cafe urbano - ativando a esquina

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POR JULIA CECCON ORTOLAN

V.O2

CAFÉ URBANO d n a v i t A

a n i u q o a es


UFSC - CTC Dept. de Arquitetura e Urbanismo Projeto Arquitetônico VII. Professor: Rodrigo Gonçalves. Estudante: Julia Ceccon Ortolan. Florianópolis, 4 de julho de 2018.

INTERVENÇÃO, AÇÃO NO CENTRO

café da tarde no centro da cidade centro de mesa café no café caseiro da cidade rua com café de casa no centro e na rua casa rua com jeito de café

O QUE É ISSO?

é um exercício

PARA QUE? de análise e proposiçao no meio urbano, realizada no centro de uma das nossas cidades

é um método

é uma possibilidade.

sobre como podemos construir as escolhas e ações para transformação das cidades

para espaços públicos mais nossos e de mais aproximação, entre nós e com as nossas cidades ainda estranhas.


contexto: APRESENTAÇÃO DO CONTEXTO No caderno anterior foi relatada e analisada uma experiência de intervenção urbana realizada na esquina da Rua Felipe Schimidt com a Rua Trajano. A motivação principal para a realização foi a intenção de trazer para o centro da cidade uma ambiência que remetesse ao imaginário de lar, de casa, e assim atraísse as pessoas a ocupar o espaço de um jeito mais acalmado e com deleite. Isto é, para além do centro estritamente funcional e de passagem. Dos resultados obtidos percebeu-se que existe uma resitência ao uso do local neste formato mais manso e caseiro. Não basta uma cadeira para sentar e uma toalha xadrez para que as pessoas se sintam em casa, é necessário que hajam outros gatilhos essenciais para uma mudança efetiva e a construção de um espaço público mais apropriado. Neste caderno falarei sobre um dos caminhos possíveis para pensarmos a transformação desta parte da cidade, no sentido do desejo descrito acima e no caderno anterior.

TRECHO DE RUA ANALISADO ESQUINA DA PROPOSIÇÃO

INTERVENÇÃO

PROPOSIÇÃO

caderno anterior

este caderno

INTENÇÃO Promover o encontro entre diferentes públicos no espaço do calçadão da Felipe Schmidt, incentivando a usos prazerosos, calmos e estendidos no centro da cidade.

LOCAL DA PROPOSIÇÃO Os mapas ao lado indicam o local escolhido para desenvolvimento deste ensaio metodológico de análise e proposição. A análise, na escala da rua, contemplou um trecho da Rua Felipe Schmidt e a proposição, agindo pontualmente, situou-se na esquina da Felipe com a Rua Trajano.

PERCURSO REALIZADO NA DERIVA COLETIVA DA ETAPA ANTERIOR


direção - intenção: Entendo que existem duas correntes possíveis dentro das instâncias propositivas urbanas. Uma delas é aquela que contempla as medidas de transformções mais efetivas e abrangentes, que reestruturam dinâmicas e redefinem os usos de um espaço. Outra corrente é aquela das ações mais imediatas e palpáveis, aquelas capazes de modificar cenários e otimizar as funções preexistentes. Nós vamos nos ater ao efeito de otimizar as dinâmicas, estruturando nossa proposta a partir das percepções reais do centro atual e das possíveis melhorias que enxergamos necessárias.

Valorizar o andar térreo dos edifícios e tentar entender as ambiências urbanas sob esta ótica implica na valorização do pedestre e seus percursos e percepções pela cidade. O conceito explora justamente o fator chave que se constatou necessário explorar neste trabalho: a relação entre o dentro e fora e entre público e privado nos calçadões do centro de florianópolis. Existe um potencial de uso, proteção, sombra, infraestruturas diversas e acolhimento dentro das edificações que pode expandir-se e misturar-se com a rua, melhorando os convites e as oportunidades de estar e permanecer nos espaço públicos e coletivos. No contexto do calçadão em análise, por exemplo, nota-se que as pessoas optam por esperar, parar em pé, caminhar ou mesmo sentar-se sob as marquises, próximas das paredes dos edifícios. Neste sentido é que nos apropriamos dos fundamentos e discussões expostos no livro, buscando desvendar os repertórios de ações e intervenções nele documentados que pudessem respaldar e contribuir para a nossa proposição.

MÉTODO REESTRUTURAR

R

OTIMIZAR

O

fundamentação teórica: PLINTHS x ESTARES URBANOS O ponto de partida para a proposta elaborada neste caderno foi o livro The City at the Eye Level, que trabalha com o conceito de Plinth urbano. Plinth é um termo em inglês que se refere ao andar térreo dos edifícios, com enfoque maior na sua fachada, por onde se estabelece a interface com o espaço público.

O livro não tem formato e nem pretensão de manual, não pretende instaurar nenhum tipo de normativa ou parâmetros rígidos sobre os plinths urbanos. Trata-se de um compilado de estudos e análises sobre fatores a serem levados em conta quando se pensa no conceito exposto, quando se tem como tema de trabalho a vivência urbana das pessoas nas cidades. A partir da leitura pontual de alguns trechos do livro, percebi algumas diretrizes que o documento lança, e com as quais compactuo, sobre como deve se dar o processo de transformação dos plinths nos diferentes contextos de cidade. Entre as diretrizes, algumas sugestões mais concretas de como proceder pragmaticamente. A partir de uma interpretação prória do material, montei o que seriam as etapas necessárias e possíveis para o caso analisado.

I

PROCESSO

II III ANÁLISE

PROPOSIÇÃO

The City at Eye Level é um livro, uma rede compartilhada de conhecimento e um programa para o melhoramento de cidades, ruas e lugares por todo o mundo. Foi escrito por mais de 90 colaboradores, organizado por uma parceria entre UN Habitat, Future of Places, Gehl Architects, PPS Project for Public Spaces, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUCRS e Copenhagenize.


um método possível:

I

PROCESSO

A metodologia deve contmplar uma processo de elaboração coletiva das propostas de transfomação urbana relacionadas aos plinths. Somente com uma coordenação bem articulada entre os diferentes grupos que usam ou se interessam de alguma maneira pelo espaço da cidade é que poderiam ser encontrados meios democráticos, viáveis e sustentáveis para propostas de intervenção no meio urbano. No contexto hipotético deste caderno vamos pular esta etapa I sugerida, por tratar-se de um estudo teórico ainda sem vínculação real com demandas e contextos socias do local. Ainda assim, constam abaixo sugestões práticas para realização de um processo participativo.

Identificar QUAIS GRUPOS E PERSONAGENS ocupam e se ocupam do espaço em questão: trabalhadores, funcionários, locatários, empresários, moradores de rua, vendedores ambulantes, moradores, passeadores, estudantes... Um ou mais dias de OFICINAS COLETIVAS, a depender da escala a ser trabalhada (uma rua, um bairro, uma cidade...)

DEFINIR ESCALA da proposta a ser realizada e do produto que se espera

LISTAR AÇÕES de curto prazo possíveis que poderiam ser relizadas pouco tempo depois da oficina, como um repertório acessível pelos participantes para tornar mais concreta a perspectiva de transformação. ENTREVISTAS com pessoas e grupos afetados por possíveis mudanças

CAMINHAR JUNTOS pela rua: conversar sobre as fachadas, sobre as relações que se percebem no espaço.

II ANÁLISE

Adotamos a proposta de análise das características urbanas, como sugeridas no livro, em três instâncias:

CONTEXTO - RUA - EDIFÍCIO Para cada instância de análise, tentamos focar o olhar sobre um aspecto principal que o determina, para esclarecer quais os tipos e escalas de ações necessárias para sua transformação:

Contexto: escala máxima dentro da escala tra-

balhada. Neste caso, o contexto é centro da cidade: uso predominante de serviços e comércios, caráter funcional, aceso de dia e apagado à noite e nos fins de semana. Relaciona-se com propostas em nível de plajamento e zoneamento urbano do município.

Rua: escala mais aproximada, identificando as

relações existentes no percurso, entendendo o suporte físico e os atributos utilitários da rua. Neste caso: calçadão, velocidade média ou ligeira de pedestres que muitas vezes só passam pelo espaço ou resolvem suas questões entrando e saindo dos estabelecimentos comerciais ao longo. Poderia ser alterado com diretrizes específicas sobre que tipo de usos e que tipos de serviço ou comércio o bairro, a rua, a comunidade deseja, necessita, convidando para usos de mais tempo de permanência> estares.

Edifícios: análise prédio a prédio, casa a casa,

entendendo os padrões edificados que compõem a rua e suas potencialidades para novas apropriações. Pode estar relacionado com parâmetros urbanísticos que determinam e induzem o desenho urbano das fachadas, ou mesmo com o tamanho do estabelecimento e a variação ou monotonia da fachada.

) ZO tro... n PRA e c O o G n N LO adia (mor

PLANEJAMENTO URBANO

R

.) ura.. ZO t l u c PRA s, é O f I a c D s, MÉ (bare

ZONEAMENTO ESPECÍFICO LOCAL

R

...) e uso d s e çõ ais op m , s ura ZO PRA abert , s O a I s (me MÉD

DESENHO URBANO E DE FACHADAS; PARÂMETROS URBNÍSTICOS

O

Tipos de propostas para intervir no cenário existente


II ANÁLISE

Rua: Segue abaixo um mapa com o levantamento de usos

ao longo do trecho em análise da Rua Felipe Schmidt, que contempla justamento o trecho em que é utilizada como calçadão, esxclusiva para pedestre. A delimitação do trecho de rua analisado abrange a mesma rua em que realizou-se a intervenção com o café urbano, estendendo-se até onde ela mantém suas características de calçadão, exclusiva para pedestres.

análise importante para ETAPA 2 e 1 COMÉRCIO E SERVIÇOS CULTURAL, INSTITUCIONAL LIVRARIAS, BIBLIOTECAS CAFÉ

análise importante para ETAPA 2

Edifícios: levantamento de fo-

tos de alguns pontos potenciais ou críticos dentro dos conceitos de plinths urbanos, com relaçao ao suporte físico estipulado pelas fachadas; Como as fotos demonstram, as marquises, sombras, parede já são atrativos por seus atribuitos físicos no espaço urbano. São utilizadas, assim, como espaços improvisados de estar. Para melhorias mais efetivas nessa relação edifício - rua, seria interessante promover extensões dos usos externos para fora e vice-versa, aproveitando o indicativo atual de que é o espaço de parada, quando em contraste com o miolo do calçadão e seu fluxo mais intenso de caminhantes.

DIRETRIZES PARA A PROPOSTA - local

- etapas

Percebe-se em roxo os pontos de café, que somadas com as áreas institucionais e livrarias, resultam em pontos dispersos de usos mais prolongados, que poderiam estar em contato vivo com o espaço da rua. Como não há concentração evidente deste caráter de uso, os pontos mais propícios para encontro e estar talvez sejam as esquinas.

A proposta começa a entender suas limitações e seus alcances a partir da análise macro e do olhar do pedestre. Neste ensaio de método a que se propões este caderno, vamos mencionar as etapas possíveis, mas vamos ilustrar somente a etapa IMEDIATA, a de curto prazo. As demais vão ficar a título de visualização da ideia geral desenvolvida até aqui.


III

a proposta:

PROPOSIÇÃO

ETAPA 3 LONGO PRAZO Planejamento urbano, zoneamento, inserção e incentivo, através de políticas públicas no centro da cidade, estimulando o surgimento de serviços e comércios relacionados às áreas residenciais e que possuem funcionamento nos contraturnos comerciais. Importante: moradias que sirvam diferentes públicos, com suas diferentes classes de renda econômica, para não produzir espaços segregados.

ação

ETAPA 2

ETAPA 1 análise

MÉDIO PRAZO Redesenho urbano de fachadas existentes, com novos programas de uso aos edifícios. A decisão do caráter da rua que se quer deve envolver os diversos agentes afetados pelo espaço em discussão. Assim sendo, deve-se criar um consenso sobre o tipo de rua que se deseja e, com instrumentalização técnica por parte de profissionais, entender quais os meios e recursos existentes para tanto. No caso de novos usos, poderia surgir um plano específico de zoneamento específico para a mesma, por exemplo, buscando concenso com proprietários para direcionar seus alugueis para tais demandas. No caso de novos desenhos para a fachada, poderia haver uma troca entre investimento gasto pelo proprietário ou locatário de um uso comercial, por exemplo, para abrir janelas e portas para a rua e mudar o uso existente, com isenções fiscais temporárias ou com a permissão de uso do espaço da rua com mobiliário urbana, que poderia agregar ao empreendimento também. Em casos de lojas muito grandes, por exemplo as Lojas Americanas na Felipe Schmidt, poderia incentivar-se uma reestruturação interna para que as bordas da loja que atualmente somente servem como vitrines pudessem ser locadas para comércios voltados para a rua, por exemplo, o que poderia ser feito com menos burocracias, para incentivo, e agregaria também financeiramente ao próprio empreendimento. Além de funcionar para a criação de plinths mais variados e interessantes.

CURTO PRAZO Esta etapa é a indicada pelo livro como ÂNCORA ENERGÉTICA. Trata-se se alguma ação ou intervenção no espaço a ser transformado que permita uma modificação rápida no meio existente. Serve para estimular os participantes das oficinas, engajados em melhorar seu espaço de cidade, a manterem-se engajados e a darem credibilidade ao processo em que se envolveram. A ação de curto prazo pode ser montagem efêmera no espaço de alguma instalação simples, ou a organização de algum evento em local estratégico que inaugure parte das diretrizes construídas para o espaço urbano em questão. Neste caso, a ÂNCORA ENERGÉTICA seria um conjunto de instalação com novo programa de uso temporário. Segue explicada a seguir.

ETAPA ILUSTRADA a seguir


CAFÉ

ETAPA 1 a proposta: LOCAL DA ETAPA 1 O local para realização de curto prazo é o mesmo em que realizou-se a intervenção de café urbano anterior. O motivo para a escolha tem os mesmos funamentos: trata-se de uma esquina com indícios de acolhimento e potencialidades mais evidentes do que as demais para usos de estar e outras permanências.

PREMISSAS GERAIS otimizar dinâmicas existentes aumentar tempo de permanência no espaço público ativação de fachadas aconchegar, acalmar experiência de centro NA FOTO Usos interessantes: bar com mesinhas externas e guarda-sóis no canto esquerdo. Marquises já existentes na esquina da loja Schmidt. Para colocação do quiosques e mobiliários encostados na área hoje ocupada por vitrines da loja, seria possível pensar num acordo que trouxesse recompensas ao lojista. Por exemplo, o quiosque poderia pagar um valor reduzido de aluguel à loja no período em que se instalasse (uma semana, duas...dependendo do cuscesso e da vontade dos processos coletivos).

ÂNCORA ENERGÉTICA A ação proposta consiste na primeira etapa de ação dos processos de transformação dos plinths urbanos descritos até aqui. A proposta consiste em promover a instalação temporária de mobiliários urbanos simples nas bordas das esquinas, sob as marquises existentes, juntamente com a organização de quiosques de venda de café e outros quitutes de consumo contidiano. Imaginando que a proposta seria resultato de um processo de oficina e proposição envolvendo os lojistas, trabalhadores, frquentadores locais etc, a montagem e desmontagem da instalação também estaria especificada na mesma, a depender dos agentes participantes e dos principais organizadores do evento. O foco desssa proposta não é o mobiliário em si, mas o acontecimento no espaço, promovido por uma variação sutil nas suas dinâmicas: quiosque e novos estares. A ideia de mesclar estares propostos com os estares existentes, bem como de deixar dispersos os quiosques de venda e os bancos desenhados sob as marquises, tem a intenção clara de estimular um uso despretencioso e público dos estares. Não é necessário consumir pra sentar-se; uma coisa pode levar a outra e acabar misturando os que estão ali hoje já encostados pelas bordas de marquises com os que só parariam pra sentar por um pastel ou por um café.


ETAPA 1 a proposta:

NA FOTO Os estares demonstram uma possível conformação dos banco das fachadas para fora. Ou seja, utilizando-se da proteção, da sombra e do encosto da fachada como e estendendo os mobiliários em direção ao calçadão. Nesta esquina nota-se a possibilidade de estender o estar numa disposição mais linear e contínua, devido à existência de fachadas mais passivas e sem variações. Num segundo momento ou numa outra escala de intervenção, também seria possível pensar no acontcimento de feiras ao longo dessa ruam na direção em que mostra a foto, devido à sua ambiência favorável pra tal.

NA FOTO Ombrelones dispostos com leve afastamento da fachada, já que neste caso há muitas portas de acesso que acabam induzindo a esse descolamento mínimo. A sugestão de estar segue o tipo de uso já visto no canto direito da foto, preexistente, mas com alguma variação visual para que ficasse claro seu caráter público. Ou seja, uma linguagem visual que casasse com a linguagem dos mobiliários sugeridos para as outras esquinas.


ETAPA 1 a proposta:

É quase sempre mais simples e eficaz aumentar a qualidade e, portanto, o desejo de passar mais tempo no local, do que aumentar o número de visitantes no referido espaço. JAN GEHL

NA FOTO Toldo e mesas de concreto existents aproveitados para estimular os quiosques e os estares, acrescentando-se, além do novo uso, mobiliários facilmente desmontáveis, como os ombrelones.

Referências bibliográficas KARSSENBERG, Hans. et al. A Cidade ao Nível dos Olhos: Lições para os Plinths. 2.ed.(versão estendida). São Paulo, 2015. GEHL, Jahn. Cidade para Pessoas. 3.ed. São Paulo: Perspectiva, 2015.



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