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Criação e arte da capa: Ricardo Malagoli . Aluno do curso de Jornalismo
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo . Faculdade de Comunicação e Artes . PUC Minas . Ano 44 . Edição 333 . Novembro . 2017
Compromisso com o público Aniversário é sempre motivo de comemoração, principalmente quando marca uma trajetória de lutas e sucesso. É um momento assim que o MARCO está vivendo, consciente dos desafios que o esperam - na era digital - mas firme no propósito de ser uma referência na vida acadêmica dos alunos de Comunicação e no diálogo entre a PUC Minas e a comunidade. Esta edição comemorativa traz, ainda, temas importantes como o centenário da Revolução Russa, o esforço do país para salvar vidas através da doação de órgãos e a luta dos moradores do Aglomerado da Serra para viver honestamente e sem medo, em meio à violência de traficantes e das batidas policiais.
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jornalmarcoedição333novembro2017
m editorial
MARCO. Um jovem nos seus 45 anos A edição nº 333 marca um momento importante do jornalismo na PUC: os 45 anos do MARCO. É uma data para lembrar a trajetória do jornal que, durante todo esse período, tem procurado prestar serviços à comunidade, trazendo temas de interesse dos moradores que o recebem: suas reivindicações, anseios e conquistas. Acolhendo temas igualmente relevantes, o jornal vem abordando questões sobre a cidade relacionados ao transporte, saúde, educação e cidadania. Ao longo do tempo, o MARCO tem se comprometido com o tratamento noticioso correto e com a postura ética, em com o respeito constante aos leitores e à sociedade. Esta edição histórica traz também à memória os cem anos da Revolução Russa, evento que marcou o século XX. Esse acontecimento deixou, como legados, o fato de recolocar o povo no centro das preocupações e um outro modelo de distribuição das riquezas.Idéias que, ainda hoje, suscitam reflexões e controvérsias entre as pessoas. Do ponto de vista urbano, há uma reportagem sobre a realidade no Aglomerado da Serra. Partindose dos conflitos ocorridos na Rocinha, Rio de Janeiro, tenta-se mostrar o cotidiano dos moradores que convivem com a tensão relacionada ao tráfico de drogas, à intervenção da polícia tentando conduzir suas vidas dentro da normalidade. Na temática esportiva, o jornal focaliza o aumento de popularidade da corrida de rua e a “redescoberta” do hipismo. Esse esporte tem custo elevado, mas encanta pelo prazer que propicia aos seus adeptos. Além disso, em um mundo masculino, a jovem poetisa Bruna Kalil revela sua preocupação com o lugar da mulher no meio literário. Ela relata seu amor à literatura e a forma como conquistou espaço no mundo dos livros. Desejamos a todos uma boa leitura!
OPINIÃO CRÔNICA - Dia das Crianças
Joaninha sou eu Bruna Soares Bentes 1º período jornalismo
Quarta-feira, seis e meia da tarde. Estava na Rua Antônio Aleixo, ali perto da Praça da Assembleia, parada no sinal. Esse trajeto, mais que rotineiro, para mim, era monótono e igual, nada de novo. Meu carro deveria estar na terceira posição a partir do sinal e percebi que três crianças, acho que duas meninas e um menino, de uns oito ou nove anos, se movimentavam para pedir esmolas. Como todos os dias. Meu ar condicionado estava quebrado, então eu era obrigada a manter minha janela aberta, já que o calor estava insuportável. Com uma mão repousada no volante, movimentei meu pescoço já me preparando para dizer o “hoje não” para uma das crianças que se dirigia até mim. Estava claro, graças ao horário de verão.Foi o que me fez, creio eu, notar naquela menina o brinco que ela usava. Joaninhas
vermelhas. Iguais aos que eu usei praticamente minha infância inteira. Fiquei muda, momentaneamente e, mesmo que a garotinha já tivesse repetido duas vezes “tia me ajuda?”, eu não consegui responder. Reparei que seus olhos eram muito sérios e cansados para uma menininha. Naquela tarde eu não a vi, eu não os vi, como seres genéricos integrantes da paisagem urbana: eu me vi naquela menina, Beatriz, como ela me disse mais tarde. Vime nela e senti-me muito mal por reconhecer que a minha versão de oito anos não gostaria e nem saberia estar no lugar de Beatriz. Entreguei-lhe dez reais na tentativa de amenizar o mal que aquela situação me fez; um gesto insuficiente, eu assumo. Naquela tarde, eu me dei conta da vida miserável dessas crianças e, pelo menos aquele dia, eu não as vi como várias cópias, mas como vários e multiplos sonhos quebrados.
HOMENAGEM
Lembrando Rafael * Ana Paula Cury 3º Período de Jornalismo
Brilho no olhar. Sorriso aberto. Muito amor e Jesus no coração. Era assim que todos víamos o Rafa. Mesmo quem não o conhecia, percebia sua alegria e simplicidade. Chegava à sala sorrindo. Na troca de horários, ficava algumas vezes sozinho em seu canto, ouvindo música, desenhando. Outras, parava para conversar com os amigos. Brincava, mas quando falava sério percebíamos o quanto era sereno e amoroso. Nos trabalhos e conversas durante os três períodos em que convivemos com ele, percebemos o quanto tinha um coração grande. Contava sobre seus projetos sociais e trabalhos na igreja com muita alegria.
Era uma inspiração, não só para tantas crianças e pessoas que ajudava, mas para todos nós. A sala não vai ser a mesma sem ele. Mesmo quem nunca conversou com o Rafa dizia o quanto era iluminado. Raramente reclamava, tudo estava bom. Com a história do Rafa, aprendemos a brevidade da vida. Aprendemos com ele a viver intensamente cada minuto. Aprendemos que não importa o que os outros vão pensar, o que importa é a nossa felicidade e esforçar ao máximo para fazer, quem está a nossa volta, feliz. Aprendemos a amar e viver como se todo dia fosse o último de nossas vidas. Ele vivia assim. Quem o conheceu, ou não, vê em sua história um recomeço. Seu nome saiu da chamada, mas ele nunca sairá das nossas memórias e dos nossos corações. O legado que ele deixou é inesquecível e vamos buscar seguir o exemplo que ele foi para todos nós. *Rafael Brandão estudou jornalismo na PUC (1997- 2017)
m errata Retificamos as seguintes informações da edição número 332, de outubro: No infográfico da reportagem “Reforma Motivou Conflitos Religiosos”, em vez de século XXI , leia-se século XIX, quando imigrantes e missionários criaram igrejas protestantes no Brasil; Na reportagem ‘Adolescentes rebeldes inquietam pais’, os alunos Amanda Santos, Marcella Gasparete e Pedro Chimicatti são do 2º e não do 4º período.
m expediente Jornal MARCO Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920 Sucursal PUC São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Cláudia Siqueira Chefe de Departamento: Profª Viviane Maia Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Ercio do Carmo Sena Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel Editora: Profª. Ana Maria Oliveira Subeditores: Profª. Maura Eustáquia e Prof. Getúlio Neuremberg Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Bruna Curi, Larissa Duarte, Ricardo Vaz de Melo e Sylvia Amorim Monitoras de Fotografia: Elisa Senra e Igor Batalha Monitores de Diagramação: Matheus Leão e Sophia Tibúrcio Apoio: Laboratório de Fotografia e NEP CTP e Impressão: Sempre Editora. Tiragem: 13.000 exemplares
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fórum dos leitores
Leitora carioca elogia o jornal
Percebo no MARCO, desde a linha editorial até o tratamento das matérias, um compromisso com o jornalismo crítico e engajado que, por não depender de anunciantes, como acontece na grande mídia, e, por isso, ser mais independente, está ocupado com a qualidade do conteúdo, em mostrar o outro lado, com assuntos extremamente relevantes socialmente para diversos públicos, às vezes marginalizados ou ignorados. Encontrei no MARCO algo que, acredito, ser não só do meu interesse mas de mais pessoas, que são assuntos, notícias e reportagens muito bem pensadas e produzidas, com visão crítica e compromisso com os leitores,
em um veículo feito por jornalistas e produtores de conteúdo que compartilham comigo das mesmas inquietações e desejos de mudança. Isso não se dá só porque o conteúdo é feito por universitários para universitários, pois isso não garante a qualidade e o compromisso, mas porque há uma equipe que carrega a missão de produzir um jornal de quase meio século de existência e que, por sua diagramação que dá prazer de ler e linha editorial diversificada, pode ultrapassar as fronteiras da universidade. Desejo vida longa ao MARCO e que ele continue evoluindo, agregando parceiros até mesmo de outras universidades.. Giulia Bruno, aluna de Publicidade – PUC-Rio
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Ana Carolina Gonzaga 1° Período
Cultura, esporte, lazer e música são algumas das atividades oferecidas no Parque Municipal Renné Giannetti, localizado na Av. Afonso Pena, ponto central de Belo Horizonte. No dia 26 de setembro, o parque completou 120 anos e é considerado um dos lugares mais atraentes da capital mineira. Trata-se de um espaço de lazer e convivência que agrada agente de todas as idades, especialmente as crianças. Dois meses antes de sua inauguração, a nova capital ganhava uma importante área de conservação da natureza, o Parque Américo Renné Giannetti, considerado o “Coração de BH”. Ali muita gente, desde então, encontra lugar para descanso, leitura e prática de esportes. A ideia de criá-lo foi do arquiteto e paisagista francês, Paul Villon, cujo objetivo era transformar a área no maior parque urbano da América Latina, inspirado no romantismo inglês, tido, então, como um importante movimento cultural. O parque, inicialmente, tinha uma área verde de 600 mil metros quadrados, segundo dados da Prefeitura, e na época serviu de moradia para o próprio Paul Villon e para Aarão Reis, engenheiro-chefe da Comissão Construtora encarregada de planejar e construir a nova capital de Minas Gerais. Em 1924,
3 MEIO AMBIENTE
Parque Municipal Renné Giannetti faz 120 anos Sediado em uma das principais vias da cidade, o Parque resiste aos problemas de limpeza, segurança e manutenção Igor Batalha
O Parque Municipal de BH é conhecido por todos como ótima opção de lazer para pessoas de todas as idades o governador do Estado, Olegário Maciel, transferiu a residência oficial do governo para o Parque Municipal, até o final de sua gestão. De sua área original o parque chega ao século XXI com apenas 182 mil metros quadrados, em consequência do processo de construções diversas como a Faculdade de Medicina, o Centro de Saúde do Es-
tado, o Colégio Imaco, o Teatro Francisco Nunes e o Palácio das Artes. A área verde do parque foi perdendo espaço. Buscando preservar sua integridade, em 1975, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG) realizou o tombamento do conjunto paisagístico e arquitetônico da área para que ele pudes-
se continuar sendo um das melhores opções de lazer, cultura, interação e socialização entre as famílias e todo o público que o visita. RELATOS O bilheteiro, Raimundo Gonçalves, 65 anos, trabalha no parque há 30 anos e testemunha que ele é um atrativo para famílias e, es-
pecialmente, para as crianças. Seu Raimundo conta que, durante a semana, o parque é bem frequentado, porém é no fim de semana que o número de visitantes aumenta, principalmente aos domingos. “Antigamente o parque tinha mais brinquedos, porém, mesmo assim, diverte as crianças. Essa área precisa de mais cuidados, deveria ser um lugar mais limpo e para isto
ter mais pessoas para trabalhar na limpeza”, diz. O faxineiro, Gilberto Camilo, 63 anos, trabalhador há seis anos no parque, afirma que ele é uma mistura de área de cultura e lazer. Para ele, o parque representa uma forma de comunicação. “Para mim é uma terapia”, diz. Gilberto conta que em 2014 o Dia das Crianças foi marcado por muita alegria pois meninos e meninas puderam pescar no lago, pegar os peixes e levá-los para casa. Todas as pessoas no parque se divertiram demais. “Infelizmente, hoje, o parque já não é o mesmo: falta limpeza, cuidados com os animais dos lagos, mas o pior é a marginalidade que tem afetado muito o parque. Se eu fosse o prefeito, começava a realizar cobrança de entrada no parque, para tentar evitar que eles entrem, pois aqui é lugar de família, de estudo, passeio e bem-estar social”, relata. Já Dona Maria de Lurdes, 77 anos, que frequenta o parque há 60 anos, diz que ele lhe traz boas lembranças da juventude, pois era um bom lugar para namorar. Ela gosta de ver a paisagem, as pessoas e levar as netas para brincar. Lembra-se de que o parque tinha muitos brinquedos, era mais seguro mas, hoje, devido às construções, perdeu muita área verde. Mesmo assim o recomenda como área de lazer para família. “Porque aqui me sinto em casa”, diz.
Projeto auxilia moradores de rua em Belo Horizonte Érika Giovannini 3º período
O número de moradores de rua em Belo Horizonte cresceu 70%, em dois anos, segundo constata a Secretaria de Políticas Sociais da Prefeitura. Para que esta população se empodere e tenha ferramentas necessárias para sair da situação em que se encontra, alguns serviços e práticas devem ser-lhe fornecidos. Exemplo disso é o trabalho do projeto de Extensão da PUC Minas “Andanças:
população em situação de rua e práticas transdisciplinares”, cujos profissionais participaram da “Rua de Direitos”, evento que levou ao Parque Municipal centenas de desassistidos. O evento, gratuito e destinado às pessoas em situação de rua, prestou-lhes serviços como corte de cabelo, tratamento odontológico, assistência jurídica e previdenciária, emissão de documentos e, pela primeira vez, atendimento psicológico por meio do projeto Andanças. Érika Giovannini
Moradores de rua recebm documentos gratuitamente
A ação foi organizada e realizada pelo Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas), em parceria com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Roberto, 40 anos, ficou sabendo do evento por meio de um cartaz afixado na casa onde é abrigado temporariamente. Ele participou da ação para tirar documentos, receber orientação jurídica, cortar cabelo e obter atendimento psicológico. “A conversa que eu tive com a estudante de psicologia foi ótima. Eu pedi ajuda porque estou tentando me livrar do alcoolismo, aí ela me orientou a buscar um lugar que pode me ajudar a dar continuidade ao tratamento: o Cesame, que é uma clínica de saúde mental”, contou. Breno Martins, 23 anos, estudante de psicologia e extensionista do Projeto Andanças, disse que ficou surpreso e muito satisfeito com a movimentação do estande. “As
pessoas em situação de rua queriam apenas conversar, contar um pouco de sua vida, colocar para fora o que estavam guardado há tempos e foi isso o que eu mais gostei,” disse. Luiz, 40 anos e também morador de rua, ao contrário da maioria de seus colegas presentes ao evento, não foi em busca de algum serviço específico. Seu objetivo era apenas participar e ajudar no que fosse preciso. “Eu gosto de participar. Muitas pessoas não gostam. Tem gente que vem aqui e não escuta. Mas é muito bom e interessante para nós”, diz. Luiz tem ainda uma ligação muito especial com a Pastoral de Rua que é uma parceira do projeto Andanças. O morador relatou que tem buscado, ao máximo, cuidar de si e melhorar. “O pessoal da Pastoral sempre me convidava, eu ia mas sempre bêbado, então acabava discutindo demais lá dentro. Depois que eu comecei a me cuidar e a participar ativamente de reuniões e
eventos, como esse aí, acabou: não bebo mais”, relatou. Hoje Luiz e mais dois moradores de rua participam da criação de um empreendimento de produção e venda de composteiras por meio do projeto “Empreendendo vidas”. O projeto é a atividade básica de uma organização não-governamental, que visa promover o desenvolvimento sustentável com o resgate da cidadania das pessoas em situação de exclusão de rua. Para isto, Luiz e seus colegas tiveram cursos de marketing. AVANÇOS Apesar de ações e eventos como esses contribuírem para o progresso da população em situação de rua, segundo Bruno Vasconcelos de Almeida, professor e coordenador do projeto Andanças, a situação é grave, havendo uma grande precariedade na proteção social, que demanda mais políticas públicas. “Não há esperan-
ça de resolver todo o problema, mas é possível não reproduzi-lo se ajudarmos a construir uma política que tenha eficácia e efetividade”, disse. Bruno destacou a necessidade de atenção para os “consultórios na rua”, através dos quais a saúde vai até o local onde as pessoas estão. Em Uberlândia, cidade pequena se comparada a Belo Horizonte, existem 12 consultórios enquanto aqui há apenas quatro. O prof. Bruno Vasconcelos reconheceu que houve avanços em políticas setoriais, mas, com a crise em que país se encontra, o número de pessoas em situação de rua só aumenta. “As agressões continuam, o higienismo social continua e a cultura do desrespeito continua”, contou. Ele observou que alguns direitos básicos das pessoas devem ser respeitados: o acesso ao estado, ao serviço de saúde, à possibilidade de gerar renda, o acesso à educação devidamente assegurado e, por fim, o direito de estar na praça sem ser agredidos.
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4 ESPORTE
Projeto Emancipa promove a natação Luíza Lanza 2º período
Iniciativa tem como objetivo popularizar o esporte entre as crianças carentes Elisa Senra
Popularizar o esporte e, através dele, construir uma educação crítica e engajada. Foi com essa premissa que surgiu o Emancipa Esporte, projeto social que iniciou o trabalho com suas primeiras turmas em outubro, com a prática da natação, na Associação Pessoal da Caixa Econômica Federal (Apcef/MG), em Belo Horizonte. O projeto faz parte da rede Emancipa, que desde 2007 atua na educação, promovendo cursinhos pré-vestibulares públicos por todo o país. A partir de um processo seletivo, foram escolhidas 80 crianças de oito a 12 anos de duas escolas públicas da região da Pampulha, a Escola Municipal Dom Orione e a Escola Municipal Carmelita Carvalho Garcia. Todos os alunos-atletas passaram por uma seleção dentro da água e por exames médicos, e os aprovados já iniciaram as atividades no clube. A metodologia de introdução ao esporte foi desenvolvida por uma das maiores atletas da natação brasileira, Joanna Maranhão, que é uma das idealizadoras e coordenadoras do projeto. Alguns desafios surgiram nessa primeira fase do trabalho: o pudor em relação ao próprio corpo, em trajes de banho, a inadaptação do material a algumas situações. A touca de silicone, por exemplo, não se fixa bem na cabeça de meninas de cabelo crespo e volumoso. Além disso, a falta de piscinas públicas faz com que algumas crianças nunca tenham tido contato com grandes piscinas. “Nossa primeira preocupação aqui é ensinar a todos eles a respirar na água. Uma coisa é você pegar uma criança de classe média, que pode nunca ter feito aula, mas que tem acesso a uma piscina,
Crianças de oito a 12 anos recebem aulas gratuitas de natação no clube da Apcef
onde brinca com os pais, que vai à praia e sabe respirar na água. Aqui, algumas dessas crianças nunca fizeram isto”, exemplifica Joanna. A parceria com o Apcef é essencial nisso, já que o espaço sedia outros programas, como o Escola Integrada da Prefeitura de Belo Horizonte, e permite a convivência entre cerca de 350 crianças de escolas e comunidades diferentes. “O fato deles se encontrarem aqui ao longo desses anos reduziu as tensões sociais. Os meninos se conhecem, o que não resolve o problema, mas reduz a longo prazo”, conta Paulo Roberto Damasceno, presidente da Apcef/MG. O clube realiza esses trabalhos há nove anos e compreende a importância dos projetos quanto às disputas territoriais das comunidades da região. Outra parceria importante do Eman-
cipa é com o Centro de Treinamento Especializado da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). As crianças que dominarem os quatro nados e começarem a se destacar serão encaminhadas para lá. A partir daí, o caminho é a federação e a filiação a algum clube, para início da carreira esportiva. Em um momento futuro, também, o projeto contará com turmas de judô, comandadas pelo campeão mundial, Luciano Corrêa. O esporte, que ensina valores como disciplina e a hierarquia, exige uma estrutura material muito cara e o projeto precisa avançar em patrocínios e investimentos para isso, já que se mantém a partir de doações. BASE FRACA
Os idealizadores do Emancipa observam que o esporte brasileiro é muito
Arquivo Pessoal
Hipismo cresce na RMBH Eduarda Wilke Jéssica Mayara 1° período
O hipismo é um esporte que vem
crescendo no Brasil, principalmente nos últimos anos. A modalidade, que compreende a arte de montar a cavalo, tem atraído a atenção de novos atletas, mesmo não sendo um esporte popular. Com isso, vai aumentando a participação do país em campeonatos e disputas, fazendo com que ele se torne um dos melhores na modalidade. Apesar da ascensão do esporte, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, os custos para se manter nele são elevados e, por isto, o crescimento é lento. Mas a prática do hipismo desperta, cada vez mais, o interesse de um maior número de pessoas. Isto porque há, atualmente, uma maior quantidade de lugares e chances do aluguel do animal. Dessa forma, a modalidade se tornou conhecida por grande parte da população que antes não o tinha em mente. Além disso, o incentivo das famílias e o amor aos animais são influências importantes para o início da prática do esporte, segundo conta Mateus Maciel, de 24 anos: “Eu comecei a praticar o hipismo com o meu pai. Desde moleque ele me mostrou o cavalo e me colocou na aula de equitação”. Já para a estudante de jornalismo, Sophia Tibúrcio, sua principal motivação foi o amor pelos animais. “A sensação de praticar o esporte é ma-
ravilhosa; é o momento em que a gente sai da rotina corrida do dia a dia e fica em conexão só com o animal. É incrível como a cabeça se fecha para aquele momento”, afirma Mateus, que ressalta a alegria e satisfação proporcionadas pela prática do esporte. A prática da equitação tem muitos aspectos como o aprimoramento da concentração, disciplina e coragem, estimulado pelo desafio de montar. Além disso, a relação entre o cavaleiro e o animal é também um ponto positivo, uma vez que a prática exige uma interação entre eles, através do contato direto. Os aspectos negativos são o alto preço para se manter na atividade e a dificuldade de deslocamento, devido ao fato das hípicas, com áreas adequadas ao esporte, se estabelecerem em regiões afastadas dos grandes centros. CUSTOS Para praticar o hipismo, é necessário adquirir o cavalo ou alugá-lo. Além disso, há despesas com treinador para a prática do esporte e com aulas de equitação para aprender as técnicas. Ainda é preciso pagar veterinário para manter a saúde do animal e a alimentação dele, uma vez que o cavalo precisa ter uma dieta adequada. Outros aspectos que geram despesas para o praticante são as roupas próprias e indispensáveis para montaria e os equipamentos específicos usados pelo cavaleiro e
focado em resultados imediatos e em atletas de alto rendimento. Projetos como esse ganham importância porque cuida de toda a “cadeia produtiva” do esporte e não só para o fim. Assim, pequenas instituições possibilitam ao atleta uma estrutura mais sólida de formação. A visão tradicional faz com que o auxílio financeiro seja destinado aos atletas de alto rendimento, porque são eles que trazem retorno em resultados para o país. Para Joanna Maranhão, essa lógica deveria ser revista: “Acho muito mais honesto que tal dinheiro seja passado para crianças de projetos, de estímulos ao esporte e de inclusão social. Uma bolsa de R$500,00 faz enorme diferença na renda familiar. Temos exemplos disso. Se você cortar a bolsa de alguém, ele não vai ter nada. Vai ser obrigado a parar com o esporte”. Outra questão, apontada pela atleta, é a fixação com o vestibular. Para ela, as escolas estão aumentando a carga horária cada vez mais cedo, impedindo que as crianças tenham tempo para atividades extraclasse, reduzindo assim o número de atletas nas categorias de base. “Se você quer ser uma potência esportiva, precisase primeiro de quantidade, para depois poder tirar a qualidade”, comenta Joanna. Os projetos sociais que poderiam democratizar o esporte e fortalecer a base esbarram em alguns pontos. Damasceno, presidente da Apcef/MG, aponta a questão financeira e a visibilidade. “O grande problema de um projeto chama-se dinheiro. É preciso investir recursos nos atletas, mas nós não somos conhecidos”. Para ele, a presença de atletas famosos, como Joanna, nessas causas é importante para agregar valor e voltar a atenção midiática para a base. No Apcef, a influência dela “joga luz nos outros projetos”.
O hipismo conquista, progressivamente, adeptos que procuram fugir do estresse urbano pelo cavalo, como os arreios. Comprar um cavalo não é fácil. Quando ele é de média performance, custa em média R$ 500 mil a R$ 600 mil. E, devido a esse alto custo, é dificil para um cavaleiro adquirir seu próprio animal; a solução é optar por alugar, dividindo os custos com outras pessoas que também usufruam do mesmo cavalo. O treinador adestra o cavalo, de modo que ele esteja apto a oferecer ao seu cavaleiro a possibilidade de praticar a equitação. Diante disso, é crucial que haja gastos nesse quesito, também de custo elevado. No hipismo, preservar a saúde do cavalo é primordial, pois é preciso que o animal esteja em perfeitas condições para funções como saltos e cavalgadas à longa distância, que são realizadas nesse esporte e em competições. Para isso, é importante que o cavalo tenha uma boa alimentação e receba
cuidados veterinários, informa o major Erivelto Vilela Filho, veterinário do Exército. Diante dos altos custos, o hipismo é considerado um esporte de elite, uma vez que nem todas as pessoas têm condições de arcar com as despesas para praticá-lo. O custo cria uma espécie de barreira para que ele possa crescer de forma mais concreta. Para que o hipismo passe a ser um esporte mais acessível à população, é necessário que haja incentivo de instituições ou do próprio estado. Segundo o major Vilela, isso pode ocorrer com a criação de escolas de equitação mais acessíveis: “De repente, uma rede esportiva que procure despertar o interesse pelo hipismo. Assim como existem escolinhas de futebol, poderiam ser criadas escolinhas de equitação, oferecendo a baixo custo a prática da modalidade”.
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5 COMPORTAMENTO
Correr na rua é tão bom que pode viciar Matheus Leão 3º período
As corridas de rua estão se tornando cada vez mais populares em Belo Horizonte. É difícil passar uma semana em que os atletas fiquem sem um evento na cidade. O esporte, além de eficiente para a perda de peso e fortalecimento muscular, tem-se mostrado um campo estimulante da expansão e começo de novas amizades. O bancário Carlos Alberto Guerra corre há anos. Ele conta que começou a correr devido à frustração com a natação: “Sempre fui competitivo e não estava satisfeito com meu desempenho nadando. Então, meu técnico me mandou correr para melhorar a resistência. Na primeira semana, corri 15 minutos por dia e fiquei exausto, apesar de estar acostumado a nadar 90 minutos seguidos. Apaixonei-me pelo esporte”. Corredores veem a corrida como prazer. O esporte proporciona a
Atletismo de rua traz novo estilo de vida mais saudável a seus adaptos e se torna popular na capital Foto de Divulgação
liberação de endorfina, substância que estimula a sensação de bem-estar. Além do conforto, a corrida tornou-se um campo de sociabilidade: pessoas buscam companhia para correr, conversar sobre o esporte e surgem muitas paqueras. INÍCIO
Carlos conta que a maior dificuldade que encontrou foi adequar a alimentação e a falta de técnico apropriado. “Meu treinador é o melhor de Minas Gerais, mas ele só sabe sobre corrida. Tive que procurar profissionais separados para alimentação, fisioterapia, fortalecimento muscular e alguém para indicar o tênis específico”. A alimentação adequada é algo imprescindível no universo de qualquer esporte. A nutricionista Alessandra Luiza Bertolino, especialista em nutrição esportiva, conta que, para
Corrida une diferentes gerações em momentos de lazer
o rendimento adequado do atleta, é necessário que ele se organize para ter uma alimentação correta. Isto vai permitir-lhe uma recuperação mais rápida e energia su-
ficiente para os treinos e provas. “O ideal é sempre procurar o auxílio de um nutricionista. O horário, o tipo de alimento e a quantidade dependem muito da rotina do
atleta; é algo específico e individual”. A corrida, além de trazer várias vantagens à saúde e à vida social, pode gerar, também, alguns problemas. Um deles é o vício no esporte. A euforia de correr chega a ser tanta que as pessoas procuram maneiras alternativas para aumentar o seu desempenho. Amadores estão tomando remédios e anabolizantes para correr por mais tempo ou para vencer competições dentro do próprio círculo social. Há ainda pessoas que não estão aptas a correr, mas se recusam a recorrer à ajuda especializada, não escutam os médicos e continuam a praticar o esporte. O que, às vezes, constitui um obstáculo aos corredores é o alto custo de inscrição em corridas, em média R$100,00, e o custo do tênis adequado: no mínimo R$400,00. O corredor impõe limites para si mesmo. Foi o que fez Carlos Alberto.
Ele conta sua experiência no início da sua trajetória na corrida: acreditava que só conseguia correr 8 km, até que, devido a uma situação na sua casa, precisou correr maior distância: “Eu morava no Bairro Nova Suíça e precisei ir até o BH Shopping. E fui correndo”, relata ele. Na verdade, conseguiu correr 16 km, o dobro a que estava acostumado, sem dificuldades: “Naquele dia me superei, vi que os 8 km eram algo que eu me impus, aleatoriamente, pois era capaz de muito mais. Desde então, comecei a fazer esse percurso da minha casa até o shopping todos os dias. Dava-me uma paz incrível”. Esse ano ele teve uma lesão que o tirou da rua por dois meses. “Foi um período muito estressante para mim. Mesmo com a dieta, engordei e não conseguia dormir. Senti muita falta. Hoje não vejo minha vida sem a corrida”.
Instituto que ajuda população carente luta para virar ONG Sophia Tibúrcio
João Pedro Junqueira Luíza Lanza 2º período
Criatividade, inovação, empatia, esperança e preocupação ambiental. Com base nesses cinco ideais, o Instituto Dom Quixote realiza seu trabalho social e ajuda pessoas e causas em Belo Horizonte e Divinópolis. O Instituto foi fundado este ano e já conta com duas equipes, uma em cada cidade, envolvendo mais de 30 voluntários. A iniciativa surgiu de algumas experiências pessoais, principalmente após uma viagem para Cuba de João Vitor Aquino, aluno de direito na PUC Minas, fundador e diretor-presidente do Instituto. Segundo conta, ficou evidente para ele e para a irmã, Ana Paula Aquino, a possibilidade de ajudar pessoas em necessidade. A instituição foi o caminho encontrado. “Aqui, a gente acredita que não
Alunos de Direito recolhem doações e as encaminham para pessoas necessitadas
são as ideias que geram ideais, mas sim os ideais que geram ideias”, explicou. Os voluntários trabalham em quatro áreas, duas do setor administrativo e outras duas de atividades fins. Eles se dividem entre o Núcleo Especializado em Meio Ambiente – com campanhas de conscientiza-
ção, de reflorestamento e de adoção de animais de rua, por exemplo – e o Núcleo de Geração de Oportunidade. Esse último centra-se em levar cultura, arte e música às pessoas que, geralmente, não têm oportunidade de conviver com isso. O nome do Instituto vem da ideia de uma ONG espanhola que se
espelha no personagem Dom Quixote. Ela criou e pratica o método chamado “vai lá e faz”, que consiste em identificar um problema e fazer tudo o que está ao seu alcance para resolvê-lo. Assim, os voluntários tentam fazer o que é possível para a superação de problemas so-
ciais que são reconhecidos, mas em relação aos quais pouco se esforça para solucionar. São o que João Vitor chama de “problemas marginalizados”, aqueles cuja gravidade as pessoas não entendem. O Dom Quixote já ajudou duas instituições que dão assistência às pessoas nessa situação: o Núcleo Assistencial Caminhos para Jesus (NACJ), instituição que cuida e dá apoio a crianças com paralisia cerebral, que foram abandonadas ou sofreram algum tipo de violência, e foram encaminhadas para lá por decisão judicial, e o TransVest, projeto de inclusão artística e pedagógica de travestis, transexuais e transgêneros. ARRECADAÇÕES
Para arrecadar o que precisam, o diretor Murilo Lemos informa que o setor de marketing do
Instituto se utiliza das redes sociais, principalmente o Instagram e Facebook, para divulgar as campanhas, o que é uma maneira produtiva, mas não a principal. Com a metodologia “cara a cara”, os voluntários costumam bater de porta em porta, principalmente na região do bairro Coração Eucarístico, para pedir donativos. A última arrecadação foi de produtos de higiene para o NACJ e para o asilo Solar da Maturidade, e alcançou sucesso. O Instituto já começou o processo para tornar-se, legalmente, uma ONG. Para João Vitor, “a partir do momento em que a gente virar uma ONG, a possibilidade de ajuda vai ser muito maior. Vai facilitar parcerias e até o Governo vai poder ajudar-nos financeiramente”.
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CAMPUS
Cida Falabella discute cultura da periferia Vereadora abriu primeira tarde de palestras da Jornada das Utopias e relatou as dificuldades vividas pelos “fazedores de cultura” das comunidades de BH Hannah Emmerich
A atriz e vereadora Cida Falabella quer tratamento melhor à cultura nas periferias Sophia Tibúrcio 3º período
Cida Falabella, vereadora, atriz e diretora de teatro, ministrou uma palestra sobre a produção cultural nas regiões periféricas da cidade.
dentro da programa da Jornada das Utopias do Curso de Jornalismo da PUC. A tarde de palestras foi aberta por um espetáculo da atriz Cida Barbosa protestando contra o descaso com o bairro da Lagoinha. Em
uma apresentação forte e expressiva, a atrizdefiniu a Lagoinha como uma região que não é festa o tempo todo, como muitos pensam, pela tradição da área. Logo em seguida, interligando a palestra com a
peça, Cida Falabella inicou sua participação. “Tudo que a Cida nos apresentou na performance tem a ver com a cultura periférica, pois essa cultura não é apenas “afastada do centro”, mas também de territórios com manifestações que não estão no centro das decisões e interesses políticos”, disse ela. Ela ressaltou que, muitas vezes, é mais importante o que está por trás do espetáculo, pois “a arte é uma possibilidade de se reconstruir o mundo, de um modo melhor. Assim como a Cida Barbosa denuncia os problemas da Lagoinha, meu grupo de teatro ZAP [Zona de Arte da Periferia] denuncia o genocídio de negros moradores periféricos no país, populaçãocujo indice de mortes é
altíssimo”. A vereadora ressaltou as dificuldades de manter iniciativas culturais fora da região central. Segundo ela, para esses “fazedores de cultura”, quando o Estado não os atrapalha já é lucro. “A cultura da periferia é uma cultura viva, em processo, que existe apesar do Estado. Ela vive muito por ela mesma”. Cida acrescentou que o problema está em quem faz os projetos de lei nas áreas de educação e cultura: “Muitas vezes não tem qualquer relação com elas; não são pessoas que frequentam o teatro, saraus, espaços e manifestações artísticas”. Cida ainda avaliou as manifestações culturais como de “altíssima qualidade”. Elas man-
têm viva a utopia de um mundo melhor. “A cultura em BH é forte e expressiva em todas as áreas, dança, teatro cinema, hip hop, mas há um abismo entre as políticas públicas para cultura e a produção cultural. A gente precisa tentar aproximar esses dois campos. A cultura é um elemento fundamental para que não percamos mais direitos”, disse. O empenho junto à Secretaria de Cultura “é também nesse sentido, de lutar pela institucionalidade da cultura, com uma política que deveria atravessar todas as outras políticas públicas”. Segundo ela, ninguém da direita à esquerda, entendeu ainda o que a cultura pode fazer no país para realmente mudar o que é preciso.”
Jornada privilegia discussão do jornalismo empreendedor Bruna Curi 4º período
Jornalismo empreendedor. Esta ideia foi defendida pela jornalista Nana Queiroz que participou da Jornada das Utopias, que aconteceu na PUC Minas, no início de outubro. A jornalista discutiu a crise no jornalismo e mostrou como o empreendedorismo pode ser a solução desse problema. Ela exemplificou sua posição relatando
seu trabalho na revista “AzMina” explicando as diferenças fundamentais entre o jornalismo de causa e o ativista. Ela também explicou as diferenças centrais entre o jornalismo de causa e o “jornalismo ativista”. Os blogs e as novas mídias que estão surgindo são completamente aliados a uma causa, é um jornalismo mais especializado, e engajado. Já o ativista põe a mão na massa, participa de outras atividades, que
disseminam sua ideologia básica. Segundo ela, é fundamental que essa nova geração de jornalistas em formação aprenda a empreender, pois essa é uma atividade nova do jornalismo. O importante para o sucesso neste caminho é deixar de lado a arrogância. Ela vê isso como uma chance de sair da crise, além de ser uma forma que dá maior independência editorial: “Você pode se pautar por
sua própria ética, levando em conta sua consciência e o Código de Ética do jornalismo”. Outra opção atual são as agências de fact-cheking, assim como os famosos influenciadores digitais. De acordo com Nana, o jornalismo está migrando para as redes sociais, como o Facebook, e vai chegar um momento em que as pessoas vão deixar de crer nos grandes veículos e “começar a buscar os veículos de jornalis-
tas”. Sendo assim, é necessário preparar-se para ser multimídia. “Tem que saber escrever um texto, tirar fotos, editar vídeos, fazer ‘podcast’ e ter habilidade para usar as redes sociais”, explicou. O trabalho dela com a revista “AzMina” começou como uma forma de tentar fugir das grandes empresas jornalísticas, de adquirir independência editorial. Pensando assim, Ela se reuniu com outras mulheres que bus-
cavam chance de fazer um jornalismo feminista e independente. Segundo Nana, é real a “ideia de que revista “vende” credibilidade, a ideia de pertencimento e é uma oportunidade de contribuir para transformar o mundo em um lugar melhor. Nana também ressalta a importância de cuidar do “seu nome e sua ética, pois eles são o seu capital de credibilidade jumto aos leirores”.
Excesso de público causa problemas à organização da Jornada Sylvia Amorim 4º período
A Jornada das Utopias contou com diversas palestras e oficinas que animaram os alunos durante uma semana. O entusiasmo dos estudantes e a chuva geraram dificuldades para a organização do evento. No primeiro dia, a conferência “Mídia, vulnerabilidade e subjetividade”, com a jornalista Fabiana Morais, aconteceu na arena do DCE. A tenda colocada para proteger o público do sol, que batia diretamente no local, bloqueou a corren-
te de vento e criou um ambiente muito abafado. Logo, algumas pessoas da plateia passaram mal, ou se retiraram devido ao calor intenso. De acordo com o professor e coordenador do curso de Jornalismo, Ércio Sena, a ideia era encontrar um lugar onde houvesse uma ambientação diferente e despojada. “Quando falaram que ia estar coberto com lona, a gente achou que o problema tanto do calor quanto da chuva seriam resolvidos, mas depois avaliamos não ter sido a melhor alternativa”. Ob-
servou porém que isto não prejudiou a qualidade da discussão que foi feita, embora reconheça que “foi uma limitação”. A dificuldade é que os demais auditórios da universidade não estavam disponíveis. No prédio 13, palestras, workshops e oficinas aconteceram em todos os andares e havia tantos inscritos que as salas muitas vezes não atendiam à demanda de alunos. Nas oficinas de dança, por exemplo, que precisam de espaço, as salas ficaram completamente cheias. Em outras palestras, mui-
tos alunos tiveram que se sentar no chão devido à falta de cadeiras. O professor Ércio explica que esse problema decorre da disponibilidade de salas de acordo com a organização das aulas no prédio. “Nós não escolhemos as salas, usamos as que estão disponíveis”. Temas de interesse social foram trabalhados por autoridades da comunicação e provocaram debates importantes, mesmo quando o assunto não era novidade absoluta para o público. O evento contou com o empenho de professores, funcioná-
rios, alunos e voluntários e é fundamental para o aprendizado e desenvolvimento de uma visão de mundo ampla. “Na verdade a Jornada é um es-
forço no sentido de trazer as questões do conhecimento que estão fora da universidade para serem pensadas aqui”, disse o professor Ércio Sena. Igor Batalha
Alunos lotaram todos os eventos da Jornada das Utopias
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7 INTERNACIONAL
Revolução Russa marca o século XX Sob o lema de paz, terra, pão, liberdade e trabalho Lênin, Stalin e Trotsky procuraram organizar o povo russo, especialmente os trabalhadores, para uma nova era Matheus Leão Rebeca de Castro 3º e 2º Períodos
A Revolução Russa, que está completando 100 anos , para muitos historiadores, o acontecimento político mais importante da história contemporânea. O movimento rompeu com o modelo monarquista, vigente até 1917 e pregou a liberdade, igualdade e o empoderamento do povo trabalhador. Os bolcheviques, liderados por Lênin, defendiam a presença dos operários e camponeses no poder, governando para todos. Hoje, os ideais revolucionários permanecem vivos, diferenciando segmentos políticos e governos no mundo inteiro mas, neste momento, em muitas regiões do mundo a voz dos liberais está mais audível e,depois de anos de luta, as conquistas dos trabalhadores - legado da revolução russa - parecem regredir. A cônsul honorária da Rússia em Minas Gerais, Carolina Enhan, avalia a Revolução Russa como de grande importância no cenário mundial, por destacarse das suas antecessores: “ela difere das revoluções anteriores, por sua forma de planejamento, e foi arquitetada para ter a proporção e repercussão que teve”. PRÉ-REVOLUÇÃO No início do século XX, a Rússia viu a necessidade de se modernizar para ser respeitada pelos impérios que já eram industrializados. O país ainda mantinha estruturas características do feudalismo e era governado por uma aristocracia autoritária, liderados pelos czares.Mais de 70% da população vivia e trabalhava em condições precárias das áreas rurais e era analfabeta. Desde o século XVIII, a dinastia dos Romanov dominava o país. Desde 1894 até 1917, no ápice do levante, ocupava o poder, o czar Nicolau II. Em 1904, para completar a insatisfação dos burgueses e da população, a Rússia foi derrotada pelo Japão em uma disputa por territórios na Ásia.A fragilidade econômica, social e de defesa do país piorou sensivelmente com
a sua participação na I Guerra Mundial. Entre 1904 e 1905 ocorreram longos períodos de greves por parte dos trabalhadores, foi criada a União dos Operários. A classe ganhou força e, em janeiro de 1905, escreveu um manifestoe uma petição. Milhares de operários foram até ao Palácio de Inverno, em São Petersburgo, desarmados, para entregar a petição. ao czar. Mas o que se seguiu foi um massacre que ficou conhecido como “Domingo Sangrento”: mais de mil pessoas morreram após as tropas atirarem contra a multidão. Alisson Parreiras, professor de história contemporânea na PUC Minas, explica que esse momento foi uma amostra do que aconteceria em 1917, foi o “ensaio geral”da revolução. “Em 1905, há o reconhecimento dos sindicatos, a criação da Duma Imperial, um parlamento nacional. Uma série de conquistas que na prática foram gradativamente dificultadas pelo poder central. Então, em 1917, há uma nova explosão de descontentamento com o regime”. A população russa, insatisfeita, provoca a renúncia do czar e se instaura o Governo Provisório. Os membros do novo governo se identificam com os interesses da burguesia. O que não traz tranquilidade aos operários que querem salários mais justos e os camponeses, terras. A REVOLUÇÃO
Em outubro de 1917, após muitos embates, o Governo Provisório é deposto. O Congresso dos Sovietes elege o Conselho dos Comissários do Povo, sob a presidência de Lênin (Vladimir Ulyanov). Era o nascimento do primeiro Estado Socialista: a República Socialista Federativa Soviética Russa. Os ideais da revolução eram de caráter libertário. Apoiavam a igualdade, a luta de classes que acabasse com a discrepância entre os ricos e os pobres. O governo tomou algumas medidas, como a distribuição de terras aos camponeses e a estatização de propriedades privadas. No primeiro momento, a revolução foi vista como a salvação dos povos oprimidos. O
Marx Nascido em 1818, foi um filósofo e revolucionário alemão, cujos ideais socialistas inspiraram o líder revolucionário russo Lênin. Suas obras mais importantes foram o “Manifesto Comunista”, escrito em parceria com Friedrich Engels, e “O Capital”. A publicação do Manifesto, em 1848, convocou a união da classe trabalhadora resultando na Primavera dos Povos, o primeiro movimento do proletariado. Marx defendia que uma Revolução só poderia começar e se concretizar quando essa classe tomasse o poder, alcançando o comunismo, um sistema político sem desigualdades socioeconômicas. Marx morreu em 1883, vitima de serios problemas de saúde.
Revista Pess
Lênin líder do partido Bolchevique e símbolo da Revolução Russa
apoio popular foi grande. Carolina Enhan conta que diversas ideias conhecidas hoje, nasceram naquela época, como os princípios do movimento feminista. “Os parâmetros da revolução russa incluiam a liberdade para as mulheres, o fim do casamento patriarcal, o direito ao voto, a liberdade para poderem trabalhar e a possibilidade do aborto, para que pudessem decidir quando e se, queriam ter filhos (na época não existia nenhum método contraceptivo). Creches foram construídas para que as mães pudessem trabalhar”, explica a cônsul. Os camponeses, 80% da população, viviam em condições precárias. As medidas do governo possibilitaram que pudessem cultivar a terra em melhor situação. Mas o padrão de vida era inferior ao resto da Europa. Poucos eram alfabetizados. Em 1920 foi decretado que todos os cidadãos aprendessem a ler. Grupos de jovens ativistas foram para o interior do país, afim de ajudar na alfabetização dos camponeses. Apesar dos avanços sociais, a Rússia ainda sofria com a economia atrasada da época czarista. Então, em 1921, os Bolcheviques deram início à recuperação da economia com a Nova Política Econômica (NEP) que procurou concentrar investimentos nos setores de energia e extração de matéria prima. Além da per-
Lênin Filho de família de classe média alta, Vladimir Ilyitch Ulyanov, mais conhecido como Lênin, nasceu em Simbirsk, na Rússia, no dia 22 de abril de 1870. Em 1887, aos 17 anos, foi cursar a faculdade de direito em Kazan. Na faculdade, teve contato com a ideologia socialista, através da leitura de Marx, tornandose um marxista. É de Lênin uma análise da economia russa à luz dos ensinamentos de Marx e Engels. Em 1898 fundou o Partido Social Democrata Russo (PSDR) com exilados russos na Suíça. Voltou à Rússia, onde o partido foi desarticulado pela polícia e Lênin, preso e exilado, durante três anos, na Sibéria. Em 1903, o PSDR se dividiu devido a divergências internas, formando o Partido Bolchevique, liderado por Lênin, que defendia a revolução imediata como o único processo através do qual as mudanças na Rússia seriam efetivas, e o Partido Menchevique que acreditava em um processo demorado com a participação da burguesia. Em 1922, tornou-se o líder da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Ele morreu no dia 21 de janeiro de 1924 por problemas de saúde.
missão para a volta da iniciativa privada em alguns setores da economia. A URSS
Em 1922, foi criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) pelos bolcheviques. Integrava o grupo países como: Rússia, Lituânia, Letônia, Estônia, Geórgia, Armênia, Azerbaijão, Bielorrúsia, Cazaquistão, Moldávia, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão. Após a morte de Lênin em 1924, houve intensas disputas entre líderes do Partido Comunista para assumir o poder. De um lado Joseph Stalin que defendia o socialismo apenas na União Soviética e do outro Trotsky que acreditava que o socialismo deveria ser implantado em todo mundo. Stalin venceu a disputa e Trotsky foi exilado. Perseguido por Stalin, refugiou-se no México onde foi assassinado por agentes russos. “A revolução russa gerou enorme expectativa: abriu os olhos da humanidade para outras utopias,para a chance de crer-se em projetos e possibilidades alternativas de vida. Foi um acontecimento enriquecedor capaz de permitir uma postura mais crítica e efetiva na avaliação da sociedade, para mudá-la positivamente, observou o professor Alisson.
Stalin Ioseb Besarionis Dze Vissariónovitch Stalin nasceu em Gori, Rússia, no dia 21 de dezembro de 1878. Era filho de pais pobres e passou muitas dificuldades na infância. Em 1889 entrou para a luta revolucionária. Militante do movimento social-democrático é preso e deportado para a Sibéria, onde ganha o apelido de Stalin, que em russo significa homem de aço. Após várias prisões e deportações, conhece Lênin e entra para o Partido Social Democrata Russo, tornando-se seu braço direito. Na Revolução Russa de 1917, desempenha o papel de organizador e depois da tomada do poder, é nomeado comissário das Nacionalidades no Conselho dos Comissários do Povo. Em 1922 é eleito secretário-geral do Partido Comunista da URSS. Após a morte de Lênin, em 1924, concorre com Trotsky para a sucessão do comando. Trotsky defendia que o comunismo internacional, enquanto Stalin era a favor de limitá-lo à URSS. Stalin vence a disputa e se torna o Comandante da União Soviética. Morre em Moscou no dia 5 de março de 1953 devido a um derrame.
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História do MARCO se confunde com a dos alunos e da comunidade
Carol Cassese Jaynne Lamounier 2º Período
Fundado em 1972 pela primeira turma de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes, o Marco completa 45 anos em dezembro, consolidando-se como um dos jornais -laboratórios mais antigos do País. Desde sua primeira edição, tem um caráter de defesa e expressão dos anseios de moradores dos bairros vizinhos aos campi Coração Eucarístico e São Gabriel. O Marco também é fiel ao seu caráter didático: através dele, alunos de jornalismo aprendem todo o processo de produção de matérias, desde a identificação dos temas (pauta) até a edição das páginas. Trata-se de um jornal aberto não só aos acontecimentos dentro da universidade mas também aos fatos dos bairros vizinhos e às questões afetas à cidade e ao País. Além de prêmios de reconhecimento, o Marco se orgulha de ter colaborado para inúmeras conquistas da comunidade. Uma das mais significativas foi em 1985, quando os moradores da Vila 31 de Marco, aliados ao jornal, passaram a reivindicar a construção de uma passarela so-
Em seus 45 anos, jornal-laboratório tem sido um importante veículo para o aprendizado dos alunos e porta-voz das conquistas dos moradores. Nas suas 333 edições, vem abordando temas de interesse público relacionados aos bairros vizinhos à PUC, à cidade de BH e ao País
bre o Anel Rodoviário, construída posteriormente. Essa luta durou cerca de dez anos. Era grande o número de de mortes causadas pela travessia das pistas duplicadas da BR-262. A professora Ana Maria Oliveira, editora-chefe do Marco desde 2015, observa que a experiência do jornal é hoje referência para jornais-laboratórios de
várias regiões do país. “O Marco sempre foi um porta-voz da comunidade do Dom Cabral e Coração Eucarístico”. Ela admie que, atualmente, há menos vida em comunidade. ”As pessoas convivem menos com a vizinhança pois têm menos tempo, uma vez que o dia a dia ficou mais agitado.” Para Ana Maria, outro diferencial do veículo
Jornal-laboratório marca a vida de estudantes desde a sua criação O significado do nome “Marco” é muito simbólico, pois faz referência a um marco na vida coletiva dos alunos, como algo inesquecível. Essa explicação é dada pelo professor de comunicação, José Milton Santos, aluno da primeira turma de jornalismo da Universidade, que criou o jornal. Ele relata que, antes de os alunos publicarem a primeira edição, promoveram uma pesquisa no bairro Dom Cabral para saber qual era o perfil do leitor. A síntese desse estudo foi anexada na primeira edição do veículo. Como, desde o início, o jornal e a comunidade tinham um vínculo muito forte, ao distribuir
os exemplares pelo bairro, os estudantes de jornalismo perceberam que o público mais interessado eram as crianças. Por conta disso, na segunda edição foi inaugurado o Marco Infantil, totalmente direcionado para as crianças e onde elas podiam ter seus desenhos e cartas publicados. A relação de harmonia entre o Marco e seus leitores não parou por aí. A equipe do Marco promoveu diversas atividades para a comunidade, como uma gincana escolar, com o intuito de conseguir remédios para o posto médico local, que recolheu 23.000 remédios. E também adotou posturas de defesa dos direitos dos cidadãos.
Num período fez inúmeras matérias denunciando a falta de qualidade no transporte público no Dom Cabral, o que resultou em uma resposta imediata do consórcio que presta serviço a essa região. A profa. Claudia Siqueira, diretora da Faculdade de Comunicação e Artes, considera o cunho local comunitário do Marco uma das características mais marcantes da publicação. “Penso que, por colocar em pauta assuntos que interessam aos moradores do Coração Eucarístico, Dom Cabral, Minas Brasil, ele contribui para a preservação da memória desses bairros e dos cidadãos dessa região”, afirma.
é a relação estabelecida entre os editores, monitores e repórteres. “Tanto os monitores quanto os alunos que escrevem para o Marco recebem todo tipo de assistência, pois os editores estão sempre dispostos e próximos para orientá-los”, diz. Segundo o professor José Maria de Morais, editor gráfico do jornal há 30 anos, a publicação passou por nove reformas gráficas. “Quando entrei no Marco, o jornal era montado nas gráficas. Porém, sabemos que o fazer jornalístico também se relaciona com a diagramação e, por isso, os monitores passaram a ser responsáveis também pelo aspecto gráfico”. FORMAÇÃO
Giulia Staar, ex-monitora do Marco, afirma que sua experiência no jornal resultou em um aprendizado intenso. “Passei um ano trabalhando no Marco e consigo perceber que saí de lá muito diferente. Tive autonomia para abordar temas que a mídia tradicional geralmente ignora”, relata. Mariana Durães, também exmonitora, é atualmente repórter do jornal Hoje em Dia. Ela define o jornal-laboratório como uma “escola de jornalismo impresso” e afirma: “No Marco temos liberdade de arriscar, propor, errar e consertar as falhas. Quem escreve sempre para o jornal, com certeza, vai evoluir muito mais no texto, encontrar seu próprio estilo”. Jornalistas renomados
como Chico Pinheiro, Adriana Araújo, Álvaro Roberto, Lucas Figueiredo já passaram pelo Marco e fazem parte da história da publicação. Mariana destaca o prêmio jornalístico que recebeu, em conjunto com Lucas Félix, Bárbara Souto e Rafaella Rodinistzky, na categoria estudante. “No começo, eu tinha algumas dificuldades e inseguranças. Esse prêmio [conferido pelo Sindicato dos Jornalistas] mostrou para mim que eu estava no caminho certo”, afirmou. Outros alunos do curso reconhecem a importância do jornal-laboratório para a FCA. Marianne Fonseca, do 7° período, afirma que o veículo representa uma possibilidade de aprendizado intenso: “O Marco é o lugar onde você erra e aprende, para chegar treinado no mercado de trabalho, onde você não pode errar”. Segundo Rebeca de Castro, do 2º período, o diferencial do Marco é o fato dele ser produzido por alunos, o que faz com que eles sempre procurem a melhor reportagem para o aprendizado, afastando-se do sensacionalismo. COMUNITÁRIO
O jornalista Edson Martins, que foi editor num período a partir de 1988, reforça a importância pedagógica que o veículo possui: “O Marco sempre foi um lugar de troca de experiências. Penso que
a existência de um jornal laboratório é fundamental para qualquer curso de jornalismo”, destaca. Ele conta que o cunho comunitário do jornal se relaciona com sua história, pois o veículo surgiu no período da ditadura, época em que muitos jornais eram voltados para bairros e associações. Para o prof. Ercio Sena, coordenador do curso de Jornalismo, a importância do Marco transcende a necessidade de se ter um jornal-laboratório no curso de Comunicação. “A comunidade no entorno da PUC entende o jornal como um ponto de contato e mediação da população desses bairros com a universidade”, afirma. Ercio ressalta que os alunos da Comunicação têm um carinho especial pelo Marco, já que o veículo funciona como uma porta de entrada para a atividade jornalística.
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IMPRENSA
Repórter se descobre ao apurar e narrar os acontecimentos se esqueceu do que aprendeu no Marco:“O que eu Do primeiro ao oita- aprendi, ali, em vo período. Do calouro outras reportasonhador ao veterano gens me serve realizado, todos pas- até hoje nas sam por aqui. Foram pautas que pretantas matérias publi- ciso fazer, seja cadas. Foram tantas em qual país reuniões de pauta, tan- for. (No Marco) titos “minha matéria não rei fotos, descobri o que entrou”, “quando é o era pauta, quais termos deadline?”, “já saiu o não valem a pena utilijornal?” Esse casamento zar em uma reportagem entre aluno e o jornal já e, principalmente, o dedura 45 anos. São bo- safio de encontrar temas das de rubi. que não são vistos faA PUC São Ga- cilmente pelos jornalisbriel foi inaugurada em tas da grande mídia do 2000; dois anos mais Brasil”, revela. tarde, o Marco implanFurst também diz tou ali uma sucursal. que através da monitoO jornal chegou como ria se descobriu jornalisum complemento e um ta: “No Marco, foi uma atrativo a mais do cur- das primeiras vezes em so, à época, de Comu- que me senti como jornicação Integrada. E lá nalista. Quando vi a puse vão 15 anos de par- blicação da reportagem, ceria entre o Marco e os percebi concretamente alunos da unidade. que eu poderia ser jorA aluna de jornalis- nalista. Foi excitante mo Jéssica de Almeida, e é uma sensação que do 8º período, lembra tenho até hoje quando perfeitamente a sua ex- vejo uma reportagem no periência. “Eu escrevi ar. Depois escrevi para para o jornal já no meu O Estado de S. Paulo e primeiro período. Essa O Globo, jornal em que oportunidade reforça a colaboro até hoje, desautoestima dos alunos de 2014. Às vezes é até logo nos primeiros perí- mais fácil do que alguodos do curso e coloca mas pautas que tive que os estudantes em conta- fechar para o Marco. to com apuração e reda- Amo televisão e rádio, ção jornalística no início mas me realizo muito da trajetória acadêmica. quando vejo uma reporVer meu texto publica- tagem impressa”, condo no jornal encheu-me fessou. de esperança de ter meu O recém-chegado ao nome impresso em ou- curso, Vitor Oliveira, tras páginas.” 2º período, vê o Marco O ex-aluno de jor- como uma preparação; nalismo Richard Furst, no jornal coloca-se em hoje correspondente in- prática tudo que é enternacional, conta como sinado em sala de aula: foi sua experiência com “Eu estou há um ano o jornal: “Eu escrevi para na PUC (São Gabriel) e, o Marco no primeiro nesse período, já esmês, do primeiro semes- crevi uma matéria para tre do curso (setembro o Marco. Foi fantástico de 2005). A reportagem isto de, na propria uniera sobre carreteiros a versidade a gente poder cavalo no São Gabriel. praticar oque aprenEles enfrentavam pro- de em sala de aula. Eu blemas ao usar cavalo acho incrível. Os alunos pelas ruas, mas queriam aprendem e têm reunião muito manter o ofí- de pauta; gente tem nocio. Imagino que ainda ção de como funciona hoje enfrentem proble- um veículo grande”, obmas do gênero”. Ele não serva. Taynara Barbosa 3º período
Entrevista com Dom Joaquim Mol
Para reitor, jornal é um elo entre a PUC e sociedade O Jornal MARCO está completando 45 anos. Como o senhor avalia essa história e a importância deste veículo para a comunidade acadêmica e os moradores dos bairros vizinhos à PUC? O Jornal Marco, da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas, se soma a outras importantes iniciativas de nossa Universidade de buscar efetiva e afetiva inserção nas comunidades em que está localizada para, mais do que prestar serviços, contribuir por meio de suas expertises para que haja mais esclarecimento, reflexão e a construção de uma sociedade mais justa e cidadã. Durante esses 45 anos, a PUC tem incentivado o aperfeiçoamento do jornal MARCO. A universidade acredita no papel transformador de um jornal-laboratório junto à sociedade? É o que todos temos que buscar cotidianamente com nossos projetos, programas e ações da PUC Minas. A Universidade adotou já faz alguns anos dois lemas importantes: a ideia de que a sociedade pode se transformar pelo conhecimento e de que, no nosso caso, a PUC Minas é mais que uma Universidade. Ela busca, fortemente, ser um ator social comprometido com as importantes transformações necessárias para que tenhamos um mundo melhor e mais pleno. Entendo que o Jornal Marco seja um desses nossos modos importantes de atuação. Que planos a Reitoria tem para o jornal MARCO? Pretende continuar incentivando o jornal? A atuação da Reitoria da PUC Minas se dá por meio de dimensões e canais em seus vieses administrativo e acadêmico. Experiências acadêmicas e laboratoriais como o Jornal Marco, que merece nosso reconhecimento e aplauso, são de gestão direta dos cursos e dos institutos e faculdades em que estão instalados. A Reitoria mantém interlocução permanente com diretores de faculdades e institutos, buscando também apoiá-los em suas definições de prioridades e, diretamente, na gestão dos processos e dispositivos por meio dos quais se dá a atuação de professores e alunos na construção cotidiana da formação de novos profissionais.
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10 SOCIEDADE
Doação de órgãos cresce e salva vidas Bruna Bentes Marina Menta
Gesto pode dar segunda chance e uma nova vida a pessoas na fila de espera para receber órgãos, mas ainda há desinformação
1º Período
Igor Batalha
Setembro, no Brasil, é o mês de lembrar as pessoas sobre a doação de órgãos; é momento importante para conscientizar a população sobre o assunto. O Brasil tem uma legislação sobre transplantes semelhante à da Espanha, mas enquanto este país realiza 33 transplantes por milhão de habitantes, por aqui são realizados apenas 8,9 transplantes por milhão de habitantes. Essa proporção poderia ser muito maior, não fossem questões culturais, religiosas, logísticas e de recursos públicos que impedem o melhor funcionamento do sistema. Existem dois tipos de doador, o vivo e o morto. O doador vivo tem entre 21 e 60 anos, sendo que entre 21 e 25 anos ele é chamado de doador jovem. Nesse caso, para realizar uma doação é necessário acompanhamento psicológico para verificar se esse jovem tem autonomia para tal decisão. O doador com morte cerebral notificada pode ter órgão retirado, desde que a família autorize; se não conseguir contatar os parentes, a pessoa deixa de ser doadora em potencial. De acordo com a dra. Sandra Vilaça, nefrologista e coordenadora da Unidade de Transplantes
Unidade de Transplantes do Hospital Felício Rocho é referência em Minas
do Hospital Felício Rocho, maior unidade de transplantes de Minas Gerais, 50% das famílias são contrárias à doação de órgãos e negam a extração deles no momento em que o hospital notifica a morte. Um dos motivos dessa negação é o embasamento cristão da sociedade brasileira que torna o corpo morto um tabu. Por aqui, a doação é considerada um tema desconfortável, e, por isso, as pessoas não pensam ou comentam sobre o assunto. Além disso, há o fator desinformação. O marido da funcionária pública, Rosângela Costa, Elísio Glaciero, precisou de um transplante de coração em 1991 quando foi diagnosticado com amiocardiopatia dilatada. Em princípio, o casal sofreu com o medo
de não conseguir um doador compatível e o receio de que Elísio ficasse muito tempo na fila de espera. No entanto, em um dia em que ele passou mal e foi levado ao hospital, o médico afirmou que tinha encontrado um doador. A cirurgia foi um sucesso e, depois, a família de Rosângela e do doador se tornaram amigas. A funcionária pública descobriu que a mãe do doador não sabia o que era doação de órgãos. “A mãe do Cesario falou comigo que ela nem sabia direito o que era doação e que na hora do desespero falou sim. Depois ficou com medo de ele estar vivo, ainda, ao se tirar o órgão, mas deu tudo certo”, afirma Rosângela. Ela diz ainda que, após a doença do marido, toda a família se conscientizou a
respeito da necessidade de doar órgãos. TEMORES
O medo é o maior entrave às doações nos dias atuais, com a população temendo negligências no trabalho do sistema de saúde pública. Há também medo do órgão ser vendido ou desconfiança quanto ao parente estar, de fato, morto. Porém, nada disso se justifica: para realizar a captação de órgãos, é necessária a confirmação da morte cerebral e o diagnóstico de morte encefálica. O processo é muito seguro, não existindo a possibilidade de o doador estar vivo. Em relação à desconfiança acerca da atitude dos médicos, é importante esclarecer que são diversos
órgãos públicos envolvidos e há, sempre, mais de um médico envolvido no processo. Conforme a dra. Sandra, “o brasileiro joga muito a responsabilidade no médico”, porém os médicos estão sujeitos às normas jurídicas assim como qualquer cidadão. O sistema de doação e transplante de órgão é complexo, muito bem estruturado e segue protocolos legal e clínico de amplitude nacional, não cabendo a um único médico poderes sobre o processo. Em relação às falhas estruturais do sistema de transplantes, as principais são logística e investimento. O Brasil é um país extenso e o transporte de órgãos é difícil. A lista de espera de transplantes é nacional, porém regionalizada para agilizar o processo, pela proximidade. No caso de Minas Gerais, a regional é composta por Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas. Além disso há a não equidade de direitos em razão da distância. Por exemplo, um paciente do interior tem menor chances de conseguir um transplante de coração do que um morador de capital, uma vez que o tempo hábil é contado em poucas horas. “O transplante é considerado uma cirurgia não só de urgência, mas uma cirurgia de tempo
Elisa Senra
Novela provoca reflexões sociais Ana Flávia Barbosa 3º Período
“A Força do Querer”, folhetim que a Rede Globo exibiu diariamente em seu horário nobre, conquistou níveis recordes de audiência. Uma das causas deste sucesso foi o drama do jovem transexual Ivana, vivido pela atriz Carol Duarte. Ivana era uma jovem que passou a vida sem se reconhecer em seu próprio corpo, rodeada por caprichos de sua família e convenções sociais que a impossibilitavam de sair do casulo em que vivia. Fora da ficção, há milhares de pessoas que assim como Ivana não se reconhecem a si mesmas. Leandro Caldas da Silva, 29, viveu o mesmo drama da protagonista. Nascido na pequena cidade de Dores do Indaiá, na região central de Minas
Gerais, Leo, viveu 18 anos em um estado de frustração consigo. “Eu simplesmente não saía de casa, ficava com medo de chegar no portão e o pessoal achar que eu era gay. Quando chegava alguma visita eu me trancava, não suportava ver ninguém”. Após a maioridade, Leo começou a sair mais, tentou se socializar com amigos, mas sempre com aquele pé atrás, com medo do julgamento das pessoas. Mas, assim como a personagem Ivana, Leo não aceitava mais se olhar no espelho e não se enxergar. “Eu não podia continuar assim, estava vivendo momentos de pânico e de depressão”. Após conversar com algumas pessoas mais próximas, Leo viu que estava na hora de se libertar do corpo que não o comportava.
“Eu me lembro que foi em uma festa à fantasia lá no interior. Aproveitei a ideia de que todo mundo estava indo fantasiado e me montei como uma mulher. Quando eu cheguei, todo mundo parou, ficou olhando um pouco assustado. Alguns até tiraram fotos tentando me zombar. E eu sabia que dali em diante não tinha como voltar atrás mais, é isso que eu sou agora”. Para Leo, a fase de transformação e de auto reconhecimento não foi traumática. Ela conta que conseguiu o respeito de sua família e amigos, apenas sua avó ficou temerosa sobre como o mundo ia receber a nova Leo. Ela preferiu não mudar seu nome. “Eu gosto do meu nome e isso é algo que não me importa. Na
verdade, em cada lugar me reconhecem de um jeito diferente, no trabalho é Leo, mas no bairro onde moro aqui em Belo Horizonte todos me conhecem como Thais”. Depois de ficar um tempo no interior, mudou-se para a capital. “Foi a melhor fase da minha vida. Aqui as pessoas julgam menos, nos olham menos. Fora que, para o meu trabalho, é melhor: eu sou cabeleireira e aqui em Belo Horizonte há mais oportunidades”. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), no Brasil a cada 25 horas um LGBT é morto. Em 2016 foram contabilizados 343 assassinatos. Este dado assustador mostra o quanto o Brasil é retrógrado nas pautas LGBTs. Mesmo triste, Leo não se intimida quando vê notícias de homofo-
urgência”, define a médica. Muitas vezes não se consegue realizar o transporte no devido prazo, já que são poucos os centros capacitados para realizar esse tipo de cirurgia. Em relação ao investimento, falta a aplicação de verbas em tecnologia para possibilitar mais transplantes. Como relata a dra. Sandra, há em Minas somente um centro que realiza transplante de pâncreas e só dois que realizam o de coração. O testamento é uma forma de garantir em vida a vontade de doação de órgão. Conforme o advogado Admilson Antônio de Moura, “o testamento é a vontade da pessoa dentro da lei”, porém o tempo é restrito. A doutora Sandra afirma que, para a autorização do testamento, é preciso contatar o juiz e o tempo de aproveitamento dos órgãos é pequeno. Por isso, é necessário informar a população sobre a importância da doação. “É captado o órgão de alguém que morreu, cuja família está toda triste, os médicos também estão tristes naquele momento. Mas quando eu venho para o hospital e implanto aquele órgão em alguém, de novo, eu planto vida. Há um renascimento e este é o objetivo do transplante”, conclui a doutora.
Leo se identificou com o drama abordado em novela bia. “Não deixo esses casos me inibirem. Eu me respeito o suficiente para aceitar o que eu sou. É lamentável, tem gente que ainda tem a cabeça muito atrasada, mas sigo em frente”. DIREITO AO NOME Leo é um exemplo real de superação. Venceu os julgamentos da família, dos amigos. Trabalha, se sustenta e é o que sempre quis ser. Por preferência, ela ainda usa o nome com
que foi registrada. Todavia muitas pessoas transexuais optam por mudar o nome para se adequar ao que representam socialmente. Segundo o Decreto Nº 8.727 todos os travestis e transexuais têm direito ao nome social e à identidade reconhecidas. “Os órgãos e as entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, em seus atos e procedimentos, deverão adotar o nome social da pessoa travesti ou transexual”, diz o decreto.
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11 CIDADE
Serra: conflitos afetam o dia a dia Igor Batalha
Meios de comunicação não retratam fielmente a realidade no Aglomerado Luiz Gustavo Rocha Nathalia Braz 3º período
Conflitos relacionados ao tráfico de drogas fazem parte do cotidiano dos moradores de aglomerados no Brasil. A favela da Rocinha passou, recentemente, por um período de hostilidade intensa por causa do tráfico local e tem sido protagonista de coberturas jornalísticas diárias, seja pela dimensão dos conflitos, seja pelas peculiaridades que atingem a vida dos moradores da região. No mesmo período, o Aglomerado da Serra, localizado na região Centrosul de Belo Horizonte, vivenciou disputas. Ele encampa a maior favela de Minas Gerais e a terceira maior do Brasil, com aproximadamente 50 mil habitantes. É formado pelas vilas Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora Aparecida, Marçola, Santana do Cafezal, Nossa Senhora de Fátima e Novo São Lucas. Os moradores ficam sujeitos ao fogo cruzado que vem acontecendo desde março deste ano.
A gangue denominada Pau Comeu, da Vila Aparecida, e a gangue Del Rey, da Vila Nossa Senhora da Conceição, estão em atritos intensos nos arredores dos bairros Serra e São Lucas. Houve dias sucessivos de tiroteios organizados pelas gangues e os embates internos acabam preocupando a população dos bairros vizinhos. Porém, moradores de dentro do Aglomerado já estão acostumados com essas situações e relatam que são poucas as mudanças que afetam a vida da população. Segundo a Polícia Militar (PM), a segurança no local acontece 24 horas por dia com rondas ininterruptas do Grupo Especial de Policiamento em Áreas de Risco (Gepar). O CENÁRIO
De acordo com a Polícia Civil do Rio de Janeiro, o conflito na Rocinha se dá entre Antônio Francisco Bonfim Lopes, o “Nem” da Rocinha, detido no presídio federal de Rondônia desde novembro de 2009, e Rogério Avelino da
Silva, ou Rogério 157, que sucedeu Nem como chefe do tráfico. O conflito se iniciou a partir de uma ordem de Nem, para que Rogério deixasse a favela, a fim de restabelecer o comando da região. Desde então, a disputa instaurada na Rocinha se tornou uma preocupação das autoridades, dos próprios moradores e de outros de regiões vizinhas. Em ambos os casos, disputas internas no tráfico criam situações de grande desafio. Em BH, o estudante de Ciências Sociais da PUC, Jeremias Souza, mora na Vila Fátima, no Aglomerado da Serra, há 40 anos. Ele explica que o cotidiano das pessoas que vivem ali não tem mudanças drásticas em tempos como esses, mas o monitoramento da polícia, que ronda a região para fazer a segurança, aumenta estrategicamente, causando algumas modificações. “Quando está instalado o conflito mesmo, a gente vê com mais frequência. Os bailes funks não existem, param de acontecer. O trânsito de
Mídia contribui para imagem negativa da vida nas favelas Muitas pessoas têm uma visão negativa do Aglomerado. É comum associar a região à criminalidade, esquecendo-se de que é uma área onde as pessoas produzem uma cultura rica e diversificada. O funk, por exemplo, é um estilo musical, por vezes criticado, mas relata a realidade dos moradores do local. A doutora em direito e professora da Faculdade de Direito Milton Campos, Maíra Neiva Gomes, é moradora da Serra e participa em atividades de incentivo ao desenvolvimento do funk. Ela acredita que a mídia exagera nas proporções do conflito, dizendo que se trata de uma guerra. O conflito entre os traficantes, de fato, modifica a realidade da população, mas os veículos de comunicação parecem aumentar os acontecimentos. Na verdade, a presença da polícia gera mais desavenças. “A falsa
política de combate às drogas eleva os índices de violência. No entanto, tais índices são apresentados pela grande mídia como relacionados a uma suposta espécie de “natural” irracionalidade violenta do povo negro”, ressalta. Ela crê que há uma associação automática da população negra à violência. E, de fato, a mídia tem contribuído para a fomentação dessa associação. “A segregação dos afrodescendentes faz parte do projeto de poder das elites brasileiras e, assim, como também ocorre nos Estados Unidos, foi criada a imagem do negro perigoso e criminoso, que justifica a violação cotidiana de direitos humanos e a falta de políticas públicas”, completa ela. De acordo com Maíra, a convivência nas favelas e, inclusive no Aglomerado da Serra, é pacífica. As pessoas se conhecem há décadas.
Jeremias Souza é morador do Aglomerado há 40 anos e vivencia os conflitos no local
moto, de carro e o som alto diminui muito”, afirma. Ele diz, no entanto, que o conflito é algo interno e pessoal, com motivações como vingança ou disputa de poder. “Isso acontece mesmo, a gente percebe, mas é um conflito muito particular. Fulano quer pegar ciclano e pronto”. Jeremias relata que, na última ronda da polícia no Aglomerado, foi instalado o Caveirão (carro da polícia) na Praça do Cardoso. Essa ação não era necessária, pois o Aglomerado é muito grande e os conflitos aconteceram longe da praça: “Isso, de uma certa forma, soa meio que estratégico, por que eles se instalam em um lugar onde atrapalha o movimento de outra gangue e cria um conflito interno, forçando uma negociação entre eles”. A Praça já se tornou um marco no Aglomerado, um ponto de referência. O conflito intenso, na verdade, ocorre longe da Praça, em uma área que a polícia não possui campo visual. Jeremias conta, também, que na região da Praça do Cardoso, onde o Caveirão está instalado, há uma terceira gangue, que negocia com os membros do Del Rey e Pau Comeu para acabarem essa “guerra” e a polícia ir embora. Muitos cidadãos estão acostumados a esse tipo de situação desde pequenos, por isso já sabem como agir e a tratam com certa naturalidade. Muitos acreditam que a forma com que a
mídia aborda os conflitos é exagerada, e a maneira que eles vivem não é retratada fielmente por ela. A naturalização da presença das gangues nas favelas, bem como seu controle sobre a região, já se tornou algo aceito pelos moradores. Uma mudança provocada pela presença do tráfico e apontada por Jeremias o comportamento dos meninos da favela. Eles tentam se parecer com os traficantes, em busca de status. “Pra eles tem uma vantagem, existe uma condição, que ser do crime atrai meninas. Se vestem igual, falam igual, só que, na hora do confronto, quem é quem, não se sabe”. NORMALIDADE
Para os que trabalham no local, a diferença também é pequena e a jornada de trabalho continua a mesma. Caroline de Paula mora no Aglomerado há 28 anos, perto da Praça do Cardoso, e trabalha na Instituição Beneficente Martim Lutero, localizada na Vila Nossa Senhora de Fátima. Ela conta que o embate não afeta o trânsito de pessoas. “A polícia faz o monitoramento reforçado vez ou outra. A mídia coloca como se fosse uma guerra, aumentando a real situação. Os conflitos aconteceram no bairro São Lucas, e não afetaram diretamente a região onde eu moro. Em dias como estes, apenas os postos de saúde que fecham. Os estabelecimentos comerciais e a própria instituição
ficam abertos normalmente. Pelo jeito que mídia mostra, fica parecendo que na Serra só tem bandido, e que há guerra todos os dias, o que não é uma realidade. Vez ou outra, em raros casos”. O tenente Jeferson Costa, do 22º Batalhão da Polícia Militar, afirma que os militares atuam em aproximação com a comunidade, no intuito de compreender a realidade da segurança local, fazendo com que as ações da Polícia Militar sejam voltadas para a manutenção da ordem pública. Além do Gepar, guarnições policiais atuam no bairro da Serra, adjacências e também praticam o policiamento na região, apoiando no enfrentamento e combate ao crime. “O que tem sido feito em relação aos dias de possíveis enfrentamentos é o apoio de unidade especializadas que possibilitam um maior efetivo em ações de saturamento no interior do aglomerado, além da realização de operações planejadas para prisão de autores identificados’, afirma o tenente.. A comunidade também é muito importante para a segurança do local. As denúncias de crimes e presença de criminosos é relevante e podem ser feitas de forma sigilosa, para que a polícia possa atuar de maneira eficaz no enfrentamento à criminalidade.
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INTERAÇÕES
Apátrida: sem nacionalidade a vida é difícil para muita gente Maha Mamo é exemplo de pessoa que supera barreiras e tenta obter conquistas no universo do direito internacional UNHCR/Gabo Morales
identidade, o passaporte amarelo - que lhe dá direito a viajar por todos os países - e as carteiras de trabalho e de motorista. NO BRASIL
Carteira de identidade e passaporte são um sonho para Maha Izabella Bontempo 8º período
Nascida no Líbano e em condições de refugiada no Brasil, Maha Mamo tornou-se um exemplo de superação e conquista no universo de direitos nas políticas internacionais de refúgio. Tornada apátrida (a pessoa que não possui nenhuma nacionalidade e que não é reconhecida por nenhum Estado), ela só conseguiu o primeiro documento de identidade aos 26 anos; hoje, depois de morar em Belo Horizonte, vive em São Paulo e é embaixadora informal do programa “I Belong”, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). A história de Maha tem sua origem em desavenças de natureza religiosa na Síria, país onde as
fronteiras entre estado e religião são tênues. Seus pais eram sírios com religiões diferentes – mãe muçulmana e pai cristão – e tiveram por isto o casamento impedido. A solução foi mudar para o Líbano, onde o matrimônio pôde ser realizado. Os três filhos, no entanto, não podiam ser registrados no Líbano, devido à nacionalidade do pai, sírio. Mas também não podiam ser na Síria, pois os casamentos entre aquelas religiões não são aceitos neste país. Após várias tentativas de conseguir cidadania libanesa, ela começou a procurar ajuda em embaixadas para obter nacionalidade de algum outro país. Por fim, com a ajuda da irmã mais velha, Maha e os irmãos foram aceitos no Brasil, e, em 19 de setembro de 2014, recebeu seu primeiro documento de identificação. Hoje ela tem, além da carteira de
Ainda assim, Maha e os irmãos passaram por muitas dificuldades. Sem falar uma palavra em Português, os três irmãos conseguiram ser acolhidos e morar juntos, de favor, na casa de uma família cristã de Belo Horizonte. Durante um longo período, suas tentativas de conseguir emprego esbarravam na barreira do idioma e, então, ela precisou apelar para “bicos” eventuais. A essa altura, seu caso já chegara ao conhecimento da ONU, que a convidou a se tornar embaixadora-jovem de um programa de apátridas, chamado “I Belong” (Eu pertenço), o que lhe exigiu mudar para São Paulo. No final de 2016, ela recebeu a triste notícia do assassinato do irmão, que continuava em Belo Horizonte. O luto, no entanto, estimulou Maha a empunhar uma bandeira: a de lutar por soluções para os problemas das pessoas apátridas e de se tornar cidadã brasileira. O Brasil mantém uma lei de refúgio que contempla as principais pautas nacionais e internacionais sobre o tema. Segundo o professor de Direito Internacional da Universidade Fumec, Paulo Márcio Reis, “o Brasil ratificou o Estatuto dos Refugiados
e Apátridas, adotado em dia 28 de julho de 1951 pela ONU, que seria concluído pouco mais de três anos depois, em setembro de 1954. No Brasil, para definir os mecanismos de implementação da convenção, foi promulgada, em julho de 1997, a Lei n. 9.474. A ratificação pelo governo brasileiro da Convenção da ONU, complementando a matéria, aconteceu em 22 de maio de
2002.”. Ainda segundo o professor Paulo Márcio, desde outubro de 2007 o País é signatário de outra Convenção da ONU que visa à redução dos casos de apatridia no mundo e estabelece meios para garantir um direito básico do ser humano – o reconhecimento de nacionalidade. A lei de refugiados e apátridas foi base também para a criação do Comitê Nacional para os Refugiados, o Conare, que busca a integração do refugiado no país, assegurando-lhe liberdade de movimento no território nacional e concessão dos documentos básicos. A Acnur, uma agência da ONU, garante a proteção aos refugiados e assegura soluções mais duradouras para os seus problemas. Para Maha obter a nacionalidade brasileira, ela terá de se naturalizar após completar 15 anos de residência no país sem ter qualquer condenação penal.
“Aquilo que resta de nós” fala da dor do estupro Yasmin Kaizer
Lorena Katlin Lemos 5º período
Igor Patrick, ex-aluno da PUC Minas e agora jornalista da Sputnik Brasil, lançou o livro “Aquilo que resta de nós”. O exemplar relata a triste re-
alidade de mulheres haitianas que foram estupradas por soldados da ONU, enviados em missão de paz no país. O lançamento ocorreu no Campus São Gabriel, no dia 19 de outubro.
Relacionamento à distância é um desafio para os casais Stefane Oliveira Sylvia Amorim 1º e 4º períodos
Um relacionamento exige paciência e esforço. Aceitar as diferenças do outro e assumir os erros são atitudes necessárias para se manter uma relação saudável. Os desafios aumentam quando o casal se depara com mais um obs-
táculo: a distância. Dessa forma, adaptações precisam ser feitas. Diversos casais jovens se empenham nesse sentido. Muitos conseguem manter o namoro apesar das dificuldades, como a estudante de jornalismo Luiza Fiorese. A jovem namora João Victor Bravim, jogador de futebol, há quase três anos. Ambos são de Venda Nova do ImiIgor Batalha
grante, no Espírito Santo, onde começaram a namorar. Na época, ele morava em Belo Horizonte e a estudante veio posteriormente para a capital fazer faculdade. Ficaram juntos por seis meses, até que João Victor começou a jogar no Santos Futebol Clube e se mudou novamente. “Aí começou tudo de novo. A gente lida bem com a distância porque já começamos a namorar assim; então, eu nem sei como é namorar de outro jeito”, afirma Luiza. Uma das maiores dificuldades é juntar dinheiro para comprar passagens de avião e pagar estadia em hotéis. Conciliar datastambém é um obstáculo, mas os jovens conseguem se organizar. DESAFIOS
Internet facilita o relacionamento à distância de Sophia e Lucas
De acordo com a psicóloga e professora da PUC Minas, Roberta Romanogli, quem tem um relacionamento á distância está sujeito aos mesmos desafios que existem em uma relação comum. Muitas vezes, a internet pode ajudar, dando a continuidade ao
contato. No entanto, a tecnologia também pode ser uma armadilha para pessoas inseguras. A psicóloga ressalta que as redes podem aumentar o ciúme. “Os inseguros vão ter dificuldades em qualquer relacionamento. Atualmente há uma confusão de amor com ciúmes e isso é muito difundido na sociedade”. Lucas Trivellato Fernandes, estudante de engenharia, não deixa a distância ser uma barreira no namoro. “É difícil não haver brigas em um relacionamento e o meu não seria diferente. Porém não brigamos muito. Somos tranquilos com isso, porque nosso ciúmes não é excessivo”, ele afirma. O jovem namora Sophia Tibúrcio, estudante de jornalismo. Ele é de Ribeirão Preto, e ela de Belo Horizonte. Conheceram-se através de um amigo comum e e namoram há mais de um ano. Lucas diz que o diálogo é essencial.“O único desafio que vejo é não conseguir ter um cronograma definido de nossos encontros. Por isto, a gente tem de ser muito flexível”, ressalta.
A estudante de direito da Uespi (Universidade Estadual do Piauí), Agatha Morgana Ramos, conheceu o namorado Bruno Chaves, estudante de administração, em uma viagem para visitar a família em Granja, no Ceará. “No início do namoro conversarmos sobre a opinião de amigos que diziam que a distância só faz sofrer. Percebemos que nos gostávamos e que isso seria só um sacrifício pra fazer dar certo”, relata Agatha. O contato físico faz falta e o relacionamento passa a ser grande parte do tempo online. Aos poucos, a pessoa compartilha momentos comuns do seu dia para enviar à pessoa amada, tentando trazê-la para mais perto. Segundo os jovens, o lado positivo de manter uma relação assim é que a comunicação é aberta, aumentando a intimidade. A psicóloga Roberta ressalta que num relacionamento à distância é possível manter a individualidade e há mais tempo para dedicar aos interesses pessoais. O reencontro se torna um momento aguardado.
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13 INTERAÇÕES
Sociedade divide mundo das crianças O estereótipo frequentemente reforçado na sociedade impoõe padrões a homens e mulheres, complicando a relação entre pais e filhos e gerando frustração Ayana Braga 6º período
“Conserte o jeito de andar”, “Isso é coisa de menina”, “Menino não usa rosa”, “Boneca? Isso é coisa de mulher”, “Fale como homem!”, “Menina tem que ter o cabelo grande senão não arruma namorado”, “Senta igual mocinha”. Isso não é agressivo? Pode até ser que não, mas é machismo do mesmo jeito. Machismo: substantivo masculino, “qualidade, ação ou modos de macho, senso de orgulho masculino ou comportamento que tende a negar à mulher a extensão de prerrogativas ou direitos do homem”. Por causa dele, as mulheres são exploradas e/ou desvalorizadas pelos homens a partir de algum momento impreciso entre o homem Neandertal e do Cro-Magnon, mais ou menos 30 mil anos antes de Cristo; desde então, os homens colocaram sua força física a serviço da sujeição das mulheres e isso impera até os dias atuais. Pior de tudo é que ainda há gente que vê com bons olhos esta divisão e quem diga, como se fosse elogio:“Por trás de um grande homem, sempre existe uma grande mulher”. A esfera de atuação da mulher sempre foi muito limitada ao campo doméstico e familiar, corporificando o estereótipo de “sexo frágil”. Já o homem, grande, imponente e poderoso, sempre foi o provedor, responsável pelo sustento e proteção da família. Vários estudiosos alegam, entretanto, que através da delicadeza e do uso sutil de sua inteligência, a mulher de um jeito ou de outro arranjou formas de participar do poder e exercer influência na sociedade. Mas, apesar de todo o esforço feminino para se afirmar na sociedade e quebrar esses padrões ainda fortes, a discriminação prossegue porque suas raízes estão na própria família: tudo começa em casa. Ruber Paulo, 19 anos, contou que o machismo sempre esteve presente ao longo de sua
vida: “Meu pai sempre foi o homem que sustentava a casa e não permitia que minha mãe trabalhasse ou fizesse faculdade, o que influenciou a minha visão da mulher como quem cuida da casa que o homem sustenta”. Ele explica que o seu pensamento mudou quando os pais se separaram e a mãe “retomou a liberdade”. Quando vem de casa, o mais natural é que se reproduza esse comportamento. É o caso de Vinícius Alves e Cíntia Rocha, ambos homossexuais que veem em si mesmos os reflexos disto, pois reprimem qualquer manifestação de sua condição de gênero em sociedade. Por causa do machismo no ambiente familiar, muitos filhos, principalmente os homossexuais, têm medo de se mostrar como realmente são. Por isso, o momento de contar que são gays costuma ser complicado. Às vezes, o preconceito não vem por meio de palavras, mas sim de olhares. “São coisas pequenas que demonstram a frustração dos meus pais em ter que enfrentar uma situação diferente da que estão acostumados: um mundo dividido em feminino ou masculino”, comenta Matheus Brisola, de 22 anos. “A vida toda eu fui reprimindo várias coisas, negando minha sexualidade e minha expressão de gênero por querer me encaixar e evitar sofrimento”, disse Matheus. “Meu pai ficou decepcionado, só chorava, achava que era influência e que poderíamos consertar. Ele chegou a me oferecer um carro para que eu deixasse de ser gay”, continua. Normalmente as relações com as mães costumam ser mais tranquilas do que com os pais, justamente por esse machismo e estereótipo de macho. Fugindo disso, Cíntia comentou que o relacionamento com o pai melhorou e ele não se importa mais com suas roupas masculinas, o cabelo curto ou até mesmo o fato de jogar futebol. Já Vinícius conta que os pais foram aceitando
aos poucos, mas ainda não permitem que ele conte ser gay para ninguém mais da família. O pai ainda não aceita o fato de ele gostar de usar maquiagem, mas Matheus disse que já consegue falar sobre homens perto dele. TRADIÇÃO Joselaine Aparecida, psicóloga, observou que “infelizmente muitos pais reproduzem o comportamento machista que herdaram da época dos pais deles. Muitas vezes eles não conseguem acompanhar as mudanças do mundo e por mais que digam que não são preconceituosos, quando a situação ocorre dentro de casa o assunto é outro”. E foi isso que Ruber Paulo e Matheus comentaram. Os pais tem parentes ou amigos gays e isso nunca foi pro-
blema, mas dentro de casa, com o filho, é diferente. Pode-se ter a impressão de que o machismo aumentou e que o preconceito agora é mais recorrente do que nunca, mas Vinícius faz questão de frisar que,“agora o assunto é só mais discutido. Algo de que não se falava antes, agora faz parte dos assuntos no almoço, por exemplo. Todo estereótipo é quebrado com o conhecimento”. “Durante um tempo eu achei que o melhor jeito de combater os estereótipos era não dar motivo para os outros falarem, disse Matheus. “Depois, eu percebi que não devemos evitar discussões; dificultamos a conscientização esclarecida quando optamos por ignorar ou fingir que o problema não existe”, argumentou. Joseilaine acha que “haverá um dia em que esses preconceitos não existirão, nem em casa e nem na sociedade”. Elisa Senra
Para Matheus , o atraente mundo das meninas sempre foi interditado
Casas noturnas não podem cobrar ingresso menor de mulheres Igor Batalha
Proprietários de bares e boates não gostaram da medida que gera discussões Clara Passos Lara Pereira 2º período
Homens e mulheres são iguais perante a lei e nada pode diferenciá-los tendo o gênero como referência. Esta verdade foi, historicamente, ignorada no Brasil inteiro, onde homens e mulheres sempre pagaram ingressos diferentes em estabelecimentos como casas noturnas, bares e restaurantes. Mas, recentemente, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), órgão do Ministério da Justiça, vetou a cobrança dife-
renciada entre gêneros, o que tornou ilegal esse tipo de prática. Álvaro Ricardo de Souza Cruz, professor da Faculdade Mineira de Direito, da PUC Minas, concorda com a medida adotada e afirma que, a diferenciação do preço entre gêneros é uma forma de objetificação da mulher. “O benefício que as mulheres recebiam faz parte de um processo de objetificação dela. A ideia de se tratar igualmente as pessoas é a de respeitar-lhes a condição de seres humanos, ou seja, a dignidade da pessoa humana na sua integralidade. Esse direito, que seria teoricamente
um privilégio para as mulheres, na verdade é uma diminuição do direito delas”, disse. A cobrança diferenciada entre homens e mulheres fere o Artigo 5 da Constituição Federal, que garante a igualdade de direitos e deveres entre gêneros. “A previsão do controle está não apenas no Código de Defesa do Consumidor mas também na Constituição Federal, que estabelece a proibição de discriminação. A Constituição veda esse tipo de questão; basta então que se anote esse tipo de informação e se comunique a qualquer órgão de Defesa do Consumidor, como o PROCON, o Ministério Público ou as delegacias de polícia de Ordem Econômica para autuarem os infratores”, observou o prof. Álvaro. O presidente do Sindicato de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de BH e Região Metropolitana (Sindhorb), Paulo César Marcondes Pedrosa, não concorda com a igualdade na cobrança. “Eu acho o seguinte, se eu fosse dono de casa noturna, diferenciava [a cobrança]. Isso não prejudica o direito da mulher à igualdade. Nós estamos falando de uma coisa muito específica que é o lazer. Se essa medida passa a ser adotada, terá que haver punição para os estabelecimentos que a descumprirem”, comentou. Paulo César discorda da interferência direta do Estado no mercado e acha que os comerciantes deveriam questioná-la. “Pra
mim é uma interferência arbitrária. Eu sou dono da casa noturna, eu cobro o preço que eu quero. Cadê a concorrência livre? Eu acho que os donos de casas noturnas deveriam se unir em favor da defesa de direito adquirido”, avaliou. O estudante Gabriel Brandão, 20 anos, vê a proibição como reconhecimento da luta das mulheres para assegurarem os mesmos direitos que os homens. “Eu cresci vendo essa medida ser adotada em todo lugar, o que acabou se tornando normal para mim. Já hoje, pelo fato da luta diária das mulheres, acredito que a mesma cobrança de preços reforça a luta que elas tiveram ao longo dos anos”. Diferentemente do que pensa Gabriel, a estudante Bárbara Alice, 20 anos, afirma não ter nada contra a cobrança diferenciada. Ela acredita que isso está ligado a duas coisas: porte físico da mulher e jogada de marketing. “Em casos de open bar, o preço para mulheres é melhor, uma vez que o físico e a estrutura delas não permitem que bebam tanto quanto os homens. Em segundo, por ser uma jogada de marketing que apela para o lado sexual para atrair mais clientes homens”. Alguns estabelecimentos já adotam a nova medida, entre eles as casas noturnas “O Mercado”, “DDuck” e “Major Lock”, de BH, já aderiram à cobrança igualitária entre os gêneros.
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Nathália Cioff 3º período
A mostra ‘Tim Burton e suas histórias peculiares’ chegou à Belo Horizonte no primeiro dia de outubro. O evento, no Sesc Palladium,encerrou no dia 5 de novembro. Foram programadas 41 produções, dentre elas, 20 dirigidas pelo cineasta homenageado. Além desses filmes, foram apresentados sete títulos cuja produção é assinada pelo diretor e 14 são obras de sua admiração ou são referência em sua formação. No programa constaram, ainda, algumas atividades paralelas, como encontros com especialistas e oficinas. Tim Burton tem, segundo especialistas, um peso relevante no cenário cinematográfico atual, daí a admiração mundial. Suas obras incluem desde animações macabras a filmes com personagens reais, num contexto sombrio e fantasioso, reprisadas e recriadas por milhares de seguidores. “É muito importante ter exposições como essa. Tim Burton é uma figura importante, seus filmes também. O evento abre oportunidade para quem não o conhece passar a conhecer e, para seus fãs, a chance de conhecê-lo ainda mais”, afirma Leila Costa, psicóloga de 43 anos. O curador da mostra, Breno Lira Gomes (38), afirma que a motivação para organizar a mostra
CULTURA
Exposição recria o mundo fantasioso deTim Burton Sessões comentadas, palestras e oficinas sensibilizam o público de forma inédita ao expor detalhes da vida do diretor foi muito grande: “Já tinha coordenado quatro projetos no Sesc Palladium e propus a eles fazer essa mostra inédita. Foi a primeira vez que a filmografia de Tim Burton foi exibida no Brasil, de uma vez só”. A organização do evento não foi fácil: a parte burocrática de direitos autorais de exibição foi complicada e a escolha de materiais extras bem trabalhosa. “Aconteceu de termos que alugar de última hora alguns equipamentos necessários para a realização de algumas oficinas ou para própria exibição dos filmes. Deu tudo certo, mas Breno e eu corremos contra o tempo”, comenta Arthur Senra (31), responsável pela programação de cinema do Sesc. Os materiais extras, ou seja, filmes que não são de autoria do cineasta, mas importantes na sua formação, foram motivo de dor de cabeça. Segundo Breno, recolher esse material é tarefa árdua por exigir uma pesquisa intensa para chegar até os produtos. “A primeira coisa a fazer é
Divulgação
Johnny Depp é um dos atores preferidos de Tim Burton
justamente verificar os direitos autorais dos filmes e quanto isso irá custar. Há projetos que as vezes ficam inviáveis por conta do pagamento de direitos”, explica Breno.
A REALIZAÇÃO
As atividades paralelas de maior procura foram as oficinas e os master class. “Breno Lira, organizador da Mostra, entrou em contato com o Arthur
Senra, perguntando sobre profissionais da área de stop motion aqui em Belo Horizonte. Eu trabalho na área há sete anos e conheci o Arthur quando ele estava na MUMIA Mostra Udigrudi Mundial de Animação e, desde então, temos acompanhado o trabalho um do outro. Quando recebi um e-mail dele com o convite para ministrar uma oficina da mostra, aceitei logo”, disse Giuliana Danza (32), responsável pela palestra “Tim Burton e o universo da animação”. A oficina de stop motion foi pensada por ser a cara da Mostra Tim Burton. Giuliana conta que, pela primeira vez, conseguiu recursos para concretizar um sonho antigo, de poder presentear os participantes com um boneco. “Criei um monstrinho, fácil para alunos iniciantes ou leigos em animação manusearem, e um amigo meu fez duas plataformas de madeira para ser suportes e cenários. Utilizamos duas possibilidades de montagem, uma para animar com celular e outra
com uma câmera profissional ligada ao computador”, ela explica. As oficinas foram bem didáticas: os alunos geralmente divididos em grupos, cada um com uma função específica, e receberam material do instrutor conforme sua função. A recepção do público foi muito boa, segundo Arthur Senra, as pessoas procuravam saber dela antes mesmo da estréia. “Não fui a todos os filmes, por falta de tempo, mas amei o evento; é sempre uma oportunidade boa pra conhecer e rever os clássicos de Burton”, comenta o estudante Rodrigo Maia (24). O público foi variado; estudantes, professores, idosos, casais e grupo de amigos, todos atraídos pela programação diversificada. As sessões ficaram lotadas, inclusive dos filmes que não dirigidos pelo Tim Burton. Breno Lira ainda brinca: “O belohorizontino adora Tim Burton”. Sobre as atividades paralelas, o clima é melhor que sala de aula, conta Giuliana Danza: “Os alunos mantivera contato, para tirar dúvidas sobre seus projetos pessoais, enviar trabalhos e até propor novas parcerias em curtas”. A mostra, que foi sucesso na capital mineira pode se repetir em outras cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, dependendo só de patrocínio.
Estudantes contam os desafios de fazer duas faculdades Byanca Soares 3º período
Determinação, disciplina e força de vontade. É assim que muitos jovens conseguem enfrentar o desafio de realizar dois cursos simultaneamente. Conciliar a rotina agitada com duas faculdades tem suas vantagens e desvantagens. Este é o caso de Andréia Lomas, 19 anos, que cursa Jornalismo na PUC Minas e Letras no CEFET -MG. Ela trata essa realidade como algo natural. Apaixonada por contar histórias e fatos, Andréia, que está no 3º período de ambos os cursos, diz que desde o primeiro ano do Ensino Médio, tomou a decisão de cursar Jornalismo e o que mais pesou foi a escolha da instituição. Ela, que já havia passado em outras faculdades, conta que a PUC foi a mais acertada. Após um semestre ,enviou sua nota novamente ao SISU para o curso de Letras e passou: “Resolvi
encarar o desafio. Foi uma oportunidade que eu resolvi agarrar”. Segundo ela, sua rotina não é tão pesada, ainda, porque não faz estágio, mas a carga horária de estudos chega a ser de 14/16 horas por dia. Pela manhã, vai para o curso de Jornalismo; a tarde, estuda e resolve seus compromissos pessoais e às 18 horas vai para o curso de Letras no CEFET; chega às 23h15min em casa e vai descansar. O maior desafio que vem enfrentando é para conseguir um estágio. “Muitos não contratam devido à carga horária de estudos. Quando comecei a cursar os dois não imaginava essa dificuldade pela frente, mas estou disposta a enfrentá-la”. Ela gosta dos cursos que faz e acredita que esse é o pilar básico para construir uma carreira sólida. Também sempre teve o apoio da família e acredita que é daí que vem a segu-
rança que a mantém firme. Seu objetivo é ser editora em uma redação. “Quero ser uma profissional de referência, quero fazer meu nome ser reconhecido, mas não por fama e sim por competência. O jornalismo para mim é isso!” MAIS TRABALHO A estudante, Vitória Costa Pereira, 19 anos, cursa o 4º período de Jornalismo na PUC Minas, faz estágio no período da tarde e cursa o 2º período de Pedagogia, à noite, na UFMG. “Às vezes acho que estou querendo correr contra o tempo, mas foi uma escolha minha, então eu tenho que arcar com as consequências”, disse ela. O jornalismo foi sua opção de curso na época do Enem, mas também tinha interesse em letras e pedagogia. Sentiu-se um pouco na dúvida sobre o jornalismo no início do curso, e esse foi um dos motivos para fazer o Enem nova-
mente no ano passado. Mesmo aprovada em outro curso, resolveu insistir no jornalismo e diz: “Eu não gosto de desistir, nem parar no meio do caminho”. Ela conta não ter muitas brechas no seu horário, mas que consegue organizar bem o que precisa fazer ao longo da semana. De manhã vai para o curso de Jornalismo na PUC, de lá para o estágio e do trabalho para a UFMG; de lá, finalmente, vai para casa. “Tento fazer todas as tarefas escolares ao longo da semana, para no final de semana ter tempo de curtir meus amigos e meu namorado”. Sobre fazer dois cursos ao mesmo tempo, ela confessa ser difícil, mas que varia de pessoa para pessoa. “Eu tenho um objetivo a alcançar por estar cursando os dois cursos ao mesmo tempo, e desde o começo sabia que sacrificaria algumas coisas no meu dia a dia. Tenho certeza que no final vai valer
à pena. Tenho que aproveitar enquanto estou nova e tenho disposição para me dedicar”. “A minha família me apoiou na minha primeira escolha e quando souberam da aprovação na Federal, ficaram muito orgulhosos. Minha mãe foi uma das pessoas que me indicaram a pedagogia como outra opção profissional, então, ela ficou feliz quando soube”, disse. Para Vitória, essa rotina deu a ela a possibilidade de conhecer
duas realidades: a da universidade particular e da pública: “Posso me relacionar com pessoas diferentes e ter experiências escolares diferentes. Elas estão contribuindo para minha construção como universitária e como pessoa. Apesar dos dois cursos não estarem diretamente ligados, acabam contribuindo um com o outro. Por outro lado, a rotina corrida me deixa um pouco cansada e às vezes seria bom ter um tempinho para ficar à toa”. Elisa Senra
O estudo ocupa quase todo o tempo disponível de Vitória
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CULTURA
Projeto dá visibilidade à cultura quilombola
Yasmim Kaiser
O teatro da PUC São Gabriel ficou lotado para receber Makota Kidoiale, conhecida candomblecista Taynara Barbosa 3° período
O que foram os quilombolas? Ainda existem? E quem são eles? Para conversar com os alunos da PUC São Gabriel sobre este tema, ali esteve a ativista do movimento negro e quilombola, Cássia Cristina da Silva, ou melhor, Makota Kidoiale, do quilombo urbano Manzo Ngunzo Kaiango, conhecido terreiro do bairro Santa Efigênia. Durante a palestra, que integrou o programa do evento ‘Encontro com’, Makota falou sobre as suas experiências como mulher negra, contou um pouco sobre a cultura quilombola, comentou o fato de ser candomblecista, falou do racismo e comentou a preservação das tradições da população afrodescendente. Ela é daqui mesmo e contou um pouco de sua vida. “Frequentei a escola até a 4ª série. Não tive interesse, saí da escola por conta própria, não por
falta de recurso. Não foi por falta de condições, foi porque eu não senti a escola como parte da minha vida”. Ela percebia que o ensino escolar era seletivo e deturpava a história do negro. “Não tinha conteúdo para nós, para negros, pobres de comunidades. Então, aos 15 anos, decidi que não ia mais frequentá-la porque tudo que a gente lia lá não estava de acordo com o que a gente ouvia dentro de casa; a nossa história não era contada dentro das escolas, nem tampouco nos livros de história”, A Makota disse que continua pensando do mesmo jeito: “Porém, hoje temos canais de denúncia e mobilização para que se faça cumprir as leis de nosso interesse. Na minha época não existia, por exemplo, a Lei 10.639/03, que obriga o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas públicas e particulares”. Mazota disse que, quando criança, ela e os irmãos viviam em um mun-
do paralelo ao das crianças da vizinhança: “A gente se recusava a sair, sempre fomos criados dentro do nosso mundo mesmo, porque quando nós éramos pequenos os filhos dos vizinhos não podiam conversar e nem tampouco brincar com a gente. Porque além de sermos negros e filhos de mãe solteira, ainda éramos de terreiro. Então a gente era uma verdadeira aberração naquele bairro”. Ela disse que não teme o preconceito e não o contorna; ela o destrói com conceito: “Eu não driblo o preconceito. Eu o desconstruo através da oralidade. E promovo ações que envolvam o outro para levá -lo a vivenciar minhas tradições. Acho que esse é o melhor caminho para combater essa cultura do ódio. As pessoas precisam sentir o outro, para compreender as diferenças”. COMUNIDADE
A comunidade quilombola Manzo Ngunzo Kaiango foi fundada há
42 anos, em área antiga de quilombo. Segundo o Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), “... aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”, ou seja, a lei determina a regularização territorial das comunidades quilombolas. É uma maneira de proteger culturas remanescentes dos Quilombos. Para o estudante de publicidade e propaganda, Arthur Leite, “a Makota foi incrível, porque trouxe uma perspectiva, uma visão sobre os quilombos que a academia ignora. E trazer isso para dentro da escola é engrandecedor a porque passamos a compartilhar das experiências dela e de sua gente. Acho que esse é o papel do Encontro Com. Fazer essa ponte, essa troca de saberes e acrescentar conhecimentos. Além de poder esclarecer discursos preconceituosos que mui-
Makota quer respeito aos costumes e terras quilombolas
tas vezes passam despercebidos em nosso dia a dia”. Para a Makota, são iniciativas como esta que dão “oportunidade de desconstruir toda a história que afirma que somos descendentes de escravos e adoradores de diabos. Podemos nós mesmos dizer quem somos, de onde viemos, e como vivemos, e resistir ao preconceito, intolerância e, assim, combater o racismo”. O projeto nasceu de uma ideia da professora Marta Neves: “O Encontro Com começou muito conectado à disciplina de Circuitos Artísticos e Culturais. Ainda continua vinculado à essa disciplina, mas começou a crescer. Eu via uma resposta dos alunos muito favorável, e também da comunidade. A gente começou a sistematizar à ideia, a coisa continuou e atualmente é um projeto de extensão e fomento da Proex (Pró -Reitoria de Extensão) e estamos levando também
alguns eventos pra fora da PUC”, disse a professora. Ela explicou que o ‘ Encontro Com’ busca trazer pessoas ou grupos que sejam expressivos no cenário cultural, artístico, às vezes, com viés político, social e até mesmo religioso, como no caso da Makota, à universidade, para ampliar o universo de conhecimento dos alunos. “A Makota é uma figura que sobressai dentro da militância política, em conhecimento dos saberes de grupos tradicionalmente excluídos, de negros, de gente do candomblé, de gente quilombola que tem uma cultura que precisa de ser conhecida. A convidada, Mazola, gosta de falar a estudantes porque “Quando tocamos nas coisas deixamos impressões. Mas quando tocamos nas pessoas, deixamos identidades. É assim que eu sigo minha fé”.
Paul McCartney faz show inesquecível em Belo Horizonte Bruna Curi Sylvia Amorim 4º período
“Na, na, na, na na na na, na na na na, hey Jude”. Este trecho da música “Hey Jude”, dos Beatles, marcou o momento mais emocionante do show do Paul McCartney, no dia 17 de outubro, no Estádio Mineirão, em Belo Horizonte. Foi uma loucura ver 50 mil pessoas dançar, balançarar balões e plaquinhas de papel enquanto cantavam junto com o músico. Depois de quatro anos e meio, desde a estreia na turnê “Out There!”, o ex
-Beatle voltou a capital mineira em sua nova turnê, a “One on One”, e fez um show de aproximadamente três horas. Quando Paul chegou ao palco triunfante ao som de “Hard Day’s Night”, o público se esqueceu dos 10 minutos de atraso para entregar-se à pura alegria. O repertório, em Belo Horizonte, teve algumas mudanças em relação ao espetáculo de Porto Alegre (13/10); reuniu sucessos dos Beatles, Wings e do The Quarryman (banda que mais tarde deu origem aos Beatles). Músicas como “My Valentine”, “Love me Gabriel Herrera
Paul McCartney emocionou a plateia no Mineirão
Do”, “Blackbird”, “In Spite Of All The Danger” foram relembradas por Paul, levando o público a um momento de nostalgia por se tratar de trabalhos mais antigos. Com 75 anos de idade, McCartney demonstrou excelente preparo físico. Em nenhum momento ele parou para tomar água; durante a apresentação trocou de instrumentos diversas vezes e agiu de maneira carismática com o público fazendo brincadeiras, dancinhas e falando algumas frases em português como “Olá BH”, “É bom estar de volta”, e “Está chegando a hora de partir”. O tatuador Pedro Caxito viu tudo, emocionado. Ele cresceu escutando as músicas dos Beatles, em casa, e seu amor pela banda britânica se deve à influência de sua mãe, que era adolescente quando eles fizeram sucesso no Brasil, em 1964. “Ela é uma verdadeira beatlemaníaca. Minha mãe juntava moedinhas para comprar os discos e, hoje, eles fazem parte da minha coleção de vinil”, explicou Pedro.
Para ele, foi uma experiência emocionante ver um ex-Beatle cantando, ao vivo. “Incrível, sem palavras pra descrever, ainda mais pra um beatlemaníaco, ver um Beatle no palco, cantando pra mim ao vivo!”, disse ele. ORGANIZAÇÃO Embora os ingressos não tenham se esgotado, o estádio estava cheio. Muitas pessoas estavam na fila para entrar no Mineirão a partir da manhã, mas os portões só se abriram às 17h30min. Assim, muita gente ficou por horas esperando, e sentiu falta de uma atração para distrair todo mundo enquanto a atração principal não começava. Um DJ tocou por alguns minutos, mas o som parecia estar abafado. A espera e o comportamento de algumas pessoas provocou certo nervosismo. Nas arquibancadas, muitos indivíduos ficaram em pé nas escadas e na frente do público que estava sentado, bloqueando a passagem para os banheiros e lanchonetes e impedindo a
visão do palco. Dessa forma, vaias e gritos contra eles começaram, e muitos foram abordados para que se saíssem do lugar e procurassem um assento. Algumas pessoas discutiram e se irritaram. INFLUÊNCIA O público esqueceu a tensão inicial quando o espetáculo começou. Pessoas de todas idades e classes sociais foram ao show. Os gritos da plateia ecoavam ao final das músicas, e as vozes se uniram e se transformaram em uma só. Isso mostra a grande influência que os Beatles tiveram e ainda tem até hoje, sobre os fãs de rock de qualidade. O professor de português Guilherme Lentz é um dos fãs que foi ao show do cantor em Belo Horizonte. Ele conheceu os Beatles em 1989, aos 14 anos. Na época fazia parte de uma banda e pesquisando estilos musicais, na casa de sua avó, encontrou um disco da banda. A partir do momento em que ouviu a primeira música, o professor se apaixonou. Ele acredita
que o sucesso dos Beatles se deva ao inegável talento que tinham. “São ideias, criatividade, determinação, profissionalismo, inspiração, inteligência, todo um instrumental que, com o passar dos anos desdobrou-se em outras virtudes, como engajamento, correção e maestria”, observou. O músico Leonardo Araújo também é grande fã do grupo. Ele conheceu a banda após a comoção que a morte de John Lennon causou. A partir desse momento, apaixonou-se pelas músicas. “Na minha opinião os Beatles diferem dos outros grupos por abrigarem quatro gênios dentro do grupo. Nenhuma outra banda conseguiu esta façanha”. Paul McCartney trouxe, ao Mineirão, emoção, nostalgia e entusiasmo. O músico é um fenômeno mundial e sua apresentação foi uma experiência compartilhada de diversos sentimentos. Ele encarna com dignidade o legado dos Beatles, acrescentando a ele carisma e seu estilo pessoal.
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BRUNA KALIL OTHERO Luís Gustavo Gurgel, 3º período Luís Gustavo Gurgel
‘Livros de poetisas são menos lidos’ Desde pequena, os pais de Bruna incentivaram-na a ler e a escrever. Ela começou a desbravar a literatura ainda criança, quando escrevia contos de fadas. Hoje, prestes a lançar o segundo livro “Anticorpo”, ela fala sobre os desafios de ser uma mulher que escreve poesia.
Como descobriu a paixão pela literatura?
Eu cresci em uma casa em que os livros eram muito importantes. Desde criança os meus pais me incentivavam a ir às feiras de livro, a comprar livros e a lê-los. Aprendi a ler muito cedo, com quatro anos, e a escrever logo depois. Essa paixão, esse desejo pela literatura foi uma coisa muito natural. Com o incentivo da família, o hábito de ler, de escrever e pensar sobre isso foi crescendo. Por ter começado muito cedo, tornou-se uma coisa comum. Por isto, eu nunca pensei sobre a pergunta “quando começou?”. Escrever e ler foram sempre presentes na minha vida; o que mudou foi que, um dia, eu vi aquilo como oportunidade de trabalho, de uma carreira.
Com quantos anos começou a escrever? Demorou para lançar o primeiro livro?
Eu escrevo literatura desde que aprendi a escrever. Tenho vários contos de fadas de quando era criança. Comecei a considerar o que fazia como literatura aos 15 anos, quando disse a mim mesma “vou levar a sério, isso que estou fazendo”. Então, comecei a trabalhar mais, a pesquisar mais, tentar descobrir como se escrevia. Depois de juntar uma quantidade considerável de textos, comecei a pensar no livro. O primeiro livro que montei tinha 17 anos, apenas montei e guardei, não fiz mais nada. Aos 19, senti vontade de mostrar aquilo para outras pessoas. Li toda a poesia que tinha escrito e achei um norte narrativo, que nesse primeiro livro foi a questão do “quase,” de um sujeito que quer ir até algum lugar, mas fica no quase conseguir; não consegue ficar ali um pouco nessa corda banda da contemporaneidade. Montei o livro baseado nesse norte e publiquei aos 20. Não acho que demorou, acho que foi no tempo certo; talvez, hoje eu esperasse mais mas, na época que aconteceu foi ótimo; é o primeiro, e o primeiro tem sempre um lugar especial. Foi no momento em que eu estava precisando, tinha um material bom e pude montar esse livro.
Foi difícil lançar um livro por meio de uma editora independente?
Eu não sei se consideraria a Letramento uma editora independente. Aliás, esse conceito é muito difícil, porque tem gente que fala que só de você ter uma editora já deixa de ser independente. Independência mesmo é quando o autor marginal, como os dos anos 70, escreve, edita, diagrama, imprime, circula e vende o livro. Então, tenho um pouco de dúvida sobre o conceito. A Letramento é independente no sentido de ainda não estar inserida no grande mercado editorial. Ela ainda é conside-
rada uma editora pequena. A dificuldade não é em relação à editora e, sim, ao texto, porque poesia é o gênero que menos vende. Os gêneros que mais vendem são os de não ficção. E, entre os de ficção, a poesia é o que menos faz sucesso. As pessoas não leem poesia, não gostam de comprar livros de poesia. Por mais que eu tenha vendido, considerando o contexto, ainda é um gênero muito pouco lido; as narrativas chegam mais às pessoas. Já a poesia é uma linguagem diferente da narrativa. Ela tem dificuldade de se comunicar e o meu segundo livro é mais comunicável que o primeiro. No meu primeiro livro eu ainda estava tentando descobrir o que estava fazendo; no livro novo vou mais direto ao ponto. Talvez me comunique mais com as pessoas.
crevendo suas coisas maravilhosas. A questão da mulher na literatura é muito complicada: a primeira escola para mulheres, no Brasil, foi fundada em 1827, quase 350 anos depois que o país já estava colonizado. Então, foram 350 anos com mulheres analfabetas. Sem saber ler, como elas poderiam escrever?
Quais são as nossas primeiras escritoras?
As mulheres escritoras que surgiram no século XIX foram apagadas. Maria Firmina dos Reis é considerada a primeira romancista a publicar no Brasil; um romance abolicionista, chamado “Úrsula”, que a gente não lê nem na escola. Ela era contemporânea de Machado de Assis. Narcisa Amália que, foi elogiada pelo Machado, caiu no ostracismo. Nísia Floresta e uma série de poetisas, como Gilka Machado, foram apagadas. A poesia é desvalorizada Só começamos a ver mulher na literatuno Brasil? Por que?1 ra no modernismo com a Pagu, Cecília O Brasil não é um país de leitores. QuanMeireles, Tarsila do Amaral e Raquel de do os portugueses chegaram trouxeram Queiroz. Mesmo assim, elas são menos a literatura pronta. Então, o Brasil não lidas, menos valorizadas. Hilda Hilst, teve a oportunidade de criar a própria para mim, é o maior escritor do Brasil, literatura; os portugueses chegaram e eu digo “o” porque eu englobo homens impuseram a deles. Então, tudo que a e mulheres. Ela escreveu conto, crônica, gente lê da literatura brasileira está “inromance, poesia, teatro, critica, passou fectada” pelos portugueses. Este é o pripor todos os gêneros de uma forma mameiro ponto que eu acho. Em questão gistral e, apesar disso, não era considede formação de leitor, o Brasil é um país rada uma escritora. Uma teóloga disse de grande desigualdade social. Sabemos para ela, que se fosse homem, ela seria que arte e literatura são privilégio socelebrada como o maior escritor do Bracial. A desigualdade acaba afetando a sil. Mas, como você é mulher, cospempopulação mais pobre que tem menos, lhe na cara. E de lá para cá não mudou ou nenhum, acesso à arte. Por exemmuito. Por mais que as mulheres esteplo, para comprar um livro, precisa-se jam escrevendo muito, ainda não são de 30 ou 40 reais. E este valor, para as preferidas das editoras uma pessoa mais para publicação, vendem pobre, é quase o menos, não são preferidas da compra do mês pelos prêmios, pelos festide comida. E a poPois tenho a alma aflita vais literários. Não é um pulação mais rica e as mãos / queimadas questão de qualidade, é pelas cinzas / do mundo. não se preocupa uma questão de machismo. com essas questões (Trecho da poesia “Primeira por ignorância. Destruição”) Cultura no Brasil Belo Horizonte tem um nunca foi tratada ambiente cultural muito como prioridade. forte. Esse cenário Os artistas ficam ajuda novos artistas/escritores a lançarem um pouco à margem, dependendo seus trabalhos? de editais do Governo, porque é imAjuda se você conhecer as pessoas cerpossível ter arte como profissão, eu tas. Meio cultural em Belo Horizonte é escrevo mas, ser escritora, não vai ser muito rico, mas ainda é muito fechado. minha profissão, não tem como sobreVocê precisa começar a ir a eventos e viver disso, preciso fazer outra coisa. conhecer alguém que o leve a esses lugares. Sabemos de muitos jovens talenA mulher escritora tos espalhados, mas que não conhecem tem mais dificuldade no Brasil? ninguém e não vão conseguir entrar. O Muita. Se formos falar de mulheres cenário ajuda, por um lado, se você tiver negras, de mulheres lésbicas, de mujogo de cintura para conversar com as lheres trans, aí fica ainda mais difícil. pessoas e construir pontes; mas, por ouToda vez que ouvimos falar de escritor, tro lado, se ele for muito fechado, acaba já nos vem a imagem daquele homem branco, velho, hétero, no gabinete, esprejudicando quem não está nesse meio.
Qual é a expectativa para o lançamento do seu segundo livro? E por que o nome “Anticorpo”?
É difícil ter expectativa para lançamento de livro no Brasil, porque o brasileiro lê pouco. Eu não acho que vai virar um best seller; o que espero é que as pessoas o entendam. Esse livro é mais comunicável, em termos de linguagem, mais simples. O meu desejo é que as pessoas não joguem pedra nele, não é um livro para isso. Antes, eu tinha pensado em outros nomes: “Corpo-Porta, Itinerário do Corpo, Caminho do Corpo”; aí, sonhando, veio-me essa palavra, “Anticorpo”, que dialogou bem com o livro porque o anticorpo é a defesa; muita gente vai ler esse livro como ataque mas, na verdade, ele é um livro de defesa. Não confundir a violência do agressor com a reação do agredido. Esse livro é uma reação de quem foi agredido.
Como produzir arte em tempos de censura?
Muita persistência e coragem, isso é muito importante. Lembro de quando estava na escola, estudando a ditadura militar, o governo Vargas, o nazismo e pensando que terrível foi a humanidade ter que passar por isso. Eu pensava como história, passado, eu nunca pensei que passaria por um momento assim e isto é um sentimento geral da nossa geração que viveu a ditadura como um tempo distante. Agora estamos vendo que o conservadorismo é real, pessoas se manifestando contra as exposições, podendo fechá-las. É preciso ter coragem, esta é a palavra. Estou com medo de lançar o meu livro, porque ele não é um livro comportado, é um livro que eu escrevi sem me censurar.
O que é o coletivo Mulheres Escritas?
Esse coletivo eu criei no fim de 2015, para fazer um evento, chamando escritoras contemporâneas para falar sobre suas obras. Teve duração de uma semana, foi aqui na Faculdade de Letras e contou com a presença de 25 escritoras do Brasil inteiro. Conceição Evaristo, Clara Averbuck, Maria Resende e várias escritoras aqui de Belo Horizonte, bem como Lavínia Rocha, que é uma escritora para o público infanto-juvenil com representatividade negra. Inicialmente, o coletivo foi criado apenas para o evento, mas ele continuou e agora somos mais uma página no Facebook que posta conteúdos voltados para literatura feita por mulheres, para mulheres, sobre mulheres. Temos planos de fazer outros eventos desse caráter para incentivar a leitura de escritoras.