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VERA HOLTZ: CAMINHOS

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ESQUENTA

ESQUENTA

VERA HOLTZ VIROU BICHO

Atriz encena adaptação do best-seller Sapiens, em que interpreta 20 personagens, e fala sobre finitude, etarismo e Instagram.

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por LUCAS NEVES foto por ALÊ CATAN

Vera Holtz veste blazer cinza e conjunto dourado em sessão de fotos para a divulgação da sua peça VeraHoltz virou bicho. Ovelha, asno, fóssil genérico, até o bom e velho Homo sapiens. E virou planta também. A versatilidade da atriz paulista de 70 anos é posta à prova numa peça que adapta o best-seller Sapiens – Uma breve história da humanidade (2011), do historiador e filósofo israelense Yuval Noah Harari.

Ficções, em cartaz no ccbb Rio até 30 de outubro, toma o ensaio arrasa-quarteirão – já traduzido para mais de 60 idiomas – como base para encenar a capacidade humana de inventar histórias, sonhar e projetar a vida coletiva, um diferencial evolutivo que ainda não se traduziu em felicidade universal. No palco, guiada pelo texto e pela direção de Rodrigo Portella, Vera encarna quase 20 personagens das mais variadas espécies e só tem a companhia do músico Federico Puppi.

Desde a primeira peça, em 1979, a atriz trabalhou com alguns dos faróis do teatro brasileiro, como Antônio Abujamra, Gerald Thomas, Amir Haddad, Bibi Ferreira e Luís Antônio Martinez Corrêa. No meio dos anos 1990, Mauro Rasi a escalou para o papel-título de Pérola, fábula autobiográfica que marcou época, ficou cinco anos em cartaz e deu os principais prêmios das artes cênicas do país à protagonista.

Na TV, a atriz é muito lembrada por Santana, a professora alcoólica de Mulheres apaixonadas (2003). Mas antes vieram a Fanny de Que rei sou eu (1989), criada de Ravengar, a Simone de De corpo e alma (1992),

Vera Holtz aparece com um coelho na mão enquanto faz cara de espanto

uma mulher presa num casamento frio que descobria o calor dos amassos com um stripper, e a empoderada Marta de Presença de Anita (2001).

Mas palcos e telas por pouco não perdem seu vigor, o bom humor e o delicioso sotaque interiorano. A atriz se formou em desenho e artes plásticas e chegou a trabalhar em empresas de engenharia e institutos de tecnologia fazendo mapas geológicos. O “bicho” da atuação a mordeu pra valer só depois dos 20 anos, quando ela se inscreveu no vestibular da Escola de Arte Dramática (ead) da Universidade de São Paulo. Não chegou a completar a formação antes de se mandar para o Rio, onde também deixaria pela metade a preparação para ser professora de artes cênicas.

“Gosto do acaso. Não acredito que as coisas que não me pertencem vão chegar pra mim”, diz. “A vida pra mim é esse rio que corre para o oceano. Posso parar na beira do rio, posso seguir na correnteza. Nunca consegui definir: ‘Agora eu vou fazer isso’.”

O acaso também fez dela um fenômeno das redes sociais. Suas fotos e vídeos conceituais no Instagram, cuidadosamente planejadas, mobilizam mais de 1,2 milhão de seguidores. Um abraço num peixe graúdo sobre fundo cinza, um enorme coração que arde em fogo, uma costela plantada/enterrada num canteiro… Tudo acompanhado de títulos sucintos e enigmáticos. “É um convite: ‘Olhe de outra forma, não fique no lugar comum, saia da catalogação, da etiquetagem, conceitue você mesmo’”, explica ela.

Sua carreira também se esquiva habilmente de categorias, expectativas. Tanto que ela diz não sentir sobre si os olhares enviesados do etarismo, ou seja, o estreitamento do espectro de papéis oferecidos a atores (e sobretudo a atrizes) a partir de uma certa idade. “Talvez tenha a ver também com o fato de eu não me sentir muito atraída por papéis ligados à família”, especula ela. “Fiz um pacto comigo: ‘No dia em que você sentir que está se repetindo, pare e pegue outro caminho’.”

No dia em que você sentir que está se repetindo, vá e pegue outro caminho

Na entrevista a seguir, ela fala também sobre o quanto a pandemia a “desacelerou” e defende a necessidade de mudarmos algumas práticas na indústria do entretenimento se o objetivo é “uma narrativa mais democrática”. “Não cabe mais o ‘nós contra eles’. Chega disso.”

Por que você decidiu participar da adaptação do livro?

Eu já conhecia o livro quando recebi o convite. Também tinha ótimas referências do Rodrigo Portella. Ele disse que queria um espetáculo com uma mulher e que tinha feito um resumão, mas que faltava um recorte. Falei: “Vamos juntos”. Abri as asas e me lancei no abismo sem ter a menor ideia para onde iríamos. A obra se completa com o pensamento do público, que vai ligando os pontos.

Faz mais de 40 anos que você está no tetro. O que ele tem de especial para você?

Quando vi pela primeira vez uma peça, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come, do Vianinha, pensei “Nosssaaa!”. Tinha música, artes visuais, figurinos, aquela movimentação. Eu já sabia que aquilo era a minha turma. A mesma coisa com as artes plásticas. Na plateia do teatro, percebi que era ali, em cena e no palco, que eu queria estar, naquela interseção de todas as artes. O teatro é uma exuberância. E você tem uma hora e meia, duas horas para contar uma história de uma vida, quem sabe. O meu encantamento diante do teatro segue intacto, brilhante, até os dias de hoje.

O etarismo na sua indústria passou a ser muito denunciado. Você se sentiu afetada?

Eu não sinto muito isso, não. Não sei falar sobre ela, não tenho como discutir contigo uma questão que não é minha. Sei que isso de fato ocorre com muitas atrizes e que é uma realidade, porém não consigo opinar.

Você acha que o fato de não ter tido filhos de alguma forma contribuiu pra isso? No sentido de não ter te associado a uma imagem maternal, talvez redutora?

Pode ser. Talvez tenha a ver também com o fato de eu não me sentir muito atraída por papéis ligados à família. Acredito que os personagens encontram a gente. É uma relação um pouco mais poética com a vida. Não acredito que as coisas que não me pertencem vão chegar pra mim. Já saí da escola sabendo disto: “Não quero fazer os mesmos papéis”. E no teatro fiz um pacto comigo: “No dia em que você sentir que está se repetindo, pare e pegue outro caminho”.

E essa reflexão deságua em alguma resolução concreta, do tipo “ainda quero fazer esse personagem”?

Não. O acaso, ele realmente continua por perto. A vida pra mim é esse rio que corre para o oceano. Eu posso parar na beira do rio, posso seguir na correnteza. Nunca consegui definir: “Agora, vou fazer isso”. Fiz um pacto comigo: “No dia em que você sentir que está se repetindo, pare e pegue outro caminho”.

Com milhares de seguidores na redes e se tornando um fenômeno na internet, a que atribui isso? Tem uma equipe por trás pensando e preparando o conteúdo?

Tenho o Renato Santoro, que fotografa. O Evaldo Mocarzel dá os títulos – ficamos horas discutindo isso. É tudo feito num smartphone. A ideia é incentivar reflexões sobre o tempo de hoje, mas por outro caminho, diferente daquele a que as pessoas estão acostumadas. É um convite: “Olhe de outra forma, não fique no lugar comum, saia da catalogação, da etiquetagem”. Cada pessoa tem um olhar, um ponto de vista. Conceitue você mesmo.

Como você atravessou os últimos anos no Brasil, com ataques recorrentes do presidente à cultura e aos artistas? Quais são as perspectivas para 2023?

Vai ser um trabalho longo. De reflexão, de atitude, de conhecimento… Se a gente quer uma narrativa mais democrática, mais pautada pela maioria, algumas práticas precisam mudar o mais rápido possível. Não cabe mais o “nós contra eles”. Precisam surgir novas ficções, novos acordos como diz Harari em Sapiens. É o nosso caminho a partir de agora… É hora de recriar. Cuidar do nosso habitat, tirar o homem do centro de tudo. Chega disso. Mas olha, eu sou melhor em fazer foto sobre isso do que de falar. É por aí que consigo conceituar, chamar a atenção para determinados assuntos. Apesar de ler muito e ser atriz, não sou muito habilidosa com as palavras e prefiro a comunicação visual.

Vera segurando uma ovelha pela coleira e com expressão de espanto

Investindo no cinema nacional

O porque é vantajoso investir no Brasil.

por JOÃO FRANK

Há muito mais entre as empresas e o apoio ao cinema do que três segundos de logotipo durante os créditos iniciais. Dentro do mercado financeiro, há um negócio lucrativo movendo a captação para filmes, com busca de títulos que atraiam longas filas na bilheteria e alto potencial de retorno, muito além dos benefícios fiscais.

Apoiados nas leis de incentivo ao cinema nacional, as cotas de investimento são negociadas por meio dos certificados audiovisuais, que representam uma fatia da obra. Os papéis têm emissão e registro obrigatório na Comissão de Valores Mobiliários (cvm), autarquia do mercado financeiro nacional. Entre janeiro e agosto, o investimento em filmes já movimentou 40 milhões em 29 projetos, segundo dados da cvm.

Lucro no escuro

Pelos certificados, o investidor tem direito à participação no resultado comercial do filme. As margens podem ser enormes, permitindo que ainda anos depois os investidores recebam direitos de uso do filme em tv e dvd. A diferença é a origem do investimento: optando por usar uma fração do seu imposto de renda para investir, e não apenas patrocinar um filme, as empresas apostam em retorno com custo baixo.

Também equivalente às aplicações financeiras em ações há os Funcines, fundos de investimento na indústria cinematográfica. Existem 14 Funcines registrados na cvm.

A produtora executiva Paula Cosenza, da BossaNovaFilms, ressalta a importância de captar no mercado financeiro. “É uma oportunidade de acessar organizações que talvez não investissem de outro modo “. O longa do estúdio Tudo Bom, Tudo Bem, ainda em fase de produção, captou 3 milhões de reais, limite máximo da captação via certificados, em junho deste ano.

Do lado das empresas, incentivar o cinema nacional acaba sendo um bom negócio. “Apenas sob o ponto de vista financeiro, sem falar no marketing, o investimento é atrativo e seguro”, explica Luigi Pasquarelli, consultor de captação para audiovisual. O lucro sobre o investimento chega, antes mesmo da bilheteria e estreia do filme, a 25% do valor aplicado, na forma de economia dos impostos, explica Fábio Pessanha, da corretora Geração Futuro, que intermediou a captação das obras As Vidas de Chico Xavier, Cazuza, a Dona da História e A Partilha.; “É uma equação de custo zero, mais 25% sobre investimento, mais renda líquida do filme”.

Retorno financeiro para a marca

Em teoria, a regulação prevê que no final de 2010, todos os modelo de investimentos baseados na lei do audiovisual vão expirar, incluindo os certificados. Como são mecanismos de incentivo, foram criados para criar uma ambiente de independência para o cinema nacional, e então serem instintos. Como isso claramente não aconteceu, é provável que os mecanismos sejam prorrogados e permaneçam, explica Felipe Claret da Mota, superintendente de registro de valores mobiliários da cvm. O modelo já foi prorrogado antes. No momento, depende da temperatura das discussões.

http://cidadededeus.globo.com

Série joga luz sobre as delícias da 3ª idade

Agora em sétima e última temporada, abre portas para a nova onda de protagonismo

por TAMARA NASSIF

Grace e Frankie estão encarando a temida terceira idade, mas não da forma que imaginavam.

Foto: Annie lebowitz

Na casa do namorado, Grace (Jane Fonda), uma senhora elegantérrima na casa dos 80 anos, descobre um problema embaraçoso: para conseguir se erguer do vaso sanitário, precisa se alçar a uma estátua temporária no banheiro, o que não dá muito certo. A intempérie faz com que ela recorra à melhor amiga, também oitentona, Frankie (Lily Tomlin).

A solução pensada por elas? Uma engenhoca que ejeta o usuário da privada em segurança. O projeto, descobre-se depois, não é útil apenas aos problemas de coluna e joelho de Grace, mas a uma geração de idosos que não tinha suas necessidades específicas atendidas pelas facilidades da vida moderna. A dupla, protagonista da série de comédia da Netflix Grace and Frankie, decide, então, vender a ideia para uma grande empresa americana.

A escassez de produtos criativos voltados para os idosos era também um problema no cenário do entretenimento. Com pouco espaço na televisão, raras eram as vezes em que a terceira idade protagonizava alguma produção – e Grace and Frankie, assim como o fez com a criativa engenhoca batizada de “The Rise Up”, foi uma das pioneiras da boa fase do tipo na TV. Ou melhor, no streaming. Com ampla variedade de catálogo e capacidade de desenvolver múltiplas tramas ao mesmo tempo, as plataformas expandem o leque de públicos-alvo a um modo que a TV aberta – muito mais suscetível às tendências do mercado – não consegue. Talvez seja por isso que, do ano passado para cá, quem tem mais de 60 anos aumentou em 89% o uso de streamings pagos como a Netflix, segundo uma pesquisa do Kantar Ibope. O tédio pandêmico com certeza deu um empurrãozinho para a estatística, mas não é de hoje que a indústria tem se mexido para acomodar o segmento.

A série acompanha a história das antigas rivais Grace (Jane Fonda) e Frankie (Lily Tomlin), cujos caminhos voltam a se cruzar por conta do novo rumo dos seus casamentos. Jane Fonda em cena de ‘Grace and Frankie’: uma engenhoca para poupar os joelhos (e a estátua) de uma subida difícil do vaso sanitário.

Bem antes da sétima temporada de Grace and Frankie chegar à plataforma de surpresa no último fim de semana, a série já mirava em assuntos pouco explorados pela mídia. E mais, com a leveza necessária para criar um contraponto às dramáticas histórias de idosos com Alzheimer e câncer, dominantes quando se trata do protagonismo idoso. Jane Fonda deixou isso claro quando a estreia aconteceu: “Ninguém está se dirigindo aos mais velhos, é isso que é incomum na série.”

A produção engata com os respectivos maridos de Grace e Frankie pedindo divórcio, porque, amantes de décadas, decidiram passar os últimos anos de vida casados e sem guardar segredos do resto da família. Elas, então desafetas, passam a morar juntas em uma disputa por uma casa na praia – e, assim, dão início a uma amizade deliciosamente improvável. Grace é a clássica dondoca carrancuda, enquanto Frankie, uma senhora dócil e doidinha de pedra. É de Frankie outra ideia de invenção para a terceira idade que conduz as primeiras temporadas: um vibrador, ajustado às necessidades e dificuldades de mulheres idosas sexualmente ativas. O produto “Ménage à Moi” não é apenas um quadro cômico em uma série de comédia, mas também uma ênfase na valiosa mensagem de que ainda há muita diversão a ser vivida pela faixa etária mais velha.

CLÍMAX

agenda cultural

Monet à Beira d’Água

Depois de atrasos na montagem, finalmente poderemos conhecer Monet à Beira d’Água no dia 1º de novembro. Enormes projeções de 285 obras impressionistas formam diferentes narrativas em animações digitais que envolvem os visitantes. LOCAL: iIlha Musical do Parque Villa Lobos: Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 2001, Alto de Pinheiros. INGRESSOS: a partir de R$30 (meia-entrada).

Reinauguração do Museu do Ipiranga

As visitas serão gratuitas até 6 de dezembro, mas é preciso reservar seus ingressos no site do Museu do Ipiranga. Por enquanto, novos lotes ficam disponíveis toda sexta-feira às 10h. Caso não consiga visitá-lo, o passeio on-line ainda continua disponível para acessa-lo. LOCAL: Museu do Ipiranga: Rua dos Patriotas, 20, Vila Monumento iNGRESSOS: evento gratuito

Museu das Culturas Indígenas

Este espaço de resistência indígena conta com quatro andares expositivos em que indígenas de todo o Brasil assumem o protagonismo para apresentar sua história e sua arte, uma opção fantástica para quem quer conhecer um pouco mais desta cultura. LOCAL: Rua Dona Germaine Burchard, 451, Água Branca. INGRESSOS: R$15 (inteira) e R$7,50 (meia).

A arte do Ramen Domburi na Japan House

A exposição traz detalhes sobre um dos mais famosos pratos da culinária japonesa (o lamen) e também sobre as tigelas em que ele é consumido.. Conheça a enorme diversidade de variações do prato em cada região do Japão e aprecie 30 tigelas transformadas em obras de arte. LOCAL: Japan House: Av. Paulista, 52, Bela Vista. INGRESSOS: Evento gratuito em SP.

Pelas ruas na Pinacoteca

As 150 obras expostas englobam o período de 1893 até 1976, décadas importantes para que o país firmasse sua reputação de importante produtor cultural. LOCAL: Pina Luz: Praça da Luz, 2, Bom Retiro. NGRESSOS: Entrada gratuita aos sábados. Nos demais dias, R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada).

Marieta Severo: musa do cinema

Com 3 filmes em cartaz apenas este ano, Marieta se reafirma a frente do desmonte cultural

por NÔ MELLO fotos por MARCUS SABAH

Em um cenário de completo desmantelamento do audiovisual nacional, agravado por um contexto de pandemia em escala mundial, estrear um filme no circuito comercial já é uma grande conquista. O que dizer de três, então? Pois essa é a improvável façanha que Marieta Severo conseguiu realizar em pleno 2022 - além do recém-lançado Aos Nossos Filhos, em julho passado, a atriz protagoniza outros dois lançamentos só neste semestre: Duetto e Domingo à Noite. “Com os impasses que foram colocando para o cinema brasileiro, foi muito difícil”, desabafa a atriz à Vogue. “E não foi só a pandemia, é realmente uma situação de bloqueios e dificuldades que o atual governo impõe. Foram nos colocando obstáculos desnecessários, para realmente tentar impedir o que não se consegue impedir, que é o fluxo cultural”, completa.

Com direção de Vicente Amorim, Dueto se passa na Itália, em 1965, quando, depois da trágica morte de seu filho em um acidente de carro, Lúcia (papel de Marieta) deixa o Brasil recém-tomado pelos militares para viajar com a neta Cora até sua cidade natal, Bari, em Puglia. Lá, reencontra a irmã e o cunhado, vivido pelo icônico ator italiano Giancarlo Giannini, de quem guarda um segredo a ser resgatado. “Nessa busca, ela procura abrir caminhos depois do fato mais cruel que pode acontecer na vida de uma pessoa, que é a perda de um filho, se entender com seu passado e abrir caminhos para a neta”, adianta a atriz sobre o arco narrativo de sua personagem na trama.

O novo longa vem com um gostinho de flashback para Marieta que, no fim dos anos 1960, havia recém-estreado na dramaturgia atuando na novela O Sheik de Agadir (1965) e na primeira montagem de Roda Viva (1968) quando, grávida da primeira filha, Sílvia, teve de exilar-se na Itália com o então marido Chico Buarque por conta da perseguição do regime militar no Brasil. “Com muita facilidade, se instala o horror. A gente nunca imaginou que a ditadura fosse durar 20 anos”, recorda a atriz. “Eu quero um outro país para os meus netos. Eu não quero um país nada parecido com o que foi o da minha juventude. Sei muito bem o que é ser jovem em um país sob uma ditadura”, emenda.

Em Duetto, dirigido pela portuguesa Maria de Medeiros, Marieta encarna uma ex-combatente da ditadura militar que foi presa e torturada e, no presente, atua como coordenadora de uma ong que cuida de crianças soropositivas de comunidades carentes em busca de adoção. “Queria muito que o filme fosse visto por essa juventude que apoia esse projeto pavoroso que está sendo colocado para o país”, defende Marieta.

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