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TALENTO DA ARTE URBANA NA LIBERDADE
Uma caracteristica muito interessante em vários bairros são as artes de rua, e na liberdade é uma questão que passa quase despercebido por TIAGO UEHARA fotos JOÃO MOREIRA
Andar na Liberdade pode ser uma experiência única, com sua mistura de centro comercial, gastronômico e de entretenimento. Assim como todos os bairros de São Paulo, possui sua característica e uma identidade forte. E uma das mais interessantes e que praticamente passa invisível por milhares de pessoas são os grafites espalhados pela região.
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As artes urbanas estão espalhadas por todo o bairro, porém, quase ninguém consegue descrever sequer uma ou duas, das dezenas que estão à vista. Mas é compreensível: com tantas lojas, cores e aromas, os grafites apenas compõem o cenário, ficando, quase sempre, em segundo plano.
Nos últimos tempos, um grande lambe-lambe do diretor Akira Kurosawa na rua Galvão Bueno tem feito grande sucesso, com diversas pessoas de todos os cantos da cidade posando em frente à arte para selfies. Mostrando o perfil do rosto do icônico diretor de cinema, o desenho é acompanhado pelos “setes samurais”, a obra mais consagrada da carreira. O interessante, contudo, é a composição do “painel” que o desenho está inserido: Kurosawa é ladeado pelo personagem Patolino e por um rapper, no que, talvez, seja a representatividade da diversidade e a “mistura” que tornou a própria Liberdade única, da maneira em que a vemos hoje. Mais longe de ser um bairro japonês ou oriental e mais próximo de um polo que abraça todos os tipos de estilos e cores.
Esse tipo de expressão artística surgiu nos Estados Unidos na década de 70, e tem um caráter dinâmico e passageiro.
Yuri Ezreal é um dos artistas que contribui com a arte urbana no bairro. Fez um grafite na banca de Osmar e dona Ieda, que fica na esquina da rua da Glória com a dos Estudantes, exibindo uma mulher rosa com cabelo azul. Como uma musa, a arte colore o ambiente ao redor e a rua comercial. O artista mudou-se do Rio para o bairro paulistano durante o período crítico da pandemia, em busca de oportunidades profissionais. Para ele – que é apaixonado pela cultura oriental – deixar um grafite é uma forma de “retribuição” para o bairro que o acolheu. “Trazer o colorido transforma o ambiente e revitaliza o espaço”, justiça o grafiteiro, com orgulho.
Quem também deixou a sua marca na Liberdade é a artista Mariana Mats. Moradora do bairro, em seu desenho colorido de rosto feminino é possível verificar mais de dois olhos, uma marca do seu estilo artístico, mas sem perder a delicadeza ou causar estranhamento aos olhos. Quando perguntada sobre isso (seu conceito artístico), a artista diz que “temos que estar sempre atentos a olhar tudo ao nosso redor”. Para ela, grafitar é “levar o meu trabalho para todos”. “A rua é muito democrática”, explica, e diz que a importância da sua arte se define em “rua, vivências, cores e uma galeria a céu aberto”.
Mesmo com tanta coisa para se fazer no bairro, o colorido dos desenhos dá um charme a mais ao bairro. Os grafites são, portanto, uma bela atração do bairro, pois a arte dá uma nova vida ao ambiente. Aliadas ao potencial turístico e comercial, as artes urbanas despertam interesse, “tira o tom cinza”, como explica o próprio Yuri Ezreal e da mais graça e leveza no agito das ruas no cotidiano.
No início, essa era uma arte marginalizada e de certa forma ainda sofre preconceitos nos dias de hoje, dependendo do local onde é produzida e do indivíduo que a realiza, sendo mais reprimida entre a população negra e pobre. Entretanto, alguns artistas conseguiram uma posição de destaque no mercado da arte
A arte urbana propõe justamente sair dos lugares ditos “consagrados”, aqueles destinados a exposições e apresentações artísticas, como os teatros, cinemas, bibliotecas e museus para evidenciar a arte cotidiana, espalhada pelas ruas