Sala de Arquitetos - Edição 47

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2022/ED47

MAGAZINE SALA DE ARQUITETOS I ED47/2022


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HALL Vanessa Reiriz

Mariana Marchioro

Andressa Barroso

Mirela Ampezzan

Coleção de arte e de memórias

Terapia do aconchego

Um clássico para celebrar a fé

Dia de festa, dia de casa cheia

Apartamento | 50

Consultório | 74

Estar e Jantar | 78

Salão de Festas | 54

Gabriela Meletti e Grasiele Forini

Realidade virtual

Contrata-se arquitetos para o metaverso

Um olhar para o conforto

+ED47

Ótica | 38

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Tecnologia | 94

Ale Mosna

Apartamentos antigos

Juntos e cada um no seu espaço

Experiências de quem mora na história

Espaço Integrado | 12

Estilo de vida | 60

Arte

Cristiane Pinto

Meu Lugar

A coleção de Paulo Sartori

É noite. E a noite é de gala

Adriane Karkow além do clássico

Acervo | 70

Acervo | 90

Perfil | 58

Flávia Junges, Um jantar de chef. 10 | Bruna Rossi e Suelen Miglioranza, Tranquilidade no consultório odontológico. 16 | Mégui Dal Bó, Um pedaço da Tailândia em Caxias. 22 | Clarissa Zanatta, A beleza inspirada pela natureza. 24 | Saymon Dall Alba, Concreto, ferro e caramelo. 28 | Enio Stumpf, Clima de hotel para curtir em casa. 30 | André Rigoni e Tatiana Biffi, Design para um designer. 34 | Fernanda Bertolucci Rossi, Acústica para isolar, frames para integar. 42 | Lisi Caberlon, Desligue o celular e curta a vista! 46 | Caroline Formentini, Ser criança é divertido. Crescer, também! 64 | Adriane Cesa, Tons de areia e duas praias na janela. 66 | Elisangela Selau, A função do quarto em cada idade. 76 | Catia Giachelim, Conforto contemporâneo. 82 | Bianca Mattana, Luz sobre a renovação. 86 | Silvana Garcez, Cores da sofisticação. 96 | Daniel V. Pontalti, Madeira, do estado bruto ao MDF. 98 | Felipe Gargioni, Escolhas certeiras do minimalismo. 104


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MARCAS APOIADORAS

O encontro é a base de uma associação. Há 24 anos, o debate e a colaboração mútua nos mantêm juntos e em evolução. Em quase todo o período dessa última gestão, a pandemia de covid-19 impossibilitou nosso encontro. Agradecemos aos nossos colegas associados que nos motivaram e atravessaram conosco essa fase difícil. O afastamento físico também mostrou que a união está acima da reunião. Nos aproximamos como foi possível, buscamos outras formas de conversar, fortalecemos, de longe, nossas parcerias. E chegamos unidos até aqui. Hoje celebramos, mais do que o lançamento do Magazine 47, a conquista de estarmos, literalmente, juntos de novo. O recuo da pandemia já vem possibilitando, neste ano, nossas reuniões. Mas este evento tem um significado maior: ele oficializa o reencontro. Afastar-se do convívio social também foi um incentivo a cada um olhar para dentro de si mesmo. Nesta edição do Magazine, esse olhar atento se reflete em melhorias importantes. Cada arquiteto encontrará aqui mais personalidade na apresentação do seu projeto e, provavelmente, um retrato mais fiel do seu trabalho. Os textos estão mais longos, é verdade. Mas certamente valerá a pena, especialmente para quem contrata os nossos serviços, ler cada linha. Desejamos a você, leitor, que esta revista seja um compilado de tendências e referência de bons profissionais para o seu próximo projeto. O Magazine também ganhou novos espaços, como um perfil do arquiteto, na seção Meu Lugar e o perfil de marca, na seção Vitrine. Ambos são dedicados a mostrar seus protagonistas com mais profundidade. O projeto Magazine é mais do que a publicação de uma revista. A organização de cada edição também estrutura o nosso planejamento financeiro e agenda de eventos. Agradecemos aqui a quem torna possível um cronograma intenso de reuniões durante o ano: nossos parceiros. Nessa edição, passamos a chamá-los de marcas apoiadoras, e não mais de convidados do Sala. Também porque, nos encontros que movimentam nosso calendário, eles são muito mais anfitriões do que convidados. Convidados somos nós, os arquitetos. E somos sempre muito bem recebidos. Boa leitura! Gabriela Meletti Presidente da Sala de Arquitetos

Gestão 2022/2023

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GESTÃO 22/23

EXPEDIENTE

Presidente: Gabriela Meletti Vice-presidente: André Rigoni 1º Secretário: Enio Stumpf 2ª Secretária: Flávia Junges 1ª Tesoureira: Ale Mosna 2ª Secretária: Andressa Barroso Comissão de Comunicação e Marketing: Bruna Rossi e Grasiele Forini

Comissão editorial: Bruna Rossi e Grasiele Forini Fotografia: Fábio Grison e Guilherme Jordani Redação, entrevistas e edição: TXT Conteúdo Jornalista Responsável: Marcelo Aramis (MTB 20387) Projeto editorial e produção: TXT Conteúdo

CIC Caxias do Sul Rua Ítalo Victor Bersani, 1134

Impressão: Editora São Miguel Tiragem: 2.500 exemplares EDIÇÃO 47 | Junho/2022

saladearquitetos saladearquitetos.com.br

Anuncie! secretaria@saladearquitetos.com.br 54 99657.0077

CAPA: Projeto ARQ. Mariana Marchioro Foto: Guilherme Jordani


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NOTAS

Patinhas: 56 sonhos da casa própria Desde o ano passado, oito voluntários do Instituto Patinhas (@institutopatinhascaxias) realizam um trabalho fundamental para amenizar um problema social, urbano e de saúde pública em Caxias do Sul: o abandono de animais. A iniciativa recolhe cães abandonados, ou vítimas de outros maus tratos, e loca lares temporários. Já são 56 cachorros aguardando por um lar. O recurso, que vem de doações, vendas de produtos e ações com a comunidade, poderia ser otimizado se a instituição tivesse seu próprio espaço. E é na semente desse sonho que o trabalho voluntário da Sala de Arquitetos pode ajudar. Ainda falta terreno para acolher a iniciativa. Mas o projeto, para ajudar a vender essa ideia, já está na mão da instituição. Criado pelas arquitetas associadas Camila Sirtori, Larissa Kanopp, Manoela Corso, Simone Martini e Suelen Miglioranza, o projeto foi pensado para uma área de aproximadamente 720m², com a estimativa de ter 32 casinhas para os animais (com pátio coletivo) e área de estacionamento. O layout prevê recepção, sala administrativa, ambulatório, lavanderia, sala pós-operatório e de procedimentos veterinários simples.

Como ajudar O Instagram do @institutopatinhascaxias divulga de diversas oportunidades para adoção dos cães. Lá também estão à venda os produtos da instituição, como camisetas, cadernos e canecas, renda essencial para manter o projeto. Quem quer ajudar, mas não pode adotar, também pode apadrinhar um dos cães. A proposta é uma contribuição mensal para custear os gastos do afilhado.

Obras no Recanto Com projeto que teve a participação de associados da Sala de Arquitetos – nos projetos da recepção, espaço do Conselho do Idoso e lavabos – as obras do lar de idosos Recanto da Compaixão Frei Salvador seguem em execução, com previsão para término em novembro de 2023. No momento estão em acabamento as novas estruturas de sustentação da área antiga do prédio. O fechamento lateral está praticamente finalizado, faltando apenas a colocação do gradil. As obras das áreas novas, um total de 400 m², estão na fase de fundações. O espaço vai englobar ambiente de lazer, solarium e central

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Sala para formandos de resíduos. A conclusão está prevista para setembro deste ano. Em paralelo, ocorre o trabalho de cobertura do prédio, finalização das paredes internas, instalações elétricas e hidráulicas e revestimentos. Considerado a maior obra social da Serra Gaúcha, o Recanto da Compaixão Frei Salvador pretende abrigar 125 idosos em situação de vulnerabilidade social. O lar de idosos tem uma área de 3.320,95 m² e ocupa o antigo prédio do INSS, na rua Pinheiro Machado, em São Pelegrino. A iniciativa é encabeçada pela Associação Mão Amiga, com apoio de diversos voluntários, como os arquitetos da Sala.

A Sala de Arquitetos inicia no próximo semestre uma aproximação mais intensa com a academia. O projeto Sala na Sala de Aula é um bate-papo de associados com formandos em Arquitetura nas instituições de ensino superior da nossa região. Sem a formalidade de uma palestra, a proposta não é levar teorias ou fórmulas de sucesso, mas apresentar experiências reais no mercado de arquitetura. Entre as pautas úteis a quem está prestes a iniciar nesse mercado, conversaremos sobre criação de portfólio, captação de clientes, precificação de honorários, etc. A ideia é também apresentar a associação como ambiente fértil para o crescimento profissional de arquitetos em qualquer estágio de carreira.


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ARQ. FLÁVIA JUNGES | COZINHA

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JANTAR COM PLATEIA O projeto da cozinha desse casal foi integrado à área social para que o preparo da refeição fizesse parte da experiência do jantar Quando um chef cozinha especialmente para você, o espetáculo começa muito antes de o seu prato chegar à mesa. E essa parte do show, o preparo, é o centro desse projeto. O briefing pedia uma cozinha à altura do compromisso de ser o principal lugar da casa e um layout que permitisse interagir com os convidados em meio ao preparo da refeição. Do lado de cá da bancada, o ambiente de quem assiste, ganhou o mesmo cuidado: foi projetado para prestigiar os amigos do casal – ela, chef formada internacionalmente. Em casa, a tarefa de cozinhar não é trabalho: é prazer em receber bem. É talento compartilhado.

Flávia optou por móveis sob medida com diversos aramados e compartimentos para facilitar a organização dos instrumentos. Os armários remetem ao estilo provençal e contam com acabamento em laca fosca. Um tom de cinza mais quente no mobiliário dá aconchego ao espaço e evidencia os itens escolhidos para ficarem expostos nas portas de vidro. Além da funcionalidade e praticidade para quem cozinha com habilidade profissional, o projeto também levou em consideração a leveza e a elegância, obtidas através da combinação de revestimentos com cores sóbrias e características clássicas.

Com integração da cozinha à área social, o projeto também valoriza o bem-estar da “plateia”. Bancos em couro caramelo proporcionam o conforto dos convidados e também aquecem a paleta de cores. A iluminação foi projetada conforme a demanda de cada espaço. Na área de trabalho, a luz funcional e direta tem temperatura de cor adequada ao preparo profissional dos alimentos. Já na área social da cozinha, a luz ganha tons e estratégias mais relaxantes e aconchegantes para quem aguarda o prato e aguça o paladar saboreando um bom vinho. Co-autoria: Adriel de Oliveira

CARAMELO As cores são neutras na maior parte do projeto, com exceção do couro caramelo, usado nas banquetas e suportes das prateleiras, que dá um toque de aconchego ao ambiente.

Juliano Mendes

DIVISÕES INTERNAS Os móveis foram feitos sob medida com diversos aramados e compartimentos para facilitar a organização e visualização interna. Dessa forma, foram deixadas divisórias adequadas aos diversos utensílios e temperos usados pela chef.

Marcas Apoiadoras

Casa Serra Acabamentos DR Móveis Renda Decorações

ARQ. FLÁVIA JUNGES flajunges_arq 54 98125.9092 Magazine Sala de Arquitetos | 2022/ED47 | 11


ARQ. ALE MOSNA | COZINHA, SALA DE JANTAR, DE ESTAR E BRINQUEDOTECA

ESPAÇO PARA TODOS

Grande área integrada envolve crianças e adultos para os melhores momentos em família

Nossa rotina atribulada transforma a reunião de família em evento. Foi pensando nos momentos que compensam o pouco tempo de encontro durante a semana que os clientes – pais de gêmeas, de quatro anos – investiram nesse espaço integrado. O projeto, criado para agradar os adultos e as crianças, tem clima de fim de semana. Aos sábados e domingos a família aumenta, recebe os amigos e parentes e investe em algo especialmente valorizado nos dias atuais: a qualidade de tempo que passam juntos. Na nossa região, o melhor lugar para receber alguém, ou mesmo reunir a família, é em torno da mesa. E o layout deu atenção especial ao espaço de refeições. A cozinha foi para o lugar onde antes havia uma varanda externa e possibilitou um ganho de 25 m² ao espaço integrado e novas possibilidades ao jantar. Iluminada por cinco grandes pendentes de vidro e com um tampo imponente de madeira maciça e borda orgânica, a mesa ganha a legitimidade do papel de reunir. Por questões estruturais, a churrasqueira não poderia ser realocada. Na nova configu-

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ração, fica no espaço de jantar e ocupa o merecido destaque na refeição mais tradicional dos gaúchos ao receberem convidados. Ao redor do churrasco, ou em qualquer extremo da área total de 70 metros quadrados, a convivência é prioridade, com atrações específicas para cada faixa etária. No espaço de transição entre o estar e o jantar, há uma grande cristaleira e um bar em casa, inspirado nos botecos brasileiros. A diversão dos adultos conta com cervejeira e adega climatizada. À vista dos pais, as crianças também se divertem em um lugar pensado especialmente para elas. Criada como extensão da área de estar, a brinquedoteca aproveita o espaço debaixo da escada com uma casinha. Vizinhas à “casinha de verdade”, outras duas silhuetas de casas são quadros negros para desenhos. Quando esses elementos lúdicos não fizerem mais sentido à idade das gêmeas, o espaço pode se dedicar aos games. Do outro lado da escada, uma bancada dupla otimiza a área e atende aos pais com um home office. No futuro, servirá também para o estudo das filhas. A ideia principal do

projeto é que os familiares estejam sempre juntos. Perfis longilíneos de LED desenham a integração e uma iluminação especial atende às funções de cada área. Crianças e adultos ocupam seus espaços favoritos e a TV acompanha quem estiver com o controle. Um móvel idealizado em estrutura de ferro, pedra natural e iluminação embutida tem tela giratória que pode ser assistida tanto da área de refeição quanto da área de estar. O volume que abriga o lavabo, recebeu revestimento em painel ripado, inclusive na porta: o que crianças veriam como passagem secreta também satisfaz adultos pela discrição. Além do layout totalmente integrado, os acabamentos também mudaram para atender à nova proposta. O piso, antes porcelanato polido, agora é vinílico, sendo madeirado no ambiente da sala e brinquedoteca. Para a cozinha, a escolha foi vinílico cimentado que, junto à marcenaria executada em melamina, garante fácil manutenção, funcionalidade e alta resistência. Porque é um espaço para aproveitar, muito, cada metro quadrado.


FAMÍLIA REUNIDA A proposta do projeto foi unificar espaço da cozinha, refeições, sala de estar e brinquedoteca para garantir momentos de lazer entre pais e filhas.

GIRO O móvel com TV giratória que pode ser assistida tanto da área de refeição quanto da área de estar foi incluído no espaço.

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PENSANDO NO FUTURO A brinquedoteca foi projetada para ser adaptada conforme as crianças crescerem, com um quadro negro e uma bancada para que elas futuramente possam fazer os trabalhos de escola.

ESCONDER E REVELAR Lavabo é revestido por um painel ripado. A estratégia da destaque ao volume desse ambiente na área integrada e discrição à porta, que tem o mesmo acabamento.

Marcas Apoiadoras

Casa Serra Acabamentos Lizt Villafranca 14

ARQ. ALE MOSNA alemosnaarquiteta 54 99986.9073


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ARQ. BRUNA ROSSI E ARQ. SUELEN MIGLIORANZA | CONSULTÓRIO ODONTOLÓGICO

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BEM-ESTAR NO DENTISTA

Consultório equilibra linhas modernas com elementos de aconchego e otimiza o espaço para circulação inteligente Por mais tranquilo que você seja em relação ao dentista, a imagem que criou do consultório provavelmente combina tudo com a frieza do branco asséptico na cadeira, no jaleco, nas luzes, nas paredes quase hospitalares. Em geral, não se associa odontologia ao conforto. E esse projeto busca reverter esse estereótipo. O consultório tem tudo o que é inerente à profissão, mas entrega um cenário que abraça e conforta quem chega. O projeto partiu de uma sala crua, ainda sem acabamento no piso, com 50 metros quadrados e a demanda de otimizar o espaço em seis ambientes, com áreas independentes na circulação. A “tela em branco” manteve a cor dos dentes e dos consultórios tradicionais em pontos específicos, mas priorizou tons de aconchego. Na recepção, a primeira imagem para quem chega é o balcão de atendimento, com logotipo aplicado sobre uma parede cinza: neutra, mas com a amigável textura do cimento queimado. A base da mesa, com borda circular, ilumina com cores mais quentes um ripado amadeirado. O mesmo tom aparece em painéis em duas paredes. Atrás das cadeiras de espera, o branco, bem dosado no projeto, ganha destaque em revestimento cimentício. Os grandes volumes do 3D são evidenciados pela iluminação cênica no teto e pela fita de led oculta no painel amadeirado. Um jardim vertical dá leveza

ao espaço e abre uma “janela” para a natureza. Do outro lado, a porta por onde os pacientes são encaminhados ao atendimento, aparece discreta e revestida pelo mesmo ripado cinza da parede, um recurso que também amplia visualmente o espaço. Nesse ambiente, perfis de LED sobre a área de trabalho da secretária dão conta da iluminação funcional. As demais fontes de luz mantêm-se suaves e agradáveis à espera. Quando a porta em ripado se abre, não expõe a cadeira de dentista na primeira cena. Nesse primeiro espaço, o paciente é conduzido à mesa de escritório, em mármore. Atrás dela, prateleiras de madeira sustentadas por uma estrutura metálica têm iluminação amarela, que segue o clima da recepção. Na extremidade, mais espaços para o verde das plantas. O layout propõe uma divisão mínima entre essa entrada e a sala de atendimento. No eixo da organização em U, um espelho que reveste uma coluna, um ripado vazado e o mobiliário em cinza escuro brilhante dão uma amostra da atmosfera do ambiente seguinte: mais sóbria e mais técnica. Sobre o móvel entre as duas salas, uma TV gira 180 graus para auxiliar o dentista tanto na pré-consulta quanto nos procedimentos, em si. Também com perfis de LED no teto, porém mais potentes, a sala de atendimento complementa a luz natural das janelas do último andar do prédio, com vista para a Praça da Bandeira e

igreja São Pelegrino. Aqui, a iluminação prioriza a funcionalidade. Deixar tudo à mão para o dentista não se traduziu em, necessariamente, deixar tudo à mostra. Na grande bancada que auxilia nos atendimentos, o mobiliário longilíneo potencializa seu impacto na sensação de amplitude e limpeza visual: é reflexivo. Além do cinza brilhante na bancada, o vidro reflecta utilizado nos móveis superiores mantém oculto o conteúdo e as funcionalidades, como o dispenser de sabonete e de toalhas de papel sobre a pia. Entre os cinzas da base e do alto, o branco e a tridimensionalidade do painel destacado na recepção voltam em versão compacta, em porcelanato com leves volumes. O tampo, em silestone branco, completa a composição. Esse diálogo de texturas, volumes e cores ocorre também no lavabo, uma amostra do todo do consultório. O espaço tem painel ripado, plantas dispostas em estrutura metálica, dispensers ocultados por um avanço no espelho e um revestimento com volumes triangulares, como nos outros pontos onde o 3D é destaque. Do ambiente da secretária ou do dentista, não é preciso passar pela sala de espera para acessar a sala de esterilização. Antes de pensar em qualquer elemento visual, é o estudo de layout que garante a funcionalidade para o dia a dia. A estratégia de segmentação é capaz de isolar ou integrar os ambientes. E os acabamentos conectam tudo.

PARA ACOLHER Um clássico para tranquilizar, o verde foi uma das escolhas do projeto, que incluiu plantas artificiais no jardim vertical. A iluminação escolhida é mais suave e indireta para destacar volumes e criar uma atmosfera de acolhimento.

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TRANSIÇÕES Layout permite que a secretária e o dentista acessem a sala de esterilização sem passar pela sala de espera. Antes de chegar à cadeira do dentista, o paciente é recebido em um ambiente que migra, aos poucos, dos tons de aconchego para um clima mais técnico.

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REFLEXOS O espaço de procedimentos tem uma iluminação potente, tons mais sóbrios e atmosfera moderna. O cinza brilhante e o vidro dos móveis evidenciam reflexos e ocultam os conteúdos.

MOODBOARD O lavabo resume o conjunto da obra com ripados, plantas, revestimento 3D em volumes triangulares e espelho com iluminação de LED e dispensers ocultos.

Marcas Apoiadoras

Casa Serra Acabamentos

ARQ. BRUNA ROSSI ARQ. SUELEN MIGLIORANZA arqbrunarossi esse_arquitetura_e_interiores 54 99640.7044 54 99154.5029 Magazine Sala de Arquitetos | 2022/ED47 | 19


VITRINE |

DIÁLOGO ENTRE ALTA TECNOLOGIA E PRODUÇÃO ARTESAL:

PROPOSTA DA NATUZZI TAMBÉM TEM FOCO NA SUSTENTABILIDADE

No ano de 1959, em uma pequena oficina no sul da Itália, nasceu a Natuzzi, empresa fundada por Pasquale Natuzzi com a missão de criar valor com integridade. A marca traz em seu DNA o foco em qualidade, inovação, pesquisa, responsabilidade social e sustentabilidade. De pequena estofaria na Puglia a uma multinacional com sete fábricas e presente em 126 países, a Natuzzi cresceu apoiada nos seus valores. A participação familiar é o pilar que sustenta a tradição. O controle de 92% da cadeia pro-

NATUZZI EDITIONS

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dutiva, a qualidade dos materiais e a prototipia de todos os produtos desenvolvidos garantem o conforto almejado pelo grupo. Análises de mercado, time interno de designers e um centro de estilo próprio, além de parcerias com diversos estúdios e designers mundialmente conhecidos, consolidam a vanguarda e o pioneirismo da marca. Com mais de 60 anos, a marca, presente nos cinco continentes, segue retratando a harmonia perfeita entre a alta tecnologia e a

produção artesanal, em peças que privilegiam o conforto, a ergonomia e a estética apurada. A Natuzzi teve seu primeiro contato com terras brasileiras em 1999, quando instalou o parque fabril na Bahia para exportar para a Costa Leste dos Estados Unidos. Em 2008, iniciou sua expansão em território nacional e hoje conta com mais de 100 lojas e galerias no Brasil, com as marcas NatuzziItalia e Natuzzi Editions. Elas se somam a outros 22 endereços na América Latina.

Com produtos que são sinônimo de conforto, design de vanguarda e qualidade incomparável, a Natuzzi Editions produz peças que vão além da beleza e focam na vivência e no conforto extremo. Os estofados e camas em diferentes composições, cores, acabamentos e dimensões, surpreendem pela comodidade elevada. Além disso, a vanguarda tecnológica é um dos principais atributos da marca. Destaque para soluções de interface intuitiva, que promovem uma conexão perfeita entre usuário e estofado, oferecendo uma experiência de ergonomia e conforto customizável, acionado também por Bluetooth e aplicativo exclusivo. Ainda traz em seu portfólio os estofados Legiadro e Portento, únicos no mundo com certificação Ergocert de ergonomia, sendo a Natuzzi a única marca no mundo a receber tamanho reconhecimento.


NOVA COLEÇÃO | SUBLIME CONFORTO Versatilidade, design, ergonomia e, claro, conforto! A Natuzzi Editions consegue mesclar os atributos mais desejados em seus produtos. Conheça os novos itens da nova coleção em nossa loja.

POLTRONA POLI Uma concha detalhadamente projetada para oferecer o máximo de conforto e beleza: essa é a convidativa poltrona Poli. Ideal para embalar suas tardes ensolaradas com elegância e relaxamento extremo.

SOFÁ GREG Celebre o estilo italiano de Natuzzi Editions com Greg. Este sofá com formas delicadas une estética e versatilidade, ideal para todos os espaços. Com braços curvos, pés finos em metal e linhas simples e regulares, Greg é o equilíbrio perfeito da harmonia entre a tecnologia e o mais refinado design italiano.

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ARQ. MÉGUI DAL BÓ | SORVETERIA

Fotos: Luciano Mota

DOCE TAILÂNDIA

Projeto comercial serve “sorvete como você nunca viu”, clima de praia na Serra e uma experiência para curtir e compartilhar nas redes sociais Uma mistura líquida de leite, frutas e outros ingredientes é manipulada com habilidade sobre uma base gelada. O conteúdo vai sendo espalhado em lâminas até se solidificar. Então a camada é enrolada e servida com acompanhamentos diversos. Assim é feito o sorvete tailandês, um processo que, se você já viu, a primeira vez foi, provavelmente, em um vídeo no Instagram. O projeto dessa sorveteria convida a ver (e saborear) de perto, em um pedacinho da Tailândia em Caxias do Sul. E você também vai querer instagramar a experiência. Sorvete é sempre uma ocasião alegre. A paleta escolhida reproduz essa característica com a predominância do trio azul, amarelo e roxo. O refrescante azul do logotipo aparece em tons mais claros e mais escuros nos tampos das mesas e outros detalhes. O amarelo aquece o lugar. É uma cor simbólica na Tailândia e está relacionada à bonança e à boa sorte. Bom mo-

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tivo para o azul do ícone da marca, o sagrado elefante – também símbolo de prosperidade e bem-estar – ceder espaço à cor do sol. A energia do amarelo envolve o ambiente no clima praiano do país que inspirou o negócio. O roxo é pontual. Em um degradê de listras largas do roxo ao rosa claro, os tons destacam o elefante do logotipo e inscrições em tailandês: sorvete e diversão. É a parede mais extensa e, em um ambiente cheio de cenários e de detalhes instagramáveis, faz background para as selfies. Na do painel listrado, à altura do olhar, uma fileira de comigo-ninguém-pode traz o verde do design biofílico, outra característica marcante do projeto. Os elementos da natureza também são referência à estética tailandesa. O bambu, ícone de construções de beira-mar, faz verão em qualquer época do ano. O material é empregado em diversos calibres: largos para

simular vigas e pilares, médios acomodados lado a lado em painéis finos na vegetação e em chapas, no revestimento da parede. O recurso, especialmente quando usado como moldura, também delimita áreas, com auxílio da cor. É o caso do espaço kids. Neste ambiente, curiosamente o menos vibrante do lugar, os brinquedos – incluindo elefantes de todos os tipos e um nicho para livros em forma de templo tailandês – dão o colorido. Limitado por bancos baixos que também servem como organizadores para os brinquedos, o cantinho de brincar é completamente acessível às crianças. E visível aos adultos, que se divertem em outros espaços. Mesmo de longe, os pais conseguem acompanhar o que acontece ali. No salão, bancos em formato de cestos dão essa transparência necessária e criam um sistema agradável às famílias, melhor companhia para um sorvete.


BAMBU A versatilidade da planta aparece em várias composições no design biofílico da sorveteria. Em diversos calibres, o bambu compõe painéis, traz o verde ao ambiente e ajuda a dividir visualmente os espaços.

ELEFANTES Elaborado com foco nas famílias, o estabelecimento tem um espaço kids acessível aos pequenos e visível para os pais, em qualquer lugar. Os bancos que delimitam o espaço, à altura das crianças, também servem para guardar os elefantes e outros brinquedos.

Marcas Apoiadoras Renda Decorações

ARQ. MÉGUI DAL BÓ meguidalbo 54 99189.8767 Magazine Sala de Arquitetos | 2022/ED47 | 23


ARQ. CLARISSA ZANATTA | HAIR SPA

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TRILHA PARA A BELEZA

A partir do design biofílico e da estética wabi-sabi, hair spa oculta linhas e ângulos retos estruturais e valoriza a imperfeição das curvas para criar uma experiência perfeita de inspiração pela natureza A natureza é imperfeita. Os volumes de uma rocha não obedecem simetrias; os ângulos de uma montanha não seguem padrões; nem as árvores se organizam proporcionalmente pelo solo, como o homem faz quando refloresta. Em mata virgem, até o homem obedece as imperfeições: segue o curso do rio, desvia pedras e árvores, desenha, como a própria natureza faria, linhas sinuosas no seu trajeto. E é nessas curvas e imprecisões que a natureza faz tudo funcionar bem, no conjunto. A natureza é perfeita. Desse conceito nada óbvio para a visão quadrada das obras humanas, veio o pedido da cliente: “quero a sensação de andar por uma trilha na floresta”. Em um prazo desafiador de três meses, a floresta se ergueu. Para atender ao inspirador desejo da cliente, o projeto do hair spa faz uso inteligente

de design biofílico e da teoria wabi-sabi. Com origem no Japão do século XV e com base no zen-budismo, a estética valoriza a beleza do imperfeito, a aceitação da impermanência, o monocromático e o aspecto natural. O conceito está ligado ao slow living, que propõe desacelerar para concentrar no que geralmente é deixado de lado. Tudo a ver com a proposta do projeto e do spa: quebrar a rotina para um momento único de olhar para si mesmo. O layout do ambiente oculta quase todos os ângulos e linhas retas estruturais. Em formas orgânicas que remetem às rotas da natureza, a entrada guia os clientes do estabelecimento por uma trilha com destino ao spa para tratamentos capilares e massagens. Pelo caminho, a vista também é relaxante: o balcão da recepção, poltronas, sofás, pendentes, expositores e espelhos seguem as

mesmas linhas curvas em uma atmosfera que inspira conforto. Em uma trilha curvilínea desenhada no piso, a vegetação “brota” entre pedras tipo seixo. A paleta em nude e dourado tem iluminação natural, controlada por cortinas de linho e ripados de madeira que acompanham as texturas naturais. O espaço de tratamentos, a clareira dessa floresta, permite uma vista geral do ambiente e a interação entre as pessoas. Ao fundo, entre as conversas, uma fonte de água faz a trilha sonora. Quem espera antes do seu momento spa – ou quem se demora um pouco mais, depois dele – é convidado a relaxar em balanços com estética artesanal: uma construção humana, mas que casa perfeitamente com a lógica da natureza.

ÁGUA A sala, originalmente com apenas um ponto de água e um de esgoto, ganhou um sistema mais complexo para atender à demanda. As novas tubulações passam sob o piso elevado, com rampas para manter a acessibilidade. TONS Concebido como uma bancada de bar, o color bar demonstra todos os processos de preparação para uma coloração de cabelos.

TRILHAS O desenho do balcão da recepção e o sofá reforçam nas suas curvas a proposta de linhas orgânicas que, desde a entrada, propõem a sensação de andar na trilha de uma floresta. Texturas de madeira, pedra e linho, o mobiliário, e os ângulos retos ocultados pelo projeto reforçam a atmosfera de estar em meio à natureza.

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CLAREIRA O ambiente de tratamentos, o de maior circulação, permite uma visão panorâmica do espaço e propõe a interação entre os clientes, em um momento de cuidar da beleza, mas também de bate-papo e lazer.

FLORESTA As formas orgânicas permeiam todo o projeto. O design biofílico,com plantas, pedras, texturas e materiais naturais, traz a natureza para o interior em detalhes estratégicos, sobre uma paleta em tons de nude.

Marcas Apoiadoras

Casa Serra Acabamentos Lizt 26

ARQ. CLARISSA ZANATTA clarissazanatta.arq 54 99140.4828


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ARQ. SAYMON DALL ALBA | DUPLEX Fotos: Rafaela Bins

MASCULINO AUTÊNTICO

Duplex de um jovem valoriza o cimento e a serralheria e, sobre uma paleta de pretos e cinzas, acende detalhes em caramelo Concreto, ferro e couro atendem à proposta industrial, masculina e moderna para o duplex de um jovem de 25 anos, com um cotidiano intenso de trabalho, muitas viagens e pouco tempo em casa. E essa escassez de tempo livre reforça a importância dos momentos e dos espaços de lazer e descanso. Quando a folga pode ser estendida, ele recorre ao surf. Ir à praia, no entanto, não é uma opção frequente na rotina urbana do cliente. A casa precisava suprir esse papel de ser refúgio de tranquilidade, bom lugar para receber amigos e prática no dia a dia. O projeto entregou também um home office, porque, especialmente nas fases mais produtivas da vida, o trabalho nem sempre termina quando se chega em casa. O estilo industrial e a base escura da paleta foram pedidos do cliente. E a arquitetura de interiores potencializou muito essas referências. O projeto trabalhado na planta iniciou pela integração dos espaços. A primeira versão, pensada para acomodar um sofá que já fazia parte do acervo pré-projeto, precisou ser alterada quando o cliente, em busca por cadeiras, se apaixonou

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por um sofá caramelo bem maior do que o outro, da ideia inicial. Valorizemos essas paixões arrebatadoras! A cozinha, que recuou um pouco na nova configuração, tem acabamentos e bancada de pedra via láctea. É prática para as refeições cotidianas e mantém à vista os visitantes durante os preparos no espaço gourmet. No ambiente central, a sala de estar se conecta ao jantar pelo caramelo do sofá que também conversa com os tons dos detalhes amadeirados e da iluminação, em uma paleta de amarelos que é destaque sobre o cinza e preto predominantes. O home office, compacto e confortável, ocupa a área restante da parede onde se estende a escada. E ela, maior desafio do projeto, também é o elemento principal do ambiente. Sem possibilidade de alterações no desenho original, os degraus mantiveram o concreto aparente e receberam um acabamento em verniz, placas de madeira e um corrimão iluminado por LED. Na parede lateral do estar, a aparência bruta da escada encontra um link visual no acabamento em placas cimentícias, uma defe-

sa forte do arquiteto para o projeto. Subindo as escadas, a suíte segue a iluminação intimista em diversos formatos. Ao contrário do que se costuma pensar sobre o estilo industrial, com sistemas elétricos aparentes, o acabamento (justamente pela exposição e papel decorativo) é um desafio ao olhar minucioso de quem cria o design de interiores. Mais compacto, esse espaço evidencia as peças em serralheria, um dos trunfos do projeto, incluindo tela aplicada na parede (com efeito especial à iluminação) e peças criadas pelo arquiteto – a mesa de cabeceira e o box do banheiro da suíte –, que também assina a mesa de centro do estar. Aqui, o caramelo que conquistou o cliente na escolha do sofá, traz calor ao ambiente na cadeira e na cabeceira, também revestida em couro. No conjunto, o discurso das formas, texturas e cores, salienta a personalidade masculina do espaço e convida, senão para um whisky, a outras formas de relaxar e curtir o seu lugar. Co-autoria: Angélica Veronese, Bruna Regal Bressiani e David Thomas


BRUTO A paleta escura solicitada pelo cliente é potencializada pelas cores e texturas do concreto (como nas placas cimentícias do estar) e por tons mais próximos ao preto, na marcenaria. Detalhes em variações do caramelo aquecem as composições em todos os ambientes.

Luciano Mota

ELABORADO O metal divide com o concreto o centro das atenções do projeto. Em três peças – box do banheiro da suíte, mesa de cabeceira e mesa de centro – o design é também assinado pelo arquiteto.

Marcas Apoiadoras

Casa Serra Acabamentos Movelaria Renda Decorações

ARQ. SAYMON DALL ALBA saydalba 54 99163.7940 Magazine Sala de Arquitetos | 2022/ED47 | 29


ARQ. ENIO STUMPF | SUÍTE

DE FÉRIAS, EM CASA

O fim do dia ou a volta para casa após viagem de trabalho podem ter o clima de um domingo. Na suíte desse casal, tem, inclusive, atmosfera de resort A primeira visão de quem entra nesse ambiente é uma cama espaçosa, formato king, com cabeceira imponente estofada em veludo e vestida em preto, branco e detalhes em dourado. A cena reconstrói o impacto de chegar no apartamento mais caro de um hotel contemporâneo. Repleta desse conceito, a imagem é um reflexo. O guarda-roupas, item indispensável, mas que poderia quebrar o clima de estar de férias em um resort, é ocultado por grandes portas de correr em espelho bronze: uma moldura elegante à altura da pintura que apresenta. O briefing da reforma completa do apartamento era relativamente simples nos pedidos para a suíte: garantir conforto e funcionalidade com aproveitamento máximo do

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espaço. A reforma, no entanto, teve o peso de criar um ambiente do zero. Uma parede demolida deu as boas-vindas à king size e ainda abriu espaço para um armário de seis metros. Além de ampliar visualmente o espaço, o recurso das portas espelhadas mantém escondida a parte prática do vestir: o móvel comporta muito armazenamento, organização completa para as roupas e uma TV. A reorganização do espaço, a partir do posicionamento da cama e do guarda-roupa, também privilegiou a circulação. A variação entre iluminação direta e indireta pinta a cena romântica ou prática do dia a dia. Do outro lado da parede, o banheiro segue o mesmo dinamismo e o clima de nobreza e exclusividade para os momentos do casal. A cuba

dupla e o móvel aéreo com espaço de armazenamento favorecem a individualidade e dão praticidade à rotina. O porcelanato de grande formato, em padrão de pedras nobres, reveste três paredes e destaca a quarta, em preto, na área de banho. Aí, um par de duchas convida a deixar de lado a individualidade. O resultado é um presente para um casal com dois filhos: ele com uma rotina intensa de viagens de negócios; ela com um cotidiano tão atribulado quanto do marido, nas funções da casa e da família. E talvez essa distância imposta pelo trabalho seja a preciosidade do conceito desta reforma: a importância de valorizar as pequenas folgas que a vida dá e cada encontro com quem você ama.


OURO Sobre uma paleta de brancos, pretos e cinzas, detalhes dourados aparecem dos detalhes e fazem referência à finalização decorativa das suítes de hotéis contemporâneos. FOCO Variedade de opções também é quesito importante para quem compra um item de alto destaque na imagem pessoal. Mas esse benefício não precisa poluir a loja. A exposição reduzida permite uma maior rotatividade de produtos em destaque. Gavetas em toda a extensão da loja facilitam o acesso ao que o cliente realmente deseja.

BRONZE A cama espaçosa, para a qual a eliminação de uma parede abriu espaço, é refletida em um espelho bronze: são seis metros em portas de correr que ocultam o guarda-roupas funcional, mas coadjuvante na atmosfera resort.

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FUNCIONALIDADE ESPELHADA Como a circulação no quarto e o armazenamento no guarda-roupa, tudo na suíte respeita a individualidade do casal. No banheiro, a cuba dupla, esculpida em porcelanato, dá ao dia a dia agilidade do uso simultâneo. A área de banho, com nicho para organização de cosméticos, tem duas duchas também.

Marcas Apoiadoras

Casa Serra Acabamentos Villafranca 32

ARQ. ENIO STUMPF eniostumpfarquitetura 54 99993.4783


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ARQ. ANDRÉ RIGONI E ARQ. TATIANA BIFFI I COZINHA, LIVING E HOME OFFICE

PARTICULAR E PARA COMPARTILHAR Apartamento valoriza o conforto e a praticidade de quem mora sozinho, mas também recebe com qualidade os convidados

Uma paleta em preto, tons de cinza e amadeirados. Living integrado à cozinha. O sofá como elemento de referência na delimitação dos ambientes.Trata-se de um projeto convencional, de fato. Mas também cheio de personalidade. É feito para receber, mas, especialmente, para tratar como convidado de honra quem mora ali. O projeto desse apartamento masculino ganhou as facilidades e benefícios de recorrer aos arquitetos ainda na fase da planta, o que aumenta as possibilidades de customização, como a escolha de cada acabamento. E também evita a

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inconveniência das “reformas” pós-entrega. Essa condição permitiu, além da escolha assertiva dos revestimentos, alterações mais intensas na proposta original da construtora. A retirada do lavabo da planta padrão aumentou a área funcional e acrescentou conforto e boa circulação a um ambiente que concentra cozinha, estar e home office. A orientação geral do briefing era simples: discrição e praticidade. O nível de exigência, no entanto, foi mais desafiador: cada escolha no projeto foi submetida ao olhar e ao senso estético apurado do cliente que é designer gráfico. O trio

de manequins articulados emoldurados nesse ambiente – e a bicicleta sempre pronta, “de saída” – resumem: é um espaço que valoriza o design; e um design que privilegia o movimento. Promover o convívio é uma das funções contempladas no projeto do ambiente integrado. No entanto, por mais frequentes que sejam essas ocasiões de receber convidados, elas ocupam muito menos espaço na agenda do que a rotina: a praticidade do dia a dia é prioridade. Acertadamente, o cliente optou por não ter sala de jantar. Parte daí a definição de critérios de funcionalidade


e ocupação da área disponível. Nota: se a sala de jantar, na sua casa, é um espaço visitado somente quando tem convidados, talvez valha repensar a necessidade de tê-la (e no espaço útil que ela ocupa, sem merecer, nos dias comuns). O estar prioriza o conforto para os momentos de ficar sozinho em casa. Um grande sofá em L e uma TV em tamanho de cinema particular têm ainda a boa companhia da lareira canadense, também responsável pela calefação na área íntima. Sobre o ripado, logo abaixo do teto, uma estreita faixa de espelho alonga a linha e dá leveza ao painel.

A cozinha encurta o caminho do fogão ao prato e agiliza a manutenção. Se levou trabalho para casa, este home office que nasceu como ideia antes mesmo de a pandemia valorizar o espaço, entrega funcionalidade às tarefas. Tudo no mesmo espaço, cada coisa no seu lugar. O acesso principal – após uma porta azul, um dos poucos elementos coloridos do espaço – tem uma sequência de luminárias pendentes que fazem efeito especial no chevron do papel de parede e dá o impacto cênico para surpreender quem chega. Sem a formalidade das salas de jantar, os amigos são convidados a se sentirem em casa. Na

cozinha, interagem com o preparo do jantar em uma bancada que acomoda seis pessoas. Além de ser “palco” para quem cozinha, o cenário joga luz sobre quem acompanha: a iluminação sob o tampo dá o tom de evento que esses encontros merecem. Antes e depois desse ato principal, tem espaço para todo mundo no sofá. Na parede que separa a área social, painéis melamínicos amadeirados, com o volume de um móvel vitrine sobreposto, ocultam o acesso à suíte. A entrada é quase imperceptível a quem, ainda que seja “gente de casa”, não circula pela área íntima.

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PARA O DONO DA CASA A área integrada comporta com discrição o home office, solicitado antes mesmo de a pandemia transformá-lo em ambiente obrigatório em apartamentos jovens. Para dias sem trabalho de casa, conforto: sofá espaçoso, lareira e TV grande.

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Juliano Mendes

PARA AS VISITAS A decisão de não ter uma mesa de jantar permitiu a otimização da área disponível. Na cozinha, a bancada facilita a rotina mais apressada de segunda a sexta. No mesmo espaço, com iluminação cênica sob o tampo – assim como na entrada do apartamento – os convidados são recebidos com o impacto visual que os encontros merecem e com o mesmo conforto que é cotidiano do anfitrião.

Marcas Apoiadoras

Casa Serra Acabamentos Movelaria Palladio’s Decor Quality Mármores Villafranca

ARQ. ANDRÉ RIGONI E ARQ. TATIANA BIFFI rigonibiffi_arquitetos 54 99972.6427 54 99963.7840 Magazine Sala de Arquitetos | 2022/ED47 | 37


ARQ. GABRIELA MELETTI E ARQ. GRASIELE FORINI | ÓTICA

LUXO É ATENDER BEM

Ótica derruba estruturas tradicionais do segmento, propõe uma experiência confortável de compra e quebra barreiras entre vendedor e cliente A rotina seguiria normalmente se, no caminho apressado para uma reunião importante, você percebesse que esqueceu em casa os brincos, o relógio, a pulseira favorita ou o anel da sorte. O mesmo desprendimento não acontece se o objeto deixado para trás for o óculos. Aliás, ele é tão importante que é mais fácil esquecer de tirá-lo ao entrar no banho do que de colocá-lo ao sair de casa... Ao contrário de qualquer adorno, as pessoas ao seu redor também perceberão a falta dos óculos como algo estanho em seu rosto, como a ausência de parte da sua fisionomia. Um óculos é uma joia. E, pela função, frequência de uso e importância talvez seja a mais valiosa do seu acervo. No espaço que apresentamos aqui, o acessório número um ganha o seu devido valor. Inspirada em grandes lojas europeias do segmento, essa ótica expõe seus produtos como itens de luxo. Os convencionais expositores repletos de armações foram descartados desde o briefing. Na vitrine e por toda a loja, o produto é exposto como joia: menos quantidade, mais destaque. Em nichos com iluminação LED, espaçosas prateleiras e mesas sobrepostas

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por caixas de vidro, as armações aparecem em poucas unidades. Além de propor a renovação frequente dos produtos expostos (a loja inteira é uma grande vitrine), o conceito reforça a percepção de valor e exclusividade do produto. A variedade de opções, que também é um importante condutor de vendas, é organizada em gavetas em toda a extensão da loja. Sem expositores no formato “tudo o que temos está aí”, o projeto propõe uma abordagem mais personalizada de atendimento. O processo exige uma conversa mais aprofundada com o cliente, para entender a demanda e mostrar as melhores opções para cada um. Exclusividade é isso também. Para aproximar esse contato, uma das principais exigências do cliente, os tradicionais balcões com vendedor de um lado e consumidor do outro também estavam fora de cogitação. Público e equipe são convidados à mesa de bate-papo. Mesas ovais de mármore, com design assinado, quebram a hierarquia dessa conversa e dão o tom intimista necessário. Em vez de cadeiras, confortáveis poltronas abraçam e comunicam na prática que este é um processo mais lento de compra. Por-

que o acessório de todos os dias, ali apresentado em bandejas de veludo, merece esse tempo. Além desse recurso para apresentação e prova de produtos, uma espécie de sala de estar nos fundos da loja, destacada por uma estrutura de madeira, estende o contato do pós-venda. Em tom mais informal, com poltronas organizadas em formato circular, a ótica convida a permanecer um pouco mais para um café ou suco. O frigobar e a cafeteira ficam expostos para evidenciar que, agora, o cliente já “é de casa”. A pia, essencial à manutenção do espaço, fica oculta: nem as visitas íntimas precisam ver essa parte... Nessa área de desaceleração, o logotipo da loja é frisado sobre porcelanato nos tons do mármore das mesas de atendimento. O pagamento, assunto menos amigável de qualquer jornada de compra, ocorre com discrição nesses mesmos espaços. O aparato burocrático administrativo fica oculto: não há um caixa. Porque, convenhamos, depois de ser atendido com esse grau de exclusividade e intimidade, despedir-se do vendedor na fila do cartão não seria o melhor desfecho. Co-autoria: Geyson Marin


AMPLA VISÃO Da vitrine ao interior da loja, a exposição das armações, com poucos itens dispostos em amplos espaços de bancadas, nichos e prateleiras com iluminação LED, inspira o luxo. O formato privilegia a visualização do produto e a percepção de exclusividade. Além de dar protagonismo aos óculos, o layout convida o consumidor a um olhar mais demorado e desafia o vendedor a uma abordagem personalizada.

FOCO Variedade de opções também é quesito importante para quem compra um item de alto destaque na imagem pessoal. Mas esse benefício não precisa poluir a loja. A exposição reduzida permite uma maior rotatividade de produtos em destaque. Gavetas em toda a extensão da loja facilitam o acesso ao que o cliente realmente deseja.

REFERÊNCIAS VISUAIS Como o próprio conceito minimalista da exposição de produtos, a percepção de luxo também está nos detalhes: tapetes, tampos de mármore, porcelanato, metais dourados. Soluções como o uso de cinza e preto e do mobiliário laqueado atualizam a concepção de luxo (exagerado, pomposo), para uma atmosfera mais urbana, típica de metrópoles como Nova York e atrativa ao público jovem.

INVISIBILIDADE Como em um café, a pia é acessível – para manter o espaço sempre pronto para receber – mas ocultada da visão do cliente. À mostra, ficam o café e o frigobar para que o visitante enxergue esses elementos como cortesia do anfitrião.

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VISIBILIDADE Nos fundos da loja, onde um olhar tradicional costuma ter um caixa, há um cenário para estratégias de fidelização. Ponto central do projeto, o ambiente amplia a proposta de conforto e o estímulo a uma jornada de compra desacelerada priorizada em toda a loja. Depois do atendimento nas mesas de mármore que são o eixo do projeto, o cliente é convidado a estender, mais informalmente, a sua permanência, tomar um café ou suco. A parte formal da compra, o pagamento, acontece aí mesmo e nas demais mesas de atendimento. Aplicado sobre porcelanato, o logotipo da loja assina a sala e requisita um espaço na memória do cliente.

Marcas Apoiadoras

Casa Serra Acabamentos Lizt Movelaria Quality Mármores Villafranca 40

ARQ. GABRIELA MELETTI E ARQ. GRASIELE FORINI gsarquiteturaeinteriores 54 99978.7792


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ARQ. FERNANDA BERTOLUCCI ROSSI | CONSULTÓRIOS

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NEUTRO COM PERSONALIDADE Projeto de clínica privilegia unidade estética com conforto acústico e visual Em uma clínica de otorrinolaringologia, o consultório e a sala de exames funcionavam no mesmo prédio, em andares diferentes. Unir os dois espaços no mesmo pavimento foi a proposta central do projeto. E o principal desafio. A solução que traz funcionalidade ao dia a dia demandou um isolamento eficiente da acústica dos ambientes. Enquanto as salas exigiam isolamento completo, para garantir a melhor qualidade aos exames, as diversidade de atividades, evidenciada por um corredor com diversas portas, demandava harmonia e aconchego. Lugar de cuidar da saúde, sim. Cara de hospital, não. Duas otorrinolaringologistas atendem em salas de consulta distintas e o ruído que elas possam produzir fica restrito ao consultório. Logo ao lado, a sala de exames – audiometrias

realizadas por fonoaudiólogas – tem o absoluto silêncio que a função pede. A preservação e renovação do piso original, em tacos de madeira nobre, foi o ponto de partida para as demais escolhas: o material é eficiente em absorver os ruídos causados pelos impactos. Os espaços foram divididos com paredes de chapas duplas de gesso acartonado, preenchidas com lã de vidro. Fixadas do chão à laje para um isolamento eficiente, as paredes exigiram a abertura do forro original. A acústica ainda conta com portas especiais para conter o som. Os tons marcantes do piso foram valorizados pelo cinza claro das paredes. O teto, em bege, espelha as cores de aconchego do piso e segue por uma faixa na parede. O recurso reduz visualmente o pé-direito ampliado pela reforma. O preto é utilizado nos marcos e

guarnições das portas, nos rodapés e nas linhas que demarcam o bege do teto. A função dos frames criados pelo preto, contorno de todos os espaços, é imprimir um ar contemporâneo à clínica e dar continuidade visual às áreas de circulação. Neutro com personalidade: essa é a ideia geral do conceito. Nas sala de atendimento da otorrinolaringologista, a personalização entrega conforto aos pacientes, mas também valoriza o aconchego à profissional. Além do aspecto de apartamento que o piso oferece, as cadeiras com detalhes em palha também dão o clima de casa: atmosfera bem-vinda para a médica que passa boa parte do seu dia no trabalho. Ao fundo, o painel de musgo contribui com essa proposta. E ainda ajuda as demais estruturas na absorção acústica.

ESCANDINÁVIA VERDE Musgos de origem escandinava, com durabilidade de até 10 anos, aumentam a sensação de bem-estar, renovam o ar e auxiliam no isolamento acústico.

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FRAMES Os contornos pretos nas guarnições ganham destaque na circulação com diversas portas e dão unidade visual ao projeto. Os quadros que compõem o ambiente fazem referência ao ouvido e às ondas sonoras.

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DOIS TEMPOS Porcelanato com textura de granilite utilizado nos lavabos remete à época dos pisos de tacos de madeira.

Marcas Apoiadoras Movelaria

ARQ. FERNANDA BERTOLUCCI ROSSI frndrossi 54 99953.7181 Magazine Sala de Arquitetos | 2022/ED47 | 45


ARQ. LISI CABERLON | SUÍTE COM SACADA

UMA JANELA PARA A TRANQUILIDADE

Nova suíte do casal criou um pequeno santuário, livre de distrações. Em vez de TV, vista para uma lagoa Congestionamento, barulho, poluição. É inegável que viver na cidade traz sua cota de stress. Para isso, quem possui um refúgio para relaxar nos finais de semana e férias, deve aproveitá-lo da melhor forma possível. A arquiteta Lisi Caberlon, ao criar este projeto de uma suíte de casal em um condomínio na praia, levou tudo isso em consideração. O casal, pais de duas crianças pequenas, tem uma rotina agitada. Então fazem questão de sossegar neste refúgio quando podem. Para que a casa ficasse com ainda mais cara de refúgio, foi dada uma atenção especial a essa suíte. O primeiro pedido a ser atendido era de que não houvessem distrações no quarto. Ou seja, sem televisão. E de fato, a TV

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é totalmente dispensável nessa suíte. Assim como quadros na parede. O destaque do quarto é a ampla janela dupla que proporciona uma bela vista da parte externa do condomínio, onde se vê um lago e uma área verde. A cama foi posicionada para que ficasse de frente a essa janela, valorizando ainda mais a vista. No quarto, foram mantidos alguns espaços, já que a ideia era utilizar poucos móveis, garantindo um aspecto de leveza e elegância. A suíte, que fica no segundo andar, tem uma abertura para uma sacada. E ali está outro destaque do projeto: pensando na praticidade de evitar subidas e descidas desnecessárias, foi projetado um espaço com frigobar e

cafeteria para que o casal desfrutasse de momentos de leitura e descanso na grande chaise sofá. A decoração, tanto da suíte quanto da sacada, teve inspiração na arte indígena, com tons de marrom e verde. Dentro do quarto, tons claros e cortinas de linho, que deixam a luz natural entrar, dão aconchego para o espaço, assim como o painel ripado. O piso, de porcelanato imitando madeira, também deixa o ambiente mais agradável. E o guarda-roupa com portas de espelho proporciona uma sensação de amplitude. Objetivo atendido com sucesso. Suíte e sacada prontos para o que os clientes mais precisavam, descanso.


FUNCIONAL Espaço para frigobar e café dentro do quarto, que fica no segundo andar, para facilitar momentos de relaxamento.

INSPIRAÇÃO INDÍGENA A decoração remete a culturas indígenas, como o cocar na varanda, quadros e roupa da cama no quarto.

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DESCONECTADO A vista, tanto do quarto quanto da varanda, ganhou destaque no projeto, que não precisou de televisão. A paisagem dispensa qualquer distração.

Marcas Apoiadoras

Casa Serra Acabamentos Lizt Villafranca 48

ARQ LISI CABERLON lisicaberlonarquiteta 54 99998.8378


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ARQ. VANESSA REIRIZ | APARTAMENTO

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GALERIA DE ARTE E OUTRAS PAIXÕES

Repleto de telas em diferentes estilos, apartamento expõe o apego dos donos pelas artes plásticas, pelas antiguidades e pelos momentos de receber amigos Maria Antonieta em um traje majestoso é retratada sobre uma textura rústica, respingos de tinta e marcas de desgaste. Um dourado ornamentado emoldura a obra com a imponência que a nobreza merece. Assinado por Sérgio Lopes, o quadro é também uma síntese do conceito deste apartamento: um clássico contemporâneo; uma homenagem ao antigo em perfeita harmonia com o novo; uma reverência à história e à arte. Um passeio pela casa é um passeio pela arte, uma das características marcantes do casal. Das áreas de circulação ao lavabo, obras de diferentes estilos ganham destaque de galeria. A paixão pela arte se mistura à valorização de antiguidades, como o vaso principal na sala de estar, adquirido em antiquário e que pertenceu a uma mansão no Uruguai. A composição ainda

destaca itens de alto valor afetivo. É o caso do armário de chaves, móvel antigo da família. A peça, repassada por gerações, está fixada sobre um revestimento de ladrilho hidráulico artesanal, produzido por uma empresa centenária de Pelotas. A sala integra dois espaços de estar com uma parede em pedra natural. Na sala de jantar, precedida pelo retrato de Maria Antonieta, mais arte e uma outra paixão do casal de médicos: vinhos! O espaço tem uma adega para acondicionar os melhores rótulos e um bar, sobreposto à vitrine de vinhos. O Deus do Vinho, na obra de Assandra Pauletti, faz o casamento das duas paixões. Porcelanas e cristais completam o espaço, predominantemente branco, em uma cristaleira escura com iluminação interna. No apartamento que valoriza o clássico

e o antigo, a contemporaneidade mora na cozinha, a área que sofreu mais modificações no projeto iniciado na planta. Com linhas mais retas e uma paleta sóbria de cinzas, o mobiliário é funcional às refeições rápidas do dia a dia. Separada da área de jantar por portas de correr espelhadas, a cozinha garante a privacidade para ocasiões mais formais, mas também se abre aos convidados quando a proposta do encontro é envolvê-los no processo antes de servir a mesa. A mesma proposta de integração é vista na área de churrasco. Criado na sacada fechada, o espaço envolve os convidados ao redor de uma mesa exclusiva, um recorte intrigante em madeira natural: no “tampo”, sensível leveza; na base, absurda robustez. Também tem arte aí.

PÚBLICO Obras de arte, em todos os espaços, inclusive no lavabo, ganham destaque sobre uma paleta de cores claras, amadeirados e pedra natural.

PRIVADO Percebe o charme da foto ao lado? Apesar do gato, que rouba a cena, nos referimos ao banco em couro, adicionado como peça de destaque na suíte do casal.

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ARTE DE COLECIONAR Ambientes de estar são uma coletânea de arte, uma das paixões do casal, e de objetos antigos, como o vaso ao fundo na cena, vindo do Uruguai.

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ARTE DE RECEBER Portas espelhadas na cozinha conferem privacidade, mas também integram a área gourmet ao espaço de jantar/estar quando a ocasião pede o envolvimento dos convidados nessa parte também.

ARTE DE PRESERVAR A memória dos antepassados também é representada pela caixa de chaves, antiguidade de família, aplicada sobre parede de ladrilho hidráulico artesanal.

Marcas Apoiadoras

Casa Serra Acabamentos Empório Vila Rica Mania de Maria Quality Mármores Villafranca

ARQ. VANESSA REIRIZ vanessareirizarquitetura 54 98408.4004 Magazine Sala de Arquitetos | 2022/ED47 | 53


ARQ. MIRELA AMPEZZAN | SALÃO DE FESTAS

MESA CHEIA, POR UM DETALHE

Com eliminação de um banheiro, salão de festas otimiza o espaço, melhora a circulação e aumenta a lista de convidados O briefing para esse salão de festas era relativamente simples: decorar e dar personalidade ao espaço. Não raramente, um detalhe faz toda a diferença. E no estudo desse ambiente, com área total de 76 metros quadrados, o detalhe em questão era um banheiro, entre o depósito e a cozinha, que limitava o tamanho dos móveis, prejudicava a circulação e restringia mudanças significativas. A demolição do banheiro (realocado para a área do depósito), proposta pela arquiteta, multiplicou as possibilidades criativas, a funcionalidade, a circulação e até a própria personalização, desejo inicial do cliente. As referências dos clientes, um casal com filhos pequenos que costuma abrir o salão para

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reunião de amigos e familiares, era a estética natural, clima de casa de campo e valorização da natureza. E esse conjunto rústico foi entregue em uma embalagem informal, sofisticada e contemporânea. Uma parede em pedra travertino, com iluminação focada em AR 70, ladeada por um par de quadros e uma cristaleira, põe em evidência o ambiente principal do salão. O jantar ganhou uma mesa em madeira maciça, com bordas rústicas e, graças ao espaço que o antigo banheiro liberou, tem tamanho generoso para acomodar 11 pessoas. Sobre a mesa, o mesmo número de pendentes dá personalidade à decoração e ressalta o que é servido. A mesa é acoplada à ilha onde fica o fogão e espaço para bancos

altos. Além de lugares extras, o layout integra o jantar ao espaço gourmet, que ampliou significativamente o armazenamento na cozinha. O living, mais reservado pela organização em L da planta, replica os amadeirados e tem lareira embutida em mármore para dar conforto ao bate-papo pré e pós refeições. A grande fachada de vidro do salão foi mantida sem cortinas para valorizar, no interior, o verde do jardim. Antes que este texto encerre, cabe dizer que o novo lavabo, decorado com tema botânico de acordo com o gosto do casal pelos elementos da natureza, reduziu o espaço ocupado anteriormente, mas não perdeu em nada a funcionalidade. E isso não é apenas um detalhe. Co-autoria: Lauro Maciel


EXTERIOR Reforma aproveitou a fachada de vidro para promover uma integração do verde do jardim com os acabamentos que valorizam a natureza e o estilo informal no projeto de interiores.

MAIS ESPAÇO Eliminação de um banheiro, com localização inconveniente para alterações significativas no projeto, ampliou o armazenamento na cozinha, os lugares à mesa e a circulação no salão.

MAIS PERSONALIDADE Soluções como a parede em pedra travertino, fundo para o jantar, ladeada por uma cristaleira, acrescentam o tom rústico que os clientes pediram, com sofisticação.

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PEÇA-CHAVE Eliminado da planta original, o banheiro transformou-se em lavabo: funcional ao uso do espaço, discreto na posição que ocupa , mas cheio de personalidade no interior.

FARTURA Entrada do salão destaca a grande mesa em madeira maciça, centro do projeto e integrada à ilha com fogão. Ao lado, uma área mais reservada, um lounge com lareira traz aconchego para o convívio pré e pós jantar.

Marcas Apoiadoras Lizt Movelaria Quality Mármores Renda Decorações 56

ARQ. MIRELA AMPEZZAN ampezzanmaciel 54 99673.6961


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MEU LUGAR |

ARQ. ADRIANE KARKOW Dourado, mármore, madeiras nobres, portas francesas, capitonê, candelabros… Tudo isso é Adriane Karkow, mas não só. Adri é também concreto aparente, formas limpas, detalhes rústicos, mobiliário moderno… Inclusive, nos gostos particulares, é especialmente feliz quando harmoniza preciosidades de um repertório criado pela imersão em diversas fontes. A arquiteta, que se dedica a projetos arquitetônicos e de interiores, passeia por diversos estilos. Se tiver que escolher apenas um para definir a sua trajetória, ainda assim, quebrará o protocolo dos rótulos e dividirá um em dois: contemporâneo clássico e clássico contemporâneo.

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Nascida em Porto Alegre apenas por uma questão de logística da família, Adri considera Caxias do Sul como o seu lugar. Foi especialmente por aqui que acumulou experiência profissional. A versatilidade vem também do mestrado na Universitat Politècnica de Catalunya, no início da carreira, dos 17 anos como docente na Universidade de Caxias do Sul; e de uma produção intensa em 26 anos de carreira. Além do estudo, a atualização das referências vem do gosto por garimpar preciosidades de design e arquitetura em viagens. Um museu em Nova York, um prédio histórico em Paris, uma nova maravilha em Dubai, uma loja no Japão, uma feirinha de artesanato em

Trancoso… Tudo é fonte de repertório. A arquiteta vê o aconchego como prioridade em qualquer projeto. Outra marca do seu portfólio é a revitalização e ressignificação de peças antigas em novos projetos: porque dar uma nova função a um móvel de família, por exemplo, também é trazê-lo à contemporaneidade. O apartamento onde ela vive com o marido, Michel Golin, e as filhas Laura e Alícia também é um retrato da profissional. Reunidos por Adri, itens como um bar oriental, uma escada de concreto aparente, uma luminária minimalista de Philippe Starck, cortinas de veludo e rendas rústicas conversam. O assunto: conseguir ser único, mas não uma coisa só.


REFERÊNCIAS Elementos de diversos estilos de design se integram em uma proposta que propõe valorizar a praticidade e a funcionalidade do novo, e ressignificar o antigo: clássico contemporâneo, contemporâneo clássico!

ISSO É MUITO

FORMAS PERFEITAS Os básicos quadrado e círculo são janela da suíte no mezanino. Os arcos perfeitos, ícones da arquitetura, também aparecem na primeira casa contemporânea projetada pela arquiteta.

ADRIANE KARKOW

ESPELHO MEU O espelho é um desafio ao arquiteto. Para Adri, bem utilizado, é um trunfo no design de interiores. Na sua casa, a versão de espelho bisotado, com peças azuis, ocre e caramelo em uma moldura imponente, dão personalidade à decoração e cumprem a função de duplicar a vista das grandes janelas em frente.

CLÁSSICO CONTEMPORÂNEO Os pés cabriolet trazem o clássico Luis XV. O tampo, em vidro preto atualiza o estilo e faz com que uma referência de mais de 200 anos seja útil e prática à contemporaneidade.

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APARTAMENTOS ANTIGOS

SENHORES EDIFÍCIOS

Moradores de apartamentos antigos no Centro contam como é morar na História de Caxias do Sul

Caxias do Sul, década de 1960. A cidade passava por uma expansão e consolidação do setor industrial. O êxodo rural, o aumento das taxas de natalidade e a atração de moradores de outras cidades para preencher as vagas nas fábricas impulsionaram o crescimento urbano. Caxias ganhava ares – e arquitetura – cosmopolitas. A área central foi impactada com esse boom. O comércio se fortaleceu e a arquitetura do Centro começou a se verticalizar. O avanço seguiu por décadas. Hoje as grandes obras daquela época ainda são destaque não só pelo valor histórico que têm, mas por manter, diante do novo, a mesma imponência daquele tempo. Mais do que estar bem localizado, morar em um desses clássicos, ainda que revitalizados para o nosso tempo, é ser agente direto da preservação do patrimônio histórico. O Jotacê foi um um desses saltos do desenvolvimento da cidade, inaugurado em 1972, na movimentada Avenida Júlio de Castilhos, com 25 andares. O edifício leva as iniciais do nome de João Chiaradia, dono do terreno. Quatro anos depois, em 1976, subiu em meio à paisagem do Parque dos Macaquinhos, o Parque do Sol, um projeto do arquiteto Elyseu Mascarello, com 36 andares e 125 metros de altura. O orgulhoso título de prédio mais alto do Rio Grande do Sul, base da propaganda no lançamento, se mantém até hoje. O edifício se caracteriza por sua imponência em meio à paisagem do Parque dos Macaquinhos. Em comum, os dois são o retrato de uma Caxias em constante evolução. Mas há outra relação: o projeto arquitetônico. “Os aparta-

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mentos mais antigos possuem correlação, se caracterizando por ter pés-direitos mais altos e áreas amplas. Isso se vê nos quartos, salas, cozinha com copa, além da sala de jantar e grandes banheiros. Alguns têm até três elevadores, além de layout interno com lavanderia, dependência de empregada e banheiro de serviço”, explica a arquiteta e urbanista Alessandra Mosna, associada à Sala de Arquitetos desde 2007, e também moradora do Jotacê. A amplitude das moradias centrais tem uma explicação social. Os apartamentos foram construídos para comportar famílias grandes, característica da época, e com grande poder aquisitivo também. Muitos saindo de regiões periféricas e se deslocando para a área urbana da cidade. Esse processo e o mundo dos negócios valorizaram o Centro, junto com a construção de estabelecimentos e galerias comerciais. Os carros começaram a se popularizar, mas ainda eram item único por família, e geralmente exclusividade do marido ao volante. O espaço limitado de garagem, inconveniente hoje, era suficiente para a época. A dependência de empregada é outro retrato das primeiras famílias em prédios do Centro. Com maior capacidade financeira, essas famílias optavam por domésticas para ajudar a cuidar dos filhos. E a dificuldade de locomoção nos anos 60/70 justificava a permanência das empregadas. “É uma configuração completamente diferente das atuais. Os ambientes são todos setorizados com, por exemplo, áreas de serviço e social. Os apartamentos, hoje em dia, são integrados e nem possuem algumas áreas que antes eram

até priorizadas, como sala de jantar e copa”, ressalta a arquiteta e urbanista Clarissa Zanatta, membro da Sala de Arquitetos desde 2019. Dutos para dispensar o lixo, chamados de shaft, eram o luxo da época. Atualmente, quando ativos, recebem apenas o lixo orgânico. Coleta seletiva é avanço mais recente.

RELAÇÃO ANTIGA Mais do que a fama e a imponência dos edifícios centrais, foi a localização que atraiu Nanci Junges, 73 anos, e o seu marido Lauro Junges, 80 anos para a Júlio de Castilhos. Na década de 80, o jovem casal saia do aluguel para um lugar espaçoso, bem na área central e perto de tudo. Encontraram no Jotacê o lar perfeito para criar os dois filhos. Gostaram dos vizinhos, viram que era um ótimo ambiente, mas ficaram surpresos com a amplitude e a quantidade de cômodos: três quartos; dependência de empregada com banheiro; três banheiros (sendo dois integrados em dois quartos); sala de estar; sala de jantar; cozinha; área de serviço; e hall de entrada. Para deixar a casa sua cara, ela pendurou quadros pintados por sua mãe, Luiza Manfro Crippa, a primeira bibliotecária da biblioteca pública de Caxias e pintora nas horas vagas. Tinha espaço digno de galeria para muitas telas: 40, contou o marido. “Ela pintava quadros como hobby e não achava que suas pinturas valiam como obra de arte, então distribuía para a família. Eu herdei parte das obras e o restante ficou para outros irmãos e familiares”, relembra Nanci.


O Jotacê era o lar dos sonhos. E o local, memória da infância de Nanci. Quando pequena, ela morava ao lado de onde hoje está a sede administrativa do Círculo Operário, em uma casa de alvenaria, com um porão e sótão, construção típica das primeiras casas de Caxias. A poucos metros dali, um terreno vazio era playground das crianças da vizinhança. “No terreno antigo, eu lembro que tinham árvores frutíferas, uma espécie de pomar. Eu ia brincar e pegar frutas”, conta Nanci, sobre o lugar onde se ergueu o Jotacê.

SONHO DE INFÂNCIA Na mesma época em que Nanci foi morar no Jotacê, não muito longe dali uma menina de 10 anos passava com os pais pelo bairro Exposição. O Parque dos Macaquinhos, que já era um destaque verde na cidade que se acinzentava rapidamente, era local favorito dos passeios. O edifício gigante logo ali, o mais perto do céu que ela já vira, despertou o sonho de criança. “Um dia vou morar nesse prédio”, dizia aos pais. Hoje, a médica Adriana De Carli, de 50 anos, tem seu sonho concretizado: mora há 16 anos no Parque do Sol, com o marido e dois filhos adolescentes (uma menina de 16 anos e um menino de 12). O sonho começou a se tornar realidade quando Antônio Quevedo, um dos primeiros anestesistas da cidade, manifestou o desejo de se mudar do Parque do Sol. Em um jantar na casa de Quevedo, Adriana deu início às negociações. Em menos de um ano, comprou o imóvel. Adriana adulta se encantava com o prédio pelo mesmo motivo que a atraía quando criança: a altura. Do 21º andar, tem uma vista privilegiada do Parque dos Macaquinhos onde novas gerações seguem curtindo passeios para brincar. No pacote, ganhou mais cômodos

do que precisaria: quatro quartos (um suíte), dependência de empregada (com quarto e banheiro); quatro banheiros ao todo; duas salas de estar; sala de jantar; cozinha; e área de serviço. Mas o que mais chamou a atenção assim que entrou foi na generosidade com que o Parque do Sol recebia a luz natural e fazia jus ao nome. “Me apavorei com o tamanho das janelas, que são enormes. Quando mandei fazer as cortinas, tivemos que encomendar mais pano. Tanto que foram uma das coisas mais caras da reforma”, relata Adriana. Reformar exige paciência sempre. Mas para quem mora em apartamentos antigos, ainda mais. A arquiteta Alessandra Mosna explica o porquê. “A rede elétrica é antiga e necessita ser modificada por causa das demandas de novos equipamentos, com o uso frequente do ar-condicionado e outros aparelhos. A melhoria na rede de abastecimento de energia evita curtos circuitos. A questão de cabeamento também é complicada. É necessário abrir paredes para puxar os fios de internet e das TVs”, explica. Adriana enfrentou todas essas dificuldades quando decidiu mudar o visual do seu apartamento. Ela precisou trocar toda a parte hidráulica, pois os canos estavam oxidando e contaminando a água. A dependência de empregada foi integrada à cozinha, dando mais espaço para o marido que protagoniza especialmente este ambiente. “Quando fui morar lá, tinha uma calefação a gás que passava em cima do teto. Gastava muito gás e era antiecológica. Então, acabamos tirando tudo, sepultando todos os encanamentos do teto. Fiquei com um pé-direito bem alto, utilizando de outro sistema de calefação, bem melhor para o meio ambiente”, completa Adriana. Nanci foi mais conservadora. Preferiu preservar toda a estrutura do apartamento, só

alterando um pouco a decoração. Pintou as paredes, tirou o carpete presente em alguns cômodos para evidenciar o piso e fez algumas outras mudanças de revestimento. Como o apartamento foi comprado de um dentista, que já tinha feito algumas reformas, ela e o marido preferiram manter a estrutura, inclusive os móveis. À base de óleo de peroba para manter o brilho original, os móveis na sala de jantar são cuidados com esmero por Nanci, como relíquia. Os guarda-roupas dos três quartos são da categoria para a qual vale a expressão “não se faz mais móveis como antigamente”. Estão ali, fortes, desde 1982, quando a família adquiriu o imóvel. No piso, mais madeira, durabilidade e brilho de um clássico setentista: o parquet. “Vemos muito em apartamentos antigos o piso natural de madeira, geralmente parquet, que são muito caros, hoje em dia, para aplicar. A maioria utiliza piso laminado para substituir a madeira, fazendo com que o parquet seja bastante valorizado”, destaca Alessandra. Adriana também deu ao piso de madeira natural o merecido destaque: mandou retirar a forração dos quartos. “Isso ajudou também a aquecer essa parte íntima. Revitalizei o parquet e o deixei à mostra”, conta.

A HISTÓRIA QUE OS PRÉDIOS CONTAM Se cada edifício carrega histórias, como a de Nanci e de Adriana, alguém precisa contá-la. Foi com essa ideia que surgiu o projeto Prédios de Caxias do Sul (no Instagram, @prediosdecaxiasdosul), em 2017. Inspirada em projetos similares em capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, a iniciativa é encabeçada pelas arquitetas Clarissa Zanatta e Taís Cervelin e pelo designer Tiago Fiamenghi. Com o objetivo traçado, o grupo começou

ORIGINALIDADE Quando mudaram para o Jotacê, na década de 80, Nanci e Lauro (na foto da página esquerda) penduraram quadros pintados pela mãe dela e fizeram poucas alterações além dessa. Na mobília e na configuração, o apartamento resiste ao tempo e conta a história de uma Caxias do Sul em franco crescimento econômico.

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ADAPTAÇÃO O prédio mais alto do estado, com uma vista que Adriana não troca por nada, foi sonho alimentado desde a infância. Quando mudou para o apartamento, lhe pareceu ainda maior. Adriana removeu paredes, mudou do piso ao teto e deu ao apartamento construído em 1976 uma cara contemporânea com a funcionalidade necessária aos nossos dias.

a catalogar os edifícios mais representativos para a História da cidade. Com o trabalho voluntário de fotógrafos, produziram as imagens e reuniram pesquisa sobre os prédios para falar do contexto de da criação de cada um e suas evoluções. Antes do primeiro post, já tinham em mente qual seria a primeira visita: o edifício Ettore Lazzarotto. De porta em porta, foram em busca de anfitriões dispostos a abrir as portas e contar histórias. “A gente ia falar direto com as pessoas e éramos recebidos super bem. Normalmente, íamos na portaria dos prédios e, como a maioria tem os porteiros, buscávamos essas pessoas. Sempre falávamos sobre o intuito do projeto e poucas vezes os moradores não abriam as portas. Os mais velhos têm orgulho dos seus prédios antigos”, conta Clarissa. O Ettore Lazzarotto tem 11 andares. No térreo e sobreloja são abrigadas as salas comerciais; do 2º ao 5º andar ficam os apartamentos dos quatros filhos da família Ettore; do 6º ao 10º, são apartamentos livres; no último andar fica o salão de festas. A edificação chamou a atenção do grupo pela manutenção de peças originais da década de 60. O terraço típico de áreas nobres oferece uma vista panorâmica da cidade. “Outra coisa curiosa é que ao lado do prédio há uma casa, onde está o Café Nobre, que pertence à família. Essa resi-

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dência possui uma passarela interna que a liga aos primeiros andares do edifício, para que o seu Ettore e sua esposa pudessem visitar os filhos (sem passar pela calçada)”, relata. Essa primeira visita do projeto foi ainda mais especial pela participação de Clary Lazzarotto Michielon, uma das moradoras mais antigas da Avenida Júlio de Castilhos. Ela faleceu em 2021, aos 100 anos de idade. Clarissa guarda na memória o dia em que Clary abriu as portas para a equipe. “Ela era uma senhorinha totalmente lúcida, apaixonada pela história da família. Nos serviu café, sentamos na sala dela e conversamos. Fomos muito bem recebidos. Como ela era esposa do seu Ettore, fomos autorizados a conhecer todo o prédio.” Clary viu uma Caxias em evolução. Assim como ela, Nanci também presenciou diversas mudanças da janela do seu apartamento. “Mudou o calçamento da Júlio de Castilhos, vejo mais o verde na paisagem, além de melhorar a iluminação e aumentar a circulação de pessoas. A vista da cidade mudou, com mais construções ao longo dos anos”, ressalta. Transformações desse tipo, Clarissa e os colegas do projeto conseguiram apresentar no livro “Prédios do Brasil”, lançado neste ano para todo o país. A obra organizada por arquitetos de SP, que reuniram diferentes momentos da história arquitetônica das principais

cidades brasileiras. O grupo caxiense tem outra ambição: produzir um livro sobre a arquitetura da cidade. A chegada da pandemia impôs uma pausa no sonho e na visitação de prédios. Clarissa e Taís ganharam bebês em meio a esse cenário e também desaceleraram. No ano que vem, a ideia é tirar o pó e recolocar na ativa o @prediosdecaxiasdosul. “A ideia toda é ter o livro, só que necessitamos compilar informações suficientes para montá-lo. Quando tivermos o registro de prédios significativos, vamos lançar o livro, seja por meio de alguma lei de incentivo ou ajuda do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU)”, diz Clarissa. Se, infelizmente, o sonho do projeto Prédios Caxias do Sul precisou dar uma pausa, o sonho de Nanci e de Adriana é permanecerem onde realizaram os seus. Além da localização e vizinhança, outros bons motivos para amarem o Jotacê e o Parque do Sol, a segurança das grandes portarias, e porteiros que acumulam experiências de até 30 anos no posto (patrimônios, portanto), dão tranquilidade a quem vive no pontos mais movimentados da cidade. A cada vez que vai à janela, Adriana renova o amor por onde mora. “Não tenho como ficar sem essa vista nunca, ela pra mim é vitalícia. É como ver a história passar diante dos meus olhos.”



ARQ. CAROLINE FORMENTINI | SUÍTE DA MENINA

UM QUARTO PARA CRESCER

Dormitório de menina estimula novos aprendizados e entrega autonomia na medida certa para cada etapa do desenvolvimento Quarto é lugar de dormir, certo? Pelo menos para as novas gerações, essa não é a única função desse ambiente. E talvez nem seja a principal. Quarto é lugar de brincar, de estudar, de ter aulas, de interagir com o mundo, de aprender, de desenvolver-se. E esse projeto tem tudo a ver com esse propósito múltiplo do dormitório infantil. O briefing pedia um quarto que crescesse com a menina de quatro anos e a ajudasse no desenvolvimento. E a entrega já mostra grandes oportunidades de evolução. Uma das funções do novo quarto da menina era auxiliar na transição do berço para a cama, um processo que pode ser conturbado em muitas famílias. O incentivo para dormir “como gente grande” vem de uma cama com

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grade de segurança (necessária para quem estava acostumada à contenção do berço) mas ao nível ideal para subir e descer sem ajuda. O recorte em forma de casinha potencializa o papel lúdico da decoração e promove a identificação da criança com o seu espaço. Na cerquinha junto à parede, acomodam-se os livros que ela escolhe, para os pais lerem, antes de dormir: outro artifício para fazer do quarto um ambiente de família e fortalecer o vínculo afetivo nessa etapa de passar de fase. Tons candy colors de verde e rosa criam uma paleta agradável à faixa etária e, ao mesmo tempo, aconchegante e suave para quando escurece e a chave vira de brincar para descansar.

O processo de autonomia segue por todo o mobiliário. Um armário com detalhes em palha natural põe os brinquedos ao alcance das mãos – uma facilidade para a criança – e também estimula a organização – um desejo profundo dos pais. Na bancada multiuso, uma tampa se abre e ilumina o conteúdo: um arco-íris de laços ao acesso e à escolha da criança. Quem educa crianças sabe que eles evoluem rápido. Criar um ambiente ideal para cada idade não faz o tempo passar mais devagar, como os pais gostariam, mas aproveita o potencial de cada etapa. Conforme eles crescem, também ganham autonomia. E o quarto pode ajudar a avançar em cada passo.


ESCOLHAS Da organização dos brinquedos e livros aos acessórios, elemento surpresa embutido na bancada de estudos, o projeto dá acessibilidade à menina de quatro anos recém-promovida à irmã mais velha. Um bom momento para incentivar as próprias escolhas e desenvolver a autonomia.

INDEPENDÊNCIA O quarto de brincar, de estudar, de receber amigos, de aprender (e de dormir!) expande sua paleta candy colors para o banheiro. Nesse espaço também, aos poucos, a independência dos pais para a higiene vai sendo entregue à criança.

Marcas Apoiadoras

Casa Serra Acabamentos Renda Decorações

ARQ. CAROLINE FORMENTINI carolineformentini.arq 54 99163.4306 Magazine Sala de Arquitetos | 2022/ED47 | 65


ARQ. ADRIANE CESA | CASA DE PRAIA

DEIXE O MAR ENTRAR

Casa com ampla vista da praia integra-se à paleta da orla, entrega conforto a uma grande família e, como o coração de avó, agrada a cada integrante O que lhe vem à mente quando você pensa em casa de vó? Se você imaginou colcha de retalhos, crochê e cozinha colonial, esse projeto propõe trocar a nostalgia pela inovação… Do estereótipo, essa casa mantém só a função: é cheia de afeto, sofá lotado, entra e sai contínuo e mesa farta (de comida e de gente). No design, é uma casa cheia de referências contemporâneas. Os ambientes foram pensados para agradar a mãe,

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o casal de filhos adultos e suas famílias. E é apenas nisso que o projeto – cinco suítes, cozinha, sala, lavabo e banheiro – se rende a um clássico das mães com açúcar: a vontade de agradar a todos. Essa é a casa de praia da avó – o motivo perfeito para investir nos agrados. Os filhos vivem rotinas atribuladas nas suas casas e têm o lugar como válvula de escape, sempre que a agenda permite esse presente. Os netos têm

mais tempo para curtir – pelo menos nas férias – a casa da avó. Nos melhores momentos do ano, todos se encontram ali. E a casa oferece conforto, circulação, praticidade e funcionalidade mesmo com lotação máxima. Localizada em Garopaba (SC), a casa tem grandes janelas que emolduram as praias de Garopaba e Siriú. E essa vista é ponto de partida para as escolhas do projeto. As cores da paisagem também migram para o interior.


Uma paleta neutra reproduz os tons da areia: para quem contempla a praia do interior, a casa se mistura à orla. Elementos naturais – madeira, linho, palha e pedra – completam a referência visual. Além do conceito de associar a estética à beira-mar, o projeto também investe em funcionalidade e facilidade de manutenção. Os dois benefícios são ainda mais importantes em casas de praia pelo tipo de uso do imóvel

(festas, lazer, reunião de família), pela intensa circulação de pessoas e pela interferência de fatores naturais, como a atmosfera carregada de areia e maresia. Nas suítes, diferentes, mas harmoniosas no conjunto, foram escolhidos armários menores para atender a uma demanda tipicamente de férias: desfazer as malas suficientes para curtas temporadas. O espaço social – jantar e living – é integrado à cozinha. Das paredes para fora, ampla visão da

praia. Das paredes para dentro, visão panorâmica do espaço para acomodar e promover a interação de todos em dias de casa cheia. Cada item, da decoração ao mobiliário, foi pensado para facilitar a limpeza. Porque ao chegar, temos a ansiedade de desfazer as malas e organizar tudo para iniciar as férias. E ao sair, ainda que essa parte seja um pouco melancólica, também queremos praticidade para liberar o espaço e deixar tudo pronto para a próxima temporada.

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DUAS PRAIAS Os tons da areia, base da paleta de cores, trazem a orla até a casa. Nas aberturas de chão ao teto na fachada, vista para as praias de Garopaba e Siriú.

BOM GOSTO PARA TODOS OS GOSTOS Os dormitórios seguem uma lógica de hotel nos espaços de armazenamento: mais compactos e atentos à praticidade necessária ao fazer e desfazer as malas. A decoração interage com a paleta e a proposta visual da casa, mas tem personalidade própria em cada quarto.

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EM FAMÍLIA A ampla cozinha, estar e jantar integrados, foram planejados para dar conforto em ocasiões de casa cheia: a avó, os dois filhos e as famílias deles. Os acabamentos resistentes dão praticidade, ao fim das férias, à tarefa de deixar tudo organizado e limpo para a próxima temporada.

Marcas Apoiadoras

Casa Serra Acabamentos Empório Vila Rica Quality Mármores Villafranca

ARQ. ADRIANE CESA adricesa 54 99966.9967 Magazine Sala de Arquitetos | 2022/ED47 | 69


ACERVO PAULO SARTORI

COLEÇÃO DE REFLEXÕES

Uma casa sem arte é uma casa sem vida, segundo Paulo Sartori, colecionador de mais de 380 obras que contam a trajetória do Brasil Contar histórias é intrínseco ao ser humano. As rodas de conversa são recheadas de relatos do dia a dia, seja história familiar, um problema de trabalho ou algum acontecimento fora do comum. Desde os primórdios, a humanidade carrega consigo o ato de narrar eventos do cotidiano. Começou com o homem das cavernas e segue até hoje, essencial para preservar memórias, propagar conhecimento e compartilhar cultura, expressando os pensamentos de cada época. Essa reprodução constante faz com que saibamos o que foi a Independência do Brasil, a Semana da Arte Moderna ou a Ditadura Militar. Para o empresário e colecionador Paulo Sartori, contar parte da história da Arte Contemporânea no Brasil surgiu meio sem querer. O ano era 2013. Ele estava com o carro estacionado na rua Feijó Júnior, no bairro São Pelegrino, bem na área central de Caxias do Sul. Estava à espera da esposa, quando avistou, do outro lado da rua, a galeria Arte Quadros. “Decidi entrar. Então liguei para minha mulher, disse que estava na galeria para pegar uns quadros, porque queria decorar nossa casa recém-comprada. Consegui convencê-la e adquirimos nossas primeiras obras,” relembra. As obras: uma do sergipano Aécio Sarti e outras quatro do caxiense Victor Hugo Porto. Assim começou uma grande coleção.

DE UMA EM UMA O despertar de um colecionador começa aos poucos, como em uma caça ao tesouro. Inicia com perguntas, segue pela curiosidade, perpassa pelos enigmas e vai em busca de res-

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postas. Pode até não achá-las, mas a incessante procura traz mais e mais conhecimento, ideais e concepções de mundo. Inquieto, Paulo quis ir atrás da arte contemporânea brasileira, conhecer o porquê daquelas formas, das diversas expressões, críticas e reflexões. Hoje, ele possui cerca de 380 obras, entre quadros, fotos, esculturas, videoartes, pinturas e instalações que contam a história de um Brasil atual, com destaque para a arte gaúcha dos séculos XX e XXI. Se você quiser conhecer a Geração 80, Paulo apresenta. Se quiser ver sobre o Pop Gaúcho, Paulo mostra. Nomes como Carlos Vergara, Milton Kurtz, Mara Alvares e Carlos Asp, estão na coleção do empresário. Paulo escolheu colecionar o hoje, pois vê que o contemporâneo incita o debate sobre problemas em discussão. “Esse tipo de arte trata de questões sociais e políticas me atrai porque não é o belo pelo belo, mas traz uma leitura sobre o momento. Não serve apenas para decorar o espaço. Eu consigo conversar com cada obra, pois gera uma reflexão, um tentar entender o que o artista quis dizer com sua criação”, diz. Esse elo entre Paulo e o artista pode ser visto em obras que falam sobre as manifestações políticas no país, o retrato da violência policial, a cultura indígena e afro-brasileira, críticas à ditadura militar, entre tantas expressões que narram o atual, conectando diferentes realidades. Essa veia colecionadora não foi fácil de manter. Paulo precisou estudar sobre arte. Sua

“Esse tipo de arte trata de questões sociais e políticas me atrai porque não é o belo pelo belo, mas traz uma leitura sobre o momento. Não serve apenas para decorar o espaço. Eu consigo conversar com cada obra”


DIVERSIDADE No centro, Isabel d’après Marcel, de Isabel Ramil. A partir do topo à esquerda, em sentido horário: Sem título, de Camille Kachani; Palomo, de Berna Reale; Festa na Laje, de Randolpho Laminier; Real Gabinete Português de Leitura, de Flávia Junqueira; Mapa Mole, de Marina Camargo; e Sem título, de Mário.

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AO PÚBLICO Com curadoria de Paulo Herkenhoff, acervo de Paulo Sartori levou 250 obras, de mais de 100 artistas, para uma exposição no Margs, em cartaz de janeiro a maio de 2022.

saga iniciou há nove anos, mas a continuidade para dar corpo a uma coleção foi marcada pela insistência. Ele procurou uma consultoria para saber o que valia mais a pena adquirir, o que faria mais sentido para compor o seu gosto. A queda pela arte contemporânea veio nesse período, mesmo sempre recebendo indicações de obras mais antigas. Paulo, em paralelo, realizava pesquisas próprias para se aprofundar com este mundo. O início se deu com artistas gaúchos, porém desejava sair do RS e explorar o Brasil por completo. Ele começou algumas viagens para Porto Alegre e conheceu Marga Pasquali, fundadora da Galeria Bolsa de Arte, referência em obras contemporâneas. O processo de imersão foi tão profundo que ele resolveu fazer viagens a São Paulo para visitar o Museu de Arte de São Paulo (MASP), a Pinacoteca e algumas feiras e exposições. “Fiz umas loucuras de sair um dia de Porto Alegre para ir a São Paulo, voltar um dia depois ou retornar na mesma noite. Saía umas 4h de Antônio Prado, pegava um voo às 7h em POA e ia para capital paulista, visitando diversos lugares para aprender sobre a arte e os artistas”, conta. Ele só percebeu que estava formando uma coleção em 2017, ao comprar algumas obras para colocar em casa. Paulo tinha em torno de 40 obras nessa época. Foi também o período em que abria as portas da sua casa para que pessoas próximas pudessem vislumbrar sua galeria particular. As interações com a arte e as explicações sobre o contexto artístico influenciaram para que muitos que antes nunca pisaram em um museu fossem visitar um. Esse crescimento fez Paulo ver que necessitava de outro espaço para acomodar sua coleção recém-iniciada. Uma parte foi colocada em uma reserva técnica alugada, com duas salas para dispor as

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obras. São espaços com controle de umidade, temperatura e entrada de luz para preservar os itens. Futuramente, ele pretende ter uma galeria privada, em Antônio Prado. “Há um projeto feito pelo arquiteto Luciano Basso para a construção de uma galeria privada. A ideia é que ela acolha a coleção, sejam feitas exposições e, ainda, tenha uma biblioteca composta por livros de arte”, planeja.

CONVITE PARA EXPOSIÇÃO NO MARGS “Primeira vez que essa coleção privada vai a público. Há algum tempo já sentíamos isso, mas só a ora é que temos a certeza de que o ato de colecionar é muito mais prazeroso se compartilhado.” Essa foi uma das frases usadas por Paulo e sua esposa para apresentar a coleção ao público no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS). A exposição ocupou as pinacotecas, as Salas Negras e o Foyer do museu durante quatro meses, encerrando a mostra no início de maio deste ano. O convite veio por indicação do artista porto-alegrense Túlio Pinto, recebido com surpresa pelo empresário. Ele nem imaginava que pudesse ser chamado para apresentar sua coleção a um grande número de pessoas, não pensava que abrir as portas da sua casa poderia proporcionar algo desse tamanho. “Foi uma oportunidade das pessoas poderem apreciar a coleção. Como tinha a mania de abrir a minha

casa para amigos e convidados verem as obras, vi que a exposição no museu seria uma oportunidade para outras pessoas terem acesso a arte”, completa. Foram expostas 250 obras, de mais de 100 artistas, que fazem parte da coleção de Paulo. A curadoria ficou por conta do renomado Paulo Herkenhoff, responsável por montar o arco histórico das obras, que vão de 1903 a 2021. Para apresentar a coleção, Herkenhoff colocou que “A coleção Sartori se inicia com um olhar sobre artistas do Rio Grande do Sul do pós-guerra, para depois abrir seu compasso em busca de outras latitudes estéticas na arte do presente. São esses movimentos de descoberta e viradas que fazem do colecionismo privado um modo de reconhecer o Brasil simbólico, um sensor das inquietações da própria arte.” Esses movimentos evidenciados por Herkenhoff mostram a visão de Sartori sobre a importância das obras de arte para as pessoas. Ele vê mais do que um elemento de decoração para uma casa, enxerga que o “artefato tem que te comprar e não ao contrário”. Ou seja, é necessário ser cativado pela obra para que ela traga algum significado, alguma discussão ou reflexão. “Uma casa sem arte é uma casa sem vida, perde muito da essência. Acho que seja qual for a obra, ela valoriza o ambiente. Se a pessoa tem essa predisposição de fazer a aquisição sobre o que a obra significa, e não para decoração, ela começa, aos poucos, a contar sua história também”, conclui.

“ Se a pessoa tem essa predisposição de fazer a aquisição sobre o que a obra significa, e não para decoração, ela começa, aos poucos, a contar sua história também”



ARQ. MARIANA MARCHIORO | CONSULTÓRIO

CAIXAS MENTAIS Consultório de psicologia otimiza 35 metros quadrados em cinco espaços independentes e focados no conforto e privacidade que a profissão exige Uma sala de atendimento, uma copa, uma sala de espera reservada, lavabo, hall independente. Mais: fluxo de entrada e saída de pessoas que evitasse encontros e completo isolamento acústico entre os ambientes. Essa era a lista de desejos de uma psicóloga para o layout do seu consultório. O espaço disponível: 35 metros quadrados. Como um quebra-cabeça complexo – não é assim que funciona a mente? – o projeto, que iniciou a partir de um único ambiente com contrapiso e lavabo, criou espaços dinâmicos e uma circulação que entrega a cada paciente a sensação de ser o único na agenda da profissional. A segurança e o conforto de quem frequenta o consultório foram prioridades do conceito do projeto. Quem chega é encaminhado a uma sala de espera privativa, ocultada do acesso de entrada por uma porta de serralheria e vidro fosco. O ambiente de acolhimento já propõe desacelerar e oferece tranquilidade para pré-organizar as ideias para a sessão. A sala de atendimento, o passo seguinte, também é um abraço. A base é de cores claras, com marcenaria em melamina e laca nude e detalhes em metal ouro fosco, indicações de sofisticação do manual da marca da profissional. Nessa área principal, piso de madeira natural e formas orgânicas criam um cenário de sala de estar. Do tapete sob a poltrona espaçosa e sem cantos às cortinas de tecido, a proposta da ambientação é deixar o paciente à vontade, sentir o espaço como refúgio e respirar o terapêutico clima de casa. Pós-sessão, no mesmo ambiente, uma discreta área administrativa (também útil à parte do trabalho que não envolve a presença do paciente) ganha formalidade. Sem tapete sob os pés, o paciente é conduzido para o fechamento da consulta, o agendamento da próxima e a despedida. A psicoterapia aflora emoções. E, muitas vezes, você não se sente apresentável nem aberto a ver ninguém no caminho até em casa, muito menos um desconhecido. Pelo menos na parte que cabe ao consultório, da poltrona até a saída, o paciente recém-atendido segue seu curso sem cruzar com outros. As paredes de gesso acartonado com isolamento acústico (que permitiram o uso eficiente de um espaço compacto) é um labirinto. Tal qual a psicologia faz com os nossos “nós”, é a inteligência do layout que conduz o indivíduo à solução.

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EM SEGURANÇA A privacidade dos pacientes foi elemento-chave do projeto. Além do isolamento acústico nas divisórias, os espaços foram organizados para que, quem chega e se encaminha à sala de espera, nunca encontre quem está de saída, e vice-versa.

EM CASA As formas, cores e texturas da sala de atendimento foram pensadas para recriar o cenário de uma sala de estar. A ideia é promover a sensação de conforto, acolhimento e confiança que a psicologia demanda.

Marcas Apoiadoras Movelaria Palladio’s Decor Renda

ARQ. MARIANA MARCHIORO marianamarchioro.arq 54 99178.7342 Magazine Sala de Arquitetos | 2022/ED47 | 75


ARQ. ELISANGELA SELAU | DORMITÓRIOS CASAL, INFANTIL E BEBÊ

UM QUARTO PARA CADA FASE

Para os pais, um refúgio de tranquilidade; para a menina, um lugar de diversão; para o bebê, sono tranquilo e funcionalidade Em uma casa com duas crianças, aproveitar o quarto de casal é luxo. E esse projeto atende à risca essa condição. Que seja de luxo, então! Enquanto o refúgio de descanso dos pais ganhou detalhes requintados, os dormitórios das crianças foram projetados conforme as demandas das idades: diversão e autonomia no espaço da menina, funcionalidade no quarto do bebê. Uma cabeceira impoentente, da cama ao teto, é o destaque na suíte do casal. Em uma base de tecido, retângulos de diferentes larguras recortados em espelho bronze dão o brilho e o tom dourado que ilumina o dormitório e aparece em detalhes, como na moldura do móvel do banheiro. O espaço de armazenamento

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nos armários foram ampliados e as funções também. O quarto ganhou espaço para maquiagem e um compartimento-vitrine, no aparador, para acessórios. O quarto da filha mais velha, criado pelo método montessoriano, privilegia o desenvolvimento autônomo. E já prevê novas fases. A cabeceira é o item infantil mais emblemático. O desenho de casinha se estende da cabeceira até os pés da cama, tendo seu ponto mais alto no canto do quarto e um chaminé na parte mais longa. O item, hoje destaque na composição, pode ser facilmente retirado sem prejudicar a estrutura do todo. Em alguns anos, pequenas mudanças como essa farão o quarto ganhar ares de adolescência. Feito também para estudar e

receber amigas, o ambiente em rosa sal e verde mint já tem, pelo menos um item, que agrada crianças em qualquer fase: um espaço instagramável. O par de asas de borboleta para interagir com selfies diante do espelho foi pedido dela. O terceiro quarto, até a reforma, era utilizado como depósito. Essa função, típica dos quartos “livres”, precisou ser mantida quando o espaço se transformou em dormitório do bebê. Com novos móveis, o espaço ganhou funcionalidade. O trocador funciona dentro do armário, duas portas de base lateral mantêm o depósito e caixas organizadoras acomodam as coisas do bebê. Em breve, o espaço também vai se adaptando às necessidades do mais novo membro da família.


DIVERSÃO Dormitório da menina tem espaço para brincar, estudar e instagramar. Pequenas mudanças, no futuro, permitirão promover o quarto infantil em espaço adolescente.

ARMAZENAMENTO Quarto do bebê acomoda, além do acervo e funções inerentes a essa fase, depósito que já ocupava esse “quarto vazio” da casa.

ARQ. ELISANGELA SELAU elisangelaselauarquitetura 54 98402.6936 Magazine Sala de Arquitetos | 2022/ED47 | 77


ARQ. ANDRESSA BARROSO | ESTAR E JANTAR

UM CLÁSSICO DE FÉ

Projeto para família católica alia tecnologia para o máximo conforto a elementos para representar, no cotidiano, a religiosidade “Pensei: a Santíssima Virgem sorriu para mim. Foi por causa das orações que eu tive a graça do sorriso da Rainha do Céu”, escreveu Teresa de Lisieux, Santa Teresinha, em sua biografia. O texto é um relato de quando ela, doente, aos 14 anos, viu a imagem da Nossa Senhora das Vitórias, na cabeceira da sua cama, com outros olhos. Enxergou uma beleza nunca vista e sentiu a cura. A fé que curou Santa Teresinha também é ponto de partida desse projeto, desenhado durante os anos em que o prédio subia. A imagem da Virgem do Sorriso, como ficou conhecida a visão da santa, é destaque diante da porta de entrada do apartamento. Com um suporte discreto, a peça parece suspensa no ar, em um fundo de mármore dolomítico Macchia Oro. Os tons de branco e dourado da atmosfera celestial da entrada também migram para os demais ambientes e destacam outros símbolos religiosos, como a bíblia e a vela no aparador da sala de jantar.

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Em todo o projeto, foram aplicados oito quadros personalizados com temática sacra. O principal deles é a reprodução de O Som dos Anjos, de William-Adolphe Bouguereau. Na tela, o Menino Jesus repousa no colo de Maria, que também dorme, enquanto três anjos tocam suas melodias. A serenidade da cena e o cuidado estético do quadro se reproduzem na área de jantar. Rodeada por boiseries em laca branca, a mesa acompanha o mesmo tom. O brilho do estilo clássico se destaca no dourado das cadeiras, no porcelanato do piso e em dois grandes lustres de cristal. A área social se desdobra em outros dois ambientes integrados. A biblioteca faz a transição entre o jantar e o estar. A proposta é inserir os livros no cotidiano – meta contínua, especialmente para pais de jovens – e congregar a família em torno da leitura. A casa é inteligente também! Através de um display na parede, ou pelo celular, a família controla a automação do ar-condicionado, as persianas, a iluminação e

o som ambiente. O sofá de couro também é tecnológico e se molda às funções de receber amigos ou relaxar, com ajustes nos pés, cabeça e lombar. Na estrutura de mármore que ocupa a parede inteira e integra estar e biblioteca, uma lareira ecológica, à álcool, dá aconchego aos dias frios. As tomadas que alimentam o sofá e até a árvore de Natal – indispensável em casas que seguem o calendário católico – foram colocadas no chão para ocultar os fios. Nesse ambiente de fundo, o estar propõe o oposto da paleta super clara dos demais. Cortinas em verde-escuro casam com poltronas de veludo no mesmo tom, ornadas com folhas de ouro. A grande fachada de vidro, com vista para o Parque dos Macaquinhos, também é coberta de tecnologia: persianas que unem estética e funcionalidade aproveitam a luz natural e controlam a entrada de luminosidade. Convém abrí-las por completo ao fim do dia para contemplar a bênção de um pôr-do-sol assim: divino.


PALAVRA Entre a entrada e o estar, uma biblioteca é destaque da circulação. Mais do que elemento decorativo e clássico, o recurso incentiva no cotidiano o hábito da leitura.

CORES DO SAGRADO Do porcelanato do piso ao mármore Macchia Oro, fundo para a imagem de Nossa Senhora do Sorriso, branco e dourado predominam no projeto e destacam figuras religiosas, característica marcante da família.

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VISTA E CONFORTO O sofá, com ajuste eletrônico de posições, garante conforto à área de estar e tem seus fios ocultados, conectados a tomadas no chão. A tecnologia está presente em todo o projeto, que tem automação para o controle de ar-condicionado, som e iluminação, além das persianas que controlam a luminosidade intensa durante o dia e se abrem ao fim da tarde para uma vista panorâmica do pôr-do-sol sobre o Parque dos Macaquinhos.

VERDE O veludo das poltronas ao fundo, e as laterais das cortinas propõem contraste para a paleta predominantemente clara.

Marcas Apoiadoras

Casa Serra Acabamentos Empório Vila Rica Palladio’s Decor Quality Mármores 80

ARQ. ANDRESSA BARROSO bidia bidi.cristais 54 99177.8367


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ARQ. CATIA GIACHELIM | ÁREA SOCIAL

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COM A CARA DO CASAL Apartamento de jovem casal ganhou uma configuração moderna e aconchegante Um apartamento onde o objetivo era conforto (no estilo contemporâneo) foi a solicitação dos clientes para a arquiteta Catia Giachelim. A arquiteta desenvolveu o projeto em um período de quase três anos, entre planejamento e entrega final da obra. O briefing pedia um espaço familiar aconchegante, e a escolha da arquiteta para garantir isso foi a unificação da área social com

a área gourmet, mantendo o mesmo piso para esta integração, mas com o uso da madeira para este novo espaço. O apartamento todo tem muito a ver com a identidade do casal, desde a coleção de antiguidades da família que teve um espaço de destaque na cristaleira que fica no eixo do hall de entrada, até as peças de decoração que o casal gosta de garimpar em suas viagens. A natureza também foi inserida no pro-

jeto, com o uso de vegetações naturais em vasos, detalhe que os clientes não abrem mão. Assim como o uso de materiais nobres e com acabamento de excelência. A iluminação teve ponto de destaque no projeto, desde a escolha dos pendentes usados no projeto como nos painéis com iluminação embutida. Um trabalho completo. Após uma ótima e duradoura colaboração entre cliente e arquiteta, o resultado foi um apartamento dos sonhos.

VEGETAÇÃO INSERIDA AO COTIDIANO Um projeto pensado em todos os detalhes, inclusive nas plantas, o que trouxe o aconchego que o casal e os filhos esperavam.

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HISTÓRIA DE FAMÍLIA Cristaleira com os objetos colecionados é destaque na cozinha.

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BAR EM CASA Área gourmet em estilo rústico é o recanto usado pelo cliente e amigos. Objetos do acervo pessoal do cliente ambientam e dão aconchego ideal para o espaço. CHEIOS DE ESTILO Acompanhamento do projeto do apartamento do casal despojado levou três anos, e tudo ficou com a cara dos clientes, que deram seus toques pessoais.

LUXO O apreço pelos detalhes também está no lavabo. Tons de dourado iluminam o espaço o lavabo que ganhou peças imponentes, como o pendente em cristal.

Marcas Apoiadoras Mania de Maria Movelaria Palladio’s Decor Quality Mármores Renda Decorações

ARQ. CATIA GIACHELIM catiagiachelimarquitetura 54 99974.4429 Magazine Sala de Arquitetos | 2022/ED47 | 85


ARQ. BIANCA MATTANA | ESTAR, JANTAR, COZINHA GOURMET E DORMITÓRIO

UM PROJETO REPLETO DE LUZ Reformulação da área social e do quarto do casal deu novos ares — e luzes — ao apartamento

Os clientes fizeram apenas dois pedidos a serem contemplados no projeto: um espaço agradável para receber amigos e um dormitório clássico para descansar. A arquiteta Bianca Mattana já havia trabalhado com o casal antes, o que facilitou para que o projeto fosse assertivo. O briefing pedia uma nova cara para a residência, porém, mantendo o máximo possível da marcenaria existente. O casal reside há bastante tempo neste apartamento mas, até então, nunca tinham feito os ambientes de forma planejada. Tomaram essa decisão e não se arrependeram. Os ambientes foram sendo, pontualmente, replanejados, tendo sempre o desafio de repa-

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ginar o mobiliário existente de forma harmônica. Mas tudo se encaixou, e o apartamento se renovou. Como a família faz questão de receber familiares e amigos, o projeto iniciou a sua execução pelo gourmet, garantindo que essa socialização tivesse o espaço ideal para acontecer. A cozinha e sala de jantar ficaram integradas com a churrasqueira. Neste espaço, o destaque é para a bancada de mármore branco Paraná e espelhos bronze, que trouxeram elegância ao ambiente e garantiram a sensação de amplitude do mesmo. Um toque sutil fez toda a diferença. A marcação entre ambientes da cozinha e churrasqueira gourmet foi criada a partir de ladrilhos hi-

dráulicos, que também serviram como ponto de cor, detalhes que são vistos também nos outros ambientes. O projeto é definido pela arquiteta como clássico, com toques contemporâneos. Já na suíte, o desejo era realizar o “dormitório dos sonhos” dos clientes: clássico e aconchegante. Toques de brilho e o dourado, uma das assinaturas dos projetos de Bianca, facilitaram no resultado final. Arquiteta garantiu a atmosfera desejada juntando o briefing com os tons branco e preto, inclusive presentes na roupa de cama e cabeceira acolchoada em couro croco branco (padronagem desenvolvida especialmente para esse projeto). Por fim, pontos indiretos de iluminação geram maior conforto aos ambientes.


DOURADO O projeto adotou o uso de dourados e pontos de luz em locais específicos. Além de toques especiais, como a marcação de ladrilhos floridos em tons de azul e amarelo, o que transformou o espaço em uma mistura de clássico com contemporâneo.

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QUARTO DOS SONHOS Os clientes tinham o sonho de ter um dormitório clássico e aconchegante, o que foi garantido com as cores claras e a iluminação quente.

Marcas Apoiadoras

Casa Serra Acabamentos Lizt Quality Mármores Renda Decorações Villafranca 88

ARQ. BIANCA MATTANA biancamattana 54 99941.4303


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ARQ. CRISTIANE PINTO | ESPAÇO GOURMET, LIVING E SUÍTE

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UMA FESTA MODERNA

Lounge bar é centro de inspiração em apartamento que abriu mão de dois quartos a um amplo espaço para receber amigos Parece um salão de baile! Nesse projeto, isso foi mais do que força de expressão ao deparar com a amplitude do espaço depois de descerem as paredes. A atmosfera de bar é a inspiração para os dois grandes ambientes integrados – lounge e espaço gourmet – que ocupam quase a totalidade dos 180 metros quadrados disponíveis.O projeto deixa claro: é noite! E a noite é de gala. Os três dormitórios disponíveis no apartamento adquirido na planta não faziam sentido para o casal, na faixa dos plenamente ativos 50 anos. O projeto manteve paredes apenas na suíte. Os outros dois dormitórios foram excluídos da planta e cederam uma área importante para o espaço integrado de cozinha e living, solução para dar funcionalidade ao cotidiano dos dois e para receber amigos. É essa segunda parte da vida do casal, o talento como anfitriões, que dita a configuração do apartamento e as referências da decoração. A estética noturna foi um pedido

dos clientes. E o projeto, moderno e com referências Art Déco, começou a ser traçado a partir do bar. Uma opulenta bancada ônix, retroiluminada por placas de LED, dá a devida importância ao centro da “festa” e se destaca em meio ao mobiliário predominantemente preto, com dosados e surpreendentes toques de cor. O forro de madeira, com iluminação do-it embutida, desenha a área do bar. Em frente ao bar, um lounge acomoda os amigos para apreciar uma boa bebida e uma boa conversa. A mesma integração se vê na cozinha. Em noites de encontros, a grande bancada em granito kouros, que dá funcionalidade à alimentação no dia a dia, põe os convidados bem perto dos preparos do espaço gourmet. Na área de churrasco, com recorte em L na extremidade da bancada, bancos altos fazem a roda de bate papo ao redor do assado. Portas de vidro canelado mantêm a luminosidade no ambiente principal e dão privacidade a uma lavanderia. O espaço

de TV funciona como uma parte mais íntima do espaço: embora integrado ao living e à disposição dos convidados, mantém um estilo e opções de conforto mais afeitos ao dia a dia. Com a mesma paleta escura da área social, a suíte do casal também mantém a proposta de integração de espaços. Em um layout que escolheu ter poucas paredes, é a cabeceira da cama que cumpre a função de delimitar a área de vestir, com portas espelhadas para dar amplitude a esse pano de fundo da suíte. Criado com tantas referências noturnas, com vista panorâmica das luzes da cidade, o apartamento também dá espetáculo durante o dia. Quando as cortinas escuras se abrem, revelam a paisagem privilegiada do Parque dos Macaquinhos. No amanhecer, o verde do ano inteiro e o colorido dos plátanos no outono têm sua beleza valorizada pela base sóbria do apartamento. Co-autoria: Juliana Tomazi Consenso

LOUNGE BAR Talento dos clientes como anfitriões ditou, além do layout (amplo, integredo à área gourmet e dividido em lounges), a estética de salão de baile com referências do Art Déco. O centro visual é o bar, com bancada de pedra ônix retroiluminada.

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DIA A estrutura do espaço gourmet propõe a interação dos convidados com os preparos na cozinha e na área de churrasqueira, com bancada em granito kouros. No dia a dia, o espaço privilegia a praticidade para o casal na faixa dos 50 anos. A lavanderia fica atrás de portas de vidro canelado que acrescentam brilho (útil à estética lounge bar), mas mantém oculta a única área “íntima” dessa parte do projeto.

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NOITE Com vista para o Parque dos Macaquinhos, o apartamento do 11° andar manteve apenas um dos três quartos da planta original. A eliminação das paredes proporcionou o layout de salão e otimizou espaços. A suíte do casal segue a paleta escura e a iluminação com atmosfera noturna dos demais ambientes.

Marcas Apoiadoras Empório Vila Rica Lizt Quality Mármores Villafranca

ARQ. CRISTIANE PINTO craft.arquitetura 54 98122.5902 Magazine Sala de Arquitetos | 2022/ED47 | 93


ENTREVISTA | GRASI TESSER

ARQUITETURA NO METAVERSO As possibilidades e aplicações do próximo capítulo da internet subvertem as fronteiras da imaginação

Grasi Tesser, empresária do ramo da tecnologia, dá alguns insights sobre a arquitetura e o metaverso. Para ela, o arquiteto é o profissional que está mais preparado para entender esse mundo: “O arquiteto já criava o 3D para o cliente imaginar e, no metaverso, a gente vai poder experimentar de fato, todo o entorno, todos os benefícios daquela construção”, diz. Afinal, o que vem por aí? Confira! O que é o metaverso e o que é possível fazer lá? Grasi Tesser: É uma tecnologia, não um lugar. Não é algo novo, o termo foi publicado pela primeira vez ainda em 1992, mas apareceu com mais força quando o Facebook trocou o nome para Meta. É uma tecnologia que permite criar um ambiente virtual, que é quase uma extensão do mundo físico. Onde as pessoas conseguem interagir através de avatares que vão a shows, que jogam, que colaboram. Para termos uma melhor experiência imersiva nesse universo, precisamos de gadgets de realidade virtual e de realidade aumentada, como óculos e manoplas que reproduzem movimentos e sensações no ambiente virtual. A evolução para uma web 3.0 está permitindo experiências diferentes de tecnologia e o uso desses gadgets para ter interações. Quem tem acesso à entrada no metaverso? GT: Como o metaverso é uma tecnologia, para termos acesso a ela, é fundamental uma internet mais estável, do tipo 5G, que ainda não chegou de fato no Brasil. O acesso a esses ambientes que existem hoje no metaverso ainda é caro, por causa dos gadgets, que são indispensáveis para uma experiência mais lúdica e imersiva. Os estudiosos de tecnologia são unânimes em projetar que daqui a quatro ou cinco anos, todos nós vamos passar cada vez mais – do tempo que a gente usa na internet – dentro desses ambientes imersivos. A gente chega em casa no fim da tarde e não diz ‘eu vou entrar na internet’, ela já faz parte, é uma extensão, a gente pega o celular e acessa o Instagram. E há uma tendência que isso aconteça também com o metaverso. Qual é o desafio para arquitetos do mundo real criarem espaços virtuais? GT: A minha visão é de que os profissionais que vão conseguir melhor se adaptar a essa tecnologia são os arquitetos. Eles já precisam fazer

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primeiramente um desenho, uma imagem, um 3D. Eles já vêm de um contexto de criar uma “imagem” para o cliente experimentar uma sensação antes de ela existir de fato no mundo físico. Acredito que o metaverso é uma superoportunidade para os arquitetos adquirirem mais conhecimento, de se especializarem em tecnologia. Do ponto de vista, de imaginar um cenário, de criar algo, primeiro de forma virtual para depois se transformar em algo real, os arquitetos são os profissionais que estão mais próximos de entender, de trabalhar e conseguir interagir, de fazer que isso seja uma experiência incrível. Já existem alguns universos que estão trabalhando junto com o físico. Por exemplo, nos EUA a pessoa compra um apartamento na planta e junto já ganha o mesmo apartamento no metaverso. A arquitetura, hoje, cria com limitações, de espaço, de orçamento, etc. Nos ambientes virtuais, quais são os limites de criação? GT: Primeiro, o trabalho do arquiteto, mesmo no ambiente virtual, vai continuar sendo um trabalho remunerado, assim como no mundo físico. E sobre isso, rodando por trás, tem muita tecnologia também, como os blockchain, que são toda uma cadeia criptografada de dados onde circula dinheiro e as NFTs (tokens não fungíveis), certificados de propriedade digital. Todas as transações no metaverso são através das criptomoedas. Por exemplo, os terrenos dentro do metaverso já aumentaram muito de valor, então, já existe especulação imobiliária por lá. Por outro lado, o grande barato do metaverso é justamente a falta de limites. No ambiente virtual, não tem força da gravidade, não existem as restrições do mundo físico. Não existe “falta de aço”. No metaverso, todo tipo de material e todo tipo de construção são possíveis, como, por exemplo, uma casa com telhado flutuante. Vou receber visita na minha casa e preciso de mais lugares na sala? Aumento o meu espaço. O metaverso vai dar uma maior possibilidade de criação e de experimentação. Na sua opinião, a mistura entre o espaço real e o virtual torna o 3D mais importante do que o físico em algumas situações? GT: Na verdade, ele abre mais oportunidades. No metaverso, vai ser possível experimentar e planejar antes de aplicar no mundo físico. De experienciar e não só visualizar. Aí o cliente, diante de um

projeto, vai poder saber o que funciona e o que não funciona para ele. O mundo virtual também vai nos atentar para os problemas da vida real. Por exemplo, hoje os prédios continuam sendo construídos sem uma tomada de energia na garagem para recarregar os carros elétricos. Como a circulação em espaços virtuais impacta na criação de espaços reais? GT: Vai dar uma sensação diferente de como podemos melhorar a nossa experiência no mundo real. Vai possibilitar que a gente se dê conta de coisas que estão faltando e do que é possível fazer diferente. Teremos um espaço de construção, no metaverso, muito amplo – construir as comunidades, os bairros. Essa melhor experiência, de onde vai estar cada coisa, de melhor noção espacial e geográfica e, “vivendo isso” de uma melhor maneira, permite que a gente consiga trazer isso para o mundo físico. Na minha visão, o arquiteto é o profissional que está mais preparado para entender isso. O arquiteto já criava o 3D para o cliente imaginar e, no metaverso, vamos poder experimentar, de fato, todo o entorno, todos os benefícios daquela construção. Poderemos extrapolar o desenho de uma casa, um projeto de um quarto, uma cozinha... para uma experimentação disso. E aí, depois, trazemos para o mundo físico. As marcas de varejo já entenderam isso. Há marcas que estão vendendo no virtual e entregando no físico o mesmo produto. Veremos muita interação. É a tecnologia trabalhando a nosso favor. O metaverso, como um lugar onde estaremos, eu não acredito. Acredito em uma tecnologia que possibilite experiências melhores e diferentes. Vou estar primeiro online para entender como as coisas vão acontecer e depois eu decido, no físico, o que eu vou fazer de fato. E o metaverso é uma hiperextensão desse conceito. Ainda estamos longe de ver essas experiências acontecerem massivamente (longe cinco, sete, dez anos, mas isso passa voando). Mas temos que saber que esse movimento está acontecendo, que essas coisas existem, entender onde isso impacta no nosso dia a dia, e principalmente, como se aproveitar disso para melhorar nossa vida, nosso negócios, nossas vendas, enfim, usar a tecnologia como um meio a nosso favor e não como um fim em si.


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ARQ. SILVANA GARCEZ | COZINHA E LAVABO

SOFISTICAÇÃO ENTRE TONS CLAROS E ESCUROS Equilíbrio foi a palavra-chave do trabalho da arquiteta Silvana Garcez

Os clientes, um casal jovem com filho adolescente, solicitaram um projeto com ambientes integrados e diferenciados. Na cozinha, a composição dos materiais aplicados nos móveis são protagonistas no projeto: laminado Tortona, microtextura cinza, high gloss e alumínio perolizado ouro trouxeram a sofisticação ao ambiente. Destaque para o mármore dolomítico, que teve seus veios posicionados estrategicamente no tampo da bancada e no revestimento das paredes. Rasgo no forro de gesso faz a iluminação geral ao ambiente enquanto a luminária dourada pendente setoriza o espaço das refeições. Objetos de design brasileiro dão o toque final. No lavabo, a escolha foi pelas cores escuras e imponentes. O destaque está no papel de parede com fundo preto e nos painéis em pau ferro com brilho. A leveza ficou por conta do mármore translúcido com iluminação.

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COMPOSIÇÃO Ambientes com predomínio de tons claros têm no lavabo detalhes inusitados.

Juliano Mendes

NOBREZA REFLETIDA No lavabo, o painel ripado abriga o espelho redondo, a bancada de mármore translúcido conta com efeito de iluminação, a marcenaria recebeu acabamento em laca preta acetinada com puxador dourado.

Marcas Apoiadoras

Casa Serra Acabamentos Palladio’s Decor Villafranca

ARQ. SILVANA GARCEZ silvanagarcezarquitetura 54 3028.7020 54 99997.1992 Magazine Sala de Arquitetos | 2022/ED47 | 97


ARQ. DANIEL V. PONTALTI | SHOWROOM

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INDUSTRIAL Tons naturais contrastam com o cinza industrial. A iluminação guia os clientes pelo mobiliário interativo. Ripados são empregados para dar discrição e funcionalidade ao estoque, disponível nos dois pavimentos do showroom. No segundo pavimento, os escritórios, em um layout de cápsulas de trabalho, também dão privacidade às funções administrativas da empresa.

VITRINE PARA O PRODUTO, HOMENAGEM À MATÉRIA

Showroom do setor moveleiro guia clientes por uma experiência que mostra a versatilidade do MDF e faz poesia à sua essência Um ambiente industrializado com elementos da natureza: ambos não poderiam ser mais contrastantes, mas o projeto desse showroom, para uma empresa especializada em MDF, cria coesão entre os cinzas e os tons de madeira; o orgânico e o industrial. Desse contraste, nasce uma estética que valoriza o produto transformado – tecnológico, versátil, moldável aos desejos do design – e, ao mesmo tempo, evidencia a sua essência natural: crua, assimétrica, viva. O projeto de atualização do showroom triplicou o espaço. Na nova configuração, os 700 metros quadrados que desafiaram o arquiteto em um ano entre o projeto e a execução, foram distribuídos em dois pavimentos. O térreo foi destinado ao atendimento, caixa, exposição de produtos, parte do estoque e banheiro. O pavimento superior, que circunda o grande átrio, comporta a sequência do estoque, se-

miocultado, nas extremidades das prateleiras, por painéis ripados, e os escritórios. Projetados como cápsulas de trabalho, eles mantêm discreto e funcional o departamento administrativo da empresa. Entre os dois pavimentos, o patamar da escada coloca o indivíduo em posição de destaque e funciona como púlpito para palestras. Com o mesmo desprendimento de uma apresentação realizada daí, produto e essência dividem o protagonismo no espaço de circulação dos clientes (arquitetos, profissionais do setor moveleiro, designers e consumidores finais). Além de destacar o produto, premissa de um showroom, a ideia principal do projeto foi reverenciar a matéria-prima da indústria moveleira. Em cada detalhe, a madeira, em sua forma bruta, faz parceria de opostos perfeitos com o ferro, o concreto e a própria madeira industrializada.

O MDF ganhou recursos funcionais, como ferragens aplicadas em um mobiliário interativo, iluminação que guia a experiência do consumidor pelos expositores, e até um estúdio de lâmpadas, onde os clientes podem testar a performance de cada item em diferentes tipos de iluminação. Os elementos naturais, homenageados da cena, aparecem com destaque em sua originalidade. No sentido oposto a uma claraboia, responsável pela maior demanda de luminosidade, um grande galho se estende sobre a área de circulação. Com referências do estilo contemporâneo ao futurista, que guiaram o projeto, a árvore-lustre, assinada pelo arquiteto, sustenta pendentes em diferentes níveis. Também criado por ele, um tronco se transforma em banco no lounge no centro da loja: um convite a uma pausa para contemplar a natureza e tudo que, a partir dela, é possível criar. Co-autoria: Amanda Formolo

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A MATÉRIA A matéria-prima, completamente transformada no produto final, é homenageada em sua versão original nos elementos decorativos e funcionais, como o banco de tronco, assinado pelo arquiteto.

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VERDE SOBRE CINZA A aspereza dos elementos naturais e das peças em concreto em pontos focais do showroom também propõem um diálogo com a suavidade das superfícies do MDF e potencializar a experiência tátil com o produto.

TEXTURAS No lavabo, outra versão da madeira: escoras de obras, em troncos que ainda preservam a casca e os danos inerentes à função, foram aplicadas no teto em contraste da textura bruta com o revestimento em porcelanato.

Marcas Apoiadoras Decor Window Villafranca

ARQ. DANIEL V. PONTALTI daniel_pontalti_arquitetura 54 99932.1869 Magazine Sala de Arquitetos | 2022/ED47 | 101


VITRINE |

CORTINA DUETTE® VERTIGLIDE® Um modelo de cortina para portas que une funcionalidade beleza e conforto é a Vertiglide. Versão vertical da cortina Duette®, é inspirada nos favos de mel das abelhas (honeycomb) e oferece um excelente controle térmico. Seu tecido pode ir da total transparência ao blackout.

CORTINA PARA PORTAS:

FUNCIONALIDADE PARA DECORAR AMBIENTES

Em decorações que incluem cortinas para portas, um elemento ganha notoriedade: o vidro. Ao ser combinado com o material da porta, permite revestimentos de tecido que exercem a função de controlar a luminosidade natural ou artificial, oferecer privacidade com charme e facilitar a visibilidade exterior antes que a porta seja aberta. A combinação de vidro e portas já aguça a criatividade de arquitetos e designers de interio-

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res. Neste momento, a cortina além de funcional, é responsável por arrematar a sofisticação da decoração. Presente em portas internas e externas, o vidro pode ser apenas um detalhe ou o elemento principal, sendo ancorado por esquadrias de madeira ou metal. São composições que merecem atenção na hora de escolher uma cortina para portas que seja funcional e sofisticada ao mesmo tempo. Felizmente, é possível, encontrar no mer-

cado modelos versáteis de revestimento em tecido, que podem desenhar luzes e sombras em janelas, portas e vãos de qualquer ambiente. Com o objetivo de controlar a luz natural em qualquer situação, com facilidade e elegância, a Hunter Douglas, empresa centenária e líder no segmento de cortinas, persianas e toldos, possui modelos de diferentes cores e texturas para oferecer os níveis de visibilidade e privacidade desejados.


POR QUE ESCOLHER HUNTER DOUGLAS

CORTINA SKYLINE

Os ambientes que possuem grandes vão podem contar com as funcionalidades da cortina Skyline. Também usada como divisória de ambientes, a cortina Skyline é composta por painéis de tecido que se movem para a direita, para a esquerda e para ambos os lados. Pode cobrir vãos de até 9,75 metros de largura (acionamento manual) e de até 4,85 metros de largura e 4,26 metros de altura quando utilizado o sistema de motorização PowerView®.

Criada em 1919, a Hunter Douglas está sempre em busca de novos materiais, tecidos, estampas, texturas, acionamentos e tecnologias para desenvolver produtos cada vez mais sofisticados que melhorem a vida dos usuários. Com isso, a Hunter Douglas tornou-se líder em decoração de janelas, com mais de 500 combinações inovadoras e modernas de cortinas e persianas. As linhas possuem até cinco anos de garantia e tratamento antiestático, capaz de inibir o acúmulo de partículas de poeira nos tecidos e ampliar a durabilidade dos produtos.

CORTINAS DE TECIDO E XALES Ideal para sobrepor e coordenar com as soluções já consagradas no mercado de arquitetura e decoração, a cortina de tecido ainda acrescenta um elemento de profundidade, elevando a sensação de aconchego e trazendo o equilíbrio perfeito entre visibilidade e privacidade ao ambiente. Em complemento ao seu amplo portfólio de produtos, a Hunter Douglas apresenta ao mercado a nova linha de cortinas tradicionais de tecido e xales.

CORTINA LUMINETTE® Inspirada nos modelos tradicionais, a cortina Luminette® une a praticidade das lâminas verticais e a suavidade dos tecidos. O controle da luminosidade e da privacidade se dá por meio da movimentação das lâminas.

Onde encontrar: @decorwindow, @liztdecor, @palladiosdecor Acesse a página de cortinas da Hunter Douglas e conheça todos os produtos www.hunterdouglas.com.br

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ARQ. FELIPE GARGIONI | ÁREA SOCIAL INTEGRADA E SUÍTE

O MÍNIMO ESSENCIAL

Projeto minimalista desafia a seleção criteriosa de elementos de design, mantém ocultos e acessíveis os itens funcionais e promove aconchego O branco e outros neutros predominantes. Poucos itens. Visão ampla e limpa dos ambientes. Encontrar a simplicidade que o minimalismo propõe está longe de ser tarefa simples. Com um briefing apegado ao branco como princípio do design, os clientes desse projeto trouxeram o desafio de priorizar o conforto e a limpeza visual em um ambiente de 400 metros quadrados

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no total. E o espaço, como o estilo preconiza, foi preenchido com poucos elementos. Poucos e super selecionados. Poucos e certeiros. Poucos, mas essenciais. Tem aconchego também no minimalismo. O projeto destaca sobre o branco grandes superfícies e elementos de destaque em madeira, como o piso do estar, cozinha e jantar

integrados. Na área de estar, um tapete neutro aquece o espaço e se mistura ao branco do teto. A lareira, em preto, garante o conforto e a segurança do espaço: um gradil e uma porta foram adicionados para evitar a propagação de fagulhas sobre o tapete e o piso. A composição, convidativa para um encontro de amigos, salienta tons de caramelo, como a poltrona e a parte


Fotos: Cristiano Bauce

de trás dos encostos das cadeiras, além de elementos pontuais na estante sem fundo, que evidencia o concreto aparente nas paredes. O espaço de jantar também se integra à cozinha e convida os amigos a acompanhar de perto o talento culinário do anfitrião. Os preparos são o centro das atenções. E todos os itens que são fundamentais à função, mas

dispensáveis à cena minimalista, ficam ocultos. Móveis embutidos abaixo da pia ocultam utilidades que costumam ficar à vista em propostas tradicionais, como o forno e a máquina de lavar louça. Acompanhando os tons do piso, o amadeirado da despensa, em torno da geladeira, dá discrição à despensa que funciona aí. A área íntima preserva o mesmo esforço

de design que os demais espaços mostram às visitas. A suíte do casal, com mais branco do que qualquer outro ambiente, põe a cama em frente à janela, camarote para o amanhecer verde do condomínio. É o mesmo que fazem as grandes janelas em toda a extensão da fachada: pintam nos tons da natureza do exterior a tela branca do interior. Co-autoria: Lucas Tomás

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BRANCO, CONCRETO E MADEIRA A madeira do piso e o branco do teto também ditam as cores do mobiliário e valorizam o verde do condomínio nas grandes janelas. Na cozinha, utilitários são ocultados para manter a limpeza visual que é marca do projeto.

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BRANCO PARA O VERDE Ainda mais clara que os demais ambientes da casa, a paleta de brancos e cinzas da suíte evidencia a paisagem verde em uma moldura de parede à parede.

POUCOS E BONS A escolha de peças é um desafio a projetos minimalistas, onde cada elemento ganha alto destaque. O estilo exige uma seleção criteriosa de itens para fazer valer o protagonismo que eles ganham.

Marcas Apoiadoras Empório Vila Rica Palladio’s Decor Quality Mármores Renda Decorações Villafranca

ARQ. FELIPE GARGIONI gargioniarquitetos 54 98111.9304 Magazine Sala de Arquitetos | 2022/ED47 | 107


Adriane Cesa Adriane Karkow Akemi Wypyszynski Inamoto Ale Mosna Alexandre Pinheiro Machado Ana Carolina Stasi Carraro Andre Rigoni Andréia Benini Andreia Biazus Rossato Andressa Barroso Barbara Fernandes Dall’Alba Bianca Mattana Bianca Polidoro Franco Bruna Rossi Camila Sirtori Candice Ruwer Vidor Carla Curra Carla Zignani Caroline Formentini Catia Giachelim Celina Galiotto Furlan Cesar Sehbe Golin Clarissa Zanatta Cristiane Pinto Daiana Balestro Daniel V. Pontalti Daniela Endres Copetti Daniela Motterle Deisy Mabrini Rigotto Elisângela Selau Enio Stumpf Érika Bortolini Felipe Gargioni Fernanda Bertolucci Rossi

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(54) 3025.3931 (54) 3214.3277 (54) 3419.8882 (54) 3019.0707 (54) 3223.5498 (54) 3025.6167 (54) 3228.5405 (54) 3261.2710 (54) 3771.0080 (54) 3419.8274 (54) 99966.1888 (54) 3536.7642 (54) 3419.3537 (54) 99640.7044 (54) 99142.6321 (54) 3021.4749 (54) 99144.9262 (54) 3214.8121 (54) 3536.2717 (54) 3292.4247 (54) 3028.3318 (54) 99121.1929 (54) 3538.1231 (54) 3041.4944 (54)3222.7705 (54) 9 9932 1869 (54) 3223.4881 (54) 99929.0212 (54) 9 9979 4379 (54) 98402.6936 (54) 99993.4783 (54) 3028.0802 (54) 98111.9304 (54) 3039.3660

Flávia Torres Mattana Flávia Junges Gabriela Angonese Gabriela Lampert Gabriela Meletti Gabriela Tondin Grasiele Forini Jaqueline Crocoli Júlia Luísa dos Santos Hollas Larissa Kanopp Lisi Caberlon Luci Vanni Luciane Borsoi Manoela Rossarola Corso Manuela Tremea Bof Marcele Muraro Mariana Marchioro Max Leonardo Manoel Mégui Dal Bó Mirela Ampezzan Morgana Formolo Patrícia Mattei Adami Patrícia Ruzzarin Rafael Sartori Roberta Fanton Saymon Dall ´Alba Silvana Garcez Simone Rodrigues Martini Suelen Miglioranza Tatiana Biffi Vanessa Reiriz Vanessa Guerra Viviane Gaio Manzato

(54) 98142.0007 (54) 98125.9092 (54) 99953.0727 (54) 99147.1879 (54) 99922.5628 (54) 99971.0085 (54) 9 9978.7792 (54) 3025.3011 (54) 9.9636-1415 (54) 99110.2083 (54) 99998.8378 (54) 9974.0665 (54) 3025.4996 (54) 3027.2393 (54) 99932.0580 (54) 3223.0142 (54) 9178.7342 (54) 3223.4881 (54) 99189.8767 (54) 3292.1905 (54) 99981.2099 (54) 98114.1314 (54) 3212.2290 (54) 99626.9305 (54) 98111.5575 (54) 99163.7940 (54) 3028.7020 (54) 99927.2434 (54) 3536.2013 (54) 3228.5405 (54) 3041.4444 (54) 3035.2002 (54) 99957.6850


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