1 FOCO
02|
SÃO PAULO, SEGUNDA-FEIRA, 4 DE NOVEMBRO DE 2019 www.metrojornal.com.br
{FOCO}
ANNA LUÍSA BESERRA Em entrevista ao Metro, primeira brasileira vencedora do prêmio Jovens Campeões da Terra, concedido pela ONU, fala de seu inovador projeto ambiental que purifica água de cisternas em zonas rurais
‘USAMOS A LUZ DO SOL FARTA NO AMBIENTE PARA MATAR OS MICROORGANISMOS DA ÁGUA’
A jovem biotecnologista (UFBA) extrai água potável do dispositivo que idealizou
COMO FUNCIONA O AQUALUZ
“Pausa”
Skank anuncia separação
O quarteto de rock mineiro Skank, de Samuel Rosa (foto), anunciou que irá se separar ao final de 2020, após a turnê de 30 anos da banda. Em comunicado, o grupo afirma que “não teve briga nem nada que pesasse para uma decisão figadal. Somente um desejo por experimentação, por correr riscos e buscar outras formas de realização sem ser como Skank”
Cotações Dólar - 0,35% (R$ 3,995) Bovespa + 0,91% (108.195 pts) Euro - 0,51% (R$ 4,460) Selic (5,00% a.a.)
Salário mínimo (R$ 998)
A baiana Anna Luísa Beserra, de 21 anos, foi condecorada em setembro com o prêmio Jovens Campeões da Terra, a principal premiação ambiental das Nações Unidas para jovens entre 18 a 30 anos. Primeira brasileira a conquistar o título, ela recebeu a homenagem durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Nascida em Salvador, Anna Luísa é diretora executiva da Safe Drinking Water For All, startup de impacto socioambiental que surgiu diante da necessidade de ajudar a prover o acesso a água potável por meio de soluções inovadoras. Começou a desenvolver a tecnologia que a levou ao prêmio com 15 anos, em 2013, depois de ganhar uma bolsa para jovens cientistas oferecida pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), do governo federal. Foram dez versões até chegar ao resultado esperado: purificar água não-potável usando a luz solar, sem produtos químicos ou filtros descartáveis. O dispositivo, batizado de Aqualuz, foi acoplado em fase de testes a cisternas na região do semiárido do Nordeste e já garante acesso a água limpa para 265 pessoas. Poderia contar a história da Safe Drinking Water For All? A SDW nasceu em 2015, na verdade, depois do Aqua-
Um reservatório de água de chuva é instalado direto na bomba da cisterna
CISTERNA
luz, que foi criado em 2013, quando eu comecei a descobrir o mundo do empreendedorismo e participei sozinha de um processo de incubação chamado Nova Poli, da UFBA (Universidade Federal da Bahia). Depois disso, mais pessoas foram entrando na equipe. Aos poucos, participamos de vários eventos de empreendedorismo para conseguirmos reconhecimento e chegarmos onde estamos hoje. Foi no Instituto TIM, quando participamos do programa AWC (Academic Work Capital), que conseguimos uma aceleração incrível e fomos capazes de desenhar o modelo de negócio que a gente está trabalhando atualmente. Uma das coisas mais difíceis de startup é chegar ao modelo de negócio. Durante o programa AWC, implantamos o piloto do projeto e ganhamos também o segundo lugar do Hack Brasil. Sem o programa, seria impossível.
FALE COM A REDAÇÃO
leitor.sp@metrojornal.com.br (11) 3528-8522 COMERCIAL: (11) 3528-8561
PNUMA/UNEP
Ou seja, usamos a luz do Sol farta no ambiente para matar os microrganismos da água coletada e armazenada em cisternas que são muito comuns na região.
A purificação é feita pela incidência direta da luz do Sol, que produz radiação violeta infravermelha
Sobre o reservatório, de aço inox, há um tampo de vidro que capta a luz solar abundante
Que benefícios foram trazidos pelo prêmio da ONU? O prêmio traz visibilidade e credibilidade. Como consequência, atrai parceiros, clientes e melhora nosso poder de convencimento sobre o produto no Brasil inteiro e em outros países. Além disso, tem o próprio investimento financeiro e intelectual que a ONU dá para os projetos. Conseguimos uma parceria com a Covestro, um dos patrocinadores do prêmio. Eles estão bem alinhados com o nosso propósito e estão querendo ajudar e dar suporte extra, o que não é nem obrigação deles. Como funciona a organização da equipe interna e a atuação da startup? Algumas pessoas trabalham voluntariamente e outras fazem parte da equipe. Temos cerca de 16 membros. Não há só membros na Bahia, mas também no Ceará e do
Um visor indica quando a água está apta para consumo Verde <50 Laranja 70 > 50 Vermelho >70
Apta para consumo
Rio Grande do Norte. Minha única sócia, a Letícia, é do Ceará. São pessoas de áreas distintas. Agora estamos tentando organizar mais a equipe para termos um local fixo de trabalho, pois por enquanto é tudo feito à distância. Queremos ter alguns centros em outras cidades, em no máximo dois anos. Como você descobriu que seria possível criar um mecanismo que purifica água utilizando a luz do Sol? O processo de desenvolvimento do Aqualuz foi muito complexo. No início, o nosso foco não era a cisterna. Não conhecíamos a cisterna, eu não conhecia essa região do semiárido direito. Tudo foi uma evolução. Demoramos alguns anos até chegar ao público-alvo e concluirmos que o cenário perfeito era o semiárido para a metodologia que usamos, que é a desinfecção solar da água.
Onde esse sistema de purificação é aplicado? Hoje estamos em cinco estados: Bahia, Alagoas, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. E já temos uma campanha de financiamento coletivo para expandir para a África. Estamos buscando parcerias para chegar a esses países. Nossa meta é que o Aqualuz possa quebrar barreiras e atingir todos os locais onde ele possa ser implantado. O que é necessário para implementar o mecanismo? Estar em uma zona rural sem contaminação atmosférica, ter uma cisterna de captação e armazenamento de água de chuva que funcione com bomba. Implantamos em famílias de baixa renda, fazendo um trabalho social associado à tecnologia de capacitação e treinamento das famílias que vão usar. Depois voltamos para monitorar o equipamento e coletar dados de impacto social e de saúde, educação e economia.
EXPEDIENTE
EDUARDO RIBEIRO
METRO SÃO PAULO
Filiado ao
Metro Jornal. Editor-Chefe: Luiz Rivoiro (MTB: 21.162). Editor-Executivo de Arte: Vitor Iwasso. Editores-Executivos: Lara De Novelli (MTB: 31.369) e Marcelo Camargo (MTB: 33.618). Editores de Arte: Daniel Lopes e Tiago Galvão.
O Metro Jornal circula em 21 países e tem alcance diário superior a 18 milhões de leitores. No Brasil, é uma joint venture do Grupo Bandeirantes de Comunicação e da Metro Internacional. É publicado e distribuído gratuitamente de segunda a sexta em São Paulo, ABC, Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre e Espírito Santo. Editado e distribuído por Metro Jornal S/A, CNPJ 07.780.914/0001-61. Endereço: Rua Tabapuã, 41, 9ºandar, CEP: 04533-010, Itaim Bibi, São Paulo, SP, Brasil. Tel.: 3528-8500. O Metro Jornal São Paulo é impresso na Folha Gráfica (tel.: (11) 3224-7712