1 minute read
São Paulo deveria dizer não à privacidade do medo
Resolução da Prefeitura de São Paulo de gradear partes da Praça da Sé em prol de uma maior segurança. Cidadãos precisam estar tranquilos com o dia a dia da cidade por GUILHERME
WISKY ilustração FELMS
Advertisement
A Prefeitura da cidade de São Paulo resolveu gradear várias partes da Praça da Sé, decisão essa que o professor Guilherme Wisnik considera preocupante, “levando em conta que isso expressa uma espécie de característica tácita ou intrínseca da sociedade brasileira, que é o patrimonialismo, isto é, a tendência a tratar os assuntos públicos como se eles fossem privados, que é uma tradição da nossa política. E, no caso do espaço público, essa característica cultural, histórica leva a uma certa desidentificação da nossa sociedade com a esfera pública, o que faz com que os espaços públicos terminem quase sempre gradeados”, observa ele, acrescentando que aquilo que devia ser de todos acaba sendo de poucos.
Por outro lado, é claro que existem exemplos que vão na contramão do que a Prefeitura paulistana pretende fazer. Wisnik cita o exemplo da cidade colombiana de Medellín, muito ligada, no passado, a um histórico de violência e ao tráfico de drogas. “Medellín resolveu adotar uma política de qualificação do espaço público por meio de equipamentos como bibliotecas, como mais iluminação, isto é, adotando aqueles espaços de uso, trazendo as pessoas para o espaço público ao invés de expulsá-las.”
Isso, segundo Wisnik, teve resultados muito satisfatórios, na medida em que se conseguiu reverter a situação de Medellín. De um lugar muito inseguro e violento, se transformou numa das cidades-modelo no mundo emergente, “do ponto de vista dessa incorporação de outras populações e da transformação do espaço público no lugar de uso cotidiano, onde a presença do coletivo se afirma contra o medo; então, é isso que São Paulo deveria mirar com vistas a uma administração pública.