The President

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Nº 37 abril | maio 2019 claude troisgros

“É hora de crescer”, diz michel Cheval, da montblanc brasil por r aphael calles Nº 37 abril | maio 2019

abr | mai 2019 nº 37 R$ 28,00

claude troisgros

empresário gastronômico

O cozinheiro francês que virou ‘carrioca’ Paula Paschoal, do paypal: “o dinheiro vai acabar”

lady gaga: a estrela de todos os gêneros

mangueira: viva a estação primeira!

pOR lu iz maciel

pOR ronaldo bressane

pOR roberto m uggiati

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e d i to r i a l

O ator francês Vincent Cassel tornou-se pai pela terceira vez. Sua primeira filha com a modelo Tina Kunakey – ele tem outras duas com a atriz Monica Bellucci – recebeu um nome em homenagem ao Brasil. A garota se chama Amazonie. “Sou brasileiro de coração”, costuma dizer Cassel, que morou no Rio de Janeiro, frequenta Armação dos Búzios e montou casa em Trancoso. Por uma feliz coincidência, Amazonie nasceu, na prática, junto com esta edição de THE PRESIDENT, que traz na capa, em metade da tiragem, Claude Troisgros; e, na outra metade, Michel Cheval. Eles têm muito em comum. Assim como Vincent Cassel, são dois franceses boas-praças, que amam o Brasil e decidiram viver aqui. Troisgros chegou primeiro. O restaurateur, pertencente à melhor linhagem da cozinha gaulesa, mora no Rio de Janeiro há quatro décadas. Ali criou os filhos e montou uma série de restaurantes; ali pratica diversos esportes, acelera de motocicleta e grava boa parte de seus programas de TV. É um típico “carrioca”, como narrou à jornalista Dalila Magarian. Cheval mora em São Paulo há pouco mais de um ano. O presidente da Montblanc Brasil, no entanto, já namorava a capital paulista bem antes disso. Tanto que havia comprado apartamento na cidade, mesmo ainda morando em Miami. Agora à frente dos negócios brasileiros da tradicional marca alemã, ele celebra um aumento de dois dígitos no faturamento. E tem planos para crescer ainda mais esses números, como contou a Raphael Calles. Regida pelo bom astral de Troisgros e Cheval, esta edição de THE PRESIDENT traz uma retribuição a outros estrangeiros que aqui viveram e deixaram um belo legado. Trata-se do texto de Silvio Lancellotti, com ilustração de Paulo Caruso, sobre os melhores craques gringos que atuaram no futebol brasileiro. Outras matérias interessantes – e também de alto-astral – são o texto de Ronaldo Bressane sobre a esfuziante Lady Gaga, o de Roberto Muggiati sobre a campeoníssima Mangueira e o perfil de Paula Paschoal, CEO da PayPal Brasil, empresa que garante o pagamento em transações financeiras na internet. A executiva fez um vaticínio ao jornalista Luiz Maciel: “O papel-moeda vai acabar”. Será? Boa leitura. E felicidade, Amazonie!

deux français Michel Cheval, presidente da Montblanc Brasil, e Claude Troisgros, restaurateur e astro da televisão

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expediente the president Publicação da Custom Editora Nº 37

publishers André Cheron e Fernando Paiva

REDAÇÃO Diretor editorial Fernando Paiva fernandopaiva@customeditora.com.br diretor editorial adjunto Mario Ciccone mario@customeditora.com.br redator-chefe Walterson Sardenberg So berg@customeditora.com.br ARTE Diretores de arte J. Pequeno A. Neto e Rafael Pera designer Raphael Alves raphaelalves@customeditora.com.br prepress Daniel Vasques danielvasques@customeditora.com.br TRATAMENTO DE IMAGEM Ana Passos COLABORARAM NESTE NÚMERO Texto Alex Solnik, Alexandre Taleb, Dagomir Marquezi, Dalila Magarian, Daniel Japiassu, Françoise Terzian, J.A. Dias Lopes, Luciana Lancellotti, Luiz Maciel, Marcello Borges, Raphael Calles, Roberto Muggiati, Ronaldo Bressane, Sergio Crusco e Silvio Lancellotti Fotografia André Ligeiro, Carlos Paszko, Jorge Bispo, Luiz Pelizzer, Marcelo Paez, Marcelo Spatafora, Rafael Veira, Tuca Reinés Tratamento de imagens Ana Passos e Daniel Vasques Revisão Goretti Tenorio CapaS Claude Troisgros fotografado por Jorge Bispo no Rio de Janeiro. Michel Cheval clicado por Marcelo Spatafora em São Paulo THE PRESIDENT facebook.com/revistathepresident @revistathepresident www.customeditora.com.br

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COMERCIAL, PUBLICIDADE E NOVOS NEGÓCIOS Diretor executivo André Cheron andrecheron@customeditora.com.br diretor comercial Ricardo Battistini battistini@customeditora.com.br Gerentes de contas e novos negócios Marcia Gomes marciagomes@customeditora.com.br Northon Blair northonblair@customeditora.com.br ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Analista financeira Carina Rodarte carina@customeditora.com.br Assistente Alessandro Ceron alessandroceron@customeditora.com.br REPRESENTANTES REGIONAIS GRP – Grupo de Representação Publicitária PR – Tel. (41) 3023-8238 SC/RS – Tel. (41) 3026-7451 adalberto@grpmidia.com.br CIN – Centro de Ideias e Negócios DF/RJ – Tel. (61) 3034-3704 / (61) 3034-3038 paulo.cin@centrodeideiasenegocios.com.br Tiragem desta edição: 35.000 exemplares CTP, impressão e acabamento: Coan Indústria Gráfica Ltda. Custom Editora Ltda. Av. Nove de Julho, 5.593, 9º andar – Jardim Paulista São Paulo (SP) – CEP 01407-200 Tel. (11) 3708-9702 ATENDIMENTO AO LEITOR atendimentoaoleitor@customeditora.com.br Tel. (11) 3708-9702

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sumário abril | maio 2019

106 negócios Paula Paschoal, CEO da PayPal Brasil, explica por que não carrega um único tostão

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60 VISÃO

128 ESPORTE

Lady Gaga é a única cantora/atriz a ganhar

Fizemos a seleção dos melhores gringos

os cinco prêmios principais de uma só vez

do futebol brasileiro. Craques, por supuesto

66 AUDIÇÃO

90 ENTREVISTA

136 luxo

Por que a Mangueira é a mais representativa

Michel Cheval, da Montblanc Brasil,

Passados 155 anos de sua inauguração, o Hôtel

das escolas de samba cariocas

celebra as conquistas da marca no país

de Paris, de Monte-Carlo, ganha uma megarreforma

72 PALADAR

98 perfil

142 futuro

Os portugueses escolhem os nomes mais

O carioca que nasceu a mais de 9 mil

Elon Musk, Richard Branson e Jeff Bezos apostam

esdrúxulos para suas receitas de bacalhau

quilômetros do Leblon: Claude Troisgros

alto para ver quem ganha a corrida espacial

78 OLFATO

113 Consumo

148 cult

Humanos não dão para o cheiro. Cães são

Aqui estão produtos tradicionais ou

O desenhista Alex Raymond ajudou a transformar

até 100 mil vezes mais sensíveis aos odores

contemporâneos. Todos muito atraentes

as histórias em quadrinhos em arte

84 TATO

122 gifts

156 memória

Nunca houve um ilusionista como

Belas joias e refinados relógios para

Os bastidores da morte de Tancredo Neves,

Harry Houdini, autor de grandes façanhas

presentear a amada no Dia dos Namorados

o presidente que foi sem nunca ter sido

© marcelo paez; paulo carusoww

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co l a b o r a d o r e s

capa

Raphael calles

Para entrevistar Michel Cheval, chefe da Montblanc Brasil, ninguém melhor que um dos raríssimos jornalistas brasileiros especializados em alta relojoaria. Alguém que, todos os anos, viaja para Basel e Genebra, na Suíça, para cobrir as principais feiras do setor. Embora jovem, Raphael já rodou. Trabalhou na Band, na Rede TV! e no jornal Diário do Grande ABC. É com satisfação que o incluímos no time.

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marcelo spatafora

Se existe alguém realmente versátil no Brasil, este fotógrafo é o Spata – como ficou conhecido nas redações. De carros a pequenos produtos, de ensaios de nus a reportagens de viagem, é só chamar este beatlemaníaco e servir um café – ele não vive sem. Spata clicou Michel Cheval para a capa. Também manda bem na arte do portrait.

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dalila magarian

Jornalista experiente, esteve nas mais variadas publicações. Foi editora especial de Playboy, Exame e Nova. Também trabalhou nos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo. Ao longo de cinco anos, atuou como editora de telejornais da Rede Globo. Escritora, é autora de O Homem Irresistível (Editora Original), entre outros livros. Perfilou Claude Troigros na cidade onde os dois moram — e amam morar: o Rio de Janeiro.

capa

paladar

tato

Em seu belo projeto Apartamento 302, ele retrata mulheres anônimas e nuas, virando pelo avesso a surrada estética do glamour e do erotismo. Mas Bispo também curte descobrir outras facetas de gente famosa. Já clicou de David Lynch a Chico Buarque de Hollanda. Sempre com um novo olhar e técnica irrepreensível. Para esta edição, fotografou o chef Claude Troisgros – por sinal, tão carioca quanto ele.

Gaúcho de Dom Pedrito, mudou-se para São Paulo em 1968, para integrar a primeira redação de Veja. Permaneceu 23 anos na revista, onde, entre outros cargos, foi correspondente em Roma. Na Europa, aprimorou uma paixão: a história da gastronomia. Tornou-se um mestre no assunto e comandou publicações como Gula e Gosto. Dos pampas, mantém outras paixões, como o chimarrão e o Internacional.

Ele é formado em engenharia e direito. Não exerce essas profissões que, de qualquer maneira, ajudaram a transformá-lo em um dos jornalistas mais observadores e cultos dessas plagas. Bon-vivant, passa seus dias, entre um texto e outro, trabalhando como tradutor do inglês e dando aulas de charutos e bebidas destiladas na ABS, a Associação Brasileira de Sommeliers, em São Paulo.

Jorge bispo

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j. A. dias lopes

marcello borges

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' n ' k c Ro

Roll

C l a u d i a Ke c h i c h i a n d e d i c a- s e a o d esenho e produção de ma teria i s que i mpri m e m o l u xo dos metais nobre s e das pedras pr eciosas na con fecção de u m a j o i a e xc l u s i va – tradição h e r d a d a d o a vô , j oalheiro no Orien te. Ela cria inspirada no perfil de cada cl iente. Si m, atend i mento p e r s o n a l i z a d o, com local e horár io marcados. claud ia ke ch ich ia n .c o m . b r

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negócios

negócios

Esporte

A serra da Cantareira, em São Paulo, é o reino deste paulista de Palmital. Ali, em seus domínios, ele ouve Nat “King” Cole (sem cantar, só tocando piano) e beberica um Bordeaux enquanto tece textos de primeira – com mais frequência, sobre economia. Desta feita, o ex-jornalista de Quatro Rodas e do Jornal do Brasil deixou seu terraço sobre a frondosa natureza para entrevistar Paula Paschoal, da PayPal.

Antes de começar, de fato, a fotografar, aprendeu os segredos da profissão como assistente, no estúdio de craques das lentes nas áreas de moda, publicidade e still. Em seguida, cursos nos Estados Unidos lhe abriram ainda mais a sensibilidade – e as objetivas. “Foi lá que desenvolvi muitas das minhas habilidades”, diz Marcelo, que estreia na revista clicando Paula Paschoal, da PayPal, em seu ambiente de trabalho.

Quem o conhece da televisão pode lembrar dos refinados programas de gastronomia. Mas também do culto comentarista de esportes – sobretudo futebol. Seu assunto, aliás, nesta edição. Eclético, Silvio formou-se em arquitetura e tornou-se jornalista na primeira redação de Veja, em 1968. Um ano depois, o diretor, Mino Carta, incumbiu-o de seguir o périplo de Pelé na busca do milésimo gol. Era o início de uma carreira de golaços.

luiz maciel

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silvio lancellotti

esporte

cult

memória

Em dezembro, ele completará 70 anos. E mais de meio século de profícua colaboração na imprensa. Caricaturista, chargista, cartunista e quadrinista, Paulo é, ainda, pianista e compositor, integrante do Conjunto Nacional – grupo que entoa hilariantes canções sobre a política brasileira. De volta à THE PRESIDENT caricaturou uma hipotética seleção de supercraques gringos que jogaram no Brasil.

Em 1970, o MASP realizou uma histórica exposição sobre quadrinhos. Dagomir, o nosso Dagô, compareceu todos os dias. Admirando os originais do desenhista Alex Raymond, o então estudante sacou: “Tive a sensação exata de que não havia qualquer diferença conceitual entre arte e quadrinhos”. O insight ajudou a transformar Dagô em um dos melhores e mais originais jornalistas de cultura do Brasil.

Nasceu na Ucrânia. Chegou a São Paulo em 1958. Viu-se naturalizado brasileiro 13 anos depois. Quase em seguida, iniciou-se como jornalista, no tabloide alternativo Ex. Em mais de 50 anos de profissão, pode se gabar de um aliciante estilo próprio e de uma carreira independente. Neste número, relembra a saga dos últimos dias de Tancredo Neves, que acompanhou dos bastidores e revela sem qualquer pudor.

paulo caruso

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marcelo paez

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dagomir marquezi

alex solnik

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m o da P o r A l e x a n d r e Ta l e b

Qual é o seu estilo? Descubra em que grupo você se encaixa melhor. Vai ajudar um bocado no momento de escolher o seu guarda-roupa

A renomada consultora americana de moda Alyce Parsons desenvolveu uma espécie de tipologia do estilo, ainda nos anos 1990. Ela atribui um perfil específico para sete grupos diferentes. Fez tanto sucesso que viu suas classificações serem adotadas pelas escolas de moda no-

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va-iorquinas Parsons School of Design e Fashion Institute of Technology. A rigor, os sete perfis se adéquam melhor ao universo feminino. Com minha experiência como consultor de moda masculina, aliada às necessidades de meus clientes masculinos, ousei fazer uma adaptação.

Um aviso: os perfis não devem ser vistos como estanques. Há intersecções, claro. Ao longo da vida, é comum alguém desenvolver afinidade pelo estilo de um ou dois grupos distintos. De qualquer maneira, essas classificações podem ajudar na escolha do guarda-roupa. Vamos lá?

© r/p

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Criativos São pessoas expansivas, que gostam de se sentir únicas. Misturam todos os estilos e usam as roupas como forma de declaração da personalidade. São inovadores e aventureiros, com tendências artísticas. Usam desde peças étnicas até artigos vintage. Adoram cores e sabem combinar estampas, sem medo de errar ou misturar tudo no mesmo look. Pouco importa se o acessório é rústico ou se tem design inovador: o importante é que seja diferenciado. Não têm uma peça característica. Escolhem o que sentem vontade de usar conforme o humor do dia. Ex.: Jared Leto. Elegantes Homens refinados, seguros de si. Estão sempre impecáveis e com roupas de melhor qualidade e durabilidade. De preferência, feitas sob medida. Sabem que a simplicidade é chique. Costumam usar combinações em tom sobre tom, com algum acessório ou peça que chame a atenção. O guarda-roupa tem itens que nunca saem de moda. O melhor exemplo é a camisa social branca. Um homem elegante sempre tem várias camisas brancas – e gosta de usá-las tanto com bermudas ou com jeans, no final de semana, como também com terno. Ex.: Roberto Justus. Esportivos São homens espontâneos, que vão direto ao ponto, sem delongas. Ativos e comunicativos, gostam de informalidade e têm muita energia. Seu guarda-roupa é caracterizado pelas peças básicas, práticas e confortáveis. Eles tendem a não gastar muito tempo cuidando da aparên-

cia – o que não significa que sejam desleixados. Optam por roupas sem muitos detalhes, mas um zíper ou bolso são bem-vindos. São adeptos da vestimenta em camadas. No armário predominam as cores discretas, e seus acessórios são funcionais e nada ostensivos. Peças básicas: um bom jeans e camiseta larga. Ex.: Cauã Reymond. Românticos Caracterizam-se por serem gentis e cavalheirescos, além de solidários, tanto no ambiente de trabalho quanto fora dele. Em geral, têm cabelos compridos e adoram uma gola rulê. Seu guarda-roupa tende para peças entre o casual e o rústico. Gostam de camisas tipo bata, com padrões florais e de materiais como o linho. Adotam calças de pregas, soltas ou de amarrar, chinelos de couro e chapéu Panamá. Os acessórios são discretos mas detalhados, com elementos retrô. A escolha de cores demonstra leveza, com pouco contraste. A pulseira de madeira é um dos preferidos. Ex.: Johnny Depp. Sexies Gostam de ser o centro das atenções. Autoconfiantes e corajosos, dedicam muito cuidado ao corpo. Seu estilo fica mais evidenciado à noite. Vaidosos, apostam em peças que valorizam as formas do corpo – T-shirts justas, gola em “V” e jeans slim. Preferem roupas pretas ou, ao contrário, de cores chamativas. A jaqueta de couro é fundamental. Usam acessórios ousados, com um toque de exagero: relógios grandes, cintos com fivela de marca, sapatos chamativos e pulseiras. Ex.: Brad Pitt.

Ao longo da vida, é comum alguém desenvolver afinidade por outro estilo

Urbanos Sabe aquele homem que nasce em cidade pequena e sonha em se mudar para uma metrópole? Pois é. Os urbanos gostam de ser o centro das atenções e se sentem muito à vontade quando lideram equipes. Determinados, objetivos, usam roupas pretas e/ou escuras, com padrões geométricos, tecidos tecnológicos, golas rulê. Apreciam relógios grandes, másculos, de metal. Gostam, ainda, do contraste de cores. Seus acessórios são chamativos e intrincados, com algo de inusitado. Ex.: David Beckham. Tradicionais Eles têm perfil mais conservador e costumam ser metódicos e organizados. Muito eficientes na profissão, não seguem a moda e não gostam, em absoluto, de usar peças que revelem o corpo. Por sua aparência madura e distinta, impõem respeito ao primeiro encontro. Suas roupas se caracterizam por serem de marcas tradicionais, de cores neutras e combinações monocromáticas. Usam acessórios discretos, duráveis e de acabamento impecável. O blazer clássico é a sua assinatura. Ex.: William Bonner. TP

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v i ag em e m pa rc e r i a co m rio quente

sua casa no rio quente Ter uma casa exclusiva para passar as férias, contar com toda a infraestrutura de um resort e ainda poder fazer intercâmbio com casas em outros destinos surpreendentes. Essa é a proposta do InCasa Residence Club, empreendimento da Aviva Vacation Club

Passar as férias no Rio Quente, em Goiás, é uma das experiências mais incríveis (e inesquecíveis) que alguém pode ter. É o destino que proporciona conforto, diferenciais e atrações para toda a família. Agora, já imaginou poder aproveitar tudo isso e ainda ficar hospedado na sua própria casa com atendimento exclusivo e a possibilidade de intercâmbio com outras residências? Pois isso já é possível com o InCasa Residence Club, nova experiência de alto padrão da Aviva Vacation Club. Casa com serviços de resort O InCasa Residence Club é uma experiência de férias premium baseada no sistema fractional. Por meio dele, é possível comprar uma casa dentro do Complexo do Rio Quente com outros sócios. Essa divisão permite o melhor aproveitamento da propriedade. Os sócios do InCasa contam com serviços diferenciados 24h e atendimento personalizado, além de ter acesso ilimitado aos três parques do Rio Quente: Parque das Fontes, Hot Park e Eko Aventura Park. Com até 300 metros quadrados e quatro suítes, as casas ficam dentro de uma área privativa do Rio Quente. Os proprietários têm acesso a uma área de

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lazer exclusiva, o Clube House. Lá estão piscinas, lounges, bar, restaurante, fitness center, empório e quadras de tênis. The Registry Collection Outra grande vantagem de adquirir uma casa no sistema fractional no InCasa Residence Club é a possibilidade

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TODO O CONFORTO As casas têm até 400 metros quadrados e 4 suítes. Dão acesso a uma área de lazer exclusiva: o Clube House. Além de todo o complexo Rio Quente, é claro

de fazer intercâmbio com residências em vários locais do mundo, como Toscana, na Itália, e Vermont, nos Estados Unidos. Isso é possível graças à parceria com o The Registry Collection. O programa faz parte da agência de intercâmbio de férias RCI, simplesmente a maior do mundo nesse segmento. De golfe a esqui. Praia, spa e cassinos. O proprie-

tário pode desfrutar de experiências exclusivas em outros hotéis e resorts ao redor do mundo. A rede conta com mais de 240 propriedades afiliadas globalmente e que podem ser aproveitadas por sócios do programa para ter férias únicas, experiências exclusivas que ficam na memória. costadosauipe.com.br | rioquente.com.br

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vo o

vive la différence Muito espaço e as melhores amenidades

LA PREMIÈRE Air France inova o conceito de primeira classe São Paulo é a única rota da Air France na América do Sul a receber La Première, uma cabine de primeira classe diferenciada. Na rota Paris-São Paulo-Paris, a companhia oferece dois voos diários – e pelo menos um deles dispõe da La Première. Com quatro suítes de 3 metros quadrados cada, a cabine está configurada para aeronaves Boeing 777-300. Os assentos, de 57 cm de largura, se transformam quando abertos numa cama totalmente plana de 2 metros de comprimento. Os passageiros contam ainda com tela sensível ao toque de 24 polegadas e alta definição, controle remoto e fones de ouvido

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com redução de ruído da Bose. No total, são 1.200 horas de entretenimento – filmes, jogos, música e séries de TV. Os menus são preparados por chefs premiados pelo Guia Michelin, como Régis Marcon, Guy Martin, Anne-Sophie Pic e Michel Roth, entre outros. A mais recente exclusividade para os usuários, no entanto, é o kit de conforto. Disponível em duas cores (Iced mocha e French grey), com fecho magnético, ele traz uma gama de tratamentos faciais e corporais da renomada empresa de cosméticos Carita para o bem-estar a bordo. A saber: creme hidratante e regenerador Baume de Nuit; produto para os olhos Combleur Fondamental; creme para os olhos e lábios Soin Sublimateur 3 Ors; e o original creme para as mãos Progressif Lift Fermeté. Renovado a cada seis meses, o kit da Air France La Première foi concebido como um presente para os clientes levarem para casa após a viagem. No ano passado, na categoria primeira classe, a Air France recebeu da consultoria Skytrax três prêmios: melhor refeição a bordo; melhor refeição em lounge; e melhor kit de amenidades. airfrance.com.br

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TÊN IS e m Pa rc e r i a co m b r av íssi m a

Porta para o Grand Slam Patrocinado pelo Taroii Investment Group, o Roland-Garros Junior Wild Card Series abre oportunidade para brasileiros jogarem no saibro parisiense Roland-Garros é logo ali. Pelo menos uma vez por ano, jovens tenistas brasileiros podem disputar uma seletiva em território nacional e sonhar em pisar no saibro de um dos torneios do Grand Slam. Em abril, aconteceu a quinta edição do Roland-Garros Junior Wild Card Series. Desta vez o palco foi a cidade catarinense de Itajaí. O evento contou com o apoio do Taroii Investment Group, único patrocinador local do torneio. A competição reuniu 32 tenistas de 16 a 18 anos no Itamirim Clube de Campo. No feminino, ven-

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ceu Camilla Bossi. No masculino, Gustavo Heide. Eles conquistaram o direito de competir nas seletivas para a chave principal do Roland-Garros juvenil. Vão jogar contra representantes da China e Índia. Conforme o resultado, disputarão a chave principal de Roland-Garros Junior. Apenas Brasil, Índia e China mantêm essas seletivas nacionais para jovens tenistas. Outro destaque foi a catarinense Thaís Maciel, que segue em maio juntamente com a campeã Camilla Bossi para disputar dois torneios na Suíça.

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torneio em itajaí Camilla e Gustavo (acima) venceram. Ao lado, Marcelo Mello, Carlos Trossini e Thaís Maciel

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o heliponto do empreendimento Bravíssima, na Praia Brava, em Itajaí, incorporado pela Taroii, foi montada uma miniquadra de tênis de saibro para marcar o dia da abertura do torneio. “A nossa ideia é motivar e inspirar jovens atletas brasileiros a realizar os seus sonhos e chegar a Roland-Garros”, afirmou Carlos Trossini, CEO do Taroii Investment Group. Rafael Westrupp, presidente da Confederação Brasileira de Tênis, destacou: “É uma oportunidade única para a categoria de base brasileira ter chances de participar de um Grand Slam”. Marcelo Mello, que já foi número 1 do mundo de duplas e agora é embaixador de Roland-Garros, também ressaltou a importância do torneio: “Santa Catarina é estado muito forte no tênis e pôde desfrutar dessa competição. Além disso, é fundamental mostrar para essa criançada que pode acreditar no sonho, assim como aconteceu com o Guga e comigo”. Na verdade, o saibro de Itajaí se tornou um pouco mais parisiense durante o torneio. taroii.com.br

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tem po Por r aphael calles

Os dois novos Rolex Um para o iatismo. O outro, para o mergulho. Foram lançados na maior feira de relógios do mundo A íntima relação da Rolex com o iatismo data dos anos 1950. De lá para cá, a fábrica centenária – fundada em 1905 – vem lançando com frequência modelos que contemplam os apreciadores da navegação. É o caso do Rolex Oyster Perpetual Yacht Master 42, apresentado este ano na Baselworld, a maior feira de relógios do mundo, que acontece na cidade de Basileia, na Suíça. O novo Yacht Master, como já se tornou conhecido, mantém o feitio esportivo da marca de origem britânica e hoje sediada em Genebra. No entanto, abdica do aço em favor de um material menos comum no ambiente marítimo: o ouro branco. A troca ganha ainda mais destaque por conta do novo tamanho do relógio, maior. Sem esquecer a combinação de cores, em preto e cinza. Os 42 mm de caixa tornam a peça um dos maiores modelos da marca. O preto aparece fosco diretamente no bisel, ou seja, no anel giratório graduado em torno do mostrador. Também desponta no plano de fundo do próprio mostrador e na pulseira de

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no convés Rolex Yacht Master 42 mm

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oysterflex – titânio revestido, uma exclusividade da Rolex. A utilização dessa caixa maior na linha Yacht-Master faz supor que o tamanho também será usado em outros modelos da maison. O Sea-Dweller, outra grande novidade deste ano, é até um tiquinho maior. O relógio destinado ao mergulho profissional tem 43 mm. É produzido em aço e ouro amarelo, combinação batizada de Rolesor pela companhia. À primeira vista, lembra bastante o Yacht Master. Mas as diferenças vão além dos materiais escolhidos para a caixa. Basta lembrar que o Sea-Dweller resiste à pressão a até 1.220 metros de profundidade. Para isso, sua caixa é equipada com uma válvula de escape de hélio. Isso evita a explosão do cristal quando submetido ao processo de descompressão de uma câmara hiperbárica. Sobre o mostrador preto, cintilam ponteiros e indicadores revestidos em Chromalight, material luminescente também exclusivo da Rolex. O bisel, de cerâmica preta, apresenta graduação minuto a minutos para os 60 de uma hora cheia, permitindo o cálculo de submersão assim como o de descompressão. Tanto o relógio para iatismo quanto aquele para o mergulho são equipados com o novíssimo mecanismo 3235. Ele proporciona 70 horas de reserva de energia. Outra maravilha: ambos os modelos são duas vezes mais precisos do que exige a insuspeita certificação cronométrica COSC. rolex.com

Um deles tem a caixa de ouro branco. O Outro, de aço e ouro amarelo. o apelo visual é imenso

No mar Rolex Sea Dweller 43 mm

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tem po Por r aphael calles

A era do bronze Panerai lança mão dessa liga de metal em seu novo relógio Bronze, a liga de cobre e estanho sobre a qual aprendemos nos bancos escolares, tem um valor agregado maior do que pensávamos. Ao menos é isso que a indústria relojoeira conseguiu fazer ao inserir o material como principal componente na caixa de seus lançamentos. Por conquistar, ao longo do tempo e do uso, uma pátina única - que varia desde o ambiente onde é mantido até o pH do suor de quem o tem no pulso -, a liga metálica garante o que o mercado de luxo tem de melhor: singularidade. Presente em lançamentos há quase uma década, é cada vez mais comum o dourado velho ser visto por aí. Aproveitando-se de sua familiaridade com as profundezas do oceano, a Panerai acaba de apresentar um novo modelo de sua coleção nesse material: Submersible Bronzo, relógio para mergulho capaz de suportar até 200 metros de profundidade. A robustez dos 47 mm de diâmetro da peça emprega 161 gramas do metal em sua melhor forma: a inconfundível caixa cushion finalizada com o simbólico protetor de coroa patenteado. É ela que abriga um movimento de fabricação in

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mergulhe Resistente a 200 metros

house, responsável por informar horas, minutos, segundos e data por três dias ininterruptos quando completamente carregado. Ou para sempre, já que também é dotado de corda automática. Tais dados auxiliam na medição de tempo de

mergulho quando trabalham em conjunto com o bisel (o anel rotativo em torno da caixa), produzido em cerâmica, com escala graduada até os 15 minutos e incrementos de cinco minutos. panerai.com

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fe sta e m pa rc e r i a co m Ro b e rta K

União perfeita Conheça a origem do bem-casado e os novos sabores do atelier Roberta K

Parente distante do legítimo alfajor espanhol, nosso famoso bem-casado chegou ao Brasil pelas mãos da coroa portuguesa. Ele é delicado e muito parecido com o macarron francês. Em seu país de origem, onde é chamado de casadinho, os bem-casados são preparados com a mesma massa macia de um pão de ló. Considerada um dos mais tradicionais doces de casamento nos dois países, a iguaria traz a simbologia da união e da cumplicidade. Isso porque o bem-casado é preparado em duas partes iguais, em massa que se unem por um doce recheio – em Portugal, baba de moça; no Brasil, doce de leite. Tudo isso fica ainda melhor quando os doces são embalados com papel crepom e um laço bem charmoso. Segundo reza a tradição, um delicioso bem-casado servido ao final de festas e confraternizações traz sorte e prosperidade aos convidados, simbolizando um compromisso mútuo de fidelidade e respeito entre pares e parceiros. E isso não vale apenas para casamentos. Aniversários, festas corporativas e todo tipo de celebração têm um grand finale com o bem-casado. Talvez por isso a procura por esses doces tem se tornado crescente a cada ano. Da mesma forma, novos recheios estão surgindo nas últimas décadas. Hoje, não é só o doce de leite que sela a união de um bem-casado. Recheios tropicais e até exóticos têm se tornado uma constante em ateliês criativos, como o da patissier Roberta Knudsen, instalado na capital paulista. De origem europeia, uma mistura interessante entre Alemanha, Dina-

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marca e França, a paulista Roberta Knudsen é apaixonada pelo mundo dos doces, e vem trabalhando o aperfeiçoamento da receita e a adequação do sabor dos bem-casados ao paladar dos brasileiros há mais de dez anos. Mas para a expert em bem-casados chegar ao que ela hoje chama de perfeição foi uma tarefa difícil. “A receita ideal chegou ao ponto exato à custa de muito esforço, caixas de ovos e bastante leite condensado”, conta a proprietária do atelier Roberta K. Hoje, são mais de 100 fornadas por mês de uma receita única, que a patissier guarda a sete chaves. Entre os campeões de vendas do seu atelier – claro, além do tradicional doce de leite –, vêm ganhando destaque os sabores limão siciliano, cappuccino e cenoura com chocolate. Como resistir? Instagram: @robertakbemcasados roberta.knudsen@gmail.com

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a li m entos e m pa rc e r i a co m I n t e r m e z zo G o u r m e t

“a empresa enxergou a oportunidade de atender a consumidores ainda mais exigentes”

Especialista em carnes Sylvio Lazzarini, da Intermezzo Gourmet, garante origem e qualidade dos melhores rebanhos e cortes do mundo Em 2001, em uma de suas andanças pelos Estados Unidos, o restaurateur Sylvio Lazzarini, proprietário da premiadíssima churrascaria Varanda Grill, em São Paulo, visitou a Kansas City Company. A empresa processa e vende carnes bovinas de altíssima qualidade, com seleção na origem e nos melhores centros de produção dos Estados Unidos. Ali Lazzarini enxergou a oportunidade de abrir o mesmo negócio no Brasil. Até porque já havia sido pecuarista especializado em gado de alto padrão.

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Ele tinha um objetivo claro: levar a excelência ao consumidor brasileiro. As carnes viriam de rebanhos selecionados com base em fatores raciais e tecnologia de produção. E muito importante: selo de origem comprovada. Naquele mesmo ano, nasceu a Intermezzo Gourmet, empresa estabelecida no tradicional bairro da Mooca, em São Paulo. “A princípio, a ideia seria suprir os restaurantes que demandavam carnes de alta qualidade, como Varanda, Tre Bicchieri, Vecchio Torino, Ráscal, Ritz, Spot”, conta Lazzarini. “Com o tempo, a empresa enxergou a oportunidade de atender também a consumidores exigentes em qualidade e alto padrão de atendimento.” Essa demanda levou à criação da Intermezzo Excelência. “A nova empresa oferece um atendimento especializado, eficiente e rápido, com entregas em até três horas e com preços altamente competitivos”, revela o em­presário. A Intermezzo garante ao consumidor final produtos com certificação de qualidade na origem, representados pelos selos de origem da Associação dos Produtores de Angus e da Associação dos Produtores de gado Wagyu, de origem japonesa. Intermezzogourmet.com.br

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A COSTELA SUÍNA SEARA GOURMET é extremamente macia e suculenta, desmanchando na boca. Vem acompanhada de um delicioso molho barbecue que a torna ainda mais saborosa.

Fruto de uma receita artesanal, o PRESUNTO ROYAL é marinado no vinho e passa por um processo de cura de três dias, proporcionando um sabor sofisticado e especial.

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Para os paladares mais exigentes Aqui estão duas receitas de preparo simples, mas que fazem bonito na mesa receita 1

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tempo 40 min | porções 4

tempo 50 min | porções 1

ingredientes

Para o molho:

› 1 peça de Costela Barbecue Seara › 4 batatas grandes › 1 xícara (chá) de leite › 3 colheres (sopa) de manteiga › Sal a gosto › Queijo parmesão para gratinar › Salsinha a gosto

› 1 colher de sopa de manteiga › 1 cebola ralada › 1 colher de sopa de farinha de trigo › 2 xícaras de creme de leite › Noz-moscada ralada a gosto › Sal a gosto

ESCONDIDINHO DE COSTELA

Preparo

Cozinhe as batatas em água fervente. Quando estiverem macias, esprema, fazendo um purê. Ajuste a cremosidade do purê com o leite e a manteiga e tempere com sal a gosto. Desfie a costela e misture ao molho barbecue. Acomode a carne em um refratário e salpique com salsinha a gosto. Cubra a costela com o purê e espalhe o parmesão ralado por cima. Leve ao forno ou grill e deixe até aquecer a carne e dourar o queijo.

CROQUE MADAME COM PRESUNTO ROYAL

Preparo

Derreta a manteiga e refogue nela a cebola ralada. Acrescente a farinha, mexa bem e deixe dourar levemente. Despeje o creme e mexa bem até engrossar. Desligue o fogo e tempere com o sal e a noz-moscada. Reserve. Para a montagem

› 8 fatias de pão › 4 colheres de sopa de manteiga › 400 g a 500 g de Presunto Royal Seara › 200 g de queijo tipo meia cura ou mozzarella › 4 ovos › Sal e azeite a gosto PREPARO FINAL

para harmonizar Na escolha do vinho, prefira a elegância da pinot noir e a versatilidade da merlot.

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Passe a manteiga nos pães e doure-os na frigideira. Monte quatro sanduíches recheando as fatias de pão com o queijo e o presunto. Coloqueos em uma assadeira e cubra cada um com um pouco de molho. Leve ao forno e asse até dourar. Frite os ovos no azeite, tempere com sal e sirva sobre os sanduíches. Sirva na hora.

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e v en to

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a noite do pajero sport Lançamento da campanha do Mitsubishi Pajero Sport reúne no MIT POINT, em São Paulo, o fotógrafo Sebastião Salgado, o maestro João Carlos Martins e o cineasta Fernando Meirelles Foi uma noite e tanto. No dia 11 de abril, no MIT Point, no Shopping Center Iguatemi JK, em São Paulo, lá estavam reunidos três artistas brasileiros realmente internacionais: o fotógrafo Sebastião Salgado, o maestro João Carlos Martins e o cineasta Fernando Meirelles. Eles são protagonistas da

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campanha publicitária do novo Mitsubishi Pajero Sport. Na ocasião, houve a avant-première dos comerciais e um coquetel que reuniu personalidades como o velejador Torben Grael, as jornalistas Joyce Pascowitch e Lilian Pacce, o apresentador Otávio Mesquita e o empresário Bruno Van Enck.

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d os h o lo fote s 1. Fernando Meirelles, João Carlos Martins, Sebastião Salgado e Waldick Jatobá; 2. Salgado; 3. Martins posa para Maurício Nahas; 4. Meirelles; 5. Renata de Souza Ramos, Eduardo de Souza Ramos e Guiga Spinelli; 6. O público assiste à avant-première da campanha do 7.

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Mitsubishi Pajero Sport; 7. Robert Rittscher

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e s ti v e r a m l á 8. Eduardo de Souza Ramos, Juscelino Russo e Sebastião Salgado; 9. Carlos Jereissati Filho; 10. Fernando Julianelli; 11. Otávio Mesquita; 12. David Oliveira e Paula Lima; 13. Tuca Reinés e Corinna Sagesser; 14. Joyce Pascowitch; 15. Torben Grael; 20.

© andré ligeiro

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16. Lilian Pacce; 17. Augusto Falletti; 18. Console do novo Pajero Sport; 19. Bruno Van Enck; 20. Chris Saddi.

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e v ento

Cheers! Personagens de capa, patrocinadores e parceiros se reúnem nas festas e nos coquetéis da THE PRESIDENT As edições 35 e 36 de THE PRESIDENT movimentaram o mercado editorial e publiciário. Em nova fase, a publicação preparou eventos para celebrar suas entrevistas de capa, junto com anunciantes, colaboradores e parceiros. Outros eventos vão movimentar a nossa agenda em 2019. Acompanhe.

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d e S u c e sso 1. Alexandre Frankel; 2. Ygor Moura; 3. Paulo Morais e Marcia Morais; 4. Alexandre Garcia; 5. Barman prepara drinques com o café Orfeu; 6. Amanda Capucho; 7. Fernando Paiva e Alexandre Garcia; 8. Juan David, André Cheron e Katia Robles; 8.

© Rafael Vieira | Carlos Paszko e equipe

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9. Amanda nas páginas da revista

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Brilha uma estrela Lady Gaga é simplesmente a artista global mais conectada com o espírito do tempo

Por Ronaldo Bressane

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Em apenas uma década, Stefani Joanne Angelina Germanotta, 33 anos, conquistou tudo no mundo do showbiz. Incluindo um Oscar. Compositora, cantora, performer, pianista e ativista política, adicionou a esses dons o talento de atriz. Começou atuando na série televisiva American Horror Story: Hotel. Ganhou um Globo de Ouro pelo desempenho. Seguiu-se a indicação ao Oscar por seu trabalho em Nasce uma Estrela (2018). Não levou. Mas recebeu a estatueta pela melhor canção original, com "Shallow". Dessa maneira, Lady Gaga tornou-se a primeira artista musical a vencer cinco premiações na mesma temporada: Oscar, Grammy, Globo de Ouro, Bafta e Critics' Choice. Infernal essa loura.

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onhecida pelo corpo insinuante, estilo extravagante, letras provocantes e voz estupenda, Lady Gaga alcançou o estrelato com músicas do quilate de “Just Dance”, “Bad Romance” e “Born This Way”. Se você observar com atenção, sua ascensão não teve nada de meteórica. Foi racionalmente concebida, em perfeita conversa com o zeitgeist. Sempre comparada a Madonna por conta de sua ascendência mediterrânea e do talento para ocupar a mídia, Stefani nasceu em uma família ítalo-americana em Nova York. Aprendeu as primeiras noções de música bem cedo. Adolescente, já se apresentava em clubes da cidade. Frequentou uma escola para boas moças, o Convento do Sagrado Coração, em Manhattan, antes de estudar música na Universidade de Nova York. Fã ardorosa de Freddie Mercury, foi buscar no hit “Radio Ga Ga” a inspiração para seu nome artístico, criando um estilo que combinava o glam rock de David Bowie com o fashionismo de vanguarda de Alexander McQueen. Versátil, compôs para Fergie, Pussycat Dolls e Britney Spears. Em 2007, assinou com a gravadora Interscope e começou a preparar o primeiro álbum. Embora Gaga tenha se inspirado em artistas teatrais como David Bowie (durante seu período Ziggy Stardust), os New York Dolls, Grace Slick e, claro, Freddie Mercury, ela criou uma personagem que veio ocupar um espaço único. Sua moda, elaborada por sua criativa equipe Haus of Gaga, combinou com sua música de dança sintética e sua performance teatral para inventar sons e visuais impressionantes. Seu visual, repleto de deslumbrantes perucas e trajes espaciais, sempre teve imenso apelo erótico. O primeiro single, “Just Dance”, tornou-se popular em clubes dos Estados Unidos e da Europa e, por fim, chegou ao primeiro lugar na Billboard. Três outros singles –“Poker Face”, “Love Game” e “Paparazzi” – chegaram ao topo nas rádios. O álbum de estreia, aclamado por crítica e público, vendeu mais de 8 milhões de cópias. Também rendeu cin-

As revistas americanas Time e Forbes a listaram entre as mulheres mais influentes e poderosas do planeta

co indicações ao Grammy. O segundo álbum, The Fame Monster, lançado em 2009, produziu outro hit-instantâneo, “Bad Romance”. A ele se seguiram “Alejandro” e “Telephone” – cujo clipe de nove minutos ela repartiu com outra diva, Beyoncé. Rainhas só dividem o palco com rainhas. Ao longo de 2010, encabeçou o festival Lollapalooza de Chicago e cantou à frente de 20 mil pessoas no programa Today, da NBC. Entrou na lista das 100 pessoas mais influentes da revista Time e foi indicada pela Forbes como uma das mulheres mais poderosas do mundo. O terceiro álbum, Born This Way (2011), suscitou mais comparações com Madonna. A faixa-título foi um hino do girl power. Pois é, ao estilo do single de Madonna de 1989, “Express Yourself”, enquanto “Judas” misturava descaradamente imagens sexuais e religiosas. Dois anos depois, Gaga levou às lojas o álbum Artpop, sua primeira decepção comercial. Era hora de se reinventar, para se manter no topo. Talvez uma volta ao passado, quem sabe? Poderia render mais uma camada a esta Frankenstein do pop. E assim foi. Para surpresa geral, lançou em 2014 Cheek to Cheek, uma coleção de standards ao lado do classudo cantor Tony Bennett, então com 88 anos. Um álbum que foi ao topo da Billboard 200, tal como nas paradas de jazz e jazz tradicional, ganhando o Grammy de melhor álbum vocal pop tradicional. O disco seguinte, Joanne (2016), relativamente discreto, teve um desempenho fraco até que sua performance estrondosa no intervalo do Super Bowl a catapultou de novo às manchetes.

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Ao assumir sua bissexualidade, Gaga criou e cultivou seguidores extremados, sobretudo entre os homens gays

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o lado da carreira musical, Lady Gaga foi se capacitando como atriz, aparecendo em filmes como Machete Kills (2013) e Sin City: Uma Dama para Matar (2014), além da série American Horror Story: Hotel (2015–16). Mais que mulher, Lady Gaga é um monstro engolidor de números, títulos e imagens. Ao reconhecer e divulgar sua bissexualidade, criou e cultivou seguidores extremados, sobretudo entre os homens gays. Lutou bravamente pelos direitos dos homossexuais. Em especial, pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo, sendo oradora de destaque na National Equality March de 2009 em Washington, D.C. Para muitos gays, Gaga é a personificação da coragem de se assumir diferente dos padrões. Não à toa seus hits tornaram-se a música de fundo em todo clube gay que se preze. Há muito tempo que ícones pop femininos são centrais na cultura homossexual – talvez desde Cleópatra (ou desde Lilith?). Alguns dizem que os homens gays vivem através de sua sexualidade; teorias freudianas sugerem que elas são como mães substitutas. Pode-se sugerir que as brilhantes baladas pop de Gaga sobre a superação do amor e da perda fornecem um alegre escapismo, iluminando com sua luz estroboscópica um mundo obscurecido pelas sombras do HIV e da homofobia. Sim, é possível pensar que Gaga não fez nada além do que copiar Madonna, Cher e Diana Ross, ao fornecer glamour e sensação de pertencimento. Mas o lugar especial que esculpiu nos corações dos gays não pode ser reduzido ao seu talento para trocar de perucas.

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Tudo bem que bissexuais como David Bowie e Freddie Mercury, gays como Boy George e Elton John ou até heterossexuais como Prince tenham sido modelos revolucionários queer. Eles desestabilizaram as categorias de gênero décadas antes de Gaga. Mas, para a juventude que já nasceu conectada à internet, tais ícones andróginos estavam fora de alcance. La Gaga virou o mundo dos jovens gays de cabeça para baixo. Pessoas que sofriam de ansiedade crônica, ligada a anos de bullying, percebiam a escola como um inferno diário, mas, depois que Gaga explodiu, ganharam força para usar óculos incrustados de diamantes e pintar os cabelos de verde. Os insultos nos corredores perderam o poder. PÊNIS PROTÉTICOS alteridade de Gaga fez como que a alteridade de seus fãs parecesse mais ambiciosa do que dolorosa. Ela fez pela geração millennial o que Bowie havia feito 30 anos antes. Expandiu os limites do palatável. Repopularizou a teatralidade em trajes ultrajantes, mudando de maneira compulsiva o estilo de seu penteado. Forçou o público a questionar as características de gênero e o próprio corpo, com pênis protéticos. Foi a vanguarda do renascimento da estranheza na cultura pop. Gaga recriou o espírito vanguardista revolucionário de Bowie e Prince sincronizando seus lábios aos legados de Cher e de Madonna. Enquanto milhões de jovens heterossexuais admiravam seu corpo bem desenhado (sobretudo pelos dotes calipígios), outros milhões de jovens gays usaram seu exemplo para construir suas próprias identidades em pequenas cidades caretas. Sem Lady Gaga nas paradas, muitos garotos esquisitos teriam ficado sem referências. Dez anos depois de ter surgido, o legado de Gaga é um admirável novo mundo. Por isso é que, ao se desnudar de todas as referências e voltar-se ao passado de cara limpa em um filme como Nasce uma Estrela, ficamos surpresos: qual será o próximo passo de Lady Gaga? Ou melhor, qual será seu próximo rosto? TP

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GIRL POWER Muito estilo, seja em anúncio de perfume ou com o Grammy ou o Oscar. Nas outras fotos, nos filmes Machete Kills e Nasce uma Estrela

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A voz

primeira Desde que o samba é samba é assim: a Mangueira inventa; as outras escolas seguem o ritmo

Por Roberto Muggiati

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“Entre o luxo e a ideia, sigo voando alto nos braços de uma boa ideia! Simbora, Mangueira. Boas ideias nos deram asas! É nosso, meu povo! Só tem herói no meu morro.” A comemoração do carnavalesco Leandro Vieira logo após a vitória no Carnaval de 2019 mostra bem o espírito da Estação Primeira da Mangueira, detentora de 20 campeonatos em 90 anos de desfiles. O enredo deste ano também reflete admiravelmente a invenção e ousadia que são o diferencial da verde e rosa. Nada de castelos no ar, mas os pés na terra sambando sempre centrados na questão social. Diz a letra: “Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento/ Tem sangue retinto pisado/ Atrás do herói emoldurado/ Mulheres, tamoios, mulatos/ Eu quero um país que não está no retrato”.

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tema da Mangueira,“História para Ninar Gente Grande”, exalta os personagens negros omitidos nas páginas oficiais, como a líder quilombola Dandara, mulher de Zumbi dos Palmares; Luisa Mahin, ativista da revolta dos Malês, e, voltada para o presente, a figura de Marielle Franco. O carisma da Mangueira é tanto que uma semana após o desfile foram indiciados os matadores da vereadora. A história da escola poderia ser contada na forma de um de seus sambas-enredos: Era uma vez, na região central do Rio de Janeiro, um morro coberto de mangueiras que dava para os fundos do Palácio Imperial da Quinta da Boa Vista. Ao pé do morro havia uma estação de trem, a Estação Primeira. No começo do século 20, os primeiros

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diz no pé “Em Mangueira a poesia/ Num sobe e desce constante/ Anda descalça ensinando/ Um modo novo da gente viver" ("Sei lá, Mangueira", de Herminio Bello de Carvalho e Paulinho da Viola)

passou a ser a padroeira do morro. Havia também os cultos de candomblé e umbanda, reunindo-se nos barracos que serviam como templos. Nesses terreiros ocorria a fusão do candomblé, que batia tambor, com os batuques e danças, como o semba (umbigada, do quimbundo), que virou samba. TEMPOS DO ANGENOR ma das rodas de samba mais famosas no início do século 20 era a de Tia Ciata, na praça Onze. Baiana de Santo Amaro da Purificação, ela veio para o Rio de Janeiro aos 22 anos, no rastro do que ficou conhecido como a “diáspora baiana”, início dos 1880s. Começou a ganhar a vida como quituteira no centro da cidade, sempre com as vestes típicas de baiana. Casou-se com um funcionário público, o que lhe deu certa estabilidade – e 14 filhos. Os rebentos não impediram suas atividades no terreiro, onde era cozinheira de mão cheia e anfitriã impecável nos “pagodes”. Ou seja, festas dançantes, regadas a música e comida e bebida. Cada vez mais sambistas se reuniam na Casa de Tia Ciata, entre eles os da Mangueira, que ainda não existia como agremiação oficial. Ali foi criado o primeiro samba gravado em disco, em 1917 – “Pelo Telefone” –, uma composição de Donga e Mauro de Almeida, na voz do cantor Baiano, também nascido em Santo Amaro da Purificação. Foi a vontade de levar aquela música para além do gueto das “tias” baianas que acabou empurrando o samba para o asfalto. Na época, a polícia impedia com todas as suas forças que os blocos descessem o morro e “invadissem” a cidade. O termo “escola de samba” surgiu com forte carga irônica – os sambistas costumavam ensaiar em

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moradores instalaram ali seus barracões. Outros construíam casas para alugar, como o português Tomás Martins, padrinho do futuro compositor e poeta Carlos Cachaça, que, aos 8 anos, vivia no morro e assinava os recibos dos aluguéis pelo padrinho, que era analfabeto. Surgia assim uma comunidade de gente pobre, em sua maioria negros, filhos e netos de escravos, mergulhada nas manifestações religiosas e culturais do seu segmento social. Do Natal ao Dia de Reis, grupos de pastores e pastorinhas saíam pelas ruas entoando cantorias. Os católicos construíram uma capela a Nossa Senhora da Glória, que

© agência o globo | reprodução

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TIA CIATA (1854-1924) É figura central do desenvolvimento do samba

DONA ZICA (1913-2003) inspirou sambas de Cartola como “Nós dois” e “Tive, sim”

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carlos Cachaça (1902-1999) Um dos fundadores

nelson Sargento Aos 94 anos, é o mais velho da ala dos compositores

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frente a uma escola de fato. A Deixa Falar foi a primeira delas, fundada no Estácio em 12 de agosto de 1928 por Ismael Silva e outros bambas. Era ali, no morro de São Carlos, que soava o primeiro apito convocando as outras escolas. Em 1929 a Deixa Falar fez um pequeno desfile no Estácio e na praça Onze, com blocos de Oswaldo Cruz, Mangueira e outros bairros. Um jornal noticiava que “haverá um policiamento severo não só do 8º Distrito, como da Polícia Central”. Em 1929 aconteceu o primeiro concurso de sambas, na casa de Zé Espinguela, vencido pelo Conjunto Oswaldo Cruz, e do qual também participaram a Mangueira e a Deixa Falar. Muitos consideram este o marco da criação das escolas de samba. Mas elas ainda eram consideradas variações dos blocos, até que, em 1932, o jornal Mundo Sportivo, do jornalista pernambucano Mário Filho (irmão do dramaturgo Nelson Rodrigues), organizou o primeiro Desfile de Escolas de Samba, na praça Onze. O evento ganhou cunho oficial a partir de 1935, com as escolas de samba institucionalizadas como atrações do Carnaval pelo Conselho de Turismo do Rio de Janeiro. Bicam­peã em 1932 e 33, a Mangueira começa a se impor. Em 1936, “O Destino Não Quis”, de Cartola e Carlos Cachaça, foi considerado o melhor samba e deu à escola o vice-campeonato. Manoel Bandeira adorava o seu dodecassílabo “Semente de amor sei que sou desde nascença”. Considerava perfeito. A própria Mangueira dá como data de sua fundação 28 de abril de 1928, o que a faria anterior até à Deixa Falar. Quem desenhou a escola na ponta do lápis foi o compositor Angenor de Oliveira, mais conhecido como Cartola. Escolheu seu nome (Estação Primeira) e suas cores, verde e rosa – coloração ácida quase meio século antes da explosão da moda psicodélica! (Na verdade, verde e rosa eram as cores do bloco Rancho dos Arrepiados, de Laranjeiras, uma paixão de infância de Cartola, antes de se mudar para a Mangueira aos 11 anos.) O nome Angenor – deveria ser Agenor – foi um

erro de cartório, mas ficou. O apelido Cartola vem da época em que trabalhou como pedreiro e usava um chapéu-coco para proteger a cabeça dos respingos de cimento. Cartola ficou longos períodos afastado do samba, vivendo de biscates – vigia de edifício, lavador de carros. Foi vestindo um macacão molhado que encontrou por acaso o jornalista Sérgio Porto tomando um cafezinho num botequim de Ipanema em 1956. O compositor deixara a Mangueira quando morreu sua primeira mulher e era dado por muitos como desaparecido ou morto. Sérgio Porto trouxe Cartola de volta ao mundo da música, em shows e programas de rádio. Entre 1963 e 65, com a nova mulher, Zica, Cartola comandou na rua da Carioca o restaurante Zicartola, que se tornaria um ponto de encontro para sambistas e bossanovistas, um intercâmbio que abria vistas mais largas para a MPB.

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bandeira do divino “Temos orgulho de ser os primeiros campeões”, cantou o divino Cartola (1908-1980), o artista que deu o nome à escola e escolheu suas cores: o verde e rosa, bandeira de esperança de toda uma nação do samba

A Mangueira foi a primeira escola a criar a ala de compositores, incluindo mulheres. Mantém, desde sua fundação, uma única marcação, com o surdo de primeira, na bateria. Marcelino Claudino, o Maçu, introduziu as figuras de mestre-sala e porta-bandeira no Carnaval. O puxador de samba – o nome diz tudo – é essencial para o sucesso de uma escola. Um dos gigantes dessa arte foi José Bispo Clementino dos Santos, o Jamelão. Ainda jovem, deixou o tamborim para se tornar o puxador da escola, o que foi durante mais de meio século – de 1949 a 2006, com exceção apenas de 1985. Com inteligência e coragem, a Mangueira afrontou quase 30 anos de censura - oito no Estado Novo de Getúlio Vargas, 21 durante a ditadura militar - e fala de si mesma na letra deste ano: “Quem foi de aço nos anos de chumbo”. AQUI É O PARANGOLÉ miscigenação cultural entre a Mangueira e as vanguardas da classe média, ao longo das décadas, se intensificou quando a escola investiu nos enredos “Carlos Drummond de Andraden no Reino das Palavras” (1987), “Chico Buarque da Mangueira” (1998) e “Maria Bethânia: A Menina dos Olhos de Oyá” (2016), contemplados com o campeonato. Foi também na Mangueira que o artista plástico Hélio Oiticica criou e aperfeiçoou seus parangolés, as capas coloridas com as quais fazia suas intervenções, inspiradas no gestual da escola. O nome estava na placa do abrigo de um mendigo no morro: “AQUI É O PARANGOLÉ”. O namoro do dinheiro com as escolas de samba ganhou nova dimensão a partir de 1984 com o Sambódromo de Oscar Niemeyer e a praça da Apoteose, idealizada por Darcy Ribeiro. Com sua profusão de camarotes, ele se tornaria uma grande vitrine para a superexposição de produtos e egos. Com o desfile da Marquês de Sapucaí exaltado como “o maior espetáculo da Terra”, colocar uma escola de samba na “avenida” tornou-se uma empreitada complexa e onerosa. Quase equivalente ao lançamento de um foguete espacial. E isso – sem abrir mão de sua exaltação às “Marias, Mahins, Marielles, Malês” – a verde e rosa sempre soube fazer com admirável perfeição. TP

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Que não se

perca pelo

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Diversas receitas portuguesas de bacalhau têm os batismos mais esdrúxulos. Aqui estão as mais saborosas – e divertidas

Por J. A. Dias Lopes

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Os portugueses ensinaram o mundo a comer bacalhau – e não só o Brasil e países de sua colonização. Quem avalizou isso foi Auguste Escoffier (1846-1935), o chef que revolucionou não apenas a cozinha francesa, mas a própria culinária ocidental. “Devemos aos portugueses o reconhecimento por terem sido os primeiros a introduzir, na alimentação, este peixe precioso, universalmente conhecido e apreciado.” Portanto, é compreensível que o povo lusitano disponha da maior coleção de receitas de bacalhau do mundo. São tantas que eles arredondam o número para “um milhar mais um”. Preparam-nas de todos os jeitos, no fogão, no forno ou na brasa. Consomem cerca de 70 mil toneladas de bacalhau por ano, algo equivalente a 7 quilos per capita, enquanto seus vizinhos espanhóis, por exemplo, não passam de 1 quilo por habitante. É tamanho o apreço pelo peixe capturado nas águas frias dos mares que circulam o Polo Norte que eles o chamam de “fiel amigo”. Poderia ser “fiéis amigos”, uma vez que a palavra bacalhau designa não exatamente um determinado pescado – mas sim um processo que resulta da salga e desidratação de alguns peixes específicos, sendo o mais notório (e apreciado) o Cod (Gadus morhua), chamado de “bacalhau legítimo”.

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atizar “um milhar mais um” de receitas não foi problema para os portugueses, embora certos nomes que escolheram nos façam rolar de rir. O mais irreverente é uma entrada denominada punheta de bacalhau: lascas cruas do peixe salgado e desidratado, demolhadas lentamente, servidas com um molho de azeite, cebola, alho, salsa e, às vezes, vinagre. A designação punheta viria da montagem do prato. A receita manda pressionar com o punho o peixe. O escritor gastronômico transmontano Virgílio Nogueiro Gomes, porém, acredita que “a designa-

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ção foi dada mais pelo gesto de esfarripar o bacalhau, que se assemelha ao do onanismo”. Pessoa educadíssima, ele usa um eufemismo. A cozinha de Salvador, na Bahia, também se dedica a uma punheta. Nesse caso, porém, sem nenhuma relação com a portuguesa. Trata-se de um bolinho à base de tapioca e leite de coco. Chama-se punheta ou punhetinha devido aos movimentos feitos com o punho em seu preparo. Pode-se creditar o nome debochado ao bom humor e ao modo descontraído dos baianos levarem a vida. A punheta soteropolitana pode ser “seca”,

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quando servida pura, ou “molhada”, se passada em açúcar e canela. O quitute baiano também é chamado de bolinho de estudante, nomeação pudica que o escritor baiano Jorge Amado rejeitou. No romance O Sumiço da Santa (Companhia das Letras, São Paulo, 2010), ele faz um dos personagens rebater: “Como é mesmo tia Romélia? E tu não sabe, menina? Olha que tu sabe muito bem, o nome é punheta, bolinho de estudante é pronúncia de besta!”. No caso do bacalhau português, há também o constipado, no qual postas do peixe assam nas brasas e são finalizadas com molho de azeite quente, vinagre e colorau. Acompanham batatas cozidas em rodelas. Seu nome deriva certamente do processo de preparo: cada vez que as postas são viradas na grelha devem ser passadas em água fria, recebendo um choque térmico. Se o golpe fosse dado em um ser humano, provocaria congestão nasal.

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O rei chegou sem ser esperado e a cozinha teve de improvisar. Nascia mais um clássico

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utro nome curioso é o bacalhau à cobra. Paradoxalmente, a receita não manda o cozinheiro incorporar o ofídio repulsivo. Porém aconselha o nobre Cod cortado em quadrados, marinado no leite, empanado, frito no azeite e regado com molho de vinho do Porto. Por que cobra? Talvez o autor fosse uma pessoa de má índole ou maus bofes. Há ainda o bacalhau à nabão, nome mais fácil de entender. Não veio da planta herbácea cultivada por suas raízes comestíveis, nem foi dado por alguém que estava “na naba, ou seja, na pior. Nabão é um afluente do Zêzere, rio que passa na cidade de Tomar, na sub-região do Médio Tejo. A receita surgiu naquela área. O peixe é cozido, desfiado em lascas e vai à mesa com molho de manteiga, leite, farinha de trigo e gemas. Não nos esqueçamos do bacalhau à tia Narcisa. Soaria estranho se ignorássemos que sua autora não era uma narcisista, ou seja, uma mulher demasiadamente vaidosa e que se considerasse acima das demais, mas uma simples e talentosa cozinheira, batizada com esse nome antigo. Ela nasceu em Braga, cidade no norte de Portugal e centro da antiga região do Minho. No preparo da receita, envolve-se o bacalhau em folhas de couve e se leva

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ao fogo para secarem. A seguir, recheia-se com tiras de presunto e finaliza-se, ainda no forno, com cebola, alho, tomate e azeite. Existe ainda o bacalhau à Zé-do-Pipo, apelido de José Valentim, dono de um restaurante tradicional da cidade do Porto e pai da receita. Surgiu na década de 1940. Zé-do-Pipo ficou conhecido por vencer um concurso chamado “a melhor refeição ao melhor preço”. Sua receita leva bacalhau, maionese, purê de batata, cebola, leite, azeite e azeitonas, entre outros ingredientes. Finalmente, gratina no forno. Por que Zé-do-Pipo? A resposta envolve especulações. Pipo significa pequeno barril, recipiente bojudo de madeira, rolha delgada para tapar o suspiro de uma vasilha ou o orifício por onde se enche de ar um pneu, uma boia etc. Também designa uma variedade de maçã e outra de pera, e o ventre proeminente de uma mulher grávida. Entretanto, pela excelência do bacalhau que criou, Zé-do-Pipo mereceria um significado dignificante para seu apelido. Vamos lá! Pipo é ainda uma pessoa que todo mundo quer ser. “Aquele cara é um pipo de tão gostoso”, diz o povo. Em se tratando do fiel amigo, os portugueses são mesmo engenhosos. O que dizer do bacalhau à bruxa de Valpaços? A receita com esse nome foi inventada por uma

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mulher chamada Maria de Jesus Mourão. Ela morava em Valpaços, cidade do norte de Portugal, cujo município faz divisa com Chaves, Mirandela e Murça. Viveu entre os séculos 19 e 20, “tendo falecido depois de 1910”. Portanto, uma bruxa tardia. Conta-se que “enfrentou problemas com a República”. Como a monarquia foi deposta em Portugal no mês de outubro de 1910, obviamente Maria Mourão morreu depois. Desconhecem-se as bruxarias que fazia. Monta-se o bacalhau à bruxa de Valpaços em camadas, com cebola, batata, toucinho e temperos; rega-se com azeite, leva-se ao fogo em panela de barro.

PUNHETA DE BACALHAU Rende 8 porções

A RECEITA QUE NUNCA CHEGA o que dizer do bacalhau espiritual, que nada tem a ver com o mundo imaterial e nem remete à glória do céu? Pica-se o peixe, junto com cebola e cenoura, acrescentando-se molho bechamel. Adiciona-se mais bechamel, polvilha-se com queijo ralado e se leva ao forno para gratinar. Por último, há o bacalhau nunca chega. Foi criado para D. Carlos 1º, rei de Portugal e Algarves de 1889 até o seu assassinato por dois republicanos ensandecidos, em 1908. O soberano chegou faminto de uma caçada e, como não era esperado e faltavam mantimentos na despensa, a cozinha improvisou uma receita. Ele gostou tanto do prato que não parava de comê-lo – daí o nunca chega. Este bacalhau tem preparo relativamente simples. Demolha-se o peixe, cozinha-se rapidamente em leite ou água, escorre-se, desfia-se em tiras e doura-se no azeite, com cebola, presunto e salsinha. A seguir, incorporam-se ovos batidos à mão e pimenta-do-reino moída; no final, acrescenta-se batata palha. Os portugueses têm cada uma, ora pois!

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INGREDIENTES • 1/2 kg de bacalhau sem pele e sem espinhas, já dessalgado • 2 cebolas grandes (podem ser brancas ou roxas) cortadas em finas rodelas • 1 ou 2 dentes de alho picados • 1 maço de folhas de salsinha picadas • 1 maço pequeno de cebolinha verde picada • 2 colheres (sopa) de vinagre de vinho branco • 2 folhas de louro • Azeitonas portuguesas a gosto • Azeite de oliva para regar • Sal a gosto (se necessário) ACOMPANHAMENTO • Fatias de broa de milho ligeiramente torradas.

PREPARO 1. Escorra bem o bacalhau e desfie-o em tiras. Coloque-o dentro de um pano de prato, torcendo-o, para que perca toda a água. 2. Passe o bacalhau para uma tigela e regue-o com um pouco de azeite. 3. Dê um ligeiro golpe de água quente nas cebolas e no alho, cuidando para que não cozinhem. Escorra. 4. Acrescente a cebola e o alho ao bacalhau, na tigela. Junte a salsinha, o vinagre, o louro, as azeitonas, a cebolinha verde e misture. 5. Cubra e deixe marinar na geladeira, por no mínimo 12 horas. 6. No dia seguinte, ajuste o sal se for necessário, regue com um pouco mais de azeite e sirva a punheta de bacalhau fria, sobre as fatias de broa de milho. TP

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Faro fino Cães têm até 100 mil vezes mais sensibilidade aos odores que nós. Daí por que são convocados a descobrir de traficantes a trufas

Por Sergio Crusco

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em equipe Na temporada de caça, na Inglaterra, grupos de sabujos entram em ação

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“Vocês têm faro de sabujo!”, exclamavam as mães quando as crianças descobriam, antes da hora, um doce escondido na cozinha. Aquele mesmo preparado para receber as visitas – e, portanto, proibido enquanto elas não chegavam. Diante disso, a gurizada se sentia um beagle igual aos dos filmes de época que retratavam grandes caçadas. Ou seja, o cão capaz de indicar em

a taça é dele O collie mestiço

segundos a localização da perdiz

Pickles tornou-se

abatida ou da raposa alvejada.

Ao lado, cães

Várias gerações viveram e vivem

herói em 1966. farejam trufas

com a imagem do cão farejador no imaginário, seja pelos filmes com cenas de caça em campos ingleses ou de resgates na neve do Himalaia. Ou ainda pelas histórias de cães como o recordista labrador Choko, que até 2017 havia ajudado a polícia da Colômbia a apreender mais de uma tonelada de drogas de variados matizes psicotrópicos, sobretudo maconha e cocaína.

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Não raro esses cães entram na lista dos inimigos dos traficantes, caso de outro animal colombiano, o pastor-alemão Sombra, cuja cabeça valeria U$ 7 mil, oferecidos pelo cartel Clã do Golfo. Ou Boss, um labrador carioca famoso pelo faro certeiro, jurado de morte pelos traficantes do Rio de Janeiro. São assim os sabujos, cães especialmente dotados e treinados para detectar objetos, animais, substâncias, pessoas e até atuar em diagnósticos médicos, identificando tipos de tumor ou diabetes. A expressão que os define em inglês – scent hounds – é curiosa. Scent quer dizer “cheiro” e o verbo to hound significa “procurar alguém ou recusar-se a deixar alguém sozinho, especialmente por querer algo dessa pessoa”. Em português rasteiro, é a pessoa que não sai do pé, aquela a quem se diz: “Sentiu meu cheiro, hein?”. Ou então o cão que não larga o osso.

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sil em 1970, foi roubada de novo, desta feita da sede da CBF no Rio de Janeiro. Acabou derretida por um ourives antes que a polícia elucidasse o caso. Não tínhamos um Pickles para resolvê-lo a tempo. Ou tampouco um Thor, também collie, responsável por encontrar pessoas, vivas e mortas, na tragédia de Brumadinho, Minas Gerais, no começo deste ano. O superolfato canino ães têm o olfato de 10 mil a 100 mil vezes mais aguçado que o homem. Você pode gabar-se de ser capaz de dizer, apenas pelo aroma, se uma xícara de café foi adoçada ou não. Mas eles identificam uma colher de açúcar em um milhão de galões de água, o que corresponde a duas piscinas olímpicas. Scent hounds são usados para detectar no oceano fezes de baleia, material valioso para cientistas que monitoram a saúde das populações de cetáceos. Com um detalhe: cocô de baleia afunda, mas os hounds podem detectá-lo, a bordo de um bote, até 1,5 quilômetros de profundidade. Nossa capacidade de sentir aromas é piada perto da dos cães. Eles têm 300 milhões de receptores olfativos contra 6 milhões no ser humano. Além disso, a região cerebral responsável por analisar e identificar os cheiros é 40 vezes mais sensível nos cachorros. As diferenças começam pelo nariz: respiramos e sentimos os aromas pelas mesmas vias. Ou seja, vem tudo junto no mesmo pacote. Já o cão tem uma “dobra” de tecido no fundo das narinas que separa essas duas funções. “Quando o ar entra na narina de um cão, ele toma dois caminhos diferentes, um para o olfato e outro para a respiração”, explica o bioengenheiro Brent Craven, da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos. No cão, cerca de 12% do ar inspirado é filtrado nessa área especial, onde cornetos peneiram as moléculas de aroma e suas diferentes propriedades químicas, enviando sinais elétricos

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m 1966, o britânico Pickles, collie mestiço, por casualidade tornou-se um célebre sabujo. Ele encontrou em um parque, em Londres, a taça Jules Rimet – que seria conquistada por seu país naquele ano - enrolada em jornais, roubada havia sete dias de uma exposição em Westminster. O topo removível da escultura havia sido enviado à Associação de Futebol da Inglaterra com um pedido de resgate de 15 mil libras. Pickles deu-se bem. Naquele mesmo ano, participou do filme O Espião do Nariz Frio (The Spy with a Cold Nose). Morreu em 1967, no auge da glória, ao correr atrás um gato, enforcando-se na própria coleira. A Jules Rimet também teve fim trágico: conquistada em definitivo pelo Bra-

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bons de blitz Batidas policiais em busca de drogas costumam ter um scent hound como auxiliar

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preferido O pastor-alemão está entre as raças mais treinadas dos sabujos

ao cérebro. O fenômeno acontece também na expiração: os cães voltam a sentir os cheiros quando expelem o ar, o que quer dizer que estão quase constantemente percebendo odores. Isso explica por que tanto funga um cachorrinho aflito para encontrar seu objeto de desejo, seja a bolinha de borracha ou biscoitos. Eles também podem mover as narinas de modo independente uma da outra e saber por qual delas captou tal aroma. Um pouco mais de sofisticação: cães e outros animais (gatos, inclusive) têm um equipamento que nos falta: o órgão vomeronasal (ou órgão de Jacobson). Ele capta os feromônios únicos de cada espécie, sejam aromas típicos do momento do acasalamento ou outro tipo de alerta oloroso que um membro da matilha envia ao grupo – perigo por perto, por exemplo. E não é só isso: o cérebro de Rex ou Pluto conta com uma região específica para interpretar os sinais dos feromônios. Drogas, trufas e senso de direção cães são capazes de determinar que direção uma pessoa tomou cheirando apenas cinco passos, mesmo depois de algumas horas (ou dias) de alguém ter enveredado por aquele caminho. Assim são selecionados e treinados os animais que trabalham em resgates de pessoas desaparecidas. Uma equipe multidisciplinar da Universidade da Califórnia, em Berkeley, batizada de Cracking The Olfactory Code (Quebrando o Código Olfativo), tem examinado o sistema olfativo de diversos bichos – mamíferos, répteis, anfíbios, pássaros, peixes e seres humanos. “Diferentes animais demonstram o mesmo comportamento em relação aos cheiros, embora tenham sistemas nervosos muito diferentes”, afirma Lucia Jacobs, neurocientista da equipe. “Há algum algoritmo em comum entre as espécies.” O que o time de Berkeley supõe é que exista uma relação entre o senso de direção e a capaci-

time

ca m p e ão Quatro das seis raças com o faro mais aguçado: 1. Pastor Alemão; 2. Bloodhound; 3. Labrador Retriever; 4. Beagle

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NA PISTA O elegante pointer é outro cão utilizado para farejar

dade de sentir aromas – entre os humanos também. A expressão follow your nose (siga seu nariz) faz todo o sentido. Lucia sugere que a habilidade de identificar cheiros seja associada à memória espacial, a capacidade de desenvolver relações em um ambiente para criar um mapa cognitivo. Entre os cães, alguns com capacidade de sentir cheiros há mais de 1,6 quilômetro, há raças mais afiadas, como o bloodhound (ou cão de Santo Humberto), o basset hound, o pastor-alemão, o beagle, o labrador retriever e o pointer. Porte e pedigree, no entanto, não são as únicas credenciais para a medalha de bom de faro. Na edição de 2018 do Campeonato Americano de Cães Farejadores de Trufas, realizado numa floresta de Eugene, estado de Oregon, quem levou a melhor foi o pequenino Gustave, um vira-lata mestiço de chiuaua. Porcos também têm faro certeiro para encontrar trufas, o valioso e aromático fungo que se desenvolve debaixo da terra. Mas não dão a mínima para as intenções comerciais ou gastronômicas de seus tutores. Gulosos, devoram com avidez a trufa

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tão logo a descobrem. Já os cães são ensinados a obedecer. Ganham recompensas pela descoberta à base de petiscos e afagos. Existe também uma questão individual: cada cão, a despeito da raça, tem sua própria disposição para o árduo e maçante treinamento imposto pelas polícias federais ou delegacias de narcóticos mundo afora. Há os tenazes e perseverantes. E existem também os preguiçosos ou de nariz menos dotado. Os treinadores sabem disso desde que começaram a usar cachorros em apreensões de drogas, prática que se tornou comum a partir dos anos 1960, na Guerra do Vietnã - quando soldados viciados em heroína deram dor de cabeça para as Forças Armadas americanas. Entre os humanos o comportamento de “seguir o nariz” é parecido, embora menos potente. Uma pesquisa da Universidade McGill, no Canadá, em 2018, instalou mais de 50 pessoas numa espécie de cidade de mentirinha. Elas passearam até familiarizarem-se com o local. Também foram convidadas a cheirar bastões de feltro com aromas distintos. Quando desafiados a encontrar diferentes caminhos, bingo: os que tiraram notas mais altas no teste dos bastões apresentaram melhor senso de direção. Prova inequívoca de que ainda podemos encontrar o Pickles que existe em nós. Nem que seja apenas para descobrir onde está o doce na cozinha. TP

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em pingo d’água Harry Houdini escapava de algemas, cadeados e camisas de força até mesmo submerso

Por Marcello Borges

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É difícil encontrar o que Harry Houdini (1874-1926) não fez. Ele foi artista de cinema, piloto de avião e especialista em denunciar falsos médiuns. Também atacou de fotógrafo, contorcionista e ferreiro, entre outros ofícios. Mas o que ele fazia de melhor granjeou-lhe o título de Rei das Algemas. Houdini foi o maior ilusionista de todos os tempos. Tornou-se um fenômeno da mídia quando a mídia ainda engatinhava. Conseguia reunir multidões, e explicava o motivo da atração: “As pessoas sabiam que, num dado momento e num dado lugar, alguém iria tentar fazer algo que, se não desse certo, implicaria morte súbita”. Exatamente. Mesmo algemado e imobilizado por correntes e cadeados, ele se safava na hora agá. Ainda que debaixo d’água.

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ais façanhas influenciaram a maioria dos mágicos posteriores. David Copperfield e Mr. M são dois deles. Mesmo tendo morrido há quase um século, Houdini continua lembrado no cinema, na TV, nos quadrinhos, na música. Em 1982, a cantora Kate Bush não só gravou a faixa “Houdini” em seu álbum The Dreaming, como apareceu na capa do disco portando uma chave na boca, em vias de beijar o suposto ilusionista e passar-lhe o instrumento de fuga. O beijo, de fato, era um dos artifícios a que o mágico recorria. Noutras ocasiões, a chave do cadeado ou das algemas ficava entre os dedos do pé ou grudada na sola. Filmes sobre Houdini continuam sendo rodados. Em 2007 foi Atos Que Desafiam a Morte. Em 2014, a minissérie Houdini, com Adrien Brody no papel-título. O artista plástico Matthew Barney também homenageou o prestidigitador com a instalação Ehrich Weiss Suite, exibida no Guggenheim de Nova York.

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LOUCA ESCAPADA Em 1916, mesmo preso a um guindaste, livrou-se da camisa de força. E saía ileso

Houdini nasceu Erik Weisz em Budapeste, na Hungria, no ano de 1874, filho do rabino Mayer Weisz. Sem recursos, a família imigrou para os Estados Unidos quatro anos depois e estabeleceu-se em Appleton, no estado de Wisconsin. Por algum motivo, o rabino mudou o sobrenome da família para Weiss. Erik passou a assinar Ehrich. Ainda criança, já se apresentava como trapezista nos eventos que seu pai organizava para a Congregação da Reforma Sionista. Em 1882, a vida dos Weiss sofreu um baque: Mayer tornou-se cidadão americano, mas perdeu o posto de rabino. Muito pobre, mudou-se para Milwaukee e, cinco anos mais tarde, para um cortiço de Nova York. O futuro Houdini aju-

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dava os pais trabalhando, ora como engraxate, ora, segundo dizem, como aprendiz de chaveiro. Esta seria a gênese de sua incrível destreza em abrir trancas, fechaduras e algemas. Mas o garoto só passou se chamar Harry Houdini aos 16 anos, quando leu a biografia do mágico francês Robert Houdin e decidiu-se por essa profissão. Logo passou a se apresentar em circos e teatros por alguns dólares. Nascia uma lenda.

FINA estampa Antes de tudo, o grande cartaz de toda uma era

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omo a maioria dos mágicos, seus primeiros truques envolviam cartas de baralho. Mas isso era comum demais. Ambicioso, Houdini passou para truques mais ousados, que envolviam uma moça e uma cai-

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sempre PRESO Grilhões nas pernas e nos braços eram rotina. À direita, com a mãe, Cecília, e a mulher, Bess, em 1907

ainda famoso Filme, capa de disco e seriado: muitas décadas depois de sua morte, o Rei das Algemas continua lembrado

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xa. Foi assim que conheceu Bess. Apaixonou-se por ela e casou-se aos 20 anos. Ela seria sua grande companheira dentro e fora dos palcos.

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as sua grande oportunidade surgiu na dobrada do século, quando conheceu Martin Beck. Era um agente teatral e dono de um teatro de vaudeville, pouco mais velho que Houdini. Tornaram-se bons amigos. Beck o aconselhou a se concentrar nos números de escapismo. Em 1900, Houdini foi à Europa, onde fez uma demonstração com algemas na Scotland Yard. Com o sucesso, passou a se apresentar no Teatro Alhambra de Londres, recebendo US$ 300 por semana – algo como

US$ 8 mil em valores de hoje. Nada mau. Já conhecido como Rei das Algemas, percorreu a Europa, sempre desafiando policiais a prendê-lo em celas ou com grilhões. Tornou-se um astro. Se um mágico habilidoso levava 15 segundos para abrir uma algema, ele o fazia em apenas seis segundos. Em Moscou, gastou 20 minutos para escapar de uma perua de transporte de prisioneiros siberianos, supostamente à prova de fugas. Na ocasião, o chefe da polícia, indignado, perguntou-lhe como tinha conseguido o feito. Houdini respondeu com a clássica “Um mágico nunca revela seus segredos”. As proezas se sucediam. Houdini ficou pendurado sobre o rio Sena para se libertar de gri-

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lhões presos aos pés. Em Berlim, livrou-se de 12 algemas em menos de cinco minutos. Voltou aos EUA em 1904 com fama e dinheiro e comprou uma casa em Nova York pagando por ela US$ 25 mil – um dinheirão na época. Continuou se aprimorando e praticou contorcionismo para escapar de camisas de força. Treinando muito, desenvolveu uma técnica que lhe permitia distender os músculos. Em San Francisco, foi imobilizado por seis algemas, uma camisa de força e grilhões, sendo levado depois na traseira de um carro da polícia. Em menos de seis minutos, tinha se livrado de tudo. E saiu dirigindo o camburão.

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ma das escapadas mais famosas deu-se no “corredor da morte” do presídio federal de Washington D.C., em 1908. Houdini foi preso sem roupas e desafiado a sair do cárcere antes do amanhecer. Não só escapou como abriu a cela de todos os outros prisioneiros do bloco. Tudo isso em 27 minutos. Em Detroit, com duas algemas nos pulsos, foi

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jogado nas águas de um rio diante de um público de mais de 10 mil pessoas. Conseguiu se livrar das algemas e voltou à tona. Inspirou-se nesse feito para criar seu número mais famoso: a cela da tortura chinesa da água. Algemado, era mergulhado numa caixa de vidro cheia d'água, e tinha de se libertar das algemas para sair. Sugeria que os espectadores segurassem a respiração enquanto ele tentava escapar. Enquanto o público conseguia prender o ar por 30 segundos, Houdini o fazia por três minutos. Quando o público começava a ficar preocupado, e um segurança se prontificava a quebrar o vidro, ele saía do tanque em glória para os aplausos – e alívio – da plateia.

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assou a década de 1910 livrando-se de celas, correntes, cadeados e algemas. Numa ocasião, escapou de um traje de mergulho de 60 quilos. Noutra, escapuliu do interior de uma baleia que tinha encalhado morta em Boston. Na realidade, Houdini sofreu grande desgaste com suas escapadas, e com o tempo passou a produzir truques menos extenuantes. Um dos mais famosos foi apresentado no hipódromo de Nova York em 1918: ele fez desaparecer Jenny, uma aliá de 5 toneladas. No ano seguinte, rodou o seu filme mais conhecido: The Grim Game. Ainda faria outros, mas, sem tanta repercussão, encerrou a carreira cinematográfica em 1923. Naquele mesmo ano, tornou-se presidente da Martinka, uma loja de mágica fundada em 1877 em Nova York que existe até hoje. Foi ainda presidente da Sociedade de Mágicos dos EUA entre 1917 e 1926, ano de sua morte, aos 51 anos. A morte de Harry Houdini, por sinal, pode ser considerada um acidente de trabalho - o que, no caso dele, não é de espantar. Após uma apresentação em Montreal, sem estar preparado para levar socos no estômago – o que sabia fazer muito bem –, viu-se golpeado quatro vezes por um estudante, Jocelyn Whitehead, que lhe perguntara se era verdade que resistia bem aos diretos. Com muitas dores, febre de 39 graus e apendicite aguda, ainda se apresentou no Canadá. Já em Detroit, em seu último espetáculo, estava com 40 graus. No hospital, suas últimas palavras teriam sido “Estou cansado de lutar”. Morreu nos braços de Bess, que, depois da morte do marido, abriu uma casa de chá em Nova York e ainda fez algumas apresentações. Numa delas, congelou um índio Sioux num cubo de gelo. A maior proeza de Houdini? Ele mesmo respondeu: “A maior de todas as escapadas foi sair de Appleton, Wisconsin”. TP

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entr e v ista

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p r es i d e n t e d a M o n t b la n c n o B r as i l , c o mem o r a o c r esc i me n t o d e d o i s d Ă­ g i t o s d a ma r ca d es d e q u e ass u m i u o ca r g o

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O O Mont Bl a nc

é o p i c o m a i s a l t o d a E u r o pa . E n c r ava d o n o s A l p e s ,

e n t r e a F r a n ç a e a I t á l i a , me d e 4 . 8 10 me t r o s d e a l t i t u d e . N ã o à t o a , d e s d e 19 10 d á n ome a u m a em p r e s a f u n d a d a q ua t r o a n o s a n t e s n a A l em a n h a e q u e , já a pa r t i r d e e n t ã o, s e c a r a c t e r i z ava p o r e s t a r n o t o p o. Com efe i t o, p r o d u t o s d e p o n t a s ã o s e u fa s c í n i o e s ua d e d i c a ç ã o.

Primeiro foram as canetas - que a Montblanc prefere chamar de instrumentos de escrita. Basta lembrar da Meisterstück 149, fabricada há 95 anos. É o modelo de caneta que Angela Merkel, a rainha Elizabeth 2ª e Barack Obama usaram para assinar seus docu-

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mentos mais importantes. Desde 1935, a Montblanc produz artigos de couro. O portfólio cresceu mais. Relógios também estão incluídos. Sobretudo a partir de 1997, quando a empresa passou a fazer parte do Grupo Richemont, especializado em marcas de luxo.

É essa potência centenária que o francês Michel Cheval, 44 anos, representa como diretor-geral da marca no Brasil. Ele não esconde sua alegria em ter conseguido realizar seu desejo de morar em São Paulo. Mas essa ainda não era sua intenção quando se diplomou na École des Cadres, escola de negócios e administração em Paris. Embora já então pensasse em fazer uma carreira internacional, influência de um amigo que viajava com frequência para os Estados Unidos a trabalho. “Ele falava bem inglês e estava com uma vida legal”, lembra. Desde então, val morou em Taipei, Dubai, Che­ Moscou e Miami. O Brasil entrou em seus planos há três anos, quando decidiu comprar um apartamento em São Paulo. “Eu sabia que o Brasil aconteceria na minha vida”, relembra Cheval. Esse dia chegou e o francês, solteiro e sem filhos, já completa seu primeiro ano à frente da Montblanc. Falando um bom português, embora com inevitável sotaque, ele coleciona resultados positivos. O ano fiscal de 2018 fechou com um crescimento de dois dígitos. A marca já conta com um e-commerce com vendas representativas – pioneiro no Brasil. Deve inaugurar uma nova flagship no Shopping Iguatemi Faria Lima, em São Paulo, e aposta em novo sistema de distribuição. Em um cenário único no mundo, Montblanc é a marca líder no Grupo Richemont no mercado brasileiro. É o que conta o animado Michel Cheval nesta entrevista.

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THE PRESIDENT _ Onde você nasceu? Numa cidade a 20 quilômetros de Paris, a pequena Chessy. É mais conhecida agora porque ali foi instalada a Eurodisney. Quando eu era criança, podíamos ir a pé para a escola e brincar na rua até de noite. A vida da minha família acontecia entre Paris e o sul da França, onde passávamos férias. Falando assim pode parecer muito chique. Mas minha família é comum para os padrões franceses. E essa ânsia de ganhar o mundo? Quando eu tinha 17 anos, meus pais se separaram. Nossa casa no sul da França foi vendida. Ainda que eu sofresse com tudo isso, de certa maneira me libertou para sair da França. Eu tinha um amigo que viajava bastante para os EUA. Pensei: “Ele tem uma vida legal”. Entrei para a École des Cadres, escola de negócios em Paris, e encontrei outras pessoas com uma experiência internacional. Meu primeiro estágio aconteceu na Cartier, na área de perfumes. Gostei muito e surgiu a oportunidade de trabalhar na empresa na cidade de Taipei, em Taiwan. Fiquei oito meses por lá. Foi a minha primeira experiência fora da França. E como foi? Um choque cultural. Tudo era diferente, desde o cheiro até a iluminação. Mas adorei. Só que eu precisava concluir os estudos. Voltei a Paris, embora já decid ido a sa i r da Fra nça. Na época, a Cartier me ofereceu uma oportunidade em Londres, mas declinei porque queria ir para longe. Londres era muito perto de Paris [risos].

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c i da dão

do mundo Cheval já morou em Paris, Taipei, Dubai, Moscou e Miami. Está muito feliz em São Paulo

E para onde você foi? Tão logo terminei os estudos, peguei a mochila e parti para a Índia. Fiquei quatro meses viajando. Foi muito forte. Por um lado, vi paisagens incríveis e a força de uma cultura milenar. Por outro, vi doenças há muito erradicadas na Europa, como lepra e elefantíase. Topei com gente morrendo na rua. Vi pessoas vagando cegas, por terem trocado a própria córnea por dinheiro. Queria ter ficado mais, mas precisava voltar a Paris. Na época, o serviço militar era obrigatório na França. A maneira de não servir era se matricular numa universidade. Foi o que fiz. E que tal o retorno? Trabalhei um mês em Paris, na boutique Hermès. Queriam me contratar, mas não quis. Pretendia sair da França. Li que a Cartier estava criando uma filial em Dubai, nos Emirados Árabes. E o dedo coçou... Sim. Eu estava com 26 anos. Foi em 2000. Já conhecia a Cartier e seria bom voltar para lá, onde tinha amigos. Liguei para eles e descobri que nenhum queria ir para Dubai. O comentário era: “Ah, Dubai, lugar muçulmano,

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não tem álcool, não podemos fazer festas”. Estavam errados. Fiz muitas festas em Dubai [risos] . Trabalhei como gerente de produtos. Eram todos os artigos da marca, menos as joias. Mas eu queria uma função mais abrangente, como brand manager. E a Cartier não tinha esse cargo para me oferecer em Dubai. Você procurou outra coisa? O Grupo Swatch chegou em Dubai nos moldes da Cartier. Eles me ofereceram a função de brand manager, exatamente o cargo que eu pretendia. Cuidei de duas marcas pequenas, Jaquet Droz e Léon Hatot. Foi incrível, ainda que difícil trabalhar com essas marcas em países como Turquia e Omã. Por quanto tempo você ficou à frente dessas marcas? Dois anos. O chefe da Richemont na Rússia me ligou e disse: “Michel, a IWC precisa de um brand manager para a Rússia e todos os países ex-soviéticos. Você não fala russo, mas não encontramos ninguém que possa fazer esse trabalho. Você gostaria de mudar para Moscou?”. Topei. Sempre gostei muito da Richemont, que cuida bem dos funcionários. Tenho um relacionamento sentimental com o grupo. Afinal, comecei na Cartier. Passou muito frio na Rússia? O frio não era o pior. Pior era a escuridão. Começa já em outubro e só termina em abril. Você precisa gostar da vida profissional e ter uma boa vida social para suportar. Eu me dei bem. É um país emocionalmente muito forte.

Vi a rapidez da transformação da Rússia. Mas jamais ficaria toda uma vida ali. Disse a meu chefe que gostaria de ir para Miami ou Singapura. Ele me respondeu para esperar três anos. Pouco depois desse período, me convidou para trabalhar em Miami. E como foi em Miami? Gostei tanto que comprei uma casa. Pensei: “Vou ficar a vida toda aqui”. Cuidava da IWC em 23 países. Passei a viajar ao México, Caribe, América Central. Adorei a região. Mas, depois de oito anos, admiti: estava viajando demais. Em 2017, acumulei mais de 200 horas na American Airlines, sem contar outras companhias aéreas. Cansei. Viajei muito para o Brasil e comecei a gostar demais daqui. Três anos atrás, comprei um apartamento em São Paulo. Sabia que um dia iria me mudar para o Brasil. Queria continuar no grupo. Se possível, em São Paulo. Procurei o meu amigo Alain dos Santos, que era diretor-geral da Montblanc no Brasil. Curiosamente, a marca mais forte do Richemont no Brasil não é a Montblanc, o que não ocorre nos outros mercados. Como foi a conversa com o Alain? Num almoço com ele, eu disse que

“A m a r c a m a i s f o r t e d o gru po no m u n d o é ca rtier. M as no Br asil é Montbl anc”

estava um pouco cansado de Miami e queria mudar. Não falei do Brasil porque ele estava aqui, bem instalado, com esposa e três filhos. Nesse almoço, Alain me disse que estava justamente procurando um sucessor na Montblanc em São Paulo. Eu rebati: “Pode contar comigo como seu sucessor”. E assim foi. Falei com o Alain em novembro de 2016. E mudei para São Paulo em abril de 2018. Demorou um pouquinho Sim, Alain havia lançado o e-commerce no Brasil e precisava terminar a implementação. Agora você completa um ano no cargo... Sim. E tenho resultados muito positivos. O e-commerce, implantado pelo Alain, teve um crescimento muito importante. Em breve igualará as vendas de uma boutique pequena Montblanc. É algo tão positivo que estamos pensando em fazer um call center para fazer atendimento para os clientes, de vendas, mas, inicialmente, um tipo de serviço. Caso o cliente tenha um problema, uma dúvida sobre o produto. E como tem sido o crescimento da marca, em geral, no mercado brasileiro? Fechamos 2018 com um crescimento de dois dígitos. Foi um ano fiscal histórico, mesmo no final de uma crise. Para o próximo ano, o objetivo é crescer dois dígitos também. Vamos inaugurar uma flagship no Shopping Iguatemi, em São Paulo, com um novo conceito, num espaço maior. Abrimos também uma boutique no Shopping Rio Sul, no Rio, uma franquia.

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E como vocês vão trabalhar esse ponto? Temos vários produtos novos. O Summit, por exemplo, um relógio conectado, é um enorme sucesso no Brasil. O brasileiro é muito interativo na mídia social. Estamos também ampliando a atuação em acessórios de viagem. Nos próximos 15 anos, bilhões de pessoas vão viajar mundo afora. O brasileiro viaja muito. Precisa de acessórios de viagem. Mochilas, por exemplo. E a Montblanc está dentro desse negócio. É uma marca muito forte aqui. Uma marca de luxo, sim, mas luxo acessível. Temos de tudo para todos. Do chaveiro ao perfume. O que a Montblanc vende mais aqui? As canetas. No Brasil e no mundo. Mas a área que cresce mais, aqui e lá fora, é a dos artigos de couro. Em relógios, o Summit. Temos relógios tradicionais, com manufaturas artesanais e tradicionais. É para uma categoria mais exigente de clientes. Os mais jovens procuram peças mais esportivas, como as linhas Timewalker e 1858, e conectadas, como o Summit. Essa geração conectada ainda procura canetas tradicionais e de alta categoria? Temos os modelos clássicos da linha Meisterstück. Mas também os contemporâneos, como a nova caneta Montblanc M, que leva a assinatura do designer Marc Newson. Algo que reforça nossa importância é o Augmented Paper, nosso caderno de papel que pode ser conectado a um dispositivo móvel, seja tablet, smartphone ou computador. Ele realiza a conexão entre a caneta e um sensor que transforma em

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informação digital o que foi escrito no papel. Atrai gente de diversas profissões, como médicos e arquitetos, que ainda utilizam cadernos, mas trabalham com computadores. E os artigos de couro? Os mais jovens, com ligações a movimentos ecológicos, não são resistentes ao seu uso? Antes de tudo, é preciso lembrar que a Montblanc não promove maus-tratos com animais. Jamais. O couro que utilizamos é selecionado e proveniente da indústria alimentícia. Daí o aproveitamos em nossa manufatura. Seja como for, há uma tendência global de crescimento na indústria para acessórios da linha de couro. E falo especialmente do público masculino. Os homens, que já utilizavam menos acessórios que as mulheres, estão cada vez mais dispensando o uso de gravatas. Dessa maneira, o acessório de couro passou a ser aquisição crescente da clientela masculina. São carteiras, malas de viagem, mochilas. A Montblanc não é líder nesse segmento, mas mantém um público fiel, pelo desenho mais clássico. Recentemente, a Folha de S.Paulo informou que a loja com maior venda de

“A mon t bl a nc é, sim, u m a m a rc a de lu xo. m a s lu xo ace s sí v el . t emos de t u do pa r a todos”

relógios do mundo foi a da Montblanc no Rio de Janeiro. Sim. A matriz, na Alemanha, fez uma competição de venda de relógios. Quem vendesse mais peças ganhava uma viagem para a Suíça. Aliás, esta não é a primeira vez que o Brasil vence. Antes de eu chegar aqui, já havia conquistado esse prêmio. Qual o grande desafio do mercado de luxo no Brasil? A contribuição tributária. Ela afeta muito a margem do negócio. A parte burocrática e compliance também são desafios. De nossa parte, a Montblanc consegue se diferenciar das demais marcas pela diversidade do portfólio. Temos uma gama de produtos acessível e ampla, que pode continuar a ser consumida mesmo em momentos de crise. Como você enxerga o futuro da marca no Brasil? Tem boas persperctivas? Depois de alguns anos de crise, fechamos o ano fiscal com um crescimento histórico. Nosso futuro está na redução e aprimoramento da distribuição. Queremos fechar alguns pontos de venda que não geram um negócio significativo e têm uma imagem aquém do nível de requerimento da marca. Essa diminuição vai fortalecer nossos demais representantes. Aumentaremos a visibilidade em outros pontos de venda. Essa é nossa primeira decisão estratégica. Há outras decisões? Sim. Queremos abrir mais boutiques próprias, como a que inauguramos no Shopping Rio Sul, no Rio de Janeiro.

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“c o n s e g u i m o s n o s difer enci a r pel a d i v e r s i da d e d o p o rt f ó l io” Buscaremos cidades de importância regional. Por exemplo, Fortaleza e algumas outras metrópoles prósperas no Nordeste. No Sul do país, também há pontos com potencial. É o caso de Porto Alegre. A Montblanc tem um caminho próprio? Sim. Não há tantas marcas fortes e competitivas no Brasil quanto a nossa. Nossos instrumentos de escrita não têm concorrência por aqui. No caso dos relógios, há concorrentes, mas não é como na Europa ou nos EUA. Temos no Brasil um market share maior que no resto do mundo. E o couro também é um segmento importante. Há outros planos? Gostaria de fazer em São Paulo uma exposição de canetas antigas. Pretendo trazer parte do acervo do Museu de Hamburgo e organizar uma mostra para explicar para clientes e clientes em potencial o nosso savoir faire como manufatura de canetas. Quero muito fazer isso. E o seu futuro? Será no Brasil? Já rodei bastante pelo mundo. É importante para mim manter uma estabilidade no Brasil. Onde, por sinal, gosto muito de morar. TP

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per fi l

R e s t au r a t e u r , c o z i n h e i r o d e r e n o m e i n t e r n a c i o n a l , av e n t u r e i r o d e c a r t e i r i n h a .

C l au d e T r o i s g r o s

é e s s a m i s t u r a d e m u i t o s i n g r e d i e n t e s . C o m u m t e mp e r o e s p e c i a l : o s o t a q u e f r a n c ê s , q u e e mp r e s t a à s ua pe r s o n a l i da d e e s f u z i a n t e a i n da m a i s c a r i s m a e fa z d e l e u m s u c e s s o d i a n t e d a s c â m e r a s d e t e v ê

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carrioca! P o r Da l i l a M ag a r i a n

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r e t r ato s jorge bi sp o

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C l au d e J e a n B a p t i s t e T r o i s g r o s é a q u e l e t i p o d e c a r i o c a q u e n a s c e u, p o r o b r a e g r a ç a d o d e s t i n o, n a F r a n ç a . E l e v e i o a o m u n d o a 9. 0 1 7 q u i l ô m e t r o s d e d i s t â n c i a

Ao final de seu contrato de 24 meses com Lenôtre, e um curto período de tempo de volta à cidade natal, Claude revelou à esposa seu desejo de retornar ao Brasil - para ficar. “No Rio eu tinha o sol, a praia, o calor. Praticava asa-delta, parapente, mergulho, fazia viagens de moto, de jipe, trilhas, enduros”, enumera. “Era uma vida de aventuras que não existia para mim em Roanne, onde a vida era trabalhar, comer e dormir.” Exatas quatro décadas depois desse encantamento pela Guanabara, o pai de dois filhos nascidos por aqui, casado de novo, dono de seis restaurantes bem-sucedidos na Cidade Maravilhosa (depois de um ou outro fracasso, no início), o admirador do samba, do churrasco e da caipirinha, rodeado de amigos que vão da elite a moradores da Rocinha, só não passa despercebido como um carioca da gema por causa do sotaque e, naturalmente, pela fama que conquistou na televisão, a partir de 2005.

d o L e b l o n , n a c i d a d e d e R o a n n e , Va l e d o L o i r e , r e g i ã o c e n t r a l d o pa í s .

Corrigiu o equívoco aos 23 anos. Na época, Gaston Lenôtre, um dos chefs da nouvelle cuisine française e amigo de seu pai, o chef Pierre, precisava de um cozinheiro a fim de ajudá-lo no Le Pré Catelan, primeiro restaurante comandado por um nome estelar da nouvelle cuisine no Rio de Janeiro. Era o ano da

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graça de 1979 e Claude animou-se ao se candidatar à vaga. Desembarcou no Galeão um mês antes do início do verão carioca, para se apaixonar pela paisagem, pelo clima e, oui, por uma brasileira de nome Marlene, deixando em desvantagem sua fria e quase sempre cinzenta Roanne.

O BAGUNCEIRO laude nasceu em 9 de abril de 1956. Foi criado dentro da cozinha. Seus avós paternos, Jean-Baptiste Troisgros e Marie Badaut, fundaram o renomado restaurante que carrega o imponente sobrenome da família: Maison Troisgros, em Roanne. Em 2018, a família celebrou 50 anos consecutivos com a classificação máxima de três estrelas no Guia Michelin. Durante a maior parte de sua infância, Claude compartilhou o mesmo teto com 12 membros do clã Troisgros: “Morávamos todos juntos ‘dentro’ do restaurante, que ficava na parte de baixo da casa”, conta.

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joie

d e v iv r e Aos 63 anos, o francocarioquíssimo tem seis restaurantes na cidade que escolheu para viver

Ainda adolescente, Pierre mandou o filho mais velho estudar em um colégio interno de culinária e hotelaria na cidade de Thonon-les-Bains (nos Alpes, já próxima a Genebra, na Suíça). Claude fez estágio no restaurante Maison Rostang, em Grenoble. Mas não levava a coisa muito a sério. “Eu só fazia bagunça. Aprendi realmente a cozinhar nos restaurantes em que trabalhei depois, e sobretudo, com Paul Bocuse.” Assim como o pai e o avô de Claude, o grande Bocuse (morto em janeiro de 2018) fez parte do rol dos chefs mais importantes da gastronomia francesa. Claude trabalhou com ele entre 1974 e 1975, começando pelo básico: descascava batatas. “Ele era rigorosíssimo. Quando alguém fazia algo de errado na cozinha, era despachado para embalar robalos em massa folhada, trabalho maçante e repetitivo. Um castigo.” Quando chegou ao Brasil, quatro anos mais tarde, Claude já havia aprendido com Bocuse não apenas disciplina, como as principais técnicas na arte de cozinhar. Deparou-se, contudo, com a falta de ingredientes para preparar os pratos clássicos franceses. “Na década de 1980, o Brasil ain-

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i l fau t Ele não quer ser chamado de chef. Mas de cozinheiro. Também não aprecia a expressão alta gastronomia

da vivia um período fechado para as importações. Não havia azeite de boa qualidade, nem creme de leite fresco.” Foi preciso descobrir uma alternativa. “Comecei a criar uma gastronomia nova, franco-brasileira, aproveitando produtos fres­cos como a batata-baroa, o quiabo, o maxixe, a jabuticaba e o

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maracujá.” Com o passar do tempo, conseguiu conquistar o orgulho do pai, que não se agradara, em princípio, da mudança do filho para o Rio. Claude avisa logo que não aprecia ser chamado de chef, apesar dos 50 anos de profissão. “Sou cozinheirro”, diz, com os erres dobrados, soltando uma gar-

galhada. Apesar do sobrenome ligado à alta gastronomia, também não gosta de usar essa designação. “Seria como dizer que existe também a baixa gastronomia, o que não é verdade”, adverte. “Existe uma gastronomia mais técnica, ou diferenciada. Mas toda gastronomia tem o seu valor, seja a de boteco, seja a regional.” O cozinheiro, aliás, é um entusiasta das descobertas de novos sabores Brasil afora. Um de seus maiores prazeres é pilotar sua motocicleta BMW R 1200 GS por estradas de terra ou areia que o levem a lugares distantes dos grandes centros. No ano passado, aboletou-se sobre a máquina e foi conferir como são preparados os alimentos no agreste e no sertão. A viagem deu origem ao documentário Claude - Além da Cozinha, que estreou no canal a cabo GNT no início deste ano – e também pode ser conferido por meio do Now, serviço à la carte da NET. Embora existisse roteiro para o filme, Claude deixou que sua intuição o guiasse e mudou de rota diversas vezes durante a viagem, sempre preocupado em conhecer moradores e se arriscar no preparo de ingredientes

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muito diferentes, sem nenhuma frescurra. “O que eu gosto é de conhecer gente que jamais conheceria se ficasse só nos meus restaurantes no Leblon.” O HOMEM DA TEVÊ arismático, espontâneo - e um tanto rebelde -, Claude é aquele dublê de gringo que se dá bem em lugares humildes ou sofisticados, desde que encontre boa comida e um bom papo. Talvez por isso, tenha conseguido fazer tanto sucesso desde a estreia, na televisão. É considerado um camera friendly. Sua carreira diante das câmeras teve início em 2005, no canal pago GNT. Fazia um quadro de apenas três minutos, “Adivinha o que tem para jantar?”, preparando uma receita no programa Armazém 41, que não era de gastronomia, e sim de variedades. Pediu a oportunidade para Marluce Dias da Silva, então executiva da Rede Globo, admiradora de sua comida, a quem propôs a ideia. Seis meses depois, ganhou um upgrade no canal: junto do jornalista Renato Machado, passou a fazer o programa Menu Confiança, que tratava da harmonização de pratos e vinhos. A atração permaneceu cinco anos no ar. Era gravada no restaurante Olympe, aberto por Claude há 38 anos, e hoje comandado por seu filho mais velho, Thomas, formado em grandes escolas de gastronomia e que nasceu naquele mesmo ano. O restaurante ostenta uma estrela Michelin e ocupa a 24ª posição no ranking de melhores casas da América Latina. Encerrada a carreira do Menu Confiança, Claude conquistou um programa

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só dele: Que Marravilha! Desde 2010, a atração ganhou, além de novas temporadas, diversos programas derivados, como o Chato pra Comer, o Revanche, o Chefinhos e o Aula de Cozinha. Na sequência, estreou no mesmo canal o The Taste Brasil, reality show com outros chefs que lideram equipes em uma disputa acirrada. O chef, ou melhor, cozinheiro, não esconde que, graças ao seu sucesso na tevê e os muitos contratos publicitários, conseguiu realizar alguns de seus sonhos, como abrir novos restaurantes sem precisar recorrer a sócios. Acaba, por exemplo, de firmar contrato com a marca Seara Gourmet, para um episódio de seu programa usando apenas produtos da linha. Como uma coisa puxa a outra, a fama também fez surgirem propostas interessantes, como espaços em shoppings de luxo da cidade, sem a necessidade de desembolsar com luvas ou locação. No auge do Fashion Mall, por exemplo, Claude abriu o seu primeiro CT Brasserie, no ano de 2008. Dois verões depois, inaugurou o CT Boucherie do Leblon,

“A g e n t e t o m a v i n h o, c o n v e r s a , dá r i s a da e , q ua n d o vê, o cliente e s t á fa z e n d o o própr io r isoto n a s ua f r e n t e ”

na rua Dias Ferreira. Em abril de 2012, surgiu o CT Trattorie, no Jardim Botânico. Claude conta que se inspirou na mãe e avó materna, que eram italianas, para criar um menu de massas e risotos. No mesmo ano, ele deu início ao projeto Atelier Troisgros, seu serviço de bufê para eventos. Em 2013, abriu o segundo CT Brasserie, no shopping Village Mall. Mais dois anos e inaugurou um segundo CT Boucherie, desta vez no Rio Design Barra. Em abril de 2016, decidiu fechar o CT Trattorie do Jardim Botânico e abriu, no lugar, outro CT Boucherie, o terceiro do grupo. Fechou este último algum tempo depois, mas escancarou outras duas casas: o Le Blond e o Chez Claude. Ao todo, calcula servir mensalmente cerca de 24 mil refeições. Reclama, no entanto, que o mercado caiu de maneira drástica nos últimos tempos, em razão da crise econômica. “Se, antigamente, as dificuldades estavam relacionadas à falta de ingredientes, hoje o problema é financeiro. É difícil fechar as contas. Se não fosse a televisão...”, diz fazendo um muxoxo. Apesar dos pesares, o movimento de clientes se mantém constante. O Chez Claude, inaugurado há um ano e meio, todavia, é a atual favorita do cozinheiro. A casa dispõe de apenas 30 mesas, com a cozinha posicionada no centro do salão. O restaurante abre apenas para o jantar e, segundo Claude, toda noite é uma festa. “A gente toma vinho, conversa, dá risada e, quando vê, o cliente está fazendo o próprio risoto na sua frente”, diz, rindo muito. Para ajudá-lo a administrar tudo isso, o restaurateur conta com a ajuda do restante da família. A filha Carolina,

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de 36 anos, é responsável pela área de eventos, marketing e publicidade. Seu genro, Marco, cuida da administração e das finanças, deixando o sogro livre para fazer o que realmente adora: cozinhar e conversar com a clientela. Claude gosta, também, de criar menus diferenciados com ingredientes tropicais, que troca de tempos em tempos, com a ajuda de seus assistentes bem treinados. Adora, ainda, matutar sobre os novos pratos no silêncio de seu home office, no Jardim Botânico. O ambiente verdejante do bairro combina com o espírito de Claude, afeito às aventuras perto da natureza. A casa, de dois andares, com piscina, churrasqueira e decoração despojada, porém elegante, é perfeita para receber e brincar com os quatro netos: Joaquim, 5 anos; Isabela, 4; Olívia, 3, e João Pedro, 2. “Eles me chamam de vovô maluco, porque sou brincalhão e eles me assistem na televisão”, conta. “Acho que sou um bom avô. A gente se vê pouco, porque trabalho bastante, mas quando se encontra é sempre uma farra.” Mesmo com tanta energia e alto-astral, Claude confessa que gosta de ficar sozinho uma parte do dia. Levanta-se por volta das 8h da manhã e sai para praticar algum tipo de atividade física. “Tenho o corpo muito duro, preciso me alongar”, comenta. Se acorda e não está disposto a praticar ioga, ou kitesurfe, ou a pedalar pelas ruas íngremes do próprio bairro, sai para caminhar em trilhas do Jardim Botânico, na companhia de seu cachorro Dedé, de pelagem negra e raça indefinida, bastante serelepe. O nome é uma homenagem ao amigo André Mifano, seu parceiro de elenco no pro-

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grama The Taste Brasil. Quando retorna, toma o café da manhã na companhia dos funcionários domésticos. Claude faz um rodízio entre os seis restaurantes na hora do almoço, a fim de acompanhar de perto o serviço. Quando não tem gravação na parte da tarde, ou alguma viagem para eventos, aproveita para trabalhar nos menus e trocar mensagens com seus assistentes via Whatsapp, por meio de seu Iphone 5. Não pensa em comprar um aparelho atualizado tão

“M e u s q ua t r o n e t o s m e c h a m a m d e vOVô m a l u c o, p o r q u e s o u b r i n c a l h ão e e l e s me assistem n a t e l e v i s ão”

cedo. Mas garante não ser pão-duro. “Só não sou gastador. Não tenho apreço por bens materiais. Esta bermuda que estou usando hoje tem uns cinco anos”, entrega. Claude também diz não ser vaidoso com a própria aparência, apesar de ser um homem de TV. “Só me preocupo com os cabelos”, diz, enquanto passa a mão pela coroa ligeiramente calva. “Será que vou ficar carreca?”, questiona. As noites de Claude são reservadas para ir ao Chez Claude, ou pegar um cinema, com direito a pipoca, na com-

panhia da mulher, Clarisse. Casaram-se em março de 2009. Ela era gerente de produção da GNT e negociava a parte de contratos e acordos comerciais da emissora. Desentenderam-se logo no início, por questões corriqueiras, mas uma viagem a trabalho tratou de unir os corações. Clarisse deixou o emprego algum tempo depois e passou a auxiliar Claude, sobretudo em questões relacionadas às organizações não governamentais para as quais ele colabora, como a Gastromotiva, que oferece cursos profissionalizantes em comunidades. Ele também faz questão de participar das iniciativas individuais de sua mulher. No dia 20 de outubro, por exemplo, Clarisse participa da Maratona de Amsterdam, na Holanda. Claude vai junto, pedalando, para prestar assistência. Aproveitará a viagem para a Europa para esticar sozinho até a França e rever o pai, Pierre, que completou 91 anos. O INTERNACIONAL larisse está acostumada com as viagens do marido e a verdade é que não tem com o que se preocupar: Claude se declara um homem apaixonado. Na realidade, passa boa parte do tempo ao lado de Batista, cozinheiro que o acompanha há mais de 30 anos e se tornou famoso graças ao bordão “Batissste!”, que vira e mexe Claude solta na cozinha. Foi Batista quem cuidou do Olympe quando o restaurateur, com as finanças abaladas pelo Plano Collor, nos idos de 1994, foi passar uma temporada de dois anos em Nova York. A convite de um grupo comandado pelo empresário Ricardo Amaral, abriu o restaurante CT

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no coração de Manhattan. Com apenas quatro meses de funcionamento, o restaurante recebeu três estrelas do New York Times. A casa foi vendida em 1996 e Claude retornou ao Brasil. Ele gosta mesmo é dessa inquietação criativa. Ficar parado não é sua praia. Há pouco, lançou uma marca de biscoitos de polvilho e, no segundo semestre do ano, deve estrear na TV

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l' e n fa n t

te r r i b le 1. Aos 8 anos, com a família (é o de camisa preta); 2. Com os filhos Carol e Thomas; 3. Com o irmão Michel e o pai. 4. Barbudo, ainda na França

aberta, comandando um reality show gastronômico (cujos detalhes a Rede Globo mantém em segredo). Quando se deita para dormir, tem o sono dos justos. Às vezes, sonha com seu prato favorito, aquele que comeria se fosse morrer amanhã: carne-seca com jerimum. “Fico com saudade quando passo muito tempo sem esse saborrr”, garante. Que marravilha! TP

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n egó ci os

À f r e n t e de u m t i m e on de a s m u l h e r e s s ão m a ior i a ,

Pau l a Pa s c h oa l ,

CEO d o Pay Pa l B r a s i l , d i z q u e

a s c é du l a s e m o e da s e s tão c o m o s d i a s c o n ta d o s. H á a n o s e l a d e i xo u d e u s á-l a s

o d i n h e i ro

va i ac a b a r

P or Lu i z M ac i e l R e t r a t o s M a r c e l o Pa e z

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O O d i a d e Pau l a Pa s c h o a l c o m e ç a c e d o e

p ode t e r m i na r be m ta r de , e m c onfe re nc e c a l l s à s 1 1 da n o i t e c o m c o l e g a s d e

t r a b a l h o d o o u t r o l a d o d o m u n d o. O u p o d e i n c l u i r u m a pa r t i d a d e t ê n i s n o m e i o d o e x p e d i e n t e , s e g u i d a d e a lm o ç o c o m a m i g a s e d e u m a e s c a pa d e l a pa r a l e va r a s d ua s f i l h a s – M a r i a , d e 4 a n o s , e A n a , de 2 – ao a n i v e r s á r io de u m a c ol e gu i n h a . P o d e a t é , n u m a s e x t a-f e i r a , s e r i n t e i r a m e n t e pa s s a d o f o r a d o e s c r i t ó r i o.

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A CEO do PayPal Brasil sabe como ninguém intercalar trabalho, lazer e convívio familiar ao longo do dia, de modo que uma atividade estimule a outra, em vez de atrapalhar – e faça com que um dia qualquer da semana, num passe de mágica, renda muito mais, como se ganhasse horas adicionais. Paula pode até se atrasar entre um compromisso e outro, por causa do trânsito imprevisível de São Paulo, mas nesse caso aproveitará cada minuto de engarrafamento para tocar a vida corporativa – ou doméstica – pelo celular. Como convém à executiva de uma empresa que agilizou os pagamentos feitos na internet, ela detesta perder tempo. Quando chegou para a entrevista com THE PRESIDENT no meio de uma rara manhã de sol de abril, um pouco depois do horário combinado, tinha uma lista de tarefas já cumpridas. “Deixei as meninas na escola às 7h, participei de uma reunião e fui a um evento corporativo aqui na [avenida] Rebouças. Na saída, tentei achar um táxi, não consegui e resolvi vir a pé.” Atraso mais que justificado, Paula. Detalhe: do auditório na Rebouças até o prédio da PayPal na avenida Paulista são pelo menos dez quadras de caminhada. Para cumprir uma agenda tão cheia e variada, sem a companhia de um assessor para quebrar galhos ou de um motorista para levá-la mais rápido de um lugar a outro, Paula passou por um curso de gestão, segundo suas próprias palavras, “melhor do que qualquer MBA”: a maternidade. “Recomendo essa experiência a todas as mulheres”, instrui. “Ser mãe me ensinou a usar o tempo com mais sabedoria, para poder dar conta de

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jovem no poder Aos 38 anos, ela está no comando há dois

tudo. Eu entendi melhor as diferenças entre as pessoas e me tornei uma gestora mais eficiente, sem dúvida nenhuma.” Paula Paschoal, que acaba de completar 38 anos, chegou ao posto máximo do PayPal Brasil aos 36, logo que voltou da sua segunda licença maternidade. Uma promoção bastante incomum no universo trabalhista do país, pois é justamente nesse período de volta ao trabalho, depois de quatro meses de ausência, que as brasileiras correm mais

risco de demissão. Mesmo no PayPal, onde o processo de contratação valoriza a diversidade, especialmente de gênero – 54% dos atuais 200 funcionários no Brasil são mulheres –, Paula conta que esperou três meses para contar ao chefe que havia ficado grávida da primeira filha, Maria. “Ainda tinha comigo a memória da discriminação contra as mulheres no trabalho”, confessa. Na época, ela havia acabado de ser promovida a diretora de vendas e te-

meu que a gravidez representasse um freio em sua carreira ascendente. Embora o chefe a tenha tranquilizado, dizendo que ela só teria a ganhar profissionalmente com a maternidade, ficou com a pulga atrás da orelha. O tempo mostrou que era um medo infundado e hoje, usando seu próprio exemplo, é ela quem zela pelo cumprimento da política de diversidade da empresa e, sempre que possível, procura aprimorá-la.

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a mesma forma como muitas vezes trabalha fora do escritório, Paula entende que os funcionários também podem fazer isso em dias de rodízio de carro, por exemplo, ou quando levam um parente ao médico. “É só negociar com o gerente da área”, diz. “Desde que o trabalho não seja comprometido, tentamos ser flexíveis. Ainda não consegui ampliar as licenças maternidade e paternidade, mas essas demandas estão no meu radar.” O PayPal Brasil não trabalha com cotas, mas tem um critério muito claro na hora de contratar: entre os três finalistas para alguma vaga, pelo menos um deve fugir do padrão esperado. “Nunca iremos escolher entre três homens brancos formados na Poli (Escola Politécnica da USP) ou na GV (Fundação Getulio Vargas)”, assegura Paula. “Haverá sempre uma ou duas mulheres para avaliarmos, um negro, alguém que fez uma faculdade sem renome ou uma pessoa com deficiência.” Gente com a mesma formação, observa a executiva, dificilmente vai trazer o componente de inovação que a companhia exige na criação de novos produtos, na estratégia de vendas, na operação do dia a dia. “São práticas assim que conseguem tornar o ambiente mais diverso, com performance melhor e mais justo”, conclui. Se adora passar a sexta-feira fora do escritório, Paula, em contrapartida, não se incomoda de abrir o laptop nos finais de semana para trabalhar. É nas horas mortas do domingo, aliás, que ela costuma navegar pelos sites de e-commerce para checar se estão aceitando pagamento pelo PayPal. Se não estiverem, deixa registrada sua decepção como

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consumidora, em todos os canais possíveis. “Nesse ponto sou mesmo radical. Compro quase tudo pela internet e só de quem aceita pagamento via PayPal”, afirma. Nas outras transações que é obrigada a fazer no dia a dia, usa cartão de crédito. Dinheiro, nunca. “Se precisar dar uma gorjeta tenho de pedir emprestado a alguém”, confessa. O BRASILEIRO E A INTERNET aula entrou no PayPal tão logo a companhia abriu seu escritório em São Paulo, em 2010. Sua trajetória profissional teve início em 2002, no último ano do curso de administração que fez na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), como estagiária na Câmara Americana de Comércio. Dali saiu em 2004 para a área de vendas da AMD, empresa americana de componentes de informática. Três anos depois, saltou para a gerência de e-commerce da Fnac, a cadeia francesa de lojas de produtos culturais que acabou de deixar o Brasil, e de lá chegou ao PayPal. Fundado em 1999 no Vale do Silício, na Califórnia, o PayPal nasceu como uma startup de proposta bastante promissora, a de simplificar e dar segurança às compras pela internet. Logo fechou parceria com o e-Bay. Em 2003, o gigante das vendas online comprou a empresa e acelerou o seu crescimento – foi um impulso tão forte que em 2015, quando o valor de mercado do PayPal já era maior do que o do próprio e-Bay, as duas companhias se separaram. Hoje o PayPal, líder mundial no setor de meios de pagamento, está cotado em US$ 107 bilhões, enquanto o e-Bay vale pouco menos de

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pa g a n d o

pra ver Ágil, a empresa tem 4 milhões de usuários no Brasil. Paula crê em um alto crescimento

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A pay pa l é l í d e r mundial no setor de m e i o s d e pa g a m e n t o. Va l e US $ 10 7 b i l h õ e s

feminino, incomodado com o clima machista que impera nos pontos de venda de combustível. Segundo Paula, a tendência é que novos acordos sejam feitos com outras redes do varejo. PERDA MÍNIMA CEO do PayPal Brasil prevê que daqui a cinco anos, no máximo, todos nós possamos fazer como ela: sair de casa sem um tostão furado no bolso. O papel-moeda, que passa de mão em mão transmitindo bactérias e obriga as autoridades a reprimir falsários cada vez mais sofisticados, felizmente vai acabar, vaticina. Mas isso nos livra das fraudes que podem existir no meio digital? “Se tem uma coisa que o PayPal sabe fazer muito bem é a gestão de risco e fraude”, avalia. “Hoje a nossa perda global é de menos de 0,3% de todas as operações que fazemos. Para quem garante a segurança tanto para o comprador como ao vendedor, é muito pouco.” Dito isso, Paula Paschoal confere discretamente o horário no celular, sugere o encerramento da entrevista, agradece a todos e parte para um novo compromisso. Com 0,3% de chance de precisar usar dinheiro vivo no caminho, seja para onde ele levar. TP

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um terço dessa bolada, US$ 35 bilhões. Dos 267 milhões de usuários do PayPal no mundo, 4 milhões são do Brasil – considerando os que fazem ao menos uma transação por ano. “Temos potencial para avançar muito mais no mercado, pois os brasileiros passam em média 4h45 por dia navegando na internet, quase o dobro

dos americanos. Somos um dos povos mais conectados do mundo”, observa. Além das compras online, o PayPal pode ser usado no país por clientes dos postos Shell. Dos 6 mil postos da rede, cerca de 2,5 mil já aderiram ao pagamento via PayPal, que é feito pelo celular, sem sair do carro – uma reivindicação do público

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E STI LO

HORA DE

RE LUZIR Um gui a de

joi a s, r e lรณgios e c a n e ta s pa r a p r e s e n t e a r no Di a dos Na mor a dos

Por Fr a nรงoise Terzi a n

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p P r e s e n t e b o m é pa r a a v i da t o da . p e n s a n d o n i s s o, s e l e c i o n a m o s j o i a s , r e l ó g i o s e c a n e t a s d o p r i n c i pa i s c r i a d o r e s e r e v e n d e d o r e s . Aq u i e s t ão m a rc a s t r a dic iona is, de pl e na c on f i a nç a d e d i v e r s a s g e r aç õ e s . Ju n t o a e l a s e s t ão t a m b é m o ut r a s m a i s r e c e n t e s , m a s i g ua l m e n t e c e r c a da s d e j u s t í s s i m a c r e d i b i l i da d e . L e i a , p o n d e r e e e s c o l h a a n t e s d e c o m p r a r aq u e l e p r e s e n t e pa r a a v i da t o da pa r a e s t e 1 2 d e j u n h o.

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Corsage e Rolex: décadas de parceria Apaixonada por joias, a família Mora criou a Corsage no ano de 1936, em Florença, na Itália. De lá, a joalheria foi trazida ao Brasil e tornou-se uma das mais importantes do país. O adjetivo se refere a uma combinação de expertise e critério na seleção das gemas associados ao alto padrão em ourivesaria, com o melhor custo-benefício. Além disso, a empresa oferece atendimento personalizado e consultoria especializada, algo tão importante quanto suas joias. De fato, o convívio com os clientes transcende a relação comercial. O foco é estreitar laços e criar vínculos. Por tudo isso, a Corsage mantém afinada parceria com a Rolex. Isso a levou a inaugurar, no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, a primeira flagship da marca suíça no Brasil. Já consolidada como maior dealer de relógios da maison em toda a América Latina, a Corsage passou a operar também a Boutique Rolex Corsage, uma das lojas projetadas pela própria Rolex no mundo. A Corsage também é pioneira em leilão de joias novas. Assim, proporciona condições especiais e uma nova experiência de compra. Para o Dia dos Namorados, a joalheria recomenda os diamantes. Até porque, como se costuma dizer, eles são eternos. “Dos mais delicados aos mais exuberantes, os diamantes têm o poder de fascinar e também de demonstrar simbolismos como o amor”, define Andréa Castro, gerente de relacionamento da Corsage e coordenadora-geral dos leilões da companhia. Outra sugestão é presentear com turmalinas paraíba, que impressionam pela beleza e raridade. corsage.com.br Andréa Castro é gerente de relacionamento da Corsage e coordenadorageral de leilões da companhia

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Julio Okubo, sinônimo de pérolas A saga da família que se tornou marca de joias e sinônimo de pérolas está intimamente ligada a sua origem oriental. Os Okubo, imigrantes japoneses, chegaram em São Paulo em meados da década de 1920. Rosa Okubo, mãe de Julio, trouxe sua primeira pérola para o Brasil e abriu a própria joalheria. Julio, seu único filho homem, nasceu com o dom de transformar metal e pedras preciosas em joias. Falecido no ano passado, Julio fundou a Julio Okubo em 1965. Ele contou numa entrevista: “Quando me sentei pela primeira vez numa bancada de joalheiro, foi como se tivesse encontrado meu lugar neste mundo. Era aquilo mesmo o que eu gostaria de passar a vida fazendo. Soldar, cravar, polir, dar forma as joias, para mim era algo natural. Sem alegria no coração não se faz um boa joia”. Hoje, a joalheria está nas mãos de seu filho Julinho e de seu neto, Maurício, que comenta: “Nossa preocupação nunca foi sermos os maiores ou os mais arrojados. Mas sim fazer aquilo que sabemos fazer bem-feito: trabalhar, criando joias com design exclusivo e qualidade impecável”. juliookubo.com.br

Maurício Okubo é o CEO da Julio Okubo, fundada por seu avô

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Tag Heuer: a gestão do tempo, com classe “Um dos diferenciais da TAG Heuer é a variedade de produtos que acompanha a mulher moderna em diferentes momentos da vida, da academia a uma festa mais sofisticada”, avalia Freddy Rabbat, CEO da marca no Brasil. A maison suíça demonstra assim que dá a mesma importância às coleções masculinas e femininas. Atender às demandas da mulher moderna é, de fato, uma das características da marca. No caso do relógio TAG Heuer Formula 1 Lady, por exemplo, a pulseira pode ser trocada para que se adapte ao look requisitado pelo ambiente. Dessa forma, dá para migrar do esportivo ao clássico em segundos. A caixa está disponível nos diâmetros de 32 ou 35 mm, em aço polido e escovado ou revestida com PVD preto, e retoma a forma tonneau que é indissociável do modelo masculino do TAG Heuer Fórmula 1. Outro objeto de desejo é a releitura do modelo Link, criado em 1987. Sua característica mais marcante é a pulseira com seus elos em forma de S. “Pela primeira vez, cores vivas estão presentes

Freddy Rabbat é o CEO da TAG Heuer no Brasil

na coleção: o azul-marinho com efeitos de raios solares e a madrepérola rosa dão vida aos mostradores”, diz Rabbat. Feito em aço e com um elegante diâmetro de 32 mm, o novo Link Lady conta com uma pulseira que se integra à caixa, fazendo com que suas asas desapareçam. O tradicional contorno da pulseira permanece e seus acabamentos são ainda mais sofisticados. Como opções nunca são demais, vale conhecer o TAG Heuer Aquaracer a quartzo, cuja resistência à água permite mergulhar até 300 metros. A caixa de aço polido e escovado chama atenção tanto quanto o indicador de fim de vida útil da bateria. tagheuer.com

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A versatilidade de Claudia Kechichian A versatilidade é uma das facetas mais admiráveis da designer de joias Claudia Kechichian. Neta de um exímio joalheiro armênio que viveu na Turquia, berço de talentosos ourives, ela conseguiu ir além da herança genética. Autora de joias exclusivas, a exemplo de peças com Tanzanita e Diamantes, Claudia gosta de recontar histórias por meio de seus braceletes, brincos, anéis, colares e chokers. Seu olhar atento foi tão longe que chegou até no Carnaval de São Paulo, cujo samba-enredo 2019 homenageou o povo armênio com Viva Hayastan!, que Claudia deu forma às mais de 500 rosas, espadas e cruzes ortodoxas que cruzaram a avenida. Tudo em prata, ouro e latão - no caso da liga metálica à base de cobre e zinco, a joalheira fez questão de banhá-las com ouro 21 mm. “Gosto muito de trabalhar com ouro, que dá melhor acabamento às peças”, diz Após o envolvimento com o Carnaval, a joalheira sentiu o desejo de ouvir rock and roll e de levar o estilo musical nascido nos Estados Unidos para suas peças. Foi assim que nasceu a novíssima coleção Rock and Roll, composta por quatro peças em variações de metais. São chokers, piercings, anéis e pulseiras. Todas em versões em ouro e prata. Em breve, também em ouro rosé. “Não faço uma peça que a mulher não vai usar. Não faço joia para deixar no armário”, avisa. As chokers da coleção Rock and Roll foram desenhadas pensando na mulher contemporânea que vai usá-la com calça jeans e camisa branca ou em um evento à noite. Com clientes de 20 a 70 anos, Claudia desenvolve joias onde o céu é o limite. “Meu forte é criar peças extremamente exclusivas. E não adianta pedir para eu repetir por que não repito por dinheiro nenhum do mundo. Desenho a peça para a pessoa, inspirada em seu jeito, estilo e ritmo de vida.” A criatividade, assim como as inspirações de Claudia, não têm limites. Antenada nas tendências, ela também gosta de olhar e buscar referências. Isso explica coleções como a inspirada nas curvas do corpo humano estudadas por Leonardo da Vinci e a que resgatou os códigos vikings. Joias cheias de histórias. claudiakechichian.com.br

Claudia Kechichian é a criadora das joias da empresa que tem o seu nome

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O reluzente legado da Montecristo É impossível abordar as melhores joalherias do Brasil sem citar o reluzente legado esculpido a partir de 1961 por Nelson Semeoni, o fundador da Montecristo. Esculpido, sim. O verbo construir seria uma definição grosseira para explicar o olhar atento e o gosto refinado deste empreendedor da alta joalheria e relojoaria. A morte recente de Semeoni trouxe para os seus filhos Marcelo e Nelson, além de muita saudade, um legado composto por anos de experiência e parceria inabalável com grandes grifes mundiais do quilate de Rolex, Cartier, TAG Heuer, Breitling, Tissot e Victorinox. Hoje, a Montecristo opera em duas das maiores referências de luxo do Brasil - os shoppings Iguatemi SP e JK Iguatemi, ambos em São Paulo. A história dos atuais gestores da marca está ligada à da empresa de forma intrínseca. “Desde meus 13 anos, em

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Marcelo Semeoni é o diretor-geral da Montecristo

minhas férias e no Natal, ajudava nas lojas entregando pedidos, pagando contas e até mesmo fazendo pacotes de presente, admirando aquelas peças lindas que eram vendidas”, recorda Marcelo. No momento, ele comanda o negócio ao lado de Nelson e da mulher do irmão, Patrícia. É ela, na verdade, quem cuida, especificamente, de toda a parte de joalheria. “Nossos investimentos em qualidade dos produtos, serviços e atendimento têm nos mantido entre as melhores joalherias do país”, comemora Marcelo. montecristo.com.br

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Montblanc, muito além da caneta preta Há 113 anos, a união de um engenheiro, um banqueiro e um comerciante especializado em artigos de papelaria apresentou ao mundo a caneta que viraria objeto de desejo em todo o globo. Foi assim que a alemã Montblanc (de nome francês, é verdade, mas originária de Hamburgo) entrou para a história. Hoje, a marca escreve sua história muito além do tradicional modelo preto. “Surgida para atender consumidores masculinos, a Montblanc vem, ano a ano, diversificando os produtos”, lembra Juliana Pereira, diretora de marketing da marca. “Também atende às mulheres.” Exemplo disso é a caneta branca Bonheur Weekend esferográfica com listras azuis. Outra de suas criações que vale a pena considerar como presente para o Dia dos Namorados é a carteira vermelha Sartorial, com couro exclusivo. Ou os brincos Souvenir d’Etoile, de ouro rosé e madrepérola. Para não perder as horas, o relógio Bohème Perpetual Calendar, de ouro rosé com aro cravejado de diamantes. Eis aí alguns exemplos de produtos femininos da marca alemã que, no próximo semestre, devem desembarcar com mais frequência no país, de olho nas brasileiras contemporâneas e adeptas dos itens de alta qualidade. montblanc.com.br

Juliana Pereira é a diretora de marketing da Montblanc no Brasil

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co nsu m o

m a i s u m a s e l e รง รฃ o d e p r e s e n t e s pa r a o d i a d o s n a m o r a d o s

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lov e Por r a ph a el c a l l e s

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onze nome s

f o r m a ç ão

3 - 5 -2 c l á s s i co

que se tr a nsfor m a r i a m nos tit ul a r es.

Honrando a tradição dos zagueiros sulamericanos, a equipe joga com três, um de cada nacionalidade. Isso libera os alas, bem ofensivos. Do meio para o ataque, só craques. Infelizmente, muitos jogadores excepcionais ficaram de fora.

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defesa

Rodolfo Sergio Rodríguez Y Rodríguez Montevidéu, Uruguai 20 de janeiro de 1956

A morte recente de Gordon Banks (1937-2019) reavivou a lembrança da sua fenomenal intervenção numa testada de Pelé no Brasil x Inglaterra da Copa de 1970. Porque ocorreu numa competição transcendental, ganhou o epíteto de a Defesa do Século. Nem de longe, todavia, foi tão linda e quase milagrosa como a sequência de quatro defesas sucessivas de Rodolfo Rodríguez em 1984, pelo Santos, na Vila Belmiro, 2 x 0 no América de Rio Preto. Na ocasião, o goleiro uruguaio quebrou o mindinho da mão esquerda na jogada. E continuou em campo. Rodolfo (1,91 m e 90 kg) atuou pelo Santos em 255 combates, de 1984 a 1988. Foi titular da seleção uruguaia ao longo de 11 anos. O Santos sempre trouxe goleiros do exterior. Pagou US$ 120 mil por Rodolfo, com um cheque emprestado por Pelé. No século passado, teve arqueiros da França (Julien Fauvel, década de 1910), Suécia (Agne, anos 1920), Checoslováquia (Peter, 1952) e até Hungria (José Lengyel, 1941/42). Nenhum como o argentino Agustín Cejas (1970/1974) e o estupendo Rodolfo Rodríguez.

JOSÉ MANUEL RAMOS DELGADO Quilmes, Argentina (1935-2010)

Filho de um cabo-verdiano com uma portenha, depois de vestir os uniformes do Lanús, do River e do Banfield, na sua terra natal, se transferiu ao Santos em 1967. Es-

tava então com 32 anos. Logo se enfronhou num elenco que ostentava Carlos Alberto, Lima, Toninho Guerreiro, Pepe e, claro, um certo Pelé. Tinha um sotaque divertido, o verdadeiro portunhol. Na sua primeira temporada, participou de apenas 18 das 324 porfias que disputaria pelo Peixe. Mas já impactava por seu estilo clássico e imponente, aparentemente lento e pesado, porém categórico na frieza das antecipações. Conquistou um tri no Campeonato Paulista, 1967/ 68/69. Ganhou o Robertão, que equivalia a um Brasileiro, em 1968. E repetiu o Estadual em 1973. Então foi trabalhar em escolinhas de futebol, experiência que o recolocaria no Santos, nas divisões de base, de 1977 a 1978, quando optou por retornar à Argentina. Voltaria ao Brasil apenas em 1994, sempre a cuidar dos pequeninos. Ajudou o time a revelar Robinho e Diego, que, em 2002, propiciariam o primeiro título nacional do Santos desde o ano de 68, com Ramos Delgado no time. Faleceu consumido pelo Alzheimer.

ELIAS RICARDO FIGUEROA BANDER Valparaíso, Chile 25 de outubro de 1946

Na sua fase de preparação à Copa do Chile, em 1962, a seleção do Brasil, alojada em Viña del Mar, escolheu por sparring, nos treinamentos, uma equipe de garotos na qual fulgurava um beque que dominava a pelota com facilidade e quase sem olhar o gramado. Um rapazote de 15 anos que padecera de asma e difteria, e a quem médicos tinham recomendado não praticar esportes. Figueroa impressionou por desarmar Pelé ou Didi sem a menor agressividade. E, quando podia, saía jogando de cabeça alta.

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meio-campo

Em 1967, Figueroa se profissionalizou no Penãrol no Uruguai, onde foi bicampeão nacional (67/68). Dali se transferiu ao Internacional-RS. De 1971 até 1976 venceu todas as disputas estaduais e, em 1975 e 1976, tornou-se bi do Brasileiro. Virou lenda o gol que anotou em 1975, na decisão contra o Cruzeiro, no Beira-Rio. Era o final de tarde quando, aos 12 minutos do segundo tempo, após um alçamento de Valdomiro, subiu quase 1 metro e, no exato instante da sua testada, um inesperado e fortuito raio de sol o abençoou. Aquele virou o Gol Iluminado.

CARLOS GAMARRA Ypacaraí, Paraguai 17 de Fevereiro de 1971

Um globetrotter. De 1991 a 2008, defendeu as cores de 11 clubes da América do Sul e Europa. No Brasil, passou pelo Inter de Porto Alegre (1995 a 1997), Flamengo (2000 a 2002) e Palmeiras (2005 a 2006). Mas foi pela sua estada no Corinthians (80 partidas e sete tentos em 1998/99) que se transformou em ídolo. Pouco importa se apenas arrebatou o Brasileiro de 98, o Paulista de 99, e se mudou para os colchoneros do Atlético de Madrid. A torcida se fascina com o fato de Gamarra, como craque do Timão, ter disputado a Copa da França de 1998 sem cometer uma única falta em 775 minutos de ação. Já na Espanha, todavia, em vez de se empertigar no topo do pódio, acabou por desabar à Série B, o único rebaixamento dos quase centenários colchoneros. Seja como for, o zagueiro que não batia, e com rosto de bom menino, esteve entre os ganhadores da única medalha da história do Paraguai nos Jogos Olímpicos. A de prata. A equipe só perdeu a decisão, 0 x 1 para a Argentina, num gol de Carlitos Tevez.

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ALFONSO DARÍO PEREYRA BUENO Sauce, Uruguai 15 de outubro de 1956

Extremamente versátil, na sua origem um apoiador com o ímpeto de um avante, aos 20 anos já era um astro do Nacional de Montevidéu quando o treinador Rubens Minelli o incorporou ao elenco do São Paulo. Num azar enorme, demorou quase três anos até se provar no clube novo. Felizmente, o Tricolor apostou como pôde no talento do rapaz que, sem saber, trouxera do Uruguai um problema infeccioso que nenhum doutor descobrira. Em 1980, sanado o problema, Carlos Alberto Silva, o novo técnico, deslocou Darío para a proteção da retaguarda e a escolta de Oscar Bernardi. Ambos formariam uma das melhores duplas do planeta. E Darío seria quatro vezes campeão do estado (1980/81/85/87) e duas vezes do Brasil (1977/86). Depois de 453 pelejas e de 37 tentos, trocou o São Paulo por um período fugaz no Flamengo, 12 jogos. Daí retornou à Pauliceia (40 partidas com o Palmeiras). Encerrou a carreira no Gamba Osaka do Japão. Em 1994, sofreu o pior impacto da sua vida com o falecimento súbito da esposa, Helenita, por más intercorrências numa lipoaspiração em clínica paulistana. Também tentou seguir a carreira de treinador. Sem sorte. Em 2001, por exemplo, contratado pelo Corinthians, mal durou seis cotejos.

O beque ga m a r r a jog ou u m a c o pa d o m u n d o s e m c o m e t e r fa lt a s

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JUÁN PABLO SORÍN Buenos Aires, Argentina 5 de maio de 1976

Originário do River Plate, cujo fardamento envergou de 1996 a 2000, viveu três estadas primorosas no Cruzeiro: de 2000 a 2002, em 2004, e de 2008 a 2009. Nos intervalos, passou por clubes da Alemanha, Espanha e Itália, sempre a esbanjar dinamismo e uma impressionante inteligência tática. Pela equipe mineira, em várias funções no gramado, disputou 127 pugnas e marcou 18 tentos. Tinha 19 anos quando o treinador José Néstor Pekerman lhe entregou a braçadeira de capitão da sua seleção do Mundial Sub-20 de 1995, no Catar, com a qual abiscoitaria a taça. Ao dependurar as chuteiras, inaugurou carreira como comentarista e apresentador de TV. Também se transformou em colunista de jornais e em YouTuber. Engajados em causas sociais, ele e a esposa, Sol Cáceres, editaram o livro Grandes Chicos, compilação de autores como Eduardo Galeano e artistas como Fito Paez. A renda foi revertida à construção de duas escolas para crianças na Argentina. Ainda lançaram outro, também beneficente, Pelotas de Papel, com textos seus e de craques como Pablo Aimar e Javier Mascherano.

FRANCISCO JAVIER ARCE ROLÓN Paraguari, Paraguai 2 de abril de 1971

Começou no Cerro Porteño. Em 134 cotejos pelo Grêmio de Porto Alegre registrou 25 tentos e acumulou

os troféus da Libertadores de 1995 e do Brasileiro de 1996. Mas foi no Palmeiras de Luiz Felipe Scolari que se consagrou, entre 1998 e 2002, pela liderança, a eficiência na marcação e na cobertura e, ainda, nas assistências, cruzamentos e cobranças de infração. Ali abiscoitou a Copa do Brasil de 1998 e a Libertadores de 1999. Foi o jogador estrangeiro que mais atuou pelo Palmeiras, com 241 jogos. “Chiqui”, como é chamado pelos amigos, mora em um sítio em sua cidade natal quando não está exercendo a carreira de técnico. Já dirigiu a seleção paraguaia em duas temporadas. Não esconde de ninguém: seu sonho é treinar um grande time brasileiro.

PEDRO VIRGÍLIO ROCHA FRANCHETTI Salto, Uruguai (1942 –2013)

Disputou quatro Copas do Mundo: 62, 66, 70 e 74. No máximo saboreou um quarto lugar no México, depois de a sua Celeste perder do Brasil numa semifinal e da Alemanha na briga pelo bronze. Aliás, contundido, não enfrentou os dois. De todo modo, foi considerado o maior jogador do seu país. Apelidado El Verdugo pela destreza com que abalava adversários, era quase impossível tomar-lhe a bola, que parecia presa, magnetizada aos seus pés. Foi, ao mesmo tempo, elegante na armação e no passe, fatal na finalização, Pelo Peñarol, acumulou oito títulos nacionais do Uruguai. Conquistou a Libertadores em 1960, 61 e 66. Dentre os reservas do seu clube, venceu a Intercontinental de 61 sobre o Benfica. Mas foi titularíssimo em 1966, diante do Real Madrid, 2 x 0 em Montevidéu

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e Madri, quando fez um dos tentos. No São Paulo, de 1970 até 1977 disputou 357 pelejas e registrou 113 gols. Integrou um elenco que ostentava Forlán, Toninho Guerreiro e o mestre Gérson. Sem conquistar o Campeonato Paulista desde 1957, com Don Pedrito o Tricolor levou as taças de 1970/71 e 1975. Educado, caladão, e incapaz de mandonismos, não funcionou como treinador. Em 2009, sofreu um AVC, que lhe comprometeu os movimentos e acarretou uma atrofia do mesencéfalo que o deprimiu até a morte.

ANTONIO SASTRE Lomas de Zamora, Argentina (1911-1987)

Um virtuoso numa posição que já não mais existe, aquela do ponta de lança, encarregado da transição da defesa até o ataque. Destacou-se numa década em que a Segunda Guerra impediu a disputa da Copa do Mundo, sacrificando uma geração de supercraques argentinos como Pedernera, Labruna e ele, Sastre. Supereclético, chegou a atuar inclusive de arqueiro. Não se jogavam muitas partidas em sua época – inclusive por causa da guerra. Por isso, em seus 11 gloriosos anos atuando pelo Independiente, participou de apenas 340 pelejas, anotando 111 gols. Nem mesmo na infância, Sastre dispunha de tempo para as artes da pelota. Não podia. Órfão de pai, o primogênito de seis irmãos trabalhava na ajuda da mãe. Algumas peladas bastaram para lhe propiciar um teste no clube de Avellaneda. Passou e se tornou famoso. Sem levantar um único troféu desde a sua fundação em 1935, o São Paulo procurava reforços por todos os cantos. Roberto Guimarães Bastos, o cônsul do Brasil

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em Buenos Aires, intermediou a transferência de Sastre, saudado por uma multidão em seu desembarque, no aeroporto de Congonhas, 8 de Abril de 1943. Recebera o apelido de “El Cuila”, como um roedor dos Andes, cheio de truques para se livrar dos predadores. Habituado às rudezas nas divididas dos marcadores na Argentina, precisou padecer vários jogos, cercado de críticas, até se adaptar ao estilo mais ameno de seus perseguidores no Campeonato Paulista. Desabrocharia em 14 de agosto, diante da Portuguesa Santista. O placar foi 9 x 0 em favor do Tricolor. Autor de seis tentos, começou a consagrar-se. E se tornou “El Maestro”. O São Paulo ficou com o título de 1943. De fato formidável, a sua ofensiva, Luizinho-Sastre-Leônidas-Remo-Pardal, se eternizaria na memória de quem viu e na literatura da pelota. Sastre, de 1943 a 1946, participou de 129 jogos e anotou pelo clube paulista 58 gols.

a ve z d e

“ E l Ba n d o n e ó n ” Uma seleção que se preza não pode abdicar de um treinador. E quem mais adequado que outro gringo? Melhor: o único que, um dia, dirigiu uma seleção brasileira? Trata-se do folclórico Nélson Ernesto Filpo Nuñez (1920-1999), argentino de Buenos Aires. O folclórico “El Bandoneón” dirigiu mais de 30 clubes até aposentar-se, em 1997. Jamais venceu um só certame relevante. Mas, para a inauguração do Mineirão, em 1965, dirigiu o Palmeiras, então trajado com o uniforme da seleção brasileira. Sapecou 3 x 0 na Celeste.

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ataque

NARCISO HORÁCIO DOVAL Buenos Aires, Argentina (1944-1991)

p o r c au s a d e u m a q u e i m a d u r a , Teve z n e m fa l a d i r e i t o. M a s como joga bol a!

Revelado no San Lorenzo, também foi ídolo quando atuou pelo rivalérrimo Huracán. Transferido ao Brasil, aqui se naturalizou e conseguiu se transformar em ícone de inimigos antológicos, Flamengo e Fluminense. De personalidade carismática, charmoso e insinuante, até mesmo sedutor, sobretudo diante das mulheres, rapidamente se tornou onipresente nas capas dos jornais e nas imagens coloridas das revistas. Parecia estar sempre na praia de Ipanema, onde chegava de motocicleta, apenas de sunga e havaianas. Integrava o chamado Trio de Ouro com os irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle, da segunda turma da Bossa Nova, igualmente louros. Assim descrito parece que fazia de tudo, menos jogar bola. Não, Doval foi craque no Fla, de 1969 a 1975, em 269 jogos e com 95 gols anotados. Idem no Flu, de 1976 a 1978, com 143 pelejas e 68 tentos. Era técnico, mas sabia como usar o físico. Veloz na arrancada, também cabeceava bem. Era maroto, provocador, tanto que o batizaram de “El Loco”. Pelos dois clubes, acumulou três triunfos no Campeonato Carioca, em 1972, 1974 e 1976. Zico não se incomoda de contar que conheceu Sandra, a sua esposa desde 1975, por ser ela uma das fanzocas que iam aos treinos do Flamengo para ver Doval, mesmo que à distância. Fotógrafos e tietes o perseguiam aonde pudesse aparecer. Quase sempre driblando, foi o artilheiro do Carioca em 72 com 16 gols; e de 76, com 20. Mas não conseguiu driblar a cardiopatia. Morreu aos 47 anos, em sua cidade natal, vítima de um infarto.

CARLOS ALBERTO MARTÍNEZ TEVEZ Ciudadela, Argentina 5 de fevereiro de 1984

Destaque absoluto da seleção platina que levantou o ouro então inédito do futebol nos Jogos Olímpicos de Atenas, 2004, Tevez já tinha no currículo um título de Libertadores e um Mundial de Clubes, pelo Boca Juniors, quando se tornou alvo número um da polêmica parceria do iraniano Kia Joorabchian com o Corinthians. Parceria que propiciou o Brasileiro de 2005 ao Timão, mas se esfacelou num turbilhão de escândalos. Tevez é um fenômeno de superação. Cresceu em uma espécie de Cidade de Deus. Ainda meninote, sofreu um acidente doméstico que lhe deixou cicatrizes de queimadura no rosto e pescoço, e certa dificuldade de fala e de dicção. Mas ainda menino demonstrava que seria craque. Pelo Corinthians, em 78 prélios, anotou 46 tentos. Em um deles, contra o Verdão, driblou Gamarra e deixou-o no chão. E fez três contra o Santos, numa pugna que se encerrou em 7 x 1. Vendido para a Europa, se consagrou campeão no Manchester United, no City e na Juventus de Turim. A Fiel sempre sonhou com a sua volta. Mas Carlitos preferiu retornar ao Boca, onde atua até hoje. TP

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Terraço da Princess Grace Suite, no Hôtel de Paris em Mônaco

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luxo

F e i t o pa r a

brilhar Ap ó s u m a r e f o r m a c o mp l e t a n o s ú l t i m o s c i n c o a n o s , O l e n dá r io

H ô t e l d e d e Pa r i s M o n t e- c a r l o

e s c r e v e u m a n o va pá g i n a e m s ua h i s t ó r i a

P o r f e r n a n d o pa i va , d e M ô n a c o

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M ô n ac o

é célebre por

s ua d o l c e v i t a . M a s n e m s e mp r e f o i a s s i m . Em 1 8 61 , as r ebeldes r egiões de M e n t on e Ro qu e b ru n e , qu e vo l t a e m e i a s e i n s u r g i a m c o n t r a o s i mp o s t o s da fa m í l i a G r i m a l d i , f o r a m c e d i da s à F r a n ç a pa r a q u e o p r i n c i pa d o t i v e s s e s ua s o b e r a n i a r e c o n h e c i da .

E com isso Charles 3o viu seu território – coberto por antigos pomares de limão siciliano, frutas e oliveiras – diminuir 80%. Mônaco se tornaria o segundo menor estado europeu, com apenas 202 hectares, atrás apenas do Vaticano. Sem dinheiro em caixa, perto da falência, Charles resolveu seguir os conselhos da mãe, a princesa Caroline: construir um cassino para atrair a aristocracia europeia, e um hotel para hospedá-la. Com a ajuda do milionário François Blanc, em 1864 ambos já funcionavam. Para administrá-los, o

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príncipe criou a Société des Bains de Mer. E o bairro, hoje um dos dez de Mônaco, foi batizado de Monte-Carlo, em homenagem a Sua Alteza Sereníssima. O hotel? Bem, simplesmente virou lenda: Hôtel de Paris. Depois de cinco anos de obras, essa lenda inscreve agora uma página nova em sua saga, com a renovação dos espaços interiores, a criação de duas suítes e a abertura do Ômer, o novo restaurante de Alain Ducasse. A fachada do hotel recupera o espírito Belle Époque de 1909 – data da primeira reformulação – e um pátio interno abriga joalherias como Graff e Harry Winston. O esplêndido restaurante Le Louis XV, triplamente estrelado pelo guia Michelin, continua à disposição de 50 felizardos, que podem aproveitar não apenas uma das culinárias mais criativas do Mare Nostrum como uma carta de vinhos franceses excepcional. Os produtos da terra e do mar estão umbilicalmente ligados na segunda casa de Ducasse no principado, o Ômer. Numa atmosfera casual, no piso térreo da nova ala Rotonde, a decoração do restaurante lembra a de

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Envidraçada, a suíte Princess Grace tem vista para o mar. Abaixo, a suíte Rainier 3o

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um barco. Ao lado de seu chef Patrick Laine, Ducasse montou um cardápio que passeia pelas delícias do Líbano, da Turquia, do Marrocos, da Tunísia. Finalmente, no oitavo andar, o restaurante Le Grill mantém há anos a tradição de um dos lugares mais genuínos de Monte-Carlo: a grelha a lenha central que batiza a casa, o telhado retrátil para um jantar sob as estrelas, carnes e peixes assando lentamente no espeto. Nenhuma das 207 unidades do hotel tem menos de 34 metros quadrados – dos quais 60% são suítes, a maioria com varanda ou terraço. Os colchões são recobertos de seda Tussar; lâmpadas e candelabros, feitos de vidro Murano; o couro é da ultraecológica marca italiana Elite; roupa de cama Quagliotti tecida em algodão pima. Os produtos de banho? Todos da Guerlain. Com esse luxo asiático e essa busca de excelência, não espanta que as duas novas suítes do Hôtel de Paris sejam consideradas as mais excepcionais da Riviera – o principado, aliás, encontra-se a menos de 20 quilômetros a leste de Nice, na França, e a 20 quilômetros a oeste de Ventimiglia, na Itália. A Princess Grace Suite é um assombro. Distribuída por dois andares, o sétimo e o oitavo, ela tem área total de 910 metros quadrados – 440 destes ao ar livre. Hospedar-se aqui,

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No alto, os jardins remodelados. Acima, sala de degustação e adega do Ômer, com o chef Patrick Laine. Abaixo, o The Grill com o teto aberto

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Saguão de entrada, com a estátua equestre de Luís 14

para usar uma palavra da moda, é mesmo uma “experiência”. Vista panorâmica para o porto, piscina aquecida de borda infinita, uma rara jacuzzi de granito, banho de vapor e sauna seca, dois closets e um lounge são apenas algumas das amenities oferecidas, complementadas por adega privativa e bar idem. No oitavo andar ficam o outro quarto, banheiro, sala de estar e sala de jantar. Grace Kelly, como se sabe, tornou-se princesa de Mônaco ao se casar com Rainier 3o. O casal permanece junto no Hôtel de Paris com a abertura da segunda e exclusiva suíte de 525 metros quadrados, em homenagem ao príncipe. Seus dois quartos permitem a possibilidade de se expandir até 600 metros quadrados, com um terceiro dormitório contíguo. Todos dão vista para a place du Casino e os hóspedes dispõem, além do amplo terraço de 135 metros quadrados, de piscina infinita com sistema de on-

das, saunas úmida e seca, bar privado no lounge e escritório. Finalmente, unindo o útil ao agradável, há a suíte Monte-Carlo, especialíssima. Ela é destinada com exclusividade aos grandes jogadores. Seus 115 metros quadrados de área abrigam uma mesa de roleta inglesa e outra de black jack, acomodando confortavelmente dez pessoas. Seu inspirador, dizem, teria sido o duque de Valentinois. Ou Charles 3o para os íntimos... TP

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fu t u ro

U m t a n t o p o r va i da d e e o u t r o t a n t o p o r au dá c i a , três

bilioná rios

i n v e s t e m a lt o e m p r o j e t o s q u e , d é c a da s

a t r á s , e s t a r i a m n a s m ã o s da N a s a o u d o s s o v i é t i c o s

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l ua P o r Da n i e l Ja p i a s s u

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Lançamento da SpaceX

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R ay B r a d b u ry d i z i a n u n c a da r o u v i d o s a q u e m c r i t i c ava s e u g o s t o p o r v i ag e n s e s pac i a i s e ac o n t e c i m e n t o s b i z a rr o s . “ Q ua n d o i s s o ac o n t e c e , p e g o m e u s d i n o s s au r o s e d e i xo a p e s s oa fa l a n d o s o z i n h a .” E l e t e r i a g o s t a d o d e v i v e r u m p o u c o m a i s . N ão s ó pa r a c o m e m o r a r , e s t e a n o, m e i o s é c u l o d o d e s e m b a r q u e n a L ua – q u e , a l i á s , B r a d b u r y c o n s i d e r ava t e r s i d o a b a n d o n a da A p ó s a c o n q u i s t a . M a s , s o br e t u d o, pa r a a s s i s t i r à p u ja n ç a da s v i ag e n s p e l o e s paç o e da s o c o rr ê n c i a s b i z a rr a s , q u e p u l u l a m n e s t e s é c u l o m a r c a d o p o r c o n t r a d i ç õ e s q ua s e d i á r i a s . O e s c r i t o r m o rr e u e m 2 0 1 2 . P o r t a n t o, n ão a s s i s t i u à S pac e X , d e E l o n M u s k , s e t o r n a r a p r i m e i r a e m p r e s a p r i va da a v i s i t a r a ISS , a E s t aç ão E s pac i a l I n t e r n ac i o n a l . T a m b é m já n ão e s t ava p o r aq u i pa r a v e r a b i z a rr i c e d e u m au t o m óv e l T e s l a R oa d s t e r voa n d o p e l o e s paç o – o c o rr i da n o a n o pa s s a d o, q ua n d o a c o m pa n h i a t a m b é m l a n ç o u s e u m a i s m o d e r n o e p o d e r o s o f o g u e t e , o Fa l c o n H e av y.

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ara muitos analistas, o evento acabou se tornando a “mais cara propaganda de carro da história”. Só mais um capítulo do imbróglio em que a Tesla (outra aposta de Musk) se meteu nos últimos muitos meses, com vendas bem menores do que as esperadas e uma série de equívocos de comunicação. Foram tantos que levaram seu mentor a ser investigado pela SEC, a agência federal americana que fiscaliza o mercado de ações. O carro, 100% movido a eletricidade, está na berlinda mesmo depois do barulho causado por seu passeio no vácuo.

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Outro sonho de Musk é colonizar Marte. Ele e seus parceiros de negócio já investiram cerca de US$ 2,5 bilhões na empreitada. E o sul-africano ainda tem outros US$ 20 bi no banco para queimar na reentrada. A única certeza até o momento – ou até segunda ordem – é que a SpaceX deve levar alguns turistas para circundar a Lua em 2023. Entre eles, o bilionário japonês Yusaku Maezawa, magnata do setor de varejo online na Ásia e fã de carteirinha de Musk. Na realidade, se a Nasa, fundada em 1958 pelo presidente Dwight Eisenhower, foi durante mais de 40 anos sinônimo de viagens espaciais – fartamente financiadas pelo governo americano para que Moscou não levasse a melhor no éter –, a nova onda de exploração está quase toda nas mãos da iniciativa privada. E isso é, a despeito dos atrasos constantes e do marketing pessoal de seus excêntricos mandachuvas, muito bom. Sim! Sobretudo porque representa fazer mais por menos. O que também interessa imensamente à agência espacial americana, cujo orçamento anual ainda bate os US$ 20 bilhões, mas vem sendo cortado a cada ano. A Blue Origin, por exemplo, foi a primeira a desenvolver foguetes 100% reutilizáveis. Eles retornam à base de onde partiram e pousam elegantemente – os da Nasa desciam de paraquedas no Pacífico ou no Atlântico e precisavam ser resgatados por equipes gigantescas. Trata-se de uma revolução do ponto de vista técnico e, sobretudo, de um alívio para o budget da companhia predileta de Jeff Bezos. O empresário é mais conhecido por ser o fundador e CEO da Amazon e pelos estratosféricos

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US$ 131 bilhões que mantém em caixa. Ou mantinha antes da recente e rumorosa separação da mulher, MacKen­zie Bezos, mãe de seus quatro filhos. Em entrevista no aniversário de 10 anos da Blue Origin, em 2010, Bezos reafirmou o principal pilar da empresa. “Se de fato queremos levar qualquer pessoa ao espaço, e não apenas astronautas, temos de aumentar a segurança e diminuir os custos”, resumiu. Pelo menos a segunda parte da equação já pode ser considerada um imenso sucesso. Outro que reforça a ideia é sir Richard Branson, CEO do grupo Virgin. O magnata britânico vem dedicando parte de sua fortuna pessoal, estimada em mais de US$ 5 bilhões, à Virgin Galactic.

No caso de Branson, porém, o quesito segurança tem se mostrado um calcanhar de aquiles. Em 2014, um acidente matou o piloto de uma das naves. Desde então, a empresa enfrenta sérias desconfianças de investidores. Talvez por isso, sua tão decantada viagem inaugural ao espaço já tenha sido adiada uma dezena de vezes. Quem sabe aconteça ainda este ano... e o bilionário garante que estará a bordo. Primeira, mas não mais a única

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Nasa o que é da Nasa. Quase nada do que temos hoje no cenário espacial seria possível não fossem os muitos avanços da agência. Ela não apenas levou o homem à Lua, com a Missão Apollo, como criou o ônibus espacial reutilizável (em 1981), além de inúmeras sondas e o telescópio Hubble (em 1990). Tecnicamente chamados de orbitadores, os ônibus espaciais Columbia, Challenger, Endeavor, Discovery e Atlantis foram fundamentais também na construção da ISS, a Estação Espacial Internacional. No total, 135 missões em 30 anos de bons serviços prestados – e, infelizmente, dois desastres pelo caminho, com a Challenger, em 1983, e a Columbia, em 2003, nos quais 14 astronautas morreram.

os eleitos O astronauta Neil Armstrong e os bilionários Elon Musk, Jeff Bezos e Richard Branson

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A próxima parada no cosmos, ao que parece, é mesmo Marte, como anteviu Ray Bradbury. Desde que o minirrobô Sojourner desembarcou na face vermelha do mais célebre dos planetas vizinhos, em 1997, a Nasa pensa em levar gente para dar uma caminhada por lá. Os rovers (em 2004, a agência enviou o Spirit/Opportunity e, em 2012, o Curiosity) vêm explorando a superfície marciana, coletando uma miríade de amostras de rochas e tirando selfies com suas potentes câmeras – que se tornaram memes instantâneos nas redes sociais terráqueas. Mas a aventura concebida por escritores como H.G. Wells e Edgar Rice Burroughs, entre muitos outros, é um pouco mais complicada do que aparenta. Ainda faltam, segundo o próprio Painel Consultivo de Segurança Aeroespacial da Nasa, um salto tecnológico e... algum dinheiro extra. É precisamente aí que entram os novos players desse mercado tão sedutor. Em especial, Elon Musk. A SpaceX, fundada por ele em 2002 assim que vendeu sua parte do PayPal ao eBay por US$ 1,5 bilhão (dos quais US$ 165 milhões foram depositados em sua conta pessoal), já realiza missões para a Nasa de forma constante há cerca de uma década. Entre elas, levar carga para a ISS via espaçonave Dragon. O maior avanço da empresa até o momento? O foguete Falcon Heavy, que a agência americana deve passar a usar nos próximos anos. Ele tem 2/3 da potência do Saturno V (o big one da Nasa), mas gasta uma fração do combustível. Isso é particularmente importante, já que o atual sistema da agência, o SLS, consome até US$ 2,5 bilhões por lançamento.

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À esquerda, as naves de Elon Musk e Richard Branson. À direita, o foguete de Jeff Bezos

A empresa de Musk, diga-se, acaba de conseguir um feito antológico: lançou, com sucesso, sua primeira missão comercial ao espaço no começo de abril. Meia hora depois da decolagem, o Falcon Heavy liberou o Arabsat-6A, satélite de comunicações que fornecerá serviços de internet e comunicações para residentes do Oriente Médio, África e partes da Europa.

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j e f f b e zo s ac r e d i ta qu e o s e g r e d o e s t e ja e m d e s e n vo lv e r u m a e s p é c i e d e t u r i s m o e s pa c i a l

Missão: Marte

J

á a Blue Origin direciona seus radares a voos “meramente” turísticos. Ou seja, pacotes vendidos a milionários que ajudariam a empresa a se tornar autossustentável e capaz de investir cada vez mais em tecnologia “barata” e segura. Para um dia, quem sabe, começar a colonizar Marte. Como Jeff Bezos fez questão de ressaltar em conversa com jornalistas e acionistas no final do ano passado, “esta é a melhor maneira de avançar” rumo à conquista da fronteira final. “Assim como fizemos com o avião, que hoje é um meio de transporte banal extremamente seguro, precisamos investir em tornar as viagens espaciais igualmente comerciais, dando às pessoas mais uma opção de entretenimento.” O americano (que tem uma coleção particular de itens da Nasa recuperados em expedições submarinas) costuma acertar suas tacadas. Afinal, se ninguém tiver interesse em embarcar para um voo ao redor da Terra ou de nosso satélite mais próximo, de que adiantaria colocar montanhas de dinheiro em uma nave que pudesse pousar no planeta vermelho? Enquanto Branson, Musk e Bezos dividem o espaço entre suas personalidades algo egocêntricas, uma outra empresa (apelidada na área como a versão “privatizada” da Nasa e pouco conhecida do público) também vem ajudando a agência a baratear custos e ir cada vez mais longe. É a Orbital ATK, joint venture criada em 2015, reunindo Orbital Sciences Corporation (fundada em 1982 e que, em 2010, adquiriu a divisão de satélites da General Dynamics) e Alliant Techsystems (aberta em 1990 e que pertencia à Honeywell). No total, a companhia tem contratos de quase US$ 2 bilhões com a Nasa para levar cargas pressurizadas à ISS com seu foguete Cygnus. E investe em tecnologia de ponta usada em diversas sondas, dentre as quais a Dawn, que, enquanto você lê este texto, está manobrando para fazer a mais detalhada observação de Ceres, o único planeta anão do Sistema Solar interno, localizado no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter. Quer dizer, já não há, no horizonte da Estação Espacial Internacional, razões para temermos a solidão universal da qual tanto falava o astrofísico Carl Sagan. Assim como a Terra no decorrer dos últimos 200 mil anos, o espaço vai se tornando, a cada dia, mais e mais povoado – apesar de ainda não termos sinal de uma classe econômica à vista. TP

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Artista ao qua_ drado O gr a nde

A l e x R ay m o n d

d e s e n h o u q ua t r o

HQ s d e p r i m e i r a

l i n h a: F l a s h G o r d o n, X- 9, J i m d a s S e lva s

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P o r Dag o m i r M a rqu e z i

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A S ou t h Mor n i ng s i de Dr i v e c on t i n ua s e n d o u m a e s t r a di n h a e s t r e i ta l a de a da de á rvor e s. F ic a e m W e s t p ort, C on n e c t ic u t, a 63 qu i l ôm e t ro s d o c e n t ro de Nova Yor k. No di a 6 de s e t e m b ro de 1956, u m a qu i n ta-f e i r a , n u v e n s pe s a da s c ob r i a m o c é u de W e s t p ort. U m C orv e t t e d o a no, c on v e r s í v e l , ac e l e r a de c a p o ta l e va n ta da pe l a S ou t h Mor n i ng s i de . C h e g a ao d ob ro da v e l o c i da de pe r m i t i da n aqu e l a v i a . N a di r e ç ão e s tá A l e x R ay mon d, u m d o s m a ior e s a rt i s ta s da h i s t ór i a d o s qua dr i n ho s. Ao s e u l a d o, o c ol e g a de prof i s s ão S ta n Dr a k e , 3 4 a no s, c r i a d or da s é r i e O C or aç ão de J u l i e ta Jon e s. O r á dio t o c a o g r a n de s uc e s s o daqu e l a s e m a n a , “Qu e s e r á s e r á”, c om D or i s Day.

C

omeça a chover. Drake fala a Raymond para encostar o carro e baixar a capota. Alex Raymond diz que prefere acelerar e chegar logo ao destino. Com a chuva, o Corvette derrapa. O pé de Alex mira o breque, acerta o acelerador. Stan Drake, que não usava o cinto de segurança, é cuspido para fora do carro e sofre ferimentos superficiais. Na estradinha estreita, logo o carro acerta em cheio uma das árvores. Alex Ray-

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mond permanece imóvel, preso pelo cinto de segurança ao Corvette. Alexander Gillespie Raymond foi artista desde criancinha. Nasceu em New Rochelle, estado de Nova York, no dia 2 de outubro de 1909, descendente de irlandeses, escoceses e alemães. O pai, engenheiro civil, foi seu maior incentivador. Chegou a forrar uma das paredes do escritório com as obras do menino. Um garoto com talento, um pai

dedicado e apoiador… Raymond tinha tudo para dar certo. Mas quando tinha 12 anos, em 1921, seu pai morreu. Com o desgosto, o jovem desistiu temporariamente de ser um desenhista. Tentou primeiro uma formação em educação física. Em seguida, virou balconista em Wall Street. Mas a crise de 1929 o obrigou a desistir do universo das finanças. A vocação falou mais alto. No início dos anos 1930, em plena depressão econômica, Alex Raymond se inscreveu nos curso de arte e ilustração na Grand Central School of Art de Nova York (onde estudaram entre outros o ilustrador Norman Rockwell e o criador de Batman, Bob Kane). Em seguida, se aproximou de um ex-vizinho, o quadrinista Russell Channing “Russ” Westover, autor da série Tillie, the Toiler. Começou então a trilhar de vez seu inevitável caminho sem volta. Com evidente talento e a indicação de Wes­ tover, Raymond trabalhou como assistente (ou até ghost artist) de séries célebres como Tim Tyler’s Luck e Blondie. Estava empregado na gigante das distribuidoras de quadrinhos, a King Features Syndicate, de William Randolph Hearst. Mas Raymond era maior que um bom emprego. Ele saiu da obscuridade para o estrelato mundial no ano de 1933. Primeiro a King Features chamou Raymond para ser o artista de uma série escrita por um dos maiores romancistas policiais de todos os tempos, Dashiell Hammett: O Agente Secreto X-9. O objetivo da KFS era criar um rival para o mais famoso dos detetives dos quadrinhos, Dick Tracy. Já seria um trabalho que exigiria muito de Raymond, nos seus 24 anos

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estratosférico Alex Raymond e Flash Gordon, o herói intergaláctico

de idade. Mas antes mesmo da estreia de X-9 (e observando o talento fora do normal de seu jovem contratado), a King Features triplicou sua carga de tarefas. Havia mais dois trabalhos de criação para enfrentar quadrinhos rivais. Em 1933 a King Features estava preocupada com o sucesso de uma série de ficção científica chamada Buck Rogers in the 25th Century AD. O presidente da empresa chamou Ray-

fl ash gordon f o i c r i a d o pa r a c om b at e r o concorrente buck r o g e r s . m a n d o u- o pa r a o e s pa ç o

mond para uma conversa e pediu que ele criasse uma série inspirada pelas fantasias de Jules Verne. Raymond se reuniu com o escritor Don Moore sem parar de produzir X-9. E assim surgiu Flash Gordon, um dos maiores signos da cultura pop, uma espécie de ópera em quadrinhos. O personagem estreou em 7 de janeiro e logo estava ultrapassando o número de leitores do concorrente Buck Rogers.

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o mesmo 7 de janeiro, Raymond lançou uma terceira série. A King Features encomendou um rival para Tarzan, desenhado pelo excepcional Hal Foster. Raymond e o colaborador Don Moore criaram o herói caçador Jungle Jim, conhecido no Brasil como Jim das Selvas. Outro sucesso imediato. Nascia a fama de Alex Raymond, e seu título de nobreza: “o artista dos artistas”. No início de 1935, o escritor Dashiell Hammett anunciou que estava largando X-9 para tentar uma carreira como roteirista em Hollywood. Outros autores foram convocados a preencher seu lugar, mas o trabalho pesado caía nas costas de Raymond. O superatarefado desenhista acabou desistindo do seu agente secreto. Flash Gordon e Jungle Jim já davam trabalho suficiente. Veio então a Segunda Guerra (19391945), que mexeu profundamente com o artista. Ele se descrevia como um cara que “sentia um nó na garganta quando ouvia o hino nacional”. Cinco dos seus irmãos haviam se alistado nas Forças Armadas. Primeiro, Raymond envolveu seus personagens. Flash Gordon largou o planeta Mongo e voltou à Terra para combater os alemães. Jim das Selvas entrou para o Exército americano e lutou contra os japoneses. Em 1944, Alex radicalizou. Largou a King Features, abandonou seus personagens e se alistou entre os marines. De início, trabalhou como artista, produzindo pôsteres de motivação para os soldados. No ano seguinte, foi um dos fuzileiros a bordo do porta-aviões de escolta USS Gilbert Island. Por mais que quisesse passar por um combatente

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como os outros, era tratado como um pop star pela geração que cresceu lendo Flash Gordon. FELLINI ERA FÃ m 1946, terminada a guerra, Raymond voltou para casa como major, pronto para retomar suas criações. Mas a King Features não quis devolver Flash Gordon nem Jungle Jim a ele. Alegou que Raymond havia saído

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por vontade própria e que suas obras já estavam sendo desenvolvidas por outros artistas. Para compensar a perda, Raymond foi convidado a desenhar uma nova tira de detetive. Em 4 de março de 1946 estreou Rip Kirby (no Brasil, Nick Holmes), um investigador particular muito diferente do tipo durão de X-9. Raymond desenharia Rip Kirby pelo resto da vida. Ganhou o Reuben Award (o Oscar dos quadri-

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fim

tr ág i co Alex Raymond morreu com apenas 46 anos, em um acidente de automóvel em Connecticut

Traço imortal Jim das Selvas, X-9 e Rip Kirby ainda impressionam pelo desenho elegante. São clássicos das HQ

nhos) em 1949 e foi presidente do Sociedade Nacional dos Cartunistas (NCS) de 1950 a 1952. Viveu com seu prestígio intacto, não enfrentou dificuldades financeiras e foi um firme defensor do reconhecimento dos quadrinhos como forma de arte. “Eles refletem a vida e o tempo da forma mais acurada e criativa”, dizia. “Um autor de quadrinhos é um roteirista, diretor, editor e artista plástico, tudo ao mesmo tempo.”

Raymond estava casado desde 1930, tinha cinco filhos, era bem-sucedido e admirado no mundo inteiro. Então por que naquele 6 de setembro corria tanto pela South Morningside Drive? Ele havia sofrido quatro acidentes de carro só no mês anterior. Stan Drake, o dono do Corvette, dizia que Raymond estava se comportando de maneira suicida. Uma das possibilidades para um comportamento autodestrutivo seria o

fato (não confirmado por seus biógrafos) de que tinha casos extraconjugais. Sua esposa, Helen, estaria se negando a conceder o divórcio. Não parece ser razão suficiente para um homem tão bem-sucedido pensar em suicídio. A pergunta jamais será respondida. Alex Raymond morreu no choque com a árvore. Tinha 46 anos. Sua influência foi reconhecida por grandes artistas das HQ, como John Buscema, Joe Kubert, John Romita Jr, Russ Manning, Jack Kirby e tantos outros. George Lucas declarou que as aventuras de Flash Gordon estão entre as maiores inspirações para a saga de Star Wars. Flash Gordon virou seriado para cinema de imenso sucesso entre 1936 e 1940. Federico Fellini tentou realizar sua versão na década de 1970, mas não rolou. Em 1980, Flash Gordon foi filmado com direção de Mike Hodges, trilha sonora do Queen e um elenco reunindo Sam J Jones, Max Von Sidow, Timothy Dalton e Ornella Muti. Virou cult. A rede de TV Sci-Fi lançou uma série do herói em 2007. Uma nova versão para o cinema está sendo produzida. O mito criado por um rapaz de 24 anos em início de carreira vai combater Ming, o Impiedoso, por muito mais tempo. TP

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m emĹŒr i a

O passageiro da agonia Os b as t i d o r es d a m o r t e de

Tan c r e d o N e v es

Por A LEX SOLNIK

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tempos difíceis “Estava na cara para nós que estavam matando o presidente”

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Di r e t o r da r e v is t a S e n h o r , Min o Ca r t a t in h a o h á b i t o d e se d espe d i r d o s r ep ó r t e r es c o m a f r ase q u e N ap o le ão B o napa r t e p r o f e r ia d ian t e d o s s o l da d o s an t es d e en v i á-l o s pa r a u m a b a t al h a san g r en t a:

“C u b r a-se d e g l ó r ias !”

F

oi o que me disse, dramaticamente, antes de me despachar para o hospital das Clínicas de São Paulo, onde o presidente eleito Tancredo Neves acabava de chegar, entre a vida e a morte, depois de duas cirurgias no hospital de Base de Brasília, naquele 27 de março de 1985. Estava na cara, para nós, que estavam matando o presidente. Não sabíamos “quem”, mas alguém estava. Se a ideia fosse cuidar bem dele ninguém o internaria num hospital precário, como o de Base em Brasília. Além de tudo, um hospital militar, palavra da qual queríamos distância. Se estivessem preocupados com a saúde dele, não teriam deixado entrar pessoas que não tinham nada a ver na sala de cirurgia. Não teriam permitido fotos quando ele não apresentava condições de deixar a UTI. Tanto que em seguida ele piorou. Depois, desembarcou no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, sem cuidados de UTI: desceu a escada do avião na

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maca, alguém segurando o soro na mão, numa completa e irresponsável bagunça. No mesmo dia do desembarque entrou na faca de novo. Pela terceira vez. Nós, repórteres, não podíamos cair nas teorias da conspiração que circulavam a todo vapor. Mas eram tentadoras. Tancredo teria levado um tiro. Para outros, uma facada. Os generais não queriam largar o osso de jeito nenhum. Nosso raio de ação era muito limitado. A calçada em frente ao Incor – o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas – lotada de devotos e devotas

“Q ua n d o p e r g u n t e i ao D r . P i n o t t i s e h av i a e s p e r a n ç a s , e l e f o i c at e g ó r ic o: ' E u s a lv e i T a n c r e d o'”

que oravam diante de velas e retratos do presidente, o saguão por onde entravam e saíam os médicos espavoridos e o auditório onde o porta-voz Antônio Britto lia os boletins médicos diários. E mentirosos, é claro. Temíamos pelo pior. Considerávamos a possibilidade de haver uma reviravolta política se Tancredo não assumisse. Afinal, o presidente José Sarney, que esquentava a cadeira, havia poucos meses estava do “outro lado”. Quem podia garantir que ele não traria o regime militar de volta? Procurávamos disfarçar a tensão fazendo piadas. Tudo era motivo de riso. Certa vez, a repórter Mônica Waldvogel, da Rede Manchete, encerrou com essas palavras sua participação no auditório: “E agora vamos para o exterior”. O “exterior” era o lado de fora do auditório. Caímos na gargalhada. A propaganda mais popular da época era a do novo produto da Gilette: o aparelho de barbear com duas lâminas paralelas. “A primeira faz tchan”, dizia o locutor de voz empostada e empolgada, em clima de suspense hitchcockiano. “A segunda faz tchun e... tchan-tchan-tchan-tchan.” Quando soubemos da quarta cirurgia, ficou patente para nós a obsessão do dr. Henrique Walter Pinotti por cortar, e eu me saí com essa: “A primeira faz tchan... a segunda faz tchun... e tchan-tchan-tchan-tchan”... Passou a ser nosso bordão a cada nova cirurgia. Menos na quinta, quando alguém sugeriu que seria “a Quinta de Pinotti” fazendo referência à sinfonia de Beethoven. Estava claro para nós que o número de cirurgias indicava que ele não melho-

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período de exceção

rava, por mais que os boletins do Britto tentassem nos convencer do contrário. Tancredo precisava de um especialista em infecção e não em aparelho digestivo. Depois da sétima cirurgia consegui, enfim, um furo: uma entrevista exclusiva com o dr. Pinotti, tête à tête.

Poucos meses antes, José Sarney estava “do outro lado”. Havia o receio de que trouxesse de volta o regime militar

dentos para usar e abusar da liberdade que havíamos recuperado, em todos os sentidos. Isso não era chamado de assédio, mas de convite a fazer amor. “Claro”, respondi.

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or volta das 10 da noite do dia 11 de abril entrei em seu apartamento, em Higienópolis, amplo e acarpetado, muito bem mobiliado e com belos e caros quadros nas paredes. E ainda com aquele suave perfume e silêncio dos apartamentos chiques. Ele me recebeu com um sorriso e um aperto de mão, estava descansado, o rosto bem barbeado e irradiava alegria depois de ter operado o presidente havia algumas horas. A certa altura, quando perguntei se havia esperanças, ele foi categórico: “Eu salvei Tancredo”. Era uma quinta-feira, dia de fechamento. Corri à redação – um prédio de tijolinhos na Lapa de Baixo – com a sensação do dever cumprido. Tinha conseguido aspas exclusivas do médico que havia operado Tancredo seis vezes e que me garantiu que o paciente estava salvo. Ou seja, a Nova República estava salva. Minha manchete sairia no dia seguinte. Dez dias depois da entrevista, a 21 de abril, Antônio Britto anunciou a morte de Tancredo. Mas a morte mesmo chegou bem antes. A manchete do Jornal do Brasil de 13 de abril foi: “Tancredo agoniza”. Mino Carta deve ter me odiado – como eu odiei o dr. Pinotti –, mas ainda assim me enviou para acompanhar as cerimônias fúnebres, que passariam por Brasília, Belo Horizonte e final-

© reprodução | Getty images

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mente São João Del Rey, cidade natal de Tancredo. Desembarquei no aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, um pouco antes da chegada do corpo. A primeira coisa que fiz foi me dirigir a um quiosque da Secretaria de Turismo. Havia só uma atendente, jovem e simpática. Me apresentei como repórter e perguntei se ela poderia indicar um bom hotel no centro da cidade. Percebi que era morena, cabelos curtos, usava um tailleur azul e blusa branca. Ela recomendou, se não me trai a memória, o hotel Plaza. E emendou: “Você me dá uma carona de táxi até o Centro?” Concordei na hora. Não poderia negar. Confins fica a 40 quilômetros da cidade. Longe à beça. Não me lembro patavina do que falamos durante o trajeto. Quando o táxi estacionou na porta do hotel, ela propôs: “Posso subir com você?” Não era incomum haver cenas como essa. Não havia medo da aids. Saíamos de um longo período de opressão, se-

hegamos ao quarto, de frente para a avenida. Depois de fechar as cortinas, imediatamente tomei a iniciativa, à qual ela correspondeu, como eu já previa. Mas a certa altura ela segurou minha mão delicadamente e confidenciou no meu ouvido: “Eu sou virgem”. “Não tem problema”, respondi. Eu já tinha tido uma gostosa relação, então, com uma “virgem” da cidade de Mococa, que hospedei por três dias na minha casa enquanto meus pais viajavam. Já estávamos nos vestindo quando um barulho lá fora nos chamou até a janela. Lá embaixo, na avenida, passava o caixão de Tancredo. Embora tenha me sentido meio culpado por não ter acompanhado o cortejo da avenida e sim do quarto do hotel, e ainda por cima fazendo o que um repórter não deve fazer em meio a uma reportagem (a não ser que seu patrão fosse Adolpho Bloch, dono da revista Manchete, que sempre aprovou e até incentivou essas práticas heterodoxas), achei que não tinha perdido muita coisa e que o manancial de informações exclusivas seria o velório, no palácio da Liberdade, logo mais. E eu estava certo.

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Comecei a circular entre as colunas de mármore do grande salão. Estavam lá governadores, prefeitos, senadores, futuros ministros, artistas, todos esperando, talvez, Tancredo ressuscitar. Escondido atrás de uma coluna, parei de repente para ouvir o diálogo entre o senador Fernando Henrique Cardoso e o deputado Fernando Lyra, futuro ministro da Justiça. A conversa foi comprida, mas nunca mais me esqueci da frase premonitória de Fernando Henrique: “Sarney não vai fazer 2% do que Tancredo faria”. Lyra concordou com a cabeça. E eu achei que tinha uma manchete.

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ino Carta cultivava o hábito de ler todas as matérias que saíam na revista. Lia tudo e mudava palavras e frases a seu bel-prazer, mas sempre para melhor, à vista do repórter. Quando chegou à frase de Fernando Henrique, pela qual eu esperava receber elogios, fez cara de poucos amigos e me provocou: “Lá vem você tentando intrigar a Nova República que mal está começando. Tem certeza de que o Fernando Henrique disse isso?” “Tenho; eu estava escondido atrás de uma coluna, ele estava bem perto de mim e não me viu.” “Você deve ter se confundido. Ele não diria uma coisa dessas”... “Disse sim, tenho certeza.” “Não, essa frase não vai sair”, decidiu Mino, ao mesmo tempo que riscava nervosamente o trecho com um lápis vermelho. Não foi o meu primeiro atrito com o Mino. Anos antes, na IstoÉ, eu tinha me

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dias de pranto O velório de Tancredo Neves em São João Del Rey, o presidente que foi sem nunca ter sido

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recusado a redigir uma reportagem que eu fizera com o presidente da Vasp. Eu suspeitava que era jabá porque na entrevista o executivo não disse coisa alguma. E me recusava a escrever. Mino me chamou às falas. Era dia de fechamento, o espaço estava aberto e a página não podia sair em branco. “Se você não escrever, vai arcar com as consequências”, ameaçou, muito bravo e visivelmente alterado. “Tudo bem”, respondi. Finalmente aceitei um acordo. Ditei as informações a um colega – o Armando Salem – que fez o texto final. E não sofri consequência alguma.

“n u nc a e s qu e c i a f r a s e p r e m o n i t ó r i a d e FHC : ' S a r n e y n ão va i fa z e r 2 % d o q u e T a n c r e d o Fa r i a'”

ias depois de voltar de Belo Horizonte, o chefe da redação, José Onofre, me chamou para um passeio no corredor. Onofre era um gaúcho apaixonado por literatura, devorava bibliotecas, escrevia muito bem. Tinha as bochechas sempre meio vermelhas e uns olhos cínicos, reforçados pelos óculos. E suava muito enquanto falava meio cantado, como todos os gaúchos. “Olha, o Mino não gostou da sua cobertura da morte do Tancredo. E não quer você mais aqui.” Mino era assim. Não sei se ainda é. Ele não demitia, mandava demitir. Na primeira vez comigo, anos antes, quando a redação ficava na rua Padre João Manoel e a gente fumava maconha na câmara escura dos fotógrafos, o emissário foi Silvio Lancellotti. Não tinha corredor, Lancelotti me comunicou na mesa da redação mesmo que eu estava demitido, por ordem do chefe. Passaram-se muitos anos. Estávamos no segundo governo Dilma Rousseff. Fui fazer uma entrevista com o Mino, ele já instalado no comando da CartaCapital. Nesse dia ele me surpreendeu. “Peço desculpas por ter cortado aquela frase do Fernando Henrique. Você tinha razão. Eu deveria ter publicado, apesar do escândalo que daria. Seria o primeiro escândalo da Nova República.” Ou seja: por pouco não me cobri de glórias. Quem sabe um dia. TP

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