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ABRE ALAS
POLÍTICA DENTRO DA MODA
Para combater os inúmeros impacto da indústria da moda no Brasil, é preciso eleger parlamentares comprometidos com o setor
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por BÁRBARA POERNER foto por MAURICIO SUSIN
Foto: Josephy Augostin
Moda e política têm muito em comum. Por meio do poder judiciário, executivo e legislativo, é possível combater violações que tangem a indústria, como casos de trabalho análogo ao escravo, preservar e regenerar o meio ambiente e amparar as trabalhadoras do setor, garantindo seus direitos fundamentais.Regionalmente, existem medidas direcionadas de acordo com o pólo produtivo de cada cidade ou estado, mas no Congresso Nacional o cenário é mais heterogêneo. O Brasil tem um histórico – breve, considerando a jovem idade de nossa democracia – de políticas nacionais voltadas para a moda. Em 2010, durante o governo Lula, foi criado o Colegiado Setorial de Moda, entidade vinculada ao Conselho Nacional de Política Cultural do então Ministério da Cultura. Sua função era debater, acompanhar e definir diretrizes e estratégias para o setor da moda brasileira. Contudo, ele foi descontinuado com a extinção temporária do MinC, durante o governo Temer.Nas urnas, Eloisa Artuso, a diretora executiva do Instituto Febre, vê a possibilidade de impulsionar um país e uma moda que esteja apta a enfrentar as inúmeras crises que estamos vivendo e a sustentabilidade está ligada ao cuidado e ao amor.
Pressione o poder público para criar certas regulamentações que favoreça as pessoas que compõem a indústria
Segundo ela, é preciso levar em conta as agendas dos candidatos, não só dos cargos executivos (presidência e governo estadual), mas do legislativo (deputados e senadores), “para que uma vez eleitos, eles possam implementar políticas socioambientais comprometidas com nosso futuro”, além de restabelecer os organismos de defesa dos direitos humanos e meio ambiente que foram desmontados nos últimos anos, como o Ibama e o ICMBio.Ela analisa que mesmo a moda sendo responsável por muitos impactos ambientais e sociais, ainda não existe, de forma organizada, um movimento do setor para incidência política ou advocacy, que “pressione o poder público para criar regulamentações e uma agenda que favoreça as pessoas que compõem a indústria”.A diretora aponta algumas medidas que podem ser promissoras, como regulamentar as práticas de compra das grandes marcas e suas relações comerciais com fornecedores, restabelecer um salário mínimo compatível com a realidade material do país, exigir mais transparência e prestação de contas das companhias do setor e prover incentivos fiscais para diferenciar empresas que têm práticas mais responsáveis de outras negligentes.De forma semelhante, Yamê Reis, mestre em sociologia política, coordenadora de design de moda do IED-Rio e fundadora do Rio Ethical Fashion, defende que “sem políticas públicas, nosso setor não vai avançar em medidas que são urgentes para sua regulação. Não podemos esperar que as empresas tenham práticas sustentáveis. Se não tivermos políticas que exijam isso, não irá acontecer”. Ela ainda destaca a importância de “políticas que sustentem pequenos produtores, que são a maioria da indústria da moda, mas que não têm nenhum suporte de qualificação e manutenção”.Vale ressaltar que “nosso papel como eleitores não acaba nas eleições. Como cidadãos, temos o dever de acompanhar e cobrar os mandatos, programas e atividades do legislativo e executivo”, continua Eloisa.Para evidenciar a relação da moda com a política, listamos os principais gargalos do setor no Brasil que merecem atenção na agenda dos seus candidatos e/ou candidatas.Resíduos têxteisImagens das montanhas de roupas e tecidos ocupando o deserto de Atacama, no Chile, podem chocar. Mas basta dar uma volta pelo centro da cidade de São Paulo, entre os bairros do Brás e Bom Retiro, para ver essa realidade de perto.
Diariamente, partem da região 16 caminhões lixo têxtil, o equivalente a 45 toneladas, destinados
aos aterros sanitários, conforme dados do relatório Fios da Moda.Lidar com os resíduos, têxteis ou não, é um desafio em qualquer cidade, estado e nação. Uma das formas do Brasil lidar com o problema é por meio da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que configura a Lei n°12.305/2010. Ela “prioriza a gestão compartilhada e o gerenciamento de resíduos sólidos em uma ordem de prioridade que consiste em: não gerar; reduzir; reutilizar; reciclar; tratar e dispor adequadamente”.Ou seja, a PNRS assume que o manejo dos resíduos sólidos deve ser feita de forma compartilhada entre empresas, setor público e cidadãos, o que requer o esforço público municipal para ser efetivado.
O problema é que não existe uma diretriz específica para o têxtil e vestuário na lei, já que o manejo de fios e tecidos exige recursos específicos. Daí a importância de se projetar um recorte na política que abarque a peculiaridade da moda.Agenda trabalhista e direitos das mulheresAs mulheres são 60% da indústria da moda no Brasil, que é majoritariamente informal e composta de pequenos produtores. Com a reforma trabalhista de 2017, flexibilizações tornaram-se mais comuns e a perda de direitos trabalhistas básicos abriram ainda mais espaço para jornadas exaustivas, sem segurança ou férias, com salários baixíssimos.A flexibilização e fragmentação da indústria da moda faz com que casos de trabalho análogo à escravidão sejam recorrentes. Se em âmbito nacional a maioria dos trabalhadores resgatados dessa condição são homens, quando analisado apenas o setor têxtil e do vestuário, as mulheres aparecem como metade do número.
Um exemplo de política pública regional é a Lei Bezerra, criada em 2013 a partir do projeto do deputado estadual Carlos Bezerra Jr (psdb-sp). Seu texto diz que
Os impactos ambientais e o descarte excessivos dentro da indústria textil empresas paulistas flagradas utilizando trabalho análogo à escravidão em seu processo produtivo perdem suas inscrições no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (icms) e podem ser fechadas e impedidas de realizar qualquer transação formal. Nacionalmente, existe desde 2003 a Lista Suja, um cadastro de empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas a de escravo. Publicada semestralmente pelo governo federal, ela foi criada pelo extinto Ministério do Trabalho e Emprego (mte) e pode servir de base para analisar quais empresas de vestuário já foram flagrados cometendo o crime.Desmatamento e AmazôniaNão é segredo que o desmatamento na Amazônia Legal cresce década após década. Ao olhar para a indústria joalheira encontramos algumas pistas da relação desse crime com a moda. Isso porque existe pouquíssima rastreabilidade e insuficiente fiscalização na extração, distribuição e comércio dos minérios no país. Muitas joias expostas em vitrines podem ser originárias do garimpo ilegal, algo que deixa sequelas irreversíveis no bioma brasileiro.
Além disso, o desmatamento pode aparecer no setor por meio da produção de algodão e viscose. O Cerrado é a região com a maior concentração de cotonicultura do Brasil, mas nos últimos dez anos perdeu cerca de 50 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa, conforme o Fios da Moda, para o agronegócio. Outro elo fica exposto na produção e distribuição do couro, que por meio de um relatório internacional ligou dezenas de marcas globais à prática. Mesmo com tanto impacto, poucas empresas parecem estar comprometidas com a preservação ambiental. O Índice de Transparência da Moda Brasil 2021, que aponta que nenhuma grande etiqueta, dentre as 50 analisadas, divulga um
compromisso mensurável e com prazo determinado para o desmatamento zero.A nível nacional, existem alguns projetos de lei, além da própria Constituição Federal, que prevêem a proteção de Terras Indígenas (ti) e Unidades de Conservação (ucs) e atuam contra o desmatamento. Um exemplo de iniciativa em andamento com implicação direta na joalheria é o sistema de rastreabilidade do ouro, proposto e elaborado pelo Instituto Escolhas. Ela pode ajudar a indústria a melhorar suas práticas, monitorar de onde vem sua matéria-prima mineral e ainda pressionar marcas para melhorarem suas políticas de compliance.Outra medida importante tange a agricultura regenerativa e orgânica.
Yamê explica que existem alguns programas que favorecem a agricultura familiar como, o pronaf, dedicado ao financiamento para pequenos agricultores, mas que são “de pequeno alcance face à força do agronegócio, que tem a maior bancada de parlamentares no Congresso e, por isso, aprova leis que claramente reforçam sua hegemonia no campo e na economia brasileira”. Além disso, a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, criada em 2012, foi amplamente desmontada na atual legislatura, que também concentra uma bancada empenhada em aprovar projetos de lei
como o Pacote do Veneno (PL 6299/2002), que busca flexibilizar e expandir o uso de agrotóxicos. O Brasil é um dos maiores produtores de algodão do mundo, mas a fibra orgânica ainda é minoria. Impulsionar uma cotonicultura agroecológica, que regenera o solo durante seu manejo, pode ser possível com um pleito comprometido e responsável nas cadeiras do parlamento. A fabricação sustentável de tecidos e vestuário final produzidos por marcas comprometidas com o meio ambiente, como o de Flávia Aranha, envolve inevitavelmente a contratação de mão-de-obra em condições decentes. Essa força de trabalho é frequentemente composta, em muitos casos, por mulheres e imigrantes, como comenta a designer brasileira. “Não se pode separar o social do ambiental quando se fala em ser uma empresa sustentável e menos poluente”, enfatiza Aranha. “É necessário criar redes de abastecimento onde haja cooperação e trabalho decente, assim como um compromisso com um modelo circular de produção vindo das indústrias.” Todos os especialistas consultados concordam que o nível atual de consumo é insustentável, apesar de crescer cada vez mais. Ou seja, não é compatível com a sustentabilidade”, diz a empresaria e designer Flavia Aranha.
A falta de rugas no mundo da Barbie
O mundo da Barbie com mais diversidade e representatividade, pelas rugas
por STHEFANI BARBOSA
Barbiecore. Vou falar sobre essa tendência antes de contar da nova Barbie em homenagem à Dr. Jane Goodall. Escreva #barbiecore nas buscas das redes sociais e encontre milhões de fotos de pessoas em looks totalmente pink. Por que?
Porque é a pedida da vez, em alusão à boneca Barbie, que ganhará filme em 2023 protagonizado por Margot Robbie e Ryan Gosling. Cenas de divulgação entregaram parte do mundo pink do futuro longa. Antes disso, nas passarelas, o desfile Pink PP da Valentino trouxe o tom de volta às discussões.
Redes sociais, cinema, uma supermarca, celebridades aderindo… pronto, o hit e a # aconteceram. E daí, no meio disso, o lançamento da Barbie feita com material reciclado, em homenagem à primatologista e ativista Dr. Jane Goodall, nem ganhou a atenção merecida.
A boneca faz parte da coleção Inspiring Women™ e traz Dr. Jane com sardas no rosto e zero rugas. A Barbie que representa a mulher de 88 anos tem a cara lisinha, assim como a Barbie que faz ode à Iris Apfel, que tem 100 anos. Qual o sentido de criar representações de pessoas velhas como se fossem jovens?
Por que será que até as Barbies mais velhas são iguais entre si e tão diferentes da realidade? Não sei responder, mas fico curiosa. Tanto que fiz um post no @vivaacoroa para assuntar: E se a Barbie envelhecesse? E, ali nos comentários, li muita gente animada com a ideia de uma Barbie enrrugadinha, com marcas de expressão, cabelos grisalhos ou até pintados…
A @viva60mais escreveu que já procurou bonecas e bonecos de idosos e não encontrou. Mesmo os que representam o vovô e a vovó têm rosto sem rugas, ela contou. “Penso que os bonecos enrugados ajudariam a tornar o processo de envelhecimento mais aceito e com naturalidade”, completou a jornalista. A @lizbucksilva escreveu, empolgada, que uma Barbie velha seria “a maior afronta à ditadura da juventude”. Quem quer passar por uma ditadura? E quem não quer uma dose de doce rebeldia?
Fica claro que a Mattel não quer considerar o fato de a boneca ser o símbolo de um padrão de beleza cruel e excludente – e de alienação. Uma pena. Até porque, quando foi criada nos anos 1950, por Ruth Handler, fundadora da empresa, a boneca tinha o objetivo de inspirar a independência feminina.
A maior parte das bonecas do mercado, na época, eram bebês e meninas. As crianças brincavam só de ser mães. A ideia da fabricante era oferecer outras possibilidades. O propósito se perdeu no tempo, enquanto a imagem da boneca se fortaleceu. O #barbiecore está aí como prova do maravilhamento que a boneca ainda desperta. Enquanto a ausência de rugas em bonecas que representam musas 80+, está aí como prova do horror que as rugas podem despertar. Mas até quando isso continuará?
Tudo, incluindo o mundo e a nossa vida, é exatamente do jeito que a gente enxerga. E eu escolho ver a Barbie como um brinquedo afetivo – sem fechar os olhos para a questão dos padrões.
Bem Vindos a Neo-NeoPsicodelia
A busca por maneiras responsáveis de produzir couro, por escapismo e até por equilíbrio
por THIAGO ANDRILL
O reino fungi está em alta. Nem plantas nem animais, os fungos são uma nova obsessão cultural. Mais especificamente, os cogumelos, que tem alta demanda na moda e psicoterapia. Eles aparecem como uma alternativa mais sustentável ao couro bovino e são procurados por pacientes com necessidades emocionais e mentais das mais destintas.
Vive-se hoje um neo-neopsicodelia, ou a terceira onda psicodélica, e a moda faz parte do alvoroço. Há sinais de lisergia “clássica” no verão 2021 de rafsimons, Matt Bovan, JwAnderson. As referências de estampas tie-dye, prints e bordados de cogumelos e releituras do estilo paz & amor de décadas passadas até formas, cores e texturas não muito diferentes daquelas relatadas por quem já passou por boas viagens alucinógenas. “Estamos acompanhando uma série de marcas explorando cogumelos de forma magnífica, desde marcas jovens de streetwear até joias ultrafemininas adornadas com os fungos”
Vale lembrar que nada é exatamente novo. Nos anos 1970, marcas como Missioni, Pucci, Yves Saint Laurent bebiam grandes goles da fonte hippie com os seus tingimentos e estampas em tonalidades vibrantes, silhuetas amplas a franjas.
Meio espírito do tempo, meio apropriação de um movimento anticapitalista. Para além da estética e de questões culturais, os fungos têm se provado uma poderosa ferramenta na produção de uma moda mais responsável. No ano passado, foi montado um consorcio entre empresa de biotecnologia Bolt e Adidas, Stella McCartney e Lululemon com o objetivo de criar materiais com menor impacto no ambiente. O Mylo, um couro vegano macio e flexível a base de micélio – ramificações que ficam sob o solo, descompõem matéria
orgânica e distribuem nutrientes para as plantas.É como se fosse a raiz do cogumelo.
O micélio foi usado pela primeira vez em um produto de moda em 2018, na bolsa Falabella, de Stella McCartney, exposta no museu Victotia & Albert, em Londres. Com a parceria em 2020, a marca expandiu sua aplicação para um top preto com bustiê e para uma calca da mesma cor. Mais recentemente, a Adidas escolheu o clássico tenis Stan Smith para estrear a fibra têxtil natural. Apresentado em 15 de abril deste ano, o modelo entretanto ainda não está a venda. A previsão de lançamento é, com volume limitado, nos próximos 12 meses.
Já Hermes, em colaboração exclusiva com a startup MycoWorks, apresentou na coleção de inverno 2021 a bolsa Victoria, feita com fibra Sylvania, também a base de micélio. “Com um planeta, precisamos aprender a trabalhar com a natureza e a favor dela, e não contra. Temos de focar todos os nossos esforços em encontrar soluções que utilizem recursos renováveis e sustentáveis, desenvolvidos em sinergia com o ecossistema”, diz Amy Jones, head global de “Futuro” da Adidas. “Como marca, continuaremos a explorar cada vez mais inovação desse tipo.
Inicialmente criado em laboratório, Mylo é cultivado em modelo vertical e de larga escala, com uma tecnologia agrícola que otimiza a área de cultivo. Ele usa menos recursos do que a pecuária e tem rápido crescimento – menos de duas semanas. O processo funciona assim: é feita a reprodução do solo da floresta em um ambiente artificial. Na sequência, as células miceliais são nutridas com serragem e matéria orgânica. Há o desenvolvimento e a formação de uma camada de espuma.
ilustra: Leonardo Campos
Há alguns anos, as pesquisas e os debates sociais foram retomados. Existem uma associação histórica da psicodelia com momentos de intensa contestação e revisão da moralidade, como nas décadas de 1960 e 70, e agora não é diferente. Contudo, Ronald Griffth afirma que não se trata apenas um movimento cultual, espiritual e filosófico, mas sim científico. Conforme escreveu o pesquisador, em dezembro passado, na Jama Psychiatry: “Psicodélicos não são nem cura para transtornos mentais nem saída fácil para uma vida incompleta e não devem ser apresentados como panaceias. Subculturas pro-psicodélicas, de modo agourento, estão fomentando de maneira crescente visões utópicas para a sociedade com base em achados de pesquisa que, embora intrigantes, ainda devem ser considerados preliminares”. No Brasil, como em boa parte do mundo, a maioria dos psicodélicos é tipificada como substância ilícita. Porém existem brechas na legislação nacional que permitem o consumo de algumas delas. É o caso da ayahuasca, por sua condição de sacramento, e dos chamados “cogumelos mágicos. A psilocibina, seu princípio ativo, é proibido em sua forma pura, já o produto orgânico é legal. É como se fosse ilegal comprar thc da cannabis, mas permitido adquirir um cigarro de maconha.
Segundo dados cientifícos divulgados pelo laboratório Os efeitos emocionais da viagem com cogumelos duram sete dias. Além disso, foi comprovada que novas conexões cerebrais permaneciam ativas em um mês depois uma provável explicação para o efeito antidepressivo do psicodélicos. Os pesquisadores publicaram na Lancet Psychiatry bons resutados de um teste com portadores de depressão tiveram redução.
Aos 45 anos: Mônica muda de vida
A marca Santa Resistência é uma das apoiadas pelo projeto Sankofa e consegue espaço na SPFW
por LIGEA PAIXÃO
“Engenheira de profissão, a moda entrou em minha vida de forma muito intuitiva e afetiva. Sempre disse que a minha ocupação me realizava, mas faltava alguma coisa.
Com isso, aos 45 anos de idade, mudei radicalmente de área e criei a minha marca, a Santa Resistência. Na época, tive medo, mas posso garantir que hoje, após seis anos dessa aposta, estrear no maior evento de moda da América Latina, o São Paulo Fashion Week, é a certeza de que fiz a escolha certa.
Sabia que a minha moda autoral com dna africano, que também traz referências ancestrais, era valorizada no mercado, mas um evento do porte do spfw é algo distante para pequenos empreendedores.
É um lugar que queremos ocupar, só que esbarramos com as dificuldades de empreender no Brasil. Mas a moda, ao mesmo tempo que tem seus empecilhos, é capaz de construir pontes e abrir barreiras. Para mim, o Sankofa foi essa ponte.
O projeto Sankofa nasceu de uma ideia da Natasha Soares, do coletivo Pretos na Moda, e do Rafael Silverio, guardião da startup de inovação social inter-racial vamo, que são duas pessoas extremamente competentes e corajosas. A iniciativa liga marcas consolidadas e respeitadas no mercado a outras emergentes, como a Santa Resistência.
É algo transformador levar essas ideias lideradas por pessoas negras para o evento. O projeto fez com que a minha marca e tantas outras fossem assessoradas pelos melhores profissionais da moda atual e isso foi fundamental no processo.
Modelo veste duas peças da coleção Verão 22, da Santa resistência
A Santa Resistência veio para ficar e estou aqui para provar que nós, negros, não vamos mais nos limitar aos bastidores, ocuparemos todos os lugares
A minha marca madrinha, a Angela Brito, que dispensa apresentações, se mostrou extremamente generosa ao compartilhar tanto conhecimento. Ela, assim como Isaac Silva e Luiz Cláudio do Apartamento 03, já era minha referência cruzando a passarela com suas coleções. Eles tornaram tudo mais real, mais próximo e abriram os caminhos para que nós consolidássemos o movimento de racialização do evento. É representatividade.
Elizabeth de Toro, presente! “Sem perder a elegância, o conforto e a praticidade da mulher que usa Santa Resistência, nós voltamos ao passado e trouxemos para o presente o estilo Elizabeth de Toro.”
Legado nas passarelas Junto com tantas emoções de estar inserida neste projeto pioneiro, também há o sentimento de que estou assumindo uma grande responsabilidade, principalmente pelo fato desta edição ter o maior número de estilistas negros da história. Há um legado por trás de tudo isso e eu quero ser referência para quem está iniciando.
Ao ouvirem falar de mim, uma mulher, negra e que mudou de carreira após os 40 anos, espero que outras pessoas se identifiquem e acreditem que, se eu pude, eles também podem”, aspira Mônica, que desfila virtualmente com a sua marca Santa Resistência, nesta sexta-feira (25), no spfw.
Diversidade nas passarelas
Temporada de moda traz modelos de diversas faixas etárias e chama atenção
por DIANA TSUI
As passarelas da moda têm um longo caminho a percorrer para que sejam consideradas verdadeiramente diversas e como um palco de representatividade. Mas na temporada de outono de 2019, houve uma mudança notável. Em desfile após desfile, pôde-se ver modelos de todas as idades e uma diversidade etária – não apenas uma ou duas mulheres simbólicas na faixa dos 70 anos, mas também, outras na meia-idade.
É verdade que várias dessas mulheres eram lendas voltando. No Hellessy, Pat Cleveland (68) encerrou o show em sua passarela de assinatura. Batsheva incluiu Veronica Webb (53), Patti Hansen (62) apareceu na Michael Kors e a Christy Turlington (50) voltou à passarela após mais de duas décadas na grande Marc Jacobs. Assim, o motivo dessa diversidade etária veio dos designers que prestavam homenagens à história da moda e à quem já foi importante para as suas marcas.
Mas as supermodelos não eram as únicas mulheres com mais de 30 anos nas passarelas. A 11 Honoré deu início à Semana de Moda com um desfile de tamanho inclusivo que terminou em um final espetacular com Laverne Cox, que possui 46 anos. Rachel Comey, que frequentemente escala modelos não profissionais em seus desfiles, incluiu uma lista de amigos, artistas, escritores, e outros tipos de criativos. A ex-editora da Vogue, Tonne Goodman (67), que costuma ficar na primeira fila dos desfiles, deu uma reviravolta e foi desfilar na CDLM. A Deveaux, criada pelo fotógrafo de estilo de rua Tommy Ton, apresentava um elenco predominantemente mais maduro usando peças mais sofisticadas – você poderia imaginá-los vestindo as roupas em casa.
Os casos continuaram na medida em que os desfiles se mudaram para a Europa. Em Londres, a favorita dos anos 90, Stella Tennant (48), desfilou pela Burberry em um elegante visual de camelo.. E também, Simone Rocha fez a curadoria de um elenco que incluía um grande ícone da geração X, a Chloë Sevigny (44), a musa de Helmut Newton, Marie Sophie Wilson (54) e a modelo dos anos 90 Kirsten Owen (48) – esta não é a primeira vez que Rocha escala uma ampla faixa etária.
Então, em Milão, a MM6 Maison Margiela foi all-in com uma apresentação composta inteiramente de mulheres de cabelos grisalhos que pareciam se divertir enquanto dançavam ao som de músicas. A ex-diretora criativa da Garage, Shala Monroque (40), ressurgiu na Marni enquanto a Versace tinha Shalom Harlow (45) abrindo o desfile e a Stephanie Seymour (50) fechando-o. O que se espera, é que outros designers entendam a importância da representatividade e diversidade e façam o mesmo.
Foto: Getty Images Da esquerda para a direita de cima para baixo: Carla Bruni e Naomi Campbell, Pat Cleevand, Grace Jones e modelo (nome não encontrado)