Twent #2

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Capa Jade Liz Franรงa Colagem digital feito com as pinturas LAKE GEORGE, 1860 de Kensett & O NASCIMENTO DE VENUS, 1486 de Botticelli


editorial [Outono Austral\ Outono. Falar de recomeço em uma época que parece mais um fechamento de ciclo pode soar estranho. Um período em que as folhas das árvores começam a se preparar para cair no inverno, mas não antes de dar seu último espetáculo de cores. As cores quentes do outono que se destacam no meio dos prédios, alimenta a criatividade e aquece a alma. A chegada de uma nova estação, o nascer do sol, o

florescer das plantas, tudo se renova e, como tema do que podemos considerar como a primeira edição da nova Twent, o Recomeço. Hibernamos, mas não apenas um inverno, mas dois. Dois verões, dois outonos, duas primaveras. Mas agora, com todo esse estoque de energia, acordamos. Acordamos não exatamente para um re-começo, mas para um novo-começo.


sobre a revista Somos uma revista colaborativa sobre arte e buscamos valorizar e destacar trabalhos de jovens com idade aproximada entre 15 e 21 anos, pois acreditamos que este é o público que encontra maior dificuldade de expor seus trabalhos artísticos. Quatro edições anuais, verão, outono, inverno, primavera. Os temas são divulgados juntamente aos prazos de envio dos trabalhos via e-mail. A Twent tem apenas circulacão online gratuita, sem fins lucrativos, nosso único objetivo é divulgar trabalhos de jovens artistas. facebook.com/revistatwent revistatwent.tumblr.com arevistatwent@gmail.com


Sobre nos Jade Liz, 17 anos. Mora em Belo Horizonte. Faz bacharelado em Artes Plรกsticas na Escola Guignard/UEMG. Fotografia e desenho.

Natalia Zuca, 19 anos. Apรณs morar um ano na Franรงa, voltou a Belo Horizonte onde se dedica aos estudos de moda. Amante da gastronomia e das artes.

Paula Assis, 18 anos. Mora em Belo Horizonte. Depois de passar um ano de intercambio na Franรงa, em 2013 comeรงa o curso de Design de Moda.





Fotos Paula Assis, 18 anos


Conte um conto (fragmento) A noite era triste e clara, ela sentava no sofá olhando a janela enquanto ele procurava por uma caneta desaparecida agachado ao lado da poltrona. Estava escrevendo com ela poucos momentos antes, sentado à mesa que ficava em frente a poltrona e agora ela estava sumida. Era pelo menos inconcebível continuar escrevendo com outra caneta, a sensação da escrita seria completamente diferente e isso levaria o texto a um rumo absolutamente distinto, transfor-

mando-o num conjunto de retalhos inaceitável e potencialmente incompreensível. A noite era triste e inexorável. Parara pra pensar: o acontecimento não fazia o menor sentido. Havia repousado a caneta ao lado de seu bloco para alcançar o copo d’água, dar um gole refrescante entre um raciocínio e outro e, ao procurar mecanicamente a caneta na volta, deu um desajeitado e grosso tapa que a fez sair por aí, num primeiro momento aparentando ter ido buscar


refúgio debaixo da poltrona. Mas não estava lá. Na verdade não estava em lugar nenhum. Levantouse ajoelhado e a viu. Viu-a sentada no sofá, com as pernas dobradas de lado, o torso retorcido, um braço esticado por quase todo o encosto e o outro protegendo o peito com o antebraço, enquanto a mão, por sua vez, segurava o ombro e permanecia apoiando o rosto, que se perdia pela falsa escuridão da paisagem atrás dela. A noite era triste e a noite era bela e ele a observava, já resignado com o mistério da

caneta, as coxas brancas da moça, a mostra por conta do short curto, que se tocavam suavemente e lá ficavam, distantes. Seguiu um pouco com o olhar e acompanhou a camiseta quase velha, da cor dos cabelos quase pretos que caíam sobre os ombros e tocavam os seios, mansamente. A noite era seca e os olhos dela miravam as luzes dos apartamentos, e não das estrelas. A noite era quente e não obstante toda a secura seus olhos choravam, mas as lágrimas evaporavam antes de lhe contornar o rosto por inteiro. A noite


era triste e ela estava triste pela noite, queria que toda a tristeza da noite fosse dela para que assim todas aquelas outras janelas pudessem ter uma luz feliz, feliz como ela era. Ela era observada sem perceber, como acreditava observar a noite sem ser percebida. Assisti-la lhe entreteu por algum tempo e lhe fez querer dançar. Rastejou até outro lado da sala e se jogou contra a quina num flerte desesperado com as paredes, abriu uma caixa que estava ali perto e tirou de dentro seu acordeão. Colocou o acordeão no colo

com a desolação de quem chega no ato final da vida, e dali voltou a observála com a cabeça pendida sobre o ombro, uma das pernas dobradas e escorada na parede, a outra magramente esparramada sobre os tacos do piso. Ela era forte e tenra e também triste, e foi envolvida por uma bal-musette que parecia tão desesperada quanto quem a tocava. O rapaz a tocava lenta, fazia da música um prelúdio para a tristeza da noite. O acordeão, fraco, não tinha forças para soar as últimas notas das frases e falhava,


o silêncio como um pedido de socorro aqueles dois corpos que lhe escutavam. Ela voltou das outras janelas pra dentro da sua própria e virou o rosto para o rapaz, de modo a fazer parte de toda aquela atuação que acontecia no outro canto da sala, a bal-musette sempre presente. A noite, triste, riu, e a moça a acompanhou por um breve instante, chorando como estava. Ela e ele estavam ali, e só. Eles se olharam em silêncio por mais alguns instantes e dançaram parados de olhos fechados, sem nunca parar

de se olhar. Dançavam com o respirar, com o canto da boca e com o fechar dos olhos, dançavam com a noite, as janelas, as luzes e a melancolia. Dançaram por todo o tempo que a bal-musette preencheu o ar da sala, e depois, parados, tristes ou desolados, com seus prelúdios ou choros, estavam felizes.

- Não sei o que vou fazer quando parar de te amar. A noite estava triste, mas a noite teria respondido “então não deixe”. A noite estava quente e ainda as-


sim teria respondido “então só não pense”. A noite estava seca e teria respondido “não pare”. A noite, bela e clara teria respondido qualquer outra coisa, mas não era a noite quem respondia, não agora, pois nas salas de estar a noite finge não ter vez, e a noite jamais poderia revelar que finge coisas. Ao invés disso a noite teve que escutar (e teve que fingir não o fazer) as palavras de outra noite:

-Sim. André Elias, 19 anos.


Sofia Bartolomeo, 19 anos facebook.com/artsofiabartolomeo





Fotos Jade Liz Franรงa, 17 anos jadelizf.tumblr.com


A setima “Meus filmes são um apelo por um cinema de insistentes questionamentos, ao invés de falsas respostas.” Michael Haneke Em um dos cartazes brasileiros para Amour, chama a atenção um comentário feito por Peter Travers, da Rolling Stone: “Prepare-se para uma martelada emocional”. Todavia, em se tratando de um filme de Michael Haneke, tal informação não pode, em hipótese alguma, ser desconsiderada. É impossível assistir

ao filme sem que algo seja afetado. Amour, vencedor da Palma de Ouro em Cannes por melhor filme de 2012 e do Oscar por melhor filme estrangeiro, retrata o cotidiano de um casal de professores de música aposentados, que vê sua rotina radicalmente abalada. As sequências iniciais do filme apresentam a intimidade de Georges


(Jean-Louis Trintignant, de A Fraternidade é Vermelha) e Anne (Emanuelle Riva, de Hiroshima, mon Amour), em sua consonante e pacata normalidade. No entanto, após sofrer um derrame, Anne se vê com metade de seu corpo paralisada. Torna-se, a partir de então dependente do auxílio do marido para toda ação cotidiana - de se alimentar a se banhar – e o amor existente entre eles é posto à prova. O cinema de Haneke é violento. E a violência que se observa nem sempre é física.

“o amor existente entre eles é posto à prova” Em relação a títulos anteriores, como A Fita Branca ou A Professora de Piano, a violência que se observa em Amour é levada a um plano psicológico, talvez ainda mais brutal. Os filmes do diretor austro-alemão dissecam o ser humano, mostrando uma face traumática, intolerante, marcada pelo ódio e injustiças. É um cinema de desconforto, e também um cinema de detalhes. O uso constante da câmera fixa, a lentidão na transição das sequências contribuem para


a construção de uma atmosfera tensa, em que o silêncio físico abre espaço para que a mente do espectador grite – talvez seja Haneke (juntamente a Lars von Trier), no século XXI, o cineasta que melhor ilustra a ideia de Lev Kulechov de que a característica que difere essencialmente o cinema europeu do norte-americano é a possibilidade que o primeiro abre à reflexão do espectador, apoiada na baixa velocidade das sequências. No entanto, o cinema de Haneke não faz concessões. Com isso, a brutalidade de seus filmes é especialmente marcante.

Amour não é diferente nesse sentido. Há sequências que representam um golpe especialmente duro ao espectador, como a queda de Anne da cama ao tentar se movimentar sozinha acompanhada da compreensão plena de sua dependência, o tapa que a ex-professora de música recebe do marido após recusar e cuspir um gole d’água ou o enclausuramento ao qual Georges condena Anne com o agravamento de suas condições, para que não seja exposta aos olhos mesmo de sua filha. No entanto, cada sequência, em sua lentidão e proximidade, aproxima o


público do desespero vivido pelo casal. Ao mesmo tempo em que aproxima, mantém-no na condição de espectador externo, na medida em que sua ausência de concessões condena-o à condição de testemunha ocular do enredo.

seja, talvez, um dos questionamentos que menos importem. Em questões técnicas, a direção de Haneke é irrepreensível. As doses homeopáticas de alegorias (como os pássaros que invadem o apartamento e retratados nos quadros contrastando “o silêncio físico abre com a ausência de liberespaço para que a mente dade da doença de Anne), as do espectador grite” câmeras fixas, a ausência de Não deixa de causar espanto, música extra-diegética (que portanto, a sequência final não seja executada na cena), ambígua, que permite ao a exploração da violência enespectador especular sobre quanto fruto da normopatia a qual ponto teria o amor facilmente confundida com conduzido o marido deses- uma apatia social aproximam perado – apesar de que isso seu cinema de mestres como


Bergman e Kieslowski. Entretanto, Haneke tem seu estilo particular. Sua normopatia tem dimensões íntimas e individuais, não ambicionando ser universal. Haneke quer provocar, incomodar. Aos setenta anos e, cada vez mais, se juntando ao rol de grandes diretores contemporâneos, procura sempre revirar sentimentos aparentemente resolvidos, sem apelar para exacerbações baratas. Em Amour, se vê uma possibilidade de desdobramentos incomuns (e nem sempre desejáveis) do amor em uma situação extrema. Haneke não pede que o público concorde, nem mesmo que

aprove. Aprovando-se ou não, é um cinema incômodo, transformador. E um incômodo belo, que merece ser sofrido, ao menos uma vez.. Igor Rocha, 19 anos rochaigor.wix.com/home Diretor: Michael Haneke Elenco: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert, Alexandre Tharaud, William Shimell, Ramón Agirre, Rita Blanco, Carole Franck, Dinara Drukarova, Duração: 127 min. Ano: 2012 País: França, Alemanha, Áustria


Clara Desenho de Artur Bicalho, 18 anos


Fotos Jade Liz Franรงa jadelizf.tumblr.com Blusas: Leonardo Vieira porleonardo.blogspot.com.br Modelo: Ana Guerra







O Devenir de Ciro Trevisan

, 18 anos

por Paula Assis, 18 anos.

Dias ensolarados e chuvosos, olhares e corpos que se buscam e desviam em meio à cigarros, cafés, perfumes, ruas, música e literatura. A juventude e a velhice se apresentam na rotina de quatro personagens: os estudantes Mônica, Téo e Natália, e o velho Raimundo, grande músico.
No decorrer das páginas, nos identificamos bastante com as vidas narradas, repletas de fatos e sentimentos comuns do cotidiano, como o ócio devorador e frequente ou uma certa


Literatura força motivadora que vem de dentro e os impulsiona à felicidade, à liberdade de ser e estar como são, solitários ou não, os fazendo entender que a tristeza existe e faz parte. Mas que ela não é permanente, ela vem e vai. 
Através de uma narrativa direta e sequencial, lemos o livro imaginando um filme, enxergando cada movimento e entendendo que são as experiências de diferentes encontros que fazemos em nossas vidas que nos ajudam a compreender quem somos

e em quem nos tornamos.


Musica I m p r e v i s i b i l i d a d e Dos 18 aos 53, a diferença de idade não é um problema. Na banda Previsão do Tempo, o pai Mundin Rocha, sua filha Camila e os amigos Marcelo Dias e Victor Coelho se unem pela música como um todo, na mistura de samba, jazz e blues. Entrevistamos Camila Rocha, 18 anos, a mais jovem integrante da banda. Como a banda se formou? Meu pai começou a fazer faculdade de Licenciatura em Música na UEMG, lá conheceu o Marcelo, que é saxofonista e o Victor que é baterista. Começaram a banda gravando algumas músicas demo e perceberam


que estavam precisando de um baixista, nisso meu pai resolveu me colocar em uma aula de baixo. Aprendi baixo e entrei na banda.

Vocês veem muitas diferenças na banda do o início aos dias atuais? Tem bastante. No início como a gente tinha menos composições do que a gente tem hoje, tocávamos bastante cover e como nos conhecíamos por pouco tempo, os arranjos das nossas músicas próprias eram menos elaborados. Hoje tocamos músicas autorais e quando tocamos as de alguém é no máximo uma por show. E agora nós fazemos arranjos mais elaborados.


Quando a banda se formou, a integrante mais nova tinha 15 anos. Como foi lidar com essa diferença? Foi tranquilo, principalmente porque meu pai era da banda, então eu me senti bastante segura. Eu sabia que gostava de música há muito tempo então achei que a idade não foi um problema.

Como acontece o processo de criação das músicas? A gente faz os ensaios uma vez por semana. As composições geralmente são individuais. Assim a pessoa que compôs a música leva no ensaio, mostra e a gente


começa a fazer ideia dos arranjos. Então as vezes, quem compõe a música só toca um violão e canta e a gente vai tendo as ideias e construindo.

Ocorrem muitas divergências de opinião no grupo? Ocorrem bastante porque cada um vem de um lado diferente da música. E o que acontece é que tentamos colocar todas as ideias, fazendo com que isso acabe originando uns arranjos mais diferentes, mais alternativos. No final, nós usamos essas diferenças a nosso favor. Para curtir: facebook.com/bandaprevisao.dotempo Para escutar: tnb.art.br/rede/previsaodotempo


FIM

21/12/2012 12:00h

Os pássaros cantam A Terra gira As pessoas sobrevivem Era no centro da utopia de todas as igrejas e religiões... Estava lá o inimaginável, o criador da criação, o fim da linha. Se sentia diferente pela primeira vez, mas es-

tava des-preocupado. Com o passar do tempo sua existência misteriosa passou a se esquentar, membrar, passou a pensar cada vez mais em si mesmo, pensou no tédio que passara todo esse tempo, “que tempo? Há quanto


tempo estou nesse ócio? Há quanto tempo não sou surpreendido e não surpreendo ninguém?” Começou a sentir fome, sede, falta de ar. Começou a sentir um corpo, sem alma e sem mistério. Descobriu pela primeira vez o que presumia ser lindo e interessante. Mas na verdade decepção e angustia são seus primeiros sentimentos. Que agora correm em suas veias desamparados, trombando com os restos de perfeição que sumia como poeira ao vento, retornando ao mesmo lugar de

onde vieram. No meio dessa transição um pensamento veio-lhe à cabeça: “Pelo qual nunca temi, agora me prestigia com um ponto final sem glória e nem história. Por tanto ócio consumido, ela veio gentilmente até mim, Ó Morte!”

E os pássaros cantam A Terra gira As pessoas sobrevivem A vida continua... Bruno Assis, 15 anos.


Brunna Frade, 26 anos Aquarela www.instagram.com/aquarela_te



Próxima edição: Inverno Tema e mais informações em: revistatwent.tumblr.com facebook.com/revistatwent Participe!


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