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Transtorno do Processamento Auditivo Central

As causas que provocam o TPAC ainda não estão claras. Especula-se que problemas gestacionais e infecções repetidas dos ouvidos podem ser responsáveis, assim como problemas na neuromaturação das vias auditivas.

Hoje vamos falar de um assunto, não muito conhecido, mas que pode estar atrapalhando a vida de algumas pessoas. Há muitos anos, nós otorrinos, somos chamados a avaliar a audição de crianças que tem problema de aprendizado na escola. Já passaram por consultas com pediatras, oftalmologistas, neurologistas e até mesmo otorrinos e nada foi encontrado que justificasse a queixa. Mas o problema continua. Esta criança pode ter o que chamamos de um Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC).

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Vamos explicar melhor. Para facilitar a explanação vamos dividir o sistema auditivo em duas partes. A primeira, conhecida como periférica, é formada pelo pavilhão auricular, conduto auditivo, membrana timpânica, ossículos e a cóclea. A segunda parte é formada pelo nervo auditivo e as células do nosso cérebro. Rotineiramente nós otorrinos fazemos a avaliação da parte periférica, através da otoscopia (exame da orelha externa, conduto auditivo, membrana timpânica) e exames audiométricos como a audiometria e imitanciometria.

Agora, pacientes com avaliação audiométrica e dos outros especialistas normal, que chegam com queixas como baixo rendimento escolar, que se distrai facilmente, dificuldade de lembrar algo que foi dito recentemente, ouvir mas não entender o que foi dito ou entender errado, dificuldade de compreender o que falam em ambientes ruidosos e dificuldade de adaptação de aparelhos de amplificação sonora individual (os chamados aparelhos para surdez) necessitam obrigatoriamente serem submetidos a avaliação do processamento auditivo central. O exame, realizado por fonoaudióloga, consiste numa série de testes para avaliar a funcionalidade do sistema auditivo. Identifica-se nestes testes, a fonte do som, isto é, a localização e a lateralização, o entendimento do que se fala entre outras informações.

As causas que provocam o TPAC ainda não estão claras. Especula-se que problemas gestacionais e infecções repetidas dos ouvidos podem ser responsáveis, assim como problemas na neuromaturação das vias auditivas. Se você identificou este problema em algum familiar, não se desespere. Uma vez que o diagnóstico foi feito corretamente, afastando outras causas neuropsiquiátricas, o tratamento está disponível em centros especializados de otorrino e fonoaudiologia, e consiste em desenvolver estas habilidades que estão desajustadas. Isto é feito através de um treinamento auditivo, específico para cada pessoa, com determinados exercícios que devem durar algumas semanas. Por fim, chamo a atenção para os que já apresentam problemas de audição, principalmente os idosos. Nesta fase da pandemia, o uso das mascaras diminui a intensidade do som em torno de 12 decibéis e ao tapar a boca se retira deles a oportunidade de fazer a leitura labial, habilidade esta que adquirem naturalmente ao longo dos anos e que os ajuda em muito a comunicação. Agora imagine que isso tudo aumenta a dificuldade na comunicação e ainda, associado ao isolamento social, possa estar trazendo um sofrimento emocional terrível a eles. Fiquemos atentos.

DR. FRANCISCO BARROS

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