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Covid-19 e o aparelho locomotor
A pandemia pelo novo coronavírus trouxe um desafio global para os cientistas. Foi necessário, em pouco tempo, decifrar o código genético do vírus, entender os meios de contaminação, estudar o comportamento do vírus dentro do corpo, desenvolver vacinas e medicamentos necessários para o tratamento da infecção, etc.
Até agora, sabe-se que os principais danos ocorrem nos pulmões, rins e vasos sanguíneos, onde ocorrem problemas relacionados à coagulação do sangue. Esses são os danos que levam o paciente ao óbito. Outras alterações podem ocorrer tanto durante a infecção, quanto após ela. O coração, a pele e o trato digestivo são exemplos de órgãos e tecidos alterados durante a infecção. O cérebro, o pâncreas e o sistema imunológico podem sofrer efeitos tardios, e aos poucos, os médicos vão contribuindo para a ciência, definindo o que se pode chamar de síndrome pós-covid.
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Ainda não existe um amplo entendimento sobre o assunto, mas com o número frequente de infectados e recuperados, fica cada dia mais evidente o nexo causal da infecção pelo novo coronavírus com as mudanças tardias no organismo.
A maioria das pessoas não apresenta nenhum problema após o término da infecção. Entretanto, os consultórios de ortopedistas estão enfrentando uma nova queixa. Dores que se espalham em vários grupos musculares e articulações, que duram dias ou semanas, após o paciente ter se curado da Covid-19.
O raciocínio em torno dessa situação não é simples. O primeiro obstáculo é saber se a dor advém da infecção ou das circunstâncias relacionadas a uma doença qualquer. O simples fato das pessoas se encontrarem em isolamento social já aumenta o risco de dores crônicas reaparecerem, seja porque os exercícios físicos foram interrompidos, ou porque as mudanças ergonômicas de trabalho domiciliar causaram dor. Se um paciente foi internado pelo Covid-19, a acomodação hospitalar pode ser um fator de origem de dor. Se o paciente esteve em UTI, a nutrição fica afetada, o uso de muitos medicamentos causa alterações metabólicas, e o paciente pode facilmente perder massa muscular por conta do período de inatividade e coexistência de uma doença grave.
No caso de pessoas que foram intubadas, o uso de relaxantes musculares em altas doses, além de sedativos para manter o coma induzido, é fator que prejudica o funcionamento dos músculos e articulações. Esses pacientes graves perdem muito peso durante o tratamento, quase sempre às custas de perda de massa muscular. Agora, falando especificamente sobre o vírus. Ainda não se sabe muito sobre o comportamento do vírus no tecido muscular, mas outros vírus já em circulação no país são bem conhecidos da população por causarem dor musculoesquelética. São eles os vírus da Zika, Dengue e Chikungunya. Já o novo coronavírus, batizado de Sars-CoV-2, tem causado uma intensa sarcopenia, ou seja, perda da massa muscular, que reveste e estabiliza as articulações do corpo. Os principais locais de dor são o tronco e as grandes articulações: ombros, escápulas e quadris. A coluna sofre muito com o efeito do enfraquecimento dos músculos. O paciente fica suscetível à piora de algum problema antigo (osteoartrose, por exemplo), ou problemas novos podem surgir, como uma lesão de disco intervertebral na coluna.
A principal orientação é tentar manter algum tipo de treino para condicionamento físico, mesmo sob o cenário de isolamento social. E, caso alguém adoeça pelo Covid-19, após a recuperação, um bom tratamento com fisioterapeuta deve ajudar na prevenção da dor e recuperação da massa muscular. A orientação de nutricionista, ortopedista e endocrinologista é importante para pessoas que tiveram a forma grave da doença.
DR. GABRIEL GOMES FREITAS DE CASTRO O simples fato das pessoas se encontrarem em isolamento social já aumenta o risco de dores crônicas reaparecerem, seja porque os exercícios físicos foram interrompidos, ou porque as mudanças ergonômicas de trabalho domiciliar causaram dor.