A NOSSA DESUNIÃO

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O Acordo Ortográfico da Nossa Desunião António Viriato* A polémica do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 reacendeu-se subitamente com a atitude corajosa e desassombrada tomada por Vasco Graça Moura, ao mandar desinstalar o conversor ortográfico dos computadores do Centro Cultural de Belém, poucos dias depois de ter assumido a sua Direcção, repondo a ortografia em vigor em Portugal desde 1945. Nos pontos seguintes, tentarei expor os pontos principais da minha rejeição do Acordo da LP de 1990, comuns a muitos outros nossos concidadãos que se sentem defraudados pela forma como esta questão foi e continua a ser conduzida pelos Poderes Públicos em Portugal. Existem três aspectos principais a ter em conta na presente polémica: o linguístico, de base científica ou cultural, sem dúvida o mais importante, o jurídico e o político, todos eles com responsáveis dominantes, cujos nomes serão aqui evocados. Comecemos pelo primeiro, o linguístico: A actual controvérsia tem os seus antecedentes no anterior Acordo, o de 1945, que o Brasil connosco assinou, promulgando-o inicialmente, em 5 de Dezembro desse ano, para mais tarde o vir a revogar, em 21 de Outubro de 1955, por diploma firmado pelo Presidente João Café Filho. Durante esses 10 anos, os brasileiros contrariaram a aplicação do Acordo, desenvolvendo conturbada polémica, em que, por vezes, o assunto dominante na discussão não era a Língua comum, mas aspectos da Colonização Portuguesa, invariavelmente vistos como negativos, nocivos e até como responsáveis do atraso geral do desenvolvimento do País, nos seus mais variados sectores: educativo, económico, social, político e cultural. Agindo deste modo, o Brasil colocou-se na situação de incumpridor do Acordo de 1945, retomando oficialmente a ortografia de 1943, que diferia da de 45, principalmente na questão das consoantes mudas etimológicas, nalgumas regras de acentuação, de escrita de maiúsculas e no uso do trema, sobre o u, em vocábulos em que figuram os grupos gu e qu seguidos de e ou i em que o u surge pronunciado. Portugal assinou e promulgou o Acordo de 1945 também em Dezembro deste ano, adoptando-o até ao presente, permanecendo na situação de cumpridor. Entretanto, houve outras simplificações ortográficas no Brasil e em Portugal, mais no Brasil do que em Portugal, pelo uso excessivo de acentuação, para marcar a pronúncia. Estas simplificações aproximaram um tanto as ortografias dos dois países, mas mostravam-se insuficientes para se chegar à unificação. Em 1986, houve uma proposta bastante ousada de reforma ortográfica de académicos portugueses e brasileiros, que abolia grandemente o uso de sinais diacríticos para marcar a pronúncia dos vocábulos. Esta proposta encontrou forte resistência no Brasil e em Portugal, tendo-se notabilizado pela confusão gerada entre o cágado, simpático animal e o resultado das operações digestivas daquele e dos outros animais, incluindo o que goza de capacidade racional. Na sombra, prosseguiram os contactos entre as academias que, em 1990, pariram o Acordo que aqui nos ocupa principalmente. 1


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