Equipe Editorial Editores Científicos Alberto Souza Schmidt (UFSM) Neri dos Santos (UFSC) Editores de Seção Daniel de Moraes Joao (UFSM) José Augusto Arnuti Aita (UFSM) Maurício Nunes Macedo de Carvalho (UFSM) Comissão Científica Ademar Galelli (UCS) Adriano Rogério Bruno Tech (AFA/USP) Alcimar Chagas Ribeiro (UENF) Antonio José C. Pithon (CEFET-RJ) Antonio Carlos de Francisco (UTFPR) Carlos Eduardo Sanches da Silva (UNIFEI) Celso Rodrigues (UFPB) Elóide Teresa Pavoni (UCS) Everton Hillig (UNICENTRO) Fabiana Cunha Viana Leonelli (Embrapa) Fernando Gonçalves Amaral (UFRGS) Gisele Cristina Sena da Silva (UFPE) Guilherme Luís Roehe Vaccaro (UNISINOS) Ieda Kanashiro Makiya (UNIP) Janis Elisa Ruppenthal (UFSM) José Paulo Alves Fusco (UNESP) Junico Valle Antunes (UNISINOS) Leoni Pentiado Godoy (UFSM) Luiza Maria Bessa Rebelo (UFAM) Marcos Ricardo Rosa Georges (PUC) Nelson Casarotto Filho (UFSC) Paulo Mauricio Selig (UFSC) Rudimar Antunes da Rocha (UFSC)
Prezados leitores, A Revista INGEPRO é uma publicação eletrônica mensal, de caráter nacional, sediada na Incubadora Tecnológica de Santa Maria (Universidade Federal de Santa Maria UFSM). O foco da revista é trabalhos científicos inéditos na área de Engenharia de Produção e áreas correlatas, que contribuam para o avanço efetivo dos sistemas produtivos. Como forma de estimular e aumentar a visibilidade de trabalhos realizados nos Programas de Pós-Graduação, também serão publicadas dissertações e Teses, desde que defendidas e aprovadas nos seus cursos de origem. É o primeiro periódico científico eletrônico mensal da área indexado ao Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas, customizado pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciências e Tecnologia, do Ministério da Ciência e Tecnologia, baseado no software OJS, da Universidade British Columbia. Como forma de seguir sua índole de inovação, a Revista INGEPRO também desenvolveu uma versão flip, de sua revista original do SEER. A revista destina-se tanto à comunidade científica (pesquisadores, professores, pós-graduandos e graduandos) como empresarial (diretores, gerentes e profissionais). A língua oficial deste periódico é a portuguesa. Com isso, a Revista INGEPRO vem a ser um veículo para a divulgação de pesquisas, cuja finalidade é contribuir para o avanço da ciência e, desta forma, promover o desenvolvimento sócio-econômico nacional.
Equipe INGEPRO
Revista INGEPRO
INGEPRO – Inovação, Gestão e Produção o Agosto de 2011, vol. 03, n . 08 ISSN 1984-6193 www.ingepro.com.br equipe@ingepro.com.br
Sumário Pesquisa de Clima Organizacional: Busca da melhoria da Qualidade de Vida do colaborador em empresa de embalagens plásticas
001-010
Daiane Maria De Genaro Chiroli, João Gustavo Rossi, Maria de Lourde Santiago Luz, Vinicius Eduardo Ramos
Dispositivo Eletrônico para Auxílio na Locomoção de Deficientes Visuais e/ou Auditivos Baseado na Lógica Paraconsistente Anotada Evidencial Et
011-020
Uanderson Celestino, Jair Minoro Abe
Envelhecimento funcional precoce dos trabalhadores de uma lavanderia sob o enfoque dos riscos físicos e ergonômicos
021-031
Simone Caldas Tavares Mafra, Vania Eugênia Silva, Celina Angélica Lisboa Valente Carlos
Avaliação da estrutura física de lavanderias de indústrias de produtos de origem animal: um estudo de caso
032-039
Vania Eugênia Silva, Simone Caldas Tavares Mafra, Amaury Paulo Souza
Impacto de variações nos tempos de produção no resultado de um plano mestre de produção Fabio Favaretto, Milena Chang Chain, Ângelo Márcio Oliveira Sant'Anna
040-046
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Pesquisa de Clima Organizacional: Busca da melhoria da Qualidade de Vida do colaborador em empresa de embalagens plásticas. Daiane Maria De Genaro Chiroli <dmgenaro@hotmail.com> João Gustavo Rossi <jgr_2707@hotmail.com> Maria de Lourde Santiago Luz <msluz@uem.br> Vinicius Eduardo Ramos <vinnaramos@hotmail.com> Resumo: Este artigo descreve os resultados de uma pesquisa de clima organizacional em uma indústria de embalagens plásticas, a qual objetivou identificar os pontos críticos para a melhoria da qualidade de vida do seu colaborador durante a execução do seu trabalho. Com essas importantes informações em mãos, a empresa pode agir sobre os pontos críticos levantados, os quais foram primordiais para propor melhorias ao setor responsável por essa mudança. Com a pesquisa pode-se perceber o grau de satisfação dos colaboradores, a qual revelou a importância da reestruturação da política de trabalho, dos treinamentos, visando a melhora na relação entre os colaboradores e seus níveis superiores e dos benefícios necessários aos trabalhadores. Com base nas melhorias propostas, algumas não puderam ser executadas, devido à mudança de local de instalações da empresa, mas que ocorrerá até o fim deste ano corrente. Palavras-chave: Vantagem Competitiva; Pesquisa de Clima Organizacional; Qualidade de Vida no Trabalho.
Organizational Climate Survey: Search improved quality of life of the developer company in plastic packaging. Abstract: This paper describes the results of a survey of organizational climate in a plastic packaging industry, which aimed to identify critical points for improving quality of life for its employee during the execution of their work. With this important information at hand, the company may act on the critical points, which were crucial to propose improvements to the sector responsible for that change. Through research we can see the degree of employee satisfaction, which revealed the importance of restructuring the labor policy, the training in order to improve the relationship between employees and their higher levels and benefits of workers needed. Based on the proposed improvements, some could not be implemented due to change of location of business premises, but that will occur by the end of this year. Keywords: Competitive Advantage, Organizational Climate Survey, Quality of Working Life. 1. Introdução O mecado cada vez mais competitivo e globalizado tem exigido que as organizacões invistam tanto em qualidade como em tecnologia, mas nada disso adianta se não houver investimento em pessoas, o qual representa um diferencial competitivo estratégico. Para De Genaro Chiroli & Germani (2009), o treinamento e aprendizado deve ser considerado um fator crítico de sucesso, tendo como escopo o embasamento teórico, assim como o
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benchmarking de práticas bem sucedidas, devendo estas servir de parâmetros e suporte técnico para a implementação de ferramentas e programas de aprimoramento de gestão organizacional e melhoria da competitividade industrial. Para conduzir o treinamento e aprendizado, a empresa tem que conhecer o funcionário, o colaborador não chega ao seu local de trabalho como uma máquina nova. Para tanto, a pesquisa de clima organizacional possibilita ouvir o colaborador da empresa em relação a fatores internos e externos; mensurar o seu nível de qualidade de vida, é também um desafio para as organizações, e uma base sólida que pode ser implementada para a busca dos melhores resultados (CODA, 1998; OLIVEIRA, 1996). Esta pesquisa rege o objetivo de mostrar aos líderes das organizações os níveis de motivação e satisfação de seu colaborador, sobre a organização. Com o objetivo de identificar os pontos críticos para a melhoria da qualidade de vida do seu colaborador durante a execução do seu trabalho, e analisar os fatores impeditivos ao crescimento e sucesso organizacional, foi realizado um estudo de clima organizacional em uma indústria de embalagens plásticas, utilizando um questionário seguindo os preceitos de Bispo (2006), o qual elenca fatores internos relacionados à vida profissional, estrutura organizacional, incentivos profissionais, remuneração, meios de transporte, segurança profissional, nível cultural, ambiente de trabalho, cultura organizacional, assistência aos colaboradores e fatores externos, tais como, investimentos e despesas, convivência familiar, situação financeira, vida social, saúde, férias e lazer, os quais contribuíram para aferir as características comportamentais dos trabalhadores. Portanto, neste contexto, acredita-se que este estudo oferecerá aos gestores uma visão do cenário organizacional atual, refletindo a forma com que as práticas de gestão adotadas têm impactado no clima e cultura organizacional, favorecendo reestruturar a política da empresa em prol de melhores resultados. 2. Metodologia Este trabalho é caracterizado como um estudo de caso descritivo, de natureza qualitativa e as fontes de dados foram obtidas in loco utilizando questionários como instrumento para coleta de informações. Para Ruiz (2002) pesquisa descritiva tem como objetivo fundamental a descrição das características de determinada população ou fenômeno. Para Gil (2007) é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo, de maneira a permitir conhecimento amplo e detalhado, de um ou de poucos objetos. A aplicação da pesquisa de clima organizacional foi motivada por dois fatores. Por ser uma empresa certificada na norma SA 8000, a pesquisa deve ser praticada anualmente pela empresa a fim de obter informações detalhadas sobre as opiniões dos seus colaboradores. Em segundo, foi constatada durante o início do período de estágio na empresa uma grande insatisfação por parte dos colaboradores em relação a diversos fatores. Decidiu-se então, que a pesquisa de clima organizacional seria realizada pela primeira vez, por uma pessoa que não estivesse ligada ao departamento de Recursos Humanos e próximos às atividades dos colaboradores. O instrumento para a coleta de dados (questionário) foi elaborado contendo perguntas fechadas, conforme Anexo A, adaptado de Bispo (2006). Está subdividido em perguntas relacionadas a dois fatores: o internos a empresa, com 20 questões alternativas e o externo, com 13 questões alternativas, adicionados um campo para observações para que o colaborador relatasse observações sobre alguns itens do questionario, assim como sujestões ou justificativas das respostas. Algumas perguntas são compostas de quatro alternativas: Sim,
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Maioria das vezes sim (MVS), Não e Maioria das vezes não (MVN) e outras são compostas de apenas duas alternativas (Sim ou Não). Cada alternativa está identificada através de uma cor, conforme ilustra a Figura 1.
FIGURA 1 – Legenda
Com relação aos setores, estão identificados da seguinte maneira: Administração (ADM), Decoração (DEC 1ºT, DEC 2º T e DEC 3º T), Expedição, Ferramentaria (FER.), Manutenção (MAN.), Sopro/Injeção (SPR/INJ 1º T, SPR/INJ 2º T e SPR/INJ 3º T) e Zeladoria. O questionário foi entregue a todos os colaboradores da empresa sendo a participação de caráter espontâneo, as respostas eram sigilosas, não havendo a necessidade de identificação. 3. Caracterização da empresa A empresa em questão, objetivo deste estudo está situada na cidade de Maringá e tem sua história iniciada no ano de 1997. Fez parte do grupo francês Augros AS CRP, importante fornecedor de embalagens plásticas para o segmento de perfumaria e cosméticos da Europa. A partir do ano de 2006, a empresa teve sua trajetória renovada. Foi adquirida pelo grupo americano Aptar Goup, organização global com sede nos Estados Unidos e fornecedor mundial de sistemas dispensadores para os setores de fragrância, cosméticos, higiene pessoal e household. Se consolidou no mercado nacional e internacional atendendo à clientes de renome nacional e internacional como Avon, Natura, O Boticário, Anna Pegova, Ebel Paris, entre outros. A empresa possui atualmente certificação ISO 9001:2000 referente ao sistema de gestão integrada da qualidade de seus produtos e processos e SA 8000 que estabelece normas de responsabilidade social. Encontra-se em fase de adequação com o intuito de obter, futuramente, uma certificação e implantação de um sistema de gestão ambiental (ISO 14000). A adoção das normas ISO é vantajosa para as organizações uma vez que lhes confere maior organização, produtividade e credibilidade, elementos facilmente identificáveis pelos clientes, aumentando a sua competitividade nos mercados nacional e internacional. O setor de produção é estruturado em quatro setores: Sopro, Injeção, Decoração e Montagem do produto. Seu quadro de funcionários é composto em sua maioria por mulheres. 5. Resultados O questionário foi respondido por 95% do total de colaboradores da empresa. Após a coleta e tabulação dos dados e as manifestações e solicitaçoes dos colaboradores estes foram apresentados à gerência do departamento de Recursos Humanos. Com relação aos fatores internos, sob o aspecto estrutura organizacional mais especificamente a opinião dos colaboradores com relação ao seu chefe atual (Figura 2) e a confiança sobre eles (Figura 3), pode-se perceber uma insatisfação por parte do setor de Manutenção.
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DEC 3º T
MAN.
SPR/INJ 1º T
SPR/INJ 2º T
SPR/INJ 3º T
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
FER.
MVS
NÃO
MVN
SIM
EXPEDIÇÃO
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
DEC 2º T
MVS
NÃO
MVN
SIM
DEC 1º T
MVS
NÃO
MVN
SIM
ADM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
0
ZELADORIA
FIGURA 2 – O meu chefe atual é a melhor pessoa para ocupar esta função
100 90 80 70 60 50 40 30 20 10
EXPEDIÇÃO
SPR/INJ 1º T
SPR/INJ 2º T
SPR/INJ 3º T
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MAN.
MVN
SIM
MVS
NÃO
FER.
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
DEC 3º T
MVN
SIM
MVS
NÃO
DEC 2º T
MVN
SIM
MVS
NÃO
DEC 1º T
MVN
SIM
MVS
NÃO
ADM
MVN
SIM
MVS
0
ZELADORIA
FIGURA 3: Eu confio plenamente no meu chefe atual
Buscou-se, portanto, aprofundar a investigação quanto às causas deste resultado. Constatou-se que a origem deste problema foi resultado da reestruturação ocorrida poucos meses antes da aplicação da pesquisa de clima organizacional dentro do setor de manutenção onde passou a ser responsabilidade de outro gerente. Houve muita resistência por parte de alguns colaboradores do setor principalmente por parte do encarregado, que dizia preferir se aposentar a ter que trabalhar junto a esse novo gerente. Essa insatisfação foi gerada pela nova política de trabalho explicitada pelo novo gerente e por seu comportamento junto aos colaboradores do setor de manutenção quando ainda assumia somente a gerência do setor de Decoração. Em uma ocasião, um eletricista chegou a ser expulso do setor de Decoração pelo gerente por não estar realizando corretamente a manutenção em uma das máquinas do setor. Sob o aspecto remuneração, a Figura 4 ilustra as respostas da questão: acho justo o meu salário?
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NÃO
ADM
SIM
NÃO
SIM
DEC 1º T
NÃO
DEC 2º T
SIM
NÃO
DEC 3º T
SIM
NÃO
SIM
EXPEDIÇÃO
NÃO
SIM
FER.
NÃO
MAN.
SIM
NÃO
SPR/INJ 1º T
SIM
NÃO
SPR/INJ 2º T
SIM
NÃO
SPR/INJ 3º T
SIM
NÃO
ZELADORIA
FIGURA 4: Acho justo meu salário
Pode-se analisar que há insatisfação quase geral de todos os setores com relação aos salários recebidos, cerca de 80% dos entrevistados mostraram-se insatisfeitos. Em alguns questionáros no espaço destinado à observações, um colaborador deixou o seguinte depoimento, constatando sua insatisfação: “ Os novos funcionários que exercem o cargo de auxiliar de produção, recebem a mesma quantia dos colaboradores que já estão na empresa há algum tempo”. Outro exemplo foi a insatisfação feita por escrito por um colaborador do setor de Administração: “ Em relação a remuneração não estou satisfeito pois, um companheiro de trabalho que foi admitido recentemente e com grau de escolaridade inferior ao meu, desempenha função que está no mesmo nível ou um pouco menor condizente a responsabilidade e ganha pelo menos 30% a mais do que eu estando ainda em período de experiência”. Tal fato se deve a falta de uma política salarial na empresa, ou seja, falta uma política de cargos e salários. Política essa que, além de propiciar uma visão ampla ao seu colaborador de quais são suas reais possibilidades de crescimento profissional na empresa, elimina todo tipo de injustiça como a citada acima. Quanto aos fatores externos, mais especificamente ao grau de escolaridade há uma insatisfação geral dos colaboradores. (Figura 5) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10
EXPEDIÇÃO
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MAN.
MVN
SIM
MVS
NÃO
FER.
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
DEC 3º T
MVN
SIM
MVS
NÃO
DEC 2º T
MVN
SIM
MVS
NÃO
DEC 1º T
MVN
SIM
MVS
NÃO
ADM
MVN
SIM
MVS
0
SPR/INJ 1º T SPR/INJ 2º T SPR/INJ 3º T ZELADORIA
FIGURA 5: Estou satisfeito com o meu grau de escolaridade
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A empresa oferecia ao colaborador interessado aulas direcionadas às matérias do ensino médio para que eles prestassem a prova oferecida por um programa do governo. As aulas eram ministradas por alguns colaboradores da própria empresa graduados em matérias como Física, Letras, Química, entre outras. Mesmo sendo ofertadas gratuitamente, os colaboradores se desinteressaram após prestarem a prova e perceber que muito do conteúdo visto em sala de aula, não condizia com o conteúdo das provas. Outro aspecto externo a ser ressaltado é em relação à saúde do trabalhador, e na questão estou satisfeito com minha prática esportiva, cerca de 43% dos colaboradores responderam que não, a Figura 6 ilustra tal fato. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10
DEC 1º T
EXPEDIÇÃO
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
MAN.
MVN
SIM
MVS
NÃO
FER.
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
DEC 3º T
MVN
SIM
MVS
NÃO
DEC 2º T
MVN
SIM
MVS
NÃO
MVN
SIM
MVS
NÃO
ADM
MVN
SIM
MVS
0
SPR/INJ 1º T SPR/INJ 2º T SPR/INJ 3º T ZELADORIA
FIGURA 6: Estou satisfeito com minha práticas esportivas
A insatisfaçao em relação às praticas esportivas, também foi relatada nas observações do questionário pelos funcionários: “A empresa deve e tem que incentivar mais o esporte, deixam muito a desejar neste aspecto”, outro colaborador ressalta: “Para melhoria das atividades na empresa seria interessante incentivo à prática de esporte a todos, homens e mulheres.” A empresa possui em sua estrutura física um campo de futebol, quadra poli - esportiva e uma associação contendo um bom espaço físico para a realização de atividades. Porém as condições da associação e da quadra esportiva são precárias estando em um estado de semiabandono. Houve uma iniciativa por parte de alguns colaboradores para que houvesse a reforma da quadra, porém foi exposto que nenhum investimento seria feito devido à mudança do local da empresa que ocorrerá devido à venda do terreno onde está localizada atualmente. Algumas práticas esportivas que ocorrem na empresa são realizadas apenas por iniciativa de alguns colaboradores. 4. Consideraçoes finais A pesquisa foi estratificada por setores e por turnos, proporcionando uma melhor análise da opinião dos colaboradores, culminando no alcance dos objetivos traçados. A entrega dos formulários diretamente aos responsáveis dos setores, para posterior distribuição aos colaboradores, também pode ser considerado um ponto de destaque, fato este que pode ser comprovado pelo alto índice de participação dos funcionários.
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Alguns dos dados serviram como base de dados para a realização de treinamentos visando a melhora na relação entre os colaboradores e seus níveis superiores (Gerentes e Encarregados). Outros serviram para dar um impulso final na tomada de decisão, como por exemplo, o benefício do Plano de Saúde cedido pela empresa. Muitas propostas de melhorias foram expostas ao setor de Recursos Humanos, porém devido a alguns fatores como: mudança pela qual a empresa vem atravessando (novas instalações) e também a falta de comprometimento dos responsáveis, os dados servirão apenas para ratificar a situação pela qual a empresa vem passando há certo tempo. De um modo geral o resultado final foi muito positivo. A realização da pesquisa de clima organizacional sendo de responsabilidade de pessoas mais ligadas aos colaboradores durante a execução do seu trabalho pode proporcionar informações mais reais. Referências CODA, R.. Pesquisa de clima organizacional e gestão estratégica de recursos humanos. In: BERGAMINI, C. W.; CODA, R. Psicodinâmica da vida organizacional: motivação e liderança. São Paulo: Atlas, 1997. DE GENARO CHIROLI, D.M. & GERMANI, E. Uma análise do ponto de vista dos colaboradores de uma empresa moveleira em relação às práticas de gestão implementadas. XVI Simpósio de Engenharia de Produção. Bauru, 2009. LIMONGI, A. C. Qualidade de Vida no Trabalho - QVT: Conceitos e práticas nas empresas da sociedade pósindustrial. 2ª edição São Paulo: Atlas, 2004. BISPO, C.F. Um Modelo de Clima Organizacional. Revista Produção. Vol. 16, p.258-273, 2006. CHIAVENATO, I. Gestão de Pessoas: e o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 2ª edição Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. DEJOURS, C. A loucura do Trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 5ª ed. Ampliada. São Paulo: CortezOboré,1994. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de Pesquisa Social. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007. LIMONGI, A. C. Qualidade de Vida no Trabalho - QVT: Conceitos e práticas nas empresas da sociedade pósindustrial. 2ª edição São Paulo: Atlas, 2004. LUZ, J.P. Metodologia para análise de clima organizacional: um estudo de caso para o Banco do Estado de Santa Catarina. Florianópolis: UFSC, 2001. Dissertação (Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção), Universidade Federal de Santa Catarina, 2001. Disponível em <http://www.estela.ufsc.br/defesa/pdf/10805/pdf>. Acesso em 08 de janeiro de 2009. LUZ, M.L.S. et. al. Pesquisa de clima organizacional: Influência da qualidade de vida no trabalho. XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Foz do Iguaçu, 2007. OLIVEIRA, W. M. Perfil analítico-descritivo da pesquisa sobre clima organizacional em instituições de ensino superior: 1970-1995. Tese de doutorado. Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996. RUIZ, J. Á. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
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ANEXO A Fatores Internos 1) Vida Profissional 1. Sinto orgulho em trabalhar nesta empresa. ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim 2. Sinto orgulho da minha atividade nesta empresa.
( ) não
( ) na maioria das vezes não
( ) sim ( ) na maioria das vezes sim 3. Eu me preocupo com o futuro desta empresa.
( ) não
( ) na maioria das vezes não
( ) na maioria das vezes ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim ( ) não não 4.Considero que estou conseguindo sucesso na minha carreira e na minha vida profissional. ( ) na maioria das vezes ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim ( ) não não 5. Gostaria que meus filhos trabalhassem nessa empresa. ( ) na maioria das vezes ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim ( ) não não 6. Os cursos e treinamentos que fiz são suficientes para o exercício das minhas atividades. ( ) na maioria das vezes ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim ( ) não não 2) Estrutura Organizacional 7. O meu chefe atual é a melhor pessoa para ocupar esta função. ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim 8. Eu confio plenamente no meu chefe atual ( ) sim
( ) na maioria das vezes sim
( ) não
( ) na maioria das vezes não
( ) não
( ) na maioria das vezes não
3) Incentivos Profissionais 9. Considero que o meu trabalho é reconhecido e valorizado pela empresa. ( ) na maioria das vezes ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim ( ) não não 10. Considero que o meu trabalho é reconhecido e valorizado pela minha família, amigos e parentes. ( ) na maioria das vezes ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim ( ) não não 4) Remuneração 11. Acho justo o meu salário. ( )sim 12. O meu patrimônio é condizente com os esforços que tenho feito pela empresa. ( )sim
( ) não ( ) não
5) Transporte 13. Tenho tido problemas com o transporte casa-empresa/empresa-casa ( ) sim
( ) na maioria das vezes sim
( ) não
( ) na maioria das vezes não
6) Segurança Profissional 14. Meu emprego é seguro na empresa, ou seja, não corro o risco de ser demitido sem motivo. ( )sim ( ) não
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INGEPRO – Inovação, Gestão e Produção o Agosto de 2011, vol. 03, n . 08 ISSN 1984-6193 www.ingepro.com.br equipe@ingepro.com.br 7) Nível Cultural 15. Os meus conhecimentos são suficientes para o exercício das minhas atividades na empresa. ( ) na maioria das vezes ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim ( ) não não 8) Ambiente de Trabalho 16. As condições ambientais de trabalho ajudam a execução de minhas atividades na empresa.(iluminação, ruídos,temperatura, entre outros). ( ) na maioria das vezes ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim ( ) não não 17. Estou satisfeito com a minha alimentação na empresa. ( ) na maioria das vezes ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim ( ) não não 18.Estou satisfeito com o horário que trabalho. ( ) na maioria das vezes ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim ( ) não não 9) Cultura Organizacional 19. As tradições, práticas e costumes adotados na empresa que estão previsto em suas regras favorecem as minhas atividades na empresa ( ) na maioria das vezes ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim ( ) não não 10) Assistência aos Colaboradores 20. A assistência do médico do trabalho, psicólogas e ginástica laboral adotadas na empresa favorecem a execução das minhas atividades? ( ) na maioria das vezes ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim ( ) não não Fatores Externos 1) Investimentos e Despesas 21. Eu me preocupo com o futuro da minha família. ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim ( ) não 22. Estou satisfeito com a alimentação que estou dando a minha família. ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim 23. Estou satisfeito com a educação que estou dando aos meus filhos. ( ) sim
( ) na maioria das vezes sim
( ) na maioria das vezes não
( ) não
( ) na maioria das vezes não
( ) não
( ) na maioria das vezes não
( ) não
( ) na maioria das vezes não
( ) não
( ) na maioria das vezes não
( ) não
( ) na maioria das vezes não
2) Convivência Familiar 24. Estou satisfeito com a minha vida amorosa. ( ) sim
( ) na maioria das vezes sim
3) Situação Financeira 25. Estou satisfeito com minha residência. ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim 26. Estou satisfeito com minha situação financeira. ( ) sim
( ) na maioria das vezes sim
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INGEPRO – Inovação, Gestão e Produção o Agosto de 2011, vol. 03, n . 08 ISSN 1984-6193 www.ingepro.com.br equipe@ingepro.com.br 4) Vida Social 27. Estou satisfeito com a minha classe social. ( ) sim ( ) na maioria das vezes sim 28. Estou satisfeito com o meu convívio social.
( ) não
( ) na maioria das vezes não
( ) sim ( ) na maioria das vezes sim 29. Estou satisfeito com o meu grau de escolaridade.
( ) não
( ) na maioria das vezes não
( ) não
( ) na maioria das vezes não
( ) sim ( ) na maioria das vezes sim 31. Estou satisfeito com minha forma física.
( ) não
( ) na maioria das vezes não
( ) sim ( ) na maioria das vezes sim 32. Estou satisfeito com meu estado mental.
( ) não
( ) na maioria das vezes não
( ) não
( ) na maioria das vezes não
( ) sim
( ) na maioria das vezes sim
5) Saúde 30.Estou satisfeito com as minha práticas esportivas.
( ) sim
( ) na maioria das vezes sim
6) Férias e Lazer 33. Estou satisfeito com minhas últimas férias. ( )sim
( ) não Observações:
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Dispositivo Eletrônico Para Auxílio na Locomoção de Deficientes Visuais e/ou Auditivos Baseado na Lógica Paraconsistente Anotada Evidencial E Uanderson Celestino (UNIP) uandersoncelestino@yahoo.com.br Jair Minoro Abe (UNIP) jairabe@uol.com.br Resumo:Este trabalho apresenta as etapas de desenvolvimento e construção de um dispositivo eletrônico para auxílio na locomoção de deficientes visuais e/ou auditivos. O dispositivo é composto basicamente de dois sensores de ultrassom. O tratamento das informações captadas pelos sensores é processado através de um microcontrolador da família 8051 dotado de um algoritmo de controle que se baseia na Lógica Paraconsistente Anotada Evidencial E (Para-analisador). Um dos sensor indica o grau de evidência favorável (µ), e o outro indica o grau de evidência contrária (), ambos relativos à proposição considerada: “não há obstáculo à frente”. A existência de obstáculos é transmitida pela vibração gerada por dois micromotores vibratórios. Assim o usuário do dispositivo pode identificar obstáculos e escolher o melhor caminho a seguir. Palavras-chave: lógica paraconsistente anotada evidencial Eτ; microcontrolador; sensor de ultrassom.
Electronic Device To Aid the Movement for the Visually Impaired and / or Hearing Based on Annotated Paraconsistent Logic and Evidential E Abstract: This paper presents the stages of development and construction of an electronic device to aid in moving the visually impaired and / or hearing. The device consists basically of two ultrasonic sensors. The handling of information captured by the sensors is processed by a microcontroller of the family gifted with a 8051 control algorithm which is based on Annotated Paraconsistent Logic and Evidential (Para-analyzer). One of the sensor indicates the degree of favorable evidence (μ) and the other indicates the degree of contrary evidence (), both considered on the proposition: "there is no obstacle ahead. " Obstacles is transmitted by the vibration generated by vibrating two micro-motors. So the user of the device can identify obstacles and choose the best way forward. Keywords: annotated logic paraconsistent evidential Eτ; microcontroller, ultrasonic sensor. 1. Introdução Em vista do avanço da Inteligência Artificial (IA), com aplicação nos mais variados campos, tais como robótica, automação industrial, etc. torna-se natural tentar aplicá-la no auxílio às pessoas portadoras de deficiência física. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define como Cegueira Legal a acuidade visual, no olho de melhor visão, sendo este igual ou menor que 6/60, ou correspondente à perda de campo visual, sendo este restrito a 20 graus de amplitude, com a melhor correção óptica, ou seja, o que uma pessoa com visão normal consegue ler ao se colocar a uma
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distância 60 metros, uma pessoa com baixa visão só poderá ler a seis metros de distância (OHW, 2003). Acuidade visual ou agudeza visual é a capacidade de transformar estímulos luminosos, que são refletidos dos objetos que estão à nossa volta em imagens, permitindo sua identificação e localização (SBO, 2009). No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2000, existiam 148 mil pessoas cegas e 2,4 milhões com grande dificuldade de enxergar (IBGE, 2004). Estima-se que existam entre 40 e 45 milhões de cegos em todo o mundo e 135 milhões de pessoas com baixa visão. No entanto, em 80% dos casos, a perda visual pode ser prevenida ou mesmo curada, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira. Estima-se que 90% dos casos de cegueira ocorrem nos países em desenvolvimento. As principais causas de cegueira evitável são catarata, tracoma, oncocerquiase, certos transtornos que atingem as crianças, incluindo a deficiência de vitamina A e retinopatia, doença degenerativa não inflamatória da retina e da falta de óculos (OHW, 2003). 2. O Comportamento do Deficiente Visual As pessoas cegas e com baixa visão normalmente necessitam do auxílio de terceiros para identificar endereços, itinerários do transporte público e outras referências para a locomoção. As barreiras percebidas durante a locomoção em vias públicas fazem do espaço urbano um local de inúmeros riscos para qualquer pessoa, e com maior risco para deficientes visuais. Acessibilidade, segundo a definição da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), é a “possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos” (ABNT, 2004). A acessibilidade é uma condição básica para a inclusão social das pessoas com deficiências ou que tenham necessidades especiais. Em uma sociedade que se utiliza de modernas tecnologias de informação e de comunicação, acessibilidade plena passa a ser uma necessidade constante nos centros urbanos. Com o início das pesquisas, um trabalho de coleta de informações junto aos deficientes visuais mostrou-se necessário para que pudesse haver um entendimento sobre o assunto. Com os primeiros relatos observou-se a necessidade de haver uma proteção para a área do rosto e partes superiores do corpo. Isso ocorre porque não há um equipamento ou dispositivo que possa detectar obstáculos a esta altura. Foram listados alguns destes objetos responsáveis por esse tipo de acidentes: cestos de lixo apoiados em postes, telefones públicos, galhos de árvores, entre outros obstáculos comumente encontrados nos percursos de deslocamento dos deficientes visuais nas cidades. Os elementos da vegetação dentre os quais ramos pendentes, plantas entouceiradas, galhos de arbustos e de árvores devem ser preservados de modo a não interferirem na circulação (ABNT, 2004).
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3. Metodologia São conhecidos como sistemas de interação do deficiente visual à sociedade o cãoguia, sistemas de saída em Braille, sistemas de reconhecimento de voz, sistemas de saída de voz, entre outros. Estes sistemas citados apresentam pontos positivos e negativos em sua implementação. Os custos desses dispositivos são altos e requerem muitas horas de treinamento para que os deficientes visuais possam usá-los, por isso, na prática, uma grande parte dos deficientes visuais não tem condições de adquiri-los, o que os torna pouco usados. O trabalho foi pautado em uma solução que associa os recursos da microeletrônica com o uso de processadores capazes de processar informações, com agilidade suficiente para garantir a segurança de quem depende do resultado das informações processadas, e o apoio da Lógica Paraconsistente Anotada Evidencial E que possibilita que dados imprecisos ou conflitantes possam ser manipulados, e destes possam ser extraídas informações relevantes. 4. A Lógica Paraconsistente Anotada Evidencial Et A lógica clássica limita-se apenas a dois estados lógicos, o verdadeiro e o falso. Quase todos os conceitos do mundo real possuem um grau de imprecisão, e ao manipular elementos deste mundo têm-se respostas que não serão absolutamente falsas ou verdadeiras. A Lógica Paraconsistente pertence à classe das lógicas chamadas não-clássicas e teve origem nos trabalhos elaborados e publicados em 1948, de modo independente, por Stanislaw Jaskowski, um polonês, e pelo brasileiro Newton C.A. da Costa. Esses trabalhos pioneiros consideravam a contradição e foram denominados “paraconsistentes”, que significa “ao lado de”. O termo foi cunhado pelo filósofo peruano Francisco Miró Quesada em 1976. Um sistema lógico nomeia-se paraconsistente se puder ser empregado como lógica subjacente de teoria inconsistente, porém, não-triviais. Isto leva a derrogar o princípio da nãocontradição, entre duas proposições contraditórias, uma é falsa. A Lógica paraconsistente permite manipular sistemas informacionais inconsistentes e extraordinariamente fortes, sem a necessidade de eliminar as contradições e sem a ocorrência de trivialização (ABE E DA SILVA FILHO, 1999). Na Lógica Paraconsistente Anotada (LPA) as fórmulas proposicionais vêm acompanhadas de anotações. Cada anotação pertencente a um reticulado finito , que atribui valores à sua correspondente fórmula proposicional. Percebe-se o significado da proposição por meio de uma linguagem. Na Lógica Paraconsistente Anotada a anotação é composta por dois valores, um que representa a evidência favorável à proposição p, e outro que representa a evidência contrária à proposição p. De forma intuitiva, podemos dizer que a proposição p pode pertencer a um dos quatro estados lógicos extremos da LPA: v f T ┴
= verdadeiro = falso = inconsistente = paracompleto
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É denominada “crença” a evidência favorável à proposição p, portanto, grau de crença é o primeiro valor da anotação. É denominada “descrença” a evidência contrária à proposição p, portanto, grau de descrença é o segundo valor da anotação. O grau de crença é simbolizado por µ e o grau de descrença, por . Com essas considerações, cada constante anotacional do reticulado é representada pelo par ordenado (µ,), em que: µ = grau de evidência favorável = grau de evidência contrária Consideremos, então, o reticulado de Hosse com anotação de dois valores, ={(µ,) | µ, [0, 1] R} apresentado conforme o Quadro 3.4.1 : Se p é uma fórmula básica, o operador ~:|||| é definido como: ~[(µ,)]=(µ,) em que, (µ,) {x R | 0 ≤ x ≤ 1}, considera-se (µ,) como anotação de p. Assim, o valor do grau de evidência favorável µ e o grau de evidência contrária são completamente independentes A Lógica Paraconsistente Anotada Evidencial E constitui uma lógica não-clássica que aceita e trata contradições e admitem outros estados lógicos entre os extremos da falsidade e da verdade, de modo não-trivial em seu interior (ABE, 1992). Na análise paraconsistente o objetivo principal é intuitivamente saber com que medida ou "grau de certeza" se pode afirmar que uma proposição é falsa ou verdadeira. Portanto, é considerado como resultado da análise apenas o valor do grau de certeza Gc. O valor do grau de contradição Gct é um indicativo que informa a medida da inconsistência. Se houver um baixo valor de certeza ou muita inconsistência o resultado é uma indefinição. Podemos calcular também o grau de certeza Gc pela equação: Gc = µ - . O grau de certeza varia de -1 a +1 e seu valor corresponde à distância do ponto de interpolação entre o grau de evidência favorável e o grau de evidência contrária. Pode-se calcular o Grau de contradição Gct aplicando a fórmula Gct = µ + - 1. O grau de contradição varia de -1 a +1, e seu valor é correspondente à distância do ponto de interpolação entre os graus de evidência favorável, e do grau de evidência contrária. Como citado por ABE (1992) e ABE e DA COSTA (2000), a discordância entre especialistas em um determinado domínio é comum e pode ser significativa na solução de problemas. Por exemplo: numa situação na qual se busca chegar a um determinado local desconhecido, é natural colhermos informações com pessoas que conhecem a região aonde se pretende ir. Se as informações colhidas são divergentes, será mais produtivo analisar melhor a situação, talvez colhendo mais informações. Assim, tais inconsistências são mais bem acomodadas em uma lógica Paraconsistente, em relação à lógica Clássica. A Lógica Paraconsistente Anotada Evidencial E constitui uma lógica não-clássica que aceita e trata contradições e admitem outros estados lógicos entre os extremos da falsidade e da verdade, de modo não-trivial em seu interior (ABE, 1992). 5. Algoritmo Para-analisador O Algoritmo Para-analisador é construído para efetuar os cálculos que determinam o Grau de Contradição e o Grau de Certeza. O algoritmo também faz a comparação entre os
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valores encontrados e os ajustes externos para definir as regiões do reticulado que representam o estado lógico que será apresentado na saída do algoritmo. O QUPC é dividido em 12 regiões e permite análises para tomadas de decisão. Para a análise do dispositivo foram utilizadas quatro regiões, sendo elas: Verdadeiro, Falso, Paracompleto e Indeterminado (DA SILVA FILHO E ABE, 2001). O Algoritmo Para-analisador pode ser utilizado em softwares aplicativos ou firmwares. Segundo a definição de Gimenez (2002), firmware é o programa ou software que se encontra exclusivamente instalado em uma unidade de memória não-volátil (não perde as informações gravadas mesmo não estando energizada). O software que gerencia as funcionalidades do dispositivo foi desenvolvido em Assembly, linguagem de máquina que demanda do programador um conhecimento do hardware utilizado (PEREIRA, 2003), ou como analisador em sistemas especialistas nas áreas de Economia, Medicina e Marketing, entre outras. 6. Hardware 6.1. Microcontrolador Para o desenvolvimento do projeto foi utilizado um microcontrolador 89S52 (Atmel), que se destaca por possuir: 8K Bytes de memória flash, possibilitando sua reprogramação; baixa tensão de operação entre 4.0V a 5.5V; 32 portas de I/O (input/output) programáveis, além do baixo custo. O software que gerencia o dispositivo é gravado na memória flash do microcontrolador e, desta forma, ao ser energizado, o programa interno será executado. As operações aritméticas e lógicas referenciadas pelo programa são executadas pela ULA (Unidade Lógica e Aritmética). Quanto mais poderosa a ULA do microcontrolador, maior será sua capacidade de processar as informações. A maioria das operações feitas com este µc ocorre na RAM interna. Esta afirmação pode soar estranha, pois para os padrões atuais, uma RAM 256 bytes parece exageradamente pequena. No entanto, devemos ter em mente que, quando usamos um µc, não pretendemos fazer processamento pesado e nem executar programas sofisticados, como acontece no PC. 6.2. Sensor de Ultrassom O funcionamento do Sonar (Sound Navigation and Ranging) baseia-se no princípio do eco. Um sinal ultrassônico de curta duração é enviado e o tempo até o eco ser recebido é medido. Sabendo-se a velocidade do som no ar, calcula-se a distância. Ultrassom se refere a todas as frequências acima da faixa que podem ser percebidas pelo ouvido humano. O termo se refere às frequências acima de 20kHz. Animais como golfinhos e morcegos, que se utilizam da emissão e da recepção de sinais de ultrassom para a navegação e para a comunicação, geram sinais em uma faixa que varia entre 20 a 100KHz (SELVI et al., 2008). O sonar tem seu princípio de funcionamento baseado no eco, fenômeno físico devido à reflexão de uma onda acústica por um obstáculo. O funcionamento do Sonar (Sound Navigation and Ranging) baseia-se no princípio do eco. Um sinal ultrassônico de curta duração é enviado e o tempo até o eco ser recebido é medido. Sabendo-se a velocidade do som no ar, calcula-se a distância. O sonar tem seu princípio de funcionamento baseado no eco, fenômeno físico devido à reflexão de uma onda acústica por um obstáculo.
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6.3. Motor Elétrico Vibratório O sentido do tato se encontra por toda a superfície do corpo humano não havendo uma região específica, uma vez que todo o tecido possui receptores nervosos que percebem vibrações e variações de temperatura. A interface entre o usuário e o dispositivo é feita através do sentido mais usado pelo deficiente visual, o tato. Por intermédio desse sentido podem-se perceber os ambientes, como ao se fazer uso da bengala e utilizá-la como uma extensão dos braços, ou quando se faz a leitura de um texto em Braille. Para enviar as informações ao usuário do dispositivo foram utilizados dois micromotores vibratórios elétricos de corrente contínua com diâmetro de 7mm e comprimento de 16,5mm. A tensão de alimentação dos motores variam entre 1.3VCC com uma corrente de 60 mA (PRECISION MICRODRIVES, 2005). A vibração dos motores permite que o usuário crie uma imagem mental do ambiente o qual ele está percorrendo. O motor vibratório é um motor elétrico de corrente contínua, com o eixo fora do centro. Quando o motor começa a girar esse eixo fora do centro produz uma vibração que pode ser percebida pelo usuário do dispositivo. 6.4. Alimentação do Circuito A alimentação do dispositivo é feita por quatro pilhas recarregáveis modelo AA NiMH (Níquel-Metal Hydride). Cada pilha com uma tensão nominal de 1,2 Volts associadas em série, totalizando uma tensão de 4,8 Volts. Deste conjunto de pinhas energiza todos os componentes elétricos e eletrônicos do aparelho. A carga das baterias depende do número de obstáculos encontrados durante o percurso realizado pelo usuário do dispositivo. A tensão mínima para garantir o bom funcionamento do dispositivo é de 4,3Volts, sendo que uma tensão inferior à referida reduz a confiabilidade das medições efetuadas pelos sensores. 7. Dispositivo Keller Após a realização da pesquisa junto aos colaboradores deficientes visuais que contribuíram de forma atuante, foi observado que havia uma preocupação em proteger os membros superiores, bem como o rosto e os ombros, pois o uso de uma bengala proporciona uma varredura muito eficiente, porém, com uma cobertura limitada e, conforme foi constatado, a bengala faz a detecção somente de objetos estáticos, não dando ao deficiente visual a percepção de objetos que se movem. Segundo a ABNT, barreira arquitetônica, urbanística ou ambiental é "qualquer elemento natural, instalado ou edificado que impeça a aproximação, transferência ou circulação no espaço, mobiliário ou equipamento urbano" (ABNT, 2004). Com base na pesquisa que consultou a opinião do público interessado no desenvolvimento desse projeto conclui-se que o melhor local para a fixação dos sensores neste protótipo seria em óculos, por ser um acessório que já está incorporado ao dia-a-dia do deficiente visual. Com estas considerações iniciais, foi possível avançar uma etapa importante: a de adaptação com mais uma fonte de informação, as fornecidas pelos sensores de ultrassom.
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O projeto contempla que os componentes elétricos e eletrônicos sejam alojados na estrutura dos óculos, e somente as pilhas de alimentação do protótipo não foram acomodadas junto às hastes. 8. Funcionamento do Dispositivo Keller O dispositivo é composto basicamente de dois sensores de ultrassom (um à esquerda e o outro à direita), cujo tratamento das informações captadas por eles é processado através de um microcontrolador que possui um algoritmo de controle que se baseia na Lógica Paraconsistente Anotada Evidencial E. O sensor da direita indica o grau de evidência favorável (µ), e o da esquerda indica o grau de evidência contrária (), ambos relativos à proposição considerada: “não há obstáculo à frente”. Pela vibração gerada por dois motores vibratórios, o usuário do dispositivo pode identificar obstáculos e escolher o melhor caminho a seguir. Nesta aplicação, o microprocessador processa as informações captadas pelos sensores, com o uso da lógica Paraconsistente Anotada em que é possível manipular informações incertas, conflitantes ou até mesmo a falta de informação. O dispositivo conta com um sensor S1 que representa o sensor que traz a evidência favorável, e S2 que representa o sensor que traz a evidência contrária. O valor lido pelo sensor S2 representa a distância entre o sensor e o obstáculo, como os sensores S1 e o S2 são sensores idênticos, porém, com funções diferentes nesta aplicação, existe a necessidade de atribuir à () evidência desfavorável um valor que é o complemento do grau percebido por S2, ou seja, = 1 - S2. 9. Memorização do Ambiente As principais lacunas na educação da pessoa cega dizem respeito a sua independência na locomoção, ou seja, a sua mobilidade. Desde os primórdios da história, a locomoção do cego é citada ou em desenhos ou por relatos escritos. Um dos primeiros relatos é o do profeta Isaac, que ficou cego depois de certa idade e se deslocava com facilidade pelos campos com seu cajado de pastor, sendo assim, uma das primeiras bengalas da história. A orientação e mobilidade podem ser definidas como um conjunto de capacidades e técnicas específicas que permitem à pessoa deficiente visual conhecer, relacionar-se e deslocar-se com independência (AIADV, 2009). A orientação e mobilidade fazem uso de técnicas específicas de proteção e exploração, deste modo o indivíduo se locomove com segurança e independência. Essa locomoção independente é vital para o deficiente visual devido aos benefícios psicológicos, físico, social e econômico e, principalmente, dá à pessoa o seu direito de ir e vir como um cidadão comum. Para os deficientes visuais também vale dizer que “aprendemos com nossos erros”. Através de relatos e informações colhidas na Fundação Dorina Nowill para Cegos, conclui-se que para se locomover, o deficiente visual cria em sua mente mecanismos para guardar características e pontos de referências sobre os locais por onde ele passa. As informações relevantes sobre determinado ambiente ou caminho a ser percorrido são armazenadas na memória e quando, por exemplo, um deficiente visual entra em uma sala,
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e ele esbarra em uma parede ou coluna, aquele contato serve como uma informação importante que será guardada em seu mapa mental. Isso faz com que, posteriormente, ao passar pelo mesmo local ele se lembrará que ali se encontra aquela parede ou coluna e isso aguçará sua curiosidade para explorar o resto do ambiente. 9.1. Obstáculo Por definição do dicionário Aurélio, obstáculo é tudo que impede ou dificulta a realização de alguma coisa; embaraço, estorvo ou impedimento. Precisamos desta definição para poder fazer uma consideração importante sobre o que é obstáculo e o que é uma situação que compõe um ambiente. Vamos dar o exemplo de uma mesa em uma sala: se a mesa não estiver fora do local onde normalmente deve estar ela não é por assim dizer um obstáculo, pois ela pertence ao contexto daquela sala. Porém, se nesta mesma sala encontra-se uma cadeira muito afastada da mesa em um local que pode atrapalhar a passagem de pessoas, então podemos dizer que esta cadeira é um obstáculo. Estas constatações vêm ao encontro do objetivo do protótipo que estamos desenvolvendo: detectar a presença ou a ausência de um obstáculo e gerar informações suficientes para que o usuário tome suas próprias decisões. A identificação de um obstáculo pode servir de subsídio para o deficiente visual, pois este passa a ser um ponto de referência para a sua locomoção. 10. Testes com o Dispositivo Keller Para os testes, os voluntários colaboradores da Fundação Dorina Nowill, fizeram um trajeto que normalmente fazem pelas ruas do bairro, nas proximidades da Fundação Dorina Nowill. Nos testes, contou-se apenas com o auxílio do dispositivo e com o apoio da bengala que fazia a varredura do terreno. O objetivo foi verificar se alguns parâmetros estavam devidamente ajustados, como o tempo de resposta fornecido pelo dispositivo e a área de cobertura dos sensores. Os sensores, nesta oportunidade, foram ajustados e o tempo de resposta se mostrou suficiente para a reação do usuário. Com os testes realizados na calçada pode-se ter uma correta avaliação do comportamento do dispositivo em uma situação real, que se mostrou eficiente ao identificar objetos na altura do rosto de seu usuário. Foi observado o tempo de resposta do aparelho e a velocidade com que o usuário responde aos estímulos gerados pelos micromotores. Uma situação que representa um risco para o deficiente visual são as árvores com o galho muito baixo. Estes galhos que não foram podados representam um risco para os deficientes visuais que passam pela calçada. Ao passar pelo local, o deficiente visual fatalmente colide com a cabeça nesse tipo de obstáculo. Com o auxílio do dispositivo, o deficiente visual pode perceber que havia um obstáculo à frente. Este obstáculo não foi detectado pela bengala em função da altura em que se encontra o galho da árvore.
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Nos testes, o dispositivo permitiu a detecção deste tipo de obstáculo com uma margem de erro de 10%, ou seja, de cada 10 testes realizados, em um deles o dispositivo não alertava o usuário a tempo de tomar uma ação preventiva. Foi elaborado um experimento para simular uma situação real, onde o deficiente visual teria que atravessar um corredor tendo alguns obstáculos espalhados estrategicamente pelo caminho a ser percorrido (colunas feitas com caixas de papelão). O objetivo do teste foi fazer com que o deficiente saísse do ponto indicado como início e chegasse até o ponto indicado como objetivo O dispositivo se mostrou eficaz na detecção dos obstáculos, à medida que o usuário prosseguia com o percurso era alertado da existência de cada coluna. Foram detectadas algumas falhas em função do desvio do sinal de ultrassom formar um ângulo menor que 60º em relação às paredes dos obstáculos. 11. Conclusão Pelos testes realizados, tendo em vista a precisão das informações passadas pelo dispositivo ao usuário, pôde ser constatado que o dispositivo atende às expectativas iniciais deste projeto, informando ao usuário quanto à existência de obstáculos. O trabalho mostra que não tem a pretensão de criar um dispositivo que prive o deficiente de sua individualidade, e nem alterar a maneira como se comporta ao se locomover. Com a avaliação dos resultados alcançados, constatou-se, mais uma vez, que a Lógica Paraconsistente Anotada surge como uma importante ferramenta no desenvolvimento de projetos ligados à área de IA e robótica. Um ponto positivo observado foi a detecção de objetos em movimento. Durante os testes, o dispositivo permitiu que o usuário percebesse a presença de pessoas que circulavam ao seu redor - a bengala se limita à detecção de objetos estáticos. Ao girar o rosto, o usuário faz a varredura do local mantendo as mãos livres, e esta é uma contribuição muito significativa deste estudo. 12. Trabalhos Futuros Para a continuidade do desenvolvimento deste projeto cabe ressaltar a busca pela miniaturização das partes que integram o dispositivo, bem como o aumento da abrangência e o alcance dos sensores. Utilização de outras tecnologias para detecção de obstáculos, como por exemplo, sensores de infravermelho e de detecção de calor. Ampliação do número de sensores, com objetivo de aumentar a percepção do ambiente externo. Busca por novos meios de interação entre o usuário e o dispositivo, como por exemplo, uma interface sonora. As técnicas e teorias aplicadas neste trabalho podem ser posteriormente utilizadas por diversas áreas científicas, com as devidas adequações. Referências ABE, J. M. Decisões Consistentes Sobre o Inconsistente. In: P. L. Neto, Qualidade e Competência nas Decisões (pp. 4001,418). São Paulo, SP, BRASIL: Blucher, 2007. ABE, J. M. Fundamentos da Lógica Anotada. Tese de Doutorado. São Paulo, 1992.
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AIADV:
DA COSTA, N. C.; ABE, J. M.; MUROLO, A. C.; CASEMIRO, F. S.; DA SILVA FILHO, J. I. Lógica Paraconsistente Aplicada. São Paulo, SP, Brasil: Atlas, 1999. DA SILVA FILHO, J. I. Método de Aplicação da Lógica Paraconsistente Anotada de Anotação com dois Valores-LPA2V Com Construção de Algoritmo e Implementação de Circuitos Eletrônicos. Tese de Doutorado. São Paulo: E. P. Paulo Ed., 1999. GIMENEZ, S. P. Microcontroladores 8051: Teoria do hardware e do software / Aplicações em controle digital / Laboratório e simulação. São Paulo, SP: Pearson Prentice Hall, 2002. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Disponível em IBGE: www.ibge.gov.br, acesso em 5 de Janeiro de 2009. 2004. OHW. World Health Organization. Disponível em OHW: http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2003/pr73/en/, acesso em 20 de fevereiro de 2009. 2003. PCUC. Clube Português de Utilizadores de Cão-guia. Disponível em PCUC: http://www.cpuc.org.pt/caoguia.html, acesso em 12 de Julho de 2009. 2005. PRECISION MICRODRIVES. Disponível em http://www.precisionmicrodrives.-com/, acesso em 1 de outubro de 2005. 2005. 91 SBO. Sociedade Brasileira de Oftalmologia. Disponível em SBO: http://www.sboportal.org.br/site2/index.asp, acesso em 20 de junho de 2009. 2009.
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Envelhecimento funcional precoce dos trabalhadores de uma lavanderia sob o enfoque dos riscos físicos e ergonômicos1 Simone Caldas Tavares Mafra <sctmafra@ufv.br> Vania Eugênia Silva <vaeusi@yahoo.com.br> Celina Angélica Lisboa Valente Carlos <celinavalente@yahoo.com.br> Resumo: O envelhecimento da força de trabalho é uma realidade em vários países inclusive no Brasil, aliado a esse fator tem-se as más condições de trabalho a que estão expostos alguns trabalhadores. Nesse sentido, objetivou-se identificar os possíveis riscos físicos e ergonômicos presentes em uma lavanderia terceirizada e sua influência no envelhecimento funcional. Para atingir tal objetivo foram feitas medições de temperatura, ruído, iluminação e ventilação e observações não participativas durante o turno de trabalho dos trabalhadores. Os riscos físicos encontrados foram altas temperaturas, ruído intermitente, falta de ventilação e iluminação adequadas. Em relação aos riscos ergonômicos identificou-se, postura de trabalho incorreta, falta de assentos para descanso, peso excessivo das roupas quando molhadas. Todos esses fatores podem causar danos e lesões na saúde dos trabalhadores e assim acelerar o processo de envelhecimento funcional. Diante desses fatos sugere-se uso de bancos para descanso, uso de Equipamento de Proteção Individual (EPIs), uso de exautores e ventiladores para diminuir a temperatura e aumentar a ventilação, e assim proporcionar melhores condições de trabalho aos trabalhadores. Palavras-chave: Envelhecimento funcional precoce; Lavanderia; Riscos físicos; Riscos ergonômicos.
Early functional aging workers in a laundry room from the standpoint of physical and ergonomic risks. Abstract: The aging workforce is a reality in several countries including Brazil. Coupled with this factor has been the poor working conditions faced by some workers. Accordingly the objective was to identify potential physical and ergonomic hazards found in a laundry contractor this goal were made measurements of temperature, noise, lighting and ventilation and non-participatory observations during the shift work. Physical risks were found high temperatures, intermittent noise, poor ventilation and lighting. Regarding the ergonomic hazards identified himself, incorrect working posture, lack of seats to rest, excessive weight of the clothes when wet. All these factors can cause damage and injuries in healthcare workers and thereby accelerating the functional aging process. These facts suggest use of banks to rest, use of Personal Protective Equipment, using extraction fans and fans to cool the temperature and increasing ventilation and provide better working conditions for workers. Keywords: Functional aging early; Laundry; Physical hazards; Ergonomics hazards.
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Pesquisa desenvolvida a partir de financiamento do CNPq, Proc. No. 481888/2007-1.
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1. Introdução A crise dos anos 1960 e 1970 causaram uma reestruturação produtiva que acabou interferindo no processo de saúde dos trabalhadores. Dessa forma, ocorreu também uma reestruturação das empresas devido à concorrência e por conflitos sociais relacionados às formas tradicionais de organização do trabalho e da produção (ASSUNÇÃO, 2003). Aliado a esses fatores, tem-se as más condições de trabalho a que estão expostos alguns trabalhadores, como altas temperaturas, ruído excessivo, além de riscos biológicos e ergonômicos que podem causar o envelhecimento funcional precoce. Além disso, o Brasil vivencia o processo de transição demográfica, caracterizado pelo aumento do número de pessoas que estão envelhecendo, ocasionando, portanto, o envelhecimento da população em idade produtiva e também da força de trabalho (ANDRADE; MONTEIRO, 2007). Dessa forma, o número de indivíduos jovens para compor a população economicamente ativa se torna cada vez menor, e este fato faz com que se torne necessário estudos sobre o envelhecimento fisiológico, considerado natural, que ocorre em função da idade, mas também estudos relacionados ao envelhecimento funcional, que ocorre devido as interferências negativas das condições de trabalho, ou seja situação de insalubridade vivenciada pelos mesmos, durante o desenvolvimento da tarefa. De acordo com Silva (2007), um ambiente de trabalho considerado insalubre pode afetar o bem-estar social do trabalhador e também causar conflitos que repercutem na esfera social e familiar. Bellusci e Fischer (1999) relatam que a Organizaçao Mundial de Saúde (OMS) demonstra cada vez mais preocupação com a relaçao envelhecimento e trabalho, pois acredita-se que o envelhecimento leva a modificações nos diferentes sistemas do corpo humano, que podem causar diminuição na capacidade de desenvolvimento do trabalho, ou seja em sua capacidade funcional e, com isso, as exigências do trabalho se tornariam mais extenuantes ao indivíduo considerando a sua capacidade para desenvolvê-lo, que se tornaria compatível. Segundo Tuomi et al apud Martins (2002), a capacidade para o trabalho é a base do bem-estar para on indivíduos e pode sofrer mudanças ao longo da vida, em função de diferentes/diversos fatores. No entanto, um ambiente de trabalho saudável e um estilo de vida ativo, contribuem para diminuir a perda da capacidade para o trabalho e, consequente, manutenção do bem-estar e qualidade de vida individual. Para Ilmarinen (1997) apud Odebrecht (2002), a capacidade funcional é a base para o desenvolvimento do trabalho, no entanto sofre influências, muitas vezes, negativas, das demandas advindas do trabalho. Neste sentido, Martins (2002) diz que é necessário que haja equilíbrio entre as exigências e os fatores que causam algum tipo de estresse no trabalho e a capacidade para o trabalho para que não se perca a capacidade para o desenvolvimento do mesmo. De acordo com Arsego et al (2008), o ambiente de lavanderia é considerado insalubre devido às condições ambientais, por haver risco biológico, riscos físicos como alta temperatura, ruído, vibração, e riscos ergonômicos.
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Fontes (2003) caracteriza a lavanderia como um local, onde é desenvolvido um trabalho intensivo em tempo limitado e que exige alta produtividade dos trabalhadores muitas vezes em condições insalubres. Dessa forma, faz-se necessário avaliar as condições de trabalho no ambiente lavanderia para buscar evitar que o envelhecimento funcional precoce ocorra. Neste sentido, esse estudo investigou a presença de possíveis riscos fisicos e ergonômicos em lavanderia. 2. Revisão de literatura 2.1 Capacidade para o trabalho A capacidade para o trabalho significa o quão apto o trabalhador está para desempenhar suas funções no trabalho. Esta pode ser influenciada por vários fatores como a saúde física e mental do indivíduo e também por questões relacionadas ao trabalho. Sendo assim, estes fatores podem desmotivar o trabalhador e causar insatisfação pessoal, além de poder causar lesões físicas (WILLIAMS, 1997 apud MEIRA, 2004). Dentro deste pressuposto Ilmarinen apud Duran e Cocco (2004) discute que a definição conceitual de capacidade para o trabalho representa a busca de respostas para a seguinte questão: “o quanto o trabalhador está bom no momento e num futuro próximo e o quanto está apto para fazer seu trabalho com relação às exigências do trabalho, à saúde e aos recursos mentais”. Para Bellusci e Fischer (1999), é necessário que se avalie continuamente os agentes que causam sintomas de déficit na saúde física e psicológica do indivíduo, assim como lesões, doenças. No entanto, avaliar os aspectos relacionados à melhoria nas condições de trabalho, com o intuito de encontrar soluções para desenvolver o equilíbrio da relação entre capacidade e demandas do trabalho, pode ser uma forma de se entender o conceito de capacidade para o trabalho. 2.2 Envelhecimento O envelhecimento da população é um fenômeno mundial, e o Brasil apresenta um quadro de grande expansão deste processo. De acordo com Giatti e Barreto (2003), dados apresentados pelo IBGE mostram que a proporção de pessoas com mais de 60 anos passou de 6,1% em 1990 para 8,6% em 2000, e tais proporções sinalizam manter crescimento acentuado até 2050, fazendo necessário para tanto que pesquisas sejam desenvolvidas para entender as implicações deste fenômeno dentro da população economicamente ativa. Aliado a esse processo de envelhecimento populacional no Brasil, está o fato de que muitos trabalhadores são inseridos precocemente no mercado de trabalho, inserção esta que, muitas vezes, acontece de maneira pouco estruturada (ausência de qualificação para a tarefa), e tal situação acaba expondo os envolvidos a condições precárias tanto no atributo vida individual e coletiva, quanto a saúde e trabalho. Carvalho e Soares (2004) descrevem o envelhecimento como processos inerentes aos seres vivos, que se manifesta com a diminuição na funcionalidade e perda da capacidade de adaptação. Ainda conforme os autores supracitados, o envelhecimento pode causar várias alterações na saúde, funcionalidade, mobilidade e autonomia, embora a meta mundial é que se consiga reduzir o processo de dependência durante o ato de envelhecer para que seja possível um envelhecimento com autonomia. Por isso, o investimento recorrente em pesquisas que buscam compreender os processos de saúde/doença durante a fase do envelhecimento.
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Além disso, há de se preocupar também com o envelhecimento funcional, que é entendido como a perda da capacidade para o trabalho, conforme afirma Bellusci e Fischer (1999). Borges (2006) apud Carlos (2008) reforça que a reflexão sobre o processo de envelhecimento/trabalho é de extrema importância para implantação de medidas de prevenção e promoção da saúde no intuito de preservar a capacidade para o trabalho da população em idade produtiva, buscando, dessa forma, impedir que ocorra o envelhecimento funcional. Neste estudo, em especial, este aspecto foi abordado considerando o ambiente de trabalho denominado lavanderia visto ser este considerado um ambiente insalubre aos trabalhadores. 2.3 Ambiente de trabalho lavanderia As lavanderias podem se caracterizar como domésticas, comerciais e indústriais sendo estas últimas consideradas institucionais, como coloca Farias (2006). Dentro das modalidades comerciais e industriais têm-se as hoteleiras, hospitalares, moteleiras, de serviços de alimentação, fardamentos e de especialidades. Considerando as diferentes tipologias, esperase que estas sejam organizadas para atender as especificidades das roupas higienizadas nas mesmas. Para que as lavanderias atendam as diferentes atividades realizadas considerando os diferentes tipos de sujidades, característico das diferentes tipologias existentes, Silva (2006) apud Marques (2006) ressalta que, elas necessitam ter um ambiente bem planejado fisicamente, para que este possa promover um ambiente de trabalho seguro e saudável, tendo consequências positivas para os trabalhadores, pois aumenta a satisfação e a peformance pessoal, e para as empresas, qualidade do produto disponibilizado ao usuário final. No entanto, o que se observa na prática, como coloca Fontes (2003), é que estas se caracterizam muito mais como um local onde é desenvolvido um trabalho intenso em tempo limitado e que exige alta produtividade dos trabalhadores, muitas vezes, em condições insalubres de realização do mesmo. Contribuindo, como consequência, para reduzir a capacidade para o trabalho e a curto prazo envelhecimento funcional precoce. Santana (1996) apud Marques (2006) relata que as condições ambientais como calor excessivo, ruído e vibrações, aliados ao arranjo físico, podem causar desgaste, desconforto, além de aumentarem o risco de acidentes e de ocorrências de danos a saúde e diminuir a produtividade dos envolvidos na realização do mesmo. Por isso, acredita-se que além de planejar o espaço o trabalho também precisa ser planejado para garantir salubridade ao trabalhador e ao ambiente de trabalho. De acordo com Silva et al. (2007), um ambiente de trabalho considerado insalubre pode afetar o bem-estar físico e psicológico ao trabalhador, podendo estes causar conflitos que venham repercutir de forma negativa na esfera social e familiar. Dessa forma, é necessário atentar-se para os fatores que afetam a capacidade para o trabalho dos indivíduos, com o intuito de manter a produtividade nos processos produtivos nas lavanderias, mas em especial, o bem-estar dos trabalhadores, aspecto esse essencial para evitar que ocorra o envelhecimento funcional. 3. Procedimentos metodológicos Esta pesquisa se caracteriza como um estudo de caso, de natureza qualitativa, que de acordo com Silva et al. (2007), é um método empírico utilizado para investigar situações dentro do contexto da realidade vivenciada e explorar situações da vida real.
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A lavanderia estudada é classificada como industrial de especialidades, ou seja além de realizar a atividade principal que é a higienização do vestuário ela também realiza o processo de tingimento de jeans, além de realizar outros processos de beneficiamento, sendo assim considerado um setor especial de processamento. Essa lavanderia realizava a lavagem e o beneficiamento de jeans para empresas da Zona da Mata Mineira, São Paulo e Rio de Janeiro e contava com 31 funcionários à época do desenvolvimento do estudo, qual seja, outubro de 2009. Na coleta dos dados foram realizadas observações sistematizadas do ambiente, além de mensurações de temperatura, ruído, iluminação e ventilação, utilizando, respectivamente, o auxílio do medidor do IBUTG (Índice Bulbo Úmido, também conhecido como Termômetro de Globo), decibilímetro, luxímetro, anemômetro, para discutir-se os riscos físicos e ergonômicos aos quais podem estar subemtidos os trabalhadores do ambiente de trabalho em questão. As medições foram realizadas nos períodos da manhã e tarde. Os dados encontrados foram tabulados, analisados e discutidos, como pode ser observado na sequência de apresentação do estudo. 4. Resultados e discussões 4.1 Riscos físicos Ambiente acústico A avaliação do ambiente acústico foi realizada em outubro de 2009 no período de 09h30min às 17h30min em intervalos de 30 minutos, com o auxílio do decibilímetro, totalizando oito horas de medição, referentes ao turno de trabalho dos funcionários. As medições de ruído, considerando os intervalos anteriormente mencionados, foram feitas nas áreas relatadas pelos trabalhadores como sendo aquelas com as quais eles se sentiam mais incomodados em relação ao ruído, quais sejam, área molhada, área de passadoria, e área de tingimento com permanganato. Os níveis de ruído encontrados variaram de 72,3 dB a 89 dB. Estes ruídos eram provenientes das máquinas lavadoras, centrífugas e das máquinas utilizadas em alguns processos de beneficiamento, como o tingimento com permaganato. De acordo com a NR-15, para um período de oito horas de exposição diária, o limite de tolerância ao ruído é de 85 dB. A média encontrada na lavanderia foi de 78,93 dB. Como pode ser observado, o ruído encontrava-se dentro do limite estabelecido pela legislação, no entanto, era considerado pelos trabalhadores como um fator que gerava incômodo, considerando o desenvolvimento do trabalho pelos mesmos. Segundo Souza et al. (2001), várias pesquisas experimentais demonstraram que exposição a níveis elevados de ruído por um curto período de tempo pode desencadear respostas cardiovasculares semelhantes às que ocorrem no estresse agudo, como o aumento da pressão sanguínea. Considerando o estudo em questão, pode-se inferir que não seria necessário, o uso de protetores auriculares, já que a média de ruído se encontrava dentro dos limites estabelecidos pela NR-15. No entanto, pôde-se perceber que os trabalhadores que utilizavam protetores auriculares ou abafadores tinham melhor audição em relação àqueles que não utilizavam. Houve também relato de alguns trabalhadores da área molhada e da área de tingimento com permaganato, que o ruído proveniente dessas áreas lhes causava dores de cabeça. Este dado reforça o pressuposto de que o ruído tem que ser avaliado considerando as
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percepções e reações diferenciadas entre grupos de indivíduos, criando-se a possibilidade de definição de limites de ruído considerando o grupo avaliado e a atividade realizada pelos mesmos, para que a variável ruído não seja percebida e vivenciada como aspecto negativo no ambiente de trabalho e gerador, portanto, de sequelas ou mesmo o envelhecimento prematuro da capacidade auditiva do indivíduo. Sendo assim, sugere-se que mesmo a média estando dentro do limite aceitável, os trabalhadores façam uso de protetores auriculares, ou abafadores, na intenção de minimizar os efeitos causados pelo ruído, considerando a resposta individual ao estímulo sonoro como mencionado anteriormente. Ambiente Térmico Para avaliar o ambiente térmico utilizou-se o medidor do Índice de Bulbo Úmido e Termômetro de Globo (IBUTG). A referida medição ocorreu em intervalos de 60 segundos entre cada medição, considerando o período de 09h30min as 17h30min. Importante ressaltar que as medições foram realizadas num dia chuvoso e nublado, fato este que pode ter interferido para que a temperatura permanecesse mais amena. Sabe-se que a NR-15 estabelece um máximo de temperatura para cada tipo de atividade. Para atividade de lavanderia considerada do tipo moderada, que se caracteriza por ser uma atividade realizada de pé em máquina ou bancada com alguma movimentação, esta estabelece um limite de 26,7°C. A lavanderia analisada apresentou temperaturas que variaram de 21ºC a 26°C, com média de 24,16°C, portanto, não apresentando uma temperatura elevada, se comparada com o definido pela Norma. Porém, necessário se faz ressaltar que, como mencionado anteriormente, o dia foi atípico para o período, visto que estava chuvoso e, portanto, mais frio, fato este que pode ter interferido nos valores aferidos para o local. De acordo com os resultados obtidos através das medições, é possível perceber que o ambiente não causava uma sobrecarga de temperatura aos funcionários, no entanto, alguns relataram que em dias quentes a temperatura da lavanderia trazia desconforto. Os trabalhadores atribuíam esse desconforto ao tipo de cobertura utilizado na lavanderia, visto que o mesmo era feito com telhas de zinco. Para Verdussen (1978) apud Arsego et al. (2008), é necessário muito cuidado com a temperatura para se conseguir condições adequadas de trabalho, pois temperaturas muito altas ou muito baixas podem ser desagradáveis e até mesmo prejudiciais à saúde, gerando entre outros problemas, ausência de atenção, sonolência, perda de grandes quantidades de sais minerais pelo suor, fatores estes que podem levar a acidentes ou incidentes. Além do que o indivíduo quando exposto a situações insalubres pode resultar em perdas aceleradas no aspecto fisiológico, tendo como consequência o envelhecimento funcional precoce. Umidade Relativa do Ar Os dados referentes a umidade relativa do ar também foram coletados com o auxílio do medidor de Índice de Bulbo Úmido e Termômetro de Globo (IBUTG), levando-se em consideração o Índice Humidex. Os dados foram coletados de 09h30min as 17h30min em intervalos de 60 segundos entre cada medição, considerando o mês de outubro. Os dados obtidos mostraram que a umidade relativa do ar variou entre 33% e 37%, obtendo uma média de 34,44%. De acordo com a NR-17, a umidade relativa do ar não deve
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ser inferior a 40%, e segundo Castro e Chequer (2001), esse valor não deve exceder o máximo de 60%. Com base nesses dados é possível perceber que a lavanderia não atendia aos limites mínimo e máximo em relação à umidade relativa do ar. Silva Filho (1995) apud Arsego et al. (2008) afirma que a umidade e a temperatura são fatores que influem diretamente no desempenho do trabalho humano, tanto sobre a produtividade quanto sobre os riscos de acidentes. E aliado a índices altos de temperatura, a ausência de umidade ou o excesso de umidade podem reverter em problemas de ordem respiratória de grandes proporções aos indivíduos levando em algumas situações a necessidade de se ausentar por períodos de tempo do local de trabalho. Portanto, esta deve ser controlada para evitar efeitos negativos à saúde do indivíduo e como consequência baixa na capacidade para o trabalho e na produção. Iluminação A iluminação foi medida com o auxílio de um luxímetro. As medições foram feitas duas vezes, uma no período da manhã às 11h00min e outra às 15h15min no dia 27 de novembro de 2009. A área com maior incidência de iluminação era a área molhada, onde eram realizadas as atividades de lavagem, centrifugação e secagem do jeans. Nesta área, os níveis de luminosidade encontrados foram 1460 lux na parte da tarde e 1738 lux na parte da manhã. De acordo com Cândido e Viera (2003), a exigência de iluminação para esta área é de 500 a 700 lux. A área de passadoria e dos processos de used (tingimento com permanganato) registraram níveis baixos de iluminação nos dois momentos de mensuração dos referidos dados. Os níveis de iluminação variaram entre 160 e 230 lux. Como no caso da lavanderia estudada não foi verificada a separação das áreas limpa e suja, visto esta não ser a característica do local, pois todas as roupas que ali eram manipuladas estavam em processo de produção e, portanto, ainda não haviam sido utilizadas, utilizou-se a denominação área seca e área molhada, para descrição das características esperadas para as mesmas em termos de luninosidade. Neste sentido, considerou-se como área limpa/área seca dessa lavanderia, as áreas de passadoria e de beneficiamento do jeans. Segundo Castro e Chequer (2001), a área limpa/seca deve ter no mínimo, um nível de iluminação de 300 lux. Considerando tal recomendação, percebe-se então que a área limpa/seca da lavanderia do estudo não atendia aos níveis de iluminação necessários à mesma, fato este que pode ocasionar um esforço maior dos trabalhadores, no que diz respeito ao uso da visão. Ventilação As medições referentes à ventilação foram feitas com o auxílio do anemômetro. Essas medições foram efetivadas das 10h45min às 15h00min, sendo encontrado 0m/s de ventilação no ambiente nas duas medições. Segundo Iida (2005), para que um ambiente tenha uma ventilação adequada, este precisa apresentar dados equivalentes a 0,2m/s, não devendo ultrapassar 0,75m/s de acordo com a NR-17. Esta situação garantiria a renovação do ar no ambiente e esta troca é salutar para reduzir a temperatura, os resíduos de substâncias como pelo e cheiro de produtos no ambiente, fatores estes que se mantiverem concentrados no mesmo pode gerar problemas de ordem respiratória, bem como facilitar o aparecimento de respostas alérgicas nos trabalhadores inseridos no local.
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A ventilação natural na lavanderia era feita através de aberturas entre a parede e a cobertura do teto e um portão de metalon que ficava aberto durante todo o turno de trabalho. Não foi observada a presença de exaustores e ventiladores, que poderiam aumentar a ventilação no local, contribuir para a renovação do ar e aumento do conforto térmico dos funcionários. Considerando os aspectos relacionados ao risco físico do ambiente analisado, percebese que o mesmo oferece riscos ao trabalhador. Riscos estes que precisam ser retirados do ambiente para aumentar a salubridade física ao mesmo e reduzir as possibilidades de que estes riscos possam vir a contribuir com o envelhecimento funcional precoce dos trabalhadores. 4.2 Riscos ergonômicos Os riscos ergonômicos são avaliados considerando a forma como o indvíduo desenvolve sua tarefa, considerando para tanto como este usa seu corpo, informações, conhecimentos para desenvolvê-lo. Nesta avaliação, procura-se entender também como a organização do trabalho contribui para reduzir ou aumentar os riscos a que estão submetidos os trabalhadores, quando da realização de sua tarefa. Partindo deste pressuposto e considerando as observações realizadas, foi possível verificar que, os trabalhadores efetivavam movimentos como carregar trouxas de roupas, colocá-las e retirá-las das máquinas centrífugas e secadoras, considerados extenuantes. Além de se perceber uso excessivo do corpo para desenvolvimento da tarefa, não foi evidenciado no local assentos para que estes pudesse utilizá-los durante pausas para o descanso. Assim, os trabalhadores permaneciam durante toda a jornada de trabalho de pé. Conforme Dull (1993), apud Pequini et al. (2006), a posição em pé é recomendada quando há frequentes deslocamentos dos postos de trabalho ou necessidade de se aplicar grandes forças. Caso esta não seja a característica da tarefa a ser executada pelo trabalhador, não é recomendável que o mesmo passe o dia todo na posição em pé, pois esta manutenção de posição ao longo do dia provoca fadiga e dores nas costas e pernas, podendo levar ao surgimento de estresse adicional quando o pescoço permanece muito tempo inclinado, além de problemas circulatórios, pois sobrecarrega o sistema linfático. A tarefa analisada, também apresentou um caráter repetitivo, onde percebeu-se que os trabalhadores realizavam movimentos repetitivos, agravados pela manutenção de uma postura incorreta, como colocar e retirar as roupas das máquinas, e na maior parte das vezes, estas estavam molhadas e, portanto, ficavam mais pesadas, exigindo mais da coluna para realizar o movimento de alavanca para pegar e transferir um dado objeto. Verificou-se também que na maior parte da jornada de trabalho estes adotavam posturas incorretas durante a realização das diferentes atividades. Esses movimentos podem causar lesões temporárias e ou permanentes, podendo levar o indivíduo a ter dificuldades de movimentação física, reduzindo sua autonomia e independência, fatos estes somente esperados durante o processo de envelhecimento fisiológico considerado normal, e não pelo envelhecimento funcional precoce. De acordo com Silva (1988) apud Mauro et al. (2004), as medidas ergonômicas relacionadas à postura no ambiente de trabalho, assim como as soluções implementadas de modo preventivo são mais positivas, especialmente quando associadas à seleção adequada do trabalhador e à utilização de técnicas corretas no processo de trabalho. Considerando os dados do estudo, pode-se observar que existem situações que se não corrigidas a tempo, considerando o uso do corpo em especial, podem gerar em futuro próximo
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a ausência de capacidade para o trabalho nos trabalhadores do ambiente analisado. Para tal aspecto sugere-se um bom projeto/planejamento do trabalho bem como supervisão do processo. Mas, principalmente que o trabalhador compreenda o seu papel como responsável pela manutenção de sua saúde no trabalho. Os pontos mencionados podem ser considerados fatores que contribuam para reduzir os riscos ergonômicos no ambiente de trabalho e, consequentemente, a manutenção do trabalhador por mais tempo com capacidade para realização de diferentes tipos de tarefa ao longo de sua vida produtiva. 5. Conclusões e recomendações Os dados encontrados mostraram que é necessário refletir sobre o processo envelhecimento/trabalho. Um ambiente de trabalho que oferece muitos riscos ao trabalhador pode acelerar o envelhecimento funcional. Apesar dos valores encontrados não ultrapassarem os limites estabelecidos, os funcionários relataram ser de grande incômodo o ruído intenso e as temperaturas mais elevadas em dias de sol. Além disso, deve-se considerar o calor produzido pelas máquinas secadoras, prensas e ferros de passar. Dessa forma, é necessário que se dê mais atenção as condições de trabalho oferecidas ao trabalhador no intuito de evitar o envelhecimento funcional precoce, além de buscar uma melhor qualidade de vida para o trabalhador. Para isso, medidas consideradas simples podem ser adotadas como o uso de protetores auriculares, abafadores, que diminuem o impacto do ruído excessivo no aparelho auditivo. Seria recomendado também o uso de ventiladores e exaustores para diminuir a temperatura e aumentar a ventilação e também o uso de janelas que elevariam os índices de luminosidade. Tais aspectos podem ser resolvidos com avaliação de tempos em tempos dos riscos físicos do ambiente de trabalho. Assim como os riscos físicos do ambiente de trabalho, a avaliação de tempo em tempo – podendo esta ser definida pelo setor - da tarefa realizada pelos indivíduos na perspectiva de que esta seja revista ou redefinida caso seja necessário, garantiria maior satisfação com o trabalho realizado. Tal avaliação permitiria uma supervisão maior sobre a forma como a tarefa e suas diferentes atividades são desenvolvidas, evitando situações de constrangimento para o trabalhador, seja no uso do corpo para o desenvolvimento da mesma, seja em relação a frequência definida para a sua concretização, que podem levar ao estresse e, consequentemente, reduzir os níveis de saúde do trabalhador. Tais níveis caso estejam baixos, e permaneçam por um tempo neste formato, podem gerar o envelhecimento funcional precoce. Pensar nesses fatores, além de ser importante para a saúde do trabalhador, é de grande valia para empresa, pois melhorando as condições de trabalho é possível desacelerar o envelhecimento funcional, entendido como a perda da capacidade para o trabalho, além de diminuir a rotatividade de pessoal e o absenteísmo, aspecto estes pouco eficazes quando se deseja bons índices de produtividade e qualidade do produto disponibilizdo pelo setor. Referências ASSUNÇÃO, A.V. Uma contribuição ao debate sobre as relações saúde e trabalho. Revista Ciência e Saúde Coletiva, 8(4) p 1005 1018, 2003. ARSEGO, J. et al. Riscos ocupacionais na área contaminada de uma lavanderia hospitalar. IN: XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO- A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.Rio de Janeiro, ANAIS..., 13 a 18 de outubro de 2008.
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Avaliação da estrutura física de lavanderias de indústrias de produtos de origem animal: um estudo de caso. Vania Eugênia Silva <vaeusi@yahoo.com.br> Simone Caldas Tavares Mafra <sctmafra@ufv.br> Amaury Paulo Souza <amaury@ufv.br> Resumo: Este estudo teve como objetivo analisar o ambiente físico estrutural de duas lavanderias de indústria de produtos de origem animal a fim de compreender sua influência nas atividades desenvolvidas. Para tanto foram realizadas visitas aos locais para efetuar observações e medições das dimensões, com equipamentos adequados. Quanto à estrutura física, foi encontrado na lavanderia A, um ambiente de trabalho bem estruturado, mas que necessitando de modificações, como o fechamento da área suja, instalação de barreira com filtro químico de pressão negativa, para impedir a contaminação cruzada e ampliação do espaço de circulação interna na lavanderia de um modo geral. A lavanderia B não se encontrava de maneira adequada, o espaço físico era restrito, pois reduzia as áreas de circulação dos trabalhadores e carrinhos de transporte. Os equipamentos utilizados também não se encontravam em bom estado de conservação, sendo observado máquinas com presença de ferrugem e desgaste. O estudo possibilitou maior entendimento sobre o trabalho desenvolvido em uma lavanderia, bem como as necessidades deste setor frente à estrutura física para um bom funcionamento das atividades realizadas e as necessidades dos trabalhadores para o desenvolvimento de suas tarefas. Palavras-chave: Lavanderia; Qualidade de Vida; Espaço físico
Evaluation of the physical structure of industries, laundries of animal origin: a case study. Abstract: This study had as objective analyzes the structural physical atmosphere of two laundries of industry of animal products, to understand influence in the developed activities. For them, many visits were accomplished to the places to make observations and measurements of the dimensions, with appropriate equipments. The physical structure, in the laundry “A”, if is possible see a work atmosphere well structured, but that needing modifications, as the closing of the area dirties, barrier installation with chemical filter of negative pressure, to impede the crossed contamination and enlargement of the space of circulation interns in the laundry in general. The laundry “B” is not appropriate. The physical space was restricted, because it reduced the areas of the workers’ circulation and transport pushcarts. The equipments used didn’t in good state of conservation, being observed machines with rust presence and wear and tear. The study made possible larger understanding on the work developed at a laundry, as well as the needs of this section front to the physical structure for a good operation of the accomplished activities and the workers’ needs for the development of their tasks. Key-words: Laundry; Quality of Life; Space physical.
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1. Introdução A valorização da qualidade de vida dos trabalhadores é algo discutido e ganha cada vez mais espaço no cenário do mercado de trabalho atual, uma vez que a adaptação do trabalho ao trabalhador visa maior conforto ao mesmo, contribuindo também para o possível aumento de sua produção. Dessa forma, Qualidade de Vida tem sido objeto constante de estudos e os resultados das pesquisas são utilizados para promover o desenvolvimento de situações de trabalho que buscam oferecer condições que agreguem valor ao trabalho e bem-estar ao indivíduo (FONTES, 2003). A busca por um ambiente de trabalho salubre perpassa por vários fatores. As condições físicas como temperatura, ruído, umidade, luminosidades, leiaute, devem ser planejados e controlados visando à melhor adequação do trabalho ao trabalhador. A melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores reflete nos serviços por eles prestados, mas também na redução dos índices de acidentes de trabalho ocorridos. Além destes, o surgimento de doenças ocupacionais está diretamente ligado à qualidade de vida do trabalhador, o que, traz perdas para empregado e empregador. O ambiente de trabalho em uma lavanderia apresenta riscos variados aos seus trabalhadores, tais como físicos, químicos, biológicos e ergonômicos. Os riscos físicos podem influenciar no desenvolvimento das atividades laborais, bem como em sua qualidade de vida no trabalho, uma vez que o aumento da temperatura, ruído, umidade e outras variáveis acarreta em doenças e diminuição da capacidade para o trabalho. Para Silva (2006), devido a pouca especialização de projetistas e construtores em relação às condições ideais para se planejar um setor de processamento de roupas, muitas irregularidades são observadas, como a localização inadequada de equipamentos e instalações, tendo, como consequência, um funcionamento ineficaz que pode reverter em problemas de saúde ao trabalho e diminuição da produtividade. Assim, o presente estudo teve como objetivo identificar os possíveis riscos físicos presentes em lavanderias de indústrias de produtos de origem animal. 2. Revisão de literatura O trabalho em lavanderia, na maioria das vezes, é caracterizado como cansativo, repetitivo e intenso, exigindo dos trabalhadores alta produtividade em tempo limitado, sob condições inadequadas de trabalho, sendo estas relacionadas ao ambiente e aos equipamentos (SILVA, 2007). Para que o trabalho em uma lavanderia seja bem desempenhado é importante que vários fatores sejam levados em consideração na estruturação e planejamento deste ambiente de trabalho. Para Cândido e Viera (2003), uma lavanderia bem planejada oferece melhores condições de trabalho aos funcionários, aumentando a produção, reforçando a qualidade do serviço e controlando o custo. Ainda segundo os autores, de acordo com o empreendimento da empresa, o espaço físico da lavanderia e da rouparia pode variar, podendo estar localizadas dentro do próprio prédio, anexas a ele ou em edificações à parte. A preocupação na elaboração de um ambiente de lavanderia passa por diversos fatores como a preocupação com a contaminação da roupa, distinção entre áreas de manipulação, condições ambientais adequadas, áreas de circulação, dentre outras, visando o
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desenvolvimento do trabalho de forma adequada, melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores, aumento da produtividade e qualidade do serviço prestado. Com a adequação do ambiente laboral ao trabalhador, o bem-estar destes indivíduos tende a melhorar, contribuindo para que a qualidade de vida no trabalho seja superior. Esta tem reflexo direto na vida social e no relacionamento do trabalhador com sua família, podendo ser prejudicado se esta situação não ocorrer. Assim, a qualidade dos serviços desenvolvidos pode ser afetada pelas más condições de trabalho, gerando estresse, cansaço e fadiga (SILVA, 1999 apud CARLOS, 2008). Um dos principais aspectos a serem observados no planejamento físico de uma lavanderia é evitar a contaminação cruzada. Para tanto, a presença de barreiras de contaminação é recomendável. Para Castro e Chequer (2001), em razão da grande quantidade de microrganismos presentes no ar, contaminando a água e a roupa, começaram a surgir lavanderias com áreas distintas chamadas de “contaminadas” e “limpas”. Além da implantação da barreira de contaminação, é importante que se adote técnicas adequadas de manipulação durante todo o processo de higienização, buscando a conscientização dos funcionários quanto a este ponto, evitando a recontaminação da roupa já processada e contribuindo para a qualidade final do produto. As áreas de circulação devem permitir boa circulação tanto dos funcionários quanto dos carros de transporte de roupas. A estrutura física da lavanderia deve proporcionar também, condições ambientais adequadas. O arranjo físico ou leiaute das instalações, aliado às condições ambientais, são determinantes para a QVT, uma vez que, condições ambientais desfavoráveis como o excesso de calor, ruído e vibrações, geram grande fonte de tensão no trabalho e causam desconforto, aumentando o risco de acidentes e provocando danos à saúde, além de afetar o desempenho dos trabalhadores e, consequentemente, a produtividade (SANTANA, 1996). 3. Procedimentos metodológicos Os locais de estudo foram duas lavanderias de indústrias de produtos de origem animal, situadas na Zona da Mata Mineira, denominadas de lavanderia A e lavanderia B. Os dados foram obtidos por meio de observações do local e medições da estrutura física do local com o auxílio de equipamentos adequados. Posteriormente às visitas, os dados coletados foram tabulados, analisados e discutidos, chegando-se à conclusão final do estudo. 4. Resultados e discussões 4.1 Lavanderia A A lavanderia A era administrada por uma empresa terceirizada. Funcionava 24 horas diárias, divididas em três turnos de trabalho, inclusive aos sábados e domingos. Cada funcionário trabalhava 08h e 20 min. por dia, com regime de trabalho de 13 dias de trabalho para um dia de folga, totalizando 44 horas de trabalho semanais. Diariamente era processado em torno de 2.500 Kg de roupas utilizadas pelos trabalhadores da indústria e de outra unidade da empresa situada em outra cidade, a qual não possuía lavanderia. A lavanderia era localizada dentro do perímetro industrial, próxima ao prédio da administração, refeitório da empresa e casa de máquinas. A área total construída da lavanderia era de 124,6m², subdividida em dois setores principais, área suja e área limpa, onde na área limpa se encontravam os equipamentos para centrifugação e secagem das roupas, mesa de dobragem, mesa de passadoria, prateleiras de estocagem de uniformes, escritório da
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administração da lavanderia, sala de troca de roupas para visitantes (com armários tipo escaninho, mesa de suporte, cadeira e espelho); na área suja encontrava-se as lavadoras, suporte de madeira para os produtos químicos utilizados no processo de higienização das roupas, duas cubas para depósito de roupa suja do vestiário feminino e masculino. A lavanderia se encontrava entre os vestiários feminino e masculino que possuíam comunicação direta, por meio de abertura na parede, com a área suja para entrega de roupa suja. A abertura do vestiário feminino possuía um condutor em aço para direcionamento da roupa para uma cuba. A comunicação do vestiário masculino com a lavanderia se dava pelo corredor de acesso à área de entrega de roupa limpa aos trabalhadores, propiciando, assim, o contato da roupa limpa com roupa suja. Considerando piso, revestimento das paredes e equiapmentos, a lavanderia encontrava-se em bom estado de conservação, pois havia sido submetida à uma reforma recente (espaço físico e equipamentos), quando a administração foi assumida pela empresa terceirizada. O espaço físico e o número de equipamentos estavam aparentemente adequados ao fluxo de trabalho da lavanderia, pois não foi observado acúmulo de roupas de um turno para o outro. Segundo Silva (2006), a capacidade dos equipamentos deve ser bem ajustada ao ambiente, para que o local apresente um fluxo de circulação livre e não cause transtorno aos operadores. A estruturação da lavanderia dentro da indústria, segundo as observações feitas, facilita a entrega e a higienização das roupas aos trabalahdores e visitantes que necessitam de paramentação. O piso da lavanderia era de cerâmica, na cor branca, apresentando pouca porosidade. Na área suja foi observada a presença de ralo em frente às maquinas, o que contribuía para que não acumulasse água no ambiente. A canalização das saídas de água das máquinas também contribuía para que o ambiente não ficasse molhado, diminuindo, assim, o risco de acidentes. As paredes se encontravam em bom estado de conservação, sendo revestidas por azulejos na cor branca. O pé-direito era de 3,60m. Para Cândido e Viera (2003), esta altura deve ser a mínima, a fim de facilitar a circulação de ar e vapor, tornando o ambiente mais confortável e menos poluído. A iluminação natural do ambiente advinha de uma porta (abertura frontal) de metalon com vidro canelado, medindo 2,10m de altura por 1,60m de largura, com acabamento em tinta óleo, na cor bege. A iluminação artificial era feita por oito calhas com duas lâmpadas fluorescentes tipo bastão, distribuídas aleatoriamente na área limpa; uma calha com duas lâmpadas fluorescentes tipo bastão na área suja e uma calha com duas lâmpadas fluorescentes tipo bastão na área de entrega roupas. As lâmpadas presentes na área limpa garantiam uma boa iluminação ao ambiente, já na área suja e de entregas de roupas a iluminação era deficiente, o que pode diminuir o rendimento de trabalho. A ventilação e renovação do ar no ambiente eram dificultadas, uma vez que as aberturas da lavanderia eram: a porta frontal e uma janela na área da chefia, deficientes para a aeração e renovação do ar, em função do tamanho físico da lavanderia. Não foi observada a presença de ventiladores ou exaustores, o que melhoraria a renovação do ar e, consequentemente, as condições de trabalho neste ambiente. A cobertura superior do prédio da lavanderia era constituída por telha de amianto, revestido por forro (lâminas plásticas), tipo PVC, na cor branca, com algumas manchas escuras próximas à secadora, pois esta era alimentada por gás, o que produzia fuligem, que manchava a cobertura da lavanderia. Ao se considerar a estruturação do ambiente de trabalho em lavanderia, tem-se conformações em “I”, “L”ou “U”. Apesar das conformações existentes que uma lavanderia
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pode assumir, a realidade estudada não apresentava uma conformação específica, uma vez que as atividades desenvolvidas não seguiam apenas fluxo contínuo e linear de execução. As roupas não higienizadas eram direcionadas à área suja da lavanderia, onde eram processadas. Após esta etapa, as roupas molhadas eram encaminhadas para a área limpa da lavanderia, que ficava na região central da mesma, após centrifugadas e secas, as roupas eram dobradas e encaminhadas para o setor de distribuição, sendo necessário atravessar toda a lavanderia, inclusive a área suja até os armários para armazenamento dos mesmos. A divisão do ambiente de trabalho na lavanderia, mesmo depois da reforma não permitia um fluxo progressivo de trabalho, pois após a última etapa do processo de higienização, as roupas percorriam toda a área limpa para retornarem ao setor de distribuição de roupa limpa. Algumas mudanças estavam sendo efetuadas, a fim de evitar que ocorra o cruzamento de roupas limpas com roupas sujas, o que diminui os riscos de contaminação das mesmas. As áreas de circulação não estavam adequadas para o deslocamento de carrinhos e trânsito de pessoas. A setorização da lavanderia em área limpa e área suja estava sendo implantada, mas ainda não estava completa. Não havia a presença de banheiros, sendo estes existentes apenas nos vestiários. Dentro da lavanderia existia a área suja, contendo o setor de lavagem, e área limpa, composta pelo setor de centrifugação, secagem, estocagem, passadoria e distribuição. 4.2 Lavanderia B A lavanderia B pertencia a uma empresa de abate e processamento de produtos de origem animal. Funcionava 24 horas por dia, distribuídas em três turnos de trabalho, inclusive nos fins de semana. A jornada de trabalho de cada funcionário atingia 8h20min por dia, totalizando 44 horas semanais. Não foi possível obter o volume de roupa processada diariamente na lavanderia, uma vez que a mesma não possuía controles das atividades desempenhadas. A lavanderia estudada era localizada em um prédio próximo à portaria da indústria, que se destinava a abrigar os serviços de sala de reuniões, lavanderia e vestiários (masculino e feminino) no primeiro piso, e restaurante no segundo piso. Este prédio não se encontrava interligado ao prédio do setor de produção, estando isolado do restante da empresa. A área total da lavanderia e setores de entrega e guarda de malotes somavam 123m². Na área utilizada para a higienização dos uniformes se encontravam todas as máquinas utilizadas para tal atividade (lavadoras, centrífuga e secadoras), possuindo ainda três cômodos destinados à guarda e entrega de malotes, que possuíam estruturas tubulares em metal, com sistema de araras, destinadas ao apoio dos malotes1, possuindo ainda quatro armários em estrutura de metalon para guarda de uniformes. De forma geral, a lavanderia B não se encontrava de maneira adequada para desenvolver as atividades previstas para este setor, uma vez que as condições físicas e dos equipamentos deixam a desejar em qualidade e produtividade. Foi observado que o espaço físico era o maior entrave para que o trabalho fosse executado de forma satisfatória, pois reduzia o espaço de circulação para os trabalhadores e carrinhos de transporte. Os equipamentos utilizados também não se encontravam em bom estado de conservação, sendo observado máquinas com presença de ferrugem e desgaste. Ocorre o acúmulo de roupas de um turno para outro, causando transtorno na execução de todo o trabalho.
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Malotes são bolsas onde eram guardados os pertences e equipamentos individuais dos trabalhadores.
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O piso da lavanderia era de cerâmica, na cor bege, com características de porosidade. Debaixo das máquinas lavadoras havia ralos de captação e condução da água que saía das mesmas, mas, ainda assim, foi observado o acúmulo de água sob elas. É necessário que ocorra um escoamento adequado da água advinda da lavagem das roupas, diminuindo a umidade no local e, consequentemente, o risco de acidentes. Na área central da lavanderia, as paredes eram revestidas por azulejos na cor branca, já nas áreas de entrega e recepção de malotes, as paredes possuíam acabamento em tinta branca. O pé direito era de 3m, se apresentando baixo para as necessidades do setor. Para Cândido e Viera (2003), a altura mínima do pé direito para lavanderia deve ser de 3,60m, a fim de facilitar a circulação de ar e vapor, tornando o ambiente mais confortável e menos poluído. Não foi observada a presença de avisos e sinais de alerta na lavanderia, como placas de avisos e indicativos de segurança. A iluminação natural do ambiente advinha da porta da lavanderia, com estrutura em metalon, medindo 2,10m de altura e 1,60m de largura, na cor marrom escuro; possuía ainda seis janelas de vidro, com estrutura em metal, medindo 0,75m de largura e 0,87m de altura, distando à 1,80m do chão. Estas janelas eram distribuídas na lavanderia, sendo duas na parte frontal da lavanderia, ladeando a porta de entrada e quatro janelas sobre as máquinas lavadoras à mesma altura do chão que as demais. Possuía ainda, duas aberturas de entrega e duas aberturas para devolução de malotes, medindo 0,74m de altura e 2,20m de largura à 0,86m do chão, porém estas aberturas não ficavam aberta tempo integral durante o turno de trabalho, modificando assim a incidência de luminosidade no ambiente. Assim, este ambiente possuía aberturas que proporcionavam a iluminação natural do ambiente, mas que ainda necessitava de iluminação artificial para que o trabalho desenvolvido obtenha melhor desempenho. A iluminação artificial era feita por nove calhas com duas lâmpadas fluorescentes bastão cada, com distribuição paralela no cômodo central da lavanderia e setores de distribuição de roupas. A ventilação da lavanderia era proporcionada pelas aberturas já descritas acima em iluminação natural, estas proporcionavam a entrada de ar no ambiente de trabalho, melhorando a condição térmica como um todo. Não foi observada a presença de ventiladores ou exaustores. A lavanderia possuía cobertura em laje de concreto, uma vez que ficava no primeiro andar de um prédio de dois andares. Neste segundo andar, ficava o refeitório da empresa. A ligação elétrica das máquinas era feita de forma embutida, sendo acionada seu funcionamento apenas no painel de controle ou dosador automático (lavadora). Os escoamentos de água da lavadora e centrífuga eram expostos, possuindo grades sob as máquinas lavadoras, já o escoamento de água da centrífuga não possuía grades, ficando expostos. A condução da água era feita por tubulação embutida no assoalho da lavanderia. Ao se considerar a estruturação do ambiente de trabalho em lavanderia, têm-se conformações em “I”, “L”ou “U”. Não foi possível identificar a estruturação do ambiente da lavanderia B, uma vez que o contra-fluxo e o reduzido espaço físico impediam que fosse identificado uma conformação específica. É necessário que se tenha uma maior organização do espaço, bem como das atividades desempenhadas, imprimindo um ritmo de trabalho especifico. As atividades se desenvolviam simultaneamente em um reduzido espaço físico, a roupa suja chegava na lavanderia pelos dutos de condução de roupa, eram separadas em frente as máquinas lavadoras e higienizadas. Após este processo, eram transportadas à mão até a centrífuga e direcionadas para as secadoras, depois separadas e acondicionadas em seus respectivos destinos. A divisão do ambiente de trabalho na lavanderia não permitia um fluxo progressivo de trabalho, pois não possuía divisão de áreas, fazendo com que as atividades fossem desenvolvidas em um mesmo ambiente. As áreas de circulação não estavam adequadas para o deslocamento de carinhos e trânsito de pessoas devido ao reduzido espaço físico da
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lavanderia. Não havia presença de banheiros, sendo estes existentes apenas nos vestiários. A falta de divisão entre áreas suja e limpa contribuía para que o fluxo cruzado fosse algo recorrente na execução das atividades. 4. Considerações finais O setor de lavanderia, em diferentes situações, é considerado um setor de apoio que apenas supre as necessidades de outro setor fundamental da empresa, não sendo, portanto, gerador de lucros. Sendo assim, o recebimento de verba e incentivos passa, muitas vezes, despercebido pela administração da empresa, reduzindo seu crescimento e acompanhamento das tecnologias. Apesar da falta de visibilidade da lavanderia em relação a outros setores da instituição, uma das realidades estudadas havia sido submetida recentemente à reforma em sua estrutura e equipamentos, o que melhorou o funcionamento e as atividades desenvolvidas, e o que consequentemente reflete na qualidade de vida dos trabalhadores deste ambiente, tornando-o mais favorável às atividades laborais, diminuindo a fadiga mental e física. Após as observações feitas foi possível notar que a lavanderia A possuía um ambiente de trabalho em bom estado de conservação, mas que necessitava ainda de algumas modificações no espaço físico, como o fechamento da abertura existente na área suja, implantação da rampa de carregamento da roupa suja advinda do vestiário masculino, impedindo o contato desta com roupas já processadas, novos equipamentos como exaustores tanto na área limpa (minimizando a temperatura), quanto na área suja com implantação de filtro químico (reduzindo a contaminação por microrganismos). Na lavanderia B, pode-se notar a necessidade de modificações na sua estrutura física, como o aumento do espaço, e separação entre área suja e área limpa, impedindo o fluzo cruzado, implantação de exaustores com filtro químico na área suja e na área limpa para circulação do ar, presença de banheiros nas distintas áreas e novos equipamentos, pois os utilizados não estavam em bom estado de conservação e de capacidade para o volume de roupa processado. Foi possível perceber que a estruturação de uma lavanderia em uma indústria facilita a higienização e a entrega de uniformes aos trabalhadores e visitantes que necessitam de paramentação, levando a concluir que o planejamento e a estruturação deste ambiente tem influência direta no trabalho a ser desenvolvido. Com a estruturação de um ambiente que favoreça o trabalho e o trabalhador, as atividades laborais tendem a ser mais proveitosas, contribuindo para o êxito do trabalho proposto. O planejamento das atividades à serem desenvolvidas no ambiente laboral e o objetivo que se procura alcançar no desenvolvimento das atividades de uma lavanderia de indústria de produtos de origem animal são os norteadores do trabalho a ser desenvolvido, guiando à busca por excelência e qualidade. Referências CÂNDIDO, I.; & VIERA, E.V. Lavanderia Hoteleira: Técnicas e Operações. Caxias do Sul: Educs, 2003. 181p. CARLOS, C. A. L. V. Análise do envelhecimento funcional precoce em funcionários de lavanderias terceirizadas – Belo Horizonte – MG. Viçosa, MG: 2008. 74f. Dissertação (Mestrado em Economia Doméstica) – Universidade Federal de Viçosa, 2008. CASTRO, R.M.S.; & CHEQUER, S.S.I. Serviço de Processamento da Roupa Hospitalar: Gestão e Funcionamento. Viçosa, MG: UFV, 2001. 100p.
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Impacto de variações nos tempos de produção no resultado de um plano mestre de produção Fabio Favaretto <professor.favaretto@gmail.com> Milena Chang Chain <milenachain@gmail.com> Ângelo Márcio Oliveira Sant'Anna <angelo.santanna@pucpr.br> Resumo: Um fator relevante para o planejamento e controle da produção é a qualidade das informações produzidas no processo, tais como: tempos de produção, quantidades em estoque e disponibilidade de recursos. Ademais, atrasos em entregas, falhas nos recursos e outros tipos de imprevistos podem dificultar o atendimento da demanda planejada. Este artigo objetiva identificar os impactos de variações nos tempos de produção no resultado de um plano mestre de produção. Foi desenvolvido um projeto de experimentos de produção de cinco produtos, seis componentes e doze períodos de tempo para analisar os erros nos tempos de produção. A partir do modelo desenvolvido podemos concluir que os erros nas informações sobre os tempos de produção geram um impacto relevante na demanda de produção não atendida. Palavras-chave: qualidade da informação; planejamento de produção; variações nos tempos.
Impact of variations in the production times about a master production plan output Abstract: A significant factor for the production planning and control is produced information quality in the process, such as: production times, inventory quantities and availability of resources. Moreover, delays in deliveries, failures and other types of resources may hinder the unexpected demand service planned. This paper aims to identify the impacts of variations in the production times in the output of a master production plan. We developed a design of experiments for the production of five products, six components and twelve periods of time to analyze the errors in production times. From the developed model we can conclude that errors in the information on production times can to generate a significant impact on the unmet demand of production. Keywords: information quality, production planning, variations in time. 1. Introdução A diversidade de fatores envolvidos e de objetivos a serem cumpridos impõe ao planejamento da produção uma grande complexidade. Um dos objetivos é o atendimento da demanda prevista ou existente. Dificuldades como atrasos em entregas, falhas nos recursos e outros tipos de imprevistos podem dificultar o atendimento da demanda planejada. Neste contexto é discutido também o papel da qualidade das informações utilizadas para a realização deste planejamento, que é dependente de informações como: tempos de produção, quantidades em estoque e disponibilidade de recursos. Caso estas informações tenham problemas de qualidade (incorretas, inacuradas, atrasadas e outros) o planejamento da
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produção pode ser afetado. Vários autores discutem as necessidades de boas informações para a realização do planejamento da produção. Historicamente é aceito que sistemas de planejamento detalhado da produção (MRP – Materials Requirements Planning) somente funcionam adequadamente quando as informações sobre a posição dos estoques tiverem uma acuracidade superior a 98% (CORRÊA e GIANESI, 1996). Exemplos de problemas em algumas informações de planejamento da produção são apresentados em Drohomeretski (2009). A pesquisa apresentada em Bonjour et al. (1997) também relata problemas nas informações dos tempos de produção e seus efeitos na programação da produção. A maioria destes relatos de problemas nas informações usadas no planejamento da produção apresenta necessidades ou qualificações para que as informações sejam utilizadas. No entanto, poucos trabalhos apresentam uma quantificação dos efeitos da utilização de informações de baixa qualidade no planejamento da produção, sendo esta deficiência o problema de pesquisa que motivou o desenvolvimento deste artigo. O objetivo principal deste artigo é identificar os impactos de variações nos tempos de produção no resultado de um plano mestre de produção. O artigo está estruturado como se segue. Para se atingir o objetivo proposto, será feito um levantamento na literatura de pesquisas anteriores que mostram problemas nas informações de planejamento da produção, seus impactos e formas de análise. A seguir será apresentado um modelo de otimização do planejamento mestre da produção, que será utilizado neste trabalho para simular ambientes produtivos. A próxima seção apresentará a metodologia a ser empregada para configuração, simulação e análise dos resultados. Posteriormente os resultados serão apresentados e serão feitas as considerações pertinentes. Por fim, serão apresentadas as conclusões obtidas. 2. Pesquisas anteriores Bonjour et al. (1997) apresentam quatro tipos de falta de acuracidade nos tempos de produção utilizados na programação da produção, listados a seguir: 1. Falta de atualizações regulares nos cadastros de tempos. Este problema gera erros aleatórios nos tempos cadastrados, fazendo com que os tempos reais possam ser maiores ou menores que os tempos cadastrados. 2. Melhorias do processo nos centros produtivos mais carregados. Melhorias pontuais nestes processos fazem com que os tempos reais sejam menores que os cadastrados. 3. Atividades de melhorias nas preparações (set-up). Melhorias nos tempos de preparação podem gerar tempos de produção menores que os cadastrados, sendo esta diferença aplicada a cada rodada de produção do componente, independente da quantidade produzida. 4. Aumentos nos tempos de processamento, devidos a alterações nos processos ou materiais. Estes problemas nas informações dos tempos de produção são aplicados em diversos algoritmos de programação da produção e seus impactos analisados através de simulações. Uma lista de problemas em informações usadas no planejamento da produção, principalmente tempos e posição de estoques, é apresentada em Drohomeretski (2009). O autor realizou diversos estudos de caso e levantou que as principais causas da falta de acuracidade das informações de posição dos estoques são erros no:
Cadastro da estrutura de materiais. Registro de movimentação de materiais. Processo de recebimento de materiais.
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Processo de apontamento de materiais. Processo de expedição de materiais. Os erros no cadastro da estrutura (árvore do produto ou lista de materiais) geram diversas conseqüências no planejamento da produção, entre elas quantidades incorretas de componentes e tempos incorretos de produção e suprimento. Ainda sobre a falta de acuracidade em registros de estoques, DeHoratius e Raman (2008) apresentam um interessante estudo onde são feitas correlações sobre condições (cenários) de lojas e o índice de acuracidade dos respectivos estoques. O relacionamento do controle da produção com problemas nas informações de planejamento da produção é apresentado em Favaretto (2001). O autor cita o apontamento manual da produção como uma fonte de informações incorretas e atrasadas sobre quantidades e tempos de produção. Em Godinho Filho e Fernandes (2006) é apresentado um modelo de planejamento da produção para redução da instabilidade e melhoria do desempenho do sistema MRP, onde uma das causas de instabilidade é o cadastro de tempos incorretos (super dimensionados) e a falta de atualização. O uso de informações estocásticas em modelos de otimização de planejamento da produção florestal foi usado por Volpi et al. (2000), onde informações sobre áreas, compra de material, demanda e volumes são incertas e foram perturbadas, e seu impacto no resultado final foi medido. Em uma pesquisa sobre o impacto de informações não acuradas no desempenho de uma cadeia de suprimentos, Basinger (2006) apresenta uma série de informações que não são conhecidas de forma acurada a priori. Para a medição do desempenho em uma simulação, estas informações sofrem variações. Sobre os tempos de produção é dito que são dependentes de outros eventos (como a seqüência de produção) e não podem ser determinísticos, apresentando então limites (superior e inferior) usados em situações distintas. Sintetizando esta seção, percebe-se a preocupação com a falta de acuracidade nas informações usadas no planejamento da produção, principalmente sobre tempos e quantidades (estoques). Outra preocupação é a identificação de situações mais propícias à ocorrência de problemas com a falta de acuracidade destas informações. Estas preocupações são as justificativas para o desenvolvimento do presente trabalho. 3. Modelo de plano mestre de produção utilizado O modelo de planejamento mestre da produção utilizado neste trabalho foi apresentado em Chu (1995) como um modelo de programação linear que tem como objetivo de maximizar a receita obtida com a produção em um determinado horizonte de tempo. Existe um grupo determinado de componentes, que combinados em diferentes quantidades geram os diferentes produtos. A demanda dos produtos é considerada para todos os períodos do horizonte de planejamento. Cada produto possui um preço de venda. A quantidade produzida de cada produto em cada período multiplicada pelo respectivo preço deve ser máxima. O modelo está sujeito a três restrições. A primeira restrição diz respeito ao fornecimento de componentes, onde cada período possui um fornecimento específico para cada componente. O somatório das necessidades de um determinado componente em um determinado período deve ser menor ou igual ao seu fornecimento (1). As necessidades do componente vêm das quantidades planejadas de produtos. A segunda restrição é relacionada a demanda de cada produto por período. A produção do produto no período deve ser menor ou igual a demanda total do produto (2). A última restrição é relacionada à capacidade. A
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quantidade de tempo (capacidade) disponível nos recursos em cada período é conhecida. Existe uma quantidade de tempo necessária para se produzir cada produto. Assim, a quantidade de trabalho necessária para se produzirem todos os produtos em um determinado período deve ser menor ou igual à quantidade de trabalho disponível (3). Além disso, todas as quantidades a serem produzidas (de produtos por períodos) devem ser maiores ou iguais a zero (4). Não é feita restrição para que as variáveis resposta sejam inteiras. A seguir é feita uma apresentação do modelo matemático. Os produtos são indexados por i = 1, 2, ..., I; os componentes são k = 1, 2, ..., K; e os períodos de planejamento são definidos por j = 1, 2, ..., J. O relacionamento entre os produtos e seus componentes é dado por uma lista de materiais (BOM – Bill of materials) com elementos bik, que representam a quantidade de componentes k no produto i. Outra especificação é o tempo padrão hi necessário para se produzir uma unidade do produto i. A variável de decisão xij é a quantidade do produto i a ser produzida no período j. Cada produto possui um preço de venda, representado por pi. O fornecimento de cada componente k em cada período j é apresentado por skj; a demanda de cada produto i é dada por di e a quantidade de tempo padrão disponível em cada período é dada por gi. O modelo matemático é apresentado a seguir. Maximizar Σi pi Σj xij Sujeito a Σj Σi bik xij ≤ Σj skj Σj xij ≤ di Σi hi xij ≤ gj xij ≥ 0
(1) (2) (3) (4)
4. Metodologia Para se atender o objetivo deste artigo foi utilizado o método experimental. As variáveis do modelo são conhecidas e seus valores serão modificados para se verificar a resposta do modelo. A principal variável a ser testada é aquela relacionada ao erro dos tempos de fabricação. Considera-se que os tempos padrão necessários para a fabricação de cada componente são registrados em bancos de dados. A falta de acuracidade (erro) destes tempos pode ser resultado de qualquer um dos motivos apresentados anteriormente. Assim, em muitos casos o erro incide sobre os tempos registrados. Este erro será considerado de forma homogênea para todos os tempos, e medido em porcentagem. Por exemplo, um erro de 10% significa que os tempos efetivamente considerados no MPS são todos 10% maiores que os tempos registrados. Para se obter sensibilidade sobre o cenário de atuação dos erros, duas outras variáveis serão consideradas. A média dos tempos de fabricação dá uma indicação comparativa da grandeza dos tempos de produção considerados. A outra variável considerada é a dispersão dos tempos, medida através do desvio padrão dos tempos. Em alguns casos os tempos podem ser todos iguais (sem dispersão) ou variarem a partir de uma média. Modificações nas três variáveis apresentadas serão medidas através da variável resposta demanda não atendida. Apesar do modelo ser para maximização da receita, esta não será utilizada por ser dependente em grande parte do preço de venda de cada produto e este não é um aspecto central do planejamento da produção. A variável resposta escolhida é uma medida da qualidade do planejamento realizado.
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Para este trabalho serão considerados 5 produtos (i = 5), 6 componentes (k = 6) e 12 períodos de tempo (j = 12). Os demais valores são fixos e foram definidos para que o cenário mais simples (menores tempos sem dispersão) apresentasse uma demanda não atendida que permitisse sensibilidade suficiente para medir as respostas. O modelo matemático foi implementado usando-se o software Lingo 12. A geração dos dados foi feita em planilha eletrônica MS Excel, assim como o registro dos resultados. A análise estatística foi feita com o software Minitab 15. Para análise dos resultados (impacto dos erros nos tempos de produção) foi feita uma análise de regressão que indicou quais variáveis possuem impacto significativo na resposta e quanto da variação no resultado é explicada pelas variáveis analisadas. Os cenários escolhidos são baseados em dois fatores. O primeiro é o tamanho das ordens, sendo um cenário com média dos tempos igual a 4 e outro igual a 16. Com isso espera-se representar ambientes produtivos com tempos distintos no processo. O segundo fator considerado é a dispersão dos tempos, onde um cenário não tem dispersão (todos os tempos são iguais) e o segundo possui uma dispersão de 25% do valor da média, resultando em uma dispersão de valor 1 para os tempos com média igual a 4 e de valor 4 para os tempos com média igual a 16. A combinação destes fatores resulta em 4 cenários distintos, apresentados na Tabela 1. Cenário 1 2 3 4
Média dos tempos 4 4 16 16
Dispersão dos tempos 0 1 0 4
Tabela 1 – Cenários a serem utilizados no experimento
Para cada cenário foi feito o MPS primeiramente sem considerar erros nos tempos registrados (erro = 0) e depois considerando diferentes valores para estes erros (-10%, -5%, 5% e 10%). Sendo testados estes erros em cada cenário em 20 experimentos e 30 replicações. 5. Resultados O estudo experimental desenvolvido é apresentado na Tabela 2. A demanda média não atendida representa a média das 30 replicações realizadas. A seguir foi feita a análise de regressão linear múltipla dos dados. Uma medida da adaptação (fit) dos coeficientes encontrados é dada pelo valor de R2. Quanto mais próximo a 1 melhor é a adaptação obtida. Neste caso foi encontrado R2 = 0,994 com nível de significância menor que 1% (p < 0,001), o que indica uma excelente adaptação. Os coeficientes obtidos são apresentados na Tabela 3. Coeficiente Valor Constante 2,157 Média dos tempos 29,1864 Dispersão dos tempos -4,844 Erro dos tempos 2,84 Tabela 3 – Coeficientes da regressão.
Estes coeficientes são utilizados para se definir a equação da reta que relaciona as variáveis estudadas (média dos tempos, dispersão dos tempos e erro nos tempos) com o resultado de demanda não atendida. O coeficiente constante (intersecção) indica onde a reta corta o eixo da demanda não atendida. O coeficiente da média dos tempos indica que o
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incremento de cada unidade nesta média incrementa 29,1864 unidades na demanda não atendida. O coeficiente de dispersão dos tempos indica que o incremento de cada unidade no desvio padrão dos tempos diminui 4,844 unidades de demanda não atendida. Por último, o incremento de uma unidade no erro dos tempos incrementa 2,84 unidades na demanda não atendida. A equação resultante (5) é apresentada como: Demanda não atendida = 2,157 + 29,1864 * Média dos tempos – 4,844 * Dispersão dos tempos + 2,84 * Erro dos tempos (5) Experimento (cenário) 1 (1) 2 (1) 3 (1) 4 (1) 5 (1) 6 (2) 7 (2) 8 (2) 9 (2) 10 (2) 11 (3) 12 (3) 13 (3) 14 (3) 15 (3) 16 (4) 17 (4) 18 (4) 19 (4) 20 (4)
Média Dispersão Erro dos tempos dos tempos dos tempos 4 0 10 4 0 5 4 0 0 4 0 -5 4 0 -10 4 1 10 4 1 5 4 1 0 4 1 -5 4 1 -10 16 0 10 16 0 5 16 0 0 16 0 -5 16 0 -10 16 4 10 16 4 5 16 4 0 16 4 -5 16 4 -10 Tabela 2 – Resultados dos experimentos.
Demanda Média não atendida 130.000 124.902 122.360 128.083 114.110 107.500 106.266 108.594 104.770 95.849 467.500 466.177 465.920 461.797 458.785 452.500 452.246 455.476 451.788 435.148
6. Considerações finais As diferenças nas médias obtidas entre os resultados dos cenários 1 e 2 e entre os cenários 3 e 4 mostram que aparentemente o modelo analisado obtém melhores resultados com tempos dispersos (com dispersão diferente de zero). Isso é explicado, pois o modelo procura oportunidades para alocar a maior quantidade de produção possível por período. Com tempos diferentes, os tempos menores podem ser “encaixados” com mais facilidade entre os tempos maiores. Isso permite que se obtenham melhores resultados em termos de atendimento de demanda. Outra consideração é de que a quantidade de componentes de um produto não interfere no resultado, pois os tempos utilizados são associados ao produto. Em estudos futuros serão feitas alterações para que o modelo considere os tempos de cada componente de cada produto. Na equação 5 percebem-se os diferentes impactos das variáveis consideradas. O aumento da média dos tempos tem uma influência 10 vezes maior na demanda não atendida que o erro dos tempos. Se pode dizer então que a demanda não atendida é menos sensível aos erros nos tempos que a média dos tempos. Ainda nesta equação pode-se perceber que a demanda não atendida é inversamente proporcional à dispersão dos tempos, ou seja, quanto mais dispersos os tempos menor a demanda não atendida. Isto pode ser explicado pela mesma consideração feita no início desta seção.
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Deve-se ressaltar que estas considerações são válidas apenas para as condições pesquisadas e não podem ser extrapoladas para outras situações. Uma limitação deste trabalho é que não foram analisadas interações de segunda ordem (uma variável vezes a outra), por se considerar uma análise de regressão linear. Não estão descartadas estas interações, que serão analisadas em trabalhos futuros. Concluindo, pode-se afirmar que, para o modelo analisado, os erros nas informações sobre os tempos de produção geram um impacto na demanda não atendida, na ordem apresentada na equação 5, atendendo assim o objetivo deste artigo. Referências BONJOUR, E.; BAPTISTE, P. P. ; LARCHEVÈQUE, D. Data Quality and Flowshop Scheduling Results. Proceedings of the 6th IEEE International Conference on Emerging Technologies and Factory Automation. Los Angeles, 1997. (pp.87-9) CHU, S. C. K. A mathematical programming approach towards optimized master production scheduling. International Journal of Production Economics, Vol. 38, 1995. (pp. 269-279). CORRÊA, H. L.; GIANESI, I. G. N. Just-in-time, MRP II e OPT: um enfoque estratégico, Ed. Atlas, 1996. DeHORATIUS, N.; RAMAN, A. Inventory Record inaccuracy: an empirical analysis. Management Science, Vol. 54, No. 4, 2008. (pp. 627-641) DROHOMERETSKI, E. Um estudo do impacto das formas de controle de inventário na acuracidade de estoque. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2009. FAVARETTO, F. Uma contribuição ao processo de gestão da produção pelo uso da coleta eletrônica de dados. Tese de doutorado. Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2001. GODINHO FILHO, M.; FERNANDES, F. C. F. Redução da instabilidade e melhoria de desempenho do sistema MRP. Revista Produção, Vol. 16, No. 1, 2006. (pp. 64-79). VOLPI, N. M. P.; CARNIERI, C.; SANQUETTA, C. R. Uma análise da influência da estocasticidade das informações sobre um modelo de programação linear. Revista Pesquisa Operacional, Vol. 20, No. 1, 2000. (pp. 101-115).
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