THE PRESIDENT

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Edição 26 • setembro 2016 • ciro lilla

Edição 26 setembro/outubro/novembro 2016

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ciro lilla

Presidente da importadora Mistral

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editorial

C

iro Lilla, nosso personagem de capa, convive com os altíssimos impostos sobre vinhos, que ele teima em importar. Muitos teriam desistido. Mas Ciro, engenheiro por formação, continua apostando em trazer para o Brasil os melhores tintos e brancos do mundo. Por um motivo simples: ele adora o que faz, como contou na conversa com Luciana Lancellotti e Mauro Marcelo Alves. Em especial, quando descobre rótulos ainda pouco reconhecidos. Como os gregos. Dono do restaurante com a maior carta de vinhos do Brasil, o chef Junior Durski é outro empresário acostumado a remar contra a maré – e a superá-la. Seus primeiros seis estabelecimentos davam prejuízo. Nada parecia resolver a questão. Durski resolveu baixar drasticamente os preços – e os lucros deram sinal de vida. Hoje proprietário de mais de 80 casas, o paranaense joga sua mais nova cartada: uma rede nos Estados Unidos, onde de forma ousada vai vender hambúguer para ninguém menos do que os pais da matéria. A superação é tema que permeia, por sinal, diversos textos desta edição. Como aquele de Marion Frank sobre Jack London (1876-1916), o garoto que transformou a infância pobre e a juventude aventureira na matéria-prima de seus romances, tornando-se o primeiro escritor americano a faturar US$ 1 milhão. Isso ainda nos primeiros anos do século passado. Mas o maior exemplo de superação, sem dúvida, é o de New Orleans. A cidade do extremo sul dos EUA teve 80% de sua área urbana alagada, depois da passagem do furacão Katrina. Onze anos depois, Nola, como a chamam seus moradores, está reconstruída e animadíssima: dobrou o número de seus bares e restaurantes. Carla Lencastre trata do assunto fechando uma edição que, como sempre, procura superar as anteriores.

andré cheron e fernando paiva Publishers

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expediente

the president Publicação trimestral da Custom Editora edição 26

publishers André Cheron e Fernando Paiva

REDAÇÃO Diretor editorial Fernando Paiva fernandopaiva@customeditora.com.br diretor editorial adjunto Mario Ciccone mario@customeditora.com.br redator-chefe Walterson Sardenberg So berg@customeditora.com.br Repórter Juliana Amato julianaamato@customeditora.com.br ARTE editor Guilherme Freitas guilhermefreitas@customeditora.com.br assistente Raphael Alves raphaelalves@customeditora.com.br prepress Daniel Vasques danielvasques@customeditora.com.br PROJETO GRÁFICO Alessandro Meiguins e Ken Tanaka COLABORARAM NESTE NÚMERO Texto Alberto Helena Júnior, Carla Lencastre, Cristina Dantas, Luciana Lancellotti, Luiz Guerrero, Marcello Borges, Maria Lucia Rangel, Marion Frank, Mauro Marcelo Alves, Roberto Muggiati, Ronaldo Bressane e Sergio Crusco Fotografia Angelo Pastorello, Jorge Bispo, Juan Esteves e Nilo Biazzetto Neto Tratamento de imagens Felipe Batistela ilustração Guilherme Freitas e Raphael Alves Revisão Goretti Tenorio Capa Ciro Lilla, fotografado na sede da importadora Mistral, em São Paulo, por Juan Esteves THE PRESIDENT facebook.com/revistathepresident @revistathepresident www.customeditora.com.br

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PUBLICIDADE Diretor executivo André Cheron andrecheron@customeditora.com.br diretor comercial Oswaldo Otero Lara Filho (Buga) oswaldolara@customeditora.com.br Gerente de Publicidade e Novos Negócios Alessandra Calissi alessandra@customeditora.com.br executivOs de negócios Northon Blair northonblair@customeditora.com.br Bruna do Vale brunadovale@customeditora.com.br ANALISTA DE MAILING Marcia Gomes marciagomes@customeditora.com.br ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Analista financeira Carina Rodarte carina@customeditora.com.br Assistente Alessandro Ceron alessandroceron@customeditora.com.br REPRESENTANTES REGIONAIS BBI Publicidade – Interior do Estado de São Paulo Tel. (11) 95302-5833 Tel. (16) 98110-1320 / (16) 3329-9474 comercial@bbipublicidade.com.br GRP – Grupo de Representação Publicitária PR – Tel. (41) 3023-8238 SC/RS – Tel. (41) 3026-7451 adalberto@grpmidia.com.br CIN – Centro de Ideias e Negócios DF/RJ – Tel. (61) 3034-3704 / (61) 3034-3038 paulo.cin@centrodeideiasenegocios.com.br Tiragem desta edição: 8.500 exemplares CTP, impressão e acabamento: Log&Print Gráfica e Logística S/A Custom Editora Ltda. Av. Nove de Julho, 5.593, 9º andar – Jardim Paulista São Paulo (SP) – CEP 01407-200 Tel. (11) 3708-9702 ATENDIMENTO AO LEITOR atendimentoaoleitor@customeditora.com.br Tel. (11) 3708-9702

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jorge bispo

sumário

Maria Ribeiro é sucesso como atriz de TV e diretora de cinema. Mas prefere escrever

28 AUDIÇÃO

O som dos estádios de futebol: do silêncio sepulcral aos apupos de ensurdecer

32 OLFATO

O que dizem a grande arte e a ciência sobre a função dos aromas na hora do sexo

36 PALADAR

A cozinha (quase) secreta de Roma. A maioria dos visitantes infelizmente desconhece

40 TATO

Uma seleção de gente que transforma em dinheiro vivo tudo aquilo que toca

44 adega

Junior Durski, o homem com mais de 80 restaurantes, ri da crise – e cresce com ela

48 cult

Por que David Levine se tornou o caricaturista que os próprios caricaturistas elegeram

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22 VISÃO

setembro 2016

56 CAPA

O vinho é vida. Que o diga o importador Ciro Lilla, para quem a vida é vinho

69 BLACK BOOK

O novo Falcon 8X, os melhores hotéis do mundo e uma viagem pela One World

86 futuro

Há quem suba pelas paredes por causa dos jardins verticais. Mas eles vieram para ficar

92 memória

Há um século morria Jack London, herói americano e escritor aventureiro

98 história

Nos 400 anos da morte de Shakespeare, o Bardo de A a Z, numa versão pop

106 motor

Repaginada, a nova Mitsubishi L200 Triton Sport enfrenta qualquer terreno

110 velocidade

116 garagem

Volvo, KTM, Honda e Lexus apostam na tecnologia e na versatilidade

122 mulher

Vem cá, Luiza Possi. O seu desejo é sempre o meu desejo. Vem, me exorciza

130 Luxo

Os novos tempos de dois hotéis centenários de Paris: Plaza Athénée e Le Meurice

136 escapada

O Hotel Toriba, de Campos do Jordão, tem 73 anos de história – e de muita classe

146 viagem

Onze anos após o Katrina, New Orleans vive dias de animação e ótima música

154 THE PRESIDENT Tchau, querido! Depois de 314 dias, Eduardo Cunha finalmente vai pra casa

Primeiro SUV da Jaguar, o F-Pace é o irmão mais forte de uma família de lordes

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miro

colaboradores

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CAPA

CAPA / ADEGA

JUAN ESTEVES

MAURO MARCELO ALVES

Antes de trabalhar por conta própria, foi repórter fotográfico

Jornalista e escritor, ele já botou a mão na massa como chef nos

e editor na Folha de S.Paulo. Ali revelou sensibilidade e domínio

dois restaurantes que teve em Minas. Jovem, não gostava de vinhos.

da luz para retratar gente. A rigor, esse santista nunca fez um

Mas, ao morar em Paris, foi abduzido de imediato pela mágica da

“boneco” – nome dado antigamente, nos jornais, aos retratos

bebida. Um dos resultados é Vinhos – A Arte da França (Dorea

simples, só para registro. Juan assina portraits – como o de Ciro

Books). Outro: tornou-se jurado de concursos internacionais. Mauro

Lilla para a capa desta edição. É autor de cinco livros.

participou da entrevista de capa e assinou o perfil de Junior Durski.

capa / LUXO

visão

LUCIANA LANCELLOTTI

MARIA LUCIA RANGEL

Ela colaborou na entrevista com Ciro Lilla, dono da importadora

Cria de Samuel Wainer na Última Hora, onde começou, seguiu para

Mistral, e fez o selfie acima com os toldos vermelhos do Plaza

o lendário Caderno B do Jornal do Brasil, no qual entrevistou toda a

Athénée em Paris, onde se hospedou para escrever sobre os

Ipanema dos anos 1970, e depois para a Rede Globo. Hoje, colabora

novos tempos do hotel. Ex-repórter da Rede Globo, ex-crítica de

para diversas revistas. “Não a conhecia, mas ficamos amigas na

restaurantes de Playboy e ex-diretora de redação da revista Wine.

primeira meia hora de papo”, diz sobre a atriz Maria Ribeiro. “Ela é

com.br, Luciana comanda hoje o site gourmetviajante.com.br

inteligente, divertida e leva a sério o que faz.”

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colaboradores

audição

jorge bispo

ALBERTO HELENA JÚNIOR

Estava escrito que Bispo trabalharia com arte. Restava saber como.

“Já estou beirando os 60 anos de jornalismo”, diz ele, que aos 15 já

Começou como ator, seguindo a tradição familiar. Em paralelo,

escrevia crônicas para o programa de Moraes Sarmento na rádio

formou-se em artes plásticas. Um dia comprou uma câmera só

São Paulo. Aos 19, dirigia a redação da agência de notícias Interpress.

para registrar o dia a dia, sem maior pretensão. Achou o caminho

Foi repórter especial de O Cruzeiro, colunista do Jornal da Tarde,

da luz e se encontrou. Hoje é um dos mais respeitados retratistas

chefe de reportagem da TV Globo e diretor de musicais na Band.

brasileiros. Basta conferir as imagens que fez de Maria Ribeiro.

Sempre colocando seu texto elegante a serviço de temas populares.

olfato

paladar

Rafa Roncato

VISÃO

RONALDO BRESSANE Escritor, jornalista, roteirista, tradutor e professor de escrita criativa, escreveu os romances Sandiliche (Cosac Naify) e Mnemomáquina (Demônio Negro). Paulistano da safra 1970, foi editor da revista Alfa e redator-chefe da Trip. Também é sommelier de aromas raros, conforme o caro leitor descobrirá em sua pensata de delicada fragrância publicada neste número.

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J. A. DIAS LOPES Gaúcho, ganhador do prêmio Esso por duas vezes, ele sabe tudo sobre a cozinha de Roma. Não é para menos. Morou lá três anos, como correspondente de Veja, e foi lá que resolveu se tornar jornalista gastronômico. Dirigiu revistas especializadas e publicou quatro livros – o mais recente, Massa! Mangia Che Ti Fa Felice (Melhoramentos), sobre receitas clássicas de massas e molhos.

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natasha muggiati

colaboradores

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MEMÓRIA

HISTÓRIA

MARION FRANK

ROBERTO MUGGIATI

Marion tomou contato com a literatura de Jack London quando

Especialista na vida e na obra de Shakespeare, Muggiati exultou ao

era bem jovem. Mas parou a leitura no meio. “Achei tudo muito

ver a paginação de seu texto com uma pegada contemporânea, bem

violento, coisa de menino”, ela se recorda, rindo. Só décadas depois

pop. “Ficou bastante atraente, bem convidativa”, disse. Ex-redator da

descobriu o autor de texto ágil e histórias fascinantes, sobre quem

BBC em Londres e ex-diretor de redação da revista Manchete, ele

escreveu nesta edição. Jornalista da melhor cepa, ela teve longas

também é escritor – autor da ótima novela A Contorcionista Mongol

passagens pelo Caderno 2, de O Estado de S.Paulo, e Veja São Paulo.

(Editora Record) – e tradutor. Além de saxofonista bissexto.

mulher

viagem

ANGELO PASTORELLO

CARLA LENCASTRE

Seus trabalhos em moda, publicidade e retratos de belas mulheres

Onze anos editando o suplemento de turismo do jornal O Globo

fazem dele um dos mais invejados fotógrafos do país. O ensaio com

lhe deram muita cancha. Dos continentes, Carla só não pisou no

Luiza Possi começou na conversa com um amigo, o cantor Paulo

solo gelado da Antártica. Ainda. Gosta de visitar lugares novos, de

Ricardo. “Quando eu disse que achava a Luiza linda, o Paulo ligou

revisitar velhos conhecidos e de contar uma boa história. Passou

para ela e nos apresentou.” Uma constatação: “Ao vivo ela é ainda

uma semana no calor de New Orleans em busca dos melhores

mais linda, além de simpática e muito espontânea”.

endereços seguindo o lema local: laissez les bons temps rouler.

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visão

Por MARIA LUCIA RANGEL retratos jorge bispo

de letra

A

triz, escritora, diretora, apresentadora e até dubladora, Maria Ribeiro não acredita em limitações. Mas gosta mesmo é de escrever. Só escrevendo exibe-se por inteiro. No cinema, nas novelas, no programa Saia Justa, vemos apenas a faceta que menos parece interessá-la. E, já que é assim, vamos ler Maria Ribeiro. “Lembro da ansiedade de entrar na sala de aula e ver onde Eduardo estava sentado”, contou no livro Trinta e Oito e Meio, lançado em 2014, quando ela chegou à idade estampada no título. Referia-se a uma experiência de infância, na qual teve importância capital seu irmão mais velho, Otávio. Ele a apresentou à obra de três homens que mudaram a vida de Maria e permearam todas Com Fernanda Rocha e seu mentor Domingos de Oliveira em Separações

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as fases pelas quais passou – inclusive a de surfista de Cristo, na adolescência. Que homens mudaram sua vida? “Primeiro, Tom Jobim, que me fez amar a floresta. Depois Rubem Braga, que me ensinou a olhar pras coisas grandes disfarçadas de pequenas, e, por último, Machado de Assis, que apurou meu humor.” Carioca, 40 anos, nascida em berço de ouro, bonita, inteligente e sem papas na língua, Maria escreve mensalmente na revista TPM e semanalmente no jornal O Globo. Desde 2012, divide a apresentação do Saia Justa no GNT com Barbara Gancia, Mônica Martelli e Astrid Fontenelle e admite ter se inspirado no jornalista Paulo Francis para atuar no programa de TV. “Meu pai foi amigo do Francis e comentava que ele era a pessoa mais doce que conhecia e que o

personagem que mostrava na TV era uma mentira”, conta. “Eu, que sempre gostei de provocar e sou um pouco do contra por natureza, criei um personagem parecido. Mas sou eu, só que com tintas para a televisão.” Como são quatro temas discutidos em uma hora de programa, é preciso suscitar discussões. “Minha depiladora vê o Saia”, diz. “Gente que nunca fez análise, que não tem o hábito de ler, que não cursou escola forte – este é o nosso espectador. Funcionamos como uma espécie de terapia.” No cinema ela viveu 12 papéis, dirigida entre outros por Cacá Diegues (Orfeu), José Padilha (Tropa de Elite) e Domingos de Oliveira (Separações). Na TV, entre seriados e novelas, foram 20 trabalhos, o último em 2014 na novela Império, de Aguinaldo Silva. Gostou em especial de fazer dupla com o marido, Caio Blat, e ser dirigida por Rogério Gomes, o Papinha. “Novela me permite descansar, pois é só falar o que está no roteiro e tenho facilidade pra decorar”, explica. “Embora o texto de Império viesse pronto, eu sempre mudava alguma coisa. Tive permissão pra isso. Escrever é muito solitário e sofrido. Já a novela é quase uma excursão da escola, ainda que, com o tempo, encha o saco. Aí parto pra outra.”

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Maria Ribeiro faz de tudo no cinema e na TV. Nas telas ou atrás das câmeras. Mas gosta mesmo é de escrever

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visão como as do documentário A Última Casa da Rua, que pretende dirigir. Lá estarão a casa onde morou em pequena no bairro do Humaitá, no Rio; a ilha de Angra dos Reis, comprada quando ela nasceu, dotada de um tobogã de 20 metros que dava diretamente no mar, “meio Disneylândia”; e o Country Clube que frequentou com os pais. Poeta aos 5 anos

Ora, o Country. “É um mundo curioso”, analisa. “As babás são proibidas de usar o banheiro do clube. Todas elas de branco, que é uma forma de torná-las invisíveis. É muito doido. Sou sócia do Jockey e outro dia tive uma briga lá porque minha babá não veste uniforme. Ela foi minha babá, me

Quando ela disse ao pai que iria se casar com Paulo Betti, 23 anos mais velho, ele respirou aliviado. Afinal, achou que o eleito seria Domingos de Oliveira, que tem 39 anos a mais que Maria Aos 31, novo casamento, com outro ator, Caio Blat, e a pompa exigida pela igreja do Outeiro da Glória. Bento, hoje com 6 anos, é filho de Caio. “Meu namorado trouxe de volta meus sonhos de menina”, escreveu. “Foi um dos dias mais felizes da minha vida, Frontal com champanhe. Que Deus nos proteja, e não sei se acredito em Deus. Mas acredito no amor.” Também foi no teatro que conheceu o segundo marido, na peça O Mundo É um Moinho, de Fauzi Arap. “Fauzi foi o melhor diretor de ator com quem trabalhei.” Maria adoraria escrever um romance. Como só consegue pensar em histórias a partir de experiências pessoais, vai protelando. Enquanto isso, com pedaços dos vários mundos em que transitou e transita, restaura a memória por meio de imagens,

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chama pelo nome e não usa branco.” Ficou para trás esse mundo infanto-juvenil, que certa vez a deixou morta de vergonha na casa de Augusto Boal, identificada por Bruno Faria, marido de Marília Pêra, como a menina que ele conhecia do Coun-

try. O pai, Leonídio Ribeiro, referência no setor de seguros no país, ex-presidente da Sul-América, eleito Homem do Ano em 1981 e aficionado do turfe, mergulho e caça submarina, ganhou muito dinheiro e perdeu muito dinheiro. Morreu em 2013 no dia em que João, o filho de Maria com Paulo Betti, completava 10 anos. E vai ganhar um documentário da filha. Foi com João que Maria visitou a casa de Angra, pouco depois da morte do pai, que tivera de vendê-la. Melancólica visita, assim documentada em sua coluna da revista TPM: “... eis que meu filho sorri o sorriso das descobertas e me mostra uma estrela no fundo do mar, que ele tenta tocar mas é fundo e o fôlego acaba antes. Então eu me emociono e tenho certeza que a melhor parte é mesmo agora, a infância do filho e não a minha, e tudo deveria ter sido exatamente como foi: o gosto do mar na Ao lado, seu livro de estreia. Abaixo, com Caio Blat, o atual marido, em Império. E numa releitura de capa de Playboy

fotos: reprodução

Maria tinha 21 anos quando contou ao pai que estava namorando um homem 23 anos mais velho, Paulo Betti. “Tudo bem”, respondeu o pai. “Pensei que fosse o Domingos”, complementou, abrindo as portas para o primeiro genro. Conheceram-se contracenando numa adaptação de Domingos de Oliveira (39 anos mais velho) da peça Inimigo do Povo, de Henrik Ibsen, com Maria no papel da filha do Dr. Stockmann. Betti recém-separado, ela livre para se apaixonar perdidamente – e assim foi. Vinham de mundos opostos: ele de família pobre, o único dos irmãos a aprender a ler; ela, da alta burguesia carioca, convivendo com a leitura desde menininha.

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visão

Muita versatilidade no cinema: como atriz, ao lado de Lee Taylor e Caio Blat, em Entre Nós; e como diretora do documentário sobre o grupo Los Hermanos

boca, a decadência financeira, a consciência do tempo e o perdão”. Leonídio, ao contrário do pai, médico legista, pesquisador e advogado, com vários livros publicados, não era um intelectual. O gosto pelos livros Maria herdou da mãe. Foi ela que anotou numa folha de

co, era colada à de Otto. Ainda havia a avó, Marilu de Paula Ribeiro, uma das fundadoras da Galeria de Arte Ipanema, íntima de Di Cavalcanti e Manabu Mabe. Maria faz esse preâmbulo para contar que a paixão pela leitura começou, para valer, com a visita de Orígenes Lessa ao

Seu próximo trabalho no cinema será em um filme de José Padilha, que é seu primo. Aceitou o convite com certo desconforto, pois discorda das posições políticas do diretor papel a primeira aventura literária da filha, um poema: “O amor é uma multidão que se junta no coração/O amor é aquele que vem buscar para podermos caminhar até a vida acabar/ O amor é também aquele que puxa feito um rodamoinho até nos levar ao nosso caminho”. Maria tinha apenas 5 anos. Além da mãe, contou com um motivador muito especial, o escritor e jornalista Otto Lara Resende, amigo da família. A casa dos Ribeiro, no alto do Jardim Botâni-

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Colégio São Patrício, onde ela estudava. O escritor e pai do jornalista Ivan Lessa foi lançar um livro sobre balé para as alunas. A menina, que só conhecia o Lago dos Cisnes, Copélia e outros balés de apreciá-los no Teatro Municipal, pirou. “Ler sobre aquele universo mudou minha cabeça.” No entanto, o mundo aparentemente encantado em que vivia não fazia a adolescente feliz. Era um peixe fora d’água na escola e, apesar de só pensar em escrever,

aos 14 anos decidiu fazer teatro com a companhia Atores de Laura, criada por Daniel Herz e Susanna Kruger na Casa de Cultura Laura Alvim, onde a mãe fora trabalhar quando se separou de Leonídio. Aos 19, cursando Comunicação na PUC e dando os primeiros passos como atriz desestimulada por toda a família, conheceu Domingos de Oliveira. E tudo mudou: “Vi que naquela turma não havia separação entre trabalho e vida, e que da bebida e da alegria surgia o trabalho. Domingos é a pessoa mais importante da minha vida”. A paixão pelo diretor ela mostrou no documentário Domingos, lançado em 2011, depois de dez peças juntos. Os cinco anos que passou filmando foram recompensados com a aprovação do público e da crítica do festival É Tudo Verdade: “O filme é o meu ‘muito obrigado’ a ele e uma maneira de reproduzir para outras pessoas o que eu sempre gostei de ouvir”. Mas a paixão por Domingos de Oliveira

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ainda não se esgotou. Maria já inventou um projeto para ficar próxima dele mais algum tempo: comprou os direitos do primeiro longa-metragem do diretor, Todas as Mulheres do Mundo (1966), para transformá-lo numa série de 13 episódios para o GNT, com roteiros supervisionados pelo próprio Domingos. Algum outro motivo para essa nova parceria? “Sinto falta de uma dramaturgia mais romântica e acho bonito um personagem que ama todas as mulheres numa época como a nossa, quando nunca é demais falar das mulheres.” Miseráveis e desgraçados

Antes de Todas as Mulheres do Mundo, ela grava a série baseada na operação Lava Jato, de seu primo José Padilha, para o Netflix. Não sem certo desconforto. Ela tem posições políticas divergentes das do primo. No fundo, só aceitou a empreitada por causa do elenco, afinado com suas ideias. “Conviver com casting de direita não dá.” Também foi em clima de devoção que Maria dirigiu o documentário sobre o

grupo Los Hermanos, seus contemporâneos na PUC, lançado em 2015. Los Hermanos - Esse É Só o Começo do Fim da Nossa Vida tem uma cena exemplar, em que Maria, sentada no chão, não esconde a admiração enquanto o grupo conta histórias engraçadas. Outro projeto está em andamento e se chama Você É o Que Lê, iniciativa da produtora Eveline Lessa. Reúne Maria, Xico Sá e Gregório Duvivier. Juntos, eles conversam sobre o universo da leitura. Já estiveram em algumas capitais brasileiras lotando teatros, e até Portugal entrou na lista: “Conversamos sobre o que estamos lendo, nossas influências, a relação com as redes sociais, política. Tem sido um sucesso”. Pergunto o que está lendo no momento. Maria fala entusiasmada da correspondência trocada entre Ivan Lessa e Mario Sergio Conti. Ela está preparando um livro a ser lançado ano que vem, 40 Cartas e um E-mail Que Eu Nunca Mandei. São cartas para o pai (“eu me comunico com ele, mesmo ele tendo morrido”), para ela própria, como se tivesse 18, 28 e 58 anos, a Woody Allen,

uma de suas paixões, e a Mia Farrow, que, por motivos óbvios, odeia. “Woody Allen está no meu kit de sobrevivência. Se você está na merda, assista a Annie Hall que sua vida melhora”, receita. “Tem uma frase no filme que adoro: ‘As pessoas se dividem entre as miseráveis e as desgraçadas’. As miseráveis somos nós, que sofremos de amor, que vamos morrer, ficar doentes ou perder alguém. As desgraçadas são as que perderam um filho, uma perna, a visão. A gente tem que ficar feliz por ser miserável.” Sempre gostou de ler correspondências. Cita livros de Ana Cristina Cesar, Caio Fernando Abreu, Clarice Lispector e até o recém-descoberto Dear M. You, da atriz americana Mary-Louise Parker, com cartas só para homens. E, já que lembrou Clarice, acho que um trecho da escritora também pode definir Maria: “Eu escrevo sem esperança de o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro...” P

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audição POR ALBERTO HELENA JÚNIOR ilustração raphael alves

O som do futebol Gritos, marchinhas, vaias, aplausos e um silêncio sepulcral. Alô, ouvintes, vai começar a sinfonia dos estádios

O

som primordial foi aquele baque seco da chuteira na bola – pan! E lá vai a bichinha varando o espaço e o tempo em direção à meta defendida por Raul Plassman, goleiro do Cruzeiro, Flamengo e contador de histórias. Sua preferida: a bola passa por ele e Raul só fica de orelha em pé. Se sobrevier o silêncio, a meta está salva, bola pra fora! Se ouvir aquele pac, a gorduchinha chocou-se com a trave e ainda há vida. O som da morte é quando a bola toca e escorre pelas redes – chuáaa! Raul foi o primeiro goleiro a trocar as camisas pretas por uma colorida. Um artista plástico que pintou de amarelo o luto das vestes de seus pares. Mas deixemos Raul de ouvidos colados ao seu destino e subamos as arquibancadas. Aqui, nesses degraus de um passado longínquo, lá no início do século 20, o gesto precedeu o som. Pois, quando a bola fazia pan, o céu azul das tardes de domingo nos fields recebia uma chuva contrária de chapéus de palheta dos cavalheiros comportados, enquanto as senhoritas mais ousadas abriam e fechavam suas sombrinhas. “Hurra!” Eis o primeiro e discreto som que saiu das arquibancadas, antes que um

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bando de estudantes de direito das Arcadas, em São Paulo – todos torcedores do elegante Paulistano de Arthur Friedenreich, “El Tigre”, mulato de olhos verdes e primeiro ídolo nacional –, inventasse o cântico inicial das torcidas de futebol nos trópicos. Era um bestialógico que misturava francês com inglês e outras tantas palavras aleatórias: Aleguá-guá- guá (Allez go hak)/ Mekanbé, mekambeká/Reco-reco, rico rá/Paulistano! O cântico foi herdado pelo São Paulo Futebol Clube que nasceria das entranhas do Paulistano já nos anos 1930, quando jovens bem nascidos das famílias Mesquita e Machado de Carvalho, entre outros, criaram a primeira torcida uniformizada de que se tem notícia no país. Isso ocorreu na esteira dos torcedores universitários americanos do basquete, do futebol deles lá e do beisebol. A partir daí, as uniformizadas foram, ao longo das décadas, se multiplicando e cada vez mais ganhando força e irreverência. Até chegarmos aos dias atuais, quando entoam um desafio de vulgaridades. E um desses sacrilégios é de uma uniformizada do São Paulo: E ô, e ô/ Sou da Independente/ O seu terror.

É importante lembrar que ainda pelos meados dos anos 1920, depois da excursão vitoriosa do Paulistano à França, onde o time brasileiro recebeu o título de Les Rois Du Foot-Ball, exumou-se a marcha ufanista do palhaço e compositor popular Eduardo das Neves feita anos antes em homenagem a Santos Dummont, “A Europa se Curva Ante o Brasil”. Pouco antes, a América realmente se curvava à seleção brasileira, quando aquele gol de Friedenreich, o Fried, sobre o Uruguai nos deu o título do Campeonato Sul-Americano disputado nas Laranjeiras, em 1919, e inspirou o choro de Pixinguinha: “1 a 0”, peça antológica do cancioneiro brasileiro. Pois é, o som das uniformizadas de todas as partes e cores se transformou em provocações e xingamentos. Depois, desaguou nas tantas violências perpetradas dentro e fora dos estádios – em muitos casos ao som da marcha fúnebre. Mas não nos antecipemos. Falando de marcha, bem

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audição mais alegremente provocativa foi aquela entoada por mais de 200 mil brasileiros no Maracanã recém-inaugurado, quando nossa seleção goleou a Espanha por 6 a 1, em plena disputa da Copa do Mundo de 1950. Três dias antes do silêncio ensurdecedor do Maracanazo, ouviu-se esta marchinha de autoria de João de Barro (o Braguinha) e Alberto Ribeiro: Eu fui às touradas de Madri/ Parará, tchimbum/ E quase não volto mais aqui/ Pra ver Peri/ Beijar Ceci/Parará, tchimbum! Eles são dois dos mais expressivos compositores populares da chamada Época de Ouro da nossa música, período que vai de 1928, quando do advento das gravações elétricas de discos, até logo após a Segunda Guerra, em meados dos anos 1940. Tempo de extrema prodigalidade de autores como Lupicínio Rodrigues, autor do hino do Grêmio: Até a pé nós iremos/ Para o que der e vier/ Mas o certo é que nós estaremos/ Com o Grêmio onde o Grêmio estiver. Tempos do genial Lamartine Babo, autor dos hinos de todos os grandes clubes do Rio, pequenas obras-primas. Aí vai uma fusão deles: Sou Tricolor de coração/Botafogo, Botafogo, campeão desde 1910/ Uma vez Flamengo, sempre Flamengo/A Cruz de Malta é o teu pendão/ A cor do pavilhão é a cor do nosso coração. Uma curiosidade a respeito do último verso, dedicado ao América, time de coração de Lamartine: só depois de o hino consagrado se descobriu que os primeiros acordes eram plágio de uma marcha americana tocada num filme juvenil de Judy Garland. O gol de Fried virou choro. O Bi no Chile, frevo de Jackson do Pandeiro

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Aliás, o futebol inspirou vários compositores populares, sobretudo Wilson Batista, flamenguista roxo: Flamengo joga amanhã, eu vou pra lá/ Vai haver mais um baile no Maracanã... Mas, na voz de Moreira da Silva, o Rei do Samba de Breque, Wilson homenageava o craque em geral: Eu nasci pra ser um craque da pelota/Não é mentira, nem lorota/ Mas meu amor minha carreira quer cortar/Pra medicina eu estudar... O que é isso? Uma homenagem mediúnica ao craque que nasceria 20 anos depois e levaria o nome de Sócrates Brasileiro de Oliveira? As músicas que de fato ganharam as ruas e praças de todo o Brasil foram

as que marcaram a conquista do Tri. Em 1958, a seleção saiu daqui desacreditada e levantou o título mundial pela primeira vez, na Suécia, embalada pela marchinha de Maugeri Neto, Victor Dago e Lauro Muller: A Taça do Mundo é nossa/Com o brasileiro, não há quem possa/ Eeta esquadrão de ouro/É bom no samba/É bom no couro. Isso no tempo em que a bola era feita de couro ainda, embora já não fosse mais o velho capotão. Já na conquista do Bi, no Chile, em 1962, o feito mereceu um frevo delicioso e trepidante de Jackson do Pandeiro: Vocês vão ver como é/ Didi, Garrincha e Pelé/Dando seu baile de bola/ Quando eles pegam na bola/O nosso escrete de ouro/ Mostra como é nossa escola. Ah, a escola brasileira de futebol... Aquela que exprimia nos pés a malícia, a improvisação e a beleza dos nossos tão ricos e inspirados ritmos, o samba, o frevo etc. Por fim, das trevas da ditadura militar, um facho de luz, em 1970, quando levantamos o Tri, no México, com aquela seleção que a Fifa elegeu como a mais perfeita da história do futebol. De autoria de Miguel Gustavo, a marcha que invadiu o coração até dos brasileiros clandestinos que lutavam contra a ditadura militar: Noventa milhões em ação,/Pra frente Brasil, do meu coração... Isso mesmo. Parece que foi ontem, mas o Brasil, então, tinha menos da metade da população atual. O som do futebol, porém, jamais se resumirá aos cânticos das torcidas, aos hinos dos clubes e da seleção, nem mesmo às canções populares inspirados no jogo e suas personagens. Desde sempre ergueu-se uma arquitetura voltada para os ouvidos da plateia e dos jogadores em campo. O Maracanã,

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por exemplo, com seu formato circular, uma novidade entre nós, e com boa parte coberta, teve o condão de reverberar como nenhum outro desde o murmúrio dos espectadores até os lancinantes gritos de “Goool”! Assim como os atávicos desabafos dirigidos ao juiz de plantão: “Ladrão!” Ou aquele, tão proverbial, destinado ao técnico da hora: “Burro!” Mas nem tudo era baixaria, não. Quem se lembra da concha acústica do Pacaembu, levante a mão. Pois é. Graças às malas-artes do então prefeito Maluf, a concha acústica veio abaixo nos anos 1970 para dar lugar ao monstrengo tobogã. Todavia, quando ainda em pé, recebia os mais finos recitais líricos e sinfônicos, para deleite de um público civilizado. E o que dizer do som dos discursos políticos que soavam nos estádios brasileiros nas chamadas datas magnas? O ditador Getúlio Vargas, por exemplo, cansou de discursar em São Januário, o estádio do Vasco, sobretudo nas celebrações do 1º de Maio, o Dia do Trabalhador. Por falar em ditador, nos tempos de

O Maracanã, com seu formato circular, reverbera ainda mais os brados de “Gol”. Mas nem tão alto quanto a Bombonera gritando “Tim-Tim” e “De-lém”, em homenagem a dois craques brasileiros Juan Domingo Perón, na Argentina, dois atacantes brasileiros acendiam a rivalidade entre River Plate e Boca Juniors, principalmente na Bombonera, cuja acústica é absolutamente insuportável, pela sua forma feito uma caixa de bombons, o que, aliás, lhe deu o apelido. Falo de Delém e de Paulo Valentim, o herói da virada brasileira sobre o Uruguai na mais famigerada briga do Sul-Americano de 1959. Se os millonarios berravam “De-lém, De-lém”, os boquenses repicavam o sino: “Tim-Tim, Tim-Tim”. Nenhum outro som, porém, superava o da charanga do Jaime no Maracanã, um conjunto formado por trombone, pistão, banjo e ritmo que desfilava nos estádios cariocas onde estivesse o Flamengo um repertório bem popular, desde marchinhas e sambas de carnaval ao indefectível hino do Mengo, desde os anos 1940 até a morte do seu criador, Jaime Carvalho, em 1976.

A moda pegou, e se multiplicaram as charangas e baterias nos estádios, até que a crescente violência entre as torcidas obrigasse as autoridades a proibir a entrada de instrumentos nos campos de futebol. E assim o alegre e pacífico som dos instrumentos musicais foi expulso a tapas dos estádios. Ainda bem que nem só de xingamentos vivem as nossas torcidas. A Fiel, por exemplo, agregou o seu “Aqui tem um bando de loucos” ao “Vai, Corinthians!”, grito que ecoa até hoje nos estádios e nas ruas, desde que, nos anos 1950, foi disparado pelo Mendes, ilustre fiel, de bigode grande, chapéu, gravata e paletó, que foi várias vezes dirigente do Timão. Que assim seja, cada um cantando suas peculiaridades, numa cacofonia de vozes, em plena harmonia enquanto o som primordial – aquele baque da chuteira na bola – seguir sendo o diapasão que marca a batida do coração do torcedor. P

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olfato

Por ronaldo bressane ilustração guilherme freitas

amor-aroma

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Há mais mistérios entre os genitais e as narinas do que sonha a nossa vã filologia

O nariz nos aproxima dos elefantes. Está tudo escondido bem na nossa fuça: amores e temores mais subterrâneos, de que não nos esquecemos jamais. Perdemos um tanto do olfato quando nos civilizamos – ao virarmos bípedes, escapamos de farejar as pegadas alheias no solo. Se a linguagem nos distanciou de nossa natureza animal, o nariz nos devolve ao que de fato somos e nunca deixamos de ser: bichos em pânico, famintos, ansiosos, perdidos, violentos, à caça de um território para nomear, de um buraco para se esconder, de um bálsamo por descobrir. De todos, um único cheiro ao mesmo tempo nos atiça e nos acalma o sangue. O cheiro de sexo.

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É possível sintetizar o cheiro do amor? No romance Animal Tropical, Pedro Juan Gutiérrez se reparte entre duas mulheres: a meretriz cubana Gloria e a jornalista sueca Agneta. A primeira, uma mulata ninfomaníaca, costuma dar perdidos para se prostituir. “Às vezes tem cheiro de peixe. Agora esta-

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va com gosto bom: tinha cheiro de queijo.” A segunda, morena carinhosa e tímida, trabalha o dia todo para à noite ser transtornada pelos acessos de luxúria de Pedro Juan – mas tem nojo do oral e do anal. O escritor acaba voltando para Gloria. Mas antes cai em um banquete afrodisíaco – resumo do fartum de nheco-nheco. “O jantar consistiu de mariscos fervidos com ervas finas. Molhos picantes e vinhos em abundância. Na sobremesa, torta de mandrágora e ginseng, queijo mexicano recheado de chiles e peiote, e uma maconha holandesa curtida em conhaque e cerejas. Tive de me esforçar para não fazer um strip-tease.” A Suécia era inodora demais para o rei de Havana. Como o esperma é básico (alto pH) e as secreções femininas são ácidas (pH entre 3.8 e 4.5, por conta do ácido láctico, barreira natural para infecções), sua reação cria um blend de propriedades imprevisíveis. A tal química a dois é questão de pHs – algo mais importante que credos políticos e clubísticos ou gostos pessoais na sessão de Netflix. E, claro, tudo o que o casal comer antes de se comer muda olfato e paladar. Laranja, tomate, vinagre e açúcar refinam fragrâncias e sabores, tanto do esperma

quanto das secreções. Banhos prolongados, produtos de beleza, sabonetes, espermicidas, lubrificantes, preservativos e brinquedinhos lúbricos nem sempre melhoram. Já fumo, stress, remédios, papel higiênico, absorventes, lenços umedecidos, roupas apertadas, bebidas e drogas detonam tudo. Alimentos recomendados à superodorificação a dois: alho e banana (melhoram a circulação); chocolate, frutos do mar (sensação de bem-estar); e frutas secas (aumentam a libido).

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Misteriosos componentes

do cheiro do amor são os feromônios, substâncias excretadas por glândulas, de insetos a mamíferos, tanto por saliva ou lágrima quanto pelas áreas genitais, sendo capturados na enigmática estrutura vomeronasal. Ainda não decodificados pela ciência, os feromônios são muito explorados pela indústria, conforme se nota em visita a qualquer sex shop. Prometem mundos e fundilhos. Mas nenhum estudo sério comprovou sua eficácia na sedução do outro, mulheres ou homens. O efeito placebo ainda é complicador nessas pesquisas. Há quem se sinta

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olfato tais baladas, mas não se sabe se até o altar os participantes trocaram de camiseta.

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É possível sintetizar um aroma humano? No romance O Perfume – que virou filme em 2006 –, Patrick Süskind conta a história de Grenouille, um homem que, apesar de nascer sem cheiro, tem o olfato absoluto. Certa tarde, entrevê uma adolescente em uma floresta. “O suor dela odorava tão fresco quanto a brisa do mar, o sebo dos seus cabelos tão doce quanto o óleo das amêndoas, o seu sexo como um buquê de lírios-d’água, a pele como flores do pessegueiro... e a conjunção de todos componentes resultava num perfume rico, equilibrado e fascinante (...) Centenas de milhares de odores não tinham mais nenhum valor diante desse único aroma. Era a pura beleza.” Enlouquecido em busca de seu ideal olfativo, Grenouille clona a essência humana para se misturar ao povo sem ser percebido. Usa cocô de gato, notas de vinagre, sal moído, queijo velho, ranço de sardinha, ovo podre, castóreo, amoníaco, noz-moscada, raspa de chifre, toucinho chamuscado, uma alta quantidade de almíscar. “Misturou esses horríveis

Ben Whishaw e Rachel HurdWood em O Perfume

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ingredientes com álcool, deixou dissolver e filtrou. O caldo tinha um cheiro devastador. Por cima dessa horrenda base, Grenouille acrescentou uma camada de aromas oleosos frescos: menta, lavanda, terebintina, limão, eucalipto, controlados e mascarados por um buquê de finos óleos de flores como gerânio, rosa, laranjeira e jasmim. (...) Parecia emanar do perfume um odor etéreo de vida.” Usando esse cheiro, Grenouille consegue se camuflar e assassinar 25 virgens. Recorrerá ao cheiro delas para criar o perfume supremo.

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mais confiante na sedução por usar tais produtos. Sem falar na complexidade da cultura humana, a afastar um parceiro só por causa de religião, voz estridente, CEP distante, falha na dentadura ou uso de pochetes e crocs. Embora seja inquestionável que cada indivíduo tenha sua assinatura olfaltiva, nenhum estudo concluiu como funciona a estrutura vomeronasal em humanos e se feromônios são determinantes durante a corte sexual. Enquanto isso, nos EUA e na Europa proliferam as Festas do Feromônio. Funciona assim: você usa a mesma camiseta por três dias. Leva a camiseta à festa, numa sacola fechada. No começo da festa as sacolas são numeradas e os participantes se ocupam em aspirar o máximo possível de camisetas. Se ocorrer um match olfativo, o participante se fotografa ao lado da sacola e a imagem é projetada numa tela. Caso role também um match visual, é só correr para o abraço. Há relatos de casamentos nascidos de

Capítulo curioso na conexão nariz-sexo: na época em que entupia as narinas de cocaína, enquanto formulava a psicanálise, Sigmund Freud requisitou os serviços do otorrinolaringologista Wilhelm Fliess. Acabaram amigos, e Freud indicou Fliess a seus pacientes. Embora respeitado, Fliess era imaginativo demais. Propunha que distúrbios do comportamento sexual – em especial, o feminino – fossem justificados por problemas olfativos, e criou o bizarro termo “neurose do reflexo nasal”. Em sua tese, uma simples crise de espirros explicaria tendências ninfomaníacas. Anna Eckstein, que tratava com o psicanalista sua compulsão maníaca por masturbação, após algumas sessões perdeu a sensibilidade em metade do rosto — Fliess chegava a retirar os folículos nasais dos pobres pacientes. Megalomaníaco, Fliess acusou Freud de roubar suas ideias. O psicanalista rompeu com o bizarro otorrino, cuja fedentina nunca mais foi sentida nas páginas da medicina.

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Mais negligenciado dos sentidos, o olfato não guarda muitos primos na linguagem verbal – está aquém do paladar nesse quesito. Tal problema é percebido na lírica amorosa: as metáforas sobre o objeto de devoção são florais... ou marinhas. Ao comprar um bacalhau, o escritor Reinaldo Moraes teve uma epifania: “Cheirei, senti, pirei. Aquele cheiro me falava direto à libido, pá. Nada mais nada menos que o cheirinho do amor”, escreveu em uma crônica. “Vadio/ eu procurava, no frio/ de tuas calças/ e te adorava; sentia/ teu cheiro a peixe, bebia/ teu bafo de sal”, cantou Vinicius de Moraes em “Marina”. “Debruça-se sobre seu aroma/ faz abrir mais ainda/ as pétalas, de onde ele assoma/ e enquanto mais fundo se adentra/ (vermelho-puro caindo ao último grau de escuro – magenta do pistilo)/ vê-lo,/ ei-lo que se deslinda/ – impaciente centelha”, descreve, sinestésica, Claudia Roquette-Pinto. “A brisa/ a luz/ o calor/ tateiam/ bolinam a flor/ quase vexada/ e ela, voláteis,/ perfumadas de cor-de-rosa/ aos poucos/ vai abrindo as pérnalas em vãos/ num copo à janela”, desenhou concreto Décio Pignatari. Todos beberam na fonte do rei Salomão, que nos Cantares, o mais belo livro da Bíblia, louvou os odores de Sulamita: “O aroma dos teus bálsamos são melhores que de todas as especiarias! Mel e leite estão

Fliess: ele ligou o estudo do sexo ao olfato

debaixo de tua língua, e o cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano. Teus renovos são um pomar de romãs, com frutos excelentes: o cipreste, o nardo, o açafrão, o cálamo e a canela, toda a sorte de árvores de incenso, a mirra e os aloés. Poço das águas vivas que correm do Líbano, assopra no meu jardim para que se derramem teus aromas!” Sorry, Reinaldão, mas o rei Salomão tinha olfato mais apurado.

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Infelizmente, tanto quanto formatar a pentelheira ao design da moda, editar o odor é tendência entre damas. Tem a ver com o faxinamento machista que prende as mulheres ao binômio água-sabão. Uma tia uma vez confessou um pesadelo: “Morrer na rua, sem ter tido tempo de trocar a calcinha”. Uma amiga dermatologista afirmou ser frequente mulheres a procurarem para aplicar Botox nas glândulas sudoríparas – “assim nunca suam”. Soubessem o poder de um bom cecê sobre os instintos... Sujeira, para muits dessas criaturas que expelem gelatinosos fluxos de sangue, é pecado. “Em estudos sobre compulsão por higiene, psicólogos descobriram que mulheres relatam

mais obsessões de contaminação que homens. Certa autorrelação corporal neurótica segue como herança feminina”, critica Laura Kipnis no elucidador Coisa de Mulher. Se, por um lado, não há necessidade de espalhar o cheiro íntimo atrás das orelhas como arma de sedução, como no engraçadíssimo romance Zonas Úmidas, de Charlotte Roche, também não é preciso confundir higiene com neurose.

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Caso a leitora e o leitor ainda duvidem da necessidade dos cheiros para nos metamorfosear em seres majestosos como elefantes, apelo a Caio Fernando Abreu. “Cheiros íntimos, secretos. Ninguém saberia deles se não enfiasse o nariz e a língua lá dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. Você também tem cheiros. Os animais cheiram uns aos outros. O que você queria? Rendas brancas imaculadas? Amor não começa quando nojo, higiene ou qualquer outra dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais sentido? Amor no sentido de intimidade, de conhecimento fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho.” Certo é que mulher alguma enlouquece por um sujeito regado a Old Spicy nem homem nenhum se lembra da amada pelo Chanel nº 5. Chega de frescura, caros aprendizes de elefantes. Conforme dita a Bíblia, relaxai e exalai! P

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paladar Por J. A. DIAS LOPES

Stupenda! Roma tem uma cozinha típica que os visitantes nem sempre conhecem... Pois deveriam

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odo forasteiro que visita Roma fica encantado com a cozinha local. Come-se divinamente na capital da Itália, seja numa trattoria, numa osteria ou num ristorante. É fácil entender as diferenças. A trattoria tem um ambiente casual. Costuma ser controlada por uma família. O menu oferece pratos regionais. Já a osteria era, no passado, um lugar simples onde se servia basicamente vinho e comida para acompanhá-lo. Na terceira categoria está o ristorante, que corresponde à fórmula conhecida no mundo inteiro. Tem cardápio mais requintado do que a trattoria e a osteria. As comidas e bebidas são mais variadas e o atendimento mais profissional. Em todos esses lugares, os pratos vão à mesa em quatro etapas: antipasto, o elenco variado de entradas; primo piatto, constituído por uma massa ou risotto; secondo piatto, à base de carne, ave ou peixe, com acompanhamento de verdura, salada, legumes, grãos ou batata; e dessert, a sobremesa. Qual a finalidade dessa sistematização? Estimular a convivência das pessoas e proporcionar-lhes experiências gustativas distintas. A refeição quase sempre se harmoniza com vinho, para completar o prazer da comida, e água mineral, para rebater a sede e hidratar. No final, aparece o obrigatório

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caffè espresso, nas modalidades que o mundo inteiro conhece: ristretto, lungo e doppio. As casas voltadas à cozinha tradicional romana oferecem à clientela seus estandartes gastronômicos: tonnarelli cacio e pepe (spaghetti grosso, ao molho de queijo e pimenta-do-reino), rigatoni alla carbonara (tubinhos largos de massa ao molho de bochecha de porco curada, ovo, queijos parmesão e pecorino, pimenta-do-reino) e saltimbocca alla romana (escalopes finos de vitelo e presunto cru). A capital italiana coleciona, ainda, dois pratos de massa que se tornaram antológicos. Um é o spaghetti alla carbonara, cujos fios são enriquecidos com ovo, guanciale (bochecha do porco), pimenta e queijo pecorino (de ovelha). O outro se chama fettuccine all’alfredo, leva molho de queijo parmesão e manteiga. Entretanto, até por ser a capital da Itália, há na cidade ende-

reços dedicados à cozinha de outras regiões do país: abruzzese, toscana, genovesa, siciliana, napolitana. É tamanha a pluralidade alimentar à disposição dos forasteiros que poucos deles acabam conhecendo o genuíno – e delicioso – patrimônio culinário da cidade. A mais autêntica cozinha romana não é preparada em qualquer trattoria ou osteria. Nem no ristorante turístico. Encontra-se em nichos gastronômicos de bairros históricos como o Testaccio, Trastevere, Ghetto Ebraico e nos arredores da cidade. Processa ingredientes simples, originários do Lazio, a região de Roma. Apresenta-se em três variantes. A primeira é a cozinha macellaia (açougueira), nascida em torno do antigo Mattatoio (matadouro) di Testaccio, bairro situado no rione (sudivisão do Centro Histórico) que fica entre o Aventino e a Saltimbocca alla romana e um ristorante do Trastevere

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Tábua do Sora Margherita e a alcachofra do Felice a Testaccio

Mesmo banindo por motivos religiosos a carne de porco, os crustáceos e os moluscos, a cozinha judaica romana é deliciosa. E seus doces estão entre os melhores da cidade pirâmide de Caio Cestio. Começou a funcionar em 1890 e foi desativado em 1975, transformando-se em centro cultural. A segunda linha de cozinha foi batizada de burina, palavra derivada de burino, o pastor das montanhas da vizinha região de Abruzzo que viajava até a capital para vender burro (manteiga). Fundamenta-se em receitas de ascendência camponesa, extremamente saborosas. A última cozinha é a ebraico romana ou giudaico romanesca, surgida junto ao rio Tevere, no gueto instituído pelo papa Paolo IV, onde os judeus estiveram confinados do século 16 ao 19. Cada uma dessas linhas culinárias tem rica história. A macellaia vingou por influência dos empregados do Mattatoio di Testaccio. Para compensar a baixa remuneração, eles recebiam no final do dia de trabalho um saco com o quinto quarto bovino. Uma ironia. Como se sabe, o boi tem,

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claro, quatro quartos, dois anteriores e dois posteriores. Apesar da denominação fictícia, continha ingredientes substanciosos. O quinto, para os romanos de então, reunia as tripas, baço, coração, pulmão, timo, espinhaço, cabeça e rabada do animal. Os empregados do Mattatoio di Testaccio levavam para casa uma parte dessas “sobras” e preparavam de todos os jeitos. Vendiam a outra para uma trattoria ou osteria da vizinhança. Assim surgiu o rigatoni con la pajata, paiata ou pagliata. Trata-se de um porta-bandeira da cozinha macellaia. Sobre o rigatoni, espalha-se um molho feito com a parte inicial do intestino delgado do vitelo. Além dessa destinação, os cozinheiros do Testaccio assavam e ensopavam a iguaria rústica. Fora do Lazio, poucos conhecem a pajata. Comilão assumido, o ator italia-

no Aldo Fabrizi (1905-1990), famoso pelo papel de Don Pietro – o sacerdote heroico fuzilado pelos nazistas diante das crianças de sua paróquia, no histórico filme Roma, Cidade Aberta, de 1945 –, qualificou-a de “ingrediente fundamental de um dos pratos mais representativos da verdadeira cozinha romana e, em particular, do Testaccio”. Outro prato emblemático da cozinha macellaia é a coda alla vaccinara, a rabada à moda dos homens que abatem o boi, em tradução livre. Antigamente, eram chamados de vaccinari. Enfim, há ainda a trippa di manzo alla romana, prima-irmã da dobradinha brasileira. A segunda linha de cozinha, como dissemos, é a burina. Entre outras preciosidades, produziu o spaghetti all’amatriciana, elaborado com azeite, guanciale, vinho branco seco, tomate, peperoncino e queijo pecorino. Leva ao fogão ou forno produtos do campo, como grão-de-bico, brócolis, alcachofra e chicória; e plantas aromáticas, tipo louro, alecrim, menta romana e poejo. Também se denomina burina a pes-

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soa que fala ou se comporta de maneira pouco refinada. Em cozinha, porém, tem significado prestigioso. Alcachofra frita no azeite

Quanto à culinária ebraica, desenvolveu-se no meio da mais antiga comunidade de judeus na Europa. Eles foram para lá depois da destruição do primeiro Templo de Salomão, por Nabucodonosor, rei de Babilônia, em 586 antes de Cristo. As normas religiosas hebraicas, que interditam a carne de porco, crustáceos como o camarão e moluscos como a ostra, poderiam ter produzido uma culinária sem graça. Mas aconteceu o contrário. Os pratos da comunidade são saborosíssimos. Sua cozinha trabalha com produtos nobres: alcachofra, peixes de alto prestígio, como o rodovalho e a ancchova, além da uva-passa e do pinoli (semente do pinheiro mediterrâneo), e temperos aromáticos, tipo cravo e canela. Entre seus melhores pratos se destacam o carciofo alla giudia (alcachofra crocante frita inteira no óleo de oliva); as fiori di

zucchina farciti (flores de abobrinha recheadas) com mozzarella e alici; o riso in umido con piselli (arroz levemente molhado, com ervilhas); o risotto con rigaglie di pollo (risotto com miúdos de frango); e o fritto di cervello e carciofi (miolos e alcachofras fritos e servidos juntamente). O único senão gastronômico – se alguém pode cobrar algo de uma culinária riquíssima – é a falta de grandes sobremesas. Se bem que Roma põe na mesa dois tipos de crostata (torta) e a colorida grattachecca, parecida com a raspadinha brasileira. Para completar, saboreia-se à vontade na capital italiana o imperdível gelato (sorvete), com infinitas variações. Entre os restaurantes judeus, ressalve-se, há doces apetecíveis. O tortolicchio, biscoito seco preparado com farinha, amêndoas, mel e casca de laranja, jamais falta na festa de Purim, que comemora a vitória da sobrevivência dos hebreus sob domínio persa, primeiro movimento organizado para liquidá-los. Consolemo-nos com o enxuto cardápio romano de doces. Afinal, nada no mundo é perfeito. P

© reprodução

O Piperno e um fettuccine da Trattoria Perilli: tradicionais

La vera cucina Judaica: Piperno Via Monte Dè Cenci, 9, Roma, Itália, tel.: +39 06 686 1113 Sora Margherita Piazza delle Cinque Scole, 30, Roma, Itália, tel.: +39 06 687 4216 Romana tradicional: Trattoria Perilli Via Marmorata, 39, Roma, Itália, tel.: +39 06 575 5100 Felice a Testaccio Via Mastro Giorgio, 29, Roma, Itália, tel.: +39 06 574 6800

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tato Por SERGIO CRUSCO

Toque de gênio Alguns felizardos têm um dom especialíssimo: o de transformar em sucesso qualquer coisa em que encostam

D

iz-se de quem provoca frêmitos, suores, risos e gemidos, faz olhos girarem fora da órbita, pernas bambas como maria-mole, antecipa-se na satisfação de desejos sem a necessidade de expressá-los: “O sujeito tem pegada”. É o toque – de gênio, de Midas, como preferir chamar. Há quem nasça com ele. É como portar um nariz adunco, sardas no rosto, ter gestos enérgicos ou sutis. Não se aprende na escola, nem em manuais de marketing que pretendem gerar uma cornucópia de “ideias disruptivas” ou “pensamentos fora da caixa”. O toque é pessoal e intransferível como o sorriso de Monalisa, as orelhas de Mickey, a voz calejada de Louis Armstrong, o sopro preciso de Miles Davis, a brejeirice de Carmen Miranda. Tem-se ou não. Midas quis possuí-lo, numa troca de gentilezas com Baco, que lhe ofertou o dom de transformar em ouro tudo o que tocasse. O rei da Frígia logo se viu numa enrascada. Qualquer fruta que pegasse ou mesmo a água que bebesse virava metal. Baco, um bonachão, teve dó,

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desfez o encanto e até hoje o mito serve como lição de moral para amedrontar as crianças sobre os perigos da ganância. Acontece que “o toque”, já dissemos, não vem por herança ou tradição, nem passe de mágica. É possível aprender a mexer com dinheiro e, assim, não deixar a fortuna da família escoar em bingos, vapores e luxúria. Construí-la são outros quinhentos. Midas, nascido em berço de ouro metafórico, queria tudo para si. Talvez desconhecesse a regra básica de quem vende sedução e ganha mundos: oferecer o que o outro espera mas não sabe, o que está por vir, o que não se pensou antes. Algo imensurável no dizer do poeta americano Walt Whitman: “Não há nada maior e nem menor do que um toque”. Nota-se ao primeiro afago. Sex Pistols é dinheiro

Foi assim com Gabrielle “Coco” Chanel (1883-1971). Candidata à morte por inanição na França do fim do século 19, levou uma infância danada, órfã de mãe, rejeitada pelo pai, jogada num orfanato. Quando completou a idade que a impedia de continuar sob a tutela das freiras, ten-

tou emplacar como cantora. Esganiçada, resignou-se: não iria além dos cabarés de quinta. As aulas de costura com as religiosas, porém, fizeram brotar outro afazer, o de chapeleira. Suas criações eram modernas e minimalistas. Dos chapéus logo passou às roupas. Chanel tornou-se uma das primeiras estilistas a desenhar uma nova silhueta feminina, mais solta, sapeca e sensual, livre das rendas, veludos e espartilhos sufocantes que abafavam pulsões avassaladoras. Claro, Chanel contou com o apoio de gente poderosa e endinheirada, que lhe financiou as primeiras butiques, em especial o milionário inglês Arthur Capel, com quem teve um sinuoso teretetê. Assim, quitou as dívidas e ganhou o mundo com seu talento avant garde. Logo suas roupas estavam em Hollywood e o perfume que criou, o tal nº 5, servia de consolo a quem não tivesse dinheiro para um de seus tailleurs clássicos, mas juntasse um troco para um frasco. Foi também percebendo uma nova mulher no horizonte que o grego, nascido na Turquia, Aristóteles Onassis

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Onassis começou a vida com US$ 250, longe do país natal. Chanel era órfã de mãe, rejeitada pelo pai, e foi criada por freiras. Mas os dois visionários tinham o tal do tchan, a grande sacada haveria de conquistar aquelas garotas ansiosas por hábitos pitorescos, paixões sacudidas, assanhadas pelo ritmo do tango, então em sua fase de ouro. Começou importando o tabaco bruto da Turquia e em seguida sacou que o negócio era criar sua marca de cigarros – ou melhor, duas: Osman e Primeros. A garota-propaganda foi a soprano Claudia Muzio, com quem Onassis se enrabichara (sim, houve outra diva em sua vida, antes de Maria Callas). As baforadas da

ge tt y im e ag s© Sa

(1906-1975) teve seu primeiro tchan, a grande sacada. Rapazote, cansado da instabilidade política da disputa entre Grécia e Turquia pela região de Esmirna, onde veio ao mundo, mandou-se para Buenos Aires em 1927, com US$ 250 no bolso. Arranjou a humilde ocupação de telefonista. Mas era safo, vivia de orelha em pé, ouvia conversas entre homens de negócios, lia os noticiários econômicos. Fez algumas transações que lhe renderam dinheiro suficiente para jogar um pano legal por cima de si, como diria Billy Blanco, e frequentar as altas rodas. Soube que as coisas do Oriente estavam na moda. Rodolfo Valentino, morto um ano antes, tratara de espalhar esse rastro de exotismo com seu sheik enigmático. Era chique posar de sultão ou odalisca. Havia uma névoa dando mais mistério a esse cenário. Onassis pescou que as mulheres começavam a fumar em público e que, pobres, deviam estar com os pulmões ardendo em virtude do forte tabaco cubano dos cigarros da época. Juntou as duas coisas: o fumo turco era mais suave,

cantora ajudaram os elegantes cigarros turcos a virar sensação. Assim, diz-se, Onassis fez seu primeiro milhão, comprou os primeiros barcos para baratear os custos de suas transações, com tino afinadíssimo para adquirir frotas a preço de ocasião e renegociá-las com grande vantagem. Um senão: há quem desconfie que o fumacê fosse bem outro, estivesse mais embaixo (ou em cima, na cachola de quem comprava emoções baratas). Os cigarrinhos seriam fachada, e o grande negócio de Onassis, no duro, era o tráfico de ópio. Acertava em satisfazer desejos, de uma forma ou de outra. Certa vez um repórter perguntou ao armador qual o segredo de seu sucesso entre as mulheres. “Elas gostam de homens altos”, disse Onassis, no que o interlocutor não conteve a risadinha. O entrevistado tinha 1,60 m. Mas era mais esperto do que qualquer jornalista folga-

iV nt isa

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lli

Onassis foi telefonista. Chanel, chapeleira. Ambos se ligaram no que a sua época pedia

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Tato zão: “Elas me enxergam de pé sobre uma pilha de dinheiro”. Ser boa-pinta ajuda, ô, se ajuda. Mas não é tudo. Taí o megaempresário britânico Richard Branson, 66 anos, do alto de seu 1,79 m, para provar. Embora tenha se tornado o protótipo do coroa charmosão, Branson era o nerd de óculos fundo de garrafa quando deu as primeiras cartadas. Estava longe de ser o galã do campus ao lançar a revista Student e, pouco depois, a loja de discos Virgin (que se tornou a Virgin Megastores). Encasquetou de ser dono de gravadora e apostou naquilo que todos consideravam um lixo invendável. As fitas demo do disco Tubular Bells, de um menino inglês

garotada ouviria na próxima estação. Lançou os Sex Pistols, banda barulhenta que pouca gente acreditaria vir a ser sucesso, na alvorada do punk rock. No auge da androginia da new wave dos anos 1980, inventou o Culture Club, aquele do Boy George. Ganhou as estrelas, ao pé da letra: após dar-se bem em uma miríade de negócios de comunicação e transporte aéreo, entrou também no ramo das viagens espaciais. Há quem prefira se ater a anseios mais terrenos, como a ânsia em ter uma geladeira nova ou um jogo de dormitório com camas e guarda-roupa combinando. Foi o

bom negócio” era outra de suas máximas. Partindo para caprichos que vão bem além do trivial, quem não quer um Van Gogh, um Picasso, um Klee na parede da sala ou pronto a ser passado nos cobres em algum leilão repleto de ricaços chineses? Mas quem realmente pode? O editor alemão Benedikt Taschen (1961) intuiu essa vontade e sua empresa, a Taschen, notabilizou-se pelos livros de

de 19 anos, Mike Oldfield, foram rejeitadas por inúmeras companhias. Quem se interessaria por aquele som lento, chato e sem letra? Branson viu de outro jeito: era trilha sonora perfeita para harmonizar com um fuminho ou outros aditivos, coisa de se ouvir largado no almofadão hippie. Botou o moleque em seu estúdio recém-instalado com a ajuda de mamãe Branson e, em 1973, Tubular Bells foi o primeiro lançamento da Virgin Records e um dos discos mais vendidos do mundo. Usado como trilha sonora do blockbuster O Exorcista, foi ainda mais longe – hoje não há quem o ouça sem relembrar Linda Blair girando o pescoço em 360 graus. O toque de Branson foi sacar o que nascia nas ruas e nos quartos, o que a

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que o polonês Samuel Klein (1923-2014) farejou. Sobrevivente de Auschwitz, aportou no Brasil em 1952 e começou sua fortuna empurrando uma carroça, vendendo cobertores a operários nordestinos que tentavam a sorte em São Paulo. Vendia a prestações, algo inédito naqueles idos. Foi o homem que inventou o crediário no Brasil e, em pouco tempo, era dono do império Casas Bahia, rede que no começo do século 21 contava com 560 lojas no país. “A riqueza do pobre é o nome. O crédito é uma ciência humana, não exata”, dizia ele sobre o segredo do seu toque de Midas. Era a confiança, além da cabeça boa para contas. E a lábia de vendedor: “De um bom namoro, sai um bom casamento. Da boa conversa, sai um

AP images ©

Taschen apostou em livros de arte acessíveis. Branson, em um disco que ninguém queria. Klein, em crédito para pobres. Jobs, em tecnologia com design de vanguarda. Todos tiraram a sorte grande

O toque de Midas costuma ser associado a Benedikt Taschen e Richard Branson

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fotos © reprodução

arte primorosos, porém acessíveis, compilando os gênios da pintura e também a iconografia pop dos últimos tempos da história: tatuagens exuberantes, cortesãs desnudas do século 19, dançarinas burlescas, fisioculturistas gays e até um espesso livro sobre esse obscuro objeto, o pênis, um de seus grandes sucessos de venda. Desejos. “Benedikt me lembra uma figura da antiga Hollywood – o chefe de estúdio, alguém que está em forte posição de comando e tem sua mão em tudo”, disse sobre Taschen o cineasta Billy Wilder, outro “menino do dedo verde”. Traduzindo: é o olho do dono engordando a boiada, um olho na brasa e outro na sardinha ou, no fim das costas, olho vivo, simplesmente. Olhar de águia que precede o toque, a investida sedutora e fatal que esses e outros visionários souberam injetar. Steve Jobs (1955-2011), o mais celebrado, não fugiu ao perfil. Manjou antes de todos o que ninguém poderia imaginar: em pouco tempo, teríamos o mundo na palma da mão. O cara tinha pegada. P Samuel Klein e Steve Jobs investiram nas carências. De crédito e de informática

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adega

Por MAURO MARCELO ALVES retratos NILO BIAZZETTO NETO

Um brinde à crise Junior Durski tem mais de 80 restaurantes, um deles com a maior carta de vinhos do país. E ele quer ir além!

N

o princípio, era o fracasso.

que ele chama de “Abilionário Diniz”. Expli-

da crítica. Surgiu um imóvel para alugar ao

Um, dois, três, quatro, cinco,

ca: “É meu ídolo. O cara tem quase 80 anos e

lado e montou o Madero Prime, o primeiro

seis restaurantes que não

bota no bolso gente de 50”.

daqueles seis cujos efeitos no caixa poderiam fazer qualquer um pedir o boné e sair de

davam resultado. E agora,

até o final de 2016, serão 85 restaurantes

Marketing do bem

fininho. Mas não Junior Durski, que mudou o

funcionando a pleno lucro, com a empresa

Aqueles primeiros restaurantes Madero

nome para Madero Burger Express e, bingo!,

avaliada em R$ 2 bilhões e planos para o fu-

dos anos 2000 de Junior Durski, ou Luiz

deu um tapa para baixo de 42% nos preços. A

turo imediato de cinco novas unidades nos

Renato Durski Junior, nascido em Pru-

gula do pessoal foi atingida de cheio, via bol-

Estados Unidos. Tudo amparado em um

dentópolis, a 200 quilômetros de Curi-

so, e o movimento propeliu feito um foguete.

projeto tão ambicioso quanto o tradicional

tiba, ficaram na memória como um duro

lema que adorna a fachada de cada filial do

aprendizado. Tão forte quanto os 15 anos

ter aprendido que “pobre precisa pagar

Madero: “O melhor burger do mundo”. Mas

que passou como madeireiro na Amazônia

barato e rico adora pagar barato”, para

o slogan vai mudar.

– daí o nome Madero de sua empresa e de

consagrar a fórmula do bom preço com uma

seus restaurantes –, onde apanhou malária

qualidade que pudesse distinguir a marca.

preendedora em tempos tão oscilantes? A

três vezes e achou que, na última, iria ter

E então o burger com o mix de fraldinha e

resposta de Junior Durski vem na mesma

uma conversa com São Pedro. Em Macha-

contrafilé, mais 15% de gordura, se tornou

rapidez do crescimento de seu grupo: “Decidi

dinho d’Oeste, Rondônia, sem nenhum

a estrela do cardápio eclético dos diversos

não participar da crise”. Ele conta que o con-

restaurante, pilotou fogões no dia a dia em

Madero. Estejam onde estiverem, recebem

junto dos negócios teve um crescimento de

sua casa e gostou. Detalhe decisivo quando

suas cotas dos afamados discos de carne

nada menos que 40% no primeiro semestre,

resolveu deixar a exportação das pranchas

(a matéria-prima é da gigante Marfrig,

caminhando para o mesmo desempenho até

de madeira, já de volta ao Paraná, para en-

terceira maior produtora de carne bovina do

dezembro e avançando 2017 afora. “Enquan-

carar a incerta rotina da cozinha profissio-

mundo) e outras guloseimas preparadas na

to falam em crise, ocupamos o espaço de

nal. Antes do Madero, em 1999, inaugurou

megafábrica de Ponta Grossa, despachadas

quem está saindo”, resume. “Temos ofertas

em Curitiba o Durski, com comida de jeito

em caminhões refrigerados.

de pontos em várias partes do Brasil, com

polonês e ucraniano para atender o pessoal

aluguéis muito baratos. Para mim, construir

dessas colônias vigorosas no Paraná.

Como entender essa avalanche em-

Por que esse esquema, Junior Durski? “Sempre fui um desesperado pela qualidade.

Mas o vigor da comida e dos frequen-

Garantimos isso centralizando tudo o que a

Simples assim é a fórmula revelada por esse

tadores não foi suficiente para sustentar o

gente consegue”, explica. “Na fábrica eu faço

paranaense de 54 anos que planeja trabalhar

restaurante, que deu prejuízo nos seis anos

o hambúrguer, bacon defumado, linguicinha,

por décadas ainda, se espelhando em alguém

iniciais, apesar dos prêmios e louvações

alguns acompanhamentos, o pão e também

um restaurante hoje é muito mais fácil.”

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É dessa época que Junior Durski disse

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O chef empresรกrio no restaurante Durski

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Adega

A carta de vinhos do restaurante Durski, de Curitiba, o primeiro aberto pelo empresário, tem 170 páginas e muitas raridades

A informação de motivo geográfico

que era meu funcionário, um garçom, por

petit gâteau de doce de leite e o que mais preci-

sobre a escolha da Flórida é completada por

exemplo, que foi subindo, virou subgeren-

sar e distribuo para o Brasil inteiro com meus

outra de suas frases retumbantes: “Depois a

te, depois gerente e aí eu convido para ser

caminhões. É assim que eu controlo tudo.”

gente sobe pelo país, vou dominar lá ainda.

meu sócio gestor”, ensina. “A partir desse

Os americanos vão comer a nossa carne,

momento ele tem um salário fixo e mais um

bacon, pão e tudo o mais”.

percentual sobre o lucro do restaurante. E,

porciono as carnes. Faço também o sorvete,

Se alguém pensa que ele é meio maluco de fazer isso em um país continental, deve

se ele não fizer as coisas como eu quero, dis-

O faturamento previsto para este ano é de R$ 457 milhões. O desafio agora será montar restaurantes para vender hambúrguer nos Estados Unidos. Ele não tem dúvida: “Vamos dominar”

penso o cara e pronto. Isso não dá pra fazer com o franqueado de uma hora pra outra.” Para nutrir sua locomotiva gastronômica, o grupo Madero contou com a partici-

preparar-se para ouvir esta: a partir de 2017,

pação do fundo de investimento paulistano

onde quer que seja. “Tenho pavor de tercei-

HSI, que no ano passado injetou R$ 88

Junior, pretende abarrotar um container com

rização. Ela te dá facilidade e flexibilidade,

milhões nas operações. Mas o empresá-

tudo o que elencou no parágrafo anterior e

mas não garante qualidade. Nunca.” Mais

rio avisa: já vai quitar essa grana a partir

vai enviá-lo à Flórida a cada 10 ou 15 dias,

uma questão a se pensar sobre os métodos

do próximo ano. Para isso, conta com um

aproveitando o fim da barreira de importa-

do empresário, que trafegam na contramão

faturamento previsto de R$ 457 milhões

ção de carnes brasileiras determinado pelo

da moda atual de franquias a torto e a direito.

em 2016, quando terá vendido mais de 7

governo americano. Lá estarão os seis Ma-

“O franqueado muitas vezes pensa que é só

milhões de hambúrgueres.

dero de sua investida inicial nos EUA. Um já

apertar um botão e a coisa sai funcionando.

existe em Miami, tocado por sua filha Laysa,

E não é assim, depende de muito trabalho.”

confeiteira diplomada pela Cordon Bleu de Paris. Os outros cinco estão a caminho.

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E nada de franquias, aqui no Brasil ou

o empresário, que gosta de ser chamado Chef

Mas com 85 restaurantes... “Eu tenho em cada um deles um sócio gestor, um cara

Mas nem só de números e metas financeiras vive Junior Durski, que sabe ter uma convivência proveitosa entre o negócio e o prazer que essa atividade permite. Estamos

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foto: gerson lima

Na adega, há nada menos que garrafas de 78 safras de Château d’Yquem. Faltam apenas cinco para completar a coleção do século passado

falando da impressionante adega de vinhos

os cachos precisam estar generosamente

3 mil funcionários, quero ter 10 mil. Se me

do restaurante Durski, alimentada com

atacados por um fungo, Botrytis cinerea, que

perguntar aonde quero chegar, essa é uma

milhares de garrafas das principais regiões

desidrata a uva e concentra o açúcar, provo-

pergunta que vou levar para o caixão.”

produtoras ou curiosidades de países menos

cando aquilo que os franceses chamam, com

conhecidos por sua atividade vinícola, como

esnobismo enviesado, de “podridão nobre”.

Bolívia, China, Marrocos, Israel e Tunísia.

Bebe ou só coleciona as quase 400 garra-

E então lembro sua frase sobre “dominar lá ainda”, sendo que o “lá” é nada menos que os EUA, e se ele pretende manter o slogan

fas desse vinho? “Já bebi um de 1922 e, de vez

“The best burger in the world” justo na terra que

desde vinhos nacionais singelos, a R$ 70,

em quando, para comemorar algo, abro uma

consagrou o sanduíche global. Junior Durski

passando pelo Château Changyu Castel

garrafa.” Pretende ir atrás das cinco safras

diz que não. Esperteza, tino comercial, bom

Cabernet, chinês de R$ 470, até o Roma-

que faltam? “Só não completei as cinco que

senso? Antes de responder, ele justifica que

née-Conti 1992, por R$ 135.820. Mas

faltam para não dar game over. Senão, acaba

agora está pensando muito no meio ambien-

nada se compara ao seu xodó, o vinho doce

a diversão...” E quanto estaria custando esse

te e naquilo que pode realizar na parte social,

natural Château d’Yquem, de Bordeaux,

entretenimento? Ele fala que não faz ideia,

com a realização de 40 eventos beneficentes

capaz de alcançar preços impertinentes.

mas dá uma pista: “No ano passado foi

durante o ano. “Pra gente não pensar só

Pois Junior Durski tem 78 safras diferentes

realizado um leilão em Nova York de todas as

em dinheiro”, garante, concluindo: “Sei que

na adega, inclusive uma de 1893. Mais es-

safras do Yquem do século 20 e o valor final

o slogan sempre foi muito provocativo. A

pantoso ainda: só faltam cinco safras para

alcançou US$ 1,6 milhão”. Poupança líquida.

ideia foi provocar o cliente para que entre

Há nas 170 páginas da carta do Durski

completar toda a coleção do último século,

Estaria já plenamente realizado?

e experimente pra ver se é mesmo. Não

“Que nada, nem comecei!”, avalia. “Estou

passamos vergonha com esse slogan, mas a

no momento mais feliz da minha vida,

partir do ano que vem vamos mudar para:

é engarrafado em determinados anos se a

continuo fazendo planos para os próximos

“O hambúrguer do Madero faz o mundo um

colheita for apenas regular. Isto é, para encher

dez anos, não vou diminuir o ritmo. Corro

pouco melhor’”. Sai a provocação, entra o

as garrafas que irão durar mais de um século,

todos os dias, mantenho o peso. Tenho

assim chamado marketing do bem.

vinhos de 1900 a 1999. Para preservar sua mística, o Yquem não

P

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Cult

Por WALTERSON SARDENBERG Sº

Com a palavra,

David Levine J

udeus americanos, donos de um senso de humor demolidor, nova-iorquinos da gema ou por adoção, eles se celebrizaram por meter o nariz onde não foram chamados. A cada investida, atraíam levas de fãs – e igual número de desafetos. Quem? Groucho Marx, Philip Roth, Woody Allen, Jules Feiffer, Bob Dylan, Lenny Bruce, Jerry Seinfeld, Larry David. Todos habilíssimos adestradores das palavras, frasistas memoráveis. Menos um. E não estamos falando de Harpo Marx. Desenhista e pintor, David Levine, tido pelo dramaturgo e parceiro de prancheta Jules Feiffer como “o maior caricaturista da segunda metade do século 20”, jamais precisou recorrer a uma única palavra em sua vastíssima obra. Jamais. Uma economia radical a que nunca se obrigou seu colega de nanquim Saul Steinberg – também judeu, também morador de Nova York, também antológico e igualmente parcimonioso com relação às letrinhas. Em

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uma de suas últimas entrevistas, Levine explicou: “Se eu não conseguisse dar conta do recado igual a Charlie Chaplin, palavra alguma poderia me ajudar”. Mesmo sem se valer de uma sílaba sequer, Levine era tão temido quanto o mais loquaz dos iconoclastas. Morreu em Manhattan a 29 de dezembro de 2009, nove dias depois de completar 83 anos. Não foram poucos os caricaturados que respiraram de alívio. E olhe que, vítima de uma doença ocular degenerativa, Levine deixara de desenhar havia dois anos . Ele não poupava ninguém. Retratou Andy Warhol como o idiota Alfred E. Neuman – o sardento personagem da revista MAD. Desenhou Jackson Pollock urinando como se estivesse pintando uma de suas telas abstratas. Traçou Pablo Picasso à frente de um caminhão lotado de Picassos, como um mercantilista mundano. Estampou a antropóloga americana Margaret Mead com os seios nus, tal David Levine por David Levine

ilustrações david levine © reprodução

Há 90 anos nascia um mestre fundamental na história da caricatura

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qual uma nativa do Pacífico Sul, objeto de seus estudos. O canadense Marshall McLuhan, autor da máxima “o meio é a mensagem”, foi mostrado com expressão parva, recebendo uma massagem – brincadeira com o título de um de seus livros, O Meio é a Massagem. E até Marilyn Monroe, pobrezinha, despontou no papel com um taco de beisebol na mão direita e os lábios inchados de quem levara umas bordoadas. Levine admitiu: arrependeu-se dessa caricatura como daquela em que ironizou Oscar Wilde, lânguido e efeminado, segurando uma sapatilha de balé. Ambos os desenhos datam dos anos 1960, quando a onda do politicamente correto não passava de marolinha. Levine, a rigor, não perdoava nem a si próprio. Seus autorretratos revelam um sujeito corpulento e feioso, com um nariz avantajado e macilento. A mão de Levine se tornava ainda mais devastadora ao desenhar políticos. As vítimas podiam ser Yasser Arafat e Ariel Sharon, representados como David e Golias. Ou Vladimir Putin, vestido de monarca. Óbvio que os políticos

americanos sempre mereceram dele atenção especial. Que o diga o todo-poderoso secretário de Estado Henry Kissinger, nascido na Alemanha mas radicado nos EUA. Ele apareceu nu, sobre uma mocinha frágil de pernas abertas – cuja cabeça, exagerada, nada mais era do que o planeta Terra. As feministas bufaram, pois a moça, a julgar pelas unhas cravadas no lençol, sentia óbvio prazer. Já o inominável Richard Nixon foi presenteado com nada menos que 66 caricaturas – contando apenas aquelas publicadas no tabloide literário The New York Review of Books. “Só a sátira política pode salvar um país do inferno”, costumava dizer Levine. Ele escrachou Nixon com as fitas de Watergate saindo do bolso e também na pele do mafioso Don Corleone, de O Poderoso Chefão. Mais: retratou-o colocando documentos num triturador de papéis – desenho encomendado e recusado pelo jornal The New York Times. Da mesma maneira, não deu trégua às mentiras de Lyndon Johnson, retrata-

Marilyn Monroe, Maria Callas e o quarteto Karl Marx, Vladimir Lênin, Leon Trotsky e Joseph Stálin

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do como Pinóquio. Em outro desenho, o antecessor de Nixon na Casa Branca surge chorando lágrimas em forma de crocodilos – e crocodilos vertendo lágrimas em forma de Lyndon Johnson. Ainda era pouco. A caricatura de Johnson exibindo uma cicatriz no estômago com o formato do mapa do Vietnã – ele sofrera uma cirurgia pouco antes – foi, no entender da revista Time, mais destruidora do que qualquer fotografia. É claro que também sobrou para outros pre­sidentes. Que tal Ronald Reagan regurgitando mís­­­seis em uma pia? Ou George Bush, pai, como um títere de Dick Cheney, seu vice-presidente e principal arquiteto da Guerra do Golfo? Os de-

mocratas também tiveram sua cota de bílis, fossem os refinados Kennedy ou o caipira Jimmy Carter, delineado como um cavaleiro às avessas, montado por um equino. Bill Clinton foi apresentado como farsante. Barack Obama, como alguém fora de foco. Levine não deixava barato. Mas era modesto e realista: “Nenhum governo caiu por causa das minhas caricaturas”. Quando os hereges fradinhos desenhados pelo nosso Henfil, a quem apadrinhou em Nova York e com quem chegou a fazer um cartum em parceria, passaram a ser rechaçados pelos leitores e, por fim, cancelados pelo distribuidor que os contratara, Levine consolou o colega brasileiro. “Isto é para sua lição. Como é que você queria que um povo que votou esmagadoramente em Nixon por duas vezes, e votaria de novo se ele se candidatasse, fosse aceitar os fradinhos?” Dito assim pode parecer que Levine dedicou a maior parte de seu trabalho à sátira política. Não foi o caso, embora lhe vestisse bem na biografia. O pai, dono de uma pequena

ilustrações david levine © reprodução

Uma caricatura de Henry Kissinger nu, sobre uma mocinha frágil de pernas abertas – cuja cabeça, exagerada, era o planeta Terra – irritou as feministas. É que a moça retratada está sentindo prazer

Lyndon Johnson e a cicatriz em forma de Vietnã; e Henry Kissinger, o fauno

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confecção, e a mãe, enfermeira, vinham da classe trabalhadora. Eram militantes do Partido Comunista. A carreira de Levine na imprensa começou cedo: distribuindo de mão em mão o Daily Worker, diário do PC, pelas docas do Brooklyn, bairro onde o garoto nasceu e viveu. Publicou seus primeiros desenhos em The Masses, outro periódico da left wing – ele que sempre esteve mais preocupado com o destino das massas do que com o das elites. Proclamava-se comunista até o fim, lamentando com amargura que os soviéticos tivessem há tempos deixado de sê-lo. Um de seus trabalhos mais críticos é a caricatura de Stálin circundado pelos corpos decapitados dos generais que assassinou. Instant karma

A rigor, Levine nem sequer preferia as caricaturas. Deixava isso claro. No apartamento que dividia com a segunda mulher, a enfermeira (sim, tal como a mãe do desenhista) Kathy Hayes, uma ou outra caricatura

foi enquadrada e pendurada nas paredes – um autorretrato adornava o quarto do casal. O resto eram aquarelas feitas por ele. Ali estava a paixão estética do jovem estudante de arte do Brooklyn Museum e do Pratt Institute, na Filadélfia: pinturas figurativas retratando trabalhadores do Brooklyn pegando no batente ou descansando na praia de Coney Island, a ilha aterrada transformada em península que é uma extensão do bairro. A dignidade dos personagens aponta para o realismo socialista. Mas a técnica e os tons pastel mais se assemelham ao impressionismo. Em um encontro com outro monstro sagrado do nanquim, o argentino Hermenegildo Sábat, Levine comentou sem esconder a autoindulgência: “Sou um pintor sustentado pelas caricaturas”. Ao longo dos anos 1950, Levine viveu das aquarelas (vendia cada uma por no máximo US$ 75) e de ilustrações para publicações

George W. Bush, Barack Obama e Hillary Clinton: sobrou para todos

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Billie Holiday e Elvis Presley: os mega-astros da canção americana no traço personalíssimo de Levine

de menor expressão. Até que em 1958, aos 32 anos, publicou a primeira caricatura na Esquire. Seriam mais de mil para a revista – boa parte com políticos. Sempre requisitado, fez quase uma centena para a Time e 71 para a New Yorker. Publicou em títulos tão diferentes quanto a Rolling Stone e a Sports Illustrated. O grosso ficou reservado para The New York Review of Books, para o qual colaborou desde as primeiras edições. O convite partiu de Robert Silvers, fundador do jornal ao lado de Barbara Epstein. Tratando-se de uma publicação voltada para as artes (“um bastião da alta cultura”, segundo Paulo Francis), com especial apreço por longos ensaios literários, é natural que

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a maioria das caricaturas fosse de pensadores, escritores e políticos. Na sua estreia, em fevereiro de 1963, Levine retratou Albert Camus para um artigo de Susan Sontag. “Não passo de um caricaturista literário iletrado”, brincava, ressaltando que, nos tempos de escola, foi bom aluno de uma única matéria: voleibol. Entre 1963 e 2006, ele fez mais de 2.800 caricaturas para o New York Review of Books. Funcionava assim: quinta-feira sim, quinta-feira não, ao longo de mais de 40 anos, um mensageiro do jornal o encontrava no clube em que jogava tênis, a poucos quarteirões de casa. Ele lhe entregava um envelope com fotos dos personagens a serem retratados, junto com uma cópia dos textos. Na terça-feira seguinte, as encomendas eram retiradas no mesmo endereço. Ritualístico, Levine desenhava no mesmo quarto, com

ilustrações david levine © reprodução

Apesar da fama, Levine se considerava um pintor frustrado. Gostava mesmo é das aquarelas em que retratava trabalhadores anônimos no batente ou de folga na praia de Coney Island

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O caricaturista não foi nada benevolente com os artistas plásticos Jackson Pollock e Andy Warhol

luz artificial. Preferia bico de pena Gillot 102 e papel Strathmore, de textura encorpada. Cada folha media 35 cm por 28 cm. Seu ofício era desvendar a essência do personagem e expô-la; revelar o todo pela minúcia, numa versão minimalista da descoberta, quase mediúnica. Aquilo que alguns místicos chamam de instant karma, os publicitários de insight, e os pedantes de epifania. Levine confessou: muitas vezes essa revelação só se dava em meio ao desenho. “Sempre me atribuíram uma capacidade de captar superior à de qualquer psicanalista de renome”. A questão do prepúcio

“Levine exerceu uma grande influência na caricatura no mundo inteiro, inclusive no Brasil; basta ver o belo trabalho dos irmãos Chico e Paulo Caruso”, resume o desenhista, pintor e diretor de arte Zélio Alves Pinto, 78 anos. “O traço

dele é elaborado, ao contrário de uma caricaturista intuitiva como a nossa Hilde Weber, que em dois minutos resolvia a questão.” Para Zélio, o desenho de Levine não tem exageros. “É quase um retrato.” Baptistão, 50 anos, que foi caricaturista diário de O Estado de S.Paulo no decorrer de mais de duas décadas, e hoje colabora com o jornal, também sublinha a contenção do traço. “A distorção da figura humana é sutil. Numa palavra: elegante”, avalia, salientando o domínio da técnica do claro-escuro e a soberba maneira de sombrear. Já Fernandes, 57 anos, há mais de três décadas caricaturista do Diário do Grande ABC, aprecia o rigor da composição. “À primeira vista pode parecer um desenho carregado, com traços demais”, diz. “Mas nada ali sobra. Cada tracinho tem uma função.” A elegância do desenho traduz a elegância do mitológico The New York Review of Books, ao qual a assinatura de

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David Levine estará associada para sempre. Da mesma maneira, suas caricaturas continuarão intrinsecamente ligadas à vida da elite intelectual de Nova York, assim como as exposições do MoMA e os radicais chiques de Tom Wolfe. Nesse sentido, é mais que simbólica a escolha de Philip Roth pelo caricaturista para reintroduzir seu alter ego Nathan Zuckerman, até então morando no campo, ao circuito da intelligentsia nova-iorquina, no impactante romance Fantasma Sai de Cena (Exit Ghost). Atraído pelas caricaturas de David Levine em uma edição especial do The New York Review of Books, o protagonista compra o jornal e, por meio de um anúncio classificado, conhece um jovem casal de escritores imbuído em fazer o caminho inverso de Zuckerman: trocar por algum tempo o apar-

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tamento em Manhattan por um refúgio no interior. Philip Roth e David Levine tinham muito em comum. Certa vez o escritor encontrou casualmente o desenhista na rua. Dias antes havia sido premiado com uma caricatura que lhe acentuava o já bem dotado apêndice nasal. “O que você fez com meu pequenino nariz goyish?”, brincou. Talvez tivesse sido pior se Barbara Epstein não houvesse certa vez censurado outra caricatura de Philip Roth feita por Levine, esta bem mais contundente. Nela, a camisa de gola rulê do romancista se insinua como um prepúcio, fazendo jus à sua fama de obcecado por sexo. Roth poderia se irritar. Ou, quem sabe?, talvez tivesse se divertido um bocado. O desenho, afinal, poderia ser visto como uma piada familiar. Uma private joke, como dizem os americanos, entre caricaturista e caricaturado – ambos privados do prepúcio desde o berço. P

Yvonne Hemsey © getty images

Levine (abaixo) pendurava nas paredes de seu apartamento principalmente as próprias aquarelas. Em especial, as de banhistas

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capa POR FERNANDO PAIVA, LUCIANA LANCELLOTTI E MAURO MARCELO ALVES retratos juan esteves

a vida é vinho E o vinho tem sido tudo na vida de ciro lilla. Aqui, o dono das importadoras mistral e vinci fala da paixão pela bebida que marca seu dia a dia nos últimos 40 anos

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capa

C

iro de Campos Lilla é um dos mais respeitados comerciantes de vinho do Brasil – se não o mais respeitado. Paulistano da gema, safra 1948, ele descende de pernambucanos por parte de mãe e de italianos por parte de pai. Geminiano que sempre se esmerou em fazer tudo by the book, aos 68 anos recém-completados ele comanda as importadoras Mistral e Vinci. Organiza também, a cada dois anos, um dos mais concorridos eventos do setor, o Encontro Mistral, por meio do qual costuma trazer até 90 produtores do exterior para que apresentem pessoalmente seus rótulos a um público cada vez mais numeroso e exigente. Vinicius de Moraes que nos perdoe, mas para Ciro o vinho, e não o uísque, é o melhor amigo do homem – o cachorro engarrafado. Como escritor, Ciro assina Introdução ao Mundo do Vinho, publicado pela editora Martins Fontes. O livro lembra o dono: simples, didático, assertivo. Trata-se de uma adaptação dos programas apresentados pelo autor na rádio Bandeirantes de São Paulo. Seu objetivo é claro: descomplicar o mundo do vinho, missão que cumpre de maneira cristalina. Homem de fala pausada, dono de um humor todo especial e de uma ironia elegante, Ciro tem ainda um terceiro lado – este bem menos conhecido. É o presidente da Companhia Lilla de Máquinas, Indústria e Comércio. Fabricante de maquinário de ponta para a torrefação de café, trata-se de uma empresa de capital 100% nacional, presente em 62 países e que – pasme! – está nas mãos da família desde o governo Wenceslau Brás: em 2018, a Lilla completa um século de existência. Em boa parte graças à máquina aperfeiçoada no fim dos anos 1960 por Ciro, então aluno do segundo ano de engenharia mecânica da Escola Politécnica da USP, pela qual se graduou. Patenteada, a revolucionária torradora de café tirou a Lilla do fundo do poço financeiro e a fez prosperar como nunca.

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Fanático pela leitura desde criança, quando devorava romances de aventura como Vinte Mil Léguas Submarinas e Os Três Mosqueteiros com a mesma emoção com que jogava futebol nos campos de várzea da Vila Mariana, esse torcedor apaixonado pelo São Paulo Futebol Clube se orgulha de enfileirar, em sua ampla biblioteca, mais de 700 volumes dedicados a outra mania: Napoleão Bonaparte. Entre eles Napoleon – A Life, do historiador londrino Andrew Roberts, lançado em novembro de 2014 e que ele leu em inglês. “Embora não tenha saído em português, é a biografia definitiva de Napoleão”, afirma. A devoção é tamanha que, da longa e agradabilíssima conversa – mais de três horas – levada a cabo na sede da Mistral em São Paulo, no bairro da Bela Vista, um terço foi dedicado ao corso que dominou boa parte do mundo no século 19. E isso graças aos pedidos insistentes dos entrevistadores para que Ciro não parasse. Só ela daria uma entrevista completa, cheia de detalhes curiosos, engraçados e saborosos. Com todo esse background, não admira que o amor pelo vinho, fulminante e irremissível, surgisse em outro local que não uma livraria. Materializou-se por meio da capa vermelha da Larousse des Vins, enciclopédia francesa em um volume, em 1976, num sábado que até hoje Ciro rememora com os olhos a brilhar. “Comecei a ler às 2 e meia da tarde, às 7 da noite era fanático por vinho.” Depois de quatro décadas vendendo e comprando a bebida, ele confessa não ter ideia de quantas garrafas mantém na adega de seu apartamento em São Paulo ou em sua casa de campo no interior paulista. “Vou todo fim de semana para lá, mas quem cuida da adega é uma funcionária que está conosco há mais de 20 anos.” Em 1912, ao analisar a limitação corporal e a diferenciação sexual, Sigmund Freud cunhou a célebre frase “anatomia é destino”. No caso de Ciro de Campos Lilla, porém, o vinho é tão marcante que a frase seria outra: “Toponímia é destino”. Seu sítio, afinal, fica em Vinhedo. (FP)

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Ciro aos 68: um homem que importa

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capa THE PRESIDENT: Onde e quando você nasceu?

Em São Paulo, na Pro Matre Paulista, em 15 de junho de 1948. Sou um geminiano típico: gosto de coisas diferentes, de novidade. Não sou perfeccionista, mas odeio coisa malfeita. E onde você estudou?

Fiz o jardim da infância num colégio de freiras. Tinha uns 6 anos, mas não gostava. Comecei a tirar o sapato, a jogar longe... Aí a freira chamou meus pais e disse que eu daria muito trabalho na escola. Deu?

Um pouco. Eles ficaram assustados e me colocaram no Liceu Pasteur [tradicional escola franco-brasileira no bairro da Vila Mariana]. Cursei primário e ginásio lá. Depois fui fazer o colegial no Bandeirantes. Sempre fui muito bom aluno e razoavelmente indisciplinado. Tanto que, no terceiro colegial, minha turminha e eu tomamos uma suspensão de sete dias. E cadê a coragem pra contar em casa? Suspenso no ano do vestibular? Você não contou?

E os Lilla?

Meu avô, Vitantonio Lilla, foi um imigrante italiano que veio para o Brasil no fim do século 19. Era de Polignano A Mare, perto de Bari, capital da Apúlia. Era um empreendedor, fez diversas coisas. Alguém que admiro muito, sempre me identifiquei com ele. Teve sete filhos, um dos quais queria batizar de Amirante... Amirante?

Sim. O escrivão errou, colocou Almirante e o resultado foi que esse tio meu passou a vida dando carteirada [risos]. Bastava puxar a identidade que era tratado como rei. Na hora de viajar de avião, nas repartições públicas... Almirante Lilla. Você disse admirar muito seu avô.

Não. Saía de casa e ia para a Biblio-

Sim. Na época da Primeira Guerra

teca Municipal estudar. Depois chamaram meu pai e disseram que só não me expulsaram porque eu era o melhor aluno da escola... Eu aprontava muito com os professores, era muito piadista.

Mundial ele abriu uma torrefação na praça da Sé, a Café Thesouro. As máquinas eram italianas ou alemãs, e por causa da guerra cessou a importação de peças. Era muito inventivo e começou a fazer peças de reposição, inicialmente para ele. Depois para os colegas, para os pequenos moinhos. Até que, em 1918, fechou a torrefação e abriu uma fábrica na rua Lavapés, no Cambuci – Companhia Lilla de Máquinas, Indústria e Comércio. Depois a empresa se mudou para o Brás.

Você prestou vestibular para quê?

Desde criança achei que seria médico, talvez por influência da minha mãe. Até que descobri o ITA e me encantei com a ideia de ser engenheiro aeronáutico. No final, acabei prestando USP, engenharia mecânica na Poli. Entrei em 1966, me formei em 1971. Quem são os Campos Lilla?

Os Campos são da família da minha

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mãe, pernambucanos. Meu bisavô, Valfredo de Campos, estava destinado ao seminário, mas fugiu, veio para São Paulo. Não queria ser padre, gostava de mulher. Foi mulherengo até morrer, aos 92 anos. O filho dele se casou com minha avó materna, filha de portugueses, e foi um grande proprietário de imóveis.

E como era o Vitantonio Lilla?

Muito rigoroso, mas adorado pelos filhos. E muito inovador. Fabricava tudo

o que ia numa torrefação de café. Depois passou a fazer picador de carne, enchedeira de linguiça, ventilador de teto. Porque, na época – 1930, 1940 –, o café torrado era empacotado em papel e durava no máximo uma semana. Então, toda cidade tinha uma torrefação. E a Lilla, por ter sido a primeira fabricante de máquinas de torrar café, tinha um nome muito bom. Chegava pedido do Brasil todo. Por um tempo, foi a única fabricante. Depois apareceram as concorrentes, que aliás acabaram fechando. Enquanto a embalagem era de papel, foi um bom negócio. Depois começaram a empacotar a vácuo…

Exatamente. E o mercado caiu de forma drástica. Para se ter uma ideia, a Dinamarca tinha cem torrefações – hoje, tem só uma. Você torra num ponto e distribui para o país inteiro, pois o café dura seis meses, um ano. Meu avô morreu em 1948, quando nasci. Meu pai e meus tios, cada um passou a cuidar de uma parte. O pecado é que ninguém ali era engenheiro, nenhum entendia de máquina. E nos anos 1960 a empresa estava muito mal. É quando você entra na história…

Sim. Em 1968 eu estava no segundo ano da Poli quando houve um churrasco para comemorar os 50 anos da firma. Foi quando um tio me explicou como funcionava um torrador de café. Cheguei em casa, me deitei e, na cama, bolei uma torradora. Era um sistema revolucionário que, graças a uma simples portinha, eliminava metade da máquina. A Lilla estava tão endividada que pagava de juros o que faturava. Mas resolveu fabricar a minha máquina. Me lembro de o meu pai chegar de madrugada e perguntar: “Vai dar certo a máquina?”.

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Deu?

Sim. A máquina salvou a Lilla, foi patenteada, fiquei sócio e construímos a fábrica nova, na beira da via Dutra, em Guarulhos, onde está até hoje. Depois de me formar, houve uma época de prosperidade para a Lilla, vendemos máquina no Peru, na Venezuela, nos Estados Unidos, num total de 62 países. Eu me orgulho muito disso. Quanto custa uma máquina dessas, Ciro?

De R$ 1 milhão a R$ 3 milhões. E tudo o que quero é chegar logo a 2018 para ver a empresa completar cem anos. É mesmo para se orgulhar: empresa que completa um século de atividades, com capital 100% nacio-

enciclopédia. Aquilo foi uma revelação. Me encantei de forma absurda e comecei a comprar livro, livro, livro. E quando ia aos Estados Unidos para vender máquina…

Aproveitava para comprar livros sobre vinho. Porque aqui não havia nada – taças, sommeliers, revistas a respeito... Mergulhei fundo, era um enófilo interessado, passei depois a escrever para a revista Gula. E participava de degustações. Foi quando o [chef italiano radicado no Rio] Danio Braga, que havia fundado a ABS – Associação Brasileira de Somme-

Olha, presidi a ABS de 1989 a 1991 e, modéstia à parte, acho que ela teve um papel importante, pois eu a encarei como uma empresa. Sempre fui muito de dar satisfação ao cliente. Para mim, o associado da ABS era um cliente. Oferecíamos degustações profissionais, os diretores eram proibidos de trabalhar com vinho. Hoje, nos eventos da Mistral, recebo 90 produtores do mundo inteiro, e eles dizem que o que mais os impressiona é o nível de conhecimento de vinho do brasileiro, muito maior do que o do francês médio. Então, está tudo certo com o vinho no

“Deitado na cama, antes de dormir, bolei uma torradora de café revolucionária. Ela salvou a fábrica nos anos 1960, quando a empresa pagava de juros o que faturava”

nal – e na mesma família – desde o governo Wenceslau Brás... Mudando de assunto: como você começou a gostar de vinho?

Eu tomava vinho esporadicamente, em restaurante e tal. Até que em 1976, com 28 anos, recém-casado, fui passear num sábado com minha esposa no Conjunto Nacional, na avenida Paulista. Entrei na livraria Cultura e comecei a folhear um exemplar da Larousse des Vins. Sempre fui rato de livraria, sempre gostei muito de ler. Criei meus filhos sem qualquer consumismo, mas dizia: “Só tem uma coisa que não tem limite de gasto: é livro”. A leitura foi um hábito que passei a eles – e que agora eles estão passando aos filhos. E aí você encontra esse exemplar em francês da Larousse do Vinho…

Lembro-me como se fosse agora: comecei a ler às 2 e meia da tarde. Às 7 da noite eu era fanático por vinhos. A paixão pelo vinho nunca mais me abandonou. É incrível que tenha começado com uma

liers – no Rio, me convidou para fundá-la em São Paulo. Mas isso só aconteceu em 1989. Lembro que naquele ano abriu um restaurante chamado Tasting, na Cidade Jardim. Fui com minha mulher e um casal de amigos. E a carta de vinhos era muito bem-feita. Mas tinha um errinho, um vinho que não era daquela uva. Pensei: “Um errinho só, não custa corrigir”. Chamei o maître – ele todo pomposo – e perguntei: “Vocês têm sommelier aqui?”. Ele respondeu: “Não, senhor, mas se o senhor quiser, posso pedir para preparar” [risos]. O meu amigo queria pedir um bem passado. Para vocês verem como mudou: o maître de um restaurante especializado em vinho nunca tinha ouvido a palavra sommelier. Nessa época os maîtres eram os reis, não? Mandavam em tudo. Ninguém sabia quem era o cozinheiro, não existia sommelier. O maître era a estrela. A relação com o vinho e com a gastronomia evoluiu bastante, não?

Brasil, menos os impostos, que destroem tudo e tornam o vinho caro. Por isso o consumo dele é pequeno. Como surgiu a Mistral?

A Mistral foi fundada por um francês, Gérard Weil, em 1974. Era pequena, mas de boa reputação. E aí ele vendeu para o [publicitário] Geraldo Alonso, da Norton, que havia adquirido também, ao mesmo tempo, quatro restaurantes aqui em São Paulo, entre eles o Santo Colomba. Era apaixonado por vinho e gastronomia, mas morreu de repente e os filhos não tiveram interesse em tocar o negócio. Um amigo, Antonio Lapa Silveira, falou: “Vamos comprar?”. Eu disse: “Eu já trabalho como louco...”. “Não, a gente vai ter muito prazer e pouco trabalho.” Um ano depois ele saiu [risos], porque dá muito trabalho. E aí?

Aí, mergulhei no negócio – como em tudo que faço na vida. Tinha um objetivo muito claro, que mantenho até hoje: ser a

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capa melhor importadora. Eu era o único importador que tinha vindo como consumidor, e tinha essa visão. Passei a fazer uma série de coisas que não se fazia aqui. Não havia catálogo, só lista de preços. Passei a fazer catálogos com informações sobre o produtor. Antes os produtores vinham ao Brasil, visitavam lojas e restaurantes e iam embora. Quando eu trazia um produtor, fazia uma degustação, chamava a imprensa, convidava consumidores. O que diferencia você dos demais importadores?

Quando comecei a vender para restaurante, me diziam que não tinha mercado para vinho bom, que ninguém entendia nada, que seria inútil oferecer. Aí comecei a fazer o pessoal experimentar.

baixamos o preço, explicamos por quê. E também explicamos para o produtor. E, para minha surpresa, a Mistral começou a crescer muito, se tornou muito respeitada. A palavra que nos define é respeito. Sua autoridade também vem do fato de você ser respeitado como degustador…

Tenho o que chamo de paladar universal. Se eu gosto, a maioria gosta. Não é defeito nem qualidade. É uma característica, apenas. Aquilo que me agrada, agrada à maioria; o que me desagrada, desagrada à maioria. A Mistral também se diferencia pelo atendimento, pelo nível de informação dos funcionários. Como eles são selecionados?

“alguém me disse: ‘Fulano só bebe PEtrus’. Eu falei: ‘Coitado, ele não sabe o que está perdendo. Com tanta coisa no mundo para tomar e você só toma uma delas? que pobreza’”

Acho que o grande segredo da Mistral foi a transparência, falar a verdade – com o consumidor, o produtor. Havia o hábito de se pagar o produtor com muito atraso. E a gente não atrasava um dia. Então começamos a fazer nome junto aos produtores. Nunca prometemos nada que não pudéssemos cumprir. Como a Mistral começou com uma coisa de paixão, fiz tudo do jeito que acho que as coisas devem ser feitas. O critério que usamos para definir qualquer coisa aqui é o que a gente acha certo. Baseados nas coisas em que vocês

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O primeiro critério é o caráter. Entrevisto quase todos que contratamos – vendedores, pessoal do marketing. Todo mundo acha que sou meio maluco, porque a entrevista é bem pessoal, fico batendo papo. Começo pela família, pergunto o que faz o pai, como é a mãe. Porque no fundo quero descobrir se a pessoa tem caráter. Tanto que é muito difícil sair da Mistral, as pessoas fazem carreira aqui. Tem gente que está conosco há 15, 20 anos. Tenho orgulho disso. Mas, Ciro, isso é algo bem old

Sempre administrei pelo bom senso, pelo equilíbrio. É o feeling, não? Sempre fiz o que achava certo, isso é algo muito forte para mim. Tenho uma dificuldade enorme de fazer qualquer coisa que eu não ache certo. Não sou ateu, sou agnóstico, e me lembro que certa vez um amigo disse: “Não entendo como você, um cara tão correto, pode não acreditar em Deus”. E eu disse: “Deus é fácil: você pede perdão e está tudo certo – eu tenho de me entender comigo mesmo”. Em tempos de crise, quais os desafios para os pequenos importadores e para os grandes, como você?

Olha, como dizia o título daquele livrinho que foi best-seller na década de 1960, o Brasil não é para principiantes. A aventura aqui não está na Amazônia, mas nos negócios. É quase impossível trabalhar com importação com o dólar valendo uma hora R$ 4, dali uns meses R$ 3,20 – e aí você não sabe se ele cai para R$ 3, ou vai para R$ 5. Você tem de ser muito cauteloso. Levo muito a sério pagar produtor, porque uma grande surpresa que tive no mundo do vinho foi descobrir a gigantesca disparidade entre o prestígio do produtor e o tamanho do negócio. Tem gente famosa, reverenciada, e aí você descobre que se trata de um negócio familiar, pequeno, que depende do trabalho da mulher, dos filhos. Então, se o Brasil é maluco, é culpa nossa – o dele precisa ser garantido. Você tem uma tese de que até um certo preço bebe-se vinho. A partir

acreditam?

school, não? Porque hoje ninguém

daí, começa-se a beber rótulo. Como

Sim. Isso vale para relacionamento com os funcionários, produtores, consumidores. Não tem mágica. Se a gente vai fazer uma liquidação, a gente explica por quê. Se o preço sobe, também. Se

tem mais pátria, ninguém tem ban-

é isso?

deira…

A partir de um certo ponto, o preço se dá exclusivamente pela lei da oferta e procura. Você não pode aumentar a produção de um Petrus, por exemplo. Quando re-

Pois é. Hoje a Mistral está entrando numa outra fase. Mas já estou velho para mudar. Nunca fiz um curso de comércio.

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solve comprar uma garrafa dessas, deixa o bom senso de lado para competir. Ou seja, você cismou que quer a mesma coisa que o Cristiano Ronaldo quer, que os maiores milionários querem. Há muita devolução de vinho caro. Porque a pessoa está acostumada a tomar um vinho de, digamos, US$ 100. Aí ela vai comemorar, compra uma garrafa de US$ 1 mil e espera uma experiência gustativa que não existe. O vinho de US$ 1 mil é um pouco melhor que o de US$ 100. E olhe lá. E então a pessoa abre a garrafa de US$ 1 mil, experimenta e diz: “Mas não pode ser só isso aqui”. Aí devolve o vinho. Quase todo vinho caro que chega devolvido é perfeito. Como você definiria o perfil do consumidor brasileiro? Há muito exibicionismo?

Acho que não dá para generalizar. Tem muita gente que entende bastante de vinho. Tem o novo-rico iniciante e tem o novo-rico que depois aprende, não é? Mas tem o cara que toma rótulo. Que é um personagem que existe não só no Brasil, mas no mundo inteiro, o bebedor de rótulo. É verdade que vinho caro é mais fácil de vender?

No começo da Mistral era verdade. Era uma época de descoberta e se vendia mais fácil o vinho mais caro. Hoje ficou muito mais difícil, até porque se traz muito vinho de fora. Isso é uma aberração total. O Brasil é o país mais restritivo para você importar vinho. E, ao mesmo tempo, de longe, o mais liberal para você trazer na bagagem. Eu brinco com o pessoal da Receita, dizendo que vinho caro não paga

imposto. Em todo país do mundo você pode trazer duas, três garrafas. Aqui são dezesseis. Há muito ego no mundo do vinho?

Muito. Agora, há vinhos que são obras de arte, para ocasiões especiais. Alguém me disse: “Fulano só bebe Petrus”. Eu falei: “Coitado, ele não sabe o que está perdendo. Com tanta coisa no mundo para você tomar e você só toma uma delas?”. Agora, tem gente que só toma mesmo Petrus e Château D’Yquem. Uma pobreza isso... A graça do vinho está na variedade. E você, o que gosta de beber?

Não consigo começar uma noite sem um copinho do branco, pelo menos. E, entre eles, tenho preferência pelos borgonhas, muito elegantes. Há poucos no mundo que se comparam a eles. Gosto

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capa também do chardonnay da Califórnia, do Bussaco, que acho um vinhaço. Passei um tempo difícil com muito vinho tinto caro, de nome, que eu não conseguia tomar porque eram inimigos da comida, muito concentrados. Outro dia eu estava com minha mulher em Extremoz, Portugal, num restaurante frio, perfeito para tomar um vinho. Pedi uma marca muito conceituada no Brasil. Não vou dizer o nome, é da concorrência. E quando tinha um quarto da garrafa, começou aquele “termina você; não, termina você”. Não conseguimos terminar, pois você não consegue acompanhar a refeição com aquela concentração de álcool. Ela mata a comida. Você sai atrás de vinho sempre que viaja, mesmo a passeio?

Sua mulher, aliás, é uma grande companheira de copo, não?

Sim, ela é. Porque é importante que a mulher beba também, não é? Claro.

Tenho alguns amigos loucos por vinho cuja maior frustração é a mulher não beber. Minha mulher também cozinha bem, e comida de restaurante! Você vai a um restaurante, come um prato, fala para ela... A segunda vez que ela faz, está ótimo. Já minha mãe era uma grande cozinheira de comida do dia a dia, caseira. De quais pratos preparados pela sua mãe você gostava?

Ela fazia uma maionese de peixe e camarão, rabada, todos os salgadinhos, macarronadas... Tinha o frei Felisberto,

“Certa vez prometi à minha mulher que faríamos uma viagem sem sair atrás de vinho nem de produtor. Fomos para a Grécia. Voltei ao Brasil como importador de vinho grego”

Sim. Certa vez minha mulher me disse que só viajaria comigo se eu prometesse não sair atrás de vinho, nem de produtor. Então fomos para a Grécia. Claro que dei uma estudadazinha antes, sobre o que eu iria beber lá [risos]. Eram 2 da tarde quando chegamos ao bar do hotel, em Atenas. Falei: “Vamos comer um sanduichinho no balcão, depois a gente sai...”. Pedi os sanduíches e dois copos de vinho branco, diferentes um do outro. Gostei. Pedi um tinto e fiz umas perguntas. Quando o cara viu um brasileiro que entendia um pouco de vinho grego, o que é raro, falou: “Temos aqui no hotel o melhor sommelier da Grécia”. Jantamos no hotel e virei fanático por vinho grego, pois é um vinho gastronômico. Voltei ao Brasil e comecei a importar [risos].

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um alemão franciscano de uma família muito rica da Vestfália. Ele era da paróquia da Vila Mariana e arrecadava fundos para construir a igreja. Uma vez por mês, ele jantava na minha casa. Então, minha mãe fazia pratos que ficaram conhecidos como “a canja do frei Felisberto”, “a maionese do frei Felisberto”, “o macarrão do frei Felisberto”. Era uma coisa deliciosa. O frade comia bem, não é?

Sim, e no fim da noite meu pai dava uma garrafa de uísque e uma caixa de charutos para o frei Felisberto. Uma ia numa manga e a outra na outra manga. Que ótimo!

Aí, quando fui me casar, minha mulher queria que fosse na igreja. Eu também não ia me opor, pois seria uma grande tristeza para ela, para a minha mãe tam-

bém. Não tinha nada contra casar na igreja. E falei: “Já que é para casar na igreja, é melhor casar com o frei Felisberto” [risos]. Ele estava velho, num retiro ali no largo São Francisco. E foi fazer o casamento. Só que ele havia se esquecido como fazer um casamento. E foi aquela saia justa. Mas só quem estava lá na frente percebeu. Minha mãe ajudando o frei Felisberto a terminar. Eu nem sei se sou casado na igreja [risos]. Como estão as vendas de vinhos pela internet em relação às vendas diretas – para clientes físicos, restaurantes e lojas?

Nós montamos o primeiro site importante de vinhos. Depois, dormimos no ponto. Ao não vender direto?

Não, o site envelheceu. Nós acordamos agora, faz um ano. Refizemos todo o site. Estamos investindo bastante nisso. É um canal importante, especialmente numa cidade do tamanho de São Paulo, onde ou você tem 500 lojas ou vende pela internet. E o problema é que nós temos parceiros nas lojas: nós vendemos para as lojas. Então, na internet a gente tem que tomar cuidado para não prejudicá-las. Mas é uma realidade, é um canal. Estamos investindo bastante. Acho que vamos crescer na internet. A internet representa quanto das vendas para a Mistral?

Menos de 10%. O forte são lojas e restaurantes, mesmo. Tem aquela pessoa que gosta de vir aqui, falar com o vendedor. Você apoia muito determinados restaurantes. Além de vender vinhos para eles, o que você oferece?

Muito treinamento. Parceria. Eu tenho contrato com vários deles, às vezes você faz a carta de vinhos. O restaurante é

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fotos © arquivo pessoal

6 1. No mais recente Encontro Mistral, em 2016, com produtores do mundo inteiro; 2. Brindando com o chileno Aurelio Montes, da Viña Montes; 3. Ao lado do argentino Nicolás Catena, da Bodega Catena Zapata; 4. Com os amigos Salomão Schvartzman e Angelo Gaia; 5. Em jantar das Bodegas CaRo, com Bruna Lombardi; 6. Ed Motta no Encontro Mistral de 2010

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capa a parte mais difícil, mas é onde nós somos mais fortes. Você chega a influenciá-los na questão do preço do vinho? Diz: “Escuta, gente, não bota 300%”...

Certas promoções nós só fazemos se tiver esse acordo de preço: “Eu te faço por isso, mas você não pode vender por mais que aquilo”. Excelente.

Isso nós temos feito cada vez mais. Não adianta você dar um desconto para o cara pôr no bolso. Então, tenho feito cada vez mais isso. Quando o dólar foi para R$ 4, baixamos o preço de um monte de vinhos provisoriamente, com a condição de que o restaurante também baixasse.

frase recorrente. As pessoas estão mais intimidadas ou regredimos?

Ah, não, o consumidor avançou muito. Tudo avançou. Pena que a carga tributária é tão gigantesca que afasta as pessoas do vinho. Uma vez fizemos um bota-fora aqui na Mistral que até saiu na imprensa. Colocamos grandes vinhos que a gente achava que não vendiam porque o pessoal não entendia. O início foi marcado para sábado, às 8 da manhã. Logo cedo, às 6 e meia, 7, me ligaram da loja: “Doutor, estou assustado, a fila na rua está chegando quase na esquina”. Até saiu uma brincadeira na imprensa dizendo que, se tivesse uma barraquinha de foie gras, seria um sucesso. Vendeu tudo! O pessoal entende, sim. É que é caro. Agora, então, o IPI ficou

“nossa vocação é produzir espumante: é bom, tem bom preço e 75% do mercado. Assim como a vocação da borgonha é a pinot noir. Quem quer produzir tudo não produz nada” Existe mesmo o “enochato” ou isso é uma invenção da imprensa?

Existe e atrapalha pra caramba. O que afasta as pessoas do vinho é esse negócio de pegar um copo, ficar falando de aroma. Sempre me bati contra isso. Não tem nada a ver com entender de vinho, nada. Cansei de ver pessoas em degustação, falando assim: “Tem aroma disso, aroma daquilo e tal”. O cara do lado não sente aquele aroma e acha que o próprio nariz não está habilitado. Isso afasta mesmo as pessoas. Intimida, não é?

Toda regra intimida. E quando você pergunta assim: “Você gosta de vinho?”. A resposta mais comum é: “Ah, eu gosto, mas não sei identificar aqueles aromas e tal. Não entendo muito”. “Gosto, mas não entendo” é uma

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mais alto. Acho uma insensibilidade, justo agora que o dólar está acima dos R$ 3… A venda de vinhos brancos melhorou, de alguns anos para cá?

Não só brancos, de rosés também. Mas é muito pouco. No Brasil o vinho branco é assassinado pelo balde de gelo. Isso só acontece aqui. Você vai à Europa, aos Estados Unidos, pega o vinho branco na geladeira, põe na mesa, serve um copo e pronto, acabou. O vinho fica por volta de 10ºC ou 12ºC, 13ºC. Aqui no Brasil, você pega na geladeira e taca no balde de gelo. A zero grau, você não sente o sabor, nem o aroma. Gastar com vinho branco colocado no balde de gelo é jogar dinheiro fora. Com rosé também.

Estou cansado de dizer isso. Em toda entrevista que dou, insisto nisso. A dife-

rença é brutal. Se você pegar dois copos, um a zero grau e outro a 10 ou 12 graus, é outro vinho. Aí tem gente que fala que vinho branco é ruim para a digestão. Água a zero grau também [risos]. Ciro, qual é a situação do vinho nacional hoje?

Digamos que 60% do preço do vinho nacional é imposto. O vinho importado é mais que isso: 75%. Sessenta por cento do vinho produzido na Serra Gaúcha é imposto?

Sim. E os chilenos e argentinos?

É mais ou menos a mesma coisa. O que acontece é que cada país tem vocação para produzir uma coisa. Então, vamos dizer, você produz vinho no Brasil “apesar” da natureza. É ingrato. Chove todo ano, você tem de usar muita química, é uma luta produzir. Já o espumante não, porque a uva é colhida mais verde, então é menos sujeita a doença. A vocação da indústria nacional é produzir espumante: é bom, tem bom preço e 75% do mercado de espumantes é nacional. O consumidor não é bobo. É como a vocação da região de Champagne, por exemplo.

Em Champagne, acho que a população se ajoelha, agradece a Deus porque tem o clima e o solo que produz o melhor espumante do mundo. Só que o mesmo clima e solo atrapalham a produção de tintos e brancos. Eles existem, mas são fracos e ninguém fala deles. Todo o marketing da região é feito em cima do espumante. No Brasil, o produtor quer ter o melhor branco, o melhor tinto e o melhor espumante. Acho que o Brasil, se tivesse um marketing específico de espumante, poderia, talvez, ser considerado unanimemente o

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foto © arquivo pessoal

Com a mulher, Carmen, e a família

melhor produtor de espumante do Hemisfério Sul. Mas há tintos e brancos nacionais com qualidade?

Não é que não haja qualidade. Quando tem qualidade, não tem preço. Agora, tem suas virtudes. Por exemplo, eu acho que é um vinho que envelhece bem tem uma boa acidez. Depois de alguns anos, ele amacia. Então, o vinho nacional é bom, mas acho que tem que respeitar a vocação, que é o espumante. Assim como a vocação da Borgonha é a Pinot Noir. Quem quer produzir tudo não produz nada. Ciro, só para terminar, gostaríamos que você respondesse algumas perguntas baseadas no Questionário Proustiano.

Perfeito. Qual a sua palavra favorita?

preferido?

Bossa nova. E que tipo de som ou ruído você não suporta?

Grito. Qual seu palavrão preferido?

Que profissão você gostaria de exercer, se você não tivesse a sua?

Trabalhar no programa espacial.

O que liga você?

E que profissão você jamais

Desafio. E a coisa que você mais abomina?

A desonestidade, a mentira. E vinho branco a zero grau [risos]. Qual a coisa mais importante do mundo?

Sou um geminiano. Então, não sou o mais indicado para responder a esse tipo de questionário, pois acho tudo muito relativo. Não sei o que é mais importante. Talvez a solidariedade. Você seria capaz de matar alguém?

E a palavra de que menos gosta?

Alguém que quisesse pegar meu Vega Sicilia [risos]. Estou brincando. Só para defender a vida de outra pessoa.

Qual o seu barulho ou o seu som

Acho que tudo tem perdão. Quando a pessoa faz uma coisa muito ruim, meu sentimento maior é pena.

Acho que é “puta que pariu”.

Vinho. Mentira.

O que não tem perdão para você?

exerceria?

Advogado. Se o céu existisse, o que você gostaria de ouvir quando chegasse lá em cima?

Que as coisas em que acreditei eram para acreditar mesmo. Quem é Ciro de Campos Lilla?

Sou realmente o que demonstro. Tenho a consciência muito tranquila de ter feito as coisas como achei certo. Não quero dizer que tenha feito do jeito certo, mas tenho a consciência de que dediquei a vida inteira a agir de acordo com o que acho certo. Então, não posso estar tão errado assim. P

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Dubai Dassault Michelin Relรณgios maksoud One World

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viagem

A ilha do conforto One&Only The Palm é um resumo de Dubai: luxo com exclusividade

S

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ituado no arquipélago artificial

trelas do Guia Michelin) oferecem pra-

os restaurantes oferecem excelentes ex-

Palm Island, o resort One&Only

tos internacionais e locais: o Zest, para

periências gastronômicas.

The Palm é um exemplo de “luxo

o café da manhã, com mesas internas e

Para dar um up após mais de 14 horas

confortável”, como diz seu gerente-geral,

externas; na marina privativa do hotel, o

de voo, visite o Guerlain Spa, um oásis

Olivier Louis. Tradicionais motivos árabes

101 Dining Lounge and Bar, com tapas e

de tranquilidade em pleno deserto. A

como treliças e arcos ogivais estão por

comida mediterrânea; o principal, o Stay,

parceria com a grife de cosméticos ga-

toda parte, como na enorme piscina, la-

tem uma bela carta de vinhos. Nesta,

rante tratamentos personalizados. Nada

deada por palmeiras.

uma opção para acompanhar a sobreme-

mais do que o esperado para uma marca

O hotel tem 90 quartos, dentre os

sa é o famoso Vin de Constance, um vi-

criada em 1828 e que se inspira na natu-

quais 25 suítes, além de quatro villas, com

nho doce natural feito com a uva Muscat

reza para criar suas fragrâncias, produtos

sistema de entretenimento completo. Nas

Blanc à Petit Grains que era o favorito

para pele e maquiagens. “A experiência

salas de banho, mimos da Acqua di Parma.

de Napoleão: em seu leito de morte,

dos hóspedes no Guerlain Spa será ainda

Três restaurantes supervisionados

recusou-se a ingerir qualquer coisa que

mais exclusiva no One&Only The Palm,

pelo chef Yannick Alleno (com três es-

não fosse uma taça desse néctar. Todos

com tratamentos criados para o resort,

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como o Dubai Harmony, massagem revitalizante, com toques quentes e frios, ou o Désert d’Orient, uma verdadeira viagem oriental”, contou Olivier Louis. Segundo o gerente-geral do hotel, o spa também terá uma seleção especial de perfumes Guerlain. “Todos eles são atemporais e elegantes”, garante. Na hora de dormir, um menu com nove opções de travesseiros, como um smoker pillow, com tecido especial que absorve a fumaça e “assegura um sono livre de odores”, ou o tradicional travesseiro de plumas de ganso, excepcionalmente macio. Certamente, todos esses predicados já são mais do que suficientes. Porém, vale lembrar que o One&Only The Palm foi escolhido pela Condé Nast Traveller como o melhor resort do Oriente Médio no ano passado. (Marcello Borges) oneandonlyresorts.com

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ANDERMATT

PODE APOSTAR a cidadezinha suíça, onde desponta o hotel chedi, será uma famosa estação de esqui

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ndermatt, conhece? Provavelmente não. A Suíça tem es-

Quem vem apostando alto em Andermatt é Samih Sawiris, da

tações de esqui mais altas e muito mais badaladas. Por

família mais rica do Egito. O magnata está bancando o equivalente a

exemplo: Saint Mortiz, a 160 quilômetros dali e com 1.822

R$ 4,4 bilhões para transformar a cidade na nova darling do turismo

metros de altitude. Andermatt, mais modesta, com apenas 1.400

de inverno na Suíça. Nada menos que 120 quilômetros de pistas de

moradores, está fincada entre as montanhas quase 400 metros mais

esqui estão sendo construídos. O mesmo vale para pequenos pré-

abaixo. OK, não pode se queixar da quantidade de neve. Tampouco

dios em um condomínio de alto luxo, com apartamentos a partir de

da ausência de grandes esquiadores – o campeão Bernhard Russi

1,7 milhão de francos suíços – algo em torno de R$ 5,730 milhões.

nasceu na cidade. Ainda assim, está muito longe da fama de St. Mo-

Há três anos, Sawiris entregou a primeira parte do projeto: o impe-

ritz ou Zermatt. A maior diferença em relação às demais estações:

cável hotel Chedi, ao custo de R$ 1 bilhão. O milionário tem outras

Andermatt é o futuro. Pode apostar.

três unidades da marca: em Omã, em Bali, na Indonésia, e no Vietnã.

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Desenhado com linhas retas e modernas pelo arquiteto francês

seria unificada como Itália estabeleceram postos nas proximidades.

Jean-Michel Gathy, especialista no assunto, o Chedi suíço tem a be-

Pudera. É o único ponto em que se atravessa do sul da Europa para

leza contida, nada barroca, de uma top model de classe. Nas imensas

o norte passando por uma única montanha, o Gotardo. Precavida,

suítes com vista para os picos nevados, tudo é controlado por iPads,

a Suíça decidiu transformar Andermatt em um posto militar – o

até a lareira. O hóspede se sente um prestidigitador. Outra: a rigor,

que, de cara, rechaçou a vocação turística.

não existe chuveiro. A ducha revigorante cai do teto do boxe, sa-

Ao longo de todo o século passado, a cidade continuou, diga-

be-se lá como. Nas áreas comuns (se é que existe algo comum no

mos, servindo ao exército. Toda a sua economia estava voltada para

Chedi), há um spa digno dos imperadores romanos, um recôndito

os soldados. Até que, na aurora no novo milênio, o governo federal

para se deliciar com queijos, uma adega de 5 mil garrafas (com sor-

deu mostras de que viria desativar a base militar. E foi o que fez,

timento especial de Château d’Yquem), uma biblioteca clássica e um

provocando preocupante perda de empregos, como repercutiu no

bar/charutaria que é o prazer dos puros (ou puro prazer).

dia a dia o jornal local Andermatt Tagblatt – só mesmo na Suíça uma

A beleza das montanhas – com centenas de pequenos riachos

cidadezinha de 1.400 viventes tem jornal diário.

descendo pelas encostas nos meses mais quentes – e da vilazinha

Foi nesse contexto que o magnata egípcio despontou na Suíça.

católica encravada nas alturas decerto foi fator decisivo no mo-

Sua iniciativa tornou-se polêmica. Por fim, a cidade votou um refe-

mento de Sawiris optar por Andermatt. Mas há outro. Além de

rendo, que resultou em favor de Sawiris, que, pela legislação ante-

belíssima, a cidade é estratégica. Está a duas horas de Milão, 40 mi-

rior, não poderia, sendo estrangeiro, adquirir o volume de terras

nutos de Lucerna e a uma hora de Zurique. Fica no Cantão de Uri,

que acabou englobando. E assim segue Andermatt. Enfim, pronta

onde se fala alemão. Em meia hora, o visitante estará no Cantão de

para seguir sua vocação. (Walterson Sardenberg Sº)

Vallais, cuja língua é o francês. Da mesma maneira, em 20 minutos,

chediandermatt.com

o idioma será o italiano. O caro leitor haverá de perguntar: por que um lugar tão estratégico passou até agora ao largo do turismo? A resposta: exatamente por isso. Essa história começa no século 19, quando os exércitos da França e da região que, mais tarde,

O Chedi, encravado nas montanhas, custou o equivalente a R$ 1 bilhão

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one world

Volta ao mundo a jato Fundador do Buscapé Company e conselheiro da Endeavor Brasil, Romero Rodrigues passou por Los Angeles, Tóquio e Londres e conta as vantagens dos serviços de companhias integradas

E

m apenas dez dias é possível fazer um giro pelo globo terrestre? A One World garantiu que sim. Disse mais: que uma viagem assim pode ser das mais confortáveis, sem correria e

filas. Pois a One World não só garantiu como comprovou. Foi uma

Romero Rodrigues fez paradas nos lounges da British e Japan (abaixo)

ótima oportunidade para curtir com o meu pai as três escalas do trajeto: Los Angeles, Tóquio e Londres. A Latam, a Japan, a British e a American assinaram embaixo e

nós embarcamos. O roteiro de volta ao mundo foi escolhido justamente para que pudéssemos usufruir dos serviços de cada uma dessas companhias. Juntas, elas participam da One World, um programa com o objetivo de oferecer mais ao viajante em cada aeroporto. O primeiro benefício de recorrer ao One World é o ganho de tempo. Numa conta simples, economizamos três horas, no total, só por utilizarmos seus serviços. Tudo é facilitado e mais rápido, mesmo nos grandes aeroportos, como os de Tóquio, Los Angeles e Londres. Muitas vezes nem sequer há fila. Não houve demora nem mesmo na alfândega. Não costumo chegar atrasado a aeroportos. Fico ansioso e sempre tento me apresentar no check-in com antecedência. Porém, viagens de negócios costumam gerar imprevistos. Nem sempre é possível fazer um short cut e sair mais cedo da reunião com investidores e clientes. Resultado: correria na hora de embarcar. Nesses momentos, o check-in prioritário da One World salva o passageiro de perder o voo. Também é importante citar a excelência do serviço das companhias aéreas, nas aeronaves e nos lounges. Uma maravilha. Em Los Angeles, experimentamos os serviços do lounge da Qantas. Destaque para a decoração, cardápio e carta de vinhos. Todas as vantagens são igualmente importantes para um frequente flyer como eu, especialmente um banho quente. Faz toda a diferença. @onewold_brasil oneworld.com

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The Milestone, hotel-butique em Londres

Hotéis estrelados Além do One World, a viagem de volta ao mundo recorreu

Já o Imperial Hotel, de Tóquio, foi surpreendente pela relação

aos serviços da The Leading Hotels of the World, a associação

entre o tamanho (tem mais de 800 quartos!) e o serviço. Embora

de hotéis de luxo com mais de 375 estabelecimentos espalhados

fosse tão grande, nos tratou com a delicadeza e eficiência daquele

por 75 países. Em Londres, fiquei hospedado no The Milestone.

hotel-butique de Londres. O lugar é majestoso, com destaque

É um hotel-butique pequeno, charmoso e com um atendimento

para o bar, o Old Imperial, que está em funcionamento ininterrup-

incrível. Os funcionários chamam o hóspede pelo nome. É muito

to há 125 anos. No dia que chegamos a Tóquio fomos recebidos

aconchegante. Todos os ambientes têm uma história. A sala onde

por uma jazz band completa, além de uma belíssima seleção de

é servido o café da manhã, por exemplo, já foi a menor capela da

uísques. Foi mesmo uma experiência única.

cidade, pronta para acolher apenas seis pessoas. Meu quarto tinha varanda com vista para o Hyde Park. Acordava cedo e corria pelo

@leadinghotelsoftheworld #LHWtraveler #leadinghotels

parque e passava pelo Palácio de Buckingham. Era como colecio-

Telefone: 11 3171 4000 / 0800 014 1819

nar cartões-postais na memória.

www.lhw.com

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Royal Caribbean

O novo rei dos mares

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iajar por diferentes destinos com toda a comodidade e sem ter de trocar de quarto. Essa é uma das vantagens de estar a bordo de um navio de cruzeiro. Melhor ainda para

quem embarca no Harmony of the Seas, o novo transatlântico da Royal Caribbean. Ali, o passageiro tem à disposição gastronomia do mundo inteiro e muito entretenimento. Nesse hotel flutuante dá para mergulhar de uma altura de dez andares, desfrutar de restaurantes exclusivos, passear por um amplo jardim, praticar esportes, degustar um drinque preparado por um robô e até curtir um simulador de voo, o RipCord by iFLY. Se a intenção é relaxar, o Harmony of the Seas também vem a calhar. O menu de tratamentos do spa ou as banheiras de hidromassagem com vista para o oceano são as pedidas. O novo navio faz roteiros na Europa e no Caribe. Escolha. (Juliana Amato) royalcaribbean.com.br Harmony of the Seas, um hotel flutuante de dez andares

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Saint Andrews, um Relais & Châteaux com mordomo 24 horas

Saint Andrews

o melhor de Gramado ma experiência digna da realeza – e sem sair do Brasil.

U

É o caso. São apenas 11 espaçosas suítes. No restaurante, só

Assim é se hospedar no Saint Andrews, próximo ao

cinco mesas. O cuidado no serviço se revela, por exemplo, nos

centro de Gramado, a 120 quilômetros de Porto Alegre.

mordomos, à disposição 24 horas.

Todos os detalhes impressionam, dos lustres de cristal tcheco às

Ao longo do ano, o hotel prepara festivais com safras de

cortinas inglesas, passando pelas flores frescas oferecidas aos

vinhos raros e champanhes em parceria com as melhores marcas

recém-chegados. Um cenário perfeito para aproveitar o melhor

mundiais. Em outubro, por exemplo, dá para escolher festivais

da vida, em ambientes absolutamente clássicos.

como o Trufas Brancas da Toscana e o Dom Pérignon. Sem

Não à toa, o Saint Andrews faz parte da seleta associação Relais & Châteaux, que acolhe hotéis pequenos e exclusivos.

perder a privacidade jamais. (JA) saintandrews.com.br

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Maksoud Plaza

Suíte dos sonhos

A

o fazer o check-in no Maksoud Plaza, em São

dez câmeras, num questionamento da obra em relação a

Paulo, o hóspede sabe o que vai encontrar: hotel

selfies e privacidade.

tradicional, bom serviço e localização estratégi-

Nos últimos cinco anos, o hotel investiu R$ 5 milhões entre

ca. Mas não pode imaginar algo como a suíte 2117. Com

reformas e melhorias. Ainda seguem como grandes atrações o

o título Suíte Dreams 2117, a acomodação de 126 metros

restaurante 150 Maksoud e o Frank Bar. (Mario Ciccone)

quadrados do 21º andar recebeu uma “instalação habitá-

maksoud.com.br

vel” do artista plástico Felipe Morozini. Os nove cômodos da suíte proporcionam uma experiência baseada em cores, sons de natureza e vegetação. “Hotel é um local de transição. O sonho é uma transição entre o acordar e o dormir. As pessoas vão sonhar acordadas”, diz o artista, que já criou cenografias no Fashion Week e Lollapalooza. A sala principal da suíte se tornou uma floresta. As plantas são naturais, com sons de cachoeira e animais. “A floresta foi colocada no primeiro cômodo para que as pessoas possam entrar na obra por meio da poesia visual”, explica Morozini. Na mesa, o hóspede recebe o foco de

Vista da Suíte 2117 e intervenções de Felipe Morozini: um desafio para os sentidos

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Michelin

Pneu três estrelas

E

is tudo o que um carro esportivo precisa quando o assun-

ção lateral em pista molhada, o Michelin alcançou 1,0 g enquanto o

to é pneu: velocidade, resposta rápida e muita segurança.

Pirelli PZero obteve 0,9 g. Sem contar que freou até 2 metros antes

Foi o que a Michelin demonstrou no lançamento

do Pilot Sport 4, o novo modelo da marca para carros esportivos. Em um evento realizado no Autódromo Vello Cità, em Mogi Guaçu (SP), o Audi A3 Sedan com o novo pneu obteve frenagem

em pisos molhados e 1 metro antes em piso seco. De acordo com o estudo de desgaste, o pneu Michelin rodou cerca de 15% a mais que a média dos concorrentes e sua aderência é 8% maior em curvas em solo molhado. O Pilot Sport

no molhado de 100 km/h a

4 já está nas lojas nas

zero em 36,1 metros con-

versões em aros de 17

tra 42,9 metros do Goo-

e 18 polegadas.

dyear Efficient Grip. Quer

(Northon Blair)

mais? No teste de acelera-

michelin.com.brr

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Montblanc

Um botão, três atividades

U

m cronógrafo comum permite a marcação de tempos decorridos. Quando ele é adicionado à função Flyback, o usuário conta com a facilidade de parar, zerar e reiniciar a função com o apertar de

um único botão (tal processo requer três toques em dois botões diferentes em um cronógrafo regular). A Montblanc trouxe, então, a esportividade dessa complicação ao modelo clássico 4810 TwinFly Chronograph 110 Years Edition. O relógio ainda integra uma edição limitada de 1.110 peças, como uma referência direta ao aniversário de 110 anos da companhia. Ele traz uma caixa de 43 mm de diâmetro elaborada em aço inoxidável. O relógio, então, abriga e entrega uma resistência de 50 metros sob a água, contando com movimento de corda automática. Este calibre, além do cronógrafo, apresenta ainda função de segundo fuso horário, data, indicação de 24 horas e proporciona cerca de três dias de autonomia de marcha. O

mostrador

branco

prateado

combina

uma

decoração guilloché com a trama da simbólica estrela da marca com ponteiros e marcadores de ouro rosa. Duas agulhas azuis proporcionam contraste para facilitar a leitura do segundo fuso horário e dos segundos transcorridos do cronógrafo. A finalização da peça é dada por uma pulseira de couro de crocodilo preta. (Renata Bench) montblanc.com

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Panerai

Da cor do céu e do mar

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s Paneristi podem comemorar: a Panerai resolveu seguir uma das maiores tendências do mercado relojoeiro com a apresentação

de relógios com mostrador azul. São quatro modelos. O destaque fica com o Panerai Luminor 1950 10 Days GMT Automatic Acciaio (PAM00689). Ele combina a tonalidade do aço da caixa com o dial azul e ponteiros dourados. Entre as funções, um segundo fuso horário simultâneo. É simples: um outro ponteiro de horas central em formato de seta trabalha em conjunto com uma indicação de dia e noite para auxiliar a identificação da hora certa em outra localidade geográfica. O usuário conta com a tranquilidade da indicação dos dez dias inteiros de autonomia de corda gerada automaticamente no movimento que o equipa, o P.2003. Ele está abrigado numa caixa de 45 mm de diâmetro e pode ser visualizado através de uma abertura traseira de safira. A finalização da peça é dada por uma pulseira de couro de crocodilo azul. (RB) panerai.com

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Vacheron Constantin

Quartos, meios e inteiros

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elógios comuns com horário mundial permitem que

decoração acetinada, enquanto os oceanos ganham um

você saiba a hora certa nos 24 principais fusos do

visual aveludado, em três opções de cores. Ao seu redor,

mundo de uma única vez. A Vacheron Constantin

três anéis: um deles faz a indicação da principal cidade de

resolveu ir mais fundo nessa entrega, com nada menos que

cada um dos 37 fusos, o segundo apresenta indicação de

37 deles – que incluem aqueles de meia hora e de quartos

dia e noite em uma escala de 24 horas, enquanto o terceiro

de hora. Um verdadeiro feito relojoeiro.

permite realizar a leitura tradicional de horas e minutos.

A proeza é apresentada na coleção Overseas, que

O movimento é inteiramente fabricado pela própria

ganhou uma renovação completa. World Time, como foi

Vacheron Constantin. Ele pode ainda ser visualizado por

batizado, apresenta na região central de seu mostrador

uma janela de cristal de safira posicionada no verso da

um mapa-múndi em projeção Lambert (vista a partir do

caixa. Sua corda automática garante cerca de 40 horas de

Norte), em que os continentes são apresentados com uma

autonomia. (RB) vacheron-contantin.com

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TAG Heuer

Lembrança de um ídolo

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novo modelo TAG Heuer Formula 1 Edição Especial Senna chegou ao Brasil. Ele estampa o simbólico “S” em seu mostrador, moldura e

no verso da caixa. A letra ainda aparece na pulseira Legend. Semelhante à usada pelo piloto, ela teve seu formato melhorado para maior conforto. Equipado com um movimento de quartzo, o relógio entrega função cronógrafo, que permite a medição de até 30 minutos com a

precisão de um décimo de segundo, detalhada em um submostrador posicionado na região de 6 horas. Uma das funções é calcular a velocidade média percorrida em um quilômetro em uma escala que vai de 60 a 240 quilômetros ou milhas por hora. Essa edição especial tem uma caixa de aço com 43 mm de diâmetro. (RB) tagheuer.com

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Falcon 8x

O maior dos falcões

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á quase dois anos, o Falcon 8x já gerava curiosidade

capacidade de levar oito passageiros e três tripulantes.

no mercado brasileiro. Na Labace 2016, o maior

Equipado com motores Pratt & Whitney Canada

dos falcões da Dassault saiu de seu ninho, na região

PW307A, o Falcon 8x tem autonomia de quase 12 mil

de Bordeaux, na França, para aterrissar em Congonhas.

quilômetros. Para executivos e empresários com negócios

Este trijato, que tem três turbinas na parte traseira, já

intercontinentais, o jato é uma valiosa ferramenta de

foi encomendado por 30 clientes, quatro deles no Brasil.

trabalho. A partir de São Paulo, o Falcon 8x chega sem

Segundo a fabricante, as entregas começam no final do ano.

escalas a Moscou ou Los Angeles. Se estiver em Nova York,

Por US$ 58 milhões, o top de linha da Dassault pode servir

voa direto para Tóquio. Não se trata de compará-lo com

tanto como escritório quanto um apartamento voador. A

a aviação comercial. Até porque a vantagem é óbvia. O 8x

partir de uma evolução da concepção do modelo 7x, o novo

irá dividir os céus mesmo com os modelos top de linha de

jato é mais largo e mais alto. A altura da cabine é de 1,88

Gulfstream e Bombardier. Nesse segmento, espaço e longo

metro, com 2,34 metros de largura. Conforto é a palavra-

alcance são itens obrigatórios. (MC)

chave em um espaço que permite 30 opções de layouts e

dassaultfalcon.com

THE PRESIDENT BLACK BOOK Juliana Amato, Marcello Borges, Mario Ciccone, Northon Blair, Renata Bench, Romero Rodrigues e Walterson Sardenberg Sº

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futuro Por CRISTINA DANTAS

Subiram

pelas paredes Ainda que sejam só um paliativo para os problemas estéticos

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botânico parisiense Patrick Blanc ainda não tingia mechas do cabelo de verde e nem exibia unhas nessa cor quando chamou a atenção da imprensa francesa para o seu então incipiente trabalho: elaborar jardins que, em vez de se esparramarem pelo chão, subiam procurando o céu. Isso foi em 1978. Já nos anos 1980, Blanc ganhou fama ao empregar sua técnica em espaços comerciais e se tornou o nome mais requisitado para projetar jardins verticais ao redor do mundo. Seu trabalho mais conhecido (ou ao menos um dos mais visitados) é o Musée du Quai Branly, em Paris. Em geral, Blanc trabalha em obras pontuais, quase sempre com arquitetura assinada. Além de museus, elas englobam fundações, lojas de estilistas famosos, hotéis e muitos outros espaços. Quem nunca ouviu falar de Patrick Blanc? No Brasil, verdade seja dita, quase ninguém ouviu. Mesmo os jardins verticais ainda são quase uma novidade por aqui, embora tenham começado a germinar em grandes residências de condomínios de luxo lá se vão cerca de dez anos. Só depois passaram a ser vistos também em casas misturadas ao meio urbano – ao menos em São Paulo, com sua indigência vegetal que beira o impensável.

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Por essas e outras, Gilberto Elkis, um dos paisagistas mais requisitados do país, tem certeza de que vieram para ficar. “Não se trata de um modismo e não vai passar batido. Estamos falando de uma cópia da natureza”, diz. “A encosta de uma montanha é um jardim vertical.” De fato, mesmo em casas de menor porte, os paisagistas foram convocados a projetar, por exemplo, muros verdes junto à piscina, fazendo da área de lazer um espaço ainda mais bonito. Até nos interiores surgiram pequenos painéis para fornecer a dose necessária de frescor que uma casa merece. Os jardins verticais, enfim, vêm florescendo por toda parte. De olho nesse mercado crescente, as empresas naturalmente se aperfeiçoaram. Gilberto Elkis, autor de belos projetos verticais em residências, conta que, no início, o plantio era feito por uma companhia, outra se encarregava da rega, uma terceira ficava responsável pela manutenção. Esse desencontro dificultava os resultados. Hoje, uma mesma empresa dá conta da primeira à última etapa. Além disso, a água de reúso entrou no sistema de irrigação – item indispensável nestes tempos em que a água vem sinalizando esgotamento e se tornando até mais valorizada que o petróleo. É claro que, também por aqui, os espaços comerciais não ficaram de fora na busca pelo jardim próprio. Patrick Blanc e um O arquiteto Fernando Forte, do premiado trecho do Musée du Quai Branly FGMF, acredita que as pessoas têm um ga-

foto cortesia de © patrick blanc

e ecológicos das metrópoles, os jardins verticais vieram para ficar

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nho psicológico com a proximidade do verde. Um dos últimos empreendimentos comerciais entregues pelo seu escritório produziu uma parede verde externa e a replicou em um painel no interior da construção, com pé-direito de 5 metros. O efeito é dos mais agradáveis. “As pessoas hoje pedem mais verde nos projetos”, diz. As técnicas variam, das mais simples às mais sofisticadas. Mas que ninguém se engane: “Jardim, horizontal ou vertical, é caro, sim”, garante Elkis. “Para que fique bonito, a quantidade de plantas deve ser bem grande.” Ainda assim ele acredita que são viáveis como “solução estética, ambiental, climática” e seguem-se vários etecéteras. A ideia desenvolvida por Patrick Blanc não é uma unanimidade quando se questiona a sua implantação por aqui, ao menos na esfera pública. E, pasme, justamente por questões ambientais. “Em um país com as dimensões do Brasil é quase uma contradição pensarmos em jardins verticais”, avalia o arquiteto e urbanista Ciro Pirondi. “Mas é inegável que, pela forma errática como as cidades foram sendo construídas, jardins assim tenham se transformado em uma questão emergencial, dadas as nossas carências. Seria preferível fa-

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zer dez praças da República no centro de São Paulo. Mas isso é impossível. A cidade está toda construída.” Ciro Pirondi compõe a direção executiva da Escola da Cidade, uma das melhores faculdades de arquitetura de São Paulo. Se não faz objeção aos jardins como mais um aliado em uma urbe tão devastada, expõe outro receio, que se estende ao futuro das construções. Pirondi pergunta: poderiam esses jardins acabar por ocultar, daqui a alguns anos, uma nova arquitetura de má qualidade? O futuro responderá. Por enquanto, seguimos atentos os passos de uma nova geração – ainda enquadrada muito mais na exceção do que na regra – que começou a construir com outra mentalidade nos últimos anos. Otávio Zarvos, à frente da Idea!Zarvos, construtora conhecida por seus edifícios autorais, engrossa o time dos que preferem os jardins horizontais, capazes de dar sombra, umidificar o ar, permeabilizar o solo e ainda chamar as pessoas para o convívio. “Já fiz um jardim vertical”, admite. “Mas só porque o muro do vizinho era muito feio”, ressalva, lembrando que outros arquitetos do escritório adotam a solução vertical. Zarvos acredita que as paredes sem janelas dos prédios – chamadas de empenas cegas – que margeiam o elevado Costa e Silva, o Minhocão, uma cicatriz que corta o centro da cidade desde 1971, podem ser melhoradas esteticamente com jardins verticais, mas tem suas reservas com relação aos be-

fotos © reprodução

Os jardins horizontais são o ideal. Mas como plantá-los no centro das metrópoles?

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© Thiago Giacobelli

Obras em São Paulo: do FGMF (página ao lado), no Minhocão (acima), do IdeaZarvos (à esquerda) e de Gilberto Elkis

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futuro nefícios ambientais e aos custos. “O que se diz é que os preços já Que os jardins verticais melhoram o aspecto cinzento da cidade estão mais baixos, mas não foi o que eu constatei.” ninguém contesta. Vamos deixar claro: é do ponto de vista ambiental O Minhocão era um horror quando as tais empenas cegas ostenque eles estão mais para rima que para solução. Seu uso como comtavam enormes outdoors e ficou uma desolação quando a Lei Cidade pensação ambiental é uma teoria frágil. As empenas transformadas Limpa ordenou – aleluia! – a sua remoção. É justamente o Minhocão em jardins são um elemento apenas auxiliar na mitigação do estado que vem recebendo os primeiros jardins verticais em grande escala poluído em que se encontra a cidade – o dobro do que recomenda a na cidade. Em 2013, o arquiteto e paisagista Guil Blanche, na époOrganização Mundial da Saúde. Não há substituto à altura da boa e ca com 23 anos, criou o Movimento 90º, propondo que as empenas velha árvore, que pode viver até 70 anos. Sua substituição por belas cegas dos edifícios vizinhos ao elevado ganhassem jardins verticais. paredes traz mais benefícios, na realidade, para os moradores desses A ideia é transformar a via expressa em um enorme corredor edifícios, que terão uma queda na temperatura dos apartamentos. verde – “o maior do mundo”, enfatiza Guil, que pretende expandir os corredores para outras vias de acesso rápido de São Paulo. “Esses jarÓdio de árvore dins poderiam transformar a cidade”, avalia. Vários empreendedores “A árvore é um filtro, uma barreira física entre você e os mesociais se interessaram e a Prefeitura encampou o projeto, incluindo tais pesados expelidos principalmente pelos carros na atmosos jardins verticais como uma opção na lei de compensação amfera”, avisa a ambientalista Claudia Visoni, conselheira do Meio biental – a “troca” que uma empresa precisa fazer quando inicia uma Ambiente da região paulistana de Pinheiros – cargo voluntário obra, repondo, em quantidade maior, o que foi retirado do ambiente e votado, diga-se. “Estudos demonstram que uma árvore na a ser trabalhado. Até então, as compensações vinham sendo feitas frente da sua casa pode reter 50% dessa poluição.” Em área de com o plantio de árvores. folha, uma parede de 600 metros quadraEm 2014, os jardins verticais começaPor mais polêmicos dos, como a de um edifício, corresponde ram a ser produzidos pelo escritório de Guil, a duas ou três árvores de bom tamanho. que sejam, composto de cerca de 15 pessoas, entre aros jardins verticais “Com o dinheiro empregado em uma emmelhoram o quitetos, equipe de comunicação e de finanpena desse porte é possível plantar quilôaspecto cinzento ceiro, um engenheiro agrônomo e técnicos metros de árvores”, avisa Claudia. das cidades. Disso especializados. Guil, o único paisagista Talvez as populações urbanas não ninguém duvida do grupo, convidou artistas plásticos para tenham ainda a dimensão da questão criar os desenhos nas empenas. “A cidade ambiental. “As pessoas têm ódio de áré carente de arte contemporânea e quis unir as duas coisas, criando vore porque suja a calçada, entope calha”, lembra Claudia Visoni. um museu a céu aberto.” A população que passeia pelo elevado aos Fernando Forte guarda uma lembrança curiosa da infância: o dia domingos já conta com uma paisagem menos árida, com dez jardins em que foi com seus pais visitar uma família que tinha no quintal prontos e outros em andamento. uma enorme jabuticabeira. Justamente naquele dia a árvore havia O número de mudas utilizadas em cada edifício varia, por ensido derrubada. “Fazia muita sujeira”, justificou o morador. quanto, entre 3.696 (com seis espécies) e 42 mil (com 13 espécies), Em um programa de TV, o arquiteto e urbanista Jaime Lere os jardins são produzidos a um custo médio de R$ 900 o metro ner contou como conseguiu arborizar as calçadas de Curitiba quadrado. Essas contas são do escritório de Guil, que atenta para a em sua primeira gestão como prefeito, no início dos anos 1970, área verde por habitante na capital paulista: 2,6 metros quadrados, quando a cobertura vegetal não passava de 0,5 metro quadrado quando o recomendado pela Organização Mundial da Saúde é de por habitante. “Começamos um programa de plantio em quase 12,8 metros quadrados. Para comparar: Nova York apresenta 25 metodas as ruas.” A campanha voltada para os moradores era simtros quadrados por morador, número que chega a ser inexpressivo se ples: “Nós damos a sombra, você a água fresca”. Foi um sucesso, comparado com Hamburgo, que ostenta uma marca capaz de nos com perda de apenas 5% das mudas. Fernando Forte aproveita deixar roxos de inveja: 310 metros quadrados de vegetação para cada para lembrar, em tom divertido: “Ter um arquiteto como prefeifeliz habitante da cidade alemã, cuja população é de 1,7 milhão. to sempre ajuda”. P

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memória

Por marion frank

HERÓI

AMERICANO Há um século, com apenas 40 anos, morria Jack London, o primeiro escritor dos Estados unidos a ganhar US$ 1 milhão

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© Huntington Library, San Marino, California, USA

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Na Califórnia, dentro e fora do escritório

le surrupiou ostras em viveiros alheios, foi operário em fábrica de conservas, trabalhou como estivador, atravessou os Estados Unidos como clandestino em trens de carga, procurou ouro no Alasca, deu duro como marujo nos Mares do Sul, mendigou nas ruas de Londres e, mesmo tendo vivido tantas aventuras, arrumou tempo para escrever 38 romances e volumes de contos. Publicou sua obra durante apenas 16 anos, entre 1900 e 1916, período em que ficou milionário com a literatura. Tornou-se o primeiro escritor americano a ganhar US$ 1 milhão – e torrou a fortuna. Tudo isso antes dos 40 anos, quando morreu em circunstâncias ainda não esclarecidas. Uma biografia assim seria por si só motivo de intensa curiosidade. Mas há mais: John Griffith Chaney, ou melhor, Jack London – o pseudônimo que escolheu adotando o sobrenome do segundo marido de sua mãe – foi um escritor de talento raro e influência notável, adorado por adolescentes e adultos. Seus ensaios e outros textos de não ficção perderam a força. São uma confusa mescla de socialismo e determinismo científico. Sua obra de ficção, contudo, inclui alguns dos melhores romances de aventura escritos nos EUA, contando Call of the Wild (O Grito da Selva, de 1903), Sea-Wolf (O Lobo do Mar, 1904) e White Fang (Caninos Brancos, 1906). Todos naturalistas. Ou seja, com os personagens “condenados” pelas leis da herança e da natureza. Este é o ano do centenário da morte de Jack London. Ele veio ao mundo em 12 de janeiro de 1876, filho do astrólogo itinerante William Chaney e da professora de música Flora Wellman. Morreu em 22 de novembro de 1916. É natural, portanto, que 2016 tenha se transformado em ano de homenagens em Oakland e Glen Ellen, cidades próximas, na Califórnia. Embora nascido na vizinha San Francisco, Jack sempre manteve raízes nesses dois lugares que agora acenam, mês a mês, com uma concorrida programação especial de filmes, conferências, exposições e concurso literário. Quem pouco sabia de Jack London acaba se assombrando não só com a extensão de sua obra – que também abrange palestras, poemas, peças de teatro e reportagens – como com a acidentada trajetória do autor. No poema “Credo”, ele explicou seu estilo de vida: “Eu preferiria ser um meteoro soberbo, cada átomo meu em um brilho magnífico/ do que um planeta sonolento e permanente/ A função própria do homem é viver, não existir/ Não vou desperdiçar meus dias em tentar prolongá-los/ Eu vou usar o meu tempo”.

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MEMÓRIA E como Jack soube aproveitar o tempo! Sobra a impressão de que viveu em um ano o que gente como a gente levaria dez vezes mais. A melhor história que contou é a da própria vida. Não só no autobiográfico romance Martin Eden, de 1909, como em cada frase que escreveu. Jack viveu a própria literatura – ou ouviu in loco o relato de quem viveu. “Muitas vezes penso que devo aos meus dias de vagabundo o sucesso ao escrever contos”, lê-se em The Road (A Estrada, de 1907), de enorme influência, nos anos 1950 e 1960, entre os criadores da literatura beat. Tema da obra: o cotidiano de um adolescente que desafia a ordem vigente, viajando clandestino nos trens que cortam o território americano costa a costa. O livro deu origem ao memorável filme O Imperador do Norte, rodado por Robert Aldrich em 1973, com Lee Marvin e Ernest Borgnine. Ainda hoje, aliás, as histórias de Jack London são adaptadas para o cinema. Explica-se: quase sempre, apresentam um roteiro impecável, sem adornos e com muita ação. Aos 13 anos, quando vendia jornais em Oakland para ajudar no sustento da família, Jack lutou durante longo tempo com um garoto mais velho que queria ganhar na marra a sua rota de vendas. O episódio, do qual saiu vencedor com muitas escoriações, inspirou a épica luta entre Martin e “Cheese-Face” no romance Martin Eden. Outro de seus personagens inesquecíveis, Wolf Larsen, de O Lobo do Mar, teve como referência um capitão de fama terrível pelas matanças de foca no mar de Bering. Jack era um aprendiz de marinheiro, de 15 anos, quando trabalhou sob o comando desse homem. O livro foi diversas vezes explorado no cinema. A mais recente: O Lobo do Mar, dirigido por Michael Anderson em 1993, com Charles Bronson. “A história de London é em sua quintessência americana. Difícil imaginar uma ascensão meteórica de pobre para rico em algum outro lugar ou em outra época”, defende Earle Labor, em Jack London, an American Life, a biografia mais completa já publicada sobre o autor. Susan Nuernberg, professora da Universidade de Wisconsin-Oshkosh e expert no tema, discorda do que chama de “clichê”. “Tratar Jack London como um bem-sucedido self-made man de nada serve para lhe dar o lugar que merece na literatura americana”, avalia. “Nem lhe faz justiça ao papel de pensador – e eu acredito que London foi, sobretudo, um escritor de ideias.” Essas opiniões ganham outra dimensão ao se detalhar um pouco mais a trajetória do escritor. Aquele milhão de dólares que se estima ter ele amealhado brilha ainda mais quando se toma conhecimento de que o menino Jack, se não passou fome na infância, teve de dar duro para levar dinheiro para casa. De segunda a sexta-feira entregava jornais pelas manhãs. Ia à escola à tarde. Nos fins de semana, trabalhava num boliche, colocando os pinos de pé. O sonho de um mundo repleto de aventuras começou a surgir quando Jack descobriu a biblioteca pública de Oakland. Tornou-se um devorador de livros. Usava a hora do recreio para ler em vez de brincar. Para escapar do trabalho nas fábricas, onde os mais pobres (crianças incluídas) eram massacrados dia após dia – rotina da sociedade americana no final do sécu-

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Tomando notas a bordo ou com rédeas nas mãos: aventureiro em tempo integral

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Paixão por lobos: nas capas e títulos das obras e no ex-libris do escritor (acima)

fotos © reprodução

Embaixo com a mulher Charmian no Havaí, Jack London virou selo em 1986

© Huntington

ia, USA

rino, Californ

Library, San Ma

lo 19 –, Jack saiu de casa inúmeras vezes, entre os 15 e 17 anos. Ali mesmo em Oakland foi pirata de ostras. Também cruzou o Pacífico como marujo e, bem sabemos, vagabundeou nos trens. Frequentava o high school aos trancos e barrancos quando retornava ao lar, sem jamais perder aquela “mania” de ler (e também de escrever). Um belo dia, sua mãe viu em um jornal de San Francisco o anúncio de um concurso para jovens escritores. Decidiu que o filho iria participar. Foi assim que Jack, aos 17 anos, colocou no papel o que tinha vivido ao largo do Japão a bordo do barco que sobreviveu, sabe Deus como, a um tufão. O conto Story of a Typhoon of the Coast of Japan, escrito ao longo de três noites em 1893, lhe rendeu US$ 25 e o primeiro lugar no tal concurso. Apesar da pouca idade, tantas injustiças já tinha presenciado na lide diária que foi em busca de um “instrumento de combate”. Aos 20 anos, filiou-se ao Partido Trabalhista Socialista. Capaz de defender ardentemente seus ideais sem perder o rigor da argumentação, logo se tornou o orador dos socialistas em Oakland. Só iria se desligar da política partidária décadas depois, desapontado com a “perda da ênfase na luta de classes”. Detalhe: foi o único escritor americano a ter um livro, The Iron Heel (O Tacão de Ferro, de 1907), incluído na bibliografia comunista selecionada por Bakunin. A obra é uma fábula de futurologia política, prevendo, quase três décadas antes, o totalitarismo nazista. Os compromissos políticos jamais o impediram de correr mundo. Bastava o cotidiano se mostrar en­tediante e... zás! Ele caía na estrada – ou no mar. “Quanto maior o perigo maior a aventura”, dizia. Aos 21 anos, podia ser encontrado em Klondike, na fronteira entre o Canadá e o Alasca, enfrentando todo tipo de desconforto no afã de encontrar ouro. Voltou sem um tostão, mas tão rico de histórias que tomou uma decisão, certamente a mais importante de sua existência: a de se tornar escritor. Passou a estudar horas a fio o estilo dos autores que mais admirava (Stevenson e, sobretudo, Kipling), ganhando o hábito, que o acompanharia até o fim, de produzir mil palavras por dia – salvo aos domingos.

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MEMória

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Sua obra está viva, até no cinema. Mas a casa de pedras virou ruína

© Huntington Library, San Marino, California, USA

Aceitou os mais ridículos empregos para poder tocar em frente seu plano de vida. Entre 1898 e 99, enviou braçadas de contos para os mais importantes editores do país – e se viu rechaçado dez em dez vezes. Tanto insistiu que a revista The Atlantic – na época, a mais prestigiada dos EUA – aceitou publicar uma short story (An Odyssey of the North), pagando US$ 120 dólares, em janeiro de 1900. Daí em diante foi um sucesso atrás de outro. O reconhecimento internacional do “Kipling americano” chegou em 1903, com O Grito da Selva, outro de seus enredos ambientados em Klondike, onde London se afeiçoou a um são-bernardo que serviria de modelo para Burke, o cão que narra a história. Susan Nuernberg ressalta: “Os livros de London se mantêm populares por sua simpatia com os desfavorecidos, o seu fair play e a sua admiração pela coragem nos momentos difíceis, e como todos nós a experimentamos”. Jack perguntava: “Se vivemos apenas uma vez e vamos permanecer mortos por muito tempo, então por que não aproveitar o que a vida tem de melhor?” Esse modo apaixonado de encarar o destino despertava fascínio entre as mulheres, afora o fato de ter sido Jack um homem atraente (“...os olhos de sonhador, o rosto marcante com algo de melancólico e, ao mesmo tempo, a sensação de uma força física terrível” é um dos retratos destacados na obra de Labor). Ao se aproximar do sexo oposto, contudo, era quase sempre tímido e desajeitado. Casou-se, em 1900, com uma amiga, Bessie. O casal teve duas filhas (Joan e Bess), mas o relacionamento revelou-se desastroso. Foi só ao se envolver com Charmian Kittredge, que a sua história afetiva tomou rumo. “...E o grande paradoxo”, ele registrou em carta para ela, “é que você trouxe ordem para a desordem da minha vida”. Charmian era uma grande aventureira e escritora de viagens. “Foi a mais fiel parceira que Jack teve em vida”, confirma Susan Nuernberg, que está preparando uma biografia sobre essa mulher particularmente independente (e criativa) para a época. Com o apoio de Charmian, Jack conseguiu concretizar alguns de seus sonhos dourados a partir dos 30 anos, como o de dar (quase) a volta ao mundo em um veleiro de 45 pés (o Snark, construído sob sua orientação) e comprar uns bons pedaços de terra em Glen Ellen. Ali ergueu o The Beautiful Ranch, hoje transformado no Jack London State Historic Park, em área de 557 hectares. Aberto ao público, com trilhas para perambular a pé ou a cavalo, molduradas aqui e ali por sequoias de cerca de 2 mil anos, o parque espelha a visão genial (e pouca conhecida) do seu antigo proprietário acerca da ecologia. Antes de os habitantes do planeta se preocuparem com o meio ambiente, Jack explorava a terra em terraços, para otimizar o cultivo da vinha, e sabia recuperá-la dos estragos causados pelos fazendeiros pioneiros. Criou um cercado para porcos, com recolhimento e postagem do esterco que de tão sui generis ganhou o nome The Pig Palace. Montou cocheiras de excelência para os garanhões da raça shire, outra de suas paixões, que trouxe da Inglaterra. Além disso, se empenhou em edificar a “mais boni-

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© Huntington Library, San Marino, California, USA

Com Charmian no Havaí e com as filhas do primeiro casamento: rica biografia

ta das casas”, a Wolf House – de mais de 1.300 metros quadrados, com quatro pisos, biblioteca de milhares de livros, e área íntima para Charmian (que sofria de insônia) e outra para ele mesmo (que se levantava cedo). Em 1913, após dois anos de construção, pouco antes de o casal se mudar para lá, um incêndio consumiu a casa por completo. “Nunca saberemos com certeza de quem foi a mão que acendeu o fogo”, escreveu Charmian em seu diário. Muito se confabula sobre o sinistro. Teria sido vingança de um índio, ex-empregado do rancho e ainda às turras com o ex-patrão. Certo mesmo foi o desespero de Jack, como se tivesse morrido por dentro. Quem visita o parque, visita também as ruínas na floresta. Em uma placa próxima, está escrita a profecia que não vingou: “Minha casa ficará de pé, se Deus permitir, por mil anos”. Jack London nunca teve talento para lidar com dinheiro. Acabou se endividando além da conta, de tanto querer inovar e expandir, sem êxito. Era um mão-aberta, consumindo tudo e mais um pouco do que ganhou. De tanto beber e fumar, além de outros excessos, deixava visível a quem o procurasse, antes mesmo de completar 40 anos, que algo andava consumindo sua vitalidade. O sorriso não era mais amplo, nem os olhos tão vivos. O fato é que houve mesmo quem suspeitasse de suicídio, pouco depois de confirmada a sua morte (por uremia ou falência dos rins, no diagnóstico). No quarto, foi encontrado um frasco vazio de morfina. Era assim que Jack amenizava as dores provocadas por pedras renais. Charmian sempre recusou essa versão, lembrando que o marido, ao contrário, foi capaz de cumprir a promessa feita anos antes, em versos: “A morte é doce. A morte é repouso. Pense nisso! – Descansar para sempre! Eu lhe prometo que, seja onde e quando a Morte me aparecer, eu vou saudá-la com um sorriso!”. Na biografia de Earle Labor está registrado, a partir dos diários de Charmian, que foi com “um sorriso rápido” que Jack London se despediu dela – e de todos. P

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história

Por ROBERTO MUGGIATI

Shakespeare de A a Z

Ele continua mais vivo que qualquer outro autor, 400 anos depois de sua morte

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illiam Shakespeare existiu, sim. Como não? E escreveu tudo a ele atribuído. Em especial, o fabuloso ciclo de 37 peças – um corpo literário tão vasto, tão lido e tão citado quanto A Bíblia. O Bardo nasceu em 23 de abril de 1564, em Stratford-upon-Avon. Morreu na mesma cidade, na mesma data, em 1616. Tinha somente 52 anos.

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Ainda hoje, fala-se que quase nada se sabe sobre Shakespeare. Na verdade, sabe-se mais sobre o Bardo do que sobre qualquer outro escritor da sua época. Aliás, sua vida pessoal costuma aparecer nas peças. Com 18 anos, ele casou-se com Anne Hathaway, de 26. A noiva estava grávida de três meses, algo comum na época. O incomum era a diferença de idade entre noivo e noiva. A primeira filha, Susanna, foi seguida por um casal de gêmeos, Ha-

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O retrato clássico. Com brinco

mnet e Judith. Hamnet morreria aos 10 anos. Pois bem, em Noite de Reis o Bardo trata de um casal de gêmeos, Viola e Sebastian; e na Comédia de Erros joga com dois pares de gêmeos. Já Noite de Reis retrata a busca de Viola por seu irmão gêmeo. Foi encenada em 1602, seis anos após a morte de Hamnet. Existe, sim, um buraco negro na biografia de Shakespeare entre 1585 e 1592. Nesses sete anos ele poderia ter visitado a Itália (Verona? Veneza?), combatido nos Países Baixos, estudado direito ou medicina, ou trabalhado como aprendiz de ator/autor. Por fim, fixou-se em Londres. Em 1595, seu nome consta como membro da companhia Lord Chamberlain’s Men. A essa altura, já havia alcançado sucesso e

prestígio. Na primeira década dos 1600, várias notícias mencionam Shakespeare como ator, autor e homem de teatro. Nos últimos anos de vida, parece ter concentrado suas atividades na cidade natal. Assinou seu testamento menos de um mês antes de morrer. Numa época de tumulto político e social parecida com a nossa, Shakespeare falou de tudo. Há até um impeachment em Ricardo II. Numa crônica de 1896, quando o mundo vivia também um momento de turbulência, Machado de Assis resumiu: “Um dia, quando já não houver império britânico, nem república norte-americana, haverá Shakespeare; quando se não falar inglês, falar-se-á Shakespeare”.

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história

Drogas

Amor Quando o computador chegou à universidade, os scholars correram a fazer estatísticas dos estilos literários. Nem seria preciso recorrer à informática para dizer que “amor” é uma das palavras mais recorrentes no vocabulário de Shakespeare. Uma das citações mais famosas é de Sonho de uma Noite de Verão: “Se a música é o alimento do amor, então toquem”. Shakespeare escreveu a maior história de amor de todos os tempos, Romeu e Julieta; e a maior intriga de ciúme, Otelo. Uma frase de Muito Barulho por Nada – “Fale baixo se você fala de amor” – inspirou uma das maiores canções românticas do século 20, “Speak Low”. Leslie Howard (Romeu) e Norma Shearer (Julieta) em 1936

Bardo Na Inglaterra medieval, um bardo era um poeta, contador de histórias ou músico profissional a serviço de um monarca ou nobre, para celebrar seus ancestrais e os próprios feitos. O sucesso de Shakespeare se deve principalmente ao fato de que sua arte agradava a todas as camadas sociais. Mais de 425 anos depois da sua primeira peça – em 1590 –, seu teatro é cada vez mais lido e encenado. Muitas das tramas foram transplantadas em filmes para a época atual, uma prova da sua contemporaneidade. (A versão de

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Ele se drogava? Em escavações no terreno de sua casa em Stratford-upon-Avon, cientistas acharam fragmentos de cachimbos com resquícios de cocaína, maconha e uma substância alucinógena, o ácido mirístico, derivada da noz-moscada. A descoberta foi anunciada em 2001 em artigo no The South African Journal of Science. As obras de Shakespeare são ricas em alusões a drogas, venenos e poções. A poção benigna que Julieta toma para se fingir de morta seria Atropa belladonna. Em Sonho de uma Noite de Verão, Oberon ordena a Puck: “Vá buscar para mim aquela flor, a erva que eu te mostrei certa vez”. A substância tem poderes afrodisíacos que não funcionam com a mulher de Oberon, Titânia. Sendo assim, ele repassa a droga a quatro jovens na esperança de resolver seus dilemas românticos. Fala-se muito na alusão do Soneto 76 a uma “noted weed” (erva notória) e a “compounds strange” (“estranhos compostos”). No século 17, a cannabis era usada para fabricar cordas, tecidos e papel. Também se recorria a ela como tratamento para certas doenças. Não só. Na Inglaterra do Renascimento já se usava drogas por prazer.

Romeu e Julieta em West Side Story ganhou dez Oscars.) Shakespeare criou mais de 3 mil palavras, transformando substantivos em verbos, verbos em adjetivos, ligando vocábulos nunca antes usados juntos e inventando palavras. Exemplos: football, schoolboy, mimic, upstairs, downstairs, shooting star (estrela cadente) e partner. O Bardo conhecia sete línguas, além do inglês, e as citava nas peças. Seu vocabulário, com mais de 24 mil palavras, é maior do que o de qualquer outro escritor. Segundo o professor James Davie Butler (1915-1905), “o vocabulário total da poética de Milton chega a 17.377 palavras; o do Homero, incluindo os hinos, a Ilíada e a Odisseia, mal passa dos 9.000, enquanto 5.860 palavras esgotam o vocabulário da Divina Comédia de Dante”.

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Freud leu Hamlet. E se inspirou

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Édipo Shakespeare ocupava um espaço importante não só na estante de Sigmund Freud, como no pensamento do Pai da Psicanálise. Sófocles narrou o mito de Édipo; já Shakespeare, em Hamlet, o aborda de uma maneira incrivelmente moderna. Freud começou a ler o Bardo aos 8 anos e citava trechos das peças em cartas a amigos, a colegas e à amada. A rigor, as peças de Shakespeare são a matéria-prima a partir da qual Freud construiu a psicanálise. Ao fugir do nazismo que o ameaçava em sua Viena, onde viveu a partir dos 4 anos, o psicanalista escolheu morar em Londres. A cidade onde Shakespeare reinou.

Fólio Os originais de Shakespeare, escritos à mão e muitas vezes emendados com correções e acréscimos, eram apenas um roteiro básico – a peça se escrevia à medida que era representada, com várias inserções, “cacos” dos atores e até da plateia. Depois que as obras foram impressas, os originais se perderam. Só persiste um manuscrito atribuível à letra de Shakespeare – poucas páginas de uma peça nunca encenada, Sir Thomas More. Naquele tempo havia os quartos e os fólios. Quartos eram li-

vros diminutos. Custavam 6 pences – o equivalente a US$ 5 de hoje. Fólios eram volumes grandes. Saíam por algo em torno de 15 e 18 xelins, o que daria hoje de US$ 150 a US$ 180. O First Folio de Shakespeare foi publicado em 1623 – sete anos após sua morte – e enfeixava 36 peças. Nas edições subsequentes seria acrescentada a peça que faltava, Pericles, Prince of Tyre.

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história viagem

Humor Shakespeare foi o primeiro transgênero – espere aí, não é o que você está pensando. Ele foi o primeiro autor a transpor a camisa de força dos gêneros, injetando comédia na tragédia e reflexão nas peças mais leves. Em Júlio César, há uma cena em que a turba persegue alguém identificado como Cinna, nome de um dos conspiradores contra César. -Não sou Cinna o conspirador; sou Cinna o poeta. Mas ninguém segura a turba quando ela quer sangue:

Influência

influência notável sobre os românticos. O francês Victor Hugo viu nele um símbolo da luta contra a ordem estabelecida e o bom gosto clássico, um artista capaz de unir “o teatro do Olimpo e o de feira”, o grotesco e o sublime. Um fato curioso: depois de matar o presidente dos EUA Abraham Lincoln com um tiro na nuca, no camarote de um teatro, John Wilkes Booth saltou ao palco, ergueu o punhal para a plateia e gritou “Sic semper tyrannis” (“Sempre assim com os tiranos”). É a fala de Brutus após esfaquear Júlio César. Ator, Booth representou Júlio César em Nova York, no papel de Marco Antônio. Last but not least, convém lembrar as legiões de peregrinos que Romeu e Julieta atrai à cidade italiana de Verona, particularmente à casa de Julieta, com sua sacada famosa. No Club di Giulietta (www.julietclub.com), voluntários respondem cartas do mundo inteiro. Desde os anos 1930 elas são endereçadas a Julieta em Verona, mas só em 1980 a entidade foi criada oficialmente. Tem até um psicoterapeuta para casos de viés suicida. No ano que se seguiu ao filme Cartas para Julieta (2010), mais de 4 mil cartas foram recebidas em Verona. Pode-se dizer que Julieta é páreo para Papai Noel (Polo Norte, Alasca 99705) e Sherlock Holmes (221B Baker Street, Londres).

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Alguns dos romances mais famosos do século 20 tiveram seu título tirado de peças de Shakespeare. A distopia de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo, foi inspirada numa fala de A Tempestade. William Faulkner tirou o seu O Som e a Fúria de Macbeth. John Steinbeck foi buscar em Ricardo III o seu O Inverno da Nossa Desesperança. O título da peça A Ratoeira, de Agatha Christie, foi pinçado da resposta irônica que Hamlet dá ao tio, o rei usurpador, quando ele pergunta o nome da peça que acabaram de ver: The Mouse-trap. O cineasta Ingmar Bergman puxou de Sonho de uma Noite de Verão a sua deliciosa comédia Sorrisos de uma Noite de Amor. O título inglês da obra-prima de Marcel Proust é até mais poético que o original francês, tirado do soneto 30: Remembrance of Things Past. Nosso Machado de Assis também foi marcado pelo Bardo. No livro Romance com Pessoas - A Imaginação em Machado de Assis (2014), José Luiz Passos, professor da Universidade da Califórnia, aponta mais de 200 referências diretas a Shakespeare na obra machadiana. As sombras de Otelo, Iago e Desdêmona pairam sobre o trio de Dom Casmurro: Bentinho, Escobar e Capitu. Ainda na literatura, o Bardo exerceu uma

-Matem-no por seus versos ruins. -Mas não sou Cinna o conspirador. -Não importa, arranquem o nome Cinna do seu coração! Na mesma peça, o discurso de Marco Antônio no funeral de César é um primor de ironia, com seu bordão ferroando o traidor: “Mas Brutus é um homem honrado”. Em Hamlet há muito de humor negro por conta das trocas de veneno nas taças e na ponta das espadas. Mais: um humor jovial e por vezes terno corre solto em comédias e fantasias como Comédia de Erros, Como Gostais, Sonho de uma Noite de Verão e muitas outras.

Autores, por ordem de entrada no texto

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Lillie Langtry como Cleópatra, em 1891

James I da Inglaterra, por Daniel Mytens

King’s Men

Mulher

Foi o nome que a companhia teatral de Shakespeare adotou em 1603 quando o rei James subiu ao trono e se tornou o patrono do grupo. A maior dificuldade em resgatar as peças de Shakespeare para um livro era o fato de os textos não se destinarem à publicação. Eram roteiros com marcações e falas reservadas aos atores. O dramaturgo não tinha muito domínio sobre o resultado final. As figuras que contavam eram os atores principais. Eles decidiam quais peças seriam apresentadas, escolhiam o escritor e muitas vezes lhe davam sugestão de enredo e personagens. Talvez por isso Shakespeare tenha se defendido também como ator. Em certas peças, havia vários escritores em trabalho de colaboração. Os autores ficavam anônimos. Uma situação muito parecida com a dos grandes estúdios de Hollywood, que empregavam um batalhão de scriptwriters. Shakespeare destacou-se como uma figura excepcional porque não só tinha cotas de sua companhia, como era ator e o seu principal autor.

O Bardo foi o modelo pioneiro do “homem que amava as mulheres”. Nenhum outro escritor mostrou tanta simpatia pelas personagens femininas. Ele eternizou figuras trágicas como Julieta, Desdêmona, Ofélia, Lady Macbeth, Cleópatra e as três filhas do rei Lear. Em A Megera Domada, fez um dos mais perspicazes estudos da relação homem-mulher, com uma leitura antecipada do feminismo – quatro séculos antes dos anos 1960! Mas foi nas comédias – principalmente naquelas em que trata de mulheres que se disfarçam de homens – que descreveu a superioridade do “segundo sexo”, em inteligência e imaginação. Viola, de Noite de Reis, e Rosalind, em Como Gostais, são exemplos notáveis. É curioso reparar que essa indefinição de gêneros coincidia com a inexistência de atrizes. Os papéis de mulher eram interpretados por homens, jovens aprendizes. Só com a restauração da monarquia em 1660, e o apoio pessoal do rei Charles II, surgiram as primeiras atrizes profissionais na Inglaterra.

Palco A ideia de que a vida não passa de uma representação teatral aparece com frequência nas peças. Em Como Gostais, o duque desterrado comenta com seu acompanhante Jacques: “Vês que não estamos totalmente sozinhos na infelicidade./ Este teatro vasto e universal oferece personagens mais calamitosos do que os da cena que nós estamos representando”. Jacques parte daí para o monólogo famoso: “O mundo inteiro é um palco,/E todos os homens e mulheres são meros atores:/Eles têm suas saídas e suas entradas;/E um homem cumpre em seu tempo muitos papéis.” Segue-se a magistral descrição das sete idades do homem, em que introduz o conceito de “moderno” e alfineta os juízes: “E então vem o juiz,/Com uma grande pança arredondada pelo consumo de frangos gordos,/Com olhos severos e barba bem cortada,/ Cheio de aforismos sábios e argumentos modernos”. O Bardo parece antever os pomposos hipócritas togados que ainda regem nossas vidas.

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história

Retratos Durante 385 anos a imagem do Bardo que se consagrou foi a gravura em preto e branco que ilustra o First Folio em 1623, obra de Martin Droeshout. Ela é parecida com o busto memorial de Shakespeare feito por Geraert Jansen em 1620. O modelo usa uma jaqueta escura, tem a gola da camisa desamarrada e ostenta no ouvido esquerdo um brinco de argola de ouro. Pesquisadores admitem que a roupa e o estilo de barba e cabelos correspondem ao que usaria na época um homem de letras. Em 2001, surgiu no Canadá um visual diferente dos anteriores, apresentando um Shakespeare jovem, de olhar maroto. Um aposentado alegou que o retrato pertencia à família porque foi pintado por um ancestral, John Sanders, que, além de artista plástico, atuou no teatro ao lado de Shakespeare. Este seria o único retrato do Bardo pintado em vida. É o que demonstram as pesquisas. Ainda há, porém, muita resistência a aceitarem-no como tal. Sobretudo pelo peso de séculos da iconografia que retratava o Bardo como um senhor muito sério. O Bardo, por John Sanders

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Em 1964 eu trabalhava no Serviço Brasileiro da BBC de Londres, a Inglaterra festejava os 400 anos de nascimento de Shakespeare e fui incumbido de fazer uma crítica de uma estreia de Ricardo III no teatro de Stratford-upon-Avon. Chegado ao burgo do Bardo, segui para o centro da pequena cidade em busca de uma casa de chá para o 5 o’clock tea com muffins e scones. De repente, deparei na rua com algo bizarro, um homem empurrando uma carreta de mão cheia de cabeças cortadas: eram os acessórios de palco daquela noite. Não faltam cabeças – ou outras partes do corpo humano – cortadas nas peças de Shakespeare, e o sangue corre num caudal. Em Macbeth são litros. “Poderá todo o grande oceano de Netuno lavar este sangue de minha mão?” Lady Macbeth resiste a sentimentos de culpa e remorso. No final, sonâmbula, fala de assassinato e lava obsessivamente as mãos: “Como? Estas mãos nunca ficarão limpas? Sinto ainda o cheiro de sangue. Nem todos os perfumes da Arábia conseguiriam adoçar esta pequena mão”. E, num brado de aflição: “Fora, maldita mancha! Fora! Eu ordeno!”.

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Sangue

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Tramas O dramaturgo irlandês George Bernard Shaw – crítico do que chamava de “bardolatria” – costumava falar com ironia do “dom [de Shakespeare] de contar uma história (desde que alguém já a tivesse contado antes).” Machado de Assis comentou que o Bardo “se beneficiou sistematicamente da especiaria alheia para a confecção do molho de sua fábrica.” Não importa: a arte de Shakespeare não estava em compor enredos, mas em contar uma história – não importa qual – da maneira mais eficaz e atraente. Aqui, algumas de suas fontes: • As peças greco-romanas (Antônio e Cleópatra, Coriolano, Júlio César e Timão de Atenas) tiveram sua inspiração no filósofo e historiador grego Plutarco (46-120), autor de Vidas Paralelas, com mais de 40 biografias de líderes da Antiguidade. • As peças do ciclo inglês se basearam nas crônicas de

Plutarco

Raphael Holinshed

Raphael Holinshed sobre a Inglaterra, Escócia e Irlanda. Mas Shakespeare, menos do que com a fidelidade histórica, se preocupou muito mais em remodelar para fins dramáticos e jogar com as emoções da plateia. Daí o sucesso dos Henriques IV, V, VI e VIII, dos Ricardos II e III, de Rei Lear, Macbeth e Cimbelino. • A tragédia de Hamlet veio da Gesta Danorum, de Saxo Grammaticus, escrita em 1200. Shakespeare teria lido o original em latim. • A história de Romeu e Julieta era bem conhecida. Mas Shakespeare teria trabalhado a partir do poema de Arthur Brooke, The Tragical History of Romeus and Juliet, de 1562. • Do original italiano de Decamerão, de Giovanni Boccaccio (1313-75), vieram ideias para Os Dois Cavalheiros de Verona, Tudo Bem Quando Termina Bem e Cimbelino.

Saxo Grammaticus

Poema de A. Brooke

Giovanni Boccaccio

Zodíaco Shakespeare fez mais de cem referências à astrologia em suas peças, definindo a sorte dos personagens pela ação dos planetas e estrelas. Romeu e Julieta são os amantes “sob má estrela”. Romeu se envenena porque era a única maneira “de escapar ao jugo das estrelas adversas”. Também Marco Antônio, em Júlio César, culpa as estrelas e o eclipse por suas derrotas. Em Tudo Bem Quando Termina Bem, Helena diz a Parolles: “Você nasceu sob uma estrela caridosa”. Confira em Rei Lear: “Estes últimos eclipses de Sol e Lua não nos trazem nenhum bem”. A Era Elizabetana era muito voltada para a astrologia e Shakespeare soube incorporar as sutilezas do zodíaco à sua arte. Sempre detectando, como poucos, o gosto da plateia.

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Por mario ciccone

l200 triton sport em seu modelo 2017, a cabine dupla da mitsubishi ganha novo motor e estรก mais potente, mais leve e confortรกvel

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motor

A L200 Triton Sport funciona com quatro variações de tração. Basta selecionar

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e a nova cabine dupla Mitsubishi L200 Triton Sport tivesse vontade própria, ficaria completamente à vontade na hora de escolher por onde trafegar. Do asfalto mais lisinho ao pior piso possível, tudo para ela é caminho. Circula com imponência na cidade (como um carro de luxo) e tira de letra lama, pedras e buracos. On e off na sua mais completa tradução. Quem gosta de off-road, ou não pode evitá-lo na lida diária, vai gostar de saber que o carro transporta sem sofrer mais de uma tonelada de carga. “A nova L200 Triton Sport é a evolução de um projeto de muito sucesso e ousadia”, explica Reinaldo Muratori, diretor de Engenharia e Planejamento da Mitsubishi Motors do Brasil. “Ela carrega a experiência de quase 40 anos da marca no desenvolvimento de picapes.” A mais nova integrante da linha L200 chega com a missão de aprimorar um clássico do fora de estrada nacional. “Em sua quinta geração, a cabine dupla foi concebida para ser dinâmica e atlética”, prossegue Muratori. “Ela une esportividade e prazer ao dirigir – e agrega conforto, silêncio e sofisticação de um carro de passeio de luxo.” Mais: a picape é prática e durável para utilização comercial.

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Fabricada na unidade de Catalão (GO), da Mitsubishi Motors do Brasil, a nova L200 Triton desponta em três versões: Sport HPE Top, Sport HPE e Sport GLS (com câmbio manual). O trio chega com visual reformulado e diversas inovações. Isso não significa, porém, que a linha L200 Triton sairá de produção, muito pelo contrário. A L200 Triton Sport chega como mais um produto. Com isso, você tem nove opções para escolher sua L200. Pioneira

A nova picape da Mitsubishi é o primeiro veículo de seu porte a utilizar um motor de alumínio, o que permitiu uma significativa redução de peso. Sob o capô, o motor turbodiesel entrega 190 cavalos de potência máxima e impressionantes 43,8 kgf.m de torque. O conjunto da obra é um veículo de alta performance, com funcionamento silencioso e mais econômico. Outro trunfo é o sistema MIVEC. Exclusivo, ele garante torque alto mesmo nas rotações mais baixas – e potência de sobra em giro mais elevado. Seu sistema de tração já é referência. Falamos aqui do Super Select II. Basta escolher entre 4x2 (maior economia de combustível),

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A nova versão vem com design remodelado e interior com ainda mais espaço

4x4 (para o asfalto em dias de chuva), 4x4 com bloqueio do diferencial central (off-road) e 4x4 reduzida (trilhas pesadas). Um seletor no console central administra todas as opções do motorista. A L200 Triton Sport também não se intimida com valetas transversais ou erosões. Nessas situações extremas, o veículo pode bloquear o diferencial do eixo traseiro e passar por terrenos mais difíceis, mesmo que as rodas fiquem suspensas. A travessia por trechos alagados é outro destaque: a picape projeta a massa líquida apenas para as laterais, desviando-a do para-brisa. Assim, a visão do motorista é preservada justamente em situações mais críticas. Sofisticada

Ainda que conhecida como casca grossa, a nova L200 Triton Sport vai mudar o conceito sobre equipamentos de uma picape. O interior é caprichado nos quesitos conforto, tecnologia e acabamento. E há mais espaço em toda a cabine para motorista e passageiros. Os novos bancos foram concebidos para garantir conforto tanto em longas viagens, como no fora da estrada mais com-

ela não só é capaz de enfrentar os terrenos mais hostis. faz isso transportando uma tonelada plicado. Os dianteiros estão mais largos e ganharam estofado maior. Isso reduz a movimentação do corpo nas manobras. Resultado: menos fadiga ao dirigir ou mesmo ao viajar como passageiro. O painel e o console central receberam acabamentos Piano Black e Chrome-Like Silver. É a perfeita união do preto brilhante com o cromado. Por fim, há uma tecnologia de bordo das mais completas, como controle de tração e estabilidade e um sistema multimídia. Ele se materializa em tela de 7 polegadas power touch, câmera de ré e sensores para chuva, estacionamento e luminosidade. No volante, estão comandos para o áudio, cruise control e telefone (via Bluetooth). A P mais harmônica combinação de on e off num carro nacional. mitsubishimotors.com.br

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velocidade Por luiz guerrero

PULO DO GATO A JAGUAR se rendeu aos SUVs E LANÇA o bravíssimo F-Pace

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A identidade visual da marca foi mantida

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velocidade

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uarde as informações a seguir. Elas ajudarão você a entender os motivos que levaram a Jaguar a construir o F-Pace. Pois bem, até 2020, os SUVs venderão mais que os sedãs. SUV, para quem passou os últimos dez anos trancado em uma caverna e sem celular, é a abreviação em inglês para veículo utilitário esportivo. Ou, para melhor compreensão, os automóveis com formato de um jipe convencional, mas com o conforto de um carro de luxo e a versatilidade de uma perua – e que exerce, sobretudo nas mulheres, o mesmo fascínio que um colar de pérolas. Alguns fabricantes preferem usar a terminologia crossover, que nada mais é a mistura de tudo, para definir os modernos SUVs. Crossover: é assim que a Jaguar chama o F-Pace. O fenômeno começou há muito mais tempo do que se presume. Ainda em 1935, a Chevrolet lançou o Suburban. Era basicamente um sedã, mas com a carroceria mais alta que o normal. O mais incrível: o Suburban permanece em produção. É aquele carro que você vê em filmes transportando agentes do governo americano. Nos anos 1970, alguns fabricantes decidiram instalar acessórios e equipamentos, antes restritos a sedãs de luxo, nesses veículos com características de jipe. E assim surgiram os SUVs modernos. O Ranger Rover, de 1970, é um bom exemplo disso. De lá para cá, foram surgindo novos tipos e tamanhos de utilitários esportivos, mas esse gênero de carro só caiu no gosto dos motoristas por dois motivos antagônicos. O primeiro: algumas marcas de alto prestígio, como Mercedes-Benz, BMW, Audi e por fim a Porsche, entraram pesado na disputa e passaram a despertar desejos de quem nunca tinha cogitado ter esse tipo de veículo. O segundo: os fabricantes de alto volume de produção perceberam o apetitoso nicho e passaram a oferecer SUVs compactos – e mais em conta. Hoje, dizem os analistas de mercado, quem não tem um SUV no catálogo corre o risco de amargar prejuízo. Isso parece bastante real quando se conta nos dedos de uma mão o número de marcas que ainda resistem à tendência. Até mesmo a Ferrari e a Rolls-Royce anunciaram modelos do gênero. E assim chegamos ao F-Pace, mostrado pela primeira vez em setembro do ano passado na Europa e lançado agora em abril, em Montenegro, nos Balcãs. Por que Montenegro? Simples. Ali se estende um território repleto de desafios para que os jornalistas pudessem colocar em prova as habilidades do modelo. As críticas, diga-se, foram altamente favoráveis à novidade. Vai daí que as vendas no Brasil já começaram. Se você por acaso se convencer de que é um

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bom investimento depois de ler este relato, separe pelo menos R$ 310 mil para estacioná-lo em sua garagem. Depois que a Porsche, aquela marca sempre associada ao cupê esportivo 911, lançou o Cayenne, seu primeiro SUV, em 2002, ninguém mais se espanta quando fabricantes com apego ao lastro histórico passam a oferecer um utilitário esportivo em seu catálogo. Mas, no caso da Jaguar, a expectativa em torno do F-Pace era justificável. Esperava-se que mais cedo ou mais tarde a empresa viesse com seu SUV. E aqui vale lembrar que a Jaguar pertence desde 2008 à indiana Tata Motors, conglomerado que também tem sob seu guarda-chuva a Land Rover. Só não se sabia se veríamos um Range Rover com o leap cat espetado na ponta do capô. O mistério se desfez no Salão de Frankfurt de 2012 quando o diretor de design da Jaguar Ian Callum tirou a capa que encobria o primeiro protótipo do F-Pace, o conceito C-X17, e revelou um puro-sangue da marca britânica. As mudanças estéticas do C-X17 para o carro de produção que surgiria três anos depois foram mínimas – e isso deve ser elogiado. O F-Pace se impõe, sim, pelo porte, mas especialmente pela simplicidade bem trabalhada do desenho. Não se veem nas chapas de alumínio que formam a carroceria as reentrâncias e saliências (que os designers contemporâneos chamam de efeito de luz e sombra) exageradas e tão em moda em algumas marcas. No espaço de 2,87 metros entre o eixo dianteiro e traseiro o que predomina é o equilíbrio. A Jaguar anuncia distribuição de peso à razão de 50% em cada eixo e isso é uma das condições fundamentais para que um carro seja agradável ao volante, como se verá mais adiante. Ainda sobre o desenho, vale notar que o designer Ian Callum, um escocês de 62 anos, conseguiu manter a identidade visual da Jaguar sem ter gerado uma criatura disforme. A semelhança com os sedãs

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XE e XF é clara, mas também há menção ao belo F-Type por meio das lanternas traseiras formadas por delgadas lâminas que, como os faróis de LED, simulam olhos felinos. “Toda a minha carreira de designer foi marcada por criar esportivos e sedãs”, conta Callum, que, entre outras criações, assina as linhas do Aston Martin Vanquish e do Jaguar F-Type. “Por isso senti-me provocado ao desenhar o F-Pace.” Por dentro, o que mais chama atenção não é o requinte sóbrio característico de um Jaguar. Isso já era esperado. O que impressiona, de verdade, é o amplo espaço no banco traseiro e a capacidade, 650 litros, do porta-malas. O sistema de entretenimento, obrigatório em qualquer carro moderno dessa categoria, é anunciado como o mais avançado já produzido pela Jaguar. Funciona como um tablet, sem botões, e é realmente rápido. Como Callum, a engenharia também se sentiu provocada ao criar o F-Pace. A principal referência do time era o BMW X3, um SUV compacto com dinâmica impecável. Mas no meio do processo, em 2014, surgiu o Porsche Macan. Resultado: a Jaguar parou para rever todos os seus conceitos de SUV. Foi a partir do Macan que o F-Pace se tornou menos utilitário para ficar mais esportivo. Sim, o F-Pace conta com todos os recursos eletrônicos de estabilidade disponíveis no mercado – e não poderia ser diferente para um veículo de 1.800 quilos. Mas, além da eletrônica, a engenharia adotou outras soluções para reduzir o centro de gravidade do veículo.

Por dentro e por fora, o requinte sóbrio que se espera da marca

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velocidade

Assim como o porsche macan, sua clara inspiração, o f-pace é um SUV menos utilitário e mais esportivo

O motor V6 de 380 cavalos forma dupla afiada com a caixa de transmissão automática

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Talvez a mais notável tenha sido o redesenho das torres que abrigam a suspensão dianteira. As peças foram moldadas de modo a manter a dianteira o mais perto do solo possível. Em resumo, o F-Pace roda como se fosse um sedã esportivo. A direção é precisa, a suspensão trabalha com eficiência e o motor (no caso o mais forte deles, o V6 de 380 cavalos) associado a uma transmissão automática de oito marchas forma dupla afinada. Não é um carro para escalar paredes. Mas também pode rodar com decisão em terrenos desfavoráveis em virtude dos sistemas originalmente criados para os Land Rover (lembre-se que Jaguar e Land Rover pertencem ao mesmo dono). Um deles é o Terrain Response. Ele muda os parâmetros de tração conforme as condições do piso. Uma das etapas de desenvolvimento do F-Pace, a propósito, foi no lendário campo de provas de Eastnor, na Inglaterra, onde os Land Rover são testados. Sabemos que dificilmente o dono de um F-Pace irá enfrentar rampas íngremes e enlameadas. Mas vai que. P

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garagem

Por mario ciccone

Mรกquinas versรกteis Tecnologia, desempenho e economia. Lexus, Volvo, KTM e Honda aceleram forte para ganhar mercado no segmento premium

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Novo RX 350 tem tela de 12,3 polegadas no console central

P

Lexus RX 350 or mais que se perca a conta, nunca é

muita eficiência nas ultrapassagens. É tudo de que

demais voltar a Ilhabella. Não apenas

gostamos em um carro: motor com autoridade

pelo destino em sim, mas também

e performance esportiva na estrada.

pela jornada. As curvas e retas das

A marca destaca ainda um dado técnico que

estradas Mogi-Bertioga e Rio-Santos trazem

pode passar despercebido na hora de acelerar, mas

emoção renovada. E estar ao volante do novo

faz toda a diferença para a eficiência do consumo

Lexus RX 350 foi uma missão das mais prazerosas.

de combustível da máquina. Trata-se da tecnologia

E prontamente aceita. Paramos apenas para

D-4S, um sistema que determina a injeção direta

abastecer, mais a nós do que ao carro, que faz em

do combustível sob alta pressão dos cilindros.

média 8,5 km/litro.

Quem dirige tem tudo para se sentir à vontade.

Essa é a quarta geração do SUV da marca

Os passageiros, idem. Uma tela de 12,3 polegadas,

premium da Toyota. Concebida para desafiar os

por exemplo. Ou o sistema de som Pioneer com

melhores dos melhores, a Lexus coloca muitas

12 alto-falantes, incluindo um subwoofer.

fichas na quarta geração do RX 350. O veículo tem

Do lado de fora, a grade frontal resume o

motor V6 3.5L e desenvolve 305 cv. São números

conceito da Lexus. É ao mesmo tempo agressiva

ótimos de saber antes de entrar no carro. Porque

e esportiva. A carroceria sugere uma peça única,

sabemos o que podemos exigir.

como se fosse uma obra de arte no formato de

Com transmissão automática de oito

diamante. Uma forma bem apropriada para uma

velocidades, o novo RX 350 permite trocas de

marca que sempre foi obcecada pela perfeição.

marchas suaves, porém com boas arrancadas e

lexus.com.br

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garagem Volvo XC60 D5

É

até estranho falar de um modelo da Volvo e não focar na segurança. Para a marca sueca, esse tema é uma obsessão. Mais no que a segurança, no entanto, o

que chama a atenção no XC60 D5 é a entrada no segmento de veículos a diesel. Com motor turbodiesel 2.4 de cinco cilindros este Volvo desenvolve 220 cv, com boa performance inclusive na economia de combustível. Quanto consome? São 9,5 km/l na cidade e 12,4 km/l em estrada. Tem um tanque de 70 litros, o que garante autonomia de 868 quilômetros. Com tração integral, o XC60 diesel apresenta, ainda, sistema para distribuir a força conforme a necessidade em cada roda. Se uma delas perde a aderência, o torque varia de acordo com a exigência do terreno e garante a dirigibilidade. Em todas as suas versões, o modelo é o carro-chefe da Volvo no Brasil e Volvo XC60 D5 tem sistema de distribuição do torque para garantir tração e estabilidade

O

corresponde a 53% das vendas neste ano. volvocars.com.br

KTM 390 Duke s austríacos da KTM têm a competitividade nas veias. Nas pistas e nos ralis. Não por acaso, conquistaram 14 vitórias consecutivas no Rally Dakar.

Para o dia a dia, o fabricante aposta em modelos como

a KTM 390 Duke. Esta moto naked tem ótima agilidade para o uso urbano, especialmente se o motociclista estiver sozinho. Além disso, conta com excelente relação peso-potência. O modelo 44 cv oferece ainda boa ciclística em estradas mais sinuosas. A 390 Duke tem no seu DNA o conceito Ready to Race, uma marca registrada da KTM. O modelo foi inspirado na moto top de linha 1290 Super Duke R. Quando testar a sua aceleração, você ai entender o que estamos falando. No Brasil, a Dafra é a representante da KTM. ktm.com.br

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Modelo naked, a KTM 390 Duke é muito ágil para o uso urbano

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Com motor de 173 cv, versão Touring flerta com o segmento premium

honda civic

O

leitor da THE PRESIDENT deve estar se perguntando

pontos cegos. Ao acionar a seta, as imagens aparecem na tela

o que Honda Civic está fazendo em uma seção de

do console central.

veículos premium. Pois bem, a montadora japonesa

Na versão Touring, o Civic tem motor turbo 1.5 de quatro

traçou uma meta rigorosa para a geração 10 do seu sedã mé-

cilindros que desenvolve 173 cv. Em estradas, o modelo desfila

dio: estar entre os melhores, inclusive incomodando marcas de

com naturalidade. Em retas da rodovia dos Bandeirantes, tem

mais prestígio. E eles conseguiram.

velocidade cruzeiro de 140 km/h, sem fazer qualquer esforço.

A versão Touring tem elementos de sobra do segmento

Para sentir o motor, sprints a 165 km/h mostravam bom desem-

premium. Lembra muito o Accord em potência, conforto e

penho e incrível estabilidade. Entre os equipamentos, bancos

tecnologia. A exemplo do top de linha da Honda, o Civic tem

com ajustes elétricos, sensores de chuva e de estacionamento.

uma chave com acionamento a distância. Isso permite ligar o

Diferentemente do que qualquer preconceito poderia

motor e resfriar (ou aquecer) previamente o interior do veícu-

mostrar, a Honda concebeu a nova geração do Civic como um

lo. Outro recurso que vem do Accord é o sistema LaneWatch,

carro para gente grande.

que utiliza uma câmera no retrovisor direito para minimizar os

honda.com.br

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mulher Por Angelo pastorello

vem cá,

LUIZA Me dá tua mão. O teu desejo é sempre o meu desejo. Vem, me exorciza. Dá-me tua boca, Luiza Possi

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mulher

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mulher

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mulher

Styling Acervo Luiza Possi Beleza Rafael Guapiano

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luxo

Por luciana Lancellotti

Comme d’habitude Eles passaram por reformas recentes. Mas nada que mudasse a essência do Plaza Athénée e do Le Meurice, dois clássicos centenários da hotelaria parisiense

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Suíte Meurice e varanda do Athénée. Precisa mais?

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luxo

S

ob um teto todo forrado com flores de tecido azul-royal

batentes americanos, durante a Libertação de Paris. Passado o conflito, a

funciona Le Bar du Plaza Athénée, o bar de coquetéis mais

brasserie atravessou as décadas preservando a atmosfera art déco e se con-

elegante de Paris. Ali, um público que inclui políticos, em-

solidando como uma instituição parisiense. Hoje, está sob o comando do

presários, artistas e personagens do grand monde brinda ao

chef executivo Philippe Marc, que, além de propor pratos inventivos, faz

sabor de drinques criativos e canapés preparados com to-

uma competente releitura de clássicos franceses, como o imperdível boeuf

ques gastronômicos. O prédio é centenário e as paredes têm revestimento

en tartare, preparado ao lado da mesa, comme il faut.

clássico de madeira. Perpendicular a elas, o balcão contemporâneo com

Como bom francês, o Plaza Athénée se destaca pelos sabores. É cres-

superfície de resina incolor parece flutuar no ambiente. Essa combinação

cente o número de frequentadores, hóspedes ou não, que chegam do mun-

de tradição e modernidade é uma extensão da atmosfera do Plaza Athé-

do inteiro seduzidos pela gastronomia do hotel, sob a batuta de ninguém

née: em todos os cômodos do hotel, a sensação é a de estar em um lugar que

menos que Alain Ducasse. O aclamado chef monegasco supervisiona todo

transita no tempo, sem pertencer ao passado, futuro ou presente.

o serviço de catering e comanda um restaurante próprio: o Alain Ducasse au

Ser atemporal é um tremendo desafio. Sobretudo para um hotel que

Plaza Athénée. O ambiente é futurista, com enormes estruturas cromadas

vem acumulando histórias há mais de cem anos. O “Plazá”, como dizem

contornando os sofás, em contraste com vistosos lustres com várias lâm-

os franceses, foi inaugurado em 1913 na área hoje chamada de Triângulo de

padas, os chandeliers. Na cozinha, o chef executivo Romain Meder garante o

Ouro, formada pelas avenidas Montaigne, George V e Champs-Élysées. É

foco no trio peixes-vegetais-e-cereais, sempre a partir da cartilha de Du-

simplesmente o reduto de alta-costura mais famoso de Paris – e, portanto,

casse, que prioriza ao máximo ingredientes frescos locais. O restaurante é

um dos metros quadrados mais caros do mundo.

um dos dez da cidade a ostentar as cobiçadas três estrelas no Guia Michelin.

Nesse cenário, entre lojas da estirpe de Dior, Chanel, Louis Vuitton e

Vive lotado. E não abre aos sábados e domingos.

Valentino, o edifício do hotel, com seus tradicionais toldos e gerânios vermelhos, parece reinar absoluto. Não é por menos: foi o primeiro a se insta-

Vista disputada

lar na área, antes de qualquer grife. A Dior só chegaria à avenida Montaigne

Ducasse chegou em 1999 a convite do então recém-empossado dire-

em 1947, de olho nos hóspedes endinheirados, atraindo, então, as outras

tor-geral do Plaza Athénée, François Delahaye (hoje também diretor de

marcas. O próprio Christian Dior costumava se hospedar no Plaza Athé-

operações da rede de hotéis Dorchester Collection). Sob o comando de De-

née, fortalecendo uma relação simbiótica que se estenderia por décadas:

lahaye, o hotel passou por duas reformas. A mais recente, capitaneada pela

não por acaso, o hotel abriga, hoje, o Instituto Dior, referência em procedi-

arquiteta Marie-José Pommereau, teve início em 2013. Durou dez meses e

mentos ultramodernos de rejuvenescimento.

custou € 200 milhões. Entre várias benfeitorias, o hotel ganhou mais oito suítes e seis apartamentos, totalizando 154 quartos e 54 suítes, várias delas

Tempos de guerra

voltadas para a Torre Eiffel. Não é difícil concluir que estas últimas são as

Durante a Segunda Guerra (1939-1945), o edifício foi ocupado pelas

mais disputadas, mesmo estando entre as mais caras: com no mínimo 130

tropas alemãs. Na ocasião, a equipe de funcionários primou pela agilida-

metros quadrados, têm diárias a partir de €12 mil. Em uma delas, a vista

de: tratou de transportar peças de tapeçaria, prataria e sobretudo os vinhos

se abre através de uma janela que vai do piso ao teto: no lugar das cortinas,

caríssimos da adega para uma residência particular na Rue Quentin-Bau-

uma enorme moldura clássica transforma a Dama de Ferro parisiense em

chart, a 600 metros. E ali permaneceram, até o fim do conflito, longe dos

uma obra de arte, exibida 24 horas por dia. A torre também pode ser observada a partir de várias suítes do hotel Le

olhos e do conhecimento dos nazistas.

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Jean-Claude Deutsch/Paris Match © getty images

Em agosto de 1944, o restaurante do hotel, Relais Plaza, marcava outro capítulo na história da cidade: serviu de refeitório para os com-

Meurice, a dois quilômetros do Plaza Athénée – ambos pertencem à Dorchester Collection e foram certificados com a distinção Palácio, o maior reconhecimento concedido pelo governo francês para a hotelaria. Debruçado para os Jardins des Tuileries, o Le Meurice funciona desde 1835 em um edifício na Rue de Rivoli, encravado entre o Louvre e a praça da Concórdia. Se por aqui não há o Triângulo de Ouro, a pouMaria Callas e o diretor teatral Albert Carré. No “Plazá”

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O restaurante de Alain Ducasse no Le Meurice; e uma suíte do hotel

No Athénée, muita criatividade em qualquer ambiente

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luxo cos passos está o Faubourg Saint-Honoré, outro concorrido endereço das grifes em Paris – leia-se Lanvin, Dolce & Gabbana, Hermès, Prada, Gucci, entre outras. E logo ali, a 300 metros do hotel, fica a Colette, a loja-conceito de moda, design e tecnologia mais famosa da cidade. Chegar ao Le Meurice é como encontrar um enclave de luxo discreto no vaivém intenso da Rue de Rivoli. Embora centenários, os ambientes exalam frescor, graças a constantes reformas. As mais recentes aconteceram entre 2008 e 2012, quando o arquiteto francês Charles Jouffre renovou, em duas fases, os 160 apartamentos – 23 suítes incluídas. Em nome desse viço, até mesmo o restaurante Le Meurice, espaço mais tradicional do hotel, sofreu pequenas intervenções, pelas mãos do festejado Philippe Starck. Espelhos antigos, afrescos, bronze, mármore, chandeliers. Toda a atmosfera de luxo versalhês foi preservada pelo designer, que fez modificações muito pontuais. Uma delas foi substituir as cadeiras clássicas por modelos Knoll, mais modernos, arrematando com leveza o cenário espetacular para os pratos de Alain Ducasse. Isso mesmo: desde 2013, Monsieur Ducasse comanda as panelas também nesse hotel, reforçando sua fama de magnata da gastronomia. O restaurante tem duas estrelas Michelin e figura como o segundo mais caro do mundo, de acordo com levantamento do site The Daily Meal – está atrás apenas do Kitcho, em Kioto, no Japão. O valor do menu-degustação (€ 380 no jantar e € 130 no almoço) não inclui a harmonização, cujo preço varia

Salvador Dalí, triunfal, no Le Meurice Ulf Andersen © getty images

com histórias fantásticas como a do dia em que o artista exigiu um

entre € 120 e € 200. Mas embora o cenário seja pomposo e o custo, salgado,

rebanho de ovelhas para aquecer o quarto, ou quando levou duas ja-

a ordem, à mesa, é simplificar ao máximo. No cardápio, aqui executado pelo

guatiricas de estimação para os aposentos. Entre todos os ilustres, foi

chef executivo Jocelyn Herland, as designações dos pratos são curtas: “ave,

certamente o mais marcante, a ponto de o hotel reverenciá-lo com o

aipo, trufa negra”, “lagosta, alcachofra-de-jerusalém”. A ideia é elevar o sta-

nome de um de seus restaurantes, Le Dalí (onde, aliás, é servido o me-

tus do ingrediente, valorizando a autenticidade de sabores e aromas. Aos

lhor club sandwich da cidade, de acordo com o jornal Le Figaro).

sentidos, o resultado é soberbo.

Hoje, quem se hospeda na suíte Dalí encontra seu visual repaginado: mobiliário em estilos Luís XV e XVI, armário do século 18 e

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Hotel dos reis

sala de banho revestida com mármore italiano. A diária? A partir de €

Nestes quase dois séculos de história, monarcas, chefes de estado e

6.700 por apartamento.

celebridades marcaram presença no Le Meurice, que ficou conhecido como

Entre tantas histórias, nem todos os acontecimentos foram gloriosos, é

o “Hotel dos Reis”. Afonso XIII da Espanha teve aqui seu exílio. Chanel

verdade. O hotel viveu um período obscuro, quando abrigou, durante a Se-

trouxe suas passarelas. Pablo Picasso fez seu jantar de casamento com a

gunda Guerra Mundial, o QG do comandante nazista Dietrich von Choltitz.

bailarina russa Olga Koklova. E Woody Allen rodou uma das cenas de Meia-

Na época, a fachada do edifício ganhou enormes bandeiras, estampadas

-Noite em Paris no magnífico terraço da suíte La Belle Étoile – a mais cara de

com a suástica. O desfecho da ocupação, no entanto, se revelaria surpre-

todas, com diária a partir de €14.500. Não surpreende o fato de que, durante

endente. Ciente do avanço das tropas aliadas do Ocidente, Hitler ordenou

as filmagens, os protagonistas, Owen Wilson e Rachel McAdams, tenham

que a capital francesa fosse dinamitada: a torre, as pontes, o Louvre e todos

ficado hospedados por aqui mesmo.

os cartões-postais da Cidade Luz viriam abaixo. Impaciente com a falta de

Outro hóspede célebre, Salvador Dalí reservava sempre a mesma

notícias, ligou aos gritos para o hotel, perguntando a Von Choltitz: “Paris

suíte presidencial – que conjuga os apartamentos 106 e 108 – para

está em chamas?” Não, não estava: o general havia desobedecido à ordem

passar o mês de dezembro inteiro. Foi assim por 30 anos seguidos,

de Hitler. Sim, Paris foi salva no Le Meurice.

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escapada por Fernando Paiva

Paz, alegria, felicidade Hospedar-se no Toriba, em Campos do Jordão, é uma deliciosa viagem no tempo

É

incrível como um hotel pode definir o padrão arquitetônico e a alma de uma cidade. Foi o que aconteceu com o Toriba, plantado em meio a muito verde a 1,8 mil metros de altitude em Campos do Jordão, a 180 quilômetros de São Paulo. A casa, inaugurada em 1943 pelo industrial Luiz Dumont Villares, contou com o entusiasmado apoio do sogro, o alemão Ernesto Diederichsen (1877-1949). Empreendedor de sucesso do ramo têxtil, Diederichsen queria reproduzir na serra da Mantiqueira o ambiente montanhês que vivenciara na Suíça durante a juventude. “Na verdade, meu bisavô pretendia oferecer aos hóspedes paz, alegria e felicidade”, explica Alberto Villares Lenz Cesar, 58 anos, hoje no comando do hotel. Ora, em tupi-guarani, paz, alegria e felicidade são a mesma palavra: “toriba”. Os Alpes, no entanto, não serviram apenas de inspiração para o estilo do prédio e sua decoração. Com o tempo, o toque alpino acabaria por influenciar toda a cidade – conhecida a partir daí como “a Suíça brasileira”. Graduado em hotelaria pelo Senac, em São Paulo, e na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, Alberto é a quarta geração da família na região. Conta que, a partir de 2007, assumiu

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escapada

Piscina de água aquecida e a fachada do hotel (à esquerda)

a direção operacional com um desafio: “Renovar e manter o hotel sempre atualizado”. Um rápido olhar para o gramado milimetricamente aparado, as piscinas de um azul-turquesa cristalino e o staff sempre sorridente e de prontidão revela que sua missão tem sido bem-sucedida. Com elegância, o hotel combina o aconchego e o charme de um chalé de montanha à modernidade de um resort de luxo. Piscinas aquecidas, quadra de tênis, fitness center e health club – além do spa L’Occitane – se mesclam em harmonia à simpática casa na árvore, ao divertido escorregador interno que leva à briquedoteca e à bem equipada “fazendinha”, tudo projetado especialmente para as crianças. Além do mais, o lugar é pet-friendly. Monteiro Lobato aplaudiria de pé.

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O Toriba cresceu. À área original, de 260 mil metros quadrados, foram recentemente incorporados mais 65 alqueires – cerca de 1 milhão e 600 mil metros quadrados. “São quase 2 milhões de metros quadrados de bosques com araucárias centenárias, riachos, nascentes e cachoeiras”, diz Alberto. “E quilômetros de trilhas para se caminhar ou pedalar.” Isso sem mencionar, é bom que se diga, a deslumbrante vista dos apartamentos de frente para a Pedra do Baú, a joia da coroa da serra da Mantiqueira. No total, são 38 acomodações: apartamentos no prédio principal (para famílias de até cinco pessoas) e amplos chalés externos. Estes ficam em meio aos jardins e garantem privacidade absoluta. Um deles é adaptado para hóspedes com necessidades especiais. Na verdade, hospedar-se no Toriba é uma deliciosa viagem no tempo. A redescoberta de uma madeleine há muito perdida e agradavelmente renovada. Veja por exemplo aquele senhor de paletó, dedilhando na sala da lareira um repertório clássico a partir do chá da tarde até o término do jantar. O piano de cauda, negro como convém, é um clássico Steinway. Mas a partitura se abre na tela de LED de um computador. Tradição e modernidade regidas pelo pianista Antonio Barker. Às sextas, ele toca canções de George Gershwin, Cole Porter, Duke Ellington e Dave Brubeck durante a Friday Jazz, no Toribinha Bar & Fondue. A gastronomia, por falar nela, merece alguns parágrafos. O Toriba tem dois restaurantes, ambos franqueados ao público. Comece-

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Nos jardins do hotel, os chalés garantem absoluta privacidade. À direita, delícias do chá da tarde

mos pelo Pennacchi, sem qualquer favor um dos melhores – e mais bonitos – de Campos do Jordão. Em suas paredes o ítalo-brasileiro Fulvio Pennacchi (1905-1992), integrante do célebre Grupo Santa Helena, produziu nada menos que 11 afrescos. Mais de 60 metros lineares da melhor pintura, num delicado painel da vida rural brasileira. Peça o pappardelle com cordeiro e queijo pecorino ou experimente a polenta com fonduta de queijo e cogumelos shiitake, ambos especialidades da casa. Carne? Vá de filé com roquefort e batatas rústicas. Ah, prefere peixe? Então não perca o robalo com legumes grelhados (escoltado por um divino risoto cítrico). E, caso você tenha sobrevivido a essa torrente de prazer gustativo, feche a refeição comme il faut: torta de peras com amêndoas – e sorvete de creme. Poucos sabem, mas o hotel foi um dos pioneiros na introdução da fondue no Brasil – graças a Joseph Jurt, suíço que gerenciou a casa de 1960 a 1985. Assim, não espanta que o Toribinha Bar & Fondue tenha sido eleito diversas vezes como o melhor na especialidade pela mídia especializada. O salão aconchegante coberto por lambris, a lareira, o bar simpático e um serviço que beira a perfeição – além dos modernos exaustores que eliminam todos os odores – fazem do Toribinha um lugar especial. O endereço certo para se saborear o prato típico da Suíça em sua versão original, a de queijo – além de outras dez receitas, como à bourguinonne e de frutas com chocolate. Após tantas iguarias, que tal perder calorias? Você pode malhar à vontade no bem equipado fitness center. Mas, se eu fosse

você, relaxaria... O Spa Toriba by L’Occitane é um genuíno privilégio. Sua decoração intimista utiliza madeiras nobres, como o ipê-cumaru, e peças de demolição. A arquitetura remete ao sol e à lavanda da Provence. Mal você entra, é imediatamente envolvido por aromas relaxantes, flores e música suave. Panorâmicas, as janelas oferecem o cenário da serra em todo o seu esplendor – e isso já desperta os sentidos. Programa obrigatório é a parada na sala de repouso com o “rotamburô”. Trata-se de uma banheira de 4 toneladas, escavada num único pedaço de rocha. Em seus 1.100 litros de capacidade, a água quente filtrada circula continuamente. Hmmm... Alguém aí falou em paraíso na Terra? P toriba.com.br

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circuito elegante Corpo, mente e alma

E

scapar do mundo e fugir da agitação do dia a dia sem sentir o tempo passar. Provavelmente, uma temporada num spa lhe fará muito bem. Nesses ambientes especiais, a arquitetura, as luzes, os sons e per­ fu­mes são componentes para uma viagem bem-sucedida ao universo dos sentidos. O melhor: uma hospedagem em um dos spas da seleta rede Circuito Elegante vai muito além das expectativas. Lapinha Spa, Rituaali e Unique Garden

são um convite para reprogramar a mente e sentir efeitos duradouros para seguir uma vida mais saudável. Uma dica: vale a pena – e como vale! – acessar o site circuitoelegante.com.br e digitar o código “PRESIDENT”. Ao completar seu cadastro, o caro leitor torna-se cliente especial, com direito às melhores tarifas no momento de fazer a reserva. E mais: acumula pontos para outras hospedagens. Bom proveito.

Lapinha: muito sossego

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Lapinha SPA Lapa, PR

Desde 1972, em uma fazenda de 550 hectares no município pa­ ranaense de Lapa, a 73 quilômetros de Curitiba, funciona o Lapinha SPA. É um dos recantos mais luxuosos do país e, ainda, o primeiro spa médico do Brasil. A chancela vem do título de melhor destino do gênero nas Américas outorgado pelo World Spa Awards, orga­ nização internacional referência nesse mercado. A hospedagem impecável oferece atrativos como piscinas aquecidas e uma equipe médica 24 horas à disposição dos clientes. Em uma horta orgânica são cultivadas frutas, verduras e hortaliças colhidas logo antes das refeições, o que ajuda o hóspede a desinto­ xicar e ativar defesas naturais do organismo. O Lapinha SPA segue

os conceitos da medicina naturista, que resgata a harmonia entre o corpo, a alma e o espírito. Um dos seus pilares é o biorritmo, prática reconhecida por curar e prevenir doenças por meio da reeducação dos hábitos e pro­ gramação de atividades. Aliadas a esse tratamento, as terapias são personalizadas de acordo com cada objetivo: regeneração e revita­ lização; emagrecimento e reeducação alimentar; controle do es­ tresse, reabilitação cardíaca, desintoxicação, prevenção geriátrica e tratamentos estéticos. Lapinha SPA – Estrada da Lapa – Rio Negro km 16, Lapa-PR, reservas pelo tel. 0800 643 1090. lapinha@lapinha.com.br

O hóspede é cercado pela natureza

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circuito elegante Tudo neste spa remete ao descanso

Rituaali Penedo, RJ

Em meio à natureza, aos pés da serra da Mantiqueira, no Rio de Janeiro, o Rituaali – que significa ritual em finlandês – é um lugar para se viver melhor. E cada vez mais. Criado com base nos princípios da Medicina de Estilo de Vida, desenvolvida na Universidade Harvard, o spa pro­ põe programas para conquistar o bem-estar do corpo com respeito às leis naturais, resgate de hábitos sadios e expe­ riências positivas. Tão logo o hóspede chega ao Rituaali, já passa por uma cri­ teriosa avaliação que investiga sintomas de estresse, traumas e dores localizadas para, em seguida, seguir um programa

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personalizado que incentiva hábitos equilibrados e saudáveis. A história da fundação da cidade de Penedo tem mais de 80 anos. Na década de 1920, a região acolheu um grupo de imi­ grantes finlandeses liderados pelo agricultor naturalista Toivo Uuskallio. Segundo ele, a sociedade precisava levar uma vida natural, cultivar o necessário para sua alimentação, vestir-se com roupas leves, desfrutar dos raios solares reparadores, res­ pirar ar puro e viver em paz. Não à toa, esse foi o lugar escolhido para receber o Rituaali. Rituaali – Rua Harry Bertel, Acesso A, 310, Itatiaia-RJ, reservas pelo tel. 24 3351 9200. reservas@rituaali.com.br

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Relax pertinho da capital paulista

Unique Garden Hotel & SPA Mairiporã, SP

Os jardins do Unique Garden Hotel & SPA ficam a ape­ nas 50 minutos de São Paulo, em meio a um dos últimos redutos preservados da mata atlântica na região metropo­ litana. Flores o ano inteiro, aves e animais silvestres, água mineral de fonte própria e ervas e verduras orgânicas são alguns dos fatores que permitem ao hóspede um contato com uma vida mais natural. Idealizado por Victor Siaulys e com áreas projetadas por Ruy Ohtake, o refúgio tem 27 chalés distribuídos em 330 mil metros quadrados. Seu bichinho de estimação é muito bem-vindo. O Unique Garden tem orgulho de ser pet frien-

dly. Da cozinha internacional saem pratos preparados com ingredientes cultivados na horta do spa. Uma nutricionis­ ta acompanha as necessidades de cada hóspede, sugerindo refeições personalizadas. No menu de tratamentos e terapias, destaque para a me­ dicina chinesa e ayurveda. Atividades de alongamento, ioga, meditação, ritos tibetanos, pilates, tênis e clínica de golfe também entram no cardápio. Informações e serviços estão a um toque na tela do iPad, disponibilizado em cada quarto. Unique Garden Hotel & SPA – Estrada Laramara, 3500, Mairiporã-SP, reservas pelo tel. 11 4486-8700. reservas@ uniquegarden.com.br

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para a estação

edição 06 • inverno 2016

E mais: os melhores spas, aromaterapia e Lina Bo Bardi MMARTAN INV 2016_FINAL_DNA_5_010216.indd 1

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Especializada em Custom Publishing e Branded Content, a Custom Editora faz para a Mitsubishi Motors do Brasil a MIT Revista, publicação de luxo com 60.000 exemplares. Editamos ainda títulos como The President, Bravíssima, mmartan Home e Samsung View. Versões eletrônicas também estão no nosso portfolio, como a Living Alone e o Designbook da Tok&Stok. Na área de Branded Content desenvolvemos projetos especiais para a Avon e a RNN Sports. Se você acredita no poder do conteúdo para criar relacionamento e reforçar a imagem da sua marca, fale conosco. Tel. (11) 3708-9739 atendimentoaoleitor@customeditora.com.br facebook.com/livingalone facebook.com/revistathepresident

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por Carla Lencastre

! merveilleuse city ¡ Mescla das culturas francesa, americana, espanhola e africana, New Orleans (nola para os locais) é uma cidade única flickr © Eric Gross

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osas vermelhas. Céu azul. Muito calor. Muita umicadas. Não escutei um único acorde que não soasse bem. dade. Uma década depois da devastação causada A Frenchmen Street fica fora do French Quarter (o quarteirão pelo Katrina, Nova Orleans está refeita. Em 2015, a francês), no vizinho Faubourg Marigny. Bem menos turística, a rua é cidade do estado da Lousiana, no extremo sul dos o lugar certo para ouvir música sem formalidades. Há um bar ao lado Estados Unidos, recebeu 9,8 milhões de visitantes. do outro e, à noite, um grupo musical em cada um. A maioria não coEste ano comemorou seu primeiro verão pós-reconstrução com as bra ingresso ou taxa de consumação, muito menos exige reserva. É só cores e o clima de sempre, mas com outro ânimo, e novos hotéis, resentrar. Alguns dos meus favoritos: Spotted Cat, d.b.a. e Café Negril. taurantes premiados e bares concorridos. Entre as casas do French Quarter, anote a Irvin Mayfield’s Jazz Onze anos após o furacão que rompeu diques e alagou quase 80% Playhouse, no Royal Sonesta Hotel. Outro programa adorável é assisda área urbana, o número de bares e restaurantes dobrou. Para 2018, tir aos bambas da Preservation Hall Jazz Band, também no quarteirão. quando Nova Orleans celebrará seus 300 anos, haverá mais novidaTrata-se de uma espécie de Buena Vista Social Club: um grupo de múdes. Em especial, às margens do rio Mississippi e no aeroporto, basicos de diferentes faixas etárias abrigado sob um mesmo nome e que tizado em homenagem a Louis Armstrong. É bom lembrar que existe se apresenta com diversas formações. A sede, no coração do quarteioutra coisa que não muda (e ainda bem que seja assim!): Nola, como é rão, tem ambiente simples, entrada gratuita e fila na porta. Os shows chamada pelos íntimos (e basta uma visita para ficar íntimo), vive no acústicos, diários, começam às 20h. Chegue uma hora antes. É comoritmo de uma das melhores trilhas sonoras vente de tão bom. dos EUA. Pode ser o dixieland. Ou seus sucesOs restaurantes são outro ponto alto. sivos desdobramentos, como o estilo de piaSobretudo para quem gosta de frutos do mar, no New Orleans. Ou, ainda, o zydeco, embaque cintilam nos dois principais pratos da O furacão katrina lado pelo acordeom, tal como o nosso baião. cozinha creole: a jambalaya (espécie de paella) alagou 80% da cidade e o gumbo (um guisado). Este ano Nola teve em 2005. Mas nola deu Amazing Grace nada menos do que 14 chefs entre os finalistas a volta por cima. Quer Por que o jazz escolheu Nola? Entre os do James Beard Foundation Awards, o immesmo saber? Ela Até fatores principais está a singular formação portante prêmio americano de gastronomia. dobrou o número de étnica do único trecho dos EUA em que o Justin Devillier foi reconhecido como o mebares e restaurantes francês foi idioma oficial por mais de um sélhor chef do Sul por La Petite Grocery, no Garculo. Único endereço também em que se toden District, lindo bairro residencial pouco lerou o encontro de negros livres com escramais distante do centro. Devillier, finalista vos. Além disso, sua população era católica, do JBF várias vezes, abriu no ano passado o sem a rigidez dos colonizadores puritanos calvinistas da Costa Leste. informal e simpático Balise, no hoje próspero Warehouse District. A música está por toda parte. Sempre foi assim. Até velórios são emNa mesma região está o Pêche, um dos restaurantes do premiado balados por bandas. O mais impressionante: não há música ruim. Eu, Donald Link, inaugurado em 2013. O bar bonito e movimentado fica pelo menos, não encontrei. de um lado. O amplo restaurante do outro, ambos em um prédio de Ouvi artistas na Bourbon Street e em outras ruas turísticas do dois andares onde funcionava uma funerária. Nada a estranhar em French Quarter (ou uma cidade que tem relação até festiva com Vieux Carré) ao seus mortos. lon­go de uma seEm outros limites do French Quarter mana. Pulei de bar também há lugares que dão toque contemem bar na deliciosa porâneo à cozinha nativa. Um dos meus meFrenchmen Street e lhores jantares foi no novíssimo Trinity, na Louis Armstrong assisti a shows em Decatur Street, entre o quarteirão e a Frenché o rosto casas mais sofistimen Street. Serve ostras bem frescas. de Nola

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O Balise (ao alto) é um dos novos restaurantes de New Orleans, cidade em que tudo é música

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Nenhum acorde soa errado por aqui

Dentro do French Quarter fique com o dora, não se preocupe. Há beignets em outros pontos, inclusive no café da manhã dos meMuriel’s, há 15 anos numa esquina da Jackson lhores hotéis. Square. Se for primavera ou verão, aposte em Aqui tudo começa Diz a lenda etílica que os coquetéis teum dos pratos com o tomate creole. Instalado e acaba em música. riam sido inventados em Nova Orleans na em um prédio do século 19, o Muriel’s tem Até a vida. E isso não primeira metade do século 19. O mais trapátio interno com bom balcão de bar, fantasé só maneira de dizer: dicional é o sazerac, com uísque de centeio. mas no segundo andar e o concorrido título velórios e enterros Desde 1949 a casa do sazerac é o esplêndido de restaurante mais assombrado de Nola. são acompanhados bar do Roosevelt Hotel, pertinho do French Nova Orleans ainda faz bonito na baixa pelas bandas Quarter. Também nos limites do quarteirão gastronomia com dois sanduíches: o po’boy fica o Davenport Lounge, no Ritz-Carlton, (pão francês com frutos do mar fritos) e o uma delícia de lugar com música ao vivo e muffuletta (com pasta de azeitona, queijo e petiscos. Outro gostoso bar de hotel é o Caembutidos). Po’boy é uma corruptela de poor boy. Faz a alegria de gente grande como Barack Obama, que foi até a rousel, no Monteleone, frequentado no passado por William Faulklanchonete mais famosa de Nolo, a Parkway Bakery & Tavern, muito ner e Tennessee Williams. E, sim, você ainda nem bebeu e o bar já além do French Quarter. está girando. O balcão é giratório – como um carrousel. Se você não tiver a mesma disposição do presidente americano, tente o Killer PoBoys no Erin Rose Hotel, dentro do quarteirão, o segundo What a wonderful world mais famoso. O lugar é meio escondido, fica atrás de um pequeno bar de Caminhar a esmo pelo velho quarteirão é bem gostoso, por mais rock em uma rua tranquila, mas o entra e sai na porta ajuda a sinalizar o quente e turístico que seja. Há belas residências, hotéis, bares, resendereço. Os recheios mais procurados são lagostim, camarão e ostra. taurantes e lojas. Os prédios de dois andares têm fachadas coloridas Mas há também versões com rosbife e carne de porco. Acompanhe com e muitas samambaias nos balcões de ferro fundido em estilo colonial uma Abita, produzida na maior e mais antiga cervejaria da Louisiana. espanhol. Aliás, apesar do nome, a arquitetura do French Quarter é Outra atração gastronômica é o beignet, uma espécie de bolinho de da época da colonização espanhola, e são poucos os prédios remachuva de massa leve frita e coberta com muito açúcar. O lugar ideal nescentes do período francês. Por ficar em uma área mais elevada, às para prová-los chama-se Café du Monde. Serve a iguaria 24 horas margens do rio Mississippi, o quarteirão foi poupado durante o Katripor dia, entre o French Market (uma das construções mais antigas de na. De um modo geral, seus prédios estão bem conservados. Nola, com 220 anos) e a Jackson Square. Se a fila estiver desanimaO limite norte do bairro é o parque Louis Armstrong, uma imen-

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sa área verde com esculturas ao ar livre e um teatro. Congo Square, na entrada do parque, onde os escravos se reuniam, é considerado o berço do jazz. Ao sul do French Quarter ficam a Jackson Square e o French Market. A St. Louis Cathedral lembra o castelo de Ludwig II na Baviera (que também inspirou o da Cinderela na Disney) e faz da Jackson Square e seus jardins impecáveis o único lugar onde Nova Orleans se parece com uma cidade cenográfica – o que ela definitivamente não é. O Warehouse District foi um dos bairros que mais se modificaram depois do furacão. Tornou-se um símbolo do renascimento. Também conhecido como Arts District, é separado do French Quarter apenas pela Canal Street, por onde passa uma das principais linhas de bonde, e faz parte do centro. Antigos armazéns viraram ateliês, galerias de arte e bares e restaurantes concorridos. Seguindo a linha de bonde da Magazine Street chega-se ao sofisticado Garden District, bairro bem bonito com casas em estilo neoclássico e jardins e árvores magníficas, como carvalhos e magnólias. O ambiente lembra o das fazendas de algodão do filme ...E o Vento Levou. A região é predominantemente residencial, mas abriga um dos cemitérios mais famosos de Nola, o Lafayette. Enterro é sinônimo de festa e garantia de boa música por aqui. Mas ninguém é, de fato, enterrado. Explica-se: como a cidade foi erguida em uma área pantanosa, as tumbas e mausoléus ficam acima da terra. O principal cemitério é o St. Louis nº1, no French Quarter, endereço da rainha do vodu Marie Laveau, que viveu no século 19. Era aberto à visitação até que o ator Nicholas Cage construiu um polêmico mausoléu em formato de pirâmide. O número de visitantes aumentou tanto que

here’s new orleans

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Em Bourbon Street e até num enterro: sempre festa

Angela Bassett como Marie Laveau na série AHS: Coven

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hoje são permitidos somente tours guiados. Uma boa opção é conheart déco no Warehouse District, com 234 quartos, um animadíssimo cer o igualmente cheio das histórias Lafayette Cemitery nº1, no Garbar no lobby e um lindo e concorrido restaurante italiano, Josephine den District. Com portões de ferro e largas avenidas com magnólias, Estelle. O projeto é do escritório Roman and Williams, dos arquitetos abriga tumbas que inspiraram Anne Rice, dona de uma casa nas reRobin Standefer e Stephen Alesch. Baseada em Nova York, a dupla dondezas, a escrever sua série Crônicas Vampirescas. assina também os premiados interiores de The Ace Hotel New York. Em uma cidade que tem o vodu como parte da história e na qual Na categoria butique, acaba de reabrir o histórico Pontchartrain os mortos ficam acima do solo, seria de supor que os fantasmas se torHotel. Um incrível panorama do porto e da cidade se descortina no bar nariam temas de passeios guiados. Bonecos de vodu também estão do terraço desse prédio de 1927. Vinte anos depois, Tennessee Williapor todos os cantos. Até na decoração. Um dos melhores pontos para ms escreveria Um Bonde Chamado Desejo no Pontchartrain. Ele ganhou comprar bonecos artesanais é o Reverend Zombie’s House of Voodoo, o Pulitzer, e Blanche DuBois passou a fazer parte da história de Nola. em frente ao Preservation Hall. A maioria dos voodoo dolls se apresenta como amuleto para o bem. Mas os que não escondem sua vocação para Down by the riverside o mal continuam à venda. O trecho do caudaloso rio que passa por Nova Orleans não é dos Outro lugar imperdível? O sensacional estádio coberto Mermais bonitos, mas ainda assim impressiona. E é difícil resistir a um cedez-Benz Superdome, casa do New Orleans Saints, da NFL. Foi passeio em um barco a vapor, movido por pás. Embarquei no Natchez, abrigo de refugiados ao longo das trágicas um dos dois em navegação. Era uma manhã semanas que se seguiram ao Katrina. A cide chuva. Mas ainda assim a viagem foi muito dade também tem bons museus, além das divertida. A área portuária à beira-rio passa galerias do Arts District. O mais recente é o por obras de revitalização, que incluem noEm julho e agosto National WW II Museum, no Lee Circle, por vos hotéis, centros comerciais e uma linha de o calor é insuportável. onde passa uma das linhas do bonde. Espebonde. Nessa região fica o barracão onde são Em setembro, há maior cializado na Segunda Guerra Mundial, tem decorados os carros alegóricos que desfilam risco de furacões. relíquias do Desembarque na Normandia e no carnaval local, o Mardi Gras, que remonta Nos demais meses, das invasões no Pacífico. Já o New Orleans ao século 19. Não tem as dimensões do nosso, new orleans estará Museum of Art, aberto há mais de um sécumas dura mais: são 11 dias, embora o nome prontinha à sua espera lo, é distante do centro. Mas vale. No acervo, signifique, em francês, Terça-Feira Gorda. Se vale a pena vir ao Mardi Gras? Sem Picasso, Manet e muitas obras de Edgar Degas, que morou por alguns meses na cidade, dúvida, embora aumente a dificuldade de em 1870, visitando parentes. hospedagem. A rigor, qualquer época do ano Quanto aos hotéis, destacam-se na categoria luxo é interessante, à exceção de três meses seguidos: julho e agosto (quano The Roosevelt Waldorf Astoria e o Ritz-Carlton, do as temperatura média é 32 graus centígrados) e setembro (pico da ambos instalados em prédios centenários quase em temporada de furacões). O mais aliciante de Nola não está nas festas, frente um ao outro, na Canal St. O Roosevelt sofreu mas na força de uma cidade cosmopolita, multicultural e cheia de percom as águas trazidas pelo Katrina, mas teve tempo sonalidade, como não há igual no sul dos EUA. de proteger os belíssimos painéis pintaNew Orleans sempre superou a si mesma. Instalada em uma área dos à mão do Sazerac Bar. Só reabriu pantanosa e, em parte, abaixo do nível do mar (daí os diques), driblou em 2009, todo reformado. enfermidades e maus presságios. Venceu, também, a própria instabiliEntre os hotéis dade política, saindo das mãos dos franceses para as dos espanhóis; de Tennessee mais modernos novo para as dos franceses e, finalmente, chegando às dos americanos. Williams criou chama a atenção o Recuperou-se de dois incêndios desoladores (1788 e 1795). Passou por aqui recém-inaugurado cima, enfim, dos destroços do Katrina, de peito aberto. Um lugar para Blanche DuBois Ace, em um prédio celebrar ao som de uma música que só melhora. P

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Museu WW II, Roosevelt Hotel, e o barco Natchez: muita história para contar

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the president © Pedro Ladeira/Folhapress

Cunha: tchau, querido!

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