União na espera das tainhas
FolhaLagunense Laguna, Quinta-feira, 22 de Maio de 2014 - Ano 01 - Edição 12 - EDIÇÃO ESPECIAL- Distribuição Gratuita
De Laguna, para os lagunenses!
Pescadores e Tradição
Textos: Mayra Lima / Romulo Camilo Fotos: Ronaldo Amboni
Lá estão eles de olho nas águas dos molhes, na espera e na espreita de garantir mais um dia de pesca bem sucedido. As equipes começam a se formar logo cedo, durante a madrugada eles começam a chegar. “Garantir o melhor lugar pode salvar seu dia de pesca”, afirmam eles. De três a cinco, pescadores se reúnem para trabalhar em conjunto. E assim inicia mais um longo dia de trabalho.
Manuel Rodrigues, 64 anos. Apontado pelos pescadores do Molhes da Barra como o mais experiente em exercício. Reconhece cada boto e seus macetes para garantir uma boa pescaria.
A chegada do frio é a época mais esperada pelos pescadores. São nos meados do mês de maio até agosto que os pescadores esperam capturar mais peixes. É a vinda da tão cobiçada tainha. Em Laguna, a tainha é pescada em tarrafas nas encostas, nas praias e nos Molhes, com auxílio dos botos. Na região do Farol de Santa Marta a captura se faz através de arrastão, com o cerco do cardume feito pelos barcos, onde um olheiro pescador visualiza os peixes do alto das encostas. A tradição é passada de pai para filho. O diálogo entre pescador e boto, as redes de pesca apropriadas para cada tipo de safra, a levada da tarrafa, os melhores lugares da cidade para encontrar cada tipo de pescado. O senhor Manoel Rodrigues pesca desde os sete anos de idade. Hoje, com 64, seus filhos levam a tradição adiante. “Tenho dois filhos trabalhando como pescadores. Para eles passei tudo que sei e que aprendi com meus pais. É importante não deixar que isso se perca. Pesco porque gosto, eles também. É um vício e uma paixão para mim”, conta. Segundo o pescador conhecido como Guerrinha, a tradição em Laguna deve seguir com a nova geração de pescadores que vem chegando. “Muitos podem achar que não, mas tem uma gurizada nova aparecendo, aprendendo a pescar. Alguns filhos de pescadores foram para outros caminhos, quiseram estudar outros tipos de trabalho. Mas posso garantir que muitos ainda querem seguir o que o pai faz”, ressalta. Os pequenos são iniciados na pesca naturalmente, já que acompanhar o pai ou o avô na pescaria é uma diversão. É comum as crianças ganharem tarrafas de presente invés de outros brinquedos e depois da primeira pescaria dificilmente abandonará a isso que o pescador Guerrinha trata como um vício. “Já dei uma tarrafinha pro meu neto e ele já tá aprendendo a abrir. O vício começa quando se pesca o primeiro peixe e ganha o primeiro trocado com a pescaria. Aí já era. É difícil aquele que consegue escapar disso.”, declara entre risadas o Guerrinha.
O popular Guerrinha, com 59 anos. Trata da pesca como um vício e conta entusiasmado das pescarias e tarrafadas cheias ao longo da vida. Divide o dia entre tarrafadas e confeccionando novas redes.
Regras
Durante a pesca da tainha, na beira da lagoa, os pescadores precisam seguir alguns tipos de regras para que haja uma cooperação e camaradagem, de forma que todos garantam o sustento de cada dia. Através desses princípios a harmonia segue durante os meses de safra. Segundo o pescador Manoel, todos seguem à risca. “Temos algumas condições para que tudo seja feito certo. Por exemplo, quem jogar a tarrafa e garantir o pescado cede o lugar para o próximo. Todos têm a chance de conseguir boas tarrafadas em lugares de maior acesso aos peixes”, conta. Os lugares para a pesca também são cobiçados. Em fila, os pescadores se aprontam em pé e em fila pra tarrafear. Quando o boto surge transportando o cardume em direção à praia para se alimentar, os pescadores acompanham parte desta caçada para encurralar os peixes. Segundo Manoel, os primeiros lugares da fila que ficam em frente à entrada dos peixes garantem boas tarrafadas. “Para pegar um bom lugar tem que chegar cedo. Eu costumo me levantar às quatro da manhã para garantir meu lado. É por ordem de chegada”, diz. Com todo esse cuidado, não há brigas. “Acontece, mas a convivência faz isso. Um dia você pode estar estressado e acabar acontecendo. Mas somos todos camaradas e respeitamos o trabalho um do outro”, conta Manoel. Para não espantar os cardumes, uma das regras é não pode fazer barulho na água e nem pescar com canoa de motor nas proximidades. Calma e cuidado com os golfinhos também é importante. “Nós temos uma parceria com os botos e tomamos muito cuidado com eles. Alguns já se machucaram em redes de pescadores, por isso todo cuidado é pouco”, enfatiza Guerrinha.
O peixinho nosso de cada dia Quando cresce aquela vontade de comer uma tainha fresca os moradores já sabem onde devem ir. “Nos molhes da barra, onde os pescadores estão trabalhando sempre tem peixe fresco.”, declara Ana Maria, uma visitante assídua dos Molhes. Os pescadores tiram as tainhas das redes e já às expõe para quem tiver interesse de comprar. “No final do dia, se sobra algum peixe, o que é muito difícil, nós levamos para casa e distribuímos entre a família”, afirma o pescador Manoel. Segundo os pescadores nativos, a venda é mais produtiva quando realizada no próprio lugar da pesca. Eles afirmam que vender os peixes para as peixarias é menos rentável, o interessante é deixar à mostra, já que sempre tem alguém interessado em comprar os pescados. “O visitante que vê todo o trabalho do pescador com o boto e depois vê o resultado disso, que é o pescador sair com o peixe da água, compra o pescado também como forma de reconhecimento e para chegar em casa e dizer que viu aquele peixe ser pego, que estava lá na hora.”, conta o pescador.
Os comandantes da pescaria:
Os Botos “Eles são nossos parceiros”, conta Guerrinha. Aos 59 anos, o pescador carrega um amor pelos pequenos mamíferos que convive desde criança. Com auxílio do Scooby, Mandalão, Batman, Princesa, Jade, entre outros, o dia fica mais produtivo. Estima-se que há cerca de 40 botos nas lagoas da cidade e todos são reconhecidos pelos pescadores por seus respectivos nomes. O pescador Manoel Rodrigues afirma que o reconhecimento é feito pelo jeito que eles se comportam. “Nós sabemos quem é só pela virada, pelo salto ou pelas nadadeiras. A convivência nos garante essa informação”, explica. A cooperação dos golfinhos perante a pesca sempre foi um marco na cidade de Laguna. Turistas visitam o município só para conhecer a técnica. Ao mesmo tempo, os próprios moradores que cresceram com a tradição se encantam a cada vez que avistam a dança entre pescadores e botos. Além de no Brasil, só acontece na Mauritânia, na África. Nascidos na região de Laguna e em contato diário com o ser humano, os botos acabam perdendo o medo e juntos começam a trabalhar. Não se sabe ao certo quando começou esta parceria, mas conforme a cultura local, a tradição já acontece há muito tempo. Existem os botos bons e os ruins. Os que são preguiçosos e não conseguem trabalhar direito mal recebem um nome. “Costumamos chamar eles de clone dos que já trabalham. Por exemplo, essa semana avistei o clone do Scooby. O coitado não sabia como fazer, espalhava todo o peixe e só atrapalhava meu trabalho”, conta Guerrinha em meio a risos.
A dança da captura Os golfinhos costumam ficar passeando pelo canal que liga a Lagoa de Santo Antônio ao mar aberto. Os pescadores preparam suas tarrafas (uma espécie de rede circular, de mais ou menos 3 metros de diâmetro) e colocam-se à beira do canal, a pé ou de canoa, dependendo da maré. Ao perceber a presença dos humanos, os golfinhos passam a cercar os cardumes que entram e saem da Lagoa, sobretudo as tainhas, e os afugentam na direção dos pescadores. Os peixes que escapam das redes viram presa fácil e vão parar no estômago dos botos. O interessante é que muitos dos golfinhos da região são semelhantes àqueles que se podem ver ao redor do mundo. É a espécie Tursiops truncatus, ou “nariz de garrafa”, a mais comum e conhecida de todas. E como que os botos de Laguna passaram a ter esse comportamento. Segundo os pescadores nativos, foi a convivência entre eles trazendo bons que efeitos que resultarão nessa arte. Assim como os pescadores ensinam seus filhos à pescar. Os botos de Laguna ensinam seus filhotes a fazerem parte deste ciclo. Os melhores botos são aqueles filhos de outros que também garantem uma boa pesca.
As Tainhas Quando o tempo esfria que os cardumes vêm em busca de águas mais quentes. Os pontos de partida são o litoral do Rio Grande do Sul e a bacia do Rio da Prata, entre Uruguai e Argentina, grandes berçários do peixe. Mais de 50% dos cardumes acabam nas redes dos pescadores catarinenses. As tainhas são vistas em cardumes, pois é uma característica da fecundação, onde as fêmeas lançam os óvulos no mar e estes se encontram com os espermas por acaso, e por isso elas nadam tão juntas. Para este ano, a expectativa não é tão boa. Segundo o pescador Manoel Rodrigues, a última safra alta de Laguna aconteceu há sete anos. “O movimento ainda está fraco, precisamos de mais vento para as tainhas subirem pro norte.”, explica. O vento sul durante três ou quatro dias instiga a saída dos cardumes para a partida das tainhas, mas os cercos de praia dependem das viradas curtas para leste e nordeste. “É durante a calmaria que conseguirmos o maior numero de peixes. Tem que ventar por dias, um vento bem forte. Depois quando o tempo vira e acalma, as tainhas com toda certeza vão estar nas encostas de nossas lagoas”, conta o pescador Guerrinha esperançoso.
Safra fraca Para os pescadores nativos, um dos grandes inimigos dos peixes é a poluição. A falta de cuidado de moradores e turistas implica no dia-a-dia de trabalho. “É preciso que alguém faça algum tipo de estudo. Para mim, a poluição está acabando com a nossa safra. Antigamente essas aguas eram cheias de peixes. Hoje temos dificuldade”, explica Manoel. Já para Guerrinha, a abertura da boca da barra deve auxiliar na melhora da pesca. “Os líderes do município e os conhecedores ambientais tem que dar um jeito de abrir aquele caminho. Os peixes tem dificuldade de passar e isso atrapalha nosso trabalho”.
Gastronimia lagunense
Tainha assada com pirão de camarão Fonte: www.receitasdasoninha.com.br
preparo
Ingredientes - 1 tainha inteira de aproximadamente 1,5 kg. - Suco de 2 limões. - 2 colheres (sopa) de sal grosso. - 1 buquê de coentro e cheiro-verde. - Pimenta-do-reino moída a gosto. - 3 colheres (sopa) de azeite de oliva. Pirão: - 300 gr de camarão miúdo. - Suco de 1 limão. - 1 colher (sobremesa) de azeite de oliva. - 1 cebola ralada. - 2 tomates sem pele e sem sementes, picados. - Sal e molho de pimenta a gosto. - 1 colher (chá) de azeite de dendê. - Salsa picada a gosto. - Farinha de mandioca o suficiente.
Limpe a tainha tirando as vísceras, escamas e barbatanas. Tempere por dentro e por fora com sal grosso, limão, ervas, pimenta e descanse 30 minutos. A seguir, unte o peixe com azeite, coloque em uma assadeira e cubra com papel alumínio, sem deixar que ele toque na pele do peixe. Leve ao forno preaquecido (180ºc) por cerca de 40 minutos. Retire o papel alumínio e deixe dourar.
pirão
Tempere os camarões com o suco de limão e reserve. Aqueça o azeite de oliva e refogue a cebola. Junte os tomates, os camarões, tempere com sal, pimenta, azeite de dendê e, quando estiver quase pronto agregue a salsa. Misture bem, acrescente a farinha de mandioca aos poucos, mexendo sempre. O pirão deve ficar mole. Depois de assado o peixe , retire o sal e sirva com o pirão e rodelas de limão.
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