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"Dermocosméticos" são uma invenção da indústria
Anvisa revela inconsistência técnica em nomenclatura do nicho de cosméticos
Notoriedade Na M Dia
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Recentemente, dois casos ganharam notoriedade na mídia e acentuaram o debate sobre a problemática de se utilizar a palavra "dermocosmético". Um deles foi a base da We Pink, marca da influenciadora digital Virgínia Fonseca, que anuncia conter em sua fórmula “ativos que irão proteger e revigorar a pele”. O outro foi o óleo corporal Rosa Selvagem, que promete “hidratar e ajudar no clareamento de manchas escuras causadas por atritos e ressecamento” sem a necessidade de fazer procedimentos estéticos. Os dois produtos foram divulgados em várias redes sociais como fonte de tratamento medicamentoso para problemas de pele, porém não oferecem nenhuma comprovação científica a respeito de sua eficácia. Isso levantou questionamentos sobre a veracidade da existência do termo e também em relação à transparência das marcas para com seus consumidores ao prometerem algo que não podem entregar.
Inven Es Da Ind Stria
O termo “dermocosmético”, criado pela indústria de cosméticos como estratégia de marketing para alavancar as vendas de certos produtos de beleza, não possui embasamento científico e nem registro de eficácia comprovada, de acordo com as classificações e especificações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Entretanto, ele passou a ser muito utilizado por marcas de cosméticos para gerar engajamento nas redes sociais. Trata-se de um tipo de produto que promete agir de maneira profunda, como um tratamento que proporciona saúde à pele do consumidor. Na prática, ele é incapaz de entregar o prometido, pois não está de acordo com as determinações da Anvisa para esse tipo de mercadoria. Segundo o órgão nacional, todos os itens de beleza fazem parte de uma mesma categoria: cosméticos.
Classifica O Da Anvisa
A Resolução da Diretoria da Anvisa, publicada em 19 de setembro de 2022, determi- nou a regularização dos produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes. Nela, está descrito que o registro para classificação de um produto é dividido em dois graus: o primeiro se refere àqueles cosméticos que possuem propriedades básicas e que não exigem testes de eficiência em tratamentos de pele para serem inseridos no mercado, como perfumes, esmaltes e maquiagens. Enquanto os registrados em um segundo grau são caracterizados por possuírem indicações específicas que necessitam de comprovação de segurança ou eficácia, como maquiagens com fotoproteção e produtos para acne.
UTILIZAÇÃO DE “DERMOCOSMÉTICOS”
A doutora Fernanda Braga, dermatologista especializada em estética e cuidados de pele, afirma que “não é válido nomear esses produtos como ‘dermocosméticos’ porque sabemos que eles não serão capazes de cumprir o que prometem. São produtos que, ao lavar, vão sair da pele e sem efeito prolongado. Seu uso recorrente, inclusive, não é o recomendado”. A doutora também alerta que é preciso consumir conteúdos relacionados à beleza com cautela, já que, nas redes sociais, é possível que influencers utilizem filtros ou façam procedimentos prévios que não são mostrados ao público.
Itens De Beleza X F Rmacos
Gisele Alvarenga, farmacêutica especializada em manipulação de cosméticos, explica que “para colocar um produto medicamentoso no mercado, por exemplo, leva em torno de 15 anos até que sejam realizados e comprovados todos os testes de qualidade necessários”. Ela também conta que, quando um produto é alterado de grau 1 para grau 2, é preciso fazer testes para comprovar a sua eficácia e toxicidade. Não é necessário nenhum tipo de registro diferente, mas uma autorização da Anvisa para que ele possa circular no mercado como fármaco ao invés de item de beleza. Contudo, esse processo costuma ser demorado.