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Orgasmo érevolucionário

Pela primeira vez na história, estamos vivendo num mundo onde pessoas com vagina e clitóris gozam fartamente. Esse mundo nunca existiu antes e eu estou a cada dia mais convencida de que, a cada gozo clitoriano, mais perto chegamos da revolução e do entendimento dos corpos.

Durante séculos, o prazer feminino não importou. A anatomia do clitóris só foi devidamente estudada há poucos anos. O gozo de uma mulher cis era assunto descartado e, na cama, território que não estava em disputa. Sexo era penetração, e gozo era penian, e apenas isso.

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O cinema tratava de nos convencer de que mulheres cis poderiam gozar ao serem penetradas. A estética do sexo reduzida a duas posições que, hoje sabemos, não fazem muito por nossos orgasmos.

Apenas uma minoria de mulheres cis e de homens trans com vagina gozam ao serem penetradas e penetrados desses jeito, portanto precisamos entender e aprender o poder do sexo.

Mulher não gosta de sexo ruim e foi isso o que tivemos durante muito tempo. Está justamente aí a vantagem competitiva da sapatão. Mas já não aceitamos mais que sexo seja reduzido a essas cenas de cinema e nossas exigências estão derrubando muros bastante altos.

A revolução que vem com o gozo clitoriano está deixando alguns homens perturbados. Não pode ser por acaso que recentemente ficamos sabendo do escândalo do Brocholão (nome maravilhoso dado pelo jornalista Fernando Barros e Silva): dinheiro público financiando a compra de 35 mil comprimidos de Viagra e de R$ 3,5 milhões em próteses penianas infláveis – cujos tamanhos variavam de 10 a 25 centímetros – para as Forças Armadas.

Se pelo menos esse gasto de dinheiro público fosse fazer mais mulheres gozarem, poderíamos até tentar argumentar. Mas ele nada fará por nossos orgasmos, é apenas mais do mesmo: homens cis em sua sanha por poder.

Só que o feminismo nos deu novas ferramentas e episódios como o do Brocholão servem apenas para aumentar o ridículo de algumas formas de masculinidades.

Estamos nos apropriando de nossos gozos clitorianos e nunca antes o mundo passou por isso. Já não aceitamos mais associar sexo ao “não gozar”. Penso nisso e imagino a absurda quantidade de mulheres de gerações passadas que nunca souberam o que era um orgasmo.

Por isso mesmo, o cliché “mulher não gosta de sexo” carrega uma verdade parcial. Mulher não gosta de sexo ruim – e foi isso o que tivemos durante muito tempo. Está justamente aí a vantagem competitiva da sapatão. Mas já não aceitamos mais que sexo seja reduzido a essas cenas de cinema – e nossas exigências estão derrubando muros bastante altos e quebrando padrões da sociedde em relação as mulheres, agora podemos nos expressar livremente, e sinceramente mandar todos aqueles que nos enchem o saco. a merda!

Hoje, uma nova geração de vibradores nos aproxima do orgasmo diário e rápido sem que sequer haja a necessidade de alguém na cama ao nosso lado – ou sobre a gente, ou embaixo da gente. Todas as mulheres que eu conheço têm um vibrador perto da cama. O mercado erótico, percebendo o potencial de crescimento, investe no gozo clitoriano.

Dados do portal Mercado Erótico informam que, num período de três meses em 2020, aproximadamente um milhão de vibradores foram vendidos no Brasil. E o produto mais vendido em 2020 foi o Satisfyer Pro 2, um estimulador clitoriano recarregável, com 11 níveis de sucção. Como será um mundo no qual mulheres cis e homens trans com vagina gozam fartamente? Nossas mães não tinham acesso a esse direito. Nossas avós menos ainda. Chegamos até aqui, nessa sociedade dominada por homens cis, sem direito ao gozo. O que podemos conquistar a partir de agora? eis a grande questão.

Quando a gente se apropria do orgasmo a gente se apropria de direitos básicos, e, ainda mais potentemente, se apropria dos nossos desejos.

Se pelo menos esse gasto de dinheiro público fosse fazer mais mulheres gozarem, poderíamos até tentar argumentar. Mas ele nada fará por nossos orgasmos. É apenas mais do mesmo: homens cis em sua sanha por poder que, para eles, se traduz em membros rígidos e inflados.

Eis aí a verdadeira liberdade: reconhecer nossos desejos. O caminho da emancipação passa pelo gozo. Um mundo assim desenhado tem enorme potencialidade de transformação. Quando finalmente pensarmos livremente em nosso pensarmos em nosso prazer.

“A classe dominante (masculina e heterossexual) não abandonará seus privilégios por que enviamos muitos tweets ou demos alguns gritos”, escreve em um de seus textos o filósofo e ativista Paul Preciado, um homem trans. Para ele, a batalha para destruir o sistema atual de sexo-gênero é a verdadeira Guerra dos Mil Anos. Uma guerra que “afeta políticas e processos reprodutivos através dos quais um corpo humano constitui-se como sujeito soberano. De fato, será a mais importante das guerras, porque o que está em jogo não é nem o território nem a cidade, mas o corpo, o prazer e a vida”.

O gozo clitoriano é farto, amplo e irrestrito, ele vai ajudar a gente a tecer um mundo mais justo e inclusivo.

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