Edição 32 • março 2018 • marcos madureira
Edição 32 março/abril/maio 2018
thepresident
marcos madureira Vice-presidente executivo do banco Santander
Um santista no Farol
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editorial
M
arcos Madureira é um executivo curioso. Apaixonado por automóvel desde criança, ele jura que há mais adrenalina no setor bancário do que na indústria automobilística. Marcos sabe do que fala. Trabalhou durante a maior parte da vida na Fiat e na Mercedes-Benz, pilotou carros velozes, foi vice-presidente da Anfavea. Em 2004, deu uma guinada radical, rumo ao setor financeiro. O atual vice-presidente executivo de comunicação, marketing, relações institucionais e sustentabilidade do banco Santander concentra agora sua energia no Farol Santander. Um polo irradiador de cultura no Centro velho de São Paulo, a partir do antigo prédio do Banespa, no número 24 da rua João Brícola, que integra memórias, experiências e exposições de arte. “Banco é serviço, cada vez mais”, diz. “Se o cliente prospera, o banco prospera junto.” Isso até sob o ponto de vista cultural, diga-se. Na entrevista de capa, ele ainda rebate velhas críticas ao sistema bancário – e prevê que, qualquer que seja o nome do próximo governo, será obrigado a realizar reformas, como a da previdência. Entre outros atrativos desta edição está a homenagem ao meio século do lançamento de 2001, Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick. Um filme tão vanguardista que ainda hoje perturba quem o vê. O asséptico futuro imaginado pelo diretor não se realizou. Mas o temor de que um robô – leia-se a inteligência artificial – domine o planeta persiste. Radicada na Alemanha, a carioca Isabela Pacini nos brinda com um sensível ensaio fotográfico sobre a Rússia, nossa anfitriã na Copa do Mundo de 2018. No lugar do monumental, das Praças Vermelhas e dos Krêmlins, Isabela preferiu focar o interior das casas russas. E ali descobriu, desvelou a alma de todo um povo – no caso russo, de vários. P.S. – Esta edição marca o fim de um ciclo desde que THE PRESIDENT foi lançada, em 2010. A revista será amplamente reformulada já em seu próximo número, que marca nosso 9o aniversário. Até junho!
andré cheron e fernando paiva Publishers
4
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Edição 03 dezembro 2010/janeiro/
EDIÇÃO 05 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2011
O conselheiro-aventureiro
THEPRESIDENT
ThEPREsIDEnT
thepresident
THEPRESIDENT
THEPRESIDENT
Uma vida no comando
THEPRESIDENT
AmAury olsen
Estilo carioca de viver
EDUARDO DE SOUZA RAMOS
Edição 04 março/abril/maio 2011
fevereiro 2011
OLAVO MONTEIRO DE CARVALHO
EDIÇÃO 05
EDIÇÃO 02 SETEMBRO/OUTUBRO/NOVEMBRO 2010
EDIÇÃO 01 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2010
edição 04
edição 03
EDIÇÃO 02
EDIÇÃO 01
THEPRESIDENT THEPRESIDENT
1 ANIVERSÁRIO N a
e d i ç ã o
e s p e c i a l
d e
O
JOESLEY BATISTA, DO GRUPO JBS: “VAMOS FATURAR US$ 40 BILHÕES NESTE ANO”. BRIGITTE BARDOT THE SURREY
n
n
PENHALIGON’S
SPITFIRE
n
n
TIFANNY
JAZZ n
FERnAnDO PInTO
O brasileiro voador
rev-CAPA03-RF.indd 1
12/7/10 3:27 PM
rev-CAPA_RF.indd 1
n
CACHAÇA
SICÍLIA
PANERAI CLASSIC YACHTS CHALLENGE
n
n
n
IWC
n
AUDI
n
E MAIS:
J.R. DURAN
n
ZUMBIS DA ECONOMIA
n
O BARÇA
BARACK OBAMA n JAEGER-LECOULTRE
CEO da TAP
3/16/11 4:15 PM
2o
Edição de
EDIÇÃO 09 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2012
aniversário
EDIÇÃO 10 SETEMBRO/OUTUBRO/NOVEMBRO 2012
ALAIR MARTINS
EDIÇÃO 11 DEZEMBRO/JANEIRO/FEVEREIRO 2013
LUIZA HELENA
Presidente do Conselho de Administração do Sistema Integrado Martins
IVAN ZURITA
O mineiro que carrega o Brasil
Edição 12 março/abril/maio 2013
Presidente do Magazine Luiza
A grande mestra do varejo
thepresident
THEPRESIDENT
Um homem do interior
THEPRESIDENT
THEPRESIDENT
THEPRESIDENT
THEPRESIDENT
Diretor-presidente da Nestlé Brasil
Edição 12 • março 2013 • nelson sirotsky
Um homem de palavra
EDIÇÃO 08 MARÇO/ABRIL/MAIO 2012
EDIÇÃO 11 • DEZEMBRO 2012 • LUIZA HELENA
Presidente do conselho de administração da Livraria Cultura
EDIÇÃO 10 • SETEMBRO 2012 • ALAIR MARTINS
PEDRO HERZ
EDIÇÃO 09 • JUNHO 2012 • CHIEKO AOKI
EDIÇÃO 07 DEZEMBRO/JANEIRO/FEVEREIRO 2012
EDIÇÃO 08 • MARÇO 2012 • IVAN ZURITA
EDIÇÃO 07 • DEZEMBRO 2011 • PEDRO HERZ
THEPRE PRESIDE SID DEENT THEPRESID THEPRESIDENT THEPRESIDENT THEPRE ESIDENT THEPRESIDENT THEPrEsidEnT
nelson sirotsky
CHIEKO AOKI
Chairman do Grupo RBS
Um estilo com a marca do Sul
Presidente da rede Blue Tree
A primeira-dama da hotelaria 1revCAPA09-def.indd 1
Hospitalidade com sotaque francês
27/02/15 19:30
Língua afiada
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25/06/15 04:34
EDIÇÃO 29 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2017
D
ÉTI E S
MO A N
IV
ER SÁ RIO • EDIÇ
Mr. Rock in Rio 3/14/16 6:55 PM
THEPrEsidEnT Edição 30 setembro/outubro/novembro 2017
ER
D
ÉTIMO AN E S IV
THEPRESIDENT
thepresident
thepresident
thepresident
thepresident
De olho na inovação
Presidente da Artplan
thepresident
O antenado
Managing partner da Redpoint eventures
Edição 24 mar/abr/mai 2016
ÃO
Presidente da Rede Vanguarda
romero rodrigues
THEPrEsidEnT
revCAPA24.indd 1
Edição 30 • sEtEmbro 2017 • freddy rabbat
Edição 27 dez/jan/fev 2017
9/19/15 3:59 AM
EDIÇÃO 29 • JUNHO 2017 • ROGÉRIO FASANO
THEPrEsidEnT
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08/09/14 22:07
roberto Medina
CEO do Grupo Pacífico
Edição 28 • março 2017 • romero rodrigues
Boni
lawrence pih
Back to the game
CEO da JRP – Julio Ribeiro Planejamento
Edição 27 • dEzEmbro 2016 • flávio rocha
Edição 26 • sEtEmbro 2016 • ciro lilla
Edição 25 • junho 2016 • boni
Edição 26 setembro/outubro/novembro 2016
julio ribeiro
ÃO
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thepresident
Revolução em marcha
11/06/14 18:10
Edição 24 • março 2016 • roberto medina
CEO da Philips para o Brasil e América Latina
revCAPA17def_selo.indd 1
thepresident
Henk de Jong
Professor emérito da FEA-USP
O dono da arena
Ação local, rastro global
19/03/14 19:12
Edição 23 • dEzEmbro 2015 • lawrence pih
thepresident
tHepresident
thepresident
delfim netto A luz e a sombra
Edição 25 junho/julho/agosto 2016
Edição 21 junho/julho/agosto 2015
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thepresident
Edição 20 março/abril/maio 2015
Alma de empreendedor
11/12/13 17:32
Edição 22 • sEtEmbro 2015 • angelo bonati
Edição 19 Dez/jan/fev/2015
Edição 21 • junho 2015 • julio ribeiro
Edição 20 • março 2015 • HENK DE JoNG
Edição 19 • dEzEmbro 2014 • Delfim netto
THEPrEsidEnT THEPrEsidEnT
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Edição 18 set/out/nov 2014
Presidente do Conselho de Administração da holding WTorre S.A.
Presidente da Atlas Schindler no Brasil
RIO • EDIÇ
9/13/13 4:42 AM
3/13/13 3:57 PM
walter torre junior
andré inserra
CEO da BMC – Brasil Máquinas de Constução
SÁ
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Edição de Aniversário 4 anos!
Edição 17 jun/jul/ago 2014
CAPA12_V02.indd 1
thepresident
6/12/13 9:14 PM
Felipe Cavalieri
Diretor-geral do grupo Accor para a América Latina
12/4/12 6:12 PM
thepresident
roland de Bonadona
Presidente da Ericsson América Latina & Caribe
Ligado e conectado
O campeão dos negócios
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Edição 16 mar/abr/mai 2014
thepresident
thepresident
thepresident
thepresident
sergio quiroga
alexandre accioly
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Edição 18 • sEtEmbro 2014 • walter torre junior
Edição 15 dez/jan/fev 2014
9/11/12 6:09 PM
Edição 17 • junho 2014 • andré inserra
Edição 14 Set/out/nov 2013
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Edição 16 • março 2014 • Felipe Cavalieri
3o
Edição de
aniversário
Edição 15 • dEzEmbro 2013 • Roland de Bonadona
Edição 13 junho/julho/agosto 2013
Edição 14 • sEtEmbro 2013 • Sergio quiroga
Edição 13 • junho 2013 • alexandre accioly
THEPrEsidEnT
6/19/12 9:43 PM
Freddy rabbat CEO da TAG Heuer Brasil
timE is monEy
edição de Aniversário
6 anos
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Novo dono do Jornal do Brasil
o REi do Rio
CEO do Grupo Guararapes
Um homem de opinião
6/24/16 12:17 PM
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9/20/16 10:57 AM
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12/9/16 11:38 AM
ROGÉRIO FASANO Sócio do Grupo Fasano
MEIO BRASILEIRO, MEZZO ITALIANO defCAPA29.indd 1
6/14/17 8:00 PM
1. Eduardo de Souza Ramos; 2. Olavo Monteiro de Carvalho; 3. Amaury Olsen; 4. Fernando Pinto; 5. Joesley Batista; 6. Paulo Kakinoff; 7. Pedro Herz; 8. Ivan Zurita; 9. Chieko Aoki; 10. Alair Martins; 11. Luiza Trajano; 12. Nelson Sirotsky; 13. Alexandre Accioly; 14. Sergio Quiroga; 15. Roland de Bonadona; 16. Felipe Vacalieri; 17. André Serra; 18. Walter Torre Junior; 19. Delfim Netto; 20. Henk De Jong; 21. Julio Ribeiro; 22. Angelo Bonati; 23. Lawrence Pih; 24. Roberto Medina; 25. Boni; 26. Ciro Lilla; 27. Flávio Rocha; 28. Romero Rodrigues; 29. Rogério Fasano; 30. Freddy Rabat; 31. Omar ‘Catito’ Peres; 32. Marcos Madureira.
Edição 32 março/abril/junho 2018
thepresident
thepresident
Omar peres
ciro lilla
A vida é vinho
Presidente da importadora Mistral
Edição 32 • março 2018 • marcos madureira
Edição 31 • dEzEmbro 2017 • Omar Peres
Edição 31 dezembrO/janeirO/fevereirO 2018
flávio rocha
marcos madureira Vice-presidente executivo do banco Santander
Um santista no Farol
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expediente
the president Publicação trimestral da Custom Editora edição 32
publishers André Cheron e Fernando Paiva
REDAÇÃO Diretor editorial Fernando Paiva fernandopaiva@customeditora.com.br diretor editorial adjunto Mario Ciccone mario@customeditora.com.br redator-chefe Walterson Sardenberg So berg@customeditora.com.br editora de viagem e gastronomia Luciana Lancellotti luciana@customeditora.com.br ARTE Diretora Cibele Camargo assistente Raphael Alves raphaelalves@customeditora.com.br prepress Daniel Vasques danielvasques@customeditora.com.br PROJETO GRÁFICO Alessandro Meiguins e Ken Tanaka COLABORARAM NESTE NÚMERO Texto Celso Arnaldo Araujo, Daniel Benevides, Glauco Lucena, Luiz Guerrero, Marcello Borges, Marcio Ishikawa, Marion Frank, Mauro Marcelo Alves, Raphael Calles, Sergio Crusco e Silvio Lancellotti Fotografia Isabela Pacini e Tuca Reinés Tratamento de imagens Daniel Vasques e Felipe Batistela Revisão Goretti Tenorio Capa Marcos Madureira por Tuca Reinés THE PRESIDENT facebook.com/revistathepresident @revistathepresident
PUBLICIDADE Diretor executivo André Cheron andrecheron@customeditora.com.br diretor comercial Oswaldo Otero Lara Filho (Buga) oswaldolara@customeditora.com.br executivOs de negócios Northon Blair northonblair@customeditora.com.br Marcia Gomes marciagomes@customeditora.com.br ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Analista financeira Carina Rodarte carina@customeditora.com.br Assistente Alessandro Ceron alessandroceron@customeditora.com.br REPRESENTANTES REGIONAIS GRP – Grupo de Representação Publicitária PR – Tel. (41) 3023-8238 SC/RS – Tel. (41) 3026-7451 adalberto@grpmidia.com.br CIN – Centro de Ideias e Negócios DF/RJ – Tel. (61) 3034-3704 / (61) 3034-3038 paulo.cin@centrodeideiasenegocios.com.br Tiragem desta edição: 12.000 exemplares CTP, impressão e acabamento: Bandeirantes Soluções Gráficas Custom Editora Ltda. Av. Nove de Julho, 5.593, 9º andar – Jardim Paulista São Paulo (SP) – CEP 01407-200 Tel. (11) 3708-9702 ATENDIMENTO AO LEITOR atendimentoaoleitor@customeditora.com.br Tel. (11) 3708-9702
www.customeditora.com.br
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março 2018
wikimedia commons
divulgação
sumário
16
104
117
16 VISÃO
46 capa
100 garagem
20 AUDIÇÃO
61 blackbook
104 estilo
24 OLFATO
82 memória
110 ensaio
28 PALADAR
86 esporte
122 luxo
32 TATO
92 motor
128 viagem
36 cult
98 velocidade
138 THE PRESIDENT
Ashley Graham, a modelo plus-size que é, antes de tudo, uma grande mulher
Seguimos a trilha do compositor e regente Ennio Morricone, à beira dos seus 90 anos
Névoa úmida e salgada, a maresia é palavra que só existe na língua portuguesa
Bastam cinco ingredientes para fazer o ceviche, receita que conquistou o planeta
Todo o mundo quer se bronzear, apesar dos constantes alertas dos dermatologistas
Meio século depois, o filme 2001ainda é uma admirada odisseia cinematográfica
10
86 Marcos Madureira, o executivo que trocou a indústria de veículos pelo sistema bancário
Dos lançamentos da alta relojoaria ao campeonato mundial de motos clássicas
Os divertidos tempos em que os jornalistas adoravam escrever usando pseudônimos
Quem é, afinal, Pep Guardiola, o técnico que você queria ver comandando o seu time
Eclipse Cross, o novo crossover da Mitsubishi, Motors, chega com muita personalidade
Os SUVs da Lexus reúnem tecnologia, desempenho e muita elegância
As novidades de quatro gigantes: Porsche, BMW, Volvo e Audi
De novo, os scooters são objetos de desejo, como aconteceu nos anos 1950
Um retrato dos moradores da Rússia, pouco antes da Copa do Mundo
Há 200 anos surgia a Brooks Brothers, simplesmente a marca dos presidentes
O melhor de Lisboa, a cidade da moda, e seus belíssimos arredores
Como o presidente De Gaulle conseguiu esvaziar Maio de 68 na França
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© isabela pacini
110 Vika e Sergej Morosov, donos de uma pet shop SÃO PETERSBURGO
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colaboradores
12
CAPA
visão
Audição
TUca reinés
daniel benevides
sergio crusco
Baterista na juventude, arquiteto de
Ele nasceu na França, onde os pais
Quando adquirem biscoitos finos, os
formação, acabou se tornando um dos
estudavam. Cresceu em São Paulo,
donos de sebos de vinil telefonam para
mais versáteis e premiados fotógrafos
que ajudou a animar como vocalista
este paulistano, que recentemente
do país. Divide seu tempo entre
do grupo 3 Hombres. Foi redator das
adquiriu parte do acervo de Telmo
caça submarina, passeios em todo e
revistas Bizz e Set e repórter do Jornal
Martino (como ele, um jornalista de
qualquer tipo de aeronave e o trabalho.
da Tarde. Tem uma carreira de jornalista
pena refinada). Seu tema nesta edição é
Sobretudo em seu estúdio, onde clicou
tão bem fornida quanto Ashley Graham,
Ennio Morricone, o grande compositor
Marcos Madureira, nossa capa.
seu assunto nesta THE PRESIDENT.
de trilhas de cinema.
olfato
paladar
tempo
marion frank
mauro marcelo alves
raphael calles
Seu trabalho como professora de yoga
Jornalista, escritor, chef de cozinha e
Um dos raros jornalistas brasileiros
é recente. O mesmo não se pode falar
experiente consultor em gastronomia,
especializados em relojoaria, esteve
da larga experiência como jornalista. Ao
vinhos e viagens. Dono de vasto
quase cinco anos à frente do WatchTime
longo de mais de três décadas, escreveu
conhecimento erudito e prático, Mauro
Brasil. Nesse período, fez mais de 30
para O Estado de S. Paulo, Veja/São Paulo
tornou-se referência nessas áreas, além
viagens ao exterior para tratar do
e Playboy, entre outros veículos. Sempre
de autor dos livros Vinhos - A Arte da
assunto. Trabalhou na Rede Bandeirantes,
com a obstinação de consultar e ouvir o
França, Vinho do Porto - Muito Prazer! e
RedeTV! e no Diário do Grande ABC. Sem
maior número de fontes.
O Espírito da Cachaça.
contar as revistas de lifestyle.
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colaboradores
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cult
esporte
motor
celso arnaldo araujo
silvio lancellotti
glauco lucena
Dono de dois prêmios Esso, ele adora
Arquiteto de formação, iniciou-se na
Jornalista com mestrado em
cinema e escrever sobre cinema. Ainda
imprensa há meio século, na equipe
administração de negócios, começou
menor de idade, conseguia assistir a
fundadora da revista Veja. Logo estava
na imprensa no Jornal da Tarde, há 29
filmes proibidos graças às vistas grossas
cobrindo a aventura de Pelé na busca
anos. Especializado na área de veículos,
do porteiro do Cine Jamor, em São
pelo gol número mil. Era o início de sua
foi redator-chefe da revista Autoesporte.
Paulo. Mas confessa: tinha medo de uma
dedicação jornalística ao esporte, uma
Tem sua própria agência de notícias, a
visita do juiz de menores. É autor do
de sua paixões. O que fica claro em seu
AutoBuzz, nome também da coluna que
texto sobre o filme 2001 desta edição.
texto sobre Pep Guardiola nesta edição.
publica no portal IG.
ESTILO
ensaio
luxo
LUIZ GUERRERO
isabela pacini
marcello borges
Jornalista de ofício há 40 anos, fez
Carioca, graduada em photo design pela
Dar aulas na Associação Brasileira de
carreira, sobretudo, no segmento de
Universidade de Dortmund em 2003,
Sommeliers (ABS), em São Paulo, é uma
veículos. Vinte anos atrás, percorreu
tornou-se fotógrafa internacional de fato.
das ocupações do cavalheiro da foto
toda a Transamazônica de moto, em
Mora na Alemanha, mas roda o mundo
acima. Pode ser sobre puros cubanos.
uma reportagem para o Jornal da Tarde.
em busca de temas como as olimpíadas
Ou sobre os melhores cognacs. Assíduo
Seu tema, neste número, é mais ameno,
da Mongólia ou a intimidade dos
colaborador de THE PRESIDENT, assina,
embora também sobre duas rodas: os
russos, ensaio que publica aqui em THE
desta feita, o alinhadíssimo texto sobre
scooters, que voltaram com força.
PRESIDENT. Tem 11 prêmios europeus.
a pioneira loja Brooks Brothers.
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visão POR daniel de mesquita benevides
mulherão A americana Ashley Graham é mais – muito mais! – do que a mais famosa modelo plus-size do mundo
ao mesmo tempo que exige uma adoração contemplativa, uma contenção madura para melhor apreender o todo em seu esplendor. Aos 30 anos, com traços que lembram tanto Cindy Crawford em seu auge quanto a atriz Eva Mendes, e um sorriso que dispensa holofotes, Ashley desafia o mundo da moda com sua personalidade. Muitos diziam que suas ancas generosas, suas coxas exuberantes e seu formato de ampulheta não a levariam a lugar algum. Como não? Ela estampou várias capas de revista – dentre elas, Vogue, Elle, Harper’s Bazaar e Glamour. Ingressou no cast da Ford Models. Lançou sua própria marca de lingerie. Fez mais: tornou-se juíza do America’s Next Top Model e publicou um livro de sucesso, A New Model: What Confidence, Beauty, and Power Really Look Like, que pode ser traduzido por Um Novo Modelo: o Que Confiança, Beleza e Poder Realmente Têm Entre os jurados de America’s Next Top Model. E o livro que escreveu
16
em Comum. Hoje, recebe cachês equivalentes aos das tops mais magras e conhecidas do mundo. Nem por isso se gaba. Continua a menina divertida, descoberta aos 12 anos num shopping center em Nebraska, no Meio-Oeste americano. Curvas perigosas Na verdade, mais do que se orgulhar por de ter vencido, ela se dispõe a mudar o padrão de beleza. Em especial, de quem sofre com baixa autoestima. Ashley mede 1,75 e pesa presumíveis 90 quilos. “Definitivamente, meu corpo mudou a vida de muita gente”, diz, com sua boca carnuda e sensual. Segura das suas curvas vertiginosas, ela se deixa fotografar sem esconder celulites e estrias. “Acho importante aceitar quem você é no espelho. No final do dia, é o que você tem”, filosofa com lógica simples e eficiente, aprendida com a mãe, que sempre a incentivou. Ashley foi a primeira modelo plus-size a estampar a capa da revista Sports Illustrated Swimsuit. E celulite é a última coisa que pensa quem vê o ensaio. Ashley provoca, brinca consigo mesma, com a câmera, se dobra e desdobra, revelando uma pele dourada, um sorriso brilhante e um desejo latente que nenhuma modelo, com as medidas que for, mostrou com tanta desenvoltura.
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“E
u amo cada parte do meu corpo.” Também pudera. Da ponta dos dedos ao rosto luminoso, Ashley Graham é inteira vida imanente, uma alegria disposta ao prazer sem culpas, como se o pecado original jamais tivesse existido. Quando se olha para ela, não se vê a mais famosa modelo plus-size do mundo, mas, antes disso, uma mulher livre de rótulos, e de uma beleza que transborda. Os antigos APC (antes do politicamente correto) diriam: é prato para muitos talheres. De forma bem mais elegante, para descrever seus atributos, pede-se um vagar de admiração equiparável ao das grandes obras renascentistas. Tarefa impossível, é claro: Ashley desperta impulsos imediatos,
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visão
Algumas das capas de revista que estrelou, sempre arrasando
Na água, rolando na areia, segurando os grandes seios nus, oferecendo as ancas fartas ao sol sedento, ela faz pensar numa Ursula Andress em cena famosa de filme de James Bond, também num maiô branco – só que ao cubo. Ou faz lembrar Bo Derek correndo na praia – só que muito mais. É a própria Afrodite comandando olhares e instintos. Marilyn e Sofia Loren, também dotadas de curvas perigosas e fatais, aprovariam com louvor. Tanta opulência e voluptuosidade, claro, nunca passam despercebidas. E nem é essa a intenção. Ela quer mesmo fazer barulho. Em 2010, a rede de televisão americana ABC se recusou a exibir um comercial da grife Lane Bryant em que Ashley apa-
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recia de lingerie sexy. A peça não tinha nada de mais provocante que os habituais vídeos da Victoria’s Secrets. O “problema” era evidente: Ashley era mulher demais para a família americana, no entender estreito da ABC. “Não bancaram os meus peitos”, disse ela, à época com 22 anos. O quente filme publicitário foi parar na Fox e, além de levantar a questão da legitimidade plus-size com a polêmica, fez enorme sucesso nos intervalos de American Idol. Jamais cheia de si Ativista da consciência corporal, Ashley defende a diversidade da beleza nas passarelas, de raça, peso, idade, e também na chamada “vida comum”. Prefere ser tratada
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como modelo, simplesmente, e não como modelo plus-size. “O que eu busco na moda é romper barreiras”, avisa. “Assim quem sabe fotógrafos e diretores de arte fiquem mais abertos à ideia de contratar uma modelo plus-size não por suas medidas, mas porque ela é a melhor para aquele trabalho.” Ainda assim, não renega o rótulo. Foi o que lhe deu a carreira, a fama e dinheiro. Mesmo que não tenha seduzido a alta-costura, presa aos padrões da magreza nos limites da anorexia (com raras exceções, como Vivienne Westwood, Prada e Rick Owens), o mercado da moda plus-size movimenta dezenas de bilhões de dólares. A cruzada de Ashley tem muito a ver com seu sucesso. Está na raiz de sua autoconfiança. Ao contrário das “magras”, ela parece tão livre e à vontade que passa a impressão de aproveitar ao máximo cada momento da vida. É como se não tivesse nada a perder, ao passo que as demais se descabelam em luta diária com a balança. Estão também na raiz de seu carisma a sua bela voz e a naturalidade gestual. Com seu jeito espontâneo, passou por dezenas de programas de TV americanos, além de ter uma palestra no TED chamada Plus-Size? More Like My Size, com 2,5 milhões de visualizações. O carisma é tanto que ela ganhou uma Barbie própria, mais “cheiinha” como ela – e mais sexy. Seu movimento pela aceitação do próprio corpo e de ir contra os padrões de beleza ditados pelo mercado e pela sociedade tem muito em comum com o movimento de outras mulheres mundo afora – mulheres bem diferentes e em contextos bem diferentes, mas que talvez formem parte do mesmo zeitgeist. A saber: aquelas que passaram a deixar os cabelos brancos; aquelas que não
raspam os pelos; as que se rebelam contra burcas e outras restrições indumentárias; as que se tatuam e usam piercings, as deficientes que reivindicam sua sexualidade etc. É o feminino se libertando das amarras. O corpo sinuoso e voluptuoso de Ashley Graham, por mais que seja exemplo de enorme sucesso, é símbolo também dessa luta. E não pense que sempre foi fácil para ela. Como muitas, sofreu abuso (aos 10 anos), teve um namorado violento, en-
“Eu adoro bundas!”, exclama. Tinha dificuldades de encontrar roupas de que gostasse do seu tamanho. Esse foi um dos motivos que a levaram a criar uma linha de lingerie própria, bem sexy. Superativa e cheia de ideias, também desenvolveu um plano de fitness para moças com curvas generosas como ela: o Curvy Fit Club. Que não é para emagrecer, mas para se manter em forma, com saúde. Ashley se exercita três vezes por semana e não dispensa o
A rede americana de televisão ABC recusou-se a veicular um comercial de lingerie estrelado por Ashley. Era sensual demais. A Fox, concorrente, decidiu bancar. Foi um sucesso plus-size frentou bullying (com galhardia, diga-se) e até hoje é obrigada a ver ofensas em redes sociais (já foi chamada de “vaca” no Instagram, por exemplo). “Em Nebraska eu era conhecida como a modelo gorda, bonita de cara, apesar de bunduda”, conta rindo. Pois ela tira tudo isso de letra. Na sala de sua casa tem um quadro com três mulheres de costas mostrando suas bundas enormes.
suco verde diário (espinafre, gengibre, limão e maçã). Para os milhares de admiradores, um detalhe chato: é casada desde 2010, com um videografista. Fã de seriados como Stranger Things, Ashley jura que acredita em sereias e alienígenas. Mas convenhamos, com todos esses atributos, inacreditável é ela. Que mulher! P
No comercial de TV da grife Lane Bryant
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audição POR SERGIO CRUSCO
Música para os olhos O cinema jamais seria o que é sem a beleza e a emoção das trilhas sonoras de Ennio Morricone
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m 1964, ao resolver rodar Por um Punhado de Dólares, seu primeiro western, Sergio Leone precisou duelar com um orçamento apertado. O punhado do diretor era de apenas US$ 200 mil, o
que impedia luxos ou cachês perdulários. Como o pistoleiro protagonista, o italiano escolheu um ator alto e bonitão que, até seus 30 e poucos, só havia feito filmes mixurucas nos Estados Unidos – um certo Clint Eastwood. Leone filmou em locação num pedaço semidesértico de terra em Almeria, no sul da Espanha. E, para compor a trilha, contratou um conhecido dos seus tempos de escola. O colega pretendia fazer música “séria”, embora ganhasse a vida escrevendo para televisão e teatro. Assinava arranjos e canções para astros do pop italiano, como Luigi Tenco, Mina e Rita Pavone. Não havia como contratar uma grande orquestra para soar à moda de Hollywood. Assim, Ennio Morricone traduziu o Oeste americano com o que tinha à mão. Eram gaitas, estalidos, passos, galopar de cavalos simulados com instrumentos de percussão, sopros de diversos timbres, assobios, vozes, o disparo de revólveres, órgãos que lembravam uma missa de Bach, o estilo
peculiar de fazer uma guitarra elétrica Fender parecer um artefato típico do deserto texano. Hoje, o som criado por Morricone pode parecer clichê, tanto foi copiado por compositores de cinema durante a febre que se seguiu ao sucesso de Por um Punhado de Dólares – o chamado spaghetti western. Na época, a trilha sonora fundou um estilo. Com Leone, Morricone viveu um casamento perfeito, semelhante aos de Federico Fellini-Nino Rota ou Alfred Hitchcock-Bernard Herrmann, chegando a inverter a ordem dos fatores – e isso alterava o resultado. Contrariando a forma de musicar cinema (o compositor criando em cima do que já estava filmado), muitos dos scores da parceria Leone-Morricone foram gravados antes de as cenas serem rodadas. Leone “coreografava” a partitura do amigo; daí as cenas longas, lentas e tensas, sobretudo as de duelo. O recurso foi usado também na primeira experiência da dupla (e último filme de Leone) nos EUA, Era Uma Vez na América, de 1984. Daquela feita, Morricone quebrou outra regra: cenas de brutalidade, numa história de gângsteres, protagonizadas pelo som mavioso da flauta de pã.
Nascido em Roma em 1928, filho de um músico que sustentava a família tocando em bares e teatros de variedades, Morricone mostrou desde criança um talento incomum, começando a compor aos 6 anos. Foi matriculado na Academia Nacional Santa Cecília, uma das mais antigas do gênero, e já fazia seus bicos para sobreviver. Além do teatro, da tevê e da música pop, ainda substituía o pai, Arpino, ao trombone, nos clubes noturnos da cidade. A parceria com Leone marcou sua consagração imediata: foi a primeira de mais de 500 trilhas sonoras. Por isso, Morricone às vezes se ressente por ser lembrado apenas pela música dos westerns. Contabiliza que o bangue-bangue
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Audição mento, como o piano. Mandava tudo diretamente da cabeça para o papel. Um dos segredos para conseguir realizar tanto, além do talento e da disciplina, talvez estivesse na capacidade de saber dar a cada película exatamente o que ela merecesse. “Se a história é simples, a música deve ser simples”, dizia. “Mas precisa ser úni-
Quando Quentin Tarantino o convidou para compor a trilha de Os Oito Odiados, Morricone relutou em aceitar. Achava que o cineasta americano não fazia bom uso da música no cinema A voz de ouro Ao longo dos anos 1960-70, o maestro conseguiu dar conta de uma agenda humanamente impossível. Musicava de três a cinco filmes (!) por mês. Não só escrevia a partitura como enfrentava o trabalho pesado de orquestrar, reger e gravar. Além de orientar, incansável, os músicos a extrair de cada instrumento o timbre e a intenção que ele desejava. Detalhe: Morricone não escrevia com a ajuda de um instru-
ca.” É curioso notar que, para concluir trilhas de filmes menores, ele de fato não queimou muito a mufa: compôs um ou dois temas que se repetem em estilos, climas e orquestrações diferentes. Mas que não desgrudam de nossa cabeça ao final da história. Ganham vida independente. É o caso da valsinha que acompanha as travessuras de A Prima Desejada (1974), clássico da tradição suavemente erótica do cinema italiano da época.
Ouvindo essa e outras trilhas “ligeiras” como as de Numa Noite... Um Jantar ou L’Assoluto Naturale (ambos de 1969), chegamos à conclusão de que Ennio Morricone inventou ainda mais um estilo: a música de filme de sacanagem, com um sotaque pop que podia misturar bossa nova, rock, twist, valsa jazz, jazz propriamente dito e outros beats da moda. Essa fusão foi naturalmente copiada por pervertidos e lúbricos de diversas escolas cinematográficas. E várias tiveram o instrumento mais perfeito que Morricone já regeu: a cantora Edda Dell’Orso, sua colaboradora reprodução
represente cerca de 8% de sua obra para o cinema. Os 92% restantes vão da melodia sentimental que marcou Cinema Paradiso (1988), do diretor Giuseppe Tornatore, ao brilho épico-sinfônico de A Missão (1986), de Martin Scorsese. Isso sem mencionar temas que alternam tensão e drama, como no hoje clássico Os Intocáveis (1987), de Brian De Palma.
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Ainda jovem, ao trompete, e dois filmes que musicou: A Prima Desejada e Cinema Paradiso
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Com Tarantino e no cartaz de sua mais recente turnê
constante desde os primeiros westerns. Edda ficou conhecida como “A Voz de Ouro”, tão límpida que podia soar imponente numa cena épica ou delicadamente sexy quando a trama assim exigisse. Fora do cinema, o romano encontrou tempo para integrar, nos anos 1970, o inovador Gruppo di Improvvisazione di Nuova Consonanza, ou simplesmente Il Gruppo. Tratava-se de um coletivo de músicos ultramodernos que deu as cartas no cenário experimental europeu ao explorar a sonoridade de instrumentos clássicos e trabalhar com música eletrônica, pré-gravada, que ia do simples ruído ao funk lisérgico. Longe de obter sucesso comercial, o Gruppo gravou trilhas interessantíssimas e incomuns, como a do filme de terror Momentos de Desespero (1971). E até hoje seu som é sampleado por DJs e artistas de hip-hop.
Noventa em novembro No alvorecer da década de 1980, ele decidiu desacelerar – o que no seu caso quis dizer compor só uma trilha por mês. Queria se dedicar mais à música de concerto, coisa que nunca deixou de fazer. Ou que continuaria fazendo também no cinema – várias de suas trilhas são grandes partituras sinfônicas. Tímido, sem saber tratar de questões de dinheiro, ele descobriu que em Hollywood, onde já era um astro, ganhava o piso reservado aos mais reles compositores. Deu uma banana para o cinema americano, mas não demorou muito para que um produtor se dispusesse a pagar o que considerava justo, quando aceitou trabalhar em A Missão. Assim, voltou à Califórnia por cima da carne-seca. Morricone trabalhou com os melhores diretores de seu tempo. Lamenta apenas um desencontro, o de não ter agenda para atender a um pedido de Stanley Kubrick: compor a trilha de Laranja Mecânica
(1972). Já Quentin Tarantino, depois de usar trechos de antigas trilhas de Morricone em algumas produções, finalmente convenceu o maestro a compor o score original de Os Oito Odiados (2015). O italiano não andava lá muito animado; achava que o diretor não fazia bom uso do som. “É preciso dar o volume justo à música na cena, para que ela possa passar sua mensagem”, costuma dizer. “De outro modo, uma boa composição pode parecer feia.” Em novembro, Ennio Morricone deve completar 90 anos. Enquanto isso, continua espalhando beleza: segue com apresentações agendadas em grandes arenas da Europa, cumprindo a turnê 60 Years of Music, espetáculo em que rege um batalhão de 200 músicos. No momento em que você lê este texto, do lápis do compositor uma partitura nova pode estar surgindo – e dali brotar outra trilha sonora destinada a encantar nossos ouvidos e a entrar para a história. P
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olfato POR marion frank
Cheiro de mar A maresia destrói o que encontra pela frente, de ferragem ao estresse. E embala a criatividade dos homens
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ocê passou uma semana infernal. Discutiu com todos por tudo (ou seja, por nada). E o pior é perceber que essa tem sido a tônica do mês, talvez influência dos astros, das emoções à flor da pele. Em suma, do desgaste físico, mental e emocional. Aí você dá um basta e se manda para a beira do mar. Porque só de sentir o seu cheiro, ah!, algo lhe diz que será bom, muito bom mesmo. Maresia, vamos simplificar desde já, é o nome que se dá a esse cheiro do mar – em inglês, sea air; em francês, l´odeur de la mer; e, em espanhol, l´olor del mar en el reflujo (ou seja, com a maré baixa). Porque maresia é como saudade, só existe na língua portuguesa.
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Ela pode ser mais ou menos acentuada de acordo com mudanças no ambiente marinho, caso da ressaca forte, do excesso de algas etc. E ganha a forma de nuvem de água salgada com a rebentação, que o vento carrega até as moradias mais próximas, onde é um Deus nos acuda para proteger móveis e eletrodomésticos por causa da oxidação que provoca. Acontece que esse ar que você tanto deseja respirar tem carga elevada de íons negativos, que acelera a sua capacidade de absorver oxigênio. Íons negativos ainda estimulam a produção de serotonina no cérebro, o componente que vai lhe ajudar a combater o estresse. Ou seja: o seu corpo indica de antemão os benefícios que irá colher à beira-mar, reações que a ciência estuda e detalha porque, ora, esse é o papel dela. Aliás, você não precisa ser “matusalém”, com o devido respeito, para se lembrar das histórias que retratavam o “ar marinho” como tratamento para a maioria das doenças respiratórias (e outras, do espírito) – rotina do século 19. Cientistas hoje provam que respirar o ar salgado ajuda a desobstruir os pulmões,
sendo benéfico para combater doenças genéticas, caso da fibrose cística. Outra: a maresia mantém em equilíbrio a taxa de iodo no organismo (essencial para o desenvolvimento do cérebro infantil). Mais uma: ficar olhando o mar horas a fio (e de brinde deixar-se entranhar pelo barulho das ondas e pelo aroma característico) vale uma fortuna em bem-estar porque estimula o blue mind – reação positiva do cérebro, que relaxa quase de modo instantâneo em presença daquele mundo de água. Poetas portugueses Mas deixemos a ciência de lado, pois o horizonte deste Atlântico perde-se de vista e chega a embaralhar os sentidos, sobretudo entre os que vivem nas terras de Portugal. Esse país que a nós, brasileiros, tanto diz parece emoldurado de varandas, onde a sua gente se debruça e deixa a alma “a ver navios” – em um idioma que se presta a essa metáfora, a maresia sempre funciona como fonte de inspiração em prosa ou verso. Reparem no poema de Cesário Verde, “O Sentimento de um Ocidental”, do final dos anos 1800: “Nas nossas ruas, ao anoitecer, há tal soturnidade, há tal melancolia que as som-
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olfato bras, o bulício, o Tejo, a maresia, despertam-me um desejo absurdo de sofrer”. Fernando Pessoa, insuperável, vai além, revolvendo de tal forma o que escreve que o cheiro do mar se torna presente, palpável. Confessa ele, em uma de suas obras mais famosas, “O Livro do Desassossego”, de 1913: “...leve, como uma coisa que começasse, a maresia da brisa pairou de sobre o Tejo e espalhou-se sujamente pelos princípios da Baixa. Nauseava frescamente num torpor frio de mar morno. Senti a vida no estômago e o olfato tornou-se uma coisa por trás dos olhos...”. E, se o leitor for levado a concluir que a maresia é tema sem efeito na produção lírica atual, vai se surpreender com a magnitude poética de Sophia de Mello Breyner Andresen – a primeira mulher, aliás, a ganhar o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa (1999): “Mar, metade da
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minha alma é feita de maresia, pois é pela mesma inquietação e nostalgia que há no vasto clamor da maré cheia, que nunca nenhum bem me satisfez”. Isso posto, melhor cair em nossa realidade e seguir em frente, ouvindo Gabriel o Pensador e o sucesso “O Cachimbo da Paz”: “Apaga a fumaça do revólver, da pistola/Manda a fumaça do cachimbo pra cachola/Acende, puxa, prende, passa/Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça/Maresia, sente a maresia/Maresia uh”. Surpresa? Ora, sob a influência dos trópicos, maresia serve até para indicar o cheiro da maconha (ou jererê) que se sente no ar. Nós, brasileiros, gostamos de usar a música para demonstrar nossa paixão pelo mar, assim como os portugueses o fazem com a poesia. Basta lembrar de Dorival Caymmi. Mas ninguém declamou esse amor com tanta intensidade quanto a bossa nova. Era uma turma
boa de surfe, mergulho e música – caso, por exemplo, da produzida pelo violão de Roberto Menescal (com letras de Ronaldo Bôscoli), autores de clássicos do gênero, como “Nós e o Mar”, “Carta ao Mar” e, claro, “O Barquinho”. Eles sabiam que eram felizes “Dia de luz, festa de sol, e um barquinho a deslizar no macio azul do mar...”, cantou Maysa, em gravação de 1959, e também Peri Ribeiro, Nara Leão, João Gilberto, Elis Regina... E quem é que ainda hoje consegue lhes resistir? Conta Célio Albuquerque, jornalista e pesquisador de MPB: “Poucos sabem, mas ‘O Barquinho’, música que tanto cheira a maresia, foi composta quando Menescal, Bôscoli e um grupo de amigos praticavam caça submarina navegando próximo a Cabo Frio”. Ele continua: “O motor da traineira enguiçou e, para matar o tempo, à espera do socorro, Menescal pegou o violão
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e começou a dedilhar, inspirado no som das tentativas de um motor que não pegava. Bôscoli gostou da brincadeira e passou a ensaiar os primeiros versos da letra”. Foi assim que veio à tona “O Barquinho”, um hit de impacto mundial, “o exemplo de poesia afinada com o ritmo das ondas e o cheiro do mar”, ressalta Célio, organizador do livro 1973 – O Ano Que Reinventou a MPB. Menescal, que ao lado de Marcos Valle está às voltas com a produção do próximo trabalho de Fernanda Takai (O Tom de Takai), deixa de lado as gravações para recordar: “Passávamos o dia na praia de Copacabana, jogando frescobol, pegando onda e mergulhando, no meu caso… E, com o violão por perto, a gente compunha. Foi um período de maresia total”. Um privilégio de vida, concorda? “Com certeza, éramos felizes – e sabíamos.”
O tempo passa. E faz sumir parte da maresia na Cidade Maravilhosa. Ao menos, ouve-se essa queixa caminhando por Copacabana. Luiz Antônio (“Ted”) Pereira, que vive na zona sul desde que nasceu, 62 anos atrás, consultor de turismo náutico e aficionado da caça submarina, comenta: “A maresia não é mais tão acentuada porque o regime de ventos tem se alterado e também porque tem sido menos comum encontrar a água fria no mar que banha o Rio”. Sim, água fria e vento influenciam a intensidade de maresia à beira-mar. Amigo de Ted, o biólogo marinho Sergio Jordão, que mora em Niterói e vive da pesca esportiva, é de outra opinião: “Não percebi muita diferença, não. Se a maresia não é a mesma, isso se deve à ação predatória do homem em um determinado lugar”. Outro filho de Niterói, José Carlos (“Cainho”) Seoane, professor de geologia da UFRJ, confessa apreço pela
maresia: “Ela modifica o que é necessário, caso dos lixos metálicos, que voltam a ser óxido de ferro sob sua ação, sendo reintegrados à terra”. No início deste ano, a propósito, o Fantástico divulgou a reportagem sobre a praia do Futuro, em Fortaleza, “e a maresia mais forte do mundo”. Nela, cientistas da Universidade Federal do Ceará asseguraram à Rede Globo que isso se deve à elevadíssima concentração de íons de cloreto suspensa no ar, provocada pela alta velocidade dos ventos, que atinge aquela praia de frente. Cainho põe em dúvida o superlativo, lembrando a salinidade do Mar Morto e aquela que já chamava atenção no século 19, típica da parte baixa de Lima (Peru), a área portuária chamada Callao “...e descrita de modo memorável por Herman Melville, no romance Moby Dick”. Outra surpresa, e das boas. Um geólogo bom de literatura. P
Maysa, Menescal e Gabriel o Pensador: inspiração vinda dos ventos marítimos
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paladar POR Mauro Marcelo Alves
receita cinco estrelas Peixe branco, limão, cebola roxa, sal e pimenta. Com apenas esses ingredientes, o ceviche ganhou o mundo
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inco ingredientes básicos, zero cozimento, alguns minutos de espera e pronto, está no papo. Totalmente dentro da linha menos é mais, o ceviche jorrou das tigelas peruanas para ganhar bocas ansiosas nos dois hemisférios. Peixe branco de carne firme, limão, cebola roxa, sal e pimenta são suas cinco estrelas. Mas, tal como a pizza, vem ganhando versões mais sofisticadas ou francamente doidas, inclusive com ingredientes cozidos – talvez o preço azedo por estar na moda. Ceviche, cebiche, seviche ou sebiche: a pronúncia não importa muito, já que em espanhol as letras “v” e “b” têm o mesmo som. Já a origem da palavra tem versões para todo tipo de gosto. Entre as mais citadas está a do historiador
peruano Javier Pulgar Vidal, garantindo que vem da palavra quéchua siwichi (peixe fresco ou macio). Mas outros dizem que deriva do árabe sibech (comida ácida), vocábulo levado ao Peru por mulheres mouras de Granada feitas escravas pelas tropas do colonizador Francisco Pizarro (1476-1541). Na incerteza, vale a tradição do peixe marinado pelos incas na era pré-colombiana com a chicha, fermentado alcoólico de milho, com o limão e a cebola entrando na onda após a chegada dos europeus. E também há o registro, caro aos historiadores, de que o antepassado do ceviche surgiu por volta de 2000 a.C. entre o povo Mochica, do litoral norte do Peru, que embebia o peixe em suco de tumbo ou curuba (fruto parecido com o maracujá). Um brasileiro, o pioneiro Para os peruanos, herdeiros maiores da herança, o prato é tão emblemático que foi declarado patrimônio nacional e ainda consagraram 28 de junho como o Día Nacional del Cebiche, oferecido de graça nesse dia em muitas cebicherías. Apenas na capital, Lima, O prato no esplendor da simplicidade. E um pouco de ají amarillo
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se consome algo como 40 milhões de pratos de ceviche por mês, ou quatro por pessoa nesse período (sua área metropolitana tem 10 milhões de habitantes). Além dos vários restaurantes famosos na capital, atraindo gente de todo o mundo (veja quadro), há em todo o Peru 35 mil cebicherías populares, com menos de 20 mesas e cobrando entre 5 e 15 nuevos soles (mais ou menos de 5 a 15 reais), segundo a Asociación de Restauradores Marinos y Afines del Perú (Armap). Com esse mar de cebicherías, vale abrir parênteses para uma curiosidade: a primeira casa do país a usar essa expressão teria sido iniciativa de um brasileiro (já falecido) no início dos anos 1980, de pseudônimo Don Beta, no bairro limenho de Miraflores. Quem conta é a jornalista peruana Verónica Goyzueta, correspondente no Brasil e mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie, de São Paulo. Casas populares vendendo peixes marinados já eram comuns nos anos 1950, mas sem serem chamadas de cebicherías. A primeira vez que a preparação do prato aparece em livro foi em 1860, chamado La Guía de Lima, de Manuel Anastasio Fuentes.
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Na receita, o autor indica que os peixes ou camarões devem ser cortados em pedaços pequenos (dando origem a outro nome usado pelos peruanos, o tiradito) e devem ser imersos em suco de laranjas ácidas com muita pimenta ají amarillo e sal, podendo conservar-se por
A chef Débora Shornik e seu ceviche amazonense. À direita, outra variação, com frutos do mar no lugar do peixe
minutos – afinal, o ataque do limão não deixa de ser um cozimento. O prato pode ganhar ainda a presença do controverso coentro, que, por ser campeão culinário do amor e do ódio, é imprescindível para uns e uma insensatez intragável para outros.
As adaptações brasileiras chegam ao sortilégio de incluir carne-seca. Uma das melhores utiliza tucunaré e tucupi. É preparada nos restaurantes Caxiri, de São Paulo e Manaus várias horas. Atualmente os peruanos preferem usar ají limo, prima da amarillo. Aos poucos a laranja azeda foi substituída pelo limão e a mistura picante que envolve os peixes ou frutos do mar passou a ser chamada de leite de tigre – de tão gostosa, é comum que seja bebida à parte, em um copinho. Importantíssimo: a matéria-prima deve ser fresca, sem estágio em freezers, com o tempo de conchavo dos ingredientes não ultrapassando os 10
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Quanto ao acompanhamento, cada região do Peru tem seus costumes a partir do que colhem. Em Lima e Callao reinam quase sempre o milho cozido e a batata-doce. No norte do país usa-se muito a mandioca, além da batata doce e grãos de milho torrados (cancha salada). Já em Piura, a fava zarandaja; em Trujillo, as folhas da planta yuyo (semelhante à mostarda); e, em Lambayeque, pequenas tortilhas de milho.
Fácil de fazer e quase sempre bemsucedido mesmo para quem é marinheiro ou marinheira do primeiro ceviche, o prato nacional do Peru se espalhou por vários países, com receitas respeitosas e outras beirando a extravagância. No Brasil, o ceviche caiu no ziriguidum, mais ou menos como a pizza e seu carnaval de coisas espalhadas em cima. Uma rápida consulta na internet com a palavra exibe receitas com chuchu, quiabo, coco, caju, carne-seca (!?), manga e abacate (esses entram bem) e muitas outras liberdades. Até a natureba apresentadora de TV Bela Gil se divertiu com seu “ceviche de banana-da-terra”, cozida em água e depois marinada com pimenta, cebola, azeite, gengibre, suco de limão e sal durante longas 24 horas. Uma das mais felizes adaptações brasileiras é com o uso do tucupi, o amazônico caldo amarelo extraído da raiz da mandioca-brava, com acidez generosa e persistente. Um dos mais
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Vai a Lima?
deliciosos é feito pela chef Débora Shornik, do restaurante Caxiri, em Manaus (tem filial em São Paulo), com tucunaré, limão, sal, pimenta-de-cheiro, pimenta murupi (uma Capsicum chinense, assim como o ají amarillo), coentro e tucupi gelado, com batata-doce e telha de tapioca acompanhando. Glória peruana Os peruanos, assim como os chilenos, contam com a imensa vantagem de ter o oceano Pacífico lambendo suas costas, permitindo às espécies mais usadas uma carne firme e própria para suportar o vigor do leche de tigre, além do sabor excepcional garantido pelas correntes frias e abundância de plânctons. Por aqui, usamos na maioria das vezes robalo, garoupa, linguado, atum, pargo, vermelho, corvina e a novidadeira e meio sem graça tilápia, de criação intensiva em tanques.
Também honram um bom ceviche o camarão, a ostra, o lagostim, a lula e peixes de água doce, do Pantanal ou Amazônia, como o tucunaré usado pela chef Débora Shornik. Em São Paulo, Rio de Janeiro e outras cidades brasileiras há dezenas de restaurantes ou bares servindo variados ceviches, que também chegaram aos balcões japas em cumplicidade com sushis e sashimis. Uma glória peruana que deixou de ser apenas uma tradicional cura para ressaca e degustada só em dias quentes, refletindo ainda uma identidade que muitos no país gostam de definir assim: o peixe simboliza a grandeza do mar; o limão, a força do caráter de quem faz; a cebola, a melancolia dos pescadores nos vários dias no mar; a pimenta, a malícia necessária à sobrevivência; o milho, a riqueza da terra; e a batata-doce, a conhecida hospitalidade dos peruanos. Uma receita cinco estrelas. P
O Peru se tornou ao longo dos últimos anos um dos centros mundiais da gastronomia, graças a chefs como Mitsuharu “Micha” Tsumura, do restaurante Maido, eleito o melhor da América Latina em 2017 pelo The World’s 50 Best Restaurants; Virgilio Martínez, do Central, segundo na mesma lista, ou o decantado Gastón Acurio, do Astrid y Gastón, que já foi primeiro e agora é sétimo na premiação, um dos responsáveis pela “universalização” do ceviche. Ele tem outro restaurante, La Mar, com filial em São Paulo. Todos elaboram uma cozinha criativa, contemporânea, e por si só valem a visita a Lima, a capital peruana. Mas outros lugares permitem uma necessária incursão ao prato nacional do país, com modéstia e qualidade. Uma casa tipo imprescindível em Lima é Chez Wong, do chef Javier Wong, em local simples e sem placa na porta. Ele decide o que servir a cada dia e faz ceviches estupendos. Se vai ao Peru, aproveite e já faça a reserva (obrigatória) pelo telefone (51 1) 470-6217 Outras casas para um bom ceviche em Lima: El Mercado, La Pescaderia, Mi Barrunto, Cebichería de Pedro Solari, El Verídico de Fidel, Canta Rana, Cebichería Andrea, La Paisana, Pescados Capitales e Puerto 260.
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Tato POR WALTERSON SARDENBERG Sº
O bronze ainda vale ouro Apesar dos renitentes alertas dos dermatologistas, a pele bem dourada continua por cima
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onald Trump, dono de uma tez tão laranja quanto o topete, fez que não ouviu os alertas sobre os efeitos da exposição indiscriminada ao sol. Tal como ele, outros famosos insistem em exibir peles bronzeadas até a mais profunda camada. Casos dos italianos Valentino, Donatella Versace e Giorgio Armani. A Organização Mundial da Saúde só falta sair às ruas com megafone, informando que o melanoma, provocado sobretudo por raios solares em horários inadequados, é a forma mais comum de câncer entre os 15 e os 34 anos. Mesmo assim, Trump e os estilistas italianos permanecem ao sol. Talvez porque – eis aí o alívio de cada um – há muito passaram dos 34. Em 1985, a Academia Americana de Dermatologia lançou uma campanha bombástica sobre os riscos da superexposição aos raios UV – em qualquer idade. Surtiu efeito. Três anos mais tarde, Eileen Ford, diretora da agência de modelos Ford, foi taxativa: “O visual bronzeado está morto”. Parecia que chegara a hora de essa gente bem branquela mostrar seu valor. Era a vez de Dita Von Teese, Nicole Kidman e Scarlett Johans-
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son. Mas qual nada. Foi só uma reação epidérmica. Depois disso, Halle Berry subiu no tapete vermelho, Victoria Beckham nas paradas, Kim Kardashian nas tamancas e Anitta subiu na laje com biquíni de fita isolante. Todas de corpo moreno delgado, da cor do pecado, que faz tão bem. Embora o Ministério da Saúde advirta, o bronzeamento vive, de novo, dias dourados. Tempos da personal bronze Érika Martins. Essa carioca fatura três dígitos ao mês em sua laje no subúrbio de Realengo, cuidando para que as clientes não sejam nem caras-pálidas, nem peles-vermelhas. Ou tempos nem tão dourados assim, em que a Disease Control and
Prevention (DCP), a Anvisa dos Estados Unidos, adverte sobre a tanorexia – palavra derivada do verbo to tan (bronzear). A enfermidade consiste na compulsão por dourar a pele, à maneira da dependência química do álcool. O tom bronzeado nada mais é do que uma reação da cútis procurando se proteger. Ela aumenta a produção de melanina, que colore a pele. O pigmento absorve a radiação nociva de modo a impedir sua infiltração em faixas mais profundas dos tecidos. Sabe-se hoje, a melanina também libera endorfinas, hormônios que geram aliciante sensação de bem-estar. “Para alguns, o bronzeamento pode ser uma droga”, afirmou o dermatologista Steve Feldman, da Wake Forest University, da Carolina do Sul. Uma das recomendações às vítimas é a criação de grupos de apoio, ao feitio dos Alcoólicos Anônimos. Dá para imaginar as penitentes confissões: “Meu nome é Julio Iglesias e amanhã vai fazer 24 horas que não pego uma cor”. Armani, Donatella e Valentino: os reis da arte de vestir preferem se despir
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Tato Bronzeadores e seus acólitos invadiram todas as praias
A beleza das peles douradas não é uma unanimidade. Em Hong Kong, por exemplo, há mulheres que vão às praias com balaclavas para evitar, a todo o custo, o bronzeamento Na Antiguidade, o bronzeamento não estava com nada. Era coisa de gente déclassé, embora as religiões politeístas amassem o Sol como um deus. No Egito, a tez bronzeada identificava a plebe, trabalhadores que pegavam uma cor à revelia, erguendo pirâmides. O mesmo ocorreria na Grécia, onde os agricultores de pele curtida não tinham futuro nem no Oráculo de Delfos. Para os romanos, a turba que dava duro ao ar livre corria o risco de virar bruschetta de leão. Nessas civilizações, para não serem confundidos com a casta que pegava no batente, os poderosos e seu séquito faziam questão de manter a pele alva. Recorriam a meios insalubres para branqueá-la, usando tintas à base de chumbo e giz no rosto. Já na Idade Média, o horror ao bronzeamento era tamanho que as mulheres de
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estirpe só saíam às ruas – nas raras vezes em que saíam – cobertas por capotas, sombrinhas e mangas compridas. Mais à frente, na Inglaterra da rainha Elizabeth 1ª (1533-1603), damas da nobreza pintavam linhas azuis na testa, à guisa de vasos sanguíneos, reforçando a lividez da cútis. Súdito dessa rainha, o bardo William Shakespeare fez sua Beatriz, de Muito Barulho por Nada, atribuir o insucesso com os homens ao excesso de raios solares: “(…) Eu sou bronzeada. Devo sentar no canto e chorar por um marido!”. Orgulho e preconceito A má fama do bronzeamento só começou a ruir, na mesma Inglaterra, com a Revolução Industrial do século 18 e seus desdobramentos. As populações urbanas haviam crescido um bocado e os traba-
lhadores se mudaram do ar livre para a sombra. Viviam agora em moradias apertadas e trabalhavam sob o teto das minas e fábricas. Tornaram-se pálidos. A cor alva da pele já não era um privilégio de classe, ainda que Elizabeth Bennett, a heroína da romancista britânica Jane Austen em Orgulho e Preconceito (1813), tenha assustado seu meio ao ganhar sardas por caminhar desprotegida em um dia ensolarado. Em favor do bronzeamento, médicos e pesquisadores descobriram na dobrada para o século 20 que pegar sol faz bem à saúde – desde que com parcimônia, sabemos hoje. Theobald Palm reconheceu a eficácia dos raios solares no desenvolvimento ósseo, numa época em que crianças britânicas sofriam de raquitismo. John Harvey Kellogg (sim, o criador dos sucrilhos) inventou o “banho de luz incandescente”, que ajudou a curar de gota o rei Eduardo 7. Niels Finsen ganhou o Nobel de medicina, em 1903, pelo uso da fototerapia para remover úlceras de pele.
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Louis Reard e sua criação imortal, o biquíni, que encontraria o habitat perfeito nas praias do Rio. À direita, o bronze de Coco Chanel, que todo mundo quis imitar com Huile de Chaldée
Mas o bronzeado só começou a entrar na moda, no duro, em 1923, quando a estilista francesa Coco Chanel voltou de um cruzeiro pelo Mediterrâneo com a pele dourada – não se sabe se de modo voluntário. Suas fotos descendo em Cannes ganharam muitos outros portos. O príncipe Jean-Louis de Faucigny-Lucinge, amigo de Chanel, disse mais tarde: “Sim, é bem possível que ela tenha inventado o banho de sol. O que ela não inventou naquela época?”. Quatro anos depois, Jean Patou lançava o primeiro bronzeador, Huile de Chaldée. Na década de 1930, já estava claríssimo que se bronzear dava status. Era para quem podia. Para quem tinha tempo – e dinheiro – para o lazer. Não à toa, os magnatas em férias eternas do escritor americano F. Scott Fitzgerald douravamse ao sol da Côte d’Azur no romance Suave É a Noite (1934). No Brasil, ao contrário do que se costuma imaginar, a cultura do bronzeamento e da praia demorou a
pegar. Em João Pessoa, ninguém entendeu quando o escritor e político José Américo de Almeida ergueu sua casa na orla, em vez de no centro da cidade, longe do mar. Ficou conhecido como o “solitário de Cabo Branco ”, por morar na praia que tem hoje o metro mais caro da capital paraibana. O desafogo do pós-guerra trouxe o primeiro biquíni, em 1946, bolado pelo estilista Louis Reard, um escândalo que deixou de sê-lo à medida que banhos de sol, praias e piscinas tornaram-se parte da cultura. Na década de 1950, a praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, já era então o sonho dos moradores da zona norte, embora só em 1967 o túnel Rebouças tenha facilitado esse acesso. Nos EUA, o Havaí se tornaria um estado de espírito – e um estado de fato, em 1959. O filme colorido para as câmeras fotográficas e o barateamento das viagens aéreas comerciais combinaram entre si turbinar as férias e a promessa de um verão sem fim.
Alguns anos mais tarde, o mito da garota de Ipanema ganhava o planeta, enquanto a canção que nela se inspirou invadia praias, elevadores e lobbies de hotéis. Outros anos mais, e o Brasil passava a exportar biquínis e a depilação para usá-los, da tanga de Rose di Primo ao asa-delta. Só nos anos 1980 as ligações entre exposição ao sol e câncer de pele despontaram na imprensa, convenientemente mascaradas entre anúncios sexy de corpos saudáveis e bronzeados e o lenitivo dos protetores solares. Seja como for, ainda há lugares imunes aos apelos da tez cor de bala toffee. Sobretudo nos países orientais, onde a pele desejada é imaculada e delicada como a porcelana local. Em Hong Kong, as mulheres vão à praia trajando balaclavas semelhantes às dos pilotos de Fórmula 1 e lutadores mexicanos. Tudo para não parecer com as imigrantes filipinas, que trabalham como empregadas domésticas e têm a cútis morena como vocês. P
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A nave Discovery I, rumo ao futuro da Sétima Arte
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Por celso arnaldo araujo
Um salto gigantesco para o cinema
Há meio século o mundo conhecia 2001, uma Odisseia no Espaço, um filme tão revolucionário que tem 88 minutos sem diálogos
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arecia tão real que, chegando aos dias de hoje, deveríamos já estar em 2051. Sim, porque 2001: uma Odisseia no Espaço, a fabulosa viagem cinematográfica de Stanley Kubrick, estreou há exatos 50 anos. Apenas um filme? Bem mais do que isso: quem sabe o maior ícone, desde Lumière, da tão decantada magia do cinema. Ou a maior experiência cinematográfica da vida dos baby boomers – hoje sessentões – que viajaram ao espaço com Kubrick naquele abril de 1968. Ou em termos bem terrenos: um dos maiores filmes de todos os tempos. Considerado o maior filme de ficção científica da história, 2001 transportou cinéfilos paulistanos da Vila Matilde e de outros rincões do planeta Terra, onde quer que houvesse uma sala de cinema como plataforma de lançamento, a uma dimensão de vida jamais construída por um projetor – acoplado à nave espacial desse Dr. Fantástico com uma câmara na mão e muitas odisseias na cabeça. Ele nos conduziu a um universo ao mesmo tempo tão distante e tão real que, um ano e três meses depois da estreia da fita, quando o homem efetivamente pisou na Lua com a Apollo 11, dando o pequeno passo descrito por Neil Armstrong, houve gente que garantisse que aquilo tudo havia sido encenado e dirigido por Stanley Kubrick. Retornemos a um ritual típico das matinês de cinema dos anos 1960, nas salas monumentais da era pré-Cinemark. Cortinas da tela escancaradas, luzes apagadas, só o tímido feixe de luz do lanterninha (quem?) orientando espectadores tardios a se acomodarem nas poltronas. Nada de pipoca ou refrigerantes. O filme vai começar. Antes, o jornal-picareta de Primo Carbo-
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nari e algum trailer: quem sabe Um Estranho Casal ou O Bebê de Rosemary, as próximas estreias daquele primeiro semestre de 1968. Agora, sim, o filme vai começar. A escuridão da sala é total, como se deve. Passamse segundos e nada – pelo menos não do que esperamos: 24 quadros por segundo. Ué? Cadê o filme? O rugido do leão da Metro? O feixe de luz do projetor continua ativo, é fácil perceber olhando-se para trás, mas a tela à frente continua negra. Só que não – ela não está completamente escura, como se o projetor tivesse falhado. Aquela luminosidade silenciosa e cintilante, qua-
Não há diálogo nos primeiros 25 minutos. nem nos últimos 23 do filme se um glitter, começa a dar ao ambiente uma atmosfera estranha, de um mundo inabitado, desumano – mas que logo será dominado por Kubrick, para enredar o espectador em seu filme-magia. A escuridão fosforescente, mediada pela ausência de som, vai se tornando inebriante, arrebatadora – fomos ao espaço antes de Armstrong pisar na Lua por nós. Com pouco mais de um minuto, a plateia já saiu de órbita. Mas a sensação de levitação, desesperadora para alguns, se aprofunda à medida que a situação se estende, segundo a segundo. Ao todo, são 2 minutos e 47 segundos das mais poderosas imagens sem imagem da ciência do audiovisual – findos
os quais, aparece na tela o logo da MGM, não o do leão rugindo, mas um formato estilizado, “astronáutico”. Em seguida, a introdução de Assim falou Zaratustra, poema sinfônico de Richard Strauss inspirado no tratado homônimo de Friedrich Nietzsche, composto 72 anos antes – evidentemente, não para o filme. Aliás, o que são 72 anos para uma viagem cinematográfica atemporal? Mais um superlativo: a escolha musical aleatória de Kubrick ficaria marcada pelos acordes iniciais da peça – nunca houve, nem haveria, uma associação cine-musical tão marcante como 2001 e Zaratustra. Apple versus Samsung Bem, o resto são outros 140 minutos kubrickianos um pouco mais convencionais, que há meio século exegetas de todas as tribos e matizes culturais vêm tentando “traduzir” ou incrementar, todos fascinados para sempre. Não há diálogos nos primeiros 25 minutos do filme, nem nos últimos 23. Somando esses dois períodos com as demais cenas sem voz humana, são nada menos que 88 minutos sem diálogos. Alguém se deu ao trabalho, também, de contabilizar: o filme inteiro contém apenas 205 tomadas com efeitos especiais, comparados aos 2.200 de Star Wars: Episode III. A arte narrativa de Kubrick, nesse e em boa parte de seus outros filmes (apenas 16, os dois primeiros documentários de curta-metragem), não reunia espectadores – mas adeptos e acólitos. Nunca foi hermenêutico ou enigmático – bem, talvez só um pouquinho em 2001. Stanley pegou o livro de Arthur C. Clarke e pediu a ajuda do escritor para escrever o roteiro do filme. Sobre o quê mesmo é 2001?
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Keir Dullea vive na tela o astronauta David Bowman
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Reunindo grandes temas, como a evolução humana, a ameaça de extinção, o progresso tecnológico, a vida extraterrestre e a inteligência artificial, o filme é uma combinação de recursos visuais e abordagens filosóficas até então inexploradas nos filmes de sci-fi – e pavimentou o caminho para as seguintes produções cinematográficas do gênero. A saga Star Wars incluída, de modo juvenil. O tema de 2001 em uma frase? Que tal o desenvolvimento da humanidade desde os primórdios até nossa obsolescência? Começa com uma Terra milhões de anos mais jovem que a nossa. Primatas brincam de atirar ossos e lutam pela sobrevivência. Mas tudo muda com a chegada do monolito – o fio condutor dessa jornada de 4 milhões de anos. Na viagem ao espaço – Lua, Júpiter – o reencontro acidental com o Monolito. Muitos analistas atribuem a Clarke, com o aval de Kubrick, a antecipação de tecnologias surgidas 30 anos mais tarde. Há na nave do filme uma espécie de newspad – tablete onde se leem notícias e arquivos, tão fidedigno que a Samsung tentou anular a patente do iPad, alegando que a Apple apenas copiou o que já havia sido inventado em 2001 – ou seja, em 1968. TVs de tela plana aparecem no cenário. A dupla
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No início, primatas. No meio, a chegada a Júpiter. No fim, ainda e sempre o Monolito fotos reprodução
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apostou numa humanidade desenvolvida a tal ponto que uma viagem para Saturno (no livro) ou Júpiter (no filme) se torna viável – tanto quanto seria, no ano seguinte, o pouso na Lua, comparativamente um quintal da Terra.
Muitos dos efeitos especiais resistiram bem, mas o cartaz do filme ficou datado – o que consiste, aliás, em parte de seu charme
Não era para entender Kubrick errou na previsão ao estampar o logotipo da Pan-Am na viagem. A companhia aérea faliu dez anos antes, em 1991. Mas acertou ao antecipar o pleno desenvolvimento da inteligência artificial – que hoje concentramos em robôs. HAL 9000 era um computador à semelhança da mente humana e do Siri da Apple – melhor, claro. Como uma espécie de sexto tripulante da nave que vai a Júpiter, assume as funções ligadas à manutenção da nave. Mas, no fundo, uma máquina. Até porque, com esse nome, Clarke dava uma pequena estocada naquela que, à época, era a grifesímbolo da alta tecnologia: a sigla HAL é formada pelas letras imediatamente anteriores a IBM. Uma curiosidade: originalmente, HAL 9000 tinha o nome de Atena e uma voz feminina. Outra: a exemplo da nunca dita frase “Play it again, Sam”, de Casablanca, o computador jamais disse “Good Morning, Dave”, que se tornaria uma das mais famosas citações do filme. Mas como Kubrick, que fizera filmes de guerra (Glória Feita de Sangue), gladiador (Spartacus), pedofilia (Lolita), humor negro nuclear (Dr. Fantástico), conseguiu penetrar nesse universo, misto de ciência avançadíssima e futurologia, e traduzi-lo em imagens com tamanha fidelidade? Bem, ele era muito cioso de sua genialidade. Anos depois, disse que “2001 é tão perfeito tecnicamente que o próximo fil-
me sobre viagens espaciais, se quiser ser melhor, terá de ser filmado nos próprios locais”. E não era apenas autoconfiança. Kubrick se cercou bem para antecipar o ano de 2001, dentro de seu estilo impositivo, que já aterrorizava os estúdios – e só tendia a piorar. Ele precisou de quatro anos para roteirizar e produzir a fita. Mais um tanto para filmar. Perfeccionista extremado, chegava a filmar o equivalente a 200 vezes a metragem de um filme – foi o caso de 2001. Kubrick foi um dos mais controladores e obsessivos diretores da história do cinema. Importou diversos tipos de areia para escolher a melhor superfície da Lua para filmar. Tinha 40 anos em 1968, mas era ainda um enfant terrible. Lançado de repente, para críticos desconfiados, 2001 provocou, de início, estranhamento e rejeição. Um jornalista chegou a escrever: “É o fim de Stanley Kubrick”. Na avant-première do filme, 241 pessoas saíram do cinema antes do fim, incluindo o ator Rock Hudson, que teria dito:
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Stanley Kubrick (abaixo) caprichou. Levou quatro anos para completar sua odisseia – e a de David Bowman
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“Alguém pode por favor me dizer que diabo nós estamos assistindo?”. Mas era só uma questão de tempo – aliás, o leitmotiv de 2001, que custou nada menos que US$ 10 milhões, à época uma cifra sideral. O público iria descobrir o filme como convém. A exemplo do lema da viagem da Apollo 13, “do desastre ao triunfo”, 2001 foi se impondo às plateias de todo o mundo, num boca a boca poderoso. Tornou-se um produto cultural que todos precisavam comentar. O filme estreou
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nos EUA em 3 de abril de 1968 – dois dias depois de o presidente Lyndon Johnson anunciar que não concorreria à reeleição, abrindo espaço para o terrível marciano Richard Nixon, e véspera da morte de Martin Luther King. Mas conseguiu ser assunto com toda essa competição. Alguém o descreveu como “um filme de arte com orçamento de gente grande”, pela audácia narrativa da fita e seu apuro na produção. Anos depois, relembrando sua obra, Arthur C. Clarke diria: “Se você entendeu
2001 completamente, nós falhamos”. Bem, Kubrick deixou 2001 para o passado e seguiu em frente – com filmes hoje mais do que clássicos, como Laranja Mecânica, Barry Lyndon, O Iluminado e Nascido para Matar. Morreu aos 69 anos, em 1999, de ataque cardíaco, mal terminada sua última fita: De Olhos Bem Fechados, com Tom Cruise e Nicole Kidman. Ironicamente, era como as pessoas se sentiam naqueles dois minutos mágicos de 2001 em 1968: de olhos bem fechados. P
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CAPA Por fernando paiva retratos tuca reinĂŠs
o homem do farol marcos madureira, vice-presidente executivo do santander, Acredita que, se o cliente prospera, o banco tambĂŠm. Agora, ele aproveita o momento para investir firme em um centro irradiador de cultura na capital paulista
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anoel Marcos Madureira é duplamente santista. Não só nasceu na cidade do litoral paulista como torce pelo Santos, onde, ajudado pela altura, foi goleiro na categoria infanto-juvenil, nos áureos tempos de Pelé e Coutinho. Na juventude, media 1,90 metro. “Hoje, estou com 1 centímetro e meio a menos”, diz, bem-humorado. Aos 66 anos, como vice-presidente executivo do Santander, ele comanda as áreas de comunicação, marketing, relações institucionais e sustentabilidade do banco. Graduado em engenharia mecânica, apaixonado por automóvel, Marcos começou como estagiário na Eaton, fabricante de ar-condicionado. Trabalhou na Fiat e na Mercedes-Benz. Foi vice-presidente da Anfavea – Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores – até trocar os carros pelo setor bancário: entrou no Santander em 2004. Em setembro do ano passado, Marcos enfrentou uma crise institucional pesada. Pressionado por organizações conservadoras como o MBL – Movimento Brasil Livre, o Santander Cultural decidiu interromper a mostra Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, em Porto Alegre (RS). A polêmica mobilizou os círculos culturais e pegou fogo. Marcos foi chamado a depor numa surreal CPI dos Maus Tratos em Brasília. É que o presidente da comissão, senador Magno Malta, em ano pré-eleitoral, cismou de enxergar na mostra pedofilia, zoofilia e abuso sexual de crianças e adolescentes. Como bom capricorniano, paciente e disciplinado, Marcos foi firme. Lamentou a atitude agressiva de visitantes contrários à exposição – houve ameaça física aos autores e suas obras – e esclareceu que o Santander Cultural prima pela diversidade e pelo respeito às minorias. A crise passou. Atualmente Marcos dedica boa parte do tempo ao Farol Santander. Esse projeto multicultural envolve o emblemático prédio de 26 andares do banco, antiga sede do Banespa no centro paulistano. Dividido em três grandes áreas – memórias, experiências, exposições –, o local oferece hoje do café com mirante no alto do edifício à pista de skate indoor. O loft do 25o andar já é conhecido como a maior suíte da cidade: 400 metros quadrados para hospedagem ou eventos. Um farol eclético, feito sob medida para alguém duplamente santista.
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CAPA THE PRESIDENT: Onde e quando
você nasceu?
Nasci em Santos, no canal 3, na maternidade Anglo-Americana, em 30 de dezembro de 1951. Nasci, fui criado e vivi lá durante 46 anos. Deixei a cidade com 18 anos, para fazer a universidade. Mas eu voltava todo fim de semana. Quando terminei a faculdade e comecei a trabalhar em São Paulo, aos 23 anos, passei outros 23 anos subindo e descendo a serra do Mar todos os dias. Você descende de portugueses, certo?
Sim. Meus quatro avós eram portugueses. Meus pais também: Manoel Pereira Madureira e Aurea de Souza Madureira. Ele do Alto Douro, continuação da serra
pai passou três anos trabalhando lá, mas não gostava. Resolveu se mudar. Para Santos.
Sim. Isso foi por volta de 1930. Era uma época terrível para a economia mundial, a bolsa de Nova York havia quebrado no ano anterior. Ele chegou em Santos e foi atrás de um certo sr. Almeida. Acontece que o homem estava viajando. Só voltaria dali um mês. Como meu pai tinha dinheiro para apenas três dias, pensou em pedir ajuda ao consulado: queria que eles pagassem a passagem de volta para Portugal. No quinto dia, porém, ele voltou à empresa e o seu Almeida estava lá. Meu pai se apresentou, disse que era filho da dona Ana e pediu emprego. Ele era formado em contabilidade e queria trabalhar na área. “Olha, filho,
fabricava tanto tamanco. E aí ele deu aos funcionários antigos uma cota da área mais rentável, a de material de construção. Seu pai teve notícias do seu avô, durante esse tempo?
Nunca. Desde que minha avó deixou o marido, eles não receberam um tostão de ajuda. Em 1963, porém, meu pai começou a receber cartas. Quem mandava era um padre, muito amigo do meu avô. “Olha, seu pai está muito doente, você precisa vir a Portugal urgentemente.” Meu pai apanhou minha avó e foram para Covelinhas. Chegaram lá e o velho perguntou: “Onde estão meus netos?”. Meu pai disse que haviam ficado no Brasil. No domingo, o meu avô amanheceu morto. O seu pai herdou tudo ou seu avô teve outros filhos?
“meu pai, formado contador, quis trabalhar na área. Não havia vagas. Foi carregar caminhões” da Estrela; ela da região de Coimbra. Meu pai, que faleceu há cinco anos, aos 101, tem uma história muito interessante. Ele nasceu na aldeia de Covelinhas, perto de Lamego, em 1910. Quando tinha três anos, minha avó Ana deixou meu avô. E levou meu pai, filho único, para o Porto. Em 1913? Corajoso da parte dela.
Muito. Meu avô era um homem rico, tinha muitas terras. E quando meu pai fez 17 anos, não quis servir o exército. Portugal tinha colônias na África [Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde] e muitos soldados morriam lá. Então minha avó o colocou num navio e o mandou para o Rio de Janeiro. Ele veio morar com um tio, dono de uma leiteria. Meu
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não tenho emprego”, o seu Almeida falou. “A única vaga que tenho é para carregar e descarregar caminhão.” Meu pai aceitou. A empresa trabalhava com o quê?
Com lenha; com caixeta, uma madeira branca, leve, usada para fazer tamancos e lápis; e com carvão. Meu pai era magrinho, logo no primeiro dia jogaram um saco de carvão nas costas dele – e ele caiu no chão. Trabalhava de segunda-feira ao meio-dia de domingo. Como tinha as tardes livres, ainda arrumou trabalho num bar. Ave Maria...
Pois é. Depois ele foi transferido para o escritório. Terminou dono da empresa. Claro que, com o passar do tempo, as locomotivas já não eram a carvão, já não se
Não, não. Nem se casou, nem teve outros filhos. A governanta da casa dele ficou com uma parte e o meu pai com a maior parte. Três anos depois, em 66, meu pai falou pra mim e pra minha irmã: “Olha vocês até agora sempre foram bem na escola, este ano vocês não estudam. Nós vamos viajar.” Parar de estudar pra viajar é ótimo.
Eu tinha 15 anos, a minha irmã, 17. E aí a gente ficou oito meses fora do Brasil. A gente viajava e voltava pra casa do meu avô, toda de pedra, erguida em 1723, numa quinta, que recuperei. Como isso bateu em você?
Acho que mudou a minha cabeça, né? E fomos e voltamos de navio. Como era a sua vida em Santos aos 15 anos? Você era surfista?
Olha, era a época do Santos de Pelé. Eu o conheci, pois joguei como goleiro no infanto-juvenil do clube. Nunca fui de surfar. Quando eu tinha 15 anos, começou a história do surfe em Santos, com pranchas
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de eternit. Não me entusiasmei. Gostava era de futebol. Eu era goleiro. Um belíssimo goleiro, por sinal. Inclusive, quando estava no segundo do curso científico, me chamaram por causa disso para estudar no colégio Canadá. Eram muito importantes as Olimpíadas Estudantis em Santos. Você foi?
Sim. E no Canadá passei a estudar à noite. E aí começou o desespero do meu pai, porque eu ia pra praia todos os dias e ele não gostava nada. Aí ele me colocou pra trabalhar no escritório da construtora de um amigo. No último ano do científico, fiquei tentado a fazer faculdade de educação física, pois sempre adorei esporte. Aí um colega de classe me perguntou: “Marcos, vamos fazer vestibular para engenharia em Taubaté?”. Uma escola muito boa na época. Eu era bom de física e matemática. Fazia científico por causa disso, embora também me desse bem em português e inglês. Bem, passei no vestibular. Que área de engenharia você escolheu?
Engenharia mecânica, porque sempre gostei de carro. No primeiro ano penei feito um condenado. Mas fiz os cinco anos certinhos e me formei sem maiores problemas, em 1976. Você morou em república em Taubaté?
Foi uma das grandes experiências. O Brasil vivia o auge do governo militar. Você teve participação no movimento estudantil?
Não. Em Taubaté não tinha movimento. Nós, da engenharia, éramos um pouco mais de esquerda. Os da medicina, um pouco mais à direita. Éramos contra a situação política, mas nunca militei. E no quarto ano já comecei a trabalhar, como es-
tagiário na Eaton, fábrica de válvulas e arcondicionado, em São José dos Campos. No começo do quinto ano me passaram para assistente de engenharia de ar-condicionado. Terminei a faculdade e não queria ficar lá. Queria voltar pra Santos. E aí procurei emprego e encontrei na Fiat. A Fiat acabava de chegar ao
Meio Ambiente. Mais tarde, na Anfavea, comecei a participar de comissões técnicas, das quais aliás virei presidente. E também acabou vice-presidente da Anfavea.
Sim. Cheguei à vice-presidência da Anfavea, representando a Mercedes-Benz. Por que você saiu da Fiat
Brasil, montou a fábrica em Betim
para a Mercedes?
(MG), mas você acabou indo para
Depois de onze anos na Fiat, o que aconteceu? O vice-presidente da área de relações institucionais da Mercedes-Benz era o general Aldebert de Queiroz, um dos membros do GEIA, o Grupo Executivo da Indústria Automobilística, formado por engenheiros militares. Esse grupo ajudou a criar o Conselho Automobilístico do Brasil a pedido do Juscelino. Muitos desses militares que formaram as diretrizes da política automotiva no Brasil foram contratados pela indústria, como o Queiroz, que chegou a ser o responsável pela área institucional da Mercedes.
o escritório de São Paulo.
Eles abriram uma vaga de engenheiro para cuidar da parte de normas técnicas. E de onde vem a sua paixão pelos carros?
Aprendi a dirigir num Toyota Bandeirante 1963, na fazenda de bananas do meu pai, entre Itanhaém e Peruíbe. O jipe tinha lá suas manhas. A primeira e segunda marchas não eram sincronizadas, era o chamado câmbio seco, exigia perícia. Então você já começou com um veículo 4x4.
Já aprendi a sair em terceira... E nessa época meu pai também tinha um Gordini. Vem daí minha paixão pelos carros. Sempre gostei de dirigir. Você lia a revista Quatro Rodas?
Sempre. Todas, todas, todas. Curioso que, embora eu adorasse automóvel, não pensava em ser engenheiro de carro. Nada disso. Eu tinha facilidade com exatas, mas não era meu perfil ser engenheiro. Acho que dei sorte de entrar numa função onde havia na base a engenharia. Mas também muito contato com laudos técnicos do governo. Ou seja, como o Conselho Nacional de Trânsito, o Departamento Nacional de Trânsito, o Conselho Nacional de Petróleo, que mexiam todos com as especificações dos veículos. E depois o Conama, Conselho Nacional do
E ele te levou para lá.
Quando o Queiroz estava se aposentando, quem iria assumir era o Luiz Adelar Scheuer, que foi muito conhecido por ações sindicais. Ele era o responsável pelo RH da Mercedes e, como brasileiro, assumiu também essa parte de relações institucionais com o governo. Scheuer precisava de alguém com base técnica. E o Queiroz, com quem eu trabalhava muito na Anfavea, me indicou. Fiquei 17 anos e mais um pouquinho na Mercedes-Benz. Imagino que nessa época você estivesse no lugar perfeito. Dirigia muito carro importado?
Só depois de dois, três anos, quando passei a ser diretor. E os diretores tinham direito aos importados da
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Mercedes. Durante um bom tempo dirigi, sim, carros muito bons. A Mercedes costumava usar qual autódromo, para provas e eventos?
Me lembro que duas vezes nós fechamos Interlagos. Aconteceu no lançamento do novo Classe C da Mercedes. Isso já no governo Collor, quando as importações foram liberadas?
Isso. Quando o Collor abriu o mercado, o imposto de importação era de 70%. Foi aos poucos diminuindo até que chegou a 35%. Como é que você saiu da indústria automobilística e foi parar no banco Santander?
Aconteceu em 2004. A minha vida profissional estava claríssima. Eu era diretor da Mercedes e vice-presidente
O Santander estava se fortalecendo no Brasil.
Sim. Começou a comprar bancos no Brasil no final da década de 90. Adquiriu o Banespa no final do ano 2000.Entrei em janeiro de 2004. Em julho, fiz a primeira viagem para a Espanha. Tinha um encontro com o responsável por todas as ações do banco na América Latina, um dos grandes nomes do setor financeiro espanhol: Francisco “Paco” Luzón. A maior franquia da América Latina do setor financeiro é o Santander. Houve um jantar muito formal. O Brasil é um país importante e eu tinha acabado de entrar, vindo da Mercedes, uma empresa icônica, né? Então me colocaram ao lado do Luzón no jantar. E no meio da conversa ele quis saber: “Marcos, você veio de outra carreira, do setor automotivo.
“Eu não sou banqueiro. sou um bancário que chegou a um nível alto. meu pai não tinha banco”
automobilística envolve essa questão da paixão. Mas 15 anos depois de deixá-la, cada vez mais sei que fiz a coisa certa. E banco? Banco envolve alguma paixão, além do dinheiro?
É a paixão pelo setor de serviços. Banco é serviço. Você tem de oferecer ao cliente cada vez mais soluções que o ajudem a levar a vida e a prosperar. Mas não tem a mesma adrenalina da indústria automobilística...
Ao contrário. Muito mais. A velocidade do setor financeiro é brutal. Você leva anos projetando um carro. Já no setor financeiro as mudanças podem ser rapidíssimas. Em um momento de crise econômica o pátio das montadoras fica lotado. Já o lucro líquido dos bancos… Como banqueiro, o que acha disso?
Eu não sou banqueiro. Sou um bancário que chegou um um nível alto. A minha família não tinha banco. Meu pai não tinha banco. Bem, o fato é que mesmo numa crise grande o balanço dos bancos
da Anfavea. Meu objetivo: ser presidente da Anfavea e depois largar tudo para abrir uma consultoria. Eu teria todas as condições de fazer o trabalho de relacionamento com o governo, relações institucionais e tudo mais. Em novembro de 2003, o Santander me chama por intermédio do Miguel Jorge, que me conhecia há muito tempo. E o Miguel falou: “Marcos, eu vim pra cá pra ser VP de assuntos corporativos, depois me deram o jurídico e agora me deram o setor de recursos humanos. Não consigo tocar tudo. Quero que você venha e toque a área de relações corporativas, respondendo a mim. Vou ficar mais só mais algum tempo, pois quero parar”.
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O que está achando da troca do setor automotivo pelo banco?”. Eu respondi: “Olha, Paco, se eu tivesse de escolher hoje, seis meses depois, escolheria a mesma coisa.” Foi a melhor decisão que tomei na vida. A oferta, imagino, deve ter sido muito boa...
Eu estava em um setor no qual eu era totalmente reconhecido e conhecia todas as pessoas. Além disso, a indústria automobilística era a grande indústria do país. Sem esquecer que ela envolve a paixão pelo carro. O carro é uma paixão, embora venha ocorrendo uma coisa curiosa. Tenho três sobrinhos que não dirigem. Um deles me disse: “Pra que carro, tio? Deus me livre!”. De qualquer maneira, a indústria
continua muito favorável.
Quando você tem uma inflação alta, você tende a ganhar mais dinheiro no setor financeiro. É certo. Agora, por que os juros no Brasil são tão altos? Os juros da Selic estão em 6,75 %, né? Altos demais. Mas por que o custo do dinheiro é tão caro? Por falta de concorrência, como falam? Isso é bobagem. No mundo todo – a não ser nos Estados Unidos que é um negócio totalmente diferente, que tem banquinhos e tal – o número de bancos é semelhante. E a competição entre eles é enorme. Acontece que há uma inadimplência muito alta no Brasil e nos países em desenvolvimento. Mas as coisas começam a melhorar, entendeu?
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Apesar de percalços enormes. São Paulo agora tem uma lei segundo a qual, para ser considerado devedor, o sujeito tem de receber uma intimação e assiná-la. Uma confissão de dívida?
Sim. E aí, o que acontece? Os bons pagadores pagam pelos maus pagadores. Fala-se: “Ah, os juros do cheque especial estão em 200 e tantos por cento”. Mas você sabe quanto é o juro do crédito consignado? Menos de 2%. Por quê? O credor pode perder o emprego? Pode. Pode morrer? Pode. Mas o risco é muito pequeno. É lá em baixo. Por que o custo do financiamento imobiliário é baixo? Porque há um bem que você pode recuperar. Veja por exemplo o caso dos empréstimos rurais. Para você retomar uma propriedade rural,
estacionamento?” E ele: “Uns 30 reais”. Perguntei: “E você acha banco caro?”. Na época, um pacote mensal do banco custava em torno de 40 e poucos reais. Eu disse: “Por 40 e poucos reais, você guarda o seu dinheiro, aplica e pode usar serviços como mandar dinheiro para sua filha no exterior, via celular”. E isso é barato?
Claro. Você vai pegar dinheiro no caixa automático no sábado. Chega lá e descobre que explodiram tudo. Mas o seu dinheiro continua lá. E você paga 40 e poucos reais por isso. Ora, você deixa o carro por duas horas estacionado, paga 30 e acha normal? Aí eu disse a ele: “Faz o seguinte: deixe de usar o banco. Alugue uma caixa forte para guardar seu dinheiro. Você vai pagar 200 e
“Se o meu cliente prospera, o banco também prospera. é a única forma de crescer nesse setor levava quatro, cinco, seis anos. É lógico que vai custar mais. Daí a briga que a gente tem com o cadastro positivo. O que é o cadastro positivo?
O cadastro positivo foi aprovado há dois, três anos. Só que modificaram. Para o banco saber se você paga ou não, você precisa fazer uma declaração e assinar. Ninguém vai ao banco fazer isso. Ainda assim, com a economia melhorando, certas medidas sendo tomadas, o custo do dinheiro vai cair. Outro dia, um jornalista comentou comigo: “Pô, banco é caro”. O serviço é caro?
Sim, foi o que ele disse. Aí eu perguntei: “Você veio aqui de carro?”. Ele fez que sim. Retomei: “Quanto você vai pagar de
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poucos reais por mês e mais 20 para estacionar, cada vez que for buscar o dinheiro”. Afinal, o que falta aos bancos?
Mostrar mais o que o banco faz pela sociedade. O Santander quer a prosperidade dos clientes. Se o meu cliente prosperar, o banco vai prosperar. É a única forma de crescer nesse setor. Então, cada vez mais o banco é uma empresa de serviço. Se o cliente estiver contente, continua contigo. Por que o Santander cresceu tanto nos últimos dois anos? Porque os clientes estão operando muito mais com o banco. E, portanto, nós não aumentamos as taxas.Nós estamos aumentando a nossa rentabilidade, primeiro em questão de
crescer o negócio, e segundo porque as pessoas estão operando mais conosco. Então o banco é um bem necessário?
O banco é uma sorte para o país. Veja a crise nos EUA em 2008, por exemplo. Espere aí. Na época você tinha faxineiras ganhando US$ 1.000 por mês em Nova York que haviam financiado casas na Flórida no valor de US$ 500 mil. É óbvio que essa conta não iria fechar.
Essa é a questão. Quer dizer, um sistema financeiro que não seja extremamente bem organizado, regulado e eficiente, causa esse desdobramento. Mas quando a coisa apertou, quem segurou a bucha foi o Tesouro americano.
Porque se não segurar, quebra o país. Essa é a questão. A Inglaterra fez a mesma coisa. Todos os países fizeram. Não que as pessoas não tenham que ser responsabilizadas. Devem ser, sem dúvida. Têm de ser e foram, né? Mas se você não segura, não assume e deixa o sistema financeiro insolvente, o custo seria caríssimo para o país. Essa é a questão da importância do setor financeiro. A presença do banco aparece em detalhes do dia a dia. Na semana passada, tomei um café no aeroporto. Custava R$ 6 e quis pagar com uma nota de R$ 10. A moça do caixa me pediu para pagar com o cartão. E o cartão vai evoluir cada vez mais. Nós lançamos agora a pulseira digital. Daqui a pouco tudo vai para o celular. Quanto tempo você passou na Espanha?
Seis anos e meio em Madri, com a Márcia, minha mulher, e minhas filhas, Juliana e Marcela. Fui para passar oito meses, convidado pelo Gabriel Jamarillo, que era
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o presidente do banco. Ele me disse: “Seria bom se você passasse uns oito meses na Espanha; assim você conheceria bem os dois lados e isso nos ajudaria muito”. Como foi esse tempo?
Maravilhoso. Tão bons que eu havia decidido não voltar ao Brasil. Tinha resolvido me aposentar na Espanha. Mas depois me pediram pra voltar por causa de uma questão aqui, e voltei. Do que você mais gostou?
Da qualidade de vida. Madri é uma cidade maravilhosa. Tem uma vida que é impressionante. São hábitos diferentes. Há uma coisa que não esqueço. No primeiro dia de trabalho, estavam me levando para a minha sala quando encontrei o Jesus Zabalza, que foi presidente
A questão da segurança também te marca muito. Você dirige de madrugada com a capota do carro abaixada, para no semáforo, nada acontece. Além disso, você está a meia-hora, uma hora de lugares fantásticos. Adoro a Europa. E como foi profissionalmente?
Ótimo. Duas coisas foram muito interessantes. Eu era o diretor de comunicação para a América Latina. A gente tinha operações na Argentina, Brasil, Colômbia, Chile, México, Porto Rico, Venezuela, Uruguai. Viajei muito. Foi uma experiência muito boa, conviver com a realidade de cada um desses países. Segundo: os anos de Espanha me fizeram um profissional melhor. Aprendi a ser mais direto, a dizer “não” sem sofrer.
“O cheque especial só existe no Brasil. DEve ser encarado apenas como um recurso de emergência” do banco aqui no Brasil. Na época ele era da divisão América e respondia ao Paco Luzón. Quando eu estava entrando, ele me perguntou: “Você marcou almoço com alguém?” Eu disse que não. E ele, muito gentil: “Ah, então passo na sua sala às 14h30 para a gente almoçar”. A que horas terminou o almoço?
O Jesus passou às 14h45 na minha sala. Aí aprendi a primeira lição: eles almoçam depois das 14h30. É bom, portanto, tomar um café da manhã reforçado para não ficar varado de fome. Segunda lição: bebe-se vinho normalmente no almoço. Se você vai jantar em Madri, os restaurantes, a não ser aqueles turísticos, abrem às 21h. E sem ninguém no salão! A cultura é diferente.
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O espanhol é muito direto. Isso é bom para o ambiente profissional. Percebi agora que você tem uma tatuagem. Quantas você tem?
Uma. É uma águia, na perna direita. Você fez na Espanha?
Não, em Cingapura. Morei quase um ano na Itália, em Turim, na época da Fiat. Lá fiz amizade com um casal de italianos, Ricardo e Graziela. E eles são apaixonados pela Ásia. Então minha mulher e eu viajamos muito com eles. A gente se encontrava sempre na Tailândia e depois partia para Indonésia, Nepal, Butão. O Ricardo adora tatuagem, tem as duas pernas cobertas por desenhos. Em Cingapura, fui com ele a um tatuador famoso, Johnny Two Thumbs. Eu
tinha acabado de completar 50 anos. Para comemorar, resolvi fazer essa águia. Aí fiz a tatuagem e disse que, quando completasse 100 anos, faria outra na perna esquerda. Ou mais duas, pois existe essa superstição de que tatuagem par não traz sorte. É o que dizem os tatuadores...
Pois é. Mas agora mudei de opinião. Quero fazer outra tatuagem já. O ano passado foi muito duro para mim. Fantástico profissionalmente, mas muito duro. Bem, você é vice-presidente de comunicação, marketing, relações institucionais e sustentabilidade. Não é muito trabalho para uma só pessoa?
Basicamente, é a parte corporativa do banco, a parte externa. Acho muito bom que essas áreas estejam juntas. Por exemplo, comunicação. Você tem comunicação interna e comunicação externa. Então é fundamental que tenha as duas na linha. Porque é lógico que com 47 mil funcionários e no mundo digital em que a gente vive hoje, o que você falar para dentro estará soando lá fora muito rapidamente. Por isso, a comunicação externa e a interna tem de estar juntas. De diferentes maneiras, né? Quanto ao marketing, não é só publicidade. É conhecer os produtos do banco, é conhecer o consumidor. Então também está muito ligado com comunicação. São áreas diferentes mas todas dentro de um mesmo ambiente. E dentro desse chapéu também está o setor de relações institucionais. Você cuida de relações governamentais também?
Também. E essa talvez seja uma das minhas grandes expertises. Relações institucionais são as relações com governo, associações, a representação externa do banco. Aí entra a parte de cultura também. O Farol Santander está sob a minha
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responsabilidade. Toda a área cultural também. Toda a parte de patrocínios está sob a minha responsabilidade. Toda a parte de eventos, idem. E há a área de sustentabilidade. Que está no DNA do Santander. O que significa sustentabilidade para um banco?
A questão da sustentabilidade vai além do meio ambiente. Começa no papel social do banco. Por exemplo, em casos do microcrédito. Somos o maior banco privado de microcrédito do país. Somos um full bank. Temos desde o microcrédito até o crédito para a grande, a empresa multinacional. O microcrédito o que é? Imagine uma pessoa de uma comunidade pobre, que não tenha endereço, nem conta nenhuma, nada. Suponha que ela queira empreender. Como vai pedir um empréstimo num banco? Como é que podemos avaliar se essa pessoa tem condições de me pagar ou não? Pois estamos ajudando essas pessoas a empreender. Há quem reclame: “Ah, o cheque especial, pô, está a mais de 200% ao ano, o banco ganha dinheiro.” Errado. O cheque especial é uma jabuticaba. Só existe no Brasil. Não existe em nenhum outro lugar do mundo isso. Só no Brasil?
É uma jabuticaba. Porque se, lá fora, você tem 10 na sua conta 10 e vai ter de gastar 12, você terá de correr no banco, pedir um empréstimo e aguardar a aprovação. Aqui, o que é que a gente fez? Colocamos um limite, entendeu? Para você usar em um caso de emergência. Para evitar essa burocracia toda. No caso do Santander, nós somos o único banco que dá 10 dias sem juros pra todos os clientes. Mesmo em tempos recentes de inflação. Se você usar
o seu cheque especial 10 dias no mês, que pode ser seguido ou parcelado, você não paga juros. Só se você passar de 10 dias, aí você paga os 11 dias. Mas isso é um recurso para ser usado numa emergência. Não é para você se autofinanciar com isso. Se fizer assim, você vai quebrar. Não tem jeito. Como explicar isso para um cliente sem traquejo financeiro?
Chamamos a pessoa que está usando demais o cheque especial e tentamos entender caso a caso. “Olha, qual é o seu problema? Você está descasado? Qual é seu status?” E no caso de pessoas que tinham financiamento imobiliário, o que é que a gente fazia? Pegava toda essa dívida e jogava no crédito imobiliário – e o cliente pagava. Eu não iria perder esse dinheiro e também perder o cliente. Quando faço isso, esse cliente fica fidelizado para o resto da vida. Agora, nesse caso eu estou indo para o microcrédito. Essa pessoa não tem a menor condição de se financiar. Mas não é para isso que existem os bancos estatais? Para financiar empreendedores sem qualquer dinheiro?
Mas aí é que está. Se eles não fizerem a coisa benfeita, quem vai pagar a conta é você. Sou eu. Porque se o cara pega e não paga, tudo bem, entendeu? Essa renegociação nós fizemos com pessoas físicas e com empresas. Com algumas, não teve jeito. Havia empresas quebradas. O que aconteceu? Muitas pessoas e empresas não previram que vinha a crise. Outras previram, mas jamais imaginaram o tamanho do buraco. Então, o que fizemos com grande parte das empresas foi abrir uma ponte para elas sobreviverem e depois continuar operando. Por isso que eu te falo que, durante a crise, não só o setor financeiro não quebrou como
ajudou muito dessas empresas. Agora, grande parte dos nossos empréstimos são empréstimos que a gente faz em grupo solidário. O que é um grupo solidário?
Suponha que três vizinhos queiram dinheiro por motivos diferentes. Um deles fica responsável pelo empréstimo. Você não está terceirizando a responsabilidade?
Não. Cada um deve uma parte. E todos precisam cobrir quem levantou o empréstimo. São pessoas que estão ali na mesma comunidade. Então o índice de inadimplência é baixíssimo. E você tem histórias maravilhosas de pessoas que não tinham nem emprego e conseguiram se estabelecer. Conte uma delas.
Pois bem, há um caso muito interessante de uma mulher que fazia coxinhas. Ah, vale lembrar que os agentes de crédito são agentes da comunidade, eles vivem lá, conhecem as pessoas. É um cara dali mesmo. E essa mulher pegou um empréstimo para fazer coxinhas. Ela chegou para esse agente e disse: “Preciso de mais um empréstimo, pois quero aumentar a produção. Tem dias que, se eu tivesse mais coxinhas, venderia tudo”. E o agente: “Tá bom. A senhora tem geladeira grande para estocar essa produção maior?”. E ela: “Não, não tenho”. E ele: “Então vamos fazer o seguinte: eu lhe dou um empréstimo para a senhora comprar uma geladeira grande. Quando acabar de pagar, lhe concedo outro para aumentar a produção”. Faz sentido. Funciona, na prática?
Muito. E nós não perdemos dinheiro. Não posso perder dinheiro. E os juros do microcrédito são baixíssimos.
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Vamos falar um pouco de cultura. Vocês investiram um bom dinheiro no
restaurante no Centro, um barzinho.” Isso é o que devemos estimular.
Farol Santander. De quem foi a ideia?
No mundo todo a recuperação de
Era um sonho meu, um sonho do Jesús Zabalza. Foi realizado pelo presidente do Santander no Brasil desde 2016, o Sergio Rial. Era um plano que exigia muitos investimentos. E ele foi à luta.
áreas urbanas degradadas, do centro
O que estava funcionando no edifício, Marcos?
Estava fechado havia dois anos. Queremos que o Farol Santander espalhe luz para o centro da cidade. Vamos torná-lo um centro de irradiação de cultura, de lazer. É esse o nosso intento principal.
das metrópoles, do cais do porto nas cidades portuárias, foi a salvação.
Exato. Quando você cria esse atrativo, você cria uma atividade, você cria pessoas indo para lá. Você gira atividades econômicas em torno dessas pessoas que estão indo para lá. Qual é o último passo? Fazer com que as pessoas queiram viver ali. É o passo que consolida a primeira ação. O Centro de São Paulo parece uma montanha-russa. Uma hora está decadente, depois se renova. Aí, decai outra vez. Isso tem solução?
“A reforma da previdência não é uma questão de filosofia. é uma questão de matemática” A sustentabilidade está em jogo aí também?
Totalmente. Mas a coisa não se resume apenas ao nosso projeto. Na região em torno você tem, além do Farol, a Bovespa (B3), o Centro Cultural Banco do Brasil, o Theatro Municipal, o Shopping Light, o pátio do Colégio, o Sesc. Se você cuidar bem desse núcleo, o que acontece? A coisa explode. Num só sábado, por exemplo, tivemos 1.700 pessoas visitando o Farol. Inauguramos na semana passada a exposição do [escritor português] José Saramago. Esse fluxo de gente atrai o comércio. O Café Suplicy, instalado no alto do prédio, está feliz da vida. Pode perguntar a eles. Então um candidato a empreendedor pensa: “Vou instalar um
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Se você inicia uma política pública de começar a atuar ali naquela área, criará uma estrutura que se manterá mesmo numa época de crise. E isso vai se expandindo. De nossa parte, queríamos investir em lazer, cultura e empreendedorismo. E foi o que fizemos. Em que pé estamos atualmente no diabo dessa crise brasileira?
O Brasil teve 1% de crescimento no ano passado. Pô, para quem saiu da recessão que a gente estava. Mas neste ano… A reforma da previdência, tão importante, não foi aprovada. Mas o mercado acredita que ela será realizada daqui a pouco. Você acredita nisso?
Sim. Não tem jeito. O mercado é muito nervoso. Ele antecipa. E antecipa
que certas medidas serão tomadas. Porque não tem jeito. A questão da previdência não é uma questão de filosofia. Não importa se você é de esquerda, de direita, de centro. Tanto faz. A questão é matemática. Tem muita gente devendo para a previdência, inclusive bancos. É um rombo de mais de R$ 170 bilhões. E, mesmo assim, essas empresas não são executadas.
O problema não é o pobre do trabalhador, que vai trabalhar até os 65, 70 anos. O problema é esse grupo, que abrange 30% ao menos. É gente que recebe proventos muito altos da previdência. Boa parte de altos funcionários públicos?
Grande parte de funcionários públicos, não tenha dúvida. Gente que se aposenta com salários de R$ 30 mil ou mais.
No meu caso, sou uma pessoa, vamos dizer assim, privilegiada, de qualidade de vida e renda. Mas quando me aposentar pelo INSS, terei no máximo cerca de R$ 5 mil de proventos. Agora, é preciso observar que as pessoas estão vivendo cada vez mais, o que aumenta os gastos do INSS. A verdade é que, qualquer que seja o governo, terá de fazer certas reformas, sobretudo a da previdência. Caso contrário, o país perde tudo o que estava ganhando até agora. Basta fazer as contas. Seja qual governo for?
Bem, ao menos da grande maioria. A fórmula está esgotada. É preciso reformar a previdência, a legislação tributária, a legislação eleitoral. Não é possível você ter 35 partidos políticos. Não é possível ter candidatos que pegam esse dinheiro do fundo partidário, e ainda vendem seu P tempinho de televisão.
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HORA de festejar O frio ameno de Genebra, na Suíça, surpreendeu os visitantes do Salão Internacional de Alta Relojoaria (SIHH), entre 15 e 19 de janeiro. Inesperados também foram os bons números de vendas e exportações dos expositores. Houve um aumento de 15% em relação ao evento anterior. De um modo geral, a indústria seguiu o caminho de simplificação de modelos. O clássico “menos é mais” reinou, principalmente sobre tons de azul e cinza. As edições limitadas foram tímidas, mas consistentes. Veja os principais lançamentos de um dos maiores eventos de alta relojoaria do mundo.
Panerai
PÓ de titânio
A
impressão 3D chegou ao universo relojoeiro há já algum tempo. Mas ainda não tem sido usada com frequência na etapa final da produção – ou seja, no
relógio em si. Pois a Panerai adotou essa tecnologia em um de seus lançamentos deste ano. O Lo Scienziato é produzido a partir da junção de finas camadas de 0,02 mm de espessura criadas a partir de pó de titânio, por meio de uma impressora que trabalha com um laser de fibra ótica. As camadas fundem-se em formas praticamente impossíveis de serem obtidas por processos convencionais. Tal técnica ainda assegura robustez, alta resistência e torna o relógio resistente a até 100 metros sob a água. Isso não quer dizer que a Panerai rompeu a tradição dos tempos em que servia com exclusividade à Marinha Italiana. O modelo mantém características típicas da marca, como o protetor de coroa patenteado, que auxilia na resistência à água. E dá para ver o mecanismo funcionando dentro da robusta caixa de 47 milímetros de diâmetro. Os traços renovados da peça incluem os tons de azul que permeiam os lançamentos de muitas das marcas. A cor aparece nos ponteiros, na costura da pulseira de couro e também ao redor do mostrador. (Raphael Calles) panerai.com
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montblanc
Para o bolso e o pulso
O
ator Hugh Jackman, embaixador da Montblanc, esteve no salão. Mas nem ele ofuscou a homenagem à manufatura suíça Minerva, adquirida pela marca alemã no final dos anos 1990, respon-
sável pela produção de relógios icônicos nas décadas de 1920 e 1930 e que completa 160 anos. O protagonista foi o modelo 1858 Pocket Watch Limited Edition 100. Apesar do formato para bolso, o relógio tem acessórios que permitem que seja usado também como um modelo de pulso ou de mesa – mesmo com seus 60 mm de diâmetro. Horas e minutos são indicados por um único ponteiro numa escala de 24 horas. Os segundos estão em um pequeno mostrador na região inferior do dial de pedra. Já a função cronógrafo é apresentada por um ponteiro central de segundos, enquanto os minutos estão na área superior do mostrador. A tampa traseira permite ver todos os detalhes do mecanismo e conta com uma bússola integrada, desenhada para ser utilizada sobre mapas. (RC) montblanc.com
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S I h H 2 018
H20 (o de cima) e H0 Blue Night: lanรงamentos
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HYT
U
QUANDO arte e ciência SE ENCONTRAM nir o presente do design, o passado do relógio
Escuro como a noite
mecânico manual e o futuro do uso de líquidos em
De princípio semelhante, mas com visual e indicações
uma única peça é a ousada proposta da HYT. À
muito diferentes, o H0 Blue Night traz uma reinterpretação
primeira vista, pode parecer simples. Os líquidos viajam dentro
de um modelo apresentado em meados de 2017. A cúpula
de uma pequena cânula de vidro de um ponto a outro, com a
que dá as caras no modelo anterior também é apresentada
intenção de apresentar as horas. Mas por trás de cada peça há
aqui. Só que, desta vez, os detalhes do mecanismo estão
um trabalho minucioso, tanto na produção de componentes do
ocultos sob uma estrutura preta fosca que, em seu topo,
mecanismo quanto na regulagem para cada relógio produzido.
apresenta uma leve ondulação feita para emitir a sensação
Apesar de algumas semelhanças entre si, existe muito a
de iluminação e movimento.
ser notado na diferenciação de cada modelo produzido pela
As laterais transparentes entregues ampliam a leitura para
companhia. Para o SIHH deste ano, dois relógios ganharam
uma escala de 24 horas, com graduações que se iniciam no
destaque e há muito o que observar em ambos.
13 e seguem ao 24. Em ambas as escalas, tanto o 6 quanto
O nome do H20 parece lembrar a fórmula química da água, mas trata-se de “agá, dois, zero”. Ainda assim, a leveza da água
o 18 se repetem, pois marcam o início e o fim do trajeto percorrido pelo líquido azul no pequeno capilar.
é uma ótima referência para o formato do cristal de safira que
A apresentação de uma segunda escala de apresentação
abraça todo o mecanismo, como uma cúpula que protege algo
de horas não acontece por acaso. O Blue Night conta com
precioso. Ele permite ao usuário apreciar a movimentação do
uma escala com preenchimento luminescente posicionada
líquido e das demais engrenagens que integram o instrumento.
sob a escala líquida. Isso permite que a leitura também seja
São líquidos que não se misturam – e que têm sua com
feita em momentos de baixa luminosidade.
posição guardada a sete chaves. Eles partem de dois foles
Neste modelo, os foles estão paralelos, algo que muda
diagonais no mostrador, marcado por indicadores arábicos na
por inteiro a maneira como o mecanismo que os pressiona
lateral do movimento. Já a leitura de minutos é feita de maneira
deve se comportar. Nesta peça, a apresentação dos minutos
tradicional: com um ponteiro central. Detalhes do mecanismo
é feita de forma descentralizada, assim como os segundos.
apresentados pelo mostrador estão em azul, mesma tonalidade
Uma escala permite, ainda, saber se a corda está próxima
do fluido principal que faz a indicação das horas.
do fim. (RC) hyt.com
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cartier
Leve ferocidade
G
enebra era tomada por uma temperatura amena e com algumas aberturas de sol, o que provocava uma neve fina que logo se tornava água. Enquanto
os frágeis flocos de gelo caíam lá fora, a Cartier, com o maior espaço de exposições do salão, fazia pequenas esferas de ouro caírem sobre a marcação de horas de um de seus lançamentos para este ano, o Révélation. Sobre um plano de fundo sem qualquer tipo de marcação além do nome da maison – e com uma decoração que imita raios solares –, um par de ponteiros dourados é encoberto por uma delicada chuva de miçangas douradas. Como feitiçaria, as esferas se organizam no momento de sua queda e formam o rosto da pantera, símbolo da marca, sobre o mostrador. Para uma nova aparição, basta um breve movimento do pulso. E o espetáculo e repete. A moldura de tal trabalho artístico é dada por cerca de 2 quilates de diamantes cravejados em uma caixa de ouro rosa. Eles estão ao lado de tons de verde, vermelho
O clássico Santos de Cartier
Borgonha ou em preto, como temática principal do relógio. Cada uma das peças ganha uma finalização especial de
Torre Eiffel, que embeleza Paris há 131 anos, foi mantido.
acordo com sua coloração: o topo da coroa de cada relógio
Assim como os oito parafusos ao redor do mostrador.
apresenta uma esmeralda, um rubi ou um diamante.
Sua maior transformação está na moldura, que ganha traços alongados nas porções superior e inferior e uma
Da terra ao ar
maior integração com a pulseira, que passa a contar com
A elite intelectual do início do século 20 também foi
um sistema de troca facilitada entre versões de aço, ouro,
homenageada. Brasileiro de toques franceses, amigo de Jú-
couro de vitelo ou de crocodilo. A janela de data também
lio Verne e Gustave Eiffel, Alberto Santos-Dumont ajudou
muda de lugar e passa a ser apresentada às 6 horas. O
a desenvolver o primeiro relógio de pulso. Não por suas
respeito à estética original foi mantido em suas proporções,
mãos, mas pelas de Louis Cartier, amigo bastante próximo,
peso e formato, para que o conforto de uso seja inigualável.
desde 1900. Três anos foram necessários para o desenvol-
O espírito de inovação do homem que dá nome a um
vimento da peça, que foi batizada como Santos de Cartier.
aeroporto brasileiro, uma rua em Paris, batiza uma cratera
A solicitação inicial ocorreu em 1901, quando Dumont se
na Lua e já foi homenageado por missões espaciais se
queixou para Cartier da dificuldade em controlar o tempo
eternizou nesse modelo. Santos está disponível em cinco
durante seus voos apenas com um relógio de bolso.
versões: aço, aço com ouro e ouro com pulseira de couro ou
Cento e catorze anos depois, o modelo é apresentado
metal. Dois modelos de uma versão esqueletizada também
com uma reformulação completa, mas mantém seu DNA
estão disponíveis em ouro amarelo e aço inoxidável.
avant-garde. O formato quadrado, inspirado na base da
(RC) cartier.com
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Baume & Mercier
D
eis o baumatic esenvolvido em conjunto com a ValFleurier e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Richemont, o mecanismo Baumatic – que também
dá nome ao relógio da Baume & Mercier – enche os olhos. A
Jaeger-lecoultre
começar por ser visível através de um cristal de safira posicionado
o simples voltou
É uma tranquilidade livrar-se das amarras do tempo por um
Três perguntas para o VP executivo Geoffroy Lefebvre
no verso da caixa. Sua autonomia de corda chega aos cinco dias. fim de semana prolongado, sem se preocupar em ajustá-lo no momento de colocá-lo de novo no pulso. A inovação segue ainda para a precisão que o calibre entrega,
Por que levou tanto tempo para relançar uma peça tão importante?
com uma variação de até 4 segundos de atraso e 6 segundos de avanço por dia. Ela ainda avança para uma considerável
Às vezes precisamos esperar por eventos. Este ano, o
resistência magnética e permite que sua manutenção seja feita
Polaris completa meio século. Uma linha nova foi desen-
em um intervalo mais espaçado do que modelos convencionais.
volvida em apenas 10 meses sobre o modelo de 1968. Em
O Baumatic está disponível em cinco versões distintas. Uma
fevereiro de 2017, ela era apenas um projeto.
delas com certificação cronométrica de precisão.
O Reverso é um modelo retangular e símbolo da marca. Qual outro relógio da companhia tem esse potencial? Acredito que o Polaris pode entrar nessa representação masculina. São itens importantes facilmente reconhecidos. No universo feminino, temos a linha Rendez-Vous. As pessoas buscam relógios que representam cada vez mais quem elas são. O que você espera de 2018 para a indústria, de um modo geral? Está cada vez mais difícil ser lucrativo devido a fatores externos que mexem com nossos negócios, como variações cambiais, situações de tensão geopolíticas. É muito cedo para dizer que há uma recuperação, mesmo com sinais encorajadores vindos da Ásia, onde Hong Kong, China e Japão vão muito bem. Mas tenho visto que a simplicidade está de volta. Na JLC, a linha de entrada da coleção Polaris conta com muito valor agregado a um preço competitivo. Somos fabricantes de relógio, do início ao fim, em uma única manufatura. Isso nos permite criar peças como essas, resistentes à água, por 5,6 mil euros. (RC) jaeger-lecoultre.com
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Munro em 1967
O relógio mais rápido do mundo
F
irmada em 2017, a parceria da casa suíça Baume &
viveu o piloto no filme Desafiando os Limites (The World’s Fastest
Mercier com a Indian Motorcycle Company, a mais antiga
Indian, 2005).
fabricante de motos dos Estados Unidos, rendeu seu
O feito só foi ultrapassado no ano passado. E justamente
primeiro fruto: o Clifton Club Burt Munro. O relógio é uma
por Lee Munro, sobrinho-neto de Burt, que chegou aos 309,39
edição especial para quem adora motocicleta.
km/h, mais uma vez em Bonneville e de novo com uma Indian —
Trata-se de uma homenagem ao lendário piloto neozelandês
agora uma Scout moderna. O evento teve o apoio e o patrocínio
Herbert James “Burt” Munro (1899-1978). Menino pobre que
da Baume & Mercier, que, em seguida, criou o modelo especial.
adorava galopar na fazenda dos pais em Invercargill, Munro
Com tiragem limitada a 1.967 peças, o cronômetro Clifton
sonhava com a fama. Apaixonado por mecânica e por motos, ele
Club Burt Munro tem o número 35 (o mesmo da moto)
viajou diversas vezes, sem um tostão no bolso, para Bonneville.
estampado no mostrador. A pulseira de couro de bezerro vem
Quebrou três recordes para motores até 1.000 cc. Em 26 de
na cor Indian Red, característica da fabricante da moto. No
agosto de 1967, porém, conseguiu sua maior proeza – atingiu
taquímetro, destaque para a marcação 184 (milhas por hora),
inacreditáveis 305,89 km/h pilotando sua Indian Scout caindo
que eterniza o recorde. (Fernando Paiva)
aos pedaços. Munro tinha 68 anos; a moto, 47. Anthony Hopkins
baume-et-mercier.com
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S Ih H 2 018 IWC
A hora do jubileu
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s honrarias dos 150 anos da IWC não se limitaram
a um único modelo celebrativo. A festa se estendeu à renovação de toda a decoração do espaço dedicado
à marca no evento, assim como a adição de pelo menos um modelo especial dentro de cada coleção da marca. O Portofino Corda Manual Fases da Lua entrega justamente o que seu nome diz em três variações: ouro rosa com mostrador em laca azul e aço com mostrador em laca branca ou azul. Cada modelo tem uma limitação entre 150 e 350 unidades. O verso é amplamente aberto e permite a visualização de detalhes do mecanismo, que conta com um selo dourado com a indicação do aniversário da companhia, além de gravação do número de unidades. (RC) iwc.com
audemars piguet
Fino e eterno
A
relojoaria sediada no Vale do Jura, na Suíça, usou
Seu mecanismo mede apenas 2,89 mm de espessura.
seus 45 minutos de apresentação para mostrar
Quando inserido em sua caixa, soma 6,3 mm.
imagens estonteantes em 360 graus, com alto som.
Estava comemorando o lançamento do Royal Oak RD#2.
Os traços simbólicos desenvolvidos pelo ícone do design relojoeiro Gérald Genta foram mantidos. Assim,
Cinco anos foram necessários para a pesquisa e o
a marca reforça a preciosidade de seu desenvolvimento
desenvolvimento deste relógio de baixa espessura com a
com caixa e pulseira confeccionadas em platina 950, o mais
função de calendário perpétuo – que realiza a indicação de
precioso dos metais. (RC) audemarspiguet.com
dia, dia da semana, mês e fases da Lua sem qualquer erro, mesmo em anos bissextos. Uma façanha. Com o Royal Oak RD#2, a Audemars Piguet passa a ser a detentora do recorde de calendário perpétuo com cor da
automática
mais fino do mercado.
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A. Lange & Söhne
Três dimensões
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m 17 de julho de 2016, o triatleta alemão Jan Frodeno bateu o recorde mundial de triatlo de longa distância. A prova, que combinou 3,8 quilômetros de natação, 180 quilômetros de ciclismo e 42,2
quilômetros de corrida, foi completada em 7 horas, 35 minutos e 39 segundos. O segundo colocado, Joe Skipper, da Grã-Bretanha, cruzou a linha de chegada apenas 20 minutos e 44 segundos depois. Tal diferença de tempo só poderia ser medida por um único relógio de pulso, lançado apenas um ano e meio depois: o A. Lange & Söhne Triple Split. Somente ele permite realizar a marcação comparativa de tempo para até 12 horas, além de minutos e segundos. Até então, só era possível a marcação máxima de até 30 minutos e segundos, um feito conquistado pela mesma companhia em 2004. O modelo é apresentado com uma caixa de ouro branco e conta com um mostrador elaborado em prata maciça na tonalidade cinza. (RC) alange-soehne.com
Piaget
Alguém falou em 2 mm de espessura?
S
e achávamos que a Piaget não podia ir ainda mais longe com a espessura de seus relógios, estávamos enganados. Depois de bater diversos recordes com modelos de
baixíssima espessura, a companhia alcançou mais um feito: um relógio mecânico de corda manual com um total de 2 mm. Engenheiros, relojoeiros, técnicos e designers se dedicaram por quatro anos ao projeto, que foi apresentado ainda como um conceito. Além de todas as adaptações, a peça conta com cinco patentes pendentes. A proeza foi obtida pela miniaturização de já minúsculas peças. No mais, a caixa protege e integra o mecanismo, o que elimina a necessidade de uma base. Ela é feita por uma liga com base de cobalto, conhecido por sua alta resistência mecânica. (RC) piaget.com
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S I h H 2 018 Hermès
luzes e sombras
A
primeira forma de escapar do lugar-comum no universo da relojoaria é apresentar um novo formato para a caixa de um relógio. A peça quadrada da
Hermès, chamada de Carré H, foi desenhada por Marc Berthier e lançada em 2010. Para este ano, o modelo foi atualizado pelo próprio designer, ganhou novas dimensões e agora também brinca com luzes e sombras. A começar pela caixa, que conta com detalhes polidos e microjateados. Já no mostrador, a trama entregue pelo guilloché central é complementada pelos ângulos dos ponteiros e pelo relevo dos indicadores. O conjunto da obra acentua os detalhes do design, as quinas arredondadas e o perfil curvo do relógio. A Hermès também se preocupou com o uso da fonte para os algarismos arábicos, que acrescenta o zero de maneira inovadora. (RC) hermes.com
Ulysse Nardin
É
voyeurismo hora da orgia, com todo o respeito que o universo da relojoaria merece. O relacionamento da arte dos ponteiros com o homem mereceu uma apimentada, pelo menos
essa foi a visão da Ulysse Nardin com seu lançamento. Classic Vouyeur, como você já pode imaginar, traz uma cena de sexo explícito diretamente para o seu pulso. Dotado de um sistema de repetição de minutos – em que gongos soam as horas, quartos de horas e minutos –, a cena ganha vida com a reprodução desses sinos. O homem mais à esquerda do mostrador penetra sua parceira vigorosamente no tilintar das horas. Nos quartos de minutos e minutos, a mulher à direita masturba seu parceiro, que se esconde por trás de uma cortina e assiste à primeira cena. Três versões do modelo estão disponíveis, com caixa de ouro rosa, platina com e sem diamantes. Cada uma delas é limitada a 18 unidades. (RC) ulysse-nardin.com
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Van Cleef & Arpels
Horas planetárias
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Van Cleef & Arpels apresentou uma visão feminina do cosmos, quatro anos depois da versão masculina. Como
é próprio da marca, muitos toques de joalheria estão
presentes no Midnight Planétarium. O ouro branco emoldura a visão do céu, enquanto diamantes emprestam ainda mais brilho ao relógio. No mostrador, quatro diminutas esferas representam Mercúrio em madrepérola rosa, Vênus em esmaltação verde e a Terra em turquesa com seu satélite natural em diamante. No centro, o Sol em ouro rosa. Já na parte mais externa, uma estrela cadente em ouro rodinado faz o papel de ponteiro de horas. A realística interpretação dos céus vai ainda mais fundo, com o movimento dos planetas ocorrendo como manda a natureza: 88 dias para Mercúrio, 224 dias para Vênus, 365 dias para a Terra e 29,5 dias para o movimento da Lua ao redor da Terra. (RC) vancleefarpels.com
Vacheron Constantin
A
Novo clássico Vacheron Constantin apostou numa pegada retro contemporânea para a apresentação de uma coleção inteiramente nova. A FiftySix se inspira em uma refe
rência lançada no ano que nomeia o relógio, 1956. A linha se destaca por ser a primeira coleção clássica
da companhia a apresentar modelos em aço, material que era utilizado só nas peças esportivas da maison. O visual cinquentista está presente nos detalhes, como o uso de algarismos arábicos e bastões para a apresentação das horas, assim como a trilha de minutos posicionada ao centro do mostrador. FiftySix chega ao mercado em três variações: automático; com dia e dia da semana indicados por ponteiros; e uma versão com calendário completo, que inclui indicação de fases da Lua. (RC) vacheron-constantin.com
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TAG Heuer
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Um novo Carrera
oi à beira do lago Léman, em Genebra, que a TAG Heuer apresentou uma de suas principais novidades para 2018. Um evento organizado pelo grupo LVMH, detentor da marca, na mesma semana em que o SIHH deu início às celebrações
dos 55 anos de um ícone da relojoaria. O TAG Heuer Carrera é um marco. O modelo tem esse nome em homenagem à
corrida de automóveis Carrera Panamericana, realizada no México nos anos 1950 e que durava uma semana. Ressuscitada em 1988, a competição passou a ser um rali anual de automóveis fabricados antes de 1955. Apresentado em 1963, o relógio Carrera tem um cronógrafo inovador. Pela primeira vez um relógio com essa função apresentou uma escala clara de segundos na parte mais externa do dial, assim como indicações e subdivisões de alta legibilidade. Fácil de ser acionado, o cronógrafo tinha botões mais protuberantes e coroa canelada. A nova versão do relógio, que já ganhara uma reformulação há três anos, passa a contar com um novo mecanismo. Ele é responsável por um visual reformulado, embora ainda remeta às peças de 1963. Tem contadores nas posições de 3, 6 e 9 horas e uma janela de data entre 3 e 4 horas. O novo calibre conta com uma autonomia de energia bem maior: 80 horas ininterruptas de funcionamento com energia gerada pelo movimento do pulso. (RC) tagheuer.com
Swatch retorna ao mercado brasileiro Freddy Rabbat, presidente da 356 Distribuidora, responsável por marcas como TAG Heuer, Frederique Constant e Bomberg no Brasil, amplia sua gama de atuação e passa a representar, também, a suíça Swatch. A marca se popularizou nos anos 1980, quando lançou relógios de quartzo a preços acessíveis para competir com os similares japoneses, que derrubaram as vendas dos produtos suíços em todo o mundo. “O plano é de trazer de volta a glória da Swatch para o mercado brasileiro”, diz Rabbat. “Traremos uma distribuição selecionada, mas ampla, com duas butiques próprias em São Paulo e Rio de Janeiro e sistema de franquias no restante do país.” Os modelos Swatch ainda mantêm os preços acessíveis. Custam ao redor de R$ 300 nos modelos de entrada. Já o modelo mais simbólico da linha, o Sistem51, de corda automática e com mecanismo elaborado com apenas 51 peças, custa cerca de R$ 800. “Trabalhamos para deixar o preço brasileiro o mais próximo possível do internacional”, explica Rabbat. “Não será por uma diferença de R$ 50 que um consumidor vai comprar longe de casa.” (RC)
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Mandarin Oriental Hotel Genebra
I
Refúgio das estrelas naugurado em 1950, o Mandarin Oriental de Genebra, na
Conforto e sofisticação não se resumem ao espaço privativo.
Suíça, foi o primeiro hotel de luxo construído na Europa após
Áreas comuns levam a assinatura do aclamado designer romeno
a Segunda Guerra Mundial. Hoje, ele representa um dos
Adam D. Tihany, que trouxe claras referências orientais aos
pontos de herança histórica da cidade. Suas suítes já receberam
ambientes. Madeira de cerejeira, vidros, couro e seda se combinam.
hóspedes ilustres, do trompetista Dizzy Gillespie a Dwight D.
A cada andar, uma escultura de uma bailarina empresta leveza ao
Eisenhower, o 34º presidente dos EUA.
olhar. Refinados relógios de parede Vacheron Constantin deixam
No Mandarin, sentir-se uma estrela ou mesmo um
você a par do tempo.
presidenciável é privilégio para todos. Basta ser hóspede. A
Dois restaurantes e um bar completam o cenário. O primeiro
possibilidade de alcançar sua suíte por meio de um elevador
deles é o Rasoi by Vineet. Já exibiu uma estrela Michelin por seis
privativo nas categorias mais altas de acomodação ou mesmo
anos consecutivos. Oferece culinária indiana com a assinatura do
aproveitar todo o conforto fornecido por um sistema completo
chef Vineet Bhatia. Já o Café Calla tem uma atmosfera mais relax
de entretenimento estão entre as facilidades oferecidas.
para refeições durante o dia e ganha um clima intimista para a
A vista é garantida em qualquer um dos 189 quartos. Pela janela ou
noite. E na carta do MO Bar os coquetéis são divididos em temas
varanda divisa-se a cidade antiga de Genebra, as montanhas nevadas e o
e épocas diferentes, entrelaçando presente, passado e futuro.
rio Ródano, que nasce a partir do lago Léman, quase à frente do hotel.
(RC) mandarinoriental.com/geneva
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Muit
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Porsche
Novo comando
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Acelera, Marquardt!
O seu antecessor tinha o desafio de passar o México como maior mercado da América Latina. A meta continua de pé? Sim, estou convencido de que vamos conseguir passar o México. A pergunta não é “se”, mas “quando”. Aqui temos um forte mercado, em especial para os modelos Macan e Cayenne, muito procurados pelas famílias. Também temos boas respostas para o Panamera híbrido.
orsche informa: sai Matthias Brück, entra Andreas Mar-
quardt. A subsidiária brasileira tem um novo diretor-presidente. Mesmo com a mudança, a promessa é de continui-
A Alemanha pretende abolir os carros a combustão em pouco tempo, certo?
dade. Compreende-se: a empresa montou sua subsidiária no auge
Essa é uma discussão que temos. Não é uma lei, mas uma inten-
da crise brasileira, instalou uma central de peças e já comemora o
ção de termos apenas carros elétricos a partir de 2030. Na Europa, há
seu melhor ano no Brasil.
os limites de emissão de CO2 e teremos carros elétricos ou híbridos.
Com formação em administração de empresas, o alemão Mar-
O Brasil é um país perfeito para isso. Produz muita energia limpa.
quardt já tem vida longa na Porsche. Exerceu funções executivas na
Em Stuttgart, houve a discussão de fechar o centro da cidade para
divisão de serviços de mobilidade, liderou projetos na Porsche Con-
veículos a combustão. Milão tem um rodízio semelhante ao que existe
sulting e foi assistente executivo da presidência na Porsche Itália. Em
em São Paulo. A chave da mobilidade elétrica será sempre a bateria.
2009, desenvolveu um projeto na Volkswagen, de São Bernardo
Tivemos 100 anos de desenvolvimento do motor a combustão. E
(SP). “Naquela época, prometi que iria voltar”, conta. “Menos de
estamos apenas no início da era do motor elétrico.
dez anos depois, consegui cumprir essa promessa.” Aqui, Andreas Marquardt fala da chegada ao Brasil e dos desafios das metas de sustentabilidade da Europa e da própria Porsche.
Como o Panamera 4-Hybrid entra nesse contexto? Ele combina duas coisas incríveis: um motor elétrico e outro a
combustão. Ele une as duas energias. Se quiser voar baixo e com tran-
A Porsche montou a sua subsidiária num dos piores mo-
quilidade, pode usar apenas o elétrico. É um modelo muito esportivo.
mentos da economia brasileira. A marca está alcançando o
Tem aceleração e potência inacreditáveis. É uma obra-prima.
que queria neste mercado? Este é um país muito interessante. Tem 200 milhões de habi-
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Veremos em breve o fim dos veículos a combustão?
tantes. Por isso, este mercado é tão importante para tantas mar-
É difícil fazer essa previsão, porque cada continente está em um es-
cas, inclusive para a Porsche. Para nós, foi muito bom. Tivemos
tágio. Talvez, na Europa. Porém, quero citar o
um crescimento relevante nos últimos dois anos. Em 2017, um
imperador alemão Guilherme 2º. Em 1900,
recorde de mais de mil veículos vendidos aqui. Abrimos três no-
ele disse: “Eu gosto dos carros, mas ainda
vas concessionárias no ano passado. Além disso, inauguramos a
acredito nos cavalos”. Para você ver como
nossa central de peças. Para um futuro próximo, o Brasil será um
somos muito apegados às coisas antigas.
mercado ainda mais forte.
(Mario Ciccone)
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A propriedade já foi do ator Sean Connery
terre blanche
O
O melhor do sul da França lugar é bem tranquilo e consegue reunir o melhor
fissionais de golfe, com 18 buracos cada um. Não à toa, o Terre
do sul da França. Fica em Tourretes, na Provença,
Blanche foi listado entre os cinco melhores resorts do gênero
perto dos campos de lavanda, dos Alpes Marítimos
pelo guia Money Dream, da CNN.
e dos vinhedos que produzem o melhor rosé do planeta. Não
A propriedade de 266 hectares pertenceu à famí-
muito longe, a meia hora de carro, está a Côte d’Azur, de Nice
lia do aristocrata Charles Bouge por mais de dois sé-
e Saint-Tropez. A localização, privilegiadíssima, por si só já faria
culos, antes de ser comprada pelo ator Sean Connery,
do Terre Blanche Hôtel Spa Golf um resort aliciante. Mas há
em 1979. Onze anos mais tarde, passou às mãos do alemão
mais. Muito mais.
Dietmar Hopp, fundador da SAP e capaz de proezas como em
São 115 espaçosas suítes e villas, inspiradas em aldeias pro-
nove anos levar o clube onde jogou futebol como juvenil, o Ho-
vençais, quatro restaurantes (um deles estrelado), spa completo
ffenheim, da quinta divisão da Alemanha até a seleta Bundesliga.
(com apoio do nosso falecido Ivo Pitanguy) e dois campos pro-
(RC) en.terre-blanche.com
Montblanc
couro vegetal
A
Montblanc faz lembrar, em primeiro
toda ela em estilo vintage. É manufaturada em
lugar, canetas. Logo a seguir, reló-
couro vegetal ecológico, produzido com mi-
gios. Mas a grife suíça assina também
nucioso entrelaçamento de plantas e cascas.
refinados artigos de couro. E não é de hoje.
O aspecto retrô de mochilas, pastas executi-
Os primeiros produtos masculinos feitos des-
vas e carteiras remonta ao charme de viajar
se material chegaram às lojas em 1926. Jus-
em alta classe nos dourados anos 1930, época
tamente para homenageá-los, a companhia
dos transatlânticos.
lançou a coleção Montblanc 1926 Heritage,
montblanc.com
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S I h H 2 018
localiza hertz
Alugue um Jaguar
Q
uem viajar para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre e Belo Horizonte já pode alugar um Jaguar XF 2.0T R-Sport na Localiza Hertz. Em feve-
reiro a diária com seguro e taxas saía por R$ 755,90.
O modelo XF 2.0T R-Sport: interior luxuoso
“Nossa frota de carros de luxo começou em 2015, com a co-
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leção Localiza Prime”, conta o CEO Herbert Viana. “Ela inclui
marca britânica Jaguar. O modelo XF 2.0T R-Sport, um sedã,
ainda o BMW 320, o Audi A4 e Q3 e o Toyota Prius híbrido.
tem câmbio de oito marchas e suspensão traseira, com motor
Para nós, é importante abranger esse segmento.”
de 240 cavalos.
A Localiza, que comprou a operação brasileira da Hertz em
Para alugar os carros da linha Localiza Prime é preciso ter
2016, tornou-se a maior empresa de aluguel de carros na Amé-
mais de 21 anos e mínimo de dois anos de carteira de habilitação.
rica do Sul. E é a única locadora no país que oferece carros da
localizahertz.com
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Randes Nunes/ICGP Brasil
Uma das máquinas do mundial
International Classic Grand Prix
P
O ronco do passado
ela primeira vez Interlagos será palco oficial de uma corri-
certame teve uma corrida fora da Europa. O privilégio coube a
da da ICGP – a International Classic Grand Prix. Como o
Goiânia, com o apoio do brasileiro Bob Keller, outro aficionado
nome antecipa, a categoria se destina a veículos clássicos:
das motos clássicas.
motocicletas de 250 cc e 350 cc fabricadas entre janeiro de 1974
Na ICGP, as motocicletas de 250 cc e 350 cc competem
e dezembro de 1984. Era a época de máquinas inesquecíveis,
juntas na mesma pista, embora pontuem separadamente. “Elas
como as Yamaha TZ. Foi com uma TZ, aliás, que em 1973 De-
têm velocidade máxima e aceleração muito próximas”, explica
nisio Casarini protagonizou um insólito segundo lugar em Inter-
Saul, que descarta incluir motos de 125 cc e 500 cc na mesma
lagos, atrás de Walter “Tucano” Barchi: recebeu a bandeirada
disputa, pois a diferença de desempenho aumentaria o risco de
rolando no asfalto, depois que a moto cruzou a linha sem ele.
acidentes. “Além disso, já temos um bom número de partici-
A ICGP surgiu em 1999, por iniciativa do piloto francês Eric
pantes, com uma média de 34 pilotos em cada etapa”, justifica.
Saul, cuja melhor colocação no Mundial de Velocidade foi um
A prova de Interlagos ocorrerá em 2 de dezembro, o que
quarto lugar na 350 cc, em 1982. Perseverante, depois de provas
já deixa ansiosos os saudosos dos roncos dos motores de dois
isoladas das motos clássicas, ele conseguiu realizar o primeiro
tempos. Detalhe: será a última etapa do calendário da ICGP.
campeonato internacional, em 2003. Só em 2016, no entanto, o
(Walterson Sardenberg So) icgpracing.com
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Sofia Escamilla (do Facebook), Jozef Youssef (Pernod Ricard) e Martine Assouline (Editora Assouline)
LuxuryLab
O futuro do luxo
N
ão faltarão perguntas no auditório do St. Regis
Assouline), Sofia Escamilla (diretora de vendas do Facebook)
Mexico City, em 21 de maio. A nova edição do Lu
e Santiago de Haro (fundador da We Are Water Foundation).
xuryL ab, na capital mexicana, trará as respostas,
O palco também receberá nomes de destaque no mundo
ou ao menos indicará caminhos. Até porque o mercado de
fashion, indústria do turismo, arquitetura e design. Segundo a
luxo, tema geral do encontro, era considerado lento em criar
organização do evento, o LuxuryLab terá o público de 200
e avaliar tendências, mas se viu obrigado a aumentar o ritmo
líderes do mercado de luxo, entre CEOs e altos executivos.
com as reviravoltas da economia.
principais apoiadores dessa edição. O LuxuryLab está em
luzes para o futuro e abordará temas como Geração Z (nas
sua oitava edição no México. Antes passou por São Paulo e
cidos entre 1995 e 2010), inteligência artificial, mobilidade e
Miami. Em junho, o passaporte será carimbado para Cascais,
sustentabilidade. Entre os palestrantes estarão Jozef Youssef
em Portugal.
(fundador do conglomerado de bebidas Pernod Ricard), Martine Assouline (criadora da editora de livros de arte
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Air France, St Regis, Pernod Ricard e Lincoln são os
O evento, que teve sua primeira edição em 2011, jogará
THE PRESIDENT é media partner do LuxuryLab desde 2014. luxurylab.mx
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memória Por ROBERTO MUGGIATI
Que não se perca pelo nome Houve um tempo em que os jornalistas adotavam – e muitas vezes adoravam – um bom pseudônimo
O
s jornalistas de antanho eram atrevidos. Criavam mil artimanhas para agarrar o leitor na primeira frase. Um recurso muito usado era o dos pseudônimos, uma capa mágica que lhes dava liberdade total. Esses pioneiros da autoficção anteciparam as fake news. Mas, ao contrário do lodaçal das redes sociais, contribuíam com “ fake news autênticas” – o conceito me foi inspirado por um camelô de Istambul que se orgulhava de vender “Genuine fake watches”. Um dos maiores sucessos editoriais de meados do
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século 20 foi a série de folhetins em O Jornal, do Rio de Janeiro, assinada por Suzana Flag. O primeiro deles, que saiu em forma de livro em 1944, foi Meu Destino É Pecar, uma versão picante dos antigos romances para moças. Outros seis best sellers se seguiram, com títulos sugestivos, como Escravas do Amor e Núpcias de Fogo. Suzana Flag triplicou a vendagem de O Jornal e suas colunas passaram a sair em outras publicações dos Diários Associados. Só muitos anos depois se revelou que o autor por trás do pseudônimo era Nelson Rodrigues.
Ele não quis assinar a coluna e O Jornal achou que um nome de mulher estrangeirado seria um bom chamariz. A repercussão foi imensa: até um presidiário escreveu pedindo para conhecer a escritora. Nelson – que ainda chegou a usar outro codinome feminino, Mirna – desfez as ilusões do detento: Suzana Flag era casada. De certo modo, ao entrar na brincadeira, Nelson atendia, a sua visão do mundo: “Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura
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é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico”. Um curioso caso de pseudônimo envolveu David Nasser, um dos nomes mais fortes do jornalismo brasileiro e também compositor de canções de sucesso como “Nêga do Cabelo Duro”, esta em parceria com Rubens Soares. Filho de imigrantes libaneses, começou a trabalhar como contínuo nos Diários Associados de Assis Chateaubriand aos 17 anos. Logo passou a repórter e, no período de 1943 a 1951, formou com o fotógrafo francês Jean Manzon a dupla mais famosa do país, com reportagens publicadas na revista campeã de circulação, O Cruzeiro. Em 1948, a pedido do patrão, Chatô, David escreveu um folhetim que fez do Diário da Noite o vespertino mais vendido do Rio: Giselle -A Espiã Nua Que Abalou Paris. Sentindo-se explorado por não ganhar um centavo a mais com as vendas fabulosas auferidas por seu folhetim, Nasser ameaçou abreviar a série, com o fuzilamento da espiã. Chateaubriand lhe deu um ultimato: “Se Giselle aparecer morta amanhã, o senhor acorda desempregado depois de amanhã”. E assim o folhetim se estendeu até o capítulo 59, com “O fuzilamento”. Saiu na forma de livro em 1952 e ainda vendeu milhares de exemplares como livro de bolso, pela Monterrey. Essa editora comprou os direitos de David e lançou Giselle em quatro livrinhos, com a capa ilustrada em cores pelo desenhista Benício, que injetou um sex appeal sixties na espiã nua. As edições de Giselle em livros de bolso venderam 500 mil exemplares nas bancas entre 1967 e 1982. E a série continuou, adaptada para os tempos
da Guerra Fria, com a filha de Giselle, Brigitte “Baby” Montfort. Um exemplo excepcional de pseudônimo que devorou seu autor é do jornalista e escritor Sérgio Porto. Aos 30 anos, no início dos anos 1950, em revistas cariocas, Sérgio criou, com o ilustrador Tomás Santa Rosa, o personagem Stanislaw Ponte Preta, inspirado no Serafim Ponte Grande, de Oswald de Andrade. Carlos Heitor Cony é unanimidade como resistência ao golpe militar por suas crônicas no Correio da Manhã, publicadas no livro O Ato e o Fato, mas, por favor, não esqueçam o humor corrosivo do Stanislaw. Em 1966 ele publicou o primeiro de uma série de livros dedicados ao FEBEAPÁ/Festival de Besteiras Que Assola o País. Amostras: • Ibrahim Sued começa seu programa de TV anunciando: “Estarei aqui diariamente às terças e quintas”. • O prefeito de Petrópolis, cidade serrana do Rio de Janeiro, baixa normas para banhos de mar. • Um delegado em Minas Gerais proíbe mulheres com pernas de fora em bailes de carnaval para evitar “fantasias que ofendam as Forças Armadas”. • Estreia no Teatro Municipal de São Paulo a peça grega Electra, considerada obscena: agentes do Dops vão ao local para prender Sófocles (496-405 a.C), autor da peça, acusado de subversão.
Preta, que escrevia na mesma revista sobre teatro rebolado, criou a lista das Mulheres Mais Bem Despidas do Ano. A seleção, com o nome de “As Certinhas do Lalau”, migraria para o jornal Última Hora. Ao longo de 14 anos, foram eleitas 142 certinhas, em geral vedetes do teatro rebolado, como Wilza Carla, Ilka Soares, Anilza Leoni, Íris Bruzzi, Carmen Verônica, Angelita Martinez, Mara Rúbia e Virgínia Lane. Otto Lara Resende começou a citar em 1951, no Diário Carioca, o político maranhense Jubileu de Almeida (nome criado por Hélio Pellegrino). Outros colunistas – Vinicius de Moraes, Sérgio Porto, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino – se apropriaram do personagem. A brincadeira durou meses, até que Rubem Braga escreveu no Correio da Manhã que Jubileu era o candidato ideal para a presidência da República, mas tinha um defeito: não existia. Em 1957, Jubileu de Almeida virou o deputado negro frequentador de bordéis na peça de Nelson Rodrigues Perdoa-me por Me Traíres.
Suzana Flag. Quer dizer, Nelson Rodrigues
Vespeiro de pseudônimos Em 1954, quando o jornalista Jacinto de Thormes (pseudônimo de Maneco Müller, o introdutor do colunismo social no Brasil) publicou na revista Manchete a lista das Mulheres Mais Bem Vestidas do Ano, Stanislaw Ponte
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memória A revista Manchete – onde passei 35 anos de minha vida profissional – era um vespeiro de pseudônimos. A velha guarda da redação tinha os seus personalizados, lembro de José Bálsamo (Cony) e Juliano Palha (compartilhado por Joel Silveira e R. Magalhães Jr.). Com seu penchant francófono, o diretor da revista, Justino Martins, inventou um re-
então as TVs começaram a se libertar do preto e branco. Como não podia dispor de jornalistas espalhados pelo mundo, a Manchete usava o grand reporter Lagarride para manter seus leitores bem informados em textos instigantes escritos por uma “testemunha ocular.” Eu mesmo fui Lagarride num reportagem sobre a Guerra do Vietnã, ainda em
Ruy Castro assinava notas curtas como Acácio Varejão. mas uma colega reclamou. era o nome do pai dela pórter internacional chamado Jean-Paul Lagarride. Qualquer redator podia ser escalado para escrever com esse pseudônimo. Explico: semanal ilustrada, Manchete recebia pelos malotes diários a melhor cobertura fotográfica internacional, de agências como Magnum, Gamma, Sygma, Keystone. Até meados dos anos 1970, as revistas tinham a primazia das imagens em cores – só
seus primeiros anos, mas com baixas cada vez maiores para os Estados Unidos. Comecei o texto descrevendo a chegada de um avião militar à ilha de Guam transportando centenas de caixões de soldados americanos mortos na selva por vietcongues – era uma maneira palpável de traduzir todo o horror da guerra. Com sua onipresença e resiliência, Jean-Paul Lagarride acabou se tornando uma pedra no sapato da Veja.
Stanislaw. Ou melhor, Sérgio Porto
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A vez do Onotônio O fechamento da Manchete era segunda-feira e ela tinha acesso a todos os acontecimentos do fim de semana que não eram cobertos pela Veja. Seu diretor, Mino Carta (nome verdadeiro: Demétrio Carta), passou a alfinetar semanalmente a Manchete, na figura do seu repórter fictício, que ele chamava “o destemido periodista gascão”. Já as notas mais curtas da seção Leitura Dinâmica usavam pseudônimos para evitar repetição de assinatura do mesmo redator. Ruy Castro tinha o mais curto de todos, Ed Sá, e também Acácio Varejão. Um dia foi interpelado sobre sua escolha por uma nova redatora, Marilda Varejão. “E existe algum Acácio Varejão?”, disse Ruy na defensiva. E Marilda, indignada: “Existe, sim! É o meu pai”. Ney Bianchi usava Niko Bolontrim. Numa viagem ao Nordeste, um prefeito comentou com o fotógrafo Juvenil de Souza: “Juvenil, isso lá é nome?” Ney Bianchi perguntou: “E qual é sua graça, prefeito?” E ele, com orgulho: “Eu me chamo Onotônio”. Imediatamente, Ney Bianchi incorporou um novo pseudônimo: Onotônio Baldroegas. Um dia, um delator premiado (a Bloch foi pioneira também nessa instituição) – que considerava a farra dos pseudônimos um crime de lesa-jornalismo (e não estava de todo errado) – foi dizer a Adolpho Bloch que aquilo estava comprometendo a imagem da empresa. Adolpho emprenhava fácil pelo ouvido. Por coincidência, na época ele vivia às turras com um funcionário dos orçamentos gráficos chamado Possidônio.
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Jubileu de Almeida, bricandeira de Otto Lara que Rubem Braga desvendou
O capo investiu então com toda a fúria sobre a redação: “Quero que parem imediatamente com esses possidônios!”... A principal invenção de Manchete no ramo foi o vidente inglês Allan Richard Way. Na última edição do ano, ele fazia suas retumbantes previsões para o ano seguinte. O editor da revista, Justino Martins, incumbiu inicialmente do texto Caio de Freitas, um senhor de terno (e alma) elegante que tinha morado na Inglaterra (trabalhou na BBC) e deu à história um tom sherloquiano. Havia um Dr. Watson – o jornalista inglês Robert McPherson – que era acionado em Londres. Cada início de dezembro, McPherson se dirigia à casa em estilo Tudor num subúrbio distante para recolher os prognósticos do sábio homem. Depois, Allan Richard Way caiu nas mãos de Carlos Heitor Cony, romancista que logo tratou de botar mais molho no personagem. De saída, ele cegou o vidente, a cada edição suas cataratas “aumentavam a olhos vistos.”
Previsão corretíssima Inicialmente, a foto de Way era a de um cientista de terno e gravata – uma foto de agência que Justino puxou de uma gaveta, parecia o poeta paulistano Haroldo de Campos. Cony resolveu também mudar o visual do professor. Numa de suas viagens, fotografou no aeroporto de Londres, um indiano sikh, de barba e turbante, que passou a ser o Alan Richard Way definitivo. Para maior respaldo científico, a matéria trazia um mapa astral elaborado pelo Professor Arcturus – o sobrinho de Adolpho Bloch, Cláudio Hazan. Certo ano, Alan Richard Cony previu que haveria um grave problema com as colunas centrais da ponte Rio-Niterói. Na época, nosso chefe de reportagem, Sérgio Ross, havia se tornado assessor de comunicação do ministro dos Transportes e sugeriu que fosse feita uma investigação. Way acertou na mosca: as pilastras exibiam estrias de rachaduras cuja gravidade teria de ser
Carlos Heitor Cony e seu alter ego, Alan Richard Way
avaliada urgentemente por peritos. O vidente cego começou a ganhar peso e notoriedade. Ele quase provocou a demissão da prestigiosa correspondente da TV Globo em Londres, Sandra Passarinho. O Fantástico queria a todo custo uma exclusiva com o astrólogo e Sandra, sob uma pressão feroz, não conseguia contatar Alan Richard Way. Essas histórias e seus autores, os jornalistas aventureiros e criativos acobertados pelosos pseudônimos, não existem mais nos jornais previsíveis dos dias de hoje. Por isso, vale sempre lembrar aqueles bons P velhos tempos.
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esporte
Por SILVIO LANCELLOTTI
O voo de
PEP Discreto na vida pessoal, e ofensivo na profissional, josep Guardiola se tornou o maior técnico de futebol dos novos tempos
H
onestamente, não se pode falar de Josep Guardiola i Sala, o Pep, hoje aclamado como o melhor treinador de futebol do planeta, sem recorrer à história de um personagem infinitamente menos celebrado, Vicente Miera Campos. Ah, Vicente quem? Cantábrico de Nueva Montaña, Miera não passou de um jogador medíocre. Atuava como lateral e, a rigor, se caracterizava por emular o seu signo astrológico de nascença. Nascido em 10 de maio, era um taurino típico, daqueles que abaixam a cabeça e, muito mais do que a pelota, buscam as canelas do adversário. Em 1970, aos 30 anos, porém, Miera se tornou treinador e, com toda a paciência, em clubes menores e pouco exigentes, desenvolveu um estilo peculiar de estruturar uma equipe. Assim, chamou a atenção do medalhão Miguel Munõz, que o transformou em braço direito no comando da seleção da Espanha que ganhou a prata da Eurocopa de 1984. Depois, em julho de 1991, assumiu a equipe olímpica que disputaria os Jogos de Barcelona/1992. Dispôs, Miera, de uma geração providencial, exatamente liderada por Pep Guardiola. Uma equipe que privilegiava os toques rápidos, a sucessão de passes, no dizer de Miera a “melhor maneira de se irritar o adversário e de impedir a sua estabilidade psicológica”. Aquela Espanha, da qual o Pep era o volante e o capitão, levantou o ouro com seis triunfos em seis prélios, 14 tentos a apenas dois, os da batalha pelo ouro contra a Polônia, 3 x 2. Pep havia completado 21 anos em 18 de janeiro, signo de Capricórnio, um quadrúpede bem mais ágil que o Touro de Miera. E a sua coleção olímpica de 92 já esboçava o estilo que, mais tarde, a mídia formalizaria como “tiki-taka”.
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O Barça, em 2009, levanta a Champions e o treinador
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esporte Imediatamente depois dos Jogos ele se tornou titular do Barcelona, clube-paixão da gente de Santpedor, o seu vilarejozinho da Catalunha, onde vivem menos de 7 mil habitantes. Pep perambulava nas categorias de base do Barça desde 1983 e no Blaugrana ficaria até 2001, um cartel de 59 pugnas e cinco gols no time B, e então
condenado à prisão na itália, não sossegou até provar sua inocência
Volante do Barça e figurinha de álbum nos tempos de Roma
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384 porfias e 11 tentos no principal. Pelo clube, acumulou seis títulos nacionais e a Champions League de 1991/92. Em 2001, se transferiu à Itália, onde teve passagens por Brescia e Roma, na única fase infeliz da sua carreira primorosa, maculada por uma condenação duríssima. Foi condenado a sete meses de prisão, com direito à condicional, pelo suposto consumo de Nandrolona, um esteroide injetável, destinado, entre outras prescrições, ao crescimento muscular. Quando saiu a sentença, em 2005, Guardiola já havia retornado à sua pátria e cuidava das divisões de base do Barça. Ainda assim, batalhou até provar a sua inocência com base nas irregularidades da coleta das amostras de urina para o exame antidoping. Recebeu uma justa absolvição. Morava em Doha, no Catar, quando lhe transmitiram a notícia aliviante. Fora um dos contratados pelo xeique Ahmed bin Hamad Al Thani, desesperado em busca de um título no futebol do seu paraíso do petróleo. Durante meses, Pep chegara a conviver com José Macía, o Pepe – ou “O Canhão da Vila” no apogeu do Santos nas décadas de 1950 e 60 –, naquele ano 2005 trabalhando como treinador do clube árabe. E a Pepe o Pep afirmou o seu amor pelo futebol su l-amer icano. Aquele do Brasil, desde a desafortunada seleção de Telê Santana que
perdeu da Azzurra italiana em Barcelona, na Copa de 82 – Guardiola tinha então 11 de idade e viu o prélio pela TV. E aquele da Argentina que conquistou o ouro nos Jogos da Grécia/2004, com Marcelo “El Loco” Bielsa na batuta e Mascherano e Tevez no elenco. Também acompanhou o ouro do Brasil nos Jogos do Rio/2016 e várias pelejas da seleção que Adenor Bacchi, o Tite, começava a resgatar. E fez questão de pessoalmente convidar Gabriel Jesus a assinar com o City. Sempre gostou de trabalhar com jovens. Fã de basquete Natural que, nos idos de líder dos garotos do Blaugrana, se empenhasse em aplicar o que tinha apreendido desde os tempos com Miera. Treinador do Barcelona de 1988 a 1996, o brilhante holandês Johan Crujiff (1947-2016) já se esmerava em utilizar o máximo de pressão na saída de bola do inimigo e o máximo de tempo de controle das ações com a posse de pelota. Javier Clemente, seu rival nos gramados e no banco, comparou o sistema, de toques quase automatizados, ao movimento de um relógio. E Luís Aragonés (1938-2014) também usou um estilo assemelhado na seleção ibérica de 2004 a 2008. Então, na Copa da Alemanha/2006, o jornalista Andrés Montes (1955-2009), na transmissão de Espanha x Tunísia, 3 x 1, pela rádio laSexta, soltou a expressão: “Estamos tocando tiki-taka tiki-taka”. Eternizou-se. Guardiola assumiu o comando do Barcelona em julho de 2008, depois da saída de Frank Rijkaard, holandês como Cruijff. E temperou à sua moda os ingredientes colhidos de Miera, dos ho-
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Comandando Xavi, Pujol, Iniesta, Piquét e Henry
landeses e, também, de Vicente del Bosque, o afortunado que enfim colocaria a Espanha no topo do pódio na Copa da África do Sul/2010. Nas suas próprias palavras: ““Sou um fã do basquetebol. E com o basquete eu entendi que o maior segredo de um esporte coletivo está em sobrecarregar um dos flancos do campo e obrigar o adversário a se deslocar”. Pep continua: “Você o atrai, e tanto, que o adversário se enfraquece do outro lado. Daí, você vira o jogo e agride. Com toques curtos e rápidos, passes que parecem insistir na lateralidade, você puxa o inimigo e o leva a se desguarnecer no espaço oposto. Simples”. Graças a esse conceito, no Barça, em 247 partidas, até junho de 2012, Pep venceu 179 e só perdeu 21. Daí, no Bayern de Munique, na Alemanha, até junho de 2016, em 161 partidas, venceu 121 e só perdeu 19. Voltou à labuta em julho
de 2017, como treinador do Manchester City, e, até 3 de fevereito de 2018, em 97 partidas, havia ganho 67 e se limitado a 12 derrotas. Ironicamente, porém, Guardiola despreza o tiki-taka: “Não sei por que tanta repercussão”, resume. E explica: “A posse de bola é apenas um método, um meio pelo qual você organiza a sua equipe e desmonta o adversário. Calculo em 15 o número de passes capazes de conduzir o seu time da defesa ao ataque numa transição correta”. A temporada em Nova York Preciosismo aritmético. Nas contas do tiki-taka do Pep, o dígito que vale é exclusivamente o 9. O sistema, afinal, funciona porque descarta o centroavante natural e, em seu lugar, abusa do “falso-nove”, um meio-campista nas funções de pivô no meio dos beques. Como na Laranja Mecânica de Rinus
Michels (1828-2005), o idealizador do “Futebol Total” da década de 1970? Não exatamente. No time holandês de Michels, igualmente sem um atacante de fundo, eram os atletas que se movimentavam na troca interminável de posições. No tiki-taka é a pelota que se desloca, de pé a pé. E quando essa troca funciona mal, a consequência se reflete no placar. Como aconteceu, de forma dramática, nas semifinais da Champions League de 2012-13, quando a impressionante paciência dos pupilos de Jupp Heynckes, no Bayern, dilapidou o Barça por 4 x 0 em Munique e, impacto, por 3 x 0 em pleno Camp Nou. Guardiola já não era o treinador do Barça. Milionário, com um patrimônio líquido estimado em US$ 45 milhões, havia optado por um ano sabático em Nova York, com a mulher, Cristina Serra, e os três filhos: Maria, Màrius e Valentina.
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Com a família e passando instruções ao volante brasileiro Fernandinho, no Manchester City
não gosta de polêmicas, mas não esconde que quer ver sua catalunha independente Também apresentou o Novo Mundo aos pais, Dolors e Valenti, às manas Francesca e Olga, mais velhas, e ao irmão Pere, o caçula. “Na vida, não há nada mais importante do que a família”, Pep observa com um sorriso raro de enorme satisfação. Habitualmente sisudo, difícil de perpetrar um gracejo ou de contar uma
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anedota, na Big Apple ele pouquíssimo se divertiu. Nas raras vezes em que saía, visitava lojas de roupas. Não curtia vestir abrigos na lateral do campo e, à maneira dos italianos, preferia o paletó e a gravata, quase sempre os clássicos da marca Armani ou mesmo os irreverentes da Dsquared2, griffe canadense dos manos Dan e Dean Caten. Adorou tanto a experiência de se parecer com um modelo que estendeu a obrigação do fardamento à toda a sua comissão técnica. Basta um olhar ao banco, nos cotejos do City, para conferir que, lá, estão todos uniformemente trajados. Melhor. Sugestão dos Caten, numa das suas combinações, o City exibe um kit, sensacional: jaqueta sem gola, pulôver de cashmere, gravata, calça social – e meias e tênis brancos. Em Manhattan, também visitava
lojas de eletrônicos para os bambinos e, aqui ou ali, com toda a família, conhecia um restaurante discreto de cardápio trivial, sem as modernidades disseminadas por patrícios celebrados como Ferran Adrià. A sua postura, abertíssima, de digno catalão, ele manifestou ousadamente ao se inscrever no grupo Convergència y Esquerra, que concorreu em favor da independência nas eleições de 27 de setembro. “Não pretendo cargo nenhum”, assegurou. “Apenas desejei mostrar o meu apoio à causa da minha gente.” Óbvio que sofreu críticas severas inclusive dos cartolas de plantão. “Deveria ficar quietinho”, disparou Miguel Cardenal, o presidente do Conselho Superior do Desporto. Guardiola ignorou o azedume: “Aqui em Manchester eu só leio os jornais e só assisto aos programas de TV em inglês”. P
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motor Por glauco lucena
Luz própria O Mitsubishi Eclipse Cross chega com personalidade e brilho ao concorrido mercado dos SUVs
M
anhã de 29 de agosto de 2017 em Salem, no estado americano do Oregon. Os Estados Unidos aguardavam com ansiedade o primeiro eclipse total do
Sol em 38 anos. Numa região seca, sem nuvens para atrapalhar a observação do raro fenômeno, um novo carro era filmado e fotografado de modo exaustivo. Em uma hora, o Sol seria totalmente encoberto pela Lua durante dois minutos. O veículo em questão? O Mitsubishi Eclipse. Ou melhor, o Eclipse Cross, grande lançamento global da marca japonesa, que havia feito sua pré-estreia cinco meses antes no Salão de Genebra, na Suíça. A bem bolada ação de marketing da Mitsubishi Motors teve transmissão por streaming, com alerta para toda a base de clientes e revendedores, além da imprensa especializada. Tanta atenção era justificável. Era o primeiro grande lançamento da montadora japonesa desde que foi incorporada à Aliança Renault-Nissan, em outubro de 2016. Agora chegou a vez de o Brasil receber a novidade, importada do Japão. O lançamento está previsto para o início do segundo semestre. Se você é fã da Mitsubishi, deve se lembrar que Eclipse é um nome com tradição na linha da marca dos três diamantes.
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motor
O Eclipse Cross não teme terrenos acidentados
Por fora, ele exibe linhas musculosas e esportivas, ao melhor estilo de um SUV urbano. Internamente, a Mitsubishi Motors optou por um ambiente sofisticado, digno de um crossover de luxo
Mas qual versão virá para o Brasil? A configuração mais provável terá motor 1.5 turbo com injeção direta, de 163 cavalos e 25,4 kgfm de torque, câmbio automático CVT
No Brasil, foi um dos símbolos da reabertura do mercado aos
(relações infinitamente variáveis) e tração in-
veículos importados, no início dos anos 1990. O esportivo, so-
tegral. A nova transmissão possibilita trocas manuais por borboletas
nho de consumo de quem gostava de carros do estilo, repetiu
atrás do volante, simulando oito marchas.
por aqui o sucesso feito em vários outros mercados. Sobretudo nos EUA, onde teve quatro gerações produzidas entre 1989 e 2011. Foram quase 1 milhão de carros montados em Illinois
O Eclipse Cross exibe linhas musculosas e esportivas, ao
pela extinta Diamond Star Motors, parceira da Mitsubishi Mo-
melhor estilo de um SUV urbano. A traseira tem personalidade,
tors com a americana Chrysler.
com uma faixa de luzes de LED nas lanternas: ela divide o vidro
O sobrenome Cross define o novo modelo, muito diferente do
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Conforto para as pernas
de trás na horizontal em duas seções. A linha de teto lembra
antigo esportivo. Apesar do apelo jovial e da traseira com a caída
a dos cupês da marca, com forte caída e um chamativo spoiler
acentuada de um cupê, o novo Eclipse é um legítimo crossover. Ele
junto à tampa. Já a cintura do carro sobe de maneira acentuada
chega para se somar ao Mitsubishi ASX e ao Mitsubishi Outlander.
da dianteira para a traseira, na mesma proporção em que a do
Aliás, vai se situar entre os dois irmãos.
teto faz o movimento inverso – até que ambas se encontrem nas
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No painel, alta tecnologia com consulta facilitada
acrílica Head-Up Display, que projeta as informações mais importantes sem que o condutor tenha de olhar o painel – velocidade e dados de segurança – na parte inferior do para-brisa, logo acima da altura do volante. O sistema de áudio acolhe Apple CarPlay e Android Auto, com integração em uma central multimídia, acionável pelo touchpad lanternas traseiras em formato de bumerangue. Proeminentes,
ou pelo Head-Up Display. O objetivo, claro, é manter o motorista
as caixas de roda proporcionam o visual parrudo que se espera
conectado, mas sem desviar seu campo de visão do trânsito.
de um genuíno SUV – ainda mais vindo de uma marca que desde o início dos anos 1980 é referência na categoria. Internamente, a Mitsubishi optou por um ambiente sofisticado, digno de um crossover de luxo. Um dos destaques é o touchpad no console central. Por meio dele, o motorista
Tecnologia, como se vê, é palavra de ordem para o Eclipse Cross. Ele também oferece avançados itens de segurança, como piloto automático adaptativo, monitoramento de ponto cego, faróis automáticos e avisos de colisão frontal e de saída de faixa, entre outros. Com o mesmo entre-eixos de 2,67 metros do irmão
comanda com mais facilidade as funções da tela multimídia de
menor ASX, o Eclipse Cross tem uma criativa solução que
7 polegadas no centro do painel. Outro recurso hi-tech é a tela
proporciona maior espaço e versatilidade. São os bancos traseiros que reclinam e correm sobre trilhos longitudinais de 20 centímetros, com divisão 60:40, nove posições de encosto e oito de deslizamento. Assim, é possível ampliar o espaço para as pernas de quem viaja atrás – ou aumentar a área de carga no porta-malas. Por falar neles, os assentos de trás são mais elevados que os dianteiros – o que se traduz em maior conforto para as pernas durante viagens mais longas.
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motor
Nas rodas traseiras, o torque ideal
A mídia estrangeira ressalta o desempenho como um dos pontos fortes do Mitsubishi Eclipse Cross. Em especial, quando supera os 1.600 rpm e a turbina entra em ação
três modos de condução, incluindo o modo gravel (cascalho). Isso prova que o Eclipse Cross não teme terrenos acidentados. Só um lembrete: o sistema S-AWC
Além disso, o acesso e saída dos passageiros é facilitado
estreou em 1987 no sedã Mitsubishi Galant VR4. E desde
por portas traseiras com surpreendente ângulo
então vem sendo testado e desenvolvido nas competições
de abertura. E o generoso porta-malas tem volume
de rali dominadas pela Mitsubishi, com destaque para as dez
para 640 litros de bagagem.
gerações do lendário Lancer Evolution. Nos EUA e na Europa, o Mitsubishi Eclipse Cross foi muito
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Comportamento dinâmico
bem recebido pela imprensa. O desempenho é um dos pontos
O Mitsubishi Eclipse Cross é equipado com um sistema
ressaltados, sobretudo pela agilidade com que o carro reage
de tração integral (4WD). Ele transmite a quantidade ideal de
aos comandos do pedal quando supera a faixa de 1.600 rpm,
torque para as rodas traseiras de acordo com o tipo de terre-
e a turbina entra em ação. Mas é o comportamento dinâmico
no e o modo de condução. E conta com o precioso auxílio do
o que mais arranca elogios da mídia estrangeira. Fruto da ação
Super All-Wheel Control (S-AWC), que controla eletronica-
do S-AWC aliada a uma carroceria moderna, ele oferece maior
mente o comportamento dinâmico do veículo, inclusive nas
rigidez à torção que os concorrentes.
frenagens. O sistema permite ainda que o motorista escolha
mitsubishimotors.com.br
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velocidade Por marcio ishik awa
A busca da perfeição Linhas ousadas, potência e o suprassumo da tecnologia. Conheça a linha de utilitários esportivos da Lexus
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O
design reúne robustez e elegância. Ao volante ofe-
estabilidade. Na versão F-Sport, temos ainda carregador de smar-
rece alta performance e capacidade para transpor
tphone sem fio e o vanguardista Head-Up Display – que projeta
terrenos diversos. Assim são os SUVs da Lexus.
informações de velocidade e modo de condução no para-brisa.
É um segmento da marca que busca a perfeição. Tal como todo o seu portfólio.
Já o recém-lançado NX 300 oferece soluções como um sistema totalmente digital. Ele reúne informações do painel
O RX é o SUV de luxo mais vendido nos Estados Unidos nos últimos dez anos. No momento, está em sua quarta geração. É tão fácil de dirigir quanto um sedã de luxo: os 305 cavalos do motor V6 acionam as rodas de 20 polegadas de forma suave e precisa pela transmissão automá-
de instrumentos, velocidade e compu-
os SUVs da marca reúnem tecnologia, desempenho E muita elegância
tica de oito velocidades e tração integral.
tador de bordo. Além disso, apresenta itens como carregador sem fio, teto panorâmico, retrovisores com sistema tilt-down (que inclina automaticamente as lentes para baixo ao engatar a ré) e o Head-Up Display. O prazer ao dirigir é outro ponto fundamental do NX,
Com a chave presencial, o travamento e destravamento das por-
principalmente em sua versão F-Sport, única a contar com
tas ocorrem sem o acionamento da chave. Na espaçosa cabine, o
o modo de condução Sport+. Essa opção oferece reações
motorista encontra itens como sistema multimídia com tela LCD
mais rápidas do motor turbo de 238 cavalos e da transmis-
de 12” e câmera de ré. Há, também, abertura das portas sem o
são automática. Ao volante, o motorista sente muito bem
uso da chave e comando elétrico interno para abertura e fecha-
a diferença, com o ganho de velocidade e capacidade de ace-
mento do porta-malas. Além disso, toda a família está protegida
leração. Um verdadeiro SUV esportivo. Conheça mais sobre
com a presença de dez airbags e controle eletrônico de tração e
os SUVs da Lexus: www.lexus.com.br
RX 350, o SUV mais vendido nos EUA. Ao lado, o Lexus NX 300, o novo modelo da marca
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garagem
Por mario ciccone
linha de frente
Porsche e BMW destacam seus sedãs, Volvo apresenta SUV compacto e Audi tem esportivo que voa baixo
Porsche Panamera 4 E-Hybrid
O
s fãs puristas da Porsche já tiveram de engolir
As palavras de Schaal são comprovadas nas pistas e nas
em seco o lançamento de SUVs no portfólio da
ruas. Este Panamera derruba qualquer preconceito que ainda
marca, como o Cayenne e o Macan. Protesta-
possa existir em relação a modelos híbridos (ou elétricos). Dá
ram até contra versões movidas a diesel. Daqui a menos de
para alcançar 140 km/h utilizando somente o motor elétrico.
uma década, eles terão ainda mais motivos para arrancar os
Estamos falando de emissão zero de CO2. A bateria pode ser
cabelos. Todos os veículos da marca trocarão os combustíveis
recarregada em frenagens e acelerações do próprio veículo.
fósseis pela propulsão elétrica. Difícil imaginar? O Porsche
Ao exigir desempenho, o carro nos lembra que estamos
Panamera 4 E-Hybrid, recém-chegado ao Brasil, é um dos
ao volante de um Porsche. O sedã faz de 0 a 100 km/h em
símbolos dessa transição.
4,6 segundos e chega a 278 km/h. Isso não se deve apenas ao
O sedã tem dois motores (elétrico e a gasolina). Na potência combinada, gera 462 cv. “O Panamera 4 E-Hybrid é o nosso segundo modelo híbrido que trazemos para os fãs da marca no
motor biturbo V6, mas também à tração integral e ao câmbio de dupla embreagem de oito velocidades. O Panamera híbrido chega em cinco versões. A top de
país”, lembra Werner Schaal, diretor de vendas da Porsche. “É
linha é a Turbo S E-Hybrid Sport Turismo, de R$ 1,2 milhão,
um carro que oferece a perfeita combinação de performance,
que tem potência combinada de 689 cv e pode chegar a 310
prazer em dirigir e eficiência energética.”
km/h. Até os puristas ficariam de boca aberta.
A marca alemã aposta na energia elétrica
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O
BMW Série 7 Pure Excellence
maior sedã da BMW é o típico carro presidencial. O
Quanto ao desempenho, este novo BMW pode se orgulhar
BMW Série 7 Pure Excellence acabou de chegar ao
do equilíbrio. Consegue ter uma excelente distribuição de peso,
Brasil e já ocupou seu lugar na cabeceira do portfólio
com centro de gravidade mais baixo. Em resumo: proporciona
da marca alemã. Com mais de 5 metros de comprimento e entre-
conforto ao dirigir, repostas rápidas e economia de combustível.
-eixos de 3,2 metros, esta versão pode muito bem ser comparada
O chassi é mais resistente e leve por combinar fibra de carbono,
a um jato executivo. O carro é espaçoso, confortável, conectado
alumínio, magnésio e plástico.
e com todos os comandos à mão. Quase um terno bem cortado por um alfaiate londrino – no caso, alemão. No interior, a decoração utiliza madeira Fineline. O painel e
Na hora de acelerar, o motor V8 4.5L TwinPower Turbo responde muito bem. Gera 450 cv e é capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 4,7 segundos, com velocidade máxima de
o volante têm revestimento de couro. No pacote tecnológico,
250 km/h (limitada eletronicamente). É alto luxo, sim, mas sem
este Série 7 apresenta o recurso do Head-up Display, que pro-
perder a força bruta.
jeta no para-brisa informações importantes, como velocidade e as direções do GPS. Tem também um assistente de condução para alertar sobre saída da faixa de rodagem, sistema para reconhecimento de pedestres e um conjunto de câmeras que permite visualização do entorno – um bom aliado para manobras e para evitar colisões. Um carro ao estilo presidencial
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garagem
O novo SUV: eleito o carro do ano
O
Volvo XC40
Não é para menos. O XC40 encara concorrentes de peso, como Mercedes GLA, BMW X1 e Audi Q3. Os suecos destacam
novo SUV da Volvo chega ao Brasil com uma
o entre-eixos de 2,70 metros como diferencial para o conforto
medalha no capô. O XC40 foi escolhido o “Carro
dos ocupantes. Além disso, apresentam uma variação com o
Europeu de 2018” no Salão de Genebra. Aliás, esse
motor T5 Drive-E, com 252 cv e velocidade máxima de 230 km/h.
foi o primeiro título da marca sueca na história do evento suíço. "Ganhar esse prêmio com o nosso Novo XC40 é um timing
Uma versão híbrida também está nos planos. Falar em Volvo, como se sabe, é falar em segurança. A marca
perfeito", disse Håkan Samuelsson, presidente e CEO da Volvo
tem a meta de que até 2020 ninguém perca a vida ou sofra
Cars. "A Volvo tem agora três SUVs disponíveis mundialmente
ferimentos graves em seus veículos novos. Estão disponíveis
pela primeira vez. O XC40 contribuirá para um forte cresci-
sistemas para prevenir colisões com pedestres, batidas laterais e
mento da marca, nos levando a um novo segmento que mais
de veículos vindos da pista contrária.
cresce no mercado, o de SUVs compactos." O XC40 se une aos seus irmãos maiores, o XC90 e o XC60, para invadir mercados. Nos Estados Unidos, já tomaram territórios. A tendência é que o caçula consiga repetir a tradição da família. No Brasil, a pré-venda agitou as concessionárias – o veículo chegou apenas em março. De acordo com a montadora, a procura superou as expectativas, inclusive porque os clientes brasileiros fizeram reservas sem sequer ter dirigido o carro.
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Rápido, sim. Mas muito estável
Audi TT RS
A
Audi prepara o lançamento do seu foguete. O
direito. A resposta ao acelerador é rápida: vai de 0 a
novo TT RS Coupé tem potencial de uma nave
100 km/h em 3,7 segundos. Limitada eletronicamente, a
espacial em pleno asfalto. Não por acaso, este
velocidade chega a 250 km/h. Apesar de ser nervoso nas
coupé é um dos modelos mais apimentados da montado-
respostas, o TT RS Coupé não abre mão da estabilida-
ra de Ingolstadt.
de, sobretudo em curvas.
Trata-se de um modelo esportivo bem atarracado
O sistema de tração distribui a força conforme a neces-
e compacto, com motor 2.5 TFSI de 400cv. O fato de
sidade para os eixos. Com isso, o carro fica “grudado” ao
ser 26 quilos mais leve que o seu antecessor conta mui-
piso. Essa aderência garante uma direção agressiva e se-
to. E conta em dois pontos que poderiam ser antagôni-
gura. No interior, a lista de itens é extensa. Por exemplo:
cos: desempenho e economia de combustível.
bancos esportivos de couro Napa Fina, acabamento
O resultado disso fica evidente ao colocar peso no pé
de fibra de carbono e sistema de som Bang & Olufsen.
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POR LUIZ GUERRERO
it’scooter it’s cool
Em 1953 a cena de um filme colocou as motonetas nas ruas do mundo todo. Depois, elas sumiram. Mas agora parece que voltaram mesmo para ficar
L
evou menos de um minuto e meio – quase nada em um filme de 118 minutos de duração. Mas foi o quanto bastou para que a Piaggio, empresa familiar aberta em 1882 nos arredores de Gênova, Itália, se tornasse popular no mundo todo. A obra é a comédia romântica Roman Holiday (no Brasil, A Princesa e o Plebeu), dirigida por William Wyler, que estreou nos cinemas em agosto de 1953. As breves imagens mostram o repórter Joe Bradley, vivido por Gregory Peck, um astro consagrado, e Audrey Hepburn, uma estrela em ascensão, no papel da princesa Ann, rodando com uma Vespa 125 cc pelos cartões-postais de Roma. A fita arrecadou US$ 12 milhões, oito vezes os custos de produção, consagrou a carreira de Peck, alavancou a de Hepburn e fez a Piaggio vender como nunca. Foram 100 mil Vespas somente no primeiro ano de exibição do filme.
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É verdade que, em 1953, a Vespa já tinha reputação de ícone, mas um ícone doméstico. O modelo foi lançado em março de 1946 como alternativa de transporte popular em uma Itália devastada pela guerra, mas sobretudo para manter em atividade as linhas da antiga fábrica de aviões e de implementos navais e ferroviários da família Piaggio. O objetivo dos irmãos Armando e Enrico era capitalizar a empresa com um veículo de baixo custo de construção e logo retomar os negócios aeronáuticos, em tese mais lucrativos. Mas já nos primeiros meses o lote inicial de 2.500 exemplares se esgotou. Afinal, a Vespa custava nove vezes menos que o Fiat 500 Topolino. Bebia pouco e sua mecânica era simples, o que barateava os custos de manutenção. Mais prática que as motocicletas, a Vespa contava com roda sobressalente. Era uma vantagem e tanto nos caminhos precários do pós-
guerra. Bastava remover a roda com duas ferramentas e instalar o estepe, enquanto nas motos era preciso reparar o pneu – ou rodar com ele vazio até o borracheiro. Roman Holiday popularizou a Vespa no mundo, mas sobretudo nos Estados Unidos. O modelo já tinha linhas de montagem em vários países (no Brasil, inclusive), embora fosse visto como um veículo de operários – mesmo fenômeno transcorrido com o Fusca, o Topolino e o Citroën 2CV. Nenhum desses carrinhos icônicos, porém, contou com o carisma de Gregory Peck e Audrey Hepburn. E as vendas da Vespa explodiram – 500 mil unidades de 1946 a 1952. De forma involuntária, a dupla fez mais do que isso: incentivou outros fabricantes a investirem na ideia – que, afinal, era antiga. A alemã Hildebrand & Wolfmller já produzia desde 1894 algo parecido com um scooter, mas foi a britâ-
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César Ritz, o criador, e um Eddie Albert,da Gregory Peck, cômodo suíte Windsor Audrey Hepburn e a Vespa
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Acima, Audrey Hepburn vive Roma em dois momentos: na garupa da Vespa de Gregory Peck e no comando da motoneta. À direita, o modelo Honda Juno K. Na página seguinte, a Vespa Primavera
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nica Gloster Aircraft quem criou em 1921 as formas aperfeiçoadas pela Piaggio com o Unibus Scooter, “o carro de duas rodas”, como dizia a empresa. Movimento espontâneo Pode-se afirmar que D’Ascanio deu alma e elegância italianas ao Unibus ao criar a Vespa. Entre os fabricantes que passaram a investir nos scooters destacam-se a Mitsubishi com seu Silver Pigeon, produzido de 1943 a 1963, e a Harley-Davidson com o Topper, que durou apenas cinco anos, de 1960 a 1965. Peck e Hepburn passearam de Vespa. Mas poderiam ter escolhido a Lambretta, também italiana e lançada no mesmo pe-
ríodo, em 1947, pela Innocenti, de Milão, a 140 quilômetros de Gênova, berço da Piaggio. A Lambretta (o nome remete ao rio Lambro, que corre na periferia de Milão) tinha, no entanto, diferenças fundamentais. Seu chassi era moldado com tubos de aço – especialidade da Innocenti, antigo fabricante de tubulações. Já o da concorrente consistia em uma única chapa de aço. A mecânica da Lambretta também tinha outra configuração. Na Vespa, motor e câmbio formavam conjunto integrado, e a transmissão era direta no eixo traseiro. Na Lambretta, a transmissão de três marchas era montada em separado e a transmissão, feita por corrente. Mais uma diferença: a posição do motor
da Vespa, ligeiramente deslocado para a direita, alterava o centro de gravidade do veículo. Ao passo que a Lambretta, com seu motor central, tinha maior estabilidade em curvas. Em compensação, a manutenção da Vespa era mais em conta e havia mais facilidade de repor peças. Seja como for, tanto uma quanto outra tinha seus admiradores. A Lambretta, desenhada pelo engenheiro aeronáutico Cesare Pallavicino, a quem também se atribui o projeto dos bombardeiros Caproni, da Segunda Guerra, era a preferida dos jovens aspirantes a pilotos. Seu motor de 125 cc tinha um pouco mais de potência (4,1 cv ou 1 cv a mais que a Vespa). Em contrapartida, aceitava melhor as preparações mecânicas, além de ser mais estável em curvas. Assim, a Lambretta conquistou 53 recordes de velocidade nas classes 125 cc e 250 cc – em 1950, uma 125 cc pilotada por Romolo Ferri superou a barreira dos 200 km/h. Ela foi fabricada em diversas nações sob licença e acabaria se tornando o primeiro fabricante de veículos de passeio do país, quando a Lambretta do Brasil Indústrias Mecânicas se estabeleceu, em 1955, na travessa Bartolomeu Paes, bairro paulistano da Lapa. Daí o fato de o nome da empresa ter se transformado em sinônimo de scooter por aqui. A pequena indústria resistiu até 1982. Na Itália, o modelo saiu de linha apenas em 1997.
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Angie Dickinson em A Greve do Sexo, Sting em Quadrophenia e a Lambretta V Special
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Suzuki Burgman e Yamaha T-Max
No momento, só a Índia ainda produz a Lambretta, mas como tuk-tuk, o transporte popular de passageiros. Boa notícia: com desenho próximo ao original dos anos 1950, corpo de aço e motor quatro tempos, deve voltar à linha de produção ainda este ano. A Vespa? Continua firme em produção. Se era mais fácil encontrar Lambretta nas pistas de competição, a Vespa podia ser vista no cinema e nos pôsteres, acompanhada de voluptuosas pin-ups. Não consta que os irmãos Piaggio, filhos de um homem do campo que começou seus negócios com uma serraria na área rural de Gênova, tivessem tino para o marketing. Acredita-se que todo movimento cultural em torno da Vespa tenha sido espontâneo. Depois de Roman Holiday, a Vespa foi coadjuvante em filmes como Amigos do Pei to, de Franco Rossi, de 1955; La Dolce Vita, de 1960, uma das obras-primas de Federico Fellini; A Greve do Sexo, com Angie Dickinson no auge da beleza, em 1962; e Quadrophenia, de 1979, com Sting, baseado no álbum homônimo do The Who. Este retratava a rivalidade, na Grã-Bretanha dos anos 1960, entre as gangues Mod (jovens fãs de rhythm’n’blues em paletós bem cortados que circulavam de Vespa) e Rockers (rebeldes
Scooter vs. moto
Se você anda de moto e está partindo para um scooter, a principal recomendação é: esqueça tudo o que aprendeu sobre pilotagem e comece de novo. A dinâmica de um scooter é diferente da de uma moto em virtude da distribuição de peso concentrada na parte traseira do veículo. Isso exige mais pressão nos freios traseiros para parar em menor distância, ao contrário da moto, em que a frenagem mais eficiente é obtida com maior pressão no freio dianteiro. Em curvas, a concentração de massa na traseira não permite inclinações tão acentuadas como em uma moto. Também é preciso atenção com pisos irregulares e buracos – as rodas do scooter sofrem mais com os impactos e podem desestabilizar o veículo. com jaqueta de couro que pilotavam motos cafe racers). Uma versão da Lambretta GS 150, de 1955, faz parte do acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York. Em março de 2017, o exemplar utilizado em Roman Holiday foi arrematado por US$ 195.748 em um leilão online. Era mantido em um pequeno museu em Tolochenaz, Suíça, onde Audrey Hepburn viveu até sua morte, em 1993.
Produto tipicamente europeu, os scooters, impulsionados pela Vespa, evoluíram para uma infinidade de modelos da grande maioria dos tradicionais fabricantes de motocicletas. Hoje carenadas com material plástico e equipadas com motor menos poluente, boa parte deles elétricos, e transmissão continuamente variável – que dispensa a troca de marchas –, as motonetas modernas são uma das melhores soluções de mobilidade nas grandes cidades. Vistas com mais simpatia pelos motoristas – sim, estamos falando do motorista paulistano – em comparação às motocicletas, contam com compartimento para abrigar pequenos volumes e tomadas para recarga de celular. No Brasil, só nos últimos cinco anos os fabricantes de moto passaram a contar com boa oferta de scooters para competir com os Burgman, da Suzuki, e com os modelos chineses. Modelos como o T-Max e N-Max, da Yamaha, foram os precursores das motonetas montadas em quadro de motocicleta (o que favorece a estabilidade) e, apesar do preço elevado, começaram a atrair a atenção de motociclistas e de motoristas em virtude da versatilidade. São vistos agora como boa alternativa no trânsito. Com a vantagem de que o piloto de scooter não vai chegar ao escritório com os sapatos sujos. P
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Boris Nikolaev, 44 anos, coronel do Exército, com a filha Ksenia, 2,5 MOSCOU
ensaio Por isabela pacini
os anfitriões A Rússia espera receber 1 milhão de visitantes a partir de 14 de junho. É o maior país do globo. Seu território se estende por 11 fusos horários, onde moram 147 milhões de pessoas. Uma gente tão singular quanto este lugar de romancistas intensos e reviravoltas apaixonadas. Uma gente que a fotógrafa isabela pacini resolveu retratar na intimidade da casa ou do trabalho
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Roman Fat, 34 anos, mago MOSCOU
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Andrej Kovaljov, bilionรกrio MOSCOU
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Polina Arens, Miss Moscou 2017, consultora de luxo e autora do livro Dez Passos para a Abundância MOSCOU
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Padre Vassily e famÃlia EKATERINBURGO
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Julia Salbenikova, ourives EKATERINBURGO
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Dmitriy Kofanov, ferreiro EKATERINBURGO
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Andrej Bragin, escultor EKATERINBURGO
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Sergej Kassjanez, cowboy, biker e guia de turismo SÃO PETERSBURGO
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Marat Schemiunov, bailarino SÃO PETERSBURGO Polina Mysnikova, 14 anos, bailarina, e sua mãe, Natalia SÃO PETERSBURGO
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Anatolij Kuntschenko, aposentado, durante o discurso de Ano-Novo do presidente Vladimir Putin ROSTOV
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luxo
Por marcello borges
A marc a dos
presidentes Criada em 1818, a Brooks Brothers vestiu de Lincoln a Trump. É uma grife de primeiríssima – há exatos 200 anos
foto DIVULGAÇÃO
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ão sei se você também é assim, mas, quando preciso de alguma roupa, vou à mesma loja, procuro o mesmo vendedor e compro a peça que já estava querendo quando cheguei. Para mim, lojas que vendem de tudo para homens são uma bênção, poupando-me de rodar pelo shopping. Em São Paulo, tínhamos alguns estabelecimentos com artigos para cavalheiros que pretendiam ter de tudo, como a Old England e a Casa Kosmos. Na verdade, cada um acabava imprimindo sua especialidade. A Old England puxava um pouco para sua suposta origem, com destaque para os pulôveres Pringle, além de
gravatas francesas e italianas – estas, da região do lago de Como. Já a Casa Kosmos, inaugurada em 1906, vendia “artigos finos para homens”. Não deve ser confundida com a livraria do mesmo nome, fundada em 1935 no Rio de Janeiro, com filial em São Paulo. Mário de Andrade menciona a pioneira num de seus poemas: “A casa Kosmos não tem impermeáveis em liquidação... Mas neste Largo do Arouche posso abrir o meu guardachuva paradoxal”. Meu pai comprava camisas lá, com a vantagem de poder adquirir colarinhos e punhos soltos “de reserva”. Mas isso era em São Paulo. Muitas décadas antes, em Nova York, um estabelecimento pretendia reunir mesmo
toda sorte de artigos para cavalheiros: a Brooks Brothers. É a mais antiga loja especializada em roupas dos Estados Unidos ainda em funcionamento. Foi fundada em 7 de abril de 1818 em Manhattan por Henry Sands Brooks. Portanto, há exatos dois séculos. Brooks (1772-1833) era filho de um médico de Connecticut. Mudou-se para Nova York e abriu um armazém. Em 1818, comprou o imóvel na esquina das ruas Catherine e Cherry, na região chamada hoje de Two Bridges, zona sul de Manhattan, e fundou a H. & D. H. Brooks & Co. O lema era “produzir só itens da mais fina qualidade e vendê-los com preço justo a quem busca e aprecia essas mercadorias”.
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LUXO O endereço original e três clientes: Abraham Lincoln, Leonardo DiCaprio e Miles Davis
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O presidente Abraham Lincoln trajava um sobretudo da Brooks Brothers no dia em que tomou posse e no dia em que foi assassinado num teatro em Washington D.C.
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Com a morte de Henry, a loja passou aos seus filhos – Elisha, Daniel, Edward e John –, que mudaram o nome da empresa para Brooks Brothers em 1850. A companhia passou pelas mãos da Marks & Spencer inglesa entre 1988 e 2001, quando foi enfim revendida ao empresário italiano Claudio Del Vecchio, filho do fundador do grupo Luxottica. A marca se difundiu. “Somos o mordomo do sonho americano”, costuma dizer Del Vecchio. Se em 1969 havia apenas dez lojas BB, todas dentro das fronteiras americanas, 46 anos depois, esse número aumentou em escala geométrica. Passaram a ser 280 lojas Brooks Brothers, sendo 210 nos EUA e 70 em países como Austrália, Índia, Japão, China, França, Espanha, Itália, México e Suíça. Até os Beatles O fato de ter vestido 40 dentre 45 presidentes americanos já sugere que o estilo da casa é conservador. Mesmo assim, a loja foi responsável por diversas inovações no ramo, como as primeiras roupas prontas (1849); o tweed Harris (1900) e o madras (1902), um tecido indiano leve de algodão com padronagem xadrez e textura corrugada, geralmente usado em bermudas ou calças. E mais: o casaco polo (1910); camisas sociais cor-de-rosa e meias de estampa Argyle (1957), um axadrezado com losangos surgido no século 18 na Escócia e inspirado no
tartan do clã Campbell de Argyll. E ainda camisas lava-e-usa (1953), de tecido sintético, muito práticas mas um terror no verão brasileiro. Seus mais importantes lançamentos foram, em primeiro lugar, o costume com corte quadrado, chamado sack ou Ivy League suit, uma referência ao modo de trajar dos alunos das universidades mais tradicionais da Nova Inglaterra (em especial, Harvard, Princeton e Yale). Esse corte foi popularizado por John Kennedy, que depois inspirou, entre os mais jovens, o chamado Preppy Style, entre nós conhecido – pejorativamente ou não – como “estilo mauricinho”. Em segundo lugar desponta a camisa com botões no colarinho, uma criação de John E. Brooks, neto do fundador da loja, em 1896. Ele havia visto essas camisas em jogadores de polo na Inglaterra e considerou-as muito práticas, uma vez que os botões impediam a gola de voar e atrapalhar a ação dos jogadores. Dizer que ainda são fabricadas é pouco, porque são um de seus carroschefe, em especial quando o tecido é o oxford azul-claro. John Lennon e Paul McCartney usam camisas BB assim – e dessa cor – no filme Help!. O caimento da gola, que forma uma lágrima ao contrário, é inconfundível. Aliás, Ralph Lauren (nascido Ralph Lifshitz), que foi vendedor na icônica loja da BB na Madison Avenue, moveu uma ação contra
a empresa sobre a marca Polo e perdeu. Assim, deu à Brooks Brothers o direito de continuar a chamar aquela camisa de “original polo button-down collar”. Escolha o caimento Curiosamente, entre 1865 e 2003, a loja não fez costumes de tecido preto, supostamente pelo fato de ser a cor do sobretudo que o presidente Abraham Lincoln usava quando foi assassinado, em 1865. Era um modelo sob medida, presente da BB ao presidente. Aliás, Lincoln trajava o mesmo casaco quando assumiu a presidência. Além dele, vale destacar os dois Roosevelts, Kennedy, Bush (pai), Clinton, Obama e Trump, que também usaram roupas da marca. Uma lista de clientes da loja vai de Fred Astaire a Cary Grant, de Miles Davis a Thelonious Monk, de F. Scott Fitzgerald a Gay Talese. Até Andy Warhol, considerado um tanto desmazelado, gostava da BB. Um amigo que o conhecia bem relembrou: “Ele sempre parecia desleixado, sempre com a gravata torta, como se não tivesse tempo para ajeitá-la, sempre com os cadarços desamarrados, até com meias de cores diferentes, mas comprava tudo na Brooks Brothers”. Televisão e cinema também receberam a influência da BB. Na série Mad Men, as roupas são fornecidas pela marca, que também confeccionou mais de 1.500 itens para a refilmagem de O Grande Gatsby (2013). Naquele mesmo ano, a empresa rebatizou a antiga University Collection com o novo nome Red Fleece. Desta vez, as roupas eram mais coloridas e de caimento mais moderno.
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Trump e Obama: clientes. Na outra página, as golas com botões
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Além da Red Fleece, a BB tem ainda a linha Black Fleece, criada em 2007 com peças ainda mais avançadas, desenhadas por Thom Browne. O Fleece é o símbolo da marca, evocando o Golden Fleece ou Tosão de Ouro, nome da Ordre de la Toison d’Or. Essa ordem de cavalaria foi criada pelo rei francês Filipe III, duque da Borgonha, em comemoração a seu casamento com Isabel de Portugal. Ela é concedida a quem presta serviços ao Reino de Espanha ou da Casa de Habsburgo. Entre seus agraciados modernos, destaca-se Nicolas Sarkozy. Uma das virtudes de comprar roupas na Brooks Brothers é a possibilidade de escolher peças pelo comprimento de manga e pelo colarinho nas camisas (em geral, as lojas vendem camisas em função apenas do colarinho). Outra vantagem é a variedade de caimentos, tanto nas camisas quanto nos costumes e paletós. Dá para escolher entre
Há muitas opções de roupas do mesmo número, incluindo comprimento das mangas e colarinhos (e corte justo, menos justo e folgado). Você encontrará a que lhe assenta melhor o Milano (um caimento bem justo), passando pelo Regent (um pouco menos justo) pelo Madison (ou regular) e chegando ao Traditional, ou “folgado”. Ou seja, é muito provável que você encontre algo para a sua silhueta. Eis outra máxima de Claudio Del Vecchio, que adquiriu a marca há 17 anos por US$ 225 milhões, preço hoje considerado uma ninharia: “Não somos bons porque somos velhos. Somos velhos porque somos bons”. Eu sugiro aos interessados nas peças mais representativas da casa o blazer azul-marinho; as camisas de oxford com botões na gola (branca ou azul); os pulôveres de lã merino e os costumes de seersucker, que em português têm o improvável e duvidoso nome de anarruga, de algodão leve, listado, muito adequa-
dos ao nosso clima. Outras dicas são as bermudas de madras; lenços de seda para o bolso do paletó; pijamas de oxford ou, para os mais clássicos – ou arrojados –, um camisão de dormir do mesmo tecido. Como nota final, visite a seção de acessórios para rigor da loja da Madison avenue, em Nova York. Eles têm umas meias de seda preta que são uma delícia nos pés, mesmo se você não for usar sapatos de verniz. Além disso, compre a gravata-borboleta preta sem laço pronto – dessas que você mesmo amarra. (Fica charmoso, no fim da festa, deixar a gravata com o nó desfeito.) O vendedor vai lhe contar a história de um colega que sabia fazer o laço nessas gravatas... com uma mão só. Para você ter uma ideia do nível dos vendedores da Brooks Brothers. P
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POR fernando paiva, de portugal
Partiu
lisboa Ela se tornou o destino mais hype da Europa. Nosso cronista foi conferir por quĂŞ
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mento contemporâneos convivem aparentemente sem trauma com a tradição: bondes eléctricos, castelos mais velhos que a Sé de Braga, mosteiros anteriores a dom João Charuto, casas de pasto e adegas d’antanho. O Uber e o Cabify estão presentes, e devem ser usados. Jamais pegue um táxi na rua. Não se engane com as Mercedes: você será enganado. Tão certo quanto Alberto Caeiro e Fernando Pessoa eram um só. Não perca tempo na hora de se hospedar. Seu endereço aqui, discreto, elegante, perfeito para bater perna na área central, é o hotel Corpo Santo, inaugurado em setembro de 2017 no largo homônimo, cais do Sodré. São 79 quartos em tons beges e castanhos, claros e luminosos graças às amplas janelas da arquitetura pombalina [já falaremos dela]. Reserve uma das duas suítes no último piso, com ampla vista para o Tejo e aproveite a tranquilidade e a paisagem do fim da tarde. Se precisar de qualquer coisa, contate Nuno Ricardo Pereira, o chefe da recepção. Concierge de truz, se ele não for capaz de fazer chover, vai deixar o tempo nublado. No Corpo Santo, você está a poucas quadras do epicentro do
istock
isboa virou hype. Depois que Madonna se mudou para cá em 2017 e os jornais locais passaram a acompanhar a busca da cantora por uma escola para o filho; depois que Christian Louboutin comprou um palacete na Comporta e se tornou vizinho de Monica Bellucci no Alto do Castelo; e principalmente depois que a pérfida Albion percebeu que tudo vale a pena se a libra esterlina não é pequena – bem, depois disso tudo Lisboa definitivamente hypou, como se diz no português castiço do Brasil. Um sem-número de expatriados britânicos, fugindo do frio e em busca do Sol e do mar português, há séculos procura a região. Hoje, com o perdão da expressão, são as hordas do turismo de baixa renda (mas em libra esterlina, mate, in sterling pounds!), vindas do outro lado do canal da Mancha, são elas que entopem, a depender da época, as ruas. Mas deixe os hooligans pra lá. Aproveite março, abril, maio. Depois, esqueça. Volte só em novembro. A exemplo de todo lugar hypado, em Lisboa moda, arte, gastronomia, arquitetura, tatuagem, design e comporta-
César Ritz, o criador, e um cômodo da suíte Windsor
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1 2 3 1. Vista panorâmica do Terreiro do Paço. 2. e 3. Interior e fachada do estiloso Can The Can. 4. A elegância bem lusitana do restaurante A Travessa. 5. A cara de Moçambique no salão do Zambeze
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turismo lisboeta. E epicentro aqui não é mera figura de linguagem... ...pois tem tudo a ver com o terramoto. Ah, o terramoto de Lisboa! Aconteceu em 1o de novembro de 1755, dia de Todos os Santos, com as igrejas lotadas. Botou a maior parte da cidade no chão e deu a ela a sua feição atual. A tragédia pode ser vista, em multimídia, no Lisboa Story Centre. Antes do sismo, onde hoje se encontram os edifícios que formam o Terreiro do Paço, funcionava o Palácio Real. Nele, uma biblioteca magnífica abrigava 70 mil volumes e centenas de obras de arte – pinturas de Ticiano, Rubens, Correggio. Nada sobrou. O precioso Arquivo Real com documentos relativos à exploração oceânica, entre eles várias cartas do ‘descobrimento’ do Brasil, também foin para o beleléu. Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), marquês de Pombal e conde de Oeiras, à época mandachuva supremo do reino, aproveitou as ensanchas e agiu rápido. Utilizou a tragédia para fortalecer seu poder. Aproveitou também o ouro do Brasil colônia e mandou levantar cidade afora edifícios reforçados, com estrutura de madeira, as chamadas ‘gaiolas’, à prova de abalo sísmico. Todos de fachada idêntica, caiados de amarelo e com amplas janelas retangulares. Nascia assim a arquitetura pombalina, símbolo do Terreiro do Paço, monumental praça de 3,6 hectares de área hoje circundada por ministérios, bares, lojas, restaurantes, cafés. Entre eles está o Martinho da Arcada, o café mais antigo da cidade, e
um dos preferidos pelo poeta Fernando Pessoa. O Paço abriga ainda o estiloso restaurante Can The Can. A inspiração vem das latas de sardinha – e de outros enlatados – que fizeram a fama de Portugal além-mar. A comida mediterrânea, servida sobre placas de ardósia, leva a assinatura do chef Akis Konstantinidis. Dono de um espírito audaz, ele elevou as conservas a produto gourmet, graças ao uso de novos ingredientes. O resultado? Pratos saudáveis à base de hortaliças e legumes frescos. Experimente a muxama de atum, as ovas de sardinha ou a ventresca. Finalize com um cálice de Porto.
Estamos agora na estreita travessa das Inglesinhas, no bairro da Madragoa. Prestes a completar 40 anos, aqui funciona A Travessa, restaurante idealizado pela belga Viviane Durieu. É noite e, no antigo convento das Bernardas, do século 17, as mesas cobertas por toalhas de linho e iluminadas por velas, tornam o lugar ideal para o romance. A Travessa surgiu como restaurante de culinária belga, inicialmente um lugar boémio que atendia aos funcionários das embaixadas da Bélgica e da França. Peça o menu degustação, que entre outras delícias
o tradicional Gambrinus é a mais antiga casa de pasto De lisboa em funcionamento: no próximo dia 14 de julho completa 82 anos Perto dali, encarapitado nos altos do último andar do velho mercado do Chão do Loureiro, o Zambeze propicia uma panorâmica soberba. Essa atalaia gastronômica mescla a cozinha beirã aos temperos e ingredientes de Moçambique. Se o tempo estiver bom e o calor suportável, escolha uma mesa no imenso terraço de 300 metros quadrados. Repare nas bem humoradas e irônicas peças de faiança do artista Bordallo Pinheiro (1846-1905) e na célebre loiça Vista Alegre, onde são servidos os pratos. Ouça a crónica local: “Nos dias soalheiros, [o Zambeze] convida a preguiçar na esplanada, para saborear ou petiscar um repasto leve e ainda mais descontraído, ou optar pela sala rasgada por uma varanda com vista para o casario lisboeta, o castelo de São Jorge, o Tejo, a ponte, a outra margem”.
elenca anchovas com rúcula selvagem, patê de fígado de pato com doce de cebola e secretos de porco preto. Elis a casa de pasto mais antiga a funcionar sem interrupção em Lisboa. Estamos a falar do Gambrinus, na Baixa, que em 14 de julho de 2018 completa 82 anos. Quinta-feira é dia de eisbein, uma lembrança dos primeiros tempos do restaurante como cervejaria, fundada pelo alemão Hans Schwitalla em 1936. Remodelado em 1964, o lugar é ponto de encontro da elite – financistas, empresários da área imobiliária, advogados, armadores, médicos de renome. Os pratos são tradicionais como os clientes: sopa rica de peixe, empadão de perdiz, mousse de avelã de sobremesa. Na barra, como é chamado o bar, sandes de rosbife, croquetes, pregos e mariscos fazem bonito no largo balcão de madeira escura.
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viagem Os vitrais, as cadeiras de couro, a lareira de granito, os óleos e as tapeçarias dizem tudo sobre a atmosfera. A comida, sem dúvida, é excelente. O serviço, impecável. Mas a sensação que se tem – veja só, trata-se apenas de uma sensação – é a de que a qualquer momento o dr. António de Oliveira Salazar (1889-1970) adentrará o recinto, a cavaquear alegremente com o igualmente dr. Marcello José das Neves Caetano (1906-1980). Vamos ser curtos e grossos. Ou melhor: cultos e grossos. Quem vem a Lisboa e não visita no Chiado a Bertrand Livreiros, reconhecida pelo Guinness como a mais antiga livraria do mundo em atividade, não sabe o que está perdendo. Nem
a adolescência comprava as mais variadas obras de arte. Em 1953, pouco antes de morrer, ele fez seu testamento definitivo. Decidiu que todo o seu acervo – 6, 5 mil peças – viesse para a capital portuguesa, onde abriu uma fundação e determinou que fosse construído um museu. Gulbenkian já pensara em Londres e em Washington, nos Estados Unidos, como sede de ambos. Mas acabou desistindo das duas cidades, em virtude de quiproquós envolvendo o comércio internacional do petróleo. O museu se divide em duas seções, acomodadas em dois belíssimos edifícios: a coleção do Fundador e a coleção Moderna. Arte egípcia? Tem. Mestres do renas-
LISBOA DEVE SEU MUSEU MAIS IMPORTANTE AO ARMÉNIO CALOUSTE GULBENKIAN, TYCOON DO PETRÓLEO, MAVERICK IMPLACÁVEL NOS NEGÓCIOS poderia saber, pois não é do ramo. Amantes de livros de todos os quadrantes do globo compram aqui desde 1732. O arménio Calouste Sarkis Gulbenkian (1869-1955) foi um louco. Um louco daqueles a quem o planeta lamenta não terem existido em maior número. Pois é a esse tycoon do petróleo, a esse maverick implacável nos negócios e apaixonado por arte, que a capital portuguesa deve o seu museu mais importante. Conhecido como “Senhor Cinco por Cento” em virtude da comissão que levava em cada barril extraído no Oriente Médio – fruto de um trabalho insano e obsessivo de mapeamento, prospecção e negociações –, Gulbenkian desde
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cimento? Claro que sim. Impressionistas? Opa, só os bons. René Lalique? A maior e mais importante coleção do mundo. Entre os lusitanos modernos, pouco conhecidos entre nós, destaque para Amadeo de Souza-Cardoso, Paula Rego e Vieira da Silva. Paula Rego, que hoje alterna Londres com Cascais, tem o vigor, o desespero e a força de um Lucian Freud (1922-2011). Só vendo para crer. Ou crendo para ver. Já dissemos que não convinha perder tempo na hora de se hospedar em Lisboa. Mas vamos a uma correção: se você fizer questão de ser tratado como um príncipe, e estiver disposto a pagar à altura pelo tratamento, anote: palácio Belmonte, no pátio dom Fradique,
entre os bairros da Alfama e da Graça. O edifício, cuja primeira fase remonta a 1449, época d’El-Rei dom Manuel 1o, passou por incontáveis mudanças e reformas, nas mãos de um sem-número de proprietários. O solar foi erguido sobre ruínas romanas e mouras, ainda visíveis do maravilhoso terraço no piso superior. Essa casa senhorial abarcava imenso quintal, casas antigas e estrebaria, circundada por muralhas. Após ter ‘descoberto’ o Brasil, em 1503 Pedro Álvares Cabral levantou aqui a primeira parte do atual palácio – Cabral era natural de Belmonte, daí o nome. O hotel-butique é administrado pelo casal Maria Mendonça-Frédéric Coustouls, o Fred. Eles são a cara da casa: lindos, hospitaleiros, refinados, engraçados. Inesquecíveis. O tempo ruge, urge, e o espaço desta crónica diminui a olhos vistos. Hora de irmos para Sintra, a apenas 17 quilômetros. Encastelado em uma penha dentro de um parque nacional está o palácio da Pena. Terminado em 1847 e considerado o maior exemplo do romantismo do século 19, esse delírio visual foi projetado como casa de verão para a família real. Seu autor: o engenheiro de minas e arquiteto amador barão Wilhelm Ludwig von Eschwege. Por fora, esculturas alegóricas, gárgulas de fazer corar o corcunda de Notre-Dame, referências a histórias bíblicas, ícones religiosos, azulejos portugueses ricamente pintados. Por dentro, colunas de todos os tipos, gesso ornamentado, murais, tetos arqueados. Como troçou alguém:
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reprodução
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1. Na fachada da Bertrand, o recorde homologado pelo Guinness: a mais antiga livraria do mundo em atividade. 2. Obra-prima do impressionismo no museu Calouste Gulbenkian: Retrato de Madame Claude Monet, pintado por Pierre-Auguste Renoir entre 1872-74. 3. e 4. Porta e vista para o azul do Tejo no palácio Belmonte
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4 1. O delírio visual-arquitetônico do palácio da Pena, em Sintra, construído no século 19 como casa de verão da família real. 2. e 3. O aconchegante pátio interno e a vista para o Atlântico do hotel e restaurante Fortaleza dos Guinchos, em Cascais. 4. Queijo do Azeitão: delícia de leite de ovelha em Setúbal
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“É melhor ver tudo isso do que ser cego”. Aliás, vale subir ao terraço da Rainha só para olhar com calma Lisboa ao longe. Próxima parada: Cascais. Terra da pintora Paula Rego, já mencionada. E sede do encantador hotel e restaurante Fortaleza do Guincho. Inaugurado em 1998, já em 2001 ele ganhava uma estrela no guia Michelin – que ainda mantém. Num promontório varrido pelo vento do Atlântico, a casa trabalha com pescados e mariscos da costa lusitana. É com eles que o chef Miguel Rocha Vieira, 39 anos, cordon bleu em Londres e filho de Cascais, onde morou até os 19, exercita sua sensibilidade. Não deixe de experimentar os percebes, delicados mariscos servidos com maionese de ostra, alga cabelo-develha e purê de laranja. Memoráveis! No bar, segundo uma foodie, degusta-se o melhor club sandwich do país. O hotel, da rede Relais & Châteaux, é um 5 estrelas. Cadeirões confortáveis dão as boas-vindas logo na chegada. A construção, originalmente de 1642, tempos de dom João 4o, tem quartos amplos, todos com vista para o mar, decorados com a proverbial sobriedade lusitana: móveis escuros, teto abobadado, camas com edredons de pluma de ganso que mais parecem saídos do desenho animado Branca de Neve e os Sete Anões. Nos dias mais frios, o bom é ficar na biblioteca. Nos de calor forte, bastam cinco minutos para se chegar à água. Recém-inaugurado na cidade, o museu das Notícias ou NewsMuseum, de Sintra, é mandatório para uma visão da história e do futuro da mídia. Em diversos andares, vazados por um poço de luz que também funciona como uma vitrine
vertical, acompanha-se da invenção dos tipos móveis de Gutemberg às das redes sociais. Ali você pode ouvir – e ver – depoimentos célebres como o do presidente John Kennedy discursando em Berlim por ocasião do levantamento do muro – Ich bin ein Berliner –, trechos de discursos de Winston Churchill etc. Finalmente, antes de regressar, uma parada obrigatória para saborear o típico queijo do Azeitão, distrito de Setúbal. Trata-se de denominação de origem protegida, de acordo com as normas da Comunidade Europeia. Um sorridente e animado Rui Simões nos recebe na queijaria que leva o sobrenome da família. “Dedico minha vida
“Ora, vir a Lisboa e não cair na calçada é o mesmo que não vir a Lisboa”. Ou ouvir canduras ao ser apresentado. “Que coincidência, meu pai era coxo como si.” O facto é que um dos ícones da night lisboeta... ...tem tudo a ver com as celebridades recentes. Entre as que adotaram a cidade como segundo ou terceiro lar, o ator americano John Malkovich foi um dos pioneiros. Tanto que recebeu uma medalha da câmara municipal e se tornou sócio da danceteria Lux Frágil, point de ferveção no cais de Santa Apolónia. Como lá não estive, só me resta passar a palavra a um colega. Mais precisamente à língua ferina do jornalista
NO AZEITÃO SABOREIA-SE UM DOS MAIS SABOROSOS QUEIJOS DO MUNDO. AMARELO E AMANTEIGADO POR DENTRO, CIRCUNDADO POR FINA CASCA BRANCA a aperfeiçoar a arte da cura do queijo do Azeitão desde 1992”, rememora ele, filho e neto de queijeiros. Como um bardo d’El-Rei dom Dinis, dom Rui canta em prosa e verso as qualidades de suas criações, feitas de leite fresco de ovelha. E com razão: amanteigado por dentro, de um leve amarelo, circundado por fina casca branca, seus queijos são iguarias que requerem engenho e arte na feitura. Hora de voltar para o hotel. E a tão falada noite lisboeta, a nightlife, as baladas? Não foi por falta de convite. Por culpa de outra herança pombalina, as calçadas de pedra portuguesa, polidas durante quase 400 anos pela sola de milhões de sapatos, não deu para conhecê-la. Um tombo monumental logo no segundo dia quase custou a estre cronista um aleijão permanente. E toma a aguentar piadas:
Nelson Marques, d’O Expresso. “A coisa funciona assim no Lux, a discoteca mais conhecida, mais badalada e mais elogiada de Lisboa: os conhecidos da casa e os VIP entram por uma zona lateral, é tudo beijinhos e abraços, olá, boa-noite, sejam bem-vindos, não há cá consumos mínimos; os comuns mortais vão para a fila, sujeitando-se à ditadura arbitrária do porteiro”, escreveu ele. Se preencherem os insondáveis requisitos de entrada, pagam 12 euros e recebem o equivalente em senhas que podem trocar por bebidas. Se não caírem nas boas graças do homem, e como impedir a entrada é ilegal, toma lá um consumo mínimo 20 vezes superior.” Sim: 240 euros conforme a cara do freguês. P Lisboa virou hype mesmo.
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Volta por cima Para o presidente francês Charles de Gaulle, 1968 terminou bem melhor do que ele poderia esperar. A crise de maio, com estudantes e sindicalistas nas ruas, parecia sua derrocada. Mas De Gaulle soube desarmar a bomba-relógio dos ânimos. Primeiro, garantiu o apoio do Exército. Depois, apostou em seu passado de herói da Segunda Guerra e na aliciante oratória. Foi à TV, em 30 de maio, para um discurso de apenas cinco minutos. Ali, afirmou, convicto, que não renunciaria, anunciou a dissolvição da Assembleia Nacional e convocou novas eleições legislativas para 24 dias depois. Enalteceu – eloquente – o sufrágio e a democracia. O velho general, de 77 anos, esvaziava um movimento que em outros idos lhe custaria o prolongado pescoço.
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