Revista Tatuadores - Edição 1

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O espaรงo da arte e do profissional

Lucky Tatoo

A origem da tatuagem moderna no Brasil

Galeria de Tattoos Os melhores trabalhos

Estilos e Artistas Mauro Nunes Fernanda Tattoo Mรกrcio Lima Wiliam Eduardo Serginho Pisani Mauro Landin

E mais: Entrevista com o presidente do Sindicato, Body Art, desenhos e Jornal Tattoo



[Índice] [Jornal Tattoo]

O que é e como pode ser evitada a contaminação P.6 cruzada [Portfolio]

Na matéria de capa escolhemos sempre um artista para você conhecer sua trajetória, suas tattoos e desenhos. Confira nesta edição os trabalhos do Barata

[Minhas Tattoos]

A artista plástica Adriana Aranha expõe suas tattoos e idéias P.18

[Galeria de Arte]

Dez páginas com trabalhos selecionados para a curtição da galera P.32

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[Estilos e Artistas]

Editorial Mensagens Jornal Tattoo Estilos e Artistas

[Reportagem / Brasil]

Cleiton e Tati Uma família que faz tattoo e body piercing com estilo

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Tattoo na Mídia Body Art Entrevista Memória Cultura Desenhos

4 5 6 8 12 20 30 42 47 48

Mauro Nunes

William Eduardo

Fernanda Tattoo

o trabalho de seis artistas em seis estilos diferentes, exclusivo para a Tatuador s & Body Piercers P.8

Serginho Pisani

Márcio Lima

Mauro Landin

Tatuadores & Body Piercers


[Editorial]

[Expediente]

A tatuagem, sem censura e livre de preconceitos

O

projeto desta revista é ousar. Sem censura, sem medo, sem preconceitos. E reconhecer a arte do corpo como uma das formas de busca da diversidade e da liberdade de expressão.

Abrir espaço para a livre manifestação de quem faz da arte de tatuar o seu estilo de vida e o seu modo de ser. Este é o nosso objetivo: conquistar o respeito e o lugar que a tatuagem merece na mídia e na sociedade. Esta arte, terá aqui o seu canal de comunicação, de interação do artista com o público, valorizando o profissional que assume, com responsabilidade, o desafio de desenvolver sua atividade com segurança e respeito por quem faz do corpo a sua forma de expressão pessoal. Esta será uma publicação destinada também a propiciar a um número crescente de interessados na tatuagem o conhecimento dos estúdios, esses novos empreendimentos, verdadeiras oficinas de arte, que geram empregos e, principalmente, representam uma perspectiva, um projeto de vida para muitos jovens que buscam desenvolver seus talentos. É este universo que a sua revista Tatuador s vai mostrar. Vamos divulgar a luta pela regulamentação da profissão, o empenho, a vida desses artistas e do seu público que transformam, no Brasil e no mundo, a antiga arte da tatuagem em uma nova forma de expressão. A equipe de redação

Mar/Abr/2006 Tatuadores & Body Piercers

Coordenação Editorial Izabel G. Araújo Sérgio Regis Paes Jornalista responsável José Afonso Primo Mtb: 9.845 Redação e Reportagem Juliana Guerra Reportagem Fotográfica KK Alcovér Mtb: 16.196 Consultoria editorial Vinícius Guerra Paes Colaboradores Marília Scomparin Pesquisa e Cliping

Milze Kobashikawa Body Piercing

Projeto gráfico JVS Gráfica e Editora Ltda. Direção de arte Sérgio Regis Paes Mtb: 20.715 Design e Diagramação Rodrigo Piva Publicidade Izabel Guerra Impressão Prol Editora Gráfica Ltda. Distribuição S. A. O Estado de São Paulo

revistatatuadores@yahoo.com.br Publicação editorial e produção gráfica realizada por JVS Gráfica e Editora Ltda - Fone/fax: (11) 3871-0809. e-mail: jvsgraficaeditora@uol.com.br ATENÇÃO: INFORMAÇÃO IMPORTANTE

A Revista Tatuadores & Body Piercers considera autorizada a publicação das fotos de pessoas, tatuagens e desenhos enviadas à sua redação. Portanto, só devem ser enviadas à Revista fotos para publicação.


[Mensagens]

[Convite]

Espaço do leitor

Mande o seu recado

Este espaço é dedicado as opiniões, sugestões e críticas do leitor. Nossa redação esclarece dúvidas e publica mensagens que exponham idéias e proponham debates. Além disso, acreditamos que através da revista Tatuadores, os profissionais possam ampliar o contato com seu público.

Escreva para Revista Tatuador s: revistatatuadores@yahoo.com.br ou pelo Fax: (11) 3871-0809 aos cuidados da redação.

 As mensagens recebidas podem ser editadas em função do espaço disponível na seção ou para uma melhor compreensão do que está sendo dito.

[Boca no Trombone]

Convenções X Qualidade

Fica aqui um convite reforçado da nossa equipe de redação para você leitor enviar suas mensagens à revista Tatuador s & Body Piercers e seu público. Vale tudo. Opiniões, polêmicas, dica de pauta para os nossos editores. Recados de eventos para a galera. E as críticas, que também serão bem vindas e publicadas. ;-) Queremos saber o que você acha deste novo projeto editorial feito para os profissionais, os amantes da body art, e também, com muito carinho, para os novos adeptos desta expressão pessoal. Com reportagens e informações que buscam esclarecer e formar a sua própria opinião sobre o assunto.

Descubra também como participar de outras seções da revista. Em Minhas Tattoos você pode enviar uma foto sua 3x4 e de uma tatuagem. Também publicaremos seu comentário sobre ela e o nome do artista que realizou o trabalho. Já para os profissionais tatuadores e body piercers abrimos espaço para seus trabalhos nas seções Estilos e Artistas, Body Piercing, Galeria de Arte, Portfolio e Desenhos para Tattoos. Vejam como participar lendo a nota da redação na página 7. Acreditamos que com o nosso empenho e a participação de todos as próximas edições serão vibrantes e imperdíveis. Participe!

O significado do símbolo no nome da revista Tatuador s O uso da @ com uma pequena intervenção gráfica possibilita uma leitura comum aos dois gêneros do nome da revista - Tatuadores/as – feminino e masculino. É essa a idéia dos editores, utilizar o símbolo com o significado de e/a. A revista Tatuador s pretende, dessa forma, contemplar os homens e mulheres, profissionais da tatuagem e do body piercing, no Brasil.

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“Todos nós sabemos que organizar uma convenção não é fácil e existem várias dificuldades, mas o valor que pagamos por um stand é alto o suficiente para que possamos cobrar algumas mudanças... Sabemos que nas premiações nunca vai ser possível agradar a todos mas se houvesse mais transparência nos julgamentos, por exemplo, o prêmio seria mais valorizado e haveria menos desconfiança por parte dos concorrentes. Algumas vezes acontece de um mesmo trabalho já premiado em

outras convenções receber outro prêmio. Mesmo sendo uma prática aceitável, as regras têm que ser divulgadas e seguidas pelos jurados. Muitos de nós, nos dedicamos a trabalhos que muitas vezes não recebem o devido reconhecimento. Também é muito difícil o público acompanhar a premiação, não é possível enxergar os trabalhos no palco, um simples telão resolveria o problema.” Barata, Vinícius Guerra Paes, tatuador e consultor da Revista Tatuadores & Body Piercers. e-mail: baratattoo@uol.com.br

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INTERNET

[Jornal Tattoo]

Sindicato premia estúdios que seguem normas de biossegurança

Comunidades de tatuadores e de tatuados no Orkut

Premiação é uma iniciativa para valorização dos profissionais conscientes Tatuagem e piercing mostram força na internet com comunidades que aumentam o numero de internautas a cada dia

Para prestigiar os tatuadores que trabalham conforme as normas de biossegurança, o Sindicato das Empresas de Tatuagem e Body Piercing do Estado de São Paulo promoveu a premiação de 10 estúdios associados, durante a 9a Convenção Internacional de Tatuagem. Confira os ganhadores no box ao lado.

PREMIADOS 2005 Angel Salvage (São Paulo) Baratattoo (São Paulo) Canela Tattoo (Mogi das Cruzes) Desxordem Tattoo (Araraquara) Jonnhy Tattoo (Bauru) Led’s Tattoo (São Paulo) Planet Tattoo (Barretos) Ratinho Tattoo (Campo Limpo) Santa Pele (Ribeirão Preto) Tattoo Way (Franca)

Vigilância SanitÁria

Os perigos da contaminação cruzada

O que é e como pode ser evitada

Mar/Abr/2006 Tatuadores & Body Piercers

Só através do rigoroso cumprimento dos procedimentos de biossegurança é possível evitar os perigos da contaminação presentes durante o processo de tatuar ou de perfurar. Como por exemplo, a contaminação cruzada, que ocorre quando o tatuador, pega com a luva suja de sangue o tubo de tinta que está usando. Esse simples toque pode deixar um foco de contaminação para o próximo cliente porque o vírus da Hepatite C, em contato com o ar, sobrevive até 72 horas. Portanto não esqueça, o procedimento exige que a luva seja trocada toda vez que o tatuador ou o body piercer precisar manipular algum objeto ou instrumento, depois de iniciado o trabalho de tatuagem ou de perfuração.

A tatuagem também está conquistando cada vez mais espaço na internet. Um exemplo disso são as comunidades no Orkut com foruns de discussão sobre diversos assuntos do tema. A comunidade “Eu tenho tatuagem e daí ?”, reúne mais de 90 mil adeptos da arte. “ Tatuadores” e “ Tattoing” são comunidades em que os profissionais trocam experiências e sugestões sobre as técnicas de tatuar. O piercing também tem seu espaço no Orkut, são quase mil comunidades que reúnem os perfurados.

Tatuadores mostram seu trabalho através do fotolog.com/... Tatuadores do mundo todo estão usando os fotologs como portifólio virtual e como meio de comunicação. O preferido, entre eles, é o fotolog.com/net , por hospedar desde iniciantes até profissionais renomados. Através deles os tatuadores trocam visitas e comentam os trabalhos, uns dos outros. Ë possível encontrar flogs de tatuadores como Jimie Litiwalk, Mauro Nunes, Mordenti, Júnior e até mesmo do seriado americano Miami Ink. Veja alguns links: www.fotolog.com/miamiink www.fotolog.com/juniortattoo www.fotolog.com/snoopytattoo www.fotolog.com/baratattoo


Premiação da IX Convenção

[Jornal Tattoo]

IX Convenção Internacional de São Paulo

Evento anual atinge seu maior público Cerca de 10 mil pessoas compareceram à 9ª Convenção Internacional de Tatuagem, que aconteceu durante os dias 21, 22 e 23 de outubro/05 em São Paulo. O evento, que é considerado um dos maiores do ramo no Brasil, reuniu mais de 500 tatuadores, body piercers e expositores do País e do mundo. Um dos acontecimentos mais esperados da Convenção foi a premiação dos tatuadores, promovida pelo estúdio Led’s Tattoo. Foram premiadas as melhores tatuagens nas seguintes categorias: tribal, realista, costas, preto & branco, colorida, oriental, comics, portrait, new school, old school além da melhor série de desenhos coloridos e preto & branco. E a melhor máquina de tatuagem nacional e internacional Confira ao lado a lista de premiados.

No palco as tattoos premiadas

Fernanda Tattoo do Santa Pelle comemora a sua premiação

Nota da redação para profissionais da body art

Para publicar seu trabalho nesta Revista Informe sempre o nome do tatuador, estúdio, cidade e estado.

Seção Estilos e Artistas Envie seus trabalhos com comentário e uma foto 3x4 (do autor) para ser publicada junto com o material.

Seções Galeria e Desenhos Envie seus trabalhos por e-mail. Qualquer dúvida entre em contato com a revista por e-mail ou telefone.

Fotos e desenhos por e-mail: Para ser publicada com boa qualidade envie imagens com 300 DPI de resolução, em formato JPG para reprodução em tamanho original. Qualquer dúvida sobre a sua participação mande e-mail ou ligue para a nossa redação.

Contatos: e-mail: revistatatuadores@yahoo.com.br Fone/fax.: (11) 3871-0809

TRIBAL 1º Lugar – LUCIANO – Luc´s Tattoo – Balneário Camboriu/SC 2º Lugar – JÚLIO CÉSAR – Seven Star Tattoo – São Paulo/SP REALISTA 1º Lugar – ISAAC – Caverna do Dragão – Jaboatão dos Guararapes/PE 2º Lugar – TICANO – Ticano Tattoo Studio – Vila Velha/ES COSTAS 1º Lugar – RICARDO PASSOS – Tattoo Way – Franca/SP 2º Lugar – RAFAEL – Tattoo Roots – Sorocaba/SP PRETO & BRANCO 1º Lugar – GALO – Galo Tattoo – São Paulo/SP 2º Lugar – MÁRCIO – Márcio Tattoo– Ribeirão Preto/SP COLORIDA 1º Lugar – TARTARUGA – Bingha Tattoo – Salvador/BA 2º Lugar – NAMÃ – Desxsorden – Araraquara/SP ORIENTAL 1º Lugar – WELLINGTON – Polska Tattoo – Santos/SP 2º Lugar – NAMÃ - Desxsorden – Araraquara/SP COMICS 1º Lugar – GALO – Galo Tattoo – São Paulo/SP 2º Lugar – BARATA – Baratattoo – São Paulo/SP PORTRAIT 1º Lugar – ARNALDO - Arnaldo Tattoo – Campo Grande/MT 2º Lugar – BARATA – Baratattoo – São Paulo/SP NEW SCHOOL 1º Lugar – ÁTILA – Max Tattoo – São Paulo/SP 2º Lugar – ZÓIO - Planet Tattoo - São José do Rio Preto/SP OLD SCHOOL 1º Lugar – FERNANDA – Santa Pelle – Ribeirão Preto/SP 2º Lugar – FERNANDO – Tattoo Shimizu – São Paulo/SP DESENHOS COLORIDOS 1º Lugar – MÁRIO VITOR 2º Lugar – ANDRÉ RODRIGUES DESENHOS PRETO & BRANCO 1º Lugar – VICTOR – Portugal 2º Lugar – HUGO – Espanha MELHOR MÁQUINA NACIONAL Master of Tattoo – RJ MELHOR MÁQUINA INTERNACIONAL LAURO PAOLINI – Itália JURADOS: Boris e Tye´s (RJ) Inácio da Glória (SP) e Bingha (BA)

[Convenção: março/2006]

São Paulo Tattoo Festival Confira nos dias 10, 11 e 12 de março a convenção internacional “São Paulo Tattoo Festival”. Vai acontecer no Espaço Ferrovia, rua Dr. Almeida Lima, 1290. Bairro da Mooca em São Paulo. Metrô Bresser - travessa da Radial Leste. Contatos com: tel. (11) 3222-8049 / 3362-2962.

Classificados:

Loja de tatuagem conceituada, ativa há 23 anos em São Paulo - Capital procura tatuador de estilo realista, que seja desenhista e criativo, para completar o quadro de profissionais. Envie fotos de trabalhos e desenhos para avaliação para Caixa Postal: 12.886 cep: 04009-970

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Colorido / Old School

[Estilos e Artistas]

colorido

Um tatuador que dispensa apresentações. Mauro Nunes é dono de um estilo próprio que mais se aproxima de um “collor bomb, new school”, mas que está longe de ser definido com um simples rótulo!

Nome: Fernanda Studio:

Santa Pelle

Nome:

Mauro Nunes Studio:

TattooYou

Old School

Uma das revelações das últimas convenções, Fernanda se dedica ao “old school”. É infelizmente uma das poucas mulheres que tem o seu trabalho reconhecido e premiado em convenções

Para participar desta seção você deve enviar 3 fotos de tattoos de um mesmo estilo da sua preferência e uma foto sua, 3x4. Veja as orientações de envio na página 7 em Nota da Redação. Envie também seus dado pessoais como nome, idade, endereço completo, e-mail e telefone para contato dos leitores e uma frase sua sobre tatuagem que será publicada junto com sua foto e seus trabalhos.

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P&B / Comics

[Estilos e Artistas]

p&b clÁssico realista

Tatuador profissional a apenas 4 anos, Marcio já se destaca no estilo “P&B clássico realista”, que é seu estilo preferido apesar de curtir vários outros!

Nome: William Eduardo Studio: CelticTattoo

Nome: Marcio Lima Studio:

Scorpions tattoo

COMICS

William vem se destacando no estilo “comics” há alguns anos, apesar de trabalhar muito com oriental e outros estilos

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Oriental / Tribal

[Estilos e Artistas]

oriental

Tatuador de longa data, Serginho (como é mais conhecido) comanda o TattooYou. É um dos grandes nomes do “oriental” no Brasil

Nome: Mauro Landin Studio: Led´s Tattoo

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Nome:

Sergio Pisani Studio:

TattooYou

tribal

Apesar de ser um dos feras na arte tribal, Mauro ainda curte oriental, tradicional e vem se dedicando bastante ao “P&B” fine line estilo “gangsta”, como ele mesmo define!



[Opinião]

De olho na mídia

a

TV é o principal meio re spons ável pela popularização da tatuagem e do body piercing. Muitas vezes, porém, o tema é tratado sem o devido conhecimento e preparo da produção dos programas, o que contribui para o aumento do preconceito contra

Quantos de nós agimos segundo a opinião dos outros? Mar/Abr/2006 12 Tatuadores & Body Piercers

esta forma de arte corporal. Mas se podemos afirmar que é graças a ela que a popularização ocorre, é necessário estabelecer critérios, exigir uma atenção mais aprofundada do assunto. É importante esclarecer as dúvidas do público, consultando especialistas e profissionais da área, valorizando os bons trabalhos e os profissionais preocupados com as questões sanitárias que a profissão envolve. Quantas pessoas entram no estúdio pedindo uma tatuagem num lugar escondido do corpo onde o chefe não possa ver? Quantos de nós agimos segundo a

opinião dos outros? Conseqüência da imposição de padrões pré-estabelecidos pela sociedade e disseminados principalmente pela mídia televisiva. Mas é papel dos meios de comunicação contribuir para o fim do preconceito e da valorização da cultura e de todas as formas de expressão artística. Geralmente, os programas de auditório não abordam o tema de maneira informativa. Até pelo desconhecimento dos produtores e jornalistas que se apressam em montar uma pauta com assuntos do momento, com o risco de um viés preconceituoso, explorando a extravagância e o bizarro na teli-



[Opinião] nha para deleite do telespectador curioso. Essa visão sensacionalista é preocupante. Depois que começou a dar Ibope , a arte da tatuagem está sendo explorada por programas populares, que na maioria das vezes, abordam o assunto de uma forma pejorativa, fazendo gracinhas e piadas. A verdade é que neste tema as emissoras estão perdendo a oportunidade de inovar e informar o público com responsabilidade - afinal a tatuagem e a body art envolvem uma questão de saúde

A tendência é a mídia assimilar o real interesse que o público tem demonstrado... pública – além do respeito devido a diversidade cultural. A TV Cultura recentemente fez uma reportagem focada apenas na remoção de tatuagens. Mostrou um cirurgião plástico e suas técnicas avançadas com laser para a remoção do desenho. Com este tipo de abordagem perde o público, que conhece apenas um aspecto de quem fez uma tatuagem e se arrependeu, passando ao largo da imensa maioria dos que estão felizes por terem este tipo de arte gravado em seus corpos.

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A MTV é bom exemplo de como a body art deveria ser abordada pela mídia, com naturalidade e respeito. Na Music Television alguns apresentadores de programas destinados principalmente ao público jovem expõem seus corpos tatuados ajudando a compor o estilo “moderno” da emissora. Mas ao mesmo tempo, a body modification é apresentada por João Gordo como Freak, em seu show de bizarrices. Em horário nobre, o Jornal Nacional, da Rede Globo, anunciou: “A seguir as novas loucuras do mundo da tatuagem”, na manchete de uma matéria sobre a Convenção Internacional de Tatuagem, realizada em outubro de 2005, em São Paulo. Quem julga o que é loucura? O sentido pejorativo atribuído à tatuagem como coisa de loucos rebeldes, drogados, ladrões, prostitutas, presidiários tem se desfeito, mas corre o risco de persistir com esses estereótipos que se disseminam na sociedade. Afinal, a Globo é uma das mais poderosas formadoras de opinião pública do país. As emissoras de rádio, provavelmente, estão mais avançadas em sua abordagem do tema. A Rádio CBN entrevistou na primeira semana do mês de novembro o cirurgião plástico Leci Marcondes Cabral, mestre da Escola Paulista de Medicina, integrante da Sociedade Brasileira de Laser e Medicina, que elogia os tatuadores

profissionais e os considera verdadeiros artistas. Uma postura mais compatível com os novos tempos, aberta para novas tendências que mostram a tatuagem como arte. A mídia impressa, felizmente, começa a dar maior atenção à tatuagem. Recentemente, a Folha Ilustrada abordou o tema com um título sugestivo de “arte à flor da pele”, em que trata do assunto sem nenhum preconceito ou má vontade. O texto revela o interesse cada vez maior de pessoas que tatuam obras de artistas célebres em seus corpos. Tatuadores entrevistados pelo jornal dizem que a demanda por estes tipos de desenhos ainda é pequena, comparada a de motivos mais simples como os tribais, as estrelinhas, e as letras, por exemplo, mas vem aumentando. É importante notar, no entanto, que o tratamento dado pela Folha de S. Paulo à arte de tatuar é positivo. A tendência é a mídia assimilar o real interesse que o público tem demonstrado em relação ao assunto e aos poucos abandonar a superficialidade. Até porque é cada vez maior o número de pessoas que aderem às artes do corpo, e os meios de comunicação não podem ignorar este fato. Afinal, entre os direitos individuais de uma sociedade tão complexa como a brasileira está o de cada um se expressar conforme a visão que tem de si e do mundo à sua volta.



[Reportagem/Brasil]

Família

body art Cleiton e Tati vivem e fazem da body art um estilo de vida

Tati é body piercer e estudou anatomia e enfermagem

N Um dia Cleiton tomou uma decisão drástica: pedir demissão do trabalho, terminar a faculdade e abrir seu primeiro estúdio

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o estúdio de Cleiton e Tati ele se dedica à tatuagem e ela ao body piercing. O Lady Death Tattoo surgiu de um namoro, há quatro anos, depois de se conhecerem em uma viagem. Cleiton morava em São Paulo e Tati em Curitiba e como a distância não é uma boa aliada do amor, resolveram unir o útil ao agradável: casaram-se há três anos e foram morar no Paraná. O filho Yan é um freqüentador assíduo do estúdio e acompanha os pais nas convenções. Cleiton fez sua primeira tatuagem aos 17 anos, e daí foi tomando gosto pelas tattoos. Resolveu aprender a tatuar, teve noções básicas, trabalhava e desenvolvia suas atividades somente nos fins de semana, como um hobby. Entrou para a Faculdade de Belas Artes de São Paulo e no final do curso, com pouco tempo para se dedicar a arte corporal , mudou totalmente sua vida: “Tomei uma decisão drástica, pedi demissão do trabalho, terminei a faculdade e abri meu primeiro estúdio em São Paulo. Depois, fui para Curitiba e abri o Lady Death Tattoo, junto


[Reportagem/Brasil]

Cleiton e Tati com o filho Yan que acompanha os pais nas convenções

Eu queria que as pessoas realmente gostassem de minhas tattoos, que elas tivessem um desenho personalizado.

Cleiton

com minha esposa Tati”. O gosto pela arte surgiu quando Cleiton ainda era pequeno. “Sempre desenhei. Minha mãe tinha uma escolinha e eu a ajudava com os desenhos das crianças, e quando descobri que podia viver fazendo desenhos na pele das pessoas, decidi aprender a tatuar”. Só que ele não queria ser mais um tatuador, trabalhar apenas pelo dinheiro: “Eu queria que as pessoas realmente gostassem de minhas tattoos, que elas tivessem um desenho personalizado, tivessem orgulho de um trabalho artístico”. Foi por isso que fez a faculdade e se formou em artes plásticas

em 2002. Gosta de pinturas renascentistas e surrealistas e de artistas como Leonardo da Vinci, Caravaggio, Michelangelo, Salvador Dali. Tati é Body Piercer profissional há quatro anos. Ela aprendeu a perfurar, fazendo um curso básico em Curitiba. Aprofundou-se em anatomia e enfermagem. Hoje, a body art representa um estilo de vida para os dois. “É o nosso diferencial, fazemos o que gostamos, não para impressionar os outros, mas por nos sentirmos bem. Adoramos o nosso visual e acho que a felicidade está nisso, em fazer o que você gosta”, diz Cleiton. Cleiton, Tati e o pequeno Yan mudaram para São Paulo em janeiro deste ano. O casal está montando seu novo estúdio, na zona leste, que será inaugurado em abril. Contatos por e-mail: ladydeath@brturbo.com.br

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[Minhas Tattoos]

“Eu sou a tela” A arti sta plásti ca Adriana Aranha define assim o gosto pelas tatuagens que tem em seu corpo

N

o seu aniversário de 18 anos, a artista plástica Adriana Aranha se deu de presente a primeira tatuagem, que para ela marcaria a maioridade, já que a mãe jamais autorizaria sua atitude. “Ela me chamou de gado marcado pra baixo”, lembra. Hoje, com 36 anos, ela tem 13 desenhos espalhados pelo corpo e se considera uma viciada nesta arte corporal. Comparando o preconceito que havia naquele tempo com o que existe hoje, a artista que chegou a ser barrada em por-

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ta de banco por causa das tatuagens, diz viver tranqüila: “A idéia não é chamar a atenção, é ser como a gente tem vontade de ser”. E como alguém que valoriza a arte, Adriana costuma dar liberdade de criação para os seus tatuadores. Nesse momento ela se coloca do outro lado: “Eu sou a tela,

“A idéia não é chamar a atenção, é a gente ser como tem vontade de ser”


[Minhas Tattoos] e ele o artista”. Mas, às vezes, tem sugestões, como a do desenho de um cavalo, que fez parte do estudo do quadro Guernica, de Picasso. A escolha de estampar o antebraço direito com um dragão veio junto com a certeza de que viveria das artes plásticas. No tempo em que trabalhava como designer gráfica numa agência de publicidade, Adriana fazia os primeiros contatos com os clientes por telefone, para evitar os lances de preconceito. Agora, ela não precisa mais esconder o corpo, pois tem a liberdade de ser uma artista. Adriana diz que geralmente, por ser meio impulsiva, escolhe suas tattoos aleatoriamente, mas atribui um significado a elas depois, ou para marcar um compromisso, ou uma passagem da vida, como o nascimento do seu filho. Há um ano ela não faz tatuagem, mas tem vários projetos para o futuro: “Eu já estou pensando nesta aqui, das orquídeas, quero fechar até as costas. Quer dizer, eu Equilíbrio entre a carpa e o dragão

vou fazer aos poucos, conforme a condição financeira, porque também não é uma coisa barata”. Até hoje, a cada tattoo nova que Adriana faz, ela conta que sua mãe tem a mesma pergunta: “Ai minha filha, quando é que você vai parar com isso?” E sua resposta, invariavelmente, é: “Você ainda não se acostumou? Eu não vou parar com isso”. A dor? Ela acha que faz parte: “É tranqüilo, porque se fosse tão insuportável ninguém faria. É óbvio que dói, mas fazer depilação também dói, só que a tattoo é definitiva”. Adriana chegou a ficar 6 horas numa maca de estúdio, mas acha

No alto à esquerda, uma releitura de uma das imagens do quadro Guernica de Picasso. À direita, a primeira tatuagem aos 18 anos, quando tudo começou... Ao lado, roseira que simbolizou o nascimento do filho.

desconfortável. Para ela, o ideal são sessões de duas horas. As tattoos, assim como o cabelo cor de rosa, ajudam a formar um estilo pessoal. “Eu construí uma imagem, não me reconheço sem tudo isso, a tatuagem e os piercings fazem parte dela”, afirma Adriana. Para ela o visual ajuda a criar uma identidade.

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[Body Art]

Fotos: Gui Urban

Individualização através do corpo Entrevista com Freak Garcia (body artist) Ritual Tattoo Sorocaba - SP Revista Tatuador s & Body Piercers - Quando e como você começou a trabalhar como body piercer? De onde surgiu o interesse pela body art? Freak Garcia - As manipulações corporais sempre despertaram o meu interesse, no início não como forma de expressão artística, mas como forma de individualização instintiva. Já na minha adolescência, comecei a me interessar por modificações, por conta das tribos urbanas que via. E me envolvi com arte corporal meio sem querer, há pouco tempo (6 anos), mas existe uma grande diferença daquela época para hoje. Atualmente qualquer um

“Meu esforço maior está em modificar minha mente e me tornar um ser humano um pouco melhor. O corpo pra mim é algo superficial, apenas minha roupa” Mar/Abr/2006 20 Tatuadores & Body Piercers


[Body Art]

Freak Garcia durante performance Freak Show: Xtreme-art é artista, é só comprar o kit fazer um dia de curso pendurar um monte de enfeite de natal no corpo fazer tattoo de 30 reais e pronto: você já é um artista. Infelizmente isso é frequente no meio do body piercing, então prefiro não ser tratado como body piercer e sim como body artist. Isso não é meu “trabalho”, representa a minha vida, não vivo sem e não faço apenas por dinheiro. Sou assim. RTBP - Quais são os tipos de modificações corporais menos comuns? FG - É difícil dizer o que é menos comum, para minha mãe nada é comum. Para mim não existe diferença entre uma tattoo e um implante mamário, ambos têm o mesmo sentido para o indivíduo, mesmo que inconscientemente. RTBP - E quanto a dor? FG - Não dá para medir parâmetros

“É normal que isso choque as pessoas. É melhor ser leão por um dia do que uma ovelha a vida toda” pela dor, a questão é que algumas formas de modificações são aceitas por estarem na mídia, o que não as faz menos estranhas e dolorosas. É claro que existem modificações extremas que têm origens em culturas tribais. Mas não sei se dá para colocar para nos com o mesmo sentido. Não dilatei meus lóbulos por motivos étnicos ou por algum tipo de hierarquia dentro do meu meio. Considero como uma releitura e uma forma de evoluir sem perder o contato com o meu corpo. RTBP - Qual o tipo de perfil das pessoas que o procuram para fazer essas modificações? FG - Não existe um perfil. Do gerente de seu banco ao padre que esconde suas modificações embaixo da batina: esses são meus clientes mais hard core. RTBP - Quantas modificações

você já fez no seu corpo, o que elas representam para você? FG - Nunca contei. Fiz algumas, mas meu esforço maior está em modificar minha mente e me tornar um ser humano um pouco melhor. O corpo pra mim é algo superficial, apenas minha roupa. RTBP - Na sua opinião, por que a sociedade em geral, ainda se choca com esses tipos de transformações? FG - Porque são todas estranhas mesmo. É algo não humano, você está fugindo das formas naturais do seu corpo. Não me assusto quando vejo uma pessoa tatuada mas sei que é diferente, e isso é bom, aí está todo o sentido: a individualização. Ninguém faz para chocar, faz para se diferenciar e é normal que isso choque as pessoas. É melhor ser leão por um dia do que uma ovelha a vida toda.

Atenção: Estes são procedimentos cirúrgicos que exigem profissionais especializados e acompanhamento médico para serem realizados.

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[Body Art]

Modificação Corporal O

Milze Tiemi

Heitor Wernek durante sessão de escarificação. Trabalho de Miguel Zikatriz (Káustica DF - México)

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corpo como instrumento de experimentação. Essa é a idéia difundida pelo modern primitives, movimento fundado na década de 60 - como evolução direta da action painting dos anos 50 - pelo especialista em modificações corporais Fakir Musafar, precursor das técnicas de body art praticadas atualmente. A Fakir Body Piercing e Branding Intensive, fundada por ele, é a única escola autorizada pelo estado da Califórnia para ensinar as técnicas de transformação corporal. Com a popularização do piercing e da tatuagem, a body modification começa a ganhar mais espaço na sociedade. Apesar dessas técnicas ainda serem vistas como radicais e chocarem muitas pessoas, seus adeptos garantem que elas servem para transcender através dos limites do corpo. Superar a dor através da força da consciência ou apenas como alteração do único instrumento que verdadeiramente nos pertence: o corpo. Diferente dos animais, o ser humano tem o poder de mudar, de transformar-se, decidir sobre o próprio corpo, para dessa forma criar uma identidade e se diferenciar dos demais. Simbolizadas pelos índios como rituais de passagens, as interferências corporais definitivas dispõem, hoje, de diversas técnicas para esculpir a imagem. No caso da suspensão, alguns body moderns dizem que a dor pode se tornar inexistente tamanha a capacidade de concentração, de alteração da mente. A partir daí, ela deixa de ser algo terrível para tornarse a representação da alteração do corpo, uma sensa-

Milze Tiemi

Trabalho pronto, antes da cicatrização

Escarificação cicatrizada. Trabalho de Dú - Freak Boy

ção de que algo foi definitivamente modificado. Para muitos superá-la é transcender, transformá-la em uma sensação que, através da prática pode ser modificada. Separando a consciência da sensação, como se a mente anestesiasse o ferimento. Esse é o teor das idéias difundidas pela artista plástica Beatriz Ferreira


[Body Art] Pires, no livro “ O corpo como suporte da arte”, um estudo detalhado sobre a história e as técnicas da body art.

Conhecimento Antes de fazer caretas perante a dor alheia, assustar-se com as formas não humanas que o homem é capaz de dar ao corpo, é necessário conhecê-las: Beading ou pearling é a técnica de se implantar pequenas bolinhas ou outros objetos sob a pele. Branding é como uma escarificação, só que com ferro quente. Geralmente nesse processo a cicatriz fica ainda maior, mas a pele pode abrir demais, deformando o desenho. Técnica comum para marcar gado. Escarificação é o corte ou a remoção da pele com incisões de bisturi para criar desenhos e formas diversas. Nesse processo quanto mais machucada fica a pele mais forte é a cicatriz, por isso há quem coloque cinzas de cigarro, vinagre ou lixe a escarificação para que a ferida se torne mais forte e conseqüentemente a cicatrização mais alta, as vezes formando uma quelóide (cicatrização exagerada) que faz com que o desenho fique em alto relevo. A marca pode ser colorida, bastando inserir pigmentos coloridos no local. Implante 3D é a implantação de objetos de silicone ou metais (aço cirúrgico, titânio, nióbio) em forma cilíndrica, de haste e outras, por baixo da pele. Implante transdermal é a técnica pela qual parte da jóia é presa por baixo da pele e a outra fica exposta.

Preparação de suspensão: Pinguim

Língua bifurcada é feita com um bisturi ou laser, que corta a ponta da língua ao meio em duas partes iguais. Suspensão consiste em pendurar uma pessoa por ganchos presos ao corpo. Pode ser feita em cruz, pelas costas, pulsos, coxa, peitos, tornozelo e joelhos. Surgiu por volta de 1990, nas dependências do Torture Garden. Nas próximas edições da revista traremos matérias detalhadas sobre cada técnica citada. Contatos: freakgarcia@bmehard.com Trabalho de Till em Pinguim durante sessão de suspensão

Implante no braço. Trabalho de Freak Garcia

Atenção: Estes são procedimentos cirúrgicos que exigem profissionais especializados e acompanhamento médico para serem realizados.

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[Portfolio]

Reproduzir trabalhos complexos é sua preferência no momento, apesar de trabalhar bastante com “free-hand”. Ao lado desenho de Boris Vallejo - tatuado na pele do Gimenes

A cor do Um tatuador descobrindo seu estilo

B

arata (Vinicius Guerra Paes) tem 23 anos e tatua profissionalmente há cerca de quatro anos. Criou o seu próprio estilo. Em pouco tempo de carreira, Barata foi premiado em 4 das 6 convenções de que participou, e vem se destacando com trabalhos na linha realista, categoria que requer grande técnica do artista para reproduzir fotos e imagens hiper-realistas. Mas seus trabalhos vão além do tradicional “portrait” preto e branco. O realismo colorido talvez seja a

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melhor forma para definir seu estilo, apesar de insistir que gosta de todos e que nunca vai se prender a uma única linha. ”Eu acho que todos nós temos fases em que estamos curtindo mais algum tipo de trabalho, mas o importante é saber apreciar um bom trabalho independente do estilo, afinal tatuagem é tatuagem, ou você gosta ou não gosta, a diferença é a qualidade”, costuma dizer. Barata ,que sempre gostou de desenhar, descobriu a arte de tatuar quando um amigo o procurou para

arrumar um trabalho mal feito, mesmo sem nunca ter tocado em uma máquina antes. ”Um amigo (o Vitão) apareceu com um material que eu nunca tinha visto, e ele menos ainda. Esticou a perna e falou “faz aí... “Ficou uma porcaria, mas depois de algum tempo fizemos uma cobertura e hoje está bem melhor, também não podia ser diferente, não tinha absolutamente nenhuma informação. A partir daí só apanhei. Hoje, 80% do que eu sei (que não é muito) eu aprendi sozinho, não tive ninguém


[Portfolio]

“O importante é saber apreciar um bom trabalho independente do estilo”

Che Guevara, inacabado ainda vai ganhar um fundo. E Águia acima, um trabalho de 2003

Cola e sua tatuagem recém feita

“o trabalho é totalmente composto por traços paralelos. A idéia do cliente era algo mais próximo de um desenho de anatomia”

Neste trabalho a articulação do movimento foi estudada por mais de um mês. “O Cola trouxe até o irmão médico e um livro de anatomia.”

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[Portfolio]

Trabalho realizado em Reinaldo: ainda planejando os detalhes para o fundo

para me espelhar ou tirar dúvidas pelo menos. Isso acaba te limitando um pouco. Então o aprendizado foi mais lento, aprendi literalmente errando, nem pele de porco eu usava, fiz vários trampos em melão e usando uma agulha para piorar. Não tinha nenhuma noção!”. Barata diz que é influenciado por vários estilos - “sempre absorvemos algo, mesmo inconscientemente, até de trabalhos que não têm nada a ver com o teu estilo” – e cita alguns artistas dos quais admira o trabalho. Os principais: Maurício Teodoro, Cigano, Mauro Nunes, Júnior, Mordenti, Ricardo Passos, Zoio, Márcio Duarte, Carlinhos. Além de muitos gringos, como Tom Renshaw. Bob Tyrrel, Deano Cook, Anil Gupta, Taras Tchevchencko, Guy Atchinson. “Putz, tem nego que não acaba mais, nem dá pra falar todos. Mas também alguns artistas da

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“Esse é um trabalho que eu já queria fazer há uns dois anos”

Trabalho feito no assepsista do Baratattoo Studio. “Essa é dona Zilda” (a mãe do Léo)


[Portfolio]

Onça pintada. Trabalho de 2004 realizado em Samuel

tela, como Bóris Vallejo que eu nem preciso falar de tantos trabalhos dele que tatuei!” As dificuldades iniciais foram muitas, por causa da falta de experiência, mas Barata já tinha confiança no seu trabalho, afinal foi um ano inteiro de aprendizado antes de pensar em cobrar qualquer coisa. “Aí, comprei uma autoclave porque percebi que se eu quisesse continuar com a “brincadeira”, que eu já levava bem a sério, teria que fazer isso com segurança” Depois foi mais um ano trabalhando em casa fazendo trabalhos pequenos, alguns maiores em amigos e sempre cobrando valores simbólicos, mas ele já fazia pelo menos um trabalho por dia, os clientes saíam satisfeitos e traziam outros. Só depois disso começou a pensar em se

profissionalizar. Veio em seguida o projeto de abrir uma loja: “A responsabilidade é grande, você tem que saber que está vendendo um produto e que precisa ter qualidade, senão você afunda, e no nosso caso pode até ser processado. E eu acho que o importante é ser profissional e ser sincero com o cliente. No começo recusei um ou outro trabalho realista porque achei que ainda não estava preparado, até porque sempre fui muito exigente com os resultados e acho que pra você se considerar um profissional o cliente tem que receber um trabalho impecável.” As preocupações do Barata não param por aí. Ele entende que o Sindicato dos Tatuadores deve estudar uma forma de fiscalização dos cursos de tattoo que existem por aí,

“até porque se não houver, qualquer “jeca-tattoo” vai se intitular professor pra tirar uma graninha extra, e isso só acaba com a nossa profissão”. Segundo ele, há o risco de surgir milhares de tatuadores, e o que é pior, de péssimo nível, porque foi ensinado por um cara que só queria grana. Por isso, na sua opinião, para dar um curso o tatuador tem que ter pelo menos 10

anos de experiência, ou haver algum requisito, senão a coisa vira festa. Barata que já ensinou algumas pessoas, deixa claro que não se intitula professor, não dá nenhum tipo de curso e também nunca cobrou

No estúdio Baratattoo realizando mais um trabalho

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[Portfolio]

“Os tatuadores precisam se conscientizar da importância da organização”

Coruja: umas das primeiras reproduções de foto que fez. Trabalho de 2002

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por isso. As pessoas “Também temos pra quem ensinei ou que fazer a nossa ensino alguma coisa parte, se queremos são amigos que se incobrar uma posição teressaram e que eu do governo com resabia que não estão lação à regulamenatrás de grana fácil. tação da profissão. Eles, muitas vezes Os tatuadores precipra retribuir, fazem sam se conscientizar pequenos serviços no da importância da estúdio, mas mesmo organização para a isso nunca foi uma categoria”. Barata Vampirela do Boris exigência minha”. tem uma mensagem Tatuar é uma terminada na convenção aos que estão iniinternacional de 2003 atividade de risco, ciando na profissão: por isso a questão sanitária é muito “Aprendendo todos nós estamos importante. Mas a fiscalização prasempre, mas pra quem está cometicamente não existe em São Paulo. çando eu diria pra nunca esquecer Barata fala desses problemas: “as de que podemos ser responsáveis informações acabam sendo escaspor ótimos trabalhos. E também por sas, ou corremos atrás ou ficamos na mão. Eu, como todo mundo, já sabia que havia alguns riscos mas não sabia muita coisa, aí fui prestando atenção a tudo que eu conseguia ter acesso. Na época havia uma revista que até fazia Trabalho de 2002 um bom papel nesse sentido, mas já muitas doenças. Se cada um fizer seu não existe mais. Então logo que abri trabalho com responsabilidade, será a minha loja fui atrás do sindicato beneficiado por isso”. Mas ele tem que tinha acabado de ser criado. Com uma queixa: “O tatuador é o artista isso, tive acesso a informações sobre do século 21, mas enquanto a soo que era preciso para manter uma ciedade não reconhecer a tatuagem loja funcionando sem ser interditado como arte, continuaremos a ser disa qualquer momento por uma “fiscacriminados”. lização”, se houvesse uma”. O tatuador Barata, consultor técnico da Na sua opinião o sindicato tem revista, foi convidado a participar da seção um papel fundamental na regulaPortfolio pela qualidade técnica e artística apresentada por seus trabalhos. mentação da profissão.



[Entrevista]

Conscientização do

público vai melhorar condições sanitárias A arte de tatuar envolve diversas questões que precisam ser tratadas com atenção. Lidar com a saúde exige preparo técnico, condições sanitárias adequadas e responsabilidade profissional. Para falar sobre esses assuntos, a Revista Tatuador s conversou com o presidente do Sindicato das Empresas de Tatuagem e Body Piercing do Estado de São Paulo, Antônio Carlos Ferrari (Carlinhos Tattoo) Revista Tatuador s: Qual a situação hoje, em São Paulo, dos estúdios em relação às condições de biossegurança? Carlinhos Tattoo: De um tempo pra cá, surgiram muitos tatuadores. Principalmente por causa da venda de materiais pelo correio. Muitos começaram a tatuar sem nenhuma noção da necessidade de controle de contaminação e de normas de biossegurança. O sindicato está querendo mudar esse quadro. Atualmente, para se associar o tatuador tem que ou possuir o certificado de um curso de treinamento de biossegurança, ou fazê-lo no próprio sindicato com uma médica especializada. Esse certificado fornecido pelo sindicato já está sendo reconhecido pelo MEC (Ministério de Educação e Cultura). O curso é fundamental, pois hoje em dia não basta somente possuir uma auto-clave, é obrigatório fazer, pelo menos uma vez por mês, o teste biológico do equipamento que é considerado o mais moderno e eficiente para esterilização do material usado pelos tatuadores. Para se manter no sindicato, o profissional

Tatuador há mais de 20 anos, Carlinhos dirige o sindicato da categoria terá que mandar por fax todo mês, o laudo do teste biológico de sua auto-clave. RT: Quais as maiores preocupações do sindicato? CT: Queremos formar profissionais qualificados e preocupados com as condições sanitárias de seus estúdios. A nossa maior preocupação é com a Hepatite C, que está avançando tanto que já superou o número de aidéticos entre a população. E o governo ainda não se manifestou, informando sobre a doença e alertando sobre os riscos. Por isso o sindicato pretende, a partir do ano que vem, começar uma campanha de conscientização do público sobre a doença para que cobrem dos profissionais as condições adequadas na prevenção dos riscos.

Não basta somente possuir uma auto-clave, é obrigatório fazer, mensalmente, o teste biológico do equipamento

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RT: Como é feita a fiscalização sanitária dos estúdios?


[Entrevista] CT: Infelizmente, na capital de São Paulo essa fiscalização, que é dever da Vigilância Sanitária Municipal, é quase inexistente. Eles estão trabalhando somente com denúncias e mesmo assim o órgão não dá conta, pois são apenas quatro fiscais responsáveis por todos estabelecimentos da cidade de São Paulo. O sindicato trabalhou com a Covisa - Coordenadoria de Vigilância Sanitária do Município de São Paulo, durante 6 meses para elaborar uma cartilha contendo informações sobre as condições sanitárias dos equipamentos e de assepsia dos estabelecimentos, que devem ser exigidas pela fiscalização. O objetivo é criar os mesmos critérios de fiscalização para todas as cidades do Estado de São Paulo.

para os jovens. Os menores de idade que não podem fazer tatuagem em um estúdio legalizado, vão procurar os ilegais que geralmente, fazem sem condições de higiene e assepsia. Não adianta proibir se não existe fiscalização. Fizemos até um abaixo assinado para derrubar essa lei, mas não adiantou muito.

RT: Qual a importância do sindicato para os profissionais da tatuagem e do body piercing? CT: O sindicato se preocupa com a ética e com a organização da profissão. Hoje em dia, a gente paga tudo quanto é imposto, chega no final da vida e não consegue se aposentar pelo trabalho realizado. Nós estamos tentando regulamentar a profissão, e acredito que em 2006 não nos escapará esse direito. Além disso, queremos a criação de normas rígidas para abertura de um estúdio, o que ainda não existe.

que não tem o seu código de ética e uma organização leva a banalização,

RT: Quais seriam essas normas? CT: Atualmente, o tatuador mesmo trabalhando ilegalmente, pode conseguir um alvará da Vigilância Sanitária. Estamos batalhando pela lei complementar que estabelece cerca de 40 itens para a abertura de um estúdio: parede lavável, sala de esterilização, duas guias, duas bancadas, uma para procedimento de esterilização, outra para lavagem das mãos, entre outros. Isso ainda não existe no papel, então o cara abre uma salinha qualquer e coloca em risco a saúde das pessoas. Existe muita rixa entre tatuadores, porque as vezes tem um clandestino do lado que não paga impostos e acaba sendo um concorrente. Então é aquela briga, entre o que não consegue baixar o preço e o outro que pode cobrar bem menos.

a fiscalização. O Conselho

RT: Qual é a posição do sindicato sobre a lei que proíbe o menor de idade de fazer tatuagem e piercing mesmo com autorização dos pais? O que pode ser feito para mudá-la? CT: O sindicato apóia um projeto de lei que baixa para 16 anos a idade mínima para fazer tatuagem e piercing. A lei se baseia no Estatuto da Criança e do Adolescente mas essa proibição não está presente no Estatuto. Já consultamos vários advogados, a lei é inconstitucional, porque ninguém pode tirar o pátrio poder (os pais são responsáveis pelo menor). A lei do deputado Campos Machado provocou o maior caos na saúde pública

chamamos dois advogados para fazer um Estatuto. A partir daí o Sindi-

Nós estamos tentando regulamentar a profissão, e acredito que em 2006 não nos escapará esse direito.

RT: Quais são os compromissos éticos que o profissional da área tem que buscar? CT: Demoramos quase um mês para elaborar o Código de Ética da profissão. Ele foi formado através da conversa com vários tatuadores, enviamos para vários profissionais e recebemos opiniões para melhorá-lo. Em janeiro, vamos mandar para a maioria dos tatuadores. Toda profissão essa é uma preocupação nossa, porque a hora que a profissão for regulamentada, automaticamente o código entra em vigor. Serão formados, no Estado de São Paulo, quatro conselhos regionais, um na capital e mais três no interior, colocando ordem na profissão. Na regional vamos contratar dois médicos para fazer Regional dos Tatuadores e Body Piercers (CRTP), vai ter o poder de cassar o diploma de quem não respeitar o Código de Ética.

Os menores de idade que não podem fazer tatuagem em um estúdio legalizado, vão procurar os ilegais que geralmente, fazem sem condições de higiene e assepsia.

RT: Quando surgiu o Sindicato e o seu envolvimento com ele? CT: O crescimento dos tatuadores de rua em São Paulo nos preocupava, e durante uma Convenção de Tatuadores conversando com vários profissionais decidimos que era necessário mudar essa situação, estabelecendo regras para a profissão. Então, em 2000, num grupo de 12 tatuadores, cato foi formado e registrado em Brasília. Aliás, a princípio esse sindicato era dos profissionais autônomos, chamava Sindicato do Tatuadores e Body Piercers do Estado de São Paulo, só que até hoje nós não conseguimos o registro desse sindicato, porque os políticos não querem que os autônomos se organizem. Então formamos o Sindicato das Empresas de Tatuagem e Body Piercing do Estado de São Paulo, e em seis meses saiu o registro. Aí é que está a diferença entre os dois, um tem poder jurídico, o outro não. Engavetamos o dos autônomos e o SETBPESP foi registrado oficialmente em 2003.

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[Galeria de Arte]

Márcio Lima - Scorpions Tattoo (São Paulo - SP)

Ítalo Abdala - La Luz de Jesus (Porto Alegre - RS)

Akemi - Akemi Tattoo (Sertãozinho-SP)

Barata - Baratattoo (São Paulo - SP) 32 Tatuadores & Body Piercers

Zoio - Planet Tattoo - (Barretos - SP)


[Galeria de Arte]

Márcio Lima - Scorpions Tattoo (São Paulo - SP)

Sergio Pisani - TattooYou (São Paulo - SP)

Ítalo Abdala - La Luz de Jesus (Porto Alegre - RS)

Natalia MissiunasNati Art Tattoo (Rio Grande - RS)

Namã - Dexorden Tattoo (Araraquara - SP) 33 Tatuadores & Body Piercers


[Galeria de Arte]

Ratinho - Ratinho Tattoo (São Paulo - SP) Wiliam - Celtic Tattoo (Santo André - SP)

Wiliam - Celtic Tattoo (Santo André - SP) 34 Tatuadores & Body Piercers


[Galeria de Arte]

Atila - Scorpions Tattoo (São Paulo - SP)

Márcio Lima- Scorpions Tattoo (São Paulo - SP)

Carlinhos Tattoo - Scorpions Tattoo (São Paulo - SP)

Snoopy - Snoopy Tattoo Shop (São Paulo - SP) 35 Tatuadores & Body Piercers


[Galeria de Arte]

M叩rcio Lima- Scorpions Tattoo (S達o Paulo - SP)

Fernanda Tattoo - Santa Pelle (Ribeir達o Preto - SP)

Bola - Bola Tattoo (Porto Alegre - RS)

Zoio - Planet Tattoo - (Barretos - SP)

Bola - Bola Tattoo (Porto Alegre - RS) 36 Tatuadores & Body Piercers

Barata - Baratattoo (S達o Paulo - SP)


[Galeria de Arte]

Atila - Scorpions Tattoo (São Paulo - SP)

Atila - Scorpions Tattoo (São Paulo - SP)

Carlinhos Tattoo - Scorpions Tattoo (São Paulo - SP)

Márcio Lima - Scorpions Tattoo (São Paulo - SP) 37 Tatuadores & Body Piercers


[Galeria de Arte]

Bola - Bola Tattoo (Porto Alegre - RS)

Ely - Tattoo 13 (Goiania - GO)

Wiliam - Celtic Tattoo (Santo AndrĂŠ - SP) Vela - Alien Tattoo e Piercing (Porto Alegre - RS)

Vela - Alien Tattoo e Piercing (Porto Alegre - RS) 38 Tatuadores & Body Piercers

Vatos Tattoo - Corpete

Ely - Tattoo 13 (Goiania - GO)


[Galeria de Arte]

Till - Vatos Tattoo (S達o Paulo - SP)

Fernanda Tattoo - Santa Pelle (Ribeir達o Preto - SP)

Barata - Baratattoo (S達o Paulo - SP)

Till - Vatos Tattoo - (S達o Paulo - SP) 39 Tatuadores & Body Piercers


[Galeria de Arte]

Barata - Baratattoo (S達o Paulo - SP)

Snoopy - Snoopy Tattoo Shop (S達o Paulo - SP)

Ely - Tattoo 13 (Goiania - GO)

Snoopy - Snoopy Tattoo Shop (S達o Paulo - SP)

40 Tatuadores & Body Piercers


[Galeria de Arte]

Snoopy - Snoopy Tattoo Shop (S達o Paulo - SP)

Zoio - Planet Tattoo - (Barretos - SP)

Barata - Baratattoo (S達o Paulo - SP)

Pinguim - Vatos Tattoo (S達o Paulo - SP)

Toninho - Tattoo Arte (Sete Lagoas - MG)

Ely - Tattoo 13 (Goiania - GO)

Pinguim - Vatos Tattoo (S達o Paulo - SP) 41 Tatuadores & Body Piercers


[Memória]

Lucky Tatoo O tatuador pioneiro do país

a

O artista plástico dinamarquês, ao desembarcar no porto de Santos, em 1959, com a primeira máquina elétrica de tatuagem mudou a história dessa arte por aqui Acima uma das águias do mostruário de desenhos criado por Lucky. Ao lado os toques finais em mais um trabalho: uma caravela

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tatuagem brasileira começou no porto de Santos e tem sua história estreitamente vinculada à Dinamarca. Foi

desse país nórdico que veio o tatuador Knud Harold Lykke Gregersen, ou simplesmente Lucky Tatoo. O dinamarquês desembarcou na cidade em 1959, se estabeleceu em um beco da rua João Otávio, em 1963, colocou uma placa na porta do seu estúdio com os dizeres “It´s not a saylor if he hasn´t a tatoo” – “Não é marinheiro se não tiver uma tattoo” – e se transformou numa figura lendária. Seus antecessores eram profissionais que vinham nos navios, desembarcavam no porto, faziam tatuagem nos corpos das prostitutas, dos estivadores, dos


[Memória]

Acima, Lucky trabalhando em seu estúdio. Ao lado, Alemão Tattoo que pretende publicar um livro sobre o mestre

marinheiros e seguiam viagem, deixando como rastros seus desenhos. Lucky Tatoo resolveu parar, abrir um ateliê e ficar no Brasil. “Lucky adorava o povo brasileiro, nosso clima e a fartura de peixes. Gostava de pescar. Apaixonou-se pelo porto e pela vida no cais”, conta o tatuador Cláudio de Mendonça, 41, o Alemão Tattoo, que pretende publicar um livro sobre a vida do dinamarquês. Alemão guarda com muito cuidado e orgulho um acervo sobre a vida e o trabalho do pioneiro da tatuagem no Brasil. São álbuns com muitas fotos acompanhadas de legendas escritas pelo próprio Lucky. Muitos desenhos que constituíam o mostruário para seus

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[Memória] Lucky, um artista plástico reconhecido em seu país de origem, continuou criando aqui no Brasil. Uma vez por ano reunia suas obras e viajava de navio para a Dinamarca. Lá vendia sua produção por um bom preço. Idas e vindas que valeram a pena

Acima foto de 1957. Ao lado, Águias, desenhos de 1981 feitos por Lucky

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clientes e uma coleção de reportagens sobre sua arte. Com o merecido destaque de revistas como O Cruzeiro, Fatos e Fotos, Realidade e outras. Lucky nasceu em 1928, em Copenhague, de uma família de tatuadores e deixou a casa dos pais aos 15 anos de idade. Tatuou na Alemanha no pós-guerra, usando como estúdio ambulante uma moto equipada com side-car. Gostava de contar que tatuou o marechal Rommel, conhecido estrategista militar alemão na

Segunda Guerra Mundial, o rei Frederico da Dinamarca e soldados da Legião Estrangeira. Nos anos 70, quando a tatuagem começou a ultrapassar algumas barreiras do preconceito, penetrou na classe média, deixando

para trás o estigma de ser apenas uma arte marginal de marinheiros e prostitutas, Lucky Tatoo tatuou muitas jovens cariocas. Foi ele também quem fez a tatuagem de um dragão no braço de Petit, o “Menino do Rio” e uma águia


[Memória]

Propaganda do Lucky. Folheto que ele distribuía na época em que trabalhava no porto de Santos

(desenho em destaque no início desta matéria) no cantor de rock e ator Evandro Mesquita. O arquiteto e paisagista paulistano Gilberto Elkis, 44, é outro que carrega no corpo desenhos de Lucky. Tomou conhecimento dessa arte corporal

porque seu pai tinha uma empresa de exportação e ele freqüentava o Porto de Santos: “Via os estivadores com tatoos e tinha vontade de fazer a minha”. Nessa época, o tatuador começou a ser notado pela imprensa e

em 1977 deu entrevista no Programa Silvio Santos, da extinta TV Tupi. Sentado frente a frente com o apresentador ainda moço, o dinamarquês grandalhão contou suas histórias, encantando o público da televisão. Hoje, Alemão, que conheceu Lucky quando tinha 17 anos, é dono do maior estúdio de tatuagem do ABC paulista e carrega no braço a imagem tatuada de seu ídolo.

Alemão Tattoo carrega no braço tatuado o orgulho e a homenagem ao mestre e amigo. Trabalho realizado por Sérgio Sancast de Buenos Aires, Argentina Caravelas: desenhos criados em 1953, e parte de seu catálogo para a clientela

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[Cultura e Afins]

Livros

O corpo como suporte da Arte

Links

Piercing, implante, escarificação, tatuagem O livro, de Beatriz Ferreira Pires, traça um extenso panorama das transformações e usos da pele.

Site de uma famosa revista gringa fundada por um dos pioneiros da body modification, Fakir Mustafar. Boas fotos e texto em inglês. www.bodyplay.com

Discute as implicações e significados das inúmeras intervenções a que é submetida a pele, na contemporaneidade. A pele como superfície que pode ser manipulada, transformada. Aborda principalmente a body modification. Seu foco é a modificação intencional do corpo. Através de piercing, implante estético, escarificação e tatuagem, o indivíduo recria seu corpo, tornando-o “diferente”. Na visão da autora, tal atitude nasce da necessidade que o indivíduo, a pessoa, sente de destacar-se dos demais, na busca de uma identidade. Num mundo globalizado em que, cada vez mais, a individualidade é esmagada, triturada. O livro traz ainda um breve histórico da representação social do corpo, desde o Egito de a.C. até o século XX.

Vale a pena conferir o trabalho de um dos mestres da tatuagem. Reproduções de clássicos da pintura e trabalhos super detalhados fazem parte do repertório de Anil Gupta. Impressionante! www.anilgupta.com

Um dos mais completos sites brasileiros de tatuagem. Grande variedade de desenhos e trabalhos de profissionais de todo o país. www.portaltattoo.com.br

Um livro informativo e gostoso de ler que deve agradar a todos que se interessam pela body art.

TV

Tattoo a cabo O reality show se passa em um estúdio em South Beach onde uma equipe de tatuadores e um aprendiz lidam diariamente com a body art. Desafios em fazer coberturas, desenhos personalizados e as histórias de cada cliente que chega ao estúdio, ajudam a compor um ambiente onde a arte e o processo da tatuagem é mostrado passo a passo. Os tatuadores americanos Ami James, Chris Garver, Darren Bass, e Cris Nunes e o aprendiz Yoji Harada são os protagonistas do programa. O famoso ateliê, frequentado por celebridades, é o cenário da relação entre esses quatro amigos.

Informações, fotos e vídeos sobre body art. O site também disponibiliza desenhos para downloads. www.tatuando.com.br

Livro: O corpo como suporte da Arte. Autora: Beatriz Ferreira Pires. Editora Senac São Paulo, edição 2005, 182 páginas.

Miami Ink:

Canal People+ Arts Horário: segundasfeiras às 22 horas e domingos às 23 horas (reprises em outros horários)

Cada episódio de Miami Ink desperta o público para o fascinante mundo da tatuagem. Porém vale observar que os profissionais, ou pela necessidade de mostrar o rosto para as câmeras, ou simplesmente por descuido não utilizam máscaras, nem encapam parte dos equipamentos! Será essa a imagem que os tatuadores americanos querem passar? Confira!

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Compact Flash

[Desenhos]

Deborah Soares Blue Lotus Tattoo Studio (Campinas - SP)

Deborah Soares Blue Lotus Tattoo Studio (Campinas - SP)

Deborah Soares Blue Lotus Tattoo Studio (Campinas - SP)

Barata - Baratattoo Studio (S達o Paulo - SP)

Barata - Baratattoo Studio (S達o Paulo - SP)

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Barata - Baratattoo Studio (S達o Paulo - SP)


Compact Flash

[Desenhos]

Barata - Baratattoo Studio (São Paulo - SP) Ratinho - Ratinho Tattoo (São Paulo - SP)

Giscar - Seven TAttoo Studio (Itaúna - MG)

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[Desenhos]

Barata - Baratattoo Studio (S達o Paulo - SP)

Compact Flash

Barata - Baratattoo Studio (S達o Paulo - SP)

Barata - Baratattoo Studio (S達o Paulo - SP)

Barata - Baratattoo Studio (S達o Paulo - SP)

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