Folha maçônica 500

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FOLHA MAÇÔNICA

Edição 500 11 de abril de 2015 Desde 11 de setembro de 2005

Revista semanal distribuída por e-mail aos cadastrados e dedicada aos assuntos de interesse dos iniciados na Arte Real.

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Grandes Iniciados – Sir Charles Warren

– p. 3

Símbolos – Perseverança

– p. 3

Polêmica na Folha – Adão, um escravo sob medida

– p. 4

Medite – Quinhentas edições e Conselhos de Gurdjieff à sua filha

– p. 6

Conversa ao Pé do Olvido – Gurus, escritores e outros quinhentos – p. 7 Coluna do Direito – Registro da obra

– p.11

Dica – O Êxodo Motejado

– p.11

Documentos e Fotos Antigos – Folha Maçônica

– p.14

Eureka (Tureka, Nósreka) – Lembras deles?

– p.15

Universidade das Ruas – O cenário foi para a cucuia

– p.17

Enquete Inútil – Como dividir cinco batatas

– p.19

Mural – Querem minha opinião sincera, cidadã? e Charges maçônicas – p.20

Colaboradores:  Aquilino R. Leal  Francisco Maciel  Gilberto Ferreira Pereira  Heitor Freire  José A. Argolo Editor: Robson Granado Registro Profissional MTb.: 21.195

Chegamos à edição de número 500. Para nós, esta marca é algo que não imaginávamos ao nos lançarmos sem pretensões ao empreendimento editorial. Quase dez anos se passaram e aqui chegamos, após tantas semanas. Uma palavra sintetiza nossa atuação: Perseverança. Este é o tema de nossa seção Símbolos. Nela fazemos um resumo desses anos todos, com foco nos grandes amigos que nos acompanham e enriquecem nossa vivência. Nesta edição nosso Irmão Aquilino nos traz uma narrativa do Êxodo bíblico com humor e coloquialidade. Heitor Freire nos apresenta os primeiros 23 conselhos de Gurdjieff à sua filha. Argolo nos diz que o cenário foi para a cucuia, mas a graça foi preservada. Finalmente, temos a opinião sincera do jornalista e professor Nilson Lage. Robson Granado

Política editorial da Folha Maçônica A Folha Maçônica publica textos curtos sobre assuntos de interesse iniciático ou de cultura geral. A leitura na tela de um computador é desconfortável, se demorada. Acreditamos que nosso informativo tem maior chance de ser lido em função da brevidade dos textos que publicamos. O objetivo é sempre o enriquecimento espiritual dos leitores. Não fazemos campanhas de qualquer espécie, não usamos nosso espaço para atacar ou promover politicamente ninguém, não interferimos em assuntos internos de lojas ou Potências. Não aceitamos publicidade, mas divulgamos os eventos das Lojas ou Potências. Não apresentamos nossos princípios religiosos. Nos reservamos o direito de não publicar as colaborações que não se enquadrem na política editorial deste periódico. Questionamentos quanto a matéria publicada poderão não ser publicados.

Visite nossas páginas online: Sites para download das edições da Folha Maçônica: http://sdrv.ms/QobWqH Blog com desenhos e pinturas do Irmão Robson Granado: http://robsongranado.blogspot.com/

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GRANDES INICIADOS

Sir Charles Warren -

Soldado, explorador e arqueólogo de Bangor - Gwynedd. É um dos fundadores da famosa Loja de Pesquisas Quatuor Coronati no. 2076, de Londres. Warren foi seu 1º Venerável. Fonte: http://www.lojasaopaulo43.com.br/ilustres.php#paisdegales Sir Charles Warren (7 de Fevereiro de 1843 — 21 de Janeiro de 1920) foi um general dos Royal Engineers do Exército Britânico, funções em que teve relevantes funções em África e no Sinai, e mais tarde chefe da Polícia Metropolitana de Londres (Commissioner of Police of the Metropolis) de 1886 a 1888, período durante o qual ocorreram os assasínios atribuídos a Jack o Estripador (Jack the Ripper). Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Warren

SÍMBOLOS Perseverança Defnição de perseverança: esforço continuado para realizar ou conquistar algo apesar das dificuldades, fracassos ou oposição. Em Maçonaria, a perseverança nos leva a provar do doce e do amargo da vida, como se de uma taça obtivéssemos saciedade no prazer, seguida da experiência da dor. Contudo, ao final da jornada do iniciado, sua recompensa é a Luz, a consciência esclarecida. Todo progresso é fruto da perseverança. Desistir é sabotar a si mesmo. Nossa revista, Folha Maçônica, é um exemplo do exercício da Perseverança, virtude obrigatória em um maçom. Começamos em 2005, após breve período durante o qual divulgamos as atividades da loja da qual éramos obreiros. O desconforto de algumas mentes infelizes ali culminou com o pedido do venerável na época para que descontinuássemos as mensagens. Pedido acolhido, criamos imediatamente nosso semanário. Quem ganhou, quem perdeu? Nossas mensagens recomeçaram para um público leitor já conquistado em todo o Brasil. Semana após semana fomos ampliando o conteúdo. Mas, depois de uns poucos anos, nos sentimos vacilantes. Foi quando nosso Irmão Aquilino nos trouxe sua força e sua dedicação incansável. Vocês podem não acreditar, mas tenho material dele para uns três ou quatro anos de edições semanais futuras. Um pouco depois, veio nosso Irmão Francisco Maciel, escritor premiado e jornalista por atuação e por formação acadêmica. As contribuições de nosso Irmão evidenciam o prazer de abordar o que quiser e da forma que bem desejar. Essa liberdade criativa exercida pelo Irmão nos deixa orgulhosos de nosso semanário. O Irmão Gilberto Ferreira Pereira, advogado e pesquisador da história do Brasil e do Direito, conosco lado a lado desde sua Iniciação, se juntou a nós também nessa empreitada. Sua Coluna do Direito nos orienta e esclarece sobre temas fundamentais do Direito e da Justiça. O Irmão Heitor Freire, Past Grão-Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado do Mato Grosso do Sul, nos vem honrando com sua sabedoria e amor há alguns anos. Sensível e atento às questões do momento, o Irmão Heitor apresenta sua compreensão das coisas sempre com muito respeito a todas as opiniões. Finalmente, meu padrinho, meu professor na Escola de Comunicação (UFRJ), meu incentivador e apoiador persistente, Irmão José Amaral Argolo, nos trouxe sua vivência riquíssima no jornalismo e na vida. Sua seção Universidade das Ruas é a mais recente e nos traz a variedade de vivências e saberes de tempos não tão distantes em que o jovem repórter, com habilidade, memória invejável e prudência exercia seu ofício. Nossa Folha Maçônica chega a todas as regiões do Brasil e a alguns países. Inicialmente, nosso Irmão Aquilino se empenhou em ampliar nosso público leitor. Mais tarde, passamos a receber solicitações semanais de inclusão em nossa lista de distribuição. Hoje, ainda recebemos solicitações de inclusão, mas não nos empenhamos em buscar novos leitores. Baixamos nossas cabeças, focamos em nossos textos e imagens e nos preocupamos apenas com compartilhar aquilo em que acreditamos. Não temos interesse em retorno financeiro, não aceitamos publicidade, não

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fazemos propaganda de ideias em resposta a estímulos econômicos ocultos. Somos livres, somos iguais, somos fraternos. Missão cumprida. Que venham mais tantas edições, tantos anos quanto nossas forças nos permitirem. Obrigado Aquilino! Obrigado Maciel! Obrigado Gilberto! Obrigado Heitor! Obrigado Argolo! Obrigado a você Irmão e leitor! Robson Granado

A POLÊMICA NA FOLHA Adão, um escravo sob medida1(III/III) Analisei, em O 12º. Planeta, a etimologia dos termos sumério e acadiano geralmente traduzidos por "argila" ou "barro" e demonstrei que eles evoluíram da palavra sumério TI.IT. Ela significa literalmente "aquele que está com vida"; adquiriu depois os sentidos derivados de "argila", "barro" e também de "ovo". O elemento terrestre no processo de "ligar" em um ser que já existia "a imagem dos deuses" devia, portanto, ser o óvulo da Mulher-Macaco. Todos os textos que se referem a esse acontecimento esclarecem que Ninti deixou Enki fornecer o elemento terrestre, esse óvulo da Mulher-Macaco de Abzu, do sudeste da África. De fato, existe a especificação exata do lugar das minas (uma área identificada em O 12º. Planeta que fica na Rodésia do Sul, hoje Zimbábue), em um lugar acima, mais ao norte. Como mostraram descobertas recentes, essa área foi realmente o local em que surgiu o Homo sapiens... Ninti era encarregada de obter os elementos "divinos". Eram necessárias duas extrações de óvulos para uma da essência de uma Annunaki, e um jovem "deus" foi cuidadosamente selecionado para esse propósito. As instruções de Enki a Ninti foram que ela colhesse o sangue e o shiru do deus e depois imergisse em um "banho purificante" para obter suas "essências". Do sangue seria retirado o TE.E.MA, traduzido por "personalidade", expressando o que faz uma pessoa ser diferente das outras. Mas a tradução "personalidade" não define a precisão científica do termo que originalmente significava em sumério: "o que abriga, o que liga a memória". Atualmente daríamos a isso o nome de "genes". Outro elemento a ser retirado dos jovens Anunnaki era o shiru, comumente traduzido como "sangue". Com o temo, a palavra adquiriu, entre outras conotações, o sentido de "carne", mas no sumério antigo referiam-se ao sexo e aos órgãos reprodutores. Sua raiz significava basicamente "ligar", o que "liga". A extração do shiru foi relacionada em outros textos sumérios com o termo kiru e, sendo do homem, significava "sêmen", o esperma. Essas duas extrações divinas deviam ser bem misturadas por Ninti em um banho purificante e o epíteto lulu ("misto") para o Trabalhador Primitivo certamente teve raiz nesse processo de mistura. Na linguagem atual chamaríamos o "Híbrido". Todos esses processos deviam ser executados em perfeitas condições de higiene. Um texto menciona como Ninti lavou as mãos antes de tocar no "barro". O local era uma construção especial chamada em acadiano de Bit Shimti, da raiz suméria SHI.IM.TI, literalmente "casa onde o vento da vida é soprado". É a fonte, sem dúvida, da afirmação bíblica de que Elohim, depois de modelar o Adão do barro, "soprou em suas narinas o hálito da vida". O termo bíblico Nephesh, "sopro da vida", às vezes é traduzido como "alma". A mesma palavra é empregada na narrativa acadiana do acontecimento na "casa onde o vento da vida é soprado" depois de completarem os processos de purificação e extração: O deus que purifica o napishtu, Enki, falou. Sentado diante dela [Ninti] ele a convocou. 1

Texto recebido por e-mail em princípio de 2012. Devido à quantidade de fotos do original e o espaço limitado da coluna as imagens mais irrelevantes não foram aqui incluídas.

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Depois de proferir seu encantamento ela pôs a mão no barro. Em um selo cilíndrico há uma ilustração possivelmente relacionada a esse texto antigo. Nela, Enki, sentado, convoca Ninti (representada por seu símbolo, o cordão umbilical) e aparecem atrás os frascos usados como "tubos de teste". A mistura do "barro" com todos os componentes e essências não era o fim do processo. O óvulo da Mulher-Macaco, depois de fertilizado com o esperma e os genes do jovem "deus" Anunnaki nos "banhos purificantes", era depositado em um "molde" onde a liga devia se completar. Já que essa fase depois é descrita como associada à determinação do sexo do ser engendrado, podemos supor que era esse o propósito da etapa de "ligar". O prazo que o óvulo fertilizado permanecia no "molde" não é declarado, mas é bem esclarecido o que devia ser feito com ele. Depois de fertilizado e "moldado", precisava ser reimplantado em um ventre feminino, mas não na MulherMacaco original. Em vez disso, era escolhido o ventre de uma "deusa", uma Anunnaki! Só assim o resultado seria alcançado. Depois de tantas tentativas e tantos erros para criar seres híbridos, como Enki e Ninti podiam ter certeza de obter um lu1u perfeito ao reimplantar o óvulo em uma Anunnaki? Ou ela podia parir um monstro e pôr em risco a própria vida? Evidentemente, não tinham certeza absoluta. Como acontece tão freqüentemente com cientistas que servem de cobaia em experiências perigosas que exigem um ser humano, Enki anunciou aos Anunnaki reunidos que sua própria esposa Ninti ("Senhora da Terra") se oferecera para isso. "Ninti, minha deusa-esposa, será a escolhida para esse trabalho"; ela determinaria o destino do novo ser: O destino do recém-nascido tu proferirás; Ninti fixará nele a imagem dos deuses; E o que ele for será o "Homem". As Anunnaki escolhidas como Deusas do Nascimento receberam ordem de Enki de ficar e observar o que aconteceria se as experiências fossem bem-sucedidas. Como os textos revelam, não foi um parto simples e fácil: As Deusas do Nascimento foram mantidas juntas. Ninti sentou-se, contando os meses. O fatídico décimo mês se aproximava. O décimo mês chegou - o período de abrir o ventre tinha vencido. Aparentemente o drama da criação do Homem incluiu um nascimento tardio e foi necessário uma intervenção cirúrgica. Compreendendo o que tinha feito, Ninti "cobriu a cabeça" e "fez a abertura" usando um instrumento cuja descrição foi danificada na tábula de argila. Em seguida, "o que estava no ventre surgiu". Segurando o recém-nascido, ela exultou de alegria. Ergueu-o para que todos o vissem e gritou triunfante: Eu o criei! Minhas mãos o fizeram! O primeiro Adão tinha surgido. O nascimento bem-sucedido de Adão - por si mesmo, segundo a primeira versão bíblica - confirmou a validade do processo e os animou a prosseguir. Então foi preparado "barro misturado" suficiente para iniciar a gravidez em catorze Deusas do Nascimento ao mesmo tempo: Ninti separou catorze porções de barro, Sete ela depositou à direita, Sete ela depositou à esquerda; Entre elas ela colocou o molde. Os processos já atingiam uma técnica genética capaz de criar sete machos e sete fêmeas ao mesmo tempo. Em outra tábula lemos que Enki e Ninti: Os sábios e eruditos, Duplas de sete Deusas do Nascimento tinham reunido. Sete deram à luz machos. Sete deram à luz fêmeas; As Deusas do Nascimento criaram o Vento do Hálito da Vida. Portanto, não existe nenhum conflito entre as várias versões bíblicas da criação do Homem. Primeiro o Adão criou-se por si mesmo, mas na fase seguinte o Elohim realmente criou os primeiros seres humanos, "macho e fêmea". Os textos da Criação não declaram quantas vezes foi repetida a "produção em massa" de Trabalhadores Primitivos. Em outro lugar, lemos que os Anunnaki continuaram clamando por mais deles e que, finalmente, os que eram de Edin Mesopotâmia - foram a Abzu, na África, e capturaram à força muitos Trabalhadores Primitivos para servi-los em sua terra.

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Também ficamos sabendo que nessa época, cansados da necessidade constante de Deusas do Nascimento, Enki iniciou uma segunda manipulação genética para dar ao povo híbrido a capacidade de procriação, mas a história desse avanço científico pertence ao próximo capítulo. Tendo em mente que esses antigos textos nos chegam atravessando uma ponte histórica que se estende por milênios, deve-se admirar os escribas que registraram, copiaram e traduziram os textos mais remotos, provavelmente sem conhecerem com certeza o que esta ou aquela expressão ou termo técnico significavam originalmente, mas aderindo tenazmente às tradições que exigiam uma versão extremamente meticulosa e precisa dos textos copiados. Por sorte, à medida que entramos na última década do século 20 da Era Comum, contamos cada vez mais com o auxílio da ciência moderna. A "mecânica" da replicação celular e da reprodução humana, a função e código dos genes, a causa de muitos defeitos e doenças hereditárias - processos biológicos como esses e muitos mais, agora são compreendidos. Talvez essa compreensão ainda não seja completa, mas já é suficiente para nos permitir avaliar os contos antigos e seus dados. Com todo esse conhecimento moderno a nossa disposição, qual é o veredicto sobre as informações da Antiguidade? Trata-se de uma fantasia impossível ou os procedimentos e processos, descritos com grande atenção à terminologia, são corroborados pela ciência da atualidade? A resposta é sim, é tudo como faríamos hoje - são os mesmos procedimentos que temos seguido nos últimos anos. Extraído do Livro: Genesis revisitado de Zecharia Sitchin Fonte: Imagick "Não basta fazer coisas boas - é preciso fazê-las bem." (Santo Agostinho)

Pelo M.·. I.·. Aquilino R. Leal, Fundador Honorário da Aug.·. e Resp.·. Loj.·. Maç.·. Stanislas de Guaita 165

MEDITE Quinhentas edições A nossa Folha Maçônica atinge, com este número, a expressiva marca de quinhentas edições. São quinhentas semanas, consecutivas, ininterruptas em que a competência, capacidade, dedicação e sobretudo espírito maçônico dos Irmãos Robson de Barros Granado e Aquilino Rodriguez Leal, brindaram ao mundo maçônico esta primorosa obra dedicada à divulgação da Arte Real. É uma conquista que deve ser devidamente exaltada porque representa uma contribuição efetiva e cujo conteúdo tem merecido o respeito de todos os seus leitores, cujo número só vem aumentando cada vez mais, atestando assim, a eficácia e a competência do seu trabalho. Inicialmente, divulgava as atividades mas aos poucos houve a necessidade de ampliar seus objetivos, para acolher merecidas colaborações. Quinhentas edições são um número apreciável de publicações e seus organizadores têm procurado sempre ter como meta contribuir com o que de melhor possa valorizar as atividades oferecendo espaço a todos que se enveredam pela arte de escrever. As críticas são bem vindas. Se contrárias ao que é feito servem como observações à melhoria de conteúdo. Se favoráveis são incentivos ao prosseguimento de uma tarefa baseada nas boas intenções. O objetivo é sempre o enriquecimento espiritual dos leitores. Vida longa à nossa Folha Maçônica, são meus votos. Ir.´. Heitor Freire, M.´. M.´.

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Conselhos de Gurdjieff à sua filha George Ivanovich Gurdjieff foi um místico e mestre espiritual armênio. Ensinou a filosofia do autoconhecimento profundo, através da lembrança de si, transmitindo a seus alunos, primeiro em São Petersburgo, depois em Paris, o que aprendera em suas viagens pela Rússia, Afeganistão e outros países. 1. Fixa tua atenção em ti mesma, sê consciente em cada instante do que pensas, sentes, desejas e fazes. 2. Termina sempre o que começaste. 3. Faz o que estiveres fazendo o melhor possível. 4. Não te prendas a nada que com o tempo venha a te destruir. 5. Desenvolve tua generosidade sem testemunhas. 6. Trata cada pessoa como um parente próximo. 7. Arruma o que desarrumaste. 8. Aprende a receber, agradece cada dom. 9. Para de te autodefinir. 10. Não mintas, nem roubes, pois estarás mentindo e roubando a ti mesmo. 11. Ajuda teu próximo sem torná-lo dependente. 12. Não desejes que te imitem. 13. Faz planos de trabalho e cumpre-os. 14. Não ocupes demasiado espaço. 15. Não faças ruídos nem gestos desnecessários. 16. Se não tens fé, finge tê-la. 17. Não te deixes impressionar por personalidades fortes. 18. Não te apropries de nada nem de ninguém. 19. Reparte equitativamente. 20. Não seduzas. 21. Come e dorme o estritamente necessário. 22. Não fales de teus problemas pessoais. 23. Não emitas juízos nem críticas quando desconheceres a maior parte dos fatos. Continua na próxima semana. Ir.´. Heitor Freire, M.´. M.´.

CONVERSA AO PÉ DO OLVIDO Gurus, escritores e outros quinhentos “Como prefácio a esta Noite de Conversa com Von Humboldt Fleisher (porque foi um tipo de recital), gostaria de oferecer uma sucinta declaração histórica: houve uma época (começo da Era Moderna) em que, aparentemente, a vida perdeu a habilidade de se compor. Tinha de ser trabalhada. Os intelectuais fizeram disso seu objetivo. Digamos que, do tempo de Maquiavel ao nosso, esse trabalho tem sido um projeto desastroso e mal orientado. Um homem como Humboldt, inspirado, astuto, louco, estava exultante com a descoberta de que a atividade humana, imensa e infinitamente variada, tinha de ser dirigida por pessoas excepcionais. Ele era uma pessoa excepcional, e, logo, um candidato elegível ao poder”. Estas são palavras de Charlie Citrine, o narrador do romance

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Humboldt’s Gift (O legado de Humboldt - Círculo do Livro/Nova Fronteira, 1981, tradução de Fernando Py; a editora Companhia das Letras lançou uma outra tradução em 2013, feita por Rubens Figueiredo). O autor é Saul Bellow (1915-2005) e o romance foi publicado em 1976, o mesmo ano em que o escritor recebeu o Prêmio Pulitzer e o Prêmio Nobel de Literatura. Entre as “pessoas excepcionais” que “trabalharam a vida” como a conhecemos (ou desconhecemos) estão Charles Darwin e, por exemplo, Madame Blavatsky. Em O Babuíno de Madame Blavatsky: místicos, médiuns e a invenção do guru ocidental (Rio de Janeiro: Record, 1993), Peter Washington afirma que A Doutrina Secreta, a obra principal da fundadora da Teosofia, era uma sátira à Origem das Espécies, com espíritos interplanetários ocupando o lugar dos macacos. Segundo os teósofos, a espécie humana e os animais teriam duas linhas de evolução distintas: não seríamos primatas evoluídos, mas descendentes de seres iluminados, angelicais, invisíveis, e tudo o que deveríamos fazer era resgatar nossas origens, combater as Forças das Trevas ao lado da Grande Irmandade Branca de Mestres. Assim, a Teosofia utilizou uma mensagem espiritual para detonar o materialismo darwinista; o Oriente sagrado catequizaria o Ocidente profano. E o Ocidente reagiu através do austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), filósofo, educador, artista e esoterista, dissidente da Teosofia, fundador da Antroposofia, da Pedagogia Waldorf, da agricultura biodinâmica, da medicina antroposófica e da Euritmia. Ele seria o perfeito guru ocidental. Segundo Peter Washington, Steiner batizou os principais inimigos da humanidade como Lúcifer e Ahriman, personificações do espírito do orgulho e do espírito do materialismo. “Ahriman tenta os seres humanos a rejeitar o espiritual, induzindo-os a confiar somente no reino da mente e dos sentidos, envolvendo-os assim em sua própria contradição de espírito-que-nega-o-espírito. Ele é a divindade que preside a moderna ciência e tecnologia, e de todos aqueles que descrevem o homem como nada mais nada menos do que um animal.” “Lúcifer, o portador da luz, seduz mais sutilmente os homens a superestimar seus poderes espirituais, convencendoos de que podem transcender as limitações humanas por seus próprios esforços. Ele domina a moderna literatura, filosofia e arte”. O grande mestre de Steiner foi Goethe (1749-1832), ao qual se dedicou a partir de 1883, editando suas obras científicas, escrevendo inúmeros textos sobre o pensamento do autor do Fausto. Washington: “Seguindo Goethe, que extrai de noções cabalísticas a ideia da criação como inalação e exalação de Deus, Steiner vê a terra como um organismo que aspira e expira com as estações. No verão, a terra exala, no inverno, inala. A vida humana é incorporada neste processo de respiração, desenvolvendo-se de acordo com ciclos que são sazonais, históricos, globais, cósmicos. O Homem muda psíquica e espiritualmente nos equinócios. A humanidade é, portanto, parte de um organismo macrocósmico físico/espiritual em evolução que ela resume microcosmicamente.” Mais: “A história espiritual do gênero humano faz parte desse processo. Steiner acreditava que na era moderna a humanidade tinha perdido a unidade espiritual, estética e cognitiva pela qual agora ansiava. Em sua opinião, todos os artefatos – de colheres a edificações – deviam contribuir para a restauração dessa unidade por todos os meios disponíveis”. Coerente com isso, Steiner construiu o Goethanum, em Dornach, na Suíça, “para expressar o envolvimento orgânico do Homem na natureza e o papel da edificação como um foco de energia espiritual”. Steiner é usado (ou abusado) na trama de Humboldt’s Gift como num passeio guiado por um Goetheanum romanesco e incendiado. A saber: o narrador Citrine/Bellow é um “cavalo” (médium) de Von Humboldt Fleisher, personagem inspirado no poeta alcoólatra Delmore Schwartz, real amigo de Bellow, e o orixá do narrador é ninguém menos que Rudolf Steiner. A saber: “O livro de balada [Baladas de Arlequim] publicado por Von Humboldt Fleisher nos anos 30 fez sucesso imediato.

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Humboldt era exatamente o que todos esperavam. De mim, posso dizer que lá no interior onde vivia eu o aguardava com ansiedade. Escritor de vanguarda – precursor de uma nova geração -, era bonito, louro, grandão, sério, espirituoso, além de culto. O sujeito estava com tudo. (...) Tendo escrito a Humboldt uma longa carta de fã, fui convidado a ir ao Greenwich Village para discutirmos ideias e literatura. (...) O sucesso de Humboldt durou cerca de dez anos. Pelos fins da década de 40, ele começou a afundar. No início da década de 50, tornei-me famoso. Fiz mesmo um montão de dinheiro. Ah, dinheiro, o dinheiro! Humboldt transformou o dinheiro em evidência contra mim. (...) Sempre que sua mente se encontrava suficientemente clara, ele utilizava seus talentos para me arrasar. E com que sucesso! (...) Na verdade, ser esculhambado por Humboldt equivalia a um certo privilégio. Era como se tornar objeto de um retrato com dois narizes de Picasso...” Ainda Citrine/Bellow: “Eu pensava em Humboldt com mais seriedade e tristeza do que possa parecer neste relato. Eu não amava muita gente. Não podia perder ninguém”. E: “Um sinal infalível de meu amor era a frequência com que eu sonhava com Humboldt. Sempre que o via, comovia-me imensamente, e chorava dormindo. (...) Acordado, meu caráter está longe de ser equilibrado. Nunca ganharei medalhas de caráter. Essas coisas devem ser muito claras para os mortos. Deixaram, finalmente, o confuso e problemático ambiente terrestre e humano. Desconfio que em vida olhamos do ego – nosso centro – para fora. Na morte, encontramo-nos na periferia, olhando para dentro”. Citrine/Bellow paira entre a vida e a morte, o sono e a realidade, e apela para “o famoso, mas incompreendido Dr. Rudolf Steiner: “os livros de Steiner, que eu começara a ler deitado, me fizeram querer ficar de pé. Argumentava ele que, entre a concepção de um ato e sua realização pela vontade, caía-se num lapso de sono. Podia ser breve mas era profundo. Porque uma das camadas da alma humana compunha-se de energia adormecida. Nisso os seres humanos se assemelhavam às plantas, cuja existência é marcada pelo sono. Isso me causou uma impressão profunda. A verdade acerca do sono podia ser vista somente segundo a perspectiva de um espírito imortal. Nunca duvidei de que fosse portador de tal espírito”. Um espírito que Citrine/Bellow esconde dos amigos mais próximos e do qual zomba com frases tipo: “O dinheiro é necessário para a proteção de quem dorme. Gastar causa insônia. À medida que se remove a película mais interna do olho e se sobe a uma consciência mais aguda, menos dinheiro deveria ser necessário”. A vida acordada de Citrine/Bellow está cheia de “circunstâncias” (instâncias de circo?): Renata (a amante do momento), Denise (a ex-mulher com seus advogados e tribunais doidos para “castrar” o narrador), crianças (as duas filhas com Denise), a marginalidade (na forma turbulenta do falso mafioso Rinaldo Cantabile), e Humboldt, “um amigo precioso, oculto na noite interminável da morte, companheiro de uma (quase) antiga existência, bem-amado, porém morto”, imaginado “numa vida por vir, junto com minha mãe e meu pai”, e também Demmie, a amada perdida num desastre de avião, “um dos mortos mais importantes, recordada todos os dias”. Enfim, ele é uma ilha, como todos nós, cercada de mortos e vivos por todos os lados. Um dos seus principais interlocutores é o Dr. Scheldt com quem conversa sobre Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Principados, Arcanos, Anjos e Espíritos. “Dera-me, para ler, livros sobre corpo astral e o corpo etéreo, o Espírito Intelectual e a Consciência da Alma, e os Seres Invisíveis, cujo fogo, sabedoria e amor criaram e guiavam este universo.” E Citrine/Bellow ferve e borbulha para cima do Dr. Scheldt: “A verdade é algo que nós todos compartilhamos. Dois mais dois para mim são dois mais dois para todos os outros e não tem nada a ver com meu ego. Isso eu entendo. E também a resposta ao argumento de Spinoza de que, se a pedra arremessada tivesse consciência, poderia pensar ‘estou voando pelo ar’, como se o estivesse fazendo livremente. Mas se ela fosse consciente não seria uma simples pedra. Poderia também originar movimento. O ato de pensar, o poder de pensar e de saber, é uma fonte de liberdade. O ato de pensar lhe deixará claro que o espírito existe. O corpo físico é um agente do espírito e seu espelho. É um instrumento e um reflexo do espírito. É o hábil memorando do espírito a si mesmo, e o espírito se vê no meu corpo, exatamente como vejo meu próprio rosto num espelho. Meus nervos refletem isso. A terra é literalmente um espelho de pensamentos. Os próprios objetos são pensamentos corporificados. A morte é o

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fundo escuro de que um espelho necessita para podermos ver qualquer coisa. Toda percepção causa um certo acréscimo de morte em nós, e esse escurecimento é uma necessidade. O clarividente pode, de fato, ver isso quando aprende a obter a visão para o interior. Para fazer isso, deve sair fora de si e manter-se longe”. Ao que o Dr. Scheldt responde: “Tudo isso está nos textos. Não estou certo de que você tenha apreendido tudo, mas está razoavelmente preciso”. Citrine/Bellow: “Bem, compreendo em parte, acho. Quando nosso entendimento o deseja, a sabedoria divina flui em nossa direção”. Doris, a filha do Dr. Scheldt, não acredita nisso, enquanto prepara “pratos requintados como o bife Wellington”, tentando pegar Citrine/Bellow pela barriga, mas “a massa ficava sempre mal cozida, bem como a carne”. O Dr. Scheldt, “físico no Instituto Armour, executivo da IBM, um consultor da NASA que aperfeiçoara o metal utilizado nas naves especiais”, insistia que Steiner tinha sido um Cientista do Invisível, “porém Doris, com relutância, falava de seu pai como um maníaco. Contara-me diversos episódios relacionados a ele. Era um rosa-cruz e um gnóstico, lia em voz alta para os mortos”. Renata, a namorada, abandona Citrine/Bellow em Madri, para se casar com Fronzaley, um milionário agente funerário. Citrine/Bellow, tomando conta do filho da ex-namorada, acoitado numa pensão barata, ferido, chifrado, tenta se comunicar com os mortos, meditando Steiner: “Às vezes pensava: oh, aquela idiota da Renata, será que não conhece a diferença entre um sujeito que lida com cadáveres e um futuro vidente?” E ouvindo Humboldt (ou Goethe?) dizer no seu ouvido: “Não se deixe arrebatar pelo dinheiro. Domine sua ganância. Tenha melhor sorte com as mulheres. Por último, lembre-se: não somos seres naturais, e sim sobrenaturais.” O irmão, Julius Citrine, é total pé no chão: “Sabe o que encontrei outro dia? A escritura dos jazigos da família. Há dois túmulos vazios. Você não vai querer comprar o meu, não é? Não pretendo jazer aqui ou ali. Tenciono cremarme. Preciso de movimento. Prefiro penetrar na atmosfera. Procure por mim nos boletins do tempo”. Isso na véspera de uma operação de coração aberto, ou pouco depois dela. Traído e contraído, deprimido, Citrine/Bellow recebe, com a ajuda aberrante do mafioso Cantabile, o legado de Humboldt. Sai da pindaíba e aparentemente deixa de falar com os mortos. Enterra Humboldt, a mãe de Humboldt, suas memórias de Humboldt, mais o Bem e o Belo, o Sucesso e o Fracasso, a Necessidade, talvez a Literatura: “Era peso demais, oh, demais para suportar. Observei, contudo [mesmo que “os ossos fossem “a assinatura de poderes espirituais, a projeção do cosmos em certas formações cálcicas”], outra inovação nos funerais. Dentro do túmulo jazia uma caixa aberta de concreto. Os ataúdes desciam e então a máquina amarela movia-se para diante e o pequeno guindaste, com um zumbido rouco, agarrava uma lousa de concreto e a depositava em cima da caixa. Desse modo o caixão ficava murado e a terra não caía diretamente sobre ele. Mas, depois, como poderia alguém sair? Não, não, não poderia! Teria de ficar, ficar!” Ficar eternamente separado um do outro: o mundo dos vivos do mundo dos mortos. Cada um na sua: tipo assim Estados Unidos e Rússia ou China, Brasil e Venezuela ou Argentina... Um detalhe citado por Citrine/Bellow: Rudolf Steiner estava fazendo conferências em Praga em março de 1911 e encontrou Franz Kafka no salão de uma certa Senhora Berta Fanta, onde também um certo Albert Einstein ficou impressionado pelos saques de Steiner sobre a geometria não-euclidiana. (Nada disso está no romance.) Kafka descreveu o encontro em seu diário: “Ele me ouviu com toda atenção, sem me olhar, só me escutando, balançando a cabeça de vez em quando. Ele estava com um tremendo resfriado, o nariz escorrendo, trabalhando profundamente o nariz com um lenço, enfiando um dedo em cada narina”. Um encontro altamente deselegante e anticlimático entre dois grandes “metamorfosistas”. Mas o que esperar de um encontrão tão antípoda quanto o de um vegetariano com um canibal? O nosso Machado de Assis conta que escreveu o seu Memórias Póstumas de Brás Cubas “com a pena da galhofa e a tinta da melancolia”. Citrine/Bellow e Kafka seguiram o mesmo caminho, adotaram o mesmo método. Gurus e escritores estão sempre prontos para transformar vivos e mortos em viventes e superviventes, a fazer uma ponte entre o visível e o invisível, o espírito e a matéria, a fé e o inefável, a memória e o esquecimento, a vida de aquém e a vida de além. Disputam o mesmo espaço-tempo nas mentes humanas, cada um vendendo seu peixe. Ou seus signos e seus peixes. Gurus têm seguidores; escritores precisam de leitores. Citrine/Bellow mostra filma ilumina revela os dois campos de força, e fazer isso com tanta arte é que são outros quinhentos. Barbara Heliodora: Homens sem amo: https://www.youtube.com/watch?v=Dpm8HPLmVKU Eu sou Mefistófeles: https://www.youtube.com/watch?v=AanR16eeUuA Caetano Veloso: Luz do sol:

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http://www.vagalume.com.br/caetano-veloso/luz-do-sol.html Metamorfose borboleta: https://www.youtube.com/watch?v=Zv3nhN4qEyg Madame Butterfly: https://www.youtube.com/watch?v=sLcbfF9ypmM Bridge over troubled water: https://www.youtube.com/watch?v=jjNgn4r6SOA Coluna assinada pelo Ir.·. Francisco Maciel, membro da Aug.·. e Resp.·. Loj.·. Maç.·. D’Artagnan Dias Filho 148 – GLMERJ

COLUNA DO DIREITO Registro da obra O registro é altamente recomendável, porque, de imediato, há uma presunção que a pessoa que registra é a dona. Por outro lado, o registro facilita o exercício dos direitos do autor. O registro da obra deve ser feito de acordo com a sua natureza. Quando a obra for literária (livro, folheto, carta, ilustração, peça de teatro, etc.), o registro deverá ser feito na Biblioteca Nacional. A Escola Nacional de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro é responsável pelo registro de obras musicais (por exemplo, arranjo e composição). A Escola de Belas-Artes da Universidade do Rio de Janeiro é responsável pelo registro de obras artísticas (pintura, escultura, gravura, fotografia, desenho, etc.). No Instituto Nacional do Cinema devem ser registradas as obras cinematográficas (filme, vídeo, etc.). Por fim, existe o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia que é responsável pelo registro de esboços e maquetes de cenografia, arquitetura ou engenharia. Quando uma pessoa tiver dúvida em relação ao órgão em que deve ser registrada a sua obra, pode fazer uma consulta à Coordenação de Direito Autoral – CDA, órgão do Ministério da Cultura, responsável pela orientação e assistência nos casos relacionados com os direitos autorais. Coluna assinada pelo Ir.·. Gilberto F. Pereira, Fundador da Aug.·. e Resp.·. Loj.·. Maç.·. Stanislas de Guaita 165

DICA O Êxodo Motejado (I) Apresentação - Escravidão dos hebreus no egito - O nascimento de Moisés A cargo de Aquilino R. Leal APRESENTAÇÃO Esta série de vinte e duas publicações que está iniciando nesta edição do FOLHA MAÇÔNICA foi motivada pelo sucesso da série sobre o pensar de Bertrand Russel, ocorrida em quatorze semanas ininterruptas na seção DICA do FOLHA MAÇÔNICA, iniciando ela na edição de número 450, 26/04/2014, e encerrando-se na edição 463, 2 26/07/2014 . A quantidade de 22 publicações – dois dois - é uma justa homenagem ao número dois o qual defendo desde a minha Iniciação; 22 também são as letras do alfabeto hebraico, ainda uma homenagem ao povo eleito. Como na primeira série, o material não é de minha autoria ainda que, eventualmente, tenha feito algumas inserções sob a forma de notas de rodapé ou em cor azul, no próprio texto, para caracterizar a minha intervenção no escrito o qual está assinado por Marco Aurélio Gois dos Santos - na última publicação da série citarei a fonte, o link - não o está sendo feito para manter acessa a expectativa do que virá nas edições futuras. Outras intervenções minhas podem ser sentidas ao camuflar algumas palavras utilizadas pelo Autor as quais não coadunam com o perfil redacional do FOLHA MAÇÔNICA como periódico. Além disso também coube-me a exaustiva tarefa da extração do texto, originalmente em arquivo pdf, para um formato editável, além da inclusão das imagens tornando a leitura ainda mais agradável e facilitando a diagramação do semanário por parte do editor, ‘bro’ Robson Granado. Ainda que fundamentado em fatos reais, sob a ótica bíblica, considero o estilo de escrever do Autor como ‘travesso’. Cada passagem bíblica do Êxodo, o segundo livro de Moisés, é aqui apresentada na forma de uma pequena e sarcástica história em tom maroto, em um estilo inconfundível e original, sem qualquer aspereza, levando o leitor a não interromper a leitura e ansiosamente aguardar a próxima edição. Mesmo assim convém um pequeno esclarecimento e um alerta, antes de você passar à leitura desta série de publicações. 2

Disponíveis para ler/baixar do PONTO CULTURAL DO FOLHA MAÇÔNICA (links: http://sdrv.ms/QobWqH e também https://www.mediafire.com/folder/86pwjgqt45210//FOLHAMACONICA-AQUILINO)

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Àqueles que acompanham meus textos, em particular na coluna A POLÊMICA NA FOLHA, há tempo perceberam o quão afastado procuro manter-me dos templos religiosos mas não tão longe do livro sagrado das três maiores religiões monoteístas, livro que considero um apanhado de lendas primitivas, nada mais do que o produto da fraqueza humana. Faço minhas as palavras de Steve Allen: A Bíblia foi interpretada para justificar práticas más tal como, por exemplo, a escravidão, a carnificina de prisioneiros de guerra, os sádicos assassinos de mulheres acusadas de serem bruxas, punição capital por centenas de ofensas, poligamia e crueldade com animais. Foi usada para encorajar a crença na mais grosseira superstição e para desencorajar o livre ensino de verdades científicas. Nós não devemos nunca esquecer que, bem e mal, fluem da bíblia. Ela, portanto, não está acima da crítica - claro que não me preocupo em ir para o inferno! Ficarei rodeado por muita gente com a Bíblia na mão! Ainda que seja um ferrenho crítico da Bíblia me permito imputar a prerrogativa de ser um forte divulgador de seu conteúdo, levando-o, nu e cru, a muitos, sem mistérios sem falsas roupagens, desafiando os crentes lerem as Escrituras - são crentes mas não leem! Apenas ouvem o que lhes é passado sem a preocupação de ir mais fundo. Agora o alerta. Se você é do tipo que acredita em tudo que lê sem a preocupação de averiguar, ainda que superficialmente, o que foi escrito ou é dito; se você é do tipo que deixa de lado a lógica em suas análises; se você é do tipo que vive das ilusões religiosas, comumente designadas por fé; se você espera a vinda do messias; se você é do tipo que acredita, entre outros, na existência mitos tais como Sherlock Holmes apenas por ter lido os escritos de Arthur Conan Doyle, 3 4 ou mesmo de Jesus Cristo por ter lido a Bíblia; se você está às voltas com a apofenia /pareidolia ; se você se agarra desesperadoramente às religiões, em particular a cristã, como elemento de fuga; se você doentiamente acredita em Papai Noel, gnomos, duendes, bruxas, silvos, musas, cartomantes, fadas, horóscopos, sobrenatural, salamandras, ‘mães dináhs’, e outras ‘figurinhas’ similares; se você se indigna quando contrariam tua religião; se você é do tipo que se ajoelha para um pedaço de barro ou gesso; se você acredita cegamente em milagres e reencarnação; se você tem dificuldade de descartar velhos ensinamentos; se você não ousa pensar por si próprio, limitando-se a aceitar as versões que te são transmitidas; se você não pretende libertar-se dos grilhões da ignorância; se você dá mais valor ao sentimental do que ao racional; se você ainda crê na veracidade das lendas dos três ‘jotas’, ‘hirans’ ou mesmo que o dois é um número nefasto; se você considera a Bíblia, Corão, Guru Granth Sahib, Bhagavad Gita, Tripitaka, Vedas, Torá, Zend Avesta, entre outros tantos, como livros de ensinamentos sagrados e/ou da revelação divina tendo receio em questioná-los; se você é apegado a crenças e, finalmente, se você se encaixa em alguma das situações expostas, a minha advertência: RETIRA-TE! NÃO LEIAS O TEXTO A SEGUIR E OS QUE ESTÃO POR VIR! Continua no limbo - ou mesmo imerso - da realidade virtual já que a real não estás preparado para tolerar. Parafraseando Ezio Flavio Bazzo: “Não tenho a mínima intenção de alterar uma vírgula nos tratados de tua fé nem nos abismos de tua ignorância, apenas pretendo transmitir estas notícias aos poucos estudiosos e pesquisadores que têm soberania de pensamento e que, desde o alto de suas inquietudes, saberão ler-me sem pestanejar, sem surtos histéricos e sem grandes escândalos.”

A ESCRAVIDÃO DOS HEBREUS NO EGITO E vamos ao Êxodo, meu povo. A palavra êxodo vem do grego e significa saída (agora que pensei nisso, o inglês exit deve ter a mesma origem), porque conta como os israelitas (ou hebreus, tanto faz) saíram do Egito, escapando assim da escravidão a que tinham sido submetidos. Ué, escravidão? Mas o Faraó não era amigo de José e de toda sua parentada? Pois é, mas as coisas mudam com o tempo... 5

Já contei sobre a morte de José, que fecha o Gênesis. Todos os irmãos de José morreram também. Claro que 6 7 morreram, só me faltava essa, esbarrar com o Zebulom na Barão de Itapetininga , trabalhando como homemsanduíche e assoviando pras moças que passam. As gerações foram se sucedendo, os israelitas se tornaram uma parcela significativa da população do Egito, espalhando-se por todo o país. 8

Tudo correu relativamente bem, até que subiu ao poder um faraó- provavelmente Ramsés II - que nunca tinha ouvido

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Apofenia é um termo proposto em 1959 por Klaus Conrad para o fenômeno cognitivo de percepção de padrões ou conexões em dados aleatórios. É um importante fator na criação de crenças supersticiosas, da crença no paranormal e em ilusão de ótica. (Fonte: Wikipedia) [Nota: Aquilino R. Leal] 4 A pareidolia é um fenômeno psicológico que envolve um estímulo vago e aleatório, geralmente uma imagem ou som, sendo percebido como algo distinto e com significado. É comum ver imagens que parecem ter significado em nuvens, montanhas, solos rochosos, florestas, líquidos, janelas embaçadas e outros tantos objetos e lugares. Ela também acontece com sons, sendo comum em músicas tocadas ao contrário, como se dissessem algo. A palavra pareidolia vem do grego para, que é junto de ou ao lado de, e eidolon, imagem, figura ou forma. Pareidolia é um tipo de apofenia. (Fonte: Wikipédia) [Nota: Aquilino R. Leal] 5 Alusão a outros escritos do Autor no mesmo estilo deste. [Nota: Aquilino R. Leal] 6 Zebulom foi filho de Jacó que gerou doze filhos, na ordem: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Dã, Naftali, Gade, Aser, Issacar, Zebulom, José e Benjamim. São eles, em essência, os pais das doze tribos de Israel. [Nota: Aquilino R. Leal] 7 Rua de São Paulo. [Nota: Aquilino R. Leal] 8 Ainda que se pense ser Ramsés II (versão de Hollywood embasada na edificação das cidades Pitom e Ramessés), não há fundamentos históricos para afirmar que foi este ou aquele Faraó poia há duas datas propostas para o Êxodo: uma por volta de 1290 a.C. e outra posterior por volta de 1445; por essa razão apenas se cita Faraó, que ficou conhecido por Faraó do Egito, enquanto isso aguardo por uma conclusão arqueológica... [Nota: Aquilino R. Leal]

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falar de José e nem lia o Jesus, me chicoteia! para saber de toda a história da bichinha governadora que salvara o Egito da fome. Para ele o povo de Israel era uma ameaça à estabilidade do reino. - Hebreus, hebreus, malditos hebreus! Não param de ter filhos, esses desgraçados. Daqui a pouco vai ter mais hebreu do que egípcio no Egito, e aí? E se eles resolverem entrar em guerra contra nós e tomar nossas terras? Hein? Hein? Sei não, esse faraó aí devia ser uma encarnação anterior de Adolf Hitler. Começou com essa propaganda antiisraelita, e daí para tomar atitudes práticas foi um pulo: decretou que os hebreus seriam escravos. Assim, sem mais nem menos. O cara tava lá trabalhando na boa e de repente vinha um soldado: - Larga tudo aí, meu. Agora você é escravo. - Escrrava??? Que histórria essa? - É, escravo, mano. Mão na cabeça, malandro, se não quiser levar chumbo quente nos cornos! - Ô, essa non é Raul Seixas?

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- Num interessa, agora cê é escravo e não tem nada que perguntar as coisas. - Mas quem vai cuidarr do lodjinha? - ANDA! Assim os hebreus foram escravizados e, entre outras coisas, construíram as cidades de Pitom e Ramessés [Êx 1:11 - veja o mapa adiante], perto da terra de Gósen. Apesar dos trabalhos forçados, porém, o crescimento de sua população continuava incontrolável. Então o faraó sangue ruim bolou outro plano, que envolveria Sifrá e Puá (que nomes! [Êx 1:15]), as parteiras que atendiam os hebreus: - Parteiras, prestem bem atenção no que eu vou dizer: Quando vocês forem ajudar uma mulher hebreia a parir, se for uma menina, deixem viver. Mas se for um menino, não tenham dó, matem o guri. Muita crueldade, não? Sifrá e Puá também acharam, e não cumpriram a ordem. O faraó ficou muito put* ao saber disso, e chamou as duas novamente. - Que p*rr@ vocês estão fazendo, hein? Tão querendo morrer? Eu dei uma ordem clara para vocês, porque não me obedecem? - Nós obedecemos, Faraó. Mas as mulheres hebreias são mais fortes que as egípcias, e dão à luz sozinhas, antes da chegada da parteira. Aí não tem como a gente chegar lá e dizer, "Com licença, eu sou a parteira, eu sei que a senhora já p@riu e tudo mais, mas vim só ver se é menino pra eu poder matar, tudo bem?" - Hum. Que merda isso. Bah, bosta de plano esse meu também, contar com duas parteiras pra controlar o crescimento dos hebreus. Para isso eu vou precisar do meu exército [Vemos certa ‘inocência’ no relato bíblico: apenas duas parteiras para ‘controlar’, segundo a própria Bíblia, 600.000 famílias?] Então o faraó ordenou a seus soldados que jogassem no Nilo todos os meninos hebreus que nascessem. O herói do Êxodo, Moisés, nasceu nessa época. Como ele escapou de virar comida de crocodilo? Daqui a pouco eu conto. O NASCIMENTO DE MOISÉS Pois bem, como foi que Moisés se livrou de ser comida de hipopótamo? - Hipopótamo?? - É.- ar superior - Existiam hipopótamos no Nilo naquele tempo. - Hipopótamos são herbívoros, seu herege ignorante! Hum. Então... Um homem chamado Anrão, descendente de Levi (filho de Jacó, não se esqueçam), casou com uma mulher chamada Joquebede, também levita. Não, a mulher não levitava! Prestem atenção: Levita é como se chama o descendente de Levi, ok? Beleza. Joquebede deu à luz um menino. Como já foi dito, a ordem do Faraó era para matar todos os meninos que nascessem entre os escravos hebreus. Mas Joquebede, que não era besta nem nada, não ia sair à rua com o 9

Menção ao blog (http://www.jesusmechicoteia.com.br/). [Nota: Aquilino R. Leal] Alusão à música METRÔ LINHA 743 de Raul Seixas. “... Três outros chegaram com pistolas na mão, Um gritou: Mão na cabeça malandro, se não quiser levar chumbo quente nos cornos. Eu disse: Claro, pois não, mas o que é que eu fiz?...” [Nota: Aquilino R. Leal] 10

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moleque no colo: "Olha, pari um menino, cês vão querer jogar no Nilo ou faço isso eu mesma?". Então escondeu a criança por três meses. Uma criança recém-nascida é barulhenta, mas até dá para esconder. Agora um moleque de três meses, bem alimentado, sem chance: Era capaz de o próprio Faraó ouvir os berros do garoto lá do palácio. Não podendo esconder seu filho por mais tempo, Joquebede pegou um cesto de juncos, revestiu com piche e betume, botou o moleque dentro e o largou entre os juncos da margem do rio [Já li algo parecido... Ah! Foi com os irmãos Rômulo e Remo! O primeiro, fundador de Roma e o primeiro rei.]. Vejam só que engenhosa essa mulher: Fazendo isso, ela cumpria à risca a ordem do Faraó, pois estava de fato jogando o menino no Nilo, mas por outro lado dava uma chance de sobrevivência ao filho, chance que não teria se fosse encontrado pelos soldados. Eita mulher danada! Tendo depositado seu filho nas águas do rio, Joquebede voltou para casa, e imagino com que peso no coração. Mas Miriam, sua filha, ficou por ali vigiando para ver o que acontecia ao cesto que continha seu irmãozinho. E aconteceu a coisa mais inusitada: A filha do Faraó veio tomar banho no rio, junto com sua comitiva. Viu de longe o cesto no meio dos juncos e mandou uma criada para ver do que se tratava. - Eita, patroa! A senhora não vai acreditar... - O que é? Puxa! É um garotinho hebreu. Tadinho, largado assim, chorando, no meio do rio. - Como a senhora sabe que é hebreu, patroa? - Olha o pinto dele, a pele cortada. - E só por isso é hebreu? - Ai, Osíris... Odeio falar com links, mas vou ser obrigada, a história é comprida. Você quer mesmo saber? [Então consulte o Babalorixá Google!] -Ah... Miriam não acreditava na cena que estava vendo. A princesa do Egito dava toda pinta de que tinha intenção de pegar seu irmão para criar. Então tomou coragem e foi falar com a filha do Faraó. - Alteza! A senhora quer que eu vá procurar uma babá hebreia para o menino? Assim a senhora não vai ter aquela trabalheira toda. - Hum. Boa ideia. Vai lá. Miriam sai correndo para chamar sua mãe. Não, caro leitor. Não a sua mãe. A mãe dela. - Mãe, a filha do Faraó vai criar nosso moleque, e a senhora vai ser babá e ama-de-leite dele. - O QUÊ??? Cê tá doida, menina? - Corre, mãe, que a princesa tá te esperando! Joquebede correu para o palácio, e foi contratada para cuidar de seu próprio filho. Na boa, quantas mães não gostariam de ganhar uma grana para cuidar dos filhos? Ah, e o moleque foi chamado Moisés, que significa tirado, por ter sido tirado das águas. E Moisés, hein? Criado na corte egípcia, provavelmente lado a lado com o herdeiro do trono, na maior mordomia. Vidão! Hum... Não exatamente. Quando já estava grande, aconteceu um negócio que obrigou Moisés a fugir do Egito, deixando para trás toda a pompa palaciana. Mas vou falar disso depois.

DOCUMENTOS E FOTOS ANTIGAS

Apresentação da Folha Maçônica em sua primeira edição em 11 de setembro de 2005

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EUREKA (TUREKA E NÓSREKA) Contestações, lances, bobagens, respostas, estudos, crendices, fatos, curiosidades, sofismas, perguntas, humor, nostalgia, outros e... nós!

variados,

‘nóstícias’

Lembras deles? Se tens mais de 50 primaveras tenta descobrir quem são e depois o que faziam (seriado para TV, filme conhecido etc.)... Na próxima semana terás a resposta.

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Colaboração do MI Aquilino R. Leal, Fundador Honorário da Aug e Resp Loj Maç Stanislas de Guaita 165

Universidade das ruas: O cenário foi para a cucuia, mas a história é engraçadíssima José Amaral Argolo © Nenhuma reprodução, parcial que seja desse e dos demais textos assinados e já publicados na Folha Maçônica pelo autor está autorizada sem o seu prévio conhecimento e citação obrigatória da fonte.

Há três cousas com que um espírito nobre, de velho ou de jovem, nunca brinca. Porque o brincar com elas é um dos sinais distintivos da baixeza das almas: são elas os deuses, a morte e a loucura. Fernando Pessoa Nas Terras de Pindorama tudo sempre aconteceu por acaso. Acaso da Descoberta, acaso da Independência, acaso da República, acaso da Nova República, acaso da musa do Carnaval sem Calcinha, acaso de uma certa Imprensa que está começando a acabar... Realmente: Cabral aqui chegou pensando que estava nas Índias. Em 1498 Duarte Pacheco Pereira aportou de fato e sabia exatamente onde estava, conforme os Portulanos, que, com zelo e competência, os navegadores Del Rey sabiam ocultar. Salvem eles, os capitães e marinheiros, sobre cuja bravura, escreveu Fernando Pessoa: “Ó mar salgado. Quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!!!”.

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Eu nunca me atrevi a atestar qual deles era melhor: o poeta quando assinava como ele próprio, Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Bernardo Soares...a sequência dos heterônimos é longa. Chega, talvez, a pouco mais de três dezenas (apesar das divergências no campo teórico, é muita coisa, não acham?). Mas hoje, na verdade, o nosso herói é outro. Hrundi V. Bashki, cidadão originário da Índia, daí a sua pele escurecida (com tinta, é claro) sempre com um sorriso exibindo a dentição imaculadamente branca, o respeito aos demais sempre traduzido por uma leve inclinação de cabeça, sem aperto de mãos (o que eu pessoalmente considero sábio tendo em vista que nunca sabemos o que o outro fez com elas). Penso que o comediante Peter Sellers (nascido Richard Henry Sellers: Southsea Hampshire, 08.09.1925 - Londres, 24.07.1980) não imaginava o sucesso que faria com esta personagem tão simplória e ao mesmo tempo fascinante. The Party (no Brasil o péssimo título Um Convidado Bem Trapalhão) começa com uma sucessão de trapalhadas: um relógio de pulso novinho em plenos anos oitocentos, utilizado pelo guia Hindu nos mesmos moldes de Gunga Din e exibido no instante em que passava a faca de combate na garganta de um guerreiro inimigo; a reiteração impossível das notas do seu trumpete enquanto alertava esquadrões de cavalaria dos Lanceiros de Bengala para um ataque inesperado (era atingido e continuava, novamente atingido e continuava, baleado, novamente, mais uma vez baleado... e continuava! O ponto final da parte introdutória dessa filmagem desastrada acontece quando, ao prender uma das sandálias que se soltara, pisa na alavanca do detonador que, acionado antes do tempo, destrói todo um castelo caríssimo aos cofres da produção. Daí para a frente todas as situações são ainda mais hilariantes. Até o final apocalíptico e simultaneamente romântico. Peter Sellers praticamente não dialogava com o diretor deste e de outros cinco filmes com o qual trabalhou: William Blake Crump, também conhecido pelo nome artístico Blake Edwards (Tulsa [EUA] 15.12.1922 – Santa Mônica [California] 15.12.2010. Divergências na forma de conduzir os trabalhos. Mas os resultados eram inimitáveis: A Pantera Cor de Rosa [1963], Um Tiro no Escuro [1964], o já citado The Party [1968], A Volta da Pantera Cor de Rosa [1975], A Pantera Cor de Rosa Ataca Novamente [1976], A Vingança da Pantera Cor de Rosa [1978]. Foram realizadas mais duas produções: Na Trilha da Pantera Cor de Rosa e O Filho da Pantera Cor de Rosa, mas a personagem principal: o Inspetor Clouseau, da Sureté Française, já estava morto, acometido de uma parada cardíaca. Deixou uma fortuna em dinheiro, mas a herança foi motivo de interminável pendenga judicial. Por dever de ofício; afinal, como jornalista e memorialista, não poderia deixar de fazê-lo, incluo um comentário pessoal: 1968 foi um ano difícil para o povo brasileiro: assinatura e entrada em vigor do Ato Institucional Número 5 [13 de dezembro], passeatas estudantis, pancadaria nas ruas etc; 1975, decretada a Fusão dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro; 1978 início da recidiva dos atentados contra bancas de jornais, órgãos noticiosos [principalmente os semanários cognominados Alternativos [Movimento, Opinião, O Repórter etc]. Não que no exterior não acontecessem protestos [1968 marcou os protestos estudantis na França, Itália, Alemanha, Estados Unidos da América]; em 1975, após inúmeros percalços, foi colocado um ponto final no Conflito do Vietnam [aproximadamente 58 mil soldados e oficiais daquele país morreram e quase 500 mil sofreram ferimentos e/ou sequelas]. The Party apresentava outro ingrediente formidável: a trilha sonora elaborada por Henry Mancini, renomado compositor e maestro-arranjador, notabilizado também pela trilha sonora do seriado televisivo Peter Gunn (exibido de 22 de setembro de 1959 a 18 de setembro de 1961, totalizando três temporadas cada qual com 38 episódios). Craig Stevens interpretava o detetive; Lola Albright protagonizava a discreta namorada Edie Hart; Herschel Bernards, o Tenente Jacobi; Hope Emerson era a Mãe, dublê de cantora a pianista [posteriormente esse papel veio a ser repassado para Minerva Urecal [na segunda temporada]. Detalhe interessante – que não poderia deixar de registro – era a presença de músicos bem sucedidos como o brasileiro Laurindo Almeida [no episódio intitulado Skin Deep], o baterista Shelly Many [no episódio Keep Smiling], o trombonista Dick Nash, o trumpetista Shorty Rogers etc, nas cenas especialmente gravadas no interior das casas noturnas. Uma forma de prestigiar tanto a boa música como os instrumentistas. (Parabéns ao Ir. Robson Granado e demais colaboradores da Folha Maçônica. Agora, motores à frente para que, com o mesmo entusiasmo possamos chegar a milésima edição).

José Amaral Argolo é Jornalista e Professor da UFRJ, primeiro Orador da Loja Stanislas de Guaíta nº 165, é Soberano Grande Inspetor Geral, Gr. 33º. Exerceu atividades como Analista Sênior (dezembro de 2007-a dezembro de 2012) do Centro de Estudos Estratégicos da Escola Superior de Guerra.

Colaboração do Ir José Amaral Argolo, Fundador da Aug e Resp Loj Maç Stanislas de Guaita 165

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Enquete inútil: Pergunta:

Já que estamos ‘atacando de matemática’, responda-nos: Como dividir igualmente as 5 batatas desiguais, abaixo mostradas, entre 3 pessoas?

Pergunta da edição anterior: E já

que estamos no ‘ramo vacaria’ vamos dificultar um pouco mais o

desafio lançado semana passada. Não vamos repetir que em dezembro de 2005 nos mudamos do Rio de Janeiro para a pequena cidade de Lima 2 Duarte (MG) ocupando uma área de 1,4 há (1 hectare corresponde a 10.000 m ) compartilhada com duas vacas com a única função de combater a braquiária o que fazem em alguns dias de pasto. Vizinhos nossos também combatem a praga braquiária utilizando gado, o descendente luso Barbosa, por exemplo, utiliza 35 vacas para dar conta, em 10 dias, do seu pasto de 5,5 ha, já o filho de Rob, nosso outro vizinho Robson, nos passou a informação que em seus 8,4 há colocou 29 vacas para darem conta do pasto em apenas 20 dias. A pergunta: Em quantos dias as nossas duas vacas acabam com o pasto? Para efeito de praticidade, supor que todos os dias as vacas iniciam sua rotina de manhã com certa quantidade de grama no campo e que elas comem igualmente a mesma quantidade diariamente sendo que a braquiária cresce a uma velocidade constante todos os dias em todos os três campos considerados, ou seja, tudo acontece ‘bonitinho’, como ‘manda o figurino’. Nota: Este desafio é, digamos, para astutos... Muito astutos e espertos! “Tamos nessa”, mano Barbosa? Sejam:

p quantidade inicial de grama do pasto em 1 ha; t

quantidade de grama que cresce por ha;

c quantidade de grama que cada vaca come. Os dados do enunciado (área, dias e vacas) em cada uma das três situações serão representados, respectivamente, por a1, a2, a3, d1, d2, d3, v1, v2 e v3. Ainda segundo o enunciado a grama cresce a uma velocidade constante, todos os dias as vacas comem a mesma quantidade de grama e após determinado número de dias as vacas comerão toda a braquiária do pasto. Vamos desenvolver o raciocínio para a primeira situação: v1 vacas comem em d1 dias o pasto a1p1. Ao final do primeiro dia a quantidade de braquiária no pasto será: a1p1 + a1t - v1c Grama no pasto na noite do segundo dia: (a1p1 + a1t - v1c) + a1t - cv1 = a1p1+ 2a1t – 2v1c Noite do terceiro dia: (a1p1 + 2a1t – 2v1c) + a1t - vc1 = a1p1+ 3a1t - 3v1c Seguindo essa linha de desenvolvimento chegaremos ao último dia (d 1) quando as vacas tiverem pastado totalmente o campo de área p1 temos: a1p1 + d1a1t - d1v1c = 0 Por analogia, para as duas outras situações temos: a2p2 + d2a2t – d2v2c = 0 e a3p3 + d3a3t – d3v3c = 0 Como desconhecemos o valor de p, t e c, elas serão, a priori, as incógnitas do sistema de 3 equações e 3 incógnitas (em verdade estamos interessados na relação entre ai, di e vi), montar o seguinte sistema linear de equações:

A ‘velha’ álgebra nos diz que um sistema desses tem solução não trivial (solução diferente de zero) se e somente se

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o determinante da matriz dos coeficientes for igual a zero, ou seja:

Resolvendo o determinante de terceira ordem temos: a1a2d3v3(d2 – d1) + a2a3d1v1(d3 – d2) + a1a3d2v2(d1 – d3) = 0 (I). No caso: a1 = 5,5; d1 = 10; v1 = 35; a2 = 8,4; d2 = 20; v2 = 29; a3 = 1,4 e v3 = 2 sendo d3 (número de dias) a nossa incógnita; assim: 5,5x8,4xd3x2(20 – 10) + 8,4x1,4x10x35(d3 – 20) + 5,5x1,4x20x29(10 - d3) = 0 ou 924d3 + 4116d3 – 82320 + 44660 - 4466d3 = 0 ou 574d3 = 37660  d3  65,60976 dias, ou seja, as nossas duas vaquinhas dão conta do recado em aproximadamente 65 dias 14 horas e 38 minutos! Vai ser preciso assim lá na casa das ‘primas’!! Ficamos na dúvida se o Irmão Barbosa também encontrou a tão esperada resposta... A sua capacidade nos indica que sim... O problema das vacas que ocupou as duas semanas imediatamente passadas apresenta uma solução mais digna dos matemáticos, justamente aplicando a mesma metodologia acima; naquele desafio onde não era fornecida a extensão territorial, nessas circunstâncias basta fazer a áreas ai unitárias ficando o determinante acima assim:

Resolvendo o determinante encontramos: (d2 – d1)(d3v3 – d1v1) = (d3 – d1)(d2v2 – d1v1) que é a tão almejada expressão que resolve o problema. Para àquele caso: d1 = 10; v1 = 35; d2 = 25; v2 = 20 e d3 = 125 sendo v3 a incógnita, substituindo na expressão acima vem: (25 – 10)(125v3 – 10x35) = (125 – 10)(25x20 – 10x35)  v3 = 12 vacas, confirmando a resposta anteriormente fornecida por dois métodos, digamos, mais simples. Ficamos na dúvida se o Irmão Barbosa também encontrou a tão esperada resposta... A sua capacidade nos indica que sim...

Colaboração do MI Aquilino R. Leal, Fundador Honorário da Aug e Resp Loj Maç Stanislas de Guaita 165

MURAL Querem minha opinião sincera, cidadã? Compreendo, nesse momento, melhor do que em qualquer outra época, os impasses que levaram Getúlio Vargas a decretar o Estado Novo, em 1937. O mundo se encaminha perigosamente para um conflito global e o país para discutindo abobrinhas. O Congresso é um arranjo de negocistas vorazes, eleito a custo de voto comprado e propaganda paga por empresas que os contratam. Está aí a terceirização para mostrar como se vendem. O Judiciário, infiltrado de justiceiros, abriga no mais alto escalão sujeitos exibicionistas, arrogantes, falastrões e reacionários, livres de qualquer controle. Fixam seus salários gigantescos, privilégios imorais e negociam claramente suas sentenças. Corporações se empenham para negar assistência médica e jurídica aos que não podem pagar caro. A mídia é comandada por empresas picaretas à beira da falência.

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Há insubordinados nas forças armadas e nas polícias militares, em estado de motim permanente, que ninguém enquadra. Uma súcia de vagabundos se finge de pastores e explora a ingenuidade do povo vendendo milagres e faturando os tubos com negócios que vão do tráfico à lavagem de dinheiro. O fascismo ganha as ruas. Democracia é isso? Nilson Lage Nilson Lage é jornalista, professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina desde 1992. É doutor em Linguística, Mestre em Comunicação e Bacharel em Letras. Foi professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense e de instituições particulares.

Charges maçônicas

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