Revista Sintrasem

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38dias MAIO DE 2017

SINTRASEM

VITÓRIA DOS TRABALHADORES DO SERVIÇO PÚBLICO MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS! TRAJETÓRIA

COMUNIDADE

MEMÓRIA

A maior greve em adesão de servidores na capital conquistou a revogação do ataque ao Plano de Cargos, Carreira e Salários

População participou da mobilização a partir de diálogos com servidores e atos em diferentes bairros da cidade

Entrevistas com profissionais da rede sindicalizados desde a fundação da entidade rememoram a história da organização


38 PRESIDENTE Alex Santos

DIRETORES DO DEPARTAMENTO EDUCAÇÃO Ana Claudia da Silva Carlos Eduardo Corrêa Claudia Maidana DIRETORES DO DEPARTAMENTO CIVIL Adriana Leal Aline Homem Estácio Rosa Elizângela Pereira

DIRETORES DO DEPARTAMENTO COMCAP Carlos Daljoem Isaac Lidio Vaz Fabiana Paiva Márcio Nascimento

EXPEDIENTE Diretora de comunicação Ana Claudia da Silva Jornalistas responsáveis Gabriel Shiozawa Coelho Joana Zanotto Sabbá Guimarães Projeto gráfico Fernando Robleño Foto de capa Aline Seitenfus COLABORADORES José Guerreiro de Mattos Marcos Cordeiro Bueno (Canguru) Murilo Leandro Marcos Orandina Machado


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TRAJETÓRIA DA GREVE

11 JURÍDICO

A maior greve em adesão de servidores na capital conquistou a revogação do ataque ao Plano de Cargos, Carreira e Salários.

Os limites da aposta no judiciário para as lutas sociais são evidenciados quando a “justiça” é usada como ameaça à mobilização sindical.

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12 COMUNIDADE

NACIONAL

As medidas contra trabalhadores aplicadas pela prefeitura seguem a política nacional que visa o lucro de grandes empresários.

População participou ativamente da mobilização a partir de diálogos com servidores e atos em diferentes bairros de Florianópolis.

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14 ARTE E CULTURA

MÍDIA

A imprensa comercial serve aos interesses de quem a financia. Na greve destacou-se o papel da mídia independente e sindical.

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MEMÓRIA

Entrevistas com profissionais da rede sindicalizados desde a fundação da entidade rememoram a história da organização.

Assim como na saúde, no campo das lutas populares a arte desempenha múltiplos e transformadoras funções.

17 A LUTA CONTINUA A construção do sindicato se dá durante todo o ano - a luta e organização permanecem mesmo em períodos sem greve.


NENHUM DIREITO A MENOS

editorial

O

ano de 2017 já é sinônimo de luta, resistência e vitória entre os servidores municipais de Florianópolis. Durante trinta e oito dias assistentes sociais, técnicos de enfermagem, enfermeiros, médicos, dentistas, farmacêuticos, bibliotecários, professores, auxiliares de sala, supervisores escolares, orientadores educacionais, diretores e coordenadores das unidades da educação, assistência e saúde, vigias, motoristas, auxiliares administrativos, cozinheiras, auxiliares de serviço gerais, calceteiros, coveiros, soldadores, agentes de combate a endemias, agentes comunitários de saúde, atendentes de consultório odontológico, técnicos em higiene dental e prótese dentária, engenheiros, arquitetos, fiscais, educadores sócias, fonodiólogos, nutricionistas, psicólogos, veterinários, dentre tantos outros, ocuparam as ruas da capital para em conjunto com a população dizer não a retirada de direitos e ao desmonte do serviço público. O resultado desta mobilização foi uma greve forte que não se intimidou com os diversos ataques vindos do executivo, judiciário e da mídia burguesa que apostavam no recuo do movimento. A resposta foi a unidade e organização da categoria com assembleias e atos massivos, panfletagens, reuniões e diálogos recíprocos com as várias comunidades de Floripa que se somaram a luta compreendendo que o pacote de maldades de Gean Loureiro (PMDB) era um ataque a toda cidade. O prefeito recuou e nós vencemos! A revista que ora apresentamos reúne um pouco das nossas memórias e de nossa organização para enfrentar os inimigos do serviço público na luta por nenhum direito a menos. É também um registro do belo combate que permitiu a construção de uma das maiores greves na história de nossa categoria. Essas memórias apontam caminhos para as possibilidades de organização da classe trabalhadora no combate a todos os ataques impostos pelos governos subalternos ao capitalismo que tem como foco central o desmonte do serviço público. A luta vale a pena e sempre valerá! Trabalhador unido, jamais será vencido! Por nenhum direito a menos!

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Diretoria do Sintrasem


trajetória da greve

VITÓRIA DOS TRABALHADORES DO SERVIÇO PÚBLICO MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS!

Unidade na construção das greves de massas para enfrentar o ajuste fiscal

A

maior greve em adesão dos trabalhadores do serviço público municipal de Florianópolis chegou ao fim após 38 dias de luta. Com um quadro de greve expressivo desde o início da mobilização, nos últimos dias o movimento contava com a participação de mais de 9 mil trabalhadores, representando 95% da categoria. O Sintrasem, sindicato da categoria, galgou o difícil caminho de construir a unidade de diversas forças políticas e de todos os trabalhadores em torno de uma pauta: Nenhum direito a menos! Pela revogação das leis que retiram direitos dos servidores municipais! Relatamos a seguir o desenvolvimento dessa luta e seu desfecho. Eleito com uma diferença de 1.153 votos para a segunda colocada, representando menos de 1% dos votos válidos, Gean Loureiro (PMDB) assumiu a Prefeitura Municipal de Florianópolis com um discurso copiado do Presidente Ilegítimo Michel Temer (PMDB): “vou fazer um governo de austeridade!” No primeiro dia de go-

verno, contrariando o que havia dito uma semana antes na mídia, Gean Loureiro afirmou não ter dinheiro para pagar os salários de dezembro, dívida de seu antecessor, César Souza Júnior (PSD). No dia 5 de janeiro os trabalhadores da PMF realizaram sua primeira assembleia, declarando estado de

pacote de maldades de Gean Loureiro”. A assembleia decidiu por continuar em estado de greve pela retirada desse pacote, tendo em vista que seis projetos atingiam diretamente os direitos dos servidores públicos, inclusive colocando em risco o serviço público municipal. Os outros projetos visavam conceder benesses ao

Com um quadro de greve expressivo desde o início da mobilização, nos últimos dias o movimento contava com a participação de mais de 9 mil trabalhadores greve para cobrar o pagamento dos salários atrasados. Nova assembleia aconteceu no dia 11 de janeiro. O Prefeito apresentou um calendário de pagamento, e realizou o depósito dos salários da maioria dos servidores. Ou seja, parecia resolvido o problema do pagamento de salários. Porém, no mesmo dia o Prefeito enviou para a Câmara Municipal de Florianópolis (CMF) 36 projetos de lei apelidados pelo Sintrasem como “o

setor empresarial da cidade: perdão de pagamento de dívidas contraídas, renúncia fiscal, liberação para construir sem alvarás de licenciamento ambiental e semelhantes. No dia 16 de janeiro nova assembleia com deliberação de greve foi realizada. O “pacote de maldades” seria votado em regime de Urgência Urgentíssima, em um rito que duraria no máximo 15 dias, passando por cima do Regimento Interno da Câma-

Servidores protestam contra o pacote de maldades do prefeito

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trajetória da greve ra. Essa assembleia teve um sabor especial, devido a algumas peculiaridades. A grande maioria dos servidores presentes fazia parte do quadro civil da prefeitura, pois os trabalhadores do magistério estavam de férias. E foi talvez pensando que a ausência dos trabalhadores da educação fragilizaria o movimento,que o Prefeito colocou em votação o “pacote de maldades” em janeiro. No entanto, a mobilização da base impulsionada por membros da direção do sindicato e do conselho deliberativo da entida-

A população pôde entender que Gean estava atacando o serviço público e os direitos dos servidores públicos de teve como resultado a construção de uma assembleia com a presença de mais de 5 mil trabalhadores. E a votação para deliberar pelo início de uma greve foi tomada por unanimidade: estava iniciada a greve pela retirada do “pacote de maldades” do Prefeito Gean Loureiro (PMDB). Entre os dias 17 e 23 de janeiro, o Sintrasem procurou se articular com várias entidades sindicais e outros movimentos sociais, por meio do Fórum de Lutas em Defesa dos Direitos,

do qual participavam representantes das centrais sindicais CUT, CTB, CSP/ CONLUTAS e INTERSINDICAL, além de outros agrupamentos políticos, como a Unidade Classista, ligada ao PCB. Esta articulação garantiu a mobilização da sociedade contra o “pacote de maldades”, e a construção de um Ato Público e de uma Assembleia Popular para o dia 23 de janeiro em frente à Câmara Municipal. No dia 24 de janeiro ocorreu a votação e a aprovação de todas as leis que retiravam nossos direitos, enviadas para a Câmara Municipal pelo prefeito Gean Loureiro. Os trabalhadores da COMCAP, empresa pública responsável pela coleta de resíduos sólidos e pela limpeza da cidade, paralisaram suas atividades e aderiram ao ato realizado pelos servidores da PMF, que se concentravam em frente à Câmara desde as 7 horas da manhã. A pressão exercida sobre os vereadores e o prefeito não foi suficiente para barrar a votação, e o projeto que retirava importantes direitos conquistados ao longo de anos pelos trabalhadores do serviço público municipal foi aprovado por 12 votos contra 11. Enquanto a votação acontecia, do lado de fora a Guarda Municipal e a Polícia Militar reprimiam a manifestação com spray de pimenta, bombas de gás lacrimogênio, tiros de balas de borrachas, e batendo com cassetetes. Os trabalhadores presentes reagiram à violência,

Servidores votam, por unanimidade, a favor da greve

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atirando cadeiras sobre os policiais e os colegas guardas municipais. A assembleia seguinte foi marcada para o dia 26 de janeiro, e além da continuidade da greve tinha entre os encaminhamentos a suspensão da greve por tempo determinado, até o dia 6 de fevereiro, quando os trabalhadores do magistério retornariam de suas férias, e se unificariam aos trabalhadores de todos os setores na greve. Tanto a direção do sindicato quanto o conselho deliberativo defenderam esta posição, pois estavam preocupados com a reação dos trabalhadores diante da ameaça de corte do salário no final do mês de janeiro. Mas a assembleia rejeitou a suspensão da greve por tempo determinado por ampla maioria, indicando que aqueles trabalhadores estavam dispostos a enfrentar todas as adversidades que encontrassem pela frente. A partir daí teve início uma nova fase da greve. A mobilização foi descentralizada, e diversas atividades foram realizadas em diferentes bairros da cidade, incluindo panfletagem de cartas abertas. Desta forma a população compreendeu as mentiras que estavam sendo ditas pelo prefeito. O movimento ganhou fôlego, e o prefeito recém-empossado teve sua imagem ainda mais desgastada. No dia 07 de fevereiro foi realizada uma assembleia que pode ser considerada uma das maiores já realizadas pelos servidores municipais de Florianópolis. Cerca de 9 mil trabalhadores votaram unanimemente pela continuidade da greve e pela adesão do magistério no movimento. Pela primeira vez o ano letivo não foi iniciado nas unidades educativas municipais. E a cidade parou para acompanhar a passeata de quase três horas de duração, que ocupou a Avenida Beiramar Norte e ficará para sempre marcada na memória de quem a viu e de quem a vivenciou. O Prefeito Gean Loureiro, guiado pela política de austeridade do


trajetória da greve A Guarda Municipal e a Polícia Militar reprimiram a manifestação com spray de pimenta

PMDB, atacou os trabalhadores do serviço público municipal de todas as formas. Entrou com ação na justiça pedindo a ilegalidade da greve. O TJ decretou que a greve era ilegal, que os grevistas deveriam voltar ao trabalho, e que em caso de descumprimento desta determinação o sindicato receberia multa de 30 mil reais por dia. Como a greve continuou o Procurador Geral do Município, Diogo Nicolau Pitsíca, ingressou na justiça pedido de prisão e destituição da diretoria do SINTRASEM e intervenção da justiça no sindicato. Um verdadeiro absurdo! A Esquerda Marxista e a Corrente Marxista Internacional (CMI) deram início a uma campanha internacional em defesa das liberdades democráticas e pelo atendimento das reivindicações do sindicato. Mais de 500 entidades enviaram moções para os e-mails do Prefeito, do Procurador e da Desembargadora. Essa campanha fortaleceu a mobilização, pois mostrou à nossa categoria solidariedade de trabalhadores e trabalhadoras de vários cantos do Brasil, e do mundo, como Rússia, EUA, Paquistão, França, Argentina, Bélgica, entre outros. Além das moções, no dia 16 de fevereiro mais de 25 entidades sindicais, movimentos sociais e organizações de juventude, além da direção nacional da CUT e Luciana Genro, liderança do PSOL, se uniram aos trabalhadores municipais, participando de um gran-

de ato que parou o centro de Florianópolis. Foi sob essa pressão que a Desembargadora Vera Lúcia Copetti do TJ recusou o pedido de prisão dos dirigentes e intervenção no sindicato. Contudo, aumentou a multa pelo descumprimento da liminar para 100 mil reais por dia. A entrada dos trabalhadores do magistério na greve elevou a qualidade do movimento, e não foi apenas pelo maior número de pessoas participando das assembleias. A presença desses trabalhadores na greve permitiu a realização de mais de 50 reuniões em

para os empresários da cidade. O prefeito chegou a receber o apoio público de trinta entidades patronais que pagaram matérias de duas páginas inteiras nos principais jornais do estado de Santa Catarina, defendendo as medidas do Prefeito e criticando duramente a greve dos trabalhadores municipais. A resposta foi o desenvolvimento de uma campanha que se espalhou pela cidade: #Fora Gean! Nenhum direito a menos! Estas eram as palavras de ordem que os trabalhadores e a juventude da cidade de Florianópolis

A votação para deliberar pelo início de uma greve foi tomada por unanimidade: estava iniciada a greve pela retirada do “pacote de maldades” do Prefeito Gean Loureiro (PMDB) diversos bairros da cidade, estabelecendo diálogos entre os servidores e os usuários do serviço público. Foi explicado à população que o Prefeito Gean Loureiro estava governando para os ricos da cidade, contrariando seu próprio discurso de campanha. A população pôde entender que Gean estava atacando o serviço público e os direitos dos servidores públicos com o objetivo de privatizar os serviços e repassar mais dinheiro público

entoavam em várias ocasiões. O Prefeito já estava tendo dificuldades de transitar pela cidade sem ser hostilizado por transeuntes. A greve radicalizou! Negociações nas quais o Prefeito tentava impor a retirada de direitos eram rechaçadas pelos grevistas. A OAB tentou intervir, agendando uma reunião entre o Sintrasem e o prefeito, e a direção do sindicato se recusou a participar

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trajetória da greve desta reunião, que aconteceria na sede da própria OAB. O movimento dos trabalhadores da PMF tinha uma a Comissão de Negociação, eleita em assembleia e formada por seis representantes de organizações políticas que intervém na base da categoria, como Esquerda Marxista, CSP/Conlutas, Intersindical, Tribuna Classista, Unidade Classista e O Trabalho. Foi deixado claro que era diretamente com esta comissão que o prefeito deveria se reunir, sem intermediários. No mesmo dia a Comissão foi convidada para uma reunião no Gabinete do Prefeito. Estes representantes tiveram a oportunidade de apresentar todos os pontos das leis aprovadas, mostrando os prejuízos para os trabalhadores e os riscos de acabar com o serviço público. O que ficou claro nessa reunião é que o Prefeito Gean Loureiro estava antecipando as medidas que Michel Temer, também do PMDB, está propondo junto ao Congresso Nacional: a PEC da terceirização, o congelamento dos investimentos públicos, as reformas da previdência e trabalhista. Continuamos firmes e resolutos em nossa posição política: a greve continua pela revogação do pacote de maldades! No dia 21 de fevereiro fomos surpreendidos com a intimação da Desembargadora Vera Lúcia Copetti

que, a pedido do Prefeito Municipal, abriu uma mesa de negociações entre as duas partes, agendada para o dia 22 de fevereiro. O resultado da forte mobilização, com uma greve massificada e o diálogo direto com a população, foi a revogação da maioria absoluta das medidas que atacavam os trabalhadores e o serviço público municipal. O apoio das mídias independentes, como Desacato, Maruim, Catarinas,

O salto de qualidade na consciência política de nossa categoria parece ser uma inspiração para que outras categorias construam a unidade Diário do Centro do Mundo, entre outros, também foi fundamental na disputa da opinião pública com a mídia burguesa. A proposta que surgiu na mesa do dia 22 fevereiro foi apresentada no mesmo dia para a categoria, que decidiu interromper a assembleia até o dia seguinte, dando a cada trabalhador da prefeitura o tempo necessário para entender e analisar a proposta encaminhada. No dia 23 de fevereiro

VIVA A CLASSE TRABALHADORA! 5

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a assembleia continuou, e a proposta foi avaliada pelos mais de 3 mil trabalhadores presentes. O clima era de euforia, e o sentimento era de vitória da nossa estratégia, da nossa persistência, da nossa capacidade de organização. Desde o início desta última assembleia, no dia anterior, mais de 50 perguntas foram direcionadas à mesa, que respondeu pacientemente. Foram 21 falas de avaliação da greve e da proposta. Todos unânimes pela aceitação e saída da greve. A votação expressou essa unidade. Dos presentes apenas 9 companheiros votaram contrários. Encerramos a greve, mas permanecemos em estado de greve, estado de máximo alerta, acompanhando a tramitação até a aprovação da lei acordada. Também decidimos por aderir ao dia nacional de paralisação, convocado pela Confetam e CNTE, em 15 de março, contra as reformas da previdência e trabalhista. O salto de qualidade na consciência política de nossa categoria parece ser uma inspiração para que outras categorias construam a unidade para enfrentarmos juntos o ajuste fiscal do Presidente ilegítimo Michel Temer. Viva a luta de classes! Viva a classe trabalhadora! Viva o socialismo!


nacional

Lá Cá E

Os ataques aos direitos dos trabalhadores em nível nacional e local

O

s ataques de Gean Loureiro (PMDB) têm muito a ver com os do ex-prefeito César Souza Júnior (PSD) e com as políticas do governador Raimundo Colombo (PSD). Ao mesmo tempo, todas essas medidas são semelhantes à linha de austeridade proposta devagar e gradualmente pelo governo do PT (Lula e Dilma) e aplicada ferozmente pelo ilegítimo Michel Temer (PMDB). Não se trata, claro, de uma coincidência. As siglas podem ser diferentes, os nomes e os modos de aplicar também, mas seguem todos uma mesma tendência: Os políticos serventes da elite se articulam para jogar tudo na conta do povo, mesmo que a culpa da crise seja dos ricos! Os cortes e ataques que sentimos em Floripa - com material faltando em postos de saúde, condições de trabalho precarizadas, atendimen-

GREVE RECEBEU APOIO DE ENTIDADES NACIONAIS E INTERNACIONAIS De várias partes do mundo chegaram moções em defesa do movimento grevista de Florianópolis. O sindicato recebeu mensagens desde a Espanha, Canadá, França, Bélgica, El Salvador, Iraque, Alemanha, Grã Bretanha, Dinamarca, entre outras nacionalidades. Importantes entidades e movimentos no Brasil também se pronunciaram condenando a tentativa de criminalização dos dirigentes sindicais, como

to prejudicado, direitos restringidos e plano de carreira ameaçado - seguem o mesmo modelo proposto em Brasília! O congelamento dos gastos públicos (na PEC 55, aprovada pelo Senado), os cortes de direitos e privatizações de serviços públicos (PLP257/15), o sucateamento do SUS e a reforma na educação são tentativas de destruir o que temos de público e entregar tudo para a iniciativa privada! É a mesma cartilha aplicada por Gean Loureiro com seu pacote de maldades, derrotado pela força e união dos servidores municipais. Os ataques vão muito além da intenção de destruir o serviço público: para manter suas elevadas taxas de lucro (que seguem crescendo, mesmo na crise), os grandes empresários pressionam os políticos submissos para a destruição das garantias trabalhistas mínimas, o desmonte da CLT, o fim da Previdência Pública – é isso por exemplo, CUT Nacional, MST, CONFETAM, FETRAM/SC, CNQ-CUT, CUT-SC, Sindicato dos Petroleiros do RJ, APP Curitiba Norte, SINTE-SC, SINSEJ (Joinville), Fábrica Ocupada Flaskô, Ocupação Vila Soma (Sumaré), Associação de Moradores do Adhemar Garcia (Joinville), DCE do IELUSC. Além de diretores do Sindicato dos Ferroviários da Bahia, do Sindicato dos Ferroviários de Bauru e MS, do Sindicato dos Vidreiros de SP, da Federação Nacional dos Petroleiros, PCB, Partido Obreiro da Argentina, CSP Conlutas, CTB, dentre outros.

que significam a Reforma Trabalhista e a da Previdência propostas por Temer! A mídia tradicional, financiada pelo mercado financeiro, promove a agenda do novo governo como se fosse a solução para o Brasil. Não contam para a população que enquanto se planeja regredir mais de 50 anos em nossas conquistas trabalhistas, empresas como a Vale, que fatura um dinheirão sobre nossas riquezas naturais, deve aos cofres públicos mais de 40 bilhões – que, como outras estatais, foi sucateada deliberadamente para ser vendida a preço de banana. Não se noticia também o grande esquema de gasto do dinheiro público que é a Dívida Pública – sem auditoria ou qualquer tipo de controle, ela consome cerca de metade de todo o orçamento do país todo ano e mesmo assim segue crescendo sem parar! A grande mídia também não informa que uma minoria detém a maioria da riqueza do país: Com base em dados do Imposto de Renda Pessoa Física foi possível constatar que os 50% dos brasileiros mais pobres detinham 2% da riqueza, 36,99% ficavam com 10,60% e 13,01% com 87,40%. Uma parcela menor entre os mais ricos, 0,21%, era dona de 40,81% do total. Os ataques dos ricos e poderosos chegam por muitos lados: a grande mídia manipula, a Polícia reprime protestos, o Congresso aprova o que interessa à classe rica. É necessária muita articulação para que a classe trabalhadora consiga colocar na rua toda a força que tem! Com unidade e organização, os trabalhadores e trabalhadoras podem fazer frente aos ataques, defender os direitos e conquistar avanços – foi o que a grande greve municipal em Florianópolis provou e é o que devemos aplicar em todo o país! Trabalhador unido jamais será vencido!

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memória

O SINDICATO SOMOS NÓS - A LUTA DOS MUNICIPÁRIOS TEM HISTÓRIA

Entrevistas com dois profissionais da rede sindicalizados desde a fundação da entidade rememoram a história da organização na capital catarinense “A memória te une, o esquecimento distancia”, envereda-se Pedro nas histórias sindicais. “O que mudou radicalmente na concepção da prefeitura foi que nos transformamos em uma categoria de municipários, saímos do nosso umbigo de magistério ou civil. As nossas greves se pautam em discussões de um ou outro setor, a luta se tornou uma discussão conjunta. A necessidade de priorização da luta é um ganho de entendimento para os municipários. Ano passado nos pautamos principalmente no plano de cargos e salários do civil, em outros anos, no magistério. Somos municipários!” Antes mesmo do sindicato ser sindicato, Pedro Cabral estava mobilizado com outros trabalhadores da rede municipal de ensino na Associação dos Educadores Municipais de Florianópolis. O professor de artes, a alguns meses da aposentadoria, não sabe ao certo quando foi que a associação dos educadores e dos trabalhadores do quadro civil e Comcap se juntaram em uma instituição só, traz consigo as experiências dos quase 30 anos de Sintrasem ao lado de servidoras e servidores sindicalizados desde o princípio, assim como ele.

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Na associação não se tinha muita clareza do papel da organização. A movimentação era muito incipiente, a ideia de classe, de que era possível fazer diferente sem depender de bondade de governo. Essa ideia não era presente nem para mim nem para o povo todo. Era uma relação entre professores da prefeitura. O Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público de Florianópolis foi fundado em 1988, conquista de lutas pelo direito à organização sindical. Pedro conta que a turma começou então a levantar campanhas de filiação para estimular a entrada de mais gente. Quem tinha entrado passava nas escolas para pedir para que os demais se unissem ao movimento. “A gente usava a frase: o sindicato somos nós”. Desde lá, nesses anos todos, algumas pautas não saíram da agenda dos trabalhadores, como o plano de cargos e salário e a previdência social, e muitas novidades ganharam vez. “A gente saiu de uma salinha para um salão, depois para um casão e hoje a gente tá nessa estrutura maravilhosa. Não se faz sindicalismo com boa vontade, se faz com profissionais,

Pedro Cabral Professor

com organização, com sede, estrutura.” Para Pedro, que participou desse processo, a greve contra o Pacote de Maldades de Gean Loureiro (PMDB) está em sua lista dos “três motivos de muito orgulho por fazer parte da rede”. Segundo ele, essa última greve, a que impulsionou a criação do estatuto do magistério e da eleição direta para diretores foram as mais importantes que faz parte. “A gente permaneceu na luta com clareza de cair de pé.”


memória

Nanico atua no Centro de Saúde, na Trindade. Farmacêutico da prefeitura desde 1985, vivenciou no trabalho a retomada das liberdades democráticas posterior à ditadura militar. Ele se recorda que durante o regime de exceção servidores públicos eram proibidos de se filiar em sindicatos. “A associação tinha caráter recreativo, não tinha como fazer reivindicações. A organização sindical foi permitida com a constituição cidadã. O sindicato é político.”

temos instâncias que enraízam o sindicato na base, o conselho deliberativo com encontros mensais, doze diretores liberados e o Congresso do Sintrasem Logo após a organização a categoria instituiu o período de negociação salarial. “A gente sempre teve que recorrer para recuperar salário.” Ele conta que na década de 90 a inflação era tão alta que foi preciso acordar uma espécie

de gatilho, quando chegasse a um limite, o salário era reajustado, mesmo dentro de um mês. “Foi a década perdida, de arrocho salarial, tudo aumentando de preço.” Depois teve o mandato de Ângela Amin (PP), que segundo ele, foi um dos mais difíceis em termos de mobilização da classe devido à ascensão neoliberal - época de privatizações e liberalismo econômico - no mundo. Para Nanico uma das principais lutas travadas pelos servidores nesses anos todos foi para instituir o Plano de Cargos e Salários do civil. Recorda-se bem das duas maiores greves do Sintrasem, entre elas, a contra o Pacotão de Maldades. Ele considera que essa última chamou a atenção da cidade por causa da alta adesão da categoria que reivindicava nada mais que a manutenção de conquistas históricas, a defesa do Sistema Único de Saúde e do serviço público como um todo. Para chegar nesse ponto de envolvimento, com mais de 90% da categoria nas ruas, ele aposta em algumas motivações: “Acho que tem a ver com a própria história do sindicato. Sempre tivemos forças de esquerda

Sidnei Batista (Nanico) Farmacêutico

participando e diretorias de luta - apenas uma vez passou uma chapa mais conservadora. Assim não ficamos só no economicismo. A política está mais compreendida entre nós como atividade da humanidade, não simplesmente partidária. Passamos por um período de ditadura em que não se podia ter partidos. Além disso temos instâncias que enraízam o sindicato na base, o conselho deliberativo com encontros mensais, doze diretores liberados e o Congresso do Sintrasem, em que participam dirigentes, conselheiros e delegados da base.”

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mídia

Servidores usam o jargão “põe na tela amarelo” do colunista da RBS, Cacau Menezes, que se posicionou contra a greve

O PODER DA BURGUESIA TEM VOZ NA MÍDIA NEGÓCIO

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o noticiar na capa do diário o final da greve antes da assembleia que deliberou pela continuidade do movimento no dia 26 de janeiro, o Notícias do Dia escancarou como funciona o jornalismo-negócio. A jogada se passou desta forma: O vereador Katumi (PSD) enviou um whatsapp aos repórteres das duas imprensas da capital com as informações de que as trabalhadoras e os trabalhadores sairiam da greve. A mensagem foi entregue anexada a uma cópia de um documento assinado pela mesa de negociação sindical. En-

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tretanto, o documento, como bem sabia a prefeitura, representava a contraproposta oficial do executivo e passaria ainda pela avaliação dos trabalhadores em assembleia no dia seguinte. O caso pode parecer pouco, mas não é. Cada vez que a mídia serve de porta voz dos interesses partidários e privados presta um desserviço à população que é negada aos seus direitos, constitucionalmente garantidos, de acesso à informação e à expressão. A capa do ND daquele dia repercutiu em uma baixa adesão

à assembleia e milhares de torpedos circulando pelos aplicativos de mensagens da categoria propagando as inverdades divulgadas – afinal, se deve confiar em quem senão nos jornais? Os grupos RBS e RIC são os proprietários dos únicos jornais impressos que circulam na abrangência da grande Florianópolis e também dos canais da televisão aberta mais assistidos na região. Como qualquer outra empresa, esses grupos visam lucros e dependem do dinheiro da venda de anúncios, principalmente provenientes do governo.


mídia No dia 16 de fevereiro, por exemplo, os veículos de informação publicaram o anúncio de página inteira Manifesto em defesa do futuro da cidade pago por 33 entidades privadas em defesa da prefeitura contra a greve dos servidores. No dia seguinte o Notícias do Dia publica uma reportagem em que as principais fontes entrevistadas são as mesmas entidades e o prefeito – sem avisar, porém, que o texto fazia parte de um bônus pelo anúncio que custou alguns milhares de reais. Alguns repórteres se esforçaram pela realização de uma cobertura mais completa com informações precisas e entrevistas com as diferentes visões sobre os fatos, dando o seu melhor mesmo diante do acúmulo de funções nas redações esvaziadas dos grandes jornais. A linha editorial do jornal, porém, serve aos grandes empresários, incluindo os donos dos dois grupos hegemônicos de mídia. Assim as escolhas de pauta, angulação, edição dos materiais e os espaços daqueles colunistas que trabalham como boca de aluguel de seus superiores, como Cacau Menezes e Moacir Pereira, seguem a linha editorial do grupo.

os veículos de informação publicaram um anúncio de página inteira pago por 33 entidades privadas em defesa da prefeitura contra a greve dos servidores

Neste cenário a mídia independente se torna essencial. Como exemplo positivo de outro modo de pensar o jornalismo e a comunicação, diversos grupos estão atuando no estado e no país. Os portais Desacato, Catarinas, MARUIM e Farol Reportagem cumprem a agenda local enquanto Brasil de Fato, Diário do Centro do Mundo, Agência Pública de Jornalismo Investigativo, Nexo, entre outros portais, cobrem o nacional. O consumo e estímulo destes grupos é importante para o crescimento do jornalismo e para a ampliação dos debates que constroem a nossa realidade. A comunicação do próprio sindicato precisa também ser destacada no processo – é necessário fortalecê-la e garantir seu alcance para toda a categoria, possibilitando repasses das informações verdadeiras.

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jurídico

A BATALHA É NA RUA Os limites do judiciário nas lutas sociais

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prefeitura acionou a justiça durante a greve diversas vezes para tentar desmobilizar a categoria com ameaças de criminalização da organização sindical, desconto de ponto, prisão dos dirigentes. Esta prática usual do judiciário pelo poder executivo e, às vezes, legislativo, interfere em sua autonomia. Em entrevista, o advogado do Sintrasem André de Moura Ferro falou sobre algumas questões relacionadas a isso que surgiram durante o movimento, demonstrando os limites da aposta no judiciário para as lutas sociais. A vitória das trabalhadoras e trabalhadores nesta greve foi devido à unidade da categoria que se manteve no movimento por 38 dias. Durante a nossa greve alguns trabalhadores contestaram a falta do uso da ferramenta jurídica para argumentar contra as irregularidades cometidas pela prefeitura e em seus projetos de lei. Quais os limites para o combate por via judicial em nossa realidade? O governo municipal, ao se ver em maioria na Câmara de Vereadores, atropelou o regimento da casa para aprovar as medidas impopulares no menor espaço de tempo possível. Assim, os vereadores atrelados ao governo fizeram de tudo para impedir que os afetados pelos projetos, inclusive os servidores municipais, fossem ouvidos e aprovaram as medidas a toque de caixa. O vereador Lino Peres (PT) chegou a ingressar com

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uma ação judicial para barrar os projetos. Na ação o vereador Lino afirmou com justeza que os procedimentos adotados violavam os direitos democráticos de audiências públicas e de participação efetiva da oposição ao governo e ainda que vereadores que estavam legalmente impedidos votaram a favor dos projetos. Infelizmente o judiciário decidiu em não interferir, alegando que seria meramente uma questão interna da câmara de vereadores. Mesmo assim, as leis decorrentes desses episódios antidemocráticos ainda podem ser objetos de ações de inconstitucionalidade por vícios formais e materiais.

Como a “justiça” foi usada pela prefeitura para ameaça e desmobilização da categoria nesta greve? Como tem sido a prática de anos da prefeitura, a primeira medida contra a organização e mobilização dos trabalhadores foi buscar a intervenção judicial, que é espantosamente rápida em atender e expedir ordens antigreves. Nessas decisões, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina tem entendido como verdadeiras alegações da prefeitura sobre fatos que dependeriam de instrução probatória e tem interpretado o direito de greve de forma que o inviabiliza. Assim, o tribunal decidiu que os trabalhadores da educação infantil não têm o direito de aderir a uma greve e ainda decidiu intervir em questões internas da organização sindical e exigiu listas de presentes nas assembleias para decidir se a assembleia que deflagrou a greve tinha validade ou não. A prefeitura desejou ir mais além, pediu a instalação de um interventor judicial no sindicato e a prisão de seus diretores. Felizmente a greve terminou de forma negociada antes que o conflito se escalasse a esse ponto. Foto cedida por Marino Mondek

Dez mil servidores construíram o maior ato do serviço público em Forianópolis, em marcha desde a Mauro Ramos passando pela Beira Mar até o terminal central


comunidade

A CONSTRUÇÃO DA LUTA NAS COMUNIDADES

O

s municipários não venceram sozinhos: só conquistamos o que conquistamos com o apoio recebido de toda a população! Participando de atos, mandando palavras de incentivo, se unindo aos trabalhadores em greve, ficando ao lado da cidade e contra o prefeito, o povo de Florianópolis deu um recado pro prefeito: A cidade não é dele! A cidade é nossa, trabalhadores das mais diversas áreas que dão duro todo dia, não dos ricos empresários e dos políticos que os servem. A mobilização de diversas comunidades foi fundamental para o desfecho vitorioso da greve. Atividades aconteceram no Centro, Comunidade do Maciço, Norte, Sul e Continente – por toda Floripa – e foram um demonstrativo muito forte tanto do apoio da população aos servidores quando ao repu-

dio geral ao pacote de medidas e ataques de Gean Loureiro (PMDB): o povo entendeu o que estava em jogo e se levantou em defesa da cidade! O reconhecimento do trabalho dos servidores e servidoras e o apoio às lutas por parte da população não é novidade, mas nessa massiva greve, a mobilização popular atingiu novos patamares. Antes restritas a algumas unidades, as atividades deste ano envolveram diversos postos de trabalho, movimentando toda a comunidade do entorno. Além da importância para a vitória de agora, essa mobilização é fundamental por criar laços de articulação onde antes ainda não havia, fortalecendo o poder popular e dando mais condições para lutas futuras. Não só isso: conquistando as vitórias pelas quais se lutou, essa jornada serve de

exemplo e inspiração, mostrando que podemos ganhar e avançar se estivermos juntos e organizados na mobilização. Com a derrota das medidas do prefeito Gean Loureiro (PMDB), o serviço público de Florianópolis sai fortalecido e o atendimento à população segue garantido, com a qualidade reconhecida e obtida graças ao esforço diário de milhares de servidores, apesar das precarizações e cortes de verbas feitos por diferentes gestões da prefeitura. A luta não se encerra por aqui: este foi apenas o primeiro grande embate com Gean, que ainda deve ter mais quase 4 anos de gestão. No entanto, o tom já foi dado: servidores e população não vão ficar parados enquanto a cidade é atacada! Com luta e unidade, as vitórias são conquistadas!

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comunidade A SAGA DO SERVIÇO PÚBLICO Colaboração de José Guerreiro de Mattos, psicólogo

Vocês já viram filmes de heróis de hollywood? Mesmo que seja totalmente anti-capitalista, mega-ultra revolucionário e não assista filmes americanos, dá para entender o enredo e a analogia. “Nessa greve”, não foi preciso vestir fantasia para virar herói, todos fomos personagens principais da história! A cena clássica do fim desses filmes é, após a grande batalha, o mundo meio destruído, mas apesar disso, a liga de heróis (nossa assembleia) está ferida mas junta, com um sentimento de vitória por ter “derrotado” o mal... mas antes do fim, às vezes durante os créditos, os vilões dão sinal de vida, mostrando que logo atacarão novamente. Disse “nessa greve” e não “na última greve”, justamente por isso, todos sabemos que ainda vem muito chumbo grosso nos próximos capítulos... Precisamos ficar unidos, mesmo tendo muitas diferenças! Mas o clímax dos filmes não é o fi-

nal, as duas melhores partes são quando os heróis descobrem seus superpoderes e estão aprendendo a usá-los e depois, quando os vilões estão quase vencendo e a população entra na batalha ao lado dos heróis e juntos, viram o jogo.

nosso terceiro superpoder, a união. Uma greve com uma super adesão, até companheiros de férias participando dos atos. Diretores de unidades escolares, coordenadores de CRAS, nem os médicos aceitaram negociar em separado.

No nosso caso, descobrimos e ainda estamos aprendendo a usar 3 superpoderes. A qualidade do serviço público, que apesar de todo o desmonte e precarização, pela superação e compromisso da maioria dos servidores, se mantem como referência nacional em educação e saúde. O segundo superpoder foi o diálogo, a troca de informação pelos mais diversos meios de comunicação, redes sociais, aplicativos, cartas, carro de som, passeatas, boi de mamão, maracatu e o velho e ainda eficiente tête-à-tête.

Foi usando a criatividade, dialogando em reuniões na comunidade, com a população que usa o serviço público e quer qualidade porque além de ser um direito, precisa dele, que ganhamos esse apoio e começamos a virar o jogo.

Talvez dos 3 o superpoder mais importante, pois além de se contrapor aos maiores ataques feitos pelo aparato midiático dos inimigos, propiciou o fortalecimento do

Ainda estamos em estado de greve! Não deixem de usar os superpoderes! Vamos lutar pela qualidade do serviço público, não desconte nos usuários a precariedade das condições de trabalho, dialogue, às vezes falta quase tudo nos nossos locais de trabalho, mas conversando não vão faltar aliados. Usuários e servidores juntos somos invencíveis! Ah,e a continuação de nossa saga já tem data marcada: nossa data base é em Maio.

Foi usando a criatividade, dialogando em reuniões na comunidade, com a população que usa o serviço público e quer qualidade porque além de ser um direito, precisa dele, que ganhamos esse apoio e começamos a virar o jogo Moradora do Monte Cristo posa na janela em apoio à greve

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arte e cultura

A

O ECOAR DE DEZ MIL VOZES

A importância da Mística na Luta por Nenhum Direito a Menos

Colaboração de Marcos Cordeiro Bueno (Canguru), professor de Educação Física

luta pelos direitos da classe trabalhadora nada mais é do que um ato de rebelar-se. Rebelar significa encontrar novamente o belo, recuperar, reconstruir a beleza, guerreando. É nesse sentido que a comissão de mística em nosso movimento foi e é um elemento surpresa e imprescindível. Nessa vitoriosa greve de 2017 a mística traduziu-se no aproveitamento da criatividade de nossa categoria. Por esse recurso, vários trabalhadores produziram cartazes com desenhos e mensagens, além de construírem ambientes de reflexão coletiva e de comunicação com a população. O destaque foi para as palavras de ordem, com versões políticas de músicas conhecidas, do Rock de Raul Seixas ao Funk crítico da Favela, além da inestimável contribuição da cultura do Maracatu. No entoar de nossas vozes não apenas dialogamos com a população, mas abrimos uma onda de tomada de posição em cada trabalhador e trabalhadora de nossa cidade. Nos grandes atos de rua no centro da cidade, como nas comunidades locais que inclusive criaram coreografias relacionadas diretamente as mensagens das músicas, a mística produziu um efeito contagiante de solidariedade de classe e inspirou cada trabalhador e trabalhadora a se manter firme pelos quase quarenta dias de batalha. “NENHUM DIREITO A MENOS”, de forma simples e objetiva começou a ser entoado ainda antes do início da greve, nos bastidores de uma escola no extremo norte da ilha quando do início dos trabalhos da nova gestão municipal que já apontava, em menos de duas semanas de governo, para o que viria. A greve acabou, mas a palavra de ordem “NENHUM DIREITO A MENOS” permanece ecoando em nossos corações e mantendo vivo o ávido espírito de luta dos trabalhadores e trabalhadoras do serviço público municipal de Florianópolis!

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arte e cultura

ARTE, LUTA, RESISTÊNCIA E CUIDADO Colaboração de Murilo Leandro Marcos, médico

Foram 38 dias de greve, 38 dias de mobilização, 38 dias de conscientização, 38 dias de educação em saúde, 38 dias de união

A

arte é o remédio, e o melhor deles: Machado de Assis assim definiu, em 1908, o potencial terapêutico das práticas estéticas. Assim como na saúde, no campo das lutas populares a arte vem desempenhando múltiplos e transformadores papéis. Na histórica greve dos trabalhadores municipais de Florianópolis de 2017, as manifestações artísticas ocuparam uma posição estratégica para consolidar o desfecho positivo em defesa dos serviços públicos. Arte para comunicar, arte para mobilizar, arte para sensibilizar, arte para descontrair, arte para traduzir, arte para politizar, arte para educar,

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arte para motivar, arte, enfim, para reenergizar o movimento quando a pressão fazia muitos quererem desistir. Foi assim quando o violeiro subiu no caminhão de som e acompanhou a passeata musicando as falas; quando o grupo de teatro se vestiu de luto e fez um cortejo fúnebre encenando a morte do serviço público; quando a escola resolveu colocar 40 carteiras na rua para uma aula pública; quando as professoras da creche levaram o boi-de-mamão pra praça do bairro; quando Maricota e Bernunça afirmaram sua posição de esquerda; quando a psicóloga convidou seu grupo de dança para uma reunião comunitária; quando médicos confeccionaram adesivos,

bandeiras, camisetas e levaram seus instrumentos musicais para as passeatas; quando o baque do maracatu arrastou e encantou a multidão cansada e disposta; quando a fotografia reafirmou ser instrumento de luta; quando os vídeos se transformaram em vozes guerreiras reproduzidas na imensidão da virtualidade; quando a arte de cuidar se encontrou com a luta popular na Tenda do Cuidado, espaço de acolhimento e cura, concomitante às assembleias, organizado e oferecido aos companheiros e companheiras em mobilização. Nos 38 dias do movimento de greve, a arte foi síntese e catálise,


arte e cultura

Uso de instrumentos musicais deram o tom nos atos

foi o espontâneo e o ensaiado, o paradoxo das forças opostas que se complementam. Foi através da arte que nos sentimos mais vivos, mais próximos da nossa cultura e mais conectados às nossas raízes profundas. A arte foi um grande bálsamo, foi o remédio social que fortaleceu e manteve a saúde do complexo organismo dos trabalhadores e trabalhadoras municipais de Florianópolis. Foram 38 dias de greve, 38 dias de mobilização, 38 dias de conscientização, 38 dias de educação em saúde, 38 dias de união, 38 dias de comunicação, 38 dias de comunitarização, 38 dias de diálogo, 38

dias de politização, 38 dias de saúde comunitária na veia, 38 dias de pé na rua, 38 dias de assembleias lotadas, 38 dias de disputa da opinião pública, 38 dias de inverdades na mídia conservadora, 38 dias de aprendizado, 38 dias de poder popular, 38 dias de ativismo digital, 38 dias de ampliação de consciência, 38 dias de caminhadas, bicicletadas e passeatas, 38 dias de atos pela cidade inteira, 38 dias em defesa do que é mais essencial para uma cidade, 38 dias em defesa do serviço público, 38 dias em defesa de uma cidade que acolha todas e todos, 38 dias pedagógicos, 38 dias de ensinamentos para vereadores e secretários municipais, 38 dias

pra mostrar pra político que política se faz na rua e no diálogo com as pessoas, 38 dias botando a boca no trombone, 38 dias de desobediência civil. 38 dias pra desconstruir a politicagem, 38 dias pra barrar retrocessos sociais, 38 dias de humildade, 38 dias de poesia, música, criatividade, dança e expressões da cultura popular. 38 dias de educação popular, 38 dias de povo, 38 dias de resistência, 38 dias pra deixar claro que prefeito nenhum é dono de cidade, 38 dias de rebeldia consciente, 38 dias de SUS, 38 dias de luta, 38 dias pra entrar na história, 38 dias pra mudar a história, 38 dias pra se sentir no lado mais humano da história.

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a luta continua

VENCEMOS A GREVE, MAS OS ATAQUES E A LUTA CONTINUAM!

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grande mobilização dos servidores em Florianópolis foi um exemplo de luta contra a austeridade e a política de jogar a conta da crise dos ricos em cima das costas dos trabalhadores. Muito esforço e dedicação garantiram a manutenção dos direitos e a derrota dos ataques do prefeito. No entanto, é necessário ter consciência de que não é fácil manter a organização da mobilização e que mais ataques vão vir, e como muita força!

tal para que o SINTRASEM continue forte e para que todos e todas sejam efetivamente representados! É muito importante também a participação nas atividades promovidas pelo sindicato - atos, reuniões, formações, assembleias.

Por isso, agora é a hora de fortalecer nossa organização! Tanta luta só foi possível com um sindicato fortalecido - e um sindicato só é forte devido a força dos trabalhadores e trabalhadoras que o compõe. Os ataques aos direitos continuam e vem fortes - reformas da Previdência e Trabalhista, propostas pelo ilegítimo governo de Michel Temer (PMDB) são as bolas da vez. Mas se a ofensiva dos ricos está forte, é fichinha comparada à resistência dos trabalhadores e trabalhadoras!

Os ataques não param e a mobilização dos trabalhadores também não!

É necessário que a construção do sindicato se dê durante todo o ano, pois embora as greves sejam os momentos de maior demanda, a luta e a organização acontecem todo o ano, sem descanso. O primeiro passo é a filiação, fundamen-

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A participação e a filiação são importantes também para garantir a independência financeira do sindicato: com devolução do imposto sindical e arrecadando apenas as contribuições voluntárias dos tra-

balhadores o SINTRASEM responde apenas aos servidores. Nesta greve, as despesas chegaram a cerca de R$ 250 mil, gastos com tendas, cadeiras, som, material, alimentação, combustível para roteiros... Tudo financiado pelos próprios servidores. Os ataques não param e a mobilização dos trabalhadores também não! Vamos seguir juntos, construindo um SINTRASEM cada vez mais forte, enfrentando os ataques de nível municipal, estadual e federal com muita unidade e organização!

A LUTA É PERMANENTE! Colaboração de Orandina Machado, professora aposentada No decorrer da trajetória do SINTRASEM, muitas conquistas foram alcançadas, tais como: Plano de Cargos Carreira e Salários; Vale Alimentação; Redução da Carga Horária de 8 para 6 horas; Gratificação de Jornada para o Magistério(tendo em vista a impossibilidade de reduzir as horas em sala de aula); Reposição salarial de 100% da inflaçãodo ano anterior; Aumento Real de Salário, em cada Data Base, dentre tantas outras conquistas. Com o passar do tempo, cada governo foi intensificando suas posições de minar a classe trabalhadora, levando a Categoria a lutar de forma cada vez mais acirrada para manter os direitos conquistados, criando o lema: “Nenhum Direito a Menos!”. Nesta trajetória, quem atingiu “tempo de contribuição e idade” desvinculou-se de sua jornada de trabalho, mas permanecendo nos movimentos reivindicatórios junto à Categoria, pois tem a consciência política de que A LUTA é PERMANENTE!


CAMINHANDO, LUTANDO E CANTANDO... Vamos, vamos Lutar! Vamos, vamos Lutar!

(Paródia com base na música “We Will Rock You” do grupo Queen)

Vamos, vamos Lutar! Vamos, vamos Lutar! Agora Gean Loureiro preste Atenção, Na história dessa luta que não é em vão, Unidos nessa Greve Civil e Educação, Atacar nossos direitos nos dizemos NÃO! Vamos, vamos Lutar! 2X Ganhou a Eleição Prometendo Ajudar, Agora o sem vergonha quer nos atacar, Retirando direitos sem negociar Ferrando os servidores ao se aposentar Vamos, vamos Lutar! 2X Só a luta muda vida, aprendemos a lição Vamos até o fim não recuamos não! Pacote de maldades aqui não vai rolar Rumo a vitória custe o que custar!

Nós não vamos pagar nada! (Paródia com base na música “Aluga-se” de Raul Seixas)

A solução para Floripa eu vou dá Negócio bom assim ninguém nunca viu 40 dicas de como ferrar O servidor do magistério e civil Nós não vamo paga nada Nós não vamo paga nada É Greve Sim; Tá na hora Greve Sim; Vamo embora Pra Rua pra enfrentar E esse projeto ele retirar ah ah ah ah Pros Banqueiros eu sei que eles vão gostar Os devedores eu quero perdoar Os Engenheiros sem licença ambiental E a Cidade só que vai se dar mal Nós não vamo paga nada Nós não vamo paga nada É Greve Sim Tá na hora Greve Sim Vamo embora Pra Rua pra enfrentar E esse projeto ele retirar ah ah ah ah Os Vereadores eu já vou comprar Até a Mídia vai ter o seu lugar Pros servidores como é que vai ficar? Já to com medo eles vão protestar Nós não vamo paga nada Nós não vamo paga nada É Greve Sim; Tá na hora Greve Sim; Vamo embora Pra Rua pra enfrentar E esse projeto ele retirar ah ah ah ah

Gean fora da lei (Paródia baseada na música “Cowboy fora da lei” de Raul Seixas) Gean quer ser o pior prefeito Quer retirar nossos direitos E o serviço público acabar Já tem ajuda dos jornais Mentindo assim está demais Querendo o povo todo enganar Pra aposentar não leva nada Nossa carreira tá arruinada E todo servidor carrega a cruz Oh coitada da companheirada Deus nos livre dessa guarda Que abaixo de pimenta nos conduz Gean tu é besta pra tirar onda de herói Nossos direitos não se mói Nem destrói PCCV Katumi Kid só existe com o Gui Os dois ajudam nisso aí Mas vai ter volta pra vocês

Sou manezinho, mas não sou nenhum bocó! Olhó, lhó, lhó, lhó Sou manezinho, mas não sou nem um bocó Olhó, lhó, lhó, lho Serviço público é oq eu te de melhor!

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www.sintrasem.org.br


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