E s p o r te | E S P O R T E S A L T E R N AT I V O S
FORA DO
COMUM Ainda pouco populares no Brasil, esportes como a escalada e o rugby se firmam e já contam com atletas de destaque internacional. Mais nichados, o airsoft e o Trekker Trek começam a atrair adeptos
Cada cultura tem seus esportes preferidos. No país, futebol, vôlei e tênis de mesa são os mais praticados, segundo o Atlas do Esporte do Brasil. Mas existe uma grande variedade de outras modalidades, alternativas, que figuram nas pequenas retrancas dos cadernos esportivos apenas quando merecem atenção. Muitas vezes não é raro, já que temos por aqui atletas heroicos entre os melhores do mundo. Um desses exemplos está na jogadora de rúgbi Edna Santini, conhecida pelos narradores como Edninha ou pocket rocket. A contratada do clube São José é reconhecida internacionalmente, com participações em copas do mundo e campeonatos sul-americanos. “Quando comecei, era mais uma coisa de meninos e, mesmo assim, poucos jogavam”, conta. “Eu iniciei com 10 anos. As meninas foram aparecendo por intermédio de amigos, sempre um deles levava uma colega da escola. Então surgiram alguns projetos nos bairros que acabaram reunindo as garotas. Muitas delas estão na equipe principal formada hoje”, diz Santini, que hoje tem 26 anos. Uma vitória importante em sua carreira foi a medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de 2015, coroando a primeira vez em que a Seleção Brasileira de Rugby partici128
pou. Agora, Edninha faz planos para ser campeã brasileira com o São José, depois de ficar com a segunda colocação no ano passado. Depois, sonha em consolidar uma carreira internacional, após pequena experiência na Espanha. Quem já tem prestígio internacional é o jovem escalador Felipe Camargo, número um brasileiro com vários feitos
mundiais. Aos 14 anos, ele venceu o primeiro campeonato, o Sul-Americano Juvenil, na Guatemala. Hoje com 27 anos, já tem no currículo escaladas impressionantes, como o Papichulo, na Espanha. Trata-se de um desafio de gradação 12a, que somente ele, em toda a América do Sul, conseguiu realizar. “Fiz uma viagem para lá em
Marcelo Maragni/Red Bull Content Pool
Por Eduardo Ribeiro
2
A PRÁTICA FAZ BEM PARA A MENTE E O ESPÍRITO E TE CONECTA CONSIGO E COM A NATUREZA Felipe Camargo, escalador
3
1 – Na página ao lado, Felipe Camargo escala o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. E, no detalhe, a escalada na rocha Heterosapiens, de gradação 10a, no Sítio do Rod, em Belo Horizonte 2 – No airsoft, o clima de operação policial é levado à sério, com participantes vestidos à caráter para a disputa 3 – Edna Santini encara classificatória do Brasil para série mundial de rúgbi no Hong Kong Sevens
Fotos divulgação
Marcelo Maragni/Red Bull Content Pool
1
2016, passei dois meses tentando e não consegui. Voltei para o Brasil, treinei bastante e retornei no ano seguinte”, descreve. “Demorei umas duas semanas para acertar todos os movimentos e, finalmente, conseguir.” Para Felipe, escalada é, mais do que um esporte, um estilo de vida: “A prática faz bem para a mente e o espí-
rito, porque te conecta consigo e com a natureza”, diz. “O crescimento da modalidade no Brasil se deve a muita gente que pratica por diversão, num grau bem baixo, que curte, vai no fim de semana para uma pedra, escalar uma rocha. É o que mais tem”. O curioso é pensar que um cara que já dormiu até na parede, garantindo ser muito con-
fortável, sinta medo de altura. “É uma coisa natural, eu tenho mesmo, falo isso e a galera não acredita”, afirma. “Mas a parada é que eu confio muito nos equipamentos. Se for fazer uma trilha que seja num lugar muito alto, com um abismo perto, eu não gosto, mas quando estou escalando, confio nos equipamentos. Não tem erro.” 129
1 – A equipe Pot Machine saiu campeã na categoria 4.500 kg e chegou em segundo lugar na de 5.500 kg, em 2017, na etapa de Arapoti do Trekker Trek. No detalhe, o trator Bandido foi o grande vencedor do Trekker Trek 2018 em Holambra, nas duas principais provas da categoria livre
Entre os jovens esportes alternativos em ascensão no Brasil está o airsoft, que nos últimos três anos registrou a abertura de mais de 40 campos dedicados a ele no país. Surgido no Japão nos anos 1970, é uma evolução do paintball. No airsoft, os jogadores participam de simulações de operações policiais, militares ou de recreação, porém com armas de pressão que atiram projéteis plásticos não letais, e não bolas de tinta colorida. O realismo é muito maior justamente por conta do calibre da bolinha, e é isso que tem atraído cada vez mais aficionados: “As armas de paintball têm um cano largo para a bola passar, e você precisa de um receptáculo de armazenamento”, explica Alessandro Gagliani, proprietário do campo Opsfield Real Action Training, na Vila Carrão, um dos melhores da capital. No Opsfield Base Foxos jogos são abertos, quatro por semana, e todos participam juntos. Geralmente, são 120 pessoas, formando dois times de 60 atiradores cada, soltos no campo. 130
Ex-jogador de paintball que migrou para o airsoft, Alessandro está envolvido com a modalidade há cerca de 20 anos. Diz curtir, entre outras coisas, por ser um jogo de honra e honestidade. No interior de São Paulo desponta outro esporte que, mesmo pouco conhecido, já pode ser considerado tradição. É o Trekker Trek, disputa em distância entre tratores agrícolas que começou em Holambra, em 1992. Já no ano seguinte, vieram os tratores modificados, o grande barato do negócio. Antes de pensar em construir um trator apto a participar, o aspirante deve escolher a categoria. Para cada, existe uma limitação de peso de todo o conjunto e da litragem total dos motores. Na iniciante, a limitação do peso é 2.400 kg, contando trator e piloto, sendo a limitação de litragem do motor de 5,3 litros. A alimentação do combustível pode ser via carburador ou injeção eletrônica, e não é permitido o uso de nitro. Segundo Marcos Eltink, que iniciou no Trekker Trek em 1993, aos 18
anos, quem deseja entrar para a categoria precisa estabelecer contato com a ABTT (Associação Brasileira de Trekker Trek), o órgão regulador da competição no país: “Há regras para construção dos tratores, e a associação preza muito pela segurança da competição e, principalmente, do público que sempre nos prestigia.” Funciona assim: em uma linha reta de 100 metros de comprimento, os tratores ficam acoplados a um equipamento chamado carreta-trenó, dotado de sistema de frenagem progressivo à medida em que se atrita ao chão. A evolução na pista vai se dificultando ao longo do trajeto. Ganha o trator que conseguir rebocar o fardo a uma distância maior. Caso mais de um trator cumpra os 100 metros, realizando um full pull, é acrescentado mais peso (lastro) à carreta. Com maior dificuldade, novamente ganha quem puxar pela maior distância. Os maiores ícones do Trekker Trek são os tunados campeões europeus Popeye, Bits’n Pieces e Delta Power. Eltink conta que montou seu primeiro trator em 2000, o Furacão, com uma traseira do antigo trator Massey Ferguson 65x e um motor Ford V8 302 com carburador Quadrijet e combustível metanol, apto a competir na categoria 2.400 kg de iniciantes. Em 2008, investiu num Twister, para competir na categoria 2.500 kg, em que a composição dos motores pode chegar a 10,5 litros. “Desde então, nunca mais parei”, orgulha-se.
Fotos Osvaldo Furiatto Jr.
4