte da nossa história. são limites, com identidade dada por uma matéria”
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esta unidade precisa de uma maior entrada de luz. Todas as unidades
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Assim, a residência com pé direito mais alto está orientada a norte, pois
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J O H N PAW S O N N O D E S I G N M U S E U M D E LO N D R E S
PLAIN SPACE:
O MINIMAL AO MÁXIMO Este Outono, o Design Museum de Londres acolhe uma exposição sobre o trabalho do arquitecto britânico John Pawson. É a primeira retrospectiva sobre o arquitecto no Reino Unido. E o que faz o pai do minimalismo moderno numa mega-exposição? Reduz. E tudo se inunda de clareza. TEXTO MADALENA GALAMBA FOTO ORLA CONNOLY
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design :: expo
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design :: expo
SIMPLICIDADE Nesta página, imagem do Mosteiro de Novy Dvur, na República Checa, “o projecto de uma vida”. Ao lado, Baron House, um refúgio rural na Suécia.
que acordámos chamar de “minimalismo”. É essa qualidade clara, afinada na contenção e na sensibilidade, que atravessa, e aproxima, projectos aparentemente tão distantes quanto as lojas da Calvin Klein nas metropolitanas Manhattan e Tóquio, uma casa de campo na Suécia (Baron House) e um mosteiro na República Checa (Novy Dvur). Mas o minimal segundo John Pawson é muito mais que um nome que se pega, artificialmente, aos espaços e aos objectos. É uma aura quase sagrada, uma sensibilidade luminosa, uma qualidade que emana dos espaços e se materializa em coisas aparentemente tão insubstanciais quanto a luz ou a proporção exacta. Plain Space, que inaugurou a 22 de Setembro, no Design Museum de Londres, é sobre isso mesmo. Para o coração da exposição, Pawson projectou uma instalação arquitectónica, desenhada para proporcionar ao visitante uma imersão directa no seu trabalho. O processo de construção da instalação pode ser visto online no blog que acompanha a exposição: www.plainspace.co.uk. “Queria que pelo menos um elemento da exposição fosse uma experiência arquitectónica directa”, explica John Pawson à blue Design, “por isso desenhámos esta instalação 1:1
FOTO HISAO SUZUKI
especificamente para este lugar, erguida no coração da galeria. Nunca ninguém tinha tentado pôr
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um edifício dentro do Design Museum. Pensámos
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RETIRAR, RETIRAR, RETIRAR. Quem leu
construí-la com blocos de giz, mas infelizmente não foi
o livro “Minimum” (um tratado sobre a simplicidade
possível. Mas a instalação final retém a qualidade
na arquitectura, nas artes e no design, publicado
autêntica de espaço e de luz que eu procurava.”.
em 1996 pela Phaidon) sabe que essa é a receita
É a primeira vez que a obra de Pawson é apresentada no
de John Pawson, o arquitecto que começou por ser
Reino Unido. Para o arquitecto “É uma oportunidade de
autodidacta, viveu no Japão, foi aprendiz de Shiro
apresentar o pensamento e os projectos a um público
Kuramata, e regressou à pátria para estudar na
totalmente novo”. Para além da instalação, a exposição
Architectural Association e transformar-se no “pai
apoia-se em vários media para documentar a carreira
do minimalismo moderno”.
de Pawson. Através de fotografias especialmente
John Pawson (Halifax, Yorkshire, 1949) leva uma vida
encomendadas para a exposição, os projectos
dedicada a descascar pacientemente uma cebola.
arquitectónicos de Pawson são “integrados”
Camada a camada, vai retirando, reduzindo, cortando,
na paisagem. Atestando a importância dos materiais
eliminando o supérfluo, para chegar a um volume tenro
no trabalho do arquitecto, uma série de elementos
e lustroso, e, geralmente, branco. É esse rigor quase
arquitectónicos em pedra, bronze, madeira e metal,
obsessivo que lhe permite chegar, na arquitectura como
retirados de alguns dos projectos de Pawson, são
no design, à clareza visual, à simplicidade e à graça
apresentados como metonímias do espaço.
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FOTO AKE E-SON LINDMAN
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FOTO FABIEN BARON
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Design :: expo
”TIVE A IDEIA DE FAZER UM BANCO E UMA MESA TÃO COMPRIDOS quanto a mais comprida das Árvores. Em Maio fui à floresta negra para escolher
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FOTO GILBERT MCCARRAGHER
a árvore”
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design :: expo
”O MINIMAL PARA MIM TEM A VER COM UM ESPAÇO SIMPLES, Onde tens tudo o que precisas e nada mais, onde te sentes física e visualmente
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FOTO GILBERT MCCARRAGHER
confortável.
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design :: expo
A etapa de projecto e construção é também amplamente registada através de fotografias, filmes, esquiços, entrevistas, maquetes e protótipos, tanto relativos a projectos realizados, como de projectos ainda em construção, como uma casa em Treviso, em Itália. Finalmente, será exibida memorabilia do arquitecto, em particular correspondência com Karl Lagerfeld e o escritor Bruce Chatwin, um dos primeiros clientes de Pawson. E depois há a árvore, um compridíssimo tronco da espécie Douglas fir, escolhido a dedo por Pawson na imensidão da Floresta Negra alemã. “Queria que tudo nesta exposição espelhasse esta atitude reflectida em relação à arquitectura, e tive a ideia de fazer um banco e uma mesa de madeira tão compridos quanto a mais comprida das árvores. Em Maio, fui à Floresta Negra com Thomas e Heidi Dinesen (da Dinesen, um dos sponsors da exposição) para escolher a árvore. Havia dez possíveis candidatas, todas árvores com cerca de 80 anos e entre 40 e 50 metros de comprimento. Procurávamos um tronco limpo,
FOTO HISAO SUZUKI
com o mínimo possível de ramos, para que a madeira tivesse poucos nós”. Mesmo sendo autênticos, os nós da madeira não
a construir a capela ou as oficinas. Realmente
deixavam de ser uma distracção. A ideia é sempre
é o projecto de uma vida.”
limpar, reduzir, encontrar um espaço quase sagrado,
A atracção do espartano Pawson pela vida monástica
sem interrupções supérfluas. “O minimal para mim
é conhecida e percebe-se porquê. E quando queremos
tem a ver com um espaço simples, com tudo
saber o que mais o marcou na cultura Japonesa
o que precisas e nada mais, onde te sentes visualmente
não hesita: “O rigor dos rituais tradicionais Japoneses
e fisicamente confortável. Claro que isto também tem
é algo que ficou sempre comigo. Adoro a maneira
a ver com uma beleza na luz, nos materiais
como cada pormenor da cerimónia do chá é levado
e nas proporções, mas estes elementos são ferramentas
em atenção e refinado até ao limite da perfeição.
para chegar a uma condição que é o sentir-se bem
E ter conhecido Shiro Kuramata durante o meu último
num espaço”, explica o arquitecto.
ano no Japão, quando vivia em Tóquio, ajudou-me
Com as ideias tão claras, é óbvio que a resposta sobre
a confirmar o que já sabia, que queria ser arquitecto.”.
o que mais valoriza num objecto seja a “clareza
Felizmente, a verdadeira vocação de Pawson
funcional, em particular quando é acompanhada
revelou-se a tempo.
RIGOR Ao lado e na página anterior, vista da exposição Plain Space, no Design Museum de Londres. Nesta página, casa em Tóquio.
e
da luz e do espaço.”. É fácil perceber o que prendeu o
www.johnpawson.com, www.plainspace.co.uk www.designmuseum.org
arquitecto quando chegou ao mosteiro de Novy Dvur, na República Checa. “Fiquei imediatamente impressionado com a beleza do lugar, mas também com a escala, a dimensão do projecto. Levamos onze anos a trabalhar neste projecto, e ainda nem sequer começámos
Coincidindo com a inauguração da exposição, a Phaidon Press acaba de lançar o livro definitivo sobre o arquitecto,
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meta é a “clareza visual, porque tudo está na qualidade
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de simplicidade formal.”. Em relação aos espaços, a
John Pawson: Plain Spaces, da autoria de Alison Morris. 93
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PENSテグ
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FAVORITA PERFEITO CORAÇÃO Não é só o boutique hotel mais cool da Invicta. É uma casa portuguesa, com certeza, e muito mais. Luminosa, encantadora, romântica e clean, com as portas abertas para quem quiser entrar. Chama-se Pensão Favorita e é fácil perceber porquê. No Porto, só há um lugar assim. TEXTO MADALENA GALAMBA FOTOS PEDRO LOBO
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PARA DESEMBRULHAR COM CUIDADO, amorosamente. Como uma caixa de chocolates que, mais do que rasgar, recortamos com os dedos, antecipando a delícia que nos espera. É esta excitação que experimentamos ao descobrir a Favorita, um universo que simplesmente não cabe na etiqueta “design boutique hotel”. E no entanto, é isso. Mas é muito mais que isso. Um conceito novo, um lugar com alma e onda, com projecto de arquitectura de Nuno Sottomayor e design de interiores de Sam Baron, a Favorita abriu as suas portas em Abril e, fazendo juz ao nome, rapidamente se tornou num dos lugares predilectos da movida portuense. No coração da Miguel Bombarda, a conhecida “rua das galerias” e design district não oficial da Invicta (o hotel fica literalmente paredes-meias com o Centro Comercial Bombarda), é difícil imaginar melhor localização para um espaço com estas características. E no entanto, como explica Ema Xavier, a mentora do projecto, nem era para ser ali. Depois de trabalhar dez anos na hotelaria tradicional, Ema Xavier decidiu que era altura de ter o seu próprio hotel, “Queria abrir um espaço assim em qualquer parte do mundo. Quando tens vinte anos, pensas assim. Podia ser um hotel numa praia, no Brasil... aos quarenta anos, pensas noutra coisa. Foi aí que disse, 'espera lá, e porque não no Porto?'”. Começou por pensar no modelo guest house, mas quando apresentou o projecto à Câmara do Porto, há cinco anos atrás, não havia legislação que enquadrasse a sua ideia. O projecto foi chumbado e Ema pensou “Então se é para fazer bom, é para fazer bom”. Reformulou a coisa, decidiu fazer quartos
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individuais, cada um com a sua casa de banho,
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”NO PISO TÉRREO, A RECEPÇÃO E UM LOUNGING SPACE QUE É A CARA do hotel, cruzamento único entre
e o projecto acabou por ser licenciado como “Pensão de 3ª Categoria”. E que categoria. “Queria receber, conversar com as pessoas, sentir que estavam bem, como se as recebesse em minha casa, no meu espaço.”, continua Ema, “Nos espaços tradicionais isso não é possível. Não consegues ser tu.”. Foi à procura de si, e de um lugar onde as pessoas se pudessem sentir genuinamente em casa (com todo
o espírito vintage e o design
o conforto e a novidade que implica o facto de se estar
contemporâneo”
entregando a recuperação do prédio ao arquitecto Nuno
fora de casa) que Ema Xavier arrancou com o projecto,
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Sottomayor. “O Nuno Sottomayor já tinha feito a minha casa, achei que era a pessoa indicada. Ele deu muitíssimo a este projecto. Para além de me ajudar a tomar decisões muito importantes – por exemplo, fazer menos quartos, mas maiores – ele esteve presente nos pequenos detalhes. Desenhou a recepção, o móvel do restaurante, os candeeiros suspensos no vão da escada.” O prédio recuperado era um edifício de habitação. Havia dois andares por piso, com divisões pequenas no interior. Graças à intervenção de Sottomayor, os apartamentos transformaram-se em quartos. Suites espaçosas e arejadas, que, derrubadas as paredes, não deixam de ter um ar de “casa”. São apenas sete quartos, num prédio de três andares. Quatro quartos duplos com “quarto de vestir” e varandas sobre o jardim, duas generosíssimas suites que podem alojar entre duas e quatro pessoas, e um quarto no sótão. No piso térreo, a recepção, e um lounging space que é a cara do hotel, cruzamento único entre o espírito vintage e o design contemporâneo. E ainda uma deliciosa varanda acristalada, prenúncio do jardim. Tudo claro e despojado e com muito bom gosto, sem nada que grite ou que diga “o que é que eu faço aqui?”. cerâmica das Caldas. Os abat-jours dos candeeiros,
atmosfera que queríamos para aqui”, explica Ema
forrados com a mesma chita de alcobaça das almofadas
Xavier. E é aí que dá entrada Sam Baron. O designer
e rolos das camas. As orelhas de coelho
francês pegou na ideia de Ema e deu-lhe corpo
a espreitar nos pratos brancos pendurados sobre o
e coerência. “O Sam Baron criou o conceito”, conta Ema.
aparador do restaurante. O vinho do Porto e os cálices
“Eu expliquei-lhe que queria usar todas estas coisas
pequeninos e transparentes à espera do hóspede,
e a primeira reacção dele foi 'vou mesmo ter de levar
na sala de estar. Os padrões e as cores dos mosaicos de
com estes móveis?'Ao princípio, eramos como a água e
Estremoz, do mestre Lúcio Zagalo, no chão que
o vinho. Ele seleccionou muito, criou uma unidade
pisamos. Os mimosos corações com os números dos
e deu-lhe sentido.”
quartos, que nos lembram que este lugar só pode ser
Ema Xavier pode continuar a ter uma garagem cheia
automaticamente adicionado à nossa lista de favoritos.
de móveis vintage (muitos encontrados no espaço
E chegamos ao nome, tão castiço e português, tão
Pedras e Pêssegos) mas os melhores têm de estar
perfeito como as surpresas que nos esperam lá dentro.
na Favorita. Isso, e design, muito design. Podem ser
E Ema Xavier conta mais uma história “O meu marido
os candeeiros de Sam Baron, ou as cadeiras de Patricia
tinha em casa uma caixa de lápis antigos, que era do pai
Urquiola no jardim, mas a contemporaneidade mais
dele. Um dia peguei na caixa e lembrei-me
viva está lá, sente-se e respira-se a cada passo e em cada
dos chocolates que o meu avô dava a todos os netos
pormenor onde o nosso olhar se detém. E são muitos,
no Natal. Os chocolates Favorita”. E foi assim, palavra
muitíssimos os pormenores onde nos deleitamos.
puxa palavra, memória acende memória, que se chegou
A instalação branca, na parede da entrada, feita com
a um nome que faz todo o sentido.
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-mão. Tenho uma garagem cheia deles! Era essa
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“Eu e o Filipe compramos muitos móveis em segunda-
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”NESTA CASA ANTIGA COM UMA ATITUDE CONTEMPORÂNEA, Não é só o espaço que é modelar e versátil. É a atmosfera que se cria, familiar e cosy, mas suficientemente limpa e arejada para
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dar espaço à individualiade de cada um.”
Claro que para um francês, mesmo um francês
não deixamos de ter a sensação de estar em casa. É aqui,
com uma lovestory com Portugal, como Sam Baron,
na familiaridade descontraída, que a Favorita mais se
o nome “favorita” dificilmente será sinónimo de caixa
aproxima do seu lado “pensão”.É, de facto, um negócio
de chocolates. E é na releitura da “portugalidade”, cruzada
familiar (Ema teve a sua segunda filha apenas 15 dias
com outras referências, que nasce a Favorita. A “Favorita”,
depois de abrir o hotel), mas sem que a proximidade
de repente, liga-se às favoritas do rei, as mulheres
abafe. Simplesmente, estamos bem. Se na Favorita, no
dos favores e das influências, secretamente visitadas,
coração da Miguel Bombarda iluminada, é inevitável
mas também à sua inequívoca aura romântica.
sentirmos o pulsar da movida do Porto, há muito mais
E o efeito Rosebud (dos chocolates, da corte do rei Luís)
mundo entre estas paredes. É um mundo ideal, urbano e
se desdobra num lugar que, apesar das aparências,
trendy, mas também familiar e próximo, com alma e
não tem nada de nostálgico: todas as referências
coração. A comida servida no restaurante aberto para o
culturais e estéticas são trazidas ao presente
jardim, é preparada por Todor Nikolaev Kotsev, um
com graça e leveza, com humor e frescura,
cozinheiro búlgaro casado com uma portuguesa, que
num conjunto onde absolutamente nada destoa.
regressou ao “ninho” familiar depois de passar por Londres
Nesta casa antiga com uma atitude contemporânea,
e Paris. Mas também pelas mãos de Mariana Sottomayor,
não é só o espaço que é modular e versátil. É a atmosfera
que empresta o seu talento para as coisas simples, e
que se cria, familiar e cosy, mas suficientemente limpa
caseiras, à Favorita. Assim, podemos provar um suculento
e arejada para dar espaço à individualidade de cada um.
goulash de porco, mas também uma bola transmontana,
Na Favorita, uma família numerosa em passeio
ou refrescar-nos com um sumo de melancia e hortelã e um
de fim-de-semana sentir-se-à tão bem quanto um
gelado caseiro (ou uma tarte de maçã escondida, outros
executivo numa paragem de uma noite ou um casal de
segredo que não passa despercebido).
hipsters em viagem cultural. Embora o modelo seja
Da arte dos tachos à arte da ilustração, a Favorita funciona
original, a verdade é que o conceito Favorita encontra
como uma extensão da galeria Dama Aflita, o projecto
pares lá fora. Uma espécie de Ace Hotel à portuguesa, a
pioneiro de Júlio Dolbeth e Rui Vitorino Santos.
atmosfera da Favorita é informal mas cuidada, e o espaço
Em paralelo com as inaugurações das exposições na Rua
está pensado para se adaptar às várias modalidades do
da Picaria, a Favorita terá vitrines especiais para mostrar
viajar. Se os quartos são perfeitos para paragens mais
os trabalhos dos artistas convidados. Tudo em família,
curtas, as suites, espaçosas e versáteis, são tão
portanto. Que é o que se quer quando se sai de casa,
convidativas e confortáveis que, numa estadia mais longa,
sem nunca deixar o ninho. e www.pensaofavorita.com
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MARGIELA NAS VINHAS SUITE L'ILE AUX OISEAUX BY MAISON MARTIN MARGIELA, L E S S O U R C E S CA U DA L I E H OT E L & S PA
Para celebrar dez anos de vida, o hotel Les Sources de Caudalie, berço do “Bucochic”,
e surpreendente, com contornos de sonho. E em branco. TEXTO MADALENA GALAMBA
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L'Ile Aux Oiseaux. Um encontro improvável
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convidou a Maison Martin Margiela para intervir na sua mítica suite
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design :: spot “remodelação” de uma das nove suites do Caudalie, a idílica L'Ile aux Oiseaux, a uma maison que é símbolo de vanguarda e provocação inteligente, como a Margiela. Mas foi isso mesmo que fizeram, para comemorar os dez anos do hotel. Um efeito inesperado que era precisamente o que se esperava de um par de visionários como os Tourbier. Na ilha dos pássaros, existem aves, muitas aves, e duas cabanas de madeira assentes em longilíneos pilares. Foi aqui, neste cenário próximo do sonho, que a Maison Martin Margiela deu largas à sua imaginação surreal. Jogos de espelhos, efeitos trompe l'oeil, brancos, brancos e mais brancos, combinados com cinzentos, pratas e pretos, que fazem parte do espólio da marca, foram levados para o campo do design e encontram aqui o ambiente perfeito para se exporem e desdobrarem em sentidos. O cenário, romântico, mas também misterioso e até certo ponto terrorífico, era propício ao desenrolar do pano onírico, marcado pelas referências surrealistas. Nelas, o sofá Bocca, vermelho garrido e sedutor sob fundo branco, é talvez o sinal mais óbvio desta atmosfera que partilha a matéria dos sonhos. Antes da intervenção da MMM, a suite era o esperado. Um lugar “em harmonia com a natureza”, com os interiores reflectindo temas marinhos. Agora, com o chão e o tecto pintados de branco, os cadeirões vintage cobertos de telas brancas, a cama e as suas doze almofadas brancas, cosidas para formar uma cabeceira acolchoada, é tudo menos o que se espera. O minimal nunca foi tão dramático, a ilusão nunca foi tão cristalina, como as portas “haussmanianas” em trompe l'oeil (Paris em Bordéus), ou o chão da casa de banho, também “a fingir”,
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e também a transportar-nos para outro lugar.
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O QUE TÊM EM COMUM um dos Spas
Talvez seja isso, afinal, o “voyage immobile”
de vinoterapia mais famosos do mundo e o criador
que o Les Sources Caudalie propõe. Viajar para longe
de moda mais misterioso do planeta? Aparentemente,
ficando incrivelmente perto dos centros urbanos,
pouco ou nada, mas é aí que está a graça e a surpresa.
ou viajar sem (quase) sair de casa.
A poucos quilómetros de Bordéus, o Les Sources
Afinal, para além do “minimalismo e da elegância”
Caudalie Hôtel & Spa é um refúgio bucólico no meio
o hotel e a maison têm mais em comum do que
das vinhas, uma casa de família transformada em hotel
aparentam. Para além do lado ilusionista, o outro ponto
de cinco estrelas, onde os códigos do luxo se recriam
forte do espaço é a recuperação de mobiliário antigo
num ambiente cálido e acolhedor. Berço do “Bucochic”
(como as poltronas anos 50) e outros adereços, como os
– um encontro entre os encantos campestres
espelhos, de tamanhos e formatos diferentes, que
e a elegância à francesa – o hotel oferece tratamentos de
cobrem as paredes da casa de banho, ao lado da
vinoterapia de primeira, e para o equilíbrio perfeito,
banheira solitária. Uma noite na suite dos pássaros,
cozinha de primeira, pela mão do Chef Nicolas Masse.
griffée Margiela inclui pequeno-almoço, um jantar
Ou seja, um clássico. Por tudo isto, não deixa de ser
no restaurante La Table du Lavoir, e um presente
surpreendente que os donos do hotel, os inspirados
com a assinatura MMM. Num lugar assim,
Alice e Jérôme Tourbier, tenham entregue o projecto de
uma nuit blanche nunca será em branco. e
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culto :: blogger
ALFAIATE LISBOETA: UMA HISTÓRIA SIMPLES Durante o dia, é um bancário recém-trintão numa agência da Terrugem, Sintra. À noite, assume o seu alter ego, o Alfaiate Lisboeta, com poderes para separar o que é estilo próprio e mera excentricidade. Depois espraia-o num blogue de culto: www.oalfaiatelisboeta.blogspot.com. TEXTO E FOTO NUNO MIGUEL DIAS
Blogues de street fashion há muitos. O fenómeno terá ganho outra dimensão com a edição do livro Fruits (inspirado na fanzine japonesa homónima, existente desde 1994) e da sua sequela, Fresh Fruits, pela Phaidon. O fotógrafo Shoichi Aoki pretendera documentar a street fashion que, então, explodira nos subúrbios de Tóquio. Mas depressa a coisa passou a culto espalhado pelo mundo. Multiplicaram-se as publicações em papel, os sites e os blogues, descobriu-se que, em quase todas as capitais do planeta, havia quem optasse por não seguir os ditames da moda para criar o seu próprio estilo. Com muito estilo. José Cabral, ou o Zé, como insiste em ser chamado (respeitemo-lo), documenta fotograficamente aquilo que lhe chama a atenção. Não nega, porém, que sempre tenha tido algum sentido estético. Vê-se. No blogue, portanto. Que poderia ser mais um de street style se não fossem os textos. Onde põe o coração. Assume-o. Mais do que as fotos. Que, não sendo acessórias para quem lê, são-no quase para quem escreve. Ou não? “Procuro ter sempre a máquina por perto. Se vir algo que me chama a atenção, tiro a foto. Até porque se não o fizer, não tenho blogue”, diz, por um lado, mas por outro, frisa: “Sou mais da escrita. É o que gosto de fazer. As coisas saem-me com paixão e creio que é essa a grande razão para o feedback”. Na verdade, o que torna o Alfaiate Lisboeta verdadeiramente interessante é o facto de não ser um mero blogue de street style, embora o possa parecer à primeira vista. Há textos com sentimento. O que o torna, também, único. Ilustrando o post comemorativo do 1.º aniversário do blogue, uma foto do Zé, o próprio, envergando a samarra do pai, e o texto: “Ocorreram-me inúmeros motivos para não o fazer. Não perceber um cú de fotografia, nunca ter tido uma conversa profissional sobre moda, trabalhar na pacata localidade da Terrugem (que aposto, uns bons 90% de vós não faz ideia onde é) e, na altura, não ter sequer máquina fotográfica.” Mas havia que criar: “A escrita fala sempre mais alto. Tenho o bicho. Não sou nenhum ‘fashionista’, não domino os termos de moda, escrevia umas coisinhas. Andava entretido, como se costuma dizer. Mas sentia que havia aqui um lado criativo por explorar. O blogue despertou-o. Era um hobby que, entretanto, se tornou uma paixão.”. Como todo o blogger digno desse epíteto, considera O Alfaiate Lisboeta um filho: “Toma-me tempo, ando com ele ao colo e tem-me dado muitas alegrias.”. Pois claro. O Zé tem, afinal, uma crónica diária no jornal Metro e diz que há muita coisa a acontecer desde que O Alfaiate está na blogosfera. “Não vou dizer que não quero ganhar dinheiro com o blogue ou que não gosto da fama, se assim se pode chamar. Mas estou a ser absolutamente sincero quando digo que é, em termos humanos, ele que mais me preenche.
serem fotografadas por mim e hoje, por causa disso, têm a cara numa campanha publicitária.” Às pessoas que fotografa, protege-as, apagando os comentários ofensivos. Quando estes se lhe dirigem pessoalmente, deixa-os. Às fotos, trata-as no Picasa em dois passos: Corta (para enquadrar) e selecciona a opção “I Feel Lucky”. Diz acreditar que, olhando-as, poderia pensar-se num qualquer outro fotógrafo. Os textos, esses, são seus.
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poderia ser de outra maneira. É um blogue com boas vibrações, que está ali para o bem e não para o mal. Eu não critico ninguém, toda a gente sorri e isso retorna. Há pessoas que perderam cinco minutos da sua vida para
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As pessoas escrevem-me com coisas inacreditáveis, que me sensibilizam imenso e me dão ânimo. Mas não
Inconfundivelmente seus. Como deve ser. O que o move? O ímpeto criativo, pois então. 107
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Os Fanfarlo nos bastidores, antes do concerto em Lisboa.
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OS DAVIDS FAZEM DÓI-DÓI NOS GOLIAS TEXTO E FOTO NUNO MIGUEL DIAS
SEI DA HISTÓRIA POR ALTO. Como quase toda a gente.
trabalho a encontrar (abençoadas K7’s gravadas a partir de cada
E, como quase toda a gente, não me dei ao trabalho
disco emprestado), porque as rádios e as televisões não lhes
de consultar os autos que dão conta dos pormenores mais
concediam visibilidade. Continuar a existir “Música Alternativa”
sórdidos, com requintes de CSI Capital-de-Estado-Qualquer
depois do advento da Internet é, porém, e tão somente, ridículo.
(chamada de atenção para o ligeiro estrabismo de Daniela
Só estagna quem quer. É preciso ser-se muito desinteressado
Ruah), dos acontecimentos daquela noite, na mansão Polanski.
para ouvir, apenas, aquilo que convencionalmente nos é posto
Sharon Tate, grávida do realizador, e seus convidados (não
à frente, qual cenoura diante do asno. Small is beautiful, claro
importa quantos), foram executados por Charles Manson e seus
está e, nesse campo, surgem os Fanfarlo. Tão putos como
“seguidores”, de forma tresloucada.
os outros, tão na linha de uns Beirut como tantos, tão bons
A coisa meteu tanto sangue que os meliantes não precisaram
como poucos. A humildade feita jeitinho que se pôs em prática
de levar tinta para escrever “salmos” ou “máximas” ou lá
num Lux-Frágil à pinha, delirante, de letras cantadas em
o que fosse, pelas paredes da casa. Uma delas, “pincelada”
uníssono. Os Fanfarlo acabaram, ali, a sua digressão de um ano
na divisão onde jazia a bela Sharon, “Helter Skelter”, o título de
e qualquer coisa. Regressaram a casa para gravar novo disco.
um tema do quarteto de Manchester. Os Beatles, que têm sobre
E um novo disco dos Fanfarlo é sempre uma coisa boa para
as suas espaldas o peso do epíteto de Maior Banda
o Mundo. Mesmo quando, no mesmo dia, se sabe que Charles
de Sempre são, pois, os mais plagiados, imitados,
Manson, o safo, cumprindo o seu 40.º ano de prisão perpétua,
reinterpretados e, como tal, donos do copyright dos mais
lançou um disco. Chamou-lhe “Air”. Ouvi-o, por curiosidade.
famosos temas do mundo. Mesmo quem não simpatize muito
E air foi coisa que só me chegou à faringe depois de ter arrastado
com os franjinhas e ache que eram apenas um bando de
a pasta para o trash!
e
fedelhos a quem foi dada uma oportunidade que outros, tão ou mais merecedores, não tiveram, sabe muito bem quem escreveu “Hey Jude” ou “Strawberry Fields”. Provavelmente, saberão que “Lucy in the Sky with Diamonds” é uma analogia ao LSD. “Helter Skelter” é, porém, tema celebrizado por Charles Manson, o mafarrico. Até os U2, esses que também já foram razoáveis e agora são Banda Sonora de Salão-de-Cabeleireirade-Bairro-num-Primeiro-Andar-com-Fotos-de -
em seu torno que apenas música. Quando uma banda é BIG,
“CONTINUAR A EXISTIR MÚSICA ALTERNATIVA DEPOIS DA INTERNET É, TÃO SOMENTE, RIDÍCULO.
vem sempre com o bónus do cor-de-rosa da música, ou porque
Só estagna quem quer. É preciso ser-se
versão do mesmo e chamando a atenção: “Esta é uma canção que o Charles Manson roubou aos Beatles, nós estamos a roubá-la de volta”. Que digno e louvável da parte do Sr. Bono que, anos mais tarde, quase se ajoelhava em frente a George W. Bush numa lamentável cena almost porn em horário nobre. Os grandes sempre foram os grandes. Ou seja, há muito mais
o vocalista namora com a modelo X, ou porque o baterista adora a droga Y. Nos meus anos 90, estava muito em voga
muito desinteressado para ouvir, apenas,
a “Música Alternativa” ou, por outras palavras, Gente que Fazia
aquilo que convencionalmente nos é posto
Música Ponto Final. Não era um género. Até porque a havia dos mais diversos quadrantes, mas dava
à frente, qual cenoura diante do asno.”
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Rattle & Hum, duplo que marcou o princípio do fim, com uma
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Permanentes--Coladas-nos-Vidros-das-Janelas, iniciaram o seu
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Expos ... E PROPOMOS ALGUMAS EXPOSICOES QUE NAO VAI QUERER PERDER. NENDO STUDIO
C O O R D E N A D A S S O LTA S Nendo Studio, o atelier japonês que soma trabalhos de arquitectura e design, com assinatura em lojas, cafés ou restaurantes, muitas peças para marcas reputadas e um conceito que visa oferecer aos sentidos pequenos grandes momentos, está em Londres para duas mostras. Na Phillips de Pury & Company da Saatchi Gallery apresenta-se com Thin Black Lines, uma colecção que explora linhas, contornos, dimensões, espaço, faces, formas, movimento… aspectos subtis de relevo para os designers do Nendo. À Phillips de Pury & Company, na Howick Place, traz Blurry White Surfaces, um conjunto de peças que exploram técnicas e materiais invulgares, manipulam texturas e criam objectos ambíguos... Duas exposições de entrada livre. The Aram Gallery, uma sala londrina que promove a compreensão do design contemporâneo, convida-nos para a retrospectiva que explora o processo de trabalho, pensamento, motivação e inspiração da designer Ineke Hans. Uma série de objectos que falam por si, esta Mind-Sets, INEKE HANS
a primeira mostra a solo da artista holandesa na capital do Reino Unido. Boa notícia para quem vai a Paris ou bom pretexto para marcar voo. Se em Versailles a arte nos leva para lá de tudo o que é possível imaginar, agora que hospeda esculturas do provocador Murakami, a sensação é indescritível. O grito da inspiração do artista japonês sobre a sumptuosa atmosfera dos salões do Palácio, é duplo privilégio qui s’appelle Exposition de Takashi Murakami au Château de Versailles. A edição de 2010 do Pop Up Lisboa, sob o tema Nómadas Urbanos, reúne uma centena de criadores portugueses e estrangeiros, desafiados a intervir através da arte em mais de dez locais da cidade. No centro está o Palácio Verride, que será o “Laboratório Pop Up”. Arte para saborear à sobremesa oferece a Fundação Calouste Gulbenkian, dentro do programa Descobrir. São as visitas Uma obra de arte à hora de almoço, que podem ter lugar nos vários núcleos da Fundação. Em Novembro, estão já agendadas a Gema Romana, dia 3, às 13h30, no Museu Calouste Gulbenkian; A menina vestida de República no Carnaval de Joshua Benoliel, dia 5, às 13h15, no Centro de Arte Moderna, e o Afago de Sílvia Moreira, também no CAM, dia 19, às 13h15. As visitas são gratuitas e guiadas e, em Dezembro, prosseguem. Investigue-as no site da Fundação. NENDO STUDIO, THIN BLACK LINES, Phillips de Pury & Company na Galeria Saatchi, Londres, até 31 de Outubro, www.saatchi-gallery.co.uk
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NENDO STUDIO, BLURRY WHITE SURFACES, Phillips de Pury & Company, Londres, até 31 de Outubro, www.phillipsdepury.com
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INEKE HANS, MIND-SETS, PRIVATE VIEW, The Aram Gallery, Londres, até 30 de Outubro, www.thearamgallery.org
D E S I G N
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EXPOSICAO DE TAKASHI MURAKAMI NO PALÁCIO DE VERSAILLES, Palácio de Versailles, Paris, até 12 de Dezembro, www.chateauversailles.fr
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POP UP LISBOA 2010, Nómadas Urbanos, Palácio Verride, Lisboa, de 4 de Novembro a 11 de Dezembro, www.popup-city.com
B L U E
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Fundação Calouste Gulbenkian
UMA OBRA DE ARTE A HORA DE ALMOCO, Programa Descobrir, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, www.gulbenkian.pt
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BD15-Livros.qxd:BD-EXPOS e LIVROS_5 10/15/10 12:47 PM Page 111
como designer de produto no Rio de Janeiro,
The Essential Guide to Resourceful Living: With over 500 tricks, tips and inspirational
10 CURATORS, 100 CONTEMPORARY ARTISTS, 10 SOURCES
É o último ‘Cream’ da editora Phaidon. 10 Curadores convidados pela sua experiência,
designs é o subtítulo de mais um livro
competência e reconhecido mérito nas lides
de Henrietta Thompson, autora
da arte moderna.
de um sem número de textos publicados
100 Artistas Contemporâneos escolhidos
em revistas e jornais do mundo, sobre
a dedo pelos 10 Curadores, nomes
de ajudar na nova era de desenvolvimento
arquitectura e design.
que provocam os sentidos, uns já reconhecidos
de produtos e do comportamento
O seu terceiro livro agrupa uma série
no panorama internacional, outros a emergir,
do consumidor.
de óptimas e felizes ideias para salvar
todos de diferentes idades e nacionalidades.
Se o verde é hoje a cor do mundo, o conceito
o Planeta, para evitar desperdiçar dinheiro
10 Sources, a secção que apresenta obras
de Sustentabilidade não pode ser moda
e para ter o imenso prazer de levar por diante
fundamentais, seleccionadas
passageira. Cada vez mais pessoas procuram
soluções efectivas, com a inspiração única
pelos curadores, de relevante influência
informações e soluções ecológicas
que só o design nos oferece! Um série de
para as artes dos dias que correm,
e os designers estão na linha da frente
projectos para executar em casa, reciclando
fontes de inspiração que contextualizam,
com produtos elegantes, eficientes e de baixo
e recriando objectos, explicados passo-a-passo
e bem, o trabalho dos artistas contemplados
impacto ambiental. Por isso, Dalcacio Reis
e, claro, ilustrados com a mestria e a arte
e agora de parabéns.
revela neste livro quase duas centenas de
do designer Neal Whittington.
Maravilhoso este Creamier, recheado
projectos inovadores e premiados, amigos do
Um manual útil, que apesar de editado em
de imagens e prosas, a deixar-nos gratos
ambiente, e desenvolvidos em mais de 20
inglês, não oferece dificuldades em seguir,
ao infinito génio criador. 28€
países, por reputados ateliers ou empresas de
e que pode fazer um sucesso como presente
design, que atestam a notória revolução no
de Natal. 19€
antes de ingressar na Ana Couto Branding & Design. Depois de gerir vários projectos na América Latina, ingressou num MBA em Negócios Sustentáveis, com o intuito
design de produto sustentável e acrescentam esperança num futuro mais são. 27€
D E S I G N
Dalcacio Reis nasceu no Brasil e trabalhou
HENRIETTA THOMPSON ILUSTRACOES NEAL WHITTINGTON
CREAMIER CONTEMPORARY ART IN CULTURE
B L U E
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PRODUCT DESIGN IN THE SUSTAINABLE ERA
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111
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B L U E
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D E S I G N
POR ORDEM ALFABETICA, O ELENCO DE DESIGNERS QUE PARTICIPAM NESTE NÚMERO
113
BD15-SNEAK PREVIEW:BD15-SNEAK PREVIEW 10/15/10 12:49 PM Page 114
SNEAK PREVIEW
Espreitamos pelo buraco da fechadura e mostramos-lhe o design que há-de vir. E que muito pouca gente viu.
RELÓGIO TWINKLE, ASTRID KROGH
O relógio Twinkle é um sol de neon. O núcleo é um disco de aço cortado a laser.
São intervenções contemporâneas, a uma escala macro (nas fachadas de edifícios
D E S I G N
Os raios são tubos de neon, verdes e fluorescentes. Electrizantes e dóceis.
públicos) ou na intimidade do contexto doméstico (o relógio Twinkle, apresentado
É um projecto recente de Astrid Krogh, a dinamarquesa que estudou Textile
em Milão, é um dos seus projectos mais facilmente industrializáveis). Ela remistura
Design e um dia viu a luz. Claro que para Astrid, os fios de lã ou os fios de luz
motivos e referências nórdicos (haverá povo que goste mais de luz, ou luzinhas?)
são exactamente a mesma coisa. São material para compor padrões,
e redesenha-os em tubos de luz, fibras ópticas e modernos LED. Das paredes dos
B L U E
Padrões de luz em tecidos luminosos.
museus à nossa sala de estar, a magia maravilhada da luz para descobrir
114
No cruzamento entre o craft e a tecnologia, Krogh apresenta trabalhos que vêm
no próximo número da blue Design.
na continuidade tradição ornamental nórdica e ao mesmo tempo a actualizam.
WWW.ASTRIDKROGH.COM
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qlink
速
www.sograpevinhos.eu
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www.fluxodesign.com