Receitas • Cultura • Saúde
Produtos da Gente SABORES TRADICIONAIS DA AGRICULTURA FAMILIAR DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO
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Café do Fojo
EDIÇÃO: Projeto Alimentos Saudáveis nos Mercados Locais - 2015 PESQUISA: Malagueta Comunicação TEXTO E COORDENAÇÃO EDITORIAL: Malagueta Comunicação e Equipe do Programa de Agricultura Urbana - AS-PTA PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Roberta Rangé - AS-PTA IMAGENS: Carolina Amorim e Mariana Moraes (Malagueta Comunicação); Foto do Chef Isaias Neries de Rodrigo Azevedo. IMPRESSÃO: Reproset
Esta cartilha apresenta o café do Fojo, alimento cultivado pelos agricultores familiares de Guapimirim, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Com olhar histórico, cultural, nutricional e gastronômico, buscamos identificar uma alimentação diversificada, saudável, prazerosa, com preço justo e que valoriza a produção agrícola local. Saber como preparar esses alimentos no dia a dia também faz parte do aprendizado sobre as tradições e identidade alimentar. Reconhecer esse território como lugar de agricultura camponesa, saberes, memórias e patrimônio dos cidadãos que residem na cidade e no campo é uma estratégia para estreitar o vínculo entre o lugar de cultivar o alimento e o lugar de consumo. A publicação faz parte da “Campanha pela Valorização da Agricultura Familiar e dos Produtos Agroecológicos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro”, lançada pela AS-PTA - Agricultura Familiar e Agroecologia. Está inserida no projeto “Alimentos Saudáveis nos Mercados locais”, com o patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental e realizado em parceria com a Rede Carioca de Agricultura Urbana, Cooperativa Univerde, Coopagé, Associação Feira da Roça de Nova Iguaçu, Associação dos Agricultores da Microbacia do Fojo - Guapimirim e a Rede Ecológica. Boa viagem e saúde!
Café
(Coffea, sp)
Uma frutinha vermelha /Que as moças colhem no pé /E quando é bem torradinho/Fica pretinho e cheiroso/ Como ele é, lá no Brasil /Tem de ser forte, como o bem / Que a gente tem pelo Brasil /Tem de ser doce, como o amor/ Que a gente tem pelo Brasil Vinicius de Moraes, Samba do Café
O café é a bebida mais popular consumida em diversas culturas do mundo. É da família das rubiáceas, considerada um arbusto com mais de 100 espécies. A mais cultivada é a arábica, com 70% da produção mundial. Em segundo lugar, vem a Conilon, pertencente à família das Canephoras, que soma 20% do cultivo. Sua origem está nos povos árabes, mais precisamente encontrado na Etiópia, país da África Central, por volta dos anos 600 d. C. Segundo a lenda do pastor Kaldi, o fruto foi descoberto por ele ao observar que as cabras ficavam mais espertas e dispostas, após comerem os frutos amarelos avermelhados. O consumo deu-se inicialmente por infusões dos grãos verdes. Só muito mais tarde, no século XIV, que a bebida ganhou o tratamento como nós a conhecemos atualmente, com secagem, torra, moagem e a infusão em água quente. Considerado o “vinho das Arábias”, em 1615 o café foi disseminado no continente europeu, que por sua vez, passou a plantar nas colônias do continente americano.
Café do Fojo Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro no município de Guapimirim, cultiva-se um café agroflorestal, de manejo agroecológico, sem o uso de agrotóxicos, convivendo com outras espécies nativas, que faz dele especial, se comparado com os cafezais de monocultura. A espécie cultivada é a conilon, conhecida também como robusta, que se adapta às temperaturas elevadas e de menor altitude. Na região, três famílias agricultoras da AFOJO (Associação dos Produtores Rurais e Artesãos da Microbacia do Fojo) estão à frente do cultivo do café. O pioneiro foi a família de seu Domingos que trouxe mudas de conilon do Espírito Santo para o território do Rio de Janeiro na década de 1970.
Seu Domingos já trabalhava na lavoura desde os 7 anos e aplicou os conhecimentos com a terra para desenvolver o café em Guapimirim. São cerca de 30 mil pés de café que convivem com abacaxi, açaí, abacate, beribá, jaca, acerola, milho, manga, cajá-manga, caju, aipim, cacau, batata, inhame, fruta-pão, banana, quiabo, jiló, taioba entre outras espécies. Além destas plantas possibilitarem a ciclagem de nutrientes, um solo rico em matéria orgânica e microorganismos, com o aumento da diversidade de espécies toda área se beneficia de forma a tornar a planta de café mais resistente à insetos e doenças, além da função de sombreamento que algumas espécies exercem no agroecossistema. “O melhor café é o sombreado pela planta carrapeta, que não recebe tanta quentura e protege o cafeeiro das pragas”, garante seu Domingos. Os agricultores também fazem
uso de caldas caseiras para a prevenção da broca, praga comum que atinge o cafeeiro, além de outros insetos e doenças. Essas caldas são produzidas na AFOJO, onde se encontra uma pequena fábrica que atende a demanda dos agricultores da comunidade assim como é comercializada para outros locais. Há o bokashi, calda à base de chorume do perecimento dos alimentos como a de beterraba e a de palmito, por exemplo; e outras que tradicionalmente fazem parte do tratamento fitossanitário do cultivo orgânico, como a calda bordalesa. A produção do café chega de 4 a 6 mil Kg por ano. No manejo do café agroecológico do Fojo a capina é registrada para o mês de Janeiro, e apenas uma vez por ano, assim também como a colheita que acontece entre os meses de junho a setembro. A poda é feita nos galhos que não são reprodutivos, cujos agricultores o denominam de “preguiçosos”, deixando o vigor da planta para as ramificações que frutificam. A hora da colheita também é importante para a qualidade do grão. Colhe-se manualmente apenas os que estão “granando” de cor já avermelhada, deixando no pé os que ainda estão verdes. Uma das características do café agroecológico em geral é a manutenção da produtividade todos os anos, diferente da agricultura convencional com uso de agrotóxicos na qual observa-se oscilação de produtividade ano a ano.
Além do cultivo, os agricultores fazem todo o processo do tratamento do café artesanal, limpam por abanação com peneira, secam ao sol no terreiro, torram no fogão a lenha ou na secadora, e finalizam com a moagem. O casal de agricultores Cecília e Antonio Galdino da Silva conta que antes de produzirem café, tomavam chá da folha do abacateiro, por não terem condições de comprar o café no comércio. Hoje, obtém o café natural para consumo próprio, geram renda através da comercialização do café orgânico torrado e moído na Feira Orgânica e Agroecológica de Guapimirim, na sua casa e de porta em porta na própria comunidade. O café nessa região significa muito mais que a produção, liga estas famílias à terra, produz identidade, tradição e afeto.
A história do café no Brasil A primeira muda de café, de espécie arábica, foi trazida da Guiana Francesa para o Brasil pelo SargentoMor Francisco de Mello Palheta a pedido do governador do Maranhão e Grão Pará em 1727. Com solo e clima favoráveis, o Nordeste foi primeiramente o território propício para o desenvolvimento da cafeicultura. No Ceará ainda é possível encontrar plantas originárias do tipo Palheta segundo a cafeóloga Moni Abreu, da consultoria Café! Café! Café!. Outra forma de disseminação do fruto pelo país foi por meio da iniciativa de D. João VI que mandou trazer sementes de Moçambique, distribuiu sesmarias aos fidalgos lusitanos para a cafeicultura, além de abrir os portos ao comércio internacional. No Brasil, a cultura cafeeira do século XIX tem importância histórica, política e econômica, tornando o país o maior exportador do grão, comercializado como uma commodity, ou seja, matéria-prima para ser processada em outros países. Quando o ouro e a cana de açúcar já não sustentavam a corte portuguesa, o café foi a atividade lucrativa que deu prosseguimento ao modelo produtivo baseado em monocultura e produção em larga escala, com mão de obra escrava. A partir da década de 1940, esse modelo segue como parte do projeto de desenvolvimento do país, apoiado na industrialização e modernização da
agricultura, mantendo aspectos conservadores do período da colonização. Esse modelo de desenvolvimento reproduziu as desigualdades e exploração (da terra, do homem e do meio ambiente), trazendo inúmeros problemas ambientais e de insegurança alimentar em diversas regiões. A partir da década de 1990, o Brasil delineia novo rumo na produção de cafés de qualidade atendendo o mercado interno e concorrendo internacionalmente com grãos especiais que compõem os melhores blends do mundo. Na cidade do Rio de Janeiro, as primeiras mudas chegaram no início da década de 1790 sendo cultivadas nos arredores dos vales montanhosos e no litoral para depois se espalharem pelo Maciço da Tijuca. Na época, o café da Tijuca era considerado de melhor qualidade, mas a alta produtividade da região acarretou uma série de problemas para a cidade que teve que se adaptar com a vinda da corte portuguesa, o aumento populacional, e o desmatamento da Mata Atlântica. Em 1844, D. Pedro II desapropriou os cafezais da região e iniciou o processo de reflorestamento da Floresta da Tijuca. Atualmente, além do Brasil ser o maior produtor mundial de grão de café é também o maior em diversidade de tipos, variando com a região, o clima e as culturas que dividem espaço com o fruto na lavoura, conforme explica a especialista Moni.
Valor nutritivo e uso culinários O café é símbolo de sociabilidade e convivência, seja na cidade ou na roça, tomar um a cafezinho é sempre uma pausa prazerosa. A espécie conilon é mais encorpada e possui níveis de cafeína e nutrientes mais elevados. A cafeína é um estimulante do sistema nervoso central, responsável por proporcionar vigor físico e bem estar, aumentar a capacidade de concentração, combater o sono, e uma aliada ao sistema respiratório. Há estudos que sugerem que a caféina tem efeitos benéficos para as doenças como diabetes tipo II, asma, cirrose alcoólica, determinados tipos de cancro, Doença de Parkinson e Alzheimer. De acordo com a sabedoria popular, o pó de café (borra) tem uma diversidade de usos diários. Pode ser aplicado à terra como adubo, é usado para afastar formigas e moscas; tirar cheiro de mofo, remover manchas do assoalho, entre outras funções. Além da bebida pura, ou com leite, há receitas de drinks, doces e bolos. Um dos mais famosos, é o tiramisú, doce típico italiano. Uma dica para reduzir o uso de açúcar, é temperar a bebida com a canela em pau, mexendo aos poucos e deixando o cafezinho perfumado e saboroso. Outra opção é adoçar com rapadura ou açúcar mascavo, pois são mais saudáveis que o açúcar branco ( refinado).
RECE ITA
Doce de rolo Chef Isaías Neries
Ingredientes: • 3 ovos inteiros • 2 gemas • 75 g de café forte • 200 g de açúcar • 200 g de manteiga sem sal • 150 g de cacau em pó ou chocolate em pó • 250 g de castanha do Pará, tostadas, quebradas e sem casca Modo de Preparo: 1. Num processador, bater os ovos, gemas e o café com o açúcar. 2. Acrescentar a manteiga e, em seguida, o cacau (ou chocolate) em pó. Quando todos os ingredientes estiverem bem incorporados, passar a mistura para uma vasilha e adicionar as castanhas. 4. Colocar esta mistura num filme plástico e enrolar, dando o formato de cilindro. 5. Levar para o congelador até ficar firme. 6. Tirar do congelador alguns minutos antes de servir. Retirar o filme plástico e cortar em rodelas grossas. Dica: se preferir, coloca a massa em forminhas de gelo e desenforme após endurecer.
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ENCONTRE OS “PRODUTOS DA GENTE” EM UMA FE IRA PERTO DE VOCÊ: FEIRA ORGÂNICA E AGROECOLÓGICA DE GUAPI Praça da Emancipação Centro - Guapimirim Todos os sábados de 8h às 14h
FEIRA AGROECOLÓGICA DA UFRJ Centro de Tecnologia e Centro de Ciências da Saúde, às quintas, de 13h às 17h
FEIRA DA ROÇA DE NOVA IGUAÇU Praça Rui Barbosa - Centro de Nova Iguaçu. Às quartas-feiras, de 8h às 17h
FEIRA DA AGRICULTURA FAMILIAR DE MAGÉ Rua São Fidelis, Centro de Piabetá, aos sábados, de 7h às 15h
FEIRA AGROECOLÓGICA DA FREGUESIA Praça Professora Camisão, em Jacarepaguá , aos sábados, de 7h às 13h
FEIRA ORGÂNICA DE CAMPO GRANDE Avenida Marechal Dantas Barreto, 95, atrás do estacionamento do West Shopping, aos sábados, de 7h às 13h
FEIRA DA ROÇA DE QUEIMADOS Rua Elói Teixeira, s/n°, centro de Queimados, passarela sob a linha férrea, às quintas-feiras, de 8h às 14h
“ O café é o esteio da agricultura familiar e da nossa cultura no Rio de Janeiro” Domingos, agricultor do Fojo, Guapimirim (RJ)
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Para saber mais sobre os Produtos da Gente:
fb.com/asptaagroecologia