P R O J
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AVES DE PARATY U M A C I DA DE OB SE RVA DOR A DE AV E S
Associação Cairuçu 2
A Associação Cairuçu é uma ONG. Nasceu em 2002, quando um grupo de pessoas do Condomínio Laranjeiras resolveu trabalhar para superar alguns desafios sociais e ambientais da região. São pessoas encantadas pelas belezas de Paraty, que sempre apostam na ideia de somar esforços com o poder público, com os moradores e com outras ONGs, para fazer da cidade um lugar ainda melhor para se viver. Nesse movimento, a Associação Cairuçu cresceu e hoje é uma importante organização social da região, com projetos nas áreas de educação, de promoção da saúde, do turismo sustentável e do esporte. Várias atividades são oferecidas gratuitamente para moradores de diferentes regiões que compõem o município.
Turismo Sustentável
Os primeiros esforços
Depois que o trecho da BR-101, entre o litoral de São Paulo e Rio de Janeiro foi concluído, nos anos 70, mais conhecido como Rodovia Rio-Santos, o número de pessoas que procuraram conhecer Paraty aumentou. Ou seja, a estrada facilitou a vinda das pessoas das capitais do Sudeste para o litoral paratyense e, como o lugar é bonito, muita gente decidiu fixar residência e morar ali. Em 20 anos, a população do município praticamente dobrou de tamanho. E no verão, curtir Paraty ganha um significado ainda mais especial, com turistas vindos de todo o Brasil e do mundo. Por melhor que sejam as intenções de todos (visitantes e moradores), esse volume de pessoas atinge os ambientes naturais e urbano de Paraty, o que acaba interferindo na harmonia local, impactando a natureza e a tranquila vida dos moradores da região. E foi assim que a Associação Cairuçu se preocupou em trabalhar a ideia do turismo sustentável, isto é, em pensar projetos que, junto com o poder público e com os moradores, ajudem Paraty a construir um turismo de qualidade, para que todos possam usufruir desse lugar da melhor forma possível, com segurança, respeito à cultura local e à preservação ambiental.
Um dos projetos de turismo sustentável de Paraty foi realizado pela Associação Cairuçu em 2003. A idéia foi auxiliar moradores da região a se capacitarem para receber turistas em passeios na natureza. Assim surgiu o primeiro Curso Básico de Monitores Ambientais, realizado em parceria com o Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. O curso foi aberto para jovens de Paraty e apresentou muitos temas ambientais, educacionais e profissionalizantes, todos com foco no turismo sustentável. Entre 2003 e 2005, foram realizados outros encontros de capacitação, o que resultou na formação de cerca de 50 monitores ambientais. Foi um projeto importante e inovador que até hoje rende frutos para a cidade. Algum tempo depois, nos anos de 2010 a 2013, outro projeto para o município e para as Unidades de Conservação locais, como a APA do Cairuçu e o Parque Nacional da Serra da Bocaina, foi desenvolvido pela parceria técnica entre a Fundação SOS Mata Atlântica e a Associação Cairuçu: o de Estudos de Capacidade de Suporte da Região Sul do Litoral de Paraty. Foram realizados mapeamentos e levantamentos para entender quantas pessoas um lugar pode receber, sem que venha a ser degradado. Hoje, existem diversas iniciativas de turismo sustentável na cidade, envolvendo universidades e ONGs, como os projetos de Turismo de Base Comunitária (realizados pelo Fórum de Comunidades Tradicionais e Unidades de Conservação) e os Planos de Gestão Municipal de Turismo (gerenciados pela Prefeitura, pelo Conselho Municipal de Turismo e pelas Unidades de Conservação).
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Projeto Aves de Paraty
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ntre tantos animais que vivem na Mata Atlântica, as aves são ótimos exemplos para se compreender a riqueza da biodiversidade que existe neste bioma. Das 1.919 espécies registradas no Brasil, 891 espécies vivem na Mata Atlântica, portanto, nesse ecossistema, estão aproximadamente 45% das espécies do país. De todas as aves brasileiras, 213 são exclusivas da Mata Atlântica - elas são as chamadas aves endêmicas. O resultado é que a Mata Atlântica abriga uma das maiores concentrações de espécies de aves por quilômetro quadrado do mundo e, por isso, é considerado um dos melhores biomas para a prática da observação de aves. “A Mata Atlântica consegue a façanha de compactar uma megabiodiversidade em um espaço pequeno.” Ornitólogo Luciano Lima
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Observatório de Aves do Instituto Butantan
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egundo os novos estudos, existem aproximadamente 18 mil espécies de aves no mundo. O Brasil, com 1.919 espécies, é o segundo país com maior número, atrás apenas da Colômbia. A Bird Life International, que é a maior autoridade em aves do mundo, cria a chamada “lista vermelha”, isto é, a lista das aves ameaçadas de extinção. O Brasil se mantém há muitos anos como o país com o maior número de espécies ameaçadas. São 174 espécies de aves globalmente ameaçadas de extinção no Brasil, o que representa 12% das aves ameaçadas do planeta! Referência: Save Brasil
Formigueiro-de-cabeça-negra (macho) Formicivora erythronotos Foto © Irmãos Mello
Seguindo no caminho do Turismo Sustentável, as aves chegaram voando na Associação Cairuçu, encontrando pessoas que as receberam de braços e corações abertos. Em 2012, com o real desejo de realizar um projeto sobre as aves de Paraty que reunisse a importância da beleza e diversidade desses animais ao desenvolvimento social e ambiental da região, uma equipe foi formada por profissionais e voluntários da ONG. Seria um projeto inovador para todos os envolvidos, e fundamental para o fortalecimento da observação de aves na Mata Atlântica. Contando com Daniel Cywinski e Sylvia Junghähnel, foi possível a construção de um projeto singular sobre as aves da região. Para isso, ambos foram em busca de referências e de lugares que pudessem fortalecer as ideias sobre a observação de aves de forma séria e contextualizada. Visitaram programas das cidades de Ubatuba, de São Paulo e nos estados do Mato Grosso, do Rio Grande do Sul e até mesmo fora do país. Nessa última estada, pousaram em San Martín de Los Andes, na Patagônia Argentina, onde acontecia a Feira de Aves da América do Sul 2012 (Feria de Aves de Sudamérica). Em contato com profissionais da Argentina, do Chile, da Colômbia e de alguns países da Europa, descobriram objetivos comuns e informações essenciais para o projeto que nascia com o nome de Projeto Aves de Paraty. Não havia dúvidas sobre os benefícios para a região, tanto para a educação quanto para o desenvolvimento social e para o meio ambiente e suas espécies, como para o fortalecimento de propostas para o turismo que preserva a vida. Agregar valores ao patrimônio socioeducativo, cultural e ambiental da região paratyense via a prática da observação das aves foi a base da missão do Projeto. Colocar Paraty nos mapas nacional e internacional de birdwatching (observação de aves) foi o grande desafio. Ficou claro que Paraty poderia se tornar um dos lugares mais importantes do Brasil para essa prática de turismo e de estilo de vida que já naquela época crescia muito em todo o mundo. Mas, o melhor de tudo, foi descobrir que a floresta de Paraty, a Mata Atlântica, é um dos melhores lugares do mundo para o turismo de observação de aves e, ao mesmo tempo, é um dos biomas que mais precisa de preservação. Por tudo isso, o projeto se tornava tão importante e urgente.
A educação em uma cidade observadora de aves Como a Associação Cairuçu tem experiência com educação, naturalmente o Projeto Aves de Paraty começou focado em encontrar maneiras de realizar ações educativas com crianças, e entrar nas escolas com o tema das aves. Além disso, era importante conversar com donos de pousadas e agências de turismo sobre o potencial da observação de aves como atividade turística. Os guias de turismo, as pessoas da Prefeitura e os responsáveis pelas reservas de floresta de Paraty, as Unidades de Conservação, também precisavam participar do projeto. A tarefa parecia enorme, mas a vontade em fazer e os pontos positivos da região como celeiro de diversidade de aves foram fundamentais para continuar. Iniciou-se, então, um projeto único que, em poucos anos, conquistou resultados positivos. Os objetivos principais do Projeto Aves de Paraty - atuar no turismo, na educação e na preservação eram ousados e, para alcançá-los, sabíamos que seria necessário um bom tempo para semear e, então, colher. A colheita seria criar uma “cidade observadora de aves”, um lugar onde todos os moradores valorizassem as aves livres na natureza, reconhecessem esses animais e a floresta onde vivem como um rico e exclusivo patrimônio natural, cuja proteção e preservação dependem de muito carinho e dedicação.
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Festival Aves de Paraty
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Vinculado ao Projeto Aves de Paraty nasce um evento. E que evento! O Festival Aves de Paraty. Com foco em dar visibilidade ao tema na cidade, a Associação Cairuçu convidou especialistas em observação de aves, promovendo uma espécie de congresso científico com formato descontraído, aberto a todos os moradores e visitantes. E, acreditando que seu maior público de divulgação seriam os alunos e professores das escolas locais, buscou promover, durante o encontro, atividades de educação ambiental e conscientização sobre a biodiversidade das aves na região. Foi notável a mobilização de parceiros para a realização do primeiro Festival Aves de Paraty, o FAP, como se tornou conhecido. A Fundação SOS Mata Atlântica foi uma das primeiras parceiras, juntamente com a Avistar, que há anos realiza eventos similares em São Paulo e Rio de Janeiro, bem como o Instituto Butantan do Estado de São Paulo, as Unidades de Conservação governamentais e a Prefeitura de Paraty. Foram muitas adesões voluntárias, muitas pessoas que se tornaram amigas do FAP e que até hoje apoiam o projeto. Durante o Festival Aves de Paraty de 2013 foi realizado o primeiro curso de Infraestrutura para Observação de Aves, ministrado pela professora Tietta Pivatto, especialista do município de Bonito (Mato Grosso do Sul), cidade referência em turismo ordenado e sustentável. Foram cerca de 15 participantes, alguns guias de turismo local e monitores ambientais que haviam participado das formações anteriores da Associação Cairuçu. Naquele ano de 2013, o FAP foi realizado no Morro do Forte de Paraty, numa parceria com o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). O primeiro FAP contou com mais de 700 crianças e professores de diversas escolas de Paraty, que participaram do circuito de atividades educativas, como palestras, oficinas e saídas de observação guiadas por especialistas. Considerado um sucesso, o primeiro FAP teve a participação de observadores de aves e de ornitólogos de todo o Brasil, como Luciano Lima, Guto Carvalho, Martha Argel, Juan Pablo Culasso (Uruguai), entre outros. O reconhecimento do FAP para o município de Paraty veio através da Secretaria de Turismo, cuja decisão foi incorporar o Festival Aves de Paraty no Calendário Anual Cultural da cidade.
Curso Infraestrutura para Observação de aves com Tietta Pivatto, em 2014
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Saída para observação de aves na estrada da Pedra Branca
Primeira saída para Observação de Aves do COA Paraty
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Festival Internacional na estrada Paraty-Cunha Nos anos de 2014 e 2015, o Festival Aves de Paraty foi realizado em um local de eventos na Estrada Paraty-Cunha, no bairro da Ponte Branca. Foi uma experiência inovadora realizar o evento distante do Centro Histórico. A proposta foi ousada, pois não seguia o costume da cidade em concentrar os eventos na região central e histórica. O segundo FAP foi, então, o evento pioneiro do Calendário Cultural da cidade a acontecer num bairro afastado, na região das matas e cachoeiras. Foi no ano de 2014 que o FAP recebeu a visita do presidente da Feria de Aves de Sudamérica,
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Horácio Matarasso, da Argentina, que propôs que o evento, no ano seguinte, acontecesse em Paraty. E assim, em 2015, o Festival Aves de Paraty teve caráter sul-americano, recebendo observadores de aves de todo o continente, participantes que se encantaram com toda a região e, claro, com a imensa diversidade de aves. Foi marcante o reconhecimento desses incríveis observadores sobre a quantidade, diversidade e cores das aves da Mata Atlântica, bem como a facilidade de observá-las na região das praias, na preamar, além de constatarem aves de média e de grande altitude.
Diferenças de altitude
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um fator muito importante para a observação de aves. São raros os lugares na Mata Atlântica que possibilitam, como Paraty, que uma pessoa num mesmo dia, observe aves ao nível do mar e, ao longo do mesmo dia, alcance altitudes acima dos 1.500 metros. Isso cria uma grande possibilidade de observar diferentes espécies, pois a cada 300 metros de altitude, em média, surgem novos grupos de espécies de aves. Assim, um observador percorrendo a estrada ParatyCunha, consegue ao longo de um único dia, iniciar suas observações nos manguezais e áreas costeiras de Paraty, ao nível do mar, e terminar na divisa com Cunha, na Pedra da Macela, a 1.600 metros de altitude. Essa característica de Paraty proporcionou condições para que, em 2015, um grupo local, liderado pelo ornitólogo Luciano Lima, observasse 225 aves em menos de 24 horas, obtendo um dos melhores resultados da competição mundial de observação de aves, o Global Big Day. O resultado chamou a atenção dos observadores de aves do mundo todo, despertando a curiosidade e interesse sobre esse lugar chamado Paraty.
Global Big Day
Estudantes chegam para atividades educativas no FAP 2015
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Palestra com o ornitólogo Luciano Lima
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ma vez por ano, observadores de aves de todos os cantos do mundo se esforçam para registrar o maior número de espécies possíveis em 24 horas. O grande e aguardado dia é conhecido como Global Big Day e acontece sempre em maio. O evento é organizado desde 2015 pelo Laboratório de Ornitologia de Cornell (EUA) e tem alcançado números recordes a cada edição. Em 2018, 28 mil pessoas de todos os continentes participaram do Global Big Day. Juntas, registraram 6.899 espécies de aves. Ou seja, em apenas um dia foi possível coletar dados de aproximadamente 70% de todas as espécies de aves que existem no planeta! A Roda de Passarinho no Festival de Aves de Paraty 2015
Festival da família e da fotografia no Morro Forte
Demonstração de anilhamento de aves, FAP 2016
Atividade no manguezal Terra Nova durante o FAP 2017
Nos anos de 2016 e 2017, o Festival Aves de Paraty voltou a ocorrer no Morro do Forte. Nesses dois anos, a marca do festival foi, mais uma vez, a grande participação das crianças no circuito de atividades educativas. No entanto, deve-se dar destaque para a grande participação dos moradores de Paraty. Consagrava-se, assim, o FAP na cidade, que ao longo de quatro dias contou com os próprios paratyenses para compor o ambiente com a alegria de suas famílias que passaram o dia brincando e curtindo as atividades educativas e de entretenimento. O FAP ganhou um astral de programa familiar, um lugar de encontros em torno do tema das aves. Além disso, em 2016 o FAP foi realizado junto com o festival de fotografia da cidade, o Paraty em Foco. Essa junção foi muito positiva, pois os eventos tinham muito a acrescentar um ao outro, especialmente no segmento da fotografia. O FAP levou para o Paraty em Foco encontros importantes com a presença dos fotógrafos de natureza João Quental e João Marcos Rosa, bem como o diretor da Avistar Brasil, Guto Carvalho. Foi um momento muito especial, marcando o tema da fotografia da natureza no ano do maior evento de fotografia da América Latina. Ainda em 2016, o FAP recebeu a Exposição Beleza Ameaçada, do fotógrafo Tony Genérico. O sucesso da exposição foi o encantamento de todos com a técnica exclusiva dos “splashes”, desenvolvida e adaptada para a fotografia de aves. A parceria entre os eventos foi tão boa que o modelo se repetiu em 2017. Nestes dois anos o FAP se concretizou, tornando-se bastante conhecido pelos observadores de aves de todos os cantos do Brasil. E, então, aconteceu algo inegavelmente distinto, tornou-se base para um evento similar para a cidade de Porto Seguro (Bahia). Cidade do início... da história!
Nasce o Festival de Aves de Porto Seguro Em 2018, a cidade de Porto Seguro (Bahia) fez seu primeiro festival de aves. O evento nasceu pela participação de integrantes da cidade de Porto Seguro no FAP 2017. O Festival de Aves de Porto Seguro procurou seguir o modelo de Paraty, organizando um circuito de atividades para crianças das escolas da cidade, contando com palestras, oficinas e saídas para observação. As duas cidades possuem características semelhantes. Ambas possuem patrimônios históricos seculares e são cidades à beira mar,
cercadas pelo bioma Mata Atlântica. Apesar de possuírem características biológicas peculiares às suas regiões, há pontos semelhantes entre as aves das florestas da costa da cidade de Porto Seguro e as aves encontradas nas matas de Paraty, tais como diversidade de espécimes e cores. Além das semelhanças das aves em suas regiões, devese destacar que as duas cidades históricas brasileiras possuem ainda mais convergências, como a presença de populações tradicionais (indígenas e caiçaras) nas proximidades de suas unidades de conservação. E os desafios são os mesmos: equilibrar o desenvolvimento humano, o turismo e a preservação da natureza. Os organizadores dos dois eventos uniram esforços e conhecimento, o que é fundamental para a consolidação da irmandade entre os eventos de observação de aves em Porto Seguro e Paraty.
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O Festival de Aves ocupa o Centro Histórico 14
Em 2018, o Festival Aves de Paraty desceu a montanha do Morro do Forte para ocupar o Centro Histórico de Paraty, sendo montado no Largo de Santa Rita, uma linda praça que é um dos cartões postais da cidade histórica. Em parceria com o Sesc e a Prefeitura de Paraty, o evento ganhou um novo formato e outra dimensão. E mais uma vez contou com uma exposição fotográfica. O convidado foi o fotógrafo de natureza João Quental. Suas fotos retrataram as Aves da Mata Atlântica, espécies existentes no trecho sudeste deste bioma. Neste ano, o festival escolheu o manguezal Terra Nova do Centro Histórico, como o local para as atividades educativas. Nesse espaço, rico para a observação de aves, as crianças vivenciaram experiências utilizando binóculos, acompanhadas por educadores especializados. Uma das novidades em 2018 foi o Passaporte FAP, um livreto que as crianças receberam na chegada do evento como apoio e roteiro para as suas atividades. O passaporte permitiu o registro dos desafios vencidos por cada uma das crianças participantes. Às atividades educativas somaramse palestras, saídas para observação, espetáculos de teatro, música e dança, e as presenças de convidados especiais, como as cobras do Instituto Butantan, trazidas de São Paulo para o reconhecimento de sua importância na natureza.
Festival Aves de Paraty sai do ninho da Cairuçu Desde 2018, a Associação Cairuçu vem procurando refletir sobre uma decisão muito importante, a de ampliar o FAP no mundo. Para isso seria necessária a transferência de coordenação do evento. Uma das ideias seria passá-lo oficialmente para a cidade, num reconhecimento de que o festival pertence a Paraty. Além disso, o FAP deveria alcançar sua sustentabilidade, nova gestão, novos parceiros e identidade autônoma. Esse caminho não parecia fácil e, como um pássaro que aprende a voar, havia incertezas. Mas, era o momento de saltar, de forma segura e confiante. Assim, a coordenação do Festival Aves de Paraty iniciou diálogos com o Sesc Paraty - que em 2018 já havia acolhido o evento com o Clube de Observadores de Aves de Paraty e outros amigos e parceiros. O interesse de todos os envolvidos resultou em uma nova etapa de vida para o Festival Aves de Paraty.
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Aves da Minha Escola
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O Projeto Aves da Minha Escola (AME) surgiu em 2015, como uma ação integrada ao FAP. A ideia foi levar para dentro das escolas municipais de Paraty uma ação de educação sobre o tema das aves, que aconteceria durante os oito meses do ano letivo. Ao surgir, a meta do projeto era que em alguns anos o Aves da Minha Escola pudesse percorrer toda a rede municipal de educação, marcando presença em todas as 34 escolas municipais. Hoje, pode-se afirmar que Paraty é a primeira cidade brasileira a ter um projeto de educação ambiental com o tema das “aves livres” em todas as escolas municipais. Entre os anos de 2015 e 2019, o projeto percorreu 19 escolas com ações semanais, mantidas ao longo do ano letivo de maneira transversal ao currículo escolar, envolvendo alunos, professores e gestores escolares. O Aves da Minha Escola é uma atividade lúdica, que trabalha com o tema da riqueza da diversidade de aves da Mata Atlântica e, mais que tudo, estimula a percepção da beleza e do valor das aves livres na natureza. É, sem dúvida, uma ação pioneira de educação, no gênero, apoiada pela Secretaria Municipal de Educação de Paraty e patrocinada pelo Instituto Humanize. Ao longo dos oito meses de trabalho na escola, os estudantes participam de oficinas de desenho e de pintura de aves e, ao final, fazem a pintura coletiva de um grande painel nos muros e paredes da escola, e em suportes de madeira e tecido que, finalmente, formam uma exposição de arte montada em escolas e outros espaços públicos da cidade.
Principais objetivos do Aves da Minha Escola }} Gerar conhecimentos sobre as aves de Paraty e da Mata Atlântica }} Comunicar, por meio da arte, a diversidade de aves dentro e no entorno das escolas, tanto para a comunidade escolar quanto para os moradores dos bairros onde estão as escolas }} Sensibilizar estudantes e professores, através de vivências de educação ambiental, sobre a importância de se conhecer e proteger as aves livres }} A partir do conhecimento das aves, trabalhar os conceitos de conservação dos ambientes em que elas vivem }} Contribuir positivamente na formação de uma cidade observadora de aves Etapas do Aves da Minha Escola }} Capacitação dos professores, coordenadores, diretores e merendeiros das escolas }} Observação e estudo de aves no entorno das escolas }} Atividades educativas lúdicas }} Estudos de conhecimentos científicos sobre as aves }} Plantio de mudas de árvores atrativas para aves }} Vivências de gravação sonora - paisagens sonoras no entorno das escolas }} Produção artística e de comunicação relacionadas às aves }} Manutenção, pelos estudantes, do aplicativo do projeto criado por eles }} Pinturas das aves nas fachadas das escolas PATROCÍNIO
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Clube de Observadores de Aves
Jovens de Paraty na observação de aves
A partir do Festival Aves de Paraty 2013 foi formado o Clube de Observadores de Aves Paraty (COA Paraty). O grupo passou a fazer saídas mensais para a prática da observação de aves e hoje reúne 68 pessoas que se organizam através de um grupo de rede social. Esse grupo fotografa e monitora as aves de Paraty diariamente e tem feito registros inusitados de aves pouco ou nunca registradas em Paraty. O COA Paraty vai muito além da fotografia. O fato de contar com tantas pessoas observando as aves e realizando documentações sonoras e fotográficas sistemáticas é um exemplo de como pessoas comuns (não ornitólogos) podem colaborar com a ciência, acrescentando diariamente informações e registros sobre a avifauna de um território. Isso é conhecido no meio científico como Ciência Cidadã e representa, nos dias de hoje, um importante movimento que tem colaborado muito com os cientistas, agregando informações para o conhecimento das aves. Uma derivação importante do COA Paraty foi um grupo que passou a monitorar a presença do Socóboi-escuro (Tigrisoma fasciatum) nos rios de Paraty. A ave estava desaparecida há mais de um século no Estado do Rio de Janeiro. Sua identificação ocorreu durante o Festival Aves de Paraty de 2015, por dois observadores da cidade do Rio de Janeiro que estavam no evento e hospedados justamente na principal área de ocorrência da ave. Este registro, de enorme importância, criou uma atenção especial à presença da ave em Paraty que, desde então, passou a ser monitorada e estudada por ornitólogos e observadores de aves num processo participativo e integrado pioneiro no Brasil. As observações são registradas em um grupo de rede social e organizadas cientificamente pelo ornitólogo Luciano Lima, do Observatório de Aves do Butantan e da Fazenda Bananal.
Uma das consequências significativas do Projeto Aves de Paraty foi o surgimento de jovens observadores de aves, uma garotada que se engajou de forma muito ativa e que se formou espontaneamente ao longo dos anos de projeto. Eles se conectam com outros jovens em todo o mundo e se denominam Young Birders, formando uma rede jovem de observação e de construção de conhecimento. Muito orgulho dessa garotada!
Paraty conquista título de Patrimônio Mundial Foi no de ano 2019 que Paraty finalmente conquistou o título de Patrimônio Cultural e Natural Mundial da Unesco. E, sim, o FAP 2018 colaborou com a iniciativa da candidatura da cidade. A visita da comissão avaliadora da Unesco coincidiu com o período de realização do FAP. Foi muito oportuno, então, para a equipe técnica da Associação Cairuçu, apresentar o Projeto Aves de Paraty aos profissionais da Unesco, além de promover com eles uma saída a campo para a observação de aves. A descontração e o diálogo entre todos marcaram o astral desse momento junto à Mata Atlântica, sobretudo para o diretor da ONG, Daniel Cywinski, e para o ornitólogo Luciano Lima. Ambos guiaram os avaliadores por uma trilha do trecho de Paraty, dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina, e com certeza influenciaram o processo de avaliação sobre o território, as estratégias e as políticas públicas de educação, além da valorização dos patrimônios naturais. Essa experiência foi mencionada nos relatórios da Unesco, que indicaram Paraty para a etapa final de qualificação. Foi mais uma contribuição das aves de Paraty!
Patrimônio Cultural e Natural Mundial
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om um importante acervo arquitetônico e ricas paisagens naturais, a cidade de Paraty foi reconhecida em 2019 como Patrimônio Cultural e Natural Mundial da Unesco. O centro histórico, cercado de quatro áreas de conservação ambiental - Parque Nacional da Serra da Bocaina, Reserva Estadual da Joatinga, Área de Proteção Ambiental do Cairuçu e Estação Ecológica de Tamoios, tem um território de quase 149 mil hectares protegidos. Além da natureza exuberante, Paraty abriga comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas e caiçaras, que misturam cultura e biodiversidade de forma única.
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Guias das Aves de Paraty Desde o início, o Projeto Aves de Paraty se preocupou em gerar materiais de apoio para observação de aves na região. Partindo de listagens de aves da década de 80, foram produzidos seis guias de aves que reuniram mais de 300 espécies das 477 registradas em Paraty. Os guias do Projeto Aves de Paraty foram os primeiros para a observação de aves produzidos especialmente para a cidade, e hoje ajudam turistas, moradores e estudantes nas práticas de campo. Os guias apresentam imagens detalhadas das aves mais avistadas em Paraty e arredores, e com o aprimoramento das últimas versões, passaram a fornecer informações técnicas, como por exemplo o Dimorfismo Sexual (diferença entre macho e fêmea), a separação por ambientes (aquático, áreas abertas, urbanos e florestas) e também informações sobre hábitos alimentares e tamanho das aves. Além de serem materiais didáticos, os guias são de uso comum, pois facilitam a prática dessa apaixonante arte de observar aves em seus ambientes naturais, se constituem como objetos de recordação da cidade, e são facilmente adquiridos por turistas.
Dimor fismo Sexual
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imorfismo Sexual é um termo técnico para se referir às diferenças físicas entre machos e fêmeas da mesma espécie. Às vezes, são relativas ao tamanho, e outras vezes, por exemplo, têm a ver com a estética, como cores da plumagem. Muitas espécies têm essas diferenças e, saber isso, é fundamental para o reconhecimento, isto é, para a identificação das aves. Por isso, é importante que o material utilizado, no caso os guias, tenha o cuidado de apresentar essas características, especialmente nas aves mais comuns, onde elas são marcantes. Um dos melhores exemplos de dimorfismo sexual é o Tiê-sangue (Ramphocelus bresilius) cujo macho é extremamente vermelho e a fêmea é marrom.
Artesanato divulga avifauna de Paraty Muitos artesãos de Paraty passaram a trabalhar o tema das aves da região em suas produções. Parte desse acervo é reunido na Feira de Artesanato, que ocorre desde 2018, durante o FAP. São peças que representam as aves em cerâmica, madeira, tecido, pinturas, bijuterias, roupas, imãs de geladeira, cestarias, esculturas e muitas outras formas de expressão de artes e manufaturas que valorizam o colorido da diversidade das aves. Além de servirem como lembranças decorativas, ajudam a divulgar essa riqueza da cidade.
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PROJETO
AVE
EDUCAÇÃO
PRESERVAÇÃO
Projeto Aves da Minha Escola Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Paraty e com patrocínio do Instituto Humanize, 19 escolas foram atendidas nas regiões rural, costeira e urbana do município. Mais de 448 crianças participantes em cinco anos de ação.
Aproximação com as Unidades de Conservação Participação das Unidades de Conservação nos Festivais Aves de Paraty.
Ações Educativas Festival Aves de Paraty 4.200 crianças participantes em seis anos de evento.
Promoção do tema da observação de aves nos fóruns e conselhos regionais de meio ambiente.
TURISMO
Promoção de saídas para observação de aves nas Unidades de Conservação de Paraty.
22 Representação e diálogo Presença no Conselho Municipal de Turismo, diálogo permanente com a rede municipal de turismo, empresários, guias e agenciadores. Divulgação do destino Paraty nas Feiras de Observação de Aves do Brasil e da América do Sul (Feria de Aves de Sudamérica). Formação Promoção de oito encontros e oficinas para capacitação técnica de pessoas atuantes no mercado de turismo de Paraty. Realização de seis Festivais Aves de Paraty e produção de seis Guias Aves de Paraty. Criação de materiais de apoio ao turismo Elaboração de seis guias Aves de Paraty, para identificação, com mais de 300 espécies mapeadas e organizadas em materiais didáticos de grande qualidade.
Participação do Projeto Aves de Paraty em eventos organizados pelos órgãos ambientais.
Manutenção de diálogos com técnicos, guarda-parques e gestores de unidades fomentando propostas para projetos. Destaque para espécies ameaçadas Identificação e monitoramento do Socó-boi-escuro (Tigrisoma fasciatum) e destaque no FAP 2017. Divulgação e destaque no FAP e no Guia de 2016 para o Formigueiro-de-cabeça-negra (Formicivora erythronotos), espécie endêmica da região. Incentivo à política pública Apoio à Secretaria de Urbanismo e elaboração do pré-projeto para criação da Praça de Observação de Aves no Manguezal Terra Nova, onde ornitólogos apoiados pelo Projeto Aves de Paraty identificaram mais de 60 espécies de aves, inclusive endêmicas e em lista de ameaçadas na região da Mata Atlântica.
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DE
PA R AT Y
CONQUISTAS FESTIVAL AVES DE PARATY
A R T I C U L AÇ Õ E S E PA R C E R I A S
}} Seis festivais realizados entre os anos 2013 e 2018
}} Prefeitura de Paraty
}} Mais de 12 mil participantes
}} Instituto Butantan
}} 4.200 crianças inscritas em atividades educativas
}} Avistar
}} 34 especialistas brasileiros
}} Feria de Aves de Sudamérica
}} 4 especialistas estrangeiros convidados
}} Save Brasil
}} 36 palestras
}} Instituto Humanize
}} 42 atividades educativas
}} Fundação SOS Mata Atlântica
}} 8 workshops sobre turismo de observação de aves
}} Fazenda Bananal
}} 12 saídas para observação de aves
}} Associação de Guias de Turismo de Paraty (Piratii)
}} 11 exposições de arte e fotografia
}} Jipeiros Associados de Paraty (JAP)
}} Aves da Minha Escola
}} Conselho Municipal de Turismo de Paraty }} Paraty Convention & Visitors Bureau }} Paraty em Foco }} Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (Inea) }} Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) }} Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) }} Sesc Paraty
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Associação Cairuçu Presidente Ana Helena de Moraes Vicintin
Vice-Presidente Rosemarie T. Nugent Setubal
Conselho Deliberativo Ana Claudia Borghi Ana Helena de Moraes Vicintin Ana Paula Ribeiro Tozzi Luciana Terezinha Simão Vilella Marcia Bossa Graça Scripilliti Maria Camila Giannella Brant de Carvalho Olavo Egydio Setúbal Júnior Renata de Camargo Nascimento Roberto Luiz Leme Klabin Rosana Filomena Vazoller Rosemarie T. Nugent Setubal Ulysses de Paula Eduardo Júnior
Conselho Fiscal André Alicke de Vivo Clóvis Ermírio de Moraes Scripilliti José Olympio da Veiga Pereira Mauro Tozzi Netto suplente
Conselho Consultivo Cláudio Dinucci Giannella Flavio Ognibene Guimarães José Roberto Marinho João Carlos da Costa e Silva Monteiro Paulo Matarazzo Suplicy Raquel Cristina Raphael da Rocha Sanches Walter José Senise
Diretoria Executiva Telma de Toledo Pereira
Equipe Festivais Aves de Paraty diretor executivo
Daniel Cywinski gerente jurídico - financeiro Telma Toledo auxiliares administrativas
Will Gonçalves e Elisa Pereira designer
Jeiel Silva produtores fap
Paulo Kastrup e Geiza Monteiro cenografia fap
Bia Rocco e Wagner Preto coordenação de educação
Bete Canela e Sylvia Junghähnel coordenadores de área
Gilmara Kíria, Andrea Doalmo, André Lima arte - educadores Germain Templar e Camila Calvo foto e vídeo
Grupo Ocupação 16, Antonio Garcia, Débora Monteiro
Ficha Técnica desta publicação - 2019 coordenação e redação
Daniel Cywinski design e edição de imagens
Renato Rizzaro revisão
Celso Vicenzi | página Acervo Cairuçu 18, 19 fotografia
Antônio Garcia 12 (acima), 20, 21 (abaixo) Cintia Celeste 21 (acima) Daniel Cywinski 1a e 4a capas, 2, 3, 5, 10, 11, 13, 17 Grupo Jovem Comunicador 8, 9, 12 (abaixo) João Quental 14 Renato Rizzaro Saíra-militar (Tangara cyanocephala) 2 a capa Saí-verde fêmea (Chlorophanes spiza) 3a capa Saíra-sete-cores (Tangara seledon) folha de rosto Gavião-caboclo (Heterospizias meridionalis) 2, 3 Batuíra-de-coleira (Charadrius collaris) 5 Ninho e Tecelão (Cacicus chrysopterus) 16 Corucão (Podager nacunda) 23 Sylvia Junghähnel 15
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