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A busca da liberdade na construção das africanidades
porClariceBertoni
Nos últimos anos, o moçambicano tem estado muito presente no Brasil. Em Salvador, na Bahia, em São Paulo, capital. E a questão que ele coloca é “O que nós temos em comum? Africa‐nos, brasileiros, norte americanos, ca‐nadenses, jamaicanos e haitianos. Qual o paradigma que faz de nós uma comunidade epistêmica?”. E responde frisando que depois de muita leitura, muita investigação e muita re exão, parece-lhe que o que temos em co‐mum, o que caracteriza a loso a afri‐cana e o pensamento africano é a buscadaliberdade.
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Essa busca da liberdade parte en‐tão, de um pressuposto fundamental: a construção das africanidades. Severi‐no acentua que “nós, africanos, fomos tirados da África como escravos e sub‐metidos, dentro do nosso continente” e por esse motivo, existe um paradig‐ma, uma re exão de fundo, um axio‐ma, um postulado, que caracteriza o pensar africano. Esse pensar africano, essencialmente, é a busca da liberda‐de. O pesquisador ressalta que não diz liberdade, mas a busca da liberda‐de negra. Na América, na África e na própriaEuropa.
O professor questiona sobre como se inicia e como se desenvolve estas lu‐tas libertárias dos povos negros. Ele ressaltando que costuma dividir a afri‐
deser, peloreconhecimentode umdireitoprescrito
Epassouaserpelo Reconhecimentodeuma Ordemsocial
1865 e no Brasil em 1888 e que esta busca libertá‐ria contra a escravatura tem muito em comum em todosospaísesdadiáspora.
Há uma pluralidade no “sofrimento do próprio continente negro. Tem muito em comum com o queaprofessoraPetronilhachamoudeeurocentris‐mo ocidental”. Severino explicita que a busca da li‐berdade contra a escravatura é um processo que começa em 1492, quando os primeiros negros fo‐ram transportados e chegaram a Boston. E que este processo não parou por quatro longos séculos. Em 1865 o processo de escravatura começa a declinar mas,quandoacaba,começaumsegundoprocesso.
RevistaXCOPENE-2018-Uberlândia-MG-dezembrode2018
O segundo processo, salienta o professor, seria a luta pela integração social. Os negros, apesar de se‐rem juridicamente livres, apesar de serem libertos nas diásporas, continuaram a não se bene ciar da totalidade dos direitos civis. “Então, a luta deixou deser,peloreconhecimentodeumdireitoprescrito na lei e passou a ser pelo reconhecimento de uma ordem social” a rma Severino. Ele observa que este processo de integração, ainda hoje carece de realiza‐ção. E admite que o negro no Brasil, conhece me‐lhordoqueeleosprocessosdediscriminação.
“Apesar de termos um século de história, o re‐conhecimento dos direitos à integração social não se fez, não se realizou completamente” a rma o pesquisador, acrescentando que o terceiro nível de liberdade é a liberdade como autodeterminação política. O processo que começa no Haiti, levando os negros a independência, foi prolongado em ou‐ tras zonas, como na Jamaica e continuou nas amé‐ricas. Este processo se inicia no continente africano na segunda metade do século XX e só se completa com a independência do Zimbábue e o mdoapartheidnaÁfricadoSul.
A última busca é o que Severino chama de li‐berdade como desenvolvimento econômico, polí‐tico e social. “Nós, negros da África, somos o continente mais pobre, com as maiores di culda‐des”. Por esse motivo, o moçambicano reforça o fato de que, na atualidade, o que deve ser confron‐tadoé uma forma de tirar ocontinente da situação de pobreza e miséria que se encontra, evidencian‐do a necessidade de se debater o futuro das socie‐dades africanas, num contexto em que os próprios negros são chamados a ser mestres dos seus desti‐nos e responsáveis pela construção de um futuro diferente.