Ventura #3

Page 1

ANO II #3 -MAIO 2014 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

QUEM PLANTA, COLHE! Com quantos esportistas se contrói o esporte de uma cidade? COPA PARA QUEM?

UMA ANÁLISE DO MAIOR EVENTO ESPORTIVO DO ANO

DENGUE

GUAÍRA ENFRENTA A PIOR EPIDEMIA DE SUA HISTÓRIA

LONGE DE CASA

IMIGRANTES ASIÁTICOS BUSCAM ASILO POLÍTICO EM GUAÍRA

QUEM É PARRARO?

ENTREVISTA COM O EXJOGADOR DO FLUMINENSE


2

MAIO 2014


MAIO 2014

3


4

MAIO 2014


Entrevista

Parraro e Muricy (Arquivo Pessoal)

As voltas que o mundo dá Ele reside em Guaíra há menos de 10 anos, mas fala como se fosse um guairense. E é, pois se considera um. Parraro é daqueles que possuem uma caminhada insuspeitada. O homem já rodou o mundo, viveu de futebol e mantém amizade com gente famosa. É parceiro de Muricy Ramalho, com quem teve o privilégio de jogar, no México. Envolvido no meio futebolístico local enquanto incentivador, o excentroavante relembra sua trajetória nesta entrevista exclusiva.

MAIO 2014

5


Entrevista

Foto: Revista Ventura

Quem é o professor Parraro? Meu nome é Edson Fernando Coltri, sou de Bauru, estado de São Paulo, sou filho caçula de três irmãos. O único que graças a Deus se deu bem jogando futebol (risos). Comecei minha carreira com dez anos de idade, naquele tempo era categoria dente de leIte. Aos dez anos, já no Noroeste de Bauru, fui campeão. E depois do campeonato esse pessoal que foi campeão seguiu treinando no clube, e nesse meio tempo apareceu um senhor que ajudou muita gente. Ele foi um pai pra gente, Luis Carlos de Oliveira, popular “Bolão”. O dente de leite era infantil, do infantil fui pro juvenil, e do juvenil fui pro amador. Naquele tempo não havia “juniores”. E já com pouca idade eu estreava nas categorias profissionais do Noroeste. E graças a Deus fiz uma trajetória legal, mas logo saí, fui pra Ponte 6

MAIO 2014

Preta. Em todos esses times fui levado pelo Bolão. Fui pra Ponte Preta em 1975, antes fui pro Saad, de São Caetano. O Saad não existe mais, hoje se chama São Caetano. Nós treinávamos e jogávamos no campo do São Caetano, mas o nome do time era Saad. Depois fui para o Catanduvense, tinha 18,19 anos e disputei a primeira final da série B.

“Naquele tempo não havia ‘juniores’. E já com pouca idade eu estreava nas categorias profissionais” E de lá fui pra Ponte Preta, da Ponte Preta fui pro Comercial de Ribeirão Preto, isso já em 1976. Aí do comercial de Ribeirão Preto esse mesmo Luis Carlos de Oliveira (o Bolão) foi convidado para assumir

o Matsubara. O Matsubara é de Cambará, norte do Paraná. Na época era um time fantástico, um time que revelava muitos jogadores. O Matsubara me revelou para o Fluminense, o Tição para a Ponte Preta, Toninho Moura para o Coritiba, Carlos Roberto para o Santos, enfim, revelou muita gente boa. Eu cheguei ainda garoto, em julho de 1977. Disputei um Juvenil Paranaense e fomos campeões. Fui promovido para o time de cima e estreei muito bem, fiz um campeonato paranaense em 1978 muito bom. O Matsubara ficou em 4º lugar, disputou com o Atlético Paranaense, e aí perdemos. Em 1978, fiz uma bela campanha e fui um dos artilheiros, junto com o Luis Freire, do Coritiba, com 8 gols. Aí alguns jogadores iam para o Fluminense, porque esse mesmo Bolão tinha um contato muito bom com a diretoria do Fluminense. Aí foi o Griti, que era lateral


Entrevista esquerdo, o Rubinho, que era lateral esquerdo, e eu. Eu fui de contrapeso. Eu treinava e os dois meninos tiveram um estreia muito decepcionante. Assim, acabaram não jogando mais. Um belo dia, em uma segunda-feira após eu ter ficado no banco, o técnico me chamou pra ficar no lugar do Nunes (Campeão Brasileiro, Campeão Mundial pelo Flamengo), pois tinha chegado uma notícia que ele havia sido vendido para o Monterrey do México. E aquele tempo ser vendido para o exterior era coisa rara. Aí eu estreei em uma quartafeira no Fluminense no lugar do

Nunes, contra o Bangu. Fiz 3 gols, ganhamos de 5 x 0, fiquei com a bola toda, pro jogo de domingo no Fla x Flu. Era eu de um lado, Zico de outro. Contra o Flamengo participei diretamente do 1º gol, aí quando tava 2 x 0 saiu um pênalti contra nós, o Zico errou, nosso goleiro pegou. E 3 x 0 fez o Cristóvão, que era meu reserva e que até outro dia atrás era treinador do Vasco. Passaram-se seis meses, eu vim embora e o Fluminense me comprou. Na época era um belo dinheiro, 2.300 e alguma coisa, não me lembro. E então eu voltei para Jacarezinho,

casei e montei um apartamento em Copacabana, estava no auge. Mas quando me apresentei não era mais o treinador que tinha mandado me comprar. Quem assumiu foi o Zagallo. E aí, voltando à minha apresentação, em janeiro, o Zagalo trouxe 5 jogadores e um deles era da minha posição. O Zagallo me

“fiquei com a bola toda, pro jogo de domingo no Fla x Flu. Era eu de um lado, Zico de outro.”

Parraro e Rubens Galaxe (Arquivo Pessoal) Parraro e Zico (Arquivo Pessoal)

Parraro e Zagallo (Arquivo Pessoal)

Parraro e Nelson Rodrigues (Arquivo Pessoal)

MAIO 2014

7


Entrevista barrou. Aí começaram a perguntar, por que o Parraro não joga...Mas ao mesmo tempo a imprensa tinha medo de cutucar o Zagallo, porque o Zagallo já era o Zagallo, né? Um dia eu não aguentei mais e fui tirar satisfação com o treinador. Nunca mais esqueci essas palavras, ele falou pra mim assim: “Você não tem que reivindicar nada, seu caipira do Paraná, não quero mais você no elenco e trate de procurar outro clube”. Apareceram algumas coisas. O próprio Zagallo me arrumou pro Barcelona de Guayaquil.

É o Barcelona que

Parraro em Passagem pelo Fluminense (Arquivo)

Parraro em Passagem pelo Puebla-Mex (Arquivo)

8

MAIO 2014

disputou a final contra o Vasco, quando o Vasco foi campeão da Libertadores? Sim. Mas do Rio de Janeiro fui para o Rio Branco de Vitória, Espírito Santo. Arrebentei, fiz 16 gols em 21 jogos. Quando eu voltei do Rio Branco de Vitória eu voltei pro Fluminense, nessa volta minha de dezembro pra dezembro, mas o Fluminense tinha contratado o Cláudio Adão, grande jogador, aí eu não ia jogar mesmo. Fui então pro Brasil de Pelotas, fui o 3º

“Você não tem que reivindicar nada, seu caipira do Paraná, não quero mais você no elenco e trate de procurar outro clube”. artilheiro do campeonato, voltei pro Fluminense de novo, mas não tinha mais espaço para mim. Comprei meu passe e saí do Brasil de Pelotas. Minha mulher estava grávida, e eu, com passe livre, achei melhor ficar perto de casa. Aí então apareceu União Bandeirante. Depois, o Bolão levou o time todo que ele conhecia para o Coxa (Coritiba), para disputar a Taça de Prata, (naquele tempo não era a serie A e B, era taça de Prata e Ouro). Então, fiquei no Coritiba bastante tempo, mas joguei poucas partidas no Coritiba como titular. De lá fui para o México, em julho de 1983 e 1984. Cheguei no Puebla, eles me deram 20 mil dólares pra poder ficar 1 ano no México. Era 10 mil pra mim, 5 pro empresário que tava me levando, e 5 pro Bolão. Cheguei no Puebla e foi quando joguei com o Muricy Ramalho. Quando cheguei lá o Puebla fazia 15 anos que não era campeão e 10 que nem se classificava. Então eu fiz esse dinheiro virar 100 mil dólares. Lá no México é tudo muito organizado, é um mês de férias, um mês de pré-temporada... E cada um tinha a sua camisa, a minha era a número 9, e nos amistosos que eu fiz nas temporadas fiz muitos gols. E eu tenho a honra de dizer pra você que o Muricy ficou enciumado comigo no começo. Ele era o craque, jogava muito, não fazia gol feio. Eu jogava de pivô. Enfim, começou o campeonato e no 3º jogo a torcida pegou no meu pé. Bem no finalzinho do segundo tempo o cara


MAIO 2014

9


Entrevista foi atrasar uma bola pro goleiro e jogou no meu pé, aí eu driblei o goleiro e fiz o gol. Então o Muricy me levou na torcida para me dar apoio. Depois disso fizemos um relacionamento legal, nós éramos vizinhos, ele teve uma menina da mesma idade do meu filho, eles estudavam na mesma escolinha, um dia a mãe de um ia buscar, no outro dia a mãe de outro.

E ele já tinha esse temperamento que a gente vê na televisão? Sim, igualzinho. Ele era um cara diferente, fumava (risos).

não volta pro Brasil não, vá para os EUA, daqui a pouco tem a Copa do Mundo nos Estados Unidos, todo mundo te conhece, e com esse dinheiro que você tem dá para ficar uns 5 anos sem trabalhar. Monte uma escolinha de futebol, você vai se dar bem”... Cheguei no Brasil em setembro de 1984. Quando chegou em janeiro do outro ano, fui procurar o Bolão, pensei que ele ia me ajudar, mas me ferrei, ele disse que não estava bem de saúde e sem moral. Então fui para o Taubaté, estava disputando a A2, estava bem.Aí o treinador

Os jogadores eram mais politicamente incorretos... Nunca fui de colocar uma bebida na boca, mas quando eu cheguei ao México... Foi um ano e meio de felicidade. Charge em Jornal da época (Arquivo Pessoal) Quando terminou o ano, era final de 1984, o meu passe não tava muito caro, o que falou que ia mandar me comprar. acontece? O México tinha muito Chegou o final do ano e o São José jogador estrangeiro, e como o também me queria. Enfim, chegou México foi escolhido como sede na hora H e o Taubaté não me da Copa do Mundo em 1986, a comprou. Fui pessoalmente atrás Confederação Mexicana de Futebol do São José, mas eles já tinham começou a diminuir número de comprado um centroavante e eu estrangeiros no país, que era fiquei na mão. Em 1986 fui para para forçar o time a arrumar um o Fluminense de Feira de Santana, mexicano para cada posição. O fui pra Bahia, larguei a família em primeiro a sair fui eu, deu uma Bandeirantes, fiquei um ano, mas grana boa. Quando estava vindo não aguentei mais e vim embora. para cá de novo, o Muricy falou Então resolvi encerrar a carreira. O pra mim: “Então, Parraro, o que ruim era dormir e acordar no outro você vai fazer agora? Falei que ia dia sabendo que você não vai fazer voltar pro Brasil e cuidar da minha nada. carreira. Aí o Muricy falou: “Parraro, 10 MAIO 2014

Quantos anos você tinha nessa época? Isso, boa pergunta: 28 anos.

Você foi feliz? Conheci a metade do mundo, fui pra Europa, América Central, joguei no Coliseu de Los Angeles. Sou formado em educação física, sou pós-graduado, passei em 7 faculdades para me formar, e minha vida foi essa, fiz poucas amizades sinceras, rodei, conheço a metade do mundo.

O meio de futebol não é muito favorável para amizade de verdade? Eu não sei, sou um cara muito dado, eu confio muito fácil nas pessoas. E uma coisa eu que notava, com todo o respeito, que tenho até hoje, mas eu tinha um uma mulher muito bonita, e jogador de futebol é muito safado. Para arrumar uma amizade sincera, de ir na casa, era muito difícil, tanto é que minha amizade hoje é com um cara que eu considero meu irmão, jogava comigo mas parou cedo, o Sergio Luís, de Bauru.

Quando você encerrou o futebol, como foi esse lance da academia? Pois é, a minha mulher já mexia com academia, eu lembro que uma noite eu sentei na cama chorando, pensando, o que será que vou fazer?! Aí ela falou, “vem trabalhar comigo na academia”. Eu fui. Não ganhei o dinheiro que eu iria ganhar jogando bola, mas valeu a pena.


Entrevista

Foto: Revista Ventura

E essa sequência que o Muricy deu e outras pessoas deram, que é partir para a parte de treinamento, parte administrativa? Não sei se a palavra certa seria frustração, mas eu gostaria de seguir como preparador físico. O que eu mais gostaria de ser com a minha idade é ser responsável por um C.T.(Centro de Treinamento), porque eu acho que sou uma pessoa muito boa, eu tenho competência, eu vivi. Eu não fui famoso, mas eu convivi com gente muito famosa. Eu queria ser aquele cara que acorda primeiro que todo mundo e que puxa o lençol da molecada. Queria ser um paizão para esses meninos.

E essa oportunidade nunca apareceu? Eu nunca fui atrás e nunca surgiu, mas uma vez que eu me agarrei na

academia, eu me dediquei. E na academia eu dei aula de musculação e condicionamento físico, e foi através de todas essas aulas, aliada à minha vivência em futebol, que me surgiu a artrose. Começou em 2006. Ela foi se complicando... e eu morava praticamente sozinho em Bandeirantes, minha família em Bauru e Porto Alegre e a Elizete já estava aqui, com a Eliete, o Thobias, o Vavá, e aqui era o lugar que nós vínhamos para visitar os parentes. Eu amava muito Guaíra. A primeira vez que eu vim pra cá eu já me identifiquei demais.

é uma cidade limpa, arborizada, bonita, e eu morava em uma cidade abandonada, suja, imunda, porca, cheia de buracos. Então aqui eu vivia fascinado. A minha mulher sempre falava, “um dia vamos morar em Guaíra”. Aí eu não sei se é aquele ditado de “que há males que vem pra bem”, surgiu essa artrose. Se não tivesse surgido estaria lá até hoje. E não estaria tão feliz como eu estou hoje, posso garantir. Me mudei pra cá e construí minha casa, fiz muita amizade aqui, estou feliz aqui. Adoro essa ponte, esse rio, a cidade, o povo daqui.

Em que ano mais ou menos?

Sobre o esporte daqui de Guaíra: o que você acha que daria para fazer, o que seria bom fazer. Quais os principais problemas?

Foi em 1994, mais ou menos, quando eu vinha aqui visitar os parentes. Eu já era apaixonado por esse lugar. Não tinha esse Paraguai que tem hoje, meu cunhado me levava pra pescar. Outra coisa que me fez gostar de Guaíra é que

Eu aprendi um negócio muito importante, você só pode criticar quando você apresenta soluções.

MAIO 2014 11


nota do editor Expediente

DIREÇÃO GERAL Nader Hamdan REDATOR CHEFE Cristian Aguazo REP. COMERCIAL Diego Prado DIREÇÃO DE ARTE Nader Hamdan ARTEFINALISTA Alisson Rochinski REPORTAGEM Roberto Dias SOCIAL Priscila Michels Editora Ventura 17.341.715/0001-00 Rua Mato Grosso, 30 - Sala 02 Guaíra/PR 44 9980 0708 44 9959 9575 revistaventura@gmail.com Conselho Editorial Cristian Aguazo, Diego Prado e Nader Hamdan Tiragem 3.000 exemplares (Gráfica Idealiza) Os artigos e opiniões não refletem, necessariamente, a opinião desta publicação.

Ooops!

Por um erro de diagramação, o crédito da foto do entardecer em Guaíra publicado na revista 01 (reportagem intitulada Somente o Sol) acabou não aparecendo. O excelente fotógrafo Érico Chistmann merece menção. Pedimos desculpas pela falha técnica.

DE VOLTA! É com muito prazer que apresentamos a terceira edição da revista Ventura. Depois de dois bem sucedidos lançamentos no começo do ano passado, tivemos que interromper a publicação temporariamente. Nesse longo hiato uma coisa ficou bem clara para nós: precisamos deste veículo em nossas vidas! Esse tempo de afastamento pelo menos nos permitiu algumas pontuais transformações. Ventura faz parte agora da Hype Propaganda, empresa presidida pelo diretor de arte da revista, Nader Hamdan. Nader é peça fundamental na revista, na agência, nesse empreendimento que pretende levar informação de qualidade e discutir com a sociedade temas relevantes da fronteira e do mundo. A Hype também fez contratações que vão colaborar com a Ventura: Alisson Rochinski, Priscila Michels, Diego Prado e Roberto Dias, todos eles fundamentais para que esta edição chegue em suas mãos. Ventura 03 aborda basicamente o conceito de movimento. Seja mencionando a onda de protestos que passou por nós, cobrindo o caso de imigrantes bengaleses em Guaíra ou evidenciando uma nova geração de esportistas na cidade. A matéria de capa mostra como as novas gerações estão se destacando e como a paixão pelo esporte pode transformar histórias de vida. A edição também marca a inserção de pequenas mudanças em nossa concepção gráfica. Apesar de mantermos o padrão de identidade da revista, essas pequenas mudanças deram mais leveza à diagramação, o que resultará numa leitura mais agradável. Afinal, “conteúdo de qualidade e compromisso com o leitor” continuam sendo as nossas principais diretrizes. Boa leitura! Cristian Aguazo

SUMÁRIO Entrevista................................................ 05 A história do ex-jogador de futebol Parraro

Fotografia................................................ 14 Tony pagão na floresta de Kennal Vale (Inglaterra)

Reportagem............................................ 17 Por que imigrantes estão desembarcando na região?

Economia................................................ 20 Criação de tilápias em tanques-rede divide opiniões

Fronteira................................................. 24 05

Salto del Guairá vive crescimento vertiginoso

Literatura................................................ 26 Entenda os fusos: texto de Eduardo Mello


17

20

42

Social....................................................... 28 Cliques da Festa das Nações e acontecimentos

Uma japonesa em Guaíra...................... 30

35

As impressões de uma repórter japonesa.

Crônica..................................................... 32 A repercussão dos protestos de Junho/2013

Polêmica.................................................. 35 #VaiTerCopa?

Cidade...................................................... 39 A maior epidemia de dengue da história do município

Capa......................................................... 42 A ascensão do esporte guairense

Panóptico................................................ 53 A seleção de livros, músicas e filmes da Ventura

39


Fotografia Tony pagão na floresta de Kennal Vale em Cornwall, Inglaterra.

‘Saudações à Terra Mãe’ é um projeto que explora os conceitos sobre a prática religiosa dos Pagãos Modernos na Inglaterra. A série de retratos visa combater o estigma e preconceito que as pessoas têm nessas crenças, geralmente associando-as com algum tipo de prática satânica, como a magia negra e o sacrifício humano. Ao contrário, as crenças pagãs são simplesmente devotas à natureza, onde rituais e cerimônias são executados para que as pessoas possam adiquirir uma conexão espiritual com a Terra Mãe. Não há hierarquia, doutrina ou qualquer tipo de politicagem. A prática pagã é muitas vezes realizada independente de grupos e sem a necessidade de igrejas e templos, mas simplesmente em volta da natureza. Artur Melez Tixiliski, 27 anos. Acadêmico de fotojornalismo na faculdade de Falmouth em Cornwall, sul da Inglaterra. Natural de Curitiba, Artur morou em Guaíra por três anos e há 11 mora na Inglaterra. Seu trabalho é mistura de belas artes com algo mais documental e sua ênfase se dá em retratos. De Junho a Agosto de 2014 Artur estará no Brasil para ampliar um trabalho documental pessoal que começou em Guaíra (Moderno e Indígena), retratando as comunidades urbanas indígenas e registrando tal inserção social e suas lutas por reinvidicação de terras. Mais em www.arturtixiliski.com 14 MAIO 2014


MAIO 2014 15


16 MAIO 2014


Reportagem

Foto: Revista Ventura

‘Beeem’ longe de casa Houve um tempo em que os brasileiros buscavam sair do país por melhores condições de vida. Esse êxodo não chegou a ser interrompido, mas é inegável que o processo foi subtraído drasticamente - eram 4 milhões de brasileiros lá foram em 2004, agora são “apenas” 2 milhões. Os fatores vão desde a melhora na qualidade de vida do país até a intensificação de uma política de repressão a imigrantes em alguns países da Europa, como a Espanha e a Inglaterra, passando, claro, pela crise mundial de 2008. Se por um lado cresce o número

de brasileiros que resolvem investir - e insistir - por aqui mesmo, cresce também o número de imigrantes no país. Como sempre foi conhecido por ser uma nação aberta aos demais povos, o Brasil passou a ser rota para imigrantes de países mais pobres de diversas nacionalidades, que têm apostado no crescimento da economia nacional. Entre as cidades do país que mais receberam pedidos de refúgio em 2013, São Paulo é a campeã, com 1.092 solicitações. Brasília recebeu 745 e Guaíra teve 487, um dos maiores índices do país.

Explicação A imagem de país multirracial onde predomina a tolerância já é histórica. Segundo o professor José Renato Salatiel, “estima-se que, desde 1872, data do primeiro senso, o Brasil tenha recebido mais de 6 milhões de imigrantes que ajudaram a formar a cultura e desenvolver a economia nacional. A partir do século 19, com a abolição da escravatura e o impulso econômico das plantações de café em São Paulo, houve um estímulo para a vinda de mão de obra estrangeira, sobretudo de italianos, espanhóis, portugueses e japoneses”, diz. MAIO 2014 17


Reportagem Entrevista Referenciando sua política em nome de uma suposta solidariedade, o Brasil tem uma legislação que garante asilo político a perseguidos. Os bengaleses que desembarcaram em Guaíra estão usando exatamente este argumento. “A maioria não sabe falar português. Eles ficam um tempo de maneira irregular e depois procuram os meios legais para pedir refúgio. A PF arrecada toda a documentação, colhe depoimento das pessoas e passa toda a documentação para o Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), do Ministério da Justiça, que é quem faz a análise para acatar ou não o pedido. O refugiado sofre um processo diferente do imigrante comum. Normalmente, eles alegam que estão sendo perseguidos, que vão ser presos, vão apanhar, que não podem retornar ao seu país de origem e o Brasil tem um acordo internacional que garante asilo a refugiados políticos”, afirma o policial federal Eduardo Barbosa dos Santos. A maioria dos supostos refugiados políticos que estão solicitando asilo pela Delegacia de Guaíra vem de Bangladesh, mas já houve registro

de um paquistanês. “De março até maio de 2013, foram mais de cem pedidos. Quase todos de Bangladesh, mas já teve um pedido que era de um cidadão do Paquistão”, conta Eduardo. Os imigrantes podem permanecer no Brasil até julgamento do Conare. A decisão do caso leva de 6 meses até 1 ano, mas há registro de casos que já ultrapassaram este limite.

Mão de obra cobiçada

de que alguns procuram emprego na construção civil, em serviços de limpeza”, diz Eduardo. Assim como os bolivianos, que são contratados por empresários da indústria têxtil em São Paulo, e paraguaios pobres para as colheitas aqui na região de fronteira por fazendeiros, é possível que os bengaleses tenham sido atraídos direta ou indiretamente por empresários das grandes empresas que exportam carne.

O principal motivo da imigração, entretanto, desconfia a PF, é a garantia de emprego no agronegócio. As empresas brasileiras exportadoras de carne, por exemplo, estão com cada vez mais clientes no Oriente Médio e em países da Ásia que praticam o islamismo e isso requer algumas adaptações. Uma das exigências dos importadores está na contratação da mão de obra muçulmana. Daí a presença dos bengaleses. “Alguns dos que estiveram aqui na delegacia ficaram aqui em Guaíra, outros em Mundo Novo, outros foram para cidades aqui da região. Eles procuram os frigoríficos, mas há casos

De acordo com o que a PF apurou, a maioria dos bengaleses entram pela via área até a Bolívia, e adentram em território brasileiro por Cáceres/MT ou Corumbá/MS. É o caso de Mohammad Fazlul Hoque, que passou por Corumbá, mas antes de chegar a Guaíra ingressou ainda no Paraguai. Na época da reportagem, Fazlul estava residindo provisoriamente num edifício no bairro São José. Dividia o apartamento com mais quatro compatriotas. Nenhum deles falava português, mas Fazlul falava um espanhol arrastado que aprendeu no Chile, onde esteve

Entrada

Bangladesh: Um pequeno país para uma grande população > República Popular de Bangladesh ou Prajatantri Gana Bangladesh, conhecida simplesmente como Bangladesh, foi anteriormente chamada de Bengala Oriental e Paquistão do Leste. A capital de Bangladesh é Daca, localizada no centro do país, nas margens do rio Buriganga. Daca é a 11ª cidade mais povoada do mundo. > Localizado no sul da Ásia na parte continental indiana, partes de Bangladesh fazem fronteira com a Índia. O país também está situado na baía de Bengala. Bangladesh ocupa uma área total de 144.000 km², fazendo do país o 102º maior do mundo. Em termos comparativos, Bangladesh é um pouco menor do que o estado americano de Iowa. > Com uma população total estimada de 150.448.000, Bangladesh é o 9º país mais populoso do mundo, na frente da Rússia e atrás do Paquistão. > A principal religião em Bangladesh é o Islã, com 83% da população se identificando como muçulmanos. 16% da população é hindu e o restante, 1%, pratica um número de diferentes religiões, incluindo o cristianismo. Fazlul

18 MAIO 2014


Reportagem Entrevista dinheiro para eles. Infelizmente, não posso voltar para lá”, disse Fazlul, que lanchava num bar nas proximidades do edifício em que morava. Ventura tentou localizar Fazlul e descobriu que ele está residindo em Brasília.

Números

Foto: Revista Ventura

Reprodução: Bangladesh

até ser deportado pelas autoridades. “Eu tinha casa e negócios em Daca (capital de Bangladesh), mas por questões políticas perdi tudo. Fui para a Índia e de lá para o Chile, onde disseram que poderia recomeçar a minha vida. Fiquei no Chile e, por ignorância, fiquei de maneira ilegal. Fui deportado e então segui para a Bolívia. Só que a Bolívia é um país pobre e então entrei no Brasil por Corumbá, seguindo para o Paraguai, onde disseram

que tinha mais gente de Bangladesh. Só que no Paraguai é preciso ter dinheiro para montar um negócio, e sou um homem muito pobre, vindo de um país muito pobre. Cheguei então em Guaíra e procurei autoridades para expor a minha situação. Espero agora poder recomeçar de forma legalizada e enviar dinheiro para os meus três filhos que ainda vivem em Bangladesh. Quero trabalhar muito e poder enviar um pouco de

O Brasil tem, pelo menos, 600 mil imigrantes ilegais, segundo estimativas do Serviço Pastoral dos Migrantes, entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Atualmente, o país conta com aproximadamente 1,5 milhão de imigrantes legalizados. Apesar do aumento de concessões de refúgio no Brasil, o número de estrangeiros reconhecidos ainda é pequeno se comparado ao de outros países. Segundo a reportagem de Thiago Reis para o G1/São Paulo, o Paquistão, que tem atualmente a maior população de refugiados do mundo, abriga cerca de 1,6 milhão de estrangeiros. E, no Líbano, quase um quarto da população é formada por refugiados sírios (1 milhão dos 4,4 milhões de habitantes). Por Cristian Aguazo.

MAIO 2014 19


Economia

Reprodução: Tilápia

Liberar ou não liberar?

Criação de tilápias em tanques-rede divide opiniões. De um lado, a possibilidade de lucro com uma das espécies mais consumidas no Brasil e no mundo. De outro, uma possível infestação que teria impactos ambientais que vão da contaminação da água à extinção de espécies nativas

A pesca é uma das atividades mais antigas da humanidade, os egípcios já desenvolviam essa atividade há mais de dois mil anos antes de Cristo. Da pesca de subsistência à pesca para abastecer o rentável mercado foram anos e anos de adaptação e inovações. Uma das maneiras modernas e mais interessantes na questão da eficiência na produção de pescados é o sistema 20 MAIO 2014

de tanque-rede. O tanque-rede é uma tecnologia de produção em que o aquicultor, através de um sistema controlado e confinado, faz o manejo e a produção do pescado. Normalmente o modelo é usado em represas de diversos tamanhos e permite às comunidades ribeirinhas o desenvolvimento de um sistema de geração de renda. Segundo um documento do Sebrae Bahia, “no Brasil, os primeiros registros de criação de peixes datam da década de 30. No entanto, a piscicultura como atividade econômica é muito mais recente, embora o país seja um dos países

com maior potencial hídrico em todo mundo”. Em Guaíra, cidade cuja relação com a pesca também é histórica, existem trabalhos semelhantes em parceria com a Itaipu Binacional, apesar de muitos dos projetos idealizados não terem saído do papel, como o Frigorífico de Peixes. Uma das reivindicações das dezenas de colônias de pesca que funcionam na região lindeira está na aposta da criação da tilápia no sistema de tanque-rede. Peixe saboroso e de grande aceitação no mercado tanto pelo sabor quanto


Economia pelo preço, a espécie se tornou cobiçada pelos pescadores, que na maioria das vezes enfrentam dificuldades financeiras ao trabalhar com peixes nativos. As dificuldades para quem vive da pesca variam, mas é consenso que o lago de Itaipu não tem a fartura que o rio Paraná dos tempos de Sete Quedas oferecia aos pescadores.

Alternativa dúbia Embora a espécie seja muito popular entre os brasileiros, a tilápia, ao contrário do que muita gente pensa, é oriunda da África e chegou ao Brasil na década de 1970. Trata-se de um peixe adaptável e rentável para a criação. Prolifera-se rapidamente se comparado aos peixes nativos da região e é bem-sucedido em ambientes alterados e pobres em recursos alimentares, como os represamentos de hidrelétricas. Em entrevista à jornalista Leila-

ne Marinho, d`O Eco, site independente de grande prestígio, o pesquisador Dilermando Lima, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), afirma que a tilápia e a carpa estão entre as 100 piores espécies invasoras do mundo. Ele conta que a introdução de espécies é a segunda maior ameaça para a diversidade biológica mundial, ficando atrás somente da destruição de habitats, e o que é mais grave, “invasões aquáticas são praticamente impossíveis de serem controladas”. Os produtores, por sua vez, defendem que a técnica em tanque-rede é segura e impede que os peixes escapem para fora dos locais de criação. A perspectiva de viés econômico tem sido aceita em detrimento à perspectiva ambiental. Em 2009, o deputado Nelson Meurer (PP/ PR) apresentou o Projeto de Lei 5.989/09, que pretende liberar a criação de peixes exóticos como

a tilápia e a carpa em tanques-redes de reservatórios hidrelétricos. A discussão ainda não teve uma conclusão. A criação de tilápia no Brasil só é permitida em locais onde essas espécies já estão comprovadamente estabelecidas. O maior medo dos ambientalistas está na possibilidade da tilápia se estabelecer no lago, onde ela ainda não foi introduzida, e assim reduzir a diversidade biológica. Como as tilápias são mais bem sucedidas em ambientes com poucos recursos alimentares, isso seria questão de tempo, já que elas se alimentam de ovos e larvas de peixes nativos e são transmissoras de doenças que podem afetar outras espécies. O maior impacto causado pelas tilápias é a eutrofização (diminuição de oxigênio e poluição da água, o que também interfere na qualidade de nossos recursos hídricos), o que torna o ambiente desfavorável, principal-

Reprodução: Tanque-rede

MAIO 2014 21


Economia ca, Marcelo Crivella, solicitando a permissão para utilização da lâmina de água do reservatório da Itaipu para criação da tilápia.

Liberar ou não liberar?

José Cirineu Machado

mente para as espécies nativas. Para o deputado Meurer, o projeto não oferece riscos. “Eles dizem que pode infestar todo o lago, mas não é bem assim. É só uma regulamentação do Ministério da Pesca e do Ministério do Meio Ambiente definir essa situação. Não tem problema nenhum. E, por outro lado, se porventura alguma tilápia reproduzir e colocar ova no cativeiro, no tanque-rede, existem as outras espécies que estão soltas no lago e que vão consumir esta ova antes da produção”, rebate. O presidente da Colônia de Pescadores Z-13 de Guaíra, José Cirineu Machado, acredita que as preocupações são exageradas. “Há o interesse da classe, do governo federal, e o próprio governo do Paraguai está entrando em concordância. Estive em Foz do Iguaçu no ano passado, onde entregamos ao diretor da Itaipu, Jorge Samek, um abaixo-assinado com mais de duas mil assinaturas. Hoje tem que ser a tilápia. Para você ter uma ideia, em três meses dá para fazer o abate. O pacu, peixe nativo, leva seis meses com um consumo maior de alimentos e produção menor. Os ambientalistas falam em predado22 MAIO 2014

res, mas quer mais predador que o dourado? O dourado é o tigre das águas. Isso sem falar no tucunaré, predador de outra bacia que hoje encontramos no rio Paraná. Na verdade, já existem tilápias no reservatório, temos informação de que elas já foram encontradas no canal da Piracema lá em Itaipu”, argumenta. O deputado estadual Elton Welter (PT/PR) concorda com a ideia e defende o ponto de vista dos pescadores. Tanto que encaminhou no dia 08 de abril deste ano farta documentação dos produtores paranaenses ao ministro da Pes-

Tilápia

Vale a pena ignorar as ressalvas de ambientalistas e pesquisadores? Dá para abdicar de uma medida que poderia beneficiar milhares de famílias? Uma das saídas para o impasse está na valorização do pescado tupiniquim. A tilapicultura, defende parte da comunidade científica, possui políticas de incentivo muito maiores se comparadas às reservadas aos peixes nativos. Aliás, o Brasil é hoje o maior produtor de peixes não nativos do mundo, cerca de 85% de sua produção provém de peixes de outros países e continentes. Segundo o boletim estatístico do Ministério de Pesca e Aquicultura, em 2010, a produção de tambaqui, tambacu, pirarucu e pacu somou cerca de 97,5 mil toneladas, enquanto a tilápia, sozinha, alcançou 155 milhões de toneladas. A decisão, mais uma vez, está nas mãos dos governantes. Por Cristian Aguazo, com informações do site O Eco e Sebrae Bahia.


MAIO 2014 23


Fronteira

Shopping Mercosur (Salto del Guairรก)

24 MAIO 2014


Fronteira

Um salto para o renascimento

“E

u sabia há sete anos que teríamos um crescimento, mas não imaginei que seria tão rápido e tão grande. Quem é que diria que teríamos hoje o maior shopping do Paraguai?” A constatação é de José Duarte, nascido e crescido em Salto del Guairá, a cidade mais próspera de todo o país. Crescimento, todos sabem, sempre vem acompanhado de demandas por infraestrutura, organização e segurança. E talvez esteja aí o diferencial de Salto. As lideranças políticas sabem que os desafios são grandes, os recursos escassos, mas pelo menos aparentemente essas dificuldades estão sendo contornadas com sucesso. Existe organização espacial, obras sendo realizadas e a segurança ainda é muito superior à da metrópole Ciudad del Este.

Quem te viu, quem te vê Salto del Guairá é a capital do Departamento de Canendeyú e polariza uma região que sempre esteve à sombra do poderio de Foz do Iguaçu e de Ciudad del Este, a segunda maior do Paraguai, atrás apenas da capital Asunción. Até o início da década passada, Salto del Guairá era uma alternativa excêntrica aos grandes centros comerciais de Pedro Juan Caballero, que faz fronteira seca com Ponta Porã, e Ciudad del Este. Essa realidade começou a mudar quando investidores e turistas passaram a

apreciar a tranquilidade de Salto. Rapidamente, grandes investimentos passaram a ser realizados e o fluxo começou a bater recordes. A cidade experimenta desde então um desenvolvimento vertiginoso. Na última década, os imóveis comerciais quintuplicaram. Não é pouco, de 1963 para cá a cidade de Salto foi se estabelecendo aos poucos. Nos anos 90, tinha apenas 15 mil habitantes. Hoje tem mais de 35 mil, crescimento registrado sobretudo na última metade da década passada. Guaíra, a cidade coirmã de fronteira, também tem se beneficiado do crescimento de Salto. A hospedagem é hoje um grande negócio na fronteira e a rede hoteleira vive o seu melhor momento desde o fim das 7 Quedas. Futuro Em maio do ano passado foi inaugurado na cidade o maior shopping center do Paraguai, investimento milionário que atraiu até mesmo a presença do então presidente da República, Federico Franco. Tudo muito bom, tudo muito bem. Salto del Guairá enfim moderna. Mas nada impede que turistas e moradores possam se sentar no centro da cidade para apreciar a admirável culinária paraguaia, com direito a cerveja gelada e vista para o mítico rio Paraná. Ou então bebericar, devagar, sem pressa, um delicioso tererê. Essa parte do passado está bem preservada. Modernidade e tradição. Conforto e agito. Salto segue apostando em seu renascimento, sem se deixar levar pelos perigos do crescimento desenfreado. Melhor assim. Por Cristian Aguazo MAIO 2014 25


Literatura

ENTENDA OS FUSOS Meditei um bom tempo hoje. Pensei nos meus casos, causos e fatos. Diante de tudo que eu consegui alcançar, entendi uma certeza que valida meus dias por esse tempo: o fuso. Isso, o que conta os minutos, muda os dias. O movimento de translação que faz com que as horas sejam tardias no Japão e o dia demore mais a amanhecer na costa leste americana. Esse movimento também acontece no interior do mundo inteiro. Um tempo que coexiste no Rio de Janeiro em vários momentos. Seja em Ipanema, na Barra, do Leme ao Pontal. Tantos momentos. Inúmeros fusos. O tempo que realmente interessa, independe do relógio marcar 18h de sexta ou 12h de uma segunda quase normal. Ele acontece dentro do nosso coração. No interior do nosso âmago. Estando na areia lotada de Copacabana ou tomando banho tranquilo no mar da Prainha. O grande fato é que precisamos entender esse tempo. Vejamos que o grande desafio é saber que, se o nosso coração tem um tempo pra tudo, o coração do outro também tem. Loucura querermos que o peito de outrem esteja no mesmo meridiano que o nosso. E uma boa causa, é sabermos respeitar que o outro esteja em Greenwich, feliz da vida enquanto nós estamos em Mianmar um grande amor. Não nos cabe forçar o outro a ajustar os ponteiros para serem parecidos com os nossos. Sejamos pacientes com as diferenças e incoerência alheia. É isso que anda faltando. Claro que, na ampulheta da vida, é incrivelmente legal quando encontramos alguém que está quase que fundida com o nosso horário de verão. Os dias ficam mais longos, produtivos e quentes. Assim a gente recarrega a bateria para enfrentar a vida de mãos dadas quando o inverno chegar e as noites forem mais longas; enfrentar o mundo cheio de desajustes pontuais. Desinteresses corriqueiros em segundos momentâneos. Ter uma paz que só o maquinário do nosso coração é capaz de bater. E ser pontual com a gente mesmo. Isso sim é ser feliz. Eduardo Mello.

Eduardo Mello - 29 anos. Nascido em Ourinhos-SP e paranaense de infância, adolescência e coração. É autor do livro de contos e poesias “A vida no meu papel”, que será lançado ainda neste semestre pela Chiado Editora. 26 MAIO 2014


MAIO 2014 27


Social Festa das Nações por Jonas Vicente

28 MAIO 2014


Social

1

1

2

2

Os casais Marcelo e Michele Cardoso (1), juntos com o casal Marcelo e Sandra Cespedes (2) de férias na Flórida, passeando na Walt Disney World

Jéssica e Carlos por Jonas Vicente MAIO 2014 29

Coluna Social, por Priscila Michels.

Eduardo José e Kelly Vagliati em viagem pelos EUA. 1) 17 Mile Drive, Pebble Beach, Califórnia. 2) Yosemite National Park, Califórnia.


Curiosidades

Uma japonesa em Guaíra Mitsu Maeda é uma jornalista fotográfica japonesa que esteve recentemente visitando o Brasil. Quando esteve em São Paulo, ela se interessou pelos recentes embates envolvendo a causa indígena e veio a Guaíra com o propósito de entender melhor o assunto, além de documentar a real situação dos nativos. Ao chegar à cidade teve contato comigo - e prontamente estabelecemos um diálogo saudável e amistoso. Mitsu retornou a São Paulo, mas acabou voltando para conhecer melhor Guaíra e as pessoas, que ela disse ter gostado muito. Essa sua segunda estadia, um pouco mais longa, nos aproximou ainda mais. Ao dispensar hotel para ficar em minha casa, Mitsu pôde conhecer um pouco de nossa rotina, amigos, familiares e trabalho. Êta japonesa gente boa! Nem a barreira da língua foi obstáculo (ela falava conosco em inglês, já que obviamente em japonês seria impossível). No final, já arriscava até mesmo frases inteiras em português. Enfim, pedi a ela que nos repassasse um pouco de seu material fotográfico e um pequeno texto para publicarmos nesta edição da revista. Ei-los aqui. Cristian Aguazo

“Nós” somos Brasileiros. “Nós” queremos desenvolvimento e “nós” queremos ganhar esse jogo. Mas somos “nós” realmente tão homogêneos? Brasileiros poderiam ser substituídos por japoneses ou qualquer outro povo de uma nação; essa questão sempre esteve comigo. Observando novamente as fotos que fiz anos atrás, sempre estive tentando ver as pessoas que são marginalizadas na concepção de um Estado-nação. Eu não estava muito interessada em cobrir os povos indígenas no Brasil no início, já que há muitas imagens deles. Mas de alguma forma as coisas deram certo e eu vim para Guaíra para cobrir a tribo Guarani daqui. Quando me comuniquei com as pessoas nas comunidades Guarani, comecei a sentir suas belezas e a profunda tristeza dentro deles, o que se tornou o principal foco, o que eu queria expressar nesta história. A tristeza de viver no conflituoso <Brasil> que foi descoberto pela Europa e <o lugar> em que eles haviam vivido. “Um dia, um jogo chamado mundo começou. A <Europa> deu as regras, construiu a arena e fez com que cada área se transformasse num time e participasse do torneio. A < Europa> foi a vencedora desde o começo, em um jogo para o qual ninguém estava preparado. “ (Keijiro Suga/Columbus’s Dog) O que experienciei em Guaíra fez com que eu me lembrasse da beleza da diversidade das pessoas neste lugar e no quão rápido essa beleza está sendo homogeneizada - tão rápido quanto a floresta está se transformando em simples monocultura. Espero que minhas fotografias sejam uma pequena ajuda para extinguir qualquer coisa que deva ser extinta neste mundo, para revitalizar o que deve ser revitalizado, para abrir espaço e caminho para novas vozes e para criar uma atitude coletiva em relação ao modo de vida. Tradução: Lara Frutos. Revisão: Jéssica de Lima da Silva

Veja as fotos de Mitsu em nossa FanPage: www.facebook/comVenturaRevista 30 MAIO 2014


MAIO 2014 31


Crônica

“P

Primavera à brasileira?

or mais rosas que os poderosos matem, nunca conseguirão deter a primavera”. A frase é creditada ao eterno revolucionário Ernesto Rafael Guevara de la Serna, o Che. Goste-se ou não do comunista, a mensagem é bonita, pois evoca a permanência da chama da rebeldia enquanto agente de transformação. A estação das flores parece mesmo simbolizar a esperança de ver brotada a beleza da liberdade. Em 1968, a chamada “Primavera de Praga” demonstrou a dimensão da força popular. Em maio de 1968, os franceses ajudaram a colorir 32 MAIO 2014

o mundo numa greve geral que teve ampla repercussão em todo o mundo. Assistimos recentemente os levantes no Oriente Médio, na chamada “Primavera Árabe”. Será que finalmente estamos vivendo a “Primavera Brasileira”?, pensei, quando eclodiram os famosos protestos no outono de 2013. Enquanto escrevo este artigo, penso nos milhares de brasileiros que participaram de algum modo das manifestações. E penso na importância de tudo o que aconteceu num país que se reconhecia e ainda se reconhece como apático. Talvez tenhamos naquele momento superestimado o levante. Talvez

não. A faísca do fenômeno, acho que todos se lembram, surgiu em São Paulo contra o aumento nas tarifas de transporte público. A grande mídia e o governo reprimiram com vontade os manifestantes. E aí o movimento tomou proporções inimagináveis. Revoltados, os jovens voltaram às ruas, dessa vez já com o amplo apoio da juventude de outras cidades, inclusive do exterior. O movimento deflagrado a partir de então tomou as ruas do Brasil inteiro, numa iniciativa que não se via há décadas. Assustados, os barões da mídia tiveram que se


Crônica duraram, mas perderam o fôlego. Na verdade, isoladamente os protestos continuam acontecendo, agora com cada vez mais violência e sob a suspeita de infiltração do crime organizado em alguns deles. Mas convém lembrar que a Copa vem aí e, alguns ameaçam, “não vai ter Copa”. Veremos. De camarote, na sala, ou no meio dos protestos, veremos. Sob a poeira mais baixa e já em maio de 2014, um ano após os protestos, vejo o quão complexa é a sociedade brasileira. Percebo, inclusive, interesses claramente contrários, e me espanta que essa contradição não tenha impedido que as pessoas continuassem marchando juntas por aquilo que consideravam justo. Havia movimentos sociais reivindicando seus direitos. Havia trabalhadores simplesmente querendo melhores condições de vida. Havia pessoas cansadas da corrupção

que envolve o país há mais de 500 anos. Havia, ainda, os que defendem posições político-partidárias e havia os que não queriam partidos envolvidos dessa vez. Havia os que pegam carona para aparecer na foto e os que sempre deram a cara a tapa, mesmo não contando com o apoio dessa mesma sociedade, que, ainda que aos 46, parecia estar disposta a virar o jogo. Como disse o colega Marcelo Badaró Mattos, “cabe a nós plantarmos, no asfalto das ruas, essas flores da primavera brasileira, pois o inverno já dura demais nestes trópicos ensolarados”. Mais uma bela frase. Será que perdemos a chance? Será que o melhor ainda está por vir? Que consigamos operar as mudanças que queremos com sabedoria. Por Cristian Aguazo Charges: Carlos Latuff

curvar. Os manifestantes passaram de vilões a heróis. Saíram de um movimento isolado para um de desejo coletivo. Mas quantos são os que se levantam? E o que querem, afinal de contas? Difícil definir. Uma profusão de ideais esteve e está por trás da onda. Ao contrário dos movimentos passados, não há apenas uma direção pautando as manifestações (como no caso dos caras-pintadas contra o presidente Fernando Collor ou da juventude que tentou frear a ditadura militar em 1964). Resumindo: os protestos até MAIO 2014 33


34 MAIO 2014


Polêmica

Oswaldo Corneti / Fotos Públicas

A copa do mundo é nossa? Em intervalos curtos de dois anos o Brasil irá sediar dois megaeventos, a Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas 2016. E como sempre, há quem comemore e quem crie ressalvas, afinal, vivemos em um país democrático, e o que legitima essa realidade é justamente a oposição de grupos antagônicos.

S

e por um lado o governo federal anuncia enormes impactos positivos na economia, como a criação de empregos e a melhorias da infraestrutura das principais cidades brasileiras, do outro, existem movimentos de resistência social que anunciam despejos, mortes em construções de estádios, e a necessidade de investimento em outras áreas. Esses embates ficaram caracterizados pelo uso da popular hashtag #, esse pequeno símbolo que anuncia de forma direta um bordão e interliga os usuários de

redes sociais. O #CopaParaQuem, assegura que as manifestações contra a Copa do Mundo, que surgiram durante as manifestações de Junho de 2013, pretendem continuar e que não haverá a realização do evento. Em contrapartida, o governo lançou o #VaiTerCopa, reafirmando que o evento irá acontecer de qualquer maneira. Por isso utilizaremos esses dois ‘slogans’ para destacar os principais argumentos pró e contra a Copa do Mundo FIFA 2014:

#VaiTerCopa

Sediar um megaevento como a Copa é colocar o país em primeiro lugar nas opções turísticas mundiais. O futebol não é só uma paixão nacional, mas sim mundial. Sendo o esporte mais popular do mundo, estima-se que metade da população adora uma “pelada”. É incontestável que a realização de um evento desse porte mobilize pessoas de todos os cantos do mundo, estimulando, claro, o comércio direta e indiretamente. Através do evento a imagem do Brasil é exportada, fazendo com que mais pessoas passem a se MAIO 2014 35


Polêmica destacou Aldo Rebelo, ministro do Esporte. Além do claro interesse governamental no megaevento, boa parte da população brasileira também é favorável à realização da Copa do Mundo.

#CopaParaQuem

Oswaldo Corneti / Fotos Públicas

interessar pelo país e o mantém como polo de atração turística. Acaba sendo um investimento a longo prazo. Mas é preciso preparar a casa pra visita, pois há uma série de investimentos em infraestrutura que precisam ser feitos, os quais esperam ser revertidos em lucro e que também fiquem para o povo brasileiro após o fim do evento. De acordo com o site federal Portal Brasil, o governo brasileiro junto com os setores privados, investiu um total de 28,6 bilhões na construção e modernização de estádios, melhorias em aeroportos, portos, telecomunicações, na mobilidade urbana, entre outros. Estima-se que entre os anos de 2010-2014, um adicional de 112 bilhões circularia na economia brasileira. Gerando 3,63 milhões empregos-ano e R$ 63,48 bilhões de renda para a população. Somente nas construções dos seis estádios da Copa das Confederações, 24.500 empregos diretos foram criados e mais 86 mil trabalhadores estão se qualificando em cursos oferecidos pelo Pronatec Copa. De acordo com dados do Sebrae, foram gerados 100 milhões em novos negócios para as 36 MAIO 2014

micro e pequenas empresas fornecedoras de mão de obra e serviços. Foram investidos 400 milhões em telecomunicações como internet e telefonia, para que os serviços funcionem perfeitamente e suportem o grande número de pessoas que estarão presente no país. Espera-se, principalmente, que tais investimentos permaneçam após o fim do evento. Como todo investimento de grande porte, a expectativa é que resultado final, seja um retorno de longa duração.

Mas e outras necessidades, como o investimento em saúde e educação? Ainda de acordo com o Portal Brasil, os recursos aplicados em educação foram triplicados de 2007, o ano em que foi anunciada a realização da Copa, até 2013. A Os investimentos em saúde teriam sido dobrados. “Somente neste ano de 2013, o orçamento das áreas e Saúde e Educação é de R$ 177 bilhões. O orçamento do Ministério do Esporte é aproximadamente 1% desse total, o que inclui recursos destinados à rubrica de Copa e Olimpíadas. Portanto, não há desvio de recursos de outras áreas para a construção de estádios”,

Este é o movimento questionador, que reflete a pergunta “a custo de quê?”. Haverá de fato lucros? Para quem serão? E a custo de quê? Ou de quem será obtido? Do menor ao maior, são várias questões que formam um emaranhado de infortúnios.

Padrão FIFA de problemas Os problemas começam quando o evento tem que atender um ‘padrão FIFA’, ou seja, todos os envoltos a Copa ficam sujeito à intervenção do conselho da federação, um órgão externo com interesses particulares. O caso mais emblemático dessa interferência é a proibição das populares, “Baianas do Acarajé”, que não foram autorizadas a venderem seus produtos dentro dos estádios baianos e nos seus entornos, sendo permitidos apenas 06 pontos de vendas e somente fora dos estádios. Outro exemplo, que provavelmente não se limita a um único caso, é a abertura de licitações para ocupar espaços na rodoviária de Curitiba. O que antes era locado por pequenos comerciantes, passará a ser de grandes empresas como Mc Donalds, Boticário, entre outras. Neste caso, os lucros que iam diretamente para a população, através dos autônomos, são sugados por grandes corporações.

Remoção e despejo Nesta dinâmica, de ‘despossessão’, onde retiram-se uns; colocam-se outros. Os mais atingidos foram


Polêmica

Infraestrutura selecionada O investimento em mobilidade urbana, também tem seu contraponto. Por exemplo, regiões de Porto Alegre, que estavam há anos revindicando melhorias, foram deixadas de lado em prol de espaços de interesse de investimento para a Copa do Mundo. Seguindo nesse sentido, a geógrafa Olga Firkowski, ainda comenta que é triste que se espere um evento desse porte, para se investir em infraestrutura urbana. Os estádios do Sudeste com certeza serão utilizados por um longo tempo, ali onde as ligas futebolísticas são fortes. Mas em outras regiões onde a tradição não é a mesma, como o caso da Arena Amazônia, que se localiza no estado do Amazonas, espera-se que se torne polo de atração de shows e

INVESTIMENTO POR ÁREA MOBILIDADE URBANA

R$ 8,9 BILHÕES AEROPORTOS

R$ 8,4 BILHÕES ESTÁDIOS

R$ 7,6 BILHÕES ESTRUTURAS, EQUIPAMENTOS E SEGURANÇA

R$ 1,9 BILHÕES PORTOS

R$ 700 MILHÕES TELECOMUNICAÇÕES

R$ 400 MILHÕES TURISMO

R$ 200 MILHÕES eventos, caso contrário, será apenas mais uma obra do progresso morta no meio da floresta amazônica, como a Rodovia Trans-Amazônica.

Trabalho O contraponto do grande número de empregos criados, anunciados pelas pesquisas, é a precariedade e violação de direitos trabalhistas, que culminou até agora, com a morte de 03 trabalhadores em obras de construção de estádios.

MATRIZ DE RESPONSABILIDADES

R$ 8,7 BILHÕES

SÃO DE FINANCIAMENTO FEDERAL

R$ 6,5 BILHÕES DO ORÇAMENTO FEDERAL

R$ 7,3 BILHÕES

DE RECURSOS LOCAIS (GOVERNOS ESTADUAIS E MUNICIPAIS)

R$ 5,6 BILHÕES

Dados do site do Governo Federal

moradores de certas áreas que desde 2009 vêm sendo removidos para liberar espaço para as obras da copa. Estima-se que 170 mil pessoas estejam passando por despejos relacionados aos eventos. Sem contar, a remoção forçada da população de rua, com o objetivo de “limpar” a paisagem para a copa, assim como foi feito na África do Sul na Copa de 2010.

DE RECURSOS PRIVADOS

Além desses motivos, obscuridade nas licitações de empresas, criminalização e repressão do policial contra os movimentos contrários à copa são fatos marcantes do evento. Todas essas informações são denunciadas pelo Portal Popular da Copa e das Olimpíadas, que reúne os principais movimentos formados por pessoas atingidas pelos megaeventos. Para eles, a Copa do Mundo FIFA 2014 será uma grande captação de recursos para empresas privadas e a divisão dos prejuízos com a sociedade. Lucro ou prejuízo, só o tempo vai dizer. O fato, é que em alguns dias o maior espetáculo de futebol do mundo vai acontecer em terras tupiniquins. As ruas e bares vão estar lotados e até quem está incomodado com o evento, provavelmente vai ter seu dia de folga para assistir os jogos do Brasil. Agitação, alegria e, certamente, manifestações não vão faltar. Só nos resta ficar de olhos abertos para o que está acontecendo, avaliar os resultados e saber cobrar futuramente, pois em breve, teremos as Olimpíadas, e para o bem ou para o mal, tudo pode se repetir. Por Roberto Dias

Fernando Frazão / Agência Brasil

MAIO 2014 37


38 MAIO 2014


Cidade

Site: Pensandomanaus.com

Dengue assusta e epidemia pode ser considerada a pior da história no município

A

Dengue assolou o município de Guaíra nesses últimos meses e a situação ainda merece a atenção das autoridades. No Paraná, de acordo com o jornal Gazeta do Povo, 28 municípios se encontram em situação de epidemia. Para ser declarada tal situação, é necessário que existam 300 casos confirmados a cada 100 mil habitantes. No caso de Guaíra, 96 habitantes infectados são necessários para confirmar a situação epidêmica. No fim do mês de abril, de acordo com o secretário de Saúde Lean-

dro Danelon, havia 778 notificações e 356 casos de dengue confirmados no município. Suspeita-se, porém, que os dados estejam ‘maquiados’ e que o número seja bem maior, batendo na casa dos 4 mil casos, dado que faria desta a maior epidemia já registrada na cidade, que sofreu processo semelhante em 2011. Guaíra já aparece inclusive no mapa da dengue nacional, estando entre as 157 cidades que merecem a atenção por parte do governo federal. Para combater o surto, o governo

municipal e a 20ª regional de Saúde lançaram um plano de combate ao mosquito. O fumacê fez a primeira etapa, a de dedetização, que elimina os mosquitos adultos com o objetivo de interromper rapidamente a transmissão da doença. Em paralelo, foram contratados mais 06 agentes de endemias, que verificam todos os imóveis em busca de focos de dengue. Leandro Danelon também ressalta que há 37 pontos estratégicos que são vistoriados e dedetizados todos os dias. Entre esses pontos estão ferros-velhos, as garagens do muMAIO 2014 39


Cidade

Fotos: Vereador Sandro S. Borges

nicípio e da apreensão de polícia, além de “todos ambientes que estão propensos a acumular água parada rapidamente”. Mesmo diante destas ações, o Ministério Público, no dia 24 de abril, interditou a garagem municipal que se localizava no bairro São Domingos. O local era utilizado como depósito de pneus usados

pelas borracharias da cidade. Segundo a Saúde, periodicamente um caminhão transportava os pneus, que também eram alvo de larvicidas. Pouco adiantou. O número de pneus era tão grande, que o mosquito acabou vencendo a fiscalização e driblando a espera pelo caminhão de descarte. O Aedes Aegypti age rápido. O resultado? A denúncia da ineficiência da Vigilância Sanitária, realizada pelo vereador Sandro Sabino Borges, chamou a atenção da Justiça e de órgãos fiscalizadores, provocou a interdição do espaço e desencadeou a revolta de boa parte da população, uma vez que um bom exemplo é o mínimo que se espera por parte do poder público. Como resposta, o Município lançou recentemente um plano de ação emergencial, que envolve um arrastão por quase todos os bair-

ros da cidade, além de trabalhos educativos em escolas e uma parceria com recicladores durante os meses de maio e junho. A boa notícia é que com a aproximação da estação fria, o mosquito deve recuar. Se a população colaborar e o trabalho da Secretaria de Saúde for bem feito, Guaíra poderá ter uma primavera menos perigosa, já que o verão terminou mal e o outono, como dizem, “está tenso”.

Cuidado Em caso de suspeita de dengue é aconselhável procurar as unidades de saúde mais próximas. O diagnóstico é feito por meio de exame de sangue. O médico pode indicar outros exames a serem feitos para avaliar se a condição é grave. Como não há tratamento específico para a dengue, é possível tratar os sintomas tomando muita água para evitar desidratação. Em alguns casos é necessária a internação para o tratamento através de hidratação intravenosa (soro). Caso haja febres e dores, podem ser receitados medicamentos antitérmicos. Mas atenção! Devem ser evitados medicamentos à base de ácido acetilsalicílico (o popular A.S, entre outros) e anti-inflamatórios. Por Roberto Dias.

Dengue, um problema cadva vez mais recorrente Existem quatro tipos de Dengue, a DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. A pessoa infectada por um dos tipos uma vez se torna imune a esse tipo específico, e obtém imunidade parcial e temporária contra os outros três. Caso um mesmo indivíduo seja infectado uma segunda e terceira vez, aumentam-se os riscos da doença evoluir para casos mais graves, que seriam a dengue hemorrágica e a síndrome do choque. Os sintomas da doença começam a se manifestar subitamente entre 4 e 6 dias após a picada, e os sintomas duram entre 5 a 7 dias. Os principais sinais são: febre alta, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, perda do paladar ou apetite, manchas e erupções na pele, náuseas e vômitos, tontura, cansaço, moleza e dor no corpo, dores nos ossos e articulações e dores abdominais.

40 MAIO 2014


MAIO 2014 41


Capa

Quem planta, colhe! Com quantos esportistas se constrói o esporte de uma cidade? Com um ou com mil, o esporte continuará tendo o seu peso característico dentro da cultura na sociedade, embora o volume seja algo que sempre conta a favor. Erram, porém, aqueles que acham que vivemos uma crise no esporte local. Ou melhor, a crise pode até existir, mas está longe de impedir que os talentos aflorem.

Jonatan, Lucas, Robson e Alexandre

42 MAIO 2014


Capa

A

sedução da nostalgia pode nos pregar peças. É comum ouvir de guairenses mais antigos o relato de que a cidade já teve representatividade maior no futebol, no kart e no xadrez. Os depoimentos são convincentes e quase sempre endossados por números. Todavia, inferir com isso que já não temos destaques é que é um equívoco. O futebol está aí, bem ou mal representado. As escolinhas resistem bravamente, a despeito do incentivo governamental. O basquete ressurgiu das cinzas. Uma geração talentosa se apresenta como promessa no xadrez e no tênis, e o número de duplas que se apresentam para participar de torneios de vôlei sempre surpreende. Sem contar que a cidade ainda conta com bons artistas marciais, skatistas e ciclistas. O treinador de basquete e professor de educação física, Alexandre José Ferreira, 37 anos, um defensor da modalidade em Guaíra, apostou num trabalho que iniciou há nove anos. O início foi desafiador e os resultados, claro, não apareceram logo de cara. Mas como quem rega uma planta com carinho, foi

Equipe de Basquete

Jonatan Reis (Recebendo Prêmio)

apenas questão de tempo. A equipe do Colégio Mendes Gonçalves hoje representa o município. E muito bem. Na edição 2013 dos jogos escolares, a equipe comandada pelo jovem professor conquistou a medalha de prata na fase regional. “Já Exportamos atletas para Toledo, Marechal Cândido Rondon, Palmas, Paranavaí e Santa Helena. Fomos bicampeões sub 14 fase regional e campeões no sub 17 no ano retrasado. Desde 2005, tirando o ano de 2008, frequentamos o pódio”, diz.

Há pelo menos 15 anos o skate possui um público cativo em Guaíra. Número que cresceu ainda mais quando a pista foi construída em 2008. É praticamente impossível ver o espaço na Praça Duque de Caxias vazia e os campeonatos sempre são bem sucedidos. Um dos pilares do sucesso da modalidade em Guaíra está num detalhe: a geração que cresceu ouvindo Charlie Brown Jr. é fiel e não raramente é possível ver jovens de várias idades com o “carrinho” na mão. Essa paixão é transmitida, compartilhada. Um exemplo disso é o jovem Jonatan Reis, 18 anos, que vem de uma segunda ou terceira geração que está elevando o esporte a outro patamar na cidade. Habilidoso, ele teve um vídeo com suas manobras selecionado para a final de um importante concurso paranaense. Nos campeonatos, quase sempre briga pelo pódio. Apesar de tudo, o jovem é humilde. “Acho que o mais legal é poder levar o nome da cidade, conhecer pessoas, fazer novas amizades. Já venci alguns campeonatos, estou sempre brigando pelo pódio. Isso porque eu tenho incentivo da minha mãe, do Alisson Cremer, da MAIO 2014 43


Capa

Troféus e medalhas de Roger

Roger Ribeiro

Ciclismo

Troféus e medalhas de Jonatan

Hitmia Skate Shop, e amigos”, afirma. “O princípio do skate é a diversão” Segundo o atleta, municípios como Marechal Cândido Rondon, Umuarama, Toledo e Dourados (MS) são sedes de várias competições que reúnem atletas de várias cidades. E a turma de Guaíra procura sempre participar. A modalidade em que competem é a Skate Street, a mais popular. Os atletas andam em uma pista que simula obstáculos encontrados na rua, com rampas, degraus, barras, entre outros. Jonatan conta que a modalidade Vertical, de grandes rampas e famosa por ser praticada por atletas como Tony Hawk e Bob Burnquist, não é muito praticada por falta de ambientes adequados para os atletas. “O skate é uma ótima oportunidade para os jovens que querem praticar um esporte, conquistar saúde e ainda por cima se divertir. O princípio do skate é a diversão”, afirma. 44 MAIO 2014

Da metade do ano de 2013 pra cá, quem anda pelas ruas com certeza percebeu o aumento no número de ciclistas. Houve um verdadeiro boom do esporte de duas rodas na cidade. O grupo do Facebook MTB Guaíra conta com 350 seguidores, que marcam passeios, competições e trocam informações sobre ciclismo. Rogério Lourenço, o popular Rogério da Eletrônica, conta que começou a praticar o esporte em 1994. Até o ano 2000, conquistou diversas medalhas e troféus em competições regionais. Depois, parou por uma década e só voltou após diversos convites do seu amigo “Zaga”, dono de uma conhecida tapeçaria. Rogério se orgulha de algumas aventuras, destacando a aventura de bike com seu tio Manoel - outro grande nome do ciclismo guairense -, quando percorreram no ano de 2013 o caminho de Santiago de Compostela, na Europa. Rogério, Roberto Barbosa, Zaga, Emerson e Celso Zeballos Mérida se reúnem todos os dias às 18 horas na eletrônica do Rogério e de

lá e pedalam aproximadamente 30 km. Nos dias de verão e fim de semana esse caminho quase dobra. Rogério conta, sorrindo, que após sair para passear “melhorou até dos sintomas da dengue”. Brincadeiras à parte, o ciclismo geralmente é um grande aliado da saúde. Tanto que é recomendado por profissionais pelo fato de ser um esporte intenso, pois exercita braços e pernas, evita o estresse, aumenta a capacidade cardiorrespiratória, emagrece e traz resistência física. Hoje, quem quiser começar a pedalar precisa desembolsar um pouco, pois uma bicicleta que vai resistir a todas as adversidades de um esporte radical tem um custo considerável. Fora o gasto com acessórios, como capacetes e luvas, que são equipamentos de segurança muito importantes em caso de quedas. Além dos amigos de Rogério, diversos outros grupos se reúnem para passear e conhecer as belas paisagens rurais do município. E não é só Guaíra que está empolgada com o pedal. Marechal Cândido Rondon, Toledo, Cascavel e Umuarama também possuem um grande número de pratican-


MAIO 2014 45


Capa tes. Com o aumento de ciclistas, criação de uma escola de ciclismo, as competições também começapois há um grande potencial em ram a pipocar por toda a região. Guaíra que precisa ser explorado. No dia 26 de janeiro o município Para isso, ele pede o apoio de emde Guaíra sediou a 1° Etapa do presários da região e a atenção da Campeonato Regional Oeste de Secretaria Municipal de Esporte e Mountain Bike. Rogério Lourenço Lazer. conquistou o segundo lugar na ca“A vida de qualquer atleta de alto tegoria Master, e o 1° e 3° nas etarendimento é regida por regras pas seguintes, de Foz do Iguaçu e muito bem definidas, que determiToledo. Além dele, outros atletas nam seu sucesso ou não. Alimenguairenses também estão se destando-se adequadamente, com tacando em outras competições horas de treinamento árduo, hique acontecem por todo o oeste dratação e descanso, com a comparanaense. pra do equipamento adequado, é É o caso de Roger Ribeiro, 27 anos, possível chegar longe. A rotina é que há 19 escolheu o ciclismo massiva, mas é muito gratificante. como forma de perder peso. Roger Só que sem patrocínio é praticacompete há 11 anos e coleciona mente impossível”, justifica. diversos troféus e medalhas. AtuPensa que acabou? Tem almente ele disputa o Ciclismo de mais! Estrada (Bike Road) e deve volHá ainda destaques em modalitar ao Mountain Bike no ano que dades como automobilismo e as vem. Sua meta para o ano é voltar artes marciais. a competir em alto nível e andar O piloto Robson Marques, de 24 junto à elite paranaense. anos, é outro destaque no esporte Ele explica que mesmo havendo local. O competidor de automobimuitos ciclistas no município são lismo na categoria Marcas e Pilopoucos os que se dedicam ao Citos está em sua quinta temporada. clismo de Estrada. Além de Roger, Robson já concorreu no campeapenas mais duas pessoas treinam onato paranaense, no paulista, essa modalidade. O que dificulta, tendo inclusive se apresentando segundo ele, conseguir apoio da no autódromo de Interlagos. Apeprefeitura, que tende a analisar insar de alguns bons resultados, o vestimentos quantativamente. piloto tem enormes dificuldades Para o futuro, ele pretende organiem se manter no esporte. Isso zar uma competição, incentivando a entrada de novos atletas no esporte. Roger ressalta que é preciso dar atenção a esses atletas, pois Guaíra está numa região de destaque no ciclismo nacional. Em Cascavel e Marechal existem equipes de nível nacional, com atletas que compõem a seleção brasileira de ciclismo. O ideal, segundo ele, é a Robson Marques 46 MAIO 2014

porque a modalidade exige altos investimentos. “Eu não venho de uma família rica, estou competindo porque tenho apoio de muitos amigos. Sempre digo que ando pela misericórdia de Deus”, relata. Marques descobriu sua paixão ainda na infância, por influência de seu tio. “Ouço histórias de automobilismo desde a minha infância. Não me imagino fazendo outra coisa. Em 2008, fui para Curitiba, expressei a minha vontade em entrar nesse mundo e um piloto amigo do meu tio me convidou para trabalhar numa equipe da Stock Car. Fiquei seis meses, voltei para Guaíra para trabalhar na Aciag. Com o dinheiro que juntei em Curitiba e aqui, comprei equipamentos e paguei um curso de pilotagem em Londrina, em 2008. No ano seguinte já comecei a competir”. Já o jovem Lucas Beffa, 19 anos, é um apaixonado por Kung Fu, Boxe e Jiu-Jítsu. Competindo desde 2012, conseguiu chamar a atenção, vencendo inclusive um campeonato paranaense de Kung Fu, entre outras façanhas - como um vice-campeonato de Jiu-Jítsu em Buenos Aires, Argentina. Apesar da pouca idade, o rapaz é categórico ao afirmar que pretende seguir carreira como lutador. “Meu


Capa

Lucas Beffa

sonho é viver de arte marcial. Vi que tenho potencial e quero ser lutador de MMA profissionalmente. Minhas grandes referências são os meus professores Marcos Barreto, Jorge Hori e também o Victor Belfort, que é um exemplo de profissional dentro e fora do octógono”, diz, reforçando que assim como o “Fenômeno”, ele também é cristão. Os bons resultados não vieram do nada. Lucas revela que tem se esforçado muito. “Luto desde os 8, 10 anos. Mas foi a partir de 2010 que peguei firme mesmo. Trabalhava numa padaria, estudava e treinava. Abandonei o emprego e passei só a estudar e treinar. Espero em breve só treinar, porque para ser o número um é preciso muito mais dedicação”, aponta. Além dele, a jovem Fernanda Freitas, 21 anos, também merece menção. Recentemente ela trouxe de Terra Boa, no interior do estado, o primeiro lugar no Campeonato Paranaense de Kung Fu. Isso sem falar nas diversas outras medalhas conquistadas no ano anterior. Desde a década de 1980 Guaíra

conta com academias voltadas ao ensino de diferentes tipos de luta. O município possui uma ampla história dentro do Karatê, Kung Fu e Capoeira. Atualmente, novas modalidades estão disponíveis para quem quer praticar um esporte de contato. Além dos já citados, a pessoa pode optar também pelo Boxe e Jiu Jítsu.

Empecilhos O principal obstáculo, e é consenso entre todos os atletas, é a falta de incentivo financeiro. “Este é, sem dúvida, o maior de todos os obstáculos dos esportes na maioria das cidades. Ainda mais se for de um esporte novo, que não tem tradição no município”, reclama Lucas. Alexandre confirma a dificuldade. “Os jogos de uniformes, bolas oficiais de basquetebol, material para treinamento, tudo foi conseguido com a ajuda de doações de amigos e educadores do Colégio Estadual Mendes Gonçalves. Criamos até a Associação Guairense de Basquetebol. Nós não queremos apenas transporte, acho que

Fernanda Freitas

isto é uma obrigação da prefeitura. Queremos alimentação para os campeonatos da federação, queremos material oficial para treinamento e profissionais de educação física formados ou acadêmicos envolvidos no nosso projeto de basquetebol”, explica. “Eu não tenho apoio por parte do poder público e acho, sinceramente, que poderia ter. Temos várias ideias para o automobilismo na cidade. Temos um kartódromo e não temos provas. Tem gente que vem de outras cidades para correr aqui. A gente defende a cidade, sabe? E até hoje a única coisa que recebi da prefeitura foi um banner e um tapinha nas costas. Em São Paulo, no pódio, o cara anunciou o nome de Guaíra, eu como piloto de Guaíra. No meu macacão tem a bandeira de Guaíra. Nunca recebi nada, mas recebendo ou não eu vou continuar sendo guairense”, MAIO 2014 47


Capa desabafa o piloto Robson Marques.

Nacionalmente Desde que o Rio de Janeiro foi confirmado como sede dos Jogos Olímpicos, o Brasil passou a discutir um novo modelo de gerenciamento na questão esportiva. O modelo norte-americano tem sido apontado como uma possibilidade para algumas modalidades, privilegiando dessa forma o esporte como o caminho para chegar à universidade. No ano passado, um seminário abordou o custo para formar um

Esquerdinha

Marlon

atleta olímpico. “Para a iniciativa privada o custo é baixo, em relação ao custo-benefício, já que investir em um atleta pode trazer um retorno espetacular. Para o poder público, o gasto é quase nada do orçamento. Mas é muito caro para a família porque não há investimento externo quando o atleta inicia a carreira”, afirma Djan Madruga, ex-atleta olímpico de natação. Para o secretário de Esporte e Lazer, Sandro Hermosilla, o trabalho deve ser realizado com o objetivo 48 MAIO 2014

não apenas na formação de um atleta, mas com o foco no social. “Não sabemos se a criança se tornará um esportista, por isso precisamos desenvolvê-la não apenas pensando no esporte, mas na vida”, afirma. Outra alternativa é a criação de uma lei municipal que estabeleça um programa de incentivo fiscal aos empresários que investirem parte de seus recursos em patrocínio esportivo.

Destaques Se as carreiras das promessas guai-

Rosane

renses vão ou não se afirmar, só o tempo dirá. Mas não será a primeira vez que a cidade ofertará talentos indiscutíveis e bem sucedidos. Há, e é sempre bom recordar, gente que saiu de Guaíra para brilhar profissionalmente. Caso do jogador de futebol “Esquerdinha”, que deixou o campo do professor Tito para ganhar os gramados europeus. Há o caso da ciclista Rosane Kirch, que tem carreira consolidada na Itália. E o que dizer de Marlon, levantador que chegou à seleção de voleibol mais vitoriosa da Liga Mundial? Eis a prova de que com trabalho e confiança, muita gente boa pode despertar. E então senhores secretários municipais, estaduais e ministros, vai rolar aquela ajudinha? Por Cristian Aguazo e Roberto Dias


MAIO 2014 49


Publicidade

Informe Publicitário

Site: Stylebycher.com

Óculos de sol: Estilo e proteção. A visão é um dos sentidos mais utilizados do nosso corpo e também um dos mais sensíveis. Seja por estilo ou para proteção contra os raios UV, os óculos de sol é um acessório de grande popularidade e que combina com qualquer pessoa. Mas é preciso ter muito cuidado na hora de escolher o tipo de óculos de sol que você irá comprar, pois uma lente de má procedência pode prejudicar sua visão. E o barato sairá caro. “De acordo com o oftalmologista Renato Neves, óculos de sol sem boa procedência não oferecem garantia de proteção UV, não passam por tratamento antirrisco, antirreflexo ou polarização. Tem mais: a irregularidade da superfície das lentes pode causar desconforto visual, dor de cabeça e astigmatismo - deformidade da córnea que torna a visão desfocada para perto e para longe.” É importante que os óculos que você irá adquirir tenham uma boa procedência, não apenas quando o assunto é lente, mas também sua armação. Procure pensar bem no modelo de óculos que mais combina com você, onde você irá utilizá-lo no dia a dia, seu peso, tamanho, ou se é colorido demais para o seu rosto. O correto é procurar um local que tenha uma grande opção de escolha e atendimento especializado. Outro fator relevante para ter olhos saudáveis é a utilização de lentes com a cor adequada para sua atividade ou sua necessidade. Cinza: São usadas para várias atividades, fazendo com que o usuário sinta-se à vontade e confortável. Também 50 MAIO 2014

Cristal Óculos - Joias - Relógios

indicadas para quem possui astigmatismo. “Elas reduzem o brilho sem distorcer as cores”, explica Leôncio Queiroz Neto, oftalmologista do Instituto Penido Burnier. Âmbar e castanho: São indicadas para dirigir, já que oferecem uma boa noção de contraste e profundidade. “São indicadas também para míopes e hipermetropes”, diz o oftalmologista. As três colorações oferecem proteção contra luz azul do sol, que pode acelerar o surgimento de catarata Verde: As lentes verdes filtram pouca luz azul, mas oferecem melhor visão de contraste. É a cor mais adequada para a população acima dos 60 anos, período em que começamos a perder a visão de contraste. Púrpura: São a melhor opção para quem pratica esqui ou caça, porque aumentam a visão de contraste em ambientes com fundo azul ou verde. Amarela: As lentes amarelas bloqueiam a luz azul e reduzem o ofuscamento de motoristas no lusco-fusco do entardecer. Entretanto, são inadequadas durante o dia, já que reduzem a visão de contraste em ambientes com muita luminosidade. Na opinião do médico, o uso de óculos de sol é, antes de tudo, uma questão de prevenção. “A escolha correta dos óculos escuros é tão decisiva para a saúde dos olhos que é mais prejudicial usar essas réplicas ilegais de marcas famosas do que não usar nada.” Fonte: IG e UOL


MAIO 2014 51


52 MAIO 2014


Panóptico

Música, Cinema & Literatura

Confiras as melhores dicas de CDs, Filmes e Livros, selecionados por nós, da Ventura, para que seu entretenimento e lazer seja sempre rico em cultura e bom gosto.

Para Ler O livros indicados nesta edição são propositalmente todos do mesmo autor, como homenagem a Gabriel García Márquez.

Do amor e outros demônios Gabriel García Márquez A história se passa na América Latina do século XVII, a garota filha de um marquês é criada por escravos devido a falta de interesse dos próprios pais. Trata de religião e do amor na sua essência mais doce. Aborda questões ligadas a pedofilia, mas que na narrativa e no contexto da época aparecem como pequenos demônios entre uma garota de 11 anos e um padre. Chamaremos esses demônios de “amor”... os outros demônios não são menos interessantes. Por Gabriel Barbosa Rossi

Memória de minhas putas tristes Gabriel García Márquez O título, chamativo, engana. Neste premiado romance do consagrado Gabriel García Marquez o assunto gira ao redor do amor e da velhice. Um ancião de 90 anos renova-se ao conhecer a jovem Delgadina. A crítica especializada coloca o romance de García Márquez na mesma tradição de Lolita, de Vladimir Nabokov, e Morte em Veneza, de Thomas Mann. Livros em que a vida dos protagonistas muda drasticamente depois que se apaixonam por alguém bem mais jovem do que eles. O livro, lançado em 2004, é considerado uma das melhores obras do escritor colombiano.

Cem anos de Solidão Gabriel García Márquez Uma das obras mais importantes da literatura mundial. Trata da América Latina do período colonial, suas relações sociais e as revoltas que tanto caracterizaram a formação dos estados nacionais latino Americanos. Cem anos de solidão também é contada a partir do realismo fantástico, exprimindo o que há de mais belo e mais triste no âmago do ser humano. O amor e a Solidão. Ligados um ao outro por uma fina corda que pode ser rompida ao decorrer da vida. Por Gabriel Barbosa Rossi

MAIO 2014 53


Panóptico

Para Ouvir

Nheengatu Titãs Titãs é um dos nomes mais importantes e expressivos de toda a história do rock nacional. Aborda temas como homofobia, miséria e machismo, fazendo uma crônica ácida do Brasil, com as angústias e mazelas que estão bem aqui do nosso lado, em um de seus álbuns mais críticos. O vocalista Paulo Miklos, definiu o trabalho como “pesado, sujo e malvado”. Via Tenho Mais Discos Que Amigos

There is Nothing Left to Lose Foo Fighters Lançado em 99, este é o 3º álbum da banda e o 1º a lhes dar um Grammy. Este é daqueles álbuns que você tem que ouvir do começo ao fim, sem interrupção. Entre as faixas, posso destacar “Learn to Fly” que tocou demais aqui no Brasil (e ainda toca), “Breakout”, que é trilha do filme Eu, eu mesmo e Irene, e “Generator” ( famosa pelo uso do Talk Box) que merece ser ouvida ‘no talo’.

Out Among The Stars Johnny Cash A produção de Cash na década de 80 é ainda um tanto obscura e subestimada. Este disco, lançado agora em 2014, contém canções gravadas entre 81 e 84. São faixas que foram rejeitadas, arquivadas e esquecidas. Agora, recém-descobertas, mostram um Cash lutando contra o vício. Em meio a covers, canções religiosas (I Came to Believe”) e duetos com June Carter e Waylon Jennings, a voz do homem de preto ainda soava triunfante.

Clube de Compras Dallas Jean-Marc Vallée O caubói eletricista Ron Woodroof leva uma vida de pura esbórnia. Depois de um acidente de trabalho, seus exames informam que ele está contaminado pelo HIV. Assim, passa a investir na quebra do monopólio da indústria farmacêutica, investigando drogas alternativas. Ao lado de um amigo (Jared Leto), cria um clube de fornecimento de remédios não autorizados.

Desconstruindo Harry Woody Allen Harry é um escritor que usa suas experiências amorosas como inspiração para seus livros, o que não agrada nada as pessoas ligadas a ele. Convidado para uma homenagem a ser feita pela faculdade da qual foi expulso, ele se vê sem companhia. Richard, seu amigo, aceita fazê-lo companhia, junto com Cookie, uma prostituta com quem Harry teve um programa na noite anterior a viagem. Prestes a partir, ele tem a ideia de sequestrar seu filho para que ele possa ver o pai sendo homenageado.

Por Nader Hamdan

Para Assistir

O Banheiro do Papa César Charlone, Enrique Fernández Expectativa. Ela nos mata de ansiedade e, invariavelmente vem acompanhada de frustração, essa talvez seja a moral da história do filme. Acompanhamos Beto, homem simples que vive na fronteira entre Brasil e Uruguai, que receberá a visita do Papa em um evento que pode mudar a vida dessa pacata cidade. Vemos as pequenas extorsões, a manipulação da mídia e a fé cega, tanto na religião quanto em dias melhores. Por Jacson Andrade

54 MAIO 2014

Roberto Cunha – AdoroCinema.Com


MAIO 2014 55


56 MAIO 2014


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.