The President

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Nº 39 agosto | setembro 2019 celso la pastina

jean-Marc pontroué, CEO da Officine panerai: Renovando a Tradição Por r aphael calles Nº 39 agosto | setembro 2019

celso la pastina

presidente do grupo la pastina world wine

ago | set 2019 nº 39 R$ 28,00

ele aposta na vitória do vinho no Brasil

revCapa TP39 1

especial varejo: Um raio-x do mercado

chitra stern e a volta das férias em família

listamos os melhores serviços de streaming

baby pignatari, o playboy que dava duro

por fernando paiva

por dagomir marqu e zi

por andré borges lopes

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World WIne, onde o EU posso se encontra com o EU mereรงo. C

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ESTE PRODUTO ร DESTINADO A ADULTOS

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20 Anos

Seus melhores momentos merecem os melhores vinhos. Â Â Â? Â? Â? Â?

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e d i to r i a l

À primeira vista, o brasileiro Celso La Pastina e o francês Jean-Marc Pontroué não têm nada em comum além do fato de serem executivos. Um é proprietário de uma importadora. O outro, CEO de uma marca de alto luxo que produz relógios. No entanto, Celso e Jean-Marc trabalham no mesmo diapasão: renovar empresas de atuação tradicional, adequando-as às demandas do mundo atual sem lhes alterar a essência. Celso, 60 anos, comanda uma companhia fundada em São Paulo por seu pai, o italiano Vicente, há 72 anos. A La Pastina começou em uma área de 200 metros quadrados. De lá para cá, enfrentou, estoica, a euforia e os reveses dos planos econômicos, súbitas mudanças fiscais e até acusações de queimar as divisas do país. Hoje, sua sede soma mais de 11 mil metros quadrados. Além disso, desdobrou-se na World Wine, adaptando-se à recente febre brasileira por vinhos. Jean-Marc, 42 anos, está há um ano e meio à frente de uma empresa que, ao longo de mais de um século, teve um único cliente: a Marinha italiana. Só a partir de 1993 a Officine Panerai passou a vender seus preciosos relógios ao público. Hoje, se estabilizou como marca de prestígio, com um entusiasmado número de colecionadores. Assim como a La Pastina e a Panerai, THE PRESIDENT se pauta pela tradição, sem abdicar de se renovar. Os assuntos abordados nesta edição, mais uma vez, revelam essa dupla direção. Aqui estão textos que reveem o passado, como o de Alex Solnik sobre as agruras dos presidentes com seus parentes na história da República (aliás, magnificamente ilustrado por Baptistão). Ou o de Roberto Muggiati acerca dos 50 anos do filme Easy Rider. Ao lado deles, outros apontam para o futuro, como o de Dagomir Marquezi sobre os serviços de streaming. Ou as surpreendentes mudanças de Milão registradas por Giuseppe Ceccato e a câmera de Marcelo Spatafora.

novos tempos Celso La Pastina, da La Pastina, e Jean-Marc Pontroué, da Panerai: renovando empresas tradicionais

Boa leitura.

andré cheron E fernando paiva Publishers

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expediente the president Publicação da Custom Editora Nº 39

publishers André Cheron e Fernando Paiva

REDAÇÃO Diretor editorial Fernando Paiva fernandopaiva@customeditora.com.br diretor editorial adjunto Mario Ciccone mario@customeditora.com.br redator-chefe Walterson Sardenberg So berg@customeditora.com.br ARTE EDIçÃO Raphael Alves raphaelalves@customeditora.com.br prepress e tratamento de imagens Daniel Vasques danielvasques@customeditora.com.br COLABORARAM NESTE NÚMERO TEXTO Ana Maria Bahiana, Alex Solnik, André Borges Lopes, Dagomir Marquezi, Flávia Pegorin, Françoise Terzian, Giuseppe Ceccato, Mauro Marcelo Alves, Renato Lombardi, Raphael Calles, Roberto Muggiati, Roberto Sadovski e Sergio Crusco Fotografia Marcelo Spatafora e Tuca Reinés Ilustração Baptistão Revisão Goretti Tenorio Capa Celso La Pastina foi fotografado em São Paulo por Tuca Reinés THE PRESIDENT facebook.com/revistathepresident @revistathepresident www.customeditora.com.br

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COMERCIAL, PUBLICIDADE E NOVOS NEGÓCIOS Diretor executivo André Cheron andrecheron@customeditora.com.br diretor comercial Ricardo Battistini battistini@customeditora.com.br Gerentes de contas e novos negócios Marcia Gomes marciagomes@customeditora.com.br Northon Blair northonblair@customeditora.com.br ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Analista financeira Carina Rodarte carina@customeditora.com.br Assistente Alessandro Ceron alessandroceron@customeditora.com.br REPRESENTANTES REGIONAIS GRP – Grupo de Representação Publicitária PR – Tel. (41) 3023-8238 SC/RS – Tel. (41) 3026-7451 adalberto@grpmidia.com.br Tiragem desta edição: 35.000 exemplares CTP, impressão e acabamento: Coan Indústria Gráfica Ltda. Custom Editora Ltda. Av. Nove de Julho, 5.593, 9º andar – Jardim Paulista São Paulo (SP) – CEP 01407-200 Tel. (11) 3708-9702 ATENDIMENTO AO LEITOR atendimentoaoleitor@customeditora.com.br Tel. (11) 3708-9702

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sumário agosto | setembro 2019

132 brasil Não é de hoje que os parentes botam água no chope dos presidentes

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56 VISÃO

88 ESPECIAL

120 LUXO

Sophie Turner, a menina que cresceu e virou

Especialistas no varejo analisam

Há séculos as pérolas enfeitam os

mulher aos olhos da multidão

as perspectivas e os desafios do setor

pescoços mais poderosos do planeta

62 AUDIÇÃO

para este ano e o próximo

Algum serviço de streaming combina à

96 Entrevista

perfeição com seu gosto musical. Escolha

Celso La Pastina, importador de vinhos

68 PALADAR Kennedy e Churchill usavam os jantares oficiais para fazer política – e conquistas

74 OLFATO Breve, mas inebriante, história dos perfumes clássicos masculinos

82 TATO

e alimentos finos, está otimista quanto aos rumos do Brasil

104 NEGÓCIOS O objetivo de Jean-Marc Pontroué, CEO

126 CULT Easy Rider mostrou que um filme barato pode mudar a história do cinema

140 VIAGEM Ex-pobre menina rica, Milão se transforma numa cidade moderníssima

da Officine Panerai, é aprimorar ainda mais

146 IMPRENSA

os já ótimos relógios da marca

Quando a Vanity Fair era leitura obrigatória

112 MEMÓRIA

sobre as celebridades (e entre elas)

Baby Pignatari era playboy, bon vivant,

154 opinião

Os idos em que os falsários Donato e

arruaceiro e mulherengo, mas nas horas

O dilema de um CEO entre ouvir seus

Walmir davam nó em pingo d'água

vagas construiu uma fortuna

colaboradores e tomar uma decisão

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co l a b o r a d o r e s

capa

capa

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Ele é chef de cozinha – e já comandou restaurantes em Tiradentes e Belo Horizonte, sua terra natal. Jornalista, esteve à frente do Guia Quatro Rodas e de revistas como Gula. Escritor, publicou um livro sobre vinhos e outro sobre cachaça – para ficar em apenas dois deles. Mauro é nosso assíduo colaborador. Coube a ele entrevistar Celso La Pastina, importador de vinhos e alimentos, capa deste número.

Quem seria o repórter ideal para entrevistar Jean-Marc Pontroué, CEO da Officine Panerai? Logo encontramos a resposta na jovem figura de Raphael, um dos raros jornalistas brasileiros especializados em alta relojoaria. Duas vezes por ano ele vai à Suíça, no inverno, para participar, em Genebra e na Basileia, das duas feiras mais importantes do setor. Foi lá que conheceu Pontrué, uma das capas desta edição.

De uns meses para cá, o estúdio de Tuca fica no mesmo prédio, no bairro do Itaim-Bibi, em São Paulo, onde está instalada a Custom, editora de THE PRESIDENT. A vizinhança aumentou ainda mais a proximidade com este fotógrafo premiadíssimo, com imagens no acervo de museus mundo afora e livros publicados pela Taschen, na Alemanha. Mais uma vez ele clicou uma de nossas capas. Desta feita, o empresário Celso La Pastina.

visão

AUdição

tato

De tão aficionado por cinema, ganhou o apelido de Nerdovski. Sempre bem-humorado, assumiu a alcunha. Jornalista e crítico de cinema, comandou por mais de uma década a revista Set, onde se destacava pelos conhecimentos da sétima arte e o texto fluente, mas também pela barba ruiva. Em paralelo, chefiou outra revista, a Sexy. Autor do e-book Cem Filmes para Ver e Rever... Sempre, é titular de um blog na UOL.

Quando se iniciou no jornalismo cultural, escreveu, ousado, sobre temas que, aos olhos conservadores, não mereciam tamanha consideração. Fotonovelas e programas de auditório, por exemplo. Parte desses ensaios, Dagô, como os amigos o chamam, publicou no seu primeiro (e pioneiro) livro Auíka! (Proposta Editorial). Quatro décadas depois, ainda antenado com a cultura pop, preparou um esclarecedor guia sobre o streaming.

Italiano de Nápoles, chegou a São Paulo aos 7 anos. Começou na imprensa como office boy – “dizia-se então contínuo” – do jornal Última Hora. Ali mesmo iniciou-se como repórter de polícia, passando mais tarde a O Estado de S. Paulo, onde permaneceu por 25 anos. Desde 2004 faz bem-sucedida carreira na TV. Em um hiato nostálgico, voltou às pretinhas (leia-se ao teclado) para rememorar a época dos grandes falsários.

MAURO MARCELO ALVES

ROBERTO SADOVSKI

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RAPHAEL CALLES

DAGOMIR MARQUEZI

TUCA REINÉS

RENATO LOMBARDI

© acervo pessoal

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luxo

FLÁVIA PEGORIN

Jornalista e escritora, trabalhou em Quatro Rodas e Galileu, entre outras revistas. Dona de fino humor, é uma das Garotas Que Dizem Ni, grupo de mulheres que esteve à frente de blog, livros e uma coluna em Época. Ela se define: “Sou mãe da Sabrina e da Olívia, dona de um passaporte muito usado, estranhamente fã de comida de bordo, bússola humana para achar caminhos e alguém que crê no poder transformador de uma bela viagem”.

cult

Roberto Muggiati

Muito jovem ainda, já era repórter em Curitiba, onde nasceu. Uma longa temporada europeia, com escalas em Roma e Paris, levou-o ao serviço brasileiro da BBC, em Londres. De volta ao Brasil, foi, no decorrer de décadas, diretor de redação de Manchete, além de um dos mais ativos e lúcidos jornalistas de cultura do país. Nesta edição, escreveu sobre os 50 anos de um filme que mudou Hollywood: Sem Destino.

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brasil

brasil

ALEX SOLNIK

BAPTISTÃO

Escritor, compositor e poeta, mas, sobretudo, jornalista, iniciou-se na profissão no tabloide Ex. Estudante de cinema na USP, entrou na redação, naquele início dos anos 1970, para divulgar um recital das próprias poesias. Hamilton Almeida Filho, um dos redatores, tão jovem quanto ele, propôs que escrevesse o texto de próprio punho. Começava uma carreira de quase meio século nos principais órgãos de imprensa do país.

Este paulistano ganhou cinco vezes o troféu HQMix como o melhor caricaturista brasileiro. Papou prêmios até no exterior, incluindo o do World Press Cartoon, de Portugal, e o da Teheran International Cartoon Biennial, do Irã. Pois é, do Irã, onde tem até livro lançado: A Book of Portraits (Hich, 2009). Começou a publicar em 1985, na Folha de S.Paulo. É ilustrador de O Estado de S. Paulo desde 1991.

imprensa

especial

O jornalismo cultural sempre foi a praia desta carioca – sim, apesar do gentílico do sobrenome –, que se iniciou na profissão no Rolling Stone, em 1972, então um tabloide. Há 32 anos radicada em Los Angeles, escreve sobretudo sobre cinema. É uma das duas brasileiras da Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, e, como tal, vota no Globo de Ouro.

Jornalismo de negócios é a área em que mais atuou esta paulistana com curso de extensão em economia na Fundação Armando Álvares Penteado e pós-graduada em estudos sulcoreanos pela Seoul National University. Ao longo de sete anos, trabalhou em O Estado de S. Paulo. De lá seguiu para o Valor Econômico e, mais tarde, para a Forbes. Nesta edição, foi ouvir especialistas do varejo.

ANA MARIA BAHIANA

FRANÇOISE TERZIAN

© acervo pessoal; Paulo vitale

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h ospedag em P o r f e r n a n d o pa i va

a viagem do afeto Com Chitra Stern, do grupo português Martinhal Family Resorts, as férias familiares em hotéis de luxo readquirem um novo charme

A edição irlandesa da revista Tatler foi certeira: ela é a responsável por tornar as férias em família um luxo novamente. Chitra Stern, um dos nomes mais respeitados da hotelaria e do mercado imobiliário em Portugal, estará no Brasil no fim de setembro – entre outros compromissos, para participar no dia 30 do LuxuryLab, no Four Seasons Hotel São Paulo Nações Unidas. Filha de indianos e a mais velha de seis irmãos, aos 18 ela decidiu deixar Singapura, onde nasceu em 1974, para estudar engenharia eletrônica em Londres. Acabou se formando em consultoria contábil na London School of Economics. Seu primeiro emprego foi na PriceWaterHouseCoopers, onde conheceu o futuro marido, o suíço Roman Stern. Desde 2001 o casal vive em Portugal, onde teve quatro filhos, hoje entre os 8 e os 16 anos. Chitra e Roman criaram o The Elegant Group, detentor da marca Martinhal Family Resorts, que reúne quatro empreendimentos no país: no centro de Lisboa, na vila costeira de Cascais, no Algarve e em Sagres. Um quinto, em Lisboa, juntando residências e educação, está a caminho, com investimento previsto de 70 milhões de euros. Seus empreendimentos hoteleiros são planejados para que pais e filhos aproveitem ao máximo a estada juntos – e separados também. Confira a seguir os principais trechos da entrevista via vídeo realizada com a empresária. Ela se encontra-

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va no Texas, Estados Unidos, com a mãe e os quatro filhos. Estavam visitando tios e primos, imigrantes indianos, em Dallas e Houston. Depois iriam para a costa leste, para assistir à formatura de Roman Stern em mais um de seus cursos em Harvard. Como é essa história de transformar as férias em família num luxo novamente? Chitra Stern: Tive meu primeiro filho em 2002 e sempre gostei de viajar. Durante muito tempo, férias familiares se resumiam aos hotéis mais tradicionais – na praia, na montanha, em estações de esqui – ou a cruzeiros marítimos. Conforme a família foi crescendo, Roman e eu notamos que, mesmo nas redes dos hotéis cinco-estrelas, não havia uma infraestrutura capaz de atender pais e filhos. Se resumiam no máximo a um cardápio especial para as crianças, a uma brinquedo-

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férias Passeio pela Baixa, em Lisboa, e Chitra Stern

teca e a algumas atividades. Que, muitas vezes, separavam os pais dos filhos. O que define hoje “férias em família”? São momentos muito especiais que você precisa preservar. Atividades que possa fazer junto com os filhos e que farão parte da memória afetiva deles. A vida contemporânea faz com que as pessoas se vejam pouco no cotidiano. Daí a importância das férias e de uma programação que junte pais e filhos. Quando se fala num resort à beira-mar, essa filosofia é até compreensível. Mas como ela funciona num hotel como o Martinhal do Chiado, em pleno coração da cidade velha de Lisboa? É óbvio que os pais também precisam de um tempo para eles. No Martinhal temos por exemplo o Pyjama Club, que oferece uma programação infantil específica a partir da noite. Enquanto isso, os pais estão libe-

rados para ver um show, ir à ópera, conhecer um restaurante novo… Você descende de indianos, e a cultura da Índia é muito antiga, muito forte. Que herança você recebeu, nesse sentido? Principalmente os valores relacionados à família. Como você vê, estamos sempre falando dela. Na Índia, as crianças vêm sempre em primeiro lugar. No meu caso, herdei também a admiração pelo trabalho duro dos imigrantes – meu pai foi um deles, meus tios que vivem aqui no Texas são outros. E há ainda a educação, que é muito importante para nós, indianos. Por falar nisso, educação é uma área na qual vocês estão investindo. Sim, pois a educação é uma das maiores condições para a atração de investimentos estrangeiros. Assim que decidimos viver em Portugal, eu pretendia morar no Parque das Nações. No entanto, percebi que não existem escolas internacionais ali perto para as crianças. Há em Lisboa o Liceu Francês, a

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Escola Alemã e a Redbridge School – mas no Parque das Nações não havia opções. Atrair empresas e instituições para Portugal requer uma oferta de escolas internacionais – só assim as famílias podem vir. No Parque das Nações, estamos desenvolvendo não apenas o Martinhal Residences como um polo, um hub voltado para a educação. Era ali, aliás, que funcionava a antiga Universidade Independente de Lisboa. É verdade que o The Elegant Group, que controla a marca Martinhal, surgiu como um típico “negócio de garagem”? Sim, começou na garagem da casa que alugamos em Lagos, no litoral sul. Em 2001 Roman e eu estávamos em Londres, onde havíamos nos conhecido em 1998. Durante o meu MBA procuramos vários modelos de negócio para investir. Em 2001, chegamos finalmente a Portugal. Na área do turismo, um grupo de investidores nos apresentou projetos na Croácia e em Portugal. Naquela época, Portugal integrava a União Europeia havia mais de 15 anos, a Expo 98 já tinha acontecido, e tudo isso mudara o país. Portugal era um país a ser descoberto… Exatamente. Havia bastante capital disponível nos fundos para infraestrutura. Porque é importante notar que, sem infraestrutura, o turismo não consegue se desenvolver. As companhias aéreas low-cost, por sua vez, estavam chegando ao país. Tudo isso iria mudar o turismo na Europa. Nós tínhamos encontrado aqui um

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país fantástico, com gente simpática, extremamente hospitaleira. Eu ainda não conhecia Portugal. E gostei demais. Uma comida maravilhosa, praias de areia branca, ar limpo. Tudo fantástico. Curiosamente, Portugal era, naquela época, um dos destinos mais desconhecidos da Europa Ocidental… Sim. Foi quando resolvemos comprar a casa em Lagos e abrimos o escritório na garagem. Em dezembro de 2001, encontramos a Quinta do Martinhal. Fizemos então uma proposta aos donos, que eram suíços. Tudo começou dessa maneira. Fiquei grávida do meu primeiro filho em dezembro de 2001. E então passamos a pensar num conceito novo em hospitalidade. martinhal.com

eba!!! Atendimento personalizado e o Pyjama Club no hotel do Chiado

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Salame com borda de pimenta Seara Gourmet: Com maturação de 60 dias, a peça é produzida a partir de paleta e toucinho suínos. A borda tem tripa de tecido importado da Alemanha com pedaços de pimenta preta.

Lombo Tipo Canadense Seara Gourmet: Com sabor único, é produzido com partes nobres da

Camarões embrulhados em salame Seara Gourmet

carne suína. Cada peça é submetida a um cozimento de 5 horas para, em seguida, ser defumada naturalmente.

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Mistura fina Penne com mozarela e lombo canadense Seara Gourmet

Confira receitas fáceis com os produtos Seara Gourmet: Salame com borda de pimenta e Lombo tipo Canadense Receita 1

Camarões embrulhados em salame

Penne com mozarela e lombo canadense TEMPO 45 minutos I PORÇÕES 2

Tempo 20 minutos I Porções 2

Preparo fácil

Preparo fácil

INGREDIENTES

› 8 camarões grandes › 8 fatias de Salame com borda de pimenta Seara Gourmet › 1 ninho de macarrão cabelo de anjo, cozido al dente › Óleo para fritar

› 250 g de macarrão tipo penne › 4 colheres (sopa) de azeite › 1 colher (chá) de suco de limão siciliano + raspas › ½ xícara (chá) de folhas de manjericão fresco › 1 colher (chá) de pimenta do reino moída › 150 g de mozarela bolinha › 200 g de Lombo tipo Canadense Seara Gourmet em cubos › 1 punhado de azeitona preta sem caroço e cortada em pedaços pequenos

Para servir

Molho Tártaro ou molho Ranch Preparo

Cozinhe o macarrão em água fervente até ficar al dente. Escorra. Enrole cada camarão em uma fatia de Salame com borda de pimenta Seara Gourmet. Prenda com um palito. Enrole cada camarão em um punhado de macarrão cabelo de anjo cozido. Frite em óleo bem quente e deixe escorrer em papel toalha. Sirva em seguida acompanhado do molho (Tártaro ou Ranch).

PARA HARMONIZAR

A clássica cerveja Pilsen vai muito bem com a combinação entre o camarão e o salame. Para o penne com lombo, arrisque – e acerte – com uma Dopplebock, a versão mais forte da Bock tradicional.

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Receita 2

Preparo

Em uma panela grande, cozinhe o macarrão em água fervente até ficar al dente. Escorra e passe na água fria, deixe drenando por alguns minutos e tempere com sal e pimenta do reino. Em uma vasilha pequena, faça um molho, misturando o azeite e o limão. Acrescente o Lombo tipo Canadense Seara Gourmet e os outros ingredientes. Ajuste o sal na hora de servir. Sirva quente ou frio.

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tem po Por r aphael calles

Duplo metal O novo Datejust 41, da Rolex, combina com perfeição aço e ouro branco

muita classe Os ponteiros percorrem o Blue Azurro (o fundo azul)

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A graça aqui é a mistura de materiais. Melhor ainda se for identificar qual parte do relógio é de ouro, qual fração é de aço. Claro que olhares treinados, de primeira, vão saber o-que-é-o-quê. Só que o tom de mistério torna tudo ainda mais glamouroso. Essa mescla se chama Rolesor e já integra a linha da Rolex desde os anos 1930. O Datejust 41 se orgulha de ser o que é: um clássico, com um excelente tamanho para pulsos masculinos. Um charme extra é adicionado ao mostrador por causa dos indicadores romanos de ouro branco, deliciosamente divididos em terços. A quarta hora está indicada por IIII e não por IV, para proporcionar uma gentil harmonia aos olhos. Há ainda uma janela de data às 3 horas, com a lente de aumento Cyclops sobre ela. A dança das horas e da data acontece sobre um plano de fundo azul. Ou melhor, Blue Azurro, com um acabamento em estilo de raios solares. Sua extremidade apresenta uma trilha que facilita a leitura precisa dos minutos. Que, por falar nisso, é superlativa. Isso significa que este Rolex proporciona uma precisão duas vezes maior que o assegurado pelo COSC – o órgão de controle oficial suíço de cronômetros. Como arremate, a pulseira Oyster combina robustez e conforto. Além disso, garante um ajuste preciso ao pulso do usuário. O sistema Easylink permite uma extensão de até cinco milímetros sem a necessidade de ferramentas. rolex.com

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e v ento

O campeão da web Capa de THE PRESIDENT 38, Clóvis Souza, da Giuliana Flores, apresenta sua história de vida e empreendedorismo Para celebrar sua edição 38, THE PRESIDENT realizou um evento em homenagem ao empresário Clóvis Souza, fundador e CEO da Giuliana Flores. Aconteceu em dia 12 de agosto, no espaço Itahy, no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo. Souza foi nosso personagem de capa. Depois de um coquetel, os convidados assistiram a uma palestra do empreendedor, que hoje domina 70% do mercado de flores na internet. Souza abordou o início de sua carreira, ainda criança, e toda a coragem de empreender e aprender com o mundo digital.

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u m a au l a d e

empreendedorismo 1. Jamile Amorim, Maria Rita de Cacia Souza e Barbara Poletti; 2. Rui e Sandra Dzialoschinsky; 3. Clóvis Souza; 4. Max Pedroso de Morais; 5. Clóvis Souza e Carmen Takada; 6. Ricardo Oda, Meire Oda, Maria Rita de Cacia Souza, Julia de Biase, Clóvis Souza, Carolina Scansani e Mariana Carreño; 7. Herbert Santos Costa, Luciano Piologo Neto, Felipe Souza, Maria Rita de Cacia Souza, Clóvis Souza, 7.

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Jamile Amorim, Jesus Henrique, Jefferson Souza, Barbara Poletti e Ricardo Battistini

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PA R C E I R O S

da j o r n a da O evento contou com o apoio de World Wine, Seara Gourmet, Tirolez, Roberta K, Blondine, Massas Pissani, Orfeu Cafés Especiais, Natural One, DaCasa Gastronomia, List Eventos, Carlos Paszko, Maïs Pura Snack Saudáveis, Giuliana Flores e Espaço Itahy

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r e spo nsa b i li da d e so CIAL POR RAP H AEL C ALLES

Em prol das crianças Diversos setores da sociedade se organizam para angariar recursos para o hospital pediátrico Pequeno Príncipe, de Curitiba

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Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR), é o maior do país na área de pediatria. Oferece às crianças 32 especialidades. Em 2018, realizou 305 mil atendimentos ambulatoriais, 21 mil cirurgias e 23 mil internações, seja via SUS, particulares e também por convênios médicos. O ano de 2019 marca o primeiro centenário do hospital, que é mantido por meio de doações organizadas pelo setor privado e também pessoas físicas. Nos últimos nove anos, jantares de gala promovidos pela instituição permitiram a arrecadação total de cerca de R$ 10 milhões, revertidos para melhorias do hos-

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pital. Os eventos ocorrem tanto em diversas cidades do Brasil quanto em Nova York, nos Estados Unidos. Nomes como Daniele Giacomazzi Behring e Amalia Spinardi Thompson Motta estão entre as apoiadoras. Elas movimentam suas redes de relacionamento para fortalecer a participação da sociedade no evento. O chef de cozinha Claude Troisgros assina um dos pratos servidos durante os jantares. Também mobiliza outros chefs conhecidos para cozinharem ao seu lado. Importantes marcas de luxo também se engajam na causa. “Quem doa quer apoiar uma instituição eficiente, transparente e com projetos resolutivos”, diz

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Instalado em Curitiba (PR), o maior hospital pediátrico do país é mantido por diversos apoiadores. Entre eles, a Montblac, que, entre outros altruísmos, cede suas canetas para leilões

José Álvaro da Silva Carneiro, diretor corporativo do Complexo Pequeno Príncipe. “Com o passar dos anos, nossos apoiadores foram nos apresentando a outros empresários, ampliando a rede.” Entre as empresas estão Montblanc, Jack Vartanian, Casa Leão, IWC e Cartier. Elas se engajam com doação de peças para um leilão especial ou com a doação de uma parcela das vendas ao Complexo Pequeno Príncipe. Neste ano, a alemã Montblanc participou duplamente. Para o evento de gala de Nova York, que acontecerá em outubro, a maison doou um set de duas canetas Meisterstück Le Grand Solitaire da coleção O Pequeno Príncipe, em conjunto com uma edição especial da obra de Antoine de Saint-Exupèry em papel-bíblia e capa de couro. O comprador ainda receberá uma viagem para Hamburgo, na Alemanha, onde visitará a manufatura da empresa, o Museu Montblanc e assistirá a uma apresentação da Filarmônica de Hamburgo. Além disso, a marca destinará 5% da venda líquida no Brasil de todos os produtos da coleção Meisterstück Pequeno Príncipe para o hospital infantil de Curitiba. “Estamos felizes em colaborar com esta instituição, que construiu uma história admirável e chega agora ao seu centenário”, comenta Michel Cheval, presidente da Montblanc Brasil. Uma das recentes conquistas do hospital foi a abertura do Laboratório Genômico. Criado inicialmente para apoiar as pesquisas, hoje também atende aos pacientes em tratamento no serviço de oncologia. Em um ano de funcionamento, foram realizados mais de 6 mil exames genéticos, que permitem o diagnóstico precoce e a definição da terapia a ser adotada. Para colaborar com o Hospital Pequeno Príncipe: doepequenoprincipe.org.br

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d i g ita l P o r F r a n ço ise T e r z i a n

Um mundo de aventura Para atender os apaixonados pelo universo 4x4, a Mitsubishi Motors lança o MundoMIT, uma plataforma de conteúdo que liga o virtual às experiências do real No universo off-road, a Mitsubishi Motors sempre foi pioneira. Já em 1937, por exemplo, lançava o PX-33, primeiro carro 4x4 produzido no Japão. A marca detém ainda o título inédito de 12 vezes campeã no Rally Dakar, a competição fora de estrada mais exigente, extenuante e casca-grossa do planeta. E criou verdadeiras lendas da indústria automobilística, como o Pajero e a L200. No Brasil há 27 anos, a Mitsubishi já vendeu mais de 700 mil veículos – em sua grande maioria 4x4. Agora, a marca traz mais uma inovação. Trata-se do MundoMIT, uma plataforma digital completa, com informação apurada por um time especializado de jornalistas. Cabe a eles garimpar e traduzir como

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ninguém tudo o que se relacione ao espírito 4x4 entre as aventuras dos seus embaixadores, os ralis proprietários e tudo o que orbita o tema. Essa plataforma, feita sob medida para os amantes de um estilo de vida outdoor, é a primeira entre as montadoras brasileiras. O portal funciona como uma grande central de conteúdo direcionado a quem utiliza ou pretende utilizar seu veículo com todo o seu potencial como um facilitador de experiências únicas. Todos os

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ralis da marca se fazem presentes, com calendário de etapas e resultados: Mitsubishi Motorsports (de regularidade), Mitsubishi Outdoor (de estratégia, com atividades esportivas e tarefas culturais) e Mitsubishi Cup (competição de velocidade cross-country), trazendo um olhar informativo e exclusivo sobre os eventos. O que ajuda a desmistificar a ideia de que rali é uma prova apenas para profissionais. A bordo de um SUV Pajero Sport, por exemplo, é possível vivenciar um fim de semana incrível – sem jamais ter participado de qualquer competição. Os passeios Mitsubishi Expedition e os cursos de pilotagem off-road Driving School e Advanced também fazem parte do cardápio. Além disso, dicas detalhadas sobre trilhas, viagens e passeios estão presentes. Atualizado diariamente, MundoMIT também traz a experiência de leitores que se aventuraram com seus 4x4 pelo mundo por meio da seção Viajantes, compartilhando dicas, erros, acertos e aprendizados. Nela, os Mitsubishi Lovers também

Fique de olho No alto, o surfista de ondas gigantes Carlos Burle no lançamento da plataforma MundoMIT em São Paulo. Acima, prova de corrida durante etapa do rali Mitsubishi Outdoor no autódromo Velo Città: o portal é um ponto de encontro para quem tem na aventura seu estilo de vida

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Mitsubishi lovers Na equipe Mitsubishi Spinelli Racing: Guiga Spinelli, Youssef Haddad, Edu Costa e Bruno van Enck; abaixo, o surfista Everaldo Pato e sua familia

poderão enviar imagens das viagens. Reportagens sobre gastronomia, cultura e a vida dos grandes aventureiros – de ontem e de hoje – também estão na pauta. Ou seja: valorizar gente que coleciona experiências em vez de acumular bens. “Cada dia mais, as pessoas estão buscando mais ser do que ter – e é justamente isso que a gente propõe com o MundoMIT”, sintetiza Fernando Julianelli, diretor de marketing da Mitsubishi Motors do Brasil Nessa linha de pessoas que valorizam o ser em detrimento do ter, o portal abre espaço para os embaixadores da marca que têm o espírito 4x4. Além da biografia de cada um, você irá acompa­ nhar novidades na vida de gente como os sur­ fistas Maya Gabeira, Carlos Burle, Yago Dora, Adriano de Souza e Everaldo Pato. Também es­ tão entre eles o escalador Felipe Camargo e do especialista em esportes adaptados Fernando Fernandes. Vale ainda seguir a família do fotó­ grafo Guilber Hidaka em suas viagens por luga­ res tão diferentes e selvagens quanto a Patagônia argentina, o Pantanal mato-grossense e o deser­ to de sal de Uyuni, na Bolívia, entre outros.

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O conteúdo exclusivo do portal, enfim, trará, além de reportagens e roteiros, muito material audiovisual na seção MIT TV. MundoMIT nas­ ce com a proposta de se revelar um hub entre os clientes de modelos 4x4 e tudo que se relacione com a cultura off-road e outdoor no Brasil. Um ponto de encontro da comunidade Mitsubishi que conecta as ex­ periências do mundo real com o universo digital, incluindo Instagram, Facebook e YouTube. Isso explica o sucesso do portal em seu primeiro mês de vida. “Tive­ mos 25 mil acessos no site e conquistamos 153 mil seguidores no Insta­ gram nesse curto espaço de tempo”, conta Julianelli. mundomit.com.br

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Já em seu primeiro mês de vida o portal MundoMIT se revelou um sucesso e tanto. Teve 25 mil acessos e rendeu 153 mil seguidores no Instagram

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OS 5 sentidos v i s ão

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Queen of

thrones

Estamos acostumados a vê-la desde os 13 anos. Uma década depois, a atriz Sophie Turner é uma (bela) mulher dona de si

Por Roberto Sadovski

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agenda lotada Aos 26 anos, ela faz de 20 a 25 shows por mês

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Sophie Turner tinha 13 anos quando colocou os pés pela primeira vez no set de Game of Thrones. Uma década depois, a atriz tornou-se um retrato exemplar das celebridades na cultura pop moderna. Coleciona 15 milhões de seguidores no Instagram. Dedica-se a causas sociais. É voz relevante na defesa dos direitos das mulheres. Declarou sua sexualidade ambígua. E não hesitou em subir ao altar em junho deste ano para dizer “sim” ao cantor Joe Jonas. Tudo isso a olhos vistos, revelando uma beleza cada vez mais aliciante, deixando para trás a adolescência e abraçando a maioridade sob os holofotes, ante milhões de fãs. A tal “maldição dos atores mirins”, que condenava à obsolescência dezenas de artistas que conheciam o sucesso antes ainda de o rosto pipocar de espinhas, nem chegou perto. Tudo isso com um currículo magro e pouco expressivo. Atuar, no caso, é mero detalhe.

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MOMENTOS DISTINTOS Poderosa como Sansa em Game of Thrones e no cartaz de Meu Outro Eu, sua estreia – um tanto decepcionante – no cinema

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ascida em Northampton, na Inglaterra, em 21 de fevereiro de 1996, Sophie teve educação refinada e já se preparava para os palcos ainda criança, ao ingressar na companhia de teatro Playbox, voltada para o ensino das artes. Quando a HBO começou a buscar o elenco para Game of Thrones, a atriz se candidatou – e acredita que ficou com o papel de Sansa Stark por ter mais seguidores nas redes sociais do que sua rival. “Ela era melhor, mas o Instagram me deu a vantagem”, relembra. A série começou a ir ao ar em 2011, e Sophie teve acompanhamento de um tutor no set até o ano seguinte. Loura, tornou-se ruiva para viver a personagem, que começa tímida e passiva, crescendo ao longo de oito temporadas até se tornar uma das potenciais herdeiras do Trono de Ferro. Sophie entendeu a importância de Sansa e, na medida do possível, injetou fartas doses de ambição, violência e independência em sua personalidade. LIZ TAYLOR E LINDSAY LOHAN nquanto Game of Thrones avançava, o mundo prestava atenção não só na atriz, mas em todo o núcleo jovem da série. Entre a apatia de Isaac Hempstead Wright (intérprete de Bram) e a fúria de Arya (Maisie Williams, que se tornou uma de suas melhores amigas), Sophie conseguiu destaque ao equilibrar seu próprio amadurecimento com a escalada da personagem. Se muita gente torceu (e torce) o nariz para Sansa, é inegável que ela se destacou entre dúzias de heróis e vilões da rocambolesca trama. Boa parte dessa conquista se deve não só ao seu evidente carisma, mas também à sua habilidade de, fora do set, cultivar uma personalidade em sintonia com seus fãs e com as causas por eles defendidas. Tal militância desperta simpatia até entre os detratores de sua personagem. Uma decisão esperta que ajudou a enfrentar o peso de perder parte dos anos de formação para a atenção que vem com a fama.

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Sophie bem poderia aproveitar o sucesso em Game of Thrones para buscar papéis de relevo. Em seus anos como Sansa, porém, ela apareceu em produções inexpressivas, não raro feitas para o mercado de streaming, com pouca (ou nenhuma) visibilidade em tela grande. Meu Outro Eu foi sua estreia no cinema. Nesse suspense espanhol, interpreta uma adolescente assombrada pela visão de uma jovem idêntica a ela. Sophie diz ter aceitado o papel por enxergar um paralelo em sua própria vida, pois teve uma irmã gêmea que morreu no parto. A aventura Escola de Espiões nem sequer lhe deu crédito de protagonista – este ficou para Hailee Steinfeld, que também se tornou uma amiga próxima. A rigor, a prioridade de Sophie não era construir uma carreira no cinema. Mas entender como funcionam as engrenagens do mundo de uma celebridade no novo século. Assim, mesmo com trabalho escasso, jamais deixou de ser destaque na mídia. A exposição aumentou ainda mais ao entrar no universo dos X-Men.

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Outras atrizes sofreram ao passar a adolescência em frente às câmeras. Sophie, ao que tudo leva a crer, tirou de letra essa experiência

A série dos mutantes da Marvel já havia experimentado reinvenções ao chegar ao cinema em 2000. Quando Primeira Classe foi lançado, em 2011, os produtores da série investiram num elenco jovem, que ganhou o marco zero com Dias de um Futuro Esquecido, de 2014. Sophie Turner foi escalada para uma nova fase iniciada dois anos depois, com Apocalipse. E não como coadjuvante: seu personagem seria a mutante Jean Grey, telepata de poderes sem limite, que aos poucos desperta para seu potencial. É impossível não enxergar uma conexão com os objetivos da própria estrela, que viu na série da Marvel, mais uma vez, a chance para tratar de questões importantes como o poder das mulheres na nova configuração de Hollywood depois da revolução disparada pelo movimento #MeToo. Com X-Men, Sophie ganhou uma nova plataforma para representar, como uma atriz jovem na idade e na indústria, a ideia de que as mulheres podem (e devem) ter mais representatividade na frente e atrás das câmeras. Foi com essa disposição que ela desembarcou no Brasil em dezembro do ano passado para divulgar seu segundo filme da série X-Men, Fênix Negra, em que sua personagem se tornaria o centro da trama. A seu lado, outra defensora dos direitos das mulheres: a atriz Jessica Chastain. A conversa sobre Fênix Negra retomou os paralelos do poder representado pela escalada cósmica das habilidades da heroína – e de como tudo poderia ser encarado como uma alegoria às mudanças na participação feminina na indústria. A certa altura, Chastain aplaudiu a colega por representar uma nova geração de artistas que, embora tenham crescido sob o olhar do público, desenvolveram uma relação saudável com a fama, sem nunca depreciar seu próprio trabalho ou danificar sua vida pessoal.

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A história nos mostra que para cada Elizabeth Taylor, que brilhou aos 11 anos em Lassie – A Força do Coração e se tornou uma das maiores estrelas da história de Hollywood, há trajetórias sinuosas como as de Shirley Temple (tornou-se uma adulta taciturna) e Judy Garland (morta aos 47 anos em virtude dos excessos). Nos idos mais recentes, há casos como os de Jodie Foster (jamais saiu de cena desde o sucesso como a prostituta adolescente de Taxi Driver) e Natalie Portman (alçada à condição de estrela ainda pré-adolescente em O Profissional, conduziu a carreira com inteligência, ganhando o Oscar por Cisne Negro). Em contrapartida, Lindsay Lohan passou de queridinha das produções Disney quando criança a adulta problemática, com passagens pela prisão e internações em clínicas de reabilitação. Já Jake Lloyd, o Anakin Skywalker de Star Wars: A Ameaça Fantasma, sofreu bullying depois do sucesso e abandonou a carreira. CONTROLE DO FUTURO alvez o fascínio por astros mirins no novo século tenha diminuído, assim como a carga pública sobre eles. Nos dias de hoje, um artista que amadurece aos olhos da multidão raramente é considerado um caso peculiar, e sim parte da tapeçaria da indústria pop. Talvez acompanhar todo o elenco da série Harry Potter passar de crianças a jovens adultos ao longo de quase uma década tenha ajudado. Ou quem sabe a exposição em redes sociais venha aliviando o impacto de crescer sob o microscópio público. A impressão é que a fama não é mais só uma consequência do trabalho, mas elemento fundamental para alavancar outros trabalhos que essa turma desenvolve do lado de cá das câmeras. É uma geração que nasceu conectada, fotografada, exposta. Trabalhar como atriz é só mais um elemento de uma equação bem mais complexa. Sob esse aspecto, Sophie Turner parece ter entendido as regras do jogo à perfeição. Para ela, o trabalho é uma peça em um quebra-cabeças de várias partes que constrói uma persona pública – talvez um escudo que proteja, paradoxalmente, sua própria intimidade. Afinal, com tanta exposição, o que mais qualquer um teria a esconder? Até o momento, é bem verdade, ela não mostrou um trabalho de grande impacto artístico. Game of Thrones chegou ao fim. Já X-Men: Fênix Negra foi um absoluto fracasso nas bilheterias – e a série dos mutantes ensaia agora um reboot completo, resultado da compra da Fox (que tinha os direitos cinematográficos da série) pela Disney (que é dona da editora Marvel). Enquanto isso, a bela adolescente de cabelos ruivos e olhos translúcidos tornou-se uma mulher dona de si, independente e com o controle firme de seu futuro. Vai ser interessante observar, mais uma vez, como ela conduzirá a jornada. TP

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dESABROCHOU Com o marido (o cantor Joe Jonas), estrelando X-Men: Fênix Negra e ainda garotinha, no set de Game of Thrones. A menina virou mulher

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Guia do

streaming Tudo o que você precisa saber para escolher e contratar um serviço de música na internet

Por Dagomir Marquezi

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Você é fanático por música? Agora imagine-se como tal no século 18. Morando em Viena, vai assistir a um raro concerto público do jovem compositor Wolfgang Amadeus Mozart. Tem a sorte de ouvir aquele sublime conjunto de notas musicais. Assim que o concerto acaba, no entanto, a música desaparece no ar. A não ser que você saiba tocar algum instrumento, continuará sem música até o próximo concerto. As músicas desapareciam no ar até o início do século 20. Foi quando as pessoas começaram a comprar discos (78 RPM, quebráveis) e a ouvi-los quando quisessem (três minutos de cada lado, som mono). Depois veio o LP (25 minutos de cada lado, som estéreo). Na década de 1990 a música foi digitalizada, e coube nos 63 minutos de um CD. Em seguida, o MP3 bagunçou o mercado musical.

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ntão veio o século 21. Com ele, o apreciador de música conheceu o paraíso. Se antes pagava R$ 35 por um único CD (chegando a R$ 100 por um importado), agora ele pode ter, na prática, todos os CDs do mundo por cerca de R$ 15 ao mês. E a qualidade do som gravado atingiu um grau de perfeição inédito, que dificilmente será superado. Entramos nessa segunda década do século 21 surfando no oceano do streaming, esse fluxo contínuo de arquivos digitais por meio da internet que dispensa qualquer mídia física, como disquinhos prateados ou USBs. Onde há internet, há música. Cada computador, tablet e celular pode virar um player. E os fornecedores de streaming se multiplicam. Muitos já estão disponíveis no Brasil, enquanto outros se preparam para entrar. Alguns oferecem o serviço de graça. Não importa o seu gênero de música preferido - da parada pop ao folclore do Nepal, do trash metal a óperas - toda música do mundo está ao seu alcance. Os serviços e aplicativos podem ser avaliados por duas variáveis: interatividade com o ouvinte e qualidade sonora. Interatividade - Existem os serviços ativos e os passivos (sendo que as duas categorias muitas vezes se misturam). Os passivos (como o RadioTunes) funcionam mais ou menos como os canais musicais dos sistemas de TV por assinatura. Já nos sistemas ativos (como o Spotify) você controla o que quer ouvir. Pode reunir músicas em playlists, formar uma coleção de álbuns, criar lista para caminhar, namorar, cozinhar etc. Pode inclusive baixar músicas para ouvir quando estiver offline. (Mas não é a mesma coisa que dar download de MP3 em uma pasta. Os aplicativos é que “incham” de tamanho com as músicas baixadas.) Qualidade - A maioria dos serviços oferece música no formato MP3. Geralmente na medíocre definição de 128 kbps (com publicidade) para serviços gratuitos, e na bem razoável taxa de 320 kbps (sem interrupções) para quem quer pagar por um som melhor. Mas em matéria de qualidade sonora a grande novidade - ainda desconhecida por muita gente - é o chamado lossless. Em geral, uma gravação musical é compactada (com perda de definição) quando se transforma num arquivo MP3 ou mesmo num CD. Lossless significa “sem perda”. Ou seja, o som que chega pela internet é praticamente igual ao que foi gravado. Ah, sim, o aproveitamento total desse padrão depende da qualidade do seu sistema de som. Ou pelo menos de um bom par de headphones hi-def (de “alta definição”). Mas até num simples fone de celular você nota a diferença. Para atingir esse novo patamar de qualidade é preciso, claro, uma boa conexão de internet.

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tidal

TOP TEN DO streaming Aqui e nas próximas duas

Spotify

páginas, selecionamos os 10 principais

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o streaming mais conhecido do mundo. Nasceu na Suécia e hoje é a grande referência no setor. Seu acervo é o mais completo e variado. O serviço Premium permite reprodução em qualidade máxima de 320 kbps - e nada de alta definição por enquanto. Quem sabe o que quer, acha (quase tudo) no Spotify. E quem quer sair da zona de conforto encontra playlists como “As 50 mais tocadas na Islândia” ou uma parada de reggae árabe. Música brasileira, clássicos e jazz também são muito bem servidos. Assinatura individual Premium - R$ 17 Plano familiar - R$ 27

serviços de streaming musical disponíveis no Brasil. Os preços são mensais.

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utra companhia que teve início na Escandinávia - no caso, Noruega. Foi comprada pelo rapper/produtor (e marido da Beyoncé Knowles) Jay-Z. Seu acervo é bem mais modesto do que o do Spotify. Em contrapartida, a qualidade de som em modo Master (lossless) impressiona, justificando o preço. Seu visual dark é o mais cool do mercado. Outra vantagem: o Tidal apresenta uma ficha técnica de cada música gravada. Premium - R$ 17 (MP3 320 kbps) Hi-Fi - R$ 34 (qualidade de CD ou lossless)

Tanto eles quanto os repertórios estão sujeitos a alterações.

idagio

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erviço made in Germany voltado só para a música erudita. A variedade de compositores e artistas é uma de suas principais características, mas seu acervo ainda precisa crescer. Maestros e instrumentistas são apresentados como astros pop. Inclui vídeos de músicos falando de suas performances e contando histórias de bastidores. Seu acervo reúne (sem exclusividade) gravações de sete dos mais importantes selos de música erudita: Deutsche Grammophon, Sony, Decca, Warner, Erato, Harmonia Mundi e ECM. A navegação é rica de opções. Standard - R$ 15 (MP3 320 kbs) Premium - R$ 20 (Lossless FLAC)

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jango

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erviço passivo, na linha do RadioTunes e do Accuradio. Por um lado, a qualidade sonora aqui também deixa a desejar. De outro, o Jango apresenta dezenas de novas possibilidades, algumas bem exóticas, como pop africano, mexicano, irlandês, filipino, sueco, tango, música para viagens, música para dormir, jantar ou até curtir dor de cotovelo. Grátis

accuradio

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a linha passiva do RadioTunes, tem qualidade de som inferior, mas se destaca pela criatividade dos canais - que somam quase mil opções. Localizado em Chicago, o serviço oferece canais de músicas de índios americanos, pop francês, new wave, zumba, surf music, gospel, celta, cabaré, canções da Broadway, versões de “A Garota de Ipanema”, covers dos Beatles, rock japonês ou músicas de filmes de espionagem. Grátis

Google Play Music

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odo o poder do complexo Google gerou um player razoável, sem grandes atrativos ou recursos. Sua melhor característica é oferecer upload das músicas que você possui em arquivos MP3. Mas o serviço ainda precisa evoluir muito para se tornar competitivo e justificar sua grife. Premium - R$ 17

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deezer

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Deezer mira nas paradas de sucessos (pancadão, sertanejo, românticas etc). Mas você pode encontrar obras raras no meio de suas 53 milhões de músicas. Vantagem: dependendo do caso, a música é acompanhada da letra. Premium - R$ 17 (320 kbs) Family - R$ 27 (até seis usuários) Hi-Fi - R$ 34 (FLAC 16 Bits)

RadioTunes

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mais sólido serviço passivo. São 461 canais de música em 320 kbps, sem publicidade. (De graça, a qualidade cai para 128 kbps, com interrupções.) Além do RadioTunes “central”, o usuário tem acesso a outros quatro aplicativos: o Rock Radio (com canais como folk rock, grunge, death metal, industrial e trash metal); o Classical Radio (que oferece canais específicos para cada compositor, de Bach a Vivaldi, e gêneros como música medieval e canto gregoriano); o Jazz Radio (que se desdobra em canais como bebop, latin jazz, smooth jazz etc); e o DI-FM (para quem curte música eletrônica com variações como trance, chill out, tecno, drum and bass). Premium - US$ 4

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Apple Music EM TODAS No tablet, Apple Music. No celular, Tidal. No computador, Spotify

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utro aplicativo com nome de respeito, e performance rasa. Funciona em PCs e celulares com Android. Mas falta um webplayer - é preciso ter o aplicativo iTunes no computador. Também traz a letra das músicas. A Apple Music se volta mais para a venda de CDs e faixas avulsas para o consumidor. Individual - R$ 17 Familiar - R$ 25

YouTube Music

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YouTube também é áudio. Seu player tem o toque black do Tidal no visual e o som é bem satisfatório, com 256 kbps. Ainda existem alguns bugs a serem resolvidos. Uma de suas vantagens é estar conectado ao vasto acervo de vídeos do YouTube. Assim você pode procurar uma música e achar também o clipe - ou uma série de apresentações ao vivo. Com alguns ajustes pode se tornar um dos melhores serviços do mercado. Premium - R$ 17 Plano Família - R$ 26

PS - Estes são os serviços mais conhecidos. Mas existem outros bem específicos para públicos de nicho. Como o Anghami, para quem gosta de música árabe, por US$ 3. O JioSaavn, especializado em música indiana (incluindo Bollywood), por R$ 17. O Brain. FM, com música ambiente para você focar, relaxar ou dormir, por US$ 7. O Calm Radio, grátis ou por US$ 7, com músicas para meditação. O Beatport, para DJs profissionais e seus fãs, a partir de US$ 5. Aguarde. Vem muito mais por aí. TP

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PolĂ­tica do garfo e faca Kennedy, assim como Churchill, fazia dos jantares uma cordial maneira de conquista

Por Walterson Sardenberg So

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sangue azul O Stilton lembra o famoso queijo Gorgonzola

NOITE DE GALA O casal Houphouet-Boigny (presidente e primeira-dama da Costa do Marfim) ĂŠ recebido por Jackie e JFK

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Winston Churchill sabia como poucos fazer política com talheres. O premiê britânico costumava receber políticos para almoços e jantares em sua residência oficial da Downing Street, número 10, em Londres. Para isso, contava com o traquejo da mulher, Clementine, e as receitas da cozinheira Georgina Landemare, casada com um chef francês. A estratégia do primeiro-ministro era unir três de suas obsessões: a gastronomia, as bebidas alcoólicas e, sobretudo, a arte de persuadir os convidados. “É bom saber que o estômago governa o mundo”, dizia o premiê de silhueta em meia-lua. Da mesma maneira, o presidente americano John Fitzgerald Kennedy apreciava a política do garfo e faca – assim como admirava o próprio Churchill, de quem era leitor voraz. Nos três anos em que esteve no poder, de 1961 a 1963, ele revolucionou o cerimonial da Casa Branca. Tirou-o do provincianismo carola e abriu as portas para uma era cosmopolita, que os aduladores viviam comparando à Camelot do rei Arthur.

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hurchill teve negócios de importação de bebidas com Joe Kennedy, pai de JFK. Mais tarde, desentendeu-se com ele. Empossado embaixador americano em Londres em 1938, Joe, para espanto de Churchill, apoiava uma solução amigável com Hitler. Ainda assim, seu filho continuou admirando o premiê, a quem conheceu pessoalmente em 1958, a bordo do barco de Aristóteles Onassis – ocasião em que o armador grego cresceu os olhos para Jacqueline Kennedy, com quem se casaria uma década depois. Assim como Churchill, JFK estava bem cercado. A primeira-dama Jacqueline tinha ascendência francesa (e estudara na Sorbonne), trajava-se com elegância e era dotada de tamanha desenvoltura que nela as americanas se espelhavam como se fosse uma estrela de Hollywood. De fato, brilhava como tal. Foi Jacqueline, aliás, quem convenceu o marido a contratar para a Casa Branca o temperamental chef francês René Verdon. Os Kennedy o conheceram no ho­ tel Carlyle, em Manhattan, onde mantinham um apartamento na cobertura. Na época, não havia em Nova York mais de três restaurantes franceses. Costuma-se atribuir a Verdon e a Julia Child (que, depois de morar na França, comandou um programa de culinária na TV americana) a responsabilidade pelo refinamento do paladar nos Estados Unidos. Cuidadoso, o chef francês, muito antes de Michelle Obama, cultivava uma horta impecável na Casa Branca, plantava ervas nos jardins e dava preferência a víveres lo­cais e frescos. Tudo o que viraria moda quatro décadas mais tarde. JFK, criado na região da Nova Inglaterra, se deliciava com pratos como o New England fish chowder (um espesso caldo de peixe). Mas acolheu

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ALMOço dos campeões Churchill e o

de bom grado a culinária de Verdon, enaltecida por frango ao champanhe, costeletas de cordeiro, filet au poivre e sortidos frutos do mar.

general britânico Bernard Montgomery em 1945

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ONZE TÁVOLAS REDONDAS hurchill também admirava a culinária francesa, embora, ao contrário dos Kennedy, preferisse receber em petit comité. Durante a Segunda Guerra Mundial, chegou a dispensar os empregados nos almoços das terças-feiras com o rei George 6º. Optou pelo sistema de bufê. Assim, os dois podiam conversar mais à vontade, sem a presença de terceiros (sim, ele obrigou o rei a fazer o próprio prato). Na mesma época, o primeiro-ministro hospedou-se na Casa Branca e tecia loas à terrível comida perpretada pela inepta cozinheira de Franklin Delano Roosevelt, enquanto, entre uma garfada e outra, convencia o presidente americano a unir esforços no conflito dentro da

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Europa, em vez de, por impulso, retaliar os japoneses pelo ataque a Pearl Harbor. Bem mais festeira, Jacqueline, a quem os amigos chamavam Jackie, aposentou a impessoal e imensa mesa em “U” da sala de banquetes da Casa Branca, muito formal e mais propícia a conferências do que a jantares. Trocou-a por 11 mesas menores e mais íntimas, que permitiam aos convidados ficar mais relaxados, e papear sem receio de ferir o protocolo. Para tornar tudo ainda mais agradável, Kennedy, católico, ousou quebrar cânones dos presidentes protestantes. Liberou o álcool e os cigarros nos banquetes. Doravante haveria drinques antes e esplêndidos vinhos no decorrer do jantar – e não mais ponches aguados e raras taças de vinhos sem expressão.

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jantares com as estrElas O chef René Verdon, seus cardápios em francês e a mesa redonda que Jackie impôs à Casa Branca

do maestro na noite em homenagem a Casals. Ele recordou: “A comida era maravilhosa, os vinhos, deliciosos, havia cigarros à vontade nas mesas, as pessoas riam alto, contavam histórias e piadas, apreciavam a companhia umas das outras. Nunca vi tantos artistas felizes como naquela noite”. Artistas, por sinal, eram muito bem-vindos. Em virtude deles, Jackie mandou fazer um tablado removível de veludo vermelho – a cor dos tapetes de Cannes e do Oscar. Em diversas noites, os jantares eram seguidos por um baile, aberto pelo presidente e por Jackie dançando cheek to cheek. Nancy Tuckerman, chefe do cerimonial, tinha instruções para convidar uma mescla que incluía bilionários, nobres europeus, políticos, chefes de Estado, músicos e astros de Hollywood.

Foi assim na recepção ao príncipe Rainier e à princesa Grace Kelly, de Mônaco. Não bastassem os drinques iniciais e os vinhos, bebericou-se conhaque após a sobremesa, à guisa de digestivo. “Bebida alcoólica na Casa Branca!”, exclamou a manchete de um jornal. JFK, que apreciava scotch e daiquiri, não se apoquentou. Nos demais jantares, a imprensa achou melhor abandonar o ramerrão moralista. O maestro e compositor americano Leonard Bernstein, autor de West Side Story, participara de jantares na Casa Branca ainda antes de os Kennedy se tornarem inquilinos. Por isso, não se entusiasmou ao receber o convite para a recepção a Pablo Casals, em 1961. Sim, admirava o músico catalão e ficou feliz ao saber que ele tocaria seu violoncelo. Mesmo assim, imaginou uma noite formal e tediosa. Antes dos Kennedy, ele lembrou mais tarde, as festas da Casa Branca tinham “comida sem graça, vinhos inferiores e você não podia fumar”. Não admira a surpresa

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GARBO DE PILEQUINHO FK, jovial e boa-pinta, preferia as estrelas. Ele era tão sedutor que a primeira coisa que olhava numa mulher era a irmã dela – e essa não é uma piada retórica, pois o presidente andou arrastando suas asinhas democratas para cima de Lee Radziwill, mana caçula de Jackie. Seu affair com Marilyn Monroe tornou-se notório – e in-

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Na era Kennedy, a bebida e os cigarros estavam liberados. E os vinhos eram de primeira

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cluiu o próprio irmão do democrata, Bob. Sem esquecer os casos com estrelas do quilate de Audrey Hepburn, Janet Leigh e Jayne Mansfield. A última atriz a ser recepcionada na Casa Branca foi a reclusa Greta Garbo. A dama sueca tinha então 58 anos, mas não escapou do proverbial xaveco do presidente. Terminado o banquete, JFK ofereceu-se a mostrar, cômodo a cômodo, a Casa Branca para a estrela de Ninotchka. Foi um anfitrião meticuloso. A noite, todavia, terminou de modo abrupto. Como uma Cinderela improvável, Garbo desculpou-se – “Preciso ir para casa. Estou ficando bêbada” – e retirou-se, com toda a rapidez, para o hotel. Nove dias depois, em 22 de novembro de 1963, um tiro “arrancou o queixo forte” do presidente americano, nas palavras de Nelson Rodrigues, um de seus inumeráveis admiradores. John Kennedy tinha 46 anos. Empossado presidente, o vice Lyndon B. Johnson mudou-se para o casarão georgiano. Verdon continuou no comando da cozinha, mas não suportou as bruscas mudanças de paladar. Johnson e a nova primeira-dama, Lady Bird, preteriam a gastronomia francesa, em favor dos churrascos à texana.

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Verdon jogou a toalha (de linho branco), depois de seguidos contratempos. Sarcástico, comentou que asas de frango ao estilo barbecue não eram o prato ideal para as damas apreciarem com luvas brancas. A gota d’água (Perrier) ocorreu quando lhe pediram purê de grão-de-bico frio para acompanhar o churrasco. Verdon abandonou o cargo — atitude que fez o Washington Post anunciar, em editorial, que este foi o verdadeiro fim da era Kennedy em Washington. TP

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Em busca da

essência A história dos perfumes masculinos não é tão longa. Mas tem muitos clássicos

Por Sergio Crusco

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Quais são e como começaram os perfumes masculinos que se pode chamar de clássicos? Antes de tudo vale lembrar uma viagem, determinante nessa história. O elegante barão italiano Carlo Magnani teve um insight ao visitar Londres na Belle Époque, início do século passado. Na barbearia de Geo. F. Trumper – que funciona até hoje na mesma Curzon Street, desde 1875 –, ele encantou-se com a sóbria atmosfera revestida de mogno, os aparatos com cabo de chifre de búfalo, os kits de barbear encaixados em primorosos estojos de couro. Mais do que tudo, inebriouse com o aroma exalado dentro daquele jardim de masculinidade. Trumper não era apenas um grande barbeiro, cuja clientela estava entre a mais nobre de Londres, mas um dos primeiros empresários europeus a criar fragrâncias exclusivamente para homens. Foi essa a inspiração que Magnani fuçou no ar, possivelmente inebriado com o aroma do perfume Trumpers Extract of West Indian Limes, que a casa britânica mantém em linha ainda hoje, com suas notas vivas de limão. Voltou a Parma com a ideia fixa de também lançar sua marca de perfume.

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quela altura da história aromática da humanidade, perfumes ainda eram substâncias de odor intenso, usadas indistintivamente por homens e mulheres, e próprias para mitigar fragrâncias não tão agradáveis vindas do ambiente ou das pessoas. A atividade do perfumista estabeleceu-se na Europa da Renascença, tendo Paris já como capital. Importunados com o futum, nobres como Elizabeth 1ª, da Inglaterra, e Luís 15, da França, mandavam borrifar perfume por onde passavam, encharcavam-se com as essências da moda. O mundo, francamente, não era o mais cheiroso dos lugares. No século 18, um perfumista italiano expatriado em Colônia, na Alemanha, criou em contraponto uma fragrância delicada, que fez sucesso entre moços e moças que não quisessem causar sobressaltos a quem ousasse aproximar-

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insight O barão Magnani e a barbearia londrina que o encantou

-se de seu cangote. A Água de Colônia, lançada por Johann Maria Farina em 1709, tinha (ainda tem) notas essencialmente herbais, florais e cítricas vindas da laranja, de vários tipos de limão, da bergamota, da cidra. Foi esse perfil que Carlo Magnani perseguiu ao criar um perfume para homens, o Acqua di Parma, lançado em 1916 sem estardalhaço. Magnani era um bon vivant, rico de nascença. Não tratou o assunto como um caso de vida ou morte. Em vez de marquetear seu produto no varejo, escolheu os melhores alfaiates da região como vendedores. É muito provável que a ideia tenha sido “inspirada” na Creed, alfaiataria londrina (mais tarde estabelecida em Paris apenas como perfumaria) que criava aromas para a realeza desde 1760. É de se imaginar que Magnani, um sujeito que sabia das coisas, tivesse passado por lá.

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A estratégia foi bastante simples e por isso genial: o cavalheiro interessado em riscar um novo terno era capturado pelo aroma másculo da Acqua di Parma na oficina do alfaiate. Perguntava de onde vinha aquele pot-pourri de sândalo, alecrim, verbena, rosas e frutas cítricas. Saía de lá com um frasco. Em pouco tempo, boa parte dos grandes alfaiates italianos revendia o perfume. Algumas décadas mais tarde, rapazes bonitões, famosos e capazes de influenciar multidões (bem antes do Instagram) adotaram a Acqua di Parma como seu perfume cotidiano. Eram garotões como Cary Grant e Gregory Peck. Foram seguidos por David Niven, Woody Allen, Jude Law e pelas moças Ava Gardner, Audrey Hepburn e Kate Moss em sua paixão pela fragrância.

CHEIRO DE HISTÓRIA O Acqua di Parma foi precedido em quase dois séculos pela Água de Colônia

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Curiosamente, a marca nunca usou celebridades em sua publicidade. Um cuidado até hoje tomado pelo seu novo detentor, o conglomerado de luxo LVHM, que lançou diversos outros aromas e produtos Acqua di Parma. “Mantemo-nos à distância do endosso de famosos, pois é aí que se entra no mercado de massa dos perfumes da moda”, comentou a CEO italiana da LVHM, Gabriella Scarpa, na ocasião dos 100 anos da marca. “Mesmo assim, recebemos muitos pedidos de celebridades querendo ganhar nossas fragrâncias sem pagar por elas.” JOHNNy DEPP E ALAIN DELON m Google apressado sobre qual o primeiro perfume masculino da história levará ao Pour Un Homme de Caron, em triste sinal de desprezo ao pioneirismo sutil de Trumper, Creed e Magnani. O produto, lançado em 1934 pela célebre casa francesa Caron, na verdade foi o primeiro a explicitar, no nome, o público a que se destinava. O lançamento de Pour Un Homme coincide com a popularização do conceito de perfume para as massas, tendência que se repetiu do outro lado do oceano: o perfume feminino Old Spice foi reconstruído como um produto para homens pela americana Shulton Company e começou a ser vendido no Natal de 1937, com grande sucesso. É popularíssimo até hoje. O mercado da perfumaria (não só a masculina) explodiu no pós-guerra, com casas de alta-costura lançando seus exemplares e alcançando um público amplo. A bola já havia sido cantada por Coco Chanel em 1921, com o Chanel Nº 5: se não fosse possível ter um vestido da grife, comprar um frasco de perfume era um luxo acessível a mais gente. A Maison Chanel aderiu à tendência masculina em 1955, com o Pour Monsieur, com as já tradicionais notas cítricas “masculinas” misturadas à sensação herbal de coentro, gengibre e manjericão. Nessa esteira de sucesso vieram outros clássicos como o Guerlain Vetiver (1961), o Paco Rabanne Pour Homme (1973), o Gucci Pour Homme (1976). Mas nem todos causam até hoje o mesmo frisson

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DUPLA DE DESTAQUE O Armani Eau Pour Homme (1984) é clássico recente. O da Caron remonta a 1934

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do Dior Eau Sauvage (1966), quase sempre um dos primeiros nas dezenas de listas de perfumes masculinos indispensáveis. Além das notas de limão, vetiver, alecrim e musgo de carvalho, o Eau Sauvage contém hedione, molécula sintética cujo aroma lembra o jasmim e que teria o poder, até hoje discutido, de atiçar os hormônios sexuais das mulheres. A publicidade do primeiro perfume masculino da Maison Dior encarregaria-se de despertar paixões ao longo de mais de 50 anos. Na década de 1970, o traço fluido e econômico do ilustrador franco-italiano René Gruau colaborou um bocado com a mítica sexual da fragrância, ao mostrar homens seguros de seu poder de sedução displicentemente despidos no ambiente doméstico. Johnny Depp, em 2018, tornou-se garoto-propaganda da marca. No ano anterior, foi a vez de Alain Delon, com a Dior usando fotos de seus dias de glória, naturalmente.

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A FRAGRÂNCIA DA ARTE Os desenhos de René Gruau para as campanhas do Eau Sauvage são tão clássicos quanto o perfume

A imagem masculina nas campanhas dos perfumes deu o tom durante todas essas décadas, com modelos viris contribuindo para a venda de produtos da linha Polo de Ralph Lauren, por exemplo, lançada em 1978 (entre os quais o verde segue sendo campeão de preferência). Ou a estética fogosamente gay da publicidade de Le Male, perfume do estilista Jean Paul Gaultier, cujo frasco imita o torso de um marinheiro. O PERFUME DE BOND partir dos anos 1990, virou bom negócio para famosos não apenas estar nos anúncios de perfumes, mas ter seu próprio produto ou mesmo uma linha. Entre os rapazes, a tendência foi seguida com sucesso por Antonio Banderas, David Beckham e Justin Bieber. Sem falar em Beyoncé e J.Lo. É dessa banalização que a CEO italiana da LVHM quer fugir quando cita o Acqua di Parma como marca transcendente. Segundo Christian Barker, editor do site Men’s Top Tens, boas fragrâncias mostram-se mais perenes do que qualquer moda, e a

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prova são alguns produtos que sobrevivem, às vezes há mais de século, sem mudar ou com poucas alterações na fórmula. Em sua lista de clássicos (claro, ele fez uma lista), o lançamento mais recente é o Armani Eau Pour Homme, produzido a partir de 1984 – sim, já pode ser considerado um clássico. A verdade é que a escolha de um perfume tem a ver com gostos particulares, com estilo de vida, com quem estamos pretendendo agradar e uma série de outros fatores às vezes pouco tangíveis. Para o escritor Ian Fleming, criador de James Bond, não havia perfume mais sedutor que o Floris Nº 89, lançado em 1951 por outra casa centenária inglesa, a Floris. No entanto, por coincidência, os intérpretes de 007 Roger Moore, Sean Connery e Pierce Brosnan, tão britânicos quanto o agente secreto, preferiram uma fragrância definitivamente forte, o Creed Irish Tweed, da ex-alfaiataria pela qual o barão Carlo Magnani deve ter passado antes de voltar para Parma cheio de ideias.

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n ov i da d e s No universo dos perfumes masculinos, aqui estão candidatos a novos clássicos: Montblanc Explorer, Pepe Jeans London e Moustache

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amos colocar as nossas fichas em três perfumes mais novos no mercado brasileiro. O primeiro deles é o Montblanc Explorer. A famosa marca de canetas, itens de couro e relógios não economizou estilo e elegância na fragrância que leva a sua assinatura. Com o tema de exploração, o produto traz uma viagem a vários cantos da terra para concepção de seus aromas e até da embalagem. Em sua pirâmide olfativa, é possível encontrar frescor da bergamota italiana, o vetiver do Haiti (gramínea tropical, conhecido como tesouro do país) e o patchouli da Indonésia. Para encerrar, a oficina de couro da Montblanc, em Florença, dá o toque final para o glamour da embalagem. Produzida pela Givaudan Flavours, a fragrância está disponível em frascos de 30 ml, 60 ml e 100 ml. O segundo candidato a clássico é o Pepe Jeans London for Him. Trata-se de uma marca de vanguarda na moda internacional e que produz campanhas com Kate Moss e Sienna Miller. Aqui temos um espírito jovem com personalidade muito mais rock’n’roll. Em forma de coqueteleira, o perfume tem uma proposta divertida e que reúne notas como tangerina, abacaxi, essência de lavanda, âmbar, madeira. Disponível em 50 ml e 100 ml. O último perfume do trio é o Moustache Eau de Parfum. Nova versão de tradicional fragrância masculina da Rocha Paris, busca uma linguagem urbana e contemporânea. O frasco tem linhas verticais geométricas e é referência também da alta-costura. Pimenta rosa, cedro, patchouli e benjoim formam as notas dos aromas. Frascos: 75 ml e 125 ml. TP

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Um sete um O falsário Donato vendeu o parque Ibirapuera. Já Walmir falsificava assinatura até de juiz O artigo 171 do Código Penal classifica como estelionato o ato de “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”

Por Renato Lombardi

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Eram hábeis. Observadores. Muito observadores. Um olhar fixo num documento permitia todo tipo de falsificação. Desafiavam a polícia. A cada dia os golpes aumentavam; e os bancos eram as vítimas preferidas. Mas eles também tinham outros focos, como documentos para obter empréstimo ou sacar dinheiro de contas correntes – de preferência dos clientes do Banco do Brasil. Dois deles fizeram parte da literatura policial a partir dos anos 1950. Assim ocorreu com Walmir Vieira de Azevedo, que desafiava os mais habilidosos policiais do país, e José Donato de Araújo, que com sua conversa e documentos falsos vendia terrenos inexistentes e casou-se diversas vezes, para tirar dinheiro das moças incautas. Walmir e José Donato foram dois dos grandes personagens das histórias da polícia de São Paulo. 84

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les iam e voltavam da cadeia. Nem bem saíam e já repetiam os golpes. O paraibano Donato, um sujeito alto, forte e bem educado, nascido na cidade de Esperança, montara um longo dossiê falso e se dizia proprietário do parque Ibirapuera. Sua primeira vítima foi um vendedor de frutas do próprio parque. Donato se apresentou como o doutor José Donato de Araújo e alegou, indignado, que o terreno onde estava a banca de frutas era dele. Ou o vendedor saía ou pagaria aluguel. Ao ver os documentos, o fruteiro assinou um contrato de locação com o vigarista para pagar na época Cr$ 200 por mês. Foram dois anos até ser descoberto e denunciado. Entre 1949 e 1955, Donato respondeu a 22 processos. Ele não bebia e jamais andou armado, mas usava e abusava do golpe. Em quatro pastas, juntara centenas de papéis com uma procuração falsa de uma paulistana de família tradicional. Os documentos o apontavam como proprietário de 70 mil metros quadrados, região que abrangia as avenidas República do Líbano, Quarto Centenário, Rubem Berta e Ibirapuera. Seus domínios incluíam imóveis particulares e até a área no bairro do Paraíso onde estava o então QG do 2º Exército, hoje Comando Sudeste. Vários imprudentes compraram parte do parque – que, até 1954, era um grande matagal –, acreditando num boom imobiliário prometido

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CELEBRIDADES Donato na Última Hora, de São Paulo, em 1962, e Walmir na Veja, em 1977

pelo falsário. Com uma fração do dinheiro recolhido pela “venda”, Donato adquiriu o navio São Pedro, do armador Uraquitá Bezerra Leite. O construtor descobriu o golpe. Mas não conseguiu recuperar o navio. Donato o vendera como sucata. Ao longo da vida, o falsário, que se iniciou como entregador de leite em São Paulo, chegou a ser proprietário de fazendas, hotéis e transportadora.

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almir Vieira de Azevedo, nascido em Montenegro (RS) em 1935, era chamado de “O Rei” dos falsários. Era também “O Professor”, “A Raposa”, “O Homem da Caneta”, perito em forjar todo tipo de documento. O resultado era tão perfeito que muitas vezes havia necessidade de um perito para distinguir o verdadeiro do falso. Walmir foi procurado em quase todo o Brasil. Em uma de suas prisões, fugiu de modo magistral: falsificando o alvará de soltura e a assinatura do juiz. À época, Walmir cumpria pena na Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo. Conseguiu transferência para o sistema penitenciário paranaense. Acabou levado para Curitiba. Ali, na presença do juiz, respondeu sobre os golpes que aplicara de maneira simultânea em diversas agências do banco. Falsificara ordens de transferência de dinheiro de contas de empresas para contas correntes de pessoas físicas. Na audiência, no Fórum Central de Curi-

tiba, Walmir observou que, enquanto não começava a sessão – por causa do atraso de um de seus advogados –, o juiz adiantava o expediente e assinava uma série de documentos. O falsário estava a poucos metros da mesa e não tirou os olhos dos papéis. Depoimento tomado, Walmir voltou para a penitenciária à espera de ordem de retorno para São Paulo, o que demandava algum tempo. Conseguiu um papel timbrado do Tribunal de Justiça do Paraná e preparou um alvará de soltura, falsificando a assinatura do juiz. A mesma que vira o meritíssimo repetir diversas vezes. Com a artimanha, foi colocado em liberdade. A bomba estourou quando o juiz se viu inquerido, pela Delegacia de Capturas de São Paulo, que queria saber por qual motivo havia soltado Walmir.

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magistrado negava com veemência ter determinado a liberação do falsário. Ao examinar a sua própria assinatura, ficou em dúvida. Será que, por distração, tinha assinado aquele alvará em meio à documentação do expediente, sem ler? Um detalhe chamou sua atenção. Aquele tipo de folha deixara de ser usada havia tempos pelo Judiciário do Paraná. Ainda assim, o juiz demorou um bocado para ter a certeza de que aquela assinatura, tão perfeita, não era dele. Walmir foi recapturado anos depois no Rio de Janeiro. O magistrado paranaense não foi a única autoridade burlada pela caneta da Raposa. Anos antes, em 1968, o falsário deu um golpe de alto quilate na Legião Brasileira de Assistência. Para isso, falsificou a assinatura da

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Sempre muito ousado, Walmir chegou a falsificar a assinatura da primeira-dama Yolanda Costa e Silva, presidente da LBA. E ganhou uma bolada com o golpe

presidente da entidade, a então primeira-dama do país, Yolanda Costa e Silva, mulher do general Arthur da Costa e Silva. O delegado Expedito Marques Pereira, incumbido de descobrir o paradeiro de Walmir – o que tentou por anos a fio sem sucesso –, dizia que os golpes do estelionatário tinham “um toque de genialidade e de megalomania”. Sentiu isso na própria pele em 1969, quando o falsário, por vingança, usou o nome do delegado numa fraude contra o extinto Banco do Estado do Rio Grande do Sul. Foi, por sinal, um golpe de mestre. Na ocasião, Walmir espalhou seus comparsas por cidades gaúchas, com a orientação da hora exata para descontar os cheques falsos. Em seguida, alugou um jato de uma companhia de táxi aéreo e foi, de praça em praça, recolhendo o dindim e os cúmplices, que ia deixando (só os cúmplices) nos aeroportos do caminho. De outra feita, em outro golpe espetacular, recebeu uma alta soma, dia a dia, da Itaú Seguradora, em nome de suas empresas-fantasmas. Walmir amealhou tanto dinheiro que comprou fazendas na Colômbia, em Trinidad e Tobago e na Venezuela. Aliás, graças ao obstinado delegado Marques Pereira, foi preso pela última vez em junho de 1977, em Caracas, onde se hospedara em um hotel com o nome de José Vasco Fagundes, advogado inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. Sim, a carteirinha também era falsa. Preso, contratou para seu advogado outro cidadão suspeito: Leopoldo Heitor, acusado de ter matado e escondido os ossos de uma cliente, Dana de Teffé. A ossada jamais foi encontrada, registre-se.

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O 171 EM REVISTA Walmir em reportagem da Manchete, em 1977

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osé Vasco Fagundes, quer dizer, Walmir começara no crime fraudando carteiras de identidade, certidões de nascimento, atestados de trabalho. Aos 18 anos, foi preso pela primeira vez, ao tentar descontar um cheque falso em Porto Alegre. Depois disso, trabalhou vários anos em bancos. A temporada revelou-se muito útil. Permitiu-lhe conhecer os meandros do sistema bancário. Foi sua universidade. Em sua defesa, dizia: “Nunca tirei um centavo de um trabalhador. Pego de quem tem muito”. Ao longo da “carreira”, a preocupação de Walmir era não mostrar o rosto. Demorou anos para ser fotografado pela imprensa. Nos lugares onde morava, com a mulher, Zilda Gonçalves, e dois filhos, se apresentava como empresário ou dono de cartório. Gostava de usar nomes pomposos como Arnaud Nalmir Drummond ou Daltro Adilson Mátzenbacher. Orgulhava-se de ter um filho médico e outro dentista. Dizia, cheio de brios, que tinham entrado na faculdade por meios próprios, porque haviam estudado muito. Sua “carreira” acabou com a chegada da informática. Os velhos falsários se viram obrigados a deixar os golpes para a nova modalidade: o crime cibernético. O computador disseminou-se. O celular e o tablet deram vez a um novo tipo de criminoso. E o velho falsário, desatualizado, perdeu espaço. Depois de idas e vindas dos presídios, Walmir saiu para o regime semiaberto – e nunca mais se ouviu falar dele. TP

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À espera Com a economi a a i n da m u i t o f r i a , o s e t o r d o va r e j o é o pr i m e i ro a se r pr e j u dic a do e o ú lt i m o a s a i r da c r i s e . M a s a pa r t i r d e 2020 o s t e r môm e t ro s d e v e m vo l t a r a aqu e c e r

da virada Por Fr a nçoise Terzi a n

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R e f l e xo d o l e n t o g a l o pa r d a e c o n o m i a b r a s i l e i r a , o va r e j o a n d o u d e l a d o n o p r i m e i r o s e m e s t r e d e 2 0 19. E , m e s m o c o m a e x p e ct a t i va d a R e f o r m a da Pr e v i d ê n c i a , a s e g u n da m e ta d e d o a n o n ão s e r á de gr a n de s su r pr e sa s. A lgu m cr e scimen to é e s p e r a d o, s i m . M a s n a d a e x p r e s s i vo. “ Q ua n d o a e c o n o m i a a n d a d e l a d o, n ã o h á e m p r e g o, n ã o h á r e n da , a s pe s s oa s c o n s o m e m m e n o s e o e s f o rç o d o s va r e j i s t a s pa r a m a n t e r m a r k e t s h a r e t o r n a- s e a i n d a m a i o r”, o b s e r va M a r c e l o S i lva , p r e s i d e n t e d o I n s t i t u t o pa r a D e s e n vo lv i m e n t o d o Va r e j o ( IDV ). A e n t i da d e , qu e r e ú n e 70 a s s o c i a d o s d e d i f e r e n t e s n i c h o s d o va r e j o, é u m r e f l e xo c l a r o d o q u e a c o n t e c e e m t o d o c o m é r c i o d o pa í s . J u n t o s , s e u s a s s o c i a d o s m ov i m e n t a m R $ 2 7 2 b i l h õ e s .

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expectativa na virada para 2019 era de uma enorme transformação puxada pela mudança de governo. “Mas pouquíssima coisa de fato aconteceu”, avalia Marcos Gouvêa de Souza, fundador da empresa de consultoria GS&MD Gouvêa de Souza e um dos maiores especialistas de varejo do Brasil. “Aqueles elementos que fazem com que o consumo cresça - renda, emprego, crédito e con­fiança - estão muito abaixo do que se poderia esperar. A renda não está evoluindo. O emprego permanece na mesma situação de um ano atrás. Já o crédito teve uma pequena redução de taxa, porém a confiança do consumidor continua baixa se comparada ao pico de 2004 e 2013.” Mesmo diante da melhora da macroeconomia, com inflação e taxas de juros mais baixas, a microeconomia não vai bem. A espera da Reforma da Previdência fez com que muitos aguardassem e poucos investissem. E isso inclui empresas e consumidores. Hoje, na prática, todo mundo tem um parente ou vizinho desempregado e esse cenário é um alerta para não gastar. Com uma parte da população sem gerar renda e a outra receosa ao pôr a mão no bolso, o resultado foi um crescimento pífio no varejo de forma geral, ao longo do primeiro semestre. O maior problema, na opinião de Gouvêa de Souza, refere-se aos 25 mi­ lhões de brasileiros desempregados, subempregados ou desalentados. “Porém, há 8,5 milhões de microempreendedores individuais, que são as MEI. E esse número vai continuar

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anaLISTAS Belusci e Gouvêa de Souza: otimismo sem euforia

crescendo e contribuindo para a transformação do mercado de trabalho”, prevê o fundador da GS&MD. Essa mudança de cenário também será impulsionada pelo crescimento da robotização e da informatização cada vez mais profunda das empresas. Por esses motivos, depois de um primeiro semestre fraco, o segundo registrará, acredita-se, uma leve melhora. “O setor deverá melhorar um pouquinho. Só o fato de crescer já é legal para o varejo”, diz Pompeu Belusci, sócio-fundador da Acelera Varejo, união de varejistas para acelerar o Brasil, e diretor comercial da Di Pollini, do segmento de calçados masculinos. Como experiência pessoal, Belusci conta que tempos desafiadores também são úteis para rever as estratégias. Mesmo em empresas com mais de quatro décadas de história como a Di Pollini, negócio familiar que atravessou inúmeros planos econômicos até se tornar uma referência em sapatos masculinos de couro. “A grande quantidade de shoppings em São Paulo acabou dividindo muito nosso fluxo e nos fez perceber que não fazia muito sentido ter várias lojas tão próximas.” Foi assim que a Di Pollini passou de 23 para 15 lojas entre São Paulo, Campinas, Curitiba e Brasília. Embora forte em shoppings, agora a marca mira novos espaços de rua, já que as lojas que operam nesses ambientes têm demonstrado um retorno bem interessante. Em espaços de 400 a 500 metros quadrados, com estacionamento grátis e segurança, as lojas de rua da Di Pollini performam bem em um tamanho até dez vezes maior que as de shoppings, com direito ainda à Di Pollini Donna, com coleções femininas. Seu e-commerce também avança e já representa quase uma loja física, respondendo por 5% a 6% da receita total. Sem dúvida, há o que comemorar.

O s e s pe c i a l i s ta s e m va r e j o a c r e d i t a m e m m e l h o r a d o pa n o r a m a já n e s t e s e g u n d o semestre

Depois de três anos desafiadores, a Di Pollini deve crescer de 5% a 8% em 2019, podendo chegar a 12%, se houver as reformas esperadas. Já para 2020, diante da expectativa de melhoria do cenário, a previsão é de um salto ainda maior. “A gente sente uma demanda reprimida muito grande”, diz Besluci. “Com a retomada da economia e dos empregos, o varejo terá uma perspectiva de crescimento muito forte.” Seguindo as previsões do Relatório Focus, do Banco Central, o crescimento do PIB brasileiro deste ano deve ser inferior a 1% - segundo a mais recen-

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te previsão, de 0,85%. “No varejo, as empresas tendem a crescer mais, mas este ano os números acompanharão a economia”, prevê Silva, do IDV. Além do ano difícil, fatores como o custo-país e sistema tributário altamente complexo contribuem não só para tornar o jogo mais desafiador, mas também para afastar multinacionais do Brasil, caso do Walmart, que vendeu o controle local para uma empresa de private equity, e da Fnac e da CVS, que deixaram o país. E o varejo, claro, está conectado ao desempenho da economia. Pelos dados oficiais do IBGE, o consumo das famílias em 2018 foi de R$ 4,25 trilhões. O varejo tem um impacto de 62,5% no PIB de R$ 6,8 trilhões. Já o varejo restrito, que exclui carros e materiais de construção, teve 20,42% de impacto no PIB do ano passado, com um volume de R$ 1,38 trilhão. REFORMA DA PREVIDÊNCIA IDV espera que a votação da Reforma da Previdência no Senado seja breve. Com o fim desse compasso de espera, a crença é a de que a economia volte a crescer. Dessa forma, a confiança retornará às empresas, assim como se pode esperar a volta dos investimentos. “É preciso sair do ciclo vicioso e entrar no virtuoso, o que deve acontecer a partir de 2020”, calcula Silva. Depois da Reforma da Previdência e das reformas governamentais, Reynaldo Saad, sócio-líder da empresa de auditoria Deloitte para bens de consumo e produtos industriais, acredita em

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A n ova p r e v i d ê n c i a e o u t r a s r e f o r m a s d e v e r ão fa c i l i t a r o a mbiente de negócios. M as é pr e c i s o e s ta r a n t e na d o à s b r u t a i s m u da n ç a s t e c n o l ó g i c a s

um cenário mais positivo para o país e para o varejo. Afinal, “o varejo é o primeiro que sofre e o último que retoma”, lembra o especialista. A expectativa da FecomercioSP é de que a Reforma da Previdência seja aprovada também no Senado, depois de passar com folga na Câmara. Com isso, outras medidas do governo para estimular a economia poderão ser acatadas, promovendo melhora nas contas públicas e tornando o país mais propício para investimentos internos e externos. A expectativa é que o ritmo econômico do segundo semestre seja melhor. No entanto, a FecomercioSP aguarda por novos projetos, tanto da esfera federal quanto da estadual, que desburocratizem o ambiente de negócios e simplifiquem o pagamento de impostos. Exemplos: a eliminação dos registros e obrigações acessórias e a utilização do valor faturado como base para cálculo, preenchimento e recolhimento dos tributos. Tal como que é feito nos Estados Unidos, na União Europeia e em Singapura. Com todas essas mudanças, o ritmo de crescimento pode passar dos 3% em 2020. TENDÊNCIAS ão é hora de lamentar, mas de se reinventar. Mesmo com a previsão de melhoria da economia para 2020, o varejo está numa encruzilhada, na qual se acomodar pode ser mais nocivo que qualquer crise. O mundo vive uma profunda transformação digital, puxada pela mudança de hábito dos consumidores, pelo rápido avanço dos meios de pagamento e também pelo crescimento da chamada “era da experiência”.

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Diante deste mundo novo, Saad recomenda que se observem, por exemplo, setores de bens de consumo que estão promovendo mudanças significativas, de olho nos desejos do consumidor. Caso de fabricantes que viraram B2C (Business to Consumer) em razão do súbito crescimento dos marketplaces e do e-commerce. Com a concorrência cada vez maior, a transformação digital se tornou imprescindível, assim como a estratégia casada de indústria e varejo. Isso ocorre com a marca Swift, que avança com seus mercados de carne em bairros residenciais. Também vale para a Nestlé Professional, que acaba de inaugurar o primeiro quiosque tematizado do Leite Moça em um shopping center de São Paulo, onde vende receitas feitas com seu icônico produto. O mesmo acontece, ainda, para o Magazine Luiza, que anunciou a abertura de unidades dentro de hipermercados Carrefour para vender eletroeletrônicos, eletrodomés­ticos, TVs e celulares. Até os bancos estão incorporando modelos de varejo. O Santander iniciou esse processo ao transformar uma agência na Espanha em espaço de coworking, com direito até a instalção de um café interno. Quem quiser, pode ir trabalhar nesse espaço e comprar cafés e rosquinhas enquanto usa seu computador conectado ao wi-fi. O conceito chegou ao Brasil e levou até a parceria com a rede Havanna (argentina) para abertura de cafeterias dentro de agências bancárias. Mais do que negociar produtos, a ideia de todos é vender experimentações e fidelizar. É impossível falar em experiência sem citar os crescentes in-

NOVO CICLO Marcelo Silva, do IDV: em busca do círculo virtuoso

REVOLUçÃO Reynaldo Saad, da Deloitte: de olho nas mudanças

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H á q u e m a c r e d i t e q u e daq u i a d o i s a no s a m e ta d e d o s pa g a m e n t o s s e r á f e i t a por meio do celul a r ou d o r e c o n h e c i m e n t o fa c i a l

vestimentos no chamado omnichannel - convergência de canais utilizados por uma empresa, como lojas físicas e digitais. Pesquisa do Forrester Research conduzida este ano aponta que os aportes em canais omnichannel continuam entre os principais investimentos estratégicos das organizações de varejo. Hoje, calcula-se que cerca de 70% dos consumidores em uma loja física pesquisam online os produtos prestes a adquirir. Vale lembrar que, embora seja um campo frutífero em oportunidades, o omnichannel ainda impõe desafios aos varejistas. O primeiro obstáculo é obter exatidão do estoque. O segundo, trabalhar de forma preditiva à demanda. Eis o lado positivo: os varejistas já estão conscientes dos obstáculos e investindo em sistemas de gerenciamento de pedidos. Assim, evita-se ausência ou excesso de estoque. MEIOS DE PAGAMENTO a visão de Gouvêa de Souza, vivemos um período de enorme de transformação. Ela já começou na China e se alastra pelo mundo - ainda não chegou ao Brasil. Mas já há uma efervescência em torno dos avanços dos meios de pagamento. Isso envolve o surgimento de superaplicativos e reviravoltas no ecossistema de pagamentos móveis. “Imagine que, daqui a dois anos, cerca de 50% de suas compras serão pagas com celular e reconhecimento facial”, prevê Gouvêa de Souza. Tecnologia para isso existe e é acessível. Além disso, a familiaridade do brasileiro com celular é grande. Em um determinado momento, o usuário de smartphone vai achar mais conveniente e barato pagar com o aparelho do que usar cartão de crédito, dinheiro ou cheque.

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Belusci acrescenta que a revolução promovida pelos meios de pagamento deve acontecer muito em breve. “Mais e mais fintechs estão surgindo, os bancos digitais vêm ganhando corpo e participação. Enfim, o modelo do futuro aponta para facilidade de utilização e melhor custo”, afirma o empresário. Gouvêa de Souza vai além: “Estamos na iminência de uma enorme transformação”. Segundo acredita, será conduzida por agentes que mudarão as regras do mercado. Os varejistas, nesse caso, vão decidir se pagarão pelo serviço ou se serão detentores do serviço. Para isso, é preciso buscar meta-parcerias como a feita pelo Facebook, que, embora tenha 2,6 bilhões de usuários no mundo, criou uma criptomoeda com outras 28 empresas. Batizada de Libra, essa moeda digital conta com players como Mastercard, PayPal, Uber e Spotify. O intuito da parceira é obter escalabilidade, segurança e credibilidade. O lançamento está previsto para 2020 e possibilitará pagar contas, fazer supermercado e usar transporte público. TP

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ENTR E V ISTA

um brinde ao

c r e s c i m e n to C e l s o L a Pa s t i n a , p r e s i d e n t e d o G r u p o L a Pa s t i n a , u m d o s m a i o r e s i mp o r t a d o r e s d e v i n h o s d o pa í s , c o m e m o r a o a c o r d o M e r c o s u l -U n i ã o E u r o p e i a e o au m e n t o d o c o n s u m o de produ tos pr e m i u m

P o r M au r o M a r c e l o A lv e s

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r e t r ato s t uc a r e i n é s

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Em 1 9 4 7, q ua n d o c o m e ç o u, a i mp o r t a d o r a L a Pa s t i n a a i n d a n ã o i mp o r t ava n a d a . E r a a p e n a s u m a l o j a d e 2 0 0 m e t r o s q ua d r a d o s . H o j e s ã o 1 1 m i l m e t r o s q ua d r a d o s d e

Formado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas, La Pastina passou por momentos difíceis ao lado do pai, falecido em 2013 aos 88 anos. Juntos, enfrentaram na década de 1970 a desconfiança de nacionalistas extremados que não conseguiam ir além de seus narizes ao tentar mirar o mundo. “Quem importava era visto como um criminoso, por estar gastando os dólares do Brasil”, relembra, embora continue a ver como inimigo de seu trabalho a notória burocracia tupiniquim. Nesta entrevista, La Pastina nos conta os primórdios da empresa e a visão atual do negócio. Fala sobre sua expectativa em relação ao acordo Mercosul-União Europeia e queixa-se dos impostos no Brasil. “É um absurdo total!”, resume. Por fim, revela sua esperança de que o brasileiro esteja, em breve, bebendo quatro garrafas de vinho ao ano. E, claro, conta suas preferências pessoais à mesa.

a r m a z é n s , c o m c a pa c i d a d e pa r a r e c e b e r 5 0 0 c o n ta i n e r s . L á d e n t r o , e m s e u c e n t r o d e d i s t r i b u i ç ã o n o b a i r r o d o Ip i r a n g a , e m S ã o Pa u l o , 1 1 m i l p o s i ç õ e s d e pa l l e t s , s e n d o 2 m i l de l a s c l i m at i z a da s, a b r i g a m o s 4 0 0 pro du t o s a limentícios, 400 sob a ba ndeir a L a Pa s t i n a e o s c e r c a d e 2 m i l t i p o s d e v i n h o s d a i mp o r t a d o r a W o r l d W i n e . N o c o m a n d o d a e n o r m e o p e r a ç ã o e s t á C e l s o L a Pa s t i n a , 60 a n o s, 4 0 de l e s n o g ru p o f u n da d o p o r s e u pa i , V i c e n t e .

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THE PRESIDENT _ Fale um pouco da história da La Pastina e do começo da empresa com seu pai, Vicente. A família de minha avó chegou da Itália, foi morar no Brás, e meu pai, como filho de imigrantes, começou dando duro no mercado de verduras da Cantareira em 1933, antes mesmo da construção do Mercado Municipal. Depois, trabalhou para um atacadista de cebola. Com 22 anos conseguiu montar um armazém com um amigo dele. Era o ano de 1947. Ele se iniciou como atacadista na rua Santa Rosa, no bairro do Brás, e ficou lá por 40 anos com um armazém de 200 metros quadrados. Vendia cebola e coco seco. Até que, em 1950, fez suas primeiras importações de batata, da Holanda, ao saber da escassez do produto aqui no Brasil. O primeiro lote que chegou, porém, acabou barrado pelas autoridades,

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sob a alegação de que as batatas tinham fungo. Mas ele prosseguiu assim mesmo. Sim, depois da cebola, do coco e da batata passou a importar especiarias e grãos e, algum tempo mais tarde, a La Pastina tornou-se uma grande exportadora de grãos. Até a chegada das multinacionais do setor, que recrutaram todos os empregados de meu pai. Ele decidiu então se concentrar somente nas importações, focando a linha nobre de cereais, como lentilha, ervilha, grão-de-bico, e também as especiarias. Em certo momento a La Pastina deu um forte salto no mercado. Sim, meu pai tinha um excelente vendedor, Angelo Buonafina, que era espadachim do Clube Pinheiros e treinador da seleção brasileira de esgrima. Ele tinha ótimas relações com as indústrias, como Nestlé, Anglo, Sadia e Refinações de Milho Brasil. Nossa empresa passou a ser fornecedora de cereais e especiarias para elas. Por isso, a La Pastina cresceu bastante, mas em 1973 veio a crise do petróleo, com restrições absurdas à importação, afetando outras linhas de produtos que já tínhamos, como vinhos, destilados, bacalhau, azeites, frutas secas, alho da China etc. Naquela época havia mais burocracia do que hoje? Era mais impeditiva. O governo fazia de tudo para proibir importações e tinha até o discurso de que quem importava era um criminoso, por estar gastando os dólares do Brasil. Isso durou até 1990. Foram 17 anos assim. Para nós, uma eternidade. De lá pra cá melhorou muito e, se a gente não tivesse esses reveses políticos com a esquerda, estaríamos muito mais abertos. Mas tudo é muito burocrático no Brasil, tudo tem de ser declarado, controlado, as etiquetas de um produtinho precisam ter 5 mil informações, indicando se tem glúten, aviso a alérgicos etc. E a gente, que tem um portfólio muito vasto, sofre bastante com isso. Quantos produtos vocês importam? Na La Pastina temos cerca de 800 produtos, entre alimentos e vinhos, e na World Wine, cerca de 2

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mil em vinhos. No caso da World Wine também temos contrato para trazer o panetone Fasano. Os outros produtos com a marca Fasano (massas, molhos) são distribuídos pela La Pastina. E o que representa a World Wine para o grupo, em termos estratégicos? Percebemos que os vinhos premium, de maior valor agregado, já tinham uma demanda no país. Outras importadoras já estavam no mercado e decidimos, em 1999, criar esse canal com foco no consumidor e não na distribuição. No começo atendíamos ao consumidor por telefone e abrimos a primeira loja ao lado da La Pastina, no Brás. Em 2004 inauguramos uma filial nos Jardins. Hoje, temos 11 lojas próprias, em São Paulo e em outros estados, sendo três no Rio e uma em Curitiba. Qual a posição da World Wine no ranking das maiores importadoras de vinhos do país? Estamos entre as cinco maiores deste segmento premium, assim como a La Pastina está entre as cinco maiores em volume de importação. Você concentra os demais vinhos na La Pastina. Sim, vendemos bastante as marcas J.P. Chenet, Baron d’Arignac, Lambrusco Cella. A faixa de preços de entrada representa quase 80% do volume de vendas, mas vem caindo aqui e no mundo inteiro porque os consumidores em geral, e sobretudo os millennials, querem beber menos, com mais qualidade. Esses vinhos citados, como disse, não são muito caros. Era uma estratégia da empresa que foi mudando com o tempo? Sim, estamos quebrando esse tabu. Hoje temos no portfólio, por exemplo, a Emi-

“É d i f í c i l . O v i n h o d e a lt a g a m a c u s t a no Br asil no mínimo o d ob r o d o q u e c u s t a l á f o r a”

liana, do Chile, um projeto super bemsucedido; a Cono Sur, chilena também; e estamos negociando com outros produtores, sobretudo da Itália. Estamos nos dedicando muito ao vinho da Puglia, de onde veio minha avó. Mas meu avô era de Salerno. O nome La Pastina é de Salerno, de Santa Maria di Castellabate, de onde vieram também os Matarazzo. Mas a cultura da família é muito mais pugliese, de Polignano al Mare. O vinho da Puglia não tinha uma imagem boa, comparado aos de outras regiões italianas. Melhorou? Sim, melhorou muito, e o meu vinho 1947, um Primitivo di Manduria elaborado lá para comemorar os 70 anos da La Pastina, é um sucesso de vendas incrível, um case desde que o lançamos há dois anos. O último lote que chegou, da safra 2015 e com um rótulo reestilizado, já está acabando. O vinho é seu principal produto em faturamento? Na World Wine, sim. São 95%. Na La Pastina, não. Ali são 2/3 em alimentos e o restante em vinhos. Algum novo projeto para o grupo? Sim, já temos em formatação um novo projeto para a La Pastina. Como ainda

está muito no início, não posso lhe dar muitos detalhes. Mas posso adiantar que, por meio desse projeto, queremos estreitar o relacionamento com nossos clientes, proporcionar mais conhecimento e respeito das nossas marcas e produtos, e experiências cada mais mais positivas para eles. O lançamento está previsto para 2020. Como o preço de uma garrafa de vinho é calculado? Alguns importadores falam em conversão do preço em euro ou dólar para o real e o resultado é multiplicado por quatro. Confere? Isso mesmo. A tragédia do vinho no Brasil é que 55% do preço vem do imposto sobre a venda. Com os outros 45% preciso pagar o fornecedor, o frete, os 27% de impostos quando ele vem da Europa – não do Mercosul ou do Chile. Tenho de pagar todo o meu custo e ainda preciso ganhar meu dinheiro. Então, o problema do vinho é o imposto sobre a venda, que é um absurdo total. Daí por que o vinho de alta gama custa no mínimo o dobro do que custa lá fora. Um vinho de R$ 200, por exemplo, se você tira 55% sobra quanto? Mesmo assim, acha que o consumo interno tende a crescer? Sim, muito, em todas as faixas. Hoje, o mercado de vinhos finos, sem falar dos vinhos comuns feitos com uvas americanas, é de 200 milhões de garrafas anuais entre importação e produção nacional. Por que não ser pelo menos o dobro? Estamos falando atualmente do consumo de uma garrafa por pessoa ao ano, mas acredito que o potencial é de quatro garrafas por pessoa. Com o país sendo mais aberto, gerando renda e empregos e tendo uma visão mais interna-

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cional, sem dúvida teremos capacidade para atingir as quatro garrafas, ou mesmo cinco, por pessoa. Mas o Brasil continua sendo um país tímido, fechado. Como você vê o acordo MercosulUnião Europeia? Vejo como um acordo fantástico, de um novo mundo se abrindo, com o Brasil entrando em uma nova era e parando de fazer acordos com Cuba, Venezuela, Angola, Moçambique... e passando a falar com gente grande, com consumidores que realmente importam. Acha que vai ter alguma dificuldade em se adaptar? Não, não temo. O acordo para mim, como importador de vinhos, é obviamente ótimo. Seria talvez ruim para o produtor nacional, mas a capacidade de crescimento do mercado é infinita. Além disso, pelo menos da boca pra fora já se diz que o governo vai ajudar o setor nacional a renovar os parques, reduzir os impostos de rolha, de garrafa e de uma série de insumos e também financeiramente para colocar definitivamente o vinho na casa das pessoas. Para que elas tenham acesso ao vinho como uma coisa normal, não como um bicho de sete cabeças. O produtor nacional não vai mesmo sair perdendo? Não, tem muito a ganhar, mas precisa diminuir essa produção de vinhos com uva de mesa, que hoje é de pelo menos 80% ou 90% do total. Sei que é cultural, os imigrantes vênetos têm uma dificuldade muito grande para mudar e muitos proprietários ainda são os fundadores. E outra coisa que complica a mudança para melhor é que a venda de suco de uva é um sucesso, cresce

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“O B RASIL t e m p o t e n c i a l pa r a q ua t r o o u c i n c o g a r r a fa s d e v i n h o p o r p e s s oa ao a n o”

20% ao ano. Mas, pouco a pouco, o vinho nacional vem conquistando seu espaço, e já temos algumas opções de excelente qualidade, sobretudo espumantes. Inclusive, pretendemos ter um vinho nacional muito em breve. Você é jovem, mas já está pensando na sucessão? Sou seis ponto zero e sim, claro, estou pensando, mas é um longo caminho ainda. Sua irmã Vera trabalha com você, em qual área? Na jurídica. E quais filhos? Tenho a Juliana [VP da Word Wine] e o Jeremias, que está cuidando do nosso restaurante Enosteria [no bairro paulistano da Vila Nova Conceição]. A Sophia está na Tailândia há quatro anos trabalhando com cursos de yoga. A mais nova, Amanda, estuda no último ano na FGV. Por enquanto não pretende trabalhar no grupo, o que acho bom, para que ela tenha outras visões de negócio. Minha esposa, Liliane, me ajuda no marketing. Momento pessoal: o que faz quando não está no escritório? Minha maior atividade aqui em São Paulo é ver séries e filmes no streaming

e sou fã do YouTube, porque são vídeos mais curtos e também com cultura, política. Gosto bastante. E adoro, nos fins de semana, acompanhar os esportes. Sou fanático. Principalmente pelos esportes individuais, como tênis e golfe, apesar de não ser praticante de nenhum deles. Tenho um pequeno problema cardíaco e não posso fazer muito esforço. Gosto também de ver corridas de carro e de motocicleta. E quando não está em São Paulo? Curto a minha casa em Campos do Jordão (SP) e acabo de plantar 50 pés de oliveira lá. Estou superfeliz com isso. O que mais gosta de comer? Gosto de comida boa, não tenho preconceito. Obviamente que o sangue italiano fala alto, mas também adoro comida japonesa e gosto muito da francesa, embora ela me canse um pouco, por ser mais proteica. Gosto de comida cajun e também de comida descontraída: sanduíches, cachorro-quente... Quais seus vinhos preferidos? Meus prediletos são os da Borgonha, tanto os brancos como os tintos. Adoro sua diversidade, desde Chablis até Mâcon, passando pela Côte d’Or. Gosto de descobrir produtores artisans, que fazem vinhos excepcionais. Eles saem do vinho burocrático e fazem produtos com vivacidade, com um charme espetacular. Mas em se falando de vinho local com comida local é a Langhe, no Piemonte. Adoro o vinho Gattinara, e o produtor de quem importo, Travaglinni, é de outro planeta. É um vinho mais fácil, que te limpa a boca, e se quiser um vinho mais consistente, tem o Barbaresco. Ou então um Barolo, para aquele jantar especial de 10 talheres! TP

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n egó ci os

r e n ova n d o a

t r a d i ç ão J e a n-M a r c P o n t r o u é ,

C EO d a O f f i c i n e Pa n e r a i ,

n ã o q u e r p r o m ov e r m u d a n ç a s r e vo l u c i o n á r i a s n o s r e l ó g i o s d a m a r c a . “A i d e i a é a p r i m o r a r o q u e já é ó t i m o ”, d i z , s e m fa l s a m o d é s t i a

Por R a ph a el C a l l e s

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A Of f ic i n e Pa n e r a i é u m a c ompa n h i a m u i t o e s pe c i a l . E n ão s e t r ata de e s g a rç a d o c l ic h ê . N e n h u m a ou t r a e mpr e s a de a lta r e l ojoa r i a a pr e s e n ta u m a h i s t ór i a e qu i va l e n t e . B a s ta l e mb r a r qu e , e mb or a t e n h a s e i n ic i a d o e m F l or e nç a , n a I tá l i a , a i n da no a no de 1860, a pe n a s e m 1993 - ­ p orta n t o, h á m e ro s 26 a no s – s e u s r e l ó g io s f or a m of ic i a l m e n t e c ol o c a d o s à v e n da pa r a qua l qu e r i n t e r e s s a d o. A i n da a s s i m, o s e s f orç o s de m a r k e t i ng c on t i n ua r a m de c e rta m a n e i r a t í m i d o s, at é qu e quat ro a no s de p oi s, e m 1997, a Pa n e r a i pa s s ou ao c on t rol e d o c ong l om e r a d o s u íç o R ic h e mon t. S ó e n tão f or a m a b e rta s l oja s e xc lu s i va s m u n d o a f or a . Hoj e , s ão 6 4 b ou tiqu e s. A pr i m e i r a e ú n ic a n a Am é r ic a L at i n a f u nc ion a h á s e t e a no s no S hoppi ng J K Iguat e m i, e m S ão Pau l o.

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A rigor, ao longo de mais de um século, os relógios Panerai foram um segredo de Estado. E, mais uma vez, não se trata de gasta expressão. Eram segredo de Estado porque toda a produção da empresa, no decorrer desse período, destinava-se à Marinha italiana e a seus aliados. Os civis não tinham qualquer acesso. Essa restrição fez com que cada avanço tecnológico e de design dos relógios se desse em nome das necessidades - e não da aparência ou necessidade mercadológica de seguir “tendências”. Era tal como no moderníssimo lema da Bauhaus: “A forma segue a função”. Assim surgiram os dois carros-chefes da Panerai. Em 1936, despontou o Radiomir, uma referência ao material luminescente utilizado nos indicadores dos instrumentos. Quatorze anos depois, foi lançado o Luminor, mais moderno. Hoje, ambos os termos nomeiam as duas mais importantes coleções de seus relógios. Para uma empresa tão especial, um CEO também muito especial. O francês Jean-Marc Pontroué acaba de completar um ano e meio à frente da Panerai. É o primeiro não italiano a comandar a empresa. Substitui o carismático Angelo Bonati, responsável pela notável ascensão comercial da marca e pela conquista de boa parte da legião de mais de 30 mil fãs fiéis, os chamados paneristi. O número é correspondente à população de Neuchâtel, na Suíça, onde está sediada a nova manufatura da companhia, aberta em 2002. Nascido há 42 anos na Bretanha, no extremo noroeste francês, Pontroué visitou Paris pela primeira vez aos 10 anos. Ficou fascinado pelo glamour e a criatividade. “A partir daquele momento, meu

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“a pa n e r a i r e pr e s e n ta u m homem ousado e av e n t u r e i r o ”

foco passou a ser morar em Paris e trabalhar na indústria de luxo”, resume. Ainda muito jovem, cursou a Nantes Business School, que considera uma das dez melhores escolas francesas de administração de empresas. “Todos os alunos eram enviados para intercâmbios no exterior”, relembra. Na ocasião, Pontroué esteve em Columbus, Ohio, nos Estados Unidos. E também em São Paulo e Rio de Janeiro. Quando não está trabalhando, ele gosta de visitar museus, praticar es­portes, ler e ir ao cinema. Adepto da literatura clássica francesa, aprecia, sobretudo, Victor Hugo e Marcel Proust. “Eles me influenciaram um bocado”, diz, lembrando também ser fã de Stefan Zweig, que se suicidou no Brasil, “o país do futuro”, nas palavras do escritor austríaco. Os filmes de Woody Allen são outra das preferências do CEO da Panerai, a despeito das campanhas recentes contra o cineasta americano. Esportista, Pontroué esquia nos Alpes, corre maratonas, pratica mountain bike e adora automobilismo. Admirador de Ayrton Senna, lembrou-se com afeto do piloto brasileiro ao participar recentemente de uma prova no autódromo de Ímola, em San Marino, ao volante de uma Lamborghini. “Meu coração batia mais forte cada vez que eu passava pela curva Tamburello”, confessa.

THE PRESIDENT _ Você se lembra de seu primeiro relógio? Que modelo era? Era uma peça de titânio bem grande feita em parceria com um explorador que não é muito conhecido fora da França. Naquela época, anos 90, ele era como é hoje o Mike Horn, o grande explorador do Ártico. É curioso perceber que eu, hoje, trabalho em uma empresa que fabrica grandes relógios, muitos deles de titânio, e alguns em parceria com Mike Horn. É agradável retornar a um universo parecido com o meu primeiro contato com relógios, de 30 anos atrás. Você acha, pessoalmente, que representa no dia a dia o estilo de vida da Officine Panerai? Penso que o CEO de uma marca deve estar alinhado com os valores e o estilo de vida dela. A Panerai se destaca

pela ousadia e forte identidade. É um produto que tem essência. Além disso, trata-se de uma grife de relógios esportivos. E sou, basicamente, um esportista. Então, sim, estou alinhado com suas características. O que a Panerai significava para você antes de conhecê-la? Acredito que produtos de luxo têm a capacidade de ressaltar a individualidade de cada pessoa. A Panerai representa um homem ousado e aventureiro, que quer – e pode – ir além de seus limites. Era o que eu pensava antes de ser CEO da marca. Continuo pensando assim. Vendemos produtos que expressam forte emoção e, por acaso, indicam a hora. Eles combinam a criatividade italiana com a relojoaria suíça. Isso é absolutamente único no setor.

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Como foi sua chegada ao Grupo Richemont? Trabalhei na indústria do luxo a vida inteira. Sobretudo no setor fashion, antes de mudar para itens de couro e acessórios. Relógios vieram um pouco mais tarde, quando trabalhei no desenvolvimento desse setor na Montblanc, já então nos anos 2000. Daí mudei para a Roger Dubuis em 2011 e hoje estou na Panerai. Você foi nomeado como CEO da Panerai depois de uma longa e bem-sucedida gestão de Angelo Bonati. Angelo é responsável por tudo o que a marca é hoje. Ele investiu em modelos que se tornaram o Submersible, o Luminor Due e na expansão da linha Radiomir. Também passou a produzir na própria Panerai aquilo que antes era fornecido por terceiros. Sem esquecer que foi responsável pelo desenvolvimento de novos materiais. Tudo o que continuamos a ser hoje começou a ser desenvolvido pelo Angelo a partir de 1997. Temos muito a agradecer a ele. Tanto a linha Radiomir como a Luminor são clássicos. Mas como continuar com elas numa época tão ansiosa por novidades? O procedimento da Porsche em relação ao modelo 911 é uma inspiração para nós. O 911 foi criado em 1964. Ao longo desses anos todos, a Porsche foi alterando elementos para fazê-lo diferente do original e também mais tecnológico. Mas a essência do 911 ainda é a mesma. É o que tentamos fazer na Panerai. O produto se torna um ícone, exatamente como o Porsche 911. Quando as pessoas ouvem falar em

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sempr e um

e s p o r ti s ta Jean-Marc Pontroué pratica esqui, mountain bike, automobilismo e ainda corre maratonas

Radiomir, sabem no mesmo momento o que há por trás desse nome. São poucas as relojoarias que contam com isso: um modelo reconhecível e instantaneamente ligado a uma marca. Mas como renovar clássicos como Radiomir e Luminor? A ideia é intensificar ainda mais suas qualidades, como leveza, resistência a impactos, resistência a temperaturas, impermeabilidade, precisão. Cem por cento dos nossos relógios são testados em todas as condições. Mas, quando se trata de incluir novos materiais na coleção, é mais provável que aconteça na linha Submersible. Nela criamos o Bronzo, produzido em bronze, e investimos no BMG, material metálico obtido por um processo de injeção em alta temperatura e rápido resfriamento, que oferece maior resistência e leveza do que o aço. A Submersible repre s ent a o c a mp o de e sp or te s ex­t remos da Panerai. A inovação se encaixa em seu propósito e história. Como é para você ser o primeiro não italiano a estar à frente da Panerai no Grupo Richemont? Estou à vontade. A grande força da Panerai é o estilo italiano combinado

com a tradição da relojoaria suíça. O que fiz até agora foi reconfigurar os produtos existentes, dando a eles uma visibilidade maior. É papel da Panerai continuar contando a mesma história. Não trabalhamos em novas linhas de produtos. Estamos aprimorando cada vez mais o que já era ótimo. Quais são os seus maiores desafios? A Panerai tem em seu portfólio verdadeiros ícones. Tudo nos nossos relógios é reconhecido à distância, sejam caixas, mostradores e até mesmo pulseiras. Somos únicos e nos destacamos. O desafio é trazer inovação, mais exposição, maior visibilidade, mais desejo de consumo, mantendo fielmente os valores da marca e atendendo às expectativas dos clientes. Você já pensou em ter uma posição de trabalho fora da Europa? Neste momento estou exatamente onde preciso estar. Tenho uma posição global na Panerai. Vivo entre a Itália e a Suíça e, de resto, estou sempre viajando ao redor de todo o globo. Tenho a oportunidade constante de estar em contato em mercados como Oriente Médio, Ásia, Américas e Caribe, onde também somos bem representados. Apesar de uma longa história, a Panerai assumiu seu papel comercial apenas no final dos anos 1990. Como tornar a marca cada vez mais conhecida? A Panerai é relativamente jovem com relação à sua atividade comercial. Os primeiros relógios da marca foram apresentados ao público em 1993, mas o lançamento comercial de fato ocorreu só depois de ser adquirida pelo grupo Richemont em 1997. Desde o início, a marca foca em inovação. Essa

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“ i n s p i r o -m e n o p or s c h e 911, qu e e vo l u i s e m p e r d e r a e s s ê n c i a”

era a sua orientação inicial, que permanece até hoje, assim como sua essência, que se mantém intocada. O que muda é que agora a inovação não acontece apenas no relógio. Mas também na divulgação da marca, no serviço e nas experiências que possibilitamos aos clientes. Como são as experiências que o consumidor ganha ao adquirir edições especiais de relógios? Bem, ao adquirir um Submersible Chrono Guillaume Nery Edition 47 mm, ele ganha uma experiência de mergulho com o conhecido recordista de profundidade na Polinésia Francesa. Caso adquira um Submersible Mike Horn Edition 47 mm, tem direito a um treinamento com o explorador em meio às placas de gelo no oceano Ártico. Se preferir um Submersible Marina Militare Carbotech 47 mm, ganhará um dia de treinamento com a elite da Marinha da Itália. Qual é a ideia por trás de oferecer essas experiências? Queremos uma ligação mais próxima com os apreciadores da marca. Eles não terão acesso a essas experiências inesquecíveis em nenhum outro lugar.

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“o b r a s i l e i r o va l o r i z a a l i g a ç ão emocional com a m a r c a”

A indústria relojoeira está evoluindo naturalmente. Graças a essa evolução, se tornou mais e mais importante oferecer aos clientes um valor adicional, que ajude a criar um elo emocional. Agregar experiência do consumidor ao produtor é algo em que acredito. Isso terá um papel determinante no futuro próximo. Como os paneristi acompanharam a mudança de comando da marca? De início, muitos deles estavam preocupados. Temiam que lançássemos uma quantidade imensa de produtos. Depois perceberam que não faríamos nada disso. A rigor, reconfigurei alguns produtos e lhes dei uma melhor visibilidade. Mas sem alterar os valores e o DNA da Panerai. Os paneristi ficaram felizes com essa atitude. O que pensa deles? Desde meu primeiro dia na Panerai, pude ver o quanto nossa marca é afortunada por ter uma relação tão próxima com nossos colecionadores, os paneristi. É uma comunidade motivada, que não para de crescer. Eles são devotos à Panerai de uma forma que nunca vi antes. Quanto mais me encontro com eles, melhor me sinto.

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Você tem planos de expandir a coleção com novos produtos? Uma das primeiras coisas que fiz foi esclarecer que teremos quatro linhas de produtos com códigos estéticos claros e elementos diferenciais: Radiomir, Luminor, Luminor Due e Submersible. No mais recente Salão Internacional de Alta Relojoaria, em Genebra, focamos a linha Submersible. Até então, ela estava inserida como uma subdivisão Luminor. Hoje é considerada uma coleção independente. Bonati, seu antecessor, é um entusiasta da vela. Recuperou o veleiro Eilean, de 1936, e apoiou as regatas de iates clássicos. Você pretende dar continuidade a isso? A Panerai nasceu em função do mundo marinho. A ele pertencemos. É onde está o nosso DNA. O Eilean, claro, continuará a ser um foco para nós. Ele é nosso endereço móvel ao redor do mundo. No mesmo universo marinho, quero destacar nossa parceria com o veleiro Luna Rossa, desafiante da 36ª edição da America’s Cup. É outro projeto importante. A área de pesquisas da empresa, o Laboratorio di Idee, é sempre muito elogiada. Os resultados práticos compensam o investimento? Somos uma das marcas que mais gastam no setor de pesquisa e desenvolvimento. Temos de aceitar que, de cada 50 projetos do Laboratorio, cerca de 47 não são bem-sucedidos, mesmo que custem uma fortuna para serem desenvolvidos. Sem problemas. Continuaremos a seguir nessa direção, pois aqui nascerão as ideias que farão o amanhã. A Officine Panerai foi muito bem acei-

Submersible edição especial Mike HornS

ta no Brasil. Como você avalia o mercado brasileiro? É muito forte e com grande potencial. Brasileiros são consumidores bem informados, sensíveis ao luxo e, em particular, a relógios. Valorizam o relacionamento e as ligações emocionais que desenvolvem com uma marca. Quais são os planos para o Brasil? Esperamos que, tanto no Brasil quanto em outros mercados, a nossa estra-

tégia de distribuição traga crescimento. Estamos muito atentos ao avanço do e-commerce, que está muito no começo mas promete muito. Tanto o varejo quanto o mercado online são muito importantes para mim e para a marca, e é preciso que isso fique claro. Ao mesmo tempo, manteremos o trabalho com os representantes, alguns deles desde o início, como os maiores apoiadores do nosso negócio. TP

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m em ó r i a

B a b y P i g n ata r i

tr abalhou

m u i t o pa r a fa z e r f o r t u n a . M a s n ã o d e i xo u d e a p r o n t a r n a s b oa t e s e d e c onqu i s ta r b e l í s s i m a s m u l h e r e s

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Playboy qu e dava d u ro

Por A n dr é Borge s Lope s

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As areias de Copacabana seguiam cheias de gente naquela ta rde de sá ba do. Er a m a rço de 1958 e, no calor do v er ão, turistas buscava m refúgio nos hotéis. Do na da, o estrondo de fogos de a rtifício, buzinas de automóv eis, uma fa nfa rr a de cornetas e gritos tom a r a m conta da av enida Atl â ntica. A passeata pa rou defronte ao hotel Excelsior. Ma nifesta ntes ca rregava m ca rta zes com a fr ase “Go home, Linda!”. O alvo er a a hóspede Linda Christia n, estrela de cinem a, que já for a serei a num Tarzan de Johnn y W eissmuller e mulher do gal ã T y rone Pow er. Refestela do em um con v ersí v el, o patrocina dor da tr av essur a ga rgalh ava. Baby Pignata ri h av ia conquista do – e agor a dispensava com esta rdalh aço – o cor ação e as curvas da anatomic bomb holly woodi a na.

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os três meses anteriores, paparazzi perseguiram o casal pelas capitais do mundo, entre juras de amor e promessas de casamento. A pouco cavalheiresca separação rendeu páginas da mídia no Brasil e nos Estados Unidos. Por ironia, a repercussão do caso abriu as portas do jet set para o novo latin lover ítalo-brasileiro. O milionário Baby estava no jogo para disputar o pódio de maior playboy internacional com o dominicano Porfirio Rubirosa, o príncipe Ali Khan e o carioca Jorginho Guinle. Carisma, experiência e cacife não lhe faltavam. Matarazzo ma non troppo rancisco Matarazzo Pignatari, aos 42 anos, acumulava duas décadas de sucesso, dividindo o tempo entre as paixões de sua vida: o trabalho como empresário de metalurgia, os esportes e o amor de belas mulheres. Nasceu por acaso em Nápoles, filho de Lydia – oitava dos 13 filhos do conde Francesco Matarazzo – e do médico Giulio Pignatari. O casal teve duas filhas, Olga e Fernanda. Entre elas, o menino Francisco – apelidado “Baby” por uma babá inglesa. No início dos anos 1920, mudaram-se para São Paulo. Morando num palacete na rua Haddock Lobo, os Pignatari viviam com conforto, mas sem a opulência dos parentes nobres. Desde jovem, Baby incomodava-se com o modo com que tios e primos tratavam seu pai, sócio minoritário nas indústrias da família. No início dos anos 1930, Giulio fundou por conta própria uma empresa de laminação de metais. Baby estudava no colégio Dante Alighieri. Alto e atlético, disputava provas de natação e roubava o carro da família para fazer estripulias na avenida Paulista. Aos 17 anos, tirou brevê de piloto escondido dos pais: divertia-se em rasantes sobre as praias de Santos, assustando banhistas. Não mostrava entusiasmo em fazer faculdade. O pai o colocou para trabalhar na fábrica, preocupado em cortar as asas do enfant terrible. Giulio Pignatari faleceu aos 49 anos, em 1937. Mãe e irmãs voltaram para a Itália. Baby teve de assumir a direção da Laminação Nacional de Metais e seus 200 empregados. Não deixou a peteca cair. Seis anos de-

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pois, dirigia o carro no qual Getúlio Vargas circulou pelas instalações do novo complexo industrial da LNM em Utinga, Santo André (SP). Os funcionários já passavam de 5 mil e o ditador ficou fascinado com o dinamismo do rapaz. Baby provara aos Matarazzo que também podia ser um dos grandes. Strani amori os 18 anos a gente adora; aos 20, a gente ama; aos 36 deseja e aos 40 reflete. Eu estava com 22, amava e casei”, contava Baby sobre a união com a italiana Marina Delfino, a Mimosa – arranjada por suas irmãs na Itália. Em julho de 1939, casaram-se em Roma e vieram morar no casarão da família em São Paulo. Um ano depois, nascia o filho do casal, Jú-

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lio César. Baby dormia quatro horas por noite e passava dias longe, na casa que havia construído dentro da fábrica. Nos anos 1940, os negócios prosperavam. Amigo de Assis Chateaubriand (o Chatô), Baby comprou o projeto de um pequeno avião, o monomotor Paulistinha, e montou a Companhia Aeronáutica Paulista. Vendia centenas deles para a campanha “Dê asas para o Brasil”, liderada por Chatô. O mundo estava em guerra, o Brasil precisava de cobre, e Vargas pediu ao jovem empresário que explorasse o minério em Camaquã, no Rio Grande do Sul – além de alumínio em Minas Gerais. Em 1946, Baby mandou seu avião DC-3 particular buscar nos EUA repórteres de revistas especializadas para conhecer o seu império. No ano seguinte, recebia uma condecora-

os encantos

d o l ati n lov e r Com Linda Christian, na boate El Morocco, em Nova York. A conquista acabou em galhofa

ção aeronáutica em Washington. Respeitado como empresário, politicamente influente e multimilionário, Baby pouco via a mulher e o filho. A morte da irmã Olga, em 1945, e da mãe, Lydia, no ano seguinte precipitou a separação. Mimosa voltou para a Itália, levando Júlio, e o casal conseguiu que o matrimônio fosse anulado pelo Vaticano. Após uma década em rédea curta, Baby tornou-se o solteiro mais cobiçado de São Paulo.

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Quatrocentões e carcamanos os intervalos entre baladas no Rio de Janeiro e festas em Punta del Este, Baby armou seu quartel-general na capital paulista. No subsolo do edifício Esther, na praça da República, funcionava a boate Oásis, casa noturna refinada, com decoração modernista e atrações musicais de primeira. Baby ficou conhecido pela fama de brigão, em especial depois de algumas doses. Destruía cadeiras da casa e instrumentos das bandas, quando achava que a música pedida estava demorando. Depois, mandava ressarcir os prejuízos. “Uma vez quebrou o violão de um conjunto e indenizou o dono com 20 contos”, contou a revista A Cigarra. “O violão tinha custado 8 e, daí por diante, todos os músicos querem brigar com Baby.” De outra feita, tentou descer as escadas da casa a bordo do seu imponente Cadillac. Baby era o estereótipo do “carcamano”: um italiano rico, mas sem a sofisticação que os grã-finos da elite cafeeira presumiam ter. Em 1947, o playboy descasado caiu de desejos pela jovem quatrocentona Nelita Alves de Lima – neta de Martinico Prado e filha do presidente do Instituto Brasileiro do Café. Houve resistência mas, como alertara Joel Silveira na revista Diretrizes, “os quatrocentos anos de qualquer Prado ou Leme se derretem nos milhões do conde Matarazzo como manteiga em cima de uma chapa quente”. Três anos depois, a bela Nelita era senhora do ca­sarão da Haddock Lobo. O valentão Baby estava de volta ao cabresto. Ele havia perdido tempo e dinheiro ao assumir uma fracassada fábrica de

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Pa r a a s e g u n da m u l h e r , encomendou a Niemey er u m pa l á c i o, c o m ja r d i n s de burle m a r x. M as o c a sa men to só du rou sete anos aviões em Lagoa Santa. Mas era agora o Rei do Cobre. Mandou erguer no entorno da mina gaúcha de Camaquã uma vila operária com casas de alvenaria, escola, hospital e ginásio esportivo – além de um cinema. “Nunca enfrentei uma greve na vida”, gostava de dizer, esquecendo-se de um movimento que parou suas fábricas em 1946. O industrial foi aos jornais exigir o fechamento do sindicato e a prisão dos “comunistas”. Ele e Nelita circulavam na agitação social do Rio e São Paulo. O casarão do casal ficou pequeno para as festas onde se divertia boa parte do PIB brasileiro. Nas comemorações do 4º Centenário de São Paulo, Baby mandou produzir milhares de lenços prateados com o brasão do evento, lançados de avião sobre a capital. E decidiu dar de presente à mulher um Taj Mahal condizente com sua fortuna. Numa reserva de mata ao lado do rio Pinheiros surgia a Chácara Tangará: um palácio de Oscar Niemeyer, com jardins projetados por Burle Marx. Em 1957, as obras estavam avançadas, mas o casamento naufragou. “Amo minha mulher, mas amo mais minha liberdade”, justificou. Ligou do escritório e pediu à esposa que saísse de casa.

Livre, Baby voltou às suas motos, aviões e lanchas de corrida. “Preciso fazer alguma coisa perigosa quando estou inquieto”, dizia. Nelita nunca aprovou seu amor por esportes radicais. Chatô foi mais direto: “A segunda mulher era uma tirana. Baby almoçava ferro em brasa e jantava água fervente. Eu não viveria com ela nem meia hora”. A Chácara Tangará jamais foi concluída. Nos anos 1990, deu lugar a um conjunto de edifícios. Os jardins estão preservados num parque aberto ao público. Mas o palácio de Niemeyer foi demolido para a construção de um hotel. nariz quebrado oi quando Baby deu início ao que chamou de sua Revolução de 58: “Aos 42 anos, eu tinha chegado onde os filhos dos ricos chegam aos 70. Os negócios podiam marchar sem mim e, além disso, havia o telefone”. Seu novo território de caça seria o mundo. Paul O’Neil, na revista Life americana, disse: “Um playboy internacional precisa atender a certos padrões. Ele tem que ser boa-pinta. Deve gostar de mulheres e ser desejado por elas. Deve dar mostras de uma inquestionável paixão em tudo que faz. Deve ter, como requisitos básicos, uma destacada posição social, charme, bons modos, muito dinheiro e – acima de tudo – sorte. Baby preenche, gloriosamente, todos eles”. O rompimento com Linda Christian deu a ele o que faltava: publicidade. Nos meses seguintes à passeata de Copacabana, encadeou-se em seus braços uma sequência de beldades: a top model francesa Barbara Cailleux, as atrizes italianas Rosanna Schiaffi-

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LA DOLCE VITA Em 1958, em pleno verão romano, uma pose com a Mercedes-Benz conversível

no e Rossana Rory, as hollywoodianas Zsa Zsa Gabor, Dolores Del Rio, Selene Walters, Tracey Morgan, Melissa Weston e, dizem, até a rainha Soraia, ex-mulher do xá do Irã. Embora playboy internacional, Baby decidiu passar o Carnaval de 1959 em Salvador. Em desfeita inacreditável, foi barrado no Clube Bahiano de Tênis – o que não o impediu de ficar noivo de Ana Maria Carvalho, a miss Bahia. Apenas para cancelar o noivado, semanas depois. De novo, por telefone. Baby não tinha paciência com fotógrafos e repórteres. Humilhou Ibrahim Sued ao perguntar quem o havia convidado para uma festa. Na porta da boate Sacha, no Rio, peitou o jornalista Antônio Maria, autor de um artigo que o desagradara. Começou com insultos e terminou em sopapos. Corpulento e também valente, Antônio Maria foi surrado por Baby e dois companheiros. Mas o nariz do playboy nunca mais foi o mesmo. Na masmorra por uma princesa aby evitava confusões com mulheres casadas. Por ironia, a mais exuberante das suas conquistas estava casadíssima quando os dois se apaixonaram esquiando em Cortina d’Ampezzo, nos Alpes italianos, no réveillon de 1960. Virginia “Ira” von Fürstenberg era filha de um príncipe

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S e u av i ão pa r t i c u l a r er a um Electr a. Diziam q u e t i n h a b oa t e , s u í t e e at é m e s m o u m a banheir a de cobre com tor n eir a s de ou ro

austríaco e de uma herdeira da família Agnelli. Em 1955, aos 15 anos, casou-se com o príncipe Alfonso de Hohenole, 16 anos mais velho, que lhe daria dois filhos. O príncipe traído – influente homem de negócios na Espanha e no México – não deixaria barato. Com apoio dos sogros, Hohenole sequestrou os filhos e fugiu para o México. Baby, no encalço das crianças, foi acusado de ser o responsável pelo adultério e de dar um tiro no carro do rival. Passou uma noite na cadeia. Ele e Ira ficaram semanas em um hotel, protegidos por guarda-costas. O playboy queria se casar e viver com Ira, as duas crianças e seu único filho, Júlio César, em uma nova mansão – a Casa das Tochas, que havia erguido em São Paulo. O casamento foi em Nevada, nos EUA, em 1961. Mas os filhos de Ira nunca vieram. Baby gastou milhões com advogados e detetives para rastrear as crianças, que eram transferidas de país para burlar a justiça. Durante mais de um ano, a

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mídia acompanhou o drama do casal apaixonado, morando em um hotel de Paris, de onde acompanhava os processos. Baby tocava os negócios por telefone. Em julho de 1963, jogou a toalha. Ira foi avisada por um assessor que Baby voltara ao Brasil e o casamento havia acabado. “É um homem que sabe perder nos negócios como no amor”, escreveu Chatô na ocasião. Baby Pignatari talvez não concordasse.

traído por um cantor? ivorciada, Ira retomou os filhos e nunca mais pensou em se casar. Tornou-se socialite, modelo e atriz de cinema. Bela e exuberante em seu 1,80 metro de altura, trabalhou em telenovelas e filmes brasileiros nos anos 1970. Fez até uma pornochanchada, dirigida por David Cardoso – com quem teria tido um affair. Processou Baby para conseguir uma pensão. Acabou derrotada.

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CASANOVA À beira da piscina de um hotel em Beverly Hills, de namorico com a top model Barbara Cailleux. E em Paris com a princesa Ira von Fürstenberg, com quem viveu três anos

Baby continuou um bon vivant. Em 1969, aventurou-se na exploração de uma mina de cobre na Bahia. Complicou-se com questões fundiárias, invasão de terras e polêmicas com ministros do governo Médici, que defendiam a entrada de capital estrangeiro no negócio. Sem apoio, teve de entregar suas empresas de cobre para o governo, com enorme prejuízo. São dessa época as lendas sobre seu avião Electra particular que teria boate, suíte e uma banheira de cobre com torneiras de ouro. Baby já estava então nos braços de Maria Regina Fernandes, uma loura mignon 30 anos mais jovem, que conhecera no colégio de freiras paulistano Des Oiseaux. Casaram-se em 1971, num condado perto de Las Vegas. “Ela era novinha, muito agradável, uma criança”, contava o colunista Tavares de Miranda. Regininha reinou em festas e almoços na casa do Morumbi até o fim do casamento, em 1977. Baby acusou a esposa de ter um caso com um cantor. Regina alegou que o lendário conquistador, devastado por uma leucemia, estava impotente. Baby Pignatari morreu em outubro do mesmo ano. Tinha 61 anos. Para os herdeiros – o filho Júlio e a irmã Fernanda –, ficou uma fortuna de US$ 50 milhões. Um terço da herança deixada, no mesmo ano, por seu tio Francisco – sim, aquele que foi o mais rico dos Matarazzo. TP

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luxo

Há milênios

a s pérol a s

r e pr e s e n ta m

p o d e r e e l e g â n c i a . N o s t e m p o s d o p o l i t i c a m e n t e c o r r e t o, t e n d e m a s e va l o r i z a r a i n da m a i s

br il ho de

nácar P o r F l áv i a P e g o r i n

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Moça com Brinco de Pérola, de Johannes Vermeer (1665)

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V i s ta s d e p e r t o, e l a s b r i l h a m d e u m m o d o e n c a n ta d o r , q ua s e h i p n ó t i c o . C o m o u m c a n t o da s e r e i a , a l i c i a m d e m a n e i r a s i n g u l a r . M a i s : i n s p i r a m p u r e z a , e vo c a m c l a s s e . A s p é r o l a s s ão u m s í m b o l o d e r i q u e z a e e l e g â n c i a . E n ão é d e h o j e . H á m i l ê n i o s t r a z e m p r e s t í g i o a q u e m a s e x i b e , s e ja m m a r a já s da Í n d i a o u r a i n h a s e u r o p e i a s . N o q ua d r o m a i s fa m o s o d e J o h a n n e s V e r m e e r ( 16 3 2 -167 5), m a l s e c o n h e c e , pa s s a d o s t r ê s s é c u l o s e m e i o, a i d e n t i da d e da M o ç a c o m br i nc o de pé rol a. M a s tod o s sa be m o qu e e s tá p e n d u r a d o n a o r e l h a da g a r o t a .

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PÉROLAS NEGRAS sso aconteceu em 2006. Um pescador, até hoje anônimo, sobreviveu a uma tempestade. Passada a intempérie, descobriu que uma concha gigante ajudara a prender a âncora do barco. Sim, dentro da ostra escondia-se a pérola gigante. O pescador atribuiu a ela a sorte de escapar da morte. Guardou-a embaixo da cama, como amuleto. Dez anos depois, seu casebre pegou fogo. E o pescador, enfim, sem saber o que tinha em mãos, revelou o achado ao mundo. Valor estimado: US$ 100 milhões. A profissão de mergulhador de pérolas é mencionada em textos de quase 2 mil anos. No Japão, hoje, existem cerca de 2 mil profissionais. Eles descem ao fundo do mar, próximos à costa, sem

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érolas vão além da moda. E é fácil entender o motivo: são atemporais. No mais recente baile do museu Metropolitan fizeram as estrelas brilhar. O vestido da diva Uma Thurman tinha mais de 3 mil delas, enquanto o traje da abusada Rihanna estava incrustado de outras tantas. Nova York desfilou pérolas na festa. E também vendeu algumas das mais caras: em um leilão em Manhattan, no ano passado, o pingente de pérolas de Maria Antonieta (1755-1793), rainha da França, foi arrematado por US$ 32 milhões. Até a virada para o século 20, o único meio de obter pérolas era recolher com as mãos um grande número de ostras ou mexilhões nas zonas costeiras e do fundo de rios ou lagos. O mergulhador precisava encontrar as colônias bivalves, trazer para a superfície, abrir e checar os tecidos internos de cada uma. Antes de tudo, precisava de sorte. As pérolas equivaliam a um bilhete de loteria: de cada tonelada verificada, encontravam-se quatro fileiras de exemplares de bom tamanho e qualidade.

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Além de contemplar somente algumas ostras extraordinárias, as pérolas se restringiam a determinadas áreas do globo. Sobretudo no Pacífico, com predileção pelo Japão, o Havaí, a Polinésia Francesa e as Filipinas. Ou seja, quatro arquipélagos. Mergulhadores das Filipinas ainda são conhecidos pela colheita de grandes pérolas. Os exemplares encontrados nas águas profundas, claras e com muita correnteza da região são considerados os melhores do globo. Foi nas Filipinas, aliás, que se registrou a maior pérola de todos os tempos. A descoberta ocorreu em 2016, em Puerto Princesa. Até então, o topo do pódio pertencia a outro exemplar filipino, a Pérola de Lao Tzu, de 6,4 quilos. Foi quando veio à luz a fantástica história da pérola de 34 quilos, com inacreditáveis 67 centímetros de comprimento por 30,5 de largura.

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em busca do tesouro Encontrar pérolas perfeitas nos bivalves é uma raridade. Desde o começo do século passado, há fazendas de cultivo mundo afora

ajuda de equipamento de mergulho autônomo. Podem repetir a operação de 100 a 150 vezes por dia, prendendo a respiração por até dois minutos enquanto nadam para coletar bivalves. Há uma característica especial nesses mergulhadores. De volta à superfície, eles deixam escapar um longo assobio, enquanto expiram o ar. Acredita-se que tal manobra proteja seus pulmões e evite os efeitos da hiperventilação, que poderiam levar à inconsciência. A rigor, há hoje dois tipos de pérola: a natural e a cultivada. As primeiras se formam quando um “irritante” penetra nos bivalves. Com o perdão da falta de glamour, é geralmente um parasita, e não o

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folclórico grão de areia, como muitos pensam, que se aloja no interior de ostras, mexilhões ou moluscos. Como um mecanismo de defesa, um fluido é liberado para isolar esse agente provocador. Camada após camada desse revestimento, chamado nácar, é depositado de maneira uniforme até que uma pérola brilhante se forme. Tudo por conta da natureza. Aquelas absolutamente redondas, no entanto, jamais são a maioria. “O mais comum é parte da pérola ficar grudada na concha, como uma espécie de verruga. Por isso, as esféricas são tão valiosas”, explica o biólogo Luís Ricardo Simone, do Museu de Zoologia da USP. Uma curiosidade é a formação das pérolas negras. Elas costumam surgir na Polinésia e em apenas uma espécie de ostra, a Pinctada margaritifera. Raríssimas, as negras despontam na proporção de uma para cada conjunto de 10 mil ostras. O fenômeno da cor ocorre porque há uma listra escura nesses bivalves. Mas a pérola somente se desenvolve com a coloração escura quando calha de crescer em contato direto com a tal listra. A ilha de Manihi, no arquipélago de Tuamotu, na Polinésia Francesa, é o maior produtor dessas raridades. De maneira fortuita, se descobriu que o município de Penha, em Santa Catarina, tem potencial para as pérolas negras. O oceanógrafo mineiro Carlos

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Magno de Lima e Silva teve essa revelação do modo mais empírico: mordeu uma pérola assim provando ostras na cidade. Agora quer cultivar bivalves em Minas Gerais. “A aplicação tecnológica em alta escala pode beneficiar agricultores mineiros”, contou o pesquisador a jornalistas catarinenses. Clara ou negra, uma pérola cultivada sofre o mesmo processo natural. A diferença é que o “irritante” é implantado de modo cirúrgico – um pedaço de concha de mexilhão ou a chamada madrepérola, por exemplo. Para terem qualidade requerem ao menos cinco anos. Só assim uma espessa camada de nácar é depositada. Historicamente, as pérolas de água salgada eram mais arredondadas e tinham um nácar mais reputado do que as de água doce. Estas tendiam a ter uma forma muito irregular, com uma aparência de grão de arroz. No entanto, melhorias nas técnicas de cultivo diminuíram a lacuna. Hoje, as de água doce podem exibir perfeito arredondamento e brilho. A FAMÍLIA OKUBO E O BRASIL ara contar a história do mercado de pérolas no Brasil, será preciso citar a família Okubo, protagonista de uma saga de mais de 90 anos. Em 1925, a senhora Rosa Okubo trouxe do Japão a primeira importação formal do produto. Desde então, a família fortalece, geração após geração, sua ligação com a joalheria, iniciada por Rosa e desenvolvida pelo filho Julio Okubo. Hoje, a joalheria Julio Okubo trabalha com as pérolas Akoya, Freshwater (cultivadas em lagos), South Sea brancas, Pérolas do Taiti (da Polinésia Francesa) e as South Sea douradas (as mais raras, produzidas no arquipélago de Palawan, nas Filipinas). “Todas as que trazemos ao país são cultivadas de maneira sustentável, que fortalece a relação do ser humano com o meio ambiente”, avalia Maurício Okubo, bisneto da fundadora. Esta questão ecológica, aliás, tende nos tempos do politicamente correto a valorizar ainda mais as pérolas, em detrimento das pedras preciosas de extração mineral. “As pessoas avaliam melhor esses assuntos”, diz Jaimie Polk, consultora da indústria de joias e fundadora da 21C Jewerly Solutions. “Elas não consomem sem pensar conscientemente sobre a origem, o motivo da compra e como vão usar.” Eis uma das razões da ascensão do mercado de pérolas. A agência Research and Markets estima que elas chegarão a movimentar US$ 1,3 bilhão nos Estados Unidos neste ano. Prevê, ainda, que o mercado global ultrapasse os US$ 16,8 bilhões até 2022. Em se tratando do valor, o tamanho conta um bocado. Mas outros quesitos importam. Entre os fatores que elevam os valores está a forma: redonda, quase redonda, botão, oval ou barroca. Os especialistas ainda selecionam por cores, brilho, espessura do nácar e pela combinação (em colares, vale mais aquele em que as pedras têm tamanhos equânimes). Por fim, são muitos simbolismos reunidos em cada bolinha atada a outra e a outra e a mais outra. O escritor americano Jack London (1876-1916),

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o merc a do globa l de pérol a s, em p l e n a a s c e n s ão, u lt r a pa s s a r á o s US $ 16 , 8 b i l h õ e s e m 2022

e l a s s ão

e te r n a s O vestido de Rihanna paga tributo ao pingente de Maria Antonieta, vendido por US$ 32 milhões. O anel com pérola dourada é da Julio Okubo

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viajante contumaz, fez dos pescadores de pérolas personagens de seus livros repletos de aventura, como A Casa de Mapuhi. O próprio London teve essa profissão em suas andanças pela Polinésia. Pouco depois, nos anos 1920 a 1930, as pérolas passaram a adornar a liberação feminina – representadas, em boa parte, por mulheres como Coco Chanel (1883-1971). O cinema e suas estrelas também aderiram à proposta de identificar a força das mulheres pelos colares elegantes. Basta pensar em Grace Kelly, Audrey Hepburn, Catherine Deneuve... Ou no colar de pérolas “A Peregrina”. A joia, confeccionada em 1570 com pérolas encontradas no Panamá, foi comprada pelo rei espanhol Felipe 2º (1527-1598), pintada por Velázquez e usada sucessivamente por quatro rainhas de Espanha: Isabel Clara Eugênia, Margarita da Áustria, Isabel de Bourbon e Maria Luiza de Orleans. Em 1967, depois de muita idas e vindas, foi comprada por US$ 37 mil pelo ator Richard Burton para rebrilhar no colo de Elizabeth Taylor. TP

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Dennis Hopper e Peter Fonda: viagem à América profunda

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Em 1968, e n q ua n t o o s E s ta d o s U n i d o s e s tava m p e g a n d o f o g o, d o i s at o r e s a m i g o s v i v i a m s ua o b s e s s ão pa r t i c u l a r: fa z e r u m f i l m e q u e m u da r i a a v i da d e l e s . D e n n i s H o pp e r e P e t e r F o n da h av i a m s e c o n h e c i d o n o a n o a n t e r i o r n u m l o n g a-m e t r ag e m e s c r i t o p o r Jac k N i c h o l s o n , T h e t r i p (V i ag e m ao m u n d o da a lu c i naç ão ). A l i f i z e r a m o s p l a n o s : F o n da p r o d u z i r i a o f i l m e , H o pp e r d i r i g i r i a , o s d o i s s e r i a m o s at o r e s p r i n c i pa i s e fa r i a m o r o t e i r o. P e t e r i m ag i n o u u m w e s t e r n m o d e r n o, a o d i s s e i a d e d o i s m o t o c i c l i s ta s q u e ac a b ava m m o r t o s n a e s t r a da p o r d o i s c a i p i r a s s u l i s ta s .

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onda, Hopper e Jack Nicholson haviam brilhado cada um no seu próprio filme de motocicletas. No making of de Easy Rider (no Brasil, Sem Destino), Fonda conta que levou um puxão de orelhas de Jack Valenti, recém-indicado pelo presidente americano Lyndon Johnson para presidir a toda-poderosa Motion Picture Association of America. Num encontro com cineastas, olhando fixamente para Fonda, o novo czar do cinema sentenciou: “Chega de filmes de sexo, drogas e motocicletas. Vamos fazer mais filmes como O Fantástico Dr. Dolittle”. Já embalados no seu projeto, Fonda e Hopper partiram para fazer uma ruptura no gênero, que explorava a violência das gangues de motociclistas. Easy Rider mostra os EUA no momento de uma virada espetacular, com a nova geração contestando os padrões da velha e partindo para criar seus próprios valores por meio da revolução sexual, da vida comunitária, da “nova consciência” alcançada pelas drogas e filosofias alternativas – um novo espaço social chamado contracultura.

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Fonda e Hopper sabiam ler roteiros, não escrever. Depois de uma reunião que durou dias, tudo o que foi gravado, transcrito para o papel, não passava de 20 páginas. Chamaram então um profissional, Terry Southern, que já assinara Dr. Fantástico (com Kubrick), O Ente Querido, O Colecionador e Barbarella. Ele botou ordem na bagunça e incorporou muito da improvisação que rolava na filmagem. Generoso, aceitou dividir os créditos com Fonda e Hopper. Easy Rider ganhou duas indicações ao Oscar: a de roteiro original e a de Jack Nicholson como ator coadjuvante. A história é aparentemente simples. Dois amigos motociclistas – Wyatt (Peter Fonda) e Billy (Dennis Hopper) – fazem um grande negócio e ficam ricos: compram cocaína barata numa aldeia do México e a revendem superfaturada para um distribuidor americano. A transação acontece na cabeceira da pista do aeroporto de Los Angeles, locação totalmente insensata, com os grandes jatos em voo rasante, mas a ideia maluca é a cara de Easy Rider. A cena é um brinde do produtor musical milionário Phil Spector, que faz uma ponta grátis com sua carinha esperta e entra ainda com o visual de seu Rolls-Royce e do guarda-costas com perfil de príncipe abissínio. Os amigos enfiam as notas de dólar enroladas num tubo plástico no tanque de gasolina da moto de Wyatt, pintado com as listras e as estrelas da bandeira americana (a bike ficará conhecida como Captain America). Pegam então a estrada com suas Harley-Davidson, numa incursão do deserto da Califórnia até o Mardi Gras, o Carnaval de Nova

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A ideia original er a um w e s t e r n m o d e r n o, a s h a r l e y-Dav i d s o n n o l u g a r d o s c ava l o s

Orleans. Um arquétipo da dupla seria Dom Quixote e Sancho Pança – Peter Fonda, o hipster cool, reflexivo; Denis Hopper, o ripongo sujo, agitado, fumando e bebendo todas. Um, elegante, de cabelos longos, jaqueta e calça de couro preto; o outro cabeludão, colar de dentes, chapéu sebento e jaqueta e calça de camurça franjadas. Imaginam-se caubóis lendários cavalgando suas motos, heróis dos filmes de John Ford como Wyatt Earp e Billy the Kid. Enquanto rolam pela estrada, aparece ao fundo o Monument Valley, um dos cenários favoritos de Ford. PRISÃO NO NOVO MÉXICO ão carona a um hippie que lidera uma comunidade. Passam algumas horas nessa utopia rural onde se vive de lavoura orgânica, marijuana e amor livre em meio a crianças sorridentes. Todos rebentos WASPs, a pele clara tostada pelo ar livre, nenhum negro ou latino. O guru oferece um tablete de LSD a Wyatt, “para compartilhar quando a ocasião propícia surgir”. Billy está impaciente para partir, duas garotas pedem carona até a estrada, ele esbraveja: “Isso aqui não é uma porra duma agência de viagens”.

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Se a contribuição generosa de Phil Spector parecia indicar que Easy Rider seria uma ação entre amigos, Fonda congelou quando Nicholson anunciou o seu cachê: US$ 60 mil! Mas valeu cada centavo da meia hora em que ele aparece no filme. Jack é George Hanson, que Wyatt e Billy conhecem na cadeia de uma cidadezinha do Novo México, onde passam a noite por “desfilar sem permissão” numa parada cívica. George está preso por alcoolismo. As roupas finas e o tratamento que recebe dos guardas dão a entender que é filho de um figurão local. Apresenta-se como advogado defensor dos direitos humanos: “O pessoal aqui quer fazer com que todo mundo se pareça com Yul Brynner. Por falta de tesouras, usaram navalhas enferrujadas nos dois últimos cabeludos que prenderam, eu não estava aqui para protegê-los”. George pede carona para o Mardi Gras de Nova Orleans – “Sempre quis ir para lá” – e exibe um cartão da Casa das Luzes Azuis, “o melhor bordel do Sul”. Com a roupa do corpo, um cobertor e um vistoso capacete de futebol americano, viaja alternadamente na garupa de um e de outro. Na primeira noite ao redor da fogueira (os hotéis não hospedam hippies), o advogado alcoólatra reluta, mas acaba cedendo aos encantos da maconha. No dia seguinte, os amigos são hostilizados numa lanchonete pelos varões locais e admirados por um saltitante bando de adolescentes de minissaia. Aquela noite, no acampamento, já se sentindo mais à vontade com os vapores da maconha, o advogado filosofa: “Eles não têm medo de vocês, têm medo do que vocês representam”. E Billy: “Cara, pra eles só representamos alguém que devia cortar o cabelo!”. George insiste: “Não, para eles vocês representam a liberdade. Mas nunca diga a ninguém que ele não é livre porque ele vai tratar de aleijar e matar para provar que é”. BORN TO BE WILD uando a fogueira apaga e os amigos dormem, os homens da lanchonete atacam com tacos de beisebol. Billy saca um canivete e os afugenta. Ele e Wyatt escapam com ferimentos leves, mas George está morto. Ao vasculhar seus pertences, encontram o cartão da Casa das Luzes Azuis. Corte para o “Melhor bordel do Sul”, onde os amigos degustam um vinho fino. Com a lembrança de George, não há clima para sexo e os amigos saem para a festa

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Ja c k n i c h o l s o n q ua s e a c a b a c o m o orç a men to do f il me. Cobrou c a r o. E s e u p e r s o n a g e m s ó a pa r e c e p o r m e i a h o r a n a t e l a

do Mardi Gras com suas prostitutas, compradas para a noite. Num cemitério, Wyatt faz a partilha do LSD que ganhou do líder da comunidade. É uma bad trip geral numa sequência caótica filmada em 16 mm. As drogas foram consumidas ao vivo nas filmagens. Hopper insistiu com Fonda para que chorasse junto à cabeça de um mausoléu, que seria sua mãe (a segunda mulher de Henry Fonda) que se suicidou quando ele tinha 10 anos. “Por que tenho de fazer isso?”, implora Peter. Hopper responde: “Porque sou o diretor do filme, porra!”. Já sóbrios, na última fogueira do filme, Billy exulta: “Conseguimos, cara. Estamos ricos! Vamos nos aposentar na Flórida!”. Wyatt responde: “Quer saber de uma coisa, Billy? Nós estragamos tudo”. E, depois de uma pausa repete: “Nós estragamos tudo”.

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ROA D Os outsiders Hopper, Fonda e Nicholson rodam por um novo país, transformado pela contracultura

UMA NOVA HOLLYWOOD asy Rider foi lançado em 14 de julho de 1969, um domingo. Produzido por menos de US$ 400 mil, alcançaria uma bilheteria de US$ 60 milhões. Ao lado de Bonnie e Clyde e A Primeira Noite de um Homem, abriu o caminho para produções mais baratas de alta qualidade e toda uma onda de novos diretores sofisticados, ao estilo da Nouvelle Vague francesa. Jack Nicholson e Karen Black, a prostituta de Easy Rider, estão juntos em Five Easy Pieces (Cada um Vive como Quer). O roqueiro Art Garfunkel coestrela com Nicholson e as divas Ann-Margret e Candice Bergen em Carnal Knowledge (Ânsia de Amar). Os roqueiros James Taylor e Dennis Wilson (dos Beach Boys) fazem sucesso em Two-Lane Blacktop (Corrida sem Fim). Karen Black é a estrela de O Dia do Gafanhoto ao lado de Donald Sutherland. A indústria exulta com a fórmula de Easy Rider, a mídia exalta a Nova Hollywood. Mas o mérito do filme vai além da sua fórmula. Produzido no auge da utopia hippie e de seus megafestivais de rock, ele prevê o fim de toda aquela euforia ingênua. Assim, antecipava o tão alardeado “O sonho acabou” de John Lennon. A proclamação de Wyatt ao pé da fogueira (“We blew it/Nós estragamos tudo”) era já um autêntico adeus às ilusões para a “Nação de Woodstock”. TP

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Na estrada, na manhã seguinte, os motociclistas são mortos a tiros de espingarda por dois trabalhadores sulistas que viajam numa pequena caminhonete. O tanque de gasolina da moto de Wyatt, que levava os dólares, explode. A câmera vai subindo da moto em chamas numa tomada feita de um mini-helicóptero que quase custou a vida do diretor de fotografia, László Kóvacs. O filme fecha com uma visão aérea de rios e mata verde, ao som de “Ballad of Easy Rider”, que Roger McGuinn, dos Byrds, compôs a partir de um verso inicial de Bob Dylan. A cena da matança é sublinhada por um tema de Dylan, “It’s Alright Ma (I’m Only Bleeding”, cantado por McGuinn). Easy Rider foi um dos primeiros filmes a potencializar a mistura de filmes de ação com uma trilha sonora de rock. “If Six Were Nine”, de Jimi Hendrix, contrasta brutalmente com a paisagem morna das cidadezinhas do Sul. A abertura do filme, quando as motocicletas iniciam sua jornada ao som de “Born to Be Wild”, do Steppenwolf, é um hino à liberdade.

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Fa z t e m p o q u e

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Por A lex Solnik i l u s t r a ç õ e s B A P TI S T Ã O

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Não é de hoj e . Não fa lta m c as o s n a h i s t ór i a da R e pú b l ic a: m u i tas das d or e s de c ab e ç a d o s pr e s i de n t e s c om e ç a r a m de n t ro de c asa , a e x e m pl o d o qu e v e m o c or r e n d o e m v i rt u de d o de s t e m pe ro d o s f i l ho s de B ol s on a ro. C omo n as pe ç as de S h a k e spe a r e (ou no s e r i a d o C h av e s), o s g ol pe s d o s pu n h a i s m a i s a f i a d o s são de s f e r i d o s p or m ão s d o c í rc u l o fa m i l i a r – p or qu e r e r ou s e m qu e r e r qu e r e n d o.

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inana começou já com o circunspecto marechal Deodoro da Fonseca. Presidente entre 1889 e 1891, ele tinha três sobrinhos que eram verdadeiros jagunços. Não consta, entretanto, que os numerasse 01, 02 e 03. Antônio Medeiros, dono e redator-chefe de A Tribuna, do Rio de Janeiro, sofreu nas mãos do trio. Em 10 de janeiro de 1891, o jornalista tascou na primeira página: “Tive o ensejo de receber três intimações pessoais de sobrinhos do Sr. Generalíssimo Deodoro da Fonseca, que vieram impor-me silêncio, em nome do senhor seu tio ou em seu próprio nome de sucessores presuntivos”. “A terceira visita foi mais séria”, escreveu. “O Sr. Major Clodoaldo da Fonseca, sobrinho do sr. Generalíssimo Deodoro da Fonseca, exigiu que lhe dissesse qual dos meus colegas era o autor de um artigo intitulado A fala do trono e salientou que todos os sobrinhos do Sr. Marechal Deodoro estavam dispostos a derramar o seu sangue em defesa da honra e dos brios da sua família.” No dia 29 de novembro de 1890, Medeiros foi avisado de que nas primeiras horas da noite seu jornal seria empastelado. Não deu outra: às 19h30, brutamontes comandados pelo coronel Piragibe puseram abaixo o que encontraram pela frente na redação da rua do Ouvidor. Roubaram até o dinheiro que o caixa estava separando para pagar salários.

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VARADO A TIROS m dos sobrinhos-capangas de Deodoro – o calvo e bigodudo Hermes da Fonseca – virou presidente na eleição de 1910. Foi o primeiro militar eleito pelo voto direto e o inventor da faixa presidencial. À véspera de seu segundo casamento, com Nair de Teffé, herdeira dos barões de Teffé, teve um acesso de fúria em meio à sessão de fotos na “opulenta residência” dos pais da noiva, em Petrópolis. Na presença dos ministros da Marinha e da Guerra, informou ao repórter e fotógrafo de A Notícia que o proprietário do jornal estava em sua mira em virtude dos “insultos habituais”. Bradou: “Pode dizer-lhe que se eu o tivesse encontrado, tinha-o varado a tiros”. Diversas aporrinhações de Hermes foram creditadas ao seu clã. Ruy Barbosa acusava a primeiradama, pianista, de apresentar o maxixe aos salões elegantes. A dança era discriminada por ser de origem africana. O irmão do presidente, deputado federal João Severiano da Fonseca Hermes, fazia

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G a b r i e l Q ua d r o s , pa i d e Jâ n i o, f o i a s s a s s i n a d o p e l o m a r i d o da a m a n t e q ua n d o o f i l h o e r a g ov e r n a d o r

declarações polêmicas aqui e no exterior. Era duro mantê-lo calado. O filho, Leônidas, não ficava atrás do tio. Insistia em se candidatar a governador (dizia-se então presidente) do Rio Grande do Norte, contra a vontade do velho, o que provocava divisão no governo. SURRA EM ROBERTO MARINHO a madrugada de 11 de maio de 1938 os integralistas de Plínio Salgado quase invadiram o palácio Guanabara para matar Getúlio Vargas e tomar o poder. O presidente, desconfiado da eficiência da segurança oficial, encarregou seu irmão, Benjamin Vargas, o Bejo, de arregimentar uma guarda pretoriana. A tropa pessoal de Getúlio, formada inicialmente por 20 homens, todos de São Borja (RS), terra natal do ditador, foi confiada a Gregório Fortunato. A escolha de Bejo se provaria fatal em 1954. Naquele ano, Bejo viu-se acusado de mandante do

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atentado da rua Tonelero, no Rio, que matou o major Rubens Vaz e feriu o jornalista da oposição Carlos Lacerda. O relatório da polícia, publicado nos jornais cariocas a 17 de setembro de 1954, depois da morte de Getúlio, não poupou o irmão: “voluntarioso e provocador”; “dado a libações alcoólicas que terminam sempre em brigas e conflitos”; “prefere cassinos e boates de luxo”; “fuma, be­be desbragadamente, é dado a conquistas amorosas, gastador”. As tropelias de Bejo durante a ditadura incluem uma surra no jornalista Roberto Marinho, na boate do hotel Quitandinha, em Petrópolis, da qual era habitué. Tudo por conta de uma reportagem de O Globo sobre um edifício que desabara em Copacabana. Bejo envolveu-se num rumoroso caso com William Monteiro de Barros. Começou numa desavença no cassino da Urca numa noite de carnaval de 1942. Continuou com perseguição de carros – o irmão do presidente bateu o seu num poste – e terminou com Monteiro de Barros sendo espancado por Bejo e comparsas, e ainda conduzido ao 2º Distrito Policial. O chefe de polícia era Filinto Müller, conhecido pelos maus bofes e pelo namoro com o nazismo. Presidente que tem um irmão como esse não precisa de oposição. CACHORRADA SOLTA ânio Quadros não teve problemas com parentes enquanto esteve na presidência. Até porque foram só sete meses. Antes e depois, no entanto, não houve trégua. O pai de Jânio, o médico e deputado Gabriel Quadros, foi notório inimigo político do filho. Mulherengo e falastrão, morreu assassinado a tiros pelo marido da amante. Aconteceu em 1957, quando Jânio era governador de São Paulo. Décadas depois, durante a campanha eleitoral pela prefeitura de São Paulo em 1985, Dirce Maria Quadros, filha de Jânio e conhecida por Tutu, já andava ressabiada com o pai, que a chamara de “chocadeira elétrica” (ela teve seis filhos, três em cada um de seus dois primeiros casamentos). Jânio vetaria ainda a candida-

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tura de Tutu a deputada constituinte e romperia com a filha única quando ela se casou pela terceira vez, com Marco Antônio Mastrobuono, secretário de Planejamento do próprio Jânio na prefeitura paulistana. Mastrobuono foi demitido. Em maio de 1987, Tutu telefonou ao repórter João Batista Natali, da Folha de S.Paulo, oferecendo-se para ser entrevistada. E soltou os cachorros. “Jânio nunca foi um bom pai.” “Ele sempre teve ódio de parentes e pessoas que o tomavam como amigo.” “Um deputado ajudou a comprar a casa do Morumbi.” “Para mim, Jânio está morto e enterrado.” Dois dias depois, às 3 da manhã, enfermeiros por pouco não tiveram de usar camisa de força para levá-la do apartamento do quinto andar de um prédio art nouveau da elegante avenida São Luís para a clínica Maia. Tutu foi internada por ordem da Justiça, a pedido do pai, da mãe e de suas três filhas do primeiro casamento. Ela gritou, esperneou, resistiu. Mas ficou lá por cinco dias. É MINTCHURA! unhado não é parente” bradavam os correligionários de Leonel Brizola quando o político gaúcho tentava se viabilizar candidato a presidente da República, sucedendo a João Goulart, com cuja irmã era casado, em resposta aos que o acusavam de nepotismo. Brizola vivia à turras com Jango. Sempre mais radical, criticava a lerdeza do cunhado em implementar as “reformas de base”. Não se sabia ao certo se as desavenças tinham a ver com problemas familiares ou se Brizola o atacava por motivos políticos, pois Jango seria candidato à reeleição. Quem acabou inviabilizando a sua e as outras candidaturas foram os generais que derrubaram Goulart a 1º de abril de 1964. Quando enfim conseguiu se candidatar a presidente, em 1989, Brizola passou um sufoco danado por causa da filha, Neusinha, homônima da mãe. A garota já tinha aprontado bastante quando o pai foi governador do Rio, promovendo festas suntuosas em locais públicos, namorando o célebre traficante Escadinha

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e até posando nua para a Playboy... o que ninguém viu porque Brizola conseguiu vetar a circulação da revista. Esses episódios arranharam a imagem do pedetista. Mas um fato ocorrido na campanha para presidente em 1989 poderia ter acabado de vez com sua carreira. Trêmulo, o motorista do então presidenciável do PDT mostrou-lhe, certa manhã, um pacote retangular envolto em plástico marrom que havia encontrado embaixo do banco do automóvel em que ambos andavam para cima e para baixo. Abriram e caíram para trás. Era um quilo de heroína. Quando o presidenciável soube que quem tinha colocado a droga ali fora Neusinha, chamou-a e disparou: “Minha vontade é sentar o relho no teu lombo”. Na época, a história passou batida. Foi a própria Neusinha quem a contou, mais tarde, em seu livro de memórias, Neusinha sem Mintchura.

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O MARECHAL c a s t e l l o b r a n c o n ão s ó d e s t i t u i u o i r m ão c o m o c h e g o u a a m e a ç á-l o d e p r i s ão

“Apesar de Você” e outros hinos entoados nas passeatas contra o governo. Quando Chico, ou melhor, Julinho da Adelaide, seu heterônimo, compôs o rock “Jorge Maravilha”, aquele do verso “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta”, todo mundo cravou que estava se referindo ao ditador com cara de poucos amigos. Chico desmentiu várias vezes. Disse que se tratava de um delegado do Dops. O tal policial lhe pedira um autógrafo, dizendo ser para sua filha. Mas a versão, como sempre, pegou mais que o fato. Presidente sofre com parente. Até quando é ditador.

Talvez tenha sido sorte – dele e do Brasil - Brizola nunca ter sido presidente. CASTELLO LINHA DURA em também a história do irmão do marechal Castello Branco. Em 1966, ele leu no jornal que seu irmão Lauro, funcionário da Fazenda Nacional (depois Receita Federal), havia recebido dos colegas um carro Aero-Willys. O presente era um agradecimento à ajuda que o mano do presidente dera numa lei que beneficiava a carreira. Castello Branco ordenou que o automóvel fosse imediatamente devolvido. “Se devolver vou ficar desmoralizado no cargo”, respondeu o irmão. “Você não entendeu”, retrucou Castello. “Afastado do cargo você já está. Estamos discutindo se irá preso ou não.” Outro episódio picante envolveu Iolanda, mulher de Lauro. Ela foi pedir a Castello que mandasse demitir uma funcionária, desconfiando que se atirava nos braços do marido. O presidente não a levou em consideração. Disse que aquilo não tinha pé nem cabeça e não faria sentido demitir uma funcionária exemplar por um capricho de Iolanda. No final, Lauro Castello Branco largou a mulher e ficou com a funcionária, de quem já era amante.

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DITADOR TAMBÉM SOFRE uma rara entrevista, Amália Lucy, filha do general Ernesto Geisel, cometeu a imprudência de admitir que gostava muito de Chico Buarque, um dos inimigos declarados do regime militar, autor de

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MALTA INFECTA aio de 1992 foi o pior mês de Fernando Collor na presidência. No dia 4, Joãozinho Malta, irmão da primeira-dama, estava preso em Canapi (AL) por disparar (e errar) dois tiros no prefeito, Mauro Fernandes. Também havia ameaçado de morte, em praça pública, com dois revólveres na cintura, o desafeto José Aristides Mariano, filho de ex-prefeito da cidade e cujo cunhado, Jaelson Silva, ele, Joãozinho, havia assassinado cinco anos antes, aos 17. Nos idos do primeiro crime, preso por ordem de Collor, então governador, viu-se resgatado da Febem depois de 15 dias pelo tio, Malta Brandão, com ajuda de oito capangas armados. Em meados do mês, o irmão mais novo de Collor, Pedro, começou a disparar os petardos contra ele e contra o tesoureiro de sua campanha e eminência parda do governo, PC Farias. Acusava a dupla de tentar destruir o jornal da família. A mãe, Leda Collor, disse que Pedro estava louco. Para provar

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que não, ele submeteu-se a exame de sanidade mental. “O Fernando fez um pacto com aquele crápula para me destruir”, rosnou, prometendo entregar um dossiê à Procuradoria-Geral da República até o final daquela semana. “Depois de ver o PC Farias na cadeia posso até morrer porque morro satisfeito”, emendou. No final daquela semana, acabou guindado a capa da Veja: “Pedro Collor conta tudo”. Embora Pedro não tenha dito nada a mais do que já vinha denunciando e não apresentasse provas contra o irmão, sua entrevista provocou a CPI que derrubou o presidente ainda naquele ano. Dois anos depois, Pedro morreu no Memorial Hospital de Nova York, diagnosticado com tumor no cérebro. Sua mãe, internada depois de três paradas cardíacas, morreu após 29 meses em coma. PC Farias foi assassinado em 1996, ao lado da amante, Suzana Marcolino. TP

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v i ag em

m i l ão a mil

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c i da d e i ta l i a n a

r e i n v e n t o u-s e

e m t e mp o r e c o r d e , c o m m u i t o v e r d e e a r q u i t e t u r a d e u lt r ava n g ua r da

P o r G i u s e pp e C e cc a t o | f o t o s M a r c e l o Spa t a f o r a

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A metrĂłpole em dois tempos: a Porta Nuova e a Unicredit Tower

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ilão sempre foi a pobre menina rica. Embora quase tão antiga quanto as demais cidades italianas de destaque - e bem mais endinheirada -, jamais suscitou uma Síndrome de Stendhal. O escritor francês, como se sabe, teve um piripaque quase letal diante da beleza de Florença, em 1817. Milão, não. Pobrezinha. Incapaz de inspirar tais arroubos, era, no máximo, a cidade devoradora que, em nome do dindim, desvirtuou a pureza sulista de Rocco e seus irmãos no filme de Visconti. Suas atrações, diziam, caberiam em quatro dedos e uma tarde de visita: a Catedral (Duomo), a galeria Vittorio Emanuele, o Teatro alla Scala e a Santa Ceia, de Da Vinci. Como comparar com Roma? Para escapar dessa sina, Milão, vizinha da Suíça, decidiu ser mais Europa do que Itália. E mais do mundo que da Europa. Já declarara amor eterno à modernidade em suas feiras de moda e design. Mas nada como sua entrega da última década. Milão aproveitou a Expo de 2015 para inventar bairros inteiros, com muito espaço livre, ampla área verde e prédios à frente da vanguarda. Porta Nuova era uma região abandonada havia décadas. Três anos antes da Expo, começou a ser redefinida pela pena do arquiteto argentino César Pelli. Ganhou, de cara, o mais alto edifício da cidade

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– e da península. A Unicredit Tower tem 231 metros, mais de duas vezes a altura do Duomo. Virou a medida para o arrojo ao redor. Não à toa, ali estão os headquarters da Google, Microsoft e Amazon. Pouco adiante, estende-se o parque Biblioteca das Árvores e o bairro Isola. Era só um distrito pobre. Tornou-se ligadíssimo. Seus moradores agora são jovens e artistas. Em especial, jovens artistas. Aqui estão dois edifícios que vão além do orçamento deles. Os prédios residenciais do Bosque Vertical acolhem um total de 800 árvores, 4.500 arbustos e 15 mil plantas. Pouco mais de três quilômetros à frente ergue-se o bairro de Citylife. Também acolheu muito verde e prédios de estupenda audácia. A começar pelas Tre Torri – três edifícios. Um deles é retorcido, como se tivesse se movimentado ao longo da construção. Obra da iraquiana Zara Hadid. Outro prédio parece querer alçar voo, e daí os quatro portentosos cabos de aço que impedem tal desejo. Criação do japonês Arata Isozaki e do italiano Andrea Maffei. Por fim, o edifício desenhado pelo polonês Daniel Libeskind é tão inclinado que faz a torre de Pisa parecer uma régua “T”. Milão, ex-pobre menina rica, nem precisa da acústica do Teatro alla Scala para pedir um lugar à mesa das cidades mais modernas do planeta. TP

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Apple Store na piazza Liberty e o hangar da Fondazione Prada Š getty images

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n u ova

C IT Tà 1. O edifício de Zaha Hadid na Citylife; 2. Premiado, o Bosque Vertical tem 15 mil plantas; 3. Cavalo de Leonardo, na Citylife; 4. Criatividade: o lustre de xícaras do Illy Caffé, na piazza Gae Aulenti; 5. Fondazione Prada; 6. Museu Armani na Citylife; 7. Prédio assinado por Arata Isozaki e Andrea Maffei; 8. Coloris, na Citylife: escultura de Pascale Tayou; 9. Espaço ao redor da Fondazione Prada, desenhado 1.

por Rem Koolhaas 2.

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i m pr ensa

Feir a de

va i da d e s P u b l i c a d a p e l a p r i m e i r a v e z e m 19 14 , a r e v i s t a

Va n i t y Fa i r

f e c h o u 2 2 a n o s d e p o i s . R e ab r i u

ap e n a s e m 19 8 1 , pa r a s e t o r n a r u m d o s pa l c o s ma i s au d a c i o s o s d a s c e l e b r i d a d e s

Por A na M a ri a Ba hi a na

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“ Q u e r v e r u ma c o i s a q u e e u n ão p o s s o t e m o s t r a r ?”, e l a d i s s e . O a n o e r a 19 8 1 , s e t e mb r o e s t ava n o m e i o, o o u t o n o c h e g ava a N ova Yo r k e Be a F e i t l e r, gr a n de a rt i s ta g r á f i c a e am i g a d e l o n g a d i s t â n c i a , m e t e n t ava c o m u m de l ic io s o f ru t o proi b i d o – a “ b o n e c a”, o p r o j e t o g r á f i c o da n ova Va n i t y Fa i r .

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local do crime era a redação da Rolling Stone, onde Bea reinava como editora de design. Eu estava na cidade depois de passar pela Filadélfia para ver os Rolling Stones na turnê de 1981. Num canto do seu escritório dentro da redação, na diagonal do Central Park, Bea afinava o desenho daquela que viria a ser a mais nova antiga revista dos Estados Unidos, e uma das publicações mais importantes e fundamentais do fim do século 20. A estética da renascida revista era limpa, clara, elegante, com grande ênfase na fotografia como impacto de capa, de abertura de textos, e previa o que viria a ser o coração da publicação – os textos longos, essencialmente para perfis e reportagens investigativas. Era uma proposta em sintonia com o tempo. Propunha um encontro

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entre estética e ambição a serviço dos gostos dos 80: consumo, luxo, moda, celebridade. Se títulos como Rolling Stone e Village Voice (dois veículos influentes na época) eram o resultado da contracultura dos 60, a nova Vanity Fair renascia sob o signo dos yuppies, a juventude afluente da era Reagan. Era um renascimento na hora certa, que ecoava e ampliava suas origens. O MUNDO DO GRANDE GATSBY expressão “Vanity Fair” vem do século 17, uma referência em The Pilgrim’s Progress, de John Bunyan – um lugar de ostentação, futilidade e frivolidade. Dois séculos depois a expressão ganharia um teor diferente na obra de William Makepeace Thackeray, uma brilhante e mordaz exploração das elites britânicas – estabelecidas ou em ascensão – em meados do século 19. Publicada originalmente como uma série de 19 panfletos – subtitulados “Esboços em lápis e pena da sociedade inglesa” –, Vanity Fair foi relançado em livro em 1848, e, rapidamente, inspirou uma série de publicações. Em Nova York virou uma semanal de humor, de 1859 a 1863, e em 1890 uma revista sobre teatro; e, em Londres, a mais longeva (de 1868 a 1914) e popular publicação, focada nas elites financeiras, sociais e políticas. Escrita sempre em tom mordaz, e pontuada pelas famosas caricaturas de sir Leslie Ward.

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O COMEçO As primeiras edições saíram com o batismo Dress & Vanity Fair. Um ano depois, surgiu o nome definitivo

Foi essa última publicação – e o uso universal do título – que o aspirante a magnata da imprensa Condé Montrose Nast adquiriu, por US$ 13 mil, em 1913. Nast já havia comprado dois outros títulos – Vogue, uma diminuta revista local de Nova York, dedicada a fofocas de sociedade, e Dress, um periódico nova-iorquino de moda masculina. Curiosamente, Nast decidiu que Vogue se dedicaria à indústria do vestuário e Dress, acoplada à Vanity Fair – com o título canhestro de Dress and Vanity Fair –, a cultura, literatura, costumes e alta sociedade. Depois de um ano o “Dress” foi removido e Vanity Fair tomou impulso como “a” revista de referência da elite nova-iorquina. No que viria a ser uma

tradição, a Vanity Fair do começo do século 20 tinha a marca de seu editor – o jornalista, crítico teatral e aficionado das artes plásticas Frank Crowninshield, que pilotou a publicação até o final de sua primeira fase, em 1936. Crowninshield trouxe para a Vanity Fair escritores como Gertrude

D O R O T H Y PA R K E R E SCR EV I A, PIC A S SO P I N T AVA E M A N R AY F O T O G R A FAVA . S E R I A PR E C I S O M A I S?

Stein, Dorothy Parker, D.H. Lawrence, Aldous Huxley e T.S. Eliot. Artistas como Picasso, Matisse e Gauguin tiveram suas obras reproduzidas ali. Man Ray, Cecil Beaton e Edward Steichen foram seus fotógrafos. Numa entrevista ao jornalista e futuro historiador da imprensa americana John Tebbel, Crowninshield descreveu sua visão para Vanity Fair: “Meu interesse pela [alta] sociedade é tão pronunciado que a palavra “esnobe” não seria descabida. Isso se deve ao fato de que há uma quantidade imensa de coisas que sociedade, dinheiro e posição trazem em seu rastro: pinturas, tapeçarias, livros raros, vestidos elegantes, danças, jardins, casas de campo, culinária correta e mulheres bonitas”.

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Durante 22 anos o Zeitgeist, o espírito do tempo, e a revista abraçaram-se com perfeição. Finda a Primeira Guerra Mundial, o espírito de otimismo e a abundância dominavam os EUA. E a revista traduziu o mundo de O Grande Gatsby, filtrado pelo esnobismo assumido de Crowninshield, com o auxílio luxuoso das melhores mentes do recém-nascido século 20. Entretanto, tudo mudou nos anos 1930: a quebra da bolsa de Nova York, a ascensão do nazifascismo na Europa e a crescente ameaça de guerra tornaram a revista, nas palavras do próprio Condé Nast, “impensável”. Em 1936 a publicação foi suspensa. Sua redação migrou para a Vogue. E assim permaneceu até junho de 1981, quando Samuel Irving “S.I.” Newhouse Jr., herdeiro e cabeça do conglomerado Advance Publications, proprietário da empresa criada por Condé Nast, anunciou o retorno da revista. Dois meses e trocados depois eu estava na sala de Bea Feitler, olhando o que não devia ter visto – a nova encarnação de uma revista centenária. Em fevereiro de 1983 a renascida Vanity Fair chegava às bancas com o design de Bea Feitler intacto e a direção do editor Richard Locke, pescado do New York Times Review of Books. Durou três edições. Foi substituído por Leo Lerman, editor adjunto da Vogue, que durou menos ainda. A verdadeira jornada da Vanity Fair pelos anos dourados da era Reagan começaria em 1984 com Tina Brown, a editora que realmente deu à revista sua cara e sua voz. Tina, tarimbada jornalista inglesa e, na época, editora chefe da Tatler, ti-

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nha sido importada por Newhouse na época do lançamento da Vanity Fair como consultora. Ficou como colaboradora da revista no primeiro ano, “abismada com a chatice da publicação”, confessaria anos depois, numa entrevista para o Sunday Review. Com o título agonizando (vendas da ordem de 200 mil exemplares e meras 12 páginas de publicidade), Newhouse colocou Tina Brown no comando. Rapidamente, ela ajustou o perfil da revista

A seg u nda encarna ç ão da revista , a partir dos anos 8 0, a b ordava , so b ret u do, ricos , famosos – e em crise

para o lado oposto da chatice e da “absoluta falta de humor”. As pautas iam ao cerne dos anos 1980: celebridade, dinheiro, celebridade, alta sociedade (especialmente escândalos), viagem, celebridade, crime – especialmente os que reuniam celebridade e dinheiro. AGONIA E ÊXTASE ão por acaso uma das âncoras do seu time de colaboradores estelares era Dominick Dunne, na época um produtor de cinema (e pai do ator Griffin Dunne), mas sobretudo um fino captador das nuances dos ricos e famosos. Dunne tornou-se um dos primeiros contratados de Brown. Sua primeira reportagem foi a narrativa, em primeira pessoa, do assassinato da própria filha, a atriz Dominique Dunne, e do julgamento do assassino. Dunne se tornaria uma das assinaturas-sinônimo da Vanity Fair tanto

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CENTRO DAS CONVERSAS Tina Brown (ao lado com o fotógrafo Richard Avedon) comandou o auge da revista, quando capas com Demi Moore, Lady Di e Whoopi Goldberg eram o talk of the town

na gestão Tina Brown como na de seu sucessor, Graydon Carter. Sua cobertura do julgamento de O.J. Simpson, em 1996-97, tornou-se um marco não apenas da revista, mas do jornalismo americano, uma releitura do Novo Jornalismo dos anos 1960 para a era da mídia eletrônica e da adoração da celebridade pela celebridade. O time da Vanity Fair de Tina Brown ecoava as escolhas de seu antecessor Frank Crowninshield – uma fina combinação de talento excepcional, inteligência e acesso às elites. As reportagens que definiram a reinventada revista tinham em comum um ponto de vista milimetricamente calibrado por Tina – ricos, famosos e em crise. Perfis como o da princesa Diana pela própria Tina (revelando as fraturas do conto de fadas) ou a controvertida matéria sobre a vida privada de Woody Allen, por Maureen Orth, faziam da revista leitura obrigatória. Fotógrafos como Helmut Newton, Bruce Weber, Mario Testino, Herb Ritts e Annie Leibovitz acomodaram-se perfeitamente ao estilo visual da publicação. As capas de Leibovitz, reconfigurando celebridades em quadros inesperados, passaram a ser um dos elementos mais fortes da marca. Capas com Whoopi Goldberg numa banheira cheia de leite e Demi Moore grávida e nua tornaram-se assunto de discussão, espanto e, obviamente, popularidade. Quando Tina Brown, em 1992, passou o comando para Graydon Carter, a Vanity Fair vendia 1,2 milhão de exemplares mensalmente, 55% dos quais em bancas. O canadense Carter, criador da publicação investigativo-satírica Spy, levou a revista ainda mais fundo no jornalismo investigativo. O gla-

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passagem DE BASTÃO Graydon Carter posando na capa (entre Gal Gadot e Robert De Niro). Ao lado, sua sucessora na revista, Radhika Jones, ex-editora de livros do New York Times

mour continuou, claro – Carter criou duas edições especiais, coincidindo com Oscars e Grammys, focadas em cinema e música –, mas matérias como a denúncia geral da indústria do tabaco e a identidade do Garganta Profunda, responsável pela devassa de Watergate, tornaram-se seus carros-chefe. Os tempos tinham mudado, de novo – a economia balançava e os novos tempos do fim do mundo analógico desenhavam-se no horizonte. EXTENSÕES DIGITAIS s ataques do 11 de setembro e a realidade do novo universo digital começaram a corroer a Vanity Fair depois da virada do século 21. Celebridades brotavam agora de todos os cantos, dos reality shows ao YouTube. Exposés repercutiam imediatamente – um perfil de Roman Polanski gerou um processo contra a revista (resolvido amigavelmente, com um comentário de Carter que define o momento: “Eu não tinha a menor ideia de que uma pessoa que mora na França pode mover uma ação na Grã-Bretanha contra uma revista publicada nos Estados Unidos”). Um ensaio fotográfico de Annie Leibovitz, com Miley Cyrus vestida apenas com um lençol, gerou um debate ferrenho no Twitter, com resultados nada benéficos para a revista. Uma capa com James Franco foi cancelada depois de uma gritaria nas redes sociais.

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O imaginário não vivia mais no papel, e os leitores eram agora usuários. Tudo podia ser notícia. Ou não. Em 2017 Carter passou o comando para Radhika Jones, editora de li­­vros do New York Times. A re­vista tem, agora, várias extensões digitais – e até uma série semanal no canal digital Cheddar. O estilo visual mudou, está mais sóbrio. O logo diminuiu, as capas são close-ups. A revista ficou mais magra. Há menos matérias, e bem menos matérias investigativas. A circulação é aquela de 1992. E o mais importante: como um artigo recente no site da Folio, especialista em publicações, aponta, Vanity Fair não é mais “a revista que todo mundo comenta, a que todo mundo precisa ler.” TP © getty images | reprodução

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o pi n i ão P o r A l e x a n d r e V e l i l l a G a rc i a

A jornada solitária do CEO

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m CEO não pode ter medo da solidão. É capaz de essa frase soar estranha em um artigo de negócios. Em especial, em um momento de busca, cada vez maior, pelo rompimento das barreiras entre gestores e equipes. Tais obstáculos dividiam, sim, as empresas em hierarquias complexas, dificultando os processos de comunicação, aprendizagem e inovação. Mas o fato é que teorias e visões antagônicas muitas vezes se complementam e geram equilíbrio, tanto em nossas empresas quanto em nossa própria vida, catalisando o processo de aprendizado e amadurecimento. O diálogo, a colaboração e a difusão livre de ideias numa empresa são, de fato, instigantes. Elas trazem inúmeros benefícios para a companhia, como bem observaram Michael Slind e Boris Groysberg em artigo no Harvard Business Review. No entanto, boa parte do dia a dia de um CEO é feita de extensas jornadas solitárias de trabalho. Nesses momentos, buscamos insights para conquistar os objetivos da organização e, inclusive, conduzir melhor nossas equipes. De mais a mais, por mais colaborativo que seja um ambiente de trabalho, o CEO precisa ser um exímio tomador de decisões. Sim, ele deve incentivar o diálogo e ser suficientemente humilde para saber ouvir. Ainda assim, o líder de uma companhia precisará seguir suas intuições, confiar no seu bom senso e em sua capacidade de decidir. Afinal de contas, o que é um CEO, se não aquele que conduzirá os nortes estratégicos de uma organização? É impossível assumir tamanha responsabilidade sem uma tenaz capacidade de distinguir boas ideias, montar uma equipe que comungue com seus sonhos, traçar objetivos, definir estratégias, assumir riscos, viver integralmente a cultura e os valores da empresa, e, em especial, acreditar em si mesmo, naquilo que diz a sua consciência. Trata-se de um trabalho sempre árduo, com muita transpiração - que acredito ser a fonte de inspiração do ser humano. Quando um líder sabe tomar decisões equilibradas, movidas pelo bom senso e após ter ouvido muito, ele é capaz de motivar pessoas a vestirem a camisa da empresa e inspirá-las, por sua vez, a construir sua própria jornada de liderança. Ao atingir tal objetivo, penso que aí sim o CEO estará cumprindo a parte essencial de seu papel enquanto líder: o de fomentar o ciclo da formação de novas lideranças. TP

Alexandre Velilla Garcia, CEO do Cel.Lep e sócio-fundador da Valor Real Construções, é economista com pós-graduação em management pelo ISE/IESEUniversity of Navarra velillagarcia@uol.com.br

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