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Tentando ajudar a família, aos 16 anos, fez um acordo com o pai e, juntos, passaram a coletar recicláveis após o horário escolar. Desde então, Letícia não parou e há um ano está participando da instituição Pimp My Carroça.
Gouvêa conta que é comum que as pessoas a observem com espanto quando está maquiada e catando recicláveis. “Trabalhando nessa área muitas pessoas nos enxergam como um nada ou como viciados, que estamos catando coisas apenas para trocar por drogas. Esse é um estigma da nossa profissão”, lamenta a catadora Gouvêa. Apesar disso, foi este trabalho que a despertou para algo grande: a importância da preservação ambiental e a conscientização de que ser catadora significa também contribuir com a saúde do planeta, do bem-estar social e do bem-estar ambiental.
Nas redes sociais, ela abraça a personagem de Barbie Lixeira para divulgar mais sobre a profissão, é onde também apresenta conteúdos práticos para explicar sobre o descarte correto de resíduos recicláveis A ligação dela com a área foi tão grande que Letícia passou a se interessar mais em aprender sobre questões ambientais e sustentabilidade.
“Comecei esse ano um curso de técnico em meio ambiente e já estou pensando no tema do meu trabalho de conclusão de curso, acho que esses assuntos nunca foram de fato abordados com a visão de uma pessoa que realmente trabalha na área”, comenta a estudante Letícia sobre questões ambientais. Apesar do trabalho de catadores ser fundamental para a reciclagem no Brasil, a remuneração desses trabalhadores ainda é, na maioria dos casos, baixa. Gouvêa consegue uma renda média de R$ 800 por mês e precisa completar através de aulas que da como professora e outras atividades.
“Como o tema [reciclagem] está em alta, algumas escolas me contratam para dar palestras sobre o assunto para crianças e adolescentes’’, conta ela á nossa revista de forma voluntária para que possamos aprender sobre o tema.
Já Bispo é um caso a parte. Após ser atendido pelo Pimp My Carroça passou a compreender a função social de seu trabalho e a encará-lo de forma mais profissional. Pouco tempo depois, comprou o primeiro veículo, que seria usado para recolher materiais recicláveis e aposentar a carroça tracionada pela força de seu corpo, que foi seu método de trabalho.
“Investi nas redes sociais, criei planilha para contabilizar custos de EPI (Equipamento de proteção individual), manutenção do veículo. O Pimp me ensinou o que o sistema não me ensinou em dez anos. Sem o apoio deles eu estaria puxando carroça até hoje”, diz Bispo sobre a instituição.
Foi em 2014 que Bispo decidiu que era a hora de escalar ainda mais o seu trabalho, e criou a cooperativa Kombosa Seletiva, que traz estampada em letras garrafais em seu site a frase que mudou o visual de sua carroça: “Lixo não existe”.
Hoje, a kombi usada deu lugar a três furgões grandes e de modelos atuais. Sua cooperativa conta com nove sócios-cooperados e divisão por igual do lucro de cerca de R$ 36 mil ao mês, o que proporciona uma vida mais confortável a Bispo, que deu entrada em sua casa própria neste ano e viu dois de seus oito filhos completarem o ensino superior.
“Não busco riqueza, quero que todos os catadores também tenham sua oportunidade e quem sabe sejam os ‘cEOs’ de suas próprias kombosas, assim como eu".
O órgão de Administração de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos (FDA), a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) e a associação Europeia de Alumínio (European Aluminium) alegam que o alumínio não apresenta toxicidade para pessoas saudáveis, já que o metal apresenta baixa absorção intestinal quando consumido em menores quantidades.
Entretanto, pessoas que apresentam função renal enfraquecida ou insuficiência renal crônica e bebês prematuros podem acumular alumínio em seu organismo. No tecido ósseo, o metal faz “trocas” com o cálcio, causando osteodistrofia.
O MATCH PERFEITO
Outro fator determinante para o deslanchar da cooperativa de Bispo foi o aplicativo Cataki, que conecta catadores a geradores de resíduos recicláveis, lançado pela Pimp My Carroça, em 2017, com o intuito de crescer a instituição.
Dentro da plataforma, quem quer descartar resíduos pode encontrar o catador mais próximo por meio de um sistema de geolocalização, semelhante ao usado nos apps de transporte, e contratar o serviço. Nenhuma das partes paga valores adicionais pelo uso da tecnologia, ajudando os catadores.
“O aplicativo Cataki possibilita que os catadores expandam suas redes de negócios e tenham mais ferramentas de trabalho. Tanto no quesito de diversidade de geradores, compradores e opções de material até o uso de uma ferramenta que calcula o impacto ambiental de cada coleta a partir do volume e tipos de materiais”, explica Leticia Tavares, diretora executiva do da instituição Pimp My Carroça.
O aplicativo também traz a possibilidade do catador gerar um cartão profissional, o que confere mais credibilidade ao seu trabalho. Para Bispo, a versatilidade de uso do aplicativo o ajudou a conseguir mais pontos de coleta, entre os quais em escolas de alto padrão e condomínios residenciais de classe média e classe alta e escolas públicas e privadas.
“Com o uso do aplicativo meus pontos de coleta aumentaram de 15 para 55 e em alguns locais, como nos colégios, sou convidado para dar palestras sobre o descarte correto dos resíduos”, conta Bispo sobre o aplicativo.
Para Gouvêa, que coleta os resíduos sozinha e apenas com o saco de lixo, o aplicativo tem ajudado a encontrar pontos próximos de sua residência. “Com o aplicativo eu consigo ter um contato maior com as pessoas da região de onde moro ou em outras localidades, sem precisar me deslocar tanto”, conta.
Atualmente há mais de 4 mil catadores registrados na plataforma que funciona em mais de mil cidades do Brasil.