com profunda tristeza e sentimento físico de enjoo Exmos. Senhores, Dado que não existe espaço para resposta no site, venho por este meio deixar umas breves palavras em resposta ao ponto dois do artigo que se encontra neste link: www.smmp.pt/?p=14193 (*). Começo com duas perguntas: acha o Jorge Miranda, porventura, que pelo facto de existirem 2 mil milhões de chineses, deveremos todos falar chinês? Ou que pelo facto de idiomas tais como o húngaro, o checo ou o sueco serem falados por poucos milhões de pessoas, se deve assinar a sua sumária eliminação? A leviandade e falta de alicerces dos argumentos apresentados são francamente chocantes, principalmente quando vindas de uma pessoa que se assina como Professor Universitário, depreendendo-se, portanto, alguma inteligência e capacidade de raciocínio. Vejamos. A Língua Portuguesa com a sua grafia particular não é inviável no âmbito da Comunidade Europeia. Muito pelo contrário, está protegida por lei! Assim como o húngaro, o checo ou o sueco. O Jornal do Sindicato dos Magistrados deveria estar a par das leis. O Acordo Ortográfico apenas cria uma noção falsa de língua unificada, abrindo uma porta tipo caixa de Pandora à ideia de que não há diferenças entre o português de Portugal e o do Brasil, e dando azo a, por exemplo, traduções feitas no Brasil (por brasileiros) em vez de Portugal (por portugueses). O resultado talvez não seja evidente para quem não trabalha diariamente com a língua, mas para quem conhece as profundas diferenças de sintaxe e terminologia (não só de ortografia!) entre as duas variantes da língua, perceberá imediatamente o erro e risco colossais que este AO representa para a Língua Portuguesa e a profunda injustiça que se está a cometer contra as pessoas cujo rendimento depende da Língua Portuguesa. Não é um AO que vai promover a "afirmação" da Língua Portuguesa, é o investimento na sua divulgação, investimento Português. Entenda-se por investimento, claro, dinheiro e recursos humanos, organização e eficiência. Quando diz «A verdadeira defesa do português não pode consistir no conservadorismo ortográfico, mas sim na exigência da qualidade do seu ensino e da sua prática na comunicação social, no ensino universitário por professores portugueses para alunos portugueses em português (ao contrário do que sucede em algumas faculdades)» está cheio de razão, excepto no que diz respeito a conservadorismos. Como pode a defesa de uma ortografia correcta, assente não só na fonética mas também na etimologia, ser designada por conservadorismo?! Contudo, quando o Estado não disponibiliza verbas às universidades estrangeiras para a aquisição de literatura portuguesa, quando o Estado permite que as patentes deixem de ser traduzidas para português, esse argumento cai por terra. Com ou sem Acordo Ortográfico.
A França deve andar distraída se, à laia da globalização, ainda não obrigou os luxemburgueses, esses 500 000 coitados, a falar e escrever um francês "unificado". A Inglaterra então, deveria estar a tremer, face ao número crescente de falantes de inglês americano. Essa é outra grande mentira que nos têm tentado vender – a de que o português é a única língua que não tem uma grafia unificada e que por isso está em vias de extinção. Mentira vergonhosa, ofensiva, senão mesmo criminosa. Só quem não quer perceber, só quem não se quer chatear, é que não vê que este Acordo Ortográfico não unifica nada, não aproxima nada, não serve de nada. Poderá servir alguns interesses particulares, mas é uma nulidade em termos de vantagens para o país e para os portugueses. Onde estão as provas científicas de que (outra grande mentira) esta “nova” ortografia vai facilitar a aprendizagem da língua? Onde está a unificação ortográfica em bebé/bebê, infeção/infecção, registo/registro? São dezenas de milhares os exemplos de dupla grafia APÓS o Acordo Ortográfico. Não houve redução de diferenças, houve aumento! Os únicos resultados deste AO são o empobrecimento da língua, gastos astronómicos ao nível da educação e sem qualquer tipo de proveito palpável e, como sempre, mais um fardo inútil para as famílias portuguesas. Finalmente, o AO não é lei. A sua aplicação está suportada por uma Resolução da Assembleia da República que não tem qualquer vínculo legal. É com profunda tristeza e sentimento físico de enjoo que me subscrevo, Com os melhores cumprimentos. Paula Blank
_____________________________ Nota do Editor: artigo de opinião de Jorge Miranda no Público de 13 de Julho de 2011 e reproduzido no site do SMMP – Sindicato dos Magistrados do Ministério Público.