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Já usou seu pacote Office hoje?
Coordenador do projeto Educação Vigiada aponta os impactos do uso de softwares privados nas instituições de ensino
A utilização de plataformas digitais como apoio para o processo educativo cresceu significativamente em um período de poucos anos. Um estudo publicado em 2021 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), apontou que entre 2016 e 2020 houve um aumento de 44% no uso dessas plataformas para atividades de ensino e aprendizagem nas escolas urbanas do Brasil.
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Consequentemente, a oferta de tecnologias educacionais destinadas às instituições de ensino também aumentou. A UFU, por exemplo, firmou um acordo de parceria com a Microsoft em 2018, e a partir de 2021 os alunos puderam ter acesso às ferramentas disponibilizadas. O contrato vigente estipulado no valor de R$2.670.624,00 conta com as ferramentas do Pacote Office 365 (Microsoft Teams, Word, Excel, PowerPoint, Outlook e OneDrive) e visa possibilitar o aumento da eficiência na realização de atividades no âmbito da universidade.
Com a necessidade de utilização dessas plataformas, uma questão foi levantada: qual a responsabilidade das instituições que utilizam softwares privados, como o Pacote Office, na proteção dos dados de seus usuários?
Para entender mais sobre o assunto, o Senso (in)Comum conversou com Leonardo Ribeiro da Cruz, professor na Universidade Federal do Pará e um dos coordenadores do projeto Educação Vigiada. A iniciativa coleta e divulga informações sobre a plataformização da educação pública na América do Sul. O projeto desenvolveu um software com o objetivo de obter informações sobre servidores de email de universidades brasileiras devido à falta de dados disponíveis. Na entrevista, Leonardo comenta sobre os impactos sociais e educacionais do uso de tecnologias privadas nas universidades públicas. universidade e ser obrigado a usar Google ou Microsoft. Isso é compulsório e um grande problema, pois gera uma confusão entre a fronteira público-privada. Se o indivíduo quer gozar de um serviço público como a universidade federal, necessariamente ele vai ter que entrar no mercado privado de dados, porque a própria universidade vai colocá-lo lá. É uma questão estrutural. No fim você é obrigado a usar o Google ou a Microsoft em algum momento.
Senso (in)Comum: Empresas de tecnologia GAFAM (Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft) exigem permissões de uso, como o acesso a algumas informações dos usuários. Quais dados, especificamente, essas plataformas coletam?
Leonardo Cruz: Ninguém sabe muito bem. Essas empresas deixam isso no escuro, propositalmente. O que sabemos é que possuem acesso aos metadados, aqueles gerados a partir do acesso a outros dados. Por exemplo, a hora que você entra e sai do site, com quem você se relaciona dentro dele, links visitados e tempo de uso. Elas também possuem acesso à coisas relacionadas ao seu aparelho, como navegador, sistema operacional, histórico e localização. Alémdisso,apartir de estudos, constatamos que, principalmente, o Google e a Microsoft têm acesso aos dados do e-mail.
Senso (in)Comum: Quais as consequências do uso de tecnologias privadas, como a parceria da UFU com a Microsoft, na formação educativa e acadêmica dos estudantes?
Leonardo Cruz: O que está acontecendo é a privatização de uma área que antes era organizada pela própria instituição. Essa é uma área de atuação que foi e ainda poderia ser um espaço de emprego para os estudantes, mas hoje o funcionário que trabalha nesse domínio é da Microsoft. Outra coisa é em relação à possibilidade de criação de tecnologias alternativas. Isso é muito cruel, porque a universidade deveria ser espaço de criação de novas tecnologias que não tenham a vigilância como pressuposto.
Senso (in)Comum: Na sua opinião, o que levou as universidades públicas a procurarem a iniciativa de tecnologia privada e quais preocupações os usuários desses softwares devem ter?
Senso (in)Comum: A falta de informações sobre como as grandes empresas de tecnologia atuam na oferta de tecnologias educacionais prejudica as pesquisas e discussões sobre seu uso no ensino?
Leonardo Cruz: Sim. Quanto menos sabemos como essas empresas funcionam, mais difícil é tomar decisões informadas. Nosso projeto criou um software para coletar esses dados, porque a Google e a Microsoft não os forneciam. Essa falta de transparência é uma estratégia, bem como os contratos entre as instituições públicas de ensino e as "big techs", que não passam por todas as instâncias contratuais da Universidade.
Senso (in)Comum: Qual é o papel da Universidade em relação aos termos de privacidade e aos dados coletados pela empresa parceira?
Leonardo Cruz: É importante discutir isso. As ações individuais não são mais suficientes. Não adianta ter um aluno que entende sobre vigilância de dados, mas vai se matricular na
Leonardo Cruz: Justamente o corte de gastos nessas instituições. Elas tinham que possuir uma estrutura pública, mas não havia dinheiro para gerenciar um parque tecnológico com armazenamento suficiente. A solução apresentada é a privada, e as universidades usam esses servidores por não possuírem um próprio. Além disso, acredito que não adianta os usuários se preocuparem. Quem tem que se responsabilizar é a empresa e a universidade.