The President

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ELE BOTOU OLÍMPIA NO OLIMPO Nº 49 ABRIL | MAIO 2021

LYDIA SAYEG BROUGH, A VOLTA GLAMOUROSA DO ROLLS-ROYCE DAS MOTOCICLETAS POR LUIZ GUERRERO

REINHOLD MESSNER, O ALPINISTA QUE PERMANECE NO TOPO

POR QUE AS EMPRESAS DÃO MAIS ATENÇÃO AOS RECURSOS HUMANOS

POR XAVIER BARTABURU

POR LUIZ MACIEL

EDIÇÃO 49 R$ 28,00

CEO DA CASA LEÃO

ISSN 2595-8275

Nº 49 ABRIL | MAIO LYDIA SAYEG

HEBER GARRIDO DIRETOR DO GRUPO FERRASA


No trânsito, sua responsabilidade salva vidas.


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EDITORIAL

“Pensei que o mundo fosse se acabar.” Assim reagiu o experiente Marcos Roberto Cruz, 62 anos, tão logo a pandemia começou no país, ainda em março do ano passado. O comandante do Grupo Canopus, conglomerado de 41 empresas – a maior parte delas concessionárias de veículos –, sentiu, já no primeiro mês, os efeitos econômicos da crise. “As vendas caíram 70 %”, relembra. Pouco mais de um ano depois, Cruz perdeu o pessimismo com relação aos negócios. “O ano de 2021 será muito bom para o setor de automóveis”, prevê. “E 2022, melhor ainda.” A joalheira e empresária Lydia Leão Sayeg, herdeira da Casa Leão Joalheria, fundada por seu avô há 109 anos, também sentiu no caixa, de chofre, os efeitos da pandemia. Mas procurou, o mais rápido possível, se adequar ao novo contexto. “Darwin já falava: só sobrevive quem se adapta”, resume. Lydia se aproximou ainda mais dos clientes, investiu com vigor nas redes sociais e até criou uma empresa para intermediar negócios. Tudo para que a Casa Leão Joalheria possa viver mais um centenário na plenitude. Outros dois personagens desta edição também passaram por percalços com a crise, mas, da mesma maneira, estão vendo com otimismo o futuro dos negócios a médio prazo. Heber Garrido, diretor de marketing e vendas do Grupo Ferrasa, que investe em resorts e parques temáticos na cidade paulista de Olímpia – abençoada com águas termais quentes naturais —, admite que o setor de turismo sofreu mais em relação a vários outros. No entanto, já começa a se recuperar. Sobretudo em virtude da demanda reprimida. “Os resorts do estado de São Paulo com facilidade de acesso estão na frente na retomada”, comemora. Por seu turno, Paula Costa, VP de marketing da Diageo, empresa britânica conhecida como a maior fabricante de bebidas alcoólicas do mundo, sentiu o baque comercial em virtude da carteira de clientes: mais da metade das vendas da empresa é feita para bares e restaurantes, diversos deles obrigados a fechar temporariamente as portas. “Nós nos orgulhamos de apoiar o segmento neste momento”, diz a executiva, relatando que a Diageo contribuiu com US$ 100 milhões a serem distribuídos no setor. Apesar dos transtornos, Paula Costa comemora os 200 anos de um dos mais significativos produtos do portfólio da empresa: o uísque escocês Johnnie Walker. A propósito, o tradicional slogan da marca bicentenária vem a calhar nos dias correntes: Keep walking. Traduzindo: Continue caminhando. É o melhor a fazer. Boa leitura.

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CIDADE JARDIM SÃO PAULO (11) 3198-9458 VILLAGE MALL RIO DE JANEIRO (21) 3252-2846


EXPEDIENTE THE PRESIDENT PUBLICAÇÃO DA CUSTOM EDITORA

PUBLISHERS André Cheron e Fernando Paiva

REDAÇÃO DIRETOR EDITORIAL Fernando Paiva fernandopaiva@customeditora.com.br DIRETOR EDITORIAL ADJUNTO Mario Ciccone mario@customeditora.com.br EDITORA EXECUTIVA E DIGITAL Marina Lima marinalima@customeditora.com.br ARTE DIRETORES Ken Tanaka e Raphael Alves raphaelalves@customeditora.com.br COLABORARAM NESTE NÚMERO TEXTO Beto Gerosa, Françoise Terzian, Luciana Lancellotti, Luiz Maciel, Luiz Guerrero, Marcello Borges, Raphael Calles, Ricardo Chaves Prado, Silvio Lancellotti, Walterson Sardenberg Sº e Xavier Bartaburu, FOTOGRAFIA Claus Lehmann, Gabriel Reis, Germano Lüders, Juan Steves e Tuca Reinés TRATAMENTO DE IMAGEM Felipe Batistela REVISÃO Goretti Tenorio

THE PRESIDENT facebook.com/revistathepresident @revistathepresident www.customeditora.com.br

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COMERCIAL, PUBLICIDADE E NOVOS NEGÓCIOS DIRETOR EXECUTIVO André Cheron andrecheron@customeditora.com.br DIRETOR COMERCIAL Ricardo Battistini battistini@customeditora.com.br GERENTES DE CONTAS E NOVOS NEGÓCIOS Marcia Gomes marciagomes@customeditora.com.br Mirian Pujol mirianpujol@customeditora.com.br ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO ANALISTA FINANCEIRO Alessandro Ceron alessandroceron@customeditora.com.br REPRESENTANTES REGIONAIS GRP – Grupo de Representação Publicitária PR – TEL. (41) 3023-8238 SC/RS – TEL. (41) 3026-7451 adalberto@grpmidia.com.br Tiragem desta edição: 35.000 exemplares CTP, impressão e acabamento: Coan Indústria Gráfica Ltda. Custom Editora Ltda. Av. Nove de Julho, 5.593, 9º andar – Jardim Paulista São Paulo (SP) – CEP 01407-200 Tel. (11) 3708-9702 ATENDIMENTO AO LEITOR atendimentoaoleitor@customeditora.com.br Tel. (11) 3708-9702


M A R I S A

C L E R M A N N

São Paulo | Presidente Prudente

w w w. m a r i s a c l e r m a n n . c o m . b r @marisaclermannjoias 1 1 3 0 62 -7 7 6 3 / 1 1 94 0 6 0 -9 57 9


SUMÁRIO

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28 AVENTURA

60 LENDA

116 PALADAR

A nova jornada de Reinhold Messner,

A volta da britânica Brough, conhecida

De Nero a Abraham Lincoln, as ostras

o maior alpinista de todos os tempos

como o Rolls-Royce das motocicletas

vêm encantando aficionados mundo afora

32 TEMPO

74 MERCADO

124 TURISMO

IWC e Panerai destacam importância

É agora mesmo: o momento certo de

Como Heber Garrido, do Grupo Ferrasa,

de preservação do meio ambiente

investir em imóveis no exterior

se preparou para a retomada do turismo

36 MEMÓRIA

80 ENTREVISTA

140 EMPRESAS

Ele virou um grande cachê do cinema.

Lydia Leão Sayeg é a reluzente terceira

Por que as empresas inovadoras investiram

Sem jamais deixar de ser Steve McQueen

geração de uma família de joalheiros

como nunca na área de recursos humanos

46 QUADRINHOS

90 NEGÓCIOS

148 VAREJO

Era só um garoto belga com gosto pela

Ele vendia coxinhas na rua. Hoje, Marcos

Como o mercado de luxo vem encarando (e

aventura. Mas Tintim conquistou o planeta

Roberto Cruz comanda 41 empresas

vencendo) os desafios dos tempos atuais

54 PERFIL

100 GOURMET

154 OPINIÃO

O barão Philippe Rothschild pode morar

Paula Costa, VP de marketing da Diageo,

As novas tecnologias vieram para facilitar.

num castelo. Preferiu São Paulo

comemora os 200 anos do Johnnie Walker

Facilite a entrada delas na sua empresa

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EMPRESAS

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ENTREVISTA

Maça, como o chamam os amigos, costuma terminar as tardes com uma taça de vinho (prefere Bordeaux aos Borgonha) na varanda de sua casa na serra da Cantareira, no extremo norte da capital paulista. Ali recebeu o convite para escrever o texto sobre as novidades da área de Recursos Humanos. Jornalista com mais de quatro décadas de experiência na grande imprensa, ele esteve nas redações do Jornal do Brasil, Quatro Rodas e Caminhos da Terra, entre outros veículos.

Restaurantes e bebidas são uma especialidade desta paulista de Santos. Luciana foi jurada de prêmios internacionais do quilate do World’s 50 Best Restaurants e do Latin America’s 50 Best Restaurants. Também atuou ao longo de sete anos como colunista de gastronomia da revista Playboy dos bons tempos, além de dirigir a redação de Wine.com. A pessoa certa, portanto, para entrevistar Paula Costa, da Diageo, a maior fabricante de bebidas do planeta.

Ele nasceu em Pindamonhangaba (SP), terra natal de dois eternos presidenciáveis: Geraldo Alckmin e Ciro Gomes. Mais do que a dupla de conterrâneos, tem uma carreira internacional. Entre 2002 e 2008, trabalhou como fotógrafo na Europa. Primeiro em Munique, na Alemanha. Depois em Milão, na Itália. De volta ao Brasil, manteve vários clientes europeus e tem se destacado na prática do portrait. É dele o retrato da capa desta edição.

LENDA

TURISMO

NEGÓCIOS

Desde 1983, quando, aos cinco anos de profissão, ingressou no suplemento Jornal do Carro do saudoso Jornal da Tarde, nosso colaborador tem se dedicado ao jornalismo automotivo. Viveu três anos na Europa cobrindo Fórmula 1. Mais tarde trabalhou em Quatro Rodas, antes de lançar no Brasil títulos internacionais de prestígio, incluindo Car and Driver e Cycle World. Votado pelos colegas, foi premiado um dos mais admirados profissionais do setor pelo Jornalistas & Cia.

Ecletismo é com ele mesmo. Ricardo é jornalista, editor de livros e roteirista de cinema e televisão, além de romancista com sucesso de crítica. Também foi coordenador de comunicação estratégica da Fundação Abrinq. Diretor de redação de várias revistas de náutica e educação – entre elas, as longevas Náutica e Nova Escola –, tornou-se colaborador assíduo de THE PRESIDENT. Assina nesta edição a entrevista com Heber Garrido, do Grupo Ferrasa.

Todo o mundo o conhece como Berg. Até mesmo os dois filhos. Walterson só para os registros oficiais. Jornalista desde 1978, este paulistano torcedor do Santos Futebol Clube, nascido no dia em que John Lennon e Paul McCartney se conheceram – 6 de julho de 1957 –, batucou as teclas nas redações de Manchete, Placar, Brasileiros, Viagem & Turismo e da própria THE PRESIDENT. É o autor da entrevista com o empresário Marcos Roberto Cruz nesta edição.

LUIZ MACIEL

LUIZ GUERRERO

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LUCIANA LANCELLOTTI

RICARDO PRADO

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AVENTURA

A SUBLIME ARTE DA CONQUISTA DO INÚTIL Aos 76 anos, Reinhold Messner, maior alpinista do mundo, se prepara para o que chama de “Expedição Final” Por XAVIER BARTABURU ELE PERDEU UM IRMÃO E SETE DEDOS DOS PÉS para as montanhas. Em troca, elas lhe deram a oportunidade de se tornar aquele que é tido como o maior alpinista vivo. Isso inclui nove recordes no Guinness e uma lista de façanhas que até os médicos duvidavam que um humano fosse capaz de realizar. Alcançar o cume do Everest sem o uso de tubo de oxigênio, por exemplo, confiando os pulmões aos 40 graus negativos do pouquíssimo ar respirável que 8.848 metros de altitude podem oferecer. Messner foi o primeiro do mundo a fazê-lo, em 1978; e ainda repetiu o feito dois anos depois, desta vez sozinho. Não satisfeito, tornou-se também o primeiro a escalar todas as 14 montanhas do planeta acima dos 8 mil metros – todas sem oxigênio complementar. Nascer nos Alpes ajudou – Messner é do Tirol do Sul, região de fala alemã no norte da Itália, na fronteira com a Áustria. Não só pela vantagem fisiológica de respirar o ar da montanha desde o primeiro choro, mas também porque seu pai era um montanhista amador que gostava de levar os filhos a passar os finais de semana explorando as Dolomitas. Elas eram o quintal de casa. Daí que Messner alcançou seus primeiros mil metros com 5 anos de idade; aos 20, já tinha escalado mais de 500 picos. Foi quando desenvolveu o que chama de “instinto natural”: como se as montanhas, a cada passo rumo ao cume, fossem lhe sussurrando o caminho certo, ajudando-o a evitar as pedras soltas, a ler com atenção as nuvens, a ouvir o vento. “O mais importante é estar atento”, disse ele em entrevista à THE PRESIDENT em abril, durante o lançamento da coleção de relógios 1858 (linha Geosphere, edição Desert, limitada a 1.858 peças), em parceria com a Montblanc e inspirada em sua travessia do deserto de Gobi (sim, ele também cruzou desertos). Não se trata de destreza, mas de clareza: Messner argumenta que o grande montanhista é aquele que aceita as regras da natureza e, tomado de bom senso, avalia quando é possível avançar, quando é necessário recuar. Se o alpinista continua vivo, é porque soube desistir na hora certa muitíssimas vezes. Pelo

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menos um terço das expedições de Messner fracassaram. Ele costuma dizer que gostaria de ser lembrado como “o alpinista que falhou mais do que ninguém”. E tudo bem: “Falhar me ensinou que sou humano”, reconhece. Admitir os limites de nossa espécie frente à natureza, segundo ele, é a chave para se manter vivo. “Quanto mais você escala, mais entende quão pequeno você é. Nós não conquistamos montanhas, elas é que nos permitem ficar lá por algumas horas.” A TRAVESSIA DA ANTÁRTICA Isso é Reinhold Messner agora, aos 76 anos, com sete décadas de escaladas e fracassos nas costas. Aos 25 anos, quando alcançou pela primeira vez um cume acima dos 8 mil metros, no Himalaia, isso certamente não estava tão claro. A expedição ao Nanga Parbat, em 1970, entrou para a história do alpinismo como a primeira grande conquista de Messner e, ao mesmo tempo, sua maior derrota. Foram quatro dias que mudaram sua vida, iniciados no momento em que decidiu abandonar o grupo e tentar o cume sozinho, ao que foi seguido por seu irmão, Günther. Ambos chegaram ao topo, mas foram pegos por uma avalanche na descida. Günther perdeu a vida na jornada e Reinhold sete dedos dos pés, necrosados pelo frio. Por muitos anos se especulou que Messner teria abandonado o irmão para poder sobreviver, fato que seria refutado décadas mais tarde, ao serem encontrados os restos mortais de Günther no Nanga Parbat.


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A V E N T U R A

“Foi ali onde tudo terminou e onde tudo começou”, escreveu Messner em um de seus mais de 60 livros. Sentindo-se culpado por não ter salvado a vida do irmão e, devido à perda dos dedos dos pés, impossibilitado de continuar escalando paredões de altitude, sua maior especialidade até então, ele concentrou-se no desafio único de escalar os picos mais altos do planeta com o mínimo de equipamento possível. É o que se conhece por “estilo alpino”, um modo de escalar montanhas em que o montanhista prescinde de uma estrutura de expedição. Tudo de que precisa ele carrega na mochila – e o ar nos pulmões. Em 1986, aos 42 anos, Messner ascendeu ao topo do último dos 14 picos acima dos 8 mil metros que ainda lhe restava. Nos anos seguintes, deu um tempo no seu playground pessoal, o Himalaia, e decidiu correr o mundo: escalou os picos mais altos de cada continente (os chamados “Sete Cumes”), subiu montanhas sagradas de povos como os Maasai, na África, e os Navajo, nos Estados Unidos, e, talvez cansado de se deslocar na vertical, passou a realizar grandes travessias a pé. Atravessou a Antártica

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e a Groenlândia de ponta a ponta, ambas sem o uso de motos de neve ou trenó de cães, e, aos 60 anos, cruzou sozinho os 2 mil quilômetros de extensão do deserto de Gobi, entre a China e Mongólia. Em meio a uma expedição e outra, ainda arranjou tempo para se arriscar na política: entre 1999 e 2004, ocupou uma cadeira como membro do Parlamento Europeu. Com a travessia do deserto de Gobi, Messner deu por encerrada sua carreira de aventura e passou a dedicar todos os seus esforços na construção de um legado do montanhismo. A começar pelo Messner Mountain Museum, projeto tão pouco modesto quanto suas expedições: um conglomerado de seis museus no Tirol do Sul construídos ao longo de uma década que contam “a história da relação entre a humanidade e as montanhas”. Agora, enquanto finaliza sua série de filmes sobre a história do alpinismo, ele se prepara para o que chama de “Expedição Final”: uma volta ao mundo composta de palestras, conferências e encontros com jovens escaladores para disseminar “a herança do montanhismo tradicional”.


A travessia do deserto de Gobi inspirou a Montblanc a lançar a coleção 1858, linha Geosphere, edição Desert

O GRANDE LEGADO Adiada em função da pandemia, a expedição estava programada para começar na Nova Zelândia no meio de 2020 – coincidentemente, na mesma época das também postergadas Olimpíadas do Tóquio. O fato é relevante pois estes serão os primeiros Jogos Olímpicos que terão o alpinismo como modalidade esportiva; no caso, uma corrida por uma “parede de plástico”, como ele define. “As gerações de hoje veem o montanhismo de um modo totalmente diferente”, lamenta Messner. E isso inclui assistir ao Everest se transformar em uma atração turística de massa, com filas de acesso ao cume, ou ver como GPS, helicópteros e imagens de satélite tornaram mais fácil a subida a montanhas que ele penou para desbravar. “A evolução do montanhismo em 250 anos tem sido numa única direção: as novas gerações tratando de superar o que as gerações anteriores julgavam impossível”, argumenta. “Se o montanhismo não

estiver à frente do impossível, ele morrerá.” Daí seu empenho em manter a chama da tradição iluminando os caminhos rumo ao cume. Até porque nem tudo, segundo ele, foi conquistado: “Há muitas montanhas acima de 7 mil metros que nunca foram escaladas, muito mais difíceis que as que eu escalei”. Por sorte existem jovens comprometidos com esse legado, e são eles que Messner quer passar os últimos anos de sua vida conhecendo. Depois de 70 anos se deslocando na vertical e na horizontal, ele diz que agora se move “na direção da mente”, interessado em investigar a força magnética que mantém pessoas e montanhas perigosamente conectadas. Afinal, quantos já morreram tentando chegar primeiro aos cumes do mundo? Messner reconhece o despropósito: “Subir montanhas não é uma necessidade. É inútil. Nós somos os conquistadores do inútil”, diz. “Mas é uma possibilidade. E o que nos move é fazer da possibilidade uma realidade, e extrair sentido disso. As montanhas estão lá, elas não dão a mínima para a gente. Nós é que pomos beleza nelas.” E Messner emenda citando o poeta inglês William Blake (1757-1827), o bardo que escreveu que “grandes coisas acontecem quando homens e montanhas se encontram”. Messner completa: “Essas grandes coisas que acontecem são as que me interessam”. TP montblanc.com.br

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TEMPO

A HORA DO MEIO AMBIENTE

Alvaro Maggini, da Panerai, inova com relógios feitos com material reciclado e dita tendência para a alta relojoaria Por RAPHAEL CALLES

O DIRETOR DE CRIAÇÃO DA PANERAI está animado. O suíço Alvaro Maggini acredita que 2021 ficará conhecido como o ano da sustentabilidade para a maison. Dois relógios marcam o início dessa nova era. O primeiro deles, Luminor Marina eSteel, tem caixa de aço reciclado, pulseira de PET reutilizado e um total de 58,4% do peso em material sustentável. Já a grande apresentação da marca, o Submersible eLAB ID, conta com 98,6% do

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peso elaborado com substâncias recicladas. No cargo desde fevereiro de 2019, Maggini tem planos ainda mais ousados. THE PRESIDENT _Este é o ano da sustentabilidade para a Panerai. Como a marca se aproximou dessa ideia? Alvaro Maggini - Precisamos preservar os oceanos, a atmosfera, toda a natureza. No Brasil, sabemos que é preciso tomar


medidas para resguardar as florestas. A maneira de a Panerai atuar nessa defesa é apoiar pessoas envolvidas nesses projetos. A Panerai construiu uma rede muito forte para divulgar essa mensagem ao mundo. Pessoas fortes, uma rede forte, uma mensagem forte. Eis a ideia. Temos embaixadores que ajudam a espalhar essas mensagens. E quanto aos produtos? Para nós, o principal não é chegar apenas com relógios que tenham sido desenvolvidos com preocupações ecológicas. Como você sabe, um de nossos lançamentos, Submersible eLAB ID, chega ao mercado com 98,6% feito de material reciclado. Parece um projeto maluco, sim. Mas, mais do que isso, queremos trabalhar um conceito. É um projeto ecológico. É como um guarda-chuva. Para Panerai, é um enorme compromisso reduzir seu impacto ambiental. Essa é a mensagem-chave. Há outros desdobramentos no projeto? Sim. Há nossa parceria com a Unesco. Ela permitirá que desenvolvamos atividades de proteção aos oceanos. Além disso, nossas butiques terão cada vez mais material reciclado, a começar pelos carpetes. No futuro, serão 100% elaborados com materiais vindos do oceano. É inacreditável, porque parece cashmere, mas veio dos oceanos. Também vamos usar madeira reciclada. Construiremos objetos de metais como um Lego, pois serão mais flexíveis, requererão menos tempo de produção, menor transporte. Tudo de uma maneira mais simples. E esse metal também será reciclado. Não compraremos novos.

Submersible eLABID: 98,6 % do peso em materiais recicláveis

O projeto é a longo prazo? Olha, já agora, em abril, cerca de 78% dos materiais de nossas lojas são reciclados. Sem esquecer de algo muito importante: reduziremos o plástico. E, finalmente, nossos presentes para clientes. Temos um projeto com gastronomia: temos trabalhado em algo muito maluco com um grande chef que vai usar alimentos ecológicos inclusive na “reciclagem” de comida. O café italiano virá de plantações protegidas. Todas as nossas lojas, de São Paulo à China, dos Estados Unidos à Suíça, trabalharão com muitos produtos locais. Como manter luxo e sustentabilidade andando em conjunto? Ainda há uma ideia equivocada de que produtos reciclados são de menor qualidade. Reciclado não significa barato. Quer dizer, na verdade, um longo trabalho

com pessoas engenhosas e de grande conhecimento técnico. São muitas pessoas trabalhando nisso, anos e anos de estudo para chegar a produtos sustentáveis. Hoje em dia é uma vergonha não agir nesse sentido. Stella McCartney começou isso há quase 20 anos. Ela nasceu no mundo do luxo. As embalagens, em geral, sempre foram pouco ecológicas. Como fazer? Elas já não são tão importantes. Dos anos 1970 até a primeira década do novo milênio, tudo tinha muito pacote. Hoje, isso não é mais luxo, isso é vulgaridade. O importante é o produto, e não o invólucro. Temos na Panerai o Laboratorio di Idee, com pessoas criativas e brilhantes, sejam suíças ou italianas. Elas bolaram um produto 98,6% reciclado. Confesso: eu achava que era impossível. E o produto é maravilhoso. panerai.com

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T E M P O

O PAPEL DA RELOJOARIA A IWC atua até nos detalhes na preservação do meio ambiente Por RAPHAEL CALLES

CHRISTOPH GRAINGER-HERR, CEO DA RELOJOARIA IWC desde 2017, está animado com as novidades da maison, que, como de costume, tem uma coleção anual. A linha Pilot’s foi a escolha para 2021. O executivo destaca uma peça em especial – e não se trata de um relógio. TimberTex é o novo material usado como opção de pulseiras. Com base em papel de baixo impacto – e celulose certificada pelo Forest Stewardship Council (FSC) –, tem 80% de fibras vegetais. Produzidas na Itália com técnicas tradicionais de fabricação de papel, as pulseiras são coloridas com tintas naturais à base de plantas. Eis a conversa de Grainger-Herr com THE PRESIDENT: Como estão os planos para o Brasil, com a butique online recém-lançada? Adoramos a comunidade de colecionadores do Brasil e tentamos estar próximos dela. Por isso lançamos a loja online. Ela nos dá um acesso muito mais amplo. Tivemos uma boa aceitação, com uma apresentação da loja pouco antes do Natal. Existe uma tendência conservadora na relojoaria. Mas a IWC parece seguir outros caminhos. Nos últimos seis anos, investimos na nossa manufatura na Suíça. Desde o início, integramos verticalmente nossos movimentos para apresentarmos modelos menores, maiores, com mais diâmetro e criando uma gama completa de calibres de fabricação própria. Desse trabalho intenso resultou, por exemplo, o Ceratanium, com nossa liga de ouro Armor Gold e nossos outros materiais sustentáveis, como as pulseiras elaboradas em fibra de papel.

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Como você insere a fibra de papel no plano de sustentabilidade da marca? Nossa estratégia de sustentabilidade é consistente há 153 anos. Procuramos produzir os relógios mecânicos mais comprometidos com o futuro do planeta. Isso começa com uma manufatura que se preocupa com a comunidade ao redor, que trabalha na construção de conhecimentos na educação relojoeira e com um design que vai durar para sempre. Também reduzimos o plástico das embalagens e o tamanho da sacola para entrega. Produtos de luxo são para presentear e aproveitar sem que alguém se sinta mal por isso. Como manter valor agregado em materiais reciclados? A fibra de papel é 80% natural e animal free, mas sem deixar de ter o toque de um produto IWC. Atendeu a todos os testes que fazemos com as pulseiras, seja de resistência, de torção, todos eles, enfim. Eis de onde o valor vem. Não é fácil ter o máximo de qualidade usando material reciclado. Como foi o desenvolvimento do produto? Nosso cliente exige muita qualidade. O produto tem de ser lindo, o toque precisa ser ótimo e o aroma também. Rejeitei uma pulseira reciclada porque não tinha cheiro bom. Detalhes fazem a diferença. Quando toquei, não parecia um produto IWC, o aroma não era de um produto IWC. Não basta ser reciclado, precisa passar pelo nosso crivo. iwc.com.br


DE NOVO JUNTAS, TAG HEUER E PORSCHE Elas se uniram para criar um relógio em edição especial, que prima pela esportividade Por RAPHAEL CALLES VELOCIDADE, INOVAÇÃO, SENSO DE AVENTURA, precisão. Esses são alguns atributos que TAG Heuer e Porsche compartilham entre si. Edouard Heuer e Ferdinand Porsche, fundadores das marcas, foram visionários e pioneiros. Cada um mudou o destino de sua área de atuação. Heuer, por exemplo, criou o primeiro cronógrafo manufaturado do mercado. Porsche, entre outras inovações, desenhou um motor elétrico de cubo de roda. Anos mais tarde, ambas as marcas trabalharam em conjunto. A TAG Heuer cooperou financeiramente no desenvolvimento do motor TAG-Porsche. Com ele, a equipe McLaren ganhou três títulos consecutivos na Formula 1 – um com Niki Lauda e dois com Alain Prost. Desde aí, diversos outros projetos foram desenvolvidos em parceria. Um dos mais esperados tornou-se realidade apenas em 2021: o TAG Heuer Carrera Porsche Chronograph, um relógio cronógrafo que alia a expertise da TAG Heuer ao design envolvente da Porsche em um relógio cronógrafo em edição especial. Possibilita mergulhar até 100 metros. É totalmente estanque. Veja os detalhes. A caixa de aço inoxidável de 44 mm de

diâmetro está repleta de traços Porsche, em toda sua esportividade. O nome da marca está presente no bisel. Repare no mostrador cinza. Sua textura lembra o asfalto. Já a pulseira de couro, com costura central, remete aos estofados do interior dos modelos Porsche. Pode ser trocada pela de aço. O dial apresenta indicações de minutos em arábicos. No mostrador, horas e minutos centrais são complementados pelo contador de segundos e pela janela de data na posição de 6 horas. Os ponteiros do cronógrafo se distinguem pelas extremidades em vermelho. Já o contador de segundos central estabelece precisão na marcação de ¼ de segundo. O mecanismo Heuer 02 é manufaturado pela própria maison e pode ser visto em ação por meio do cristal de safira no verso da caixa. O peso oscilante, responsável por dar corda e oferecer até 80 horas de reserva de energia, conta com traços que lembram um volante e apresenta as inscrições TAG Heuer e, claro, Porsche. TP tagheuer.com

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O CARA MEMÓRIA

Durão, cool, cheio de estilo. Respeitado e invejado pelos homens, desejado pelas mulheres. Assim permanece vivo o mito Steve McQueen, 40 anos após sua morte Por FERNANDO PAIVA

STEVE MCQUEEN FOI UM DOS RAROS ARTIGOS VERDADEIROS produzidos pelo star system hollywoodiano. Antítese do fake e da hipocrisia, era o que era: um garoto pobre que quase virou bandido, ralou muito para chegar aonde chegou – e não fazia a menor questão de esconder isso de ninguém. “Celebridade é igual a liberdade”, costumava dizer. “Essa é a única equação que vale.” Imaginar Steve vivo – hoje teria 91 anos, morreu há 40 – num mundo em que as celebridades vivem enclausuradas por causa da própria fama é no mínimo engraçado. “Steve McQueen foi o penúltimo dos durões de Hollywood”, afirma o escritor Marçal Aquino. “O último é Clint Eastwood.” Para o roteirista de Os Matadores e O Invasor, Steve parecia colocar muito de si mesmo nos personagens irados que criou. “É daqueles caras a quem talvez tenha faltado um pouco de delicadeza no trato com o plantel feminino”, diz. “Mas a quem nunca faltou paixão e empenho pelas coisas com as quais se envolveu, incluídas aqui as mulheres, claro.” Um cara cool. Ultracool. The king of cool. Em matéria de estilo, Steve foi insuperável. Tudo bem que Humphrey Bogart e Cary Grant, seus predecessores, sejam contendores à altura. Mas Steve tinha algo mais. Um dito comum na Hollywood dos anos 1940 rezava que Bogart era um dos poucos atores que não pareciam idiotas com um revólver na mão. Nas mãos de Steve – basta vê-lo como o detetive Frank Bullitt ou como o assaltante de bancos Carter “Doc” McCoy em Os Implacáveis – qualquer arma assentava bem: revólver, pistola automática, espingarda de repetição. E, cá entre nós, não dá para comparar o visual algo janota de Cary Grant com o estilo ultraclean e contemporâneo de Steve em filmes feitos há mais de quatro décadas, como Crown, o Magnífico. Ou o próprio Bullitt, seu personagem predileto e, este sim, “o” cara.

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Salvou cinco fuzileiros de morrerem afogados nas águas gélidas do Ártico. Depois cruzou os Estados Unidos numa moto Indian Chief 1946

Steve pertence a uma linhagem toda especial do cinema americano. Integra uma confraria de durões que talvez possa ser dividida em duas grandes vertentes. De um lado, em ordem cronológica, Brando, Al Pacino, De Niro, Sean Penn e Johnny Depp. Do outro, John Wayne, Paul Newman, o próprio Steve, James Coburn e James Caan. Correndo no meio, Robert Redford e Clint Eastwood. Um cara em excelente companhia. Mas nem sempre foi assim. Fruto típico da safra Grande Depressão, Terrence Steven McQueen nasceu no dia 24 de março de 1930 em Beech Grove, subúrbio de Indianápolis, Indiana, a terra do circuito oval Speedway e das 500 Milhas. Talvez sua ligação visceral, epidérmica com a velocidade venha daí. Garoto problemático, abandonado pelo pai com apenas seis meses, foi criado por um tio-avô numa fazendola do Missouri. A mãe era alcoólatra e adorava armar um barraco. Aos 12 anos Steve foi para Los Angeles com a mãe. Envolveu-se com gangues de rua, praticou pequenos furtos e acabou dando com os costados na California Junior Boys Republic, misto de escola linha-dura com reformatório. “Foi graças a ela que entrei na linha”, confessaria mais tarde. E aqui entram algumas linhas esclarecedoras. Steve passou a vida à procura do pai. Depois que se tornou famoso finalmente conseguiu achá-lo. Tarde demais, porém. William McQueen morrera três meses antes. A mulher que morava com o pai contou a Steve que o velho costumava assistir toda semana aos episódios do seriado de TV Wanted: Dead or Alive – primeiro papel de Steve como ator em 1958 – perguntando a si mesmo em voz alta: “Será que esse aí é o

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Vivendo o policial Frank Bullitt, em Bullitt, filme famoso por uma perseguição automobilística

meu filhote?” E embora fosse o ator mais bem pago do mundo na década de 1960, tinha fama de sovina. Em alguns filmes exigia dez barbeadores elétricos e dúzias de pares de jeans à sua disposição no camarim. Que, descobriu-se depois, eram enviados justamente à garotada da California Junior Boys Republic. Um cara de pau. Steve serviu três anos nos fuzileiros navais, como condutor de tanques e mecânico. E, apesar de pegar 41 dias de xadrez por se ausentar do quartel com a namorada durante duas semanas, se redimiu ao mergulhar nas águas glaciais do Ártico durante um treinamento e salvar cinco marines da morte certa. Quando deu baixa, em 1950, tinha 20 anos de idade, uma vontade enorme de viajar pelos Estados Unidos e uma Indian Chief 1946, seu primeiro amor. Com ela cruzou o país fazendo bicos como mecânico. Gostava tanto da moto que, numa entrevista à Sports Illustrated em 1971, da qual foi capa, conta sobre uma namorada que o provocou: “Você não acha que eu vou sair nessa coisa aí, acha?” Steve achava sim. A moça, não. E o namoro terminou ali mesmo. Um cara de atitude. Em 1955, graças a uma bolsa de estudos dos fuzileiros, Steve pôde fazer o que queria na vida: tentar um lugar na respeitada escola de atores Actors Studio de Lee Strasberg em Nova York. Havia duas vagas e 2 mil pretendentes. Ele e Martin Landau foram aceitos. No final da década de 1950, graças ao seriado de TV, sua carreira começou a decolar. E em apenas dez anos ele se transformou no ator mais bem pago de Hollywood. Dos US$ 3 mil que recebera em 1958 para fazer A Bolha , havia sido catapultado à estratosfera do milhão de dólares em Bullitt (1968). Um cara de sorte.


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1.500.000

** Inferno na Torre (The Towering Inferno, 1974)

Os Implacáveis (The Getaway, 1972)

300.000*

ESCALADA IRRESISTÍVEL Os cachês (em dólares) de Steve McQueen em alguns dos filmes de que participou (**): + 7,5% da bilheteria bruta

(***): + 10% da bilheteria bruta

Caçador Implacável (The Hunter, 1980)

3.000.000***

Tom Horn (1980)

Papillon (1973)

2.300.000*

Junior Bonner – Dez Segundos de Perigo (Junior Bonner, 1972)

500.000

Os Rebeldes (The Reivers, 1969)

700.000

1.000.000

700.000

Crown, o Magnífico (The Thomas Crown Affair, 1968)

A Canhoneira do Yang-Tsé (The Sand Pebbles, 1966)

250.000

Nevada Smith (1966)

500.000

O Preço do Prazer (Love with the Proper Stranger, 1963)

300.000

Quanto Vale um Homem (Soldier in the Rain, 1963)

300.00

Fugindo do Inferno (The Great Escape, 1963)

400.000

O Inferno É para os Heróis (Hell Is for Heroes, 1962)

A Máquina do Amor (The Honeymoon Machine, 1961)

100.000

150.000

Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven, 1960)

100.000

Quando Explodem as Paixões (Never So Few, 1959)

75.000

O Grande Roubo de St. Louis (The Great St. Louis Bank Robbery, 1959)

4.000

A Bolha (The Blob, 1958)

3.000

19/dia

Marcado pela Sarjeta (Somebody Up There Likes Me, 1956)

Bullitt (1968)

Quanto mais rico e famoso se tornava, mais acreditava em sua equação personalíssima (celebridade = liberdade). Liberdade para ele se resumia basicamente a andar de moto. Mas não em qualquer lugar. Para quem já atravessara os EUA sobre duas rodas, ele queria mais. Assim é que 1958 vai encontrar nosso herói e um grupo de amigos em plena Cuba pré-revolucionária, cruzando de motocicleta a zona rural de um país em que as tropas do então ditador Fulgencio Batista trocavam tiros com os barbudos do futuro ditador Fidel Castro. “Aquilo era uma zorra, era uniforme pra todo lado, mas foi uma tremenda aventura”, contou. “Aliás, o grande barato do motociclismo é a sensação permanente e inigualável de liberdade e aventura.” Foi justamente graças a um filme que a figura de motociclista tornou-se inseparável de sua persona. Em Fugindo do Inferno (1963), rodado em locação nos arredores de Munique, sul da Alemanha, e na fronteira austríaca, o indomável prisioneiro de guerra capitão Virgil Hilts tenta de todo modo escapar do campo de concentração. Steve só aceitou participar do filme depois que convenceu o diretor John Sturges a incluir no roteiro cenas em que pudesse mostrar sua habilidade sobre duas rodas.

(*): + porcentagem de bilheteria bruta

3.000.000***

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FOTO S WA RNER

BROS .


Pilotando uma Triumph em Fugindo do Inferno (1963), em que viveu um indomável prisioneiro de guerra

da região. Pararam para admirar e Steve ficou maravilhado com a habilidade com que enfrentavam aclives e declives os mais acentuados. “No dia seguinte, Steve apareceu na minha loja para comprar uma Triumph off-road de 500 cilindradas”, recorda-se Bud Ekins, de quem Steve se tornaria grande amigo. Bud ensinou literalmente a Steve o caminho das pedras do motocross, e logo o ator passou a competir. Mais tarde, no entanto, conforme o valor dos contratos com os grandes estúdios aumentava, cláusulas específicas o proibiam de correr de moto. Mas ele sempre dava um jeitinho. Inscrevia-se nas competições com o pseudônimo de Harvey Mushman e mandava ver. “Vivo do meu jeito”, dizia. “Não dou explicações a ninguém.”

O clímax é uma perseguição motociclística dos nazistas a Hilts, que termina com um salto inacreditável sobre uma cerca de arame farpado. Na verdade, Steve tentou o salto, mas falhou. Coube ao mecânico e dublê Bud Ekins realizar a façanha. Em compensação, Sturges permitiu que Steve, disfarçado de soldado alemão, pilotasse uma das Triumph TR6 Trophy (maquiadas para parecerem BMW militares da Segunda Guerra). Ou seja, graças ao milagre da edição, ele acabou perseguindo a si mesmo. O filme fez um sucesso tremendo. Sem querer Steve dava os primeiros passos para se tornar um dos grandes ícones da cultura pop. É um mistério que Andy Warhol não tenha pintado um retrato seu. A perícia de Steve com motos off-road começara pouco antes. No início daquela década, ele e Dennis Hopper (que em 1969 se celebrizaria pilotando uma Harley ao lado de Peter Fonda no clássico Sem Destino) passeavam com suas motos street pelos arredores de Hollywood quando deram com um bando de gente estranha subindo e descendo os morros

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FERRARI, JAGUAR E PORSCHE No começo dos anos 1960 a Baja California mexicana, do lado de lá da fronteira entre San Diego e Tijuana, se tornou o playground de todos os malucos de Hollywood. A Baja era uma região completamente selvagem e despovoada, a não ser por bandos de lebres e coiotes. Era lá que a turma de Steve costumava se divertir em provas malucas de cross-country, sempre pilotando suas Triumph – marca que se tornara cool desde que Marlon Brando subiu numa e apareceu nas telas em 1953 como O Selvagem. Adjetivo que cabia à perfeição em Steve. Steve levava a velocidade, a lealdade aos amigos e um estilo de vida completamente maluco a sério. “Work hard, play hard” poderia ser a insígnia de seu brasão. Participou diversas vezes da Mint 400, conhecida como The Great American Desert Race. Até 1977 a Mint era uma prova mista de motos e carros, todos soltos em disparada coletiva pelo deserto de Nevada e patrocinada por Dell Web, amigo de Howard Hughes e dono do Mint Hotel & Casino em Las Vegas. Por falar em Hughes, certa vez Steve o ameaçou publicamente de lhe quebrar o nariz caso o excêntrico bilionário não parasse de importunar a atriz, sex symbol e sua amiga – não necessariamente nesta ordem – Mamie Van Doren. Hughes sabia com


THE KING OF COOL

ALGUNS ELEMENTOS DO ESTILO QUE TORNOU STEVE CÉLEBRE

C

oube a Steve McQueen a honra de

clássico, pois quando foi lançado, em 1953,

e o vendeu nos

ter sido o primeiro homem a apa-

tornou-se o primeiro a chegar ao topo do

anos 1960. Na

recer na capa da feminina Harper’s

Everest, a 8.848 metros de altitude, no

década seguinte, recom-

Bazaar, um ícone fashion americano. Foi na

pulso de sir Edmund Hillary. Lançado em

prou e revendeu o carro diversas

edição de fevereiro de 1965, e a codiretora

1969, o Tag Heuer Monaco foi o primeiro

vezes. Morreu sem ter tempo de

de arte da revista, a brasileira Bea Feitler,

relógio de caixa quadrada à prova d’água.

restaurá-lo como queria. Em 1984,

caprichou. Colocou o rosto do bonitão afa-

Com sua pulseira de couro original, foi

durante o grande leilão que os her-

gado por uma mão feminina adornada com

usado por Steve no filme As 24 Horas de Le

deiros fizeram de seus bens, o carro

pulseiras à la Carmen Miranda.

Mans e virou um ícone instantâneo, mais

foi arrematado por US$ 147,5 mil.

tarde foi relançado com o mostrador azul.

O comprador o restaurou de acordo

O original vale hoje uma fortuna.

com o desejo de Steve.

Foi o quanto bastou para que Steve, em pouco tempo e de uma forma abso-

Steve não perdia chance de entornar

lutamente natural,

Old Milwakee Beer, sua cerveja predileta.

já que ele mesmo escolhia parte do figurino

Steven Spielberg conta que certo dia foi encontrá-lo num bar. Queria oferecer a ele

de seus filmes, se tornasse

um papel em Contatos Imediatos do Terceiro

um trendsetter – lançador de tendências.

Grau. Steve tomou uma dúzia de cervejas.

Em 1968, como o tenente Frank Bullitt,

Ao final, levantou-se e disse: “Obriga-

ele relançou as desert boots, botinhas de

do, mas não posso aceitar – não consigo

camurça extremamente confortáveis,

chorar em cena”. Richard Dreyfuss ficou

com solado de crepe de borracha, criadas

com o papel.

pela Clarks em 1950. Relançou também o

Steve adorava armas, atirava com

figurino clássico da camisa preta de gola

perfeição e ensinou Ali MacGraw a puxar o

olímpica com blazer de tweed coberto pela

gatilho em Os Implacáveis. Em cujo pôster,

gabardine clássica, o trench coat bege. Para

aliás, aparece outro ícone americano que

andar de moto, o uso do casaco Barbour

Steve cultuava: a pistola automática Colt

International era de lei.

M1911A1, em calibre 45.

Steve usava o relógio sempre no pulso

Um de seus carros mais

direito – e não era por medo de assalto.

famosos era uma ver-

Apenas para evitar batidas na porta do car-

são touring do Jaguar

ro por causa das repentinas manobras que

D-Type que venceu Le

vivia executando. Ele tornou célebres dois

Mans em 1955, 56 e 57.

modelos: o TAG Heuer Monaco e o Rolex

Apenas 18 deles foram

Explorer II, conhecido vulgarmente como

produzidos. Steve o

“Rolex Steve McQueen”. Já era um modelo

utilizava no dia a dia

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Ao morrer, de um ataque cardíaco, resultante de um câncer nos pulmões, deixou 210 motocicletas, 55 carros e cinco aviões

quem estava se metendo e tirou o time de campo. Enquanto isso, lépido e fagueiro, Steve entrava com o seu. Abastecido pelo dinheiro a rodo, investiu pesado na velocidade. Sua Ferrari GT 250 Lusso, seu Jaguar D-Type XKSS, seu Porsche 356 Speedster e seu Cobra Shelby se tornaram lendários por meio das fotos em preto e branco de William Claxton, amigo e grande fotógrafo de jazz. Steve fazia questão de abrir o capô e mostrar o motor a qualquer um que se interessasse. Claxton o acompanhou durante a primeira metade dos anos 1960 em todo tipo de loucura, como o rali Baja 1000 (mil milhas, ou 1.600 quilômetros de pau puro entre cactos e sob o sol impiedoso do deserto mexicano). “Steve fumava maconha o tempo todo, o dia inteiro”, conta Claxton. “Eu ficava bobo de ver e dizia a ele que para mim a droga só funcionava como um relax depois do trabalho; como é que ele conseguia se concentrar num script com toda aquela droga na cabeça?” Resposta do monstro: “Clax, eu adoro manter a corda esticada, viver no limite – só para saber se vai dar certo ou não. No final, sempre dá.” Às vezes dava errado. Quando Steve entrou na onda da cocaína, a amizade de Claxton já se fora. Mas Steve continuava acelerando pesado, sem se importar com nada. Ajudou a Ford a vender mais Mustang Fastback do que qualquer campanha publicitária, quando tomou o volante de um e saiu em disparada pelas ladeiras de San Francisco atrás de um Dodge Charger, naquela que se tornaria a mais clássica perseguição de carros de toda a história do cinema. Sem o uso de dublês, como sempre. Em 1970, ao disputar de moto o Elsinore Grand Prix na Califórnia, que-

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brou o tornozelo em seis lugares no meio da prova. Mesmo assim, foi até o fim e terminou entre os top ten. Uma semana depois, pé esquerdo engessado, lá estava ele no cockpit de seu Porsche 908 Spyder para correr em revezamento com Peter Revson as 12 Horas de Sebring, na Flórida. O Porsche não apenas chegou em primeiro em sua categoria. Foi vice-campeão na geral (!), mordendo os calcanhares da Ferrari de Mario Andretti, um carro bem mais potente. “Foi a corrida mais apertada da minha vida”, confessou o piloto ítalo-americano. “Tive uma sorte do capeta.” Steve voltaria às pistas em As 24 Horas de Le Mans em 1971. Apesar do tema, o filme era bem devagar em termos de roteiro e interpretação. Foi fracasso de público e crítica. Mas acabou virando um cult tempos depois, graças principalmente às cenas memoráveis do Porsche 917 pilotado por Steve urrando no asfalto francês. No ano seguinte a fome encontraria a vontade de comer. LISTA NEGRA DE NIXON Em 1972 Steve fez dois filmes com Sam Peckinpah, o diretor que mudou os rumos do cinema americano com o épico western Meu Ódio Será Sua Herança, de 1969. Peckinpah era outro que lia pela mesma bíblia de Steve. Levava a vida no limite, tinha fama de brigão, adorava armas e o México, era um alcoólatra capaz de realizar na tela obras sublimes. Ao lado dele, Steve fez Junior Bonner – Dez Segundos de Perigo – a história de uma família ligada ao universo dos rodeios – e Os Implacáveis, sobre um assaltante de bancos que pede à mulher para fazer um arreglo com o chefe da comissão de liberdade condicional.


Com Ali McGraw, atriz de Love Story, a quem se uniu nas filmagens de Os Implacáveis, em 1972

Ele sai da prisão, mas em troca terá de roubar um banco para o sujeito. Durante as filmagens, Steve aproveitou também para roubar a mulher do chefão da Paramount, Bob Evans. Ninguém menos que a atriz e ex-top Ali MacGraw, com quem se casou no México a conselho de Peckinpah, um especialista em divórcios. Os dois filmes foram um sucesso de bilheteria. É curioso que, no mesmo ano, Steve tenha entrado para a “lista negra” do então presidente Richard Nixon. Logo ele, um conservador de carteirinha. Tanto que em 1963 se recusara a participar da Marcha sobre Washington pelos direitos civis. Em 1968, convidado por diversos colegas de Hollywood a apoiar Bob Kennedy em sua campanha à Presidência, declinara. Ao saber da lista de Nixon, Ali MacGraw não acreditou: “Você é o cara mais patriota que conheço!”, disse ao marido. A resposta do durão veio no melhor estilo stars-and-stripes: içou uma monumental bandeira americana do lado de fora de casa. O estilo cool não impediu que fizesse porcarias fabulosas como Inferno na Torre (1974). Mas Paul Newman, intérprete bem melhor que ele, também não estava lá? Money talks, como dizem os americanos. Com a participação na bilheteria, Steve conseguiu amealhar US$ 14 milhões, soma impensável para qualquer ator naquele tempo. O dinheiro fez com que se retirasse de cena: passou mesmo a fazer apenas o que

queria. Como tirar brevê de piloto, um sonho antigo. Comprou um biplano Pitcairn PA-8, safra 1931 – e o único em serviço à época. O avião fora projetado em 1927 para fazer o correio noturno entre Nova York e Atlanta, na Geórgia. Um mito entre pilotos, era resistente como o diabo e voava com extrema facilidade. Igualzinho ao dono. Steve morreu de um ataque cardíaco, resultante de um câncer nos pulmões. Foi cremado e suas cinzas jogadas no Pacífico. Além de imóveis, deixou 210 motocicletas, 55 carros, cinco aviões e mais de 10 mil objetos de coleção. Todos relacionados a duas grandes paixões: máquinas em geral e motos em particular. Naquele 7 de novembro de 1980, todavia, saía de cena o protagonista de um estilo muito pessoal. Um estilo que cultuava a velocidade como norma de vida, a lealdade aos amigos como valor absoluto e – acima de tudo – a fé no próprio taco como crença inabalável. Foi essa a sua herança, a de um homem de verdade. TP

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QUADRINHOS

TINTIM POR

TINTIM

O personagem criado por Hergé era colonialista e direitista. Ainda assim, continua sendo uma das grandes figuras das histórias em quadrinhos Por MARCELLO BORGES

A BÉLGICA É UM PAÍS UNDERRATED. Criou as batatas fritas, mas os soldados americanos que passavam por ali na Primeira Guerra Mundial chamaram-nas de “french fries” porque o francês era a língua dos belgas. É a terra de chocolates do quilate de Neuhaus ou Guylian, mas a maioria dos apreciadores teima em louvar os similares suíços. A cerveja dos monges trapistas da Abadia de Westvleteren já foi tida a melhor do mundo, mas as alemãs e tchecas é que costumam receber os louros da vitória – ou as louras, se me perdoam o trocadilho. Entretanto, quando o assunto é personagem de revista em quadrinhos, poucos têm a projeção internacional de um herói belga – o Tintim. O.k., talvez o Mickey. Criado pelo desenhista belga Georges Prosper Remi (19071983), mais conhecido por Hergé, o jovem repórter e dublê de detetive surgiu em 1929 nas páginas do jornal Le Vingtième Siècle, de Bruxelas. Hergé (acrônimo das iniciais “R” de Remi e “G” de Georges lidas em francês), produziu 23 histórias completas e uma inacabada na forma de álbuns, com o título geral de As Aventuras de Tintim . A inspiração para o personagem veio de duas fontes. A primeira foi um jovem ator dinamarquês, Palle Huld, que em 1928 ganhou um concurso do

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jornal Politiken. O prêmio era uma volta ao mundo, e, após a viagem, Huld escreveu um livro, Around the World in 44 Days with Palle, que deu a Hergé a ideia de criar um personagem curioso e que viajasse por muitos lugares. A segunda fonte de ideias também explica o nome Tintin: é uma referência a Tintin Lutin, álbum do desenhista Benjamin Rabier escrito em colaboração com Fred Isly e publicado em 1897 (Rabier ficou conhecido principalmente pelo desenho do queijo La Vache que Rit). O personagem central, Onésime, guarda semelhanças com o repórter belga. As viagens de Tintim deram a muitos leitores, sobretudo aos francófonos, a possibilidade de conhecer lugares “exóticos” ou pouco acessíveis. Ainda mais excitante se lembrarmos que não havia televisão ou internet. Acompanhado de seu fiel mas irritadiço fox terrier Milu (uma namorada de Hergé chamava-se Marie-Louise, ou Malou) fez sua primeira viagem ao “país dos sovietes”, lugar que iria apresentar aos leitores do Le Petit Vingtième.

REPRODUÇÃO



Q U A D R I N H O S

Em uma aventura no Congo, os nativos africanos são mostrados como preguiçosos que mal falam o francês. Preconceitos assim vêm diminuindo a valorização de Hergé

O álbum Tintim no País dos Sovietes descrevia as agruras dos primeiros tempos do regime socialista soviético, e Hergé nunca tornou a publicá-lo por considerar seu conteúdo politizado demais. Talvez tenha percebido que imprimiu ali uma visão preconceituosa e eurocêntrica, motivada pelo fato de o diretor do jornal ser um abade anticomunista. POLITICAMENTE INCORRETO Em Tintim no Congo, Hergé visita com seu personagem a colônia africana da Bélgica. No reino de Babaoro’m (um jogo de palavras que lembra o doce “baba ao rum”), Tintim enfrenta um bando de gângsteres ligados a Al Capone, que deseja controlar a extração de diamantes. Mais uma vez, a visão do autor é fruto do zeitgeist da época. Os nativos são retratados como preguiçosos que falam mal o francês, imagine só! Em 1946, Hergé refez boa parte de seu conteúdo, tornando o álbum mais palatável. Mesmo assim, em 2007 o British Commission on Racial Equality pediu a retirada de circulação do livro. Grupos antirracistas franceses sugeriram que, no mínimo, contivesse uma advertência do tipo “Cuidado, esta obra contém estereótipos raciais que podem ferir suscetibilidades”.

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Nosso herói com o cãozinho Milou. E Hergé com um amigo chinês, o artista plástico Zhang Chongren

Algo semelhante vem acontecendo no Brasil com a obra de Monteiro Lobato. Começou quando o Conselho Nacional de Educação sugeriu que o livro Caçadas de Pedrinho fosse retirado das escolas públicas porque trata a Tia Nastácia de “macaca de carvão”. Nos últimos tempos, as reações ficaram mais agressivas. A escritora Marilene Felinto, colunista da Folha de S.Paulo, alertou: “É preciso que haja revisão da aberração racista chamada Monteiro Lobato”. Tintim na América é um ato rocambolesco. Hergé junta Al Capone e índios americanos, fazendo nosso herói ser sequestrado pelos gângsteres de Chicago e quase enforcado por um caubói. Al Capone já estava pelas tampas com Tintim, que atrapalhou seus planos na África, mas não consegue deter o intrépido repórter e acaba preso. A descoberta da tumba de Tutancâmon em 1922, por Howard Carter e pelo lorde Carnarvon, levou à aventura Os Charutos do Faraó, ambientada no Egito. Nesse álbum, durante um cruzeiro para o Extremo Oriente (salário incrível o do Tintim!), o personagem conhece um egiptólogo, o Dr. Sarcófago, que está à procura da tumba do faraó Kih-Oskh. Nesse túmulo, Tintim encontra charutos estranhos, é capturado e abandonado no mar. Consegue ser salvo, desembarca na Arábia, chega à Índia, ataca o tráfico de ópio – que estava nos charutos – e acaba com uma rede de traficantes. Bond, James Bond, perde. É nesse álbum que fazem sua primeira aparição os atrapalhados agentes ingleses Dupont e Dupond, uma sátira pouco velada aos britânicos com seu chapéu-coco. Apesar de serem idênticos, não são irmãos. Hergé criou-os inspirado em Alexis e Léon Remi, seu pai e seu tio; esses, sim, gêmeos.


O tráfico de ópio volta à cena em O Lótus Azul, nome de um bar de ópio em Xangai, na China. O álbum marca um sensível upgrade na qualidade dos cenários e do desenho de Hergé. O elemento motivador foi a guerra entre China e Japão em 1931, quando o país do Sol Nascente invadiu a Manchúria. Há um claro paralelo entre o Tintim na China, de Hergé, e o Tarzan na África , de Edgar Rice Burroughs. Este nunca foi à África, e mesmo assim descreveu-a muitas vezes. Hergé só foi conhecer a China – na verdade, Taiwan – em 1973, mas seus desenhos de Xangai são primorosos. Interessante notar que Tchang, um dos personagens de O Lótus Azul, foi inspirado num estudante chinês do mesmo nome que Hergé conheceu em Bruxelas. Tchang auxilia Hergé na criação do ambiente do álbum, até mesmo escrevendo mensagens contra o imperialismo do Japão em ideogramas chineses. O Extremo Oriente tornaria a ser visitado em Tintim no Tibete, no

FOTOS REPRODUÇÃO E GETTY

qual ele entra em contato com aspectos do esoterismo que Hergé estudou, mencionando até premonições e levitação. Naquela época, o autor acabara de se divorciar e estava passando por conflitos interiores, em busca de respostas. Tintim retornaria ao Oriente em Voo 714 para Sydney, ambientado em Jacarta, na Indonésia. Aqui, seu entourage habitual – Milu, o capitão Haddock e o impagável professor Girassol, cientista meio surdo criado com base no explorador Auguste Piccard – está a caminho de um congresso de astronáutica na Austrália. Numa escala em Jacarta, o grupo conhece um milionário que os convida a seguir em seu próprio avião. A aeronave acaba sendo desviada para uma ilha, Pulau-Pulau Bompa, no Mar de Celebes, perto de Bornéu. A VIAGEM QUE FALTOU O Ídolo Roubado tem como pano de fundo a guerra do “Chapo” entre dois países da América do Sul, San Teodoro e Nuevo Rico, em virtude do petróleo, uma alusão à guerra do Chaco travada pelo Paraguai e pela Bolívia entre 1932 e 1935. O ídolo do título é um artefato da tribo arumbaia, roubado de um museu. Tintim ajuda a recuperá-lo. O explorador Ridgewell lembra o coronel Percy Fawcett, desapare-

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cido em 1925 no Brasil em busca de uma cidade perdida na Amazônia. Aliás, não dá para entender por que Hergé não mandou Tintim para o Brasil. Na década de 1940, Walt Disney deitou e rolou com seu personagem Zé Carioca. O papagaio fez dupla com o Pato Donald em Alô, Amigos, filme que exalta as belezas destas plagas. Tintim poderia ter saído numa escola de samba como destaque e, de quebra, descoberto uma rede de espiões nazistas. Hergé levaria novamente Tintim à América do Sul em As Sete Bolas de Cristal e em O Templo do Sol, relacionados com uma múmia inca peruana. Mas sem escalas no Brasil... A Inglaterra e a Escócia são palcos de A Ilha Negra, onde aviões têm panes frequentes e Tintim aparece de kilt, além de enfrentar um gorila, inspirado no recém-lançado King Kong, que morre de medo do rosnado de Milu. Tintim desbarata uma quadrilha de falsificadores de dinheiro e assiste a

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um programa de televisão – aliás, uma invenção escocesa. O cenário principal de O Cetro de Ottokar são dois países imaginários do Leste Europeu, a Sildávia e a Bordúria. Este último tinha anexado a Sildávia em 1195, processo que só terminou em 1275, com a expulsão dos borduros. Tintim ajuda a Sildávia a se manter independente, devolvendo o cetro real que fora roubado pelo espião da Bordúria, Mustler – mistura de Mussolini com Hitler. A construção dos países foi tão minuciosa que Hergé inventou um símbolo nacional para ambos (um bigode para a Bordúria e um pelicano negro para a Sildávia) e um lema para a Sildávia: “Quem colhe espinhos é picado”. O Caranguejo das Pinças de Ouro assinala um período difícil para Tintim e Hergé, pois a Bélgica fora invadida em maio de 1940 pelo Exército alemão. Apesar da orientação para a direita do Le Vingtième Siècle, que publicava as histórias, o jornal foi fechado, e Hergé teve de transferir seus quadrinhos para o Le Soir-Jeunesse, controlado pelos alemães. Nessa aventura, Tintim enfrenta uma quadrilha de traficantes que transporta drogas em latas de caranguejo a bordo do navio Karaboudjan . O comandante é Haddock, marinheiro atrapalhado e rabugento mas de bom coração, sempre com seu uísque por perto.

FOTOS REPRODUÇÃO


Tintim e o capitão do navio escapam dos bandidos, chegam à África, passam pelo Saara, e atingem o Marrocos, conseguindo desmantelar a quadrilha. Nosso herói volta ao Oriente Médio em Tintim no País do Ouro Negro e em Perdidos no Mar, ambientados em outro país fictício, Khemed. Já A Estrela Misteriosa leva o detetive amador ao Ártico. Um meteorito passa perto da Terra e um fragmento dele cai no Mar do Norte. O professor Calys descobre que o objeto contém um elemento químico desconhecido, fostlite. Numa expedição para coletar a peça, Tintim e Haddock enfrentam um milionário que também o deseja. PLANET HERGÉ O Segredo do Licorne passa-se no Caribe. O Licorne (Unicórnio) era o navio do Cavaleiro de Hadoque, antepassado do capitão Haddock. Tintim compra um modelo em miniatura desse navio para presentear o amigo. Esse ancestral enfrentou o pirata Rackham, o Terrível, no Caribe, e o Licorne afundou com um tesouro a bordo. O cavaleiro fez um mapa do local e dividiu-o, e Tintim e Haddock descobrem o valioso papel.

No final desse livro já se anuncia a sequência, O Tesouro de Rackham, o Terrível. Desta feita, o professor Girassol junta-se ao grupo e oferece um de seus inventos, um minissubmarino em forma de tubarão. Haddock acaba por se tornar dono do Castelo de Moulinsart, após algumas investigações de Tintim dignas de Robert Langdon, personagem de Tom Hanks em O Código Da Vinci. (Cá entre nós, não pude deixar de me lembrar da casa noturna homônima do navio: a La Licorne, na rua Major Sertório, em São Paulo, point das garotas de programa de alto nível das décadas de 1950 e 60. Antes que perguntem, não, este que vos escreve nunca foi lá – ficava em casa lendo as aventuras de Tintim.) O Segredo do Licorne foi levado para a tela grande por Steven Spielberg, em 2011, na sua primeira adaptação de uma história em quadrinhos. Ele deu ao filme o nome de As Aventuras de Tintim. Foi rodado na técnica 3D e, entre outros atores, conta com Jamie Bell como Tintim e Daniel Craig como Ivanovich Sakharine, colecionador de miniaturas de navios. Mas a maior das viagens de Tintim e seu grupo foi narrada

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Q U A D R I N H O S

em dois álbuns, Rumo à Lua e sua continuação, Explorando a Lua. A aventura começa na Sildávia, onde o professor Girassol está trabalhando na construção de um foguete atômico que será enviado à Lua e quer que nossos amigos viajem com ele. Agentes inimigos tentam furtar o projeto e sabotar a expedição, mas fracassam. Felizmente, pois no álbum seguinte o leitor tem alguns dos momentos mais criativos, inusitados e divertidos de todas as aventuras de Tintim: Milu usando um traje espacial, o uísque de Haddock flutuando pela nave e Tintim resgatando Haddock no espaço. Esses álbuns foram criados no começo da década de 1950, antes do início da corrida espacial. Neles, Tintim é retratado como o primeiro homem a pisar em nosso satélite, seguido por Haddock. A Bordúria e San Teodoro – de O Ídolo Roubado

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– foram revisitados em Tintim e os Pícaros, vigésimo terceiro álbum do personagem. Nesse que é o último trabalho completo de Hergé aparecem mudanças importantes: Tintim perdeu o gosto pelas aventuras, Haddock não consegue mais beber seu uísque predileto – Loch Lomond – e o general Alcazar é ridicularizado por sua mulher, que anda de bobes no cabelo e o domina como boa megera. Após tantas peripécias, faltou a Tintim visitar o cinturão de asteroides situado entre Marte e Júpiter. Em 1982, para celebrar os 75 anos de Hergé, a Sociedade Astronômica da Bélgica deu o nome de Planet Hergé ao Asteroide 1652. Merecidíssima homenagem. Em tempo: 800 páginas originais de Hergé podem ser vistas no Musée Hergé, em Ottignies-Louvain-la-Neuve, uma bela cidade universitária belga. TP

No cartum em que recepciona Armstrong na Lua

FOTOS REPRODUÇÃO


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PERFIL

LE GRAND

SEIGNEUR

O importador de vinhos Philippe Rothschild, herdeiro de uma das famílias mais ricas do mundo, mora em São Paulo e se declara brasileiro Por BETO GEROSA Retratos GABRIEL REIS

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P E R F I L

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Depois de sobreviver a um tsunami na Tailândia, decidiu que só viajaria em férias para lugares sem intempéries. Então descobriu Trancoso, na Bahia

A FAMÍLIA ROTHSCHILD VOCÊ CONHECE. Há mais de 150 anos controla um império de bancos e vinícolas. Em 1855, o governo brasileiro autorizou-a a fazer negócios como nossa representante. Era a maneira de diminuir a polpuda dívida que contraíra com os Rothschild. Como se vê, um clã poderosíssimo. Mas talvez você não saiba que há um brasileiro entre os Rothschild. Ressalve-se: ele nasceu na França, em 1955. Mas desde 1981, quando veio ao Brasil pela primeira vez, o barão Philippe de Nicolay Rothschild é um apaixonado pelo país, incluindo a caipirinha e a feijoada. E se declara, sim, brasileiro. Hoje, casado com uma paulista, mora feliz no bairro do Morumbi, em São Paulo, e não quer outra vida. Embora pudesse muito bem estar residindo em castelos europeus. Aliás, passou a infância em um deles, o Château de Ferrières, o mais importante do século 19 na França. Foi construído em 1855 pelo seu trisavô, o barão Jacob Mayer, também conhecido como James Rothschild, fundador do ramo francês da família. Erguido a 26 quilômetros de Paris, em meio a uma floresta com mais de 30 quilômetros quadrados, o palácio revela como o clã é bom anfitrião: tem mais de 80 suítes para convidados, além uma biblioteca com 80 mil volumes. Ali, Philippe conviveu com celebridades como Salvador Dalí, Liza Minelli e Audrey Hepburn, amigos próximos de sua mãe, a socialite parisiense Marie-Hélène de Rothschild. Quando o garoto tinha 8 anos, Maria Callas cantou-lhe com exclusividade uma ária do Barbeiro de Sevilha. “Era a melhor amiga de minha avó”, informa. “Resolveu cantar quando eu disse que não sabia o que era ópera.” Em outra ocasião, Richard Burton encenou um monólogo de Shakespeare em pleno almoço no Château de Ferrières. Não deve ter sido aquele do ciumentíssimo Otelo. Caso contrário, Burton notaria que o adolescente de 15 anos

estava fascinado pelos olhos violeta de sua mulher, Elizabeth Taylor. “Fiquei três horas seguidas admirando aquela beleza”, suspira. “Nunca vi nada igual.” DESISTIU DO BANCO A primeira viagem de Philippe ao Brasil foi a negócios. Ele comandava um departamento da empresa de mineração e metalurgia da família e veio comprar zinco e chumbo na Bahia. Amou as praias e guardou para sempre o modo de vida descontraído. Em 2004, sobreviveu a um tsunami na ilha de Phuket, na Tailândia, e decidiu: só viajaria em férias para lugares fora da rota das intempéries. Dois anos mais tarde, deslumbrou-se com Trancoso, no sul da Bahia, e comprou um terreno. A casa só seria inaugurada no Réveillon de 2009 para 2010. Depois das comemorações de final de ano em Trancoso com amigos, resolveu se mudar de vez para os trópicos. Da Bahia, veio para São Paulo, onde já tinha vários amigos, como a empresária Eliana Tranchesi (1955-2012), da boutique Daslu. Foi ela quem o apresentou à sua atual mulher, Cris Lotaif. Uma vez instalado no Brasil, o descendente da mais poderosa dinastia de banqueiros da Europa cogitou abrir um banco. Desistiu. “Uma sondagem no mercado financeiro mostrou que o setor estava saturado”, revela. Então com 55 anos, o filho dos famosos

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Philippe achou que a margem de lucro dos importadores de vinho no Brasil era excessiva. Decidiu cobrar um preço mais justo pelos tintos e brancos que tráz

barões Guy e Marie-Hélène de Rothschild jamais precisou trabalhar, mas não pretendia ficar no dolce far niente. “Eu precisava de uma atividade”, diz num português claríssimo, embora com forte sotaque francês. Apreciador de vinhos desde a juventude, resolveu transformar a paixão em negócio. Em 2014, criou a importadora PNR Group (as iniciais de seu nome). Logo percebeu que, por aqui, se cobrava ao consumidor um preço alto demais pelos tintos e brancos. A graúda carga de impostos tinha a ver com isso, claro, mas, ainda assim, a margem de lucro lhe pareceu excessiva. Foi quando decidiu expandir a distribuição dos vinhos da própria família, oferecendo excelência a preços justos. As vendas eram feitas por meio de um e-commerce que se posicionava como um clube de vinhos – o Magnum Club. Em meados de 2019, porém, o barão dividiu a empresa em duas frações: a Edega e a Monvin. A cisão surgiu da necessidade de ampliar o portfólio. O próprio Philippe se incumbe de fazer a seleção de rótulos de outros produtores – inclusive fora da França – para expandir a oferta. Além do e-commerce, a Edega acena com um clube de vinhos online. Destaca-se pelos rótulos exclusivos de diferentes países com tradição na produção da bebida. Os vinhos produzidos pelos Rothschild estão nessa plataforma, mas representam apenas um quarto das opções da loja online. “Tenho me impressionado com a melhora da qualidade dos vinhos em geral”, diz Philippe. “Hoje você pode degustar um bom chileno na faixa de R$ 150, o que há dez anos seria inviável.” Quanto à Monvin, vende para supermercados, empórios e

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lojas especializadas de São Paulo. Em 2021, tem apostado no conceito store in store (loja dentro da loja). A estratégia é criar estandes próprios dentro dos pontos de venda. “Montamos uma seleção especial Philippe de Nicolay Rothschild dentro das lojas”, conta. “Temos o cuidado de sempre incluir um sommelier para auxiliar o cliente a escolher.” CORINTHIANS, MON AMOUR Para o barão, é possível tomar um bom vinho sem gastar uma fortuna. Eis o objetivo principal quando decidiu empreender nesse segmento por aqui. “Provo todos os vinhos e só agrego ao portfólio aqueles que eu compraria para tomar em minha casa.” Uma de suas mais fortes lembranças é de 1966, quando completou 11 anos. Seu pai abriu uma garrafa de Château Lafite Rothschild 1911 e serviu meia taça para o aniversariante. “Adorei e pedi mais”, lembra. O pedido do garoto, todavia, não foi levado em conta. Mas, a partir daí, ele conquistou o direito de saborear meia taça por semana. Três anos depois, visitou o château da família, em Bordeaux, pela primeira vez. Ficou maravilhado e fez questão de voltar todos os anos. Com 66 anos bem vividos, o barão é um apaixonado incondicional pelo mundo do vinho, suas histórias e magia. Mas também adora golfe, turfe, polo e... o Corinthians. Como assim? Pois é, o barão virou brasileiro mesmo. “Deixei meu passado para trás e recomecei minha vida em 2010”, comenta. “O meu novo país se chama Brasil. Só me sinto francês quando há uma partida de futebol entre Brasil e França.” TP



Brough Superior Lawrence: Rolls-Royce em duas rodas

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BROUGH LENDA

A moto de Lawrence da Arábia faz sua volta triunfal

POR LUIZ GUERRERO

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L E N D A

PROMOVER O RETORNO DE UMA MARCA DE MOTOCICLETA é um risco nem sempre calculado. Motociclistas são seres passionais: para esta inflexível tribo, as motos originais sempre serão insuperáveis. Mas o que dizer sobre o ressurgimento de uma marca inglesa associada à extrema perfeição, a ponto de ser considerada a Rolls-Royce em duas rodas? Bem, essa foi a aposta que o empresário britânico Mark Upham resolveu bancar ao comprar em 2008 os direitos do nome Brough Superior, adormecido desde 1940. As Brough, como os Rolls, só eram acessíveis à aristocracia, o que poderia potencializar o risco de fiasco neste retorno (motociclistas endinheirados são, além de passionais, uma casta exigente). Mas, como se verá, há considerável esforço para que as modernas motos tenham o mesmo grau de requinte e exclusividade das antigas. Upham ganhou dinheiro revendendo motocicletas (ainda hoje ele mantém uma revenda exclusiva de marcas clássicas na Áustria) e, para comandar o novo projeto, chamou outra figura ligada ao motociclismo, o francês Thierry Henriette, dono de uma empresa de tecnologia em Toulouse, na França, e cérebro que comanda a produção das modernas Brough. A antiga fábrica ficava em Nottingham, região rural ao norte de Londres, famosa pela floresta de Sherwood, onde Robin Hood se escondia dos seus perseguidores; a atual foi erguida em Saint Jean, nas cercanias de Toulouse, polo de tecnologia avançada e onde empresas como a Airbus estão baseadas. Até aqui, a Brough está mantendo a tradição de exclusividade, produção artesanal e sob medida para o cliente, excelência mecânica e preço inacessível para a maioria dos mortais. Cada moto leva a assinatura do responsável pela montagem, mesma sutileza desde sempre adotada pela AMG, divisão de alto desempenho da Mercedes-Benz, que estampa a assinatura do engenheiro no cabeçote do motor. “São brinquedos para ricos excêntricos”, admite Upham.

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A Superior Lawrence tem detalhes vintage e, ao mesmo tempo, o máximo em tecnologia

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George Brough em 1928, quando suas motos valiam mais que um sobrado londrino

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Também era assim nas primeiras décadas do século 20: uma Brough custava mais caro que um sobrado em Londres. E depois que a produção foi interrompida – e não mais retomada – por causa da Segunda Guerra, os preços dispararam. Em 21 anos de produção, de 1919 a 1940, foram fabricadas 3.048 Brough Superior de 19 diferentes modelos, nenhum igual ao outro. Estima-se que um terço delas tenha sobrevivido na mão de colecionadores e poucas são disputadas em leilões. Em março de 2019, uma SS 100 de 1930 alcançou recorde ao ser arrematada no Reino Unido pelo equivalente a US$ 561.556. A moto, não restaurada e vendida desmontada, pertencia à equipe de competição da marca, da qual o fundador da empresa, George Brough, fazia parte.

LIGA DE TITÂNIO Em 13 anos, a renascida marca lançou quatro modelos, entre as quais a bela releitura da clássica SS 100, com seu inédito par de discos de freio duplos na dianteira, oferecida por US$ 70.500; a SS 100 edição de 100 anos da marca (US$ 117.530); a Pendine (US$ 79 mil), além da futurista AMB 001, limitada a 100 unidades e com preço estimado de US$ 130 mil. A AMB 001 está sendo projetada em parceria com a Aston Martin e será a primeira moto com motor de dois cilindros turbo de 180 cavalos. Os preços não incluem os itens de personalização. O mais recente lançamento foi revelado agora em março, a Brough Superior Lawrence (US$ 77 mil), óbvia homenagem ao talvez mais ardoroso fã da marca, T.E. Lawrence, mais conhecido por Lawrence da Arábia [veja destaque]. A moto terá


produção limitada de 188 unidades, referência ao ano de nascimento de Lawrence (1888). Justa homenagem: ele mantinha sete Brough, de diferentes anos e modelos, e todas feitas sob medida para seu tamanho, 1,66 metro. Metódico, batizava as motos com os nomes da linhagem real britânica, de George 1º a George 6º. A exceção era a Brough Mk1, de 1922, tida como sua favorita e chamada Boa, forma reduzida de Boanerges, do aramaico, “filho do trovão”. Não pôde usufruir da oitava aquisição, uma Super Sport 100 especial 1935, que estava sendo fabricada quando Lawrence sofreu o acidente fatal com a SS 100 matrícula GW 2275, hoje restaurada e exposta em uma sala de vidro no Museu Imperial da Guerra, em Londres. A cruiser Lawrence, assim como os demais modelos da nova safra, é construída com materiais

ainda impensáveis para motos de rua. O chassi e a suspensão são de liga de titânio e apoiados por balança em liga de alumínio e magnésio. O tanque é esculpido em fibra de carbono e os demais componentes são forjados em alumínio de alta resistência. Há sutis referências ao homenageado na nova Lawrence – a assinatura no velocímetro e nas laterais e as duas saliências sobre o tanque, inspiradas em uma adaga árabe. O motor segue a arquitetura original das Brough do passado: um bicilíndrico em V a 88 graus, 997 cc e 103 cavalos. No lugar dos Matcheless ou J.A.P que equipavam as antigas motos, o motor atual foi projetado pela Boxer Design, a empresa de tecnologia de Henriette. Já a construção coube à Akira Engineering, outra empresa de vanguarda francesa que desenvolve motores para as equipes do Mundial de Moto.

A nova SS 100: produção artesanal, de alto nível

DIVULGAÇÃO E WIKIMEDIA COMMONS

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Embora conte com vasta oferta tecnológica, todas são produzidas artesanalmente e customizadas ao gosto do cliente, método consagrado por George Brough: no passado, cada uma era montada duas vezes. A primeira para checagem dos encaixes das peças e seus primeiros ajustes; em seguida, o veículo era desmontado e as peças pintadas ou polidas e remontadas definitivamente. Caso alguma moto não atendesse às especificações, como atingir a velocidade de 160 quilômetros por hora, ou apresentasse vazamentos, voltava à oficina para ser desmontada novamente. Hoje as modernas ferramentas dispensam o

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retrabalho, mas ainda assim o ritmo de produção da Brough está longe de se igualar ao dos fabricantes tradicionais. E, sim, a marca promete assistência permanente aos clientes. Até aqui foram abertas 18 revendas, uma delas no México. Cerca de 300 motos foram vendidas e/ou encomendadas. E se você se encantou e pode investir em uma delas, saiba que será submetido a uma entrevista e poderá ter seu pedido negado caso pergunte o consumo ou peça desconto. Se, no entanto, o pedido for aprovado, você terá de depositar o equivalente a US$ 1.200 e ter paciência: sua moto não será entregue em menos de um ano. TP

A futurista AMB 001, projetada em parceria com a Aston Martin


LAWRENCE DA BROUGH

T

.E. Lawrence é o herói improvável.

ter recusado as comendas militares que lhe

Lawrence (e da grande maioria dos moto-

Formado em arqueologia em Oxford,

seriam entregues pelo rei George 5º. Sob o

ciclistas) poderia ter sido evitada, caso ele

percorreu o Oriente Médio para prepa-

nome falso de John Hume Ross, ingressou na

estivesse de capacete. Cairns dedicou o

rar sua tese de graduação sobre os castelos

Real Força Aérea, mas a tramoia foi desco-

resto da vida demonstrando com base em

dos Cruzados e, já formado, fez parte de

berta e Lawrence acabou tendo de deixar a

estatísticas a importância do equipamen-

um grupo de arqueólogos na Síria. Estudio-

Aeronáutica. Com ajuda de influentes cole-

to. Mas só em 1973 o uso do capacete

so da cultura árabe, foi convocado como

gas de farda, entrou no Regimento Real de

tornou-se obrigatório no Reino Unido.

segundo-tenente para trabalhar no setor de

Tanques como o soldado T.E. Shaw, alusão

O corpo de Lawrence foi enterrado em

inteligência na base do Exército britânico no

ao amigo e escritor George Bernard Shaw.

uma de suas propriedades, uma vila cha-

Cairo, Egito, tão logo os turcos se aliaram

Infeliz no regimento, apelou para as altas

mada Moreton, perto do local do aciden-

à Alemanha e ao império austro-húngaro

patentes. Conseguiu ser readmitido na RAF,

te. Seu túmulo é ponto de peregrinação.

na Primeira Guerra (1914-1918). Convenceu

dessa vez com o nome verdadeiro.

seus superiores a financiar os combatentes

Tinha tanta paixão pelos aviões como

árabes e, sem ter qualquer treinamento em

pelas Brough Superior, as motos construídas

combate, uniu-se à força saudita. Diplomata,

por George Brough, de quem se tornaria

reuniu as diferentes facções árabes na luta

amigo. Na tarde de 13 de maio de 1935,

contra os turcos. Suas proezas foram retrata-

já aposentado, Lawrence voltava para seu

das no épico Lawrence da Arábia, de 1962,

chalé, o Clouds Hills, em Dorset, região su-

do diretor David Lean.

deste da Inglaterra, com sua Brough SS100,

Reservado, nosso personagem só viria

pela estrada King George 5º quando foi

a ser reverenciado como herói com a série

surpreendido por dois garotos de bicicleta à

de palestras promovidas no pós-guerra pelo

sua frente. Tentou se desviar, mas perdeu o

radialista, produtor de cinema e escritor

controle e foi arremessado da moto. Levado

americano Lowell Thomas sobre sua partici-

ao hospital, não resistiu aos ferimentos na

pação na campanha britânica no Oriente

cabeça. Morreu seis dias depois.

Médio. As imagens de T.E. Lawrence trajado com túnica e turbante correram o

Hugh Cairns, neurocirurgião australiano que o assistiu, concluiu que a morte de

mundo. Foi Thomas quem criou o personagem Lawrence da Arábia. Thomas Edward Lawrence nasceu em 16 de agosto de 1888 em Caernarvonshire, no País de Gales, filho de sir Thomas Chapman, um aristocrata irlandês, com a jovem Sarah Lawrence, governanta das filhas do casal Chapman. Lawrence foi o segundo filho dessa união e só descobriu que nascera fora do casamento depois da morte do pai, em 1919. Tenente-coronel aos 30 anos de idade, se viu rebaixado a soldado raso aos 34 por

FOTOS WIKIMEDIA COMMONS

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NA LINHA DE FRENTE Em um momento difícil para todo o setor, a BMW cresce no Brasil e lidera em vendas o segmento de veículos premium

AO ASSUMIR A DIREÇÃO COMERCIAL DA BMW DO BRASIL em julho de 2018, o administrador de empresas Roberto Carvalho disse que seu principal objetivo era liderar o time de vendas para o crescimento sustentável da marca no país. Cinco meses depois, a BMW assumiu a liderança e não soltou mais. Hoje, quase três anos da sua chegada, a BMW lidera o segmento premium com grande vantagem sobre os demais. Fã do piloto Ayrton Senna, nascido no mesmo dia (21 de março) que ele, Carvalho tem mais de 18 anos de experiência no mercado automotivo. Passou pela Hyundai do Brasil e pela Porsche North America. Antes de assumir como diretor comercial da BMW, respondia pelas operações de vendas da General Motors no Canadá. Casado com a engenheira civil Angelica Gropelli e pai de Filipe Gropelli, Roberto de Carvalho, concedeu a seguinte entrevista à TP. THE PRESIDENT _ A maioria das marcas premium passa por dificuldades no país. A BMW, no entanto, vem atingindo recordes de vendas. Como conseguiu driblar a crise? Roberto Carvalho - Foco no cliente, um time apaixonado pelo que faz e a melhor rede de concessionários do Brasil. Somos uma empresa que se reinventa há mais de 100 anos, e esta cultura nos ajuda a superar desafios. Começamos fabricando motores de avião, passamos a produzir motocicletas e carros e hoje somos líderes globais na indústria de mobilidade premium com muita tecnologia embarcada. Além da pandemia, a falta de insumos obrigou fabricantes a parar a produção. Isso ocorreu na BMW? Nosso time de logística trabalha com fornecedores globais que abastecem todas as 31 unidades de produção do BMW

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Group em 15 países. Um grupo de trabalho foi feito, inclusive, para assegurar a entrega dos fornecedores de peças críticas, e todos os volumes projetados estão sendo cumpridos. Compramos os suprimentos de forma antecipada para garantir entregas, de acordo com os contratos assinados. No ano passado, os dois modelos líderes de venda no segmento premium no país foram o Série 3 e o X1. Como andam as vendas desses carros em 2021? Crescemos dois dígitos no primeiro trimestre em relação ao ano anterior, parte disso graças aos modelos fabricados aqui. Concentramos cerca de 80% das vendas nos modelos produzidos na fábrica de Araquari (SC). Em março, a BMW anunciou aumento de 10% na produção da fábrica de Araquari. O plano está mantido? Fizemos esse anúncio como parte da estratégia para suprir um crescimento representativo do mercado doméstico brasileiro ao longo de 2021. Sempre priorizando processos sustentáveis em toda a cadeia, como parte de nosso compromisso com o meio ambiente. Como líderes do mercado premium brasileiro, nossos planos seguem inalterados para médio e longo prazos. Como andam os investimentos em carros elétricos no Brasil? Investimos em mobilidade sustentável no Brasil desde 2014 com o lançamento do BMW i3. Acompanhamos uma mudança gradativa no comportamento do consumidor nesses últimos anos. Sabemos que, entre outros valores, a escolha de compra hoje é fundamentada no propósito e no compromisso das empresas com o meio ambiente. Temos a sustentabilidade como ponto focal do nosso negócio. O que isso representa em números? Segundo nossos planos, até 2030, metade dos veículos produ-


“Somos uma empresa que vem se reinventando há mais de 100 anos, e esta cultura nos ajuda a superar desafios”

zidos pelo BMW Group serão modelos elétricos. Acreditamos em 10 milhões de veículos elétricos sendo vendidos nos próximos dez anos. Há planos de expandir a rede de revendedores no Brasil? Nossa rede é um dos nossos maiores orgulhos. No momento, não há necessidade de expandi-la. O senhor já teve experiência trabalhando em outros países. Como vê o mercado brasileiro? O país continua a ser uma escola formadora de líderes?

Roberto Carvalho, diretor comercial da BMW do Brasil

A experiência em negócios em outros países mostrou como o Brasil é um mercado dinâmico e desafiador. É uma escola para qualquer executivo. Estamos acostumados com muitas mudanças e isso nos ensina a sermos flexíveis e ágeis. Isso não ocorre na mesma proporção com executivos que trabalham em ambientes mais estáveis. Porém, também temos muitas coisas boas a aprender com a cultura corporativa de outros países mais desenvolvidos. Por isso, é sempre muito importante ter a experiência internacional e aplicar o que existe de positivo aqui no Brasil. É uma boa troca quando se tem experiência em outras regiões. TP bmw.com.br

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CLOSET INTELIGENTE LG Styler garante sensação de roupas novas, todos os dias

A LG MONITOROU UMA TENDÊNCIA. As pessoas estão procurando aumentar a vida útil das roupas e buscando muito mais por produtos para higienização, esterilização e eliminação de bactérias e alérgenos. O closet inteligente LG Styler é a resposta para essas demandas, além de ter design sofisticado e complementar qualquer ambiente. Novidade no mercado brasileiro, ajuda a facilitar o dia a dia, cuidar do visual, conservar roupas e higienizá-las. Primeiro closet inteligente com sistema de tratamento de roupas a vapor no Brasil, o LG Styler inaugurou uma categoria de

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produtos super premium no mercado nacional. “Havíamos planejado trazer o produto mesmo antes da pandemia, mas com certeza o interesse dos consumidores pelo cuidado e higienização de roupas e outros itens (travesseiros e capacetes) aumentou”, afirma Marcel Souza, gerente executivo de Linha Branca e Ar Condicionado da LG. “Houve uma mudança de hábito dos consumidores, que começaram a se preocupar com a saúde da família.” Ao toque de um botão, o aparelho protege ternos, vestidos, camisas e outras peças. É ideal para mais de 16 tipos de tecidos mais delicados. Entre eles, seda, linho, lãs e nylon. Para quem


Sucesso em 27 países, o LG Styler tem iluminação em LED e painel touch. Ele higieniza e aumenta a vida útil das roupas

está preocupado com a roupa do trabalho, o aparelho tem compartimento especial para o cuidado de calças. Garante dobras e vincos precisos, mantendo as peças sempre novas. A alta performance do LG Styler está baseada na tecnologia TrueSteam™, um gerador de vapor capaz de oferecer ciclos de higienização e desodorização. Elimina até 99,9% de bactérias e alérgenos de roupas e outros itens. “O Styler oferece um sistema de tratamento de roupas a vapor moderno, prático e tecnológico”, afirma Marcel Souza. Também apresenta o aplicativo ThinQ® para monitoramento e controle a distância. Permite ainda o download de ciclos extras para o seu aparelho. Destaque para “pronto para sair”, “uniformes”, “lenços e cachecóis” e “modo silencioso”. Para os dias mais frios, o Styler tem a função Night Care, que mantém as roupas aquecidas até que a peça seja retirada do aparelho. O Styler já foi lançado em 27 países. Entre eles, Estados Unidos, Canadá, Japão, China e os principais mercados eu-

ropeus. O grau de satisfação foi dos mais elevados. Em pesquisa nos EUA, o índice passou de 90%. “Os clientes reportaram a praticidade em cuidar de itens de cama, casacos e outras peças difíceis de lavar, além da praticidade do ciclo de secagem, que reduz o número e, consequentemente, o custo, de lavagens a seco”, conta Marcel Souza. O aparelho tem painel touch e iluminação interna em LED. Apresenta opções de acabamento branca ou espelhada. Com visual versátil, combina muito bem em ambientes domésticos (na lavanderia, no closet ou próximo à porta de entrada) e em negócios (lojas, hotéis e restaurantes). “Somos inovadores de estilo de vida e buscamos tornar mais fácil o cotidiano dos consumidores”, lembra Souza. TP lg.com/br @lgdobrasil @lgdobrasil

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Simone Moutinho, CEO do Infinitibank, com o presidente do Grupo Capozzielli, Leandro Capozzielli

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NOVAS SOLUÇÕES Banco digital para empresas, Infinitibank apresenta inovação nos pagamentos dos prêmios das equipes e aumenta segurança

O INFINITIBANK É A GRANDE NOVIDADE entre as fintechs no segmento B2B. Ele se destina a empresas que querem inovar e estreitar o relacionamento com os profissionais envolvidos em vários tipos de negócios. “Não disputamos com bancos digitais como Neon, Original ou Inter”, afirma Simone Moutinho, diretora executiva da Infiniticorp. “Somos um banco B2B para auxiliar empresas a efetuar pagamentos a funcionários e colaboradores.” Banco 100% digital, o Infinitibank conta com a expertise da Infiniticorp, que tem 23 anos de atuação no mercado, atendendo 700 clientes ativos e mais de 1 milhão de usuários, com R$ 500 milhões transacionados anualmente. “Oferecemos aos nossos correntistas todos os benefícios de um banco”, conta a executiva, com passagens por Ambev, Nestlé, Ticket, L’Oréal. “Podem pagar contas de consumo e fazer transferências habituais até por QR Code. Além disso, recebem um cartão de crédito pré-pago para saques nos bancos 24h.” O banco digital apresenta soluções para imobiliárias e seus corretores nas comissões das vendas de imóveis. Facilita muito também para os casos de pagamentos das premiações a funcionários e terceiros nas campanhas de incentivos. Esses pagamentos eram feitos por meio de cheques nos casos dos corretores de imóveis. Eram operações vulneráveis e arriscadas. “Criamos uma plataforma segura, inteligente, descomplicada e ágil. Somos o banco digital do corretor e a pagadoria integrada em qualquer sistema das incorporadoras e imobiliárias”,

GERMANO LÜDERS

lembra Simone. Nessas situações, o Infinitibank consegue trabalhar com a organização contábil e fiscal, redução de custos, ajustes de processos e controle de fluxo, dando facilidade e segurança para as incorporadoras e corretores. “Nas operações de pagamento de prêmios das campanhas de incentivo a empresa terá uma economia tributária substancial.” Vale lembrar que o Infinitibank é o banco digital da Linkpay, plataforma de pagadoria do grupo. A empresa é especializada em Split de pagamentos das comissões do segmento imobiliário. Oferece aos clientes do setor um serviço completo: o comprador do imóvel, com a emissão do boleto da comissão; a imobiliária/incorporadora, com a gestão e organização desse fluxo; e o corretor, com os seus recebimentos. “Conseguimos ofertar ainda uma conta digital satisfatória, com muitas funcionalidades”, diz Simone Moutinho. O aplicativo permite acompanhamento de recebíveis em tempo real, com extrato na palma da mão. O dinheiro está disponível em 30 minutos – menor tempo praticado no mercado. A central de atendimento trabalha com todos os canais para melhor atender o corretor (WhatsApp, Chat web, e-mail e telefone). O Infinitibank, no entanto, não se limita ao segmento imobiliário. Está apto a atuar em qualquer setor – de cabelereiros a garçons. Ele simplifica a vida em muitas coisas. Leva autonomia, agilidade, segurança e facilidade na transação de seus valores. É o banco digital de que muitos setores precisam. TP

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EM ALTA

A grande procura por imóveis de luxo tem surpreendido até os analistas experientes do setor

Brasileiros estão buscando imóveis a um raio de até 100 quilômetros de Lisboa (foto) ou duas horas de carro, como é o caso de Algarve

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A PANDEMIA PROVOCOU UMA INEGÁVEL crise mundial. Diversos setores da economia estão sofrendo um bocado, muitas vezes sem receita nem sequer para pagar funcionários e fornecedores. No entanto, há quem venha aumentando os lucros. O setor de vendas de imóveis de altíssimo luxo, por exemplo. Há cada vez mais gente interessada em adquirir casas e apartamentos de metragens portentosas, acabamento refinadíssimo e localização estratégica, seja no próprio país ou no exterior. Quem são esses compradores? O banco Credit Suisse identificou um movimento de concentração de renda ainda maior em empresários envolvidos com e-commerce, mercado financeiro, tecnologia da informação e fintechs. Segundo o banco suíço, 175 mil pessoas no mundo, até meados de 2020, lucraram US$ 50 milhões ou mais. Foram quase 90 mil só nos Estados Unidos e outras 22 mil na China. “Se subirmos a régua para US$ 500 milhões, o número chega a 5 mil pessoas no mundo”, informa Marcello Romero, CEO da imobiliária de alto padrão Bossa Nova Sotheby’s. “É o que chamamos de ultra high net worth individual.” Esse público tem uma visão muito específica do que é luxo. Sobretudo na hora de morar. Leva em conta conveniência, conforto e alto nível de customização dos serviços. Na apresentação do relatório Luxury Outlook 2021, da Sotheby’s International Realty, o CEO da companhia, Philip White, identifica algumas preferências: “A pandemia recalibrou o interesse em propriedades maiores, mais verdes, cidades secundárias e políticas fiscais e de emigração favoráveis”. Em sua análise, esses imóveis precisam ter escritórios (exigência desses tempos de home office) e, claro, cozinhas gourmet – tendência já de algumas décadas. Além disso, o comprador quer muito espaço de entretenimento ao ar livre. Marcello Romero completa: “As pessoas

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Mais de 175 mil pessoas no mundo, até meados de 2020, lucraram US$ 50 milhões ou mais

buscam ter a própria academia, piscina, quadra de tênis – no condomínio ou na própria casa”. O preço desses imóveis? Pode ultrapassar os US$ 10 milhões. “Os compradores de casas de luxo estão mais dispostos a pagar por bem-estar e qualidade de vida”, lembra Lewis Cha, diretor executivo da divisão da Sotheby’s de Singapura. Para Marcello Romero, um dos motivos claros dessa movimentação é a oportunidade de aproveitar as taxas de juros de crédito imobiliário, que estão muito baixas. “São níveis históricos no Brasil e em muitas partes do mundo”, avalia. Os compradores de imóveis também se revelam muito atentos a políticas locais de taxas e impostos. “Os americanos, por exemplo, têm migrado de estados como Nova York, que têm elevada carga tributária, para trazer o seu domicílio fiscal para Flórida”, aponta Romero. Essa troca de endereços passa por cima, inclusive, de fronteiras. “Ingleses e franceses têm mudado o seu domicílio fiscal para Portugal, onde os impostos sobre herança são menores”, explica. Tais clientes levam em conta ainda lugares sem disputas geopolíticas, terrorismo e problemas climáticos. Nessa busca além das fronteiras, a Sotheby’s identificou novos hubs. Gente de alto poder de investimento está encontrando oportunidades em lugares que não constavam da bússola dos negócios imobiliários. Os novos contemplados vão da pequena cidade americana de Santa Clara (128 mil moradores), na Califórnia, a municípios de população média, como Tel Aviv (450 mil moradores), em Israel, e Auckland (1,6 milhão), na Nova Zelândia.

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Algumas metrópoles também estão no radar, como a cidade-Estado Singapura (5,7 milhões). Um caso especial é Nova York, onde os imóveis de luxo eram passados de geração em geração. Agora, diversos deles vêm sendo colocados à venda, incluindo a cobertura de US$ 35 milhões no número 421 da Broome Street, em Manhattan. “São oportunidades de comprar propriedades maravilhosas”, afirma Romero. Já em Londres o preço está nas alturas. Chega a 50 mil libras por metro quadrado em lugares como Kensington e Chelsea. Em princípio, o Brasil poderia aparecer como ótima oportunidade de compra para estrangeiros, em virtude da depreciação do câmbio. “Porém, a insegurança jurídica e política afasta o investidor”, lembra Marcello Romero. Segundo o executivo da Bossa Nova Sotheby’s, ainda assim, “há boas oportunidades para expatriados brasileiros ou quem tem certa familiaridade com o Brasil”. Quanto aos brasileiros com segunda residência no exterior, uma alternativa é utilizar essa propriedade também para locação. Esse expediente adia a venda para tempos de maior valorização da moeda e cobre os custos fixos. A partir do conceito da Airbnb, surgiram empresas especializadas em alugar propriedades de altíssimo padrão. Elas cuidam de gestão, manutenção, check-in e check-out. “Ao buscar alugar essas casas ou apartamentos, as pessoas procuram uma experiência mais intimista de uma determinada região”, diz Romero. Assim como ocorre com muitos estrangeiros, os brasileiros continuam adquirindo moradias no exterior. Há uma


Hub internacional, Miami se tornou uma oportunidade de investimento e possibilidade para alugar para quem vai a trabalho, turismo ou estudo

novidade: a Bossa Nova Sotheby’s tem notado um aumento na procura por Madri, na Espanha. Nada que se compare, todavia, a dois destinos há muito preferidos pelos compradores: Orlando e Miami, na Flórida (nos EUA), e Lisboa e Cascais, em Portugal. Ter imóveis nessas cidades da Flórida significa, também, a possibilidade de alugá-los para temporadas. Em Orlando, para famílias que vão ao Disney World. Já Miami, apesar da crise dos últimos anos, continua sendo um hub internacional e vem demonstrando recuperação do setor imobiliário. Pode-se alugar o imóvel para quem vai a trabalho, a passeio ou para estudar. Em Portugal, os brasileiros vêm constatando que Lisboa está saturada. Por isso, os preços não valem a pena. Daí a procura por propriedades a um raio de até 100 quilômetros da capital lusitana. De quebra, aproveita-se a qualidade de vida do campo. Já existe, também, procura por destinos de praia mais ao sul, como o Algarve, a pouco mais de duas horas de carro.

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Uma questão muito relevante no mercado de imóveis de luxo, hoje, é a preocupação com a ecologia. A tendência dos compradores mais jovens é descartar lugares que atuam contra o meio ambiente. Sustentabilidade tornou-se uma palavra de ordem para os millennials (ou seja, aqueles nascidos entre 1981 e 1996). “Eles são mais engajados na questão ambiental, mais conscientes e tecnológicos”, diz Romero. Também já são muitos. De acordo com a consultoria Brain & Co, os millennials representarão, em 2025, nada menos que 45% das vendas dos itens de luxo. TP

Confira uma seleção de imóveis da Bossa Nova Sotheby’s em Portugal e no estado da Flórida:

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TOQUE DE CLASSE Gustavo Albanesi deixou a carreira no mercado financeiro para empreender. Sua rede de franquias, o Buddha Spa, tem 41 unidades – e é um sucesso

A REDE DE FRANQUIAS BUDDHA SPA, fundada há 19 anos e hoje com 41 unidades em cinco estados brasileiros, nasceu da vontade de Gustavo Albanesi de “mudar de lado” na mesa de reuniões. Então executivo do mercado financeiro, sua função era assessorar empresários e investidores em operações de fusões e aquisições e emissão de ações em bolsas de valores. Mas a decisão final era sempre do cliente. Sim, aquele que estava “do outro lado da mesa”. “Eu gostava de ver as coisas acontecerem e queria gerir algo que gerasse impacto nas pessoas, tanto nas que trabalham quanto nas que consomem”, conta Albanesi, hoje com 39 anos. “Tinha, sobretudo, a vontade de fazer um negócio pelo qual sentisse paixão. Só depois de já empreender com o Buddha Spa entendi que meu propósito pessoal estava alinhado com aquilo. Precisamos de um processo de autoanálise para descobri-lo.” Formado em direito pela Universidade de São Paulo (USP) e com pós-graduação em finanças pela Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, Albanesi trabalhou em banco de investimentos ao longo da carreira, tanto em San Francisco (nos Estados Unidos) quanto no Brasil. Tinha a vontade de empreender, mas quem identificou uma oportunidade no segmento de bem-estar foi seu pai, Jayme, hoje com 66 anos. Albanesi, aliás, nem se submetia a massagens na época, começo dos anos 2000. Quando o pai mencionou a ideia, ele começou a pesquisar o mercado e decidiu abraçar a oportunidade. Os dois abriram juntos a primeira clínica de massagem, em 2001, no nobre bairro de Higienópolis, na capital paulista – na mesma casa em que hoje funciona a sede e uma das mais amplas unidades do Buddha Spa. Na ocasião, Albanesi mantinha o emprego no mercado financeiro e, em paralelo, a vida de empreendedor. “Financeiramente falando, não fazia sentido deixar meu emprego”, conta. Com o passar do tempo, o Buddha Spa foi crescendo e, em 2008, o empreendedor decidiu se dedicar apenas à empresa. “Eu ainda ganhava muito mais como funcionário, mas via oportunidade de montar um

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negócio que cresceria a longo prazo.” E foi o que aconteceu. Em 2010, veio a decisão de expandir o Buddha Spa por meio de franquias. Quatro anos depois, com o modelo bem acertado, ocorreu a amplificação em ritmo mais forte. Hoje, embora já com 41 unidades, a rede continua seguindo em busca de novos franqueados. O investimento inicial para quem se interessar pela franquia varia entre R$ 150 mil e R$ 350 mil. Na realidade, o número de franquias continua crescendo, apesar da pandemia, sobretudo por conta da excelência dos serviços. Desde sua fundação, o Buddha Spa já realizou mais de 1 milhão de massagens. No momento, a rede realiza 500 tratamentos por dia e oferece mais de 30 terapias para os clientes – homens e mulheres. A participação masculina, aliás, vem aumentando. Hoje, 32% dos clientes são homens. No momento, a rede emprega mais de 400 terapeutas. Os investimentos em treinamento são a marca registrada, e tornaram o Buddha Spa uma referência. Albanesi comenta: “Esse cuidado é importantíssimo, visto que a essência do Buddha Spa é valorizar o 'sentir-se bem' dos clientes e a depuração dos cinco sentidos”. Para manter a qualidade dos massagistas, os novos profissionais passam por um treinamento extenso que dura em média 35 dias. A equipe da matriz visita periodicamente as unidades para reavaliá-los. Além disso, o toque de cada terapeuta da rede é complementado por sons, aromas e chás – sempre em infraestrutura de alto padrão. “A ideia de bem-estar é levada em conta em toda a relação com o cliente, desde o primeiro contato”, assegura Albanesi. “Continua assim na recepção na unidade pela equipe de atendimento até a complementação da experiência principal com os terapeutas em cabine. É esse processo completo que faz a diferença.” TP Buddhaspa.com.br



y Lid a ENTREVISTA

O BRILHO DA ÉTICA

LYDIA LEÃO SAYEG COMANDA COM TRANSPARÊNCIA E VALORES MUITO CLAROS A CASA LEÃO JOALHERIA, FUNDADA POR SEU AVÔ HÁ 109 ANOS Por RAPHAEL CALLES Retratos CLAUS LEHMANN

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N N O A N O D E 191 2, O S Í R I O L E ÃO S AY E G D E I XO U A L E P O, A M A I O R C I DA D E

D E S E U PA Í S N A T A L , PA R A V I V E R E M S Ã O PA U L O . JÁ T I N H A E N TÃO A PRO F I S S ÃO D E JOA L H E I RO. O N Ú M E R O 9 0 ( A T UA L 3 4 4 ) D A R UA F L O R Ê N C I O D E A B R E U, N O C E N T R O D E S Ã O PA U L O , F O I O E N DE R E Ç O DA PR I M E I R A O F IC I N A DA C A S A L E ÃO JOA L H E R I A . O S N E G Ó C IO S PRO S PE R A R A M T A N T O Q U E , 1 5 A N O S D E P O I S , E M 1 9 2 7, L E Ã O P R E S E N T E O U A S UA N O I VA , G E N N Y, COM UM V ESTIDO DE CASA MENTO TODO B O R DA D O C O M PÉ RO L A S E DI A M A N T E S.

Apenas cinco anos depois, no decorrer da Revolução Constitucionalista, a Casa Leão (já então na rua Miguel Couto, 14) foi saqueada e todos os bens, perdidos. Em um gesto nobre para apostar na recuperação do empreendimento, Genny devolveu o vestido nupcial ao marido, que usou as pérolas e os diamantes na confecção de solitários, vendidos aos clientes. Com uma ascendência plena de guerras, lutas e perseverança, a empresária Lydia Leão Sayeg, 53 anos, neta de Leão e Genny, tem idolatria pela história da família. Aprendeu o ofício com o pai, Ivan Leão Sayeg, por quem nutre profundo respeito. Agregou conhecimentos teóricos ao se formar em desenho industrial na Fundação Armando Álvares Penteado e em gemologia no Gemological Institute of America, nos Estados Unidos. Integrante da terceira geração da Casa Leão, comanda a empresa com atendimento privativo no bairro do Jardim Europa, em São Paulo. Primeira mulher e mais nova diretora da Associação dos Joalheiros do Estado de São Paulo, prega com uma palavra de ordem: ética.

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“À minha maneira, contribuí para a emancipação feminina. Quando comecei a trabalhar com meu pai, aos 11 anos, o mercado de joias era totalmente masculino”

THE PRESIDENT _O comando da Casa Leão foi masculino por duas gerações. Você assumiu a direção muito jovem. Sofreu pressões por ser mulher? Lydia Leão Sayeg- Muita. Na época, eram pouquíssimas CEOs no mundo. Fui uma das pioneiras no Brasil. Movimentei o mercado para vender joias, bijuterias, maquiagem. A mulher tem uma sensibilidade muito forte de entrar na casa de um cliente, perceber a necessidade de outra mulher, entender o que fica melhor nela, seja um colar, um brinco. À minha maneira, contribuí para a emancipação feminina. O mercado de joias, desde quando fui trabalhar com meu pai, aos 11 anos, era totalmente masculino. As mulheres viam e falavam: “A Lydia Sayeg faz? Eu também sou capaz”. E você precisou mudar os rumos ou o perfil da Casa Leão quando assumiu? Com certeza. Foi muito difícil. Mas o meu pai era um homem muito pra frente. Cresci numa casa muito moderna, de concreto, madeira e vidro, com aquecimento solar, piscina de água

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potável. Ele construiu há 40 anos. Era um homem de vanguarda. Já minha mãe é uma mulher instruída que se formou no Largo São Francisco [Faculdade de Direito/USP] 60 anos atrás. Temos na família mulheres precursoras. Está no DNA. Esse casal de pais modernos me incentivou: “Vá, ouse”. Sempre ousei. Acho que eu fui a primeira joalheria a fazer joia para artista. Fiz para Adriane Galisteu em 1997. Depois o pingente de brasilzinho para a Hebe Camargo. Comecei a fazer produtos licenciados e vi que era um nicho, um marketing indireto muito fácil. Tenho imagens da Mariah Carey com minha joia de Brasil. Era uma forma de você atingir o mundo. Eu já queria colocar a joia na televisão. Transformar-se em apresentadora de TV ajudou nos negócios? Eu tinha um trabalho muito de boca a boca. Quando fui para a televisão, passei a ter uma abrangência nacional. O programa na TV divulgou a Casa Leão para o Brasil, propagou a joia como um meio de viver, trabalhar, vender. Eu já contava com um grande apoio da Hebe

Camargo – e é por isso que tenho essa fascinação por ela. Hebe é um ícone. Usava joias de uma forma tão irreverente que facilitou tudo. Mostrou que você pode usar joia com calças jeans rasgadas, usá-las para almoçar fora, ou para sair só para tomar um chopinho. E que pode comprar uma joia como prêmio que a própria mulher se dá por ter trabalhado muito. Qual foi a sua contribuição para a telespectadora? Mostrei, entre outras coisas, que é possível, sim, você ficar rico trabalhando. O negócio da minha família tem 109 anos. Se não estivesse rica, teria alguma coisa errada. Dá para ficar rico, só que demanda muito trabalho e muita qualidade. Como foi a migração da loja na região central de São Paulo para um atendimento privado? Foi uma adaptação. Ao longo dos anos fui me adaptando ao mercado e ao que o público queria. Nem todos os meus clientes querem ser expostos, sair com uma sacola para todo mundo ver. Há aqueles low profiles.


Estes querem consumir por qualidade e não para mostrar aos outros. A Casa Leão vende uma mercadoria de valor, de investimento, de patrimônio. O cliente quer ter não para mostrar, mas porque acha importante, valoroso ter aquele patrimônio. Como você fez para crescer essa carteira? Atendi os clientes como eu gostaria de ser atendida. Eis o grande segredo. Sempre com ética. Isso cria vínculos de lealdade, eternos. Assim como existem médicos de família, sou uma joalheira de família, posso dizer assim. Quem são os seus clientes? Durante algum tempo era o público AAA. Depois também o AA. Daí agregamos o A e, mais tarde, o B. Agora já atendo o público C e D e como você quiser chamar. Quando a Hebe ficou

doente, eu não conseguia falar com ela. Tomando um banho, pensei em uma joia especial para aquele momento. Sempre me expressei pelas joias. Então criei o colar Vida e enviei para ela. Com um bilhete: “O que eu te desejo está escrito em ouro”. Ela me ligou gritando: “Você é demais!”. Depois do colar Vida, criei as pulseiras Saúde e Gratidão! Tem algo mais bacana para mandar para alguém que está fazendo tratamento de câncer, por exemplo, do que Força, Fé? Você é mãe, filha, empresária, diretora de vendas, amiga, mulher, dona de casa. Isso não te esgota? Muito. Não sou perfeita. Tenho tido mais burnout [esgotamento] com a pandemia. Eu me envolvo demais. Aqui, na Casa Leão, eu sei fazer tudo. Quer me colocar para polir peça? Eu sei. Quer me pôr para

fotografar? Ah, querido, você vai ter a melhor foto da sua vida. Eu cuido de toda a gestão do negócio, e isso demanda tempo. O Brasil tem muita burocracia. Parte da minha equipe é formada por gente de mais idade. Precisei manter esses funcionários em casa, por causa da pandemia. Isso me acarretou mais afazeres. Você inicia suas aulas e palestras com a frase “o pessimista faz da oportunidade uma dificuldade, o otimista faz de uma dificuldade uma oportunidade”. Como é enfrentar a pandemia? Vi a pandemia como uma terceira Guerra Mundial. E como acontece em uma guerra, a única coisa que você consegue carregar é aquilo que tem nas mãos. Você aprende isso com os povos que sofreram as guerras na pele: judeus, árabes, povos nômades. O dinheiro

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“Quando vou comprar uma pedra, quero saber de onde vem, como é o acampamento do garimpeiro. Pedra é pura energia. E se estiver com a energia de alguém que se feriu?”

pode estar na sua conta e amanhã não estar mais. Se a gente fica em vias de perder o controle sobre poder ou não abrir nosso comércio, poder ou não sair das nossas casas, o que dirá com a posse de um dinheiro virtual? A joia resiste? Sim, e é um bem portátil. O que ficou de mais de 2 mil anos da história do povo romano? Joia. Cerâmica quebrou, roupa se desfez. Sobraram ouro e pedras, que não se desfazem. Tenho origem na Síria, um povo traquejado na guerra. Pode vir a guerra que for, sobreviverei. A gente precisa saber se adaptar. E Darwin já falava, né? Só sobrevive quem se adapta. Como atender os clientes em tempos de pandemia? Você não pode abandonar o cliente quando ele para de comprar. Cuido dele sempre. Telefono para saber: “Você está bem?”, “Quer uma ajuda?”. Faço intermediações. Indico a manicure que não pode parar de trabalhar, o restaurante que serve delivery. Indico todo mundo, não quero que ninguém feche as portas. Nessa pandemia, abri uma empresa de intermediação de

negócios. Tenho clientes que confiam em mim, e sabem que se eu indicar o fotógrafo tal, se eu indicar a compra do imóvel ou do carro, minha palavra tem credibilidade. Porque eu testei, eu conheço a certificação. O uso do material sustentável está muito em voga na joalheria. O que você pensa a respeito? Venho de uma linhagem joalheira. Meu pai foi um dos primeiros gemólogos do Brasil. Estudou com o professor Ruy Ribeiro Franco, que era o maior geólogo da USP. Estudei gemologia. Então imagine a nossa preocupação com solo, com certificação. Quando vou comprar uma pedra, quero saber de onde vem, como é o acampamento desse garimpeiro, como ele se alimenta. Pedra é pura energia. E se estiver com energia de sangue, de alguém que se feriu? Você vai pôr isso na sua pele. Isso vai te fazer mal ou vai te trazer uma boa energia? Não consigo vender algo que eu não tenha certeza de onde vem. Você cuida com essas minúcias de cada pedra? Exatamente. Já tive muitas ofertas para transformar uma só loja em cem. Mas

então não teria o mesmo controle sobre a qualidade. Existe uma palavra que me define. Esta palavra é ética. Preciso saber o que meus funcionários comeram, como eles moram, como a pedra foi lapidada, de quem eu comprei, como ela chegou até mim. Deixei de usar oxigênio na oficina. A White Martins é minha fornecedora há 45 anos e estou sem pedir essa matéria-prima. Não é a joia que precisa de oxigênio neste momento. É o ser humano. Precisamos priorizar. Isso se chamar ética. E quem tem ética tem caráter. A Casa Leão tem dois perfis no Instagram, um aberto a todos e outro apenas para clientes tradicionais. Por que essa distinção? Tenho um perfil aberto. Lá estão as joias que todo mundo já copia há muitos anos. Entre elas, Vida, Saúde, Respeito e Gratidão. Mas o outro perfil da Casa Leão no Instagram mantenho fechado. O cliente quer essa discrição. Fico revoltada ao ver vendas de joias no Instagram sem sequer um CNPJ. Ora, dou emprego para muita gente e pago todos os impostos. Fico revoltada não só por mim, mas pelos joalheiros

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“Se o rico comprou uma joia na Casa Leão Joalheria, se adquiriu um carro de R$ 1 milhão, se foi no Cidade Jardim e gastou R$ 1 milhão, ele aqueceu a economia”

corretos, que têm loja em shopping, que pagam seus impostos. Você tem funcionários de décadas na Casa Leão. Orgulha-se disso? É claro. Mantemos funcionários fiéis e por muitos anos. Tem gente que trabalha na empresa há 20 ou 25 anos. Sou fiel e leal com os funcionários. Eles estão vivendo bem? Estão seguros? Eu me preocupo com eles, assim como me preocupo com os clientes. Quais as missões e valores da Lydia? Meu maior valor é ética. É ter empatia pelo outro. Minha missão é ser uma capitalista consciente. É preciso entender que enquanto todo mundo não tiver um prato de comida, saúde e viver bem, o mundo não vai dar certo. As pessoas morrerão de guerra, revolução ou doença. Não dá para ser milionário, cheia de brilhantes, se o outro não puder morar bem, não tiver um transporte público de qualidade. Minha missão é chegar para o muito, muito, muito rico e mostrar que ele tem a obrigação de gastar. Isso se quiser, de fato, um mundo melhor.

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Por que o rico tem obrigação de gastar? Quando gasta, ele jorra dinheiro no mercado e isso garante empregos em diversos setores. Se comprou uma joia da Casa Leão Joalheria, se adquiriu um carro de R$ 1 milhão, se foi no Cidade Jardim e gastou R$ 1 milhão em compras, ele aquece a economia. Isso é ainda mais essencial na pandemia. Se o rico quer permanecer rico, então terá de gastar, para distribuir esse dinheiro. Como estão as coleções agora? Estão voltadas com palavras de otimismo, voltadas para a saúde. Já os projetos do futuro estão cada vez mais alicerçados no respeito ao meio ambiente. O futuro da Casa Leão Joalheria está ficando mais amplo, em busca da mudança da consciência coletiva. Qual a sua inspiração? A preservação da natureza, sempre. Os 109 anos da Casa Leão vieram das pedras naturais, do solo. Tudo está na natureza. A cura está na natureza. A minha riqueza veio da natureza. Por isso tenho essa preocupação ambiental. Você tem envolvimento com projetos sociais, como a Casa Hope, certo?

Quando tive minha primeira filha, eu me vi uma mulher de família rica, extremamente inteligente, com educação de primeira linha, morando bem, casada com um homem rico, com uma filha absolutamente perfeita. De alguma forma quis agradecer a Deus todas essas bênçãos na vida. Sou religiosa. Naquele momento conheci a Cláudia Bonfiglioli, da instituição beneficente Casa Hope, e ela estava atrás de casa para alugar. Eu trabalhava para um político e a única coisa que pedi a ele foi um endereço para a Casa Hope. Ele conseguiu a casa na rua Joaquim Távora. A Hebe deu o enxoval. Hoje tenho clientes ótimos, ricos, maravilhosos e todos são doadores. Só tenho cliente do bem. Eles doam porcentagens importantes das suas fortunas para a caridade. O que você pensa do futuro? Espero passar para as pessoas que me seguem os meus valores de ética, de educação e não sucumbir ao que é mais fácil, só para ser mais agradável. Tento me manter na minha postura, na minha posição. Certo é certo, errado é errado. Não existe meio-termo. TP



NEGÓCIOS

O DESBRAVADOR MARCOS ROBERTO CRUZ VENDIA COXINHAS NAS RUAS. DEPOIS CRIOU EMPRESAS A PARTIR DO INTERIOR DO MATO GROSSO E RONDÔNIA. HOJE, COMANDA O GRUPO CANOPUS, UM CONGLOMERADO DE 41 COMPANHIAS E COM FORTE ATUAÇÃO SOCIAL Por WALTERSON SARDENBERG Sº Retratos TUCA REINÉS

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C Se há alguém que tem estrela, esse alguém é Marcos. Ele comanda 41 empresas, a maioria concessionárias de automóveis Toyota, BMW, Mini, Nissan, Chery e motocicletas Honda. As companhias estão distribuídas no Mato Grosso, Rondônia, Amazonas, Pará, Distrito Federal e Goiás – longe do eixo Rio-São Paulo. Mas também há lugar para um Consórcio Canopus, corretora de seguros, energia solar, atacado de peças. Um conglomerado. Contando apenas a área de veículos, o Canopus tem 2 mil funcionários. Números dessa ordem podem surpreender empresários do Sul e Sudeste. Mas ainda mais assombrosa é a história de Marcos Roberto, o menino que vendia coxinhas nas ruas. Ele criou uma instituição beneficente aos 20 anos. É o sujeito simples que ama pescaria e comer galinha caipira na casa das irmãs e da cunhada. E pode estar, neste momento, tanto em Nova York quanto em Cuiabá.

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C O M A P E N A S 10 A N O S , M A RC O S RO B E R T O C RU Z E R A , N A P R ÁT I C A , O G E R E N T E D O M O D E S T O B A R DA FA M Í L I A E M V I C E N T I N A , N O M AT O G RO S S O. A B R I A E F E C H AVA O C A I X A . N E G O C I AVA C O M O S F O R N E C E D O R E S . AT E N D I A A F R E G U E S I A . A P R E C O C I DA D E A J U D O U, C L A RO. H OJ E , AO S 62 A N O S , E L E É O P R E S I D E N T E D O G RU P O C A N O P U S – O N O M E V E M DA E S T R E L A M A I S B R I L H A N T E DA C O N S T E L AÇ ÃO D E C A R I N A .

THE PRESIDENT _Como tudo começou? Marcos Roberto Cruz - Com meus pais em Pacaembu, no interior de São Paulo. Em 1958, um ano antes de eu nascer, meu pai estava desempregado e minha mãe precisou fazer coxinhas para vender na rua. Daí saíram para Vicentina, no Mato Grosso, onde tiveram um bar entre 61 e 65. Ganharam dinheiro, compraram sítio, casa, carro. Depois meu pai foi trabalhar com compra e venda de gado e começou a ser avalista de conhecidos, no banco. O gerente falava: “Passa ali no ‘seu’ Chiquinho e pega um autógrafo dele”. Meu pai mal sabia assinar o nome. De autógrafo em autógrafo, a conta chegou e meu pai teve de vender tudo para pagar. Ele não sabia que estava sendo avalista? Sabia. Era camarada, acreditava nas pessoas. Perdão, mas “seu” Chiquinho também gostava de tomar uma coisinha, não é? Põe coisinha nisso! Ele tomava todas. (Risos.) Aí a família voltou a fazer coxinha para vender nas ruas. Minha mãe, que se chamava Irene, meu pai e os quatro filhos. Eu ia na roça de um tio, buscar mandioca para a massa da coxinha, todos da família participavam da confecção e venda na rua, campo de futebol e feiras. Em 1970, meu pai comprou outro bar. Meu irmão mais velho, Francis Maris, estava trabalhando como office boy num escritório de contabilidade e eu, com 10 anos, fui ajudar no botequim. Foi então que meu pai adquiriu um sítio e, na prática, fiquei


“Nossa primeira loja foi de autopeças. Ficamos dois anos sem vender nada. Não falimos porque minha mãe comprava roupas em São Paulo e revendia na região”

tocando o bar. Minha mãe e minhas irmãs Lúcia e Marlene cozinhavam, fazendo salgadinhos. Então, eu já era, na prática, gerente de um bar. Três anos depois, meu pai resolveu vender tudo e até mudar de cidade. Dívidas, de novo? Não. Ele sempre gostou de ser bandeirante, aventureiro. Adorava lugares que ainda não tinham nada. E assim foi em Mirassol do Oeste, no norte do Mato Grosso. Não tinha água, nem luz, telefone, não tinha nada. Só estrada de terra. Ali nós montamos a loja de autopeças, em 1973. Ficamos dois anos sem vender nada. Não falimos porque minha mãe comprava roupas em São Paulo e revendia em Mirassol e cidades vizinhas. Rodava numa Rural Willys tão velha que a porta do porta-malas traseiro e o tanque caíram. Foi então que, em 1975, Deus nos mandou a luz. O governo federal e o governo de Mato Grosso mudaram o trajeto de uma rodovia grande, que começou a passar pela nossa cidade. E então passamos a vender peças como nunca. Vocês já tinham em estoque? Não. Nosso estoque era só de peças em

desuso. Não valia nada. Começamos a comprar na cidade vizinha, Cáceres. Depois, em Cuiabá. Já então conseguíamos um desconto maior. Mais tarde passamos a comprar peças em São Paulo, e, a seguir, direto das fábricas. Foi a cartada certa. Eram peças Ford, Volkswagen e GM? Sim. Também para caminhões Mercedes. A loja começou a crescer. Abrimos uma filial e logo outras na região. Chegamos a 14 filiais. Mas tínhamos pouco controle dos processos e começamos a ter muitos problemas de desvio de peças. Alarmados, passamos a investir em fazendas, para não perder o dinheiro. Até que, em 1982, surgiu a chance de abrir uma concessionária Honda em Vilhena, Rondônia. Deu muito certo e compramos a revenda de Cáceres-MT. Ajudou o fato de você ser um apaixonado por motociclismo. Chegou a fazer, na época, uma viagem épica de moto pelo Brasil, de mais de 14 mil quilômetros? Isso foi decisivo. Na viagem, passei no escritório da Honda em Brasília para tentar um patrocínio e pedir uma concessão em Vilhena. O rapaz que nos atendeu ficou impressionado com

minha paixão pelas motos e afirmou que, se dependesse dele, eu teria essa concessão. De fato, conseguimos. De Brasília fomos de moto até Belém e de lá seguimos pelo litoral. Descemos até São Paulo e depois voltamos para o Mato Grosso. No total, 38 dias seguidos de viagem. Saiu uma reportagem na revista Duas Rodas. Qual foi o maior perrengue? Houve muitas brigas. (Risos.) Éramos três pessoas dormindo no mesmo hotel, acordando, tomando café e passando o dia inteiro juntos. Já viu, né? Complica. Além do mais, tínhamos motos diferentes. Eles pilotavam duas XL 250. A minha era uma CB 400, bem mais potente. Teve um dia, na Bahia, que as brigas foram tamanhas que resolvi me separar do grupo. Dirigi sozinho 1.500 quilômetros somente naquele dia e dormi em São Paulo, longe deles. O número de concessionárias já havia crescido, quando você decidiu dividir as empresas com seu irmão e tocar as suas sozinhos. Por que tomou essa decisão? Acontece que ele tinha a maneira dele de administrar e eu a minha. Chegou uma hora em que nossas visões eram muito

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diferentes. Não dava para conciliar. Eu tinha 30 anos. Resolvemos repartir o patrimônio. Chamamos dois amigos compadres nossos, fazendeiros, para ajudar nessa divisão de bens. Com a ajuda e indicação deles, acertamos tudo. Meu irmão já era então casado. Resolvi deixar a cargo dele os negócios próximos a Mirassol do Oeste, onde ele morava. Fiquei com aqueles mais distantes. Houve quem dissesse que perdi dinheiro na divisão. Rebati: “Não. Consegui 100% da minha liberdade”. Nunca mais discuti o assunto com o meu irmão. E continuamos muito amigos. Foi quando você se mudou de Mirassol? Isso mesmo. Comecei uma nova vida em Vilhena, Rondônia. Fiquei seis meses por lá e, em seguida, me mudei para Cuiabá, depois de comprar a revenda Toyota de lá. Isso foi em 1988. A revenda era a última colocada em vendas no Brasil, entre 133 concessionárias. Naquele ano, ficamos em 54º. Em cinco anos, passamos para o primeiro lugar. Qual foi a estratégia para atingir esse volume de vendas? Primeiro, muito trabalho. Na época, eu viajava em média 6 mil quilômetros por mês. Passava por todas as cidades onde tinha negócios. Visitava padre, prefeitura, fazendeiros, qualquer pessoa ou entidade que pudesse se interessar por um Toyota Bandeirante. E fui contratando vendedores em vários pontos do país. Depois chegaram as Toyotas importadas. Não foi diferente. Eu passava meses propondo às pessoas fazerem test drives. Resultado: sempre estive entre os maiores revendedores Toyota no Brasil, em motos Honda também sempre

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“Quando tive a primeira concessionária, viajava 6 mil quilômetros por mês. Visitava padre, prefeito, fazendeiro, qualquer um que se interessasse por um Toyota”

ficamos em primeiro, ou entre os primeiros revendedores do Brasil em números de vendas e qualidade aferida pela montadora. Você deve ter sofrido com a variação do câmbio, não? Nem me fale. (Risos.) Graças a Deus superamos Plano Sarney, Plano Bresser, Plano Collor. Em 1995, se não me engano, tivemos uma variação grande, o imposto de importação saiu de 32% e foi para 70%. E a fábrica falava: “Vou fechar isso aqui, vou embora”. Pelo amor de Deus, não faça isso! E como esquecer quando acordei com 50 mil cruzeiros novos (R$ 8,3 mil em valores atualizados), no Plano Collor? Foi um baque tão grande que fiquei três dias pescando sem ouvir rádio, sem ver TV, longe de tudo. Pensei: “Deixa a coisa rolar, brasileiro sempre dá um jeitinho”. E então começaram a liberar crédito para quem tinha dívida anterior. A coisa andou. Em reconhecimento ao seu trabalho, a Toyota e a Honda já o convidou para ir ao Japão. Quantas vezes você esteve por lá? Três. Os convites não se deram apenas pelo volume de vendas. Para os japoneses, você tem de ter qualidade em tudo, seja no atendimento, no serviço, na

transparência. Eles criaram uma régua para medir cada detalhe. Como você, que vende para o interior do Brasil, vê a chegada do carro elétrico? Claro que apoio a iniciativa de um veículo não poluidor. Mas é preciso lembrar que existem vários Brasis. O carro elétrico vai dar certo, antes de tudo, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte. Mas imagine quanto tempo levará para ser comprado por alguém, digamos do interiorzão de Mato Grosso. O carro autônomo também vai demorar a chegar lá? Bastante! Dia desses, uma cliente me ligou e disse: “Ah, eu não posso comprar esse carro porque ele não tem autonomia de 600 quilômetros”. Perguntei: “Mas para que você quer autonomia de 600 quilômetros se a cada 50 quilômetros em média tem um posto de gasolina?”. Ela falou: “Passei em quatro postos de gasolina seguidos e nenhum tinha gasolina”. Ainda são vários Brasis. Como a pandemia afetou a Canopus? Nos três primeiros meses, pensei: “Nossa Senhora, depois de velho terei de voltar a todas as crises do passado?”. Com 30 anos é uma coisa, com 62 é outra, bem diferente. Pensei que o

mundo fosse se acabar. Caímos 70% em vendas no primeiro mês. No segundo não foi diferente. Hoje vivenciamos um crescimento lento, de 5% ao mês. Teve uma coisa que nos ajudou muito: no momento, vendemos os veículos no preço da tabela, porque está faltando o produto. Pelo mesmo motivo, não gastamos com marketing. No início, obviamente, fizemos uma redução de quadro. Voltamos a repor em seguida. Por fim, o lucro se manteve e não foi tão desesperador assim. E quais são as perspectivas? O ano de 2021 vai ser muito bom para o setor de automóveis. E 2022 será melhor ainda. Depois virá um ano pós-eleição e o governo dará uma apertada, mas não acredito que seja nada do outro mundo. A coisa deve andar. A médio e longo prazos, o Brasil será um excelente lugar para investir. Aliás, o pessoal do exterior está vendo isso e já está investindo. Hoje é comum você chegar nos hotéis de Cuiabá e encontrar pessoas falando outras línguas. Não são turistas. São investidores. Para administrar tantos negócios, você tinha de viver na estrada. Agora está morando parte do ano nos Estados

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Unidos. A tecnologia permite comandar os negócios de fora do país? A internet ajudou muito. Foi uma economia e tanto aprendermos a nos comunicar via Zoom, via Skype, via tudo que apareceu pela frente. Eu me mudei em 2007 com a família para Miami porque queria que meus cinco filhos aprendessem o inglês corretamente – o meu é macarrônico e ruim – e conhecessem a fundo outra cultura. Todos eles fizeram faculdade por lá. Um deles trabalhou na Lexus Automóveis USA. Outro na Mackenzie, em Miami e Londres. Também teve mais um que passou por uma empresa de inovação em Nova York, com visitas a empresas do Vale Silício, como Google e Apple. Já a minha outra filha trabalhou no JP Morgan e atualmente trabalha numa empresa de marketing digital analytics ligada à Amazon, em Nova York. Alguns atuam no Grupo Canopus. Hoje, fico parte do tempo em Nova York, mas também em São Paulo e Cuiabá. Fazer venda online de veículos é difícil? A venda do automóvel se inicia 90% no online, pelo site [grupocanopus.com.br] ou pela mídia social, por meio de pesquisa, mas 90% se concretiza na concessionária. O brasileiro gosta de fazer test drive. Como está o trabalho de sucessão do poder na Canopus? Já se iniciou. Meus filhos começaram lavando carros na empresa. Quero que conheçam todos os setores: vendas, contabilidade, auditoria, tudo. Quando estavam de férias dos Estados Unidos, vinham trabalhar nas

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concessionárias. É importante que valorizem o trabalho. Essa ética em relação ao trabalho, veio da sua mãe, dona Irene... Sim. Meu pai era aquela pessoa que não falava muito. Depois a bebida tomou conta dele. Nos últimos quatro anos de vida, já não bebia mais. Mas a ideia de valorizar o trabalho sempre foi puxada pela minha mãe. Se você quisesse ficar na cama mais um pouquinho de manhã, ela jogava um balde de água em cima. (Risos.) Um método, digamos, controverso, mas eficiente. Pois é, deu certo. Agora, costumo dizer que o trabalho precisa ser integrado. Existem as estratégias, o networking, existe a equipe. Dou muito valor à nossa equipe de trabalho. Eu diria que pode haver outra tão comprometida quanto a nossa. Mas mais comprometida não existe. A maioria do nosso pessoal tem 10, 20 ou 30 anos de empresa. Passa a ser quase uma família. Você também dá muita importância ao trabalho social. Fale sobre o Instituto Canopus. O ser humano é invejoso. Tudo o que você faz e tem sucesso ele vai querer copiar. Então, se ninguém fala que está fazendo doação, ninguém vai querer fazer porque não dá Ibope. Então eu falo. Não é pecado nenhum. Você começou a fazer trabalhos sociais muito cedo, não? Aos 20 anos iniciei a construção de um lar dos idosos carentes com três amigos da mesma idade. A entidade foi aumentada, melhorada, graças ao pessoal da Maçonaria, Lions Club, Rotary Club, às irmãs de caridade e muitas pessoas boas

que existem em Mirassol D’Oeste-MT. Mantém uma média de 30 a 40 idosos muito bem cuidados. Jamais recebemos auxílio de governo nenhum. E nunca oferecemos algo usado. É roupa de cama nova. São talheres novinhos. E quanto ao Instituto Canopus? Entre outras atividades, promovemos um curso gratuito de três dias chamado Estilo de Vida Canopus. Para participar é só entrar no site [institutocanopus.org. br]. Nós tratamos de família, espiritualidade – não de religião –, amizade, filantropia, voluntariado, meio ambiente, evolução profissional, emocional, cultura, orçamento e planejamento de vida. Acredito que 97% dos seres humanos não têm um planejamento de vida. E isso é essencial para qualquer um. São 8 mil voluntários no Instituto Canopus. Em um ano, de março de 2020 a março de 2021, distribuímos 40 mil cestas básicas. Mas o nosso trabalho principal é na área de educação, temos escolas de contraturno, artes como dança, música, esporte, em bairros carentes. Também participo de um grupo chamado G.E.M.T.E., que apoia a melhoria da educação do estado do Mato Grosso. Além disso, estou junto do Instituto Unidos pelo Brasil. Com membros em todo o país e escritório em Brasília, essa instituição incentiva e apoia os parlamentares a votar projetos urgentes e necessários para geração de emprego e renda, crescimento, desburocratização e diminuição do Estado. Temos um grande país. É preciso darmos as mãos para desenvolvê-lo. Minha mãe sempre dizia: “Quem não vive para servir, não serve para viver”. TP


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PAULA COSTA

VP. DE MARKETING DA DIAGEO O JOHNNIE WALKER VAI AINDA MAIS LONGE


SEMPRE EM FRENTE Paula Costa, VP de marketing da Diageo no Brasil, comemora os 200 anos de Johnnie Walker: “Pequenos passos fazem muita diferença” Por LUCIANA LANCELLOTTI Retratos GERMANO LÜDERS

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eep walking". Você decerto conhece este slogan. Assim como identifica a figura do dândi eduardiano caminhando a passos largos, gravada nas garrafas dos uísques Johnnie Walker. Ambos evocam uma jornada de conquistas guiada pelo otimismo, apesar das adversidades do caminho. “Em 200 anos a marca já viu tudo o que é possível, de bom e de ruim. E permanece”, lembra Paula Costa, VP de marketing da Diageo no Brasil, que comemora o 200º aniversário da marca escocesa. O espírito de evolução sempre foi a ideia central de Johnnie Walker. O senso de pioneirismo levou seu fundador, John Walker (1805 -1857), a começar a misturar uísques com maestria em 1820 em sua mercearia em Kilmarnock, na Escócia. Ele tinha apenas 15 anos. O procedimento o tornaria conhecido por séculos como “o criador do blend”, embora outros já houvessem tentado fazer o mix, obtendo, porém, uma bebida próxima ao intragável. Décadas depois, coube ao seu primogênito, Alexander, convencer o pai a abandonar a mercearia para se dedicar exclusivamente à produção e ao comércio do uísque, na época rotulado como Walker's Kilmarnock Whisky. O nome Johnnie Walker seria cravado apenas em 1908. Alexander também idealizou, em 1870, o tradicional formato quadrado das garrafas, para facilitar o armazenamento. Em 1920, Johnnie Walker já estava presente em 120 países, antes mesmo de a Coca-Cola romper as fronteiras dos Estados Unidos. Foi, portanto, a primeira marca global da história. Hoje está entre as mais valiosas, presente em 180 países. As comemorações pelo bicentenário tiveram início no ano passado e se estendem por 2021, com o lançamento de edições comemorativas do destilado e uma campanha internacional que inclui um documentário. Ciente da força e da influência de seu slogan, a marca estreita, cada vez mais, seu alinhamento com valores como diversidade, sustentabilidade e empreendedorismo. A iniciativa mais recente, The Next Steps (Os Próximos Passos), foi anunciada em abril e envolve o mais ambicioso comprometimento de Johnnie Walker com a sustentabilidade: até 2030, produzir sem qualquer emissão de carbono, em destilarias movidas apenas por energia renovável, com todas as embalagens recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis.

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THE PRESIDENT _ O slogan “Keep Walking” é atemporal. Vale para tempos de pandemia, por exemplo. Como tem sido para a marca lidar com a crise gerada pela Covid-19? Paula Costa - Para nós, a pandemia tem sido uma experiência muito extrema, porque, como empresa, somos um negócio que depende muito de encontros. Mais da metade do nosso negócio é feito de bares e restaurantes. E nos orgulhamos de apoiar o setor neste momento. Como esse apoio vem sendo aplicado no Brasil? Fizemos uma doação de mais de R$ 15 milhões para o setor de bares e restaurantes no país – US$ 100 milhões no mundo. Desejamos que as pessoas tenham esperança de que esse momento passará, como outros tantos passaram, incluindo guerras e pandemias. Para nós, é muito inspirador dizer: “200 anos se passaram e a gente terá mais 200 pela frente”. Os treinamentos que a Diageo promove aos profissionais vêm sendo mantidos? Sim, virtualmente. A Diageo Bar Academy é um projeto global, um dos mais lindos que temos. Estamos no centro da indústria de entretenimento, e o treinamento dos profissionais é fundamental para a nossa indústria. Entretenimento e hospitalidade dependem muito de expertise. Por isso, investimos na formação de bartenders. Promovemos também um concurso mundial, o World Class – acabamos da fazer a final brasileira e Bianca Lima, uma bartender incrível,

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irá pra final em Madrid. Johnnie Walker se orgulha de promover essa especialização. Quando uma pessoa comum entra em um bar e toma uma bebida bem servida, é outra experiência! O mercado de destilados, de fato, proporciona experiências diferenciadas. Sim, quando você bebe um destilado ou um drinque, a ideia é sentir a atmosfera. Os bares são os lugares onde mais criamos marca. E nossas marcas representam, também, um lifestyle. Johnnie Walker tem essa coisa do empreendedorismo; Tanqueray é algo mais clássico e ao mesmo tempo disruptivo; Baileys é uma marca linda e relativamente nova no mercado brasileiro, que a gente está construindo com indulgência. E Smirnoff, democrática, é uma das marcas mais amadas do Brasil. Penso que quanto mais fomentamos o mercado de bares e restaurantes, melhor será para todo mundo. A Diageo é engajada em causas humanitárias. Vocês fizeram uma grande doação de álcool em gel para a população brasileira, certo? Sim, temos a fábrica de Ypióca no Ceará. Os próprios funcionários tiveram a iniciativa e elaboraram a garrafinha em apenas uma semana. Doamos mais de 50 mil litros para a Secretaria de Saúde do Ceará. Depois vieram as doações em todo o mundo. Há outro programa desenvolvido no Ceará, não? Sim, com as detentas, e sou apaixonada por ele. Primeiro porque tenho uma paixão específica por questões de

“Na pandemia, doamos R$ 15 milhões para o setor de bares e restaurantes no Brasil – US$ 100 milhões no mundo”

diversidade – patrocino o comitê de diversidade da Diageo – e, obviamente, porque sou mulher. Fazemos uma linha de Ypióca que chamamos de “empalhada”. Um invólucro de palha envolve cada garrafa. Esse trabalho é feito de modo artesanal também nas penitenciárias femininas. É um negócio sério e maravilhoso, até porque as detentas ganham não apenas remuneração, mas redução de pena. Como é a representatividade feminina no quadro de funcionários da Diageo? A Diageo tem a diversidade como DNA. Somos uma das empresas com maior representatividade feminina no alto comando, por exemplo. No cômputo global, são quase 50% de mulheres em cargos de chefia. No Brasil, são 44%. Sinto o privilégio de


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ser mulher e trabalhar em uma empresa que fomenta a diversidade. Que tipo de iniciativa da Diageo se volta à conscientização dos jovens sobre o consumo de álcool? Essa talvez seja a principal preocupação da Diageo, como líder no segmento de destilados premium no mundo. Temos, por exemplo, um programa com uma peça de teatro desenvolvida especificamente para escolas, na linguagem jovem, que abre os olhos da garotada quanto aos perigos do consumo precoce do álcool. Todos os nossos conteúdos no mundo digital só abrem o acesso se o usuário se declarar com idade legal para consumir álcool. Também temos uma política muito severa em propaganda. E com relação aos funcionários? Ao assinar o contrato de trabalho, o funcionário admite que pode ser demitido se for flagrado dirigindo com excesso de álcool no sangue. Devemos ser exemplos. Todas as pessoas que trabalham com marketing na companhia passam por treinamentos constantes sobre o que se pode ou não promover. Não podemos jamais, por exemplo, incitar o consumo excessivo. Como têm sido as comemorações do bicentenário de Johnnie Walker? Este ano inteiro foi eleito o ano dos 200 anos, e o marco foi 2020. Primeiro lançamos edições comemorativas. Uma garrafa diferente para o Red, outra para o Black e mais uma para Gold. Também trouxemos três versões de Blue. Uma delas é bem especial, a Bicentenary Legend, produzida com uísques de destilarias que não existem

mais. Lançamos também o Johnnie Walker & Sons, homenagem à família. Os rótulos lançados em edição limitada estão no mercado brasileiro? Sim. Um deles é muito especial, Blue Label 200th Anniversary Edition, uma edição linda com garrafa de cristal. Nas comemorações de 200 anos no Brasil, houve várias ações com celebridades, incluindo Alok e Djamila Ribeiro. Isso denota uma preocupação com a diversidade? Sim. Foi deliberado. Chamamos a Djamila Ribeiro para fazer uma live global no Dia Internacional da Mulher. A diversidade está no cerne da companhia. Fizemos também uma edição comemorativa: quem pedia pelo nosso e-commerce ganhava um dos livros da Djamila, Quem Tem Medo do Feminismo Negro?. Johnnie Walker anunciou recentemente seu mais forte compromisso com relação à sustentabilidade. Sim, com targets de preservação ambiental com relação à emissão de carbono, à reciclagem de embalagem e à preservação de água. Além disso, a marca desenvolveu uma embalagem de papel. Ela estará disponível no mercado brasileiro? Com certeza. Pretendemos que chegue em 2022. Fizemos um consórcio com várias empresas grandes, inclusive com a Unilever. O desafio, agora, é de escala. Estamos superempolgados com essa embalagem de papel. O que podemos esperar para este ano, ainda, como comemoração dos 200 anos? Estamos fazendo uma grande ação

“Uma das edições comemorativas é o Bicentenary Legend, produzido com uísque de destilarias que não existem mais”

sobre sustentabilidade. Se queremos que o mundo tenha mais 200 anos, precisamos cuidar, certo? Pequenos passos fazem muita diferença. A questão da sustentabilidade é muito maior do que imaginávamos. Todas as nossas lojas mostrarão nossos compromissos de sustentabilidade, inspirando as pessoas. No ano que vem teremos, também, novas edições comemorativas. E acabamos de lançar uma submarca, a Johnnie Blonde, uma versão super-refrescante: um uísque feito para misturar, perfeito para drinques e ocasiões diurnas, como para tomar na praia. O Brasil é um dos quatro países do mundo que contam com esse produto – por enquanto, apenas em Curitiba. TP

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SABOR ÚNICO Com criação especial, o Porco Ibérico de Bellota vive de maneira selvagem numa região entre Portugal e Espanha. A sua alimentação, baseada em gramíneas e castanhas (as bellotas), proporciona uma carne suculenta e macia. Dessa joia rara, a Swift apresenta quatro cortes exclusivos: Cabezada, Presa, Secreto e Pluma. Na alta gastronomia ou na sua grelha, essas carnes são versáteis na hora da harmonização e surpreendentes na textura e no sabor.

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HARMONIZAÇÃO Os cortes de Porco Ibérico de Bellota combinam muito bem com vinhos e cervejas. Entre os rótulos tintos, vale optar pelas uvas Cabernet Sauvignon e Tempranillo. Elas garantem textura e maciez na boca. Se optar por vinhos brancos, as sugestões são Riesling (mais frutado e com boa acidez) e Chardonnay (mais leve e delicado). Na hora da escolha da cerveja, vale observar o preparo da carne. Aquelas mais defumadas são casar bem com Rauchbier, Pale Ale e IPA. Já as grelhadas pedem os estilos Pilsen, Pale Ale, IPA, Porter e Stout. Por fim, as carnes suínas mais temperadas vão melhor com Brown Ale, Belgian Ale, Trapistas e Weizenbock.

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130 ANOS DA ÁGUA SÃO LOURENÇO Ela continua sendo engarrafada com o mesmo carinho de 1890. E agora com muito mais recursos

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Parque das Águas, em São Lourenço: aqui tudo começou

PELO MENOS QUATRO GERAÇÕES DE BRASILEIROS aprenderam a apreciar – e pedir – aquela que é considerada a melhor água naturalmente gaseificada oferecida no Brasil, a São Lourenço. Ela vem frequentando as mesas do país desde 1890. Portanto, há exatos 130 anos. O avô do caríssimo leitor bebia essa água. O bisavô, também. Não admira a empresa que a engarrafa promover intensa comemoração da data. Muito natural, também, que queira recontar a história gloriosa da Água São Lourenço e convocar seus fiéis consumidores a conhecê-la por dentro. É o que a Minalba Brasil, detentora da marca, vem fazendo com prazer e afinco neste 2021, com a campanha “De Onde Surge uma Lenda?”. Uma das múltiplas iniciativas da comemoração é convidar o público a conhecer in loco de onde vem a lenda: a Fonte Oriente, uma das nove fontes de água natural do Parque das Águas São Lourenço, localizado na cidade mineira do mesmo nome, a 396 quilômetros de Belo Horizonte e 294 quilômetros de São Paulo. “Celebrar este marco é um momento muito especial para nós e temos de compartilhá-lo com nossos consumidores”, diz Camila Coutinho, diretora de marketing da Minalba Brasil. “Completar 130 anos é muito mais do que uma efeméride. É recontar a história dessa água pura e rara. Daí mostrarmos a magia de onde ela brota, um parque único, com natureza e cultura preservadas.” As fontes naturais foram descobertas no interior de Minas Gerais em 1863. Mas apenas 27 anos depois, com a fundação da Companhia das Águas, a água gaseificada passou a ser en-

garrafada. Um novo Brasil estava começando. A República era um bebê, tinha apenas um ano. O Parque das Águas, hoje uma reserva ecológica de 430 mil metros quadrados, ficou tão conhecido que a região se desenvolveu a ponto de transformar um povoado na atual cidade de São Lourenço. Tudo graças a uma água que jamais deixou de ofertar suas características singulares: borbulhas finas e delicadas que aguçam e prolongam o paladar. Elas possibilitam uma experiência gustativa exclusiva, trazendo pureza e leveza. Daí o fato de a água São Lourenço ser indicada por sommeliers como uma das mais adequadas na harmonização com vinhos. A melhor notícia: graças aos recursos tecnológicos, o controle de qualidade é cada vez mais aprimorado. A comemoração dos 130 anos também agrega ações em restaurantes e pontos de venda, além de atividades nas redes sociais. Sem esquecer o lançamento de rótulos especiais, desenvolvidos pela agência GMKT. Eles relembram o grafismo de décadas passadas e a própria história da companhia. Algo perfeito para colecionadores. É a hora de os consumidores celebrarem a data, até mesmo a partir da harmonização com vinhos. Por que não? A Água São Lourenço destaca-se pelo frescor e equilíbrio. Combina à perfeição com brancos de corpo e acidez médios e tintos jovens de estrutura mais leve. Seu bisavô adoraria comemorar. A nossa história também é a dele. TP minalbabrasil.com.br/marca/são-lourenco

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LEVEZA COM SABOR Paula Kekeny, gerente de marketing de Danubio, fala sobre o novo posicionamento da marca: “Viver leve é mais gostoso”

VOCÊ PODE MUITO BEM TER UMA VIDA ULTRASSAUDÁVEL e continuar consumindo saborosos queijos e cream cheeses. O novo conceito da marca Danubio - “Viver leve é mais gostoso” – é a melhor expressão disso. A gerente de marketing de Danubio, Paula Kekeny, explica: “Criamos um manifesto para convidar os consumidores a uma vida mais feliz, mais gostosa e mais leve”. Confira nesta entrevista os detalhes dessa estratégia.

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THE PRESIDENT _ Fale sobre o conceito “Viver leve é mais gostoso” e a relação dele com a linha Danubio. Paula Kekeny - O que mais gostamos nesse conceito é que ele não só trata do que acreditamos, mas também está ligado às principais características dos produtos Danubio – leveza e muito sabor. Para o consumidor, não é nenhum sacrifício optar por queijo frescal e outros produtos Danubio.


Paula Kekeny: “O novo posicionamento da marca Danubio é um convite para um novo estilo de vida nos comportamentos diários e na alimentação”

Pelo contrário, é um grande prazer. O novo posicionamento da marca é um convite ao brasileiro para que ele adote esse estilo de vida tanto em suas atividades e comportamentos diários, quanto em sua alimentação. Como foi a evolução do conceito até chegar ao manifesto? Trabalhamos o território da leveza há mais de dois anos. O conceito do prazer encontrado na leveza partiu de insights dos próprios consumidores de Danubio. E é uma realidade para muitos brasileiros: viver leve, de fato, é mais gostoso. Em 2021, decidimos trazer um novo olhar para esse território. Criamos o manifesto para contar esse estilo de vida da forma mais visual e descontraída possível, aproveitando para convidar os consumidores para uma vida mais feliz, mais gostosa e mais leve. Quais são os pilares de comunicação do novo conceito da Danubio? A campanha foi criada para o digital e desenvolvida a partir de três pilares. O primeiro é um videomanifesto que ressalta o novo posicionamento da marca e convida os consumidores a exagerarem na leveza, aproveitando o melhor da vida e as delícias do portfólio Danubio. O segundo recorre a vídeos de curta duração, programados com estratégia de inte-

CLAUS LEHMANN

ligência contextual de mensagens, por meio de criativos customizados do YouTube. O terceiro pilar é a comunicação nas mídias sociais. Fale sobre as pesquisas realizadas com os consumidores. Para decidir a nova assinatura da marca, fizemos pesquisas com 600 consumidores, com o instituto Quantas - Pesquisas e Estudos de Mercado. Mostramos a eles algumas opções de posicionamentos e o escolhido por 62% dos entrevistados foi “Viver leve é mais gostoso”. O videomanifesto mostra generosas porções de cream cheese, queijo Minas frescal e cottage, por exemplo. Com produtos saudáveis, é possível exagerar um pouco? Sim. Na leveza é possível exagerar. Não só por serem produtos saudáveis, mas também por terem uma consistência levinha. No jantar, por exemplo, cada vez mais as pessoas estão substituindo refeições por lanches. Para proporcionar boa noite de sono, é importante que sejam leves. Os produtos Danubio possibilitam até certo exagero, por exemplo, na torrada com cottage ou cream cheese. Opções como essa são mais leves do que refeições como massas, outros tipos de carboidrato e alimentos gordurosos. TP

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COMO CONVIVER COM O VÍRUS? Restaurantes podem seguir todos os protocolos de segurança e não devem continuar pagando a conta da pandemia Por Sylvio Lazzarini, fundador e diretor do restaurante Varanda Grill

ENQUANTO O PAÍS AINDA VIVE UMA ESCALADA de casos e mortes por Covid-19, alguns setores de atividade estão pagando uma conta muito pesada. Um dos principais é o dos restaurantes. Perto de 90% do setor, incluindo as lojas, vem encontrando dificuldades para cumprir a folha de pagamento. O momento é muito grave em todos os aspectos, tanto para a saúde quanto para o emprego e a renda. Vale destacar que os estabelecimentos de bom nível, em geral, abrem sempre com muita cautela, seguindo todos os cuidados. Recebi alguns americanos e eles ficaram impressionados com as minúcias de segurança que estávamos aplicando. Disseram que não há restaurante trabalhando com tantos cuidados nos Estados Unidos. O mais importante é seguir o distanciamento. Medidas como o retorno do take away não fazem diferença. Essa prática de retirar no local representa 5% do movimento. É muito pouco. Efetivamente o que deveria ser feito é o retorno ao trabalho. Concordo e dou apoio ao centro de contingenciamento, mas, neste ano, é muito diferente para nós. Não temos até agora uma ajuda emergencial, não há nenhum empréstimo, as portas estão completamente fechadas. O setor de serviços é um dos mais impactados pela crise e ainda não conseguiu recuperar as perdas de 2020. Há levantamentos indicando que restaurantes vivem uma onda de quebradeira. Desde o começo da pandemia, muitos empresários adotaram a seguinte prática: demitir, limpar a folha de pagamento, botar todos os empregados na rua e parcelar a quitação das verbas rescisórias em dez vezes. Os empregados estão recebendo o seguro-desemprego.

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Antes da fase emergencial, a queda do faturamento em relação a janeiro e fevereiro de 2020 era algo entre 35% e 40%. Não acreditamos que o movimento volte ao mesmo patamar de 2019. Muitos estabelecimentos fecharam definitivamente. A situação é muito grave, porque a taxa de desemprego no Brasil anda alta. A partir do Sindesbar (Sindicato dos Restaurantes e Bares de São Paulo), estamos promovendo uma campanha para os restaurantes ajudarem no fornecimento de cesta básica e refeições. O Ráscal, em São Paulo, por exemplo, doa 200 marmitas por dia. No cenário atual – sem ajuda do governo -, os restaurantes não têm muitas opções se continuarem fechados. Enquanto não houver auxílio de fato, será difícil. Temos de lutar e cada um fazer sua parte. O problema é quando o empresário fica sem saber o que fazer. Precisamos da liberação de crédito para aliviar a folha de pagamento – as pessoas estão sem receber salários. Muitos donos de restaurantes até relatam que o delivery é custoso e que a reabertura com pouco movimento acaba sendo prejudicial para a saúde do negócio. Em resumo: se ficar, o bicho pega; se correr, o bicho come. Acredito que teremos uma retração. O setor vai se recuperar à medida que a população for sendo vacinada. Nos Estados Unidos, depois da posse de Joe Biden, despencou o número de casos de internações, e a população acabou ganhando confiança para voltar a consumir. Esse processo também vai acontecer em São Paulo e no Brasil. Teremos o momento da abertura e a recuperação gradual do movimento. O que nós devemos fazer agora é oferecer segurança, sempre de forma responsável. TP



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IGUARIA PRÉ-HISTÓRICA Todas as ostras provêm de uma só espécie do Neolítico e só variaram de acordo com o ambiente Por SILVIO LANCELLOTTI

EM 1871, CHARLES LUTWIDGE DODGSON (1832-1898), autor inglês especializado em textos enigmáticos, de puro nonsense, mais famoso como Lewis Carroll, publicou um livro de nome Alice no País do Espelho. Foi a sequência de um outro trabalho intrigante, Alice no País das Maravilhas, datado de 1865. De certa maneira, o “Espelho” reflete, ao inverso, o que ele havia narrado no seu livro anterior. Personagens emblemáticos, eventualmente traiçoeiros, aparecem em ambos – caso, no “Espelho”, de dois irmãos amaluca-

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dos, de corpos que mais lembram ovos, Tweedledum e Tweedledee. Na tentativa de convencer Alice a participar de uma brincadeira, os manos lhe contam uma historieta em versos, “A Morsa e o Carpinteiro”, que perambulam, famintos, por uma praia repleta de ostras. Com muita lábia, a morsa seduz as ostras a acompanhá-los numa aventura. E as ostras topam – para se transformarem, logicamente, no alimento dos famintos. Trata-se de um dos melhores exemplos de como tais moluscos conquistaram a fascinação de inúmeros tipos de comilões,


Casanova, homem de renomada performance sexual, consumia cinco ou seis dúzias antes do ato. Multiplicava a dose no pós-coito, apenas para relaxar

dos animais aos humanos. Nos idos do Neolítico, cerca de 10.000 a.C, a espécie batizada de Ostrea edulis ocupava um banco gigantesco de areia, pedras e cacos de terracota, de quase 6.500 quilômetros de extensão. Um banco que se iniciava na Escandinávia, descia a costa do Atlântico Norte, entrava no Mediterrâneo, subia pela Espanha até a França, atingia o oeste da Itália, deslizava sob a sola da Bota, subia de novo e, enfim, se espraiava no litoral da Grécia. Curiosidade: não havia ostras no Levante e nem na África. Quando Marco Antônio conheceu Cleópatra, nos entornos de 30 a.C., encantou a rainha do Egito com uma pérola de presente. O tempo se encarregou de extinguir toneladas de unidades. Mas, ainda assim, atualmente, nas imediações da Dinamarca, sobreviveu um banco absurdo, com 330 metros de comprimento, 70 de largura e três de profundidade. Para se compensarem da diminuição das amostras, os humanos aprenderam a cultivar ostras. Hoje, existem mais de duas mil fazendas marinhas de ostras em todo o planeta. No Brasil se destacam aquelas de Florianópolis, em Santa Catarina; de Cananeia, em São Paulo; e de Alagoas até o Rio Grande do Norte. Sem esquecer que os criadores desenvolveram uma nova espécie, particularmente robusta, a das ostravagantes, em Ribeirão da Ilha, também em Santa Catarina. As ostras são moluscos bivalves, duas conchas vigorosamente afixadas graças a conexões potentes em seu interior. Filtram a água e absorvem fitoplâncton, ou microalgas, através de guelras dispostas em pares. Quando algum parasita invade, digamos, as suas casas, liberam uma substância denominada madrepérola, que se enrodilha no inimigo e se cristaliza. Em cerca de três anos, a substância vira uma pérola.

ISTOCK

Claro que o invasor nem sempre prejudica a qualidade da pérola. De todo modo, tanto a perfeição como a cor da esfera dependem da saúde de cada um dos moluscos na hora do ataque e da sua capacidade de reação. Com pequenos teores de gordura, e elevados níveis de ômega-3, um ácido graxo generosamente saudável, as ostras são fontes ricas de cobre, ferro, zinco e vitamina B-12. Também ostentam proteínas de importância significativa, com todos os aminoácidos indispensáveis ao crescimento e à manutenção do organismo dos humanos. Sem dizer que, garante a biologia, possuem ótimas propriedades afrodisíacas. NERO E O REI SOL Todas as espécies de ostras provêm da mesma origem, a Ostrea edulis do Neolítico. Por que, então, com o decorrer dos séculos, tais moluscos modificaram o seu desenho e o seu volume? As mutações ocorreram em função do cultivo e da transferência de sementes. Não é a paternidade que determina o seu caráter, mas as condições ambientais. Num bufê de um Oyster Bar podem-se encontrar vários formatos diferentes de moluscos, diversas cores e até sabores. A razão: as características dos cenários em que crescem e evoluem, mais a variação dos nutrientes do fitoplâncton. Nero (17-68), o louco e incendiário imperador de Roma, ao estilo de um provador de vinhos, jurava ser capaz de identificar de onde os seus cozinheiros importavam as ostras que idolatrava. A primeira rainha Elizabeth (1533-1603) era igualmente apaixonada por moluscos. Quando Sir Walter Raleigh (1554-1618) retornou de uma das suas expedições à América, revelou que, na costa onde agora se situam as Ilhas Carolinas, havia visto ostras a brotarem em galhos de árvores. Foi obviamente ridicularizado. Não era maluco, todavia. De fato, naquela região de muitos pântanos, existem plantas cujos ramos mergulham nas águas e mesmo na lama dos mangues. Nas suas pontas as ostras se pregam: são chamadas as Coon

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P A L A D A R

Oysters Rockefeller: finíssima iguaria

Oysters porque, nas marés baixas, as pontas aparecem e os racoons, ou guaxinins, fazem a festa. Do século 17 ao século 18, o apetite pelas ostras, na Europa, transformou-se em febre. O gaulês Henry 4º (1553-1610) costumava abrir o apetite, antes do jantar, com 300 unidades. Outro monarca fanático por gourmandises, o francês Luís 14 (1638-1715), tinha pavor de que as suas iguarias estivessem estragadas ou mesmo envenenadas. Françoise d’Aubigné (1635-1719), a Madame de Maintenon, governanta da sua corte, cotidianamente o compelia a não ingerir “aquelas coisas”. Mas, o Rei Sol não resistia. Por via das dúvidas, obrigava um servo a testar amostras. Daí, mergulhava numa bacia com ao menos 60 moluscos. O italiano Giacomo Casanova (1725-1798), famoso pelas suas performances sensuais, estimulava-se, na cama mesmo, com cinco ou seis dúzias. E, depois, apenas para relaxar, multiplicava a dose. Para os repastos com os amigos glutões, o gastrônomo Brillat-Savarin (1755-1826) providenciava o seu próprio fornecimento. Em um dos seus banquetes, bateu-se um recorde insólito: nada menos de 64 dúzias. Até mesmo nos jovens Estados Unidos as ostras comoveram os grandes dignitários. O presidente Abraham Lincoln (1809-1865), certa ocasião, numa visita a Springfield, Illinois, importou caixas e caixas de moluscos frescos, transportadas numa viagem de trem, sem escalas. Para conservar as ostras, se encheram as caixas de palha e de gelo. RECEITAS DE MESTRES E como se saboreavam as ostras, então? Cruas, ao natural, ou apenas molhadas com gotas de algum fruto cítrico, grapefruit, laranja ou limão. Posteriormente, os procedimentos passo a passo se sofisticaram. Cozinheiros aprenderam a prepará-las no vapor de água pura ou enriquecida por ervas. Depois, no vinho branco, também puro ou também batizado por ervas. Daí, no decorrer das décadas, mestres mais imaginosos revolucionaram o tema graças à formulação de molhos espertíssimos, da maionese de alho ao matrimônio de ketchup e raiz-forte. Sem falar nas opções quentes. Na China, por exemplo, é comum o empanamento das ostras em farinha branca e, então, efetivada a sua fritura rapidinha em gordura de porco. Escolta-se a beleza com shoyu ou um molho agridoce de abacaxi.

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A mais tradicional das quentes é a formidável Bourguignonne, com uma manteiga de alho, sal, salsinha picada, pimentinha vermelha e gotas de Ricard ou Pernod. Num recipiente apropriado, que impede a sua movimentação, as ostras, cada qual com uma boa colherada dessa mistura, vão à salamandra, um forno com o calor proveniente de cima, ou a um gratinador. Ficam por lá até que a sua proteção se doure. Em 1899, na falta dos escargots importados da França que o bilionário John D. Rockefeller (1839-1937) tanto amava, Jules Alciatore (1885-1930), proprietário e chef de cuisine do celebrado restaurante Antoine’s de New Orleans, criou, em sua homenagem, uma alquimia antológica, as Oysters Rockefeller, enfornadas sob um creme de manteiga, licor de anis, vin ho bra nco, cebol i n ha picad i n ha, sa lsão triturado, cerefólio, estragão, gotas de pimenta e farinha de rosca. Monumentais! TP

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Turismo HEBER GARRIDO DIRETOR DO GRUPO FERRASA ELE BOTOU OLÍMPIA NO OLIMPO


Turismo

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O NOVO DESTINO DO TURISMO

Heber Garrido, diretor de marketing e vendas do Grupo Ferrasa, acena com o conforto de belos resorts instalados em um parque de águas quentes termais em Olímpia, no interior de São Paulo Por RICARDO PRADO

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límpia nasceu como estância turística a partir de um efeito colateral. Quando, nos anos 1950, os engenheiros da Petrobras estiveram na pacata cidade do noroeste paulista, a 436 quilômetros da capital, perfurando o solo, buscavam petróleo, claro. Só encontraram água, que saía aquecida, a uma temperatura entre 26 e 38 graus. Lacraram o poço. Nos anos 1980 outro surto de procura petrolífera, capitaneado pela Paulipetro, insistiu na prospecção. Deram com os burros n’água de novo. Mas, dessa vez, um grupo de empresários locais percebeu ali uma oportunidade de negócio. Em 1987, da água fez-se um parque aquático termal, com diversas atrações. Assim, Olímpia, cidade de 50 mil moradores, passaria a atrair milhares de turistas a cada ano. Turistas demandam leitos, hotéis e infraestrutura. Assim, o Grupo Ferrasa, fundado por três empresários visionários - Newton Ferrato, Flavio Sant’Anna e Sérgio Maziteli (in memorian) -, entraria nessa onda aquático-turística que teimava em mudar o destino agrário da cidade. De início criando, em 2002, uma operadora de turismo que foi pioneira no desenvolvimento do destino Olímpia. Na época, para vender ingresso para o então único parque da cidade, o Thermas dos Laranjais. No ano seguinte, o Grupo Ferrasa inauguraria o Thermas Park Resort & Spa, um hotel sofisticado, que passou a atrair um novo público. Seguiu criando novos leitos: mais 264 no Celebration Resort Olímpia, inaugurado em 2015, e mais 464 no Hot Beach Resort, que abriu as portas em 2018. Entre os dois, o grupo ainda encontraria fôlego para lançar, em 2017, o segundo parque aquático da cidade, o Hot

Retratos TUCA REINÉS

Beach Olímpia. Hoje, o Hot Beach Parque & Resorts tem em seu guarda-chuva um parque aquático, três resorts em operação e neste ano entregará o quarto. Agora sim, com dois parques de águas termais e um crescimento de 270% na oferta hoteleira entre 2016 e 2019, Olímpia passaria a responder pelo destino de cerca de 10% dos cerca de 20 milhões de turistas que aproveitam as férias em território paulista. Mesmo assim, ainda é um destino pouco conhecido. Aqui entra na história nosso entrevistado, Heber Garrido, contratado como diretor de marketing e vendas em plena pandemia pelos criadores da marca Hot Beach Parque & Resorts. Garrido tem no currículo um desafio semelhante ao atual, de transformar um destino recente em um hotspot do turismo. Fez isso na Praia do Forte, na Bahia, quando o resort era mais conhecido fora do que dentro do país. Continuou na área, passando também pelo marketing dos resorts da Ilha de Comandatuba (BA) e os dois da rede Blue Tree Park, em Cabo de Santo Agostinho (PE) e Angra dos Reis (RJ). O tsunami chamado Covid-19 o pegou trabalhando para o Aviva, que adquirira o resort Costa do Sauípe (BA). Com projetos pausados pela pandemia, Heber estava em fase de transição, em São José dos Campos (SP), quando recebeu o convite para conhecer Olímpia e o que acontecia por lá. Seus olhos brilharam. Para quem, antes da pandemia, não perdia a oportunidade de levar a mulher e os quatro filhos para os parques de Orlando, e que tem turismo nas veias, um novo destino para mostrar ao mundo, com diversão, água quente e tudo o que a tecnologia do lazer pode criar, é tudo o que ele mais queria.

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THE PRESIDENT _ Como você avalia o impacto da pandemia no turismo? Heber Garrido - Eu diria que, se a pandemia fosse um tsunami que atingiu a praia, o setor do turismo seria aquele vendedor de água de coco, ali na areia. A gente sentiu o impacto de imediato. O Brasil tinha mais de 5 mil voos diários. Passou a ter 50. A parte de cruzeiros foi fechada. O turismo todo sofreu. O agente de viagens, o operador de turismo, muita gente ficou pelo caminho. Mas eu queria olhar o lado positivo desse momento, de aprendizado, de transformação. Tivemos tempo para fazer o treinamento e implantar os novos protocolos, que nem são novos mais. Supermercado não teve esse tempo. Hotel fechou e aproveitou para treinar muito as pessoas e cuidar da segurança dos colaboradores e clientes. A gente volta com uma limitação, só que, para você ter uma ideia, o último trimestre do ano passado, 2020, foi melhor em número de ocupação, visitação diária e faturamento do que o último trimestre de 2019, quando não havia Covid. Isso mostrou a necessidade das famílias de compensar, com segurança, tanto tempo sem viagem, tanto tempo de home office. Então foi bem melhor do que as perspectivas faziam crer. Outro indicador importante foi que 98% das milhares de reservas que a gente tem para o ano foram mantidas e confirmadas para outros períodos. Ou seja, a grande maioria remarcou. Isso mostra também o desejo das famílias de poderem voltar a viajar, fazendo um turismo regional, rodoviário. Aí está a

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vantagem de Olímpia. Estamos à frente dos empreendimentos que vão puxar o turismo na retomada. Não vai ser cruzeiro, não vai ser companhia aérea. Serão os resorts, e em especial os do estado de São Paulo, até por conta do PIB local e do excelente acesso, tanto rodoviário quanto aéreo. Estamos perto de três aeroportos, os de Barretos, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto. Temos uma logística fantástica para essa retomada e apostamos nela. Na Praia do Forte você passou pela experiência de criar um destino turístico internacional. É o que vem acontecendo também em Olímpia. Como se promove um polo turístico? Todo destino turístico começa pela logística. Como é que eu chego lá? A primeira pergunta é essa. No caso da Praia do Forte, o apelo Bahia ajudou muito, o potencial da Bahia em termos de cultura, de gastronomia. Uma parte do Brasil sempre gostou, sempre comprou. Também os franceses, os italianos, os argentinos. E aí a gente fazia uma conexão porque na época o e-commerce não tinha a força que tem agora. Isso foi em 1995. No caso de Olímpia, em franca expansão desde os anos 2000, se destaca em todo o Brasil como maior destino de desenvolvimento em entretenimento e hospitalidade. O grande desafio é dar mais exposição ao destino no mercado da América Latina, em função das atrações - dois parques aquáticos, Hot Beach Olímpia e Thermas dos Laranjais, um parque temático, o Vale dos Dinossauros - e, principalmente, nossos resorts.

“As famílias querem voltar a viajar, fazendo um turismo regional, rodoviário. Aí está a vantagem de Olímpia”

A internet estava engatinhando, não? Exatamente. Então, a quem você recorria na época? Aos grandes operadores. Tínhamos uma intermediação de grandes operadores que detinham a distribuição nos mercados. Tanto a operação aérea, a promoção, lojas, agências para poder promover o destino. E, junto a esses grandes operadores, você precisa de malha aérea para chegar ao destino. Ter um aeroporto internacional facilitava, o apelo cultural também ajudava muito, assim como a questão da qualidade do empreendimento e seus serviços. Aí entrava, de fato, o eco resort. E o desafio de promover Olímpia, qual é? A cidade tem muito potencial de crescimento e investimento, principalmente no modelo de negócio de multipropriedade. Olímpia é um destino relativamente


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novo e com muitas oportunidades de promoção no mercado de viagens. E é uma cidade planejada, que só cresce do ponto de vista de investimento de terceiros. É considerada a Orlando brasileira, tamanho o desenvolvimento imobiliário e de atrações de entretenimento. Dos dez parques aquáticos mais visitados na América Latina, dois estão em Olímpia, e um deles é o nosso, o Hot Beach Olímpia. O outro é o Thermas dos Laranjais, o que deu início ao destino. Olímpia também tem parque temático, o Vale dos Dinossauros. Tem praia artificial em pleno interior de São Paulo, boa rede de gastronomia e é a Capital Nacional do Folclore. Foi declarada

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oficialmente. A cada mês de agosto, recebe mais de 100 mil visitantes. E sedia o Museu do Folclore, além de museu cultural. Fica a menos de 50 quilômetros de Barretos, sendo uma ótima opção de hospedagem para quem vai para a Festa do Peão de Barretos, considerada a maior do mundo no gênero. E novos atrativos turísticos estão vindo por aí para aumentar o portfólio de Olímpia. É um destino que só tende a crescer. Como o grupo está composto para receber os turistas que irão viver experiências em Olímpia? No complexo da rede do Grupo Ferrasa e do Hot Beach Parque & Resorts você tem um resort butique,

que é o Thermas Park, menor, mais exclusivo. Você tem o Celebration, um resort a 500 metros do parque aquático Thermas dos Laranjais. E ainda o Hot Beach Resort, que a gente chama resort pé na areia, porque está no complexo do parque aquático Hot Beach. Ao lado dele, vamos inaugurar o Hot Beach Suítes, que abre as portas no segundo semestre e será a principal inauguração de resort em 2021 no Brasil. E ainda vamos lançar o Hot Beach You com 800 apartamentos a serem entregues até 2022 ou 23. É baseado no modelo de multipropriedade. Mesmo no ano passado, esse mercado foi um dos que mais cresceram no Brasil.


Muita diversão e hospedagem de alta qualidade: a hora é de Olímpia

Você trabalha num mercado muito suscetível a tendências. Ele vai mudando ao longo dos anos, e às vezes essas transformações ocorrem de forma até rápida. Como se antecipar a essas tendências? O nosso negócio é mercado futuro, tanto em vista de promoção de vendas como também de lançamento de empreendimentos. Somos muito pautados em pesquisa. Não tomamos uma decisão sem dados consistentes. Trabalhamos recentemente em parceria com uma empresa de consultoria que fez um levantamento pensando a retomada de resorts nos próximos três anos, considerando dólar, câmbio, fronteira, Covid etc. Dos hóspedes entrevistados, 43% disseram que era muito provável retornarem para Olímpia e para o nosso resort nos próximos 12 meses. Outro

dado importante da pesquisa: 47,46% dos hóspedes ouvidos disseram estar muito satisfeitos e 43,55% satisfeitos com a qualidade dos serviços oferecidos no nosso resort. Então, estamos alicerçados em pesquisas. Olhando a indústria do turismo como um todo, estamos num momento mais de ser do que ter. Vejo as pessoas muito preocupadas com qualidade de vida, com celebração com a família e amigos. A gente não vê com aquela frequência as pessoas trocando o carro todo ano, comprando uma TV de 100 polegadas, mas vemos as pessoas viajando com os amigos e a família. O turismo é a parte do consumo futuro que já demonstra a mudança desse novo turista. E tem outro fator importante: as pessoas estão vivendo mais, e com mais qualidade. Tudo leva a que o turismo cresça ainda mais. TP

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Olímpia, SP


O incomparável lançamento de 2021 no Brasil

hotbeach.com.br

@ hotbeachsuitesolimpia


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DE FRENTE PARA O MAR Esse santuário fincado entre a Mata Atlântica e o mar azul-turquesa é o lugar para recarregar as energias. Localizado na Barra de São Miguel, em Alagoas, um dos melhores resor ts do Brasil oferece hospedagem em vilas frente mar com piscina privativa de borda infinita: Marajó Villa, Jaobi Villa e Kenoa Villa. Muito espaço, privacidade e estilo. É pé na areia, sol e a assinatura do Kenoa Resort. kenoaresort.com

@kenoaresort SET.2020 |

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Turismo

MIAMI-BOUTIQUE

O recém-inaugurado Berkeley Park Hotel MGallery, em South Beach, tem apenas 80 suítes e fica na melhor região da cidade Por RAPHAEL CALLES O BADALO DE MIAMI NO CLIMA DE SOSSEGO de um hotel-boutique de apenas 80 habitações. Esta é a promessa de Berkeley Park Hotel MGallery, em South Beach. Originalmente erguido em 1936 e reinaugurado em abril deste ano, evoca a arquitetura mediterrânea da época da construção. Mas dispõe de todas as comodidades de um hotel de luxo. É a primeira propriedade da bandeira MGallery (pertencente à rede Accor) na Flórida. Entre outros motivos, o Berkeley Park Hotel MGallery destaca-se pelas obras de arte assinadas por artistas locais em suas acomodações. As suítes vão de 18 metros quadrados a 30 metros quadrados. Você escolhe: podem ter vista para a região de South Beach ou para o belo pátio interno. É possível, ainda, optar por quartos com varandas. E quando o assunto é arte, os hóspedes contam com acesso facilitado a importantes pontos deste importante hub cultural que Mia-

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mi se tornou nos últimos anos. O MGallery está instalado próximo do Bass Art Museum, Jardins Botânicos, Fillmore Theater, Miami City Ballet. Também fica perto do mais importante centro de convenções da cidade, o Miami Convention Center, a apenas uma quadra. Em tempo: o hotel deve receber Cleo Mediterráneo em breve. Mais que um restaurante, trata-se de um destino que promete espalhar aromas e sabores exóticos da culinária mediterrânea em um clima descontraído, com pratos para serem compartilhados. Sem esquecer que o verde-esmeralda do mar está a dois quarteirões de uma agradável caminhada pela 20th St. E se sua vibe é mais água doce e menos areia, a piscina no rooftop do hotel é a pedida certa. TP berkeleyparkhotel.com



EMPRESAS

COM UM PÉ NO FUTURO

O RH ficou mais ágil e atento às necessidades das empresas, dos profissionais e dos consumidores. Mas ainda precisa avançar mais, para não perder o bonde da história Por LUIZ MACIEL

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O HISTORIADOR ISRAELENSE YUVAL HARARI, autor de Sapiens: Uma Breve História da Humanidade e outros best-sellers, alerta que o mundo precisa se preparar para sustentar uma nova classe social que já aponta no horizonte – a dos condenados a ficar sem trabalho, por não terem nada a oferecer além do que as máquinas já estarão fazendo, melhor e mais rápido. O sociólogo italiano Domenico De Masi, profeta do ócio criativo, não é tão fatalista. Acredita que essa temível multiplicação de desocupados poderia ser evitada com a redução progressiva da jornada de trabalho. Simples assim. A solução para o desemprego é todos trabalharem menos, sugere De Masi no livro Smart Work – a Revolução do Trabalho Inteligente, que acaba de lançar. Seja como for, a travessia para as novas relações de trabalho que prevalecerão nas próximas décadas será coordenada por uma área que ganha um papel cada vez mais relevante nas organizações, sejam elas públicas ou privadas: o RH, departamento responsável pelos Recursos Humanos, também chamado de Gestão de Pessoas em empresas mais modernas.

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Em tempos menos gloriosos, o RH era conhecido como DP, Departamento de Pessoal, e cuidava basicamente da burocracia envolvida nas contratações, demissões e controle de horas trabalhadas. Hoje faz muito mais que isso. Zela pelo bem-estar dos funcionários e pelo bom ambiente de trabalho. Sugere e coordena cursos de capacitação. Executa a política de diversidade das empresas, abrindo vagas para mulheres, negros, membros da comunidade LGBTQIA+, deficientes e quaisquer outros grupos sociais sub-representados. Cuida, enfim, da retenção de talentos e da boa imagem das corporações na sua relação com os stakeholders – expressão do jargão empresarial que define as partes com as quais as organizações se relacionam direta ou indiretamente, o que inclui desde consumidores e parceiros de negócios até comunidades vizinhas e o público em geral. A evolução nas relações de trabalho ao longo das últimas décadas não foi um movimento espontâneo. Resultou de uma série de ações e reações nos dois lados do balcão, nem sempre pacíficas. A organização sindical deu poder de barganha aos trabalhadores e levou ao aperfeiçoamento da legislação. Os


Um terço da população mundial é formado por gente nascida entre 1980 e 1994. Foi essa geração que levou temas como diversidade e sustentabilidade para a cultura das empresas

patrões perceberam o valor de contar com colaboradores motivados para enfrentar a concorrência, cada vez mais acirrada. Os millennials, como são chamados os nascidos entre 1980 e 1994, pressionaram – e vêm pressionando, com o reforço da Geração Z, mais recente – as organizações por políticas e produtos mais sustentáveis e socialmente responsáveis. “Os millennials não toleram desigualdades e levaram os temas da diversidade e da sustentabilidade para a cultura das organizações. E eles são cada vez mais numerosos e influentes”, observa Rodrigo Vianna, da consultoria Talenses, especializada em recrutamento – ele comanda um dos braços da empresa, a Mappit, focada na identificação de talentos em início de carreira. Aos 44 anos, Vianna se enquadra na Geração X, imediatamente anterior à dos millennials (também conhecida como Geração Y), mas é um dos muitos “mais antigos” que aderiram às teses daqueles que já representam o maior segmento populacional do mundo. Um terço da população mundial é formada por millennials, segundo levantamento da ONU divulgado em 2018. No Bra-

“VALE MAIS A FOME DE APRENDER”

E

specialista em aprendizagem

fez até ali para conciliar trabalho, estudo

corporativa, Alexandre Santille,

e experiências de vida. Quanto mais in-

da consultoria Teya, acredita que

teresses o candidato demonstrar, melhor.

a qualidade mais importante de um

Ter viajado de mochilão pela Europa con-

profissional em início de carreira é a sua

ta pontos, assim como ser ativo nas redes

capacidade de acumular novos conheci-

sociais, ter exercido funções diferentes e

mentos e habilidades. “As empresas vão

participar de ações sociais.

precisar cada vez mais de gente assim”, diz ele.

Isso indica que ele pode se adaptar mais rápido a eventuais mudanças na empresa?

Como identificar essa qualidade nas

Sim, mas não só isso. Espera-se desse

pessoas?

profissional que ele também seja proati-

Não existe um método infalível. Depende

vo, mostre interesse em assuntos dentro

muito da sensibilidade do recrutador, que

ou fora da sua área e proponha boas

deve avaliar as escolhas que o candidato

soluções que não sejam óbvias.

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E M P R E S A S

sil, de acordo com uma pesquisa de 2019 encomendada pelo Itaú BBA, eles respondem por 34% da população, seguidos pelos brasileiros da Geração X (nascidos entre 1965 e 1980), com 26%; pelos novinhos da Geração Z, com 24%; e finalmente pelos veteranos baby boomers (gerados entre 1946 e 1964), com 16%. O mesmo estudo indica que os millennials ocupam 50% dos postos de trabalho do país hoje e devem elevar esse percentual para 70% em 2030. Com seu pelotão da frente entrando na casa dos 40 anos, boa parte da Geração Y já ocupa os postos mais altos – alguns, como Mark Zuckerberg, que fundou o Facebook aos 20 anos e completa 37 agora em maio, são CEOs de organizações poderosas. No papel de consumidores, os millennials são ainda mais implacáveis. Além do preço e da qualidade dos produtos, levam em conta as boas práticas dos fabricantes antes de fechar uma compra. Por serem os primeiros filhos da era digital, podem viver sem carro ou casa própria, mas não abrem mão dos smartphones e aplicativos mais modernos. São adeptos das redes sociais e das compras online. Como valorizam mais a experiência do que a posse, topam pagar mais caro por um café no Starbucks, porque querem ser servidos num ambiente acolhedor com bom sinal de wi-fi. O grande contingente de millennials nas empresas explica em boa parte como o mundo foi capaz de aderir tão rapidamente ao trabalho remoto na pandemia de Covid-19, ainda sem data para terminar. “O home office funcionou tão bem nesse período que a maioria das empresas vai continuar adotando esse sistema de trabalho, em algum nível”, afirma Roberto Leão, diretor para a América do Sul da consultoria HR Trend Institute. “O mercado de trabalho passou a ser global. Os profissionais já podem prestar serviço de sua casa para companhias baseadas em qualquer lugar do mundo, porque a distância não é mais problema com as ferramentas digitais que temos hoje”, conclui. A digitalização, aliás, tem sido fundamental – e continuará sendo – na evolução dos métodos de recrutamento que, já há algumas décadas, os departamentos de RH vêm fazendo com a ajuda de consultorias. A Inteligência Artificial (IA) na triagem de currículos, por exemplo, apoiada por bancos de dados cada vez mais completos, tornou a avaliação dos candidatos a vagas muito mais rápida e justa.

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A inteligência Artificial na triagem dos currículos, apoiada por bancos de dados cada vez mais completos, tornou a avaliação dos candidatos a vagas muito mais rápida e justa

“Antes, quando uma empresa recebia mais de 200 currículos para uma vaga, muitos deles ficavam no final da pilha e terminavam por não ser lidos”, lembra Robson Ventura, diretor de tecnologia da Gupy, que presta serviço a grandes empresas, como Ambev e Vivo. Com a plataforma de IA da Gupy, Ventura garante que os candidatos com maior afinidade com a vaga publicada vão para o topo da lista, poupando tempo e dando mais transparência ao processo de seleção. O home office na pandemia também estimulou o crescimento de startups que oferecem programas para o controle da rotina dos colaboradores remotos e os processos burocráticos de admissão, demissão e concessão de férias. Uma delas, a Convenia, que atende pequenas e médias empresas brasileiras, anunciou um crescimento de 30% em 2020, com a aquisição de 500 novos clientes. Mais impressionante foi o crescimento da TransparentBusiness, startup fundada pela argentina Silvina Moschini e baseada em Miami. A empresa desenvolveu um programa que dá ao empregador acesso à tela do computador de trabalho de seu colaborador remoto. Em outubro passado, a Trans-


“TECNOLOGIA É MEIO, NÃO FIM”

R

odrigo Vianna, diretor da Talen-

mesmo em publicações no Linkedin. Daí em

ses, dedicada ao recrutamento de

diante, a avaliação se dá por sondagens e

média e alta gerência, afirma que a

entrevistas, é um processo humano. Selecio-

Inteligência Artificial (IA) ajuda a refinar a

namos de três a cinco finalistas e levamos à

busca de profissionais, mas a contratação

apreciação do cliente.

é decidida por alguém de carne e osso que também leva em conta outras referências.

Vocês se preocupam com a diversidade nessa escolha?

Como vocês fazem a seleção de profissionais?

Acredito que a diversidade é atendida

A partir do perfil desejado pelo cliente,

naturalmente, na medida em que usamos

pesquisamos currículos em nosso banco de

critérios técnicos para escolher os mais

dados e definimos de 10 a 15 candidatos

capacitados para determinada função.

potenciais, usando uma plataforma de

Caso o cliente peça para haver pessoas de

IA. Nessa fase, estamos abertos também

grupos sociais diferentes entre os finalistas,

a indicações surgidas em networking ou

atendemos.

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E M P R E S A S

LINHA DO TEMPO A EVOLUÇÃO DO RH EM UM SÉCULO PÓS-GUERRA A reconstrução nos países envolvidos no conflito aumentou a oferta de emprego. Os trabalhadores passam a ser motivados a produzir mais e ganharam os primeiros benefícios. RH começa a ser DP, o Departamento de Pessoal.

INÍCIO DO SÉCULO 20 Naquela época, a área que cuidava da contratação e demissão de funcionários era chamada de RI, Relações Industriais. Supervisionava o desempenho dos trabalhadores, sem a menor preocupação com o bem-estar deles. WIKIMEDIA COMMONS

WIKIMEDIA COMMONS

ANOS 2000 Consultorias especializadas na contratação de profissionais de média e alta gerência, como Michael Page e Hays, ganharam espaço com seus caçadores de talentos – os headhunters. Em 2003, surgiu o Linkedin.

ANOS 2010 O Linkedin passou a ser uma referência fundamental para contratações e mudanças de carreira. Consultorias nacionais cresceram. Os millennials reforçaram o valor da diversidade e da responsabilidade social nas empresas.

PEXELS

“A ROTINA DE TRABALHO VAI MUDAR”

P

ara o consultor Roberto Leão, do

no escritório o que pode fazer em casa,

HR Trend Institute, a adesão ao

com a mesma eficiência. Sei de empresas

home office durante a pandemia é

de tecnologia, aliás, que passaram a

um processo sem volta. “O mundo se deu

contratar colaboradores remotos de outros

conta das inúmeras vantagens do trabalho

países, porque perceberam que isso é

remoto. Mesmo os empresários que gostam

perfeitamente possível.

de ter os colaboradores por perto devem adotar o home office em alguns dias da

A tecnologia que viabiliza o trabalho remoto

semana”, acredita.

também ameaça algumas profissões? Acho que é inevitável o declínio de

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Quem vai continuar trabalhando em casa?

algumas profissões e a ascensão de

Todos aqueles que puderem desempenhar

outras. O avanço tecnológico que permite

sua função com um computador e um

diagnósticos mais precisos pode restringir

smartphone. Não há sentido em um profis-

a atuação de médicos e advogados no

sional se deslocar diariamente para fazer

futuro, por exemplo.


ANOS 1970 Agências internacionais de recrutamento, como a Thomas Case e a Korn Ferry, chegam ao Brasil. As vagas são anunciadas em jornais e os candidatos devem demonstrar suas capacidades técnicas em entrevistas. REPRODUÇÃO

ANOS 1990 A popularização da internet impulsionou os bancos de dados e facilitou o contato entre candidatos e empregadores. Os currículos são aprimorados e enviados por e-mail. Lei brasileira impõe cotas de trabalho para deficientes. REPRODUÇÃO

2020 A pandemia da Covid-19 obriga as corporações a aderir ao home office e acelera a digitalização e o comércio online. O trabalho remoto é monitorado pelo cumprimento de tarefas e mostra bons resultados.

2021 A 2025 O home office é adotado de vez pelas empresas, em algum nível – a tendência é a combinação do trabalho presencial com o virtual. A Inteligência Artificial (IA) é cada vez mais usada na gestão de pessoas, o novo nome do RH.

2025 A 2030 Leis trabalhistas darão mais flexibilidade aos contratos e regularão o trabalho remoto. Profissionais vão incorporar novas habilidades e passarão a prestar serviços a mais de uma empresa, de qualquer parte do mundo, sem sair de casa.

PEXELS

parentBusiness atingiu a cotação de US$ 1 bilhão, dez vezes mais o seu valor de mercado de um ano atrás, e virou unicórnio – como os pequenos negócios inovadores passam a ser chamados ao alcançar essa cifra mágica. A forma mais simples – e não invasiva – de monitorar o trabalho à distância, porém, é simplesmente exigir o cumprimento das tarefas dentro do prazo previsto e sem perda de qualidade, como demonstram os resultados positivos dessa experiência que o mundo se viu obrigado a implantar. O que se percebeu, aliás, foi até um aumento de produtividade, com a economia das horas que se perdiam nos deslocamentos entre a casa e o escritório. Para Domenico De Masi, o home office é uma das bases para o que ele chama de “trabalho inteligente”, mas sem os abusos de hoje. No lugar das videoconferências que atropelam o horário de almoço, ele defende mais tempo livre para os profissionais.

Uma pesquisa da consultoria Talenses com a Fundacão Dom Cabral com 451 gerentes e diretores de empresas, realizada em maio de 2020, mostrou que 77% deles se sentiam pressionados para tomar decisões ágeis durante a crise – e 100% apresentavam sinais de ansiedade, medo, angústia ou mesmo pânico. “É uma situação nova, com a qual ainda estamos aprendendo a lidar. Precisamos dar apoio psicológico aos trabalhadores remotos, investir no bem-estar deles”, diz Alexandre Santille, fundador da Teya, consultoria com foco em aprendizagem corporativa. Santille acredita que a capacidade de aprender dos novos profissionais tende a ser mais valorizada do que a própria bagagem que eles já adquiriram. “Essa fome de conhecimento é fundamental, porque os negócios estão cada vez mais dinâmicos. Identificar os profissionais que têm essa vontade de acumular novas habilidades é o próximo desafio dos profissionais de RH”, afirma. TP

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VAREJO

Grifes do mundo inteiro se rendem ao apelo de venda da internet e das redes sociais Por FRANÇOISE TERZIAN

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Foi preciso pensar com rapidez em questões como pagamento e logística de distribuição. Fatores como esses fizeram os negócios evoluírem uma década em um ano

QUANDO A COVID-19 AVANÇOU, FORÇANDO O VAREJO físico a baixar as portas e a abraçar o digital, muitas marcas foram pegas de surpresa. Como manter os negócios ativos, a receita e o relacionamento vivo com os clientes? A resposta para essas perguntas alçou a sigla DTC (direct-to-consumer) aos holofotes. A venda direta ao consumidor, convenhamos, não é novidade. Faz parte, há algum tempo, da estratégia de muitas marcas globais. A pandemia, no entanto, impôs um novo papel ao DTC, que deixou de ser coadjuvante para se tornar protagonista. Assim, e-commerce, social commerce (pelas redes sociais) e vendas por meio do WhatsApp e afins tornaram-se essenciais. No YouTube, grifes do quilate da Gucci, Dior, Chanel e Louis Vuitton propagaram desfiles online, assim como vídeos mostrando os bastidores de seus shows. Desafio de um lado, oportunidade do outro, as empresas se tornaram mais inovadoras e versáteis. Segundo o IMRG (Interactive Media in Retail Group), associação do varejo online inglês, mais e mais marcas têm migrado para um modelo DTC, embora na maioria dos casos ainda híbrido. A Nike foi uma das precursoras. Desde 2016 a companhia investe na venda direta e planejava chegar a 2020 com um crescimento de 250%. A gigante de artigos esportivos pas-

sou a impulsionar as vendas e distribuição especialmente em sites, em 12 cidades-chave em dez países-chave. Também a Adidas e a Levi's redesenharam suas lojas online, ativaram novos canais de vendas e personalizaram cada vez mais o atendimento aos clientes. “Quando o mercado se torna mais competitivo, as empresas tendem a reduzir a distância entre as marcas e o consumidor final”, explica Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da empresa de consultoria em consumo e varejo Gouvêa Ecosystem. Esse movimento acabou chegando ao universo do consumo luxo. O setor todo foi puxado para essa “nova realidade”. Gouvêa analisa: “É claro que as marcas prefeririam ter o consumidor nos seus espaços para proporcionar uma experiência diferenciada, glamourizar, valorizar, criar contexto. Mas, na medida em que esse acesso se tornou limitado, tiveram de criar alternativas digitais”. Dessa forma, as grifes também se viram obrigadas a pensar com rapidez em questões como pagamento e logística de distribuição, uma curva de aprendizagem que fez muitos negócios evoluírem uma década em apenas um ano. Experiências digitais com Live Marketing (ao vivo), uso de reali-

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V A R E J O

Para compensar a ausência do contato pessoal, surgiram novidades como plataforma de vendas online 24 horas, expansão do portfólio e até mesmo o sistema drive-thru

dade virtual para escolha do produto e lançamentos em tempo real têm sido apostas para manter a proximidade – e o desejo – dos consumidores. É preciso compensar as ausências da experiência física, como o sentir do perfume da loja, o atendimento cara a cara, o emocional durante a experiência física e o comportamento de compra. Quando a pandemia acabar, o cenário não será igual ao pré-Covid e nem ao momento atual. O mundo vai evoluir, o digital sairá muito mais fortalecido e se firmará como um modelo definitivo. No entanto, como observa Gouvêa, o consumidor sairá em busca do contato físico e a retomada do emocional. O inegável lado prático do digital vai se incorporar aos novos hábitos. “Não vai ter a volta ao passado e nem a manutenção do status quo atual”, prevê Gouvêa. “Veremos uma reconfiguração do mercado entre as vendas diretas no ambiente digital e as vendas no ambiente físico.” IGUATEMI 365 A Iguatemi, conhecida por ser precursora no trabalho com grifes de luxo no Brasil, reforçou sua aposta nos canais digitais. Um exemplo é o Iguatemi 365, lançado em outubro de 2019, cuja proposta é oferecer aos clientes uma plataforma de vendas online 24 horas por dia. Hoje, é

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composto por 370 marcas que vendem mais de 15 mil produtos para 35% dos municípios brasileiros. A prioridade para 2021 é continuar a expansão territorial. Dentre as marcas presentes no Iguatemi 365 estão Diane Von Furstenberg, Ermenegildo Zegna, M Missoni, Max Mara, Roberto Cavalli e Tiffany & Co. De acordo com Cristina Betts, vice-presidente de finanças e relações com investidores da Iguatemi, foi preciso desenvolver uma minuciosa logística. Diz ela: “Criamos sistemas para integrar de maneira automática as informações de estoques. O objetivo é promover uma melhor experiência tanto para a operação das lojas como para o consumidor final”. Ainda segundo Cristina, o crescimento é inquestionável. Entre os meses de março e abril do ano passado, início da pandemia, a base de clientes do e-commerce quintuplicou. “A crise, somada ao isolamento social, acelerou nosso desenvolvimento e expansão”, revela. “Chegamos a cidades em que ainda não tínhamos presença. Também ampliamos o mix de marcas, muitas delas inéditas para o mercado brasileiro.” Outra das novidades adotadas foi o sistema de drive-thru. Os clientes compram via WhatsApp e retiram o produto no horário agendado – sem sair do carro.


Marcos Gouvêa de Souza (ao alto), Cristina Betts (acima) e Marisa Clermann (à direita): otimistas com as adaptações do mercado

MARISA CLERMANN A crise, observa Cristina, também trouxe oportunidades. “Com a diminuição das viagens, o mercado luxo ganhou clientes novos”, avalia. No último trimestre, as vendas de artigos diversos, de saúde, beleza e joalherias tiveram um bom desempenho no Iguatemi 365. A joalheira Marisa Clermann atesta esse crescimento da demanda. “Com a pandemia, as pessoas ficaram ávidas por inovações e as redes sociais se tornaram ainda mais fortes”, analisa. A seu ver, a reclusão fez com que as vendas de joias aumentassem. “A vaidade permanece e o uso de joias casuais dentro de casa continua, até por conta do home-office e das lives.” Como seus maiores concorrentes são as viagens para o exterior e as festas, a reserva direcionada para esses fins migrou para o consumo de joias.

Claro que Marisa teve que se adaptar ao cenário atual. Abandonou a linha de festas. De forma geral, as joias ficaram mais limpas e delicadas. Isso levou Marisa a apostar em uma linha mais casual, com menos ostentação e diamantes e mais criatividade a partir do uso de pedras brasileiras. “Acredito que essas pedras trazem paz, calma e bem-estar”, afirma. “As pessoas têm buscado mais esse lado espiritual.” Marisa mantém uma mídia social muito ativa e atualizada, e isso atrai interessados. Em vídeos no site, ela fala sobre as pedras brasileiras e lembra das celebridades que usam suas peças. No online, os clientes apreciam o atendimento personalizado e pedem que Marisa experimente as peças para ver como fica. O atendimento VIP, garante, traz retorno. Dessa forma, a joalheira manteve as vendas no mesmo nível pré-pandemia.

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V A R E J O

Andrea Alves, da Corsage: comunicação empática

CORSAGE Com a amplitude da crise, Andrea Alves, coordenadora geral de leilões da Corsage, notou que a melhor estratégia seria se reinventar com rapidez. Antes de tudo foi preciso admitir o fim das compras por impulso. “Não existe mais aquela venda de a pessoa experimentar a pulseira ou o colar e comprar na hora”, avalia. “O consumidor passa a ser menos impulsivo. Mas nem por isso menos suscetível a outros argumentos de venda.” Por isso mesmo, a Corsage capricha em atender o potencial comprador com atenção redobrada, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia. “Entre as nossas estratégias estão a venda relacional, a criação de experiências 360 graus, a comunicação afetiva e empática”, diz. A Corsage tem apostado em várias frentes. Das lojas físicas que atendem via aplicativos à ampliação da atuação em marketplaces digitais, leilões digitais e também a oferta de consultoria especializada e personalizada.

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Infelizmente, a venda por impulso entrou em queda livre. Mas isso não quer dizer que o consumidor não possa ser conquistado, por exemplo, com um forte conteúdo nas redes sociais

Maurício Okubo, da Julio Okubo: a vez do WhatsApp e do Zoom

JULIO OKUBO Há mais de 70 anos em operação, a Julio Okubo é uma referência do mercado joalheiro brasileiro. Comandada pela terceira geração da família, a marca teve de acelerar em uma velocidade inédita para encarar os novos tempos. “Nos adaptamos para atender o cliente remotamente, via WhatsApp e Zoom”, conta o vice-presidente executivo, Maurício Okubo. “O desafio maior é manter, ao máximo, a qualidade do atendimento, mesmo à distância.” Para isso, foi necessário muito treinamento e uma transformação cultural, preparando a equipe e mudando o mindset para o digital. A Julio Okubo superou as barreiras com a ajuda de um time forte e integrado, criação de conteúdo para fortalecer as redes sociais e gerar fluxo dos clientes no site, e compreensão profunda da jornada do cliente. “O relacionamento com o cliente é a chave de qualquer negócio de luxo”, lembra Maurício Okubo. “Para se aproximar de forma genuína, você tem de conhecer seu comprador a fundo, saber da família, dos filhos, se tem cachorro, os hobbies, o vinho predileto.” O e-commerce da Julio Okubo cresce cada vez mais. Mas ainda está longe de se equiparar à força das vendas diretas da loja, que tem trabalhado na pandemia com WhatsApp e drive-thru. “A maioria dos clientes compra por confiança e relacionamento”, observa Maurício. TP

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OPINIÃO

NOVAS TECNOLOGIAS: UMA PAUTA OBRIGATÓRIA

OP

Por ALEXANDRE VELILLA GARCIA

Alexandre Velilla Garcia, Profissional do ano 2020, CEO do Cel.Lep e sócio-fundador da Quest Construções, é economista com pós-graduação em management pelo ISE/IESE-University of Navarra. Apresenta o programa Café com CEO, na Record News TV velillagarcia@uol.com.br

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Se ainda havia dúvidas sobre a importância do processo de digitalização que vem modificando os paradigmas da economia, essas últimas incertezas estão sendo vencidas. Basta observar como as empresas mais afeitas à inovação têm obtido muito mais facilidade para encontrar caminhos e superar obstáculos no atual cenário de desafios. Em relatório de janeiro deste ano, a consultoria internacional Gartner ressaltou a velocidade, sem precedentes, da transformação digital ocorrida em 2020. De acordo com o documento, os investimentos globais em tecnologia devem crescer 6,2% este ano, atingindo US$ 3,9 trilhões. Por tudo isso, não é exagero afirmar que a abertura para a inovação, incluindo tendências mais avançadas no campo das emerging technologies (Inteligência Artificial, Realidade Virtual/Aumentada, Blockchain...), passa a ser uma pauta obrigatória não só dos diretores de TI. Mas também dos CEOs. São eles os responsáveis pela transformação cultural que permite a adoção sistemática e consistente das novas tecnologias. Transformação cultural? Exatamente. Para promovê-la, as lideranças têm, antes de tudo, de mapear, em minúcias, as principais dores do seu negócio e mercado de atuação. A partir daí, será possível planejar e priorizar investimentos de modo estratégico, levando em conta a realidade da empresa. Com essas informações em mãos, poderemos investir, com segurança, em ferramentas que de fato contribuirão para o fortalecimento diante dos desafios do mercado. Acabo de reler um artigo dos empreendedores e estudiosos de mercado Gunjan Sinha e Frank-Jürgen Richter, para a revista Harvard Business Review de agosto de 2020. Eles ressaltam um entrave decisivo que precisa ser vencido no processo de digitalização das empresas: a resistência interna. Trata-se de uma etapa natural de qualquer mudança mais profunda. Por isso, Sinha e Richter recomendam que o CEO deve ser transparente mas enérgico na implementação de quatro processos: 1) incentivar o uso concreto das novas tecnologias; 2) investir com consistência em um sistema tecnológico; 3) difundir novos skills e sistemas de aprendizagem; 4) finalmente, cuidar para que a digitalização seja integrada e aplicável em todos os setores da companhia. É fundamental, portanto, transmitir com clareza a importância da inovação para todos os nossos times e grupos de colaboradores. Como bem ressaltou Elon Musk, as pessoas trabalham melhor quando entendem os objetivos e o porquê das suas metas. TP

© TUCA REINÉS


A DIFERENÇA GULFSTREAM Sua missão é nossa inspiração. Todo investimento que fazemos em tecnologia avançada, fabricação de precisão e suporte ao cliente em nível mundial - é um investimento em você.



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