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Polarização, silêncio e escuta: a era da reatividade
Livro da jornalista Petria Chaves retrata as consequências de não saber silenciar. O resultado da sua pesquisa chega a ser assustador
por ADRIANA FERREIRA ilustração FELMS
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Sento em frente ao notebook para escrever este texto e um barulho ensurdecedor embaralha ideias que, até então, pareciam tão claras. O ruído que me incomoda não vem de fora. Faz silêncio em casa. A manhã está fresca, o céu, azul, e as crianças brincando no playground abaixo da minha janela estão concentradas. A zoada que me leva a voltar mil vezes ao primeiro parágrafo está dentro de mim. Ela grita que tenho de finalizar esta coluna na próxima hora; secar os cabelos; pensar no almoço; me preparar para uma reunião; fazer compras; mandar e-mails; responder mensagens de WhatsApp; terminar de ler um livro; começar outro; fazer um post no Instagram; outro no LinkedIn; me atualizar das notícias; convidar as amigas para um vinho. Grita para eu fazer tudo isso agora e o efeito é paralisante.
Retomo o fio da meada e me lembro que “silenciar é sabedoria”, tema que não me sai da cabeça desde que li “Escute teu silêncio - Como a arte da escuta nos torna melhores profissionais, pais mais presentes e pessoas mais interessantes” (ed. Planeta), recém-lançado livro da jornalista Petria Chaves. Em entrevistas com psicoterapeutas, filósofas/os, psicanalistas, psicólogas/os, neurocientistas, lideranças religiosas, entre outras e outros profissionais, Petria trata das múltiplas consequências que a falta da escuta e do silêncio imprimem em nossa sociedade, e o resultado é assustador. “O espírito da nossa época é de uma desenfreada ansiedade, o que gera um constante mal-estar”, escreve a jornalista.
Mal-estar esse que se traduz numa reatividade do próprio corpo, como descreve Petria. É por isso que aquela mensagem incômoda de um chefe, colega de trabalho.
ADRIANA FERREIRA Jornalista especialista em estratégias e conteúdos digitais