1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
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Quem guarda os caminhos da cidade do Salvador da Bahia é Exu, orixá dos
mais importantes na liturgia do candomblé, orixá do movimento, por muitos confundido com o diabo no sincretismo com a religião católica, pois ele é malicioso e arreliento, não sabe estar quieto, gosta de confusão e de aperreio. Postado nas encruzilhadas de todos os caminhos, escondido na meia-luz da aurora ou do crepúsculo, na barra da manhã, no cair da tarde, no escuro da noite, Exu guarda sua cidade bem-amada. Ai de quem aqui desembarcar com malévolas intenções, com o coração de ódio ou de inveja, ou para aqui se dirigir tangido pela violência ou pelo azedume: o povo dessa cidade é doce e cordial e Exu tranca seus caminhos ao falso e ao perverso. Exu come tudo que a boca come, bebe cachaça, é um cavalheiro andante e um menino reinador. Gosta de balbúrdia, senhor dos caminhos, mensageiro dos deuses, correio dos orixás, um capeta. Por tudo isso sincretizaram-no como diabo; em verdade ele é apenas o orixá em movimento, amigo de um bafafá, de uma confusão mas, no fundo, excelente pessoa. De certa maneira é o Não onde só existe o Sim; o Contra em meio do a Favor; o intrépido e o invencível. Toda festa de terreiro começa com o padê de Exu, para que ele não venha causar pertubação. Sua roupa é bela: azul, vermelha e branca e todas as segundas-feiras lhe pertencem.
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Capa: Exu Vai Rolar: O Senhor da Improvisação. Renato da Silveira
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Questão Editorial
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Myriam Fraga Entrevista
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As entrevistas da revista
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Letras
Jorge Amado (Textos extraídos do livro “Bahia de Todos os Santos guia de ruas e mistérios”)
EXU. Escultura de Tati Moreno
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Um pouco de história
Poster Capas de Exu
dezembro 2011 Trabalho de Conclusão de Curso
Universidade Federal da Bahia Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos Bacharelado Interdisciplinar em Artes Trabalho de Conclusão de Curso Orientadora: Professora Edilene Dias Matos Pareceristas: Professora Clélia Cortês Professor Renato da Silveira Graduandos: Ana Carolina Gomiero Vallente Ricardo de Araujo Soares
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Eis Exu
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Encruzilhadas Textuais
Guia de partida de todos os próximos números, 43 Recorte e cola esses textos extraídos de um livro de Jorge Amado, se faz presente da primeira à última edição, com- 49 pondo o Editorial. Se referem ao orixá Exu, o padroeiro da Casa, donde vem a máxima da revista em “manter os caminhos sempre abertos”. São textos poéticos e subjetivos, que não informam, à primeira vista, a linha editorial de maneira convencional, mas logo, como diz outra máxima, “para bom entendedor...”; o leitor entende: em Exu, as possibilidades são muitas.
Exu documento
50
Quase última página
51
Registro Referências Utilizadas
4
questão editorial
O que normalmente se trata de um pequeno artigo onde se expressa a opinião e o posiciona-
mento do editor ou coletivo de uma revista, o Editorial, em geral se encontra em destaque nas primeiras páginas de uma publicação. Exu, em seu número de estreia, de novembro/dezembro de 1987, traz, no lugar desse editorial tradicional, acompanhado de uma fotografia da escultura de Tati Moreno, dois pequenos textos de Jorge Amado.
“
A proposta inicial da revista está muito clara no editorial, tem um pouco dessa irreverência, da própria poesia (...), tem essa coisa da soltura que se manteve até o final.
U
”
(Myriam Fraga, entrevista)
m editorial aos moldes tradicionais, por assim dizer, só apareceu efetivamente nos números 1, 2, 6 e 9, porém, todos os aspectos das revistas carregam em si esse ampliar de horizontes proposto. Exu não tinha uma política editorial bem definida. Improvisação, como diria Myriam Fraga, essa revista, literária e cultural, foi vitoriosa no campo intelectual. Era uma revista de visionários. Precisava de recursos financeiros como qualquer outra, mas esse não era o seu objetivo primaz.
dentro de uma determinada orientação programática” (IBL, 1993, p.100). Pinto de Aguiar acreditava que as editoras deviam ser usadas democraticamente, deixando a opção para o leitor; ao editor, cabia uma boa apresentação gráfica e uma maior divulgação possível. Essa é uma verdade em Exu, tão bem editada graficamente, e com um editorial aberto, democrático, Um dos nossos grandes intelec- onde tudo era permitido, dentro tuais e editor baiano, Pinto de de certos limites ou orientação, é Aguiar, em seus apontamentos, claro. escreveu a sua visão sobre o papel do editor, o qual ele acredita que não deve ser um crítico que Desde o lançamento de seu pri- exerce um julgamento quanto meiro número, Exu deixou bem à qualidade da obra, “cabe-lhe, claro em seu editorial de que se apenas, ajuizamento da obra
“
tratava de uma publicação em que os caminhos estavam sempre abertos, caminhos múltiplos que contemplavam poesia; crônicas, poemas, estudos críticos, ensaios, traduções, reportagens, entrevistas e registro das atividades da Fundação Casa de Jorge Amado compõem a publicação.
Na EXU tudo pode, evidentemente uma grosseria, um ataque a alguma pessoa não cabia, não tinha também uma política partidária. (Myriam Fraga, entrevista)
”
Myriam comenta as dificuldades do escritor na Bahia, desse ser “obstinado” que é, com a difícil tarefa em ter sua obra publicada:
“
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Ele não tem canais por onde fazer ecoar a sua voz. Não existem editoras, não existem revistas literárias, os suplementos de cultura dos jornais são coisa do passado. E os escritores se perguntam, escrever para que? Se o destino natural das obras parece ser um só: o fundo das gavetas.
”
(IBL, 1993, p. 110)
E
ste mesmo Pinto de Aguiar concedeu entrevista à Myriam Fraga, em 1984, para o jornal A Tarde, edição de 21 de junho, sobre a questão editorial na Bahia. Na época, não havia uma editora, uma revista literária ou um suplemento cultural na Bahia. Myriam observa que este era (e ainda continua) “um dos muitos mistérios que compõem o quadro da vida cultural baiana”, a qual ela chama de “verdadeira caveira-de-burro enterrada nas aspirações literárias dos escritores baianos” (IBL, 1993, p.110).
Oportuna, portanto, a criação da Exu, que, ao longo de suas trinta e seis edições, publicou trabalhos de escritores consagrados, mas também de outros, inéditos, sendo porta-voz de quem surgia e se afirmando a cada edição como um “campo livre para criação e pensamento”, como bem escrito em editorial por Myriam Fraga nas edições 2 e 6. Exu respirava arte. Além das capas, que a cada número trazia uma representação de Exu criada por um artista diferente, a revista contava também com um encarte colorido por onde circularam pinturas, esculturas, litogramas, serigravuras, desenhos, relevos e fotos, afirmando a sua intenção de permitir em si o pleno intercâmbio cultural, estreitando os laços com a criação literária e as artes plásticas em geral. Mas, assim como Exu é o orixá do movimento, a publicação também manteve, ao longo dos seus 36 números, as características da mobilidade, soltura, a brincadeira que permitia novidades, experimentações e liberdades. Para Exu nada era proibido, tudo podia quando se tratava de fazer ecoar a linguagem das artes.
Arte: Tridente de Exu, Adailton Nunes , 2011 * Feito especialmente para este TCC.
ENTREVISTA
Myriam de C. Lima Fraga Myriam de Castro Lima Fraga ini-
ciou suas atividades literárias pub-
licando assiduamente em revistas e suplementos literários; é autora de
Marinhas (1964), Sesmaria (1969), O Livro dos Adynata (1973), A ilha (1975), O risco na pele e A cidade (1979), As purificações ou o sinal de tailão (1981), dentre outros trabalhos. Dona de muitos Títulos e Prêmios revela-se uma artesã do verso: sempre em busca da forma exata e da palavra mais fiel. Tamanho prestígio Foto: Arquivo pessoal
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e dedicação às letras e à cultura, foi eleita, por unanimidade, membro efetivo da Academia de Letras da Bahia em 1985, ocupando a cadeira nº 13, e, desde 1986, é Diretora Executiva da Fundação Casa de Jorge Amado, instituição que dirige - como já disse Jorge Amado - em poesia...
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E
ncontramo-nos com Exu à porta de entrada da Casa. Somos de paz, pedimos licença e entramos. Em sua sala, Myriam Fraga nos recebe com toda graça. Vamos conversar com uma das maiores poetisas desse país; ficamos agraciados. Feitas as apresentações, sentamos, ligamos a câmera e começamos a entrevista.
Por que “Exu”?
O Humberto fazia toda a parte gráfica e o Claudius tomava conta da edição, eu coordenando... E a outra pessoa era Eduardo Athaíde, que foi a pessoa que se propôs a buscar os recursos para fazer; a gente não tinha recursos para isso, como hoje em dia...
Exu, porque ele é o padroeiro da casa e o Orixá em movimento, o que leva e trás. Exu é o orixá da comunicação.
Conte-nos como
surgiu a revista... Eu tenho muito carinho pela revista e também muito carinho pela maneira como ela surgiu. Eu, Claudius Portugal e Humberto Velame trabalhávamos juntos na Fundação Cultural do Estado da Bahia antes mesmo da existência da Fundação Casa de Jorge Amado e sempre conversávamos sobre a possibilidade de fazer uma revista. Só que para fazer lá na Fundação Cultural não daria certo porque seria como se fosse uma revista oficial... E nós
Havia uma expres-
queríamos uma coisa mais solta, mais lúdica. Quando eu vim pra cá (Fundação Casa de Jorge Amado), isso ficou muito claro que podia ser feito, porque era uma instituição privada, uma instituição que tinha uma liberdade inteira de criação e aí começamos a pensar essa revista.
sividade visual muito forte na revista, uma diagramação arrojada, leve... Havia os encartes... As capas representando o Exu em cada edição... A primeira capa foi essa, com o símbolo da Fundação, o Exu de Carybé... E depois cada capa com um artista. Começou com Calazans a
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ideia de fazer um quadro, que fica para o acervo da Fundação e a gente fotografava o quadro e fazia a capa. Tem Calazans, tem Bel Borba e eles estão todos aqui. Eu tenho muita vontade de fazer uma exposição só desses quadros de Exu, são muito bonitos, são de artistas representativos e as capas são lindas... As capas são muito diferentes umas das outras. O Claudius tinha muito interesse nas artes plásticas e nós temos dois momentos de artes plásticas na Exu, se bem que a revista tem arte pra todo canto... Tem desenhos, tem fotos, mas tem esse encarte que era recorrente e os textos dos encartes normalmente eram feitos por Claudius Portugal.
E a hibridização de lin-
guagens? A hibridização das linguagens foi uma intenção desde o começo. Sobre essa hibridização, eu acho interessante... Mas tem que
haver um pouco de cuidado para que não fique muito “embaralhado”. Porque o problema é o seguinte: a imagem tende a absorver a atenção e às vezes o texto fica um pouco em segundo plano e a minha discussão sempre foi que a tipologia tinha que ser bem clara, bem aberta...
Há alguma outra pub-
licação que foi inspiradora de Exu? Ou alguma outra, atualmente, que seja parecida em alguns aspectos? O que havia de inovação na revista? A gente sempre sonhava em fazer a Exu... Mas não sei, eu não conheço nada assim parecido... Eu acho que ela é bem diferente. Tem características assim de inovação, por exemplo, essas brincadeiras gráficas... Hoje eu acho até que isso perturba um pouco a leitura, às vezes penso, será que essa coisa que a gente fazia tanta questão, que achava tão bonito, não dá uma atrapalhação pro leitor? A letra tinha que ser diferente... Tudo tinha que ser diferente... Era uma brincadeira criativa, experimentamos muito.
Ecos da Semana de 22
ou influência de outros movimentos? Eu acho que a gente já diluiu isso... Talvez, mas talvez um pouquinho, do concretismo, mas nada intencional. Eu acho que o concretismo tem uma base teórica maravilhosa e tem uma consciência muito grande dessa coisa do papel e do uso do papel, como usar o papel e a letra, sair daquela dureza e trazer essa criatividade para o texto impresso, na letra, no signo...
A revista tinha uma
equipe fixa? Como era a relação em Exu? Era uma coisa de amizade, era um grupo de amigos... Tinha que fazer uma capa, um fazia, o outro opinava, o outro também, então não tinha aquela coisa: “eu sou isso”, todo mundo fazia um pouco, era quase que uma cooperativa, só que a gente não tinha a percepção. Os colaboradores também eram todos amigos, mas muita gente também mandava coisas pra cá, tinha muito essa ideia do artista jovem, o artista que estava começando.
Como era a seleção do
que podia e o que não podia na Exu? Na Exu tudo pode. Evidentemente, uma grosseria, um ataque a alguma
pessoa não cabia, não tinha também uma política partidária.
A proposta inicial da
revista se manteve até o fim? A proposta inicial da revista está muito clara no editorial, tem um pouco dessa irreverência da própria poesia, na verdade foi uma revista dirigida e organizada por poetas – Eu e Claudius –, tem essa coisa da soltura que se manteve até o final.
E Jorge... O
quanto há de Jorge em Exu? Jorge nunca opinou, nunca influenciou... Quer dizer, influenciou porque ele é uma presença, mas ele nunca chegou pra mim e disse “faça assim, vá pra cá, convide fulano”, nunca... Jorge Amado era uma pessoa extraordinária, ela mandava nas coisas assim, sem você perceber. Ele teve muito medo que a revista comesse os magros orçamentos da Fundação e depois viu que não, o compromisso era que a Exu não interferisse nos orçamentos da Casa, que eram muito poucos realmente. A
Exu era sustentável. Eu fui muitas vezes atrás de recursos para a revista... Depois começou a sobrar um pouco; a gente começou a fazer uma pequena coleção que era de pequenos ensaios.
A revista era vendida?
Como era a relação com o anunciante? Não... Para os anunciantes não interessava se a revista era vendida e sim que circulasse. Em alguns momentos, até, a revista man-
teve a Fundação através de um anuncio grande que nós conseguimos. A gente inclusive diminuiu o tamanho da revista porque os anunciantes reclamavam, pois já tinham um padrão para os anúncios que aproveitavam, antes ou ficava faltando, ou precisava fazer um anúncio específico para Exu. Na cabeça da gente visionária, o ideal seria uma revista que não
tivesse anúncios, ou que só tivesse anúncios específicos, criados para a revista.
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Por onde Exu cir-
culava? A gente mandava Exu pelos correios gratuitamente. Não ia para a banca, não era uma revista de banca, mas nós tínhamos uma grande lista de pessoas que recebiam. A gente também dava, distribuía... Aqui também, na Bahia, havia um maior movimento de pessoas de fora. O correio na época não era tão caro, mas chegou um ponto que começou a ficar caríssimo. A gente até tentou uma vez fazer uma campanha de assinaturas aqui na Bahia, mas só duas pessoas assinaram, todo mundo recebia de graça, a gente acostumou mal os leitores... Não tinha uma seleção das pessoas que recebiam, a gente queria que todo mundo lesse, era muito livre, tudo aqui era muito livre...
Quantos exemplares?
Desde o princípio foram três mil exemplares, mas houve um momento que a
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gente fez tiragem de cinco mil, mas aí uma parte encalhou porque era demais...
O contexto, na
época, era favorável para a Fundação e para a Revista? O contexto na época foi favorável. Nós estávamos tão entusiasmados que acho que a gente fazia qualquer negócio... Estava muito no desejo da gente fazer a revista e a gente fez. Parecia fácil... Hoje as coisas começaram a ficar mais difíceis... Era tudo feito ali, por aquelas mesmas pessoas...
da Bahia, mais antigo da Bahia”, que é o Bráulio de Abreu. É um poeta que veio da revista SAMBA, ele era um alfaiate e era um poeta. Entramos em contato com Bráulio e ele tinha na época 80 anos... Nessa eu fiz porque eu fiquei impressionada! Não era uma pessoas só que fazia a entrevista, eram duas ou três pessoas que entrevistavam e como ele era um senhor de 80 anos eu
Há um intervalo
O que era fixo na
revista? As entrevistas, os encartes... O que tinha de fixo na revista era a entrevista e o encarte. O documento só quando tinha alguma coisa esporádica. E, atrás, também tinha uma espécie de newsletter, um jornalzinho da Fundação. As entrevistas, em algumas eu fazia a abertura, em outras, Claudius fazia ou fazíamos juntos... Quando eu fui conversar com Jorge, fui convidá-lo para ser o primeiro entrevistado, ele disse: “eu acho que vocês deviam começar com o poeta mais velho
pensando que ele não viria e esperando... Valdomiro Santana, Ana Rosa Ramos, João Jorge Amado e Claudius Portugal... E ele veio, chegou aqui com um guarda chuva, deu uma sacudida e subiu essas escadas para fazer a entrevista aqui em cima... E essa foi a primeira entrevista, foi muito legal. Com isso, ele voltou a participar, que foi muito importante para ele também, as pessoas, depois de certo tempo, perdem os contatos, as referências...
pensei “ele não vai poder vir, nós vamos ter que ir na casa dele...”, aí quando eu liguei ele atendeu o telefone muito animado e muito firme e disse: “não precisa vir aqui não, eu vou aí, eu quero conhecer a Casa de Jorge...”, no dia chovia muito, a água descia por essa ladeira e nós
em que a revista não foi publicada e depois foi retomada... Eram os últimos suspiros da Exu? Existiu um intervalo maior entre um número e outra da Exu já no final que foi um infarto, foi um primeiro infarto! Eram muitas coisas ao mesmo tempo e nós tivemos momentos aqui na Fundação que foram muito difíceis... O primeiro sinal do fim da Exu foi quando a gente fez dois números em um só, e aí Jorge Amado me disse: “pela minha experiência, quando uma revista sai dois números em um só, ela está perto de acabar”, e ele achava extraordinário e é uma coisa extraordinária,
uma revista ter chegado a trinta e sete números... Ela não desceu o padrão, ela foi... E morreu, acabou, parou. Fechou um ciclo.
Como foi terminar com
a revista? Uma das razões porque a Exu parou de circular é que já estava ultrapassada, tinha que ser em outro estágio. Essa revista é uma revista feita assim, quase que artesanalmente. O que acontece é que a gente teria que estar com projetos, com uma estrutura maior... E o trabalho fim da fundação não era uma revista literária, apesar de eu achar muito importante, a gente tinha que se debruçar mais no acervo de Jorge Amado. Então nós direcionamos todas as forças para isso, para preservação do acervo, digitalização do acervo e com isso a revista ficou muito difícil de fazer, tudo ficou mais difícil de um tempo pra cá, tinha que contratar pessoas, então nós paramos com a ideia de depois continuar... Mas eu gosto muito da frase de Heráclito “Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio”, o momento da Exu passou, ela pode até vir a acontecer outra vez, mas
não será nunca essa Exu, que era feita artesanalmente, recorte aqui, cola lá, não tinham os recursos que a gente tem... Mas foi assim, uma revista construída com muito entusiasmo, carinho e você vê pelas pessoas que colaboravam com a Exu, que ela tinha certa amplidão, como Jorge morava na Europa a gente conseguiu através dele várias pessoas que colaboravam.
E a Internet hoje, des-
empenha bem esse papel de fazer ecoar a voz do escritor e do poeta? Ainda há lugar para esse tipo de publicação que foi a Exu? Hoje não interessaria mais a gente fazer uma revista desse tipo. É linda, mas é uma revista que se encerrou; hoje a Exu seria outra coisa... Para digitalizar isso e
colocar no site não 11 custa nada, mas o problema é uma coisa que se chama tempo. Não falta assunto, não falta ideia, não falta material, não falta vontade, mas falta tempo e recursos. Às vezes eu me sinto assim no limiar de outro tempo, de um mundo novo, é tudo tão rápido... Eu me lembro ainda do primeiro telefone celular que eu comprei que era um tijolo e hoje em dia a primeira coisa que eu faço é ligar o computador, escrava do computador... Telefone então nem se fala; então a gente está ficando dependente dessas tecnologias todas. Eu mesma estou pensando seriamente em fazer um site, porque você faz um livro e, daí, na internet as coisas circulam, apesar de ser um vício, é um vício bom. A internet é um instru-
12 mento fantástico,
maravilhoso... Agora o livro, como fetiche assim, é outra coisa.
Em sua entrevista
com o professor Pinto de Aguiar, para o Jornal A Tarde em 1986, a senhora diz que “um dos muitos mistérios que compõem o quadro da vida cultural baiana é sem duvida alguma o problema editorial, verdadeira caveirade-burro enterrada na porteira das aspirações literárias dos escritores locais”. Esse cenário já mudou? O cenário continua o mesmo. O analfabetismo
na Bahia é muito grande, as pessoas não leem e as crianças não são levadas a ler; agora então está cada dia pior, a maior parte das crianças passa o dia todo no computador... Eu não me conformo que a Bahia não tenha um mercado editorial, é muito pouco. Agora, tem as instituições que mantém suas editoras, como a EDUFBA, a editora da UNEB, UESC... Mas não tem uma editora comercial, que você faça um livro de contos e ache quem goste, quem não goste, quem faça. Eu acredito que é uma coisa cultural da Bahia. Fazem alguma coisa de livro, mas eu não vejo a coisa
melhorar. Houve também uma coisa terrível que foi o enfraquecimento das revistas literárias...
Chegamos ao final da
nossa entrevista, gostaria de acrescentar mais alguma coisa? O que eu acho mais bonito da Exu é essa coisa lúdica, você tratava dos assuntos mais interessantes e às vezes até profundos, mas com a coisa da brincadeira gráfica que é fantástica, não sei se ainda há espaço para isso. Até hoje perguntam quando é que a Exu vai voltar, a Exu não vai voltar, ele “está”, talvez volte algum dia de outra maneira.
AS ENTREVISTAS DA REVISTA 13 Em cada edição, desde seu lançamento, em 1987, a Exu trazia em suas primeiras páginas a seção entrevistas.
“
Teríamos uma entrevista que era mais uma entrevista documento, um registro de pessoas da Bahia como um documento de época. (Claudius Portugal, entrevista)
”
P
or sugestão de Jorge Amado, esta seção trouxe o poeta mais antigo da Bahia na época na primeira edição, Bráulio de Abreu. Essas entrevistas normalmente eram feitas por mais de uma pessoa. Os textos de apresentação eram escritos ou por Myriam Fraga ou por Claudius Portugal, quando não em conjunto. Por vezes, os entrevistadores iam ao encontro dos entrevistados, em suas casas ou em outros ambientes; em outras, os entrevistados concediam entrevista na própria Fundação. O tom era sempre informal e descontraído.
A
s entrevistas eram feitas, normalmente, por três ou quatro pessoas – estando sempre entre eles Claudius Portugal e Myriam Fraga –, com a intenção de se ter uma variedade de questões e assuntos abordados pelos diferentes entrevistadores. Essas perguntas se guiavam, logicamente, por um script prévio, porém era tudo muito solto, as conversas se desenvolviam muito “ao sabor do papo”, como citou Claudius Portugal (entrevista) e, também, ao sabor dos interesses dos que estavam ali presentes naquele momento.
Ponto comum em todas as entrevistas a maneira como se começava a apresentação, todos os entrevistados fazem, em um primeiro momento, uma descrição de si, contando um pouco de sua história pessoal.
Em dois momentos essas entrevistas ocorreram de maneira não
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usual; a primeira, conta Claudius Portugal:
“
Eu tive um entrevistado, que foi Jorge Calmon, que disse que não queria falar, só fazia a entrevista por escrito, nós mandamos as perguntas para ele e eu coloco na revista isso.
”
(Claudius Portugal, entrevista)
Em outro momento, na ocasião da entrevista com José Calasans, Claudius Portugal e Myriam Fraga não podiam estar presentes por motivos outros; a entrevista foi dada aos professores Waldir Freitas de Oliveira e Edilene Matos, que eram próximos à Fundação, e que representaram a Exu nesse momento.
Os entrevistados que
“
Você vai ver que não tem ninguém novinho. A gente foi buscar quem tinha trajetória.
”
(Claudius Portugal, entrevista)
Claudius Portuga l revela que o entrevistado da edição 37, que não saiu, foi Cid Teixeira.
evistas as entr ano s a d to Quase adas no republic da Coleção m a r fo s , atravé pria de 2008 alavras, da pró P e li d de vro. Casa formato m e , o ã ç Funda
circularam pela Exu
Na finalização das
foram muitos: Wilson
entrevistas, Claudius
Lins, Pierre Verger,
era o responsável por
Boris Schnaidermann,
editá-las, ao tempo em
Helena Parente Cunha,
que se revezava com
Judith Grossmann,
Myriam Fraga na cria-
Caetano Veloso, Dias
ção dos textos de aber-
Gomes, entre tantos
tura da sessão. A ideia
outros, que falaram
era documentar, nessa
para Exu sobre os mais
sessão, algumas pes-
variados assuntos. Ha-
soas que tinham uma
via edições com mais
história, uma trajetória
de uma entrevista,
na Bahia. A lista de
como a edição casada
nomes era imensa...
16/17, com três diferentes personalidades.
D
esde o momento em que foi pensada, inventada em um voo Rio de
Janeiro - Nova Iorque, Exu era o sonho de uma revista que fosse como um laboratório, “uma revista de criação literária para poesia, para prosa e para ensaio, mas não uma revista de resenhas, uma revista de comentar os trabalhos que saíram, nada disso, o que a gente queria na revista é que a revista fosse um caldeirão de criação.“ (Claudius Portugal, entrevista).
Exu serviria, então, para antecipar o que viria e não para reproduzir o já feito. Em suas páginas circularam autores os mais diversos, alguns baianos, outros do resto do país, e correspondentes de diversos cantos do mundo.
Letras
Na edição de número 16/17, de julho/agosto - setembro/outubro de 1990, primeira vez em que a revista aparece com dois números em um, ela traz o seguinte em seu editorial: “Desde o seu primeiro número, EXU ressalta sua intenção de abrir caminhos de comunicação. Reunindo em seus números 16/17, colaborações do Brasil, exterior, e editando-as conjuntamente – traduções, estudos críticos, contos, poesias –, evidencia não só o alcance que vem conseguindo, mas a possibilidade de divulgação do que é produzido, e sua reflexão hoje, nesta edição relativa a autores de outros, concretizando-se também um pleno intercâmbio cultural, estreitando-se os laços com a criação literária e cultural. Que os caminhos continuem abertos.”
Nesse momento, a revista surge, diferente das anteriores, não com uma, mas, sim, três entrevistas: Alice Raillard, Erhard Engler e Giovanni Ricciardo, tradutores de Jorge Amado para o francês, alemão e italiano, respectivamente. As páginas seguem com poesias em português, inglês, alemão e francês, além de um conto de José Saramago e um artigo
15
16
de Bernard Lorraine sobre os orixás da Bahia. A edição seguinte, número 18, de novembro/ dezembro de 1990, foi toda dedicada à poesia baiana. Nela encontramos textos intercalados com fotos, figuras, pinturas e esculturas, e entre os autores podemos citar Judith Grossmann, Gilberto Gil, Waly Salomão, Antonio Risério, Florisvaldo Mattos, Myriam Fraga, Luiz Vianna, Helena Parente Cunha, Plínio Aguiar, Caetano Veloso e Claudius Portugal. Em algumas de suas edições, Exu publicou, ainda, poesias inéditas de autores como Júlio César Lobo, Fernanda Monteiro, Luiz Vianna, Fátima Machado, Dulce Ferraro, Regina Coeli, Cacilda Laborda e Neide Cortizo, dando voz ao que havia de novo no momento. Além da entrevista, que era fixa em todos os números da Exu, havia também, na folha do meio da revista, um espaço dedicado a Jorge Amado: “a página miolo da revista era Jorge Amado, ia buscar no acervo o que Jorge escreveu (...) eram coisas publicadas em revistas, publicadas em jornais, mas que ficam no tempo.” (Claudius Portugal em entrevista).
Na Exu tudo podia e isso estava presente na sua variedade de textos e assuntos. Como indicava o editorial desde o começo, os caminhos estavam sempre abertos para inovar, caminhos esses, livres para criação e pensamento.
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Não há delimitação “isso é” ou “isso não é” a coisa é posta solta, pois sua forma já denota; quando nas páginas de Exu, demarcação precisa, não precisa:
tudo é mesmo poesia.
F
eita por poetas, seres que são desse e de outro mundo – como diria Octavio Paz (1993) –, cada página pode ser lida como um verso de um poema maior e significante que foi, e é para sempre, essa revista.
A
poesia, portanto, reclama a sensibilidade deixada de lado pela dinâmica cada vez mais acelerada de nossa sociedade, como lembra Antônio Brasileiro (2002), que também entende o seu poder libertador; libertação do sentido existencial das coisas do cotidiano, que clama por mudanças na percepção do enxergar o mundo, de uma percepção enquanto forma; um mar de possibilidades. Se para Paz (1993) não se deve economizar poemas, em Exu há tantos em abundância... Exu derrama poemas “como a jarra que verte o vinho e a água” (PAZ, 1993).
O
s poetas tem a doce missão de abrir os olh os do homem para a libertaçã o. Octavio Paz (1993) diz que ap “pedra de escân oesia, essa dalo da modernidade”, tem o poder de rev elar a voz do mund o e de revelar a percepção do m undo dentro d e cada um de nó s. Só assim, no s revelar a verda de, tão malcuidada, tão esque cid dida em meio à a e tão esconlógic de pensamento a complexa, s cada vez mais racionalizados do mundo; verdade esta que é – defende o au tor – a função da p oesia.
18
Entoam os sinceros Entoam em verso, e
s poetas em Exu... em prosa, em poesia...
19
20
UM POUCO DE HISTÓRIA
A
s primeiras revistas brasileiras foram editadas no exterior devido a alguns fatores como falta de vontade política, peso da censura e maciça população analfabeta do país, que foram determinantes para a criação de um periodismo sediado no estrangeiro. Já editada no Brasil, a Revista
da Sociedade Filomática, iniciativa da Faculdade de Direito de São Paulo, foi o primeiro de muitos outros títulos que se seguiram com imensa variedade temática, fazendo desse tipo de publicação objeto imprescindível do cotidiano a partir da virada do século XIX para o XX.
Entre fatores que contribuíram para a importância histórica do periodismo, podemos citar o caráter de representação e legitimação de indivíduos, grupos e ideias, e sua eficácia quanto à divulgação das informações de vanguarda. O leque temático das revistas, que atingiu a sociedade como um todo, colaborou também para o surgimento de comunidades leitoras nessa mesma época. As revistas, que, ainda hoje, permanecem como parte integrante do cotidiano do homem contemporâneo, são cada vez mais numerosas e tratam dos assuntos mais variados.
Na década de 1970, que
antecedeu o momento de criação da revista Exu, o Brasil viveu um movimento fértil de revistas literárias, com publicações ecléticas em praticamente todos os estados do país. Essas revistas representaram um papel importante na difusão da literatura, se constituindo como veículo eficaz a anunciar todos os movimentos literários, manifestos e novas tendências. Verdadeiros toques de despertar. Anos de perplexidade e medo, os 70 registraram, através de suas revistas, as incertezas diante de um quadro cultural, social, político e econômico em grande mutação, especialmente se considerarmos as contradições que tais mudanças produzem em países como os nossos, países subdesenvolvidos, para usar um termo em desuso. (CAMARGO, 2008)
Se periódicos, como a Revista Civilização Brasileira, deixaram de existir, por outro lado, o clima da Ditadura Militar, principalmente a partir de 1968, fez nascer uma imprensa alternativa que, com direcionamento político de esquerda, movimentou o cenário cultural nesses anos turbulentos. Camargo (2008) cita O Pasquim, Opinião, Movimento, Beijo e Ex como locais de resistência de produtores através de material literário e cultural.
Com a repressão militar, justamente a censura conferia o sucesso das publicações de resistência. Tais revistas e cadernos, afirma
Camargo, terão papel de
Cristina Cesar e Geraldo
concursos e divul-
preencher um vazio que
Carneiro. Esta revista an-
gava novos autores.
"não se referia à situação
dava, de maneira geral, em
política concreta contra a
esteira modernista, trazia
Na Bahia, uma re-
qual se tentava lutar, mas
transcrição de debates que
registrava a angústia dos
tratavam da "falta de con-
novos tempos sem proje-
senso sobre o valor literário e
tos" (p. 2), mas de extrema
as dificuldades no julgamento
pulsão cultural, que insitava
da produção recente" (CA-
o caráter de vanguarda das
MARGO, 2008, p. 3), além
publicações.
de momentos metalinguísti-
Camargo identifica al-
cos, convidando Salviano
gumas revistas em que se
Santiago e Ferreira Gullar.
21
vista surge no mesmo período de Escrita; Código, lançada em Salvador, é considerada por Camargo como uma das últimas revistas na linha concretista. O próprio título da revista remontava ao poema visual homônimo de Augusto de Campos, e que
percebem estilos que ultra-
Em Escrita, novamente o
passam a noção de publica-
concretismo aparece como
da publicação. Camargo
ção linear sobre literatura.
característica, mesmo esta
mostra que esta ligação foi
A primeira tratada pela
revista tendo surgido com
mais que uma tendência
autora, intitulada José, foi
vistas ao resgate da literatura, estilística ou homenagem:
lançada em 1976 e findada
contra a cultura de massa e a
segundo pesquisa realizada
dois anos depois, em sua
censura. Defendia, também,
por Eduard Marquardt (apud
décima edição. Era feita por
o que Camargo chama de
CAMARGO, 2008, p. 6),
figuras de profissões como
"antiquado nacionalismo", o
era o próprio Augusto de
poeta, jornalista, professor
que acabou trazendo mais do
Campos que controlava, de
e ensaísta, cujas divergên-
que literatura nacional, mas
São Paulo, o direcionamento
cias internas promoveram
um diálogo com a literatura
de Código. Assim, tanto
a multiplicidade de colab-
latino-americana, contra a
como espaço concretista,
oradores e textos dos mais
dominação europeia e norte-
promovia a "fusão da alta
variados campos da cultura,
americana. Dessa mistura,
cultura e da música popular"
como os concretistas Har-
surgiram experimentações
(p. 6), através de diálogo
oldo e Augusto de Campos,
que conferiram à Escrita
com o tropicalismo, em seus
e os contrários a essa linha,
diversidade de linguagens da
12 números publicados até o
os líricos dramáticos Ana
literatura; promovia também
início da década de 90.
era usada como logomarca
22
EIS
EXU
E
ntre 1985 e 1989, o país começa a respirar
23
democracia. O Presidente da República, pela primeira vez, após um longo período de governo militar, é um civil, José Sarney.
O Brasil vive um momento ainda crítico, de sucessivas crises, alta inflação e fracassados planos econômicos. Destaca-se no campo cultural a criação do Ministério da Cultura em 1985, após um tempo prolongado de “ausências” do Estado neste campo, como analisa Albino Rubim, em seu estudo Políticas Públicas de Cultura no Brasil e na Bahia, de 2007. Entendia-se que o Brasil não poderia prescindir de uma “política nacional de cultura, condizente com os novos tempos e com o desenvolvimento já alcançado pelo país” segundo o Decreto que o originou; “mas, simultaneamente, introduz um mecanismo que solapa em grande medida uma atuação cultural mais consistente do Estado” que, como aponta o citado pesquisador, aconteceu quando “a Lei Sarney (Lei 7.505, de 02 de julho de 1986) e as subsequentes leis de incentivo à cultura, através da isenção fiscal, retiram o poder de decisão do Estado e colocam a deliberação nas mãos da iniciativa privada, ainda que o recurso econômico usado seja majoritariamente público”. Nesse tempo, Na Bahia, durante o Governo Waldir Pires, destaca-se a criação tardia da Secretaria Estadual de Cultura, diferente do que aconteceu em outros Estados brasileiros. Mas Rubim (2007, p.5) aponta que os períodos que sucedem, após 89, são também de muita instabilidade no campo cultural, a começar com “o afã neoliberal de Collor [que] desmonta, como um bárbaro, quase todas as instituições culturais do país”, enquanto que a Secretaria Estadual de Cultura é acoplada ao setor de turismo, compondo a Secretaria de Cultura e Turismo, no terceiro Governo de Antônio Carlos Magalhães.
O
24
rganização não governamental e sem fins lucrativos, a Fundação Casa de Jorge Amado foi instituída por Decreto em 2 de julho de
1986 – data de aniversário de Zélia Gattai –, em cerimônia no Palácio do Planalto, pelo Presidente da República, José Sarney. Na solenidade, como relata em seu livro de memórias, publicado em 1992, Navegação de
“
Cabotagem, Jorge Amado, ao agradecer, disse:
(...) esperar que a Casa não se transformasse num museu, fosse realmente centro de cultura para o estudo da literatura baiana e do romance brasileiro, trabalhasse em conjunto com os outros organismos culturais.
J
”
orge Amado acrescenta que, sendo “apenas personagem” na Casa, não se deixaria envolver em sua administração e nem no planejamento das tarefas; ao se
referir à doação, pelo escritor James Amado, da escultura de Exu, criação de Tati Moreno, colocou a Fundação sob a proteção e os cuidados de Exu que, assim, em suas palavras, foi “entregue ao seu desvelo”.
m Fraga para a Diretoria escolha da poetisa Myria com cebida por Jorge Amado re i fo sa Ca da a iv ut ec Ex remorsos ao pontuar que de r di va in se de ar es ap satisfação, il dificuldades [e que] m de s ia de ca às da ra ar ela “vive am ”. Essa combatente ão aç nd Fu de l ta sa es s carrega nas costa e até possa duvidar – permanec em qu há o nã – el áv ns inca se rtamente, se ainda estives ce e, ão aç nd Fu da e nt fre hoje à o mais ou menos o que nd ze di ria ta es o ad m A e vivo, Jorg disse na época:
25
A
“
ara o solução ppor d n a c s u b ja raga moure ão se abate Myriam F as, não se queixa, n anutenção da os problem il pareça e seja a m yriam dirige mais difíc ução dos projetos. M e roca, no c so Casa, a exeção em poesia, em fu comparsa, no e a Funda a fantasia, dona de amor que o ,n embruxedo na esperança, um at a. e yriam Frag M a t e o esconjuro p cada dia, a ela repete a ) (trecho
”
abotagem
ação de C
e Naveg extraído d
C
omove-se Jorg e: Myriam Fraga abdica d e suas horas de lazer e fins de semana, não lhe sobra tempo para mais nada , em sua luta incansável para levar avante a cultura e cria r condições para a literatura e a arte na Bahia. Ele diz que Zélia Gattai, sua esp osa, nem se abala: “diz esta r certa que Myriam o faz c om prazer, além de poeta é combatente, as dificuld ades não a assustam, ao c ontrário, a seduzem”.
26
O
propósito fundamental da Fundação Casa de Jorge Amado, de preservar o rico e inestimável acervo desse grande romancista, é altamente sedutor; a começar pela história em torno do surgimento da Fundação em que Jorge Amado acusa Zélia Gattai de ser a responsável pela existência da Casa. Isso porque, quando ele começou a se desfazer do acervo, pria tão meiro doando para irme e forte a quem bibliotecas públicas querida Zélia, no Brasil e, depois, a, em suas Jorge confess à Academia de Leprendi que memórias: “a tras da Bahia, passou ão adianta disga, por n oi Myriam Fra a ser assediado por utir com Zélia, 4, dois c volta de 198 propostas de universi- erco sempre, fundação, a d s te n p a s o n dades americanas que té agora não a cessidade a e reforçou a ne u q desejavam receber o sa para o ganhei uma”. fundar uma ca e d acervo em doação. A r. A criaervo do escrito c a proposta era tentadora, ão vinha o da Fundaç ã ç dariam a seu acervo o a, desde ndo articulad se merecido cuidado. Jorge rio Jorge tão, pelo próp n e estava quase decidido a lata a pesmado, como re A entregar ao estrangeiro, stein em uisadora Gold q seriam documentos, correrasil Best u estudo “O B se spondências, livros, fotos, mado”, de eller de Jorge A S diplomas... Eis que Zélia poio do Rea o m o C . 3 0 0 2 Gattai se opõe: idade Feditor da Univers , Germano eral da Bahia mais tarde Tabacof, que Fundação, viria presidir a organizar os a e -s Esse acervo só sairá do Brasil, da Bahia, u o ç e m o c vam ntos que esta e m u c o d se passarem por cima do meu cadáver, tem do escritor ainda na casa elho. Jorge de ficar aqui, é o seu lugar. no Rio Verm que já não Amado conta r onde colohavia lugar po s. (trecho extraído de Navegação de Cabotagem, car tantos livro
F
F
“
2003)
”
M
27 as foi mesmo em 1987, no ano seguinte a sua oficialização, a 7 de março, que a Casa, enfim, foi “oficializada” à moda baiana: “mais de vinte mil pes-
soas lotavam o Pelourinho na noite da inauguração”, relata Jorge Amado em Navegação de Cabotagem. Foi uma grande festa na cidade, com a participação de figuras políticas de peso como o Presidente da República, José Sarney, os Ministros, da Cultura, Celso Furtado, e o da Comunicação, Antônio Carlos Magalhães, além do Governador do Estado, João Durval Carneiro (Waldir Pires ainda não havia tomado posse). Uma festa sincrética, como não poderia deixar de ser, com muita música e religiosidade, sob as bênçãos da água benta de Dom Timóteo e a pomba branca do babalorixá Luiz da Muriçoca, juntamente com a presença de Dorival Caymi, Gilberto Gil, Grande Otelo, Eutchenko e diversos axés
“
e ilês, mães e filhas-de-santo, que vieram para a celebração.
Sob a grande placa das três raças que se misturaram, os índios, os negros e
”
os brancos, arte de Carybé, erguido diante da Casa, Exu preside o destino da Fundação, ali foi plantado o fundamento na noite de inauguração. (Trecho extraído de Navegação de Cabotagem, 2003)
28
O
Exu, desenho de Carybé, conselheiro da Fundação, é o símbolo da Casa, escolhido a pedido de Jorge Amado. Conta Myriam Fraga que, mesmo an-
tes da fundação, a maior preocupação dele, dentre tantas coisas urgentes a serem feitas, era assentar logo o Exu, a escultura em ferro de autoria de Tati Moreno que
“
fora presenteada por James Amado.
”
- Manda assentar o Exu. Ele dará segurança à Casa. O povo respeita o Exu e ninguém ousará fazer mal contra a Fundação. Fala logo com Carybé e combina com Stela.
(trecho extraído do site da Fundação Casa de Jorge Amado)
C
arybé, conselheiro da Fundação, se encarregou de combinar com a
Yalorixá Stela de Oxossi, o dia e a hora mais propícia para assen-
tar, o mais
discretamente possível, o Exu na encruzilhada da Ladeira do Pelourinho, na porta da Casa. Exu é, para Jorge, dentre tantas
qualidades,
o “orixá em movimento, amigo de um bafafá, de uma confusão,
mas,
no fundo, excelente pessoa”.
N
ascia, então, a
Funda-
ção Casa de Jorge Amado em um momento quando
privilegiado, tudo
parecia
confluir para uma nova realidade cultural, onde o modelo de integração proposto pela obra de Jorge Amado ganhava o mundo, impulsionado pelas brisas de otimismo que agitavam o chamado Centro Histórico. (Revista Exu Entrevistas, 2008)
ginalização e à ar m à o ad n o d s um lugar aban ínas, então reru em es rõ sa Pelourinho, ante ca ia um a monumentos e humanidade, viv a d prostituição junto io n ô m ri at p transUNESCO como ão que visavam aç iz al it v conhecido pela re e d e ta, com propostas ltural. A vontad cu o ic st rí tu o x momento otimis le p , um grande com museu, mas sim m u em a as C a formar a área em ar em não transform ia com o futuro n o to ad n m si A e em rg a v Jo ta e d te, es ura vivo e atuan Casa de Jorge lt ão cu e aç d d n o u tr F n A ce r. num vado reforHistórico de Sal o tr en C o fundamental da d ra o er ed p a , prósp is o p ). o casarão azul é, Goldstein (2003 ra o ad is u q es p Amado, num bel a bra cia o, como bem lem uma transcendên n , as rt o p as ma do Pelourinh su em stígio, por onde, agens de Jorge... re n p so e d er p a s as o C it u a m m U ram aginário, já passa im o e al re o e tr en
O
E
ssa é a nobre tarefa da Fundação: não só preservar o acervo que ele deixou, mas de ser, também, um local de pesquisa e de estudos sobre a arte e a literatura baianas, um espaço de encontros culturais. “Se for de paz, pode entrar” é o lema da Casa que Myriam Fraga define como um lugar em que tudo acontece, em que todos se encontram [e que é]
“
atenta a todas as manifestações culturais, aberta aos ventos da convivência, encruzilhada de destinos diversos, confluência de contrários que se unem numa Bahia mística e profana. (trecho extraído do site da Fundação Casa de Jorge Amado)
”
29
30
D
iante de tantos desafios que a Casa encontrava – e ainda encontra até os dias de hoje (isso que é uma doce aventura!) – Myriam Fraga e Claudius
Portugal – que também fazia parte da Fundação –, acompanhados de outros dois grandes nomes, Humberto Vellame e Eduardo Athayde, apresentaram a Jorge Amado essa tal de revista Exu. Eis o que relata nosso Jorge Amado em Navega-
“
ção de Cabotagem:
a i pelo futuro do organismo, a revist Quando me anunciou o projeto, tem eti arauto da subliteratura, nunca com ser , nio mô tri pa o he r-l ora dev iria s beleza e não custa um centavo ao a um é a ist rev a , ho an tam o an eng ministra. cofres magérrimos que Myriam ad (trecho extraído de Navegação de
M
as não isse Myrid o m o c , o it ra demorou mu ntrevista, pa e a s s o n m e am Fraga ria, se tornan p ró p a id v r r Exu ganha em interferi s l, e v tá n te s o. do autossu da Fundaçã s to je ro p nos demais ntivo fiscal e c in o ia b e c com A revista re e mantinha s e y e rn a S reda Lei riundos, sob o , s o ri p ró p recursos licidade. tudo, da pub
”
Cabotagem, 2003)
Aposta para o título da revista pqaur-e
, pro yriam Fraga M , a ri p ró p to tiu dela erto momen c e v u o h e o relata qu ta da força d n o c r o p o ã de hesitaç ão restavam n o g lo e u q nome, mas eria ser esse d o p ó s e u q dúvidas de á do movx ri o , u x E l, a mesmo. Afin , o senhor o ã ç a ic n u m co ra imento e da ensageiro, fo m o , s o h in dos cam or Jorge Ama p o id lh o c s e também o a Fundação, d lo o b ím s o do para ser , encurtaria onta pela te p n e e d m a to rt u e d c ro aquele que, onsiderado p caminhos iniciou s o u x a E ri , ri z b o a e -v porta as distâncias inaua Casa, a sua d o n ura baianas. a lt o u c m s à e e m s a o tr n às le seu trabalho 87. Segundo 9 1 e d l a n fi guração, ao trevista), a n (e a g ra F m era conta Myria o da revista rn to m e a v co expectati res e o públi o it d e s o e tr grande en na iniciativa m ia v e u q “ em geral, idade de uma oportun teratura, ivemos alguns contratempos de pessoas que escreveram veicular li ra u lt u c as artes e a em jornal dizendo que isso não era nome de revista (...) reperA . ” s a n ia a b ediata. porque isso era fora de qualquer propósito um nome desses, cussão foi im ainda mais que aqui as pessoas associam o Exu ao diabo.
C
T
(Claudius Portugal, entrevista)
J
á diria Jorge Amado que o Exu, “de certa maneira é o Não
31
onde só existe o Sim”. Assim, Exu era e não era ao mesmo tempo uma revista literária; era um sincretismo de lingua-
gens, diga-se do poder dessa revista. Exu era muito mais que uma publicação literária, uma publicação de cultura, uma revista independente e moderna, ancorada no estudo e na divulgação da obra de Jorge Amado. Reportagens, entrevistas, ensaios, artigos, contos e poemas de autores brasileiros e de todas as partes do mundo, textos de Jorge Amado não registrados em livros, artes plásticas e ilustrações fazem parte dessa publicação de multíplos gêneros e estilos.
Arte: Exu, Cajila Caã, 2011 * Feito especialmente para este TCC.
32
T
rinta e seis números em 10 anos. Entre sua primeira edição, do bimestre novembro/dezembro de 1987 e sua última, do trimestre julho/ agosto/setembro de 1997, com algumas exceções, Exu conseguiu seguir uma periodicidade regular, entre três e quatro números por ano e uma estrutura que pouco se alterou. Sua periodicidade era bimestral e assim seguiu do primeiro até o número 33, de maio/junho de 1993, quando a revista parecia que chegava ao fim.
H
ouve dois momentos, raros, porém denotadores de que algo não estava indo muito bem, quando a revista teve dois números que se fundiram. Foram as revistas 16/17, de julho/agosto/setembro/outubro de 1990 e depois as revistas 31/32 de janeiro/março/abril de 1993.
C
onta-nos Myriam Fraga (entrevista) que quando Jorge Amado soube que dois números haviam saído numa mesma revista, ele prontamente entendeu que ela já estava perto do fim. Jorge Amado estava certo: a revista teve apenas mais um número, o 33, de maio/junho de 1993, entrando num longo período de hibernação, até 1997, quando ressurge com uma periodicidade trimestral, durando três edições até o seu suspiro derradeiro. Foram as de números 34, de janeiro/fevereiro/março, 35, de abril/maio/junho e, a última, 36, de julho/agosto/setembro.
S
ua tiragem era de 3.000 exemplares. Houve apenas uma edição que saiu com 5.000, mas não deu muito certo, como nos revelou Myriam Fraga em entrevista. Havia ainda o problema da distribuição, não era vendida em bancas de revistas, mas, sim, distribuída gratuitamente, por mala direta a agentes formadores de opinião, entre escritores, jornalistas, instituições culturais e centros de educação, bem como ao público em geral. Uma plateia até certo ponto exigente e crítica; a linha editorial e gráfica era mantida sempre num padrão de qualidade muito bem recebido por onde circulava, em vários lugares do país. O objetivo era circular a revista para o maior número possível, tanto de pessoas, quanto de lugares.
Arte: Exu, Fátima Tosca, 1989 * Cedido especialmente para este TCC.
Ela tinha uma distribuição muito boa, porque ela ia para o mundo inteiro; porque todos os lugares que tinham tradutores de Jorge, os tradutores eram nossos correspondentes; e em todos os lugares que tinham o português sendo ensinado, a revista ia. (Claudius Portugal, entrevista)
33
A
Coordenação Editorial da Exu era formada por Claudius Portugal; a arte era assunto de Humberto Vellame; a Redação por Simone Ribeiro; e o Conselho Editorial, formado por um grupo de intelectuais de peso: Myriam Fraga, Antonio Risério, Fernando da Rocha Peres, Florisvaldo Matos, James Amado, Ildásio Tavares, Evelina Hoisel, Jacques Salah, João Jorge Amado, José Carlos Capinan, Wilson Lins. Mas Myriam Fraga conta (entrevista) que essas funções não eram rigidamente cumpridas dada a amizade que havia no grupo. “Não tinha aquela coisa: “eu sou isso”, todo mundo fazia um pouco, era quase que uma cooperativa”diz.
S
eus correspondentes, brasileiros, eram muitos; entre ilustres, amigos e conhecidos de Jorge Amado, vale a pena citá-los. De São Paulo: Adelmir da Cunha Miranda, Haroldo de Campos, José Paulo Paes, Jerusa Pires Ferreira, Boris Schnaiderman, Arnaldo Antunes e Ricardo Ramos; do Rio de Janeiro: Afrânio Coutinho, Sônia Coutinho; Antônio Torres,Eduardo Portela,Fernando Sabino, Mário da Silva Brito, Rubem Braga e Bella Jozef; de Brasília: Luis Turiba e Paloma Amado Costa; do Rio Grande do Sul: Antonio Holhefeldt, Armindo Trevisan, Moacyr Scliar, Danilo Ucha e Nádia Gotlieb; Além de: Oswaldo França Junior (Minas Gerais), João de Jesus Paes Loureiro (Pará), Marcus Acyolli (Pernambuco), Sérgio de Castro Pinto (Paraíba), Janaína Amado e Haydée Jofri Barroso (Goiás).
E
ntre os correspondentes internacionais, são vários os países; Argentina: José Maria Paolantino; Venezuela: Isabel Allende; Colômbia: Gustavo Bustamonte; México: Miguel Bustos Cerecedo; Estados Unidos: Gregory Rabassa, John Dwyer, Nancy Baden, Richard O’Connor e Tomas Colchie; França: Alice Rayard, Francis Cornbes, Jean Orecchioni e René Depestre; Itália: Dario Puccini e Luciana Stegano Picchia; Portugal: Alvaro Salema, Fernando de Assis Pacheco, José Carlos de Vasconcelos, Luiz Forjaz Trigueiros, Francisco Lyon de Castro e Nuno Lima de Carvalho; Espanha: Xela Arias; Inglaterra: Antonio Olinto; Bulgária: Theodor Popoff; da ex-Tchecoslováquia: Pavlá Lidmilová; Grécia: Kostas Assimacopoulas; da ex-URSS: Jorge Kaluguim e Vera Kuteichicova; Cabo Verde: Jorge Alfama; Angola: Luandino Vieira; Moçambique: Rui Nogar; e, Japão: Osamu Kumasiro.
34
A
decisão quanto ao fim desse bom romance não foi fácil. Pensavam, na Fundação, que seria apenas uma pau-
sa para repensar as possibilidades, refazer as propostas e preparar o retorno da publicação. Mas Myriam Fraga, reflexivamente, entendia que, mesmo se voltasse, alguma coisa ficaria perdida no caminho, assim como a inocência de que tudo era possível... Exu era, assim, uma “adolescente romântica” como disse Myriam (Revista Exu Entrevista, 2008, editorial), e para continuar no caminho precisaria crescer e se tornar adulta. O caráter “artesanal” da revista precisava se profissionalizar. As dificuldades da época tornaram as coisas difíceis para a Fundação. O crescimento da Casa e a multiplicação de suas atividades, além da busca constante de recursos, tornaram impossível a continuidade do projeto. A edição de cada número era sempre uma grande aventura. A revista teve um fim, mas os caminhos
continuam
nani
abertos.
Arte: Exu, Felipe Nanni, 2011 * Feito especialmente para este TCC.
ENCRUZILHADAS TEXTUAIS 35
exu
“As linguagens são muitas. Desde a revolução industrial e, mais recentemente, a revolução eletrônica, seguida da revolução informática e digital, o poder multiplicador e o efeito proliferativo das linguagens estão se ampliando enormemente.” (SANTAELLA, 2001, p. 28)
encruzilhadas textuais As linguagens se reelaboram continuamente, não apenas na medida em que um novo veículo de transmissão é inventado, mas também através do “casamento” entre os meios de comunicação. O universo midiático está totalmente permeado por hibridizações de meios, códigos e sistemas sígnicos, que atuam como propulsores para novos florescimentos das linguagens.
36
L
úcia Santaella, em seu livro Matrizes da Linguagem e Pensamento: Sonora Visual Verbal (2001), aborda a
questão da hibridização, ao tempo em que divide e classifica as linguagens da seguinte maneira: • Verbal-visual: Gesto; mímica; dança performance; happening. • Verbal-sonoro: Canto; literatura oral; poesia sonora; rádio. • Visual-sonoro: Arquitetura; dança; computação gráfica. • Visual-verbal: Escritura; poesia; publicidade impressa; charge; visual; jornal; enciclopédia.
poesia
• Sonoro-verbal: canção. • Sonoro-visual: música instalação; teatro experimental; vídeo. • Sonoro-verbal-visual: circo; teatro; ópera; cinema; TV; hipermídia.
N
essa classificação, Santaella deixa claro que as linguagens não são puras. Sua corporificação depende de
entrecruzamentos que acontecem na raiz de sua formação enquanto expressão, acolhendo – e, muitas vezes, escondendo – traços que são originalmente princípios de outras linguagens. Isso porque tais princípios, regentes das matrizes das linguagens – o acaso do instante sonoro; a corporeidade da forma da visualidade; a convenção do discurso verbal – podem não ser concebidos somente nas formas representativas convencionais; do mesmo modo, uma linguagem não é regida somente pelos princípios da matriz que convencionalmente a constitui. Afirma a autora que “a lógica da matriz verbal não quer necessariamente significar que a linguagem tem de estar manifesta em palavras (...) isto não quer dizer que a lógica verbal não possa se realizar em signos visuais ou sonoros.” (SANTAELLA, 2001, p. 373).
A
rítmica sonora da disposição do material nas páginas e a discursividade das imagens de esculturas e foto-
grafias são alguns dos momentos híbridos, de entrecruzamento de submodalidades das linguagens que encontramos em análise da revista Exu. Assim como toda linguagem está ligada à percepção, os meios híbridos, porque misturam duas ou mais linguagens, acabam também por estimular ou promover mudanças na posição relativa dos sentidos.
P
ara McLuhan (citado por LUZ, 2009, p. 4), o híbrido é o encontro de dois meios, que constitui um momento de
verdade e revelação, do qual nasce a forma nova. “O momento de encontro dos meios é um momento de liberdade e liberação do entorpecimento e do transe que eles impõem aos nossos sentidos” (LUZ, 2009, p. 4) . A partir de uma linha editorial livre, a revista Exu congrega linguagens e articula signos aparentemente opostos, produzindo uma estética singular, rompendo fronteiras e trazendo para a literatura o lúdico e o visual. Esse jogo intertextual, que existe entre um texto e outro, e a pluralidade de sentidos evocados através das representações poéticas e pictóricas dialogam com a leitura do texto artístico.
M
iryam Fraga pontua no primeiro número da Exu que “a intenção maior é abrir canais de comunicação e man-
ter os caminhos abertos” (1987, p.1), o que é sugerido na Obra Aberta de Umberto Eco (2005). Como portadora de linguagens artísticas diversas, entendemos, com Eco, que “a obra de arte é uma mensagem fundamentalmente ambígua, uma pluralidade de significados que convivem num só significante.” (2005, p. 22). O autor entende por “obra” o objeto que é dotado de propriedades estruturais definidas, mas
37
38
que permite a coordenação e o revezamento das interpretações e o deslocar-se das perspectivas.
“Uma obra de arte acabada e fechada é também aberta, passível de diferentes interpretações, em cada fruição a obra revive dentro de uma perspectiva original.” (2005, p.49).
E
sse estímulo não é exclusivo da literatura e surge através de diversos textos interligados, provenien-
tes da abertura da obra, e que é fisgado pela sensibilidade do leitor, ocasionando a experiência estética. Eco observa que somente a partir do reconhecimento de várias vozes acontece a comunicação na obra.
C
ada
fruidor
situação
traz
uma
existencial
concreta, uma sensibilidade particularmente
condicio-
nada, uma determinada cultura,
gostos,
preconceitos
tendências, pessoais,
de
modo que a compreensão da forma originária se verifica segundo uma determinada perspectiva individual. (p. X)
D
urante a década de 60, na Universidade de Costan-
ça, Alemanha, o estudo da teoria da recepção, embasado no pensamento de Hans Robert Jauss, defende a soberania do leitor na recepção. O autor afirma que qualquer obra de arte só será recriada quando o leitor a legitimar como tal
e que é imprescindível esse olhar do público leitor. Para Jauss, a experiência estética possui um elemento cognitivo que requer a necessidade de compreensão do que é lido para, consequentemente, apreciar-se o texto.
J
auss acredita que uma obra só alcança o significado de
obra-prima quando nos reconhecemos
nela,
aceitando
os modismos e as condições históricas da época. A constatação de que o modo de ler varia ao longo dos tempos e de que a obra é lida porque é compreendida, define sua permanência devido à recepção de um público que continua fiel aos valores imutáveis nela contidos. Através da teoria da estética da recepção, pode-se identificar porque algumas obras são atemporais e confirmam seu sucesso durante décadas, enquanto outras são facilmente rejeitadas.
R
e c o n hecendo
o
valor do leitor, a
revista
reúne
Exu tex-
tos oriundos de várias linguagens artísticas que sugerem novas teorias, novos afetos, abrindo espaço para a formação de leitores críticos. Observa-se que na escolha dos textos pictóricos da revista, a palavra recebe textura, sai da temporalidade e habita o
39
40
espaço. A palavra ganha a materialidade concreta da arte gráfica. “... a letra tinha que ser diferente, tudo tinha que ser diferente, era uma brincadeira criativa, experimentamos muito.” (Myriam Fraga, entrevista).
S
obre a hibridização das linguagens presentes na revista Exu, Myriam afirma que foi intencional desde o
início, mas pontua que, apesar de achar interessante isso que chama de uma “irreverência” no uso do papel, existe ainda, para ela, a problemática de que a imagem tende a absorver a atenção, o que, por vezes, pode deixar o texto em segundo plano. Como poeta, ser de palavra que é, Myriam confessa a preocupação que tinha para que a tipologia fosse sempre bem clara, mas declara que a brincadeira gráfica e a forma lúdica que a hibridização permitiu à Exu são fantásticas.
T
exto e imagem se friccionam em Exu. As ilustrações entre os textos não se constituem,
como diz Casa Nova (2008), em simples comentários sobre eles. Quando o textual se intercruza com o não textual (ou pictórico), a ilustração, pintura ou fotografia não é meramente aleatória. Há uma intencionalidade e tais escolhas se ancoram no texto literário; é ele quem nomeia, “num processo de atividade mimética [em que] o ilustrador tenta repetir as descrições que o escritor faz em seu texto” (p. 25).
A
s
fricções
entre
as
artes
descaracterizam,
em
princípio, a Exu enquanto uma publicação unicamente
do império do textual – como são, comumente, as publicações literárias. Exu é uma revista híbrida, de diferentes linguagens que se intercruzam e dialogam.
A
s imagens evocadas designam referentes verbais ou não verbais, as quais se constituem ressonâncias do
texto literário, num diálogo constante entre texto e imagens. As imagens trazidas pela fotografia, pelos figurinos, charges, os selos dos correios, a caricatura, o início dos quadrinhos, o cartaz comercial, os livros ilustrados, as estampas, o cartão postal etc. apontam para grandes rupturas de linguagem. (CASA NOVA, 2008, p. 28)
U
ma imagem vale mais que mil palavras. Uma imagem tem o poder de sintetizar o que foi
dito, o que foi escrito, mas pode limitar a nossa imaginação. Casa Nova (p.40) traz Flaubert (citado por Jurt), que diz: “uma mulher desenhada parece com uma mulher e ponto final. (...) Ao passo que uma mulher por escrito permite sonhar com mil mulheres”. A ilustração enfeita o texto, traduz ou complementa o que foi escrito. É nesse “complementar” ou nessa “tradução” que o não verbal dialoga com o verbal, criando uma experiência diferente pela diversidade. Há uma troca entre imagem e texto; o texto empresta à imagem algo de sua es-
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sência, ao tempo em que a imagem reforça a ideia contida no texto, traduzindo, ou se desvirtuando completamente, como um contraponto, um outro texto. Nos entrecruzamentos entre imagens e textos, as suas singularidades são preservadas, mesmo atravessando outros suportes (CASA NOVA, 2008, p. 59).
E
xu tem, pelo menos, dois tipos de imagens. Uma imagem que é lida (textual/verbal) e que, portanto pede para
ser compreendida; e outra não verbal, bidimensional (foto, pintura, desenho), mais ou menos análoga à coisa representada,
e
que
pede
para ser reconhecida. A imagem que é produzida pelo texto literário tenta
surpreender
a
imagem vista através da palavra, conforme Casa Nova (p. 61), num diálogo entre traço e letra, numa encruzilhada de códigos icônicos e retóricos. Ressonância de signos e artes, “uma espécie de radiação onde a diferença advém da sensibilidade do olho que olha, que vê” (p. 65), numa ação de aproximação e diálogo entre os textos que repercute em novos desdobramentos, “o encontro, a aproximação, o diálogo ou a fricção de textos realçam as intercessões, ou seja, os processos de criação.” (BLANCHOT citado por CASA NOVA, 2008, p. 112)
A
fotografia confere a Exu novas possibilidades no entrecruzamento de linguagens. Casa Nova (2008, p. 70)
diz que para os modernistas, a fotografia apresentava-se como forma de descrição literária. A leitura de uma fotografia “introduz a descontinuidade na continuidade, fazendo do termo um sistema de diferenças [em que] ler seria unir o que está separado e separar o que está unido”. (ORTEL citado por CASA NOVA, 2008, p. 106). Quando, na edição de número 28, a Exu se transforma num álbum fotográfico, não deixa de ser uma publicação literária, haja vista que uma história é contada, de maneira preponderantemente não verbal; embora a legenda complemente a informação, a imagem por si só, já diz muito.
“T
oda
arte
é
uma
forma
de
literatura, porque toda a arte é dizer qualquer coisa”. Assim escreveu Fernando Pessoa (citado por
Casa
Nova,
2008,
p. 87). Visualizando a revista
Exu,
em
a
está
semeada
arte
que
por todas as páginas, percebemos
uma
publicação literária em que todas as formas de diálogos são possíveis, graças ao trabalho de diagramação.
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T
exto e imagem passam por novos processos engendrados pelas novas tecnologias, novas mídias, mas há
que se considerar ainda essa ligação. As possiblidades da computação gráfica que são desenvolvidas, hoje, permitem que letra e imagem adquiram potencialidades até então limitadas”. (CASA NOVA, 2008, p. 80).
O
s tipos gráficos, em EXU, estão sempre em mutação, não obedecem a nenhuma regra específica, apenas, ao
que nos diz Myriam: a experimentação. Se der certo, e isso tem haver com a percepção estética dos editores da revista, então está aprovado. As brincadeiras são diversas, a diagramação é livre, a única regra parece que é ser agradável visualmente. “[...] a leitura gráfica é uma coisa específica e independente da leitura semântica. A leitura semântica tem uma continuidade, ela é linear, ela é ordinal, ao passo que a leitura gráfica é vertical, ela é emblemática num todo. [...]” (DIAS PINO citado por CASA NOVA, 2008, p. 138)
RECORTE E COLA
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Recorte e colagem são as experiências fundamentais com o papel, das quais a leitura e a escrita não são senão formas derivadas, trans itórias, efêmeras. (COMPAGNON, 2007)
“
a por um a d a t i d e viu ista foi a D&E. Ser a v e r a r ei s e, Era uma r A prim de publicidad seguintes. Ma a ev d s a e e i m t õ c uita coisa ista muito trabalho n iç a t d s e agên n s o a c to manusc desenhada à mão sa, tinha para aração a i o m r u d o , tem muig f o s e h d idade avan rito lá. Como eu te a tran o, era trabal alhara d a r ç nho uma a u d t a , eu sou d desenhava trab aven ediçã á j a a é e d p o a u le c , c a qu q tr l , a a a , e revista, berto Vellam laudius Portug o dtra sete, fotolito, daetépois é que veio ae lese or que fac m c C Estad ilitou a vidhegar o computao d tista Hu iam Fraga e l a d r o . (Humb ultu yr e ça erto Vell a de todo muncom M a Fundação C e prosa, esqu ame, entr n evista) d ça à época . Para início gramas avan e d ia ro da Bah dores e os p ca: o processo m fi ta compu mputação grá do manual. U s, to n co dos de m da Exu era volvia colage ... e o en montag e tanto, que enhos, fotolit s o trabalh , estilete, de ia fotocóp
”
fazer essa revista, te an ss re te in o it u m ncia que foi uma experiê , utilizada somente ia ta n m co ro e ic m ol la p el A . V ê” to au eia de Humber ais, tinha um alto u a muito vistosa e ch at er , es ca õ ri aç e d ic a bl u m p fa a as h um n que “tin e que são muito com mbém a presença das artes plásticas, , es rt ca en os n e as ia ta nas cap imado e colorido. plica tal fama. Hav an ex o e it u qu m o , a ca er o o d ép a tu e que custo n , dava a sensação d to er b m u H a ar p que,
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enente, de todos os am ad ot n e, , or eeste diagramad mais solta, que qu ão aç ic bl A preocupação d u p a m u ir da era de se ter a um esforço de sa h in “T volvido com Exu, s. ia ár er lit e publicações na literatura, porqu a ir se vi a brasse a rigidez das m u é e uiessa questão qu a Exu brincava m o: rt ce eu coluna do livro, d D . ta n co foruma coluna”, a ousar em novos ar p e ad você está sujeito a d er b li l ta ens... ação, havia to tercalar com imag in s, ra to com a diagram ei an m as xto de variad matos, dispor o te
“
Era tranquilo propor essas brincadeiras, eu tinha total liberdade, principalmente quando tinha espaço; porque quando tinha muita matéria, não podia gastar muito branco, porque o branco é uma coisa importante (Humberto Vellame, entrevista)
Claudius Portugal (entrevista) conta que o primeiro número era “duro”, mas a partir da segunda ou terceira edição, já com o Humberto Vellame à frente da parte gráfica, a revista começou a ganhar um contorno mais livre. No início, momento que Claudius levou a ideia da revista para a agência de publicidade pensar em um possível formato, mostrou diversas revistas literárias a quais chamou de “tijolos”. O que ele queria era uma revista literária ousada. “Existia uma revista de surfe chamada TRIP, e eu disse: eu quero é fazer isso em literatura”. A ideia de Exu era ser uma revista alegre e descontraída.
“
”
Se havia alguma influência ou não de outras publicações na arte de Exu, é uma questão difícil de responder. Humberto se lembra de uma revista chamada Bondinho, que existiu em São Paulo, e de outra criada em Brasília, da qual não se lembra o nome, mas, segundo conta, era muito interessante... Já Claudius Portugal dá algumas dicas: em 1985, ele havia lançado um livro chamado “Olho de Gato”. Um livro em formato inusitado, com uma ideia visual que, segundo conta, vem dos anos cinquenta, do pós-guerra, passando pela pop-arte... E certa inspiracão na visualidade da poesia concreta. Enfim, uma mistura de tudo aquilo que faz parte do imaginário da sua geração.
com tudo que foi leEu não faria esse link com a poesia concreta diretamente, mas simé uma coisa assim, veio gado dos anos 50. Tinha um monte de coisa que é o caldo.(...) Não ius Portugal, entrevista) disto, é o que fez sua cabeça, Exu bebia de várias fontes. (Claud
”
Tivemos acesso a todas as revistas publicadas pela Fundação Casa de Jorge Amado, e notamos que a diagramação, em seu primeiro número, de novembro/ dezembro de 1987, ainda era um pouco “tímida”, não possuía a forma característica que veio a se consolidar como sendo a da típica Exu; estava por evoluir... No começo, os poemas já flertavam com as artes plásticas, com as “brincadeiras gráficas”, mas não eram tão expressivos diante do conjunto do que foi a revista. As tipologias eram um pouco miúdas, em algumas páginas os textos quase transbordavam e eram muitos em relação aos poucos desenhos e fotografias. Já na segunda edição, a revista muda um pouco sua diagramação, agora, sim, com um jeitão de Exu. Fotografias e desenhos conferem um tom mais despojado, a tipologia nos títulos começa a ganhar um estilo mais animado, com formas e movimentos variados, características das revistas seguintes;
os poemas e demais textos literários são colocados de maneira mais agradável e de leitura mais solta, sem a rigidez que ainda era percebida no primeiro número. A terceira edição já apontava o caminho das que viriam em seguida: era uma diagramação bem mais livre, desde a primeira parte (a entrevista) até a última página. pinturas Ilustrações, de artistas e fotografias conferiam à revista uma leveza; ela respirava variedade artística do inicio ao fim. Denotava ainda mais o hibridismo de linguagens, essa mistura que daria o tom a todas as próximas edições. A revista evolui, amadurece muito rapidamente em termos gráficos. As possibilidades se tornam muitas. Em Exu tudo era possível. A revista chegou ao ponto certo, o estilo experimental passa a ser o caminho das edições seguintes. “(...) era uma revista de criação então nós vamos ser criativos, não tem uma rigidez, não tem nada disso, lá dentro você brinca como quer.” (Claudius Portugal, entrevista).
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Não havia mesmices. A revista manteve sua forma, sempre buscando algo novo, algo diferente, seja na disposição dos textos ou dos poemas; a tipologia utilizada era ousada, rebuscada, de diferentes maneiras. As sessões fixas eram poucas – as entrevistas e o poster –, e no restante, a revista Exu permitia o que tivesse que ser.
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(
28, pecial nº s e o ã ç i d e ese para a nos de Jorge Ama t n ê r a p 0a i um em aos 8 e fotografazer aqu g d a e t ” n o n e a v i t m t r e o o f h a É imp oética” em rmou num “álbum de curiosidade, a p a ç n e c li sfo lo uma “ xu se tran élia Gattai. A títu i para se adequar E a e u q Z u do, em a esposa edição. sta dimin u i s a v e e m r i d lt a e ú d a ura fias, dele assim até ero, a alt o m d ú n n e t e s n s a partir de ário, se m it c li b u p o ao padrã
“
ar A gente tentava coloc a a m for de a publicidade iva ns ofe isa não ser uma co cio e preferia sempre anúnpáeia m a, de página inteir es, gina... Alguns anunciantam iav cr s algumas agência dipara a revista. (Clau ta) vis tre en us Portugal,
)
Apesar do “id eal visionário dos poetas”, como disse Myriam Fraga em entrev ista, de ter um a revista sem qua lquer publicid ade, a Exu teve m uitos anuncia ntes. Essa publicid ade era o que fazia da revista “au tosustentável” , permitindo que não precisass e ser vendida em bancas, e sim distribuída por correio pela B ahia, pelo Brasil e ao redor do m undo. Os anúnc ios que circula ram na Exu eram , em grande parte, criados espec ialmente para esta publicação; o utras vezes quebravam o ritm o harmonioso da revista, mas eram necess ários para manter as finanças em dia. “Em alguns momentos, a té, a revista mante ve a Funda ção, através de um anúncio gran de que nós co nseguimos”, contou Myriam Fraga (entrev ista).
”
Dentre os anunciantes qu e por Exu passaram, algu ns são bastante expressivos: American Expres s; Bahiatursa; Banco de Brasília; Banco do Bras Banco do Nordeste; BA il; NEB; Banespa; Bigraf; Br e’s; Caixa Econômica Fe eral; CEPLAC; Cerveja A dntarctica; Coca-Cola; Co mpanhia Petroquímica de Camaçari; COPENE; DO W; Empresa Gráfica da Ba hia; Escritório Julio Abe; FBB – Fundação Banco do Brasil; Gerson; Gover no da Bahia; Hermida& Ltda; IAPAS – Instituto Sá de Administração Financ eira da Previdência e As sistência Social; Ihéus; Ip iranga; JABS Corretora de Seguros; Le Meridien; Ministério da Cultura; M inistério das Comunicaç ões; Ministério do Interior; NR Galeria de Arte; Paes Mendonça; Pelourin ho; Petrobrás; Plaza Gril Prefeitura Municipal de l; Salvador; Promédica; Pr ova do Artista; SEBRAC Sergen; Simon Joalhe ; iros; Studio Domingos; tugal; UEC; Tap Air PorVIBEMSA; Wakahara SCL.
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, que durou apenas duas páginas da Vale ressaltar, aqui, que houve um breve momento “quebra” a sua monocromia típica edição nº 9, de maio/junho de 1989, em que Exutração das bandeiras da França e da e insere duas cores, o azul e o vermelho, na ilus oro da revista com as cores em suas Bahia para um de seus textos. Este foi o único nam to caro manter a revista toda colpáginas. Quanto a isso, uma explicação: seria mui Exu eram a capa e o encarte anexo orida, naquela época... O que havia de colorido emsta plástico diferente a cada edição. em página dupla, que trazia uma obra de um arti
“
”
, fizemos As pessoas perguntavam por que não fazer colorido as. Era oros horr mos acha e s uma vez duas páginas colorida não nta, adia não ca, bran e a preta e branca, era para ser pret a) evist entr , ugal Port s udiu tenta mudar, é a cara da revista. (Cla
Quando a Exu finaliza a su a edição 33, de maio/junho de 1993, para voltar quase quatro anos depois, revigoran do em três outras edições, 34, 35 e 36, de janeiro/fevereiro/março de 1997, abril /maio/junho de 1997 e julho/agosto/setem bro de 1997, respectivamente, já era uma revista um pouco diferente. Estava mais “dura”, com menos fotos e “brincadeira s” gráficas.
“
”
mais vibA revista volta porque teve anunciantes; mas não já ela não virando como era antes. Para mim, pelo menos , entrevista) brava tanto, era outra coisa. (Claudius Portugal
ara o que p ta s o p s e r eja a no e Myriam s d o ã ossível retor x p e fl e m r u a e , r z b e o s eTalv la s: “hoje sab ando ela fa u ta q is , v s e o tr m n a E v : r xu a obse ro Revista E orque algum v p li , o o n n r to ta e is r v ria da re orial). Algo so, não have it a c d e e , s 8 s e 0 0 n 2 , ( e ” ho mos qu ições 33 e a pelo camin d e id d s r a e p e tr ia r n a e to coisa fic eu nesse hia lado, a esd r o e tr p u o e s r o te p as, vcertamen utra Exu, m o a r e udius (entre , la o C n r s o to e n r ta o n N , 34. . Co ieram depois ve até o fim v te e n u a q m s a e : s a ia blem sênc ito “caretas”. riou um pro u c m u x m E a r a a c e fi u ou ista) q so à frente, s a p m u m a ou der
DOCUMENTO
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52 QUASE ÚLTIMA PÁGINA “O poeta não tem medo da imprevisibilidade . Um dia a sensibilidade humana tenderá para linguagens que ultrapassarão as línguas, e essas linguagens integrarão toda espécie de dimensões, de formas, de silêncios, de representações, que se constituirão como novos elementos da língua.” (Glissant, 2005)
A
ssim foram publicados os 36 números da revista EXU, uma empreitada criativa, uma aventura editorial... Sua importância não está so-
mente na irreverência da sua visualidade, mas também na inovação do seu projeto gráfico e editorial para a época, conferindo a ela uma singularidade particular.
U
m sonho de uma revista literária que transcendesse a arte da palavra e o rigor das colunas. Sonho este que deu vida a uma publicação
diversificada e moderna, de cultura, independente, com seus caminhos abertos aos novos ventos e páginas dedicadas à brincadeira lúdica, à leveza da arte e da experimentação.
E
xu fechou um ciclo, e deixa registrado em suas páginas, com a leveza e a alegria que lhes eram particular, o retrato de uma época, o espelho
de um ambiente cultural de visualidade e de literatura que era verdade naquele momento. Assim como o orixá que lhe dá nome, “o do movimento”, “o que leva e traz”, a Revista EXU, inquieta, ampliou horizontes, se tornou encruzilhada - encontro de caminhos múltiplos EXU é assim (com bem disse Humberto Vellame): cheia de um “auê”...
REGISTRO
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54 REFERÊNCIAS UTILIZADAS AMADO, Jorge. Navegação de Cabotagem – Apontamentos para um livro de memórias que jamais escreverei. 6ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. BRASILEIRO, Antonio. Da Inutilidade da Poesia. Salvador: EDUFBA, 2002. CAMARGO, Maria Lucia de Barros. Não há sol que sempre dure. Revistas Literárias Brasileiras: Anos 70. Santa Catarina: UFSC, 2008. Disponível em: < www.periodicos.ufsc.br/index.php/nelic/article/ download/1054/809> Acesso em: 14 de novembro de 2011. CAMPOS, Haroldo de. Depoimentos de Oficina. São Paulo: UNIMARCO Editora, 2002. CARDOSO FILHO, Jorge Luis Cunha. 40 anos de estética da recepção: pesquisas e desdobramentos no meio de comunicação. In: Revista Diálogos Possíveis – Faculdade Social da Bahia. Ano 6, n. 2, jul-dez, 2007. Disponível em: <http://www.faculdadesocial.edu.br/dialogospossiveis/artigos/11/04.pdf>. Acesso em: 10 de junho de 2011. CASA NOVA, Vera. Fricções - traço, olho, letra. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2008. COMPAGNON, Antoine. O trabalho da citação. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2007. ECO, Umberto. Obra aberta: forma e indeterminação nas poéticas contemporâneas. São Paulo: Perspectiva, 2005. EXU. Salvador: FCJA, Fundação Casa de Jorge Amado, 1987 – 1997. Periodicidade: bimensal/trimestral. FCJA, Fundação Casa de Jorge Amado. Myriam Fraga in: EXU. Salvador: FCJA, Fundação Casa de Jorge Amado, 1987. FCJA, Fundação Casa de Jorge Amado. Revista Exu: entrevistas. Salvador: Casa de Palavras, 2008. FCJA, Fundação Casa de Jorge Amado. Website. Disponível em: <www.jorgeamado.org.br>. Acesso em: 14 de novembro de 2011. FIGURELLI, Roberto. Hans Robert Jauss e a estética da recepção. Revista Letras. Curitiba (UFPR), v. 37, p. 265-285, 1988. GLISSANT, Édouard. Introdução a uma poética da diversidade. Juiz de Fora: Editora da UFJF, 2005. GOLDSTEIN, Ilana Seltzer. A Fundação Casa de Jorge Amado, guardada por Exu. In: O Brasil Best Seller de Jorge Amado. Senac: São Paulo, 2003, p. 53-71. IBL, Instituto Baiano do Livro. A aventura editorial de Pinto de Aguiar. Salvador: Instituto Baiano do Livro, 1993. LUZ, Liliane. O Hibridismo e a Dança. Disponível em: <www. http://paginas.ufrgs.br/alcar/encontrosnacionais-1/7o-encontro-2009-1/O%20HIBRIDISMO%20E%20A%20DANCA.pdf>. Acesso em: 14 de novembro de 2011. MARTINS, Ana Luiza. Revistas em revista: imprensa e práticas culturais em tempo de república – São Paulo (1890-1922). São Paulo: EDUSP/Fapesp, 2001. PAZ, Octavio. A outra voz. São Paulo: Siciliano, 1993. PORTUGAL, Claudius. Outras Cores: 27 artistas da Bahia - reportagens plásticas. Salvador: FCJA; TELEBAHIA, 1994. RUBIM, Albino. Políticas públicas de cultura no Brasil e na Bahia. Disponível em: <www.cult.ufba. br>. Acesso em: 14 de novembro de 2011. SANTAELLA, Lucia. Matrizes da Linguagem e Pensamento: sonora visual verbal. São Paulo: FAPESP, 2005.
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a d s a Cap EXU
Exu, 58
Orixá do movimento e da comunicação, entidade impone speitada, o guardião de todos os caminhos e, “no fundo celente pessoa” como escreveu Jorge Amado; são para as homenagens das capas da revista que leva seu nom forte nome como bem lembrado por Myriam Fraga, em e
As três primeiras capas levam até leitor a arte do artista Carybé - o símbolo da Fu de Jorge Amado. Eram capas simples. Conta-nos Myriam Fraga (entrevista), qu manter essa primeira arte em todas as edições seguintes, apenas alterando a co primeira edição, de novembro/dezembro de 1987 trás o Exu sob um fundo vermelh de janeiro/fevereiro de 1988, os vários Exus de Carybé, sob um fundo preto e a t em um fundo de nuve
Mas essa ideia de manter o mesmo Exu na capa se transformou, e na quarta ediçã Carybé abre caminho para outros artistas (com exceção da edição especial n° 28, d julho/agosto de 1992 que traz o seu Exu sob um fundo, em tons vermelhos, da fachad da Casa, fotografia de José Carlos Almeida); Eis que surge uma das ideias mais linda e marcantes da revista, as capas, que ganham a força expressiva e altamente signifi cante com as mais variadas traduções do Orixá, criadas por diversos artistas:
Emanuel Araujo; Manu; Agnaldo dos Santos; Jamison Pedra; Sérgio Robinovitz; Humberto Velame; Calazans Neto; Cesár Romero; Bel Borda; Jader Resende; Maria Adari; Regina Costa; Sante Scaldaferri; Floriano Teixeira; Juracy Dórea; Lula Queiroz; Rubem Valentim; Leonel Mattos; Chico Liberato; Ramiro Bernabó; Valuizo; Palito; Justino Maranhão; Ronaldo Martins; Francisco Santos; Mario Cravo; Edson Calmon; Caetano Dias; Murilo; e Márcia Abreu. Exu domina todas as edições, até a última.
Cada artista era convidado para retratar o Exu. São pinturas e esculturas, de variados tamanhos e formas, que provocam encantamento por sua beleza e criatividade e que hoje fazem parte do acervo da Fundação Casa de Jorge Amado. “(...) Calá (Calazans Neto) resolve doar para a Casa a obra, daí em diante todo artista passou a doar para a Casa a capa da revista. “ (Claudius Portugal, entrevista)
Cada arte era depois editad par a capa da iam nos cont dentre todas da Casa, pre uma grande e esses quadro que hoje se acervo da F de Jorge Am quanto isso acontece, d verso deste as capas da r
ente e reo, uma exa ele todas me, o seu entrevista.
undação Casa ue a ideia era or de fundo. A ho; a segunda, terceira, o Exu ens, todo azul.
ão de da as fi-
a fotografada e da para estama revista. Myrta que um dia, s as demandas etende realizar exposição com os e esculturas encontram no Fundação Casa mado. Mas eno ainda não dispomos, ao encarte, todas revista Exu.
M
uito importante relatar aqui, que na revista Exu, este mesmo encarte onde trazemos as capas, era presente em todas as edições, do primeiro ao último número. O encarte se tratava de um poster em policromia e papel diferenciado das demais páginas da revista. Trazia sempre uma arte - pinturas, fotografias, esculturas, serigrafias... E no verso, um perfil do artista e um texto, com palavras muito bem elaboradas, escritas por Claudius Portugal. As exceções com relação a esse poster foram as edições 18, que falava sobre a própria Fundação Casa de Jorge Amado e a edição especial nº 28 que não teve encarte, pois tratava de uma edição especial em comemoração ao aniversário de Jorge Amado, contendo apenas fotos.
N
ota: Como esta é uma edição metalinguística da Exu, mantemonos fiel a ideia inicial. A arte de nossa Capa é o “Exu vai rolar: o senhor da improvisação”, do artista plástico e professor da UFBA, Renato da Silveira, que gentilmente nos deu permissão para realizar essa “brincadeira”.
dezembro 2011 Trabalho de Conclusão de Curso
A primeira edição trouxe 59 no encarte uma monotipia de Calazans Neto. Nos outros números, tivemos: Pintura de Floriano Teixeira (2); pintura de Carybé (3); Jenner Augusto (4); foto da escultura de Mario Cravo Filho (5); pintura de Carlos Bastos (6); Litograma de Emanuel Araujo (7); pintura de Juarez Paraiso (8); pintura de Lygia Sampaio (9); pintura em encáustica de Sante Scaldaferri (10); pintura de Mirabeau Sampaio (11); pintura de Rubem Valentim (12); serigravura de Jamison Pedra (13); foto da escultura de Tati Moreno (14); pintura de Fernando Coelho (15); bico de pena de Angelo Roberto (16/17); desenho de Sérgio Rabinovitz (19); pintura de Vauluizo Bezerra (20); pintura de Maria Adair (21); pintura de Jadir Freire (22); pintura de Cesar Romero (23); foto de esculturas de Bel Borba (24); pintura de Jader Resende (25); pintura de Lula Queiroz (26); relevo de Chico Liberato (27); pintura de Murilo (28); pintura de Justino Maranhão (30); foto de escultura de Washington Santana (31/32); foto de escultura de Juracy Dórea (33); pintura de Siron Franco (34); pintura de Mestre Didi (35); pintura de Celuque (36).
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