Nº 40 outubro | novembro michikazu matsushita
Pablo Álvarez, ceo da vega sicilia: o outro rei da espanha Por mau ro marcelo alves Nº 40 outubro | novembro 2019
MIchikazu matsushita presidente da panasonic do Brasil
previsão de crescer dois dígitos por ano
edição de
out | nov 2019 nº 40 R$ 28,00
aniversário:
claudia ito: ela pilota a fórmula 1 no brasil por rodrigo grilo
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9 anos
dira paes: a beleza paraense chega aos 50 por daniel bene vides
kind of blue: quando Miles davis mudou o jazz por roberto m uggiati
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e d i to r i a l
Em setembro de 2010, a Custom lançava a edição número 1 de THE PRESIDENT, “a primeira revista nacional concebida para distribuição exclusiva aos presidentes das maiores empresas do país”. Nove anos depois, chegamos ao número 40 com muito a comemorar – ao arrepio das idas e vindas da história, que tanto preocupam não apenas a nós, editores, mas, em especial, ao nosso público leitor. Um dos motivos para celebrar, neste nono aniversário, é o fato de a revista, no começo trimestral, ter se transformado em bimestral. Nossos leitores, portanto, ganharam três edições por ano a mais. Melhor: esse crescimento se deu sem que nos desviássemos do projeto inicial. Eis aí mais uma razão para brindar. Na primeira carta do editor, antecipamos: “Essencial mesmo é que THE PRESIDENT, pela arte de suas páginas, por seus textos e imagens, assinados por alguns dos maiores nomes do jornalismo brasileiro, nasceu como numa publicação surpreendente, imprevista. Não se parece com nenhuma outra revista nacional ou estrangeira conhecida”. Passados 3.287 dias, acreditamos ter mantido intactas tais características – e também tal compromisso. THE PRESIDENT continua dando a palavra a grandes comandantes de empresas, mas sem se limitar à aridez da discussão econômica. É assim que, nesta edição, Charles Cambur não só comenta as ambições da Cambur Construtora e Incorporadora como também se abre sobre a superação de uma doença rara. Já o japonês Michikazu Matsushita, presidente da Panasonic do Brasil, conta seus planos para a empresa, mas revela seus gostos pessoais. O mesmo vale para o franco-suíço Frédéric Drouin, presidente da Jaguar Land Rover, bem como para Pablo Álvarez, CEO das bodegas Vega Sicilia. Tal como naquela primeira edição, esta que o caro leitor ou a cara leitora tem em mãos também reúne textos saborosíssimos. Entre eles, o de Roberto Muggiati sobre os 60 anos do disco Kind of Blue, de Miles Davis. E o de Daniel Benevides sobre a atriz Dira Paes. Sem esquecer da reportagem de Ubiratan Leal acerca das transformações nos bastidores que levaram o campeonato inglês (a chamada Premier League) a surpreender como o melhor da Europa. Boa leitura.
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expediente the president Publicação da Custom Editora Nº 40
publishers André Cheron e Fernando Paiva
REDAÇÃO Diretor editorial Fernando Paiva fernandopaiva@customeditora.com.br diretor editorial adjunto Mario Ciccone mario@customeditora.com.br redator-chefe Walterson Sardenberg So berg@customeditora.com.br ARTE EDIçÃO Raphael Alves raphaelalves@customeditora.com.br prepress e tratamento de imagens Daniel Vasques danielvasques@customeditora.com.br COLABORARAM NESTE NÚMERO TEXTO Dagomir Marquezi, Daniel Benevides, Flávia Pegorin, Françoise Terzian, J. B. Natali, Luiz Guerrero, Luiz Maciel, Marcello Borges, Mauro Marcelo Alves, Raphael Calles, Roberto Muggiati, Rodrigo Grilo, Ronny Hein e Ubiratan Leal Fotografia Claus Lehmann e Tuca Reinés PRODUção Vivianne Ahumada Revisão Goretti Tenorio
THE PRESIDENT facebook.com/revistathepresident @revistathepresident www.customeditora.com.br
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COMERCIAL, PUBLICIDADE E NOVOS NEGÓCIOS Diretor executivo André Cheron andrecheron@customeditora.com.br diretor comercial Ricardo Battistini battistini@customeditora.com.br Gerentes de contas e novos negócios Marcia Gomes marciagomes@customeditora.com.br Northon Blair northonblair@customeditora.com.br ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Analista financeira Carina Rodarte carina@customeditora.com.br Assistente Alessandro Ceron alessandroceron@customeditora.com.br REPRESENTANTES REGIONAIS GRP – Grupo de Representação Publicitária PR – Tel. (41) 3023-8238 SC/RS – Tel. (41) 3026-7451 adalberto@grpmidia.com.br Tiragem desta edição: 35.000 exemplares CTP, impressão e acabamento: Coan Indústria Gráfica Ltda. Custom Editora Ltda. Av. Nove de Julho, 5.593, 9º andar – Jardim Paulista São Paulo (SP) – CEP 01407-200 Tel. (11) 3708-9702 ATENDIMENTO AO LEITOR atendimentoaoleitor@customeditora.com.br Tel. (11) 3708-9702
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70 VISÃO
100 mercado
132 memória
Dira Paes chega aos 50 anos, ainda
Frédéric Drouin, presidente para a
Deng Xiaoping, o homem que transformou
esplêndida em sua aliciante morenice
América Latina da Jaguar Land Rover,
a China em uma potência econômica
76 AUDIÇÃO
comemora o graúdo aumento das vendas
Por que, mais de três séculos depois, os
108 negócios
violinos Stradivarius ainda são os preferidos
“Vendemos apartamentos, entregamos
82 PALADAR Alfred Hitchcock gostava de cinema e de louras. Mas, acima de tudo, amava os steaks
88 OLFATO As barracas de comidinhas de rua dão personalidade às principais cidades do globo
94 TATO
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lares”, diz Charles Cambur, da Cambur Construtora e Incorporadora
116 entrevista Michikazu Matsushita, o presidente
138 CULT Sessenta anos de Kind of Blue, o disco de Miles Davis que mudou a história do jazz
144 esporte Os ingleses transformaram seu chocho campeonato de futebol no mais atraente
da Panasonic do Brasil, aposta
152 IMPRENSA
em linha branca e B2B
Ascensão e queda da revista MAD, que
124 adega
marcou várias gerações mundo afora
Veja como são produzidos os
160 VIAGEM
Há milênios o ser humano descobriu que era
preciosos vinhos Vega Sicilia.
O Bürgenstock Resort, em Lucerna, na
melhor proteger as mãos. Surgiam as luvas
Segundo o proprietário
Suíça, reabre após reforma de R$ 2 bilhões
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co l a b o r a d o r e s
visão
audição
tato
Assim como Chico Buarque, Arrigo Barnabé, Christiano Mascaro, Luiz Paulo Baravelli e Guilherme Arantes, estudou arquitetura na FAU-USP mas seguiu outra profissão. Jornalista, passou por Jornal da Tarde, Trip e Brasileiros e ajudou a criar a MTV Brasil. Colabora com os mais diversos veículos, incluindo Folha de S.Paulo, e Rolling Stone. É editor da revista Cult. Integrou a banda Tres Hombres.
Jornalista, escritora e criadora de ideias há mais de 20 anos, acredita que a felicidade está em contar histórias sem pressa. Por isso, adora temas como a trajetória dos violinos Stradivarius, seu assunto nesta edição. A inspiração, aliás, veio quando Olívia, então com 7 anos, começou a estudar violino e revelou para a mamãe jornalista a magia de um instrumento difícil de tocar e fácil de amar.
Acreditem: eis o dono de um ouvido apuradíssimo. Anglófilo, é capaz de detectar pela prosódia o bairro londrino do interlocutor, a exemplo do personagem Henry Higgins de Pigmalião, de Bernard Shaw. Professor de destilados e charutos na Associação Brasileira de Sommeliers, o refinado Borges escreve sobre luvas neste número. Prefere as britânicas, of course.
daniel benevides
FLÁVIA PEGORIN
MARCELLO BORGES
OLFATO E MERCADO
mercado
NEGÓCIOS
Repórter de economia de O Estado de S. Paulo nos anos 1980, retomou a vertente três décadas depois ao dirigir Forbes. Entre os dois trabalhos, criou e comandou revistas de viagem. Para esta edição, como bom torcedor do Santos, atacou nas duas pontas, com uma entrevista de negócios (Frédéric Drouin, CEO da Jaguar Land Rover para a AL) e um saboroso texto sobre as comidinhas de rua mundo afora.
Ele tem nome, sobrenome e rosto de alemão. Aliás, este paulista morou em Munique, onde aprimorou sua técnica no portrait. Da Alemanha, seguiu para a Itália, onde estudou com mais afinco a fotografia digital. De volta ao Brasil em 2009, é desde então um requisitado profissional, seja no meio jornalístico como no publicitário. Ah, ele não tem qualquer parentesco com aquele outro Lehmann, pouco mais recheado em termos pecuniários.
Ele adora aviação, mergulho autônomo, o litoral sul da Bahia e grandes bateristas – nas horas vagas, por sinal, manda muito bem nas baquetas. Mas a praia deste arquiteto paulista é, sobretudo, a fotografia. Tuca, nosso assíduo colaborador, tem imagens estampadas em diversos museus espalhados pela Europa. Além disso, publicou livros graúdos pela prestigiosa editora Taschen, na Alemanha
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CLAUS LEHMANN
tuca reinés
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negócios
entrevista
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Entrevistar o engenheiro Charles Cambur e sua filha, a arquiteta Juliana Cambur Berger, foi a tarefa do nosso refinado ermitão. Mais uma vez, cumprida com êxito. O dandy da serra da Cantareira, onde é vizinho de onças, do silêncio e da tranquilidade, veio à cidade de São Paulo com o renovado faro de repórter dos seus idos em Manchete, Quatro Rodas, Caminhos da Terra e Jornal do Brasil.
Jornalista há mais de 20 anos, passou por veículos de comunicação do quilate de Jornal da Tarde, O Estado de S. Paulo, Valor Econômico, Época Negócios, Brasil Econômico e Forbes. Ganhadora do prêmio Unisys de Jornalismo, escreveu o livro A Presença Francesa no Brasil: de Villegaignon ao Século XXI (Editora Conteúdo). Hoje, cada vez mais envolvida com lifestyle, compartilha descobertas no site Prazerices, sobre coisas boas da vida.
Ele é tão mineiro quanto maneiro. Para conhecer melhor gastronomia, quando comandava o Guia Quatro Rodas, tornou-se chef e esteve à frente de restaurantes em Belo Horizonte e Tiradentes. Já nos tempos em que morou em Paris, interessou-se por vinhos. Virou especialista, com livro publicado e convites para consultorias.
cult
esporte
luiz maciel
ROBERTO MUGGIATI
Este curitibano estudou jornalismo em Paris e, sem seguida, trabalhou na BBC, em Londres. Ali apurou o gosto musical e se transformou em entusiasmado fã de jazz. Sobre o assunto, publicou O Que É Jazz (Brasiliense), New Jazz – De Volta para o Futuro (Editora 34) e Jazz – Uma História em Quatro Tempos (LPM), entre outros. Nesta edição, escreve sobre o álbum Kind of Blue, de Miles Davis.
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FRANÇOISE TERZIAN
UBIRATAN LEAL
Ele diz que seu principal talento no esporte é como goleiro, mas, infelizmente, sua altura só é suficiente para o futebol de botão. Acabou no jornalismo, onde já atuou como repórter e editor de publicações de futebol e esportes diversos. No momento, é comentarista de beisebol e futebol nos canais ESPN e do canal Desimpedidos no YouTube (7 milhões de inscritos). Tem 43 mil seguidores no Instagram.
MAURO MARCELO ALVES
imprensa
DAGOMIR MARQUEZI Programas vespertinos de TV? É com ele mesmo. Telenovelas? Idem. Romance policial passado no centro de São Paulo? Pode chamar. Resenhas e críticas dos mais variados programas de auditório? Batata. Estudos pela extensa obra de Frank Zappa? É com o Dagô – como os amigos chamam este paulistano pra lá de versátil. A história da revista MAD é outra de suas especialidades. Tem a coleção completa.
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Preciso & precioso Rolex para mergulho profundo ganha versão com ouro e inox
PROFUNDIDADE O relógio permite descer a até 1.220 metros no fundo do mar
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O brilho dos ponteiros luminescentes conta com um acompanhante de valor no novo Sea-Dweller, da Rolex. O poderoso relógio de mergulho da maison, super-resistente à pressão submarina, acaba de ganhar sua primeira versão com o ouro amarelo. O metal precioso aparece em parceria com o aço inoxidável. Essa mistura ganhou o nome de Rolesor na marca. Os elos centrais da pulseira trabalham em conjunto com o bisel (o anel móvel em torno do mostrador), ponteiros e coroa para apresentar o ouro em todo seu esplendor. A cor dourada também aparece sobre o mostrador preto, nomeando o modelo. Ainda sobre o mostrador: as indicações de horas, minutos e segundos despontam ao lado de uma janela de data, maximizada por uma Lente Cyclops. As informações são fornecidas pelo mecanismo de nova geração 3235, desenvolvido e fabricado pela Rolex. Ele conta com nada menos que 14 patentes. Como já se tornou tradição, a Rolex submete seus modelos a um segundo controle de certificação cronométrica, que atesta o dobro de precisão que a certificação oficial suíça COSC. A caixa Oyster, absolutamente estanque, oferece resistência de até 1.220 metros de submersão. Na lateral há uma válvula automática de liberação de hélio. Isso permite a descompressão em segurança nos mergulhos profissionais com retomada à superfície em câmara hiperbárica. rolex.com
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luxo Por r aphael calles
Escrita criativa A nova caneta Montblanc celebra a arte milenar da caligrafia Imagine a possibilidade de ajustar a espessura de sua escrita de acordo com a pressão da caneta no papel. Pois a nova pena de ouro Flex Nib, desenvolvida pela Montblanc, permite esse feito. Com ela, você varia o traço de escrita entre 0,3 e 1,4 mm de espessura. A flexibilidade do metal possibilita uma rápida abertura e fechamento das asas da pena. Isso proporciona precisão para uma escrita mais elaborada e criativa. A tecnologia já integra a nova caneta apresentada pela Montblanc. A Meisterstück Calligraphy, da coleção Calligraphy, celebra a milenar arte da caligrafia da melhor forma. Seu corpo de resina preta e ouro amarelo se insere no visual clássico de um genuíno instrumento de escrita. E se o desejo é ir além das canetas, a marca foi mais fundo no quesito cross-category. Calligraphy também integra a linha de couros, com produtos de pegada urbana, jovial e que trazem a tendência de Logomania, vista com frequência nos
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anos 1990, em uma releitura contemporânea. “Reinventamos e retrabalhamos o logo da marca”, diz Zaim Kamal, diretor criativo da Montblanc. “Esse visual é para quem gosta de reescrever as regras, como uma celebração de autoexpressão.” O nome da marca está presente em todos os produtos, mas nunca de forma integral. Ele é inscrito em branco sobre o couro preto e reforça os traços inconfundíveis dos itens da maison. A coleção é composta de uma mochila, pasta estilo portfólio, porta-notebook, carteiras e estojo.
REQUINTE A Calligraphy e a carteira de couro: parceria de estilo
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m oto r
P o r lu i z g u e r r e ro
Três reis ASX, Eclipse Cross e Outlander formam o trio perfeito da Mitsubishi Motors para enfrentar o rali do dia a dia
O off-road faz parte do DNA da Mitsubishi Motors há muito tempo. Em 1934, a companhia produziu o PX-33, primeiro veículo 4x4 da história do Japão e um dos primeiros do mundo. Ele serviu até a família imperial japonesa. Essa vocação continuou ao longo da história da marca dos três diamantes e virou tradição nas competições. O Lancer 1600 GSR começou essa saga no Rally Safari, África, em 1973. O gene se alastrou nos modelos que você e eu podemos comprar nas lojas – e, com eles, enfrentar o nosso rali de todos os dias. Agilidade, excelência mecânica, alta segurança e bem-estar a bordo são a essência dos carros da marca. Tome-se como exemplo a linha de utilitários esportivos que a Mitsubishi oferece no Brasil: o que o ASX, um SUV de 4,36 metros de comprimento, tem em comum com o Outlander, 33 centímetros maior e muito espaço interno, é a capacidade de enfrentar os obstáculos urbanos com robustez e conforto. O inovador Eclipse Cross, 4,40 metros de comprimento e eleito Carro do Ano de 2019 no Japão, completa o trio de vanguarda da marca. Mais compacto entre os três SUVs desta apresentação, o ASX conta com a combinação desejável em um rali – a versatilidade e o sistema de tração 4x4. Seu porta-malas com 605 litros de capacidade tem piso rebaixado para facilitar no dia a dia de idas ao supermercado ou naquelas viagens aos fins de semana. Renovado no design, o modelo é oferecido com motor 2.0 flex MIVEC de 170 cavalos e torque de 23 kgfm quando abastecido com etanol. A partida a frio elimina
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o tanquinho de combustível, comum na maioria dos motores flexíveis. A transmissão é CVT de oitava geração – batizada de High Torque Transmission –, com possibilidade de trocas manuais por meio dos paddle shifters na coluna de direção, e sistema eletrônico para acionamento da tração: por meio de simples toque no botão localizado no console central, você pode optar pelo modo 2WD, quando se roda com tração dianteira, pelo 4WD, ideal para uso esportivo e em estradas sinuosas, e LOCK, recomendado para aumentar a segurança em pistas com pouca aderência. A exemplo dos SUVs maiores da marca, o ASX conta com tela multimídia sensível ao toque e compatível com Apple CarPlay e Google AndroidAuto. Lançado no Brasil em setembro de 2018, o Eclipse Cross, com seu conceito de linhas fluidas Dynamic Coupé, foi igualmente distinguido pelo Museu Athenaeum de Arquitetura e Design de Chicago com o prêmio Good Design. A vigia traseira dividida em dois segmentos pelo conjunto de iluminação é um detalhe que prende o olhar. O modelo também recebeu nota máxima, as cinco estrelas, no Latin NCAP, o mais rigoroso teste de segurança da América Latina. Com porte intermediário entre o ASX e o Outlander, o Eclipse Cross é equipado com o novo motor 1.5 MIVEC turbo de 165 cavalos, câmbio CVT com INVECS III, sistema que se adapta ao modo de dirigir de cada motorista, e o sistema de controle dinâmico integrado à tração integral. Batizado de Super All Wheel Control, o sistema de tração controla a distribuição de torque entre os eixos dianteiro e traseiro. Exclusividade Mitsubishi, o Active Yaw Control é outro dispositivo eletrônico criado para otimizar o torque entre as quatro rodas. A versão 4x2, também disponível, conta com os mesmos recursos de segurança e comodidade do Eclipse Cross 4x4. Ambos vêm com ar-condicionado digital de duas zonas, aquecimento nos bancos dianteiros, ajustes elé-
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Mitsubishi Eclipse Cross
tricos do banco do motorista e banco traseiro reclinável e deslizante. O porta-malas comporta 473 litros – capacidade que pode ser ampliada para 1.197 litros com o encosto do banco rebatido. No pacote tecnológico, destaque para condução semiautônoma, alerta de colisão com frenagem de emergência e assistente de permanência em faixa. Para quem precisa de espaço maior, a opção é o Outlander, um SUV que pode levar até sete passageiros com conforto e que teve o design renovado na linha 2019. Um dos destaques do modelo são os 12 pontos de refrigeração distribuídos pela cabine. São quatro versões de acabamento e outras três opções de motor, incluindo o 2.2 turbo diesel de 165 cavalos. Se você não abre mão de desempenho, a melhor escolha é a versão V6 de 240 cavalos, igualmente equipada com o sistema Eco
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Mitsubishi ASX
Mitsubishi Outlander
Mode, solução para maior economia de combustível e menor nível de emissões de gases tóxicos pelo escapamento. Como os demais SUVs Mitsubishi, o Outlander conta com completo pacote de itens eletrônicos de segurança. Tem versões equipadas com um piloto automático inteligente (ACC), que mantém o veículo a distância pré-programada do carro à frente; o Forward Collision Mitigation, sistema que trabalha por meio de câmera e radar para frear o carro automaticamente na iminência de colisão ou atropelamento; o Lane Departure Warning, que alerta sobre mudança de faixa de rolamento involuntária, além dos sistemas de controle de estabilidade e de tração. mitsubishimotors.com.br
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SEM I N Á R I O POR R APHAEL CALLES
MARCONDES Estudando a preferência dos jovens
De olho nos millennials Segunda edição do Luxury Lab no Brasil discute a nova geração de consumidores
A primeira geração totalmente criada no meio tecnológico chegou à idade de consumir. Os millennials, nascidos entre meados da década de 1980 e a metade da de 1990, já representam 30% dos consumidores do mercado de luxo. Por isso, foram o tema da segunda edição brasileira do Luxury Lab Brasil, uma série de seminários que teve lugar no final de setembro, no hotel Four Seasons, em São Paulo. O evento organizou painéis que transitavam do turismo a arquitetura, com um olhar atento ao mercado brasileiro. “Mais de 30% dos consumidores de luxo da América Latina preferem agora consumir produtos e serviços de luxo que respeitam o meio ambiente”, descreve Abelardo Marcondes, idealizador do summit. “Isso fez com que marcas tradicionais e novas marcas de luxo procurassem se tornar o mais sustentável possível.” Outra óbvia característica da nova geração: o apego à internet. Marcondes conta que existe um crescimento de mais de dois dígitos por ano no consumo de produtos e serviços de luxo online. “O consumidor quer praticidade e segurança”, resume. Importante:
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os millennials, quando viajam, não pensam apenas em fazer turismo. Querem experiências. “Daí o aumento das viagens especializadas como as de arte, gastronomia e esporte, entre outras”, ressalta. Mesmo diante de um momento delicado econômica e politicamente no Brasil, Marcondes está otimista. “Os números da perspectiva de crescimento do setor de luxo no Brasil que serão apresentados pela Euromonitor são maiores que o crescimento de 4% de 2018.” O Luxury Lab teve como missão demonstrar o valor da indústria de luxo para a economia, apoiar o seu crescimento e trazer as melhores informações do setor por meio de líderes brasileiros e internacionais, com nomes do quilate de Laurent Claquin, presidente do grupo Kering para as Américas, e Carlos Jereissati Filho, CEO do Grupo Iguatemi. luxurylabglobal.com
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Uma família que brilha O nome Okubo é referência em alta joalheria e pérolas no Brasil Julio Okubo, Julio Okubo (filho), Stela Okubo, Lucy Okubo e Maurício Okubo
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Rosa Okubo chegou ao Brasil com a família em 1925. Aqui, foi bem além do padrão de dona de casa. Seus descendentes a definem como uma mulher à frente do seu tempo. Rosa chegou do Japão para trabalhar na lavoura com o marido. Seu espírito empreendedor não se adaptou no interior paulista. Ela mudou-se para a capital, deu aulas de japonês e resolveu vender joias. Por necessidade, foi obrigada a se desfazer de seu anel com pérola e brilhante. O sucesso na venda possibilitou colocar comida na mesa dos filhos. Tereza e Julio vieram pequenos do Japão e o casal teve ainda três filhas no Brasil: Luiza, Madalena e Emília. Pérolas eram raras por aqui e chamaram a aten-
ção da sociedade paulistana. O negócio se tornou promissor. Rosa buscou pérolas em sua província natal, Mie-Ken. Conseguiu convencer um cultivador local a se tornar o seu fornecedor. O grande desafio era vencer em um segmento tão masculino. Uma dona de casa se mostrou capaz de romper muitas barreiras e fazer um negócio de sucesso. Isto em 1934, quando a Casa de Joias Rosa Okubo abriu as portas. O negócio prosperou. Rosa tinha um raro talento comercial. Seu filho Julio assumiu o legado, mas acabou trilhando um
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1. Anel de ouro branco com pérola do Taiti e diamantes; 2. Brinco com pérolas Akoya com diamantes e ouro branco; 3. Gargantilha de ouro com pérolas das Filipinas e diamantes; 4. Pingente de ouro com diamante e pérola Freshwater
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caminho diferente. Ficou conhecido pela vocação de transformar metal e pedras preciosas em joias. Sobre isso, costumava dizer: “Quando me sentei pela primeira vez numa bancada de joalheiro, foi como se tivesse encontrado meu lugar neste mundo. Era aquilo mesmo o que eu gostaria de passar a vida fazendo. Soldar, cravar, polir, dar forma às joias, para mim, era algo natural. Sem alegria no coração não se faz uma boa joia”. Julio começou cedo. Adolescente, abriu seu atelier e começou a trabalhar peças exclusivas. A matéria-prima continuava sendo as pérolas vindas do Japão. Em 1965, abriu a Julio Okubo Joias. “Nossa preocupação nunca foi sermos os maiores ou os mais arrojados, mas sim fazer aquilo que sabemos fazer bem-feito: trabalhar, criando joias com design exclusivo e qualidade impecável”, contou. Hoje, a joalheria tem seis lojas próprias entre São Paulo e Campinas, além de parceiros em outros estados. A marca trabalha com as raras pérolas douradas, South Sea, vindas do arquipélago de Palawan, nas Filipinas. Ademais, tem ainda as South Sea brancas, Pérolas do Tatití (da Polinésia Francesa), Akoya (Japão) e Freshwater (China). Bisneto da fundadora, Maurício Okubo está à frente da Julio Okubo. Consolidou a joalheria no século 21. “Todas as pérolas que trazemos são cultivadas de forma sustentável e preservando o meio ambiente.” juliookubo.com.br
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Mortadela en carroza
Mortadela Bologna Seara Gourmet Aqui tem fatias da Itália no seu pão. Em processo artesanal, recebe toque de especiarias e pimenta branca. No final, cozimento a vapor. E o resultado: textura e sabor únicos.
Bacon Seara É um dos produtos mais versáteis da gastronomia. Agrada ao brasileiro em pratos e lanches. Disponível em fatias, pedaços ou em cubos.
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Burger com bacon, guacamole e sour cream
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lanches incríveis Mortadela Bologna Seara Gourmet e Bacon Seara são estrelas de sanduíches suculentos e cheios de sabor Receita 1
Mortadella en carroza
Receita 2
Tempo 40 minutos I Porções 2
Burger com bacon, guacamole e sour cream
Preparo fácil
TEMPO 50 minutos I PORÇÕES 4 Preparo fácil
iNGREDIENTES
› 250 g de mozarela fatiada › 300 g de Mortadela Seara fatiada › 4 fatias de pão de forma › 2 ovos › 2 dentes de alho ralados › 2 colheres (sopa) de salsinha picada › Sal e pimenta-do-reino a gosto › Farinha de rosca ou panko para empanar › Azeite de oliva para fritar Preparo
Monte 2 sanduíches com as 4 fatias de pão, dividindo a mozarela e a Mortadela Seara entre os dois. Em um prato fundo, misture os ovos, o alho ralado e a salsinha. Tempere com sal e pimenta a gosto. Em outro prato fundo coloque a farinha (ou panko). Cubra o fundo de uma frigideira com o azeite e aqueça em fogo médio. Mergulhe os sanduíches na mistura de ovos e em seguida na farinha. Em seguida frite no azeite até dourar, virando para dourar dos dois lados. Sirva em seguida. PARA HARMONIZAR Dica: apenas empane o Em lanches encorpados, sanduíche logo antes de escolha bebidas gaseificadas. fritar. Caso a frigideira Podem ser tônicas, espumantes só tenha espaço para um e refrigerantes. Elas rebatem sanduíche por vez, aguarde a gordura e limpam o paladar. o primeiro ficar pronto antes de empanar o próximo.
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para o sour cream
› 500 ml de creme de leite fresco › Suco de 1 limão › Sal a gosto Misture todos os ingredientes e mantenha em temperatura ambiente por 30 minutos. Sirva cremoso ou bata em batedeira para obter uma textura de chantilly antes de servir. Para o guacamole
› 2 avocados maduros sem casca › 1 tomate sem sementes cortado em cubos pequenos › Suco de 1 limão › 1/2 maço de salsinha picado › Sal e molho de pimenta a gosto Em um bowl, misture todos os ingredientes e tempere a gosto. Reserve para a montagem. Para a montagem:
› 4 pães de hambúrguer › 4 hambúrgueres Angus Seara Gourmet › 8 fatias de Bacon Seara › Guacamole a gosto › Sour cream a gosto Aqueça uma frigideira grande e regue com um fio de azeite. Frite nela as fatias de bacon até dourarem. Reserve as fatias e, na mesma frigideira, doure os hambúrgueres. Abra os pães e monte os hambúrgueres na seguinte ordem: carne, bacon, guacamole e sour cream. Sirva em seguida.
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INVE STI M ENTO P o r f e r n a n d o pa i va
A escalada de Lisboa A capital portuguesa ganha projetos do quilate do Martinhal Residences Portugal está definitivamente bombando. Em especial, entre os brasileiros. Que o diga o mais recente relatório do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) lusitano. Segundo ele, somos a maior comunidade estrangeira residente naquele país: 105.423 cidadãos, mais de um quinto de todos os emigrados na mesma condição. Mais: de acordo com a consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC), a partir deste 2019 Portugal lidera pela primeira vez o ranking das preferências do investimento e da promoção imobiliária na Europa. Foi por esse motivo que a indiana Chitra Stern, CMO do Elegant Group, esteve no Brasil no fim de setembro para divulgar o Martinhal Residences em Lisboa – um projeto localizado no Parque das Nações que oferece em 14 andares opções para quem quer residir, investir ou apenas desfrutar de
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um bom hotel na capital portuguesa. “Ao todo foram 130 milhões de euros investidos por nós em dois terrenos que totalizam 13 mil metros quadrados no Parque das Nações, um dos melhores endereços de Lisboa”, explica Chitra. Eles vão sediar dois empreendimentos: um, com 12 andares, destinado a receber a sede da empresa Ageas Seguros; o outro, com 14 andares, será um apart-hotel de alto padrão – o Martinhal Residences. “Trata-se do produto mais luxuoso que já lançamos”, prossegue Chitra, cujo grupo é proprietário e administra quatro outros empreendimentos de alta hotelaria no país.
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joia imobiliária Localizado na região do Parque das Nações, o empreendimento terá duas torres e apartamentos espaçosos
Instalado em uma das regiões mais tranquilas e familiares de Lisboa, o Martinhal Residences está previsto para ser entregue no começo de 2022. Seus 14 andares vão oferecer de estúdios a partir de 38 metros quadrados a apartamentos de 196 metros quadrados e quatro dormitórios, totalmente equipados com móveis e eletrodomésticos das melhores marcas. “Tudo foi pensado cuidadosamente para a comodidade do morador”, diz Chitra, com entusiasmo. Do primeiro ao quarto andar as unidades serão vendidas como opção de investimento. A partir do quinto andar, para proprietários que desejem morar no apartamento – ou apenas utilizá-lo por períodos curtos ou mais longos. Projetado pelo premiado arquiteto português Eduardo Capinha Lopes, o empreendimento alia o luxo à funcionalidade. Entre os serviços de alto padrão característicos do grupo Martinhal estão piscina, clube para as crianças, restaurantes, lavanderias, espaço de trabalho, concierge 24 h, serviço de limpeza, de informática e de manutenção, disponíveis tanto para hóspedes como para moradores. Para o Elegant Group, o grande objetivo será o de vender apartamentos exclusivos a estrangeiros com residência permanente que queiram utilizar as comodidades de um serviço de hotel altamente qualificado. Aos que não pensam em morar, o produto como investimento confere rentabilidade anual garantida de 4% sobre o preço de compra do imóvel durante os primeiros seis anos. Todos os custos ou encargos correntes sobre o imóvel estarão a cargo do operador durante todo o período vigente do contrato de arrendamento. É muito
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espaçoso Um dos apartamentos do complexo lisboeta
interessante saber que dados da Associação de Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal apontam os brasileiros como os maiores investidores estrangeiros no mercado imobiliário nas cidades de Lisboa e do Porto. E, em termos nacionais, perdem somente para os franceses, que, no momento, lideram o ranking de investimentos na terra lusitana. O Relatório do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), recém-divulgado, comprova que o número de estrangeiros residentes em Portugal aumentou 13,9% em 2018 e já se aproxima de meio milhão de pessoas, e os brasileiros continuam sendo a maior comunidade estrangeira residente em Portugal, com mais de um quinto do total. Na maré dessa mudança que o país está vivendo, o Elegant Group identificou uma carência no quesito educacional. “Não tra-
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balhamos na área, mas notamos essa necessidade”, observa Chitra. O fato é que quando estrangeiros decidem morar em Portugal buscam escolas com o mesmo nível que tinham no país de origem. “Assim, muitos vão para o Estoril ou Cascais, pois lá estão as escolas internacionais – então, se quisermos que eles fiquem em Lisboa, precisamos criar oportunidades.” E a oportunidade já tem endereço: avenida Marechal Gomes da Costa, bem próximo ao Parque das Nações. No edifício que já abrigou a Universidade Independente, está nascendo a United International School of Lisbon. Trata-se de uma escola internacional com capacidade para 900 alunos que oferece do jardim de infância ao 12º ano de escolaridade (K-12) e que deve abrir o ano letivo em setembro de 2020. A instituição também deve proporcionar o Bacharelado Internacional (IB) para o 11º e 12º anos. “Para isso vamos trabalhar em conjunto com o Oceanário, o Museu da Ciência e a Companhia Nacional de Balé – Teatro de Camões, ali pertinho”, informa Chitra. martinhal.com
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uma noite especial Celso La Pastina reúne convidados em loja da World Wine
Para comemorar sua aparição como personagem de capa na THE PRESIDENT 39, o empresário Celso La Pastina promoveu no último 24 de setembro um evento que reuniu amigos, familiares, empresários e formadores de opinião. Aconteceu na loja da World Wine, na rua Amauri, no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo. Proprietário das importadoras La Pastina e World Wine, Celso aposta na evolução dos tintos e brancos nacionais. Cercado pela família, o empresário relembrou e homenageou, emocionado, a saga do pai, o saudoso Vicente, fundador da La Pastina, no centro da cidade, em 1947 – há 72 anos. Foi uma noite de muitos brindes.
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amigos e parceiros 1. Lili Rosa La Pastina e o homenageado da noite, Celso La Pastina; 2. André Cheron, Eduardo Jakus, Paula Kekeny, Raul Sanches e Ricardo Battistini; 3. Lili Rosa La Pastina, Celso La Pastina, José Carlos Semenzato e Bráulio Bacchi; 4. André Cheron, publisher da Custom, agradece em discurso a presença de todos no evento de lançamento da capa da THE PRESIDENT com o empresário Celso La Pastina; 5. Marcia Gomes, Northon Blair, Silvana Giangrande, Marisa Clermann, Valentina Clermann, Meire Oda, Nicole Ivanski Battistini, Regiane Ivanski, 6.
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Ricardo Oda e Ricardo Battistini; 6. Patricia Madeira, Leandro Capucho, Amanda Capucho e Mario Bongiovanni.
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per fil P o r RO D R I G O G R I LO
Ela pilota a Fórmula 1 A paulistana Claudia Ito comanda, ano a ano, toda a operação do GP de Interlagos No ano em que o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 chega a sua 30a edição consecutiva na capital paulista, o sinal amarelo passou a reluzir com maior intensidade no autódromo José Carlos Pace, em Interlagos. Isso ocorreu depois de o presidente Jair Bolsonaro declarar a intenção de transferir a prova para uma nova pista no Rio de Janeiro. Sobre essas e outras questões relativas à corrida de Interlagos, o automobilismo nacional encontra na paulistana Claudia Ito o respaldo para frear tal ímpeto. “Não há outro autódromo na América do Sul homologado pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA), para sediar uma prova de Fórmula 1”, diz ela, 52 anos, 27 deles prestados à etapa paulista da Fórmula 1. “Construir um novo autódromo custaria US$ 200 milhões. Dificilmente o Rio de Janeiro conseguirá a troca.”
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Claudia, que cresceu fazendo, soltando e vendendo pipas no bairro paulistano do Brooklin, tem patente para versar sobre o assunto. Dez anos atrás, guindada a CEO da International Publicity, ela se tornou a primeira mulher a ser promotora de uma etapa do calendário da Fórmula 1. A empresa, onde dá expediente desde 1992, é a responsável pela etapa brasileira do calendário. Sob sua gestão, o GP de Interlagos foi, segundo eleição da FIA, o mais organizado da temporada de 2013. Ao receber o troféu, em Paris, Claudia interrompeu a sequência marcada pela maciça presença masculina no posto mais alto do pódio.
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NO PÓDIO Inspecionar a pista é rotina para a paulistana que recebeu do todo-poderoso Bernie Ecclestone o prêmio de prova mais bem organizada de 2013
Essa história começou quando, aos 24 anos, prestes a se formar em engenharia eletrônica, Claudia aceitou o convite para ser atendente de telefone voluntária durante o GP de 1992. Na edição seguinte, foi chamada para distribuir credenciais. Um ano a mais e já respondia por todo o credenciamento do evento. Bastaram cinco temporadas para que a engenheira assumisse a chefia de toda a logística da prova. “Meus pais sempre disseram que uma nova geração tem de dar um passo adiante”, conta ela, filha de um marceneiro espanhol e de uma dona de casa descendente de imigrantes japoneses. “A geometria que estudei na faculdade me ajuda a montar todo ano um grande circo.” Enorme, de fato. O Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 é o maior evento esportivo do país e o que produz maior retorno financeiro. A etapa do ano passado gerou um impacto no turismo de R$ 334 milhões – 19,2% superior ao da prova de 2017. Um estudo feito pela FIA sobre o retorno de mídia proporcionado por uma etapa da Fórmula 1 estimou que uma cidade teria de gastar US$ 1 bilhão durante cinco anos para atingir o patamar de divulgação que um GP proporciona. “Não à toa Hanói, no Vietnã, país sem tradição no esporte, tenta fazer parte do calendário”, lembra a CEO. Apesar de não se empolgar muito com os carros de corridas, como afirma sem cerimônias, Claudia se acostumou a ter o chamado escritório do promotor invadido por alguns pilotos. “O Schumacher não gostava de usar o banheiro do box da escuderia dele. Tinha o hábito de usar o do nosso espaço. O Senna também fez o mesmo e, hoje, o Hamilton vez ou outra aparece por lá”, conta. Antes da ascensão da paulistana ao posto de diretora-executiva da International Publicity, era o húngaro Tamas Rohonyi, responsável por trazer a F1 para o Brasil em 1980, quem pilotava a empresa. Naturalizado brasileiro e, hoje, marido de Claudia, Tamas sempre preferiu mulheres nos postos de liderança. “O trabalho do promotor de uma prova de Fórmula 1 é minucioso e a mulher é mais atenta e detalhista do que nós”, explica. Hoje, o clã feminino ocupa 60% dos postos de liderança na empresa. “Nunca fui vítima de assédio ou preconceito por ser mulher em um meio predominantemente mas-
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culino como o automobilismo”, garante Claudia. Mas, por causa da própria juventude, sentiu a desconfiança pairando no ar toda vez que galgava postos. Com pouco mais de 30 anos, já havia assumido toda a operação do GP de Interlagos. “Aí tive uma ou outra dificuldade com pessoas mais velhas que acreditavam ser delas a vez de ocupar um cargo que eu assumia.” PERRENGUES DE ÚLTIMA HORA Entra ano, sai ano, o circo da Fórmula 1 começa a ser levantado por cerca de 30 pessoas que se transformam em 10 mil nos quatro últimos dias. Muitas estão ali de maneira voluntária, como ocorreu com Claudia no início da carreira. “A pessoa que fotografa os bastidores do evento para nós é proprietário de um posto de gasolina”, conta. “Tem também um dono de açougue que deixa o negócio para trás e passa 30 dias trabalhando conosco.” Para se ter uma ideia da grandiosidade da etapa brasileira, ela demanda oito jumbos fretados para o transporte dos equipamentos das equipes, 8 mil toneladas de estrutura metálica para a construção de arquibancadas e 800 voos de helicóptero por dia. As duas últimas semanas são, para a Claudia, o que define como “tsunami”. Ela torna-se visita em sua própria casa. Sai para trabalhar antes de a filha, de 16 anos, acordar e retorna quando a adolescente já está dormindo. “Três anos atrás, de uma sexta-feira para o sábado, uma tempestade em Interlagos destruiu a decoração, pôs tendas pra baixo e retorceu ferros”, recorda-se. “Trabalhamos com um guindaste por toda a madrugada, para recolocar tudo no lugar.” Houve situações ainda mais angustiantes. Nos anos 1990, a construção do pódio só ficou pronta na última volta da prova. Quando Claudia e a equipe foram checar o resultado, perceberam que o sistema que fazia as bandeiras dos vencedores tremularem havia sido esquecido. “O cenógrafo me disse: ‘Deixa comigo’. Depois de ver as bandeiras subirem na cerimônia de entrega dos troféus, fui para trás do pódio e o vi, junto de mais duas pessoas, deitado no chão puxando as bandeiras pelo cabo de maneira improvisada”, conta. “Mas na frente das câmeras, tudo perfeito: o hino tocou, o pódio funcionou e as bandeiras subiram conforme o protocolo.” Em se tratando de Fórmula 1, para além da tecnologia, o sucesso pode estar no improviso e na rapidez do pensamento. TP
Interlagos acelerando São Paulo O evento traduzido em números: • • • • • • • • • • • • • • •
8 jumbos fretados 65 geradores abastecidos com 100 mil litros de diesel Mais de 200 viagens de caminhão para transporte de carga Mais de 450 jornalistas de todo o mundo Mais de 700 monitores de TV 800 voos de helicóptero por dia 900 toneladas de equipamento 8 mil peças de uniforme 8 mil toneladas de estrutura metálica para montagem de arquibancada Mais de 10 mil trabalhadores 30 mil metros quadrados de lona Mais de 30 mil flores 50 mil metros quadrados de carpete 150.307 espectadores (somando os três dias do evento) R$ 334 milhões de receita para a capital paulista
Fontes: International Publicity e Observatório de Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo © Beto Issa/GP Brasil de F1
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O CEO e a responsabilidade social
A
preocupação com atitudes sociais responsáveis nas empresas vem ganhando força graças a uma bem-vinda mudança de mentalidade. Hoje, não basta oferecer um bom produto ou serviço. Companhias que transparecem maior compromisso com a sociedade não só trabalham pela inclusão de setores carentes da população como também reposicionam a própria imagem no mercado. Neste sentido, estamos falando aqui de uma relação ganha-ganha, benéfica para todos. Já se tornou comum depararmos com diferentes empresas de diversos segmentos que aderem a algum tipo de causa social. Tais ações visam desde a inclusão de pessoas de camadas sociais desfavorecidas e/ou minorias até a formação de jovens para os desafios do futuro. Sem esquecer a reinclusão de gente no ambiente de trabalho, como pessoas da terceira idade. Fazem parte da lista, ainda, prevenção e cuidados com o meio ambiente, educação e lazer. É importante reforçar que a preocupação com a sociedade traz frutos não somente para aqueles que são contemplados diretamente com a ação. Tais atitudes podem ser vistas também como um investimento. Sim, seja na preparação de novos talentos para as empresas ou mesmo para a geração de valor mercadológico. Dessa forma, atos socialmente responsáveis contribuem não só para os cidadãos de modo geral, mas também para empresas, seus parceiros e demais stakeholders. Estudos recentes reforçam esse ganho geral. Segundo pesquisa realizada pelo Reputation Institute, ações de responsabilidade social têm peso de até 41% para a reputação do negócio. Vale salientar que a pesquisa, ampla, ouviu 55 mil consumidores de 15 mercados diferentes. Isso posto, nunca é demais ressalvar que tais ações só são de fato possíveis e impactantes com o engajamento do CEO da organização. É ele quem dá o pontapé inicial e incentiva os parceiros e colaboradores a abraçarem a iniciativa. Por fim, promove uma participação mais colaborativa. Para isso, é fundamental que tenha visão de longo prazo. A construção de uma cultura corporativa envolvida de modo profundo com a responsabilidade social não ocorre do dia para a noite. Além disso, é preciso ter um compromisso genuíno com as causas para as quais se escolheu contribuir. Outro ponto importante: de nada adianta transparecer uma imagem externa de altivez e altruísmo se essa mentalidade não é cultivada na própria empresa. Neste sentido, é crucial adotar atitudes simples, mas indispensáveis. A saber: relações éticas com colaboradores, parceiros, investidores e concorrência; comuni-
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Alexandre Velilla Garcia, CEO do Cel.Lep e sócio-fundador da Valor Real Construções, é economista com pós-graduação em management pelo ISE/IESEUniversity of Navarra velillagarcia@uol.com.br
cação coerente com os valores da empresa; preocupação com o desenvolvimento e bem-estar de cada um dos colaboradores e, acima de tudo, respeito a todos. Com o compromisso em promover e fortalecer seus valores, cada dia mais empresas estabeleceram como meta envolver seus negócios em ações sociais. Tal atitude, por fim, tem como base a aproximação entre as pessoas e a certeza de que, unidos e munidos de oportunidades, podemos contribuir efetivamente para a construção de um mundo mais justo, igual e humano. TP
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Atração
morena Dira Paes chega aos 50 e ainda deixa todo mundo boquiaberto
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Dira Paes é um mulherão. Na acepção mais simples, o adjetivo se aplica porque ela é linda, dona de um belíssimo corpo e de um sorriso encantador. E ainda porque tem presença, faz todos virarem a cabeça, é uma atriz talentosa, tem um carisma inspirador e inteligência afiada. Não bastasse, defende os direitos humanos. Tudo isso ela tem de sobra. Mulherão – embora não vá além de 1,63 m. Mas há um quê a mais, que justifica o “ão”, bem brasileiro. É, talvez, algo atávico, imemorial, que faz pensar no deslumbramento dos portugueses quando viram, pela vez primeira, a nudez das índias no nosso litoral, tal como descrito por Gilberto Freyre em Casa-Grande e Senzala. A nudez de uma civilização desconhecida, livre, sem vergonha de seu sexo, sem repressões religiosas ou amarras de qualquer tipo, em comunhão com uma natureza exuberante, erótica.
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Os traços da atriz revelam toda a sensualidade dessa imagem idílica. E também a força de seus antepassados autóctones. Não à toa, bem garota ainda, desbancou 300 aspirantes a um papel em A Floresta das Esmeraldas, do diretor britânico John Boorman. Foi sua primeira experiência na frente de uma câmera. Quem lhe deu a dica dos testes foi seu professor de literatura: “Estão procurando alguém com seu tipo físico”. Ela já cultivava um inglês fluente, fruto de uma educação exemplar na família culta. Tinha apenas 14 anos. Durante as filmagens, sua mãe teve de afastar um sheik árabe da filha, que a assediava com propostas de casamento. Ecleidira Maria Fonseca Paes havia encontrado sua vocação, que passava longe de um harém. Enfrentou zooms com naturalidade e iniciou uma carreira que já conta mais de 30 filmes e outro tanto de novelas e séries para a TV. PINGA NO GARGALO araense, Dira nasceu em Abaetetuba, “terra de homem forte”, e foi para Belém, onde estudou em um dos melhores colégios. Com o dinheiro do primeiro filme, bandeou-se para o Rio de Janeiro a fim de estudar artes dramáticas, filosofia e francês, outra língua que fala à perfeição. “Cabocla amazônica”, como se define, não demorou a fazer sucesso – primeiro no cinema e depois na TV - com seu “cabelo comprido, olhinho puxado, sorriso rasgado”. No auge, já aos 46, causou furor como Celeste, a mulher rica e independente que interpretou na minissérie da Globo Amores Roubados, de 2014. O primeiro episódio mostra uma cena de sexo ousada com Cauã Raymond. Ela conta que nos bastidores seduzia o parceiro para aumentar a temperatura nas gravações. Cauã não ficou atrás e, quando estavam nus na cama, lhe deu um tapa de improviso. Dira entrou no clima e revelou pernas, braços e vislumbres dos seios com uma entrega rara na televisão, avivando as fantasias dos espectadores. “A Celeste fez sucesso porque era uma mulher atrás de seu desejo. Do perigo, do sexo”,
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Dira rodou seu primeiro filme quando tinha apenas 14 anos. Teve de suportar o assédio de um sheik árabe que queria a todo custo se casar com ela
comentou. Dira não vê a nudez como tabu. Para ela, ainda que a imagem se distancie do fogo que parece emanar de sua pele morena, o nu de uma atriz é “angelical”, está a serviço do texto dramático, das orientações do diretor, do cinegrafista, da integração com os colegas, não de um desvelamento pessoal. Ela mudou pouco, dos 14 aos 50 de hoje (completados em junho). Evoca a forma física de quem malha muito. Não é bem o caso. Dira malha, sim. “Mas só quando tenho vontade”, ressalva. Acredita que um ator deve passar as emoções do personagem pela interpretação, sem precisar passar por grandes transformações físicas. Para muitos, é a melhor atriz brasileira do momento. Pode ser comparada a Sônia Braga, em vários aspectos: na beleza bem brasileira, na sensualidade provocante, na versatilidade, na admiração da crítica, nacional e internacional. E na identidade que construiu junto ao cinema nacional. Ela fez vários filmes memoráveis e não se intimidou com a dificuldade de alguns papéis. Em Amarelo Manga (2003) e Baixio das Bestas (2006), por exemplo, ambos do cineasta pernambucano Cláudio Assis, sua figura surge num cenário de violência e perversão extremos, que a TV em geral não mostra. No segundo, sobre exploração sexual de menores, entre outras degradações, ela é uma prostituta de coxas espetaculares e bunda redonda, empinada, esculpida ao gosto continental, sempre nua ou seminua, perdida num mundo decrépito. É inesquecível sua imagem de microcalcinha, pernas abertas, bebendo pinga do gargalo.
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Outro filme de impacto em que atuou foi A Festa da Menina Morta (2008), de Matheus Nachtergaele, rodado nos lugares de sua infância, na região ribeirinha do Amazonas, onde costumava nadar nos igarapés. Bem antes, em 1987, foi seduzida nas mesmas águas por Ele, o Boto, de Walter Lima Jr. Mas, apesar de viver muitas mulheres do Norte e Nordeste, não gosta do estereótipo: “Somos muito mais que o exótico”. Ainda assim, foi vivendo a cangaceira Dadá, em Corisco & Dadá (1996), de Rosemberg Cariry, rodado do sertão do Ceará, que ganhou seu primeiro prêmio importante, o de melhor atriz no Festival de Brasília. Depois desse, vieram muitos outros, inclusive o troféu Oscarito pelo conjunto da obra, em Gramado, há dois anos. Tornou-se a mais jovem vencedora da honraria. HUMOR ESCRACHADO la consegue dizer muito com economia de gestos – essa é uma de suas marcas. A outra é o imponderável carisma: a câmera parece se apaixonar por ela, para usar um clichê, aqui bem verdadeiro. E muita disposição. Incansável, trabalhou também na outra ponta do país, no cinema gaúcho; em 1997 fez, por exemplo, o ótimo Anahy de las Missiones, de Sergio Silva, que se passa na Revolução Farroupilha. Rodou ainda a comédia Meu Tio Matou um Cara (2004). O diretor, Jorge Furtado, um de seus grandes amigos, disse à época: “Ela é a atriz-símbolo da retomada do cinema nacional”. (Bons tempos...) De fato, bastante associada aos filmes de autor, independentes, Dira também tem ao menos um blockbuster no currículo: Dois Filhos de Francisco, de Breno Silveira. No longa, maior bilheteria de 2005, encarna a mãe da dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano. Vestidinho simples, cabelos preso, postura comedida, ela extrai encantamento da brejeirice. E arrebata até quem não suporta os trinados agudos do mundão vasto sem porteira. Drama, sexo, violência são elementos em que trafega com tranquilidade. Seu desafio mesmo é o
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NA TELINHA E TELONA A Diarista (2003); Caminho das Índias (2009); Baixio das Bestas (2006); Amores Roubados (2014); A Floresta das Esmeraldas (1985); Corisco e Dadá (1996)
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humor, que considera “bem mais difícil”. Entre 2003 e 2007 viveu na pele de Solineuza, da série A Diarista, e se divertiu com o humor escrachado da personagem, até hoje das mais populares que interpretou. Tudo a ver com seu jeito solar, de olhar luminoso, sorriso radiante. Norminha, da novela Caminho das Índias (2009), também tinha seu lado cômico. Punha o marido, Abel, para dormir com um copo de leite... e sonífero, e saía para curtir. A música “Você Não Vale Nada”, do grupo Calcinha Preta, era o tema da personagem. Na época, as pessoas o cantavam quando a viam na rua. Dira conta que mulheres lhe confidenciavam os truques para distrair os maridos e sair de casa. Gostou tanto do papel que guardou um sutiã do figurino. Dira está no segundo casamento, com o cinegrafista Pablo Baião, nove anos mais novo. Têm dois filhos, Inácio e Martim – este, ela teve aos 46, in vitro. Moram numa espécie de sítio numa ilha da Barra da Tijuca, com sistema de drenagem de água da chuva, energia solar, coleta seletiva e água de reúso para vasos sanitários. O local é cercado de árvores de todo tipo, algumas centenárias, e há bichos por toda parte, que ela adota. É, de certa forma, um retorno ao paraíso perdido da infância e também dos antepassados. Recentemente, comprou uma cobertura no Leblon. Politizada, com posições à esquerda, acompanha com grande preocupação as queimadas na Amazônia e a situação cada vez mais fragilizada dos índios. Coordena a ONG Humanos Direitos, que luta contra o trabalho escravo e busca proteger jurados de morte em conflitos rurais. Também é uma das maiores mobilizadoras do Criança Esperança. Sem ser propriamente religiosa, gosta de santos, sobretudo de Nossa Senhora Aparecida, de quem é devota. A verdade é que, em tudo o que faz, parece botar muita intensidade, propósito e talento. Quando pequena, queria ser engenheira. Teria sido uma excelente engenheira. Mas nunca teríamos visto Celeste, Norminha, Dona Helena, Solineuza, Dadá, Lucimar... Bem melhor assim. TP
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de encantamento Os instrumentos musicais criados por Antonio Stradivari ainda são os preferidos, mais de 300 anos depois
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Mesmo quem não dá muita bola para violinos ou violoncelos decerto já ouviu falar de Stradivarius. A não ser que tenha vivido ainda antes do século 17. De lá para cá, os violinos, celos e demais instrumentos de corda construídos pelo luthier lombardo Antonio Stradivari (1644?–1737) acabaram envoltos em uma mística incomparável. O nome Stradivarius passou a estar sempre associado a algo raro. Ou caro. Ou ambos. E são mesmo. E são muito mais. Em 2011, um comprador anônimo pagou a quantia recorde de US$ 15,9 milhões por um violino batizado de Lady Blunt - nome derivado de Lady Anne Blunt, uma das primeiras proprietárias do instrumento. A peça foi considerada a segunda mais bem preservada entre todas as criações de Stradivari.
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ois bem, o violino mais preservado da história é chamado de Messias. Por essa condição, recebe todas as honras. Messias mora em um gabinete em que tudo é controlado – a começar pelo clima -, dentro do Ashmolean Museum, em Oxford, na Inglaterra. Ali recebe um tipo de curadoria reservada apenas às mais preciosas obras de arte. Esse é o nível alcançado pelos instrumentos criados por um homem de quem nem se sabe tanta coisa assim. Mas cujo gênio tocou muita gente. Foram cerca de 1.200 instrumentos construídos por Antonio Stradivari ao longo da carreira de luthier na cidade de Cremona, na Lombardia – hoje a região mais rica da Itália. Desses chegaram aos nossos dias 244 violinos, 63 violoncelos, 13 violas, cinco violões, dois bandolins e uma harpa.
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CRIADOR E CRIATURA Antonio Stradivari em desenho da época e um dos 244 violinos de sua lavra que chegaram aos nossos dias
Stradivari nasceu e morou toda sua vida em Cremona. Ainda muito jovem, entre 12 ou 14 anos, teria se tornado discípulo de um artesão. Com ele, aprendeu e depois aperfeiçoou de modo impressionante a técnica de montar de violinos a harpas. O professor de Stradivari, acreditam os historiadores, teria sido Nicola Amati, ele próprio um grande luthier (suas peças também são reconhecidas pelos italianos como primorosas). O que se conta, no entanto, é que, entre 1700 e 1722, Stradivari já havia superado o mestre em muitas e muitas notas. Em seu período de glória, o pupilo abandonou o amatizzatto (a técnica de Amati) e passou a testar e aplicar suas próprias ideias no processo de construir instrumentos. TESTE EM LABORATÓRIO assados mais de três séculos, diversas dessas artimanhas ainda não foram completamente desvendadas. Sabe-se, claro, quais eram suas madeiras prediletas. Stradivari usava o bordo para o fundo dos violinos, assim como para as ilhargas e braço. Para o tampo harmônico preferia o abeto. Já as partes da estrutura interna eram feitas em carvalho, mas o salgueiro era o preferido para as contrafaixas. No entanto, por mais que conheçamos as madeiras dos Stradivarius, elas são, ainda hoje, um enigma. Existem relatos de que o luthier selecionava peças antigas em casas velhas que comprava. Outros afirmam que apanhava pedaços de navios naufragados. Seria o efeito da água salgada em madeira velha que tornava as peças mais duras, diferentes de tudo o que se praticava na época. Há quem vá ainda mais longe. Entre os anos de 1300 e 1850 a Europa viveu a chamada Pequena
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Era do Gelo. Foi um período com temperaturas mais baixas do que a média do continente. Esse momento teria criado árvores de madeira mais densa que nos dias atuais. Daí, segundo alguns especialistas, a qualidade incomparável das peças de Stradivari. Histórias assim só aumentam a mitologia - e provocam até os homens da ciência. No final dos anos 1970, o bioquímico e biofísico húngaro Joseph Nagyvary levou instrumentos do fabricante para o laboratório e realizou exames minuciosos. Concluiu que Stradivari usava, no tratamento da madeira, diversos tipos de minerais, descobertos sobretudo no tampo. Nagyvary encontrou mais de 30 componentes, sendo o bórax o responsável por criar uma ponte entre as moléculas. De acordo com o pesquisador, tal detalhe melhoraria a propagação do som ao aumentar a rigidez da madeira. Não só: também traria ao timbre qualidades especiais. Embora se saiba pouco sobre Stradivari, é fato que conheceu a glória em vida. Foi considerado um mestre em seu próprio tempo, com uma carreira sólida em um lugar privilegiado. Morreu bem de vida, como se diz, em uma cidade sacramentada como berço dos instrumentos musicais. Cremona, sua terra natal, é a capital dos violinos. São mais de cinco séculos criando essa arte e acolhendo os maiores nomes da luthieria. Além de Antonio Stradivari, que aprendeu com Nicola Amati, Cremona viu nascer Giuseppe Guarneri, outro bamba. Stradivari se tornou conhecido na região, mas daí a ter virado uma lenda mundo afora levou mais tempo. A reputação como o melhor dos melhores só foi solidificada no início do século 19, quando perfor-
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Os Stradivarius se tornaram mais lendários no século 19, quando mostraram de vez seu valor nas grandes salas de concerto
mances de violino não eram mais limitadas a saraus em palácios da nobreza ou residências de gente rica. Quando a música ganhou grandes salas de concerto, onde o som se expandia de modo inédito e a projeção dos instrumentos ganhou a acústica merecida, então os Stradivarius mostraram de vez do que eram capazes. Deixaram as audiências boquiabertas. E viraram tesouros.
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em busca do tesouro Yo-Yo Ma perdeu o seu violoncelo num táxi. Philippe Quint, o seu violino. Conseguiram reavê-los. Na foto maior, Messias, considerado o mais bem preservado Stradivarius
Daí por que os pesquisadores vendaram músicos de alto nível e fizeram com que testassem violinos antigos – incluindo alguns Stradivarius – contra instrumentos novos de alta qualidade. O resultado surpreendeu. Alguns dos novos violinos venceram. O que, diga-se, não adiantou absolutamente nada. Os Stradivarius seguem na ponta como as joias do reino musical. SOCORRO, POLÍCIA! uem tem um deles, apega-se. Até porque valem uma barbaridade. Mesmo assim, apesar de todos os cuidados, já aconteceu de grandes músicos perderem o seu objeto precioso. Ocorreu, por exemplo, nas ruas de Nova York, há exatos 20 anos. Em 1999, pouco depois de se apresentar no Carnegie Hall com a Filarmônica nova-iorquina, o grande violoncelista sino-americano Yo-Yo Ma saiu de um táxi amarelo na esperança de uma boa noite de sono no hotel Península. Quando começou a subir os degraus do cinco estrelas, percebeu as mãos abanando. Seu violoncelo Stradivarius de 1733 havia ficado no porta-malas do táxi. Para resumir: Yo-Yo Ma contatou a polícia que, usando o recibo do cartão de crédito, localizou o carro e o Stradivarius em três horas. Mas aconteceu de novo em 2008. Em um lapso parecido de cansaço, o violinista Philippe Quint deixou seu Stradivarius avaliado em US$ 4 milhões no táxi que o largou no aeroporto de Newark, também em Nova York. O motorista percebeu e contatou a polícia. Agradecido, Quint recompensou o chofer de praça e outros 50 colegas taxistas com uma apresentação privada. Tem mais. Em 2016, a polícia alemã informou sobre um Stradivarius abandonado em um trem. Uma violinista (que nem quis se identificar para a mídia, tamanha a vergonha) viajava de Mannheim para Saarbrücken e desembarcou deixando para trás, no bagageiro, seu amigo de US$ 2,6 milhões. Mais uma vez, a polícia chegou para resgatar uma criação de Antonio Stradivari e o moral dos músicos vacilantes. Essa gente não sabe o que tem nas mãos? Provavelmente, ninguém sabe de fato, até hoje. E é isso o que ajuda o mito dos Stradivarius a permanecer encantando. TP
Q Não admira que as peças, agora, sejam procuradas por seu valor histórico e beleza. Mas é, no mínimo, curioso que, passados mais de três séculos, violinistas em especial ainda considerem os instrumentos de Stradivari tão superiores a qualquer outro produzido com atecnologia do século 21. Como é possível que, apesar das modernas técnicas, ainda não tenhamos sido capazes de criar instrumentos que soem melhor do que aqueles construídos por um lombardo do século 17? Em 2014, um grupo de cientistas da Universidade Pierre e Marie Curie, em Paris, se propôs a examinar a possibilidade de que a superioridade dos instrumentos Stradivarius pudesse ser uma ilusão. Falou-se que a “mística Stradivarius” houvera condicionado os músicos e ouvintes a esperar um grande som desses instrumentos. Tal expectativa, por sua vez, influenciaria as avaliações, tornando-as subjetivas. Algo similar teria ocorrido com vinhos dos grandes châteaux franceses, mais tarde desmistificados em degustações às cegas.
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Disque C para comer O cineasta Alfred Hitchcock, nascido há 120 anos, era réu confesso: não vivia sem inúmeros steaks de dois dedos de espessura
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sangue azul O Stilton lembra o famoso queijo Gorgonzola
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Era famoso, milionário, espirituoso e de uma criatividade infinita. Mesmo assim, levou uma vida discreta. Nada de suspense ou de grandes reviravoltas – ao contrário da maioria dos seus 53 longasmetragens. O inglês Alfred Hitchcock tinha 27 anos e pesava 110 quilos quando se casou, virgem, numa igreja católica com a montadora de cinema Alma Reville, mãe de sua única filha, Patricia. Viveram juntos ao longo de 53 anos, até a morte do cineasta, em 1980. Foi um cotidiano monogâmico e tão metódico quanto um escritório de contabilidade.
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À primeira vista, eis aí uma vida insossa. Sem sal para servir de base a um filme bem condimentado. Mas, será isso mesmo? Em 2012, o cineasta britânico Sacha Gervasi lançou o polêmico Hitchcock. O longa-metragem investiga os bastidores das filmagens de Psicose, em 1959. Vivido pelo ator galês Anthony Hopkins, o pacato Hitchcock se revela um homem arrogante e libidinoso, que assedia sexualmente, virando os olhinhos, as protagonistas de seus filmes – quase sempre louras. Além disso, desponta como um oportunista escondido à sombra da mulher, que lhe reescreve os roteiros. Não bastasse, o rotundo diretor é mostrado como um glutão desmesurado, incapaz de conter-se diante da bebida e da comida. Arrogante? Talvez o adjetivo correto seja perfeccionista. Mulherengo? Em geral, Hitchcock era obsessivo, mas platônico. Um voyeur que usava a câmera como buraco de fechadura; um adolescente inseguro no corpanzil de um artista amadurecido. Mas assediou, sim, Tippi Hedren. Ameaçou destruir a carreira da atriz, no início dos anos 1960, caso não retribuísse seus carinhos. Ela não retribuiu. Quanto à colaboração de Alma, embora importante, não deve ser superestimada. Seu marido era um artista meticuloso. Um cineasta que sabia demais. Hitchcock só entrava no set depois de repensar cada pormenor. No entanto, se a gula fosse um crime, não escaparia da acusação e da sentença. Foi um réu confesso.
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o homem que comia demais Sir Alfred era, antes de tudo, um glutão
“Comida é o único substituto para o sexo”, explicava, com laivos freudianos. Quando falava de cinema, costumava fazer alusões à culinária. Uma de suas máximas: “O homem não necessita apenas de um assassinato. Também precisa de uma sólida refeição”. Outra: “Certos filmes são pedaços da vida. Os meus são pedaços de bolo”. Ou ainda: “Ir ao cinema é como ir ao restaurante: é necessário satisfazer tão bem o corpo quanto o espírito”. E bem mais irônico: “A televisão é como uma torradeira elétrica. Você aperta o botão e salta sempre a mesma coisa”. Nesse último caso, uma ingratidão de queixo duplo. A série de televisão Alfred Hitchcock Presents, iniciada em 1955, em que, a rigor, apenas aprovava roteiros e lia os textos sardônicos escritos por James B. Allardice, no
início e fim de cada episódio, não só lhe rendeu fortunas. Também o ajudou a tornar-se o único diretor de cinema da época tão famoso quanto um astro de Hollywood. Sua rotunda silhueta em terno preto ficou tão conhecida quanto o nariz de Jimmy Durante e os decotes de Marilyn Monroe. Embora tenha chegado a somar 136 quilos concentrados em 1,65 m, foi, à sua maneira, um modelo fotográfico, clicado de todos os ângulos – e sem o risco da anorexia. O cineasta, a quem o jornalista Sérgio Augusto chamou de “o epicurista número um”, nasceu em Londres, em uma sexta-feira, 13 de agosto de 1899 – há exatos 120 anos. A data aziaga poderia ser mais uma tirada de seu inesgotável arsenal de autopromoção. Não era. Ainda meninote, temia o escuro e as sombras espectrais. Todas as vezes que a mãe e o pai – um comerciante de aves e ovos – o deixavam sozinho em casa, aplacava o medo correndo para a geladeira e devorando com sofreguidão a provisão de carne assada. “Só isso me acalmava”, confessou.
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Mais tarde, enquanto se tornava um mestre na arte de administrar o próprio medo – e o dos espectadores –, aumentaria o repertório gastronômico. Comia de tudo, à exceção de torta de abóbora, peixes, frutos do mar e ovos. Dizia: “O sangue é alegre, vermelho. Mas a gema do ovo é amarela, revoltante”. Em Ladrão de Casaca (1955), Jessie Royce Landis, mãe de Grace Kelly na trama, apaga um cigarro em um ovo frito. O cineasta ressalvava que tal vingança nada tinha a ver com a profissão do próprio pai. “O ovo tem o cheiro mais repulsivo do mundo.” Hitchcock alimentou os espectadores com a hábil manipulação de medos, fobias, obsessões e paixões em sua forma mais genuína. A si próprio, preferia servir-se com steaks de um palmo de comprimento por dois dedos de espessura. Traçava três por refeição. Em muitos jantares, uma galinha assada inteira era só a entrada. Individual. O prato principal consistia em um pernil, também integral – se os vegetarianos, perdão, permitem o uso da palavra nessa frase. PREFERE PEITO OU COXA? m Alfred Hitchcock e seus Filmes (Ediouro, 1982), o crítico Bodo Frundt lembra que a única parte de fato luxuosa da casa do diretor no bairro de Bel Air, em Los Angeles, era a cozinha. Nela, foi instalado um freezer gigante repleto de cômodos, onde o cineasta estocava comida como se o planeta estivesse à beira da Terceira Guerra. Carne ovina mandava vir de Londres, em caixas portentosas. O foie gras importava do Maxim’s, de Paris, em quantidade suficiente para uma festa do Oscar – troféu que jamais recebeu como diretor, embora indicado seis vezes. Esse exagero, vez por outra, o obrigava a dietas. Enveredou no assunto com graça em Um Barco e Nove Destinos (1943). O enredo, autoexplicativo no título em português, tratava de um bote à deriva com nove personagens, o que impedia Hitchcock de mostrar o corpinho de sílfide em uma cena rápida, como fazia em todos os filmes. Resolveu a questão com uma tomada de um jornal encontrado a bordo, onde posa como garoto propaganda para as fotos de “antes” e “depois” de um fictício produto para emagrecimento, o Reduco. Quando estava de dieta, ficava com o humor de uma canção de Vicente Celestino. Perdeu 45 quilos em 1943 – e os readquiriu ao longo de oito anos. As dietas não o impediram de incluir cenas com inspirações culinárias em cada filme. A mais macabra é a do jantar servido sobre um baú onde jaz o corpo de um
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pobre rico rapaz, em Festim Diabólico (1948), cabendo a Frenesi (1972) algumas das mais engraçadas. Nesse thriller, o chefe de polícia sofre com a inépcia de seus comandados e com a da própria mulher, britânica, em preparar exóticos pratos franceses. A sequência mais violenta, por sua vez, talvez seja aquela de Cortina Rasgada (1966) em que Wolfgang Kieling é atacado com um caldeirão de sopa e uma faca de cozinha, antes de levado ao forno, onde recebe o golpe derradeiro. Em Ladrão de Casaca, Grace Kelly leva Cary Grant para um piquenique na Côte d’Azur e, diante de uma galinha assada, pergunta, insinuante:
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Hitchcock tinha um freezer em que estocava comida como se o planeta estivesse à beira da Terceira Guerra Mundial
cineasta gourmet Referências culinárias nos filmes Ladrão de Casaca, Interlúdio, Festim Diabólico, Um Barco e Nove Destinos e, de novo, Ladrão de Casaca
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“Prefere peito ou coxa?”. O mesmo Cary Grant começa a desvendar a trama de Interlúdio (1946) depois que uma garrafa do vinho Pommard (safra de 1934) despenca. Hitchcock, pessoalmente, preferia brandy ou Mimosa (drinque de champanhe com suco de laranja). Grace Kelly, sua maior atriz-fetiche, encomenda lagostas ao champanhe no restaurante nova-iorquino Clube 21 em Janela Indiscreta (1954). Já em Agente Secreto (1936), o esconderijo dos espiões é uma fábrica de chocolates, enquanto em O Marido Era o Culpado (1936), Oscar Homolka delicia-se com uma ratatouille quando é assassinado a faca por Sylvia Sidney. Sir Alfred Hitchcock amava tanto o cinema quanto os restaurantes. O Oak Room do Hotel Plaza de Nova York é cenário de uma cena marcante de Intriga Internacional (1959), assim como acontece com o Chez Pierre, de Paris, em Topázio (1969). Mas a cena que representa melhor a dualidade do diretor, ao mesmo tempo um homem de um racionalismo atroz e de uma compulsão incontrolável até a última garfada, jamais foi filmada. Mas sonhada. Nesse sonho, Hitchcock aguardava um táxi amarelo em Los Angeles, quando, de supetão, se dá conta de que todos os automóveis são de 1916. Diante da constatação, descobre que é inútil esperar um carro com aquela cor, pois ainda não existiam naquele ano. Feita a constatação, saiu a pé em busca dos steaks de um palmo de comprimento por dois dedos de espessura. TP
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das calçadas As comidinhas de rua não só separam as grandes cidades. Também dão personalidade a cada uma delas
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Quando venta ou chove muito, o mundo perde parte essencial de sua graça. Se você nunca reparou nisso, observe: milhões de cozinheiros que trabalham nas ruas têm de se recolher. Desaparecem, portanto, os odores de suas frituras, seus temperos e essências. Há os que resistem nas calçadas – e só os fortes o fazem –, as mesmo estes são incapazes de domar as condições atmosféricas. O certo é que, mais cedo ou mais tarde, a bonança devolverá a cada povo o perfume de suas ruas – e de sua existência. No Oriente menos longínquo ou na África do Magrebe, por exemplo, o açafrãoda-terra é uma espécie de feitiço etéreo usado em receitas amarelas, alaranjadas – mas sempre fortes. Também chamado de cúrcuma, é possível encontrá-lo em um sem-número de pratos de rua, ou nas proximidades de qualquer mercado de especiarias. De sua essência produz-se o curry (ou caril) que faz a vida ter sentido de Nova Delhi a Mumbai, de Durban a Istambul. Assim como o chili ou o jalapeño dão aroma ao México e invadem o sul dos Estados Unidos, por mais muros que se construam.
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odor da comidinha de rua confere personalidade aos lugares. Mais que isso: ele os estampa com carimbos inalteráveis. Mude o aroma e você mudará o endereço. Nápoles sem molho de tomates é como Salvador sem óleo de dendê. Nova Delhi recendendo a churrasco não seria apenas diferente, mas herética. E como imaginar Bangcoc se exalasse o odor dos choripáns - aglutinação de chorizo (linguiça) e pán (pão) - de nossos vizinhos portenhos? Estudos de neurociência revelam que as sensações produzidas pelo olfato são mais fortes, indeléveis e duradouras do que aquelas adquiridas com o sentido da visão. Um aroma revelador, portanto, será sempre capaz de remetê-lo, com mais facilidade, a algum ponto de sua memória, por longínquo que seja no tempo ou na geografia. Eis por que você sempre se lembrará dos lugares com cheiros muito particulares.
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Nápoles sem molho de tomate é como Salvador sem dendê. Nova Delhi recendendo churrasco seria não apenas diferente, mas herética
Cidades portuárias costumam ser cruas, e, ainda que exalem o odor forte de peixe e frutos do mar, passam a sensação de frescor que o mar produz. Em algum lugar por perto, já se sabe, serão os temperos da transformação que invadirão a atmosfera. Alecrim. Cebolinha. Endro. Estragão. Coentro. Em muitos casos você nem precisa saber o nome do ingrediente, mas ele haverá de passar por você, deixando rastros em sua memória. Aliás, é inevitável concluir, seguindo por esse caminho, que alguns lugares são mais doces do que outros.
CALENDÁRIO As especiarias da Índia e os waffles da Bélgica não têm tempo nem hora. Já o glühwein ganha as ruas apenas na época das festas natalinas
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CIDADES DOCES adri, com seus churros – sempre acompanhados de chocolate aromático –, é, portanto, uma cidade adocicada. Como Bruxelas, que fez de seus waffles os waffles que viajaram mundo afora. Há centenas de cidades fortemente achocolatadas. E nem sempre é preciso que haja uma calçada para que a cidade ganhe seu aroma. Churros e waffles costumam ser produzidos em espaços fechados. Mas não há como ficar imune à fragrância que produzem – e que faz de Madri e Bruxelas duas capitais tão irresistíveis para se praticar o pecado da gula. E outras, como Paris, por exemplo, são célebres por seus crepes de nutella – tente passar longe se puder. O odor, doce também, das castanhas na época do Natal é um lembrete de que os aromas mudam conforme a estação do ano. Se, no Hemisfério Norte, ele é associado ao glühwein – o vinho doce com
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O bagel é um aroma tão nova-iorquino. quanto o pretzel. Mas um veio da Cracóvia, na Polônia, e o outro foi criado no Império Austro-Húngaro
cravo e canela – das feiras natalinas do centro europeu, por aqui, com maior ou menos teor alcoólico, vem mancomunado às iguarias de milho que homenageiam padroeiros ao longo das festas juninas. Mundo afora, as padarias usam o aroma quase sólido de suas massas para agarrar transeuntes e levá-los recinto adentro. O mesmo expediente é utilizado por confeitarias, cafés e casas de chá, em uma espécie de complô internacional contra qualquer dieta – necessária ou desnecessária. Já o churrasquinho de rua, tão fartamente praticado em metrópoles de países carnívoros - como São Paulo, por exemplo – provoca salivação pavloviana e imediata. Nem tanto pela qualidade de seus ingredientes, mas pelo fato de ser preparado, quase sempre, na hora em que cidadãos famintos, fartos das longas jornadas que antecedem o fim do dia, aproximam-se de um porto seguro. Entretanto, não há odor tão disseminado pelo mundo como o de um kebab. Mais espalhado até do que os povos que o conceberam, o kebab, seus muitos nomes (shish kebab, shwarma, mishui, churrasco grego etc) e versões, é, provavelmente, a comida mais popular no mundo. Entre outros motivos, pelo preço baixo e rapidez de sua cocção. Curiosamente, os nossos pastéis, vindos do Oriente, não vão surgir na lista dos “dez mais procurados”– embora estejam na relação dos mais em conta e mais recendentes entre os campeões da rua. Assim como as empanadas argentinas, por sinal. Primas dos pastéis, estas subiram na escala social e ganharam outros preços e outro status. Haverá quem atribua essa
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ascensão à eterna soberba portenha. Tal raciocínio, porém, é de virar o nariz – o que não convém em um texto sobre o olfato. O bagel é um aroma nova-iorquino. Ocupa o cenário dos filmes, seriados e da própria realidade. Ninguém discute, porém, que sua origem é Cracóvia, na Polônia. Em que navio chegou? Quem trouxe a receita desse pãozinho em forma de rosca? O tempo devorou a iguaria antes que chegasse a resposta. Já o pretzel, também espalhado entre o Village, o Harlem e o Brooklyn, tem origem contestada (e aroma louvado). Veio, diz-se, de algum lugar do antigo Império Austro-Húngaro. Seja como for, quando esse biscoito em forma de nó é vendido quente, coberto de sal grosso e cominho, a sensação que provoca vai longe.
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ESCOLHA variada O kebab é, provavelmente, a comidinha de rua mais popular no planeta. O churrasquinho tende a ser mais regional, assim como, claro, os espetos de escorpião
Até mesmo o bom e velho hot dog nada tem de americano. Sua origem provável é a Alemanha. Mas não há por que criar novas polêmicas. As salsichas cozidas no Central Park são um prato até pesado, mas com odor discreto. De certa forma, lembram o oden, das ruas de Tóquio. Este também é preparado em líquido quente como o hot dog. Tornou-se um prato nacional, mas tem fragrância leve, apesar do sabor intenso. INSETOS NA BRASA Oriente distante tem grande apreço pelas frituras – cuja lembrança você vai acabar trazendo no seu paletó. Nem se incomode: em metrópoles como Bangcoc, Seul, Singapura ou Pequim, a fragrância das frituras invade todos os espaços, incluindo os microscópicos. De mais a mais, o hábito de comer nas ruas é milenar. Mais que isso: não é incomum que o motorista de seu ônibus (ou de seu tuc-tuc) mastigue enquanto estiver guiando. Ele não terá como dividir a iguaria com você, mas o odor provocativo não deixará de atiçar os passageiros. Nas calçadas de algumas dessas cidades haverá insetos na brasa. Escorpiões são considerados uma iguaria – e, de fato, cheiram bem. Não é parte de nosso cardápio, mas é aí que está a graça. O mundo tem paisagens, povos, ideologias e crenças distintas. É essa diversidade que o torna tão atraente. A globalização tem feito com que os aromas transitem planeta afora com grande velocidade. Quando o assunto são as grandes cidades, você sabe que pode encontrar quase tudo em qualquer lugar. Pratos que têm o mesmo nome e a mesma consistência. Mas é na delicadeza do aroma que as panelas separam os fortes dos fracos. Quem puder aspirar saberá distinguir. TP
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As luvas são quase tão antigas quanto os sapatos. Têm variada serventia. Tanto ocultam crimes quanto salvam vidas
Por Marcello Borges
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PRIMOROSAS Modelo da Gents, com pele de pecari e forro de vicunha. Preรงo: US$ 1.342
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O mundo é áspero e cruel. Pior ainda para nossos ancestrais. Eles precisavam recorrer a pedras para entalhar pontas de flechas e lanças a fim de caçar e garantir o almoço. A vida era mesmo dura. Não havia mão que suportasse intata as atividades laboriosas do pobre homem das cavernas. Nem pé que resistisse a tantas caminhadas e corridas em busca da caça – ou fugindo dela. Para proteger as extremidades, o homem inventou os calçados e as luvas. (Muito mais tarde, o condom.) Assim como os historiadores especializados em bebida continuarão a discutir se quem despontou primeiro foi a cerveja ou o vinho, muitos se perguntam que invenção surgiu antes: seriam os sapatos? Ou as luvas? O mais antigo par de calçados foi achado muito bem preservado em uma caverna na Armênia. Tem mais de 5.500 anos. Nessa mesma caverna, os arqueólogos toparam com a mais antiga vinícola do mundo. Já as luvas não resistiram tão intrépidas às provas do tempo. Pudera: sempre foram feitas de material mais leve e delicado. Ainda assim, as mais antigas já encontradas datam de 3.350 anos. Estavam no Egito, na tumba do faraó Tutancâmon, descoberta em 1922. São feitas de puro linho.
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om o progresso da civilização, a turma começou a dar às luvas finalidades mais sortidas. Inclusive recreativas, como jardinagem e esportes. Daí que no épico grego Odisseia, de Homero, escrito oito séculos antes de Cristo, elas cobrem as mãos de Laertes, pai de Odisseu. Ele as vestia para se proteger dos espinhos enquanto cuidava de suas plantas. Num afresco descoberto de forma fortuita em Knossos, na ilha de Creta, na mesma Grécia, vemos dois jovens minoicos boxeando com os punhos cobertos. Recentemente, um par de luvas de boxe, ou quase isso, datado de 120 antes de Cristo, foi achado em escavações próximas à Muralha de Adriano, na Inglaterra. Serviam
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Rita Hayworth, Audrey Hepburn e Nicole Kidman tiraram, com vagar, as longas luvas de cetim nas telas. São momentos inesquecíveis, de genuína sedução
históricas La Hepburn em Bonequinha de Luxo e as luvas do túmulo de Tutancâmon
aos soldados da cavalaria romana nas horas de folga. Os romanos, aliás, revestiam as mãos para comer: os garfos não faziam parte do talher, e as mãos protegidas seguravam a carne quente do jantar. A Idade Média, bem sabemos, não foi uma era amena. Com tantas guerras, os soldados precisavam de trajes de combate mais parrudos. Dessa forma, a luva transformou-se na manopla de metal, também chamada de guante. Havia um código de conduta. Se alguém jogasse a manopla ao chão, estaria desafiando o adversário. Recolhê-la indicava que o desafio estava aceito. Entregá-la enaltecia que o portador da manopla fazia-se prisioneiro. ELEMENTAR, MEU CARO WATSON m pouco mais adiante, a sociedade tentou comportar-se de forma mais elegante, surgindo a cortesia – os costumes dos membros das cortes reais. Quem sabe como resquício da manopla jogada ao chão, havia o tapa com luva de pelica. A expressão teria se originado na Europa do século 18, quando a aristocracia passou a utilizar peças de pele de cabra (a tal da pelica). O Dicionário Oxford data a expressão em 1830. Se hoje usa-se dar um tapa com luva de pelica no sentido figurado, desferido por quem revida a uma afronta com uma atitude fidalga, originalmente configurava um gesto físico. Sugeria que o desafiado era tão inferior que nem sequer merecia ser tocado com a mão nua. O tapa com a mão revestida também representa uma humilhação para quem recebe o golpe: o odioso coronel Vogel, do filme Indiana Jones e a Última Cruzada, acerta uns tabefes, com as costas da luva, para o gesto ser ainda mais cruel, no professor Jones Sr. até este segurar a mão do nazista. Os oficiais alemães da Segunda Guerra, aliás, foram a inspiração para o ícone supremo do mal, Darth Vader, sempre de preto. E de luvas. Situações românticas também envolvem luvas. Os stripteases ou rituais de sedução costumam se iniciar com a lenta retirada delas. Quase sempre de cetim e longas. Assim ocorre com Rita Hayworth em Gilda. Também acontece com Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo, com a piteira presa entre os
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dedos envolvidos por cetim preto, e com Nicole Kidman em Moulin Rouge. Poucos sabem que cenas do filme Thunderball, de 1965, da franquia James Bond, foram cortadas pela BBFC, a censura inglesa. Numa delas, 007 era massageado por uma enfermeira com gloves de mink, retribuindo depois a atenção. O mundo do entretenimento, afinal, tenta espelhar a vida real, só que com mais glamour, claro. Sinônimo de elegância e até nobreza, as luvas (sobretudo, as brancas) conferem essas qualidades a quem as porta. Exemplos? Fred Astaire rodopiava ainda melhor quando as trajava em conjunto com casaca e cartola. Michael Jackson hipnotizava a plateia com suas mãos cobertas por tecido reluzente. Um par dessas luvas foi leiloado em 2009 por US$ 430 mil. Bandidos podem usar o item não para ameaçar, mas para ocultar suas impressões digitais. Num diálogo entre Sherlock Holmes e seu fiel escudeiro, o Dr. Watson, o detetive de Baker Street o questiona sobre uma investigação, visando saber se deu atenção aos detalhes. “Quais foram seus passos seguintes? Presumo que tenha examinado o recinto, para ver se o intruso deixou vestígios – uma cinza de cigarro, uma luva, grampo de cabelo ou alguma bobagem qualquer?” As luvas mais famosas relacionadas a crimes são as do julgamento do jogador de futebol americano O. J. Simpson, em 1995. Eram da marca Aris Light, de couro marrom e vendidas pela Bloomingdale's. Por algum motivo, não serviram direito nas mãos de Simpson durante o julgamento, o que levou seu advogado Johnnie Cochran a dizer: “If it doesn't fit, you must acquit”. Ou seja,“se não serve, inocente-
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-o”. A ironia: foram dadas de presente por Nicole Simpson, a vítima, ao marido poucos anos antes do crime. Profissionais da área de saúde precisam de proteção. Eis um dos motivos da criação das luvas descartáveis de borracha, em 1894. Foram inventadas por William Halsted, primeiro cirurgião do Hospital Johns Hopkins. Hoje, o mesmo hospital estuda alternativas a esse material, alergênico para cerca de 15% dos médicos e enfermeiros. COURO DE PECARI o esporte, as luvas mais famosas são as de boxe e de goleiro. Há pouco, as de Muhammad Ali, da marca Everlast, usadas em 1970 na luta contra Oscar Bonavena foram leiloadas por mais de US$ 60 mil. Bonavena ficou provocando Ali, perguntando por que se recusou a servir ao Exército durante a guerra do Vietnã. Ali teria gritado para a multidão: “Nunca desejei tanto dar uma surra num sujeito!”. Venceu no décimo-quinto round.
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Um par de luvas de Muhammad Ali foi leiloado por US$ 60 mil. As de Michael Jackson custaram ainda mais a um colecionador: US$ 430 mil
ESSENCIAIS Michael Jackson, O. J. Simpson, Daniel Craigg como 007 e Muhammad Ali: as luvas marcaram a vida de cada um
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Os goleiros, por sua vez, precisam revestir as mãos para terem firmeza na pegada da bola. Contudo, Manga, do Botafogo, Internacional e seleção brasileira, nos anos 1960 e 70, dispensava o acessório. “Não me passavam confiança”, explicou. “Na época, eram muito grossas e ficavam frouxas nos dedos. Eu preferia esfregar as mãos na terra para sentir mais segurança, principalmente nos dias de chuva.“Sabe-se lá se as luvas teriam evitado que Manga sofresse, como sofreu, fraturas em quase todos os dedos. Para a maioria das pessoas, as luvas, hoje, têm apenas uma serventia: a proteção contra o frio. As mais raras (e caras) são feitas com o couro de um mamífero selvagem originário da América do Sul chamado pecari, mais conhecido no Brasil como queixada ou cateto. Para não comprar gato por lebre – ou suíno por pecari, que não é primo do porco e nem do javali –, é preciso conferir a textura do couro. A do autêntico pecari repete em sequência quase simétrica três furinhos próximos um do outro. Quem fabrica as melhores? Bem, muitos põem a mão no fogo – sem elas – pela Dents. Como muitas das melhores produções inglesas, trata-se de uma marca antiga, fundada em 1877, e conta com o Royal Warrant do príncipe Charles. A Dents confeccionou as de James Bond em 007 contra Spectre. Saem por US$ 232 e ganharam o nome apropriado de Fleming – em homenagem a Ian Fleming, o escritor que criou o espião. As mais caras são de pecari e forradas de vicunha. Caem como uma luva nos mais elegantes e estão custando US$ 1.342. Haja frio. E carteira. TP
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F r é dé r ic Drou i n,
P r e s i d e n t e d a Ja g ua r
L a n d R o v e r pa r a o Pa í s e pa r a a A m é r i c a L a t i n a , t e m e m m ã o s d ua s d a s m a r c a s m a i s l e n d á r i a s d a i n d ú s t r i a au t o m o b i l í s t i c a
d u pl o
d e sa f i o Por Ron n y H e i n r e t r a t o s C l au s L e h m a n n
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o O p r o b l e m a é i n s o l ú v e l : n ão h á n e v e n o B r a s i l — e n a da i n d i c a q u e i s s o
p o s s a m u da r e m u m c e n á r i o d e aq u e c i m e n t o g l o b a l . Pa r a F r é d é r i c D r o u i n , P r e s i d e n t e da Jag ua r L a n d R ov e r pa r a o pa í s e pa r a a A m é r ic a L at i na, 54 a no s, i s s o sign i f ic a m a n t e r-s e d i s t a n t e d e s e u h o b b y p r e d i l e t o : e squ i a r e m A rosa, na Su íç a, u m a e l e g a n t e e s t aç ão n a r e g i ão d e G r au b ü n d e n . A s o l u ç ão é a p r ov e i t a r u m p e daç o da s f é r i a s e , n o d i a a d i a , c u r t i r a fa m í l i a e s e u q u e r i d o pa s t o r-a l e m ão.
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executivo franco-suíço, porém, não se ressente de suas paixões europeias. Ele gosta do Brasil profundamente. Dois de seus quatro filhos nasceram aqui e, nas suas contas, embora tenha comandado indústrias automobilísticas em vários países (foi presidente da Peugeot, na Suíça, entre outras), de dez em dez anos ele retorna ao Brasil, aceitando essa sina com grande prazer. Drouin é um homem realista e pragmático. Não considera a violência no Brasil como um obstáculo para morar por aqui e cita um amigo recentemente roubado na Holanda para ilustrar o assunto. Tampouco diz-se receoso com os problemas políticos e econômicos do país. O único temor que o aflige é a insegurança jurídica; essa, sim, um entrave para o planejamento e as decisões. Ele sabe, porém,
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que trabalhar com duas das marcas mais emblemáticas do mundo ajuda um bocado. Tanto a Land Rover quanto a Jaguar são destaques em seus segmentos. As duas marcas seguem investindo forte em novas tecnologias, sobretudo as limpas. Já existe um Jaguar elétrico e, em breve, haverá Land Rovers que não dependam de combustíveis fósseis. O lançamento do novo Defender, no recente Salão de Frankfurt (celebrando os 70 anos da marca), foi o principal destaque da mostra. O fato é que as marcas - originalmente inglesas - estão presentes em 128 países. Suas vendas globais chegaram no ano passado a 592.708 unidades. Elas são tão poderosas do ponto de vista de marketing que mal se pode imaginar um filme sofisticado inglês sem um Jaguar ou a África sem um Land Rover. No Malawi, por exemplo, a cédula de 50 kwachas (a moeda local) tem, como ilustração, um Land Rover. O que poucos sabem é que, embora a sede das duas empresas fique nas Midlands, na Inglaterra – e existam fábricas em vários países, inclusive em Itatiaia (RJ), no Brasil –, tanto a Jaguar quanto a Land Rover pertencem, hoje, ao grupo TATA Motors, da Índia. Se você não tem a menor ideia do tamanho do conglomerado TATA, basta dizer que, em seus diversos ramos, emprega 700 mil funcionários. São 114 empresas, em sete setores empresariais. Embora os indianos não participem do comando de suas subsidiárias inglesas, o fato é que, com a injeção de capitais proveniente desse arranjo, as vendas da Jaguar e da Land Rover quase sextuplicaram nos últimos anos. O que, convenhamos, dá muita responsabilidade à Frédéric Drouin. Mas também permite que ele esquie com muita segurança em suas viagens para Arosa.
THE PRESIDENT _ Quando você chegou ao Brasil? Vim pela primeira vez em 1997. Faz 22 anos. No decorrer de 22 anos, morei aqui 12 anos. É a minha terceira vez no Brasil. Tive a oportunidade de trabalhar aqui para um projeto da Peugeot. A empresa estava começando sua aventura industrial no país. O Brasil era um mercado emergente. Minha esposa é venezuelana e foi uma aventura de sucesso porque tivemos dois filhos que nasceram aqui. Brasileiros. Sempre gostamos da energia, da alegria do país. Qual é a sua formação? Terminei os cursos de relações internacionais e marketing. Eu me formei na Universidade Sciences Po de Paris e me pósgraduei na Universidade da Carolina do Sul, em Columbia, nos Estados Unidos. E é nascido em Paris ou... Nasci a 50 quilômetros de Paris, numa pequena cidade. A partir de 20 anos, queria morar no exterior. Mudei-me para os Estados Unidos e depois para a Holanda. A partir daí, sempre morei no exterior. Você vê, na minha carreira profissional de mais de 31 anos na indústria automobilística, trabalhei apenas dois anos e meio na França, meu país natal. Seu primeiro trabalho na área automobilística foi em que empresa? Foi na Peugeot em 1988, em Utrecht, na Holanda. Vamos falar um pouquinho do novo Defender. O veículo é um grande avanço tecnológico ou apenas um desdobramento natural? Acho que esse carro representa tudo da marca. É um carro icônico. Se você observar bem, não existem mais que cinco carros com status de lenda. O primeiro
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Defender foi uma lenda. Nasceu em 1948 na Inglaterra. Aliás, o Brasil foi um dos primeiros países a receber também o Defender. Já em novembro de 1948, os primeiros exemplares chegaram ao Rio de Janeiro. Quando celebramos os 70 anos da marca, no ano passado, descobrimos dois clientes brasileiros que têm dois Defenders 1948, e ainda estão dirigindo. Sem dúvida alguma, uma prova de robustez do carro. Isso contribuiu para a criação da marca de um carro, como se diz em inglês, unstoppable. Que você não pode parar. Que vai além e acima em qualquer território. Imagino que a diferença esteja nos detalhes. E na construção, na robustez. É um carro que tem uma robustez de construção que pouquíssimos outros têm. Eu sempre disse que é o melhor investimento que você pode fazer comprando um carro. Você vai ficar com ele por 20 ou 30 anos e depois o revenderá por um preço muito superior ao de outros veículos similares e de outros fabricantes e com o mesmo tempo de uso. Qual o volume de vendas das marcas? Dos 592.708 veículos que vendemos no ano passado, 180.833 foram Jaguar e 411.875, Land Rover. Quais são os tops de linha do grupo? Eu diria que na Jaguar nós temos dois tops de linha. Um é o F-Pace, um SUV com motor de 550 cavalos, que estamos lançando. O outro é o F-Type, um cupê esportivo com 575 cavalos. Já para a Land Rover o top é a linha Range Rover. É um símbolo do luxo. E provavelmente o carro que tem a maior penetração entre os clientes ou a elite no mundo inteiro. Se você observar as maiores celebridades em qualquer lugar do mundo, elas têm um Range Rover na garagem.
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As marcas que você comanda são uma mostra do mundo globalizado. Embora símbolos da indústria britânica, pertencem a um grupo indiano. Por que isso ocorreu? Land Rover e Jaguar são marcas internacionais. É a globalização. Você vê, nós temos uma empresa internacional com raiz britânica, como uma engenharia britânica, com sócios da Índia. Os executivos são de todas as nacionalidades. Sou francosuíço e atuo no Brasil. Meu chefe é alemão. Assim funciona o mundo global. Interessante é que há fábrica também na Índia, não? Sim, temos uma unidade de montagem em Puna, na Índia. Não é a única, claro. Há outras no Reino Unido, na Eslováquia, na China e no Brasil. Aliás, a fábrica do Brasil foi a primeira 100% Jaguar Land Rover fora do Reino Unido. Produzimos em Itatiaia, na Serra Fluminense, o modelo Discovery Sport. A Jaguar, apesar de ser uma máquina tão icônica quanto a Land Rover, atua em uma faixa de mercado muito diferente, não é mesmo? Cada marca tem a sua essência. A da Land Rover é o terreno de aventura. Já a essência da marca Jaguar é a combinação de esportividade e beleza. O Defender, da Land Rover, é icônico. Mas a Jaguar também tem carros da mesma envergadura. O E-Type, por exemplo. Também é um carro icônico. Idem para o F-Pace, que é puro dinamismo. Penso que a Jaguar está na companhia da Ferrari entre os tradicionais automóveis clássicos. E quanto aos preços? Existe uma imagem de que a Jaguar tem preços muito acima dos outros. Mas não é assim. A Jaguar tem uma imagem de marca talvez superior, mas seus preços são
compatíveis com os praticados no segmento. Por isso consegue um volume de vendas tão representativo. Jaguar e Land Rover atuam em dois nichos. Primeiro naquele de veículos entre R$ 200 mil e os R$ 300 mil. Nessa fatia, o grupo detém 40% de todos os veículos vendidos. Já na faixa acima dos R$ 300 mil, são 50% de participação. Outro dado importante: um em cada quatro SUVs premium vendidos no Brasil, enfim, é Jaguar ou Land Rover. A Land Rover surgiu apenas no pós-guerra, em 1948. Mas parece que tem uma história ainda mais longa. Acho que em muitos países essas duas marcas têm um impacto muito forte na memória afetiva das pessoas. É isso que faz com que sejam marcas mundiais. Elas transmitem muita emoção. Como essas marcas se juntaram? Essa união começou a ser estabelecida pela Ford. No começo dos anos 2000, a tradicional empresa dos Estados Unidos criou o que eles chamavam de Première Automotive Group, que era o grupo de marcas premium. A Ford foi ao mercado e comprou a Land Rover, Jaguar, Volvo, Aston Martin. A ideia era ter expertise em carros premium. Inclusive para aplicar as tecnologias nos veículos da própria Ford. Só que não durou muito. Com a crise de 2008, a Ford resolveu se desfazer dessas marcas premium e retornou às origens. Assim, a Jaguar e a Land Rover foram vendidas para o Grupo TATA Motors. Já a Volvo acabou nas mãos de um grupo de investimento chinês e por aí vai. Agora, quem uniu a Jaguar e a Land Rover em um único grupo foi o Grupo TATA. E como ficou a gestão? O Grupo TATA investiu muitos recursos na Jaguar Land Rover, no que diz respeito a
“ E m 2 0 0 8 , Ja g ua r e L a n d R ov e r v e n d e r a m m e n o s d e 10 0 m i l c a r r o s . H o je , s ão q ua s e seis v eze s m a is”
tecnologia, novos produtos, a tornar a companhia uma empresa de atuação global. Mas a estratégia adotada pela TATA foi sempre de manter o DNA britânico das marcas Jaguar e Land Rover. Tanto que todos os centros de engenharia, design, tecnologia e desenvolvimento estão na Inglaterra. Como isso funciona no dia a dia? Há uma filosofia, há valores comuns. Isso é importante. Mas na gestão do dia a dia você trabalha com gente de muitas nacionalidades. Obviamente há muitos britânicos. Isso ajuda a manter as raízes britânicas no design, na engenharia. Seja como for, há uma capacidade de se adaptar localmente em todos os países. Ou melhor, nos 128 países em que o Grupo Jaguar Land Rover atua. E vem dando certo. Para você ter uma ideia, o investimento da TATA deu tão certo que em 2008 vendiam-se, somando Jaguar e Land Rover, menos de 100 mil carros. Dez anos depois, são quase seis vezes mais. A Jaguar Land Rover é, hoje, a maior produtora e exportadora de veículos do Reino Unido. Quais são os planos para o Brasil? Estamos apoiando o Projeto Onçafari, que atua em uma reserva de mata nativa no Pantanal, de forma a preservar as on-
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ças-pintadas na região. O projeto tenta substituir a política de desmatamento e exploração de áreas preservadas para a pecuária, pelo turismo nos moldes de safáris, assim como ocorreu nos parques da África 30 anos atrás. Até porque, em termos de biodiversidade e aventura, o Brasil não deve nada para a África. Queremos apoiar os projetos que promovam o ecoturismo no país. Quais são as dificuldades de trabalhar no Brasil? A oscilação da economia? A principal questão é a insegurança jurídica. Ela trava o país, especialmente na visão de quem pretende investir. Trata-se de uma nação importante, com um grande mercado e visíveis possibilidades de crescimento. Porém, é necessário dar mais segurança jurídica para quem aposta no país. Fale um pouco mais dos planos para o futuro. O primeiro deles é a eletrificação dos veículos. A sustentabilidade no mundo é um assunto-chave, que nos preocupa bastante. Por isso, já há alguns anos, lançamos os projetos de eletrificação dos nossos carros. No ano que vem, em 2020, todos os nossos carros terão uma versão híbrida ou elétrica. Fomos os primeiros a lançar um SUV elétrico no Brasil. Aconteceu este ano com o Jaguar I-Pace, que aliás se transformou em um sucesso acima do esperado. E no ano que vem vamos continuar a lançar carros híbridos em todos os nossos modelos. A eletrificação dos nossos carros é o eixo principal da estratégia. Que mais? Temos, também, a SVO, que acabamos de lançar. É a Special Vehicles Operation. Trata-se de um setor que cuida da customização dos carros, uma exigência cada vez maior dos clientes. São carros acima dos tops de linha. Uma Land Rover elétrica pode passar a sensação de que não é tão forte quanto uma com motor a combustão. Pois temos justamente o intuito de introduzir essa tecnologia com a mesma robustez que temos ou que tradicionalmente oferecemos. Você gosta de dirigir? Adoro dirigir. Gosto muito de carro, por causa da mobilidade e da liberdade. Hoje se fala que o jovem já não tem interesse por automóveis como as gerações passadas. Não vejo isso. Para os jovens o carro ainda representa um ideal de mobilidade, liberdade e, em especial, de paixão. TP
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Juliana Cambur Berger, com o pai e sócio, Charles Cambur
Construir e reconstruir O e nge n h e i ro
Ch a rles Ca mbur
já e r g u e u
m a i s d e 1 m i l h ã o e 2 8 0 m i l m e t r o s q ua d r a d o s . E c o n t i n ua a t o d a , d e p o i s d e e n c a r a r (e su pe r a r) u m a doe nç a r a r a
P or lu i z m ac i e l
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N o s 3 8 a n o s à f r e n t e d a s ua c o n s t r u t o r a e i n c o r p o r a d o r a , C h a r l e s C a m b u r , 67 a n o s , c o m a n d o u t o d o t i p o d e e d i f i c a ç ã o . C a s a s d e a l t o pa d r ã o , c o n d o m í n i o s i n t e i r o s , l o j a s c o m e r c i a i s , s i n a g o g a s , g r a n de s c e n t ro s de di s t r i b u iç ão e pr é dio s, m u i t o s pr é dio s.
A construção mais difícil, porém, ele se viu obrigado a erigir lentamente, com uma paciência e uma determinação fora do comum, a partir de um leito de UTI. O engenheiro Charles Cambur teve de reconstruir a si próprio depois de entrar em coma sete anos atrás, acometido pela síndrome de Guillain-Barré. Para superar essa complexa doença autoimune com alto índice de letalidade – principalmente naquela época, em que era pouco difundida –, Charles contou com a competência da equipe médica e com o irrestrito apoio familiar. Mas contou, sobretudo, com a própria vontade de viver e de re-
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cuperar o leme da empresa que leva o seu sobrenome e o de sua filha Juliana, 38 anos, arquiteta de formação. Hoje diretora da Construtora e Incorporadora Cambur, com sede no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, Juliana havia se tornado sócia e braço direito do engenheiro apenas um ano e meio antes da doença dele, depois de um período de quatro anos na Suíça. Tocou a empresa com a mesma garra do fundador – “até melhor do que eu”, acrescenta Charles. Charles Cambur recuperou quase todos os movimentos e a mesma carga horária de trabalho de sempre. Chega cedo
ao escritório, não tem hora pra sair e faz questão de acompanhar pessoalmente, com frequência, todas as obras em andamento. Voltou até a dirigir nas viagens que costuma fazer com a família nos fins de semana para o sítio em Ibiúna, a 80 quilômetros de São Paulo. Mas está mais disponível para aproveitar esses momentos de relaxamento ao lado da mulher, Sandra, e, de preferência, na companhia das netas Marina, de 12 anos, Giovana, de 9, e Carolina de 6. E já não abre mão de férias anuais de 15 dias. “Só a Juliana não pode ir junto, porque alguém tem de tomar conta da lojinha”, brinca.
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“ Pa r a o s m e u s pa i s , formar dois filhos engen heiros foi o gr a n de t rof éu da v i da”
THE PRESIDENT _ Há quanto tempo a Cambur está no mercado imobiliário? É um negócio tradicional da família? Charles Camur – A construtora começou há 38 anos, fundada por mim algum tempo depois que me formei em engenharia no Mackenzie. Minha família é de imigrantes que vieram da Europa. Minha mãe é polonesa, meu pai é romeno, e eles se estabeleceram em São Paulo no ramo de confecções, com lojas na rua José Paulino. Eram, portanto, comerciantes. Seus pais esperavam que você desse continuidade ao negócio deles? Charles – Ao contrário, formar dois filhos engenheiros foi o grande troféu da vida deles. A Cambur já começou construindo prédios? Charles – Não, o mercado estava bastante retraído na época em que me formei. Procurei outro nicho menos concorrido. Decidi atuar na negocia-
ção de casas em bairros nobres de São Paulo, como Jardim Europa e Cidade Jardim, para reformar e vender. Os projetos eram do Ugo di Pace, maravilhosos. Em parceria com colegas de faculdade, comprava terrenos para construir casas modernas, de alto e médio padrões. O empresário Fábio Aidar, que era vizinho de uma casa que estávamos construindo, percebeu a qualidade do nosso trabalho e nos convidou para tocar as obras de um condomínio em Ibiúna, na beira da represa, que ele estava implantando. Era o Veleiros de Ibiúna, hoje uma das referências em condomínios de lazer no país. O Veleiros e o Porto Ibiúna, que veio depois, têm cerca de 300 casas. Eu e meu sócio na época, Antônio Carlos Srouge, ficamos nove anos trabalhando lá. O acaso de ter um vizinho empreendedor deu o empurrão de que a empresa precisava?
Charles – Sem dúvida. As boas relações que vamos construindo ao longo da vida são muito importantes, não só para os negócios. Foi assim também que passamos depois a fazer prédios comerciais, contratados pelo grupo de varejo carioca Pontofrio, que estava planejando a ampliação para São Paulo e precisava de uma construtora conf iável para a execução das obras. Para encurtar a história, fizemos 96 obras, incluindo a reforma do centro de distribuição deles no Rio de Janeiro e a construção de um segundo CD em Guarulhos (SP). Durante oito anos, atuamos nesse conjunto de obras. Qual foi a importância desse período para a empresa? Charles - Foi realmente uma época de grande desenvolvimento e aprendizado. Tínhamos uma relação muito positiva com o acionista e CEO do grupo, Simon Alouan. A relação entre nós era de confiança mútua. Projetos desafiadores, não? Charles – Costumo dizer que uma coisa é invadir a China, outra é saber o que fazer depois de invadir. Não é fácil. Pegar o conjunto de obras do Pontofrio foi como invadir a China. Tí-
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“N o s s a s o b r a s n ão at r a sa m n u nc a . I s s o n ão é c o m u m n o merc a do imobil i á r io b r a s i l e i r o”
nhamos dia e hora para terminar cada construção. Uma grande responsabilidade. Mas demos conta do recado. Depois disso você passou a construir prédios? Charles – Na verdade começamos quando ainda tínhamos contrato com o Pontofrio. Fazíamos apartamentos residenciais de dois e três dormitórios, de 60 a 100 metros quadrados. Construções de alto e médio padrões, bem-feitas e bem equipadas, em lugares bons, com boa infraestrutura, em regiões como a dos Jardins e bairros como Pinheiros, Pompeia, Butantã e Vila Maria. Nesses 38 anos de atividade no mercado imobiliário já construímos mais de 1 milhão e 280 mil metros quadrados de obras. A construção está no sangue. Costumo dizer que amo o que faço. Qual é o diferencial da Cambur, em relação a outras incorporadoras? Charles – Acho que um grande diferencial é o acompanhamento cuidadoso que fazemos das obras. Reunimos a equipe de planejamento e de custos e visitamos regularmente cada obra em andamento. Marcamos um encontro numa padaria perto da obra
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que iremos visitar, tomamos café e partimos. Das 8 da manhã até 11 e meia, meio-dia, verificamos tudo e fazemos uma ata sobre o que avançou e o que precisa ser corrigido para não comprometer o cronograma. Com esse cuidado, nossas obras não atrasam nunca. Isso não é comum no mercado. Juliana Cambur Berger – Por isso mesmo, não tocamos mais obras do que podemos acompanhar de perto. Nosso limite são, em média, sete obras em andamento ao mesmo tempo. Quando você começou a participar da construtora, Juliana? Juliana – Bem, eu cresci vendo o meu pai nas construções que ele fazia e sempre soube que queria trabalhar nessa área. Tanto que fiz o curso de arquitetura e montei um escritório de projetos. Estava indo bem, mas decidi interromper a carreira quando meu marido recebeu uma proposta para trabalhar num banco na Suíça. Isso foi em 2006, eu tinha três anos de formada. Passamos quatro anos em Genebra, foi uma experiência enriquecedora, mas sabíamos que não seria para a vida toda. Voltamos em 2010, quando meu marido decidiu montar um negócio próprio no Brasil e eu também estava doida para retomar a carreira. Charles – Foi uma coincidência feliz, porque naquela época eu sentia falta de ter um parceiro aqui dentro. E consegui convencê-la a trabalhar comigo. Juliana – Eu sempre me dei muito bem com o meu pai, mas confesso que tinha medo que a relação profissional pudesse abalar o nosso convívio familiar, que sempre foi muito bom. Felizmente deu tudo certo e a gente conti-
nua se dando muito bem. Ele é um grande parceiro profissional, é um prazer trabalhar com ele. Charles – Obrigado. E eu confesso que reformei todo o escritório para abrir um espaço para ela, assim que avisou que estava voltando ao Brasil (risos). Juliana – O que eu acho muito bacana na nossa história é que ela começou de muito correta. A gente teve uma conversa muito franca, para separar a parte familiar da parte empresarial. Olhando para trás, é muito bom sentir a evolução de tudo. Quando cheguei, estávamos passando por momentos muito difíceis no nosso ramo, e tudo ficou ainda pior quando meu pai teve um grave problema de saúde, um ano e meio depois da minha volta. Charles – Eu fui embora numa sexta-feira e, sem avisar, levei quatro meses para voltar... Juliana – Meu pai sentiu um formigamento, apagou e foi parar na UTI do [hospital] Sírio-Libanês. Foi diagnosticado com a síndrome de Guill ainBarré, uma doença autoimune até então muito desconhecida. E do dia pra noite eu estava aqui, grávida da minha segunda filha e com o meu pai hospitalizado, enquanto tínhamos várias obras para tocar. Nosso grande orgulho foi que todos aqui continuaram remando juntos, e a empresa não teve de demitir nenhum funcionário. Quando você tem uma empresa que cabe na sua mão, é muito mais fácil superar os períodos de crises. Charles – Eu fiquei quatro meses na UTI, mas o meu cérebro nunca deixou de pensar, de trabalhar. A partir de dois meses de internação, comecei a
evoluir, a ter uma pequena condição de trabalhar, e passamos a fazer uma pequena reunião dentro do hospital, uma vez por semana. Esse convívio que tive com a família e os funcionários dentro da UTI foi fundamental para a minha recuperação. Agradeço à força de minha mulher, que se mostrou uma guerreira ao meu lado. Tivemos de driblar algumas regras do hospital para fazer esses encontros, mas o próprio Sírio-Libanês acabou reconhecendo a importância desse convívio e mudou o seu protocolo de visitas à UTI. E nesse período que passei no hospital a Juliana abraçou a empresa com uma inspiração e uma competência admiráveis. Eu faço parte dos 3% que sobrevivem daquilo que eu tive. Sou ou não sou um felizardo? Hoje faço parte do Conselho de Experiência do Paciente do hospital e procuro ajudar sempre que outro paciente com a doença de Guillain-Barré é internado lá. A sua rotina de trabalho mudou depois de superar essa doença? Charles – Bom, o meu foco principal sempre foi a alegria de ter a minha família por perto, principalmente as minhas netas. Juliana – Mudou porque ele chegou com muito mais garra. Ele sempre foi um cara muito ativo, jogava tênis, andava de moto, tinha uma vida social muito ativa. Acho que alguns na situação dele diriam: “Olha o que eu perdi”. Mas o meu pai olha pra tudo isso e fala: “Olha o que eu ganhei”. Porque ele ganhou uma nova chance de vida e se agarrou a ela com tudo. E ele nunca se queixou de nada, nunca.
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“a CAMBUR t e m u m LEMA : vendemos a pa r t a m e n t o s , m a s en tr ega mos l a r e s”
Sempre teve esse sorriso? Juliana – A vida inteira. É de um bom humor incrível. Bom, vale lembrar que ele ficou três meses no hospital sem falar, e quando conseguiu o que ele fez? Suas primeiras palavras foram a letra da música “Galinha Magricela”, que era a música predileta das netas e ele cantou para elas. Podemos dizer que o mercado imobiliário voltou a crescer? Charles – Ainda não dá pra dizer isso. Mas está sinalizando uma retomada. Vocês estão com quantas obras no momento? Charles – Estamos com cinco e entregando três. Temos um grande lançamento aqui no Butantã, o Ver.de Panorama, com 570 unidades. Trata-se de um projeto inovador. Não tem igual no mercado. Serão duas torres, com espaços comerciais embaixo. Uma torre com estúdios de 25 metros quadrados e outra com apartamentos com um, dois e três dormitórios. As áreas de lazer estão no rooftop de cada torre, com vista deslumbrante para o Jockey Club. O empreendimento terá três portarias independentes. Está localizado a 200 metros do metrô e perto de
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shopping centers, da USP e de seis faculdades. Um projeto ambicioso assim leva quanto tempo para virar realidade? Juliana – Foram dois anos de planejamento e serão mais três anos e meio de execução. Nossa fase de planejamento é longa, porque só fazemos projetos de apartamentos onde a gente realmente gostaria de morar. O que vocês não fazem, por exemplo? Charles – Nós nunca fazemos qualquer produto que não envolva o bem-estar das pessoas. Na nossa ótica, da Juliana e minha, você fazer uma moradia que não enseje conforto para você guardar
seus sapatos, suas roupas, seus pertences é um estelionato arquitetônico. Exatamente. Nosso lema é: vendemos apartamentos, mas entregamos lares. Por isso somos também campeões em rasgar projetos. Isso tudo advém do fato de nós sermos incorporadores e construtores e cuidarmos da funcionalidade de cada metro quadrado que erguemos. Como você vê o mercado imobiliário no momento atual? Charles – Olha, o mercado imobiliário sofreu com o impacto do evento dos IPOs, a oferta de ações de empresas do ramo na bolsa de valores, no final da
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Os sócios, a maquete do Ver.de Panorama e a equipe de vendas
década passada. A pressão dos investidores pelo lucro rápido trouxe uma distorção, baixou a qualidade de muitos empreendimentos. E pra piorar tudo veio a crise de 2014, quando as empresas fizeram verdadeiros malabarismos para se salvar. Mas hoje, felizmente, a gente sente que o mercado está muito mais técnico e responsável. Antes de comprar, as pessoas estão visitando outros prédios das construtoras e conversando com os zeladores, para verificar a qualidade e a execução dos projetos. Para nós isso é excelente. Vocês também estão construindo estúdios agora, de 25 metros quadrados.
Esse é o limite do bem-estar? Juliana – Considerando que esses estúdios são destinados para um só morador, ou dois, no máximo, acreditamos que é o limite para garantir um certo conforto dentro da escala humana. E além de contar com uma boa localização, com metrô a 200 metros, esses moradores serão atendidos por serviço de faxina diário, já embutido na taxa de condomínio, que vai custar cerca de R$ 280. Charles – Já imaginou ter o apartamento limpo diariamente pagando só isso? Esse projeto, em todos os seus detalhes, é o resultado dos nossos 38 anos de construções e incorporações.
É um troféu pra nós. Juliana – O projeto contempla áreas de lazer independentes, com espelho d’água, piscina, academia, café. Um ambiente de convívio aonde os moradores poderão levar o seu computador pra trabalhar e realizar reuniões. Também oferece diversos serviços all inclusive e pay-per-use. O que esperar para os próximos 38 anos? Charles- Temos a sorte de trabalhar com o que amamos. Construí minha empresa e reconstruí minha vida junto aos meus familiares. Os alicerces do futuro já estão consolidados. TP
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entr e v ista
M i c h i k a z u M at s u s h i ta ,
p r e s i d e n t e d a Pa n a s o n i c
d o B r a s i l , c o m e m o r a o s n ú m e r o s d a c o mpa n h i a , a c r e d i t a e m c r e s c i m e n to de d oi s dígi to s p or a no e a p o s ta e m l i n h a b r a n c a e n a á r e a d e s o l u ç õ e s d e n e g ó c i o s pa r a e mp r e s a s
pura
e n e rg i a Por Fr a nçoise Terzi a n
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r e t r ato s t uc a r e i n é s
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q
Q u e n i n g u é m s e e n g a n e c o m a fa l a m a n s a e a vo z q ua s e i n au d í v e l d o ja p o n ê s M i c h i k a z u M at s u s h i ta , d e 5 3 a n o s . S e r e n o, c o m o l h a r t r a n q u i l o, e s t e e x-p r o f e s s o r n a c i da d e d e Ko b e , f o r m a d o e m l e t r a s , é h oj e u m d o s n o m e s m a i s e s t r at é g i c o s d o p l a n o g l o b a l d e c r e s c i m e n t o da c e n t e n á r i a Pa n a s o n i c , f u n da da e m 19 18 .
Há quatro anos e meio na cadeira de presidente da gigante japonesa no Brasil, Matsushita solta uma frase no meio da conversa que explica o motivo para ter chegado aonde chegou. “Vender é fácil, fazer dinheiro já é mais difícil”, afirmou, numa conversa na sede da empresa no Brasil, em São Paulo. Há 28 anos na Panasonic - oito deles na matriz e 20 deles fora do Japão -, o executivo comandou diversas operações da fabricante ao redor do mundo. Casos, por exemplo, da Espanha e Alemanha. “Quando finalmente achei que
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voltaria para o Japão, fui mandado para o Brasil”, recorda-se. Matsushita admite ter se surpreendido no novo endereço nos trópicos. “É um dos países mais dinâmicos do mundo”, resume. Embora sediado em São Paulo, a cada dois meses o executivo visita o headquarter da companhia em Osaka. As viagens constantes para a matriz têm um motivo: o Brasil é prioridade. E olhe que a Panasonic tem 591 subsidiárias e 88 empresas associadas pelo mundo, com vendas líquidas de US$ 71,91 bilhões no ano fiscal de 2018.
E esse olhar atento ao país é algo antigo. Há mais de cinco décadas operando por aqui, a Panasonic tem conseguido desvencilhar sua imagem fortemente associada aos televisores e mostrado à população que tem tecnologia para equipar a casa toda. Há sete anos, deu um passo importante em sua estratégia de avanço no Brasil, ao inaugurar na cidade de Extrema (MG) sua primeira fábrica de eletrodomésticos fora da Ásia. A movimentação demandou um investimento de R$ 200 milhões. O objetivo é ganhar escala e, claro, a residência dos muitos consumidores da marca. Da abertura dessa importante unidade fabril até hoje, mais de um milhão de refrigeradores já foram produzidos, posicionando a subsidiária brasileira entre as três que mais vendem linha branca fora do Japão. Com cerca de mil funcionários, a fábrica produziu 50% a mais em 2018 em relação ao ano anterior. Sua posição geográfica foi estrategicamente pensada. Estar entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro facilita a logística. Os diferenciais dos produtos vão além do design que, claro, chama atenção. Na linha branca, vários de seus modelos voltados às classes A e B apostam em detalhes como portas de vidro em tons de preto ou branco. Já no caso das geladeiras, vale contar, houve especial atenção para o consumidor brasileiro. Elas foram desenhadas com mais espaço interno para receber caixas de tetra pak e gavetas de legumes, verduras e frutas. Tudo porque é hábito do habitante de um país tropical consumir mais desses produtos.
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No país que bebe muita cerveja, há modelos de refrigeradores com um compartimento exclusivo para gelar as latas com mais rapidez. Outras inovações devem vir até dezembro. Até 2020, a Panasonic lançará 20 modelos de linha branca, totalizando 40 itens. A maior estratégia da companhia, no entanto, está na chamada eficiência energética. Mais do que soar como uma fabricante sustentável, o que os japoneses querem de fato é conquistar os brasileiros pelo bolso. A redução no preço da conta de luz é visível e pode chegar a 40%. Não por acaso, a categoria de linha branca hoje é o negócio mais importante da Panasonic no Brasil, respondendo por mais de 40% da receita da corporação. A sustentabilidade passa por outros produtos da companhia, a exemplo da gama de ar-condicionado fornecida pela fabricante para o B2B. Em vez de eletricidade, eles recorrem a gás natural, uma fonte que promete economizar até 90% de energia.
merc a do
n ac i o n a l Em 2012, a Panasonic inaugurou fábrica de eletrodomésticos no Brasil. É a primeira fora da Ásia
THE PRESIDENT - Da sua chegada ao Brasil até o dia de hoje, quais suas principais impressões e sentimentos a respeito do país? O Brasil é um país muito interessante e atraente. Um lugar que muda todo dia. Uma espécie de laboratório repleto de desafios econômicos e políticos. Um destino com novos desafios diários. Mas, aqui, diferentemente dos países europeus, os serviços crescem. E eu me adaptei ao Brasil. Gosto das pessoas, da comida, do churrasco e da cachaça (risos). São Paulo tem uma comunidade de cerca de um milhão de imigran-
tes japoneses. Só aqui na companhia, estabelecida há 52 anos no país, são várias gerações trabalhando. E nesses 52 anos a empresa mudou bastante no Brasil… Sim, começamos a operação no país vendendo pilhas. Hoje, somos a segunda marca nesse segmento por aqui. Fomos além. Nos tornamos uma marca de presença forte em aparelhos como tevê e rádio. Ainda temos a linha branca e área de soluções de negócios para empresas. Impossível gerenciar isso
tudo sozinho. Por isso contamos com várias equipes. A Panasonic existe há 101 anos e está há 52 no Brasil. Como você enxerga o país em ano de novo governo? Começo a sentir uma leve recuperação do mercado na área de B2C [business to consumer], com avanços de venda em alguns segmentos como refrigeradores e máquinas de lavar. Outros setores estão se recuperando. Nossas vendas vão bem. Nos últimos quatro anos, a economia brasileira foi lenta, mas a Panasonic manteve crescimento ano a ano, com crescimento de dois dígitos, de mais de 10% por ano. Vamos crescer dois dígitos por ano até 2021. No futuro, talvez, tenhamos que considerar ampliar os investimentos. Quais são os números de refrigeradores e máquinas de lavar? De 2013 a 2018, crescemos 240% em refrigeradores e máquinas de lavar. A empresa, como um todo, cresceu 10% por ano. O avanço maior vem, sem dúvida, da linha branca, que está conduzindo um salto no nosso negócio e já responde por mais de 40% das vendas de toda a empresa. Até 2020, o plano é lançar 20 novos modelos de linha branca, chegando a 40 no total. Qual a razão para a linha branca da Panasonic ter avançado tanto nos últimos tempos? Nós construímos uma fábrica em Extrema, na divisa de São Paulo com Minas Gerais. Percebemos uma grande oportunidade de fazer nosso negócio expandir e decidimos abrir uma fábrica de linha branca lá. Pelo design e inovação propostos por esses produtos, a percepção é a de que
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“N o s s o r e f r i g e r a d o r B l ac k G l a s s a pr e s e n ta r e d u ç ão d e m a i s d e 3 6% n o c o n s u m o d e en ergi a. É u m de sa f io q u e r e s o lv e m o s a c e i t a r”
vocês têm apostado em produtos premium, de olho no consumidor das classes A e B. Sim, são produtos premium. E, além de design, nossa área de inovação se preocupou em trazer tecnologia de eficiência energética. Assim, conseguimos reduzir em até 40% o consumo. Sim, com teste comparativo do mesmo produtor com e sem a tecnologia Inverter. Esse era um desafio que tínhamos para o Brasil, que combate o aumento do consumo de energia. Esse salto na linha branca trouxe quanto de participação de mercado para a Panasonic? Eu diria que, levando em consideração o mercado como um todo, inclusive dos produtos mais básicos como as pequenas máquinas de lavar não automáticas, somos ainda relativamente menores. Mas do setor considerado premium, já alcançamos 20% de participação do mercado de máquinas de lavar e de refrigeradores. Agora, estamos expandindo para o middle range [faixa intermediária].
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Qual o negócio mais representativo para a Panasonic Brasil hoje? Tudo é importante. Recentemente, a linha branca ultrapassou a linha marrom e se tornou nossa maior fonte de renda. Além de investirmos em design, inovação e eficiência energética, também apostamos bastante em marketing, o que incluiu campanhas de comunicação com a Fernanda Lima. E no Japão, qual a categoria mais importante? No Japão é igual. Em B2C, linha branca também é a mais importante. Há uma tendência de consumo de televisores cada vez maiores. Quais os tamanhos produzidos e oferecidos pe la Panasonic no Brasil? As tevês, que produzimos em Manaus, têm de 32 a 75 polegadas. Um dos próximos lançamentos é a tevê 4K Ultra HD Oled, modelo GZ1000, com a função Bluetooth Áudio Link e Dolby Atmos, nas versões 55 polegadas e 65 polegadas. O aparelho também tem exclusivo processador Quad Core, que garante navegação rápida e qualidade de imagem semelhante à das telas de cinema. Ela terá preço sugerido de R$ 16 mil e vai surpreender. Tão logo a economia volte a crescer de forma mais consistente, você acredita em um salto nas vendas dada a demanda reprimida? Há sete, oito anos, a categoria de linha branca vivia um pico de demanda. Agora, esses produtos comprados lá atrás começam a ser substituidos. Com o aquecimento da economia, a previsão é de uma enorme oportunidade para a venda de linha branca. Percebo essa demanda crescendo hoje.
n ovo
negócio “Vender é fácil. Fazer dinheiro já é mais difícil em um setor tão competitivo“
Quantas fábricas a Panasonic tem hoje no Brasil? Três. Em Manaus, Extrema e São José dos Campos (SP) - esta última voltada à produção de pilhas. O Brasil está entre os dez mais em vendas da Panasonic? Sim, definitivamente. Dependendo do segmento, estamos em terceiro, quarto ou quinto lugar. De forma geral, o primeiro mercado é o Japão, o segundo a China. O Brasil deve estar em quarto ou quinto em produtos de consumo. Para onde irão os esforços da Panasonic em 2020? Em linha branca, por exemplo, não queremos só expandir as vendas com os produtos que temos hoje. Vamos aumentar a linha de produtos e passar a oferecer também itens de menor porte. Já na área de beleza, reforçaremos nossa atuação com barbeadores elétricos. No Japão, na China e em outros lugares da Ásia, somos muito fortes em eletroportáteis para cuidados de beleza de homens e mulheres. No Brasil, ainda não. Quais os planos para esse segmento? Primeiro, vamos testar o mercado para ver a demanda. Só então avaliaremos
se lançaremos produtos no país e definiremos se devemos produzir aqui ou importar. Não há nada certo ainda, mas estamos atentos ao crescente mercado de beleza do Brasil. No negócio de áudio e tevê, devemos manter os negócios como estão hoje. Vender é fácil. Fazer dinheiro já é mais difícil em um setor tão competitivo quanto este. É preciso gerar algum lucro. Por isso, vamos direcionar mais recursos à linha branca e também ao B2B [business to business]. E, por falar em B2B, o que vocês oferecem hoje? Temos importantes segmentos de negócios como soluções de climatização a gás para instalar em shoppings, centros de negócios, hotéis, hospitais e redes de restaurantes como a Coco Bambu. Há dois anos, adquirimos uma empresa brasileira chamada Union Rhac. Trata-se de uma empresa única, de cogeração de energia, com 70 pessoas e sede em Barueri (SP). Foi adquirida para oferecer soluções de ponta a ponta para sistemas de climatização e geração de energia elétrica a gás natural e biogás. Uma alternativa para um país que trabalha muito com energia advinda das hidrelétricas. A Panasonic adquiriu outras empresas brasileiras nos últimos tempos? Sim. Há cerca de três anos compramos a Digital Full Service, DFS. A cada dois, três anos, adquirimos uma empresa. E para o futuro, há alguma aquisição no radar? É certo que vamos nos concentrar em acelerar os negócios que adquirimos. Talvez os investimentos sejam direcionados às fábricas.
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“EU V e jo o p o r t u n i da d e s futuras em internet da s c o i s a s . A m e n t a l i da d e d o s c on s u m i d o r e s e s tá m u da n d o”
Quais tendências de mercado você enxerga para os setores em que atua? Vejo oportunidades futuras em internet das coisas, já que a mentalidade e os hábitos dos consumidores estão mudando. Um caminho seria oferecer produtos que proporcionem bem-estar, conforto e segurança. E, por falar em bem-estar, o que o presidente da Panasonic Brasil gosta de fazer nas horas vagas? Viajar pelo Brasil. Há muitos lugares bonitos na costa brasileira. Entre os que me chamaram muito a atenção pela beleza está Jericoacoara (CE). Vale a pena. Gosto também de esportes, de nadar. Gosto de música brasileira. Toco bateria. E, como viajo muito, chegando a ficar quase o dia todo no avião, leio muitas revistas e livros. Um livro que indico é Treze Dias: Uma Memória da Crise dos Mísseis Cubanos, de Robert F. Kennedy. Foi publicado ainda nos anos 1960. Já é antigo, mas podemos aprender muitas lições de negócios com ele. É um livro que ajuda a tomar decisões críticas. TP
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O outro rei da Espanha O p o d e r o s o Pa b l o Ă lva r e z M e z qu i r i z , da
V ega Sicil i a,
p o d e r i a s i mp l e s m e n t e p r o d u z i r m a i s v i n ho s. M a s n ĂŁo qu e r
P o r M au r o M a r c e l o A lv e s
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A
A l g u é m já d i s s e q u e o m a i o r l u xo d o s e r h u m a n o é p o d e r d i z e r n ão. A s s i m , o s o n h o d e t o d o c om e rc i a n t e se r i a v e n de r se us produ tos na q ua n t i da d e q u e b e m e n t e n d e s s e e pa r a q u e m qu ise sse, e snoba n do os dem a is pedin t e s a nsiosos p o r s ua m e r c a d o r i a . Há u m h o m e m n a E s pa n h a c o m e s s e p e r f i l : Pa b l o Á lva r e z M e z q u i r i z . E l e p r o d u z 3 0 0 m i l g a r r a fa s a n ua i s d e s e u s v i n h o s m a is cél ebr e s e r ecebe cinco v eze s m a is pedidos de c o mp r a s . O u s e ja: s e q u i s e s s e , p o d e r i a a mp l i a r s e u s v i n h e d o s e c a pac i da d e d e p r o d u ç ão pa r a 1 , 5 m i l h ão d e g a r r a fa s a n ua i s . M a s n ão q u e r .
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lvarez prefere zelar pela imagem e qualidade do Vega Sicilia, o mais espetacular e desejado vinho espanhol, e do Valbuena 5º, o segundo tinto da bodega, ambos importados no Brasil pela Mistral e Grand Cru. Também não aumenta a produção porque seu portfólio vai além das 300 mil garrafas desses dois tintos famosos. Em Ribera del Duero, sede da Vega Sicilia, ele produz outro grande vinho, Alión. Na província de Toro, dá vida ao Pintia. Em La Rioja, produz o Macán, em associação com Benjamin de Rothschild, dono de vinícolas em Bordeaux e em outros países. De mais a mais, Álvarez é dono do mítico vinho doce natural Tokaji-Oremus e do branco Mandolás, ambos na Hungria. No total, produz mais de um milhão de garrafas anuais. Nada mau. Isso rende muitas centenas de milhões de euros na conta do grupo vinícola que criou com o nome de TEMPOS Vega Sicilia, do qual é o CEO. Tem mais: ele também importa grandes vinhos para o mercado espanhol. Incluindo os franceses do Domaine de La Romanée-Conti. Mas, ao conversar com Don Pablo Álvarez, não espere os gestos de um tycoon arrogante e tão cheio de si quanto as garrafas que produz. Trata-se de um homem de 65 anos, advogado formado, dono de certa timidez, que fala de maneira tranquila e quase sempre com os olhos voltados para baixo. Nascido em Bilbao, no País Basco, recebeu ainda jovem do pai a missão de dirigir a bodega, fundada em 1864 e comprada em 1982. Aqui, vale
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recapitular essa aquisição. Na época, ninguém entendeu muito bem a compra, pois o pai de Álvarez, David Álvarez Díez, basco de origem humilde e falecido em 2015, nem de longe tinha alguma afinidade com o universo do vinho. O patriarca fez o negócio com o seu jeito durão, no estilo “quero e pronto”. Tinha muito dinheiro. David Álvarez Díez já havia então fundado a Eulen, empresa que presta serviços de limpeza, segurança, manutenção e logística para grandes companhias na Espanha e outros países. A organização tem hoje quase 90 mil empregados e faturamento anual de 1,5 bilhão de euros. É dirigida pelos filhos prediletos de David, que no berço ganharam o presságio e o nome de Jesús e María, designados herdeiros majoritários no testamento, para perplexidade dos outros cinco irmãos (Marta, Elvira, Juan, Emilio e Pablo). Estes tiveram de se contentar com 1/3 da fortuna. Resultado: há vários anos os sete irmãos vivem em permanente litígio judicial. A ESSÊNCIA DO LUXO ablo Álvarez Mezquiriz mantém os quatro irmãos “preteridos” no board da TEMPOS. Marta é a presidente do conselho. Curiosamente, os rótulos dos três vinhos trazem no canto inferior a assinatura dela e não a do homem que encarna e responde pela mística do Vega Sicilia. Sem perder o gesto contido, Álvarez se permite um leve sorriso ao comentar que “o principal problema das empresas familiares são as famílias”. Logo diz que sua atenção quase integral é
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LINHA
D E F R E NTE Único, Reserva Especial e Valbuena 5º: o trio da bodega espanhola é feito com três castas
com TEMPOS Vega Sicilia e é disso que gosta de falar. Melhor para quem abre qualquer garrafa de seus vinhos raros. Pergunto se concorda quando dizem que Vega Sicilia é a única marca realmente de luxo espanhola. “O luxo não nasce do preço, mas sim da exclusividade do produto e das limitações para fazê-lo”, diz. “De alguma maneira, nossas bodegas têm essa limitação para a produção e isso pode contribuir para que nossos vinhos sejam vistos como algo luxuoso”, completa, indicando que, mesmo podendo plantar novos vinhedos em seus mil hectares de terras, simplesmente não quer. Para produzir o Vega Sicilia, utiliza 15% da área. No restante, além de cereais, mandou plantar 50 mil pés de sobreiros (para a fabricação de rolhas) e nada menos de 350 mil carvalhos para futura produção das clássicas barricas de 225 litros e tonéis de grande tamanho. É importante lembrar que o Vega Sicilia tem três categorias de nobreza: Único, Reserva Especial e Valbuena 5º. O primeiro é, segundo Álvarez, a própria referência da marca. Misto
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de Tempranillo e Cabernet Sauvignon, com predomínio da primeira), é mantido em lenta maturação por quase dez anos, tanto em barricas e tonéis quanto nas garrafas que receberão o rótulo cultuado. E pode ficar inteirão por meio século. Já o Reserva Especial, que Álvarez chama de “vinho histórico para nós, o mais elegante”, consiste em uma mescla de três diferentes e ótimas safras. Tal blend permite que as particularidades de cada colheita se complementem para expandir os aromas e sabores. Exemplo: o Reserva Especial engarrafado em 2015 é formado pelas safras de 1994, 1996 e 2000. A mescla se revela admirável. Pergunto a Pablo Álvarez se a ideia do Reserva Especial é chegar ao vinho perfeito. “Sempre vamos querer fazer melhor”, responde, com seu sorriso tímido. Fico na dúvida se falo “ainda bem” ou... “será possível?”.
Quanto ao Valbuena 5º não é assim de beber sem mais nem menos. Trata-se de outro grande vinho, com Tempranillo e pequena parte de Merlot. O preço é menor que o do Único. Tem esse nome porque passa cinco anos entre madeira e garrafa, um tempo já excepcional diante de muitos outros vinhos renomados. SURPRESA MEXICANA omento com ele um detalhe a respeito dos três tintos: é comum que o consumidor, depois de beber um deles de determinada safra pela primeira vez, se encante e espere o mesmo na garrafa de outra colheita. Mas essa história do gosto adquirido e replicado não funciona com o Vega Sicilia. “Ainda não sei o motivo, mas a natureza se comporta de maneira totalmente diferente em distintas parcelas de nossos vinhedos, a cada
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ano, muito mais do que em outras regiões do país”, diz. “Por isso, temos vinhos distintos. É nosso desafio tornar cada um o melhor possível, dentro de nosso estilo”, afirma, emendando: “Graças a Deus, não podemos controlar a natureza”. Chega o momento de falar da famosíssima acidez volátil que caracteriza seus vinhos. Lembro a ele um comentário do crítico americano Robert Parker de que os Vega Sicilia mais antigos são tão bons que... “fuck a sua acidez volátil!”. Álvarez explica que essa acidez fina – e altamente gastronômica por enriquecer a harmonização com vários pratos, sobretudo carnes – vem com o tempo de envelhecimento do vinho em madeira. Sorrindo, agora abertamente, diz: “Os franceses, sempre muy amigos dos espanhóis, dizem que é a acidez volátil mais cara do mundo...”
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A vinícola reúne obras de arte contemporânea
“G r a ç a s a d e u s , n ão podemos con t rol a r a n a t u r e z a”, d i z e l e s o b r e a d i f e r e n ç a DE s a f r a s , q u e fa z c o m que o vega sicilia mude sempr e
Álvarez exporta para 140 países e diz que alguns recebem apenas seis caixas a cada safra, sendo que os três principais compradores são os Estados Unidos, Suíça e México. Fico surpreso com a menção ao México
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como terceiro importador e Álvarez informa que “o mercado de lá é tremendo para o vinho espanhol”. Ele continua: “Vega Sicilia, em particular, tem muito prestígio no México. Vivem me pedindo mais, mas não dá para atendê-los”. Ele brinca indicando que a demanda se deve em boa parte porque seu vinho é um dos presentes mais ofertados aos políticos do país quando alguém deseja algum favor deles. Sobre novos projetos ou se teria vontade de investir em outros países, revela que seu sonho seria fazer vinhos na Borgonha ou em Bordeaux. “Mas não temos dinheiro para isso. Os vinhedos de lá são muitos caros”, lamenta com uma ponta de ironia, sem descartar a expansão do grupo
TEMPOS com a criação ou compra de outras vinícolas na própria Espanha ou Itália, onde pensa em produzir um Brunello di Montalcino. Perguntado sobre sua preferência pessoal para beber, não hesita em apontar os vinhos das regiões onde gostaria de ter alguns para chamar de seus – Borgonha em primeiro lugar e Bordeaux em segundo. Além de pensar alto quando fala dos seus e de outros vinhos, Pablo Álvarez Mesquiriz, modesto no jeito de ser, se dá ao luxo de cultivar dois hábitos: o primeiro é fazer seus ternos na mesma alfaiataria de Madri que veste o rei Felipe 6º. E o segundo, bem, você já sabe: é dizer não a um mundo de gente que deseja avidamente comprar seus produtos. TP
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m em ó r i a
Gigante E m b o r a m e d i s s e m en o s de 1,50 m, o l í de r
Den g X i ao p i n g foi o homem que
chinês
t r a n s f o r m o u s e u pa í s n u m a s u pe r p o t ê n c i a
P o r J. B . N a t a l i
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Deng Xiaoping (1904-1997), um dirigente comunista chinês muito baixinho
–
ele tinh a a penas 1 metro e 48 centímetros -, foi um dos poucos gigantes da recente política mundia l. Não a penas por impl a nta r na China continenta l a economi a de merca do. M as ta mbém por multiplica r a renda média de seus concida dãos por 25, reduzir de 70% a 3,3% a pobreza extrem a e tr a nsform a r seu pa ís - hoje com quase 1,4 bilh ão de h a bita ntes - na m a ior economi a industri a l e mercantil do pl a neta.
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China, que agora colhe os frutos de Deng, tem o maior PIB mundial (US$ 23,2 trilhões) e também ocupa a primeira colocação em mão de obra ativa (806 milhões), reservas cambiais (US$ 3,2 trilhões) e exportações anuais (US$ 2,2 trilhões). São informações do CIA Facbook, atlas que centraliza os números da inteligência americana. Pois esses e dezenas de outros resultados foram alcançados sem que o Partido Comunista Chinês abrisse mão do monopólio do poder. Uma conquista da chamada
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“economia socialista de mercado”, expressão esquisita em sua aparente contradição. Sob o comando de Deng (1978-1992), o país continuou a ser uma ditadura asfixiante, sem liberdade de expressão ou Judiciário independente. A diferença básica com relação aos anos de Mao Tsé-tung no poder (1945-1976) estava na ingerência menor do partido na vida pessoal dos cidadãos (a profissão exercida, o local de moradia). A autoridade de Deng e do partido foi publicamente contestada em uma
única ocasião, nos protestos por mais democracia, na praça da Paz Celestial (Tiananmen, no idioma mandarim), em Pequim, entre abril e junho de 1989. O episódio terminou em massacre, do qual o número de mortos provavelmente jamais será conhecido. A respeito de Tiananmen, a jornalista chinesa Lijia Zhang, em texto citado com frequência, diz que, com Deng, a gaiola dentro da qual os chineses viviam foi tão ampliada que milhares de seus ocupantes chegaram a ignorar que circulavam num espaço
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MARCA PESSOAL
El e l iberou
Deng conviveu com Mao já
a f o r m a ç ão d e
no anos 20. Mas soube imprimir um estilo próprio
e m p r e s a s p r i va da s , qu e hoj e of er ec em 8 0% d o s e m p r e g o s
politicamente limitado. A repressão tornou-se um trágico lembrete, que permanece em vigor com o atual dirigente chinês, Xi Jinping. CINZAS AO MAR história da China contemporânea começou em outubro de 1949, quando os comunistas de Mao tomaram Pequim e encurralaram na ilha de Taiwan os nacionalistas de Chiang Kai-chek, que os haviam encarado em longa guerra civil. Para a história, Mao é o grande personagem chinês do século 20. Deng Xiaoping vem em segundo lugar. Não tanto por ter sido um dos primeiros companheiros do dirigente comunista já na década de 1920, e nem por ter ocupado a secretaria geral do PC chinês entre 1956 e 1967, antes de pela primeira vez cair em desgraça e, durante seu “exílio interno”, tornar-se operário de uma fábrica de peças para tratores. A ascensão definitiva de Deng foi possível porque ele pertencia a um grupo de dirigentes que tirou a lição de duas hediondas barbeiragens do maoísmo: o “grande salto adiante”, que a partir de 1958 tentou reorgani-
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zar a produção sem a tecnologia ou a capacitação dos envolvidos, sobretudo no campo, e a chamada Revolução Cultural, que procurou subverter a hierarquia do Partido Comunista e de todas as instituições chinesas, das fazendas coletivas às universidades. Nos dois casos, a produção agrícola entrou em colapso e a desnutrição pode ter matado de 35 milhões a 60 milhões de chineses – não há estatísticas oficiais. Mao Tsé-tung morreu em 1976. Entraram então discretamente em conflito os partidários da ortodoxia, ou o Bando dos Quatro, sob a chefia da viúva do dirigente morto, Jiang Quing, e os que desejavam de maneira desencontrada alguma mudança ou modernização, como Hua Guofeng, colocado sem muita convicção nos tronos do partido e do Estado que haviam pertencido a Mao. Eis que em 18 de dezembro de 1978 reuniu-se a terceira sessão plenária do 11º comitê central do Partido Comunista Chinês. Ali, Deng Xiaoping deu o xeque-mate naqueles que pretendiam manter em mãos do Estado o controle de todos os meios de produção e exportar para a Ásia e alhures da revolução comunista. A ideia era, ao contrário, obter o máximo de tecnologia americana – as relações diplomáticas com os Estados Unidos acabavam de ser oficializadas – e liberar as empresas do Estado a concorrerem entre si. Dois anos depois, o governo emitia o brevê para a primeira empresa privada. O setor hoje representa 80% dos empregos e 60% do PIB. Apenas áreas mais sensíveis, como o crédito e a energia, permaneceram estatais.
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Com Deng, a inserção comercial da China pelo mundo levou ao óbvio arquivamento das antigas relações amistosas com partidos comunistas herdeiros do maoísmo. E, a exemplo do que Kruchev fizera com o legado de Stálin, na Rússia de 1956, o novo dirigente chinês descartou o “culto à personalidade” e a concepção delirante de que estava em gestação um novo tipo de ser humano, anestesiado contra os conflitos cotidianos da sociedade dividida em classes sociais. Sobre a rejeição ao culto, Deng determinou que, ao morrer, seu corpo não fosse embalsamado e exposto, ao contrário de Mao. Assim ocorreu em 1997, quando faleceu, aos 93 anos. Ele foi discretamente cremado, e suas cinzas atiradas ao mar. Para entender como funcionava a cabeça de Deng é preciso evocar um aforismo. E lembremos que essas frases curtas e simplificadas são exemplares na cultura chinesa. Eram elas que estruturavam o Livro Vermelho do Presidente Mao, best-seller da esquerda mundial nos anos 1960. Pois bem, para Deng – em discurso no Bureau Político do partido, em 1962 – “Pouco importa que um gato seja branco ou negro. Se ele conseguir caçar um rato, ele será um bom gato”. Havia na afirmação o embrião do pragmatismo. Foi por ele, e não pelo amor ao mercado, que Deng se tornou um heterodoxo inovador, opondo-se a uma certa unanimidade burocrático-comunista que ruiria com o Muro de Berlim. É também dele a afirmação de que se deve atravessar um rio “sentindo as pedras sob os pés”.
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U m a d e s ua s m á x i m a s : “ De v e- s e a t r av e s s a r u m r i o sen tindo as pedr as sob os pé s”
Não era esse, no entanto, o perfil ideológico do jovem Deng, ao se aproximar do marxismo, não na China, mas na França, onde a partir de 1920 ele, ainda adolescente, integrou um grupo de 2 mil chineses enviados à Europa para aprimorar sua educação. Projeto então impensável para a maioria dos jovens de seu país. Mas Deng havia nascido numa família de camponeses relativamente ricos da província de Sichuan. Em verdade, nos seis anos que ele passou na França seu estatuto foi o de um estudante-operário. Trabalhou nas empresas Schneider, Hutchinsons, na montadora Renault e na Kleber. Essas razões sociais não têm, em verdade, nenhuma importância. O que importa é que Deng Xiaoping se aproximou de Marx e Lênin – cuja literatura básica não era na época sequer traduzida na China –, em companhia de Chou Enlai, primeiro-ministro de Mao entre 1949 e 1976, com quem Deng dividiu um quarto modesto de um hotel em Paris, nas imediações da Place d’Italie. Uma curiosidade: Deng e Chou adoravam o croissant, essa pequena
DOIS MOMENTOS Os protestos na praça da Paz Celestial, em 1989, geraram tensão. Hoje, a China tem bolsas de valores fervilhantes, como a de Huaibei
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maravilha que a pâtisserie francesa importou dos austríacos. Muitos anos depois, em 1974, o avião de Deng fez escala técnica em Paris, depois de o líder discursar na ONU. Pois ele mandou comprar uma caixa com mais de 100 croissants, que, chegando em Pequim, dividiu com Chou e não contou para ninguém. ENSIMESMADO E FRIO ntes de voltar à China, em 1927, Deng Xiaoping passou um ano em Moscou, nas universidades dos Trabalhadores do Leste e de Sun Yat-sen, ambas especializadas na formação de quadros comunistas em países asiáticos. Entre seu ingresso no partido e a vitória militar de Mao, em 1949, Deng Xiaoping acumulou uma biografia quase enfadonha, de dirigente político e militar, em guerra contra o Japão invasor e em seguida contra o Kuomitang de Chiang Kai-chek. O mais respeitado dos biógrafos de Deng, o americano Ezra Vogel, dedica a esse longo período um número reduzido de capítulos. Adulto, militar e burocrata, Deng casou-se em 1931 com Jin Weiying, a segunda de suas três mulheres, e continuou a procriar – modestamente, para os padrões chineses – os cinco filhos e filhas que deixou. Deng não foi um homem amistoso, capaz de abraçar amigos de velha data ou de sorrir ao estender a mão a inimigos ou pessoas burocraticamente neutras. Os que conviveram com ele o qualificam de ensimesmado e frio, com a China e o partido bem à dianteira das relações pessoais. Não hesitou em se desfazer e jogar em desgraça Hu Yaobang, Shao Ziang ou Yang Shangkun, três de seus mais devotos aliados. Mas não incluía a deslealdade entre seus defeitos, segundo Ezra Vogel. “Tenho apenas três vícios: eu bebo, eu cuspo e eu fumo”, disse certa vez com imerecida modéstia. O fato é que Deng, a despeito do apego que teve pelos netos com os quais conviveu melhor depois de voluntariamente deixar o poder, cinco anos antes de sua morte, foi um homem que dormia e sonhava com a China. “Um país, dois sistemas”, disse, no mais lembrado de seus aforismos. O outro sistema não foi o da teocracia do Tibete, que ele reprimiu com violência em 2008. Mas o do Estado mínimo de Taiwan e Hong Kong. A China é indivisível, conclusão pela qual Deng Xiaoping dá hoje um forte abraço de cumplicidade no presidente Mao Tsé-tung. TP
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A fase azul de
Miles Davis H á 60 a nos er a l a nç a do
K i n d of Blu e,
u m d i s c o c u l t ua d o a t é h o j e . E q u e m u d o u a h i s t ó r i a d o ja z z
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Já c h a m a r a m M i l e s Dav i s d e “ o P i c a s s o d o ja z z ”, p e l a q ua n t i da d e d e e s t i l o s q u e a t r av e s s a s ua m ú s i c a . Q ua n d o e l e c h e g o u a N ova Yo r k , ao s 1 8 a n o s , o ja z z d o m i n a n t e e r a o b e b o p e e s p e r ava-s e q u e u m t r o mp e t i s t a t o c a s s e aq u e l e s s ol o s pi rot é c n ic o s di ta d o s pe l o v e l o c i s ta Di z z y Gi l l e spi e . M i l e s f e z d i f e r e n t e : n a s é r i e d e g r avaç õ e s B i rt h o f t h e C o o l , e l e i n t r o d u z i u n o ja z z u m a s o n o r i da d e m a i s s o f i s t i c a da e s uav e . Já n o i n í c i o d o s 19 5 0, a d e r i a ao h a r d b o p, r e v e l a n d o e c e r c a n d o -s e d e n ovo s t a l e n t o s . F o i q ua n d o u m a g r a n d e g r ava d o r a , a C o l u m b i a , d e c i d i u i n v e s t i r n o ja z z , c o n t r a t a n d o M i l e s Dav i s c o m o s ua e s t r e l a m a i o r . I s s o p e r m i t i u p r o j e t o s m a i s a r r o ja d o s , c o m o a s é r i e d e á l b u n s c o m a g r a n d e o r q u e s t r a d e G i l E va n s . E p o s s i b i l i t o u t a m b é m a g r avaç ão de u m dos á l bu ns m a is in flu en tes da h i s t ó r i a da m ú s i c a: K i nd o f B lu e , l a nç a d o h á e x ato s 60 a no s e pe dr a d e t o q u e d o ja z z m o da l .
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a Columbia, Miles podia gravar em The Church (A Igreja), estúdio nova-iorquino assim chamado porque havia sido uma igreja (veja quadro). Também tinha a chance de se concentrar em seu próprio grupo, contratando gênios nascentes como os saxofonistas John Coltrane, Julian “Cannonball” Adderley e o pianista Bill Evans para juntá-los ao baixista Paul Chambers e ao baterista Jimmy Cobb. A entrada de Evans, um branco, num grupo de negros, criou uma confusão colossal, mas Miles fez pé firme: talento não tem cor. A rigor, a escolha do pianista teve idas e vindas. O posto pertencia a Red Garland, mas ele se recusou a se apresentar em Filadélfia, onde devia pensão alimentícia. Miles o demitiu e pôs Wynton Kelly no lugar. Este teve o maior choque quando viu um branco sentado ao seu piano. Miles o tranquilizou, garantiu que Kelly tocaria em pelo menos uma das faixas. E foi o que aconteceu. A genialidade de Kind of Blue é tamanha que absorveu os dois estilos contrastantes de Evans e Kelly.
O SUCO DE LARANJA DE QUINCY JONES piano das sessões de 2 de março e 22 de abril de 1959 era “o Steinway do Brubeck”, assim conhecido pela assiduidade com que Dave Brubeck gravava na Igreja. No livro Kind of Blue/A história da obra-prima de Miles Davis (2000), o jornalista Ashley Kahn cita o engenheiro de gravação Bob Waller: “Brubeck tocava tão forte que o feltro dos martelos nas cordas agudas estava gasto. O som era bem metálico”. Nada disso toldou a pureza cristalina do teclado de Bill Evans na gravação final – triunfo dos técnicos ou magia do pianista? E afinal o que era o “jazz modal”? Ele difere das escalas tonais, mais comuns. Mas não é atonal. Segundo o New Groove Dictionary of Jazz, nesse tipo de improvisação “são as escalas modais, ou suas características gerais, que ditam o conteúdo melódico e harmônico”. É bom lembrar: depois da improvisação coletiva do estilo de New Orleans, o jazz passou a improvisar ao redor da melodia nos anos 1920 e 30. A grande revolução do bebop foi improvisar em torno da harmonia de standards. Não demorou e os jazzistas modernos passaram a compor os próprios standards.
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UM SOPRO renovado Lançado em 1959, Kind of Blue é considerado o disco de jazz mais vendido na história. Passou de 4 milhões de cópias
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Miles disse que o objetivo, em Kind of Blue, foi procurar “um outro tipo de som, que havia ouvido no Arkansas, quando voltávamos a pé para casa depois da igreja, onde cantavam aqueles gospels incríveis”. E detalhou em sua autobiografia: “Eu não compus a música de Kind of Blue. Apenas compareci à gravação com esboços do que todo mundo gostaria de tocar. Isso porque eu desejava o máximo de espontaneidade na interpretação”. Era algo que só poderia ter funcionado com aqueles músicos, tão sintonizados com as ideias de Miles. Falando à revista The Jazz Revue um ano antes, ele se queixava: “A música de hoje ficou espessa. Os caras me trazem temas cheios de acordes que não posso tocar. Mas acho que o jazz já começa a se afastar da sequência de acordes convencional e a voltar para a variação melódica”. Nenhum dos músicos havia tocado qualquer dos temas. Miles apenas lhes deu breves indicações antes do início da
gravação. E seguiu com seu velho esquema de nunca ensaiar e de gravar um só take de cada tema. A rara exceção – o alternate take de “Flamenco Sketches” – só foi lançada 22 anos depois, na versão em CD do álbum. Robert Palmer escreveu nas notas de contracapa: “Cada solo parece estar no lugar certo; nada de tema-e-variações ou exibição de virtuosidade, mas sim uma espécie de canto. O disco flui com o calor melódico e a sensação acolhedora de espaços abertos que ouvimos no tipo mais universal de canção, apoiada sempre por uma rigorosa lógica musical”. A atmosfera etérea de Kind of Blue partiu de uma ordem meio vaga, mas precisa, de Miles a Jimmy Cobb, para que a bateria “flutuasse”: a maior parte do tempo, a música do álbum parece pairar, como a miragem de um oásis verdejante sobre um deserto árido. O disco mexeu fundo com músicos de jazz como Quincy Jones (“Ouço todo dia, é o meu suco de laranja no ca fé da manhã”) e Herbie Hancock (“Quem é tocado por esta música muda para sempre e se torna uma pessoa melhor”). E não faltaram roqueiros, como Carlos Santana e Duane Allman, para admitir a influência do sopro de Miles em suas guitarras lancinantes; e o tecladista Rick Wright, que injetou frases de Kind of Blue na obra maior do Pink Floyd, The Dark Side of the Moon. Embora não existam cifras exatas, Kind of Blue é considerado o álbum de jazz mais vendido de todos os tempos. Em 2008 o disco ganhou o certificado platina quádrupla com vendas no mínimo acima de 4 milhões. Em 2002 foi um dos 50 álbuns acrescidos pela
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N o s a n o s 19 7 0, M i l e s fa z i a s h o w s d o pa d o de álcool, codeína e morfina. deu sorte d e c h e g a r ao s 6 5 a n o s
Biblioteca do Congresso ao Registro Nacional do Disco e, no ano seguinte, ocupou o 12º lugar na lista dos 500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos dos leitores da revista Rolling Stone. E como ficou Miles no pós-Kind of Blue? Passou a exigir a foto de sua mulher na capa dos LPs, uma atitude libertária que não condizia com seu comportamento machista. O novo quinteto [Wayne Shorter (sax), Herbie Hancock (piano), Ron Carter (baixo) e o baterista de 18 anos Tony Williams] marcou uma transição do som modal de Kind of Blue para a fúria do rock, inspirada por Jimi Hendrix. A partir de 1968, Miles jogou-se de cabeça na sua fase elétrica. Contratou músicos jovens, começou a gravar ao vivo em festivais e em salas de rock, atraindo um público bem maior que o do jazz. Mas a fase elétrica passou como um rolo compressor até se dissolver em meados de 1975. Um dos mais afetados pela loucura total foi o próprio Miles. Em fevereiro de 1975, no Japão, sofria ao mesmo tempo de pneumonia, artrite óssea, anemia falciforme, depressão, bursite e úlceras estomacais. Fazia os shows dopado de álcool, codeína e morfina. Era quase um suicídio ao vivo. Hospitalizado durante uma turnê americana, reapareceu brevemente nos festivais de Newport e de Nova York e sumiu para o mundo nos cinco anos seguintes. Foi o Grande Hiato de 1975-80, quando permaneceu encastelado em sua casa de Nova York.
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O grande Miles, que, mesmo à custa de muita dor, sempre dividira sua arte com o mundo, estava calado. E sofria a humilhação de ver a Columbia, agora atrelada à japonesa Sony Music, colocar no seu trono Wynton Marsalis, um jovem virtuoso de cara limpa e disposição saudável para encarar o milênio. CANTO DE CISNE companhei de perto em 1986 no Rio de Janeiro o duelo de egos entre Wynton (tocava no Free Jazz) e Miles Davis (apresentava-se no Canecão). Melindrado, Miles pediu as contas à Sony e assinou com a Warner. E apunhalou: “Quem é esse jovem metido a tocar jazz num terninho Armani?”. Wynton contra-atacou: “Quem é esse hippie velho querendo fazer jazz com músicas de Michael Jackson?”. Era a derradeira fase de Miles, a fusão com o funk. Mas sua última apresentação, em 8 julho
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A Igreja do Som estúdio da Columbia na rua 30 de Nova York onde foi gravado Kind of Blue era conhecido como The Church. Considerado um dos melhores da história, foi instalado nas antigas dependências de uma Igreja Evangélica Armênia, daí seu nome. “A Igreja” serviu à música de 1948 a 1981. No mesmo ano de Kind of Blue foram gravados ali também os álbuns Mingus Ah Um, de Charles Mingus, e Time Out, de Dave Brubeck. The Church também registrou outras maravilhas: o último álbum de estúdio de Billie Holiday, Lady in Satin; a trilha original da versão da Broadway de West Side Story; o álbum de estreia do pianista Glenn Gould, Goldberg Variations; o grande sucesso de Ray Coniff, ‘S Wonderful; o álbum do Pink Floyd The Wall e um dos LPs mais sofisticados de Tom Jobim, com orquestrações de Claus Ogerman, Matita Perê, de 1973. Passaram também pelo estúdio famoso Vladimir Horowitz, Igor Stravinsky e Bob Dylan. Um verdadeiro templo que se ocupou, durante 33 anos, em eternizar a melhor música de todos os estilos.
O MILHAS ADIANTE Miles e seu grupo na época, no estúdio “The Church”, um papo com Bill Evans e o registro da fita da primeira sessão do álbum na Columbia
de 1991, Miles & Quincy Live at Montreux, foi uma viagem sentimental aos momentos mais belos e reflexivos com a orquestra de Gil Evans. O crítico Leonard Feather a resumiu como “um magnífico e pungente canto do cisne”. Em 28 de setembro de 1991, Miles morria de pneumonia num hospital de Los Angeles, diagnóstico simplista levando em conta as agressões ao espírito e ao corpo que o artista sofrera em seus intensos 65 anos de vida. De todo o obituário, Kind of Blue figurou com destaque, por ser uma obra de arte que muda a vida das pessoas para sempre. Como assinalou o jornalista Robert Palmer: “O álbum sempre parece ter mais a oferecer. Se continuamos a ouvi-lo, repetidamente, ao longo de toda uma vida, é talvez porque sentimos que ainda existe mais nele, algo ainda não ouvido. Ou talvez gostemos de fazer visitas repetidas ao Céu”. TP
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A taça mais disputada do mundo
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ssa é a rotina alimentar que se espera de um time amador, em que amigos se reúnem para jogar bola, beber cerveja e traçar um churrasco em algum campo de terra. Pode ser também a descrição da rotina de uma equipe nos primórdios do futebol, quando o termo “profissionalismo” significava que o atleta recebia dinheiro para jogar, e não uma linha de conduta. Mas a história acima se passou no final da década de 1980. Quem a narra é Mirandinha, ex-atacante de Palmeiras, Botafogo e Corinthians – e o primeiro brasileiro a atuar no futebol inglês. Defendeu o Newcastle por três temporadas. Na época, a Inglaterra, inventora do association football, colhia alguns bons resultados em campo, sobretudo com seus clubes nas competições europeias. A seleção tinha – como tem até hoje – só o título mundial conquistado em casa em 1966, mas contava com jogadores talentosos do quilate de Li-
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neker e Gascoigne. No campeonato local, porém, as partidas eram horrorosas. Os times se fechavam em frente da área e o jogo acontecia pelas pontas. E tome cruzamento na área. Os gols saíam de cabeça ou dos rebotes desses levantamentos. O futebol britânico estava longe do que já se via na Itália, na Alemanha, na Espanha e, dependendo do caso, até no Brasil. Avancemos 30 anos no tempo. Talvez soe exagerado dizer que a Premier League reúne os maiores craques e os melhores times do mundo. Os dois melhores jogadores do planeta são um argentino e um português que atuam, respectivamente, na Espanha e na Itália. Já os últimos cinco campeões mundiais de clubes foram espanhóis. E antes disso foi um alemão. E antes disso um brasileiro. E antes... OK, os resultados não favorecem tanto os ingleses, mas nenhum campeonato nacional de futebol movimenta tan-
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festa azul O Manchester City, um time ousado e veloz, comemorando o título da temporada 2018/2019 do Campeonato Inglês
o Brasileirão ficava em US$ 1 bilhão, na sexta colocação no futebol e 11ª no geral do esporte mundial. Tem mais. Segundo a versão de 2019 da Football Money League, estudo anual da consultoria econômica Deloitte, nove dos 20 clubes com maior faturamento no mundo são ingleses: Manchester United (3º), Manchester City (5º), Liverpool (7º), Chelsea (8º), Arsenal (9º), Tottenham (10º), Everton (17º), Newcastle (19º) e West Ham (20º). Nesse mesmo grupo há apenas quatro equipes italianas, três espanholas, três alemãs e uma francesa. A FALÊNCIA DO FUTEBOL ITALIANO a temporada europeia de 2018/2019 esses números se refletiram em gols e títulos. Pela primeira vez na história, tanto a Champions League quanto a Liga Europa tiveram nas finais equipes de um mesmo país. Todos ingleses: Liverpool e Tottenham definiram a Champions; Chelsea e Arsenal fizeram o clássico londrino na Liga Europa. O que a Inglaterra fez para ter essa virada? Bem, em 30 anos dá tempo para muita coisa. E o futebol inglês soube usar muito bem esse tempo. Como costuma acontecer, a reviravolta começou em um momento de crise gravíssima, a segunda metade da década de 1980, quando era preciso agir para evitar a déblâque. Duas tragédias fizeram os times ingleses amargar uma suspensão de cinco anos para competições internacionais. Em 1985, Juventus e Liverpool se enfrentaram na final da Copa dos Campeões da Europa (precursora da Liga dos Campeões). O time italiano levou o título. Mas o jogo foi o que menos importou. Uma superlotação causada por uma invasão de hooligans no estádio Heysel, na Bélgica, provocou um massacre. O saldo: 39 mortos e 600 feridos. Quatro anos depois, na semifinal da Copa da Inglaterra, o Liverpool foi enfrentar o Nottingham Forest, em Sheffield. Saldo ainda pior: 96 mortos e 766 feridos. As forças de segurança culparam as vítimas. O discurso foi endossado pela primeira-ministra Margaret Thatcher. Muitos torcedores do Liverpool prometeram festejar o dia da morte da Dama de
N A p r e m i e r L e a g u e m ov i m e n t a e m d i n h e i r o q ua s e o d o b r o d o r i c o c a m p e o n a t o a l e m ão
to dinheiro quanto a Premier League. Em levantamento da HowMuch.net, empresa dedicada a estudos econômicos, em 2016 a Premier League despontou como a terceira de maior faturamento no mundo. Sim, atrás apenas da NFL (futebol americano) e da MLB (beisebol). O Campeonato Inglês movimentava US$ 5,3 bilhões, quase o dobro dos US$ 2,8 da Bundesliga (Alemanha), a segunda colocada no futebol. Como parâmetro,
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Ferro. Em 8 de abril de 2013, eles cumpriram a promessa. Passada a tempestade, o único caminho era rentabilizar com o campeonato local. O governo passou a forçar a transformação dos clubes ingleses em empresas. Investidores entraram no futebol. Capitalizar se tornou uma das prioridades. Na época, a Football League comandava as quatro divisões profissionais da Inglaterra, mas os grandes queriam mais autonomia para gerir a elite. A federação inglesa via com bons olhos uma cisão, pois queria ter mais participação na organização do campeonato. Surgia a Premier League. Oliver Seitz, diretor do mestrado em negócios do futebol do Fútbol Club Barcelona e PhD em negócios do futebol pela Universidade de Liverpool, explica: “A Sky, grupo de comunicação do Rupert Murdoch, não estava bem, mas ele percebeu que filmes, pornografia e futebol sustentavam a TV por assinatura. Por isso, comprou os direitos de transmissão da liga em um processo que, descobriu-se depois, foi fraudulento pela forma como influenciou os clubes a fundarem a Premier League”. Centenas de milhões de libras entraram na primeira divisão inglesa, mas, de uma temporada para a outra, não se podia mais ver futebol sem TV paga. “O futebol inglês aumentou o seu valor de mercado, em detrimento do acesso das massas”, diz Seitz. “Pelo tamanho da economia alemã, a Bundesliga poderia ser muito mais rica do que é. Mas a Alemanha não permite tirar das camadas populares o acesso ao futebol.” Esse processo ocorreu na primeira metade da década de 1990, período em que houve também a modernização nos
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estádios como parte das medidas para combater a violência de torcidas. Ainda assim, a Premier League permanecia muito focada para o público interno, os próprios clubes ainda tinham elencos com poucos jogadores não britânicos. Um ponto de mudança foi a Eurocopa de 1996, na ocasião disputada na Inglaterra. Tim Vickery, jornalista inglês que trabalha como correspondente de BBC Sport e World Soccer no Rio de Janeiro, comenta: “Jogadores de toda a Europa puderam ver o que havia se tornado o futebol inglês, os estádios modernizados, a relação com o público. E esse público também entrou em contato com os jogadores de fora”. Vickery lembra que vários dos destaques do torneio, como Suker (Croácia), Futre (Portugal), Poborsky (República Tcheca), Raducioiu (Romênia) e Kanchelskis (Rússia), foram contratados por times britânicos. Assim, o produto em campo melhorou e a Premier League se tornou mais atrativa ao público internacional. Segundo ainda Vickery, depois dos jogadores estrangeiros, chegaram os técnicos. Nisso, Arsène Wenger (francês contratado pelo Arsenal em 1996) teve um papel importante. “Ele não apenas abriu as portas, mas também trouxe novos conceitos de profissionalismo para o dia a dia dos clubes”, analisa o jornalista inglês. “Passou a haver cuidado com a alimentação. A melhora da situação econômica fez com que os jogadores tivessem mais motivação para serem profissionais fora dos campos, os gramados melhoraram.” A Inglaterra sempre teve bons jogadores, mas
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BRAçOS NO AR Mirandinha, o primeiro brasileiro a jogar no futebol inglês, comemorando um gol. Nas outras fotos, os hooligans em ação naqueles velhos tempos e a concorrida medalha de campeão
era impossível jogar um futebol decente entre novembro e fevereiro. “O clima deixava os gramados horríveis, o sistema de drenagem era ruim e muitas vezes o sujeito que cuidava do campo era um ex-jogador que não entendia nada daquilo”, diz Vickery. Mirandinha jogava nesses gramados. E concorda com o jornalista. “O campo virava um lamaçal. Para compensar, eles jogavam areia em cima, mas atrapalhava muito. Era difícil carregar a bola, dominar, sair em velocidade. Já tinha muito jogador bom na Inglaterra. Mas não dava para fazer muita coisa. Por isso tinha tanto chuveirinho e chutão.” Enquanto tudo isso ocorria na Inglaterra, o campeonato italiano, que era o mais importante, entrou em decadência. Napoli, Torino e Fiorentina faliram. A força se concentrou nos gigantes Juventus, Milan e Internazionale. Chegara a hora de a Premier League assumir essa posição. INVESTIMENTO ESTRANGEIRO aquele momento, já na década de 2000, os ingleses perceberam que a Premier League era mais que uma entidade que organizava partidas. “Ela passou a se estruturar como uma empresa de mídia que produzia um conteúdo, e o conteúdo era o campeonato”, afirma Seitz. A liga se tornou uma empresa que disputava espaço no mercado mundial com outros produtos da mesma natureza, como a liga italiana, a liga espanhola e até a NBA (liga de basquete profissional dos EUA) e a NFL (liga profissional de futebol americano dos EUA). Nessa disputa, havia fatores favoráveis à Inglaterra. O fuso horário era bom para públicos de todo o mundo, pois os jogos passam de noite no Japão e na China, à tarde na Europa e de manhã nas Américas. A língua nativa ajuda, pois o inglês é conhecido por pessoas em todas as regiões. A cultura do Reino Unido também é uma referência forte no mundo, sobretudo na música pop e no cinema, mas também em uma indústria de mídia fortíssima, que cria programas de TV para o mundo todo. Além disso, todos os clubes têm história para contar, e isso também ajuda o público de fora a se identificar com alguma camisa. “Tradição não dá para copiar, e o novo futebol inglês funciona também porque o velho existe, com cada time sendo expressão de uma cidade, de uma comunidade, desde o século 19”, comenta Vickery. “A Espanha tem tentado reforçar muito a imagem de sua liga, mas é difícil mostrar que ela é mais do que uma disputa apenas entre Real Madrid e Barcelona.”
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o ava n ç o m a i s r e c e n t e f o i a c h e g a da d o s m e l h o r e s técnicos do mundo
Outra questão é o próprio gigantismo do Campeonato Inglês. O crescimento de vários clubes seu deu com investidores estrangeiros e origem da fortuna suspeita. Alguns tiveram paciência para esperar ou aceitaram absorver prejuízos (casos de Chelsea e Manchester City). Outros desistiram, deixando clubes como o Portsmouth na mão.
Klopp e Guardiola: grandes treinadores
Tudo ia muito bem, mas houve uma surpresa: o pequeno Leicester ganhou o título na temporada 2015-2016. Era como se o São Caetano vencesse o Brasileirão. “Acontece que os grandes times tinham dinheiro e ótimos jogadores, mas não apresentavam um futebol compatível com esse investimento”, analisa Rafael Oliveira, comentarista de Premier League do DAZN. “Foi quando houve uma nova onda de investimentos em técnicos, agora alguns dos melhores. Guardiola chegou ao Manchester City, o Manchester United pegou o Mourinho, o Liverpool foi atrás do Jürgen Klopp, o Chelsea do Antonio Conte e agora do Maurizio Sarri.” Não à toa, os ingleses voltaram a ser protagonistas no cenário europeu. Isso não significa que a Premier League será dominante como a grande liga global de futebol. Esse mercado está em mudança rápida, e vários obstáculos e concorrentes podem aparecer. O primeiro problema é a eventual criação da Superliga Europeia. Por mais força que tenha o futebol inglês, haveria dificuldade em combater um campeonato que reunisse apenas gigantes da Europa. Ainda que os clubes ingleses tenham declarado fidelidade à Premier League, há sérias dúvidas se Manchester United, Manchester City, Arsenal, Chelsea e Liverpool não migrariam para uma liga continental se ela surgisse.
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A BOLHA DA TV que vai acontecer se esse dinheiro de fora parar de entrar ou se quem colocou quiser retirar os lucros? Apesar da grandiosidade da liga, há muito clube com investimento sustentado pela projeção de lucro no futuro”, questiona Seitz. “Já aconteceu de um clube ou outro ter problema, mas foram casos isolados e a liga como um todo não sentiu. Mas pode ser problemático se acontecer com um gigante, pois é capaz dos investidores dos demais times se assustarem. Lembremos do Chelsea. Talvez tenha problema com o Brexit e com os atritos políticos de seu dono russo com o governo inglês.” Um último fator tem a ver com o que fez a Premier League se tornar tão grande: a TV. Muitos analistas consideram que o mercado de venda de direitos de transmissão esportiva está superestimado, em uma bolha. As grandes ligas se beneficiam com isso, mas os valores podem sofrer uma queda brusca e a capacidade de adaptação à nova realidade será fundamental. A Premier League mostrou ter essa habilidade várias vezes nas últimas décadas. Se repetir a dose nesse novo momento, pode consolidar ainda mais sua posição como maior campeonato nacional do planeta. TP
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i m pr ensa
Eterna quinta série A s c e n s ão e qu e da d e A l f r e d E . N e u m a n e d o B a n d o C o s t u m e i r o d e Id i o t a s que ousou cr i a r a
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SURPRESA! Eis que Alfred desponta para o estrelato. Na pĂĄgina anterior, o primeiro nĂşmero
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E m 19 5 2 , o s E s t a d o s U n i d o s e s t ava m i m e r s o s n a s e lvag e m G u e r r a da C o r e i a . A S e g u n da G u e r r a h av i a t e r m i n a d o a p e n a s s e t e a n o s a n t e s . U m c o n f l i t o n u c l e a r m u n d i a l pa r e c i a n ão a p e n a s p o s s í v e l , c o m o i n e v i t áv e l . O c i n e m a e r a m u i t o b e m c o m p o r t a d o. A s h i s t ó r i a s e m q ua d r i n h o s v i v i a m s o b u m a c e n s u r a b r a n da . A t e v ê a p r e s e n t ava u m a p r o g r a m aç ão fa m i l i a r e n o r á d i o s e o u v i a m g r a n d e s o r q u e s t r a s ac a r p e t a da s por de z e na s de v iol i nos c horosos. E r a, e n f i m, u m a e r a d e m e d o, c a r e t i c e e p r e v i s i b i l i da d e n ão s ó n o s EUA c o m o m u n d o a f o r a . M a s q u e m pa r a s s e n u m a b a n c a d e j o r n a i s e m ag o s t o d e 19 5 2 i r i a e n c o n t r a r u m a r e v i s t a e m q ua d r i n h o s d i f e r e n t e d e t u d o o q u e h av i a s i d o p u b l i c a d o.
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la se intitulava MAD e custava 10 centavos de dólar. Sua capa azul mostrava um cenário que misturava o realismo com um estilo de caricatura feita de exageros. A primeira história em quadrinhos, desenhada pelo mestre Jack Davis, trazia uma paródia dos clichês de um filme de terror barato. Ao mesmo tempo, os quadrinhos tinham detalhes que se revelavam a cada releitura. A mesma primeira edição ainda trazia paródias de histórias de ficção científica, policial e faroeste. Quem viu nas bancas do ve-
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rão de 1952 aquela publicação maluca de capa azul não poderia imaginar que ela duraria 67 anos, criaria uma escola de humor e teria profunda influência na cultura do mundo inteiro. MAD nasceu da cabeça de Harvey Kurtzman, filho de imigrantes ucranianos, nascido no bairro do Brooklyn, Nova York, em 1924. No fim da década de 1930, já um ilustrador muito talentoso, descobriu as maravilhas da era de ouro dos quadrinhos. Em 1950, começou a trabalhar na editora EC Comics escrevendo HQs de guerra e policiais.
Dois anos depois, teve a ideia de criar uma revista de humor que somasse suas principais características artísticas: a antena ligada na cultura pop, o espírito satírico e a obsessão por detalhes. “Eu disse a William Gaines [herdeiro da EC] o que eu queria fazer”, relembrou Harvey Kurtzman em 1977. “Ele falou: ‘Bom, eu tenho que ver minha mãe para conseguir o dinheiro para isso’. Jantamos com a mãe dele e eu expus a ideia da revista. Ela arrumou US$ 50 mil, e a gente começou o negócio.” Simples assim. Kurtzman chamou um time classe A de ilustradores: Wallace Wood, Will Elder, Jack Davis e John Severin. MAD começou mal de vendas. No quarto número lançou uma sátira de Superman que fez a edição se esgotar.
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O LADO IRÔNICO DA MÍDIA A revista em 1958, em 1977 e uma pose de Gaines, o homem que se transformou em sinônimo de MAD
ORELHAS DE ABANO s primeiros números de MAD tinham liberdade total de criação. Seus autores parodiavam não só filmes e quadrinhos de terror, muito populares no início dos anos 1950, mas se aventuravam por satirizar linguagens mais “eruditas”, como a literatura e o teatro. Suas capas podiam conter apenas texto, reproduzir a Monalisa, imitar um catálogo de compras, macaquear um caderno escolar etc. Em julho de 1955 surgiu a New MAD, com o logotipo definitivo. Agora não era mais uma revista em quadrinhos, mas uma publicação onde valia tudo. Só em dezembro do ano seguinte a capa trouxe pela primeira vez o mascote Alfred E. Neuman. Com seus dentes separados, orelhas de abano e uma expressão que sugeria certo retardamento mental, Neuman passaria a ser o símbolo de MAD. Seu lema, “What, me worry?” (algo como “o que, eu vou me preocupar?”), virou também o lema da revista. Foi o editor Al Feldstein que levou MAD ao auge e a soergueu a fenômeno cultural definitivo entre 1956 e 1985. Com ele, a revista estabeleceu seu estilo e padrão, com nomes que se tornaram astros do humor gráfico. Basil Wolverton se especializou em retratar a feiu-
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Tudo começou com U S $ 5 0 m i l e m p r e st a d o s pel a m ã e de W illi a m Ga ine s. ele per m a neceu 40 a nos no com a ndo Ali se iniciava um fenômeno de vendas. Mas Kurtzman tinha outros projetos na cabeça e ficou na direção por apenas quatro anos. Já o publisher William Gaines permaneceu 40 anos à frente da publicação. Ele tinha um senso de humor inusitado. Por exemplo: no início dos 1960, quando a revista atingiu seu primeiro milhão de exemplares,
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Gaines descobriu que havia um único assinante na miserável república do Haiti. Então levou todo mundo para a capital, Port-au-Prince. O assinante atendeu a porta e encontrou a redação inteira da MAD. Ganhou uma renovação da assinatura. Em seguida, Gaines deu outra assinatura para o vizinho. Só para dizer que o número de assinantes no Haiti havia dobrado. A MAD trip virou uma tradição. Foram realizadas 27 viagens no total em todos os continentes, exceto Oceania e Antártida. O sucesso financeiro garantia a farra. Em 1966, por exemplo, Gaines levou a redação para a França, Suriname, Itália, Quênia, Grécia, Japão, Inglaterra, Dinamarca e União Soviética. As esposas não eram convidadas.
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marcas registradas Os espiões em guerra perene de Spy vs Spy e o traço genial de Mort Drucker
O HUMOR CONTRA-ATACA Mort Drucker e Dick DeBartolo arrasam Star Wars
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ra. Al Jaffee foi o responsável pela última página que, quando dobrada, revelava uma mensagem secreta. O espanhol Sergio Aragonés era considerado “o cartunista mais veloz do mundo”. Don Martin explorava as profundezas do ridículo no ser humano. O refugiado cubano Antonio Phohias estabeleceu a série Spy vs Spy como uma das marcas da revista. Dave Berg era o cronista de costumes com a série The Lighter Side of…. Um dos nomes mais importantes (e menos festejados) foi o do caricaturista Mort Drucker. Era o responsável pelas sátiras a filmes e séries de TV que, pouco a pouco, se tornaram atração central da revista. Elas possibilitavam que pré-adolescentes tivessem contato com filmes adultos. As caricaturas de Drucker eram tão perfeitas que os grandes astros da tela pareciam ter posado para a ilustração. As pessoas já iam ao cinema (ou assistiam a uma série na TV) imaginando como ela seria parodiada na MAD. Drucker aniquilava qualquer filme ou série. Ao mesmo tempo era uma honra ser parodiado pelo seu traço inconfundível. O CLUBE DA ESPOSA m caso exemplar desse conflito aconteceu em 1980 quando George Lucas lançou O Império Contra-Ataca, da série Star Wars. Tão logo a paródia desenhada por Drucker chegou às bancas, os advogados do cineasta exigiram, sob acusação de plágio, a destruição dos exemplares e entrega de todo o lucro gerado pela edição. Sem
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saber disso, Lucas havia escrito para a MAD uma carta lotada de elogios. Dizia: “Oscars especiais deveriam ser entregues a Drucker e Dick DeBartolo, o George Bernard Shaw e o Leonardo da Vinci da sátira em quadrinhos”. O célebre compositor Irving Berlin também tentou processar a revista em 1964 por parodiar suas letras. A canção “A Pretty Girl is Like a Melody” (“Uma Garota Bonita é como uma Melodia”), por exemplo, virou “Louella Schwartz Describes Her Malady” (“Louella Schwartz Descreve sua Doença”). Mas a Justiça decretou: “A paródia e a sátira merecem uma liberdade substancial, tanto como entretenimento como uma forma de crítica literária e social”. Al Feldstein comemorou a decisão como “uma vitória da liberdade de expressão”. O caso foi levado para a Suprema Corte, e MAD ganhou a causa de vez. A revista não tinha partido. Gozava com igual fúria democratas e republicanos, Ronald Reagan e Fidel Castro, brancos, negros, homens, mulheres, hippies
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e policiais. Sabia que não pode existir humor engajado - ou não seria humor. Tudo virava alvo: modas, doutrinas políticas, publicidade, tendências sociais. Nada abalava o humor de MAD, mesmo em ocasiões traumáticas, como o assassinato de John Kennedy e o atentado de 11 de setembro. A liberdade de combinar temas era total. Assim, a revista criava coisas como “O que aconteceria se as capas das revistas fossem feitas por publicitários?”, “Como crianças entendem os filmes adultos”. Ou “O Clube da Esposa - tenha uma mulher nova a cada mês”. MAD não aceitava publicidade. Vivia de vendas e assinaturas. Por isso, podia esculachar qualquer produto. “Não sei quem lê a MAD”, disse William Gaines ao New York Times, em 1971. “Nem quero saber. Pela correspondência que recebemos, acho que é um adolescente mais velho, predominantemente masculino. O espectro de idade vai dos 10 aos 100 anos, e, é bem provável, tem seu pico nos 18”. Mas os tempos mudaram. Em março de 2001, MAD apareceu toda colorida. E aceitando publicidade.
ÚLTIMAS COLHEITAS Uma edição de 2018 e o CD da peça teatral The MAD Show
TAMBÉM EM PORTUGUÊS A revista teve uma versão brasileira, entre 1974 e 2008
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RUMO A L.A. revista teve de se adaptar a novas mídias. Músicas satíricas foram lançadas, depois reunidas num CD pela gravadora Rhino. A peça teatral The MAD Show ganhou montagem no circuito off-Broadway e teve respeitáveis 871 apresentações. Em 1999, toda a coleção da revista até então foi reproduzida num CD-ROM. Em 1980 houve a tentativa de lançar um filme com a grife da revista (Up the Academy), mas o fracasso resultou tão grande que a publicação desligou seu nome da comédia e ainda dedicou a ela uma de suas arrasadoras paródias. Entre 1995 e 2006, a Warner produziu um programa semanal batizado de MAD TV, vagamente inspirado na revista. Não foi um sucesso absoluto, mas durou 15 temporadas, com um breve retorno em 2016. Até a Cartoon Network botou no ar um programa infantil com a marca MAD entre 2010 e 2013. MAD, a revista, conheceu 29 edições internacionais. Entre outros países, ganhou as bancas do México, Hungria, Finlândia, Índia, Israel, China, África do Sul, Islândia, Japão e Tailândia. No Brasil, foi publicada de 1974 a 2008, tendo como comandante o cartunista Otacílio D’Assunção, o Ota. Por 65 anos e 550 edições, MAD permaneceu uma instituição
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no coração de Manhattan, com sede no número 485 de uma avenida que a redação rebatizou de MADison Avenue. No final de 2017, como resultado de uma fusão com a DC Comics e Warner Brothers, mudou-se para Los Angeles. Toda a redação foi substituída, assim como mudou a direção de arte e a orientação editorial. Dez edições depois, em julho de 2019, já sob a bandeira da AT&T, a revista anunciou que a partir de 2020 reaproveitaria o vasto acervo de 67 anos de produção. Material original, só em edições especiais. Para todos os efeitos ficou constatado o fim da MAD como o mundo a conheceu em agosto de 1952. Mesmo com seu fim, prossegue como um marco na história do humor satírico, um parâmetro seguido depois pela revista National Lampoon e pelo programa de TV Saturday Night Live. Ela transformou o humor adolescente num grande negócio. Uma das suas últimas propagandas sintetizava seu espírito: “Resista a amadurecer! Assine MAD”. TP
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Terraço majestoso Após uma reforma de quase R$ 2 bilhões, Bürgenstock Resort reabre as portas em Lucerna, na Suíça
São apenas 10 minutos de funicular. Ele sobe a montanha em meio a pinheiros e neve. A 500 metros de altitude você desce. Só então tem uma ideia da grandiosidade do lago Lucerna. Bem-vindo ao Bürgenstock Resort, a meia hora de barco de Lucerna, a sétima maior cidade da Suíça, com 77 mil habitantes. Contando apenas a área destinada aos tratamentos do Alpine Spa, são 10 mil metros quadrados divididos em três andares. Ali estão oito salas terapêuticas, três salas privativas, um amplo leque de saunas e serviços. Além da piscina de borda infinita, climatizada a 35 graus durante o ano todo. O lugar reabriu recentemente, depois de uma reforma equivalente a R$ 2 bilhões. A vista foi feita para ser compartilhada, muito além das redes sociais. Todas as 102 suítes oferecem paisagem semelhante. Ela também pode ser vislumbrada de outros trechos, como o bar do lobby, salas de reuniões e, claro, o spa. À esquerda, lá está o monte Pilatus, com seus imponentes 2,1 mil metros de altitude. Ao centro, destaca-se a charmosa cidade murada de Lucerna. À direita, observam-se pequenos municípios como Meggen e Weggis. Tudo à beira do lago, que ganha desenhos por conta das rotas dos barcos durante o dia e pontos de luz ao longo da noite.
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no calor do momento A piscina de borda infinita é climatizada a 35 oC. Celulares foram banidos em horários de alto movimento, em respeito à privacidade dos hóspedes
As suítes oferecem entre 42 e 678 metros quadrados de área privativa. Além das facilidades do spa, os hóspedes contam com dez opções de restaurantes – de gastronomia suíça a asiática. Também dispõem de acesso a Lucerna por um barco com área privativa e saídas a cada hora. Os hóspedes têm ainda a escolher um campo de golfe de nove buracos, lojas diversas, cinema e atrações sazonais, como pista de patinação no gelo para o inverno e a chamada Hollywood Pool para o verão. A piscina recebeu tal batismo por receber grandes nomes do cinema, de Audrey
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Hepburn a Sophia Loren. Audrey, inclusive, casou-se com Mel Ferrer na capela da propriedade em 1954. Já Sophia escolheu a montanha para ser sua casa por alguns anos. É comum caminhar por algumas áreas do hotel e deparar com hóspedes em seus roupões de spa. Por ali, não é difícil, também, sentir-se uma estrela de Hollywood tentando o anonimato. Em comum, ninguém quer encontrar uma cortina fechada pelo caminho. buergenstock.ch
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