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O PARADOXO DO POTÁSSIO

Por José Luiz M Garcia, engenheiro agronomo, fisiologista e bioquimico de plantas

“Até as Rochas clamarão”

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Lucas 19:40

Em Outubro de 2013, na Renewable Agriculture and Food Systems, foi publicado um artigo cientifico revisado por pares, o estudo coloca sérias questões sobre o problema do potássio, mais precisamente de seu fertilizante químico potásico mais usado, o Muriato de Potássio, também chamado de KCl. Essa publicação está disponível on line pela Cambridge University Press e entre outros sites.

Dr. Saeed Khan e Dr. Mulvaney, os pares redatores do artigo são pesquisadores da University of Illinois. Eles conduziram uma pesquisa onde na prática retiraram amostras de solo (compostas de 5 sub amostras), a cada duas semanas e as submeteram a análises de K-trocável efetuadas pela mesma pessoa com ou sem secagem ao ar, usando o mesmo protocólo de análise.

O que eles conseguiram desvendaram foi, nada mais nada menos do que, uma realidade estarrecedora. Pra começar as analises de K trocável variavam tanto que, qualquer decisão que você quisesse tomar baseado nessas mesmas analises, seriam simplesmente inconclusivas.

Para tornar as coisas ainda piores, o procedimento padrão das analises de solo convencionais requeria que as analises fossem feitas na “Terra Fina Seca ao Ar” (TFSA), o que tornava os valôres de K trocável ainda maiores e igualmente variáveis. Porém, Khan et all ( 1 ) foram capazes de observar um padrão de valôres mais aumentados quando a analise era feita em terra previamente seca, quando comparadas as amostras úmidas recém colhidas, o que denota uma maior liberação de potássio em solos secos.

Figura 1. Mudanças quinzenais em amostras colhidas em 96 datas entre 13 de março de 1986 e 15 de março de 1990, úmidas (FM de Field Mist) e Secas ao ar ( AD-de Air Dried ) no K trocável coletadas de 0 a 18 cm em um solo Drummer usado em rotação soja e milho. Nenhum fertilizante P ou K jamais foi aplicado desde 1970. Cada ponto é a média de 9 determinações.

“Mesmo com tudo, é este o tipo de informação que deveriamos comemorar, como um país agrícola, e não com o atracamento de 28 navios carregados de Muriato de Potássio (KCl) como

se significasse a nossa soberania como produtores de alimentos. Nesse mesmo estudo os doutores provaram, por A + B, que plots nunca fertilizados (desde 1876, Morrow plots) continuavam acumulando Potássio mesmo sem nenhuma adição dele”, afirma José Luiz M. Garcia, engenheiro agronomo.

Ele acrescenta que de acordo com a pesquisa, o Dr. Mulvaney aponta que o milho que produz 209 sacas/hectare remove 51,64 kg de K. Porém a palhada retorna 202 kg de K por hectare, ou seja 4 vezes mais, e esta informação não tem sido divulgada e os produtores acabam por ignorar tal fato”, analisou Garcia.

Para o engenheiro, esta tese de PhD evidenciou que a análise de Potássio não serve para o gerenciamento da adição de quantidades de K ao solo. “Em 2.100 testes de campo foi revelado que a adição de Potássio foi 93% ineficiente para aumentar a produção e houve até um caso de redução da produção”, aponta.

Segundo o agronomo, além destes fatos alertam para a redução de Cálcio e Magnésio, aumento para a absorção do Cádmio, e para a redução da nitrificação e consequentemente do íon nitrato.

A CONCLUSÃO DESSA TESE FOI A DE QUE NÃO HOUVE AUMENTO SIGNIFICATIVO DE PRODUÇÃO PELA ADIÇÃO DE POTÁSSIO.

O Potássio é um íon inorgânico que não está presente em nenhuma molécula nas plantas, porém, seria o principal cátion presente nos vegetais. Por ser extremamente solúvel ele é constantemente “lavado” das folhas e do perfil do solo em condições chuvosas e não é possivel controlar essa perda. Ele simplesmente migra para as camadas mais profundas do solo, onde é resgatado pelas raízes, que promovem , dessa forma, uma reciclagem até a superfície.

O potássio compete com o Cálcio e o Magnésio pelo sites de fixação nas argilas, e dessa forma expulsa-os das argilas e promove a compressão das mesmas, diminuindo assim a CTC do solo num fenômeno chamado de “envelhecimento” do solo, principalmente das argila do tipo 2:1. “Isso ocorre irônicamente com o Ca e o Mg, mesmo eles tendo mais cargas (são bivalentes positivos), devido ao seu tamanho menor, fato esse bastante enfatizado pelo Dr. Arden Andersen no seu livro Science in Agriculture ( 2 )”, diz Garcia.

O processo de disponibilização do Potássio é muito dinâmico e rápido e, é a umidade quem regula essa liberação. O Potássio analisado no solo seria apenas a ponta do iceberg e representa apenas pequena fração de todo o potássio no solo, que faz você deduzir que o solo precisa de K.

Para Dr. Mulvaney o solo é uma mina de potássio. A expansão e contração (umidade) é o que controla a liberação do potássio. Quando você aplica potássio (KCl) no solo, ele é “sugado”pelas argilas e permanece “ trancado “.

Você reduz a CTC e reduz a capacidade do solo de suprir potássio porque ele estará, então, trancado.

O agronomo Garcia indica que no Podcast listado nas referências (3) se refere ao fato de um determinado produtor em Ohio ter solicitado a realização de analises de solo e pelo fato dos resultados de Potássio terem vindo baixos, “pediu incontinente que o fornecedor local adicionasse, o que lá é feito por caminhões especiais que aplicam o fertilizante à lanco”.

Ele acrescenta que não deveria, mas realizou as analises novamente e verificou que o nível de potássio estava mais baixo. “Deduziu, que o fornecedor o teria aplicado em um outro terreno. Solicitou, então, que fosse feita uma nova aplicação de potássio somente para descobrir que o nível analisado no solo, novamente, tinha diminuido ainda mais. Essa história serve de exemplo para o fato do potássio diminuir o nível analisado todas as vezes em que for utilizado”, explora Garcia.

“O mesmo aconteceria se vocês analisassem o solo após uma calcareação pesada. Poderiam observar uma redução no nivel de Fósforo solúvel, bem como uma redução drástica nos níves de alguns micronutrientes.”, afirma.

Nesse momento deveríamos perguntar como poderemos então aferir o quanto de potássio deveria ser aplicado em um solo?

Dr. Mulvaney sugere que se faça na própria fazenda o que ele chamou de “Strip Test” ou Teste de Faixas, isso é acrescentar potássio em doses crescentes em faixas e verificar qual quantidade propicia o maior desenvolvimento das lavouras até que se tenha uma melhor sugestão”, delimita.

“Essa informação é tão importante que se não for divulgada “até as rochas clamarão” como manifestado em Lucas 19:40”, conclui Garcia.

O estudo apontado questiona fortemente o uso intensivo de KCl (muriato de potássio) visando o aumento de produção.

REFERÊNCIAS

1. S.A.Khan, R.L. Mulvaney & T.R. Ellsworth ( 2013) The Potassium Paradox : Implications for Soil fertility, crod production and Human Health, Renewable Agriculture and Food Systems : 29 (1), 3-27, 2013,

2. Arden B. Andersen (2000) Science in Agriculture, Advanced Methods for Sustainable Farming, Acres USA, Austin, Texas. 376 pgs.

3. John Kempf & R.L. Mulvaney (2020) The Fallacy of Mainstream Potassium and Nitrogen Fertilization, Podcast Advancing Eco Agriculture, https://www.youtube.com/ watch?v=GMPvSHYZd50&t=56s

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