EDIÇÃO #3 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
TECNOLOGIA Como os aplicativos estão ajudando e divertindo quem pedala BIKE POLO Equilíbrio e pontaria para praticar o esporte sobre duas rodas MARIAS Um trabalho documental sobre mulheres que pedalam em Lisboa
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PEDALANDO NO RITMO Pedalar nos traz de volta um ritmo mais próximo do nosso natural, que nem sempre é o que vivemos em um agitado dia a dia. Na magrela, não podemos alcançar altas velocidades, nem a rapidez do envio de um e-mail urgente. Mover os pedais depende da nossa força, capacidade e vontade. É uma extensão do caminhar. Em um minuto somos ciclistas, no seguinte pedestres. Essa percepção nos faz parar e pensar mais no que está ao redor, nas cidades e nos relacionamentos interpessoais.
Nesta edição da Velô, apresentamos propostas de soluções mais humanas para a paisagem dos centros urbanos, que os tornam mais convidativos, principalmente para pedestres. Trouxemos exemplos de metrópoles que correram atrás dos excessos cometidos e hoje são exemplos em urbanismo. Também mostramos como a tecnologia, através dos aplicativos para celular, está a serviço de quem pedala, tanto para suporte quanto para diversão. E entrevistamos os criadores de um projeto português que está mostrando que as Marias também pedalam. Boa leitura! da redação
CAPA Ilustração Tiê Passos CONTATO redacao@revistavelo.com.br
JORNALISTAS RESPONSÁVEIS Lina Colnaghi MTB: 15204 Sabrina Silveira MTB: 13629
DISTRIBUIÇÃO Gratuita
PROJETO GRÁFICO Sabrina Silveira
PERIODICIDADE Bimestral
IMPRESSÃO Impressos Portão
Edição #3 Porto Alegre | ABRIL/MAIO | 2014
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Todos os artigos assinados e as fotografias são de responsabilidade única de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.
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NESTA VELĂ”
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rua para caminhar
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08 bike polo
colaboradores
TIÊ PASSOS
DEB DORNELES
Designer multimídia, cicloativista e permacultor. Desenvolve peças gráficas pró-bike desde 2007. Seus pilares são a arte, a natureza e a tecnologia.
Você a encontra fotografando enquanto pedala pelas ruas da capital gaúcha. Assina o querido Porto Alegre Cycle Chic.
BRUNA RIBOLDI
LORENA TONINI
Jornalista de Porto Alegre, mora em Lyon há oito meses e adotou a bicicleta como meio principal de transporte desde então.
Jornalista e fotógrafa capixaba. É apaixonada por bicicleta e sonha em percorrer as praias nordestinas pedalando.
ISADORA LESCANO Jornalista por formação, trabalha em um bici café por opção e usa a bicicleta como meio de transporte, por convicção.
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esporte
Para que cavalos quando se tem bicicletas? O Bike Polo é um esporte que veio do século XIX para as quadras urbanas do mundo todo.
3, 2, 1... Polo! Texto e fotos Isadora Lescano 8
As raízes do esporte que no Brasil está se tornando conhecido como bike polo vem de Seattle, nos Estados Unidos: lá pelo começo dos anos 2000, quando alguns bike messengers, entre uma entrega e outra, se reuniam para as partidas. O que estas pessoas faziam era iniciar o resgate de um esporte que surgiu na Irlanda, ainda no século XIX — reza a lenda que a prática começou em treinos do polo tradicional, nos quais as magrelas substituíam os cavalos, a fim de poupar os animais. Agora, a modalidade é internacionalmente conhecida como Hardcourt Bike Polo, e é jogada em mais de 50 países (de acordo
com a liga internacional leagueofbikepolo. com). Aqui no Brasil essa versão mais atual e urbana do jogo acontece desde 2009, em São Paulo. Em Porto Alegre acontecem partidas desde 2012, depois de uma oficina realizada no 2º Fórum Mundial da Bicicleta. POR AQUI Carina Chandan, do time Tandera, de São Paulo, joga desde 2010. “Convidei mais amigas para fazer um treino só de meninas. Em 2012 criamos a Liga Feminina de Bike Polo São Paulo-Brasil, que inclui o Tandera e outros dois — No Horse e Riot”, conta ela.
No Rio de Janeiro, as partidas começaram em 2011: “Eu e outros amigos estávamos descobrindo as bicicletas fixas aqui no Rio e queríamos aproveitar o seu potencial”, lembra Gustavo Prieto, professor da oficina de Bike Polo na capital gaúcha durante o 2º FMB. Desde 2012, tem gente jogando em Porto Alegre, geralmente nas quadras da orla do Guaíba, às segundas-feiras. Ainda não existem times definidos nem competições, mas Aislan Ain, que pratica o esporte, diz que há potencial para tal. “Acho que o maior desafio é ter gente suficiente com mais regularidade — a maioria ainda joga pouco, talvez com re9
ceio de estragar a bike, pois usam a bicicleta de transporte, do dia a dia, e outros vão só para assistir”. Apesar de a cultura do esporte ainda estar se formando no país, em 2013 São Paulo sediou a terceira edição do torneio misto Sulamericano, que este ano acontece em Bogotá, na Colômbia. Segundo Prieto, o Brasil é quem mais leva times para esta competição. “Tandera vai para o Sulamericano e também para o II Interpolas (torneio latino-americano de bike polo feminino), também em Bogotá. E, se tudo der certo, vamos ao Ladies Army nos EUA, mas para esse ainda depen10
demos de patrocinadores e apoiadores”, revela Carina. Para a jogadora, este é um dos atuais obstáculos para o crescimento do Bike Polo no Brasil: “Praticamente tudo sai do nosso bolso, das bicicletas aos tacos. Não temos patrocínio nem para equipamento de proteção, que é o que mais precisamos para evoluírmos nos treinos”, expõe. De qualquer forma, o fato de já estar se jogando a versão urbana do polo sobre bicicletas no país, demonstra que a vontade, o jeitinho e o faça-você-mesmo brasileiro são os fatores que estão levando o bike polo adiante.
O JOGO
Um jogo de Bike Polo envolve dois times, compostos por três jogadores cada. As equipes devem buscar acertar o gol localizado na área adversária. As partidas duram até que seja marcado o quinto gol ou até atingir duração de 10 a 15 minutos. EQUIPAMENTOS Os equipamentos necessários aos praticantes são: bicicleta, taco (também chamado de mallet), capacete (obrigatório em torneios) e uma bola. Existem acessórios criados especificamente para o esporte, mas no Brasil os praticantes ainda se valem do improviso. Os mallets ideais são produzidos com a haste em alumínio e cabeça em plástico UHMW (Polietileno de Ultra Alto Peso Molecular). A bola geralmente é de PVC e é similar à de hóquei urbano. Dá para começar a jogar Bike Polo com qualquer bicicleta, mas muitos acabam adaptando uma bicicleta só para jogar, geralmente single speed. A PARTIDA Assim como em muitas disputas em quadra, depois de marcar um gol, o time que pontuou deve voltar para seu lado, e o adversário ganha a vantagem de começar sua jogada do meio do campo. Quando um jogador encosta o pé no chão, não pode continuar até ir em determinado ponto central da quadra e bater seu mallet, sinalizando que está dentro novamente. As regras mais básicas são essas, mas alguns detalhes podem variar dependendo do lugar onde se joga. Na América do Norte, por exemplo, a associação do esporte criou um registro de regras oficiais. Outra particularidade é a quadra: em competições, costuma ter seus limites adaptados para evitar que a bola fique presa aos cantos. Mas, na prática urbana, jogadores acabam se adaptando aos espaços que encontram para jogar.
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Luck Herbert usa o Strava no dia a dia e curte a competição entre amigos pelo aplicativo.
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tecnologia
PEDAL CONECTADO Por Lina Colnaghi Fotos Deb Dorneles Aplicativos para smartphones oferecem inúmeras facilidades aos ciclistas, que vão do entretenimento ao auxílio em treinamentos. A facilidade de captar e compartilhar informações de trajetos feitos de bike via dispositivos com GPS abriu espaço para o surgimento de uma série de aplicativos. Eles podem ajudar ciclistas no dia a dia a escolher as melhores rotas para deslocamento, são ferramentas importantes na avaliação de desempenho para treinamentos e, ainda, uma fonte de diversão entre amigos. Um exemplo é o Itinere, desenvolvido pela empresa carioca Mob Content. A proposta é mapear os trajetos mais utilizados pelos ciclistas, além de indicar locais de interesse, que podem ser positivos ou negativos — uma oficina, um estabelecimento que dá descontos para quem chega de bike, locais com alta incidência de roubos, buracos na pista, entre outros. O aplicativo, disponível no momento apenas para iOS, é gratuito. É só acioná-lo ao sair de bicicleta, que ele rastreia toda a rota do usuário. Depois, a informação é com-
partilhada com amigos e um grande banco de dados vai sendo construído ao longo do tempo. “Com isso, queremos reunir informações importantes para gerar inteligência na gestão das cidades”, explica Marcos Ferreira, sócio-diretor da Mob Content. O Itinere faz parte do projeto Bike Lovers, que conta com uma série de TV e um documentário sobre a bicicleta como estilo de vida, que estarão prontos até o começo de 2015. O aplicativo contou com financiamento coletivo para ser desenvolvido e arrecadou 13 mil reais. Uma nova versão, para iOS e Android, será lançada em breve. “Vamos propor um avanço do Itinere para que as pessoas se sintam estimuladas a marcar suas rotas e gerar informações. Para isso, teremos parceiros privados que darão prêmios aos usuários, em recompensa pela quilometragem pedalada”, adianta Ferreira. Com a nova versão, a expectativa é chegar a 100 mil usuários em setembro. REDE Se existe um exemplo de aplicativo que pode reunir ferramentas importantes para treinamento e uma boa dose de diversão en13
tre amigos é o Strava. O app, que é febre entre os ciclistas é, antes de mais nada, uma rede social. Ele funciona da seguinte forma: ao sair de casa, o ciclista aciona o aplicativo que vai rastrear toda a rota. Ao final da pedalada, o usuário transfere para o site e compartilha com os seus amigos informações como distância percorrida, tempo total, detalhamento do trajeto e outras informações de desempenho, que geram uma classificação entre os usuários. Além disso, ele cria um banco de dados completo sobre os treinos e performance do ciclista. O preparador físico Daniel Senger não sai de casa para pedais mais longos sem acionar o Strava. “O mais legal são as competições entre os amigos”, conta. Ele se refere a uma das possibilidades do aplicativo que é a disputa pelo melhor tempo em um determinado segmento. Segmentos são trechos que podem ser criados pelos próprios usuários e, a cada vez que um ciclista percorre esse trajeto, o Strava faz, automaticamente, um ranking entre eles. “Se tu tens o melhor tempo ganha o KOM (King of the Mountain — Rei da Montanha, em português), ou QOM, (Queen 14
of the Mountain — Rainha da Montanha) no caso das mulheres”, explica Daniel. “A diversão é roubar o KOM um do outro. O Strava avisa por e-mail quando alguém bate um novo recorde”. Também há a possibilidade de participar de desafios propostos pelo Strava com usuários do mundo todo. O Strava também pode ajudar a monitorar o desempenho do ciclista. Ele não só compara o desempenho com outros, mas compara trechos repetidos percorridos pelo mesmo usuário, o que permite fazer uma avaliação da sua própria evolução. Daniel, por exemplo, já monitorou alguns treinos de alunos que se preparavam para a Brasil Ride — ultramaratona de mountain bike — através do aplicativo. Ele mesmo usa para controlar os treinos mensais. “Não me preocupo mais em anotar em planilha de Excel. Consulto o Strava e está tudo ali”, diz. Para facilitar, o Strava disponibiliza não só os números, mas gráficos para que o usuário possa fazer comparações. “Dados ainda mais específicos, como geração de potência, podem ser armazenados para atletas que possuem um sensor na bicicleta”, explica Daniel.
O celular ĂŠ companheiro de treinos do ciclista Daniel Senger 15
Luck Herbert aderiu ao Strava recentemente, quando comprou um smartphone. O arquiteto adotou definitivamente a bicicleta como meio de transporte há meio ano — o carro fica praticamente parado em casa e o ônibus só é alternativa em caso de uma chuva muito forte. “Chegava a levar uma hora de ônibus de casa até o trabalho, trajeto que hoje faço em pouco mais de 20 minutos de bicicleta”, conta. Para Luck, o Strava é uma diversão por conta da competição não oficial que acontece entre os usuários e também um importante banco de dados com o registro de todas as pedaladas. “O Strava também é bom porque forma uma rede de amigos. Tu podes seguir as pessoas e acompanhar o histórico de atividades”, explica. Criado em 2009, nos Estados Unidos, o Strava conecta milhões de pessoas e está disponível em 11 idiomas, incluindo o português. A versão mais recente do aplicativo, lançada em março deste ano, ainda permite compartilhar fotos tiradas durante o pedal via instagram, fazer comentários ou dar kudos — equivalente a um “curtir” no Facebook, 16
parabenizando um amigo — e compartilhar as atividades em outras redes sociais.
COMPARTILHANDO PELO MUNDO Viajar ficou mais fácil para quem curte turismo sobre duas rodas. Aplicativos de compartilhamento de bicicletas pelo mundo se tornaram populares pois, além de conseguir uma magrela, você pode conhecer pessoas novas. Este é o caso do Spinlister, que busca bikes disponíveis para aluguel próximas à localização do usuário. Encontrando a bicicleta é só informar a data e o horário pretendidos e o próximo passo é combinar diretamente com o dono a maneira de ir buscá-la. O aplicativo é gratuito, está disponível para iOS e Android e tem usuários cadastrados em mais de cem países. Com uma proposta um pouco diferente, mas também ideal para quem quer pedalar durante a viagem, o Bikemap sugere rotas em todo o mundo e dá assistência ao usuário que optar por usar a navegação, que mostra o avanço durante o percurso em tempo real.
aplicativos Com tantas opções, com diferentes funções e finalidades, fizemos uma seleção de aplicativos gratuitos. Veja o que cada um oferece.
STRAVA O que faz: registra os percursos feitos pelo ciclista, cria um banco de dados com informações sobre trajetos e performance e ainda gera um ranking entre os usuários. A versão mais atual permite compartilhamento de fotos. Disponível para: iOS e Android. ITINERE O que faz: mapeia os trajetos feitos de bicicleta e permite marcar pontos de interesse positivos e negativos, criando um grande banco de dados útil ao ciclista. Disponível para: iOs. SPINLISTER O que faz: localiza bicicletas disponíveis para aluguel próximas ao usuário na data e horários informados e o coloca em contato direto com o proprietário. Útil tanto para quem aluga quanto para quem quer colocar a sua magrela para aluguel. Disponível para: iOS e Android.
MAPMYRIDE O que faz: mapeia a rota feita de bike, permite o compartilhamento com amigos e consulta de rotas em vários lugares do mundo. Também pode ser usado para corrida. Disponível para: iOS, Android e Blackberry. SPORTS-TRACKER O que faz: reúne dados de velocidade, tempo de pedalada e a distância percorrida, além de altitude e batimentos cardíacos. Permite o compartilhamento de fotos e de músicas durante a pedalada. Disponível para: iOS, Android e Windows Phone. ENDOMONDO O que faz: registra velocidade, distância, trajeto e calorias gastas durante o pedal. O usuário também pode encontrar rotas, desafiar amigos ou juntar-se a eles em times. Disponível para: iOS, Android, Windows Phone e Nokia. BIKEMAP O que faz: mostra rotas para pedalar em todo o mundo e tem a opção de navegação que mostra o avanço do usuário na rota em tempo real. Disponível para: iOS, Android e Windows Phone.
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pedal seguro Pedalar em dias de chuva exige atenção redobrada e cuidados básicos para não chegar totalmente molhado ao destino. Confira algumas dicas:
PARALAMAS: necessidade número um. Sem pelo menos um paralamas traseiro você corre o risco de ter uma mancha de lama ou água suja na roupa ou mochila. CAPA DE CHUVA: há vários tipos, das de plástico, vendidas em casa de ferragem, às feitas com tecido respirável, impermeável para a chuva, mas elas não cobrem a mochila ou bolsa, nem as pernas. Já o poncho é fixado ao guidão pelas mãos do ciclista, evitando molhar tronco, braços e coxas.
PÉS E MÃOS: combine o uso da capa com uma galocha. Existem polainas impermeáveis para proteger o calçado mas, no improviso, uma sacola plástica amarrada aos pés ajuda. Luvas evitam escorregar a mão no guidão e o atrito em terrenos irregulares. DOCUMENTOS E OUTROS MATERIAIS: Se sua mochila ou alforge não é impermeável, basta colocar os pertences em um saco plástico, fechálo enrolando a abertura e colocá-lo na bolsa.
FONTE: BIKEDROPS
Francis Bourgouin\Creative Commons
Verifique os freios e evite pegar velocidade nas descidas; Evite pedalar por locais alagados. Uma tampa de bueiro aberta e buracos podem fazer você cair e se machucar;
Use piscas ou faróis dianteiros e traseiros e roupas ou objetos que tenham refletividade. Em dia de chuva a visibilidade diminui; Maneire na velocidade. Ir mais rápido pode provocar derrapagens e quedas em pista molhada; Cuidado com a superfície de ciclovias ou ciclofaixas. Dependendo da tinta e da sinalização podem ser escorregadias. 19
eu pedalo
Uma experiência particular *Por Lorena Tonini
Para mim, pedalar é sinônimo de liberdade. É ter uma catarse ao sentir o vento batendo no meu rosto. É querer soltar o guidão e, de olhos fechados, ter a sensação de que estou embarcando em uma viagem particular, embalada pela trilha sonora que mais combinar com o momento. É saber que chegarei onde eu quiser impulsionada pelos meus próprios movimentos e força de vontade. Pedalar é, definitivamente, uma metáfora da vida. Quando penso em bicicleta, definições poéticas sempre me vêm à mente. Como as linhas descritas acima. Mas, falando de uma forma mais realista, acredito que é um elemento completo: nos leva do trabalho aos momentos de lazer, cria na gente uma conexão totalmente nova com a cidade e, também, com as pessoas. E como um bônus, ainda coloca o corpo em movimento de forma saudável. Minha relação definitiva com as duas rodas começou há cinco anos, quando me mudei para um bairro de Vitória, Espírito Santo, onde a bicicleta é um meio de transporte muito utilizado. Se minhas pedaladas estavam restritas à infância e adolescência, passaram a fazer parte do meu dia a dia. Meu reencontro com a magrela foi aos poucos e, confesso, diante da minha falta de prática no 20
pedal de rua, um pouco traumática no início, com direito a queda, roxos e mão machucada. Depois desse episódio, passei um tempo adiando o reencontro com minha bici, mas a vontade era maior do que o medo, e recomecei. Então, nunca mais parei. Tanto que virou uma paixão que levo comigo para onde quer que eu vá, inclusive quando viajo. Tenho lindas recordações de quando pedalei por Montevidéu e Santiago. Tive a oportunidade de conhecer as capitais por ângulos novos e surpreendentes. Experiências inesquecíveis! Guiar minha bicicleta pelas ruas da cidade é uma terapia, cura para todos os males, especialmente depois de um dia puxado. Mas não somente isso, é também um meio de transporte que utilizo para chegar ao trabalho. No meu caso, tenho sorte, pois o caminho que sigo é tão bonito que acaba sendo uma forma de relaxamento pré e pós laboral, além de me livrar do mau humor que os engarrafamentos costumam provocar. Bicicleta é estilo de vida. E uma vida com mais sorrisos, sem dúvidas! *Jornalista e fotógrafa, é capixaba e mora em Vitória (ES). Apaixonada por bicicleta e sonha em percorrer as praias nordestinas pedalando.
Crédito: Chico Guedes
Crédito: Aline Brandão
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entrevista
MARIA VAI DE BICI Um trabalho documental está chamando a atenção para as mulheres que pedalam no dia a dia da cidade de Lisboa. Batizado de Maria Bicicleta, o projeto reúne na internet fotos e histórias reais de mulheres que optaram pela bike como meio de transporte na capital portuguesa. A jornalista Laura Alves falou sobre o objetivo dos registros, que realiza em parceria com o fotógrafo Vitorino Coragem, e também contou sobre os desafios que os ciclistas, especialmente as mulheres, ainda enfrentam na cidade.
Velô: Quando surgiu o projeto e como? Maria Bicicleta: Este projeto surgiu de duas vontades idênticas que se cruzaram por acaso. Eu queria fazer um trabalho documental e jornalístico sobre mulheres que andam de bicicleta, e o Vitorino Coragem já tinha essa mesma direção no seu trabalho fotográfico. Depois de algumas ideias trocadas sobre o conceito e nome do projeto, Maria Bicicleta pareceu o mais adequado, pela sua simplicidade, força e beleza, e por refletir exatamente o que queremos que este trabalho seja: um incentivo para que mais mulheres andem de bicicleta. Velô: Vocês se inspiraram em algum outro trabalho? MB: Não diretamente. Nos inspiramos em alguns trabalhos documentais sobre pessoas, 22
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Fotos Vitorino Coragem
“Quando vou de bicicleta uso um headphone, nunca os dois. E vou a cantar e tudo! Para mim é importante ouvir a cidade e o trânsito, além de ser importante ouvir música. É um compromisso.” Mariana Carvalho, bióloga
não necessariamente sobre ciclistas, e sabíamos que queríamos fazer algo com um forte componente de imagem e pouco texto, que facilitasse a leitura e o compartilhamento nas redes sociais. Velô: Como escolhem as personagens? MB: As ciclistas que temos entrevistado e
“Queremos que as pessoas reflitam sobre as diferenças entre as mulheres e os homens ciclistas, a maneira como as ciclistas são tratadas na estrada pelos motoristas, a forma como lidam pessoalmente com a bicicleta.” 24
fotografado são, até ao momento, pessoas que conhecemos e que sabemos que utilizam a bicicleta no seu dia a dia. A única preocupação que temos é precisamente essa, serem mulheres que fazem a sua vida de bicicleta, seja ir ao trabalho, ir às compras ou sair com os amigos. Já tivemos alguns contatos de pessoas que desejam participar, mas temos de gerir bem as pessoas interessadas, pois o projeto tem o objetivo de reunir somente 20 mulheres, e precisamos que estes testemunhos sejam fortes e representativos.
Velô: Qual o objetivo do projeto? MB: Queremos que as pessoas reflitam sobre as diferenças entre as mulheres e os homens ciclistas, a maneira como as ciclistas são tratadas na estrada pelos motoristas e a forma como lidam pessoalmente com a bicicleta (os homens são mais competitivos, as mulheres serão mais práticas e emocionais, mas falamos de uma forma geral). E, claro,
“Conheces a cidade numa outra escala. Vês tudo, os defeitos, os feitios, as coisas boas e as coisas más. Passas a ter outra atenção, senteste mais dentro da cidade.” Joana Janeiro, arquiteta
“Ainda há muita coisa para fazer, especialmente no que toca à mentalidade, pois os portugueses estão de forma geral muito dependentes do automóvel, e muitos condutores não respeitam nem aceitam facilmente esta mudança de paradigma.” alertar a sociedade para o fato de haver muitas mulheres que não se sentem capazes ou seguras de pegar uma bicicleta e pedalar na cidade, porque nunca foram encorajadas a isso. No final das 20 semanas e das 20 mulheres, queremos reunir os apoios necessários para publicar um livro. Velô: Como é a estrutura para quem anda
de bike em Lisboa? MB: Começam a existir mais ciclovias agora, mas ainda são poucas e nem sempre bem planejadas para garantir a segurança dos ciclistas. Só há três ou quatro anos é que a cidade de Lisboa começou a ficar mais atenta a este fenômeno e a criar condições para os ciclistas, como bicicletários. Recentemente o Código da Estrada sofreu algumas alterações, concedendo mais alguns direitos aos ciclistas e promovendo a sua segurança. Mas ainda há muita coisa para fazer, especialmente no que toca à mentalidade, pois os portugueses estão, de forma geral, muito dependentes do automóvel, e muitos condutores não respeitam nem aceitam facilmente esta mudança de paradigma que está acontecendo. Velô: Existe respeito aos ciclistas, em especial às mulheres? MB: Não é fácil. Por um lado, muitas mulheres se beneficiam de algum respeito, precisa25
mente por serem mulheres, de uma espécie de discriminação positiva, e os condutores de automóveis têm mais cuidados com elas. No entanto, também há o outro lado, o do machismo. Com frequência muitas mulheres ciclistas são alvo de agressões verbais, ou de simples atrevimentos, que provavelmente não aconteceriam com um homem. Creio que isso acontece porque, apesar de tudo, ainda há algum machismo instalado na sociedade, e porque as mulheres que andam de bicicleta são minoria. E, sobretudo, porque ainda é relativamente novo este fenômeno da bicicleta em Lisboa como meio de transporte. Velô: Vocês pretendem levar o projeto para outras cidades? MB: Por ora, estamos focados em Lisboa, mas também vamos incluir mulheres da cidade do Porto. Pretendemos ter, também, pessoas de outras cidades portuguesas, mas agora não temos capacidade de investimento para viajar pelo país ou para outros países com este propósito. É algo que vamos pensar seriamente, caso decidamos fazer o projeto crescer.
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“Gosto de poder movimentar a bicicleta só com a minha energia. Como se fosse uma extensão do meu corpo, um processo completamente orgânico. É uma máquina que me dá possibilidade e que me abre o mundo, que pode inspirar amizade e amor entre as pessoas.” Katy Stone, tradutora
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Estilo ao sol Em tempos de vento frio e sol, nada melhor do que se esticar em um parque atĂŠ o final da tarde. Tirando os casacos leves e as mangas compridas do armĂĄrio, os pedais estĂŁo ainda mais charmosos e cheios de estilo.
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fotos Deb Dorneles www.portoalegrecyclechic.com
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Elsapucai\Creative Commons
Calçadas mais largas, bancos públicos, iluminação, paisagismo. Espaços antes indesejáveis para caminhar começam a se transformar para receber os pedestres.
mobilidade
Rua para caminhar Por Sabrina Silveira
O lema “Governar é abrir estradas”, do então candidato a presidente do Brasil em 1920, Washington Luís, apesar de quase centenário, foi e ainda é seguido à risca. Durante anos, os centros urbanos receberam quilômetros de pavimentação que incentivaram a compra e o tráfego de automóveis. O resultado dos excessos cometidos foram áreas hostis e indesejáveis por pedestres. Porém, aos poucos, as cidades começam a dar espaço para ideias e projetos que priorizam o passeio em detrimento das ruas para automóveis. Em Porto Alegre (RS), a Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (Mobicidade), em parceria com o escritório de arquitetura 0E1, elaborou um projeto de revitalização de três ruas do Centro, que já foi aprovado pela Prefeitura. A proposta am-
plia a área de passeio e restringe a circulação de carros. “Nessas áreas, a circulação de pessoas já é maior do que a de carros, e as calçadas são insuficientes, levando os pedestres a caminhar na via. A nossa proposta não é criar novos hábitos, queremos legitimar um comportamento que já existe”, explica Mário Guidoux Gonzaga, arquiteto do 0E1. Inspirado por projetos já aplicados em Buenos Aires, na Argentina, a ideia é desencorajar as pessoas a se deslocar de carro na região. Na capital gaúcha, o projeto foi pensado de forma colaborativa, com estudantes de arquitetura, através de uma oficina do laboratório de inovação social TransLab. A finalização foi feita pelo escritório, que hoje, em conjunto com uma comissão da Prefeitura, 33
GonzaloMMD\Creative Commons
elabora um plano de execução. “Temos outros projetos sendo desenvolvidos em paralelo a esse. Nossa ideia é levantar soluções e desenvolver projetos-piloto para testar a viabilidade e as necessidades específicas. As equipes envolvidas devem continuar acompanhando cada passo de sua aplicação e, dependendo de cada projeto, a ideia é sempre pensar em sua expansão”, explica Cadu Carvalho, membro da Mobicidade. Em revitalizações como esta, segundo os coordenadores do projeto, todos saem ganhando: comerciantes, pedestres e motoristas. Mas o trabalho não termina aí. Ao desencorajar pessoas a andar de carro, o transporte público — ônibus, lotações e táxis — é priorizado e deve atender a população de forma satisfatória na região. Recentemente, São Paulo também aderiu a um projeto que propõe mudar a cara das áreas urbanas. Os parklets móveis, desenvolvidos pelo Instituto Mobilidade Verde e 34
pelo estúdio Design OK, transformam vagas de estacionamento públicas em lounges abertos para pedestres. A primeira estrutura foi construída na rua Padre João Manuel, no bairro Jardins, próximo à avenida Paulista. Os parklets podem ser equipados com bancos, floreiras, mesas, cadeiras, guardasóis, aparelhos de exercício físico, paraciclos ou outros elementos de mobiliário, sempre com a função de recreação ou de manifestação artística. Segundo os criadores, “a iniciativa tem como objetivo humanizar e democratizar o uso da rua e desenvolver espaços de convivência que possam proporcionar aos pedestres maior interação social”. A capital argentina serve hoje de modelo devido a uma série de reformas e revitalizações urbanas realizadas nos últimos anos através do programa Caminando la Ciudad (Caminhando a Cidade, em português). Essas iniciativas não só deram prioridade, como maior segurança aos pedestres. Quem
Divulgação Design OK
caminha pela cidade pode ver calçadas mais extensas, locais onde os carros têm acesso restrito e nivelamento de calçadas com as ruas, facilitando o trânsito de pessoas. No lugar de mais carros, hoje estão mesas e cadeiras de cafés e bares, bancos públicos, árvores e ciclovias — que hoje somam mais 100km. A Rua Reconquista (foto), por exemplo, é hoje um grande passeio no centro da cidade. Com o nivelamento das calçadas, a circulação de pessoas aumentou, aquecendo o comércio. Os carros por ali são raros. Em outros lugares, como a Pasaje Carabelas, a calçada aumentou e ganhou mobiliário urbano e iluminação. REGENERAÇÃO URBANA As falhas acumuladas não se restringem às cidades da América Latina. Muitas cidades famosas identificaram os problemas e hoje correm atrás do prejuízo para devolver o prazer de viver em áreas urbanas aos seus
moradores. Nova York, Madrid, Seul: todas acumulam projetos que servem de lição. Madrid transformou, em 2011, quase 650 hectares ao redor do rio Manzanares, antes tomados por avenidas de alta velocidade em uma área arborizada, com pontes para pedestres, ciclovias e jardins. Batizada de Madrid Río, a região é tão procurada por turistas como os museus e parques históricos. Toda a obra levou quatro anos para ser concluída e incluiu a construção de um túnel. Hoje, o parque é considerado um dos exemplos recentes mais emblemáticos de transformação de áreas hostis em espaços públicos de qualidade. Em 2010, Nova York iniciou um projeto de retomada de um dos pontos turísticos mais conhecidos da cidade. A mudança radical de espírito da Times Square transformou a paisagem de um dos ícones de Nova York com o fechamento de um trecho da Broadway. A rua deu lugar a praças e os 35
travel oriented\Creative Commons
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pedestres ocuparam a área, efervescente em lojas e teatros. Ao invés de piorar os congestionamentos com a redução do espaço para carros, a ação incentivou o uso dos transportes públicos e da bicicleta, tornando o tráfego mais ameno. “As cidades têm que, permanentemente, se reinventar. Hoje a Times Square é mais segura e prazerosa”, disse Tim Tompkins, presidente da organização não-governamental Times Square Alliance, na época da inauguração. Em Seul, uma situação extrema de poluição foi transformada com a revitalização do córrego Cheonggyecheon, que era coberto por uma autoestrada. No lugar, um canal foi construído com direito a paisagismo, pedras e iluminação típicas da cultura sul-coreana. A recuperação deste espaço público fez diminuir os níveis de ruído e a temperatura do entorno. Um lugar onde antes só havia espaço para automóveis e poluição, recebe hoje mais de 60mil visitas por dia.
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Fotos Divulgação
TAMANHO DE GUARDA-CHUVA Já pensou em pedalar até um ponto de ônibus, guardar a bicicleta na mochila e embarcar tranquilamente? Parece um sonho, mas um designer italiano resolveu transformá-lo em realidade. Gianluca Sada, insatisfeito com os modelos de bikes dobráveis já existentes, que possuem rodas pequenas, desenvolveu o protótipo da Sada Bike depois de seis anos de pesquisas. Ele conseguiu
criar um modelo com tamanho e peso reduzido em comparação a outras bicicletas. As rodas aro 26 do modelo italiano não possuem raios e são retiradas para fechar a estrutura, que fica do tamanho de uma guarda-chuva grande. O designer agora busca apoio financeiro para iniciar a produção em larga escala. Conheça o projeto completo em www.sadabike.it.
ESTILO DE VIDA
Erik Daniel Drost\Creative Commnos
Crédito: Divulgação
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Uma pesquisa divulgada em abril nos Estados Unidos alerta para o que os jovens esperam das cidades no futuro. Nas dez cidades onde o estudo foi aplicado, mais de 45% dos entrevistados, de 18 a 35 anos, afirmaram que gostariam de viver em lugares onde não dependessem do carro para se locomover. A pesquisa é da Rockefeller Foundation and Transportation For America.
Bicicleta PET Um projeto desenvolvido em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, está transformando garrafas PET em quadros de bicicletas. Para a fabricação de cada Biocicleta, criada pela Ecosar, são utilizadas 200 garrafas plásticas em um processo que economiza 96% da energia usada para fabricar uma bicicleta comum. Segundo os criadores da Biocicleta, o veículo não precisa de solda, é altamente resistente e não necessita pintura, pois já é fabricado na cor desejada. A viabilização do projeto veio através de uma parceria com a Unisc-Escola, que está cadastrando escolas da região interessadas em recolher o material reciclável em troca das bicicletas. Mais informações pelo email uniscescola@unisc.br ou pelo telefone (51) 3717-7686.
Fotos Divulgação
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BIKE SHOP
Corpo antigo, alma nova Garimpar quadros antigos clássicos e renová-los é o trabalho da Old Body New Soul, que acaba de lançar sua primeira linha de bikes: Pierre. Com clássicos quadros das bicicletas masculinas Peugeot, são inspiradas nas magrelas francesas das décadas de 40 e 50. Saiba mais: www.obns.com.br Divulgação
RASTREADOR COM DISFARCE O Yon Bike Lamp é um rastreador camuflado na lanterna da bike, permitindo o monitoramento constante dos trajetos pedalados e a localização quando a bike está parada. Ainda é possível compartilhar os resultados nas redes sociais. É necessário ter um celular ou tablet com sistema operacional Android ou iOS. Informações em: www.nastek.com.br.
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Para levar a bike para o sofá. Mede 45x45, tem capa produzida com tecido em sarja de algodão, com acabamento em vivo e zíper. O enchimento é de fibra siliconizada 100% poliéster. Compre em: www.oppa.com.br
MONITORAMENTO
NO FRIO
O Garmin Edge 500 é um computador de ciclismo leve que rastreia distância, velocidade, localização e elevação com um GPS de alta sensibilidade. É facilmente encaixado na haste ou no guidão da bicicleta com um discreto suporte. Consulte informações em: www.garmin.com/br
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Para quem quer pedalar com estilo. A luva tem áreas de contato almofadadas e parte superior feita em tricô. À venda no Vulp Bici Café (facebook. com/vulpbicicafe).
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Malas prontas Para garantir que seus pertences vão chegar secos ao destino em dia de chuva a dica é este alforge impermeável. Tem 36 litros de volumetria, 14 kg de capacidade de carga total, sistema de fixação em peças metálicas. Disponível nas cores vermelho, branco e preto. Compre em: www.saikoski.com.br. Divulgação
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CONEXÃO BICICLETA 24 HORAS Por Bruna Riboldi
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O medo de enfrentar o trânsito de Porto Alegre sobre duas rodas me impediu de ter uma vida de ciclista enquanto ainda morava no Brasil. Em 2012, quando fui morar em Lisboa, em Portugal, para fazer um mestrado, a possibilidade de inserir a bike como meio de transporte pareceu mais viável. Depois de meses pensando se valeria a pena, finalmente comprei uma bicicleta vermelha, modelo retrô, bem simples, mas com a intenção de complementar com um cesto de vime e planos de idas ao parque quando a prima-
vera chegasse. Mas o trânsito lisboeta ainda tem um longo caminho pela frente antes de poder ser considerado bike-friendly, fator que, junto das sete colinas que fazem parte da topografia da cidade, desestimulou consideravelmente o uso da bicicleta para além dos momentos de lazer. Foi em 2013, quando mudei para Lyon, na França, que finalmente passei a levar a bicicleta como meio de transporte a sério, e sem a necessidade de comprar uma. A bike do cesto de vime imaginário ficara em Lisboa, pois economicamente não fazia sentido trazê-la comigo: aqui, as bicicletas públicas da cidade me conquistaram. Prestes a completar dez anos, o Vélo’v é um programa de compartilhamento de bicicletas que nasceu a partir de uma parceria público-privada entre a prefeitura e a empresa de mídia exterior JCDecaux. São cerca de 4 mil bikes disponíveis em 345 postos espalhados pelas cidades de Lyon e Villeurbanne em
Styeb\Creative Commons
um sistema que serviu de inspiração para a cidade de Paris, que teve o compartilhamento de bicicletas implementado em 2007. O sistema público de aluguel de bicicletas teve um importante papel no estímulo ao uso de meios alternativos de deslocamento na cidade: a esmagadora maioria das ciclovias e ciclofaixas hoje existentes foram criadas após a implantação do sistema, por causa do aumento da demanda ocasionada pela oferta das bikes de aluguel. O Vélo’v é bem simples e pode ser utilizado por residentes ou turistas. Basta escolher um plano, cujos valores de adesão variam de acordo com o período de duração, de um dia até um ano. Independente da opção escolhida, os primeiros 30 minutos de uso são sempre gratuitos. As bicicletas estão disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana, o que as coloca no posto de sistema de transporte mais flexível da cidade. Para saber onde há bikes ou vagas disponíveis, é possível acessar
o app AllBikesNow, que mapeia todas as estações nas outras 27 cidades europeias que possuem o mesmo sistema implementado em Lyon. Um teste realizado em 2012 e publicado no jornal LeFigaro analisou 40 modelos de compartilhamento de bicicletas em 18 países da Europa. A inscrição gratuita e o sistema completamente informatizado e disponível em várias línguas garantiram ao Vélo’v o posto de melhor modelo europeu de bikesharing, seguido por Paris e Bruxelas. O sistema foi considerado pioneiro por integrar o compartilhamento de bicicletas ao sistema público de transporte da cidade, além de oferecer o mapeamento por GPS das magrelas. O estímulo ao uso de transportes menos poluentes vai além: em março deste ano os índices de poluição atmosférica atingiram níveis preocupantes graças a uma situação climática que gerou a ausência de vento e, por consequência, o acúmulo de 43
Matt Neale\Creative Commons
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poluição sobre os centros urbanos, deixando em alerta grandes cidades como Paris, Lyon e Marseille. Para auxiliar na contenção da emissão de gases em Lyon, os transportes públicos passaram a ter circulação gratuita nos horários de maior movimento e os usuários do Vélo’v tiveram o tempo de uso gratuito das bicicletas duplicado, ação que durou até a revogação do alerta. Para quem visita Lyon, não há melhor meio de viver a cidade que não sobre duas rodas, mesmo nos dias de inverno. Alguns roteiros são obrigatórios: o primeiro, pelas margens dos rios Rhône e Saône, que cor-
tam Lyon. Há uma ciclovia que segue do sul até o Tête d’Or, o maior parque da cidade, que ganha ares de paraíso com as cores da primavera. Também é possível ir de bicicleta até Vieux Lyon, o bairro mais turístico e cheio de charme, onde é possível fazer um roteiro pelos traboules (passagens que ligam uma rua à outra cortando os pátios internos de prédios residenciais). A cidade, que foi capital do império romano, tem uma particularidade arquitetônica que pode ser explorada em um passeio começando pela Fourvière, a colina onde teve origem a construção de Lyon. A partir de lá, rumando sempre para o Leste, é possível identificar na arquitetura dos prédios as épocas de protagonismo de cada região da cidade: a capital romana, o Renascimento, o auge da produção de seda após a Revolução Industrial. Êtes-vous prêt? On y va!
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