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Nova marca propõe um olhar mais justo para a cadeia de produção de sapatos

A Urban Flowers, empresa que produz e vende calçados e acessórios veganos e feitos à mão com matéria-prima reciclada, começou a dar os primeiros passos em 2014 como um sonho da gaúcha Cecília Weiler, 22 – em seguida, seu namorado, Patrick Lenz, 26, embarcou na aventura. Como muitos empreendedores sociais, eles queriam provar que um bom negócio para o meio ambiente pode também ser vantajoso para o empreendedor sustentável.

Com sede em Campo Bom (RS), mas comandada a partir de Florianópolis, onde a dupla reside, a marca hoje enfrenta desafios próprios de uma ideia que já dá frutos, mas precisa se manter fiel aos seus princípios conforme se expande. O faturamento, em 2018, atingiu 1,2 milhão de reais em 2018.

O carro-chefe são os calçados, que variam de 69 a 159 reais o par. No caso dos tecidos utilizados para a produção, muitos vêm de descarte feito por grandes empresas para as quais o processo correto para jogar esses materiais no lixo sairia muito caro. São panos com defeitos (rasgos, cortes ou falhas em estampas) incompatíveis com as escalas e as esteiras da grande produção.

Após pouco mais de dois anos administrando o negócio, Patrick diz que o diferencial para qualquer empreendecausa é a identificação.

“Só vai ser um bom negócio se você realmente viver aquilo”. O fundador da marca vegana prossegue:

“Não adianta oferecer algo com o qual não há minimamente uma identificação. É muito fácil ver pessoas fazendo um negócio só para vender, sem a vivência, e assim perder a credibilidade”

Para a operação da Urban Flowers, o mais difícil é descobrir se as matériasprimas são veganas, de fato, já que o conceito de “produto sem origem animal” não é tão difundido. Há cores de tecidos, como o carmim, que são feitas a partir de pigmentos de insetos, o que impede que sejam usados pela empresa.

O cuidado em assegurar uma produção sem sofrimentos tampouco se limita ao quesito animal: Cecília e Patrick se preocupam em acompanhar e estar junto dos artesãos que trabalham para eles. “A gente conhece os ateliês. Alguns artesãos têm carteira assinada e outros ganham de acordo com a produção, já que são funcionários de outras companhias e de outros concorrêntentes.”

As alpargatas foram os primeiros produtos de fabricação própria feitos pela empresa Urban Flowers. Hoje, 40% do faturamento da empresa é gasto apenas com mão de obra. O negócio conta com dois ateliês, nove artesãos e três costureiras. Além disso, há funcionários que auxiliam na plataforma do e-commerce.

Patrick afirma: “Alguns colaboradores precisam se deslocar até o escritório em alguns horários, mas eles se organizam para ir no seu próprio tempo, não precisam estar ali de segunda à sexta. A gente consegue fazer um trabalho bem interessante com uma equipe mais enxuta”. Ele, que sempre trabalhou em empresas de segunda a sábado, complementa o fundador da marca:

“Mesmo com uma carga horária alta, minha produção era baixa. Quando fundei a Urban Flowers, vi que cada hora que estava ali era bem utilizada, porque não estava pensando só no retorno financeiro, na carreira, sucesso e etc”

Não é à toa que os sócios empreendem um intenso trabalho de pesquisa para garantir, além de um ambiente saudável para os funcionários, a origem correta de seus produtos. Afinal, a marca nasceu a partir da inquietação de Cecília em descobrir de onde vinham os produtos que ela mesmo consumia.

Cecília é vegetariana desde os 12 anos e vegana há quatro – em outras palavras, deixou de consumir qualquer produto que tenha origem animal, como ovos, laticínios, mel, incluindo aí cosméticos, roupas e outros itens que contenham pigmentos de origem animal (cera de abelha e seda), ou sejam testados em bichos ainda. A gaúcha nasceu em Campo Bom, no Vale dos Sinos gaúcho,

Uregião conhecida pela produção de calçados, em uma família ligada ao ramo da confecção e venda de roupas. O desejo de ter um negócio próprio veio antes mesmo de ter tido uma experiência profissional “tradicional”, com um chefe, horários a serem cumpridos e um holerite no final de todo mês.

Pronta para arriscar, ela começou revendendo produtos de outras marcas já aos 16 anos. A empresa nasceu com o nome Urban Flowers, inspirada na paixão da jovem por flores, plantas e natureza. Aos poucos, no entanto, o incômodo de não saber como os produtos eram feitos – com ou sem exploração animal ou humana – começou a cresce de forma disparada.

Foi um breve regresso à tradição que acabou permitindo à Cecília dar o passo da inovação que precisava. Ela conheceu Marcos Santos, 54, um antigo trabalhador de fábrica que tentava se virar depois que os produtos chineses começaram a representar uma concorrência feroz para a produção da região. Ele mesmo confeccionava alpargatas em Sapiranga (RS) e saía para vender em lojas de outras cidades.

Junto ao artesão, Cecília desenvolveu novos desenhos para os sapatos. “Em vários momentos, ele mesmo ficou surpreso com alguns produtos que achava que ia dar errado”, conta Patrick..

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