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2. A musculação e as Ciências do Esporte
Martin, Carl & Lehnertz (2008) determinam as medidas para a organização do treinamento. Segundo esses autores a organização envolve, entre outras coisas, a utilização de aparelhos necessários para a execução do treinamento, estando incluindo dentro dos chamados “meios de treinamento”. Platonov (2004) considera que os meios de treinamento englobam os exercícios físicos que podem influenciar a forma do praticante. Desta forma, a musculação é um meio de treinamento caracterizado pela utilização de pesos e máquinas desenvolvidas para oferecer alguma carga mecânica em oposição ao movimento dos segmentos corporais. A utilização deste meio de treinamento, de maneira sistematizada, objetiva predominantemente o treinamento da força muscular. Dessa forma, deve ser entendida diferentemente de outros termos que vêm sendo frequentemente utilizados no Brasil como sinônimos de musculação: treinamento com pesos, exercício contra resistência e exercício resistido e treinamento neuromuscular. Esses termos podem ser utilizados para caracterizar outras formas de exercício físico, como por exemplo: praticar jiu-jitsu implica em um treinamento com pesos, sendo nesse caso o peso do corpo do oponente; correr implica em um exercício contra uma resistência, nesse caso deslocar o peso do próprio corpo. O treinamento pliométrico ou o método Pilates também são uma forma de treinamento neuromuscular. Esses exemplos mostram a inadequação desses termos como sinônimos de musculação. Desta forma, pode ser concluído que não existe, na prática, treinamento (utilizando o movimento) que não seja contra uma resistência ou resistido. Sendo assim, estes termos citados expressam uma variedade de possibilidades de treinamento muito ampla, incluindo-se nela também, mas não somente, a musculação. O conhecimento produzido em diversas disciplinas científicas fornece uma base sólida para a utilização da musculação. A disciplina Teoria do Treinamento Esportivo abrange as bases científicas que permitem a compreensão e a sistematização do processo de treinamento
nas suas diversas áreas de aplicação (Martin, Carl & Lehnertz, 2008), e fornece informações sobre as questões metodológicas que se relacionam com a utilização da musculação como um meio de treinamento. A Biomecânica e a Cinesiologia cuidam da descrição e análise do exercício permitindo que decisões relativas à segurança e eficiência dos movimentos sejam realizadas sob o ponto de vista fisico-mecânico e anatomofuncional respectivamente. A melhora da qualidade de determinados movimentos tem uma grande relevância para as áreas de atuação da musculação. Com isso, informações sobre o controle do movimento e a natureza dos processos de aprendizagem, que são adquiridas através de pesquisas na área de Aprendizagem Motora, representam um fator de otimização do emprego da musculação (Pozzo & Baumann, 1995). Neste contexto, as discussões sobre transferência de aprendizagem (Enoka, 1988) e adaptações neurais ao treinamento (Cronin & Henderson, 2004, Cadore et al., 2014, Tillin & Folland, 2014) contribuem para uma melhor elaboração dos exercícios, visando desenvolver programas mais específicos aos objetivos desejados. A Fisiologia do Exercício, que investiga as alterações fisiológicas dos sistemas orgânicos submetidos ao esforço (exercício físico), determina os princípios fisiológicos que orientam a realização de atividades físicas e o treinamento esportivo. Os princípios da individualidade biológica, reversibilidade, especificidade e sobrecarga são orientações gerais que influenciam o estabelecimento de um treinamento eficaz (Mcardle, Katch & Katch, 2008). A Pedagogia do Esporte, segundo Haag (1994), se direciona para o ensino e aprendizagem do movimento em todas as situações; desta forma contribui diretamente para o treinamento na musculação, se considerarmos a necessidade de uma aprendizagem adequada dos diferentes programas de treinamento. Essa variedade de disciplinas que se interagem para formar a base teórica do treinamento na musculação fornece conhecimentos científicos que permitem uma adequação de diferentes programas de treinamento aos seus diversos campos de aplicação. Aquele programa de treinamento que no passado era inteiramente baseado na experiência prática de treinadores e atletas vem apresentando cada vez mais a necessidade de um respaldo científico. Contudo, a proliferação de informações sem fundamentação dificulta a consolidação dessa
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tendência, devido à lentidão natural da ciência no que diz respeito à investigação da prática que sustenta o treinamento na musculação (Tan, 1999) e pelo entendimento superficial e interpretações inadequadas do conhecimento científico existente, o “pseudo-cientificismo”. Dentro desta perspectiva, o professor José Maria Santarém (2000) escreveu um excelente texto intitulado “A ciência da Musculação”, publicado em revista de musculação de circulação nacional. Este texto aborda exatamente alguns dos personagens inseridos neste campo de trabalho, considerando as limitações de abordagens tradicionais baseadas somente na prática, mas ao mesmo tempo apontando a necessidade de que a utilização da teoria disponível seja feita de maneira consciente, devidamente fundamentada.
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