The President

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Nº 38 JUNHo | JULHo 2019 WALDYR FERREIRA

Clóvis souza, da giuliana flores: domínio de 70% das vendas na internet Por LU IZ MACIEL Nº 38 JUNHo | JULHo 2019

WALDYR FERREIRA

general manager da TRIUMPH BRaSIL

jun | jul 2019 nº 38 R$ 28,00

Pilotando o crescimento

tião maia: o boiadeiro que já foi rei

as dez melhores cachaças de minas

Anitta: uma mulher feita de luz & fogo

por andré borges lopes

por mau ro marcelo alves

por daniel bene vides

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e d i to r i a l

O primeiro é carioca, 43 anos, executivo formado pela UnB – Universidade de Brasília, e vende motocicletas premium, acima de 600 cilindradas. O outro, paulista de São Caetano do Sul, 48 anos, começou a trabalhar aos 10, não teve tempo para cursar faculdade – mas criou um império no ramo da floricultura. Falamos aqui respectivamente de Waldyr Ferreira, general manager da Triumph Motorcycles no Brasil, e de Clóvis Souza, fundador e CEO da Giuliana Flores, personagens de capa desta edição. Dois brasileiros excepcionais para quem a palavra “crise” praticamente inexiste. Com uma rede de concessionárias em expansão, em quatro anos Waldyr Ferreira prevê crescer 50%. Hoje, ele vende 400 motos por mês num segmento extremamente competitivo. Clóvis Souza, por sua vez, self-made man na genuína acepção da palavra, detém 70% do comércio de flores na internet no país. Vale a pena ler os inspiradores depoimentos sobre a vida e o trabalho de ambos. Especialmente inspirados, por falar nisso, estão nossos colaboradores. Especialista em zebu e aviação, André Borges Lopes resgatou as façanhas amorosas e empresariais do lendário Tião Maia. Mineiro de Passos, Tião fundou o primeiro frigorífico de capital integralmente nacional, o T.Maia em Araçatuba. Foi o primeiro brasileiro pessoa física a comprar um jato executivo. E, da Austrália, se tornou o maior pecuarista do mundo. Outro mineiro, Mauro Marcelo Alves, aceitou nossa provocação para listar as dez melhores cachaças... de Minas Gerais. Mineiramente, deu o veredito em ordem alfabética. Já o publicitário Enio Basilio Rodrigues reviveu com deliciosa verve os grandes maîtres de São Paulo – os quais, além de garantir o bom andamento do salão, funcionavam como consiglieri e confidentes dos clientes. Finalmente, nosso especialista em anglofilia, Marcello Borges, nos brindou com um esclarecedor e saboroso artigo sobre os queijos ingleses. Cheeeese!

ao largo da CRISE Waldyr Ferreira, da Triumph Brasil, e Clóvis Souza, da Giuliana Flores

Boa leitura. andré cheron E fernando paiva Publishers

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expediente the president Publicação da Custom Editora Nº 38

publishers André Cheron e Fernando Paiva

REDAÇÃO Diretor editorial Fernando Paiva fernandopaiva@customeditora.com.br diretor editorial adjunto Mario Ciccone mario@customeditora.com.br redator-chefe Walterson Sardenberg So berg@customeditora.com.br ARTE Diretores de arte J. Pequeno A. Neto e Rafael Pera (R/P estúdio) designer Raphael Alves raphaelalves@customeditora.com.br prepress e tratamento de imagens Daniel Vasques danielvasques@customeditora.com.br COLABORARAM NESTE NÚMERO TEXTO André Borges Lopes, Dalila Magarian, Daniel Benevides, Enio Basílio Rodrigues, Luciana Lancellotti, Luiz Maciel, Marcello Borges, Márcio Gaspar, Mauro Marcelo Alves, Roberto Muggiati, Ronny Hein, Vivianne Ahumada e Xavier Bartaburu Fotografia Tuca Reinés Ilustração Zé Vicente Tratamento de imagens Ana Passos e Luciano Custódio Revisão Goretti Tenorio CapaS Clóvis Souza e Waldyr Ferreira foram fotografados em São Paulo por Tuca Reinés THE PRESIDENT facebook.com/revistathepresident @revistathepresident www.customeditora.com.br

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COMERCIAL, PUBLICIDADE E NOVOS NEGÓCIOS Diretor executivo André Cheron andrecheron@customeditora.com.br diretor comercial Ricardo Battistini battistini@customeditora.com.br Gerentes de contas e novos negócios Marcia Gomes marciagomes@customeditora.com.br Northon Blair northonblair@customeditora.com.br ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Analista financeira Carina Rodarte carina@customeditora.com.br Assistente Alessandro Ceron alessandroceron@customeditora.com.br REPRESENTANTES REGIONAIS GRP – Grupo de Representação Publicitária PR – Tel. (41) 3023-8238 SC/RS – Tel. (41) 3026-7451 adalberto@grpmidia.com.br Tiragem desta edição: 35.000 exemplares CTP, impressão e acabamento: Coan Indústria Gráfica Ltda. Custom Editora Ltda. Av. Nove de Julho, 5.593, 9º andar – Jardim Paulista São Paulo (SP) – CEP 01407-200 Tel. (11) 3708-9702 ATENDIMENTO AO LEITOR atendimentoaoleitor@customeditora.com.br Tel. (11) 3708-9702

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146 memória A fascinante história de Tião Maia, o boiadeiro que ganhou (e conquistou) o mundo

© Zé vicente

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60 VISÃO

90 NEGÓCIOS

120 adega

Anitta supervisiona todos os detalhes da

CEO e fundador da Giuliana Flores,

Como são feitas as grandes cachaças

carreira. Sabe muito bem aonde quer chegar

Clóvis Souza é o maior vendedor do

de Minas Gerais. De quebra, um ranking

setor da América Latina

das 10 melhores

Ele morreu há dois anos. Agora Luiz Melodia

98 ENTREVISTA

126 tempo

começa a ser reconhecido como merecia

Waldyr Ferreira, general manager da

De como o relógio Rolex Daytona,

Triumph Brasil, prevê crescimento de

de Paul Newman, se tornou o queridinho

50% em quatro anos

dos colecionadores

106 perfil

132 cult

Quando se fala em mundo do

Lançada em 1933, a revista Esquire continua

design no Brasil, um nome sempre

antenada como nos idos de Hemingway

se destaca: Waldick Jatobá

e Scott Fitzgerald

112 esporte

140 consumo

Aos 14 anos, Coutinho estreou no time

De smartwatch a vinhos e canivete

Os maîtres do passado e sua habilidade

do Santos. Aos 24, estava decadente.

suíço, dicas do que há para comprar

de resolver todo e qualquer entrave

Pura precocidade

– e aproveitar

66 AUDIÇÃO 72 PALADAR Os melhores queijos são da França, Suíça e Itália. Mas o Reino Unido está no páreo

78 OLFATO Christopher Freeman é o dono do cheiro do Brasil: Polvilho Granado e sabonete Phebo

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co l a b o r a d o r e s

capa

capa

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Aristocrata do reino da serra da Cantareira, nosso assíduo colaborador desta vez rumou para São Caetano (SP), onde entrevistou o empresário Clóvis Souza, da Giuliana Flores. De volta ao seu chateau, escreveu, lépido, o texto da matéria de capa. Assim como fazia em seus tempos de Quatro Rodas e Jornal do Brasil, brindou o término do trabalho com um Pinot Noir acompanhado de um Camembert.

Ele é aficionado por aviação, mergulho autônomo, vela e bateristas de rock e jazz. Arquiteto de formação, tornou-se um dos mais internacionais dos fotógrafos brasileiros, com imagens no acervo de museus europeus e livros publicados pela editora alemã Taschen. Mais uma vez o nosso vizinho (seu escritório fica no mesmo prédio da Custom Editora) foi convidado a clicar os dois personagens de capa. E o fez com o talento de sempre.

Ex-diretor de redação da revista Forbes, conheceu alguns dos principais executivos do país. Encantou-se com Waldyr Ferreira, general manager da Triumph Brasil, que entrevistou para este número. “É inteligente e objetivo”, resume. Além de dirigir Forbes, Ronny, morador da represa Guarapiranga, em São Paulo, comandou as revistas Próxima Viagem e Caminhos da Terra, que o levaram a enveredar por 82 países.

Luiz Maciel

Ronny Hein

visão

AUdição

paladar e tempo

Ele estudou arquitetura na FAU-USP, mas é jornalista por vocação desde os 16 anos. Passou por Jornal da Tarde, Trip e Brasileiros, além de ter ajudado a criar a MTV Brasil, nos seus dez primeiros anos, como diretor e, por um breve período, VJ. Desde sempre, colabora com os mais diversos veículos, incluindo Folha de S.Paulo, revistas Cult, Vogue e Rolling Stone. Músico nas horas vagas, também é tradutor.

Enquanto prepara um livro sobre o histórico álbum Acabou Chorare (1972), dos Novos Baianos, o paulistano ligadíssimo em música encontrou tempo para escrever sobre o grande Luiz Melodia. Há mais de quatro décadas Márcio atua na área, seja como assessor de imprensa de gravadoras, produtor de discos, consultor de marketing, repórter e crítico. Tem um texto sempre elegante e preciso – e, ainda, repleto de informações de coxia.

Ele poderia muito bem trabalhar como engenheiro. Formou-se na profissão. Também tem um canudo de direito – assim como pósgraduação em marketing. Borges, todavia, prefere dar aulas de destilados e charutos na Associação Brasileira de Sommeliers, traduzir livros e escrever textos sobre os prazeres da vida – incluindo queijos e relógios, duas manias de um nem tão excêntrico fã do British way of life.

Daniel Benevides

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Tuca Reinés

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Márcio Gaspar

Marcello Borges

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olfato

Adega

Mauro Marcelo Alves

Grande texto da publicidade brasileira, foi parar atrás de uma máquina de escrever (e, mais tarde, de um teclado de PC) porque “faltou empreendedorismo para viver como jogador profissional de snooker”, sua genuína aptidão. Trabalhou em grandes agências e teve a própria (GTM&C). Continua escrevendo como a precisão de um Rui Chapéu no taco.

Quando escolhíamos a quem atribuir a escolha das dez melhores cachaças de Minas Gerais, a simples menção de seu nome fechou a questão. Mauro é jornalista, escritor, chef de cozinha e consultor de gastronomia, vinhos e viagens. Escreveu os livros Vinhos, a Arte da França (DBA) e O Espírito da Cachaça (Editora Ciência Moderna). Ah, nasceu em Belo Horizonte.

cult

memória

perfil

Revisteiro dos melhores, fez parte da primeira redação de Veja e foi, ao longo de décadas, diretor de redação de Manchete. Antes disso, trabalhou no Serviço Brasileiro da BBC, em Londres. Ainda muito jovem, em Curitiba, sua terra natal, já escrevia sobre cinema, literatura e música – é saxofonista amador. Também, desde então, tornou-se assíduo leitor da revista americana masculina Esquire, seu assunto neste número.

Estava tudo acertado para que se formasse médico em Uberaba (MG), cidade onde nasceu. O entrave: André fugiu da faculdade para estudar história e jornalismo. Não teve jeito. Mais tarde, tornou-se consultor em tecnologia editorial e gráfica em São Paulo. Mas jamais deixou de escrever sobre seus temas prediletos, incluindo aviação e criação de gado.

Eis aqui um sujeito realmente versátil. Xavi, como os amigos o chamam, é jornalista, fotógrafo e escritor. Em alguns de seus vários livros, aliás, ele reúne essas três vocações, caso do mais recente, Sacracidade (Editora Origem). Não bastasse, o nosso Xavi ainda é pianista e compositor, líder do grupo Nhambuzim, que adapta para a linguagem musical o mundo do incomensurável Guimarães Rosa.

Repórter especial da revista Nova, também atuou em Playboy e Vip, além de temporadas nos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo. Eclética, trabalhou, ainda, como editora de telejornais da Rede Globo, no Rio de Janeiro, e publicou os livros O Homem Irresistível (Editora Original) e Sex Appeal (Editora Grijalbo). Para esta edição, teceu um perfil de Christopher Freeman, dono das brasileiríssimas marcas Granado e Phebo.

Roberto Muggiati

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tato

Enio Basílio Rodrigues

Dalila Magarian

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André Borges Lopes

Xavier Bartaburu

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h ospedag em P o r Lu c i a n a L a n c e llot t i

PERTO DO TOPO A apenas 20 minutos do sítio arqueológico mais famoso da América do Sul, o Sumaq Machu Picchu Hotel é uma pedida e tanto Sudeste do Peru. No cume de uma montanha no vale do rio Urubamba, a quase 2.400 metros de altitude, uma façanha da engenharia erguida pelos incas no século 15 seduz gente do mundo inteiro. A maior parte chega por Cusco – a 112 quilômetros do sítio arqueológico, onde fica o aeroporto mais próximo – e por lá acaba se hospedando. Chega o dia de visitar o santuário e é preciso encarar quase quatro horas de viagem de carro e trem até Machu Picchu Pueblo, o penúltimo passo antes da entrada da cidade perdida dos incas. Daí para a frente, enfrentam-se mais 20 minutos de subida de ônibus em zigue-zague por uma estrada sinuosa, à beira de vertiginosos precipícios. Até chegar a Machu Picchu, que demanda dos visitantes uma dose generosa de disposição: para dar conta das subidas e descidas entre as ruínas históricas, estimam-se cerca de 3 mil passos pelos degraus de pedras irregulares, sentindo o ar escapar dos pulmões. Sem contar o caminho de volta. Admita: só de ler, já cansa Para tornar mais confortável a visita a Machu Picchu – Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco (1982) e uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo Moderno (2007) –, a primeira dica é se hospedar em Machu Picchu Pueblo, e não em Cusco. Melhor ainda, se o hotel estiver inserido à beira do rio Urubamba, dentro do Parque Arqueológico de Machu Picchu.

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Cultura e relaxamento O hotel é o Sumaq, propriedade familiar com 62 quartos espaçosos, a apenas oito minutos de caminhada da estação de trem e a 20 minutos de ônibus da cidade perdida dos incas. Foi o primeiro cinco estrelas a se estabelecer em Machu Picchu Pueblo, em 2007, quando o povoado, ainda hoje um tanto desordenado, era chamado de Aguas Calientes. Além de abreviar o tempo de viagem até a cidadela, o hotel cerca os hóspedes com excelente gastronomia e curiosas referências à milenar cultura andina: da chegada ao check-out, esse contato é estreito: cerâmica, mogno e tons quentes são destacados em elementos produzidos com técnicas ancestrais de artesanato. O ponto-chave dessa imersão nas tradições é a Chakana, cruz andina que simboliza os quatro elementos da natureza, representados nos quatro andares da propriedade, fazendo valer o significado do nome do hotel. Em quíchua, Sumaq quer dizer “belo”. Homenageia também a

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o lugar certo As confortáveis instalações do hotel facilitam a chegada ao santuário inca

lendária cantora lírica peruana Yma Sumac (1922-2008). O idioma indígena falado na região central dos Andes desde antes da ascensão do Império Inca (e até hoje uma das línguas oficiais do Peru) também dá nome ao spa do hotel: Aqlla significa “escolhido”, alusão ao modo especial como a equipe acolhe os hóspedes, com terapias que combinam tratamentos modernos e antigos métodos incas para relaxar, destacando hidroterapia, sauna, reflexologia e massagens – estas últimas providenciais para antes e depois da visita a Machu Picchu. A vista a partir dos quartos se debruça para o vale e logo alcança a montanha, imponente, cercada por vegetação abundante. Essa proximidade com a natureza e com o Patrimônio Mundial da Unesco fez com que o Sumaq se comprometesse com a sustentabilidade – o hotel trabalha em colaboração com as comunidades locais e a Rainforest Alliance, certificação ambiental composta por organizações internacionais independentes, em defesa do meio ambiente.

© divulgação

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Misticismo e romance As atividades para os hóspedes seguem a proposta de valorizar a cultura local: incluem passeios ecológicos margeando o rio Urubamba, observação de pássaros e caminhadas pelo Parque Arqueológico de Machu Picchu. A programação também oferece um ritual de pagamento para a terra e aulas interativas sobre como preparar ceviches e pisco sour. Em clima de romance, vários casais aproveitam a atmosfera andina para estreitar os laços por aqui. O hotel coloca à disposição vestimentas para uma curiosa e excêntrica cerimônia simbólica de casamento conhecida como Arac Masin, celebrada por um xamã – o próprio também pode acompanhar os hóspedes ao santuário de Machu Picchu, para um passeio místico pontuado por rituais xamânicos que pode render uma forte experiência. É também curiosa a leitura das folhas de coca. Os Andes à mesa As raízes da cozinha peruana ganharam holofotes mundiais nos últimos anos, em grande parte por meio da divulgação do chef limenho Gastón Acurio, com restaurantes listados entre os melhores do mundo. Foi ele o responsável por transformar, internacionalmente, o ceviche em uma espécie de novo sushi, de acordo com a revista Time. Aqui, no restaurante Qunuq – “aconche-

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gante” em quíchua –, a tradição culinária local brilha em pratos que unem, em deliciosa harmonia, o rústico, o ancestral e as modernas técnicas da gastronomia. O resultado é surpreendente. Da fusão de produtos peruanos com a culinária espanhola, africana, chinesa, japonesa e italiana, resultam pratos coloridos e aromáticos, com sabores vivazes e sedutores. Por isso, além dos excelentes jantares e almoços, vale investir no menu degustação Sabor dos Andes, uma sequência de pratos harmonizados, preparados com mais de 35 ingredientes produzidos e cultivados por comunidades sustentáveis instaladas em um raio de 50 quilômetros do hotel. Das multicoloridas batatas aos queijos andinos, da carne de alpaca à truta. Mas não tenha dúvida de que a experiência culinária mais intensa é acompanhar o preparo da pachamanca, prato típico dos Andes peruanos elaborado com técnicas ancestrais (há registros arqueológicos que revelam seu preparo entre 7 mil e 8 mil anos atrás). Ingredientes como vários tipos de carnes e batatas, feijão, milho e banana são enterrados e cozidos lentamente sobre pedras quentes. A iguaria é servida em panelinhas de barro logo após ser retirada da terra. O resultado é um prato vigoroso e rústico, que destaca a carne tenra e suculenta em conjunto harmonioso com vegetais e especiarias. O melhor a fazer Chegue, acomode-se e relaxe. Apesar de o hotel estar localizado na avenida principal do povoado, marcada pelo vaivém de ônibus e turistas, o burburinho fica do lado de fora. É impressionante como a sensação de quietude é imediata, ao entrar no Sumaq. Aproxime-se da cultura milenar que cerca o lugar, erga um brinde com um perfeito pisco sour, aprenda a fazer ceviche e saboreie-o com prazer. Vá com calma e disposição ao santuário, retorne e entregue-se a uma massagem. Aprecie um delicioso jantar harmonizado e durma bem, ao som da correnteza das águas. Ao acordar, reverencie o entorno e tenha certeza de que sua experiência em Machu Picchu terá sido infinitamente superior. machupicchuhotels-sumaq.com

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Entre dois pontos As viagens de trem entre Cusco e Machu Picchu Pueblo parecem passar muito rápido quando se percorre o trajeto em um trem diferenciado, com mais conforto e espaço, como propõe a rede Inca Rail, com quatro categorias de serviço de bordo. No percurso de Cusco a Machu Picchu, quando se chega já cansado da viagem aérea, é recomendável optar pelo The First Class, que dispõe de um vagão com varanda e observatório para a paisagem que acompanha o trajeto e serve um almoço preparado com ingredientes orgânicos andinos harmonizado com vinhos locais. Na volta, a dica é embarcar no The 360º, categoria igualmente confortável, com atmosfera mais informal. O diferencial, neste caso, são as enormes janelas panorâmicas que envolvem um dos vagões, descortinando as paisagens andinas de cima a baixo. incarail.com

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Hambúrguer Angus com cogumelos, Brie e cebola

Hambúrguer Angus Seara Gourmet é um super hambúrguer de 200 g de pura carne Angus e sem nenhum tempero para que você dê o seu toque especial.

Preparado com carne bovina e recheado com mozzarella, o POLPETONE SEARA GOURMET tem cobertura deliciosa e crocante, com um tempero incrível.

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Receitas suculentas O Hambúrger Angus e o Polpetone Seara Gourmet são os mais novos protagonistas da sua mesa Receita 2

Receita 1

Tempo 1h I Porções 4

TEMPO 1 h I PORÇÕES 4

PARA AS CEBOLAS E COGUMELOS

INGREDIENTES

› 2 cebolas pequenas › Farinha de rosca para empanar › Sal a gosto › Óleo para fritar › 300 g de mix de cogumelos › 2 colheres de sopa de manteiga › 1 colher de sopa de shoyu

› 4 Polpetones Seara Gourmet › 2 latas de tomate pelado › 4 dentes de alho › 2 colheres de sopa de azeite › Sal e pimenta-do-reino a gosto › 400 g de queijo tipo mozzarella › Salsinha a gosto

PREPARO

Preparo

Corte as cebolas em fatias finas e tempere com sal. Passe-as na farinha para empanar. Aqueça o óleo, retire o excesso de farinha e frite as cebolas no óleo quente até dourar. Deixe escorrer em papel-toalha e reserve. Aqueça a manteiga em uma frigideira e junte o shoyu e os cogumelos em pedaços. Refogue até os cogumelos dourarem.

Bata os tomates pelados com os dentes de alho no liquidificador e despeje em uma panela. Cozinhe até ficar espesso e ajuste o sal e a pimenta. Em uma assadeira ou refratário, coloque uma camada de molho e acomode sobre ela os Polpetones Seara Gourmet. Cubra com o restante do molho e com a mozzarella. Leve ao forno preaquecido em temperatura média e asse por cerca de 25 minutos, ou até os polpetones estarem aquecidos e o queijo, gratinado. Sirva em seguida.

Hambúrguer ANGUS COM COGUMELOS, BRIE E CEBOLA

Polpetone à Parmegiana

PARA A MONTAGEM

› 4 pães de hambúrguer › 4 unidades de Hambúrguer Angus Seara Gourmet › 4 fatias de queijo Brie › Cebolas fritas › Cogumelos dourados › Azeite para fritar › Mostarda Dijon a gosto

POLPETONE À PARMEGIANA

PREPARO FINAL

Aqueça uma frigideira e regue com um fio de azeite. Doure os Hambúrgueres Angus Seara Gourmet. Ajeite uma fatia de queijo sobre cada um e tampe a frigideira, deixando a fatia derreter. Abra os pães e passe mostarda na base. Coloque os hambúrgueres com queijo sobre cada pão e complete com os cogumelos e a cebola frita. Tampe com pão e sirva.

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PARA HARMONIZAR

Para o hambúrguer, vai bem uma cerveja tipo porter. Com o polpetone, opte por uma lager.

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tem po P o r m a r i o c i cco n e

O cientista Panerai traz de volta o modelo com turbilhão em homenagem a Galileu Galilei Em tempos de teorias exóticas, é mais do que apropriado louvar Galileu Galilei. Numa dessas felizes coincidências, a Panerai trouxe de volta um dos seus ícones modernos: Lo Scienzato. Lançado em 2010 para celebrar os 400 anos das observações do famoso renascentista toscano, este relógio turbilhão ganhou vida nova. Totalmente reformulado, o Luminor Tourbillon GMT - Lo Scienziato foi um grande desafio para o Panerai Laboratorio de Idee. Tão famosa por seus temas marítimos, a maison resolveu ampliar suas fronteiras e voltar seus ponteiros também para o ceú. A nova peça tem uma personalidade própria e vigorosa. A caixa é de titânio e tem acabamento jateado. Vale destacar ainda o verde militar, que faz um bom contraste com o visual monocromático da peça. Com 47 mm de diâmetro, a edição de 2019 tem bisel (aquele círculo giratório em torno do mostrador), coroa sinuosa e alavanca de trava de segurança produzidos a partir de Carbotech, um composto baseado na levíssima e resistente fibra de carbono. O relógio depende de um mecanismo de turbilhão, com uma gaiola projetada para girar uma vez a cada 30 segundos - em vez dos tradicionais 60 segundos. A precisão é científica e a harmonia é de uma orquestra sinfônica. “Em tudo o que fazemos, acreditamos muito nessa conexão com a Itália e seu estilo de vida. Reunimos beleza, concepção artística, arquitetura, moda e design”, resume Alvaro Maggini, diretor criativo da Panerai. “Este modelo é um produto jovem e atraente. Um verdadeiro estado de arte.” panerai.com

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turbilhão Preciso, relógio tem mecanismo que gira a cada 30 segundos

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e v en to

Celebration! Lançamento da nossa edição 37 teve a presença de Michel Cheval, presidente da Montblanc no Brasil Michel Cheval foi um dos homenageados do mais recente evento da THE PRESIDENT, no Espaço One, no shopping JK Iguatemi, em São Paulo. O executivo ilustrou uma das capas da edição 37 da revista. A ocasião também se tornou uma oportunidade de reunir parceiros e patrocinadores e promover o networking.

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d e s u c e s so 1. Melissa Fernandes e Carlos Müller Moraes; 2. Rosana Florenço, Monika Cordova, Michel Cheval, Frederic Ronflard e Frederic Junck; 3. Juliana Pereira com Cheval; 4. Northon Blair, Elen Griebler e Antônio da Fontoura Fº; 5. Ana Tomita, Christian Varela e Luciana Coletta; 6. Juliana Vicente, Heloísa Perrella e Gisele Fernandes; 7.

© Carlos Paszko

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7. Juliana Bugarelli Fernandes, Marcelo Fernandes, Marcia Cardozo Fernandes e Ernesto Fernandes

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Conquista especial Há meio século, quando os astronautas chegaram à Lua, usavam relógios Omega Speedmaster

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esde 1961, quando o presidente Kennedy declarou que os Estados Unidos deveriam mandar um homem à Lua antes do final da década, a Nasa se desdobrou para cumprir essa missão. Uma parte importante do equipamento dos astronautas era o relógio, necessário para sincronizar e monitorar as atividades. Para chegar ao modelo mais adequado, cronógrafos de diversas marcas foram submetidos a testes rigorosos. Em março de 1965, a decisão da Nasa recaiu sobre o Omega Speedmaster. Embora outros

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relógios tenham sido aprovados para uso a bordo, ele ainda é o único autorizado para atividades extraveiculares – o famoso passeio no espaço. (Aliás, em 1965, o primeiro astronauta americano a fazê-lo, Ed White, usava um Speedmaster.) Para as pessoas comuns, um relógio é, digamos, um instrumento muito útil. Para outras, pode ser a diferença entre a vida e a morte. Pergunte a Jack Swigert, um dos tripulantes da Apollo 13. A ruptura de um tanque de oxigênio fez com que ele contatasse o controle

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Na página anterior, Buzz Aldrin com George Clooney, embaixador da Omega. Ao lado, o astronauta está usando o Omega Speedmaster Professional. Abaixo, a edição comemorativa

de terra da Nasa com a célebre frase “Houston, we've had a problem here”. Swigert usou seu relógio, um Omega Speedmaster Professional, para cronometrar a manobra de 14 segundos que os salvou. Não, o relógio de Neil Armstrong não foi o primeiro a flanar na Lua. Depois que o módulo lunar da Missão Apollo 11 pousou, às 20:17:40 (GMT) de 20 de julho de 1969, há exatos 50 anos, Neil Armstrong deixou seu Omega Speedmaster Professional a bordo. “Buzz” Aldrin, porém, o segundo astronauta a descer, estava com o seu no braço durante o passeio. O destino do primeiro relógio a descer na Lua, porém, ainda é um mistério. No início da década de 1970, quando Aldrin enviou seu Speedmaster para ficar exposto no Smithsonian Air and Space Museum, em Washington, a peça desapareceu. A hipótese é que teria sido furtado em trânsito. Para evitar problemas similares, a Nasa exigiu que todos os astronautas devolvessem os seus relógios. (Afinal, são propriedade do governo.) Se fosse encontrado, decerto o valor do Speedmaster de Aldrin estaria na casa dos sete dígitos. Com o sucesso da missão Apollo 11 e do Speedmaster na Lua, a Omega criou diversos modelos novos com base no original, ora comemorativos, ora com variações no movimento, no mostrador ou no desenho da caixa. Uma festa para os colecionadores. Não se sabe muito bem por que, depois da Apollo 17, em dezembro de 1972, o homem nunca mais voltou à Lua. Alguns chegaram a sugerir que foi porque a Apollo 11 teria sido recepcionada por Ovnis (!) em torno do módulo lunar, levando Armstrong e Aldrin a hesitar antes de pisar na Lua. Uma coisa é certa: o próximo astronauta a dar um rolê por nosso satélite deverá estar usando um Omega Speedmaster. omega.com.br

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DIA DE FESTA Seis barcos e quatro personalidades serão premiados. Os Schurmann participarão

Vem aí o prêmio Bombarco Ele escolherá os melhores do universo náutico no país, em noite de celebração com a família Schurmann Há dez anos despontava o portal Bombarco, com o propósito de ser um centralizador de negócios náuticos. Uma década depois, trata-se do líder absoluto do segmento e referência máxima no país em compra e venda de embarcações e produtos correlatos. Sim, há muito o que comemorar. Entre as principais celebrações está a criação do prêmio Bombarco, outorgado pelo portal e aferido por um júri especializado. A premiação ocorrerá no dia 17 de setembro, no restaurante Terraço Itália, em São Paulo, em um jantar para 200 convidados. Na ocasião, a família Schurmann, renomada pelas jornadas de veleiro mundo afora e colaboradora do Bombarco, contará

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seus planos para sua próxima grande viagem, Voz dos Oceanos, em parceria oficial com a ONU Ambientes. O prêmio Bombarco será entregue aos seis melhores barcos do mercado nacional, cada um em sua devida categoria. Ganharão o laurel, ainda, personalidades de destaque no universo náutico brasileiro: Grande Capitão, Bom Marinheiro, Defensor dos Oceanos e Herói do Mar. O jantar em que receberão o prêmio, sob o comando do chef toscano Pasquale Mancini, no alto de um dos prédios-símbolo da cidade, ocorrerá dois dias antes do início do São Paulo Boat Show, quando toda a grande mídia se volta para a indústria náutica.

A família Schurmann, composta por Vilfredo e Heloísa Schurmann, e seus filhos Pierre, David e Wilhelm, estará prestigiando o evento e relatará detalhes do projeto Voz dos Oceanos, em que leva à prática a campanha internacional #MaresLimpos (#CleanSeas), um alerta contra a poluição dos mares. Os Schürmann percorrerão cerca de 40 pontos estratégicos, identificando potenciais soluções capazes de reverter o cenário catastrófico para as águas do planeta, além de mobilizar governos, ONGs, cientistas e sociedade civil em torno da urgência de medidas efetivas em prol dos oceanos. bombarco.com.br

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formador de elites O colégio tem 128 anos de vida. E instalações belas e modernas

Escola de excelência O Institut auf dem Rosenberg, na Suíça, prepara os líderes do futuro Entre os ex-alunos do Institut auf dem Rosenberg, em Saint Gallen, na Suíça, está um prêmio Nobel de Química, o professor mexicano Mário Molina. Compreende-se. A tradicionalíssima escola no nordeste do país europeu - um dos mais seguros do mundo -, com 128 anos de vida, dedica-se com afinco a uma educação de extrema exclusividade. A direção atual é da quarta geração da família Gademann, sempre atenta a um ensino vigoroso e com base em valores humanistas. Seus 290 alunos, entre 6 e 19 anos, colhem o melhor de um colégio dedicado tanto ao magistério quanto à oferta de lazer e à integração cosmopolita de alunos dos cinco continentes. Tudo isso em um campus de 100 mil metros quadrados, encravado em uma paisagem acolhedora, com os Alpes ao fundo – e a apenas 55 minutos de carro do aeroporto de Zurique. Entre as exclusividades do Institut auf dem Rosenberg está o tamanho das turmas. Não vão além dos oito alunos, para que cada um deles tenha orientação personalizada, sob o olhar atento de professores de sólido conhecimento e fina sensibilidade. Além do currículo acadêmico, há um Programa de Enriquecimento com mais de 50 opções de

atividades cocurriculares. Elas vão de arte, design e tecnologia a línguas e comunicação. Um dos destaques é o aprendizado de gestão. O aluno é incentivado a criar, desenvolver e gerenciar uma empresa. Uma preparação para futuros líderes. Detalhe significativo na escola é a criação de cursos de inverno e verão, com duração de duas a seis semanas. Trata-se de uma experiência única, unindo aprendizado e lazer. As inscrições estão abertas para o summer camp, que se estenderá até 10 de agosto. instrosenberg.ch

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A lenda vive

Em sua oitava geração, o Porsche 911 é ainda mais potente, eficiente e tecnológico “Está vivo?” A pergunta do piloto belga Wim Daems para o passageiro não é sem motivo. Ao dar algumas voltas ao lado dele, perde-se fôlego, mas não a emoção. É o que acontece ao acompanhar um profissional da velocidade a bordo do novo Porsche 911 em uma volta rápida num circuito como o Velo Città, em Mogi Guaçu, no interior de São Paulo. O lançamento da oitava geração do esportivo alemão não poderia acontecer sem adrenalina. “Em uma volta na versão 992 C2S, percebemos um carro ainda mais esportivo”, diz o belga, em português. O casamento com uma brasileira lhe rendeu a fluência no idioma. Instrutor certificado pela matriz e um dos responsáveis pelos cursos

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do Porsche Experience, Daems explica a volta rápida: “Acionei o modo Sport e o câmbio manual. Com isso, apontamos em segunda marcha logo na primeira curva. O torque foi aumentado e conseguimos maior aceleração na saída de curva”. Da teoria para a prática há uma boa distância. A verdade é que quando se tem de assumir o volante e acompanhar o carro da frente, pilotado por um profissional, tudo fica mais difícil. O recurso do controle de tração é fundamental para completar uma volta limpa. Sem ele, é bem provável que um piloto amador passasse a ver o mundo girar com muito mais frequência. O circuito Velo Città exige precisão no traçado, sobretudo nos pontos de

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na pista O novo modelo é mais leve e veloz. No interior, faz referências ao primeiro da série

freada. É de impressionar como o carro se mantém estável mesmo quando colocamos mais da metade dele em cima da zebra. O novo modelo é mais do que estratégico para a marca. Andreas Marquardt, CEO da Porsche Brasil, definiu tudo em uma frase curta: “O 911 é o DNA da Porsche”. Da primeira geração, de 1963, até a mais recente, todos são 911. Todos são reconhecíveis. A nova geração, seja como for, tem melhorias notáveis. A traseira é mais larga, garantindo mais estabilidade. O motor 6 cilindros tem 450 cv. São 30 cv a mais do que a versão anterior, embora o carro seja 24 kg mais leve. O novo 911 Carrera 4S tem uma aceleração fora da curva. No pacote Sport Chrono, faz de 0 a 100 km/h em 3,4 segundos. Em relação à tecnologia, a grande novidade é o Wet Mode. Esse sistema tem sensores acústicos e detector de presença de água. Isso permite modificar a atuação dos controles de tração e estabilidade, além de todo o efeito aerodinâmico, para aumentar a aderência do veículo. O resultado é palpável: o carro

não perde a traseira em pista molhada, mesmo acelerando com o pé embaixo. Outra mudança está no visual do painel. O design reúne elementos analógicos e digitais, numa homenagem ao painel do primeiro 911. Ex-piloto de kart Leandro Rodrigues, gerente de produto e preço da Porsche Brasil, não esconde a satisfação com o novo produto e sonha testá-lo em Nurburghing. Aliás, a pista alemã de 20 quilômetros foi um dos locais de testes do novo 911. O modelo chegou a fazer uma volta no circuito em 7min25seg - 5 segundos mais rápido que a versão anterior. “O carro foi testado à exaustão. Andou no deserto e fez partidas a frio no Ártico.” A marca vem de um ano histórico no Brasil. “A expectativa é superar os números de 2018”, diz Werner Schaal, diretor de vendas. O novo modelo, segundo ele, está preparado para a eletrificação. Em 2025, uma variante híbrida vai entrar na linha. Para a Porsche, o sarrafo está sempre lá em cima. E o futuro chegará mais rápido do que nunca. porsche.com.br

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Forte e completo

Sempre um clássico Na pista, o Mustang sabe ser selvagem e emocionante Dava para ouvir de longe o som dos motores de alguns Mustang correndo em uma das pistas de testes da Ford em Tatuí (SP). E olhe que o complexo tem 4,66 milhões de metros quadrados. O circuito escolhido era misto e exigente. Tinha reta longa, curvas travadas e outras mais velozes. Seguimos o comboio liderado pelo piloto de testes Luis Gozzani. “O Campo de Provas é uma extensão da minha casa”, ele disse. Se o dono da casa manda, obedecemos. Ainda que ele estivesse se contendo, era difícil acompanhar. Na entrada da reta, chegamos acelerados. E o carro quase perdeu a traseira. Ao término da sessão, Gozzani foi categórico: “Exagerou. Chegou acelerado demais”. A impressão é de que o Mustang passou um pito no piloto amador. É como se o carro fosse o próprio Wild Mustang, cavalo selvagem do seu emblema, e resolvesse empinar um pouco só pra assustar. E não era apenas um, mas 466 cavalos em um motor V8. E o câmbio de dez marchas garante trocas rápidas. Este muscle car refletia a rebeldia e o espírito jovem dos anos 1960. E essa alma segue mais viva do que nunca.

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A Ford valoriza os seus ícones. O Mustang está aí para comprovar. Mas também pisca os faróis para novas apostas. Uma delas é o Edge ST, um SUV potente, com alta tecnologia e muito espaço. Na estrada, as espichadas nas retas valorizam o motor de V6. É um 2.7 EcoBoost com duplo turbo. Gera 335 cv de potência, responde bem ao acelerador. E a transmissão automática de oito velocidades garante conforto e rápidas trocas de marcha. Para ter uma sensação mais esportiva, use o paddle shift. Há muita tecnologia de bordo: piloto adaptativo, assistente de frenagem, auxiliar de manobras, sistema de monitoramento de ponto cego e permanência em faixa. Além disso, o Edge ST é um 4x4. A tração inteligente distribui o torque em duas ou quatro rodas. Garante melhor performance em qualquer terreno. “O Edge ST oferece a comodidade de um SUV”, diz Adriana Carradori, brand manager da Ford. “Também realiza o sonho de ter um esportivo com performance surpreendente.” ford.com.br

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Inovação digital A Mitsubishi Motors apresenta a sua nova plataforma de conteúdo: o MundoMIT.com.br. O lançamento reuniu, no MIT Point, em São Paulo, embaixadores da marca, clientes e personalidades Muita gente prestigiou a apresentação do MundoMIT. com.br, novo hub de conteúdo digital da Mitsubishi Motors. O evento realizado em 27 de abril, no MIT Point, no shopping JK Iguatemi, contou com a presença de embaixadores e fãs da marca dos três diamantes. Veio a campo um time de peso: os surfistas

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Adriano de Souza “Mineirinho”, Everaldo Pato e Carlos Burle, o piloto Guiga Spinelli, o navegador Youssef Haddad, o escalador Felipe Camargo e o aventureiro Richard Rasmussen. O MundoMIT irá abordar tudo o que mais interessa ao fã do mundo 4x4: estilo de vida, aventura, esporte, gastronomia e viagem.

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p l ata fo r m a 1. Casa cheia em mais um evento realizado no MIT Point; 2. O surfista Carlos Burle; 3. Mineirinho posa para selfie; 4. Everaldo Pato, outro surfista e embaixador Mitsubishi; 5. O fotógrafo Guilber Hidaka e sua família; 6. O piloto Guiga Spinelli e o navegador Youssef Haddad; 7.

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7. O escalador Felipe Camargo sempre procurando desafios mais altos

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4x4 8. O diretor de operações Robert Rittscher dá entrevista durante o evento; 9. O apresentador Richard Rasmussen; 10. Nova plataforma já está online; 11. Mitsubishi Eclipse Cross; 12. Muito espaço de convivência no MIT Point; 13. DJ Enri Paes agitou a noite de lancamento; 14. O ASX se tornou uma plataforma artística; 15. A artista plástica Denise Barros pinta 17.

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retratos com barro; 16. Adriano Lavezzo; 17. Simulador garantiu diversão para os pilotos amadores

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g a r ag em e m Pa rc e r i a co m p e u g eot

Máquina high-tech O SUV Peugeot 3008 Griffe Pack tem pacote tecnológico para auxiliar o motorista em quase tudo. Só falta dirigir sozinho

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em carros que te conquistam já no primeiro contato. O SUV Peugeot 3008 é um deles. O design é agressivo e robusto. O leão da marca está muito bem representado na grade frontal. Porém, o 3008 é muito mais do que belo projeto. A versão Griffe Pack incluiu toda a tecnologia de que você precisa – ou até aquelas que você nem imaginava. A Peugeot desenvolveu um notável pacote de recursos. O painel de instrumentos é totalmente digital, com 12,3 polegadas, tem boa definição e é customizá-

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vel. Mas o grande destaque fica por conta do Peugeot I-Cockpit, a solução exclusiva desenvolvida pela marca traz um conceito inovador que revoluciona e reescreve os códigos tradicionais de condução. O volante no formato SportDrive é compacto, com topo e base achatados, que facilitam a pegada, além de um campo de visão desimpedido e mais espaço para o painel de instrumentos digitais. A posição do motorista é mais elevada e todos os comandos estão disponíveis ao alcance das mãos. Além de deixar o design bem harmô-

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nico com o restante do interior, essa configuração gera uma experiência única e prazerosa de direção. No centro do console está localizado o Peugeot Conect Radio, com tela multimídia de 8 polegadas, sensível ao toque, e que oferece as funções Android Auto e Apple Car Play. A central também permite acionar o sistema de massagem para os bancos da frente, com cinco modos diferentes de opção. Abaixo da tela, encontram-se as seis elegantes teclas chamadas de toggle switches, inspiradas nas teclas de piano, que proporcionam um acesso direto às principais funções de conforto da central multimídia: rádio, climatização, navegação, parâmetros do veículo, telefone e aplicativos móveis. Na hora de ouvir o rugido do leão, o carro também tem personalidade. O motor é um 1.6 turbo de 165 cv, com transmissão automática de seis velocidades e tração dianteira. Se você pedir potência, ele entrega. E rapidamente. Ao dirigir o Peugeot 3008 você percebe a importância da tecnologia. O carro reúne sensor de ponto cego ativo, leitor de faixa com assistente de correção e alerta, e o inovador piloto automático inteligente, que lê a distância de um obstáculo e freia até parar. Além disso, tem detector de fadiga e leitor de placa. Todo esse serviço é possível graças a sensores na lateral do carro e, sobretudo, ao radar abaixo da placa dianteira. Há ainda uma câmera central no alto do para-brisa. Na hora de manobrar, o Peugeot 3008 vai além da câmera de ré. O sistema mostra o que está ao redor e faz uma animação do veículo visto de cima, como se fosse uma imagem de satélite. Isso ajuda a evitar colisões com paredes ou outros carros. Vale explicar também os sensores de faixas. O Peugeot 3008 Griffe Pack, o topo de gama, lê – quando as vias são regulares – as faixas de rolamento. Se o veículo se aproxima demais do limite da faixa, o próprio assistente faz a correção sem a intervenção do motorista. E emite um alerta de atenção. Quanto ao leitor de ponto cego, mesmo com seta acionada, o carro faz força contrária no volante caso haja outro veículo emparelhado. Assim, evita a colisão quando o motorista não está vendo o outro veículo.

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Na versão 2019 do detector de fadiga, o sistema identifica se o 3008 Griffe Pack está cambaleando de uma faixa para outra. O sistema acende um ícone de uma xícara de café no painel e sugere um descanso. Outra tecnologia é o leitor de placa da estrada, que mostra no painel o limite de velocidade da pista. Um dos veículos mais completos do seu segmento, este SUV reúne tecnologia, potência e design. Por essa razão, a montadora garante: o Peugeot 3008 é a melhor compra de sua categoria. Nas concessionárias, o Peugeot 3008 Griffe Pack tem preço sugerido de R$ 154.990, enquanto a versão Allure está na faixa de R$ 139.990. A Peugeot aposta também no pós-venda para ser um dos pontos fortes da marca no Brasil. Assim, o custo-benefício é um grande trunfo do Peugeot 3008. Vale cada centavo. carros.peugeot.com.br

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O que Anitta quer, consegue. E ela quer apenas conquistar o mundo

Por Daniel Benevides

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agenda lotada Aos 26 anos, ela faz de 20 a 25 shows por mês

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Ela se arruma no camarim, está de franja, ar debochado. Surge no palco meneando o corpo. Pega o microfone de modo sugestivo, desafia o espectador e comanda o show. Como boa sedutora, ordena que nos preparemos. E começa a rebolar. Dobra os joelhos e roça o chão com o generoso bumbum. Ela é de fato poderosa. Estamos conquistados. Estamos sob o seu domínio. Anitta. Ani-tta. Luz e fogo, diria Nabokov. O clipe descrito acima, “Show das Poderosas”, seu primeiro grande sucesso, de 2013, já foi visto mais de 150 milhões de vezes. Juntos, seus vídeos atingem a marca de 3 bilhões de visualizações. Além disso, com apenas três discos na carreira, Anitta, aos 26 anos, faz de 20 a 25 shows por mês, cobrando cachês que vão dos R$ 200 mil aos R$ 500 mil. Muito disso é impulsionado pelo streaming, sempre alimentado por singles e participações em músicas de artistas amigos.

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s números estratosféricos mal fazem acreditar que tudo começou com um desodorante. Ou melhor, antes, no espaço nada profano de uma igreja em Honório Gurgel, bairro de classe média baixa no Rio de Janeiro, onde nasceu e foi criada. Aos 7 anos ela já cantava no coro, diante do altar. Quem ali poderia sequer desconfiar que aquela menina iria incendiar as fantasias do prazer carnal como poucas, estaria muito distante do paraíso entediante de anjos e almas ilibadas? Curiosa, espevitada, sempre sorridente, a cantora, compositora, apresentadora e – este “e” não é pouco – empresária sempre soube que seria famosa. E fez por onde. Desde cedo cantava e dançava com as amigas sobre caixas de cerveja, soltava com alegria a voz que vai ao limite da rouquidão, como uma promessa de sussurro. Descobria o potencial dos movimentos de suas curvas, que iam se arredondando, desenhando um corpo nada fátuo, terreno, presente, com coxas, peitos e bumbum para lá de provocantes. E o desodorante? Adolescente, ela gravou um vídeo menos que caseiro, bem tosco, em que cantava usando um tubo de desodorante como microfone. Sua imagem ainda pueril chegou aos olhos dos produtores do crew de funk carioca Furacão 2000. Espertos, perceberam logo o talento da então Larissa de Macedo Machado. Ela mudaria o nome ao ver a minissérie Presença de Anita e se identificar com a personagem inter-

“Se eu pudesse, aprenderia de tudo. Conhecimento é sempre libertação”, diz a garota que fala inglês e espanhol com fluência, quase sem sotaque © gui paganini/divulgação

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pretada por outro sex symbol nacional, Mel Lisboa. O “t” a mais garantiu maior facilidade nas buscas pela internet. A Anita da série, inspirada no livro epônimo de Mário Donato, um escândalo e grande sucesso à época em que foi lançado, 1948, se envolve num triângulo amoroso. A Anitta da música não se vexa de dizer que “passa mesmo o rodo”, declara-se bissexual e deixou um entrevistador argentino vermelho ao dizer que já tinha feito sexo a três algumas vezes. Suas aventuras amorosas correm o mundo digital quase no instante em que acontecem. A mais recente, depois de um casamento breve, envolve o surfista Pedro Scooby, ex de Luana Piovani. O casal está em todas as redes, causando alvoroço e admiração. Essa exposição toda não é fortuita. Para a revista Trip, Anitta declarou: “Adoro ver as curtidas nas minhas fotos e que meu clipe seja assistido por milhões”. E explicou: “Não é justo eu querer que as pessoas lotem meu show, assistam ao meu clipe, comprem meu CD, meus produtos, me proporcionem a vida que tenho, e não querer que elas se metam na minha vida. Essa é a minha filosofia. Eu acho que faz parte da fama: eu pedi isso e busquei essa vida.” Buscou com uma tenacidade e inteligência raras. Para tanto, estudou inglês por insistência da mãe, Miriam, e também espanhol. Passava tardes e tardes vendo vídeos de Beyoncé e Jennifer Lopez para imitar seus passos, caras e bocas. Não à toa, declarou: “Se eu pudesse, aprenderia de tudo. Conhecimento é sempre libertação”. O esforço valeu a pena: recentemente passou Shakira como a artista sul-americana mais vista na internet e gravou com ninguém menos que Madonna. A música, “Faz Gostoso”, é um reggaeton com momentos de escola de samba. O clima é safado, no melhor dos sentidos, de sensualidade explícita, mas com – e este é um diferencial – senso de humor, e a consciência de que tudo é uma encenação, um jogo de sedução em que bilhões participam.

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sse passo com a diva de “Like a Virgin” é natural, já que ambas são muito parecidas: ambiciosas, controladoras, criativas. Sócia da produtora Rodamoinho, ao lado do irmão Renan, na qual comanda 50 pessoas, Anitta toma conta de todas as etapas de sua carreira. Ela também declarou à revista Trip: “Cabelos, maquiagem, styling, propaganda, patrocinadores, campanhas. Assessoria de imprensa. Mídias sociais – o que eu devo dizer nelas, quando sumo, quando volto, quando faço eles sentirem falta de mim, quando os fãs precisam de atenção. Coreografias. Parte musical da direção do show. Compor músicas. Lançamento de clipe. Cenário, luz, roteiro de show. Gerenciamento da equipe técnica que vai fazer isso acontecer. A venda de shows. E agora o internacional. A parte legal também, porque tudo que acontece tem contrato. Contabilidade, que é a parte que eu mais odeio”. O momento de virada aconteceu com o clipe de “Bang”, em 2015. A direção artística de Giovanni Bianco é outro link com Madonna. Em preto e branco, com grafismos coloridos, mostra Anitta balançando loucamente os belos glúteos ao lado de outras dançarinas. De sua calcinha brotam, como nos quadrinhos, o Batman da TV e gravuras da pop art, onomatopeias explosivas. Como em todas suas músicas e vídeos, pouco é deixado para a imaginação. A cantora é muito inteligente, mas sua mensagem é minimalista, sem sutilezas, resumindo-se a comandos para se “empinar o bumbum” e um erotismo direto, na cara. Seu feminismo é o da mulher que bota banca e toma a iniciativa. Não importa se ela se coloca como mulher-objeto, já que, no fim das contas, é quem está no comando. Bianco também criou o décor para “Essa Mina É Louca”, em que Anitta e Ísis Valverde disputam o amor e atenção do “pobre” Jhama. Ela aparece paramentada como uma dona de casa em versão pin-up, a moça do lar que se finge de ingênua, com a ponta do dedo na boca e o corpo expectante. Uma Betty Boop à brasileira.

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PODEROSA Na série Vai Anitta, da Netflix, e nos clipes de “Essa Mina É Louca” e “Vai, Malandra”, o mesmo estudado apelo

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“Penso no que devo dizer nas mídias sociais, quando sumo, quando volto, quando faço os fãs sentirem falta de mim, quando precisam de atenção”

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om o espanhol e o inglês cada dia mais afiados, começou a abrir uma brecha no mercado internacional. Primeiro veio a participação na abertura da Olimpíada, ao lado de Gil e Caetano. Um ano depois, passou a gravar com artistas internacionais, como o colombiano Maluma, o Dj sueco Alesso e o produtor e compositor americano Poo Bear. Quase sem sotaque, foi conquistando o público em países como México, França, EUA, Colômbia e Alemanha. Com produtores e assessores, lançou a frente de estratégia xeque-mate, como se pode ver na série documentário Vai Anitta, no Netflix. É interessante constatar como ela é profissional e tem grande facilidade em se adaptar às exigências de estúdio, mudando notas e fraseados vocais com grande controle das cordas vocais e de sua expressividade. Assim como não se aperta em entrevistas para jornalistas gringos, não importa a língua que falem. A verdade é que, ao ouvir as músicas poliglotas de Kisses, disco que acaba de lançar, em que apimenta ainda mais seu funk-pop com tons caribenhos e brasileiros, a impressão é que ela vai mesmo conquistar o mundo, que todos sucumbirão ao seu microquíni de fita isolante em “Vai, Malandra”, em que provoca sem perdão, até que estejamos de joelhos, implorando seu amor. Mas a história ainda está sendo feita – Carmen Miranda talvez ficasse orgulhosa de sua sucessora. Isso se ela não cumprir a promessa de se aposentar cedo. TP

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do Estácio Há dois anos morria Luiz Melodia. E só agora se esboça o reconhecimento de seu enorme talento

Por Márcio Gaspar

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Beto Sem Destino; Caveirinha, Zé Tentação, Paulinho Supri e Charuto; Paulinho da Outra, Paulinho da Mariquinha, Ari Beicinho e Ano 7; Cara de Cavalo e Horroroso. Não, não é a escalação do time da penitenciária. São só alguns dos nomes listados no encarte de Mico de Circo, terceiro LP de Luiz Melodia, de 1978. Assim o artista homenageava seus parceiros de bola de gude do morro de São Carlos, no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro. Além da lembrança, a lista diz muito sobre o próprio Melodia. Afinal, ao contrário dos homenageados – cujo destino, como muitos meninos negros de comunidades carentes brasileiras, é quase sempre trágico –, Melô subverteu esse triste enredo. Cumpriu a trajetória descrita na “Refavela” de Gilberto Gil, onde o preto pobre desce o morro e vem transar o ambiente efervescente de uma cidade a cintilar. Mas não foi nada fácil.

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bservando o pai, Oswaldo Melodia, funcionário público e compositor nas horas vagas, o menino Luiz Carlos dos Santos conheceu a música. E na Igreja Batista frequentada pela família descobriu o prazer de cantar. A música era parte do cotidiano de sua comunidade, berço da primeira escola de samba do Rio, a Deixa Falar, embrião da famosa Estácio de Sá. As rodas de samba, porém, eram consideradas ambientes barra-pesada pela família do artista. Ou seja: proibidas para Luiz e suas quatro irmãs, todos filhos de dona Eurídice, “costureira de mão-cheia”, como ele definiria anos mais tarde.

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AUXÍLIO LUXUOSO Ele era único em sua mescla de samba, soul, choro e Jovem Guarda

No início dos anos 1970, os poetas Wally Salomão e Torquato Neto, mais o artista plástico Hélio Oiticica, três integrantes da intelligentsia alternativa de então, passaram a frequentar o morro de São Carlos em busca da “alma carioca”, de inspiração, e de um tanto de piração, também. Conheceram Luiz e suas composições estranhas para aquele ambiente: uma inusitada mistura de soul music, rock, samba, chorinho e blues; e com letras de tom quase surrealista. Wally estava dirigindo a montagem do novo show de Gal Costa no Teatro Teresa Raquel, Fa-Tal – A Todo Vapor. O espetáculo, marcante na carreira da cantora, passou a ter na canção “Pérola Negra” um de seus pontos altos. ESTREIA EM BRASÍLIA onheci Melô por causa de Torquato e de Wally”, relembra Renato Piau, guitarrista e violonista que tocou com Melodia por quase toda a carreira. “Assim como eu, Torquato era do Piauí e nossas famílias eram amigas. Já morando no Rio, ele vinha a Teresina e aparecia lá em casa”, diz. “Eu, começando a tocar, adolescente ainda, e ele já o poeta da Tropicália.” Pouco tempo depois, Piau também foi para o Rio e procurou Torquato, que o apresentou a Wally. Por causa disso, viu várias vezes o show de Gal Costa. “Achava lindo ela cantando ‘Pérola Negra’ e perguntei ao Torquato quem era o compositor”, conta. “O Torquato me apresentou a ele, que estava ali perto do palco, de coturno; Luiz era o soldado Santos, recém-saído do serviço militar.” Piau tocou com Melodia desde o primeiro disco, Pérola Negra, lançado em 1973, e foi seu parceiro em mais de 15 composições. Antes disso e logo depois do show Fa-tal, Maria Bethânia gravou outra pérola do iniciante compositor em seu

C O menino ouvia muito bolero e música italiana no rádio, mas seu gosto pendeu para a Jovem Guarda e o rock internacional, que escutava no programa de Jair de Taumaturgo na rádio Mayrink Veiga carioca. Na adolescência, Luiz abandonou o ginásio e formou Os Instantâneos. O grupo animava casamentos e batizados no morro, com repertório de Roberto Carlos e dos Beatles, “embora não soubesse nenhuma palavra de inglês”, ele contou certa vez.

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PRECIOSO Pérola Negra, de 1973, é um dos melhores LPs de estreia da MPB

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LP Drama, de 1972: “Estácio Holly Estácio”.“Foi então que a gravadora alugou uma casa no Recreio dos Bandeirantes, onde morávamos eu, Melodia, o baixista Rubão Sabino e o Damião Experiência, um músico e compositor pra lá de alternativo”, prossegue Piau. “Ali acabou sendo burilado o repertório do Pérola Negra.” Em 1974, Piau foi morar em Brasília, e Melô passou uma temporada por lá. “Ele foi padrinho do meu filho e fez o primeiro show da vida dele, comigo e alguns músicos locais”, diz Piau. “Tenho esse show gravado e meu sonho é lançar algum dia.” NEGRO GATO primeiro LP de Luiz Melodia (aí já adotando o apelido do pai, Oswaldo) é considerado um dos melhores de estreia na história da música brasileira. Na época, tamanho foi o êxito junto à crítica que a expectativa para o segundo disco era brutal. Mas Maravilhas Contemporâneas, de 1976, parecia ainda mais inspirado, trazendo de quebra um enorme sucesso popular, “Juventude Transviada”, que fez parte da trilha sonora de uma novela da Globo. O terceiro disco, Mico de Circo (1978), tinha mais uma safra de ótimas faixas e ao menos uma nova obra-prima, o chorinho “Fadas”. O caminho parecia traçado para Luiz Melodia. Mas as coisas começaram a desandar. A gravadora insistiu para que ele fizesse um disco de samba; Melodia disse não. A Rede Globo quis gravar um musical para o Fantástico, cuja ambientação desagradou o artista e um impasse foi criado. Melô sabia o que queria e não permitia intromissões em relação à própria imagem nem na escolha do repertório ou arranjos. É nesses momentos que os preconceitos de classe e de raça aparecem. Afinal, aquele artista que pretende tomar as rédeas da carreira é um negro que veio do morro. Isso não é dito explicitamente, mas está nas entrelinhas do discurso que requer, no fundo, a submissão do sujeito que saiu do morro e (que ousadia!) quer pensar com a própria cabeça.

O O PRAçA No serviço militar, ele era conhecido como “Soldado Santos”

O BRILHO Em seu terceiro LP, Mico de Circo, ao menos uma obra-prima, o choro “Fadas”

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MARAVILHA CONTEMPORÂNEA Na capa de Nós, com Jane e Mahal. rótulo de “difícil” impediu que Melô fizesse o sucesso merecido

Melodia foi, aos poucos, desaparecendo da mídia e seus shows passaram a acontecer em locais menores, como o chamado circuito universitário da época. O LP seguinte, Nós, de 1980, trazia “Negro Gato” (sucesso da Jovem Guarda que virou quase sinônimo de Luiz Melodia) e tinha na capa o artista ao lado de Jane Reis, sua mulher desde três anos antes, e o filho Mahal, hoje rapper. A partir do também ótimo Felino (de 1983), os lançamentos de Luiz Melodia começaram a ficar mais espaçados. Decerto pela incômoda fama de “artista difícil” que aos poucos se instalou como verdade no meio do show business e até da imprensa musical – que criou o rótulo de “artistas malditos” para classificar Melodia, Walter Franco, Jards Macalé e Jorge Mautner, entre alguns outros. A classificação era cruel e irresponsável. Por outro lado, mesmo dando o desconto de que não deve ser nada fácil estar no papel do artista que sente na pele (negra) o peso do preconceito dissimulado (e por isso mais difícil de denunciar e combater), é também verdade que Melodia passou a abusar das drogas lícitas e ilícitas e dos atrasos em shows, injetando ele mesmo ainda mais combustível para o rótulo de artista difícil e maldito. Tudo isso colaborou para que trabalhos muito bons como Claro (1988), Pintando o Sete (1991), 14 Quilates (1997), Retrato do Artista Quando Coisa (2001), Estação Melodia (2007) e Zerima (2014) passassem quase despercebidos. Houve exceções, como o sucesso da regravação de “Codinome Beija-Flor”, de Cazuza, no início da década de 1990, e a vitória no Prêmio da Música Brasileira, com Zerima, em 2015, não por acaso o primeiro disco de Melodia, em 13 anos, com músicas inéditas. Faz dois anos desde o 4 de agosto de 2017, quando Luiz Melodia morreu, de câncer na medula, aos 66. “Ele respirou pela última vez depois que li, ao lado da cama do hospital, um poema de Manoel de Barros e coloquei pra tocar o clássico ‘My Funny Valentine’ na voz de Chet Baker”, recorda-se com emoção a viúva, Jane Reis. No dia seguinte, jornais de todo o país dedicaram páginas inteiras a louvar o artista, rádios e TVs prestaram homenagens. Desde então, a tendência um tanto hipócrita da valorização post mortem aos poucos vem fazendo com que Luiz Melodia receba o reconhecimento para enfim ocupar o lugar que merece na história da música brasileira. TP

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Cheeese! A culinária britânica sempre foi vítima de boutades. Mas até os franceses reconhecem a qualidade dos queijos da ilha

Por Marcello Borges

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sangue azul O Stilton lembra o famoso queijo Gorgonzola

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O escritor e marquês francês Louis-Antoine Caraccioli (1719-1803) disse que havia na Inglaterra mais de 600 seitas diferentes, mas um único tipo de molho. Sim, os gauleses sempre fizeram boutades com a culinária do outro lado do canal, lembrando a toda hora que não há uma expressão equivalente a bon appétit na língua inglesa. Provável culpa dos puritanos britânicos do século 17. Eles não viam com bons olhos qualquer culto ao prazer – inclusive o prazer à mesa. Os próprios ingleses fazem pilhéria com a culinária do país. William Somerset Maugham (1874-1965), outro escritor, por exemplo, lacrou: “Para comer bem na Inglaterra, basta tomar três vezes o café da manhã”. Pode ser. Mas em pelo menos uma área da gastronomia os ingleses têm ótimos motivos para se orgulhar: os queijos. O prezado leitor pode se surpreender e perguntar, coberto de razão: mas os queijos não são uma especialidade da França, da Suíça e da Itália? Sem dúvida alguma. Nesse métier, no entanto, os ingleses também estão no páreo – e até os franceses reconhecem. Ótimas lojas em Paris, como a Androuet e a Fromagerie Beaufils, vendem queijos britânicos.

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s laticínios são motivo de orgulho dos britânicos, a começar pelas próprias vacas leiteiras. Conta-se que certa vez ofereceram chá ao convidado de um lorde. “Earl Grey ou Darjeeling?”, perguntou o mordomo, tendo por resposta Earl Grey. “Limão ou leite?”, continuou a inquirição. “Leite, por favor.” “Hereford ou Jersey?” O pobre conviva mal balbuciou Hereford e lá se foi alguém ordenhar, na mesma hora, uma das nobres vaquinhas de pelo marrom e branco para o chá. Em vários países da Europa, o queijo é servido antes da sobremesa para acompanhar o final do vinho, que dificilmente iria combinar com os doces. Também é assim na Inglaterra. Aliás, Jean-Anthelme Brillat-Savarin (1755-1826), um dos papas da gastronomia moderna e que empresta seu nome a um delicioso tipo de Brie, observou, com toda a sabedoria, que “um jantar que termina sem queijos é como uma mulher que só tem um olho”. Graças à qualidade e às suas propriedades aromáticas, os queijos ingleses têm conquistado o mundo. Aqui está uma pequena seleção dos mais representativos. De quebra, seguem-se orientações da bebida mais indicada para cada um. Queijos ingleses não são fáceis de encontrar no Brasil. A lista serve como referência para suas compras numa próxima viagem. Quem sabe na esplêndida Fortnum & Mason londrina. O velho buldogue Winston Churchill recomendava outro endereço: “A gentleman only buys his cheese at Paxton & Whitfield”. A queijaria fica na Jermyn St. 93, a mesma rua da camisaria Turnbull & Asser. Mas lembre-se de pedir que embalem os queijos a vácuo, do contrário pode ter problemas na alfândega.

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CHEDDAR

O STILTON

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onsiderado o rei dos queijos ingleses, lembra um Roquefort ou um Gorgonzola. Produzido com leite pasteurizado de vaca, o Stilton vem de apenas três regiões da Inglaterra, todas com nomes tão extensos quanto o seu sabor: Nottinghamshire, Leicestershire e Derbyshi­ re. Chamado de blue cheese por causa dos veios de mofo, é o único queijo inglês com proteção de nome da União Europeia. Sua fama inspirou poemas como “Stilton and Milton”, de G.K. Chesterton (1874-1936). “My table groans with Stilton – for a while”, escreveu o bardo. Outro grande poeta, o americano T.S. Eliot (18881965), escreveu ao editor do jornal The Times, em 1935, requisitando uma estátua em homenagem à inventora do Stilton, a senhora Frances Paulet. Winston Churchill era radical. Para ele, “Stilton e Porto são como marido e mulher; nunca devem se separar”. De fato, o Stilton tem no fortificado por­tuguês seu parceiro mais tradicional. Os conservadores votam no Porto Vintage, mas um Late Bottled Vintage (LBV) dá conta do recado. Não é só o Porto que faz bonito na companhia desse queijo semiduro, com massa cor de creme e veios azul-esverdeados. Outros vinhos doces, como o húngaro Tokaji, com notas de geleia e de casca de laranja, ou o Sauternes bordalês, vão bem.

honrarias Se o Stilton é o rei dos queijos britânicos, o Cheddar é o mais imitado deles

utro com história antiga é o Cheddar. Em certa ocasião, o rei Henrique 2º (11331189) teria comprado 4.644 quilos desse queijo. Já o explorador da Antártica Robert Scott (1868-1912) levou 1.600 quilos em sua expedição de 1901. E um dos presentes de casamento da rainha Vitória (1819-1901) foi um disco pesando 450 quilos. Se você acha que Cheddar é aquele quadrado alaranjado que se confunde com o plástico que o embrulha, não poderia estar mais enganado. O autêntico é feito com leite cru de vacas que pastam soltas e felizes perto da cidade de Cheddar, em Somerset. A qualidade do pasto influi no sabor do leite e este, claro, se transfere ao queijo. O mais imitado dos queijos britânicos amadurece envolto em gaze por 24 meses para formar casca e permitir que sua textura mude, desenvolvendo aromas terrosos. Para acompanhar um Cheddar jovem, pense num Chardonnay que estagiou em carvalho. Um Syrah ou um Cabernet Sauvignon frutado também vão bem com os mais curados, e, claro, o Porto Ruby (LBV ou Vintage) será sempre uma boa opção.

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STINKING BISHOP

P CHESHIRE

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oma uma fatia de Cheshire e você vai entender por que o Gato de Cheshire (de Alice no País das Maravilhas) era conhecido como o Gato Que Ri. Alguns o consideram o queijo mais antigo da Inglaterra, datado talvez do período romano. A Marinha britânica tornou-o o queijo oficial para consumo a bordo de seus navios em 1739. A cor alaranjada de algumas versões do Cheshire deve-se à adição de um corante, annatto, o nosso colorau. Os melhores (Farmhouse Cheshire) são feitos com leite cru de vaquinhas da raça Holstein-Frísia que perambulam nos pastos da região de Cheshire. Chesterton confessava que gostava muito do “nobre e velho Cheshire”, para ele “melhor até do que os grandes Stilton”. Como sugestão de compatibilização com este queijo um pouco ácido com traços de frutas secas, pense num Riesling da Alsácia ou da Alemanha, um Sauvignon Blanc ou um Beaujolais. Se quiser fazer uma harmonização diferente, mas interessante, vá de Moscato d’Asti, vinho piemontês frisante com notas de frutas brancas e flores e baixo teor alcoólico.

distinções O Cheshire é considerado o mais antigo; e o Stinking Bishop, o mais mau cheiroso

oucos conhecem o Stinking Bishop. Tradução ao pé da letra: Bispo Fedorento. Apesar do nome, ele não chega a ter um aroma tão intenso quanto o Époisses de Bourgogne, um dos preferidos de Napoleão. Este queijo francês é tão fétido que a legislação proíbe seu transporte no metrô e em ônibus (muitos motoristas de táxi em Paris cobram um adicional pela corrida quando alguém entra no carro com o Époisses ou com o Munster). O Stinking Bishop é um dos mais antigos queijos produzidos no mundo, datado da época dos monges cistercienses. Feito com leite de vacas Gloucester, depois de formado é lavado com Perry, sidra feita com o suco da pera, conferindo ao queijo uma casca alaranjada e pegajosa. Cremoso e macio, amadurece em ambientes semelhantes ao das caves de vinhos, afinando por seis a oito semanas. Para um sommelier, compatibilizar um queijo desse tipo com alguma bebida é um belo desafio. Alguns sugerem degustá-lo com um Poire William (a bebida favorita do finado deputado Ulysses Guimarães), por motivos óbvios. Fiona Beckett, especialista inglesa em harmonizações, sugere vinhos Gewürztraminer da Alsácia. Sidras doces ou cervejas trapistas são outras opções interessantes.

Sim, a França, a Suíça e a Itália têm grandes queijos. Também o Reino Unido

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DERBY Winston Churchill

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recomendava um endereço londrino: “A gentleman only buys his cheese at Paxton & Whitfield”. A queijaria (foto abaixo) fica na Jermyn Street, 93, Picadilly

raridade O Sage Derby: feito apenas em épocas especiais

ais um queijo feito de leite pasteurizado de vaca. Tem textura macia e sabor amanteigado, suave e adocicado. Produzido em fazendas de Derbyshire desde o século 16, costuma ser vendido mais cedo do que seus parentes mais famosos, Cheddar e Cheshire. Há uma versão do Derby que leva sálvia na composição, marmorizando-o e deixando-o com um sutil sabor herbáceo: é o Sage Derby, raro e feito apenas em épocas especiais, como a do Festival da Colheita, em setembro, ou no Natal. Um Sauvignon Blanc vai realçar essa nota vegetal. Outra variedade desse queijo é o Port Derby, que, como o nome já indica, é produzido com vinho do Porto – e, claro, combina muito bem com o próprio. TP

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O CHEIRO DO BRASIL O sabonete Phebo e o Polvilho Granado estão nas mãos do carioquíssimo inglês Mr. Freeman

Por Dalila Magarian

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Se há dois cheiros que logo identificamos como absolutamente brasileiros eles são o do sabonete Odor de Rosas (aquele preto e transparente, da Phebo) e o do Polvilho Antisséptico Granado (com a embalagem belle époque). Poucos sabem mas ambos pertencem hoje a um inglês. Sim, Christopher Freeman é um homem de faro fino para os negócios. Sem trocadilho. Que outro britânico seria capaz de vender, aos borbotões, perfumes brasileiros para narizes tão exigentes como os dos franceses, acostumados às melhores fragrâncias?

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Em 1994, quando adquiriu a fabricante de produtos de higiene carioca Granado, por US$ 8 milhões, sua intenção era pura e simplesmente investir no mercado nacional. Desejava consolidar a qualidade de artigos tradicionais e garantir o sustento de mulher e três filhos. Vinte e cinco anos depois, Freeman tem nas mãos uma companhia avaliada em R$ 1,5 bilhão, quase uma centena de lojas próprias dentro do país e outras duas em Paris (na rue Bonaparte, no bairro de Saint-Germain-des-Près, e na rue Francs-Bourgeois, no Marais), frequentadas por celebridades como o designer de calçados Christian Louboutin e a estilista e ex-modelo Inès de la Fressange. A terceira loja em Paris deverá ser inaugurada no último trimestre. E todas vão muito bem, merci beaucoup.

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lovely mister Freeman veste-se à inglesa, mas ama o Brasil desde que conheceu o país, há 42 anos

da galopante da inflação. “Isso ajudou a diminuir os riscos, e Carlos também me ajudou, ao fazer o parcelamento da dívida”, recorda. Na época, três drogarias da marca funcionavam no Rio de Janeiro. As lojas vendiam medicamentos e cosméticos de diversos fabricantes, mas Freeman decidiu passar adiante duas delas e usar o dinheiro na modernização da fábrica, além de oferecer apenas produtos próprios. Começava, assim, o makeover da marca. O AVAL DE OSWALDO CRUZ reeman conta que passou os seis primeiros meses depois da compra analisando a contabilidade da companhia e cada um de seus produtos. “Desde o início, percebi que a reputação da empresa era muito forte e baseada na qualidade, não no preço”, conta. “Decidi que não poderia perder essa confiança.” Com habilidade financeira, adquirida ao longo de sua carreira em bancos internacionais, ampliou a oferta de produtos e tratou de melhorar a embalagem de um dos carros-chefes da empresa: o Polvilho Antisséptico Granado.

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VINTAGE A decoração retrô das lojas faz jus à tradição de produtos como o Polvilho Antisséptico e o sabonete Odor de Rosas

Freeman nasceu há 71 anos na cidade de Newcastle. Sua terra natal fica 450 quilômetros ao norte de Londres. Até hoje Freeman torce para o Newcastle United Football Club. “A última vez que eles venceram um campeonato faz 50 anos”, diz, fazendo uso de seu português com sotaque geordie, apelido de quem é nascido na região. Mesmo que se considere pé-frio em relação ao esporte criado pelos conterrâneos, o mesmo não se pode dizer a respeito de sua sorte como empresário. Um exemplo? No dia seguinte à assinatura do contrato de compra e venda da empresa de Carlos Granado, o Plano Real entraria em vigor, tirando de sua planilha de custos a escala-

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Desenvolvido no ano de 1903 (há exatos 116 anos) por João Bernardo Granado, irmão do português José Antônio Coxito Granado, fundador da então “pharmácia”, sua fórmula teve o registro aprovado por ninguém menos do que Oswaldo Cruz, ministro da Saúde no governo de Rodrigues Alves. Atualmente, a bula do Polvilho apresenta os mesmos ingredientes do passado, sem tirar nem pôr: ácido salicílico, enxofre, ácido bórico, óxido de zinco, amido e talco. A diferença é que Freeman rejuvenesceu a linha adicionando a ela as versões Fresh, Sport e a feminina Pink, cuja fragrância mistura frutas exóticas com notas de laranja e jasmim. O produto é um blockbuster da área farmacêutica: segundo o empresário, vende de 600 mil a 800 mil unidades a cada mês, com picos de 1 milhão. clássicos Sejam Granado ou Phebo, os sabonetes estão entre os produtos mais requisitados do portfólio

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A HORA DE COMPRAR A PHEBO m dezembro de 2004, o CEO decidiu arriscar mais uma vez: adquiriu a Perfumaria Phebo, antes parte do portfólio das multinacionais Procter & Gamble e Sara Lee, com quem Freeman já mantinha bom relacionamento. “Existia uma afinidade grande entre as duas marcas e achei que elas po­deriam se complementar”, revela. A partir da aquisição, a sede da Phebo em Belém (PA) continuou a fabricar os produtos da marca, mas agregou também a feitura dos sabonetes Granado, o que permitiu incremento da produção. Em 2017, Freeman deu mais um passo em seu plano de negócios, ao tornar mais perfumado os ares do município de Japeri (RJ), onde foi construída a nova fábrica do grupo. Os números são grandiosos: 30 mil metros quadrados de área fabril, 1.600 funcionários, portfólio de 600 itens, faturamento anual de R$ 500 milhões e expectativa de 12 a 15% de crescimento para 2019. Vale dizer que, assim como a Granado, a Perfumaria Phebo carrega em seu DNA a tradição de um produto tão reconhecido quanto o Polvilho Antisséptico: o sabonete Odor de Rosas. Criado em 1930, com formato oval, transparente e escuro,

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sua fragrância combina essência de pau-rosado a mais de uma centena de outros ingredientes, como sândalo, cravo-da-índia e canela de Madagascar. Na época, o sabonete mais usado pela população era o de coco, de cor branca, formato retangular e fragrância tipicamente tropical. Até hoje, o Odor de Rosas é um dos carros-chefes da marca. O nome Phebo (deus grego do Sol) foi escolhido pelos primos portugueses António e Mário Santiago, fundadores da perfumaria. A venda de parte minoritária (35%) da Granado para a gigante espanhola de cosméticos Puig (que opera as marcas Nina Ricci, Carolina Herrera e Paco Rabanne, entre outras) permitiu modernizar ainda mais a planta de Japeri. Além

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Vive la différence Sim, Paris também tem loja da Granado. Aliás, são duas. Esta é a da rue Bonaparte, em Saint-Germain-des-Près

dos produtos tradicionais Granado, as linhas Bebê e Pet ganharam reforço e conquistaram os consumidores. A bem da verdade, desenvolver artigos para animais foi ideia da paulistana Clícia Lutti, com quem Christopher Freeman é casado há 41 anos. Clícia, que chegou a cursar alguns semestres da faculdade de veterinária, era criadora de cães das raças West Highland White Terrier, Dachshund e Norwich Terrier. Quando decidiu encerrar as atividades de seu canil, manteve em casa 24 peludos de estimação. O MOMENTO DE VOLTAR AO BRASIL dmirar a bela vista do oceano Atlântico, a partir das janelas de sua espaçosa residência, no bairro do Joá, zona oeste do Rio de Janeiro, ou de sua

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casa de veraneio, na Ilha Grande, em Angra dos Reis, faz parte da lista de prazeres de Mr. Freeman. Além de receber um personal trainer quatro vezes por semana, ele ocupa suas parcas horas livres na leitura de livros, como as biografias de Winston Churchill (escrita por Robert Lewis Taylor) e de Calouste Gulbenkian (de Ralph Hewins), o armênio magnata do petróleo e um dos homens mais ricos do mundo em meados do século 20. Logo na primeira vez que desembarcou no Brasil, aos 29 anos, ainda como funcionário do Bank of Boston na Europa, o jovem Freeman apaixonou-se pelo país e por Clícia, com quem se casou em 1978. Transferido de volta a Boston, o casal passou nove anos fora do Brasil, com passagens também por Londres e Nova York. No exterior nasceram os filhos Sissi, de 39 anos; Philippe, de 35; e Luiz, de 34 (dono de uma butique de carnes badalada, no Leblon). A vinda para o Rio de Janeiro aconteceu em 1988. “Eu trabalhava para um banco francês e decidiram encerrar as operações no Rio, em 1993”, relembra. “Resolvi ficar e trabalhar por conta própria.” Quando Carlos Granado, sem herdeiros, resolveu pôr a empresa à venda, chamou Freeman para auxiliá-lo. Sem saber, garantiria que sua marca ganhasse o mundo. Para comandar seu império aromático, Freeman conta com o apoio direto da filha mais velha, Sissi, também mãe de suas duas netas: Helena e Luísa, de 6 e 3 anos. Formada pela Harvard Business School, partiu dela a ideia de reforçar a estratégia de lojas próprias com ares do século 19. Mobiliário, balanças, propagandas de época e embalagens centenárias proporcionam à decoração o visual das antigas “pharmácias”. Todas as lojas Granado seguem esse mesmo conceito, inclusive fora do Brasil. Curiosamente, nosso inglês favorito não usa qualquer perfume. Mantém na bancada de seu banheiro sabonete de algas, desodorante, hidratante facial e espuma de barba. E só. TP

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M A Î T R E S Eles eram mais do que regentes da brigada. Eram amigos, confidentes – e davam jeito em tudo

Por Enio Basílio Rodrigues

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Lembre-se de Holden Caufield, o personagem juvenil de O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger, um dos maiores romances do século 20, quando, no Central Park coberto pela neve, pergunta-se: “Para onde vão os patos no inverno?”. Passa por mim essa sensação quando me pergunto: “Para onde estão indo os maîtres?”. Sim, a geração de maîtres dos restaurantes da minha vida. Mudaram os restaurantes e mudei eu. Hoje vivemos no mundo dos “bistronomiques”, nas melhores casas, com rapazes e moças de nível universitário, gentis, bem treinados e atentos. Os cardápios falam por si em sua explicitude e, qualquer dúvida, recorre-se a um celular que explica tudo. Os clientes – incrível! – vão em função das experimentações gastronômicas ou mixológicas, quer dizer, vão para comer e beber, simplesmente. E no grand finale o chef, rei absolutista desse antigo império, mas tão mudado, sai da sua alquímica cozinha para os aplausos. Ou não. Temos de perguntar ao seu Ático, cavaleiro do apocalipse dos últimos maîtres, e que representa a geração em extinção, no clássico Fasano, em São Paulo, e um dia por semana servindo o bolitto no Parigi: para onde foram os maîtres? Refiro-me àqueles que eram mais representantes do cliente junto ao restaurante do que o contrário. Eram mais que amigos – confidentes, solidários, cúmplices, adivinhadores, discretos, conselheiros e conhecedores dos seus gostos e hábitos mais do que você próprio.

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eraldo, o Orelha, foi maître do Walter Mancini Ristorante, agradável casa na rua Avanhandava, então com boa música jazzística e feijoada aos sábados. E naquela tarde estava especialmente focado nos cuidados com um cliente, desembargador já às vésperas de lauta aposentadoria, que iniciava o fim de semana com muito uísque, petiscos, amigos e principalmente amigas jovens e animadíssimas. Geraldo aproxima-se do desembargador e sussurra: “Dona Dora passou aí em frente dirigindo...”. Cinco minutos depois volta e repete a mensagem: “Dona Dora passou devagar e olhou aqui pra dentro...”. Mais 15 minutos e se ouve uma explosão digna de rua paquistanesa. Vidro, portas e cimento voam pa­ ra dentro do restaurante, felizmente sem atingir ninguém. Diluída a nuvem de poeira, vê-se um imenso automóvel, uma van quase no meio do salão. Geraldo, limpando uma poeirinha do smoking, sem perder a fleuma, comunica ao ouvido do desembargador, embora não fosse necessário: “Dona Dora acaba de entrar”.

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a boate Oásis, a ação do maître Alfredo saiu do ambiente interno e ganhou ruas e estradas. Seu cliente, um jovem advogado, apaixonou-se por uma mulher casada. Mas as coisas não são tão simples quanto parecem. A moça, bela flor da aristocracia paulistana, foi praticamente retirada de um colégio de freiras para se casar à força com um homem muito mais velho – um empresário autoritário, empedernido, o típico vilão. Personagens de novela. A moça tenta sair de casa. Mas o marido usa do poder dos maridos à época e interna a esposa numa clínica de doenças nervosas. Mestre Alfredo acompanhou toda a história. E resolve montar um plano e assim ajudar o aturdido jovem que não sabe o que fazer para libertar sua amada. Constituiu um grupo, formado por frequentadores da casa – selecionados pelas competências que conhecia de cada um. Organizou uma espécie de brigada de Brancaleone formada por: (1) o advogado apaixonado; (2) um conhecido poeta, o Jamil; (3) um jornalista que escrevia colunas sobre São Paulo by Night, além de reportagens policiais; (4) um psiquiatra boêmio; (5) um ex-pugilista, sonado mais pelos drinques que bebeu na vida do que pelos golpes que levou. E foi assim que em certa madrugada de inverno, brumosa, ao fechar das portas do Oásis, a brigada comandada por maître Alfredo – um direito garantido pela idade e pela maturidade – saiu em missão salvadora. Sem maiores detalhes, o certo é que invadiram o hospício e a moça foi resgatada. Missão cumprida para o cliente.

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industrial italiano almoçava todos os dias sozinho no Ca’d’Oro, ainda nos tempos da rua Basílio da Gama. Os pratos de cada dia já estavam programados, as duas taças de vinho também e as únicas variações eram os dedinhos de prosa com o maître, imigrante peninsular como ele. E contou ao maître um fato curioso. Um dia ao descer do carro, quando o chofer lhe abria a porta, junto à calçada do Ca’d’Oro, foi recebido por um cachorro, um desses cães magros, de rua, mas bastante simpático. O chofer, ligeiro, pôs o animal para correr. Mas no dia seguinte, a cena se repetiu. E aconteceu de novo no terceiro dia, só que chovia, e o afastar macambúzio do cão pela calçada molhada tocou-lhe a alma. Disse ao maître: “Eu e ele somos dois solitários”. No fim daquele almoço de quarta-feira estava tudo resolvido. O industrial sentava-se sempre à mesma hora e lhe era servido o couvert e a primeira taça de vinho. E, sem nunca falhar, seguia-se o ritual – o maître atravessava o salão transportando uma bandeja de papelão com uma bela peça de carne ensopada e uma cuia de metal inox com água San Pelegrino. Na calçada, já aguardado pelo conviva que abanava o rabo, depositava e a bandeja no meio-fio. Da sua mesa, o empresário entreabria a cortina e observava a cena, o cachorro comendo. E a cerimônia diária se repetiu por muito tempo. Nem foi suspensa no dia em que o ditador Costa e Silva chegou ao hotel, na hora do almoço. Uma fila de carros Galaxie se fez, ocupando toda a frente. O maître agiu normalmente – saiu de bandeja com a carne ensopada e pediu ao motorista do Galaxie chapa 1 que puxasse o carrão um pouco mais para a frente. Explicou: “Aqui é a mesa do Duce” – que aliás já estava ali, e parecia que ria. A ideia de chamá-lo de Il Duce foi do maître.

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se no início falamos da resistência do seu Ático à injusta extinção dos maîtres, ele também tem muitas histórias, fatos, lendas e mitos. Mas a que se segue é a pura verdade, já que contada pelo próprio patrão, Rogério Fasano. Foi numa noite especial do restaurante, que estava lotado porque se comemorava o aniversário de Hebe Camargo. Tudo ocorria como numa orquestra bem regida quando houve a desafinação. Um garoto, commis (ajudante de garçom), surge em pânico, branco, no ponto onde se reúne a brigada de serviço. Diz, com voz trêmula: “Um rato! Um rato do tamanho de um gato, ali no canto”. Acorreram garçons e maîtres para ver esse inédito sinistro no Fasano e do qual ninguém pode se garantir livre, sobretudo com a limpeza cada vez menor das nossas grandes cidade. Pode-se dizer tudo de ruim daquele grande rato, mas com uma ressalva: era bastante discreto. Conseguiu um espaço raro, fora da visibilidade da clientela. E ainda mais da Hebe Camargo, também famosa pelo seu temor aos roedores; que dia, que noite! Formou-se aquela cortina de homens de preto em torno do rato. Foi quando seu Ático, que estava atendendo clientes, suavemente abriu caminho, até ficar frente a frente com o murídeo. Observou, calmo, com o seu jeito de sempre, um pouco curvado. Parecia um budista meditando. Algumas alternativas já pareciam resolvidas. Tentar tirar o rato de lá, nem pensar. Seria o pânico. Então seu Ático, já no comando das operações, pede a um commis, ao seu lado: “Vai lá dentro e traz a bandeja de queijos”. Tratava-se da bandeja de degustação de queijos italianos, pedaços deliciosos e safrados de Parmesão, Grana Padano, Pecorino, Montasio, Gorgonzola, Taleggio. Seu Ático ainda comentou

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Quando o rato terminou a degustação, o salão já estava vazio. Terminava-se mais uma noite cheia do Fasano

com os colegas de trabalho: “Lá na Bahia a gente dá mandioca, mas aqui é o Fasano”. Chegou a enorme bandeja de prata e seu Ático, com a delicadeza que lhe é peculiar, depositou-a na frente do nariz do bicho. Incrível. Sem se perturbar com a curiosidade do pessoal, sem dar a mínima, o rato (que nesse momento alguns até achavam bonitinho) deliciou-se e, de forma educada, comeu tudo bem devagar, sem deixar nenhum pedacinho. Os deuses prestigiam os sábios como o seu Ático, de maneira que, quando o rato terminou a degustação, o salão já estava vazio. Encerrara-se mais uma noite cheia do Fasano. O final tem um toque teatral. Rogério Fasano, informado da história, resolveu homenagear o rato. E exigiu que o roedor fosse “empurrado” na direção da saída, porém acompanhado solenemente por um séquito – ele, seu Ático, os outros maîtres e toda a brigada. Assim seguiu o ratão, fornido por alguns dos melhores queijos do mundo, majestático, até atravessar os portais do restaurante e depois, lépido, deixando-se levar pela água que corria no meio-fio. Uma injustiça, convenhamos – quem deveria ser homenageado era o seu Ático. Mas a humildade faz parte do caráter desses grandes homens. Suas vidas entraram para a história. Muitos de nós, protegidos por eles, nos sentimos órfãos. TP

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n egÓci os

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A tr a jetór i a chei a de l a nces ousa dos que tr a nsfor mou

Cl óv i s S o u z a ,

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P or Lu i z M ac i e l

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H o m e m d e h á b i t o s s i mpl e s e d e fa l a m a n s a e d i r e t a , o f u n d a d o r e CEO d a G i u l i a n a Fl o r e s é d o t i p o q u e c u i d a c o m t o t a l a t e n ç ã o d e t o d o s o s d e t a l h e s d o i mp é r i o q u e c o n s t r u i u.

É quase impossível encontrar Clóvis Souza em sua sala, já que costuma acompanhar de perto todos os setores da companhia e participa ativamente das tomadas de decisões de seus gestores. E olhe que ele já foi ainda mais workaholic. “Depois que minha filha nasceu, há quatro anos, fiquei mais light. Chego mais tarde e vou embora mais cedo”, conta. Procede. Ele costumava ficar nada menos que 15 horas trabalhando direto nos primeiros tempos de empresário - e admite que aquela rotina pesada foi determinante para o sucesso. Hoje, a Giu-

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liana Flores – o nome da floricultura foi inspirado em uma ex-namorada - é responsável por 70% das vendas de flores pela internet no país. Aos 49 anos, Souza se encaixa à perfeição no figurino típico de um self-made man. Começou cedo, aos 10 anos, como aprendiz na floricultura que funcionava no térreo do sobrado em que morava, no bairro paulistano da Mooca, e não parou mais. Foram dez anos como balconista e 29 como empresário, sempre no mundo das flores. Trabalhou duro para subir na vida, levando a família junto. Nessa caminhada, passou muitos fins de se-

mana no batente – o que hoje evita, para ficar mais tempo ao lado da filha e da mulher. A mãe e os três irmãos mais novos de Souza trabalham como supervisores na empresa. Alguns meses atrás, ele fez o que não fazia desde sua primeira lua de mel, décadas atrás: viajou por duas semanas, de férias. “Preparei meus gerentes para decidirem as coisas sem precisar me ligar”, conta Souza, com uma ponta de orgulho. Deu certo: ele não atendeu nenhum telefonema de trabalho enquanto curtia as férias. Despachava pelo Whatsapp mesmo.

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THE PRESIDENT _ Você começou com uma pequena floricultura e virou o maior vendedor de flores do Brasil, usando uma plataforma digital. Como conseguiu isso? Vou resumir, porque a história é longa. Eu vendo flores desde os 10 anos de idade, quando minha mãe arrumou emprego para mim numa floricultura. Ela não queria que eu ficasse na rua depois da escola. Por isso perguntou à dona da loja se não estava precisando de um ajudante. Disse que nem precisaria me pagar, porque o importante era que eu tivesse alguma atividade. Você trabalhava de graça? Não, a dona da floricultura logo viu que eu era esforçado e me dava uns trocados. Com o meu primeiro salário, comprei uma pizza e fiz uma surpresa para minha mãe. Fiquei todo orgulhoso. Trabalhei ali durante nove anos, dos 10 aos 19. Aos 14 eu já dominava todos os serviços: sabia fazer buquê de noiva, decoração, arranjos variados. Quando fiz 18 anos, propus à dona trabalhar apenas um ou dois dias por semana, recebendo por tarefa, porque queria ter tempo para experiências em outras lojas. Assim, passei a prestar serviço em três floriculturas, ganhando mais. E comecei a fazer planos de um dia ter a minha própria loja. Quando surgiu a oportunidade? Em 1990, quando eu estava para completar 20 anos. Um amigo me encontrou num dia de folga, meio por acaso, e me chamou para ir com ele até a rua Monte Alegre, em São Caetano do Sul, colocar placa de aluguel numa casa dele. Como eu não tinha nada para fazer naquele dia, fui. Aí fiquei segurando a escada enquanto ele pregava a placa e percebi que

era uma rua movimentada, com um monte de carros passando. Pensei: quem vai alugar essa casa sou eu. Decidiu ali na hora. Foi. Meu amigo retirou a placa e eu fiquei matutando como ia juntar o dinheiro necessário para abrir a loja. A única coisa que eu tinha era uma Variant 72, que não valia grande coisa. À noite fui na casa da minha namorada, a Giuliana, e a mãe dela notou que eu estava preocupado com alguma coisa. Perguntou o que era,

Nem tudo

E R a m f lo r e s “Eu e meu amigo Márcio, da Netshoes, fomos os pioneiros na internet. Eu vendendo flor, ele tênis”

eu contei o que estava acontecendo e ela imediatamente se ofereceu para ser minha sócia e arrumar o dinheiro que faltava. Esse foi o meu começo. O curioso é que havia outras duas floricultoras no mesmo bairro, uma com 35 anos de atividade e outra com 20... E você nem aí com a concorrência? Não, porque a minha proposta era ser diferente deles. Eu iria oferecer arranjos originais, mais bacanas do que os deles. E as pessoas aos poucos iriam notar esse capricho e me dar preferência. Tinha certeza disso. Em 1996, com a loja já consolidada, acabei me separando da Giuliana e a sociedade com a antiga sogra precisou ser desfeita. Sugeri que ela comprasse a minha parte, mas ela entendeu que eu merecia ficar com a loja, por ter sido o criador do negócio. Desde então sou o único dono. Você não se casou com a Giuliana, mas manteve o nome? Sim, com a autorização dela, claro. O nome é meu talismã. Me deu sorte. Quando você começou a vender flores pela internet? No ano 2000. Eu e o meu amigo Márcio [Kumruian], da Netshoes, fomos os loucos pioneiros. Eu vendendo flor e ele vendendo tênis. Fui aprendendo com os próprios erros, com as críticas e sugestões dos consumidores. Aliás, essa é a dica que dou para qualquer empreendedor: veja o que seus compradores estão colocando no SAC e dê atenção a cada reclamação ou comentário. Eu faço isso todos os dias. Assim que chego ao escritório recebo um relatório com as postagens mais recentes dos clientes. Entrego uns 1.400 pedidos por dia, então é natural que aconteça algum problema nas

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entregas. Mas sempre dou um jeito de corrigir e compensar o cliente que não ficou satisfeito. Como é a logística para entregar flores no Brasil inteiro? As entregas são feitas por parceiros que têm lojas nas capitais e nas cidades com mais de 150 mil habitantes. São cerca de 900 parceiros, responsáveis por 40% das nossas entregas. E nossa meta é chegar a 70% das vendas por intermédio deles. Eles oferecem produtos sempre com o mesmo padrão? Sim, eles passam por testes de qualidade e precisam enviar uma foto para nós antes de fazerem qualquer entrega, para conferirmos se está no padrão exigido. A embalagem, aliás, é a mesma que usamos, leva o nosso nome. Claro que umas lojas oferecem mais produtos do que outras, mas isso não importa. O que nos interessa é que todos os produtos oferecidos, sejam 100 ou sejam 300, tenham a nossa qualidade e sejam vendidos pelo mesmo preço. Os preços das flores não variam de um lugar para outro? Hoje tem flor no Brasil inteiro. Uma das maiores plantações de rosas está no Nordeste, por exemplo. Então, dá para padronizar. É claro que a gente pega floricultura com histórico, com bagagem. Não pega uma floricultura novata que abriu há um ano. Como você seleciona seus parceiros? Hoje não vamos atrás de mais ninguém, as floriculturas interessadas é que procuram a gente. Elas se cadastram em nosso portal e nós pesquisamos a história das lojas, entramos no Google Maps para ver como elas são e pedimos para

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fazerem alguns arranjos, fotografarem e mandarem para nós. Se os arranjos não estiverem dentro do nosso padrão, orientamos como fazer e pedimos para repetir. Temos muito cuidado na escolha dos parceiros, porque nosso compromisso é fazer a entrega em três horas em todas as cidades brasileiras que fazem parte da nossa rede, com a mesma qualidade. Aqui na Grande São Paulo, já fazemos entregas em uma hora. Para isso temos contratos com 14 empresas de distribuição. Quantas entregas você faz por ano? Este ano esperamos chegar a 290 mil pedidos. Como alguns pedidos correspondem a mais de uma entrega, devemos passar de 300 mil entregas. E não é só flor, né? Desde que fui para a internet, percebi que dava pra vender muitos outros produtos. Se alguém encomenda flores para um aniversariante, por exemplo, eu ofereço bolo, champanhe. Se é para comemorar um nascimento, eu também posso vender uma roupinha de bebê. Já chegamos a ter um portfólio de 4 mil itens, hoje estamos com 2,2 mil, mas vamos aumentar de novo. Cada tipo de flor é um item, nem conto as variedades de arranjo que dá para fazer com ela, mas cada tipo de chocolate, cada marca de vinho também

v i s ão d e

n e g óc i o “Não são só flores. Junto com elas, pode-se encomendar de champanhe a roupinhas de bebê”

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é um item. Uma cesta de café da manhã, acredite, pode ter uns 40 itens. Nossa ideia agora é avançar para uma plataforma de presentes, incluindo produtos mais sofisticados, como perfume, relógio. O maior faturamento vem com as flores ou com os outros produtos? Com as flores. Elas representam 80% da nossa receita. Você não contou ainda como foi o seu pulo do gato. Porque não basta abrir um portal para virar campeão de vendas. Ah, foi uma luta. Eu ia nas pizzarias aqui de São Caetano, oferecia um arranjo de flores para o dono e pedia para ele colocar o nosso folheto nas entregas dele. Distribuía os catálogos nas portarias de prédios. Um dia, ao ver que meu extrato do Bradesco trazia indicações de empresas parceiras que davam desconto aos correntistas, pensei: “Quero estar nesse extrato também”. E fui telefonando e mandando e-mail para o Bradesco, na maior cara de pau, até descobrir quem era a pessoa responsável por essas parcerias dentro do banco. Não era um gerente qualquer, era alguém com muito mais poder. Ele gostou da minha iniciativa e, como não sabia que eu só tinha uma lojinha de 36 metros quadrados, topou a parceria. Com a oferta de 20% de desconto, os clientes do Bradesco, do Brasil inteiro, começaram a me fazer pedidos. Isso foi em 2003. Depois desse aval do Bradesco, fechei com os outros bancos no mesmo esquema e decolei de vez. Já tinha estrutura para mandar flores para o resto do país? Não tinha os parceiros que tenho hoje, então mandava de avião, pela DHL e pelos Correios. Na nossa embalagem reforçada as flores duravam quatro dias e

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a a l m a da

f lo r i cu ltu r a “Investimos em marketing cerca de 5% do faturamento bruto. É a gasolina do nosso negócio. Não pode faltar”

chegavam às principais capitais um dia depois do pedido. Não era fácil, eu trabalhava de 14 a 15 horas por dia nessa época, mas isso me dava prazer. Recebe muitos pedidos extravagantes? O que as pessoas mais apaixonadas costumam encomendar? Tem de tudo. Uns encomendam buquês enormes, outros pedem para entregar arranjos de hora em hora, outros mandam flores com letras, que vão formando frases. Dias atrás, uma blogueira famosa recebeu um buquê de 500 rosas e fez um barulho no mercado. Os homens compram mais flores do que as mulheres? Nada, 55% dos pedidos são feitos por mulheres. Outros dados: cerca de 70% dos pedidos chegam pelo portal e 30% pelo serviço de televendas. O que restou de lojas físicas? Até dois anos atrás eu só tinha as duas aqui de São Caetano. Hoje já são 29, porque montei 27 lojas em shopping centers da Grande São Paulo para vender exclusivamente a “rosa encantada”, uma flor bem grande que importo do Equador e tem um tratamento especial para durar até dois anos dentro de uma cúpula. A técnica foi desenvolvida na Colômbia por um chinês, que depois montou uma fá-

brica no Equador. É um sucesso. Só nós vendemos no Brasil. Com esses quiosques dentro de shoppings dobrei o número de funcionários. Hoje já são 190. Vi que todo dia tem promoção no seu site, além de campanhas especiais em datas comemorativas. Com certeza. Estamos sempre oferecendo descontos em produtos e lembrando as datas festivas para a clientela. Não ficamos só nas datas óbvias, como Dia das Mães e Dia dos Namorados. Fazemos campanha em mais de 20 datas ao longo do ano. O Dia da Avó, em 26 de julho, o Dia da Secretária, em 30 de setembro, o Dia do Beijo, em 13 de abril, dão cada vez mais retorno. Não inventamos nenhuma data, apenas exploramos as que já existem, mas passavam meio despercebidas. Além disso, mantemos correspondência eletrônica com um milhão de clientes cadastrados. Não mandamos mensagem todo dia, porque sabemos que isso pode incomodar, mas estamos sempre em contato com eles. Também têm grande exposição na mídia. Quanto investem em marketing? Cerca de 5% do faturamento bruto. Marketing é a gasolina do nosso negócio, não pode faltar. Qual vai ser o próximo lance da Giuliana Flores? Vender em outros países? Antes vamos lançar as franquias das nossas lojas de shopping. É um projeto para o ano que vem, dentro do mesmo esquema, só vendendo “rosa encantada”, que dá muito menos trabalho. Floriculturas convencionais não dão certo em shopping, por causa do ar-condicionado, do aluguel alto. Vender em outros países está em nosso radar, mas não temos ainda uma previsão. TP

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ENTR E V ISTA

Wa l dy r F e r r e i r a , g e n e r a l m a n ag e r da m a rc a b r i tâ n ic a n o B r a s i l , e s tá e m p o l g a d o c o m a ac e i taç ão da s m o t o c ic l e ta s p o r a q u i . T a n t o q u e , e m a t é q ua t r o a n o s , e l e a c r e d i t a e m u m c r e s c i m e n t o d e 5 0%

O triunfo da T r i u m ph

Por Ron n y H e i n

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“ T h e g r e at t h i n g a b o u t h o r i z o n s i s y o u n e v e r r e ac h the m” (A m e l hor c oi sa s obr e hor i zon t e s é q u e vo c ê n u n c a o s a l c a n ç a ). A f r a s e , q u e r e m e t e d i r e t o à s e n s aç ão d e l i b e r da d e , e s tá d e s e n h a da e m b o m ta m a n h o n a s e d e da T r i u m ph M o t o r c y c l e s d o B r a s i l , n o t é r r e o d e u m p r é d i o m o d e r n o e m S ã o Pau l o.

Tudo ali tem estilo: o showroom; a saleta onde todos os dias é servido um café farto, com doces, sucos, sanduíches e pão de queijo; a oficina impecável feita para clientes e visitantes verem (e babarem) as peças dos célebres motores; o salão onde 21 pessoas vendem motos (e fazem muito mais do que isso, como você lerá mais adiante); a sala de reuniões e o escritório de Waldyr Ferreira, o general manager da empresa no Brasil.

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Aos 43 anos, Ferreira lidera o que ocorre nesta empresa que, hoje, vende 400 motos premium (de alta cilindrada) por mês. Profissional veterano no mercado de mobilidade, onde começou a atuar ainda muito jovem, há 22 anos, já trabalhou com automóveis (General Motors, Toyota, Peugeot), com motos (Harley-Davidson) e, há quatro anos, tornou-se o responsável pela operação comercial local. Nada, porém, que faça dele um executivo empertigado.

Ferreira é jovial, amistoso e bom de conversa. Usa jeans e camisetas – que quase sempre exibem o nome de uma nova moto a ser lançada em breve, uma das quatro ou cinco que a Triumph põe no mercado a cada ano. A do momento mostra o nome Scrambler 1200. O modelo já se encontra disponível para os clientes no showroom ou em uma das 17 concessionárias da marca em todo o Brasil (uma 18a estava em gestação durante a entrevista). A experiência prévia do general manager da Triumph, em vendas e marketing, revela que, na essência, vender carros ou motos é a mesma coisa. Exceto pelo nível de paixão envolvida – muito mais ardente quando o assunto são motocicletas. Em especial, motos da Triumph, marca que começou a invadir o imaginário dos consumidores ainda em 1953, quando foi lançado o filme O Selvagem. Nele, o personagem-título, que marcou época, vivido por Marlon Brando, usava um modelo da fábrica. Nas décadas seguintes, as Tri­ umph apareceram pilotadas pelos atores Steve McQueen, Clint Eastwood (Meu Nome é Coogan), Tom Cruise (Missão Impossível 2), em várias cenas de Matrix e até mesmo na camiseta usada por Bob Dylan na capa do álbum Highway 61 Revisited. Enfim, a marca tornou-se lendária graças aos ícones do show business. Ferreira conta que seus clientes são tão próximos que ele acaba conversando com muitos por celular, com relativa frequência. Na outra ponta – a da sede mundial em Hinckley, nas Midlands inglesas –, a proximidade de seu relacionamento com o o board da

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marca não é menor. Em função da estrutura enxuta da empresa, o processo de decisão é simples e rápido, modelo essencial para reagir com velocidade às mudanças de um mercado tão dinâmico. “As decisões são fáceis e rápidas”, explica. Como as motocicletas. Carioca de nascimento, pai de dois meninos (de 4 e 6 anos), o general manager da Triumph Brasil só tirou sua carta de motociclista há cerca de cinco anos. Hoje diz que, graças a essa habilitação tardia, aprendeu a pilotar com mais prazer e concentração. Ele usa uma de suas best-sellers no Brasil: a Triumph Tiger 800, uma aventureira por excelência. Nesta entrevista, Waldyr Ferreira falou sobre mercado, projetos futuros e muito mais.

THE PRESIDENT _ Você é carioca, não? Sim, mas já rodei bastante. Nasci no Rio de Janeiro, por ser filho de um militar, que então estava destacado para trabalhar lá. Meu pai era um cirurgião-dentista da Aeronáutica, hoje aposentado. Eu, com menos de 1 ano de vida, saí para o Mato Grosso do Sul, onde permaneci até os 9. Mais tarde, tive a oportunidade de ingressar na Universidade de Brasília, para onde me mudei a fim de fazer o curso de administração de empresas. Morei em Brasília de 1998 a 2001. Eu me formei lá e foi nessa ocasião que ingressei na indústria automobilística. Em que ano exatamente? Em 1998. Ingressei como estagiário. Já são 22 anos na área. Estou na quinta marca de minha carreira. Trabalhei na

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muito perto

da s d e c i sõ e s Waldyr Ferreira tem boa proximidade tanto com os clientes quanto com a direção global da Triumph

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Scrambler 1200 XE

Speed Twin

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General Motors, na Toyota, na Peugeot, sempre nas áreas de vendas, marketing, desenvolvimento de rede, atendimento a clientes. Há cerca de sete anos, saí das quatro rodas para as duas rodas. Mudei da Peugeot, na época, para a Harley. Fui escolhido como o head da Triumph há quatro anos. Qual é o mercado mais difícil de trabalhar: o de quatro ou o de duas rodas? O modelo de negócio é muito similar. Não importa se é para vender uma bicicleta, uma moto, um automóvel, até um ônibus ou um caminhão. O jeito da operação, a relação da subsidiária com a matriz, a relação de confiança e proximidade com a rede de concessionários, o planejamento de produto, de produção, você olhar os ciclos para a frente... tudo isso é igual. A grande diferença – e há uma diferença brutal do mundo quatro rodas para o mundo duas rodas premium (de alta cilindrada): é muito menos razão. É muito mais emoção, e põe muito nisso. Na decisão de compra, na relação com o cliente. Nós somos uma marca que vende quatrocentas e poucas motos por mês. Estamos fazendo cerca de 5 mil motocicletas neste ano fiscal, um recorde desde o início da nossa operação por aqui.

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No Brasil? Sim, no Brasil. Você consegue conhecer muitos desses 400 e poucos novos clientes por mês. Há, realmente, uma relação de proximidade; você conhece o cliente, pode chamá-lo pelo nome, ter o seu celular. É um negócio que eu não tinha vivido no mundo das quatro rodas e hoje é algo mais comum aqui no meu dia a dia. Entre os clientes há muitos repeaters? Gente que, digamos, uma vez Triumph, sempre Triumph? Bastante. É impressionante o índice de fidelidade à marca. A gente tem o Henrique Fogaça, renomado chef de cozinha, como embaixador da Triumph no Brasil. Já estamos há três anos com ele no projeto e nesse meio tempo lançamos a Confraria Triumph. Explico: fazemos, a cada 45 dias, um jantar preparado pelo Fogaça. Ele recebe uma lista que tem, em média, de 15 a 20 clientes para uma noite exclusiva. Começamos esse projeto focando o relacionamento. É impressionante. Um cliente, o Marcus, comprou sua nona Triumph esta semana numa concessionária em São Paulo. Conheço outro cli­e nte, o Oscar, que já está na 11 a Triumph. Então, quando falo da emoção na questão anterior, ela realmente existe. O universo da motocicleta permite que o cliente às vezes, além de duas ou três Triumph na garagem, tenha motos de outras marcas. As Triumph são fortes, elegantes, mas não tão parrudas como as Harley. A Harley, em particular, é muito focada no universo das custom bikes. Já a Tri­ umph e as demais marcas têm uma média de clientes mais jovens. Todas as marcas têm universos completamente

dferentes. Isso deixa o nosso mercado ainda mais interessante. E a Triumph? A Triumph hoje ataca em três grandes segmentos em termos de posicionamento mundial. Um deles é o das roadsters, o das motos mais esportivas. São motos de alta performance, como a Speed Triple e a Street Triple. É aquela motocicleta que o dono leva para o autódromo para fazer track day. Nem anda muito na rua com ela. Ele puxa a moto na carreta, no carro dele e leva para um circuito fechado para performar, andar de macacão. É aquela coisa da adrenalina, da alta velocidade. Neste ano, nosso motor de 765 cilindradas tornou-se oficial para a Moto 2, a categoria mundial de acesso à principal categoria do Moto GP. Desde o início da temporada, já quebramos diversos recordes nas pistas. Temos ainda o segmento do que chamamos adventure bikes. São motocicletas de 800 cilindradas a 1.200 cilindradas, onde o Brasil, em particular, é um case de sucesso. Quando a gente se compara com todas as outras subsidiárias do mundo, nós temos hoje a de melhor performance nas adventure bikes. A Tiger 800, por exemplo, é líder do segmento há mais de três anos consecutivos. Por fim, há o seg-

“A T r i u m p h é c o n h e c i da n o m u n do in t eiro pel a i n ova ç ão e e n g e n h a r i a”

mento das motos clássicas. Que têm potencial para transformar o comportamento do motociclista brasileiro. Somente nesse segmento temos um portfólio com nove modelos diferentes. O portfólio mais completo de todo o mercado entre as marcas premium é o da Triumph. Como são as clássicas? A clássica é uma moto menor, com outro design e muita tecnologia embarcada. Você tem controle de tração, freio ABS, modos de pilotagem. Choveu, você joga “modo chuva” no computador de bordo e a tração reage para te dar mais segurança e conforto. São motos bem ágeis para o trânsito do dia a dia nas grandes capitais. As clássicas têm sido a mola de propulsão do crescimento recente da Triumph no Brasil. O que faz da Triumph diferente? Eu diria que é uma combinação de fatores. Primeiro, o produto, que tem no DNA 117 anos de história, além dessa vocação para a velocidade. A Triumph é reconhecida internacionalmente pela inovação, engenharia e sofisticação, oferecendo uma experiência de primeira linha aos clientes em nossas concessionárias. Desde que chegamos no Brasil, temos procurado manter um po­sicionamento de preço que é premium, mas ao mesmo tempo bastante acessível ao consumidor. São esses dois fatores? Gostaria de destacar mais dois pontos. Nosso pós-vendas é muito atuante, com mão de obra especializada e qualificada. Investimos na manutenção de estoque de peças para atender nossos clientes da maneira mais rápida possível. Somos, por exemplo, a subsidiária com maior retenção de clientes no

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mundo. Outro destaque são os pontos de contato que estabelecemos com clientes e entusiastas da marca, pelas plataformas digitais e programas de experiência. Um bom exemplo é o Triumph Riding Experience, nossa plataforma de pilotagem. Como funciona? Você chega às 8 da manhã no sábado na concessionária em São Paulo, por exemplo. Ali toma um café da manhã e passa a integrar um grupo de 30 a 60 motos com dois guias experientes, carro de apoio, fazendo bate e volta em Campos do Jordão, com almoço. Pode ser também Guarujá ou Extrema, no sul de Minas. Você roda com a assistência de guias oficiais, os instrutores do nosso time. Há, ainda, as viagens de longa duração. Somos fortíssimos nos roteiros de América do Sul. Na Patagônia, por exemplo. Levamos dezenas de grupos ao longo do ano e proporcionamos o que o cliente preferir. Você tem uma moto Triumph, quer sair daqui rodando da sua casa até o Chile? Ora, o nosso guia vai junto te apoiando. Ou você prefere despachar a motocicleta e pegar um avião? Não há nenhum problema. A moto estará lá esperando quando você descer do avião. E se o cliente quiser alugar uma Triumph no destino para onde viaja? Também sem problema. Temos o serviço de locação. Você toma um avião aqui, desce em Bariloche, onde quer que seja, e haverá uma moto da frota da Triumph à sua disposição. A combinação de um DNA de produto muito forte, aliada à experiência, tem feito da Triumph Brasil um case, em relação às demais subsidiárias no mundo.

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Isso significa ir além da estrutura de vendas. Uma agência de viagem. Perfeito. Somos efetivamente uma agência de experiências! A quem pertence a Triumph hoje? A marca tem 117 anos, mas está há 30 anos nas mãos do atual investidor. No mundo todo, a Triumph tem mais de 600 concessionárias e perto de 2 mil funcionários. Não estamos nas bolsas de valores. Cem por cento do capital é próprio. É uma empresa familiar com gestão profissional. Qual a vantagem disso? Somos uma multinacional relativamente pequena, com vendas em torno de 65 mil motos por ano. Em compensação, a nossa velocidade de decisão é muito rápida. Eu me reporto para o chief commercial officer da Triumph no mundo. Mudou, aconteceu alguma coisa, o governo mexeu numa tributação? Passo a mão no telefone, apresento a situação, tomamos uma decisão imediata e fazemos uma correção de rumo rapidíssima. Nossa matriz acompanha de forma muito próxima a realidade e necessidade do nosso mercado. Quem são, além do Fogaça, os clientes mais famosos da Triumph por aqui?

“A m a r c a v e m crescendo há 30 a n o s , q ua n d o f o i a d q u i r i da p e l o d o n o a t ua l”

Há muitos. Vou citar o Bob Burnquist, o skatista, que é cliente e parceiro. Há também artistas, empresários, advogados. E cada vez mais mulheres. A base de clientes é muito diversificada, o que torna nosso dia a dia muito rico. E é tudo importado? Temos uma fábrica em Manaus. Ali recebemos os kits desmontados (CKD) dentro de uma grande caixa – e aqui montamos as motocicletas. Temos fábricas no Reino Unido e na Tailândia. A Triumph é a maior fabricante britânica de motos e a marca que mais cresce no segmento acima de 500 cilindradas nos países em que está presente. E o futuro? Vou fazer um balanço desses seis anos e meio. A Triumph chegou do zero no Brasil, um mercado já consolidado. O desafio de montar uma rede de concessionários premium, desenvolver fornecedores e sobretudo conquistar a confiança do consumidor tem sido vitorioso. Em seis anos e meio nos consolidamos como a quarta marca do mercado. Hoje temos 15% de participação de mercado na alta cilindrada. Somos líderes no segmento de adventure bikes com a Tiger 800 e referência no segmento de motocicletas clássicas. São mais de 27 mil motos vendidas. A gente vem construindo uma jornada bastante consistente de crescimento. Qual é a sua previsão? Acredito que em um horizonte de quatro anos o volume esteja em torno de 7,5 mil motos por ano. Ou seja, crescer 50% em relação aos dias de hoje. A jornada está apenas começando e vamos construir novos capítulos de sucesso da marca no Brasil. TP

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per fi l

D e u m d i a pa r a o o u t r o,

Wa l d i c k Jat o b ĂĄ

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u m a longa c a r r e i r a no m e rc a do f i na nc e i ro pe l a m i s s ĂŁo de i m pu l s ion a r o m e rc a d o de de s ig n n o B r a s i l

um homem de

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U m d i a n a v i d a d e Wa l d i c k Ja t o b á é s e m p r e u m d i a c e r c a d o d a m e l h o r c o m pa n h i a . B a s t a q u e s e s e n t e pa r a t o m a r o c a f é e já l o g o Ad r i a n a Va r e jã o, B e at r i z M i l h a z e s, L e o n i l s o n e C i n dy S h e r m a n l h e d ã o “ b o m d i a”, a c e n a n d o d o s s e u s q ua d r o s d i s p o s t o s n a pa r e d e . S e r g i o R o d r i g u e s o a c o l h e tão l o g o e l e s e a j e i ta e m u m a da s c a d e i r a s da m e s a d e ja n t a r , e m c u j o t a m p o d e ja c a r a n d á F l o r e n c e K n o l l l h e s u s s u r r a o s f u n d a m e n t o s d a B au h au s . C a s o Ja t o b á d e c i d a s e s e n t a r pa r a l e r o j o r n a l , o u m e s m o a m a r r a r o s s a pa t o s , s e r á n a q u e l e i n s t a n t e a b r a ç a d o p e l o s i r m ã o s C a m pa n a – e e s t e a b r a ç o p o d e s e r d e pa p e l ã o, p e l ú c i a o u l a s c a s d e m a d e i r a , c on for m e o m at e r i a l u t i l i z a d o s no s ba nc o s e na s p o lt ro n a s da du pl a d e d e s ig n e r s qu e e l e t e m n a s a l a .

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À

noite, ao chegar em casa, Olafur Eliasson alumbrará seu fim de dia tão logo acenda a luminária que repousa sobre a bancada. E, antes que se pense que tudo na vida de Waldick Jatobá é design, cabe ressalvar que a cama onde ele dorme não leva a assinatura de ninguém. “É uma cama comum”, avisa. “Mas eu desenhei a cabeceira.” Waldick Jatobá começou a colecionar objetos de arte e design aos 16 anos, ainda morando em Salvador, onde nasceu. A primeira aquisição foi um quadrinho de 10 x 15 centímetros da artista baiana Lygia Milton, comprado a prestação com o dinheiro da mesada, da mesma forma como as obras subsequentes, parceladas conforme permitia o estipêndio paterno. Jatobá passou a ter seu próprio dinheiro quando se tornou trainee do Citibank, que, por sua vez, foi o início de uma longa e bem-sucedida carreira de mais de duas décadas no mercado financeiro – tempo em que pôde amealhar uma respeitável coleção concentrada em pintura modernista brasileira. Em 2000, vendeu tudo. Salvou-se o quadrinho de Lygia Milton, por razões afetivas. Di Cavalcanti, Carybé, José Pancetti foram-se todos embora sem dor no coração. “Descobri que gosto de conhecer o artista por trás da obra”, diz. “E esses estavam todos mortos.” Na virada do milênio, Jatobá abraçou a pós-modernidade, passando a investir em arte contemporânea e design. Desde então, não só conheceu os artistas como

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Ele criou a MADE ( c o m “a” a b e r t o ), s i m p l e s me n t e a m a i o r f e i r a de de s i g n c o l e c i o n áv e l d o pa í s

M se tornou amigo e parceiro de alguns. Hoje é diretor do Instituto Campana, criado pelos irmãos homônimos. Toda a coleção que agora enobrece sua casa foi adquirida na primeira década deste século, época em que trabalhou para instituições como o Crédit Lyonnais e o Banco Privado Português. Quando este quebrou, em 2011, ele tinha 45 anos e um dilema: continuar no mercado financeiro (e não lhe faltaram convites de outros bancos) ou se lançar aos mares nem sempre suaves do mercado de arte e design? Essa decisão implicava um sacrifício, que era parar de comprar obras, como vinha fazendo desde 1982, e investir no maior projeto de sua vida. Num ato de coragem, nosso herói matou o colecionador e fez nascer o curador. Dois anos depois, o Jockey Club de São Paulo abrigava a primeira edição da MADE.

ADE é com “a” aberto, pois se trata de um acrônimo de Mercado+Arte+Design, o que em três palavras resume a ideia por trás da maior feira de design colecionável do país. Em agosto ocorre sua sétima edição, na qual cerca de cem designers – quase todos brasileiros e alguns da América Latina (este é o tema do ano) – se espalharão pelo pavilhão da Bienal para expor e vender suas mais recentes criações, algo em torno de 5 mil peças no total. Todas inéditas. “Não pode nem ter publicado no Instagram”, ressalta. Cópias ou reedições de clássicos também estão proibidas – se você por acaso topar com uma poltrona Mole, de Sergio Rodrigues, tenha a certeza de que é original. E será apenas um ou outro exemplar, pois a vocação da MADE é vislumbrar o futuro: a feira tornou-se a melhor vitrine do novo design nacional. O arquiteto Marcio Kogan confirma: “A MADE com certeza pode ajudar a desenvolver uma indústria do design no Brasil, que é uma coisa que está atrasada em relação ao resto do mundo”.

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É

Jatobá quem faz pessoalmente a curadoria dos participantes, em parceria com Bruno Simões, seu sócio. Os designers são convidados a ocupar dois tipos de estande: um de 5 metros quadrados, para talentos emergentes, e outro de 10 metros quadrados, para os que já desfrutam de uma carreira consolidada. O primeiro custa R$ 3,5 mil; o segundo, R$ 7 mil. Mas tudo o que os expositores venderem é lucro deles. A ideia é criar algo que não existe em nenhum outro lugar do mundo: uma feira de design em que o artista possa divulgar e vender seu trabalho sem intermediários. “Todas as feiras de design que existem lá fora são feiras de galerias”, observa Jatobá. Ninguém entra na MADE por mera inscrição, e essa é uma medida para garantir que a seleção de expositores preze pela coesão. Jatobá busca, antes de tudo, compor uma constelação de jovens talentos que, em conjunto, transmitam o que ele chama de “bom design”: conceito, consistência, bom uso dos materiais e autenticidade, ou seja, objetos que traduzam a verdade do criador. “A peça tem que me surpreender”, afirma. “Tem que me emocionar.” E nisso a designer Claudia Moreira Salles concorda, ressaltando a sensibilidade que Jatobá tem demonstrado em sua atividade de curadoria, a ponto de instigar mudanças no próprio trabalho da designer. “O curador tem essa função de provocar, de ajudar o artista a pensar fora de sua rotina, a trabalhar com novos materiais”, diz ela. “E as provocações do Waldick em algumas das nossas parcerias me levaram a fazer alguns dos meus melhores projetos.”

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Um o b j e t o de de s i g n , s e g u n d o ja t o b á , p r e c i s a t e r c o n c e i t o, c o n s i s t ê n c i a , b o m u s o de m a t e r i a i s e au t e n t i c i da de . “A Pe ç a t em de me s u r p r ee n de r”

J

atobá confessa que poucas coisas têm lhe emocionado ultimamente, e atribui esse fato a um certo desalento com a humanidade, agravado por ele estar, no momento da entrevista, atravessando o inferno astral. Mas se anima ao falar, por exemplo, de Leo Capote, paulistano de 37 anos que cria mesas, cadeiras e poltronas com pregos, porcas, pás, martelos e ferros de passar. Ou de uma fruteira dos irmãos Campana lançada há pouco, feita a partir de tijolos transformados pelas mãos, em uma clínica de reabilitação, de ex-usuários de drogas. “O que você preferiria comprar?”, pergunta. “Uma fruteira de inox em uma loja qualquer, a uns R$ 300, ou uma peça que, além de linda, tem uma história social por trás?” Detalhe: a fruteira dos Campana custará R$ 250. “O luxo hoje é muito relativo”, assevera. Segundo Jatobá, tem menos a ver com preço e mais com exclusividade. A mão na massa no lugar da linha industrial. O autor no lugar da marca. E essa é uma batalha pessoal que ele empreende desde a primeira edição da MADE, em 2013, quando o mercado de design colecionável por aqui era algo ainda a ser inventado. “O Brasil cultua demais a cópia”, e isso inclui da imitação de uma bolsa Louis Vuitton comprada no camelô a um Mies van der Rohe genérico adquirido num grande magazine. Sem falar no termo “design”, hoje aplicado a itens que vão de bolos a sobrancelhas. “Tudo neste país é design”, brinca. “É uma palavra muito maltratada.”

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aí a ideia por trás da MADE, que é a de devolver ao design a nobreza que lhe é de direito: peças que emanem a expressão individual de um criador cuja obra, se não fosse utilitária, seria chamada de arte (“A diferença é que o design a gente usa, a arte a gente contempla”, define Jatobá). Ele fala em uma missão de “educar o mercado”, e comemora ao dizer que a MADE ajudou a transformar a própria indústria moveleira no país, bem como as lojas de decoração, que passaram a apostar em peças com assinatura. O resultado: um florescimento do design de autor em todo o Brasil. Na primeira edição da MADE, eram apenas 16 designers. Hoje são uma centena. Esse sucesso Waldick atribui, em parte, às habilidades que desenvolveu no mercado financeiro, como foco, disciplina e busca por resultados. Anos e anos de esforço para que a feira, enfim, desse alguma margem de lucro. Não que permitisse a seu curador extravagâncias como a compra de uma luminária do Olafur – desde que inventou a MADE, Waldick não adicionou novos objetos a seu misto de casa e galeria, um apartamento nos Jardins onde vive com Cristina, sua mulher, e um cão da raça jack russell. “Todo ano eu fico louco”, conta. “Quero comprar tudo.” Neste ano Waldick Jatobá espera, enfim, ressuscitar o colecionador, graças às perspectivas animadoras da próxima MADE. Quem não deve gostar muito será Cristina, ao reclamar que a casa está “entulhada”. Pois é bom se preparar, pois o rol de companhias por ali decerto vai aumentar. TP

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O m a i o r pa r c e i r o d e P e l é

n ão e r a fác i l . E n ã o g o s t ava d e s e r chamado assim

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co u t i n Po r Wa l t e r s o n S a r d e n b e r g S o

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N ã o é fá c i l a p o n t a r o n d e t e r m i n a a au t o c o n f i a n ç a e c o m e ç a a d i s p l i c ê n c i a . O p ê n a l t i d e c i s i vo c o b r a d o c o m c ava d i n h a , p o r e x e m p l o. A r i g o r , p o d e- s e a f i r m a r q u e , q ua n d o r e s u l t a e m g o l , d e m o n s t r a p l e n a au t o c o n f i a n ç a . Do c o n t r á r i o, r e v e l a di spl ic ê nc i a, i n dic a s obe r ba, de nota d e s p r e z o p e l a i m p o r t â n c i a d a pa r t i d a . A c ava d i n h a d e D ja l m i n h a n ã o é a m e s m a d e A l e x a n d r e Pa t o. Lo n g e d i s s o. Po l ê m i c o p o r d e f i n i ç ã o, o a s s u n t o r e n d e r i a i n t e r m i n áv e i s d i s c u s s õ e s d e m e s a d e b a r .

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e há um jogador que personificou como raros a dialética entre a autoconfiança e a displicência, esse sujeito se chama Antônio Wilson Honório, o Coutinho. Ao morrer, aos 75 anos, em 11 de março de 2019, foi homenageado com breves obituários, sempre destacando o fato de ter sido o melhor companheiro de ataque de Pelé. De fato, foi – embora não gostasse de ser lembrado só por isso. A troca de passes contínua dos dois craques, batizada de tabelinha por algum obscuro fã do jogo de sinuca, remete ao que de melhor ofereceu o futebol brasileiro. Mas tem antecedentes: quem viu o Vasco da Gama do final dos anos 1940 e começo dos 50, conhecido por Expresso da Vitória, garante que Ademir de Menezes – fosse com Ipojucan, fosse com Maneca – já praticava a mesma jogada, com eficiência e a rapidez das faíscas. As tabelinhas de Coutinho com Pelé demonstravam a sadia autoconfiança do centroavante santista. Ele não se diminuía ao ter como parceiro o melhor jogador do planeta. Jamais. Ao invés, a presença de Pelé, a inteligência de Pelé, o raciocínio rapidíssimo de Pelé potencializavam as artimanhas e

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a inteligência de Coutinho. Com a bola nos pés, o garoto de apenas 1,67 metro — um centímetro a menos que Romário — se transformava em gigante de romance medieval. Ao completar para o gol as tabelinhas, no entanto, o menino que estreou no time principal do Santos com inconcebíveis 14 anos, 11 meses e seis dias de idade muitas vezes deixava transparecer sua displicência. Coutinho, maroto, gostava de chutar contra a meta no contrapé do arqueiro, sem força. O suficiente para que a bola ultrapassasse a risca do gol. Com frequência, ela nem sequer chegava a movimentar as redes. Parava antes, zombeteira. Uma molecagem que Romário emulou sem saber, como se seguisse uma linhagem. Coutinho, no entanto, achava que seu futebol estava mais bem representado nas pernas alquebradas de Reinaldo, que atuou pelo Atlético Mineiro nos anos 1970. Era comum, ainda, que, ao contrário de Pelé, o displicente Coutinho nem mesmo comemorasse o gol. Voltava ao meio de campo sem demonstrar emoção, frio. Agia como se cumprisse uma obrigação. Conta-se que, em mais de uma oportunidade, o goleiro adversário, sorrateiro e ladino, retirou a bola de dentro das balizas e, sem que o juiz se desse conta, bateu correndo o tiro de meta. Dessa forma, era como se o gol não houvesse ocorrido. O técnico do Santos Lula, o maior fã de Coutinho, era também o seu crítico menos indulgente. Nessas ocasiões, urrava do banco. Coutinho? Dava de ombros. Se Mengálvio, o Pluto, criara fama de desligado, Coutinho também não deixava por menos. No primeiro treino que

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na seleção Pepe, Coutinho, Pelé e Júlio Botelho

fez entre os titulares, mal chegado de Piracicaba, nem mesmo conhecia de nome os jogadores, já famosos, do esquadrão santista. Ouvira falar de um ou outro, e só. Adorava jogar. Mas não acompanhava o futebol. Não dava o mesmo prazer que empurrar a bola pertinho do goleiro, mas longe de seu alcance. Em seu livro Bombas de Alegria – Meio Século de Histórias do Canhão da Vila (Edições Realejo, 2006), José Macia, o Pepe, o ponta-esquerda daquele Santos, conta que, numa das exaustivas excursões do clube pela Europa, foi com Coutinho a uma casa noturna na Alemanha, famosa pela orquestra. Um brasileiro que falava alemão os informou de que deveriam anotar sua música preferida em um papel e entregar aos garçons. A orquestra se incumbiria de tocar a melodia escolhida.E assim ocorreu com Pepe, que pediu “Unchained Melody”. Coutinho também requisitara sua preferida, mas impacientou-se porque, passada uma hora, a orquestra não se habilitara a tocá-la. Ralhou: “Vamos em­bora. Esses alemães não estão com nada, não tocaram a minha música”. Intrigado, Pepe quis saber qual canção Coutinho havia pedido. A

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resposta: “O Pretinho gostou da filha da Madame”. Era o verso inicial de “O Neguinho e a Senhorita”, de Noel Rosa e Abelardo da Silva. Coutinho só não foi um artilheiro inconfundível porque justamente o confundiam com Pelé, sobretudo nos jogos noturnos dos estádios mal iluminados. Era comum acontecer. Ser confundido com Pelé não era algo de tão nefasto, convenhamos. Ao contrário. Mas Coutinho não gostava. Sempre ranzinza, reclamava que, se a jogada fosse genial, atribuíam a Pelé; se terminasse em erro, caberia a ele. Injustiça.

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N o a n o d e 19 62 , f e z 5 2 g o l s e m 4 7 pa r t i da s – m é d i a a b s u r da d e 1 , 10 p o r pa r t i da . E r a c o m o s e já e n t r a s s e e m c a m p o a r t i l h e i r o

De qualquer maneira, nos nove anos em que defendeu o Santos, Coutinho ganhou sete títulos estaduais e cinco brasileiros. Foi campeão do mundo pela seleção brasileira (1962, embora, contundido, não tenha jogado, cedendo a vaga para Vavá) e bi mundial de clubes (1962 e 1963). Tornou-se artilheiro da Libertadores de 1961 (seis gols), Rio-São Paulo do mesmo ano (nove gols) e Taça Brasil de 1962 (sete gols). Em três partidas, fez cinco tentos em cada uma. Uma delas foi contra a Ponte Preta, em 19 de novembro de 1959, na Vila Belmiro. Nada menos que a maior goleada da história santista: 12 a 1. Além dos cinco de Coutinho, houve quatro de Pelé. Um massacre. Poderia ter feito ainda mais gols. Não fosse a displicência. Ele tinha o mesmo problema de Romeu Pellicciari, Edu e Ronaldo Fenômeno: engordava além da conta. Lula, seu devoto e alter ego, o obrigava a dar seguidas voltas correndo em torno do gramado da Vila Belmiro, trajando agasalhos de lã. Era preciso derreter os quilos a mais. O garoto piracicabano, fã de quitutes e de uma cerveja gelada, xingava baixinho seu protetor e algoz. Para complicar, em 1962, a cirurgia para retirar os meniscos do seu joelho direito, hoje uma operação de rotina, não foi bem-sucedida. Gerou uma artrose, que volta e meia o tirava de campo. Pode-se avaliar a decadência – sim, decadência – do fabuloso Coutinho pelo número de gols pelo Santos, à medida que o tempo passava e seu peso aumentava. Em 1959, ele fez 58 gols em 59 jogos. No ano seguinte, 34 em 41 partidas. Em 61, chegou a 77 gols em 74 jogos. No ano de 1962, foram 52 gols em 47 porfias – média absurda de 1,10 por partida. Nos cômputos de 1963, chegou a 38 gols em 44 jogos. Em 1964, balofo e vítima de contusões, fez 30 tentos em 39 partidas. No ano seguinte, chegou a 37 gols em 45 contendas. Em 1966, já estava em inacreditável curva descendente: só 15 gols, em apenas 20 partidas disputadas. Em 1967, fora de forma, só disputou duas partidas inteiras. Ainda não completara 24 anos, mas não estava nos planos de Antoninho, o técnico que substituiu Lula. Naquele ano, a equipe praiana apressava a passagem de bastão. O time parecia envelhecido. Antoninho tirou da equipe Zito, Coutinho e Pepe. No lugar deles entraram Clodoaldo, Toninho Guerreiro e Edu. Fim de linha.

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o melhor

ti m e d o m u n d o Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gilmar e Mauro (em pé); Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe (ajoelhados). Uma equipe dos sonhos. Para lembrar toda uma vida

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contusão no olho que cercara seu futebol de incertezas. Saldanha acreditava que o único substituto à altura do craque do Cruzeiro seria Coutinho. Mesmo muito distante da forma ideal. Bastou, todavia, conferir a displicência de Coutinho. Saldanha desistiu. DE OLHO NO TUTU Santos também desistiu de Coutinho, que seguiu para o Atlas do México (1971) antes de o bicheiro Castor de Andrade resolver trazê-lo para o Bangu, já no ano seguinte. No Rio de Janeiro, deu zebra. Em 1973, Coutinho, sem a mínima aparência de jogador profissional, vestiu a camisa de um time que também não tinha nome de time. Era o Saad, de São Caetano (SP), batizado com o sobrenome do dono, descendente de libaneses. O clube havia trazido, além de Coutinho, dois ex-craques do Santos: o ponta-direita Dorval, 36 anos, e o trágico quarto-zagueiro (e volante) Joel Camargo, 27 anos, que mais tarde pegaria no batente como estivador no cais. O Saad tinha planos de chegar à divisão especial do futebol paulista. Amargava então a primeira divisão – que correspondia à segunda de hoje. Em janeiro de 1973, um repórter da Veja foi a São Caetano ouvir Coutinho. Queria saber como ele se sentia vestindo, pela primeira vez, a camisa de uma equipe “de segunda divisão”. “Sou profissional e o que interessa é o tutu”, respondeu Coutinho, aos 29 anos. E completou: “E, se precisar ir para um balcão de loja, eu vou”. Essa autoconfiança que beirava a soberba ele começou a demonstrar nas entrevistas a partir dali. O homem brincalhão dos vestiários transformou-se,

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Pela idade, Coutinho ainda teria muita lenha para queimar. Mas a balança era implacável: estava pesando 91 quilos, um acinte para o seu 1,67 metro. A fita métrica também acusava: a cintura do craque displicente media 95 centímetros. Era como se Coutinho não mais se confundisse com Pelé, mas com a ferramenta de trabalho e objeto de prazer da dupla: a própria bola. Redondo e ranheta, foi emprestado ao Vitória da Bahia. Ficou menos de um ano. Começava a vida cigana que o levaria, primeiro, à Portuguesa de Desportos (1969). No mesmo ano, voltou ao Santos. Foi quando João Saldanha, então técnico da seleção brasileira, resolveu descer a serra para bater um papo com Coutinho. Tostão, o centroavante titular do escrete, sofrera aquela

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MÁ SORTE Seria titular na Copa de 62. Mas se machucou

C om 370 g ol s, é o t e r c e i r o a r t i l h e i r o da históri a do Sa ntos. Só p e r d e pa r a p e l é e p e p e

Coutinho é o terceiro artilheiro do Santos, com 370 gols em 457 jogos. Perde apenas para Pelé e Pepe. Teve, ainda, a glória de ter marcado o gol de número 5 mil do clube que mais gols fez na história. Displicente – ou muito autoconfiante – não dava bola para esses feitos. Nos últimos tempos, menos evasivo, passou a conceder mais entrevistas. Em nenhuma delas, porém, comentou algo que escapou a todos os obituários por ocasião de sua morte, ocasionada por um infarto.

pouco a pouco, no rabugento das entrevistas. Foi assim na insuficiente carreira como técnico. Continuou assim quando os repórteres o procuravam em seu retiro santista, nos bares em que encontrava Pepe, Mengálvio e outros companheiros de geração e títulos. Várias vezes, respondia com ironias, cofiando o bigodão que deixara crescer. E até algum sarcasmo. Como vivia? Trabalhava em escolinhas de futebol. Completava a renda com o aluguel de apartamentos. Tudo piorou em 1989. Seu único filho homem, Kleber Wilson Honório, de 23 anos, de que se orgulhara ao vê-lo envergando a camisa 10 nos juvenis do Santos, morreu de uma doença então incurável. Coutinho, enfim, emagreceu. Recolheu-se ao apartamento de Santos em que morava com a mulher, Vera Lúcia. Tinha a companhia das duas filhas, Rosangela Cleiry e Amanda Paola. Retirou-se ao longo de anos. Por fim, a amargura deu vez a um homem mais maduro e menos ressentido. Mas nem por isso amistoso.

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CÔMPUTO FINAL nquanto Pelé cercou-se de louros ao completar os mil gols – não sem razão, claro –, enquanto Romário e até Túlio Maravilha faziam de tudo para deixar marcas redondas na quantidade de tentos, Coutinho mais uma vez esnobava. Em 14 de janeiro de 1973 marcou seu último tento, pelo Saad, um dos quatro com a camisa da equipe do ABC paulista. No total, fez 370 gols pelo Santos, seis pelo Vitória, um pela Portuguesa, 10 pelo Atlas mexicano, dois pelo Bangu e outros seis pela seleção. Basta concluir as contas. No total, ele fez 399 gols. O de número 400, tal como o filho homem que Drummond não teve, faz-se por si mesmo. TP

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10 a d eg a

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mais

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T u d o o q u e vo c ĂŞ p r e c i s a s a b e r sobre as

c ac h aç a s m i n e i r a s .

E u ma l i s ta d a s m e l h o r e s

P o r M au r o M a r c e l o A lv e s

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O s e d i t o r e s d e s ta r e v i s ta t i v e r am a c o r ag e m d e p e d i r a u m m i n e i r o pa r a e s c o l h e r a s

1 0 m e l h o r e s c ac h aç a s . . . m i n e i r a s . B e m , c o m o n ão s e t r ata d e b r a da r q u e a s c ac h aç a s m i n e i r a s s ão m e l h o r e s d o q u e a s d e o u t r o s e s ta d o s , g e r a n d o e s t r i d ê n c i a s , l á vo u e u r e u n i r m i n h a s l e m b r a n ç a s e g o l e s , n at u r a l m e n t e e s c u da d o p e l a n e c e s s á r i a i s e n ç ão j o r n a l í s t i c a – o q u e n ão g a r a n t e l á g r a n d e c o i s a , p o r q u e a o p i n i ão b a s e a da e m g o s t o p e s s oa l é in tr a nsfer í v el. M a s ga r a n to qu e n ingu ém ir á a f i r ma r q u e u ma , n e m s e q u e r u ma da s c ac h aç a s e s c o l h i da s p o d e s e r ama l d i ç oa da e c u s p i da e m p r aç a p ú b l i c a . Ta lv e z u m g o l i n h o pa r a o s a n j o s .

B

ebo a dita-cuja desde meus tempos de músico e publicitário em Belo Horizonte, em alguma época beatlemaníaca. Em São Paulo, enveredei pela gastronomia no jornalismo e, após vários artigos e a autoria de O Espírito da Cachaça (Edições LCM), sinto-me apto a responder ao desafio. Claro que muito do que senti nos copinhos foi compartilhado com amigos apreciadores da mais brasileira das bebidas, mineiros ou não.

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Mas antes vamos à possível origem dessa palavra meio demonizada (quem gosta de ser chamado de cachaceiro?), não havendo unanimidade por parte dos pesquisadores e historiadores. Ela viria do castelhano cachaza, vinho antigamente feito com borra de uva. Poderia vir também da aguardente usada para amaciar a carne de porco (chamado de “cachaço” na roça). Ou então da pinga azedada que restava nos tanques de fermentação e que era bebida pelos

escravos aqui no Brasil, não sem razão chamada por eles de “cagaça”. Muita coisa pingou nos alambiques de três séculos para cá, desde as zurrapas que os pobres escravos engoliam até hoje, quando a cachaça ganhou o status de bebida aceita socialmente e até com ares meio esnobes, a julgar pela embalagem e pelo preço de algumas. Minas Gerais, com a chegada crescente de portugueses para surrupiar seu ouro, prata e pedras preciosas, tornou-se região natural para a produção de um destilado que atendesse suas gargantas cheias de saudade – eles trouxeram da ilha da Madeira as primeiras mudas de cana-de-açúcar. No momento, Minas tem cerca de 8,5 mil alambiques em seu território, sendo responsável pela metade da produção nacional de cachaça – e, aqui é preciso esclarecer, artesanal. Aquela feita em alambiques tradicionais de cobre e em quantidade (bem) menor do que a gigantesca produção da denominada cachaça de coluna, cujo método de fabricação se assemelha à elaboração do álcool combustível. Em vez do pinga-pinga dos pequenos alambiques, as grandes indústrias utilizam imensas colunas de destilação feitas de aço e com enormes quantidades de cana. Essas cachaças, produzidas sobretudo em território paulista e pernambucano, são as campeãs de venda aqui e fora daqui, respondendo por 70% da capacidade instalada de 1,2 bilhão de litros anuais no país. Voltando a Minas, a cidade símbolo de sua cachaça é Salinas, no vale do Je-

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longa

h i s tó r i a

Alívio de Dores Produzida em Dores de Indaiá, sem madeira, cristalina e bastante usada em drinques.

As cachaças do vale do Jequitinhonha começaram a ganhar fama no anos 1940

quitinhonha, ao norte, com solo e clima adequados à bebida. Não era uma atividade principal dos fazendeiros da região em fins do século 19 e início do 20. Para eles, a cachaça representava uns trocados a mais em sua renda, ao vendê-la aos moradores ou aos tropeiros que passavam por lá. A história mudou de modo radical a partir das décadas de 1940 e 50, principalmente por meio da figura – hoje mítica – de Anísio Santiago (1912-2002) e sua Havana. Elaborada em pequena escala desde 1946, a Havana provocou um rebuliço entre os consumidores, por sua qualidade. “Anísio fez um trabalho fantástico com o bálsamo”, diz Deise Novakoski, sommelière e bartender, profunda conhecedora da bebida. O uso do bálsamo e de outras madeiras nacionais, como umburana (ou amburana), jequitibá, amendoim, castanheira, ipê, angelim, jatobá, araribá e grápia, passou a ser a pedra de toque da cachaça tradicional mineira, dando a ela sua identidade de aroma e gosto. Mas, de uns tempos recentes para cá, vários produtores se renderam ao car-

Batista Maturada em carvalho e jequitibá. De Sacramento, junto ao Parque Nacional da Serra da Canastra. Boa também é a branquinha.

Bem Me Quer De Pitangui, a branca é armazenada em inox e a versão amadeirada com carvalho, bálsamo e umburana. Caprichadas.

Canarinha De Salinas e elaborada pela família Santiago, armazenada em bálsamo como a Havana. Equilibrada, sem excessos.

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a decana Encantos da Marquesa

da s m e lh o r e s

De Indaiabira, norte de Minas. A melhor, com muita pureza, tem um blend de cana-de-açúcar das variedades Java branca e amarela.

A Havana é sempre um destaque. Até mesmo pelo pioneirismo de seu dono, Anísio Santiago

Famosinha de Minas Armazenada em tonéis de umburana e produzida na cidade de Papagaios. Sua aromática versão branca fica seis meses em tonéis de jequitibá.

Germana Caetano’s Uma das mais conceituadas do estado, de Nova União, envelhecida em umburana. Lembra especiarias.

Havana/Anísio Santiago Aroma intenso de frutas secas, sabor bem balanceado

valho para envelhecer suas cachaças, imprimindo nelas características que lembram o bourbon americano (com uso de barris usados anteriormente nessa bebida) ou o uísque escocês (idem com carvalho europeu). Um interessante estudo a respeito do uso de barris de madeira está na dissertação de mestrado de Catarina G. Catão, publicado na Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental. O trabalho ganhou o nome de “Qualidade da madeira de cinco espécies florestais para o envelhecimento da cachaça” e resulta de uma pesquisa muito prática. Em barris de 25 litros de umburana, bálsamo, ipê, jatobá e jequitibá, além de carvalho, uma cachaça branca, recém-saída do alambique e da mesma procedência, foi deixada em cada um deles por seis meses. Ao final da experiência e após exames de laboratório, destacou-se que “a cachaça armazenada em barris confeccionados com a madeira de bálsamo (Myroxylon peruiferum) se assimilou, quanto às características químicas, à armazenada em barris de carvalho”. O velho Anísio sabia das coisas.

entre a sensação doce inicial e ligeiro amargor. 124

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O objetivo da madeira, nunca é demais lembrar, é o de “amaciar” a rascante pinga que sai do alambique, diminuindo sua acidez e determinando aroma e gosto mais elegantes. As cachaças artesanais, portanto, agregam o valor do cuidado pessoal do dono ou de um experimentado alambiqueiro, capaz de sentir no cheiro da fermentação os rumos da bebida. Mesmo as grandes fabricantes de cachaça de coluna, como a Companhia Müller de Bebidas, tem em seu portfólio alguns produtos envelhecidos em carvalho e umburana, caso da Reserva 51. AS campeãS

H

ora de respirar fundo para indicar aquelas cachaças que, a meu ver, representam a identidade mineira. Não tenho nada contra o uso de carvalho, embora considere cachaça com gosto de bourbon ou de scotch algo forçado. São bons destilados? Sim, sem dúvida, e muitos produtores utilizam as madeiras estrangeiras para um toque final que reduza alguma aspereza das madeiras nacionais. Tudo é uma questão de equilíbrio. O bálsamo consagrado pela Havana, por exemplo, se usado intensamente, pode agregar aroma e sabor meio enjoativos à cachaça. Antes, um esclarecimento: a Havana não poderia ficar de fora, óbvio, por tudo o que representa na história da cachaça de Salinas e de Minas. Está junto com a Anísio Santiago, ambas com a mesma procedência e qualidade. O nome Havana foi contestado judicialmente em 1998 pela empre-

Indaiazinha Uma das mais tradicionais de Salinas, maturada no bálsamo. Aroma e gosto persistentes, com suave lembrança de erva doce.

Lua Cheia De Salinas, descansa três anos em bálsamo. Lembra amêndoas e nozes. Se ela está na prateleira do bar, não tenho dúvida: “Desce uma dose!”.

Ao c o n t r á r i o d e o u t r o s d e s t i l a d o s , que sempr e de sc a nsa m em ba r r is de c a r va l h o, a c a c h a ç a s e a c o m o da muito bem em outr as m a deir as: u m b u r a n a , b á l s a m o, I p ê , ja t o b á ...

sa produtora do rum Havana Club (na época, muita gente disse que havia sido implicância de Fidel Castro; mentira, ele até gostava dela). Até 2006 passou a se chamar Anísio Santiago, quando voltou ao antigo nome, garan-

tido por decisão judicial. Nesse mesmo ano a prefeitura de Salinas, orgulhosamente, decretou a Havana como patrimônio cultural imaterial do município. As minhas favoritas estão à beira destas páginas, em ordem alfabética. TP

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tem po

O modelo

R o l e x C o s m o g r a p h Day t o n a

f i co u pa r a s e m p r e a s s oc i a d o a o a t or a m e r i c a n o, q u e a m ava a s p i s t a s d e corr i da

o relรณgio de

pau l newman Por M a rc e l lo Borge s

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O r e l ó g io d e pu l s o m a i s c a ro da h i s t ó r i a f o i

v e n d i d o e m 2 6 d e o u t u b r o d e 2 0 1 7, e m u m l e i l ã o n o va-i o r q u i n o d a c a s a P h i l l i p s . D e p o i s d e 1 2 m i n u t o s d e l a n c e s n e r vo s o s , o R o l e x C o s m o g r a p h D ay t o n a q u e p e r t e n c e u a Pau l N e w m a n f o i a r r e m a t a d o p o r m a i s d e US $ 1 7 m i l h õ e s . O u m e l h o r , US $ 1 7.7 5 2 . 5 0 0 . O m o d e l o a i n d a m a n t i n h a a l a rga pu l se i r a de c ou ro e m e st i lo m i l i t a r u s a d a p e l o a t o r . S e u va l o r e m pa l i d e c e u o Rol e x S u bm a r i n e r qu e pe rt e nc e u a ou t ro a rt i s ta de a lt o qu i l at e , S t e v e Mc Qu e e n, v e n di d o e m 20 09 p o r US $ 2 3 4 m i l n u m l e i l ã o d a c a s a A n t i q u o r u m .

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Criado em 1963 em aço, em ouro ou misto, o modelo, dotado de mecanismo Valjoux 72B, chamava-se originalmente apenas Rolex Cosmograph. No começo, a fábrica tentou batizá-lo de Le Mans, em homenagem ao longo circuito francês. Contudo, o foco no mercado americano e o patrocínio da corrida 24 Horas de Daytona, na Flórida, foram decisivos. O nome Daytona em vermelho, estampado acima do totalizador das horas do cronógrafo, começou a aparecer no mostrador em 1965. O modelo era fruto da evolução do 6238, um Rolex que os colecionadores chamam de “Pré-Daytona”, pois já tinha então forte apelo esportivo. Daí a identificação com as corridas de automóvel. Por ironia, o que seria o relógio dos homens velozes ficou estacionado nas prateleiras das relojoarias por vários anos. Tudo devido a um grave problema de marketing: era acionado por corda manual, o oposto daquilo que os fãs da Rolex mais gostavam – a corda automática. E é aqui que entra em cena um dos maiores atores de todos os tempos: Paul Newman (1925-2008). Ele brilhou não só nas telas e palcos. Também nas pistas. Aos 70 anos (e oito dias, para ser mais preciso), tornou-se o mais velho piloto americano a participar de uma equipe de corridas, vencendo em sua categoria as 24 Horas de Daytona de 1995. O fogo de sua paixão pelo automobilismo fora ateado bem antes, em 1969, quando viveu o corredor Frank Capua no filme Winning (no Brasil, 500 Milhas). Newman tinha então 44 anos. Pouco depois do lançamento do filme, o ator começou a ser visto e fotografado usando um Rolex Cosmograph

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u m ro l e x d e Pau l N e w m a n f o i v e n d i d o p or m a i s d e US $ 1 7 m i l h õ e s

Daytona com o mostrador que a fábrica chamava de “exótico”: branco com totalizadores pretos, e os segundos do cronógrafo vermelhos. Essa versão trazia a referência 6239. O CIRCUITO DE DAYTONA A corrida de Daytona não é bolinho: Scott Pruett, duas vezes vencedor no circuito, disse que é a mais difícil prova de velocidade do mundo. E explicou: “Dura 24 horas e a pista fica muito escura, pois a prova acontece no final de janeiro [inverno no hemisfério norte]. Estamos falando de 13 ou 14 horas de escuridão”. Daytona surgiu por causa da loucura dos americanos pelas corridas de automóvel. No começo do século 20, alguns aficionados perceberam que as praias planas, extensas e de areias duras de Ormond Beach e de Daytona Beach, na Flórida, reuniam excelentes condições para se ver até que velocidade um carro podia chegar, disputando animados rachas. Em 1934, um mecânico de Washington chamado William France, mais conhecido por Big Bill, mudou-se para Daytona Beach. Ele já conhecia a fama do lugar. Ali, diversos recordes de velocidade haviam sido quebrados. Malcolm Campbell, por exemplo, estabe-

leceu nas areias duras o recorde de 395,47 quilômetros por hora pilotando o seu Blue Bird em 1931, feito que lhe granjeou o título de Sir outorgado pelo rei Jorge 5º, do Reino Unido. Em 1949, quase duas décadas depois, Bill fundou a Nascar, categoria de carros de linha preparados. Aproveitando-se da fama do lugar, começou a construir o circuito oval Daytona Beach Motor Speedway, hoje conhecido por Daytona International Speedway. É gigantesco: 150 mil pessoas se acomodam nas suas arquibancadas. Inaugurado em 1957, foi palco da primeira edição das 500 Milhas de Daytona dois anos mais tarde. Graças ao endosso de Paul Newman, na década de 1980 muitos de seus fãs começaram a procurar o modelo de Rolex usado por ele, produzido em diversas variações. Alguns Daytona têm uma escala taquimétrica preta inserida no aro superior. Outros contam com os botões de acionamento do cronógrafo rosquea-

recordista Sir Malcolm Campbell chegou a 395,47 km/h em Daytona Beach ainda no ano de 1931

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c l á s s i co s da

a lta r e loj oa r i a Os modelos da série 6200 valem muito mais do que os novos

o Cosmograph Daytona com mostrador exótico foi crescendo a tal ponto que, em 2013, a Christie's vendeu um 6263 de aço por mais de um US$ 1 milhão. Foi o primeiro a romper esse marco histórico.

reverenciados No alto, um Daytona “exótico” (com os indicadores pretos). Acima, um Oyster

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dos (introduzidos no modelo ref. 6240) para tornar ainda mais inviolável a resistência à água. Há ainda modelos com as cores do mostrador invertidas (preto com totalizadores brancos). Newman não teve apenas um, mas vários Cosmograph Daytona. O primeiro trazia a referência 6263, com mostrador preto e totalizadores brancos, sem a trilha de segundos em vermelho. Em 1972, sua mulher, a atriz Joan Woodward – que, aliás, contracenou com ele em 500 Milhas –, deu-lhe de presente o 6239. Este sim um dos modelos apelidados “Paul Newman”. Joan comprou o relógio na Tiffany’s de Nova York. E, preocupada com o risco de perder o marido nas corridas, mandou gravar uma inscrição na face interna: DRIVE CAREFULLY – ME. Há quem diga que os Rolex Daytona Paul Newman começaram a se valorizar por obra de um colecionador italiano com vocação para especulador. Ele passou a comprar esses relógios por valores baixos e estocou-os. Quando se tornaram raros, colocou as peças à venda em leilões. O fato é que o mercado para

LEILÕES Três anos mais tarde, a Phillips, casa de leilões especializada em relógios, vendeu um Daytona de referência 6239 por 1,985 milhão de francos suíços. O modelo foi apelidado de “Oyster Sotto”. Tudo porque a palavra Oyster – nome que a Rolex dá a seus modelos com coroas e botões rosqueados – está escrita sob (sotto, em italiano) a palavra Cosmograph. Mas o coup de grâce mesmo deu-se quando a Phillips leiloou o modelo usado por Newman, presenteado por ele em 1984 a James Cox, namorado de sua filha Nellie. Alguns chamaram esse Daytona de “a Mona Lisa dos relógios”. Ao longo do tempo, a Rolex modificou bastante o Daytona. Entre outras ino­vações, aumentou a caixa, instalou um movimento próprio e criou um aro de cerâmica. Mas a demanda real ainda é pelos antiguinhos da série 6200. Sim, os Rolex Cosmograph Daytona ditos “Paul Newman”, com todas as suas variações, deverão se manter como objeto de desejo por muito tempo. As batalhas de lances para adquirir um deles só têm aumentado. TP

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CU LT

Forever young OITO d é c a d a s d e p o i s , a E s q u i r e ,

p i o n e i r a da s r e v i s ta s m a s c u l i n a s , s e g u e e m f r e n t e c o m a v i t a l i d a d e d e s e mp r e

P or Robe rto M ug gi at i

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na raiz A atriz Virna Lisi fazendo a barba em 1965. Criação do designer George Lois

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O s e r e n d i p t i s m o – a a j u da d o ac a s o – e s t e v e c o m a E s q u i r e d e s d e o i n í c i o. S e u n o m e s e r i a e s c o l h i d o e n t r e S ta g , T r i m o u B eau, c o i t a d i n h a ! F o i q ua n d o c h e g o u u m a c a r t a e n d e r e ç a da ao e d i t o r , A r n o l d G i n g r i c h , E s q. N a da m e l h o r d o q u e aq u e l e t í t u l o d e c o r t e s i a , E s q u i r e , c i da dão, q u e o s i n g l e s e s i n v e n t a r a m e sa bem usa r como poucos.

O

utro acaso incrível: Gingrich encontra Ernest Hemingway numa livraria de Nova York e lhe pede um texto para a edição de estreia. O escritor concorda em colaborar. Gingrich usa o nome de Hemingway para atrair publicidade e chovem os anúncios. A revista pertence à corporação de William Randolph Hearst, o magnata da imprensa que inspirou o personagem do filme Cidadão Kane, o clássico de Orson Welles. Seu primeiro número sai em outubro de 1933 a 50 centavos de dólar o exemplar (US$ 9,68 hoje) com uma tiragem de 100 mil exemplares para o trimestre. Sim, era trimestral. Esquire foi fundada por um triunvirato: Gingrich, que ficaria na revista até sua morte, em 1976 – uma longa estirada de 43 anos; David Smart, o homem do dinheiro, que deixa o barco em 1936 para fundar uma revista própria, Coro-

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net, e morre em 1952; e Henry Jackson, que cuida das páginas de moda e estilo até desaparecer prematuramente num desastre de avião em 1948. Desde cedo, Esquire investe em grandes escritores. Entre 1933 e 1936, antes de ir cobrir a Guerra Civil na Espanha e a Segunda Guerra Mundial, Hemingway assinou 17 artigos na revista: sobre pesca em Cuba e em Key West (no extremo sul da Flórida), caçadas na África, a boemia em Paris, a tensão na

D u r a n t e q ua t r o a n o s , d e 19 3 6 a 19 4 0, o e s c r i t o r F. S c o t t f i t z g e r a l d publicou 43 textos na r e v i s ta

Espanha e na Europa. Em 1936, ele publica em Esquire a novela As Neves do Kilimanjaro para arrancar um adiantamento de US$ 3, 3 mil, que dá como entrada na compra do seu barco de pesca Pilar. (Durante a guerra, Hemingway equiparia a embarcação com metralhadoras para “caçar” submarinos nazistas no golfo do México.) Ainda em 1936 sai em Esquire um dos ensaios mais devastadores sobre o fracasso, “The Crack-up”, um texto autobiográfico pungente de F. Scott Fitzgerald. Ele publicará na revista 43 textos até o final de 1940, quando morre do coração, aos 44 anos, debilitado pelo alcoolismo. Uma curiosidade em Esquire é a sua mascote, Esky, que aparece já no segundo número, o de janeiro de 1934. Criada pelo cartunista negro E. Simms Campbell, figurou nas mais diversas atividades em todas as capas, até 1961, quando seu rosto passou a ser o pingo no “i” do logotipo. Depois de aparecer em mais de 500 outras capas, Esky foi descansar na lombada da revista. Mal ganhou as bancas, outro filão se abriu para Esquire: o das pin-up girls. O primeiro artista a se destacar na revista foi George Brown Petty IV, de uma família da Luisiana que se mudou no começo do século para Chicago, onde o pai fazia sucesso como fotógrafo de nus. O traço de Petty marcou as páginas da publicação desde o primeiro número, em 1933, até 1956. A exuberância de suas garotas levou a revista a expô-las em páginas duplas e avulsamente nos seus calendários. Na Segunda Guerra Mundial, muitos aviões passaram a pintar em seu nariz as Petty

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Girls. A mais notável é a da fortaleza voadora B-17 Memphis Belle. No filme de John Huston O Segredo das Joias (The Asphalt Jungle, 1950), o mestre do assalto folheia meticulosamente um calendário da Esquire antes do golpe.

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utro que tomou de assalto suas páginas foi o peruano Joaquin Alberto Vargas y Chávez, filho de um famoso fotógrafo. Entre 1940 e 1946 ele publicou 180 pinturas na revista, principalmente as Varga Girls, também reproduzidas no nariz dos aviões de guerra. A sensualidade das Varga Girls foi alvo de uma campanha de censura dos correios americanos. Depois de ganhar a causa no Supremo, Esquire, por questão de segurança, abriu mão das apimentadas garotas. O artista perdeu uma disputa legal com a Esquire pelo nome “Varga” e só foi salvo da falência quando a Playboy passou a publicar seus traba-

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a cara de esquire Duas figuras muito identifcadas com a revista: a mascote Esky e Arnold Gingrich, que foi o editor da publicação por 30 anos

lhos – nada menos do que 152 ao longo de 16 anos. Com a carreira recuperada e exposições pelo mundo, Alberto Vargas ainda viveu para ver uma Varga Girl inserida no mais famoso painel de celebridades do século 20 – a foto da capa do LP dos Beatles Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Por falar em Playboy, seu editor, Hugh Hefner, iniciou a carreira na Esquire. Nascido em Chicago, Hefner preferiu ficar lá quando a revista se mudou para Nova York em 1950. Ao preparar o lançamento de Playboy, Hefner alardeava: “Está sendo feita por um grupo de pessoas da Esquire que ficaram em Chicago – por aí vocês

já podem ver como vai ser boa!”. Em 1944, a Esquire se volta para o jazz. Os maiores críticos do país escolhem a All American Band, com o melhor músico em cada instrumento. Um jornal do Harlem dá em manchete: “20 dos 26 músicos vencedores da pesquisa são negros”. A aguardadíssima premiação se estenderia pelos dois anos seguintes, incluindo a gravação de um concerto com os eleitos. Uma das fotos mais famosas do jazz, por falar nisso, A Great Day in Harlem, de Art Kane, foi publicada em 1958 na Esquire, reunindo 57 músicos numa pose de álbum de família – a foto inspiraria em 2004 o filme de Spielberg O Terminal, com Tom Hanks. Um dos personagens mais significativos da ficção do século 20 aparece pela primeira vez nas páginas da Esquire. Holden Caulfield, o futuro Apanhador no Campo de Centeio, já chega

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criando problemas no conto que J.D. Salinger publica na revista em 1945, “This Sandwich Has No Mayonnaise”. Editor principal da publicação do lançamento até 1963, Arnold Gingrich sempre teve um olho vivo na literatura – às vezes vivo até demais. Certa vez rejeitou um conto do judeu Philip Roth por considerá-lo “excessivamente antissemita”. Em 1958, Harper’s Bazaar, a revista feminina do grupo Hearst, rejeitou a novela de Truman Capote Breakfast at Tiffany’s por considerar a personagem Holly Golightly uma prostituta e se chocar com palavras como “sapatão”. Esquire herda o texto de Capote e publica uma das mais encantadoras fábulas urbanas da nossa época, imortalizada no cinema por Audrey Hepburn (Bonequinha de Luxo, 1961). A revista dedica especial atenção à eleição presidencial de 1960, opondo John Kennedy e Richard Nixon. Na

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edição de novembro Norman Mailer estreia como jornalista político com o artigo “Superman comes to the supermarket”. Por birra, Gingrich publica a matéria com o título trocado para “Superman comes to the supermart”. Mailer rompe com a Esquire e manda uma carta ao editor dizendo que a revista acaba de perder “um escritor quente”. Em 1962, ele volta, com uma matéria sobre Jackie Kennedy. Em 1963, Harold Hayes, meio sé-

T ru m a n C a pot e , g ay t a l e s e e t o m wo l f e r e n ova r a m o jor na lismo na s pá g i n a s d e E s q u i r e

culo mais moço, substitui Gingrich como editor. Sua juventude, ou os novos ventos que sopram nos sixties, trazem mudanças para Esquire. As ousadas capas desenhadas por George Lois causam impacto: o pugilista Sonny Liston com chapéu de Papai Noel, Andy Warhol se afogando numa lata de sopa Campbell, Muhammad Ali posando flechado como São Sebastião. Uma nova qualidade de texto anuncia o Novo Jornalismo. Tom Wolfe surpreende com seus títulos onomatopaicos como o de 1963 sobre a cena dos carros tunados para adolescentes: “There Goes (Varoom! Varoom!) That Kandy Kolored (Thphhhhhh!) Tangerine Flake Streamline Baby (Rahghhh!) Around the Bend (Brumm mmmmmmmmmmmm mm....)”.

E

m 1966, Gay Talese escreve o mais célebre perfil de corpo ausente já publicado: “Sinatra Has a Cold” (Sinatra pegou um resfriado). Os “malditos” Jean Genet e William Burroughs são escalados para cobrir a tumultuada convenção de 1968 do Partido Democrata em Chicago: o Novo Jornalismo se dá ao luxo de embrenhar-se na selva do jornalismo investigativo. Em novembro de 1970, John Sacks inicia uma série de reportagens, “As confissões do tenente Calley”, sobre o oficial americano condenado pela matança de 22 civis em My Lai. A capa é chocante, uma foto de Calley cercado de crianças vietnamitas. Em 1969, os editores publicam uma coletânea de 600 páginas, Smiling Through the Apocalypse/ Esquire’s History of the Sixties, que se tornará a bíblia do New Journalism.

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inesquecíveis As Varga Girls, de Alberto Vargas, marcaram época, assim como as capas com Sonny Liston, Andy Warhol, John Kennedy, Muhammad Ali e Richard Nixon

Editor de ficção de 1969 a 1976, Gordon Lish lança uma safra de novos autores. Um deles é seu amigo Raymond Carver. Lish cortaria drasticamente os contos de Carver, alguns até mesmo pela metade. Carver nunca protestou e Lish obteve o efeito minimalista que buscava. Carver morreu de câncer aos 50 anos em 1988. Até hoje se discute se sua fama se deve ao talento próprio ou aos cortes magistrais executados por Gordon Lish. Entre 1977 e 1986, Esquire andou em mãos de outros proprietários que nada de bom fizeram por ela. Desde sua retomada pelo grupo Hearst, a revista continuou a carreira vitoriosa e começou a lançar edições internacionais. Já são mais de 20: Alemanha, Tailândia, Rússia, Vietnã, Reino Unido, México, Itália, China, entre outras.

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uando a Esquire foi lançada em 1933, o mundo se dividia em homens e mulheres. Como explicar que – diferentemente da Playboy – ela não tenha sido hostilizada pelas feministas dos anos 1960 e, mais recentemente, pelo movimento LGBT? O segredo é que, apesar do seu viés masculino, a Esquire é uma das publicações mais abertas do mundo. Já em 1936, sua primeira colaboradora, Helen Lawrence, estreava com uma contundente crítica ao machismo, “Latins Are

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nascimento do cool Ao reunir, em 1958, a nata do jazz, o fotógrafo Art Kane reinventava o olhar de vanguarda que resiste nas edições recentes da revista sempre jovem

Lousy Lovers” (Latinos são amantes nojentos). Em 1966, Gina Berriault desmascarava, na reportagem “The Naked Luncheon”, o boom das garçonetes topless nos bares da Califórnia. A partir de 2004, Esquire instituiu, com ótima aceitação, sua lista da Sexiest Woman Alive, iniciada com Angelina Jolie e continuada por, entre outras, Scarlett Johansson, Halle Berry, Rihanna, Mila Kunis, Penélope Cruz.

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edição comemorativa de 2003 afirmava: “Há 70 anos a Esquire vem dizendo ao homem como viver. Nós o ensinamos a vestir, a comer, a beber. Às vezes acertamos, às vezes erramos redondamente. Mas vamos prosseguir nessa função”. Mais recentemente, a edição de outono-inverno de 2017 foi dedicada à Volta do Bom Gosto. Justificou o editor Jay Fielden: “Não estou falando daquele gosto pedante de nariz empinado. Não, falo de defendermos o bom gosto e tudo o que ele implica: integridade, compostura, uma noção do bem e do mal e, acima de tudo, humor”. É por cultuar e difundir valores como beleza e tolerância – e por publicar os melhores textos de jornalismo e ficção – que a Esquire tem estado tanto tempo entre nós. E vai continuar, com toda a certeza. TP

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m em ó r i a

É (quase) tudo ver_ dade

De m a s c at e de b oi a m a ior

p e c ua r i s t a d o m u n d o, o min eiro

T i ão Ma i a

foi

u m a l e n da v i va . N e la s e

mistur am frigoríficos,

la t i f ú n d i o s , m i s s e s , ja t i n h o s ,

u r â n i o, Au s t r á l i a , L a s V e g a s . – t u d o e n t r e o fat o e a f i c ç ão

Por A n dr é Borge s Lope s i lu s t r aç õe s z é v ic e n t e

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Difícil saber o que é verdade e o que é lenda qua ndo se fala de Sebasti ão Ferreir a Ma ia, o a rquétipo do self-made man br asileiro do século 20. Nascido em 1º de ja neiro de 1916, filho de pequenos fa zendeiros da cida de mineir a de Passos, aos 50 a nos arrombou a porta do ‘ca fé societ y’ do Rio de Ja neiro, pa r a depois recomeça r a v ida entre as imensidões de Queensla nd, na Austr á li a, a agitação de L as V egas e o a mor de mulheres muito ma is jov ens. Casa do sete ou oito v ezes, não tev e filhos e morreu recluso num aparta mento em São Paulo. Um a história de v ida que se esconde à sombr a do mito.

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menino Tião viajava com os primos para negociar gado. Ao vender uma tropa de burros do vizinho, descobriu o crédito, o valor do lucro e o seu talento para o comércio. Largou a escola e disse ao pai que preferia ganhar dinheiro. Passou a mascatear gado, de início no sul de Minas, depois em Barretos, no norte paulista, onde, décadas antes, a família Prado havia montado o primeiro frigorífico do país. Tião arrendava terras onde engordava os bois que comprava. “Ganhei muito dinheiro, mas gastava

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tudo acompanhando os amigos”, costumava dizer. “Ou eu trocava de amigos, ou mudava de cidade; como amigo não se troca, preferi me mudar.” O destino foi Araçatuba (SP), onde a terra era bruta e barata. Tião e os irmãos compraram o que havia de mais em conta: mil alqueires de mata, acompanhando a linha de trem da Estrada de Ferro Noroeste. Logo descobriram que as terras eram infestadas pela malária. Em 1943, Getúlio Vargas controlava o Brasil e o mundo estava em guerra. Tragédia para muitos, fortuna para outros. A No-

roeste precisava de lenha para os trens. Os irmãos Maia punham abaixo a mata e vendiam a madeira para a ferrovia, que lhes fornecia a gasolina para os caminhões. Como combustível em tempo de guerra é ouro, Tião puxava a lenha em carros de boi – e revendia a gasolina. Com o dinheiro, plantava capim. E comprava gado com crédito farto e barato do Banco do Brasil. Quando a guerra acabou Tião e o sócio Antenor Duarte Vilella já acumulavam 10 mil cabeças em duas fazendas. A pecuária entrou em crise e os criadores deram um calote que, anos depois, se transformou em perdão espetado na conta da Viúva. Tião era getulista, mas garantia não ter participado da maracutaia: “Não peguei dinheiro em banco pra me beneficiar de moratória”, dizia. “Fui na agência e paguei o que eu devia.” Se foi assim, não se sabe. Mas Tião queria mesmo era abrir em Araçatuba um frigorífico como o de Barretos. Em 1950, juntou os fazendeiros e tentou uma IPO da nova empresa, só que ninguém confiou. Não desistiu: vendeu bois, colocou Antenor Duarte e Jorge Quintiliano como sócios, conseguiu dinheiro emprestado. Cinco anos depois, era presidente do T. Maia – o frigorífico mais moderno do país, pronto para desbancar os concorrentes gringos: Anglo, Swift e Armour. Em 1959, já vendia carne para o Exército dos Estados Unidos estacionado na Europa. “Se o senhor quer tradição, que compre dos outros. Se quer carne boa e barata, compre de mim”, teria mandado dizer ao major responsável pela licitação. Araçatuba se transformou na “Capital do Boi Gordo”: a cotação da arroba de gado era negociada na praça central da cidade.

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Testa de ferro por acaso Tião caipira tropeçava na gramática, mas ditava o preço da carne no Brasil nos anos 1960. Era chamado para negociar com ministros e aconselhar presidentes. De Juscelino, ganhou um convite para ser sócio no Denasa, um banco de desenvolvimento em Minas Gerais. De Jango, uma procuração para administrar uma fazenda no Pantanal mato-grossense, que acabou comprando. Tião se apai-

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a pós o g olpe de 6 4 , pa s s o u d ua s s e m a n a s p r e s o. Ali decidiu que iria a p r ov e i t a r a v i da

xonou pelo Pantanal. Pouco depois, levava parte de seus bois para lá. A intimidade lhe causou problemas depois do golpe de 1964. Preso no aeroporto, no Rio de Janeiro, passou duas semanas no porão de uma fortaleza em Niterói, acusado de ser testa de ferro dos ex-presidentes. Um coronel exigia a confissão de que as pistas de pouso das suas fazendas em Goiás eram usadas no tráfico de armas para a insurreição comunista. Saiu da cana por falta de provas e pressão de amigos importantes. O tal coronel lhe fez um favor. Aos 50 anos, Tião resolveu curtir a vida. Dono de vários frigoríficos, vendeu o de Araçatuba para um grupo estrangeiro, encheu de gado suas fazendas e mudou-se para a velha corte. Comprou um apartamento de frente para o mar no Leme e uma frota de carros de luxo, onde se destacava um Lincoln Continental Mark III. Desfilava pelos camarotes dos clubes e por bares da moda de chapéu texano e cinto de fivela larga, sempre ao lado de belas mulheres. jatinho e a miss e você se preocupa com quanto custa, não tem dinheiro para comprar, diz a prudência sobre os jatos executivos. Mas o sol de Ipanema não matava a saudade das boiadas e dos fins de tarde no distante Pantanal. Tião não se preocupou e mandou buscar nos EUA um Learjet 24B de oito lugares, pagando US$ 1 milhão. À vista. Em 1972, foi o primeiro jato vendido a um particular no Brasil. A fazenda estava a uma hora e meia de voo, mas a conta era salgada. Um vacilo do piloto

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num pouso em Araçatuba lhe rendeu um reparo de US$ 200 mil na época. Um amigo usineiro, Orlando Ometto, e o piloto Rolim Amaro eram sócios numa empresa de taxi-aéreo que, mais tarde, se tornaria a companhia aérea TAM. Precisavam de um Learjet, mas a Líder, concorrente, dificultava o negócio. Ofereceram a Tião um terço da sociedade em troca do jato. O Lear valia bem mais, e Tião negociou a diferença num volumoso crédito em horas de voo. Livrou-se dos transtornos e tinha um jatinho para chamar de seu quando distribuía convites na noite carioca para jovens beldades interessadas em conhecer o voo do tuiuiú no Pantanal ou os encantos de Paris. Um dia, seu Learjet levou até Minas Gerais a socialite Beatriz, mulher do magnata boliviano Antenor Patiño, o “Rei do Estanho”. Madame achou que minério e carne podiam dar boa liga, e teria oferecido ao boiadeiro Tião a mão da jovem filha do casal, Minouche. Os dois chegaram a ser vistos juntos, mas o romance não engatou. “Quando eu era pobre, nunca pensei em dar o golpe do baú; agora que felizmente não preciso, vou dar, rapaz?”, explicaria Tião a um amigo. Foi quando surgiu na sua estrada uma Miss Universo. Ou quase. A bela Maria da Glória Carvalho tinha 18 anos quando ganhou a faixa de Miss Guanabara 1968. Ficou em terceiro no Miss Brasil e foi eleita Miss Beleza Internacional em Tóquio, onde passou uma temporada. Reza a lenda que ela estaria em vias de se juntar ao harém do bilionário árabe Adnan Khashoggi – um comerciante de armas que a imprensa nacional intitulava xeique – quando foi salva por

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mais uma

g u i n a da Em 1974, acusado pelo ministro Mário Henrique Simonsen de esconder carne bovina para especular, vendeu tudo o que tinha no Brasil e partiu para o mundo

uma avassaladora paixão correspondida pelo texano de Passos. Casaram-se em maio de 1973, na Igreja Católica Brasileira. A festa para 800 convidados foi no Clube Monte Líbano. No auge da fama, Tião teria presenteado a noiva com um Rolls-Royce bordô, do qual não se encontra uma foto. Mas, em contraponto à ostentação, o milionário mantinha em sua Passos natal uma fundação beneficente, que atendia a centenas de crianças. E dizia a quem perguntasse que a solução para os problemas do Brasil passava por aumentos reais no salário mínimo e melhorias no poder aquisitivo da população, para beneficiar o mercado interno. Na revista Manchete, o colunista Ibrahim Sued pontificava: “Um self-made man tem muito mais valor no mundo atual do que qualquer grã-fininho falido. (...) Eu nunca escrevi que ele tinha entrado para a sociedade a jato. Mas se desejar, entra mesmo. É só pendurar o presunto na porta”. Na concorrente O Cruzeiro, David Nasser redigiu um artigo sobre o infortúnio da calvície e a famosa coleção de perucas do milionário.

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Até aqui de mágoa aria da Glória era o terceiro casamento de Tião, e a lua de mel se estendeu mundo afora por quatro meses. Dois anos depois, a relação terminou de modo discreto, embora com insinuações de infidelidades e ciúmes. O boiadeiro vivia um inferno astral: uma briga com os genros de JK o afastou do banco Denasa; no Pantanal, uma cheia histórica matara 8 mil cabeças de gado nas suas fazendas. Triste com a separação, Tião ia sozinho em bares da zona sul carioca. Bebia com poucos amigos. A pecuária enfrentava uma crise internacional e faltava carne no mercado, enquanto produtores pressionavam por um reajuste nos preços tabelados. Tião, dono de meia dúzia de frigoríficos (inclusive o de Araçatuba, que recomprara), exportava carne para a Europa, para os árabes e para Israel. No fim de 1974, se viu acusado pelo ministro Mário Henrique Simonsen de esconder carne para especular: o governo multou as indústrias e cortou suas linhas de crédito. Foi a gota d’água: Tião Maia colocou à venda tudo o que tinha no Brasil. Em 1976, partiu para Sidney, na Austrália, onde conheceu o taxista brasileiro Antônio Lopes, contratado como motorista e intérprete. Estava decidido a vender carne para os EUA, que não compravam do Brasil por causa da febre aftosa. A crise da pecuária baixara o valor das fazendas e havia muitas à venda. “Quando todo mundo está saindo, é a hora de entrar”, disse ao ministro de terras da província de Queensland, noroeste do país. Tião apostava que o mercado logo iria se recuperar. Acertou mais uma vez.

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“Cattle Baron” em Queensland interior de Queensland é, até hoje, uma imensidão semiárida e pouco povoada, on­de longas secas se alternam com grandes inundações. Uma das poucas áreas onde existem cursos d’água permanentes são as colinas entre Mount Isa e Lawn Hill, habitadas há 17 mil anos pelos povos aborígenes waanyi. Em 1976, Tião Maia comprou a Lawn Hill Station, antiga fazenda que detinha uma gigantesca concessão de terras públicas na região. No ano seguinte, dobrou a aposta arrendando duas outras propriedades nas imediações de Julia Creek e Pentland, em plena região semiárida. No total, mais de 1,2 milhão de hectares de terra, onde ele criava extensivamente mais de 60 mil cabeças de gado. Tião foi um dos responsáveis pela popularização do gado indiano – da raça brahman proveniente dos EUA – na Austrália. Hoje, 70% do rebanho nas áreas ao norte do Trópico de Capricórnio tem sangue zebuíno. De passagem pelo Brasil, e rejuvenescido por uma moderna prótese capilar, Tião dizia ter (de novo) 50 anos de idade. Tornou-se na imprensa brasileira “o maior pecuarista da Austrália”. Um erro no Jornal do Brasil espalhou que suas fazendas tinham o tamanho do estado do Mato Grosso, onde o gado era tocado por motocicletas e helicópteros. Posando ao lado da cabine de um pequeno helicóptero Hughes 300, Tião não confirmava nem desmentia. Em 1977, disse que haviam achado urânio em suas terras, e que ele estava pensando em se dedicar à mineração atômica. O urânio, se existe, continua lá. O que havia, e muito, era

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zinco: um pedaço das terras em Lawn Hill foi desapropriado para abertura de uma mina, que operou entre 1999 e 2016. Tião recebeu uma indenização e negociou o direito de continuar a criar seu gado nas áreas que ainda não estivessem sendo exploradas. Mas a presença do brasileiro gerava polêmica: pecuaristas e políticos locais acusavam a administração de Queensland de dar a um milionário estran-

geiro facilidades e incentivos que eles próprios não tinham. E a prometida construção de um grande frigorífico em Julia Creek nunca saiu do papel. Sete anos depois, num acerto de contas com o governo, Tião devolveu 12 mil hectares de terra para formar o núcleo inicial do Boodjamulla National Park, uma área de preservação ambiental, que hoje se estende por mais de 2 mil quilômetros quadrados.

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d e p o i s d e c onqu i s ta r u m a ga ro ta t e x a na d e 19 a n o s , c o m e ç o u a in v e st ir no merc a do i m o b i l i á r io d o s E s ta d o s Unidos. seu tino comerci a l er a, d e fa t o, f o r m i dáv e l

Holiday em Vegas ovamente enfurnado no trabalho, Tião garantia: “Me work in Austrália, me work in Brasil and holiday in Las Vegas”. Noitadas e agitos aconteciam em torno das mesas de blackjack nos cassinos de Nevada, onde conheceu uma nova paixão: Renée Webb, uma texana de 19 anos. Não se sabe se movido pelo amor ou pelo instinto comercial, Tião levou parte dos seus negócios para os EUA, onde passou a investir no mercado imobiliário. A população de Las Vegas crescia rapidamente e faltavam moradias populares. Em 1979, montou a incorporadora T.USA Development Inc., comprou um grande terreno, construiu um aprazível condomínio fechado de nome Copa Cabana: 130 sobrados geminados em estilo modernista, diferentes do padrão usual das casas térreas americanas. Mas uma tentativa de criar gado no Texas deu com os burros n’água: um dos seus poucos fracassos empresariais.

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Na mídia, destaque para os sucessos: o midas brasileiro era agora dono de “um império imobiliário na costa oeste” americana, onde passava seis meses por ano. Sua confortável casa em Vegas era retratada como um luxuoso palacete “ao estilo da Casa Branca” com piscina e quadra de tênis. Num tempo de importações proibidas no Brasil, posava para as revistas ao lado de três Mercedes-Benz esportivos novinhos em folha – “Sorry, periferia”, diria Ibrahim Sued. Nos anos 1980, o mítico Tião Maia era a comprovação de que “com brasileiro não há quem possa”, desde que o governo não atrapalhe. No caso, o governo militar. Com a abertura democrática, passou a ser cortejado por políticos que prometiam trazê-lo de volta para o Brasil. Encontrou-se com Paulo Maluf em Tóquio e foi tomar café da manhã com Tancredo Neves, já eleito presidente, em 1985, no hotel Madison, em Washington, DC. Três anos depois, esse encontro público ganhou versão fantasiosa, divulgada pelo jornalista Ancelmo Gois: Tancredo teria tomado secretamente um jatinho para encontrar Tião em Las Vegas e negociar seu retorno ao país. Ciente da importância histórica desse encontro, o milionário de Passos disse que recebeu o presidente eleito usando um terno de tecido especial, todo entremeado de fios de ouro.

O longo outono o agitado final dos anos 1980, o candidato à presidência Leonel Brizola foi cortejá-lo na Austrália. Os apresentadores Amaury Jr. e João Doria Jr. gravaram entrevistas

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para a televisão. A cada reportagem, novos negócios, novos bilhões e novos casamentos. Seu visual extravagante inspirou ao menos dois personagens de novelas globais: o milionário Sérgio, em Louco Amor, e o coronel Sinhozinho Malta, em Roque Santeiro. Especulou-se até que um famoso jornalista brasiliense teria sido contratado para escrever sua biografia autorizada. Em 1993, surgem as primeiras notícias de que algo não ia bem. Um AVC levara do pecuarista a memória e a saúde. Ao voltar para o Brasil, depois de décadas de ausência, era uma sombra do mítico empresário. Tião Maia recolheu-se em seu último refúgio – um confortável apartamento no bairro de Higienópolis, em São Paulo – entregue a longas sessões de fisioterapia e fonoaudiologia. Por vezes, era visto tomando sol na praça Buenos Aires, onde poucos o reconheciam. Morreu em 5 de março de 2005, aos 89 anos. Apesar dos muitos casamentos, Tião não teve filhos. Suspeita-se que as crises de malária nos anos duros da década de 1940 tenham lhe roubado essa possibilidade. Quem deu continuidade à tradição pecuária da família foram seus irmãos mais novos, Juca e Garon. Um sobrinho que o acompanhara desde a saída do Brasil, Aramis Maia Patti, assumiu a gestão dos negócios nos EUA e na Austrália. No início deste século, a concessão da Lawn Hill Station retornou ao governo. Parte das terras foi incorporada ao parque nacional Boodjamulla e o restante da fazenda é hoje um projeto federal direcionado à oferta de oportunidades de trabalho para descendentes do povo waanyi. TP

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