Revista INGEPRO Setembro de 2011

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Equipe Editorial Editores Científicos Alberto Souza Schmidt (UFSM) Neri dos Santos (UFSC) Editores de Seção Daniel de Moraes Joao (UFSM) José Augusto Arnuti Aita (UFSM) Maurício Nunes Macedo de Carvalho (UFSM) Comissão Científica Ademar Galelli (UCS) Adriano Rogério Bruno Tech (AFA/USP) Alcimar Chagas Ribeiro (UENF) Antonio José C. Pithon (CEFET-RJ) Antonio Carlos de Francisco (UTFPR) Carlos Eduardo Sanches da Silva (UNIFEI) Celso Rodrigues (UFPB) Elóide Teresa Pavoni (UCS) Everton Hillig (UNICENTRO) Fabiana Cunha Viana Leonelli (Embrapa) Fernando Gonçalves Amaral (UFRGS) Gisele Cristina Sena da Silva (UFPE) Guilherme Luís Roehe Vaccaro (UNISINOS) Ieda Kanashiro Makiya (UNIP) Janis Elisa Ruppenthal (UFSM) José Paulo Alves Fusco (UNESP) Junico Valle Antunes (UNISINOS) Leoni Pentiado Godoy (UFSM) Luiza Maria Bessa Rebelo (UFAM) Marcos Ricardo Rosa Georges (PUC) Nelson Casarotto Filho (UFSC) Paulo Mauricio Selig (UFSC) Rudimar Antunes da Rocha (UFSC)

Prezados leitores, A Revista INGEPRO é uma publicação eletrônica mensal, de caráter nacional, sediada na Incubadora Tecnológica de Santa Maria (Universidade Federal de Santa Maria UFSM). O foco da revista é trabalhos científicos inéditos na área de Engenharia de Produção e áreas correlatas, que contribuam para o avanço efetivo dos sistemas produtivos. Como forma de estimular e aumentar a visibilidade de trabalhos realizados nos Programas de Pós-Graduação, também serão publicadas dissertações e Teses, desde que defendidas e aprovadas nos seus cursos de origem. É o primeiro periódico científico eletrônico mensal da área indexado ao Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas, customizado pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciências e Tecnologia, do Ministério da Ciência e Tecnologia, baseado no software OJS, da Universidade British Columbia. Como forma de seguir sua índole de inovação, a Revista INGEPRO também desenvolveu uma versão flip, de sua revista original do SEER. A revista destina-se tanto à comunidade científica (pesquisadores, professores, pós-graduandos e graduandos) como empresarial (diretores, gerentes e profissionais). A língua oficial deste periódico é a portuguesa. Com isso, a Revista INGEPRO vem a ser um veículo para a divulgação de pesquisas, cuja finalidade é contribuir para o avanço da ciência e, desta forma, promover o desenvolvimento sócio-econômico nacional.

Equipe INGEPRO

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Sumário Utilização de indicadores da qualidade para análise de eficiência dos processos em empresas de transporte rodoviário de cargas.

001-013

Enio Fernandes Rodrigues, Alexandre Formigoni, Ivan Pérsio de Arruda Campos, Rosalina Leal

Projeto de Cadeia de Suprimentos e Alinhamento Dinâmico: Proposta de um Quadro Conceitual sobre Potenciais Trade-Offs de Sustentabilidade Ambiental.

014-026

Luis Antonio Santa-Eulalia, Juliano Bezerra de Araújo, Luis Augusto Franciosi, Rodrigo Cambiaghi Azevedo, Carlos Frederico Bremer

Sistema de gestão ambiental e educação ambiental: um estudo de caso em uma empresa do Polo Industrial de Manaus - PIM a partir da percepção de seus colaboradores

027-038

Patrícia Auxiliadora Ribeiro de França, Geraldo Vieira da Costa

Análise da apreciação de consumidores sobre o uso semi-industrial da fibra vegetal amazônica de tucumã-i (Astrocaryum acaule) para o desenvolvimento de produtos: Um estudo de mercado

039-051

Karla Mazarelo Maciel Pacheco, Bernabé Hernandis Ortuño, Ires Paula de Andrade Miranda, Claudete Catanhede do Nascimento, Begoña Agudo Vicente

Características da Inovação: Uma revisão de literatura. Simone Sartori

052-064


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Utilização de indicadores da qualidade para análise de eficiência dos processos em empresas de transporte rodoviário de cargas. Enio Fernandes Rodrigues <eniofr@uol.com.br> Alexandre Formigoni <a_formigoni@yahoo.com.br> Ivan Pérsio de Arruda Campos <ipdacamp@uol.com.br> Rosalina Leal <eniofr@uol.com.br> Resumo: Os aspectos relacionados à qualidade têm recebido uma atenção especial entre as empresas, principalmente no que tange aos indicadores de cunho organizacional. As empresas procuram estabelecer meios para monitorar seu desempenho de forma satisfatória, obtendo uma visão integrada, em tempo real, dos resultados decorrentes das intervenções efetuadas. Uma das dificuldades para isto está na identificação de referenciais que tenham alinhamento de conteúdo e sejam aplicáveis a determinadas formas de negócio. O estudo a seguir apresenta uma análise comparativa entre autores que refletiram sobre o tema e a realidade de uma empresa de transporte rodoviário de cargas com a matriz estabelecida na cidade de São Paulo e cinqüenta e seis filiais, procurando-se avaliar as dificuldades e a aplicabilidade específica desse recurso, o qual é contemplado pelos indicadores selecionáveis por essas organizações. Palavras-chave: Transporte, qualidade, indicadores.

Use of quality indicators for the analysis of efficiency of processes in companies of highway freight transportation. Abstract: All aspects of quality have become of paramount importance among current business endeavors, especially in what regards organizational indicators. Many businesses strive to establish ways to gauge their own performances in a meaningful way, so as to obtain a real-time integral view of the outcomes of all interventions undertaken. In such a context, identifying appropriate referential, aligned in content and applicable to each business endeavor is usually the main obstacle for their application to be really effective. The present work describes the results of a comparative analysis of the works of two different authors who have reflected upon this theme with the reality of a transport company having headquarters in São Paulo City, Brazil, and fifty-six affiliates. A comprehensive evaluation of the problems involved in the process, as well as of the specific applicability of the indicators selected, is presented herein. Keywords: Transportation, quality indicators. 1.0

INTRODUÇÃO

A gestão das organizações tem exigido dos executivos maior atenção na análise dos processos e no apoio às decisões de negócio, sendo que o suporte ao processo decisório tem recebido maior destaque dentro do contexto empresarial. Diante dessa realidade, as

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organizações tem se empenhado em agregar mais eficiência aos seus processos, atendendo às exigências dos clientes, o que permite a racionalização dos mesmos e o aumento da produtividade, refletindo assim na competitividade das companhias. Embora os gestores tenham consciência da importância da melhoria permanente dos processos, diversas empresas ainda apresentam dificuldades na definição das estratégias mais adequadas para obter as melhorias e no monitoramento do desempenho do negócio. Para as organizações, hoje, trabalhar parâmetros qualitativos passa a ser de caráter fundamental para ampliação da satisfação dos seus clientes, fornecendo ênfase aos mecanismos de mensuração e de monitoramento de processos. Tais recursos podem ser traduzidos por meio de indicadores, que fornecem aos gestores toda a posição necessária para que as ações sejam tomadas, ou, pelo menos, parâmetros de monitoramento, porém, com o crescimento da competitividade vem também a necessidade das organizações medirem e controlarem a qualidade do serviço oferecido, exigindo assim mais qualidade, segurança e velocidade nas decisões e nos processos empresariais. Para NOVAES (2001, p. 371), “Medir a eficiência e monitorar permanentemente o desempenho das empresas e subsistemas da cadeia de suprimento passam a ser atividades de grande importância no atual mercado consumidor”. Dessa forma, os indicadores de desempenho apresentam-se como importante recurso de monitoramento para as organizações. Os indicadores de Qualidade são elementos que medem os níveis de eficiência e eficácia de uma organização, ou seja, medem o desempenho dos processos relacionados à satisfação dos clientes. Para Bowersox e Closs (2001, p. 560), “Avaliar e controlar o desempenho são duas tarefas necessárias para destinar e monitorar recursos”. LIMA JUNIOR (2001, p. 141) conceitua indicadores como sendo: “Relações matemáticas, medidas quantitativas de um processo ou resultado, tendo normalmente uma meta associada, e para que possam ser efetivas devem ser de fácil obtenção, compreensão e comparação”. 2.0

OBJETIVOS

Esse estudo realizou uma avaliação dos indicadores propostos por autores quanto à gestão dos processos logísticos, especificamente no transporte, e as aplicações efetuadas por uma organização desse segmento de negócio, visando identificar a aderência quanto às necessidades da empresa e a presença de lacunas que mereçam propostas para ampliar a eficiência do monitoramento e do desempenho organizacional. 3.0

MÉTODOS

O estudo em pauta partiu de uma revisão quanto às definições de indicadores aplicados as organizações de transporte de cargas e por meio de um estudo de campo, feito diretamente com à empresa, realizando um comparativo das práticas adotadas pela empresa e os indicadores citados na revisão. Esse formato permitiu perceber as questões relacionadas ao alinhamento desses indicadores e as oportunidades de melhoria disponíveis nesse contexto. Para maior compreensão da utilização desses indicadores da qualidade, o referido comparativo ocorre entre a empresa em questão e as propostas de dois estudos realizados nesse contexto, de autoria de BASTOS (2003) e ERTHAL (2003). As medições apresentadas nos dados apresentados pela empresa limitam-se até o mês de setembro de 2007, período correspondente a realização do estudo.

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4.0

ESTUDO DE CASO

O presente estudo de caso foi realizado em uma empresa de transporte rodoviário de cargas, que será denominada como empresa “X”, situada em São Paulo, no bairro Parque Novo Mundo, onde iniciou suas atividades em 1938. Atualmente, está presente em todas as regiões do Brasil com um total de 56 unidades e apresenta certificações de qualidade importantes no setor de transporte de cargas em geral, farmacêuticas e químicas. A Empresa possui um Sistema de Gestão da Qualidade que monitora seus processos operacionais e suas interfaces, sendo que seu banco de indicadores tem para a manutenção dessas Normas, estando estruturada em atendimento às legislações e órgãos competentes. É importante enfatizar que existem responsáveis pelas atualizações dos indicadores, com peridiocidade mensal, e para atender aos indicadores externos: avarias, acidentes de trânsito, atraso na coleta, entrega no prazo (por ocorrência Empresa X), entrega no prazo (independente da causa), roubo de carga (total de conhecimentos emitidos) e roubo de cargas (valor roubado) são realizadas reuniões de análise crítica, previamente agendadas quando os resultados não atingem as metas estabelecidas, propondo ações corretivas e de melhorias. A seguir são apresentados os indicadores utilizados pela empresa na gestão da qualidade de seus processos de transporte: Indicador Avarias

Método nº total de volumes com ocorrência (avaria, perda, extravios) x 100 nº total de volumes transportados

Acidentes de Trânsito

nº total de sinistros de trânsito . milhão de km rodados pela frota (própria e terceiros)

Atraso na Coleta

Nº total de atraso nas coletas por ocorrência da empresa x 100 nº total de coletas a serem realizadas

Entrega no prazo

Nº total de atraso nas entregas por ocorrência da Empresa X x 100 nº total de entregas a serem realizadas

Entrega no prazo (independente da causa) Roubo de Cargas Roubo de Cargas

nº total de atrasos nas entregas x 100 nº total de entregas a serem realizadas

Meta < 1,5% máximo 1 acidente a cada milhão de km < 1,5% < 2% < 10%

Nº total de conhecimentos ou docs. sinistro (roubo, furto) x 100 Nº total de conhecimentos ou docs. equivalentes emitidos

< 1%

Valor mercadoria roubada x 100 Valor mercadoria transportada

<2,5%

Ocorrências Operacionais

Valor total de indenizações no mês x 100 Receita mensal

<1%

Horas de Treinamento

nº total das horas de treinamento nº total de funcionários no ano

14h/ funcionário/an o

Tabela 1 - Indicadores utilizados pela empresa X

4.1

Análise dos Indicadores do Sistema de Gestão da Qualidade

As avarias representam um dos fatores de comprometimento do nível de serviço entre as empresas de transporte. O cliente ao solicitar a entrega de um produto, espera que o mesmo seja entregue mantendo sua integridade física e características funcionais, nos mercados competitivos, a logística (entrega) pode impactar negativamente a avaliação global (produtos e serviços agregados) feita pelo cliente, por exemplo, podendo implicar perda de fidelidade ou não repetição da compra, conforme o desempenho das entregas em custo, nível de avarias,

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prazos e consistência geral dos serviços. BALLOU (2001). A comparação entre os objetos desse estudo é apresentada a seguir: Empresa X Avarias

Nº total de volumes com ocorrência (avarias, perdas, extravios) x 100 nº total de volumes transportados

Meta: < 1,5%

BASTOS (2003) Total de pedidos manipulados corretamente Total de pedidos manipulados no período

Manipulação

ERTHAL (2003) PSA (Percentual de Pedidos sem avarias)

Percentual de Pedidos Entregues Sem Avarias x 100 Nº de Pedidos Processados Tabela 2 – Comparativo quanto ao nível de avarias

A empresa e os autores concordam com a importância do indicador, sendo uma forma de medir a participação de ocorrência de avarias em transporte no total expedido, entregando a mercadoria íntegra. Bastos (2003) utiliza a denominação do indicador como “manipulação”, já o ERTHAL (2003) utiliza o conceito de “PSA”, e comenta que através deste índice, verifica-se o montante de pedidos entregues com problemas físicos, ou seja, com problemas de avarias no produto.

Figura 1: Nível de avarias na empresa X

4.1.1 Entregas no Prazo Da mesma forma que o indicador “Avarias”, a entrega no prazo é de fundamental importância pelo fato do cliente desejar ter o produto de forma íntegra e da forma mais rápida possível. Quem compra quer a posse do produto imediatamente, é de total importância que este produto chegue logo às mãos do comprador.

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Entrega no prazo

Empresa X nº total de atraso nas entregas por ocorrência da Empresa X x 100 nº total de entregas a serem realizadas

Meta: < 2%

nº total de atrasos nas entregas x 100 nº total de entregas a serem realizadas BASTOS (2003) Indicador não proposto pela autora ERTHAL (2003) nº Pedidos Entregues no Prazo x 100 nº de Pedidos Processados

Entrega no prazo

PEP (Pedidos Entregues no Prazo)

Tabela 3 – Comparativo quanto ao nível de entregas no prazo

A Empresa X utiliza dois monitoramentos, sendo um apenas com ocorrências da empresa e outro dos agregados, independente da causa. Para BASTOS (2003) não houve a proposta do indicador, no entanto, ERTHAL (2003) concorda com a utilização do indicador, enfatizando que o prazo de entrega do material é um fator extremamente importante ao cliente. Este índice mostra o grau de eficiência com que a empresa está atendendo aos pedidos.

Figura 2: Nível de entregas na empresa X

4.1.2 Acidentes de Trânsito Os acidentes de transito podem representar para as empresas um aumento nos custos operacionais, além do comprometimento da segurança no trabalho para as organizações. Dessa forma deve ser rigidamente monitorado a fim de atender as metas estabelecidas. Empresa X Acidentes de Trânsito

Nº total de sinistros de trânsito . milhão de km rodados pela frota (própria e terceiros) BASTOS (2003)

Meta: No máximo um acidente a cada milhão de km rodado

Indicador não proposto pela autora ERTHAL (2003) Indicador não proposto pelo autor Tabela 4 – Comparativo quanto ao nível de acidentes de transito

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Os autores não apresentam propostas quanto aos de acidentes de trânsito, embora a Empresa X mantenha uma sistemática para o monitoramento dos sinistros, e o envolvimento de motoristas em acidentes de trânsito, visando medidas preventivas.

Figura 3: Nível de acidentes de trânsito na empresa X

4.1.3 Atrasos na Coleta O não cumprimento dos prazos na coleta de produtos na atividade de transportes pode comprometer a satisfação do cliente, uma vez que os espaços destinados a armazenagem e carregamento de mercadorias ficarão ocupados por um tempo superior ao planejado, comprometendo a mobilidade no armazém e a disponibilidade de área para recebimento de novas mercadorias. Atraso na Coleta

Empresa X Nº total de atraso nas coletas por ocorrência da empresa Nº total de coletas a serem realizadas BASTOS (2003) Indicador não proposto pela autora ERTHAL (2003) Indicador não proposto pelo autor

Meta: < 1,5%

Tabela 5 – Comparativo quanto aos atrasos nos prazos de coleta de mercadorias.

Tal como citado anteriormente, o indicador não foi proposto pelos autores, sendo que a empresa X o utiliza por ser um indicador que monitora a eficiência do trabalho na relação com o cliente, também cabendo ressaltar que esses atrasos podem influenciar nas coletas subseqüentes, acarretando também em atrasos na entrega.

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Figura 4: Nível de atrasos na coleta da empresa X

4.1.4 Roubos de Carga O roubo de carga representa um dos principais desafios para os prestadores de serviços de transporte, uma vez que o cliente espera e programa-se para receber a mercadoria, e não o prêmio do seguro. Aplicar meios de controle e monitoramento pode significar um ganho de qualidade na relação com o cliente. Roubo de Carga Roubo de Carga

Empresa X Nº total de conhecimentos ou docs. sinistrados (roubo, furto) x 100 Nº total de conhecimentos ou docs. equivalentes emitidos Valor mercadoria roubada x 100 Valor mercadoria transportada

Meta: < 1% Meta: <2,5%

BASTOS (2003) Indicador não proposto pelo autor ERTHAL (2003) Indicador não proposto pelo autor Tabela 6 – Comparativo quanto ao nível de roubo de cargas.

O Indicador não foi proposto pelos autores, embora a mensuração de roubos e furtos ajuda na decisão de medidas preventivas para que tais sinistros tenham seu grau de ocorrência minimizado.

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Figura 5: Nível de roubo de cargas da empresa X

4.1.5 Processos de Armazenagem e Movimentação A eficiência nos processos de armazenagem pode representar um diferencial competitivo para o operador logístico, pois na guarda, ou resgate de mercadorias, é possível obter vantagens de tempo na relação com o cliente. Para RODRIGUES et al. (2009), “A essência de um sistema logístico está em realizar uma operação dinâmica integrando processos de produção, transporte e armazenagem. Empresa X Indicador não utilizado pela empresa

Armazenagem

BASTOS (2003) Total de pedidos armazenados corretamente total de pedidos armazenados no período ERTHAL (2003)

PPC (Pedidos Preparados corretamente)

Nº de Pedidos Preparados Corretamente x 100 Nº de Pedidos Processados Tabela 7 – Comparativo quanto aos processos de armazenagem.

O Indicador foi proposto pelos dois autores, que concordam na importância da preparação dos pedidos, na armazenagem de forma correta para não ocorrerem danos à carga. A empresa pratica operações de Cross Docking e os produtos apresentam indices de giro, não estocados por períodos significativos. 4.1.6 Disponibilidade de material no estoque A relação de disponibilidade de material em estoque pode comprometer diretamente os tempos de atendimento dos pedidos e o nível de serviço da organização. È importante ressaltar que essas decisões são de ordem estratégica, pois agregam custos aos processos logísticos. Empresa X Indicador não utilizado pela empresa

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PCA (Pedidos Entregues Completos)

BASTOS (2003) Indicador não proposto pela autora ERTHAL (2003) Nº Pedidos Entregues Completos x 100 Nº de Pedidos Processados

Tabela 8 – Comparativo quanto a disponibilidade de material no estoque.

Segundo ERTHAL (2003), este indicador permite visualizar a capacidade do estoque no atendimento as solicitações de material, o autor continua afirmando que melhorar este índice significa aumentar o nível de estoque, o que representa aumento nos custos de armazenagem. O Indicador não é utilizado pela Empresa X e não foi proposto por BASTOS (2003). 4.1.7 Indicador Sistema de Informação Para ROCHA et al. (2010), “Os Sistemas de informação influenciam os processos de negócios e as gerências à medida que fornece benefícios, tais como a integração funcional, redução das redundâncias (processos desnecessários), ajudando no planejamento da organização à medida que fornece informações mais consistentes, minimizando os riscos na tomada de decisão”. Empresa X Indicador não utilizado pela empresa Sistemas de Informação

BASTOS (2003) Total de pedidos processados corretamente pelo sistema de informações Total de pedidos processados pelo sistema de informações no período ERTHAL (2003) Indicador não proposto pelo autor Tabela 9 – Comparativo quanto aos sistemas de informação.

Segundo BASTOS (2003), este indicador consiste em identificar as atividades de cada processo, e então definir e medir a probabilidade de um pedido processado pelo sistema logístico da empresa sair perfeito, assim, diz respeito à eficácia do desempenho considerando a integração das atividades logísticas, e não somente as funções individuais da empresa. A Empresa X não utiliza este indicador e não foi proposto por BASTOS (2003). 4.1.8 Atrasos na transferência Segundo BASTOS (2003), este indicador consiste em identificar atrasos ou falhas no tempo de transferência de cargas planejado. Empresa X Indicador não utilizado pela empresa

Transferência

BASTOS (2003) Total de pedidos transferidos corretamente Total de pedidos transferidos no período ERTHAL (2003) Indicador não proposto pelo autor Tabela 10 – Comparativo quanto aos atrasos na transferência de cargas.

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4.1.9 Indicador Distribuição Para BASTOS (2003), este indicador consiste em medir o grau de satisfação dos clientes com relação aos serviços de transporte sobre os serviços de distribuição como atrasos no tempo de distribuição por falha do motorista, o número de devoluções de cargas por inconformidade na distribuição. Empresa X Indicador não utilizado pela empresa

Distribuição

BASTOS (2003) Total de pedidos distribuídos corretamente Total de pedidos distribuídos no período ERTHAL (2003) Indicador não proposto pelo autor Tabela 11 – Comparativo quanto a distribuição.

4.1.10 Ocorrências Operacionais Para a empresa X, é considerado um indicador interno, que consiste em medir o valor total das indenizações pagas no mês, referentes as avarias ou acidentes . Ocorrências Operacionais

Empresa X Valor total de indenizações no mês x 100 Receita mensal BASTOS (2003) Indicador não proposto pela autora ERTHAL (2003) Indicador não proposto pelo autor

Meta: <1%

Tabela 12 – Comparativo quanto à ocorrências operacionais.

Figura 6: Nível de ocorrências operacionais da empresa X

4.1.11 Horas de Treinamento Para a empresa X, este indicador interno consiste em monitorar as horas de treinamento. Este indicador interno age como suporte e amparo para alguns indicadores

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externos. Quando há ocorrências fora das metas durante três meses consecutivos, entra-se com reuniões de análise crítica e nesta, planos de ação são definidos, e geralmente são através de programas de treinamento. Empresa X nº total das horas de treinamento nº total de funcionários no ano BASTOS (2003)

Horas de Treinamento

Meta: 14h/ Funcionário/ano

Indicador não proposto pela autora ERTHAL (2003) Indicador não proposto pelo autor Tabela 13 – Comparativo quanto as horas de treinamento.

Este indicador não foi proposto pelos autores.

Figura 7: Nível de roubo de cargas da empresa X

De posse da revisão bibliográfica, e o estudo de campo foram identificadas várias formas e métodos de avaliação, sempre voltados aos consumidores e à organização, pode ser resumido como demonstrado na tabela a seguir: Indicadores Avarias Entrega no Prazo Acidentes de Trânsito Atraso na Coleta Roubo de Carga Armazenagem Disponibilidade de material no Estoque Sistemas de Informação Transferência Distribuição Ocorrências Operacionais Horas de Treinamento

BASTOS (2003) X ----X

ERTHAL (2003) X X ---X

Empresa X X X X X X --

--

X

--

X X X ---

------

---X X

Tabela 14 – Resumo dos Indicadores e análise dos autores e empresa

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5 CONCLUSÕES É possível perceber que os três elementos analisados são complementares, pois tanto a empresa, como os autores citados não contemplam com plenitude os indicadores apontados como sendo importantes para a gestão das organizações de transporte de carga. A adoção das vertentes tratadas por todos os envolvidos na pesquisa permitiria um maior controle e a melhoria do desempenho no monitoramento dos processos organizacionais. A empresa X não tem grande enfoque nas operações de armazenagem e gestão dos sistemas de informação, o que pode ser interessante, uma vez que recebe mercadorias de embarcadores para envio ao destino em suas plantas e destina as mesmas. O que exige da empresa uma determinada atenção quanto ao manuseio, endereçamento, e guarda de mercadorias. A empresa poderá se beneficiar de diferenciais de tempo decorrentes da boa gestão desses processos. Percebe-se que as práticas empresariais demonstradas na tabela 14 são superiores em sua profundidade de monitoramento quando comparada a revisão bibliográfica executada junto aos autores, o que pode indicar uma defasagem entre os objetos estudados e as necessidades do ambiente organizacional, ficando como sugestão uma pesquisa mais abrangente quanto aos autores que tratam do assunto relacionado ao transporte rodoviário de cargas. Fica aparente que, tanto os autores citados como a empresa X, não tratam do monitoramento do pós venda dos serviços oferecidos, o que poderia ser um importante aliado quanto ao monitoramento da satisfação do cliente. Com o uso de sistemas de informação e/ou comunicação é possível entrar em contato com o cliente obtendo informações dos serviços prestados. Alguns clientes não reclamam de um serviço que não foi satisfatório, apenas deixam de utilizá-lo, de maneira que, com este acompanhamento, seria assistida a real situação do cliente e conseqüentemente, realizados de planos de melhoria na prestação do serviço com base nos problemas identificados com maior freqüência. Como proposta desta pesquisa, a utilização de um indicador denominado “Acompanhamento Pós-Serviço”, de uso interno, poderia apoiar o processo de forma que a empresa entraria em contato com o cliente obtendo informações sobre o serviço prestado. Acompanhamento Pós-Serviço Fator a ser medido

Número de clientes que foram contatados x 100 Nº de entregas feitas

Ligações estabelecidas para suporte ao cliente

Por meio da pesquisa realizada, percebe-se que para atingir a satisfação do cliente, é necessário conhecê-lo, ouvi-lo e adotar as premissas de credibilidade, acessibilidade e confiabilidade. O indicador proposto permitiria dessa forma examinar:  As tendências e os níveis atuais de satisfação e manutenção dos clientes;  As maiores causas de insatisfação com os serviços prestados pela empresa;  O relacionamento dos clientes com relação à empresa, onde seriam propostos métodos de melhoria quanto ao serviço prestado para a satisfação e conseqüentemente, fidelização do cliente;  Os resultados em relação à concorrência. Para MOREIRA e NARDINI (2003), “As ferramentas de prevenção e correção dos problemas pós-venda são fundamentais para a correção de produtos com alto índice de falha, bem como a prevenção de falhas ou manutenção do bom desempenho”.

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Sendo assim, o indicador proposto ajudaria a identificar as causas da satisfação ou insatisfação dos clientes, onde seriam apontados os problemas que o cliente teve com o recebimento da carga, pois avaliar somente “avarias” ou “atraso na entrega” não oferece a antecedência necessária nas tratativas com o cliente, ou seja, a real situação, oferecendo um posicionamento do motivo mais freqüente, e desta forma, permitindo ações para que sejam sanadas, e assim, oferecendo uma maior eficiência aos programas já existentes na empresa. Como as empresas atuam de modos diferentes, é possível criar modelos que atendam determinado cenário, utilizando-se adaptações das várias propostas existentes. Cabe ressaltar que os indicadores que traduzem o grau de satisfação dos clientes são extremamente importantes, porque contribuem para a avaliação do desempenho no negócio e da competitividade da empresa. WEGNER e DAHMER (2004) afirmam: “...é certo que os indicadores a serem utilizados devem ser adaptados à realidade de cada rede de empresas e, acima de tudo, aos objetivos que a rede se propõe”. De acordo com o porte da empresa, muitos indicadores podem deixar de ser utilizados na avaliação, e outros podem ser aplicados para possibilitar uma visão ampliada do negócio em questão. É importante que sejam utilizados indicadores que possibilitem a obtenção de dados, forneçam informações que apóiem as decisões, direcionem o aperfeiçoamento e a melhoria contínua dos processos da organização, antecipando ações para a manutenção da organização no relacionamento com seu mercado. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NOVAES, A. G. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição: estratégia, operação e avaliação. Rio de Janeiro: Campus, 2001. LIMA JÚNIOR, O. F. Análise e Avaliação do Desempenho dos Serviços de Transporte de Cargas. In: CaixetaFilho, José A.; Martins, Ricardo S. Gestão Logística do Transporte de Cargas. São Paulo: Atlas, 2001. BASTOS, I. D. Avaliação do Desempenho Logístico do Serviço de Transporte Rodoviário de Cargas – Um Estudo de Caso no Setor de Revestimentos Cerâmicos. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção. UFSC, Florianópolis, 2003. ERTHAL, J. A. Indicadores para avaliação da Distribuição Física de Produtos. Dissertação de Mestrado em Engenharia da Produção. UFSC, Florianópolis, 2003. BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento, organização e logística empresarial. Porto Alegre: Bookmann, 2001. RODRIGUES I. M. et al. Matriz para avaliação do sistema de Distribuição de produtos do setor de bebidas. INGEPRO: Inovação, Gestão e Produção, Santa Maria. RS, v.1, n.6, agosto de 2009. Disponível em: <http://ojs.ingepro.com.br/index.php/ingepro/article/view/84/80>. Acesso em: 05 de dezembro de 2010. ROCHA, R. E. V. et al. A utilização dos sistemas de informação como ferramenta efetiva para a gestão empresarial em micro e pequenas empresas do comércio varejista. INGEPRO: Inovação, Gestão e Produção, Santa Maria. RS, v.2, n.10, Outubro de 2010. Disponível em: <http://ojs.ingepro.com.br/index.php/ingepro/article/view/320/275>. Acesso em: 05 de dezembro de 2010. Acesso em: 05 de dezembro de 2010. MOREIRA, S. M. e NARDINI, J. J. Qualidade e comportamento do produto em pós-venda. XXIII ENEGEP – Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP). 2003. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2003_TR0208_1034.pdf>. Acesso em: 05 de dezembro de 2010. WEGNER, D. e DAHMER, L. V. Avaliação de desempenho em redes de empresas. XXIV ENEGEP – Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP). 2004. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2004_Enegep0803_1271.pdf>. Acesso em: 05 de dezembro de 2010.

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Projeto de Cadeia de Suprimentos e Alinhamento Dinâmico: Proposta de um Quadro Conceitual sobre Potenciais Trade-Offs de Sustentabilidade Ambiental. Luis Antonio Santa-Eulalia <luisase@gmail.com> Juliano Bezerra de Araújo <juliano.araujo@axiavaluechain.com> Luis Augusto Franciosi <luis.augusto@axiavaluechain.com> Rodrigo Cambiaghi Azevedo <rodrigo.cambiaghi@axiavaluechain.com> Carlos Frederico Bremer <carlos.bremer@axiaconsulting.com.br>

Resumo: Recentes estudos em gestão da cadeia de suprimentos sugerem que as empresas devem gerenciar dinamicamente diferentes tipos de cadeias de suprimentos a fim de responder adequadamente a diversos tipos de comportamento de compra dos clientes. Nesse contexto, alguns autores propõem que diferentes categorias de cadeia de suprimentos existem, as quais possuem exigências diferentes em termos da estrutura de projeto de rede logística. Algumas cadeias requerem redes mais ágeis, adaptáveis e distribuídas, enquanto outros tipos de cadeia necessitam de uma estrutura basicamente estável e centralizada. Além disso, com a emergência recente de paradigmas verdes de administração, o projeto e a gestão dessas diferentes categorias de cadeias de suprimentos devem levar em conta várias questões ambientais relacionadas, por exemplo, à utilização de energia, emissões de gases de efeito estufa, consumo de materiais e geração de resíduos. Este presente trabalho visa discutir como diferentes tipos de cadeia de suprimentos, servindo diferentes perfis de clientes, conseguem gerenciar diversos trade-offs relacionados ao projeto de redes buscando atender a diversos requisitos relacionados à gestão verde de cadeia de suprimentos. Para tanto, esse trabalho propõe e discute um quadro conceitual combinando estes conceitos, e levantando diversas hipóteses que serão testadas futuramente por meio de simulação e estudos de casos. Palavras-chave: Cadeia de Suprimentos Verde; Alinhamento Dinâmico de Cadeia de Suprimentos; Projeto de Redes Logísticas.

Supply Chain Design and Dynamic Alignment: a Conceptual Framework concerning Potential Environmental Trade-Offs. Abstract: New developments in supply chain management bring attention to the fact that companies need to dynamically manage different supply chains together in order to properly respond to divergent customers’ buying behavior. In order to do so, some authors propose that different types of supply chain exist. Each one of these supply chains has different requirements in terms of the structure of their network design. Some need a faster, more adaptive and distributed network of facilities, while others require a rather stable and centralized structure. Nowadays, with the emergence of the green supply chain management paradigm, when designing and realigning supply chains according to customers behaviors, one needs to consider several environmental issues related, for example, to energy use, greenhouse gas emissions, material consumption and waste generation. This paper investigates how different supply chain types serving different customers profiles can manage

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several network design tradeoffs in order to properly answer some relevant green supply chain management requirements. In order to do so, a conceptual framework combining these three concepts is proposed and discussed. This framework will further serve as a guideline to design a set of simulation experiments and case studies for evaluating the raised hypotheses. Keywords: green supply chain; dynamic supply chain alignment; supply chain network design. 1. Introdução Recentes avanços na área de gestão da cadeia de suprimentos lançam a ideia de que diversos aspectos inconscientes ligados ao modelo de liderança, à cultura organizacional e ao comportamento dos stakeholders na cadeia de suprimentos são de fundamental importância na entrega de valores superiores aos clientes. Nesse sentido, ao cunhar o termo alinhamento dinâmico da cadeia de suprimentos, Gattorna (2006, 2009) sugere que é importante configurar (ou alinhar) as cadeias de suprimentos de forma a se conseguir gerar uma matriz de respostas alinhadas com os comportamentos de compra dominantes dos clientes. Isso se faz necessário porque os clientes são diferentes e possuem necessidades de valor diferentes, requerendo diferentes respostas por parte das cadeias que os servem. As abordagens tradicionais definem apenas uma estratégia atendimento para todos os segmentos de clientes (conhecido como "one size fits all"), em vez de múltiplas possibilidades. No entanto, as empresas obtém um desempenho superior ao primeiramente reconhecer essas diferenças, para em seguida alinhar a entrega de valor em conformidade com as mesmas (GATTORNA, 2006). Em termos práticos, este conceito implica na definição de diferentes estratégias de atendimento para cada grupo de consumidores, incluindo, por exemplo, diferentes níveis de intensidade de comunicação, abordagens colaborativas, preços, qualidade do produto, e assim por diante. Nesse sentido, Gattorna (2006) propõe que quatro tipos de cadeias genéricas existem para atender diferentes tipos de clientes: flexível, ágil, enxuta e de relacionamento. No entanto, para se obter um bom alinhamento da proposta de valor desses tipos de cadeia de suprimentos, faz-se necessário repensar a cadeia como um todo. Os estudos tradicionais na área (COOPER et al., 1997) mencionam que o projeto e a transformação de cadeias devem incluir uma discussão sobre três elementos: processos de negócio, componentes gerenciais e estrutura da rede logística. Por exemplo, com base em uma experiência prática e acadêmica, Bremer et al. (2009) propõem um modelo de alinhamento para as redes colaborativas cobrindo dois desses elementos: um modelo de referência de processos de negócios e um conjunto de componentes gerenciais incluindo princípios (por exemplo, organizacionais e tecnológicos) em uma metodologia de transformação completa. Outros trabalhos interessantes e reconhecidos discutem diferentes processos de negócio ou componentes gerenciais, como Azevedo et al. (2008), SCOR (2006) e Lambert (2004). No entanto, tais trabalhos não consideram explicitamente os princípios de alinhamento dinâmico de cadeia de suprimentos, tal como preconizado por Gattorna (2006). Em termos de design de rede (i.e. o terceiro elemento), vários trabalhos na literatura discutem como estruturar cadeias de suprimentos considerando-se decisões que envolvem a seleção de parceiros, a localização de plantas e armazéns, a definição de capacidade das instalações, a alocação de produtos às instalações e a seleção de modais de transporte, entre outros (KLIBI et al., 2010; KETTANI 2008; LAKHAL et al., 2001; etc.). Essas abordagens

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normalmente empregam métodos analíticos e de simulação. Por exemplo, Kettani (2008) propõe uma metodologia de projeto de rede logística visando maximizar o valor econômico por meio de métodos de otimização encapsulados em uma solução chamada Supply Chain Studio®. Esta solução é capaz de lidar com grandes modelos de programação inteira mista (MIP) com custos côncavos para responder a perguntas relacionadas a, por exemplo, quantos centros de distribuição e instalações fabris a rede deve conter, onde eles devem ser localizados, quais tecnologias de armazenamento e de produção deverão ser adotadas, quanto de capacidade deve ser alocada a essas unidades, qual modelo de transporte deve ser empregado, e assim por diante. Atualmente, estas três questões (processos de negócios, componentes gerenciais e projetos de rede logística) estão sendo discutidas de acordo com uma nova perspectiva emergente na área de negócios: a gestão sustentável da cadeia de suprimentos. Este conceito amplia o tradicional paradigma de gestão de cadeias, extrapolando a dimensão econômica dos objetivos de negócio para duas outras dimensões, a ambiental e a social, tanto do ponto de vista dos clientes, como dos stakeholders (SEURING e MULLER, 2008). Muitos trabalhos discutem como identificar melhores práticas e indicadores de desempenho para o negócio sustentável (por exemplo, HUTCHINS e SUTHERLAND et al., 2008; WILKERSON, 2008). Seuring e Muller (2008) demonstraram que este assunto vem ganhando atenção, mas é evidente que muitos esforços ainda são necessários para transformar esta abordagem em um conceito difundido e aceito. O interesse deste presente trabalho é propor um modelo indicando de que forma o projeto de redes logísticas poderia levar em consideração aspectos de alinhamento dinâmico da cadeia a partir de uma perspectiva de gestão verde, i.e. ambientalmente consciente. Acredita-se fortemente que essa seja uma importante lacuna na literatura acadêmica e profissional. Muitas perguntas ainda precisam ser respondidas, tais como: quais são os principais trade-offs entre os requisitos verdes, os diferentes tipos de cadeia de suprimentos e as topologias de rede logística? Que tipo de cadeia parece ser mais eficiente em termos ambientais e econômicos? Esses são apenas alguns exemplos de questões relevantes na área. Visando tratar algumas dessas questões, o presente trabalho visa levantar algumas hipóteses e fornecer alguns insights iniciais em relação à primeira pergunta. Para tanto, propõe-se um novo modelo conceitual combinando elementos de gestão verde de cadeia de suprimentos, alinhamento dinâmico e projeto de redes logísticas. Esse é um primeiro passo na direção de um modelo completo visando tratar a complexidade dessa problemática contemporânea. Sendo assim, esse trabalho está dividido em quatro partes. A seção 2 resume as bases teóricas da discussão central, a qual será apresentada na seção 3. Na seção 4 discute-se como esses conceitos estão sendo testados na prática e em laboratório. Finalmente, a seção 5 apresenta alguns comentários finais e conclusões. 2.1 Fundamentação Teórica 2.1 Alinhamento Dinâmico de Cadeias de Suprimentos Segundo Gattorna (2006, 2009) as empresas de sucesso são aquelas cuja estratégia, traduzida em uma proposta de valor, está alinhada com o perfil de compras do cliente. Este alinhamento ocorre à medida que o estilo de liderança e as capacidades internas (cultura organizacional) satisfaçam, por segmentos de clientes, os diferentes atributos valorizados

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pelos clientes. O modelo deve alinhar os processos de negócio e a infra-estrutura tecnológica para garantir formatos distintos de operação, e endereçar as necessidades do ambiente competitivo cada vez mais diferenciado. A inovação proposta pelo modelo de Gattorna (2006, 2009) reside no conceito de que diferentes cadeias de suprimentos poderão ser configuradas de acordo com o grupo de cliente servido, cada qual sendo atendido pela forma que mais valoriza. Sendo assim, influenciado pelos estudos do psicanalista Carl Gustav Jung, Gattorna (2006, 2009) sugere, para tanto, a segmentação dos clientes segundo seus comportamentos de compra, os quais possui quatro tipos genéricos: Empreendedores, Produtores, Administradores e Integradores. Para cada segmento de cliente deve estar associado um tipo de cadeia de valor, que é mais adequado para a entrega do valor proposto. Os tipos genéricos de cadeias e suas respectivas propostas de valor são descritos na Figura 1. Essa figura também resume os principais conceitos de Gattorna (2006, 2009) empregados nesse presente trabalho.

Figura 1 – Os quatro tipos genéricos de cadeias de suprimentos, de acordo com Gattorna (2009)

Basicamente, os quatro tipos de cadeias possuem as seguintes características: i) cadeias de relacionamento: onde as relações são mais importantes; ii) cadeias enxutas: onde o foco está na eficiência e menor custo para servir; iii) cadeias ágeis: sempre que a resposta ágil é fundamental; iv) cadeias flexíveis: onde nada é impossível. Mais do que a descrição de estratégias distintas de atendimento ao cliente, o modelo propõe uma importante inovação: que diferentes cadeias podem fluir dentro de uma mesma empresa. Para maiores informações sobre tal modelo, favor consultar Gattorna (2006, 2009). Esse modelo traz novos insights de como projetar cadeias, tal como discutido a seguir.

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2.2 Projeto de Cadeias de Suprimentos O fenômeno da globalização e a crescente complexidade dos processos de negócio muito contribuíram para a emergência da disciplina de projeto de cadeias de suprimentos. Ao desenhar e redesenhar as cadeias (ou redes), as empresas são capazes de reduzir custos e leadtimes de entrega dramaticamente, visando se estabelecer em mercados atuais e novos, executando planos de investimento de longo prazo, bem como estabelecer parcerias sólidas com clientes e fornecedores. A literatura apresenta muitos trabalhos interessantes na área. Alguns se concentram apenas em redes de distribuição (por exemplo, SYARIF et al., 2002), focando em prazos de entrega, localização das instalações de distribuição e escolha de modal de transporte. Outros trabalhos também incluem instalações de fabricação e rede de abastecimento (por exemplo, LAKHAL et al., 2001). O presente artigo foca basicamente na rede de fábricas. Ao projetar e reestruturar a rede de suprimentos, as empresas hoje em dia levam em conta critérios não tradicionais ligados à ecologia e sociedade, tal como preconizado pelo paradigma de gestão verde de cadeias de suprimentos. 2.3 Gestão Verde de Cadeias de Suprimentos A gestão sustentável de cadeias de suprimentos refere-se às ações específicas de gestão que são tomadas com o objetivo de tornar a cadeia de suprimentos mais sustentável, como proposto pelo modelo triple bottom line. Para tanto, o fluxo de materiais, financeiros e de informações deve ser questionado não somente segundo a ótica de valor econômico, mas sim levando-se em conta valores ambientais e sociais (PAGELL e ZHAOHUI, 2009; SEURING e MÜLLER, 2008; SVENSSON, 2007; ELKINGTON, 1998). Seuring e Müller (2008) colocam a responsabilidade de projetar cadeias de suprimentos sustentáveis nas mãos de empresas conhecidas como "líderes de negócios", i.e. as empresas que normalmente direcionam ou gerenciam a cadeia de abastecimento, que podem ou não ter contato direto com os consumidores (e.g. as montadoras em cadeias automotivas). Um dos principais desafios nessa área está relacionado à capacidade de levar em conta uma vasta gama de assuntos em toda a cadeia de valor visando favorecer o pensamento inovador de todos os envolvidos. Esta é considerada a principal barreira para a implementação de práticas sustentáveis em cadeias de suprimentos. Buscando estimular o pensamento inovador na área, a subseção seguinte discute como a reconfiguração de cadeias de suprimentos pode contribuir nesse contexto, de acordo com a perspectiva de design de cadeias múltiplas e de alinhamento dinâmico de Gattorna (2006). 3. Projeto Verde de Cadeias de Suprimentos e Alinhamento Dinâmico Antes de discutir esses três elementos conjuntamente (alinhamento dinâmico, projeto de cadeias de suprimentos e aspectos de gestão verde), será realizada uma análise de dois elementos por vez. Primeiramente, analisa-se como alguns aspectos relevantes sobre o projeto de redes de suprimentos podem estar relacionados a questões ambientais. 3.1 Projetos de Cadeias de Suprimentos e Gestão Verde As principais questões que afetam o desenho da rede logística são amplamente discutidas na literatura. O presente trabalho utiliza como pano de fundo os critérios gerais levantados por Baglin et al. (2007), os quais são: integração da cadeia de suprimentos, terceirização, economias de escala e tecnologia. Além disso, adiciona-se ao debate a utilização da capacidade instalada, o que será discutido logo a seguir.

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Primeiramente, a integração da cadeia de suprimentos refere-se essencialmente à integração vertical. Uma empresa é considerada verticalmente integrada quando possui e gere sozinha todos os diferentes aspectos da fabricação de um produto, a partir da matéria-prima, até a distribuição do produto final. Neste caso, uma empresa verticalizada controla todas as partes do negócio. Por outro lado, as empresas menos verticalizadas preferem fazer uso das estratégias de terceirização e outsourcing estratégico (PIRES et al., 1998) com fornecedores através da transferência de algumas funções não relacionadas com a competência principal da empresa. Tal abordagem permite às empresas se concentrarem em suas forças principais e ter, ao mesmo tempo, acesso a parceiros especializados. Este grau de integração varia de acordo com o continuum integração vertical – outsourcing e de diversos níveis de verticalização existem (Figura 2a). Em termos de fornecimento, as empresas podem ser abastecidas a partir de fornecedores locais ou globais. Fornecedores locais estão localizados próximo às instalações, enquanto os globais são normalmente encontrados no exterior. Fornecedores locais permitem uma estratégia de aquisição mais ágil e flexível, enquanto que os globais são mais custoeficientes e menos flexíveis em relação à estratégia de aquisição. Neste caso, o pool de fornecedores pode ser definido de acordo com o continuum local – global (Figura 2a). Quanto ao terceiro critério, ou seja, economias de escala, as empresas podem concentrar todas as suas atividades em uma ou algumas poucas grandes instalações para a obtenção de economias de escala e de reduções de custos marginais. Por outro lado, pequenas instalações de produção podem ser criadas e espalhadas por todo o mercado, ficando assim mais perto dos clientes. De forma similar ao critério anterior, vários graus de economias de escala existem no interior do continuum centralizado – distribuído da Figura 2a. O quarto critério diz respeito à tecnologia, o qual é definido entre os casos extremos de tecnologia especializada (ou exclusiva) e tecnologia polivalente. Facilidades exclusivas ou especializadas tendem a ser mais eficientes, mas são menos flexíveis. Tecnologias polivalentes, por outro lado, tendem a ser flexíveis, mas menos eficientes. Finalmente, o último critério refere-se à utilização da capacidade, que varia no continuum capacidade plena – capacidade ociosa (Figura 2a). Neste caso, ao funcionar com plena capacidade a empresa tenta melhor ocupar todos os seus recursos, o que pode limitar a habilidade em absorver possíveis variações de demanda. O uso de capacidade ociosa é uma estratégia conhecida para permitir absorção de eventuais variações não previstas de demanda, mas elas normalmente incorrem em custos adicionais e em menor eficiência operacional. Esses critérios podem ser entendidos a partir do ponto de vista ambiental. Diversos autores (e.g. ARAÚJO e OLIVEIRA, 2008) defendem que alguns dos aspectos mais importantes para se avaliar o quanto uma cadeia de suprimentos é verde estão relacionados, por exemplo, às emissões de gás de efeito estufa - GEE (e.g. CO2), o uso de materiais (e.g. matérias-primas), o consumo de energia, a geração de resíduos e a conservação da biodiversidade. Apesar da relevância do conceito de biodiversidade, optou-se nesse trabalho por não incluí-la no modelo devido à dificuldade de generalizá-la, sendo necessário discuti-la numa base individual, pois esse aspecto depende das regiões onde as instalações serão colocadas. Além disso, as emissões de GEE e o consumo de energia estão intimamente relacionados (STOKES, 2009), assim eles serão considerados em conjunto nesse trabalho. Consequentemente três aspectos ambientais são considerados: Energia/GEE, consumo de materiais e geração de resíduos. Estes aspectos são usados para construir três indicadores

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de performance (KPI - Key Performance Indicators) que oferecem uma dimensão relativa da cadeia, conforme formulado em (1):

Sendo:  i ∈ {Energia/GEE, materiais, resíduos};  Valor Agregado = contribuição dos fatores de produção, por exemplo, terra, trabalho e bens de capital, no aumento do valor dos produtos e serviços gerados;  Aspecto Verde ∈ {consumo/emissões de Energia/GEE, ou consumo de materiais, ou geração de resíduos}; A dimensão relativa permite uma análise mais justa, pois a mesma base é utilizada quando se compara um tipo de cadeia de suprimentos com outra (i.e. o valor que está sendo adicionado ao longo da cadeia de suprimentos). A Figura 2b propõe comparar os cinco critérios de projeto de rede anteriormente discutidos a partir de um ponto de vista ambiental relativo. Na Figura 2b o sinal (+) significa que o aspecto avaliado tem um impacto positivo sobre o critério selecionado. Por exemplo, práticas de outsourcing estratégico tendem a ter um impacto positivo sobre o consumo de energia e as emissões de GEE desde que parceiros mais especializados e eficientes sejam selecionados. Ao contrário, o sinal (-) indica que o aspecto possui um impacto negativo. Por exemplo, empresas altamente verticalizadas que gerem tudo, desde a origem das matérias primas até o consumo final, tendem a ser menos eficientes em termos de consumo de energia e de emissões de GEE. A principal razão está relacionada ao fato de que as empresas que se concentram em suas competências essenciais tendem a ter processos de negócios e recursos mais eficientes. Como a eficiência está intimamente relacionada ao consumo de energia e às emissões de gases, levanta-se a hipótese esquematizada na Figura 2b. Note-se que neste caso, não se discute se o processo de outsourcing exigirá mais transporte ou não, sendo que este aspecto é abordado pelo critério “fornecimento”.

Figura 2 – Projeto de rede de cadeia de suprimentos e alguns trade-offs verdes

Com relação ao fornecimento, argumenta-se que as abordagens “locais” favorecem o uso menor de transporte, uma vez que os fornecedores estão mais próximos, reduzindo assim o consumo de energia e emissões de GEE. Não se pode formular a mesma hipótese no que

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tange ao consumo de materiais e geração de resíduos, uma vez que não foi possível identificar correlações diretas entre os mesmos. Isto é devido ao fato de que uma das razões mais comuns para se praticar o global sourcing é reduzir os custos através da utilização dos chamados Low Cost Countries, o que não implica necessariamente uma maior eficiência do processo. O terceiro critério, ou seja, economias de escala, é conhecido por ser fortemente correlacionado com a eficiência do processo. A partir disso, sugere-se que as instalações maiores tendam a proporcionar um desempenho superior em termos de consumo de materiais e desperdício. Em contraste, as redes altamente distribuídas tendem a ter processos de fabricação menos eficientes (se comparado com uma grande unidade que possui elevada economia de escala), consequentemente gerando mais impactos ambientais para estes dois aspectos. Quanto à Energia/GEE, acredita-se que este seja um critério que necessita ser discutido numa base individual, dado que o mesmo pode induzir um importante trade-off, considerando a eficiência de processos fabris e de transporte. Assim, este critério não pôde ser generalizado de forma adequada. O quarto critério está relacionado à tecnologia, que pode ser especializada ou polivalente. A especialização também está fortemente associada com eficiência, sendo assim pode-se crer que instalações especializadas tendem a gerar menos resíduos, consumir relativamente menos materiais por valor agregado, e são mais eficientes em termos de Energia/GEE que tecnologias polivalentes. No entanto, estruturas especializadas normalmente não permitem rápidas reações às variações de mercado. Finalmente, o framework da Figura 2b levanta a hipótese de que a utilização da capacidade também pode ter um impacto ambiental a partir da perspectiva do design da rede. Ao se gerenciar melhor a capacidade da cadeia, ou seja, favorecendo a sua utilização máxima, pode-se supor que menos energia será consumida por valor agregado, bem como emite-se menos GEE quando comparado à cadeias com excesso de capacidade ociosa, pois é comum existir consumo/emissões de fundo em equipamentos em standby. Como será discutido na próxima subseção, o problema com este critério é que a capacidade ociosa, por vezes, precisa ser considerada em alguns tipos de cadeia de suprimentos visando obter flexibilidade superior da cadeia. Quanto aos dois outros aspectos (materiais e resíduos), acredita-se que eles são muito mais relacionados às taxas de produção e não à estrutura da rede. A subseção seguinte discute como estes parâmetros de projeto de rede podem ser entendidos a partir da perspectiva de alinhamento dinâmico. 3.2 Alinhamento Dinâmico e Projetos de Cadeias de Suprimentos Esta seção reúne os cinco critérios de projeto de rede (Subseção 3.1) com a noção de alinhamento dinâmico da cadeia de suprimentos discutido anteriormente na Subseção 2.1. A Figura 3a resume a idéia básica dessa discussão.

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Figura 3 – Tipos de Cadeias de Suprimentos e Trade-Offs a serem gerenciados

Na Figura 3a, o critério "aberto" refere-se a uma situação onde é preciso avaliar a contexto em uma base individual, sendo que não é possível generalizar esses critérios. Sendo assim, levanta-se a hipótese de que a cadeia de suprimentos flexível tende a ter a estrutura descrita na Tabela 1.

Tabela 1 – Cadeias de suprimentos flexíveis

Exatamente do lado oposto de uma situação flexível, a cadeia de suprimentos enxuta tende a ter uma estrutura de rede com as características descritas na Tabela 2.

Tabela 2 – Cadeias de suprimentos enxutas

O terceiro tipo de cadeia refere-se à abordagem ágil, a qual está descrita na Tabela 3.

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Tabela 3 – Cadeia de Suprimentos ágeis

No lado oposto, há as cadeias de relacionamento, que normalmente têm a sua estrutura de rede definida tal como descrito na Tabela 4.

Tabela 4 – Cadeias de suprimentos ágeis

É importante lembrar que esse trabalho busca levantar hipóteses fundamentais somente, e que a discussão sobre esses critérios de projeto de rede representa apenas uma tendência de acordo com o ponto de vista dos autores, e que várias exceções são possíveis. Conforme será discutido posteriormente, alguns estudos experimentais estão em curso para tentar validar algumas dessas hipóteses. A subseção seguinte analisa algumas possíveis trade-offs verde para os quatro tipos de cadeia de suprimentos. 3.3 Trade-Offs Fundamentais Esta subseção fornece um primeiro framework geral no sentido de combinar aspectos verdes com critérios de projeto de rede visando verificar quais possíveis trade-offs ambientais as empresas provavelmente enfrentam ao lidar com múltiplas cadeias de suprimentos de acordo com a teoria do alinhamento dinâmico proposto por Gattorna (2006). A Figura 3b resume esses principais trade-offs. Duas situações possíveis existem na Figura 3b:

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1) Pontos de Atenção: fazem referência a uma situação em que o critério de projeto de rede a ser inspecionado é considerado "aberto". Neste caso, o designer de rede terá de avaliara numa base individual, sendo que o critério em questão terá quer ser gerenciado para que o mesmo não vá para o lado negativo do continuum. Por exemplo, para uma cadeia de suprimentos flexível, não existe uma estratégia de fornecimento típica. Neste caso, pode-se navegar entre as abordagens locais e globais, mas sabe-se que o abastecimento global é geralmente menos eficiente em termos de consumo de energia e emissões de GEE. Neste caso, o projetista da rede terá que lidar com essa questão com cuidado. A Figura 3b indica que uma cadeia flexível possui somente um ponto de atenção, por exemplo. 2) Pontos Críticos: neste caso, a opção considerada adequada para o tipo de cadeia está em conflito com alguns requisitos verdes. Por exemplo, uma cadeia flexível tende a empregar tecnologias polivalentes, mas este tipo de tecnologia é geralmente menos eficiente em termos de energia / GEE, consumo de materiais e geração de resíduos. A Figura 3b indica, por exemplo, que uma cadeia flexível possui normalmente seis pontos críticos, sendo que tais pontos terão de ser gerenciados adequadamente. Talvez seja necessário levantar medidas visando compensar e equilibrar os impactos ambientais desses pontos. Como pode ser observado na Figura 3b, a cadeia flexível é provavelmente a situação mais complexa a ser gerenciada devido ao fato de que seis pontos críticos e um ponto de atenção existem. Pontos de atenção são mais flexíveis, sendo possível manipulá-los a fim de reduzir o seu impacto. Os pontos críticos, ao contrário, são mais complexos porque se referem a requisitos importantes para servir os clientes que requerem muita flexibilidade, assim eles são difíceis de mudar. Neste caso, iniciativas verdes mais radicais podem ser consideradas. Por exemplo, uma vez que os pontos críticos relacionados com a Energia / GEE estão presentes três vezes em ambientes flexíveis (ver Figura 3b), a empresa provavelmente terá que avaliar a possibilidade de empregar as energias alternativas, incluindo energia eólica, solar, biomassa, biocombustíveis e outras, visando reduzir impactos ambientais e melhor atingir os requisitos verdes. Outras iniciativas também podem ser avaliadas, tais como a compra de créditos de carbono, promover o uso de tecnologias limpas, etc. A cadeia de suprimentos ágil também é uma situação complexa a ser gerenciada, dado que seis pontos de atenção e um ponto crítico estão presentes. Capacidades ociosas são normalmente correlacionadas com desempenho ambiental inferior, bem como alguns pontos de atenção relacionados com à tecnologia, integração vertical e estratégias de fornecimento também existem, mas tais pontos podem ser administrados mais facilmente. Cadeias de relacionamento e cadeias enxutas representam situações menos complexas, porque em geral representam situações que permitem mais facilmente a criação de uma rede de instalações que respeite as exigências ambientais. Apesar do fato de três pontos de atenção estarem presentes para ambos os tipos de cadeia, apenas alguns pontos críticos existem, sendo dois para a cadeia de relacionamento e um para a cadeia enxuta. Assim, basicamente dois grupos de tipos de cadeia de suprimentos existentes: do lado direito, as cadeias flexíveis e ágeis são consideradas as situações mais complexas; do lado esquerdo, as cadeias de relacionamento e enxutas representam situações com uma quantidade inferior de pontos críticos e de atenção, sendo assim mais fáceis de ser projetadas a fim de assegurar uma performance verde superior. Acreditamos fortemente que isto está relacionado a uma característica destes tipos de cadeias: a demanda, a qual é bastante instável e menos previsível no primeiro grupo, de modo que exige mais flexibilidade e consequentemente menos eficiência.

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4. Conclusões e Trabalhos Futuros Este artigo propõe um quadro teórico inovador visando combinar os princípios de projeto de cadeias de suprimentos com a teoria de alinhamento dinâmico e cadeias de suprimentos múltiplas, a partir de uma perspectiva de gestão ambiental. Ao combinar esses conceitos, verifica-se que vários trade-offs ambientais existem ao se projetar diferentes cadeias de suprimentos visando atender clientes distintos. Nesse sentido, o framework proposto é um primeiro passo para a criação de uma teoria definitiva nessa área de conhecimentos em emergência. O quadro aqui proposto está sendo usado para a realização de uma série de estudos experimentais e empíricos. Em um primeiro momento, a equipe de pesquisadores está levantando dados reais de indústrias na área de bens de consumo não-duráveis, como foco em cadeias de suprimentos ágeis. Esses dados estão sendo imputados em uma ferramenta de projeto de redes logísticas que emprega métodos de otimização de sistemas. Diversos cenários de projeto de rede estão sendo criados com base no framework proposto. Um estudo preliminar deverá ser publicado em breve. Em um segundo momento, a equipe pretende realizar estudos qualitativos baseados em estudos de caso. Empresas de diversos sectores deverão ser estudadas a fim de se detalhar o quadro conceitual aqui proposto, fornecendo mais detalhes dos trade-offs a serem vivenciados por empresas que projetam ou reestruturam suas cadeias de suprimentos. Novos insights surgirão e novas versões desse quadro conceitual serão publicadas em um futuro próximo. Referências ARAUJO, J. B. AND OLIVEIRA, J.F.G. Proposal of a Methodology Applied to the Analysis and Selection of Performance Indicators for Sustainability Evaluation Systems. In: Curran, R.; Chou, S.Y.; Trappe, A.. (Org.). Collaborative Product and Service Life Cycle Management for a Sustainable World. London: Springer, p.593-600, 2008. AZEVEDO, R.S.C., D'AMOURS, S. AND RÖNNQVIST, M. SCM process-oriented framework – a theoretical proposal. The 3rd World Conference on Production and Operations Management (POM), Tokyo, Japan, 2008 BAGLIN, G, BRUEL, O., GARREAU, A., GREIF, M., KERBACHE, L. AND DELFT, C.V. Management industriel et logistique : concevoir et piloter la supply chain. Paris: Economica, 2007. BREMER, C.F., AZEVEDO, R.C. AND KLEN, A.P. Long-lasting business transformation in value chains. Seventh Annual Supply Chain Management Symposium. October 28 - 30 2009, Toronto, Ontario, Canada, 2009. COOPER, M., LAMBERT, D.M. AND PAGH, J.D. Supply Chain Management: More Than a New Name for Logistics. The International Journal of Logistics Management Vol. 8, n. 1, p.1 -14, 1997. ELKINGTON, J. Cannibals with Forks – The Triple Bottom Line of 21st Century Business. Environmental Quality Management Vol. 8, n. 37, 1998. GATTORNA, J. Living Supply Chains: Alinhamento dinâmico de cadeia de valor. São Paulo: FT Prentice Hall, 2009. GATTORNA, J. Living Supply Chains: How to mobilize the enterprise around delivering what your customer want. London: FT Prentice, 2006. HUTCHINS, M.J. AND SUTHERLAND, J.W. An exploration of measures of social sustainability and their application to supply chain decisions. Journal of Cleaner Production Vol. 16, p.1688–1698, 2008 KETTANI, O. A DSS for the design of supply networks, CORS/Optimization Days 2008 joint conference. Canada, May 12 -14, 2008. KLIBI, W., MARTEL, A. AND GUITOUNI, A. The design of robust value-creating supply chain networks: a critical review. European Journal of Operational Research Vol. 203, n. 2, p. 283-293, 2010. LAKHAL, S., A. MARTEL, O. KETTANI ET M. ORAL On the Optimization of Supply Chain Networking Decisions. European Journal of Operational Research Vol. 129, n. 2, p. 259-270, 2001.

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Sistema de gestão ambiental e educação ambiental: um estudo de caso em uma empresa do Polo Industrial de Manaus - PIM a partir da percepção de seus colaboradores Patrícia Auxiliadora Ribeiro de França <patrirbo@gmail.com> Geraldo Vieira da Costa <adm.patriciafranca@gmail.com> Resumo: O cenário mundial, nas últimas décadas, mudou sensivelmente, transformando a variável ambiental em um diferencial competitivo. Nesse cenário, a educação ambiental ganha um papel relevante na construção de valores, indo além dos objetivos previstos para os treinamentos indicados pela Norma ISO 14.001. É disto, portanto, sistema de gestão ambiental e educação ambiental, que trata este trabalho cuja realização teve como ponto de partida encontrar resposta à problematização: em que medida o sistema de gestão ambiental adotado por uma empresa do Polo Industrial de Manaus – PIM contribui para a educação ambiental de seus colaboradores? Em decorrência de tal pergunta, o trabalho teve como objetivo geral verificar, a partir da percepção de colaboradores, se a empresa pesquisada contribui para a educação ambiental dos seus funcionários ou em suas práticas pessoais e profissionais. Para encontrar resposta à pergunta, e considerando tal objetivo, foi realizado um estudo de caso, com pesquisa empírica do tipo descritiva, sobretudo na forma de trabalho de campo. A conclusão é que os colaboradores percebem a educação ambiental como sendo uma importante ferramenta do SGA, influenciando em suas práticas pessoais e profissionais, adquirindo a capacidade de disseminar informações sobre a temática ambiental para aqueles que os circundam. Palavras-chave: sistema de gestão ambiental; educação ambiental; coleta seletiva.

Environmental management system and environmental education: a case study in a company of the Industrial Pole of Manaus - PIM from the perception of its employees Abstract: The global in recent decades, has changed significantly, the variable transformed in a competitive environment. In this scenario, environmental education won a major role in building values, going beyond the goals set for the training given by ISO 14001. It is therefore environmental management system and environmental education, which is carrying out this work which had as a starting point to find answers to the problems: to what extent the environmental management system adopted by a company in the Industrial Pole of Manaus PIM contributes to environmental education of its employees? Due to such a question, the study aimed to determine the general, from the perception of employees if the company researched environmental education contributes to their employees or their personal and professional practices. To find an answer to the question, and considering this goal, we performed a case study with a descriptive empirical research, especially in the form of field work. The conclusion is that employees perceive environmental education as an important

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tool in EMS, influencing their personal and professional practices, acquiring the ability to disseminate information on environmental issues for those who surround them. Key words: environmental management system; environmental education; selective collect. 1. Introdução O cenário mundial relacionado ao meio ambiente mudou sensivelmente, transformando a variável ambiental em um diferencial competitivo importante com o qual as empresas têm se preocupado. Tal preocupação vem de encontro a todo um processo de mudança na conscientização, comportamento e atitude ambiental, o qual teve sua origem após a Conferência de Estocolmo, realizada em 1972 na Suécia, que firmou a base para um novo entendimento a respeito das relações entre o meio ambiente e o desenvolvimento. A partir disso, surgiram várias ações no sentido de promover a diminuição dos impactos causados ao meio ambiente. Essas ações somadas aos acidentes ocorridos reforçaram a necessidade de um entendimento internacional sobre as questões ambientais, surgindo assim, as normas ambientais internacionais, destacando-se especialmente a série de normas International Organization for Standardization - ISO 14.000, no Brasil denominada NBR ISO 14.000. Esta norma, afirma Nani (2010) determina os elementos para um Sistema de Gestão Ambiental – SGA, tendo por finalidade equilibrar a proteção ambiental e a prevenção da poluição com as necessidades socioeconômicas e é aplicável a organizações de todos os tipos e portes, adequando-se as diferentes condições geográficas, culturais e sociais. Por conseguinte, representa a mudança organizacional, motivada pela internalização ambiental e externalização de práticas que integram o meio ambiente e a produção. Assim, segundo a norma ISO 14.001 (2004), a empresa ao implantar um SGA deve promover a conscientização de todos os seus colaboradores para a importância da preservação ambiental, por meio de ações como treinamentos e a criação de condições de trabalho capazes de prevenir o surgimento de situações de risco, havendo a necessidade da ampliação dos horizontes da organização e de seus funcionários, demandando que uma nova cultura seja construída. Para Valle (2006), a inserção dessas ações na cultura da organização exige um sistema de comunicação eficiente entre seus vários níveis hierárquicos, por meio do estabelecimento de um Programa de Educação Ambiental - PEA que mobilize não só seus funcionários, mas também todos que estão envolvidos diretos ou indiretamente com a organização, como seus clientes, fornecedores, acionistas, governo e comunidade local. Neste sentido, a Educação Ambiental - EA, tema deste trabalho, definida como um processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, quando praticada no espaço empresarial abre espaço aos funcionários para que conheçam a problemática ambiental, incentivando-os a desenvolver um novo método de pensamento para agir de forma integrada e polivalente frente aos complexos problemas globais. É neste contexto que a prática da coleta seletiva de materiais na organização, e posteriormente sua reciclagem, funciona como um processo de educação ambiental na medida em que sensibiliza os seus funcionários sobre os problemas do desperdício de recursos

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naturais e da poluição causada pelos resíduos, fortalecendo, desta forma, comunidades locais e habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes. Diante do exposto, visando abordar especificamente uma empresa do Polo Industrial de Manaus - PIM tem-se como problema de pesquisa: em que medida o sistema de gestão ambiental adotado por uma empresa do PIM contribui para a educação ambiental de seus colaboradores? Acredita-se que as empresas, ao adotarem práticas ambientais, despertam a conscientização e o espírito de responsabilidade social em seus colaboradores, estimulando-os a preservação do meio ambiente, com foco na coleta seletiva, bem como, orientando-os a contribuírem com a geração de emprego e renda aos catadores. Isto posto, este trabalho tem como objetivo geral verificar, a partir da percepção de colaboradores, se a empresa pesquisada, localizada no Polo Industrial de Manaus – PIM e que possui Sistema de Gestão Ambiental - SGA, contribui para a educação ambiental dos seus funcionários ou em suas práticas pessoais e profissionais. Especificamente pretende-se identificar: se e como acontece o processo de educação ambiental em empresa com certificação ISO 14.001; se a empresa pesquisada apóia e incentiva a criação de projetos pelos seus colaboradores que visam à preservação ambiental; se, decorrentes dos processos de gestão ambiental e educação ambiental, ocorrem reflexões e mudanças de atitudes referentes a questões ambientais no contexto profissional e pessoal dos trabalhadores da empresa estudada.; e ainda, verificar o grau de interesse dos funcionários com relação às questões ambientais. Pelos argumentos anteriores é possível expor que a justificativa pela escolha do tema dá-se por ser de suma importância se procurar, por meio da educação ambiental com o foco na coleta seletiva, motivar as pessoas a serem as responsáveis pela primeira triagem dos resíduos. Isto desenvolvendo, simultaneamente, uma consciência coletiva e ecológica e, também, orientando as pessoas a contribuírem com a geração de emprego e renda para os catadores, bem como para a preservação do meio ambiente. 2. Sistema de gestão ambiental, educação ambiental e coleta seletiva A abordagem da temática educação ambiental vinculada ao modo como os colaboradores percebem-na, exige tratar da mesma no contexto das empresas, pondo em evidência a prática da coleta seletiva como um dos fatores importantes para a construção da educação ambiental. Tais aspectos são abordados a seguir. 2.1 O sistema de gestão ambiental conforme a norma ISO 14.001 Assim como os sistemas de gestão da qualidade, segurança e saúde ocupacional e responsabilidade social, também a preocupação com o meio ambiente, como observa-se atualmente, vem tendo importância cada vez maior para as organizações e para as partes interessadas (funcionários, clientes, fornecedores, acionistas, governo etc.). Para Ribeiro Neto et al. (2008), a conscientização com as questões ambientais passa obrigatoriamente por uma maior percepção dos impactos gerados pela atuação do homem, tanto os imediatos como os que serão herdados pelas gerações futuras. Esta conscientização surgiu com o passar dos anos e veio crescendo progressivamente, e é nesse contexto que surgem as normas ambientais internacionais. Destaca-se especialmente a série de normas ISO 14.000, no Brasil denominada NBR ISO 14.000. A série de normas ISO 14.000 determina os elementos para um sistema de gestão

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ambiental – SGA, tendo por finalidade equilibrar a proteção ambiental e a prevenção da poluição com as necessidades socioeconômicas e é aplicável a organizações de todos os tipos e portes, adequando-se as diferentes condições geográficas, culturais e sociais, assim afirma Nani (2010). Neste sentido, Tinoco e Kraemer (2004, p. 6) definem um sistema de gestão ambiental como: “Um conjunto de procedimentos para gerir ou administrar uma organização, de forma a obter o melhor relacionamento com o meio ambiente. Dessa forma, este sistema consiste, principalmente, no planejamento das atividades da empresa, buscando a minimização ou a eliminação dos impactos negativos ao meio ambiente, por meio de ações preventivas ou medidas mitigadoras, dando preferência às primeiras.”

O sistema de gestão ambiental mais difundido é o que tem por referência os requisitos estabelecidos pela ISO 14.001:2004. Esta norma especifica os requisitos para que um sistema da gestão ambiental capacite uma organização a desenvolver e implementar políticas e objetivos que levem em consideração requisitos legais e informações sobre aspectos ambientais significativos. Pretende-se que se aplique a todos os tipos e portes de organizações e para adequar-se a diferentes condições geográficas, culturais e sociais. De modo geral, a implantação de um sistema de gestão ambiental pode gerar benefícios para todas as partes envolvidas, direta ou indiretamente, com a empresa, conforme podemos observar na Figura 1. Para a empresa - Criação de imagem “ecológica” - Controle dos seus impactos ambientais - Acesso a novos mercados - Melhoria na competitividade - Otimização de recursos - Menor risco de sanções do poder público

Para o meio ambiente - Racionalização do uso das matérias-primas e outros insumos - Conservação dos recursos naturais - Diminuição e controle de poluentes; - Harmonização das atividades com o ecossistema

Implantação de um sistema de gestão ambiental

Para os clientes - Confiabilidade na sustentabilidade do produto - Credibilidade na empresa por sua atuação responsável - Cuidados com a disposição final do produto; - Incentivos à reciclagem do produto

Para os funcionários - Conscientização ambiental - Melhor condição de trabalho - Maior segurança; - Comprometimento com o meio ambiente

Para a comunidade - Atendimento à legislação pertinente - Redução da poluição - Maior segurança

FIGURA 1 – Benefícios da implantação de um sistema de gestão ambiental. Fonte: Ribeiro Neto et al.(2008).

Assim, a adoção da norma ISO 14.001:2004 possibilita às organizações implementar, manter e aprimorar o sistema de gestão ambiental; assegurar-se da plena conformidade com a política ambiental; e demonstrar a conformidade do atendimento desses requisitos.

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Esta norma possui alguns requisitos, entre eles vale ressaltar que o de competência, treinamento e conscientização especifica que a organização deve assegurar que qualquer pessoa que, para ela ou em seu nome, realize tarefas que tenham o potencial de causar impactos ambientais significativos identificados pela organização, seja competente com base em formação apropriada, treinamento ou experiência, devendo reter os registros associados. A organização deve identificar as necessidades de treinamento associadas com seus aspectos ambientais e seu sistema da gestão ambiental. Em decorrência disto, é que as organizações que implantam um sistema de gestão ambiental devem treinar e capacitar seus funcionários a fim de se tentar controlar os impactos gerados ao meio ambiente. Neste sentido, Vilela Júnior e Demajorovic (2006) salientam a necessidade da ampliação dos horizontes da empresa e de seus funcionários, demandando que uma nova cultura seja construída. Muito além dos treinamentos para os empregados, as empresas precisam pensar que estão lidando com pessoas, com individualidades, com histórias de vida, com crenças, valores e culturas, ou seja, com hábitos que determinam comportamentos, consolidando-se, então, um cenário muito mais complexo que implica ações tanto no ambiente interno da empresa quanto no externo. Para Valle (2006), a inserção dessas ações na cultura da organização exige um sistema de comunicação eficiente entre seus vários níveis hierárquicos, por meio do estabelecimento de um Programa de Educação Ambiental - PEA que mobilize todos os seus integrantes como veremos a seguir. 2.2 A educação ambiental como ferramenta do sistema de gestão ambiental Segundo Penatti e Silva (2008), a prática de atividades voltadas à capacitação profissional por intermédio da educação ambiental no espaço empresarial, além de cumprir um requisito do sistema de gestão ambiental, abre espaço aos funcionários para que conheçam tal problemática , incentivando-os a desenvolver um novo método de pensamento para agir de forma integrada e polivalente frente aos complexos problemas globais. Para os mesmos autores, a educação ambiental na empresa conduz os profissionais a uma mudança de comportamento e atitudes em relação ao meio ambiente interno e externo das suas organizações, despertando o interesse em cada funcionário na ação e busca de soluções concretas para os problemas ambientais que ocorrem principalmente no seu dia-a-dia. De acordo com Valle (2006) a educação ambiental constitui um processo ao mesmo tempo informativo e formativo dos indivíduos, tendo por objetivo a melhoria de sua qualidade de vida e a de todos os membros da comunidade a que pertencem. Para ele, é fundamental que os colaboradores da empresa reconheçam na educação ambiental um novo fator de progresso pessoal, não a confundindo com treinamento profissional, muito embora os dois se complementem no âmbito da organização. Vilela Júnior e Demajorovic (2006) salientam que por meio de um processo de educação ambiental os funcionários adquirem condições de assumir o papel de agentes de mudança em qualquer contexto e situação. Neste sentido, a empresa deve promover a curiosidade e a construção de conhecimento estimulando os empregados a contribuírem, por meio de sugestões, com o melhor desempenho pessoal e da corporação. Infelizmente algumas empresas ainda veem a educação ambiental apenas como um mecanismo para a redução na utilização de recursos naturais, no sentido de redução de custos e não demonstrando preocupação com sua extinção, bem como combate ao desperdício, e

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que, além disso, ela deva ser aplicada apenas aos funcionários que possam promover um impacto ambiental significativo. Outro fator preocupante é o fato da educação ambiental estar sendo desenvolvida única e exclusivamente em função de um requisito da Norma ISO 14.001, e se a mesma não for atendida integralmente, na próxima auditoria a certificação pode ser perdida devido a tal não-conformidade (MEDEIROS, 2004). Assim, conforme Motta (2010), um programa de educação ambiental não pode ficar restrito a um programa de treinamento, como requisito de um SGA, por exemplo, visando à sensibilização e motivação dos funcionários, e sim atuar de forma ativa no próprio posto de trabalho dos colaboradores. Para o mesmo autor, a educação ambiental é um grande agente catalisador do processo de interação dentro da empresa, motivo pelo qual torna-se uma ferramenta essencial para o SGA. A coleta seletiva, por sua vez, funciona como um processo de educação ambiental na medida em que sensibiliza os funcionários sobre os problemas do desperdício de recursos naturais e da poluição causada pelos resíduos, fortalecendo, desta forma, comunidades locais e habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes. 2.3 A coleta seletiva como processo de educação ambiental Uma das maiores preocupações da atualidade é a grande quantidade de resíduos gerada e que causa diversos problemas ao meio ambiente, falta de espaço para os resíduos, existência de lixões, degradação dos recursos naturais, custos elevados com coletas e tratamentos. De acordo com Nani (2010), a empresa consciente com os problemas que afetam o equilíbrio da vida do planeta, deve propor aos seus colaboradores a prática da coleta seletiva, assim como dos 3 (três) Rs: Reduzir o desperdício; Reutilizar sempre que for possível antes de jogar fora; Reciclar, ou melhor, separar para a reciclagem. Santos et al. (2002, p. 53) explicam que “a coleta seletiva é um sistema de recolhimento de materiais recicláveis, previamente separados na fonte geradora (casas, condomínios, escolas, empresas etc.) que são vendidos aos sucateiros ou diretamente às indústrias recicladoras”. Hoje, a coleta seletiva é o principal e mais simples sistema de controle de um importante aspecto ambiental da sociedade: os resíduos sólidos domésticos. O lixo gerado pela população nas suas mais complexas áreas de atuação causa enormes dificuldades na forma de disposição e tratamento final. A coleta seletiva é considerada como uma forma de preparo dos materiais para uma destinação diferenciada dos resíduos potencialmente recicláveis, reduzindo, desta forma, o encaminhamento para locais impróprios e sem a mínima estrutura para a sua disposição final, como lixões a céu aberto ou terrenos baldios (PENATTI e SILVA, 2008). Programas de coleta seletiva são definidos, basicamente, na separação de materiais com a finalidade de retorná-los à indústria para serem beneficiados, transformando-os em produtos comercializáveis para o mercado de consumo. Como resultado da reciclagem dos materiais previamente separados pelo descarte seletivo e encaminhado pela coleta seletiva, muitos benefícios ambientais podem ser notados, entre eles Tchobanoglous et al. (1993) destacam a conservação das fontes de recursos naturais e o aumento da vida útil dos aterros; além dos históricos ganhos econômicos, haja vista que a coleta e o transporte convencional dos resíduos requerem gastos substanciais de trabalho e energia. Por outro lado, vale ressaltar que a prática da reciclagem, como um processo advindo

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da coleta seletiva, além de ser uma das formas concretas de preservar o meio ambiente é a principal fonte de renda de muitas famílias, assim afirmam França et al. (2010). Ao adotarem a transformação de modelos de empregos e investimentos para adaptá-los à prática reciclável, as empresas geram novos empregos em muitos setores e economias e criam milhões de novos postos de trabalho em diversos países: industrializados e em desenvolvimento. Penatti e Silva (2008) explicam que os programas de coleta seletiva marcam o início da popularização de informações sobre a problemática ambiental causada pelo lixo, tendo como público alvo a população em geral, sendo a educação ambiental um fator imprescindível para a prática da coleta seletiva e o posterior gerenciamento adequado e sustentável dos resíduos. Ela deve ser utilizada como instrumento para a reflexão das pessoas no processo de mudança de atitudes em relação ao correto descarte do lixo e à valorização do meio ambiente. No contexto empresarial pode-se reconhecer a educação ambiental como base para a implantação de programas de coleta seletiva pois possibilita a formação dos funcionários conscientes, onde estes adquirem certa percepção do meio ambiente, estabelecendo um novo hábito para o descarte de materiais, tornando-os mais envolvidos com a problemática do lixo gerado, podendo, assim, alterar os seus valores de padrão de consumo, bem como influenciar em suas práticas ambientais dentro da própria empresa e também fora dela. Por conseguinte, empresas geralmente adotam o programa de coleta seletiva para controle de um de seus aspectos ambientais, que é a geração do lixo doméstico pelos seus colaboradores ou por algum tipo de processo produtivo. 3. Trajetória Metodológica A pesquisa, enfatiza Prestes (2007), designa um conjunto de atividades que têm como finalidade descobrir novos conhecimentos. Daí a necessidade de, para assegurar sua dimensão de cientificidade, descrever, de modo o mais preciso possível, o que ela é e como se deu sua realização. Neste sentido, ainda com base em Prestes (2007), considerando o objetivo desta pesquisa, define-se como pesquisa empírica, posto que se volta para esclarecer a problemática observada, objetivando codificar o lado mensurável da realidade. No que se refere à forma de estudo do objeto da pesquisa, ela é do tipo descritiva. Isto porque o fenômeno sob estudo foi observado, registrado, analisado e interpretado sem qualquer interferência dos pesquisadores. Quanto ao objeto de estudo a pesquisa é, sobretudo, de campo, haja vista o uso que se faz de questionários, por meio dos quais coletou seus dados, investigando os pesquisados em seus próprios meios. Estas duas últimas classificações, vale dizer, também tendo como referência o que esclarece Prestes (2007). Tendo como locus o Polo Industrial de Manaus – PIM, a pesquisa desenvolveu a coleta de dados, nos meses de agosto e setembro de 2010, junto a colaboradores de uma grande indústria nacional, que atua no ramo de bebidas e que possui Sistema de Gestão Ambiental. O instrumento adotado foi o questionário, contendo 9 questões de múltipla escolha que são perguntas fechadas, mas que apresentam uma série de possíveis respostas, abrangendo várias facetas do mesmo assunto. O questionário foi aplicado a dez (10) colaboradores da empresa, gerando dados que, a partir da estatística descritiva, foram interpretados ou representados como se apresenta e se discute posteriormente. O número de colaboradores da empresa pesquisada, no momento do levantamento de dados, era de cinco mil (5.000) pessoas. A amostra selecionada de dez (10) colaboradores teve por fundamento o tipo da amostragem por conveniência que corresponde à participação voluntária dos respondentes ou os elementos da amostra são escolhidos por uma questão de

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conveniência do pesquisador. Dessa forma, os colaboradores foram escolhidos de forma não aleatória e não probabilística, sendo dois (2) do departamento comercial, dois (2) do departamento de pessoal, dois (2) do departamento de vendas, dois (2) do departamento de promoções e propagandas e dois (2) de uma empresa terceirizada do ramo de refeições, a fim de se obter opiniões de diferentes setores da organização acerca do tema estudado. Considerando que os aspectos éticos consistem na proteção do indivíduo e das coletividades no momento da produção de conhecimento, este trabalho procurou não melindrar ou causar danos àqueles que responderam ao instrumento de pesquisa. 4. Resultados e Discussões Os colaboradores, primeiramente, foram perguntados até que ponto consideram que sua Empresa promove palestras ou seminários, a fim de identificar se esta incentiva a conscientização ambiental daqueles. O gráfico 1 mostra que 10% dos colaboradores dizem que somente às vezes estas práticas são promovidas por sua Empresa, 20% dizem que quase sempre sua Empresa promove programas, como palestras ou seminários, voltados para a conscientização ambiental, seguido de 70% que consideram que sua Empresa sempre promove internamente programas voltados para a conscientização ambiental dos mesmos, o que é uma decorrência dos benefícios gerados com a implantação efetiva de um sistema de gestão ambiental na empresa, conforme já apontavam Ribeiro Neto et al. (2008). Cerca de 90% dos respondentes dos questionários, como se vê no Gráfico 2, apontaram que sua Empresa sempre apóia e incentiva projetos desenvolvidos pelos próprios funcionários que visam a preservação do meio ambiente. O que enfatiza as considerações de Motta (2010) acerca de um eficaz programa de conscientização, em que este não pode ser apenas informativo e nem ficar eternamente na "sensibilização" das questões ambientais globais e sim ter uma postura construtiva onde há o envolvimento de todos na discussão das questões ambientais da empresa, seu desempenho ambiental e o próprio desempenho operacional. Ademais, nota-se também que, como bem destacaram Vilela Júnior e Demajorovic (2006), com o Programa de Educação Ambiental - PEA na empresa os funcionários adquirem condições de assumir o papel de agentes de mudança em qualquer contexto e situação, contribuindo, por meio de sugestões, com o melhor desempenho pessoal e da corporação.

100,0%

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Até que ponto você considera que sua

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Indique em que medida sua empresa apóia e incentiva projetos desenvolvidos pelos próprios ffuncionários que visam à preservação do meio ambiente

empresa promove palestras ou seminários Gráfico 1 – Até que ponto você considera que sua Gráfico 2 - Indique em que medida sua empresa apóia que incentivam a conscientização ambiental empresa promove palestras ou seminários que e incentiva projetos desenvolvidos pelos próprios funcionários que visam à preservação do meio incentivam a conscientização ambiental. ambiente.

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No Gráfico 3, observa-se que 90% dos participantes revelaram que as informações divulgadas pela Empresa os motivaram a mudar de atitude dentro da organização, índice também significativo para essas informações mudarem de atitude em casa (fora da empresa), cerca de 60% dizem que sempre mudam de atitude em casa devido informações recebidas pela empresa e 40% afirmam quase sempre isto acontece, conforme mostra o Gráfico 4. As questões 5 e 6 versam sobre a retransmissão das informações obtidas dos processos de educação ambiental da Empresa tanto para amigos, familiares ou para colegas de trabalho. O gráfico 5, como se vê, revela que 50% dos funcionários dizem que sempre retransmitem informações recebidas pela Empresa para seus amigos ou familiares, 40% dizem que quase sempre isto acontece e 10% revelam que somente às vezes retransmitem informações das empresas para seus amigos ou familiares. E o gráfico 6 indica que a maioria dos respondentes (70%) dizem que sempre retransmitem essas informações para seus colegas de trabalho, 10% dizem que quase sempre fazem isto, 10% dizem que somente às vezes, já 10% dizem que quase nunca retransmitem essas informações.

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Gráfico 3 - Até que ponto informações sobre meio ambiente motivam você a mudar de atitude dentro da empresa.

sempre

em que medida vocêmedida muda de atitude GráficoIndique 4em- casa Indique em que você muda de por causa de alguma informação sobre meiopor ambiente por suainformação atitude em casa causapromovido de alguma empresa sobre meio ambiente promovido por sua empresa.

Estes índices apontam um interesse de disseminar informações sobre a temática ambiental para aqueles que circundam os respondentes dos questionários.

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Com que frequencia você retransmite informações recebidas nos processos de educação ambiental da sua empresa para amigos e/ou familiares

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Gráfico 5 - Com que frequência você retransmite informações recebidas nos processos de educação ambiental da sua empresa para amigos e/ou familiares. ambiental da sua empresa para seus colegas de trabalho.

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Para além disto, quando os respondentes foram perguntados até que ponto estes consideram que sua Empresa apóia e incentiva cooperativas de catadores, os índices revelaram, conforme verifica-se no gráfico 7, que 50% dizem que sua Empresa sempre apóia cooperativas de catadores, seguido de 10% que dizem que quase sempre isto acontece, todavia 10% dizem que quase nunca. A distribuição percentual apresentada pelos colaboradores respondentes em relação ao grau de interesse dos mesmos quanto às questões ambientais, como se vê no gráfico 8, revela que a maioria dos respondentes (60%), seguido de 30%, afirmam possuírem um elevado grau de interesse em relação as questões ambientais, e apenas 10% afirmam ter esse interesse de forma razoável.

80,0% 60,0%

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que ponto você considera que sua Gráfico empresa 7Até - Até quee ponto você considera apóia incentiva cooperativas de que sua catadores empresa apóia e incentiva cooperativas de catadores.

razoável

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Indique qual o seu grau de interesse em relação às questões ambientais

Gráfico 8 - Indique qual o seu grau de interesse em relação às questões ambientais.

A última questão objetivou colher dos respondentes respostas às alternativas integrantes da seguinte pergunta: Na sua percepção, qual o grau de eficácia das ações praticadas por sua Empresa, que visem à educação ambiental do seu público externo (clientes, fornecedores, acionistas, comunidade local). Os percentuais dados às alternativas, como se observa no gráfico 9, revelaram que 60% dos respondentes dizem que sua Empresa tem um alto grau de eficácia quanto a praticas que visem a educação ambiental de seu público externo, seguido de 30%, perfazendo assim um total de 90%, e somente 10% responderam que esse grau de eficácia é razoável. Fato este que já havia sido destacado por Valle (2006) e que, aqui, se confirma, pois, para ele, a educação ambiental deve ser promovida não somente para a melhoria da qualidade de vida de seus funcionários, mas também para a de todos os membros da comunidade a que pertencem.

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Na sua percepção, qual o grau de eficácia das ações praticadas por sua empresa, que visem à educação ambiental de seu público externo (clientes, fornecedores, acionistas…

Gráfico 9 - Na sua percepção, qual o grau de eficácia das ações praticadas por sua empresa, que visem à educação ambiental do seu público externo (clientes, fornecedores, acionistas, comunidade local).

5. Considerações finais Em meio a tantas mudanças no âmbito organizacional, a educação ambiental, embora contribua para a construção de um sistema de gestão ambiental, assume um papel fundamental pois tem como objetivo alcançar uma transformação profunda em todos os colaboradores da Empresa, do presidente ao "chão-de-fábrica", sobre questões como o uso inteligente dos recursos naturais, condições mais seguras sob o aspecto ambiental para os operários, redução das infrações ambientais e destinação final adequada de resíduos, caminhando, dessa forma, além do desejo de cumprir um requisito que vise à certificação. Considerando ter sido o objetivo geral deste trabalho o de verificar, a partir da percepção de colaboradores, se a empresa pesquisada, localizada no Polo Industrial de Manaus – PIM e que possui Sistema de Gestão Ambiental - SGA, contribui para a educação ambiental dos seus funcionários ou em suas práticas pessoais e profissionais, bem como considerando os resultados aqui encontrados e discutidos, é possível concluir que os respondentes percebem a educação ambiental como sendo uma importante ferramenta do sistema de gestão ambiental da empresa pesquisa, pois contribui para o processo de conscientização dos mesmos, onde adquirem condições de assumir o papel de agentes de mudança em qualquer contexto e situação, influenciando, inclusive, em suas práticas pessoais e profissionais, bem como, adquirem a capacidade de disseminar informações sobre a temática ambiental para aqueles que os circundam, como seus familiares, amigos e colegas de trabalho. Outrossim, os colaboradores percebem que as ações realizadas por sua empresa em relação ao seu público externo, como apoio e incentivo a cooperativa de catadores, despertam nos mesmos um elevado grau de interesse em relação as questões ambientais e, de modo mais comprometido, com a sustentabilidade. Além de perceberem tais práticas com extremo valor para enfrentar delicados problemas ambientais. Percepções estas que confirmam aspectos contemplados pela literatura sobre o tema.

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Assim, com a realização desta pesquisa, pode-se constatar que a educação ambiental nas empresas tem um papel relevante para a comunidade local e mundial, pois conduz os profissionais a uma mudança de comportamento e atitudes em relação ao meio ambiente interno e externo às organizações, despertando a conscientização para a ação e a busca de soluções concretas para os problemas ambientais que ocorrem principalmente no seu dia-adia, no seu local de trabalho e na execução de suas tarefas. Por conseguinte, esta pesquisa contribui no sentido de motivar as pessoas a serem as responsáveis pela primeira triagem dos resíduos, além de oferecer material teórico para uma maior consciência coletiva e ecológica que possa orientar as pessoas a contribuírem com a geração de emprego e renda para os catadores, bem como para a preservação ambiental. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 14.001. Sistemas da gestão ambiental - Requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro, 2004. FRANÇA, Patrícia Auxiliadora Ribeiro de; ALMEIDA, Úrsula Naiara Mendes de; ANDRADE, João Bosco Ladislau de. A responsabilidade social de empresas do Pólo Industrial de Manaus - PIM e a reciclagem como sua ferramenta: um estudo de caso sobre a ótica dos consumidores. INGEPRO – Inovação, Gestão e Produção, v.02, no11, novembro de 2010. Disponível em: www.ingepro.com.br. Acesso em: 12 de abril de 2011. MEDEIROS, Tiziana Azario de. Educação Ambiental e o processo produtivo: um estudo de caso nas empresas do Polo Industrial de Manaus/AM. Manaus:UFAM/Fundação Universitária Iberoamericana, 2004. MOTTA, Márcio Jardim. A educação ambiental nas empresas e o Sistema de Gestão Ambiental, 2010. Disponível em: http://www.ietec.com.br/site/techoje/categoria/detalhe_artigo/135. Acesso em: 30 de outubro de 2010. NANI, Everton Luiz. Meio ambiente e reciclagem. Curitiba: Juruá, 2010. PENATTI, Fabio Eduardo; SILVA, Paulo Marcos. Coleta Seletiva como Processo de Implantação de Programas de Educação Ambiental em Empresas: Caso da Bioagri Laboratorios. In: 1o SIMPÓSIO DE PÓSGRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2008, Rio Claro. Anais... Rio Claro: UNESP, 2008. Disponível em: http://www.rc.unesp.br/igce/simpgeo/765-781fabio.pdf. Acesso em: 29 de outubro de 2010. PRESTES, Maria Lucia de Mesquita. A pesquisa e a construção do conhecimento científico: do planejamento aos textos, da escola à academia. 3ª ed. São Paulo: Rêspel, 2007. RIBEIRO NETO, João Btista M.; TAVARES, José da Cunha; HOFFMANN, Silvana Carvalho. Sistemas de gestão integrados: qualidade, meio ambiente, responsabilidade social e segurança e saúde no trabalho. São Paulo: Senac São Paulo, 2008. SANTOS, Maria Cristina dos; TOPAN, Cláudia Saldanha de Oliveira; LIMA, Ellen Kathulen Rabelo. Lixo: curiosidades e conceitos. Manaus, editora da Universidade Federal do Amazonas, 2002. TCHOBANOGLOUS, George; THEISEN, Hilary; VIGIL, Samuel. Integrated sdid waste management: engineering principles and management issues. Singapore, McGraw – Hill International editions, 1993. TINOCO, J. E. P.; KRAEMER, M. E. P. Contabilidade e gestão ambiental. São Paulo: Atlas, 2004. VALLE, Cyro Eyer do. Qualidade Ambiental - ISO 14.000. 5a ed. São Paulo: Senac, 2006. VILELA JÚNIOR, Alcir; DEMAJOROVIC, Jacques. Modelos e ferramentas de gestão ambiental: desafios e perspectivas para as organizações. São Paulo: Senac, 2006.

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Análise da apreciação de consumidores sobre o uso semi-industrial da fibra vegetal amazônica de tucumã-i (Astrocaryum acaule) para o desenvolvimento de produtos: Um estudo de mercado Karla Mazarelo Maciel Pacheco <karlamazarelo@hotmail.com> Bernabé Hernandis Ortuño <bhernand@degi.upv.es> Ires Paula de Andrade Miranda <ires@inpa.gov.br> Claudete Catanhede do Nascimento <catanhed@inpa.gov.br> Begoña Agudo Vicente <bagudo405p@cv.gva.es> Resumo: Este artigo descreve uma sondagem de opiniões e idéias fornecidas, por 408 pessoas, com respeito à utilização semi-industrial de uma fibra natural amazônica para a fabricação de produtos. O estudo foi desenvolvido a partir de um levantamento bibliográfico, aplicação de questionário e análise dos dados por meio de freqüências, nível de significância e cálculo de medias. Os resultados apresentados identificaram: o perfil do consumidor, os níveis de apreciação, consumo e razão do uso de produtos desenvolvidos com fibras vegetais; o posicionamento sobre a inserção de novas matérias-primas no mercado; o grau de aceitação da fibra vegetal de tucumã-i (Astrocaryum acaule) para o uso semi-industrial em produtos e os aspectos considerados relevantes para esse processo. Como conclusão, apesar dos elevados números de aprovação para o tema proposto, o público entrevistado ainda ressaltou que a matéria-prima necessita de uma atenção maior no momento da sua adaptação tecnológica, de modo a não comprometer os seus valores intrínsecos. A qualidade do material deverá ser o fator primordial a ser contemplado para esse processo, de forma à favorecer tanto para sua inserção no mercado quanto para o seu uso semi-industrial na fabricação de produtos e, com isso, oferecer benefícios aos seus futuros consumidores. Palavras-chave: Estudo de Opinião; Fibra Vegetal Amazônica; Produto Semi-Industrial.

Analysis of the appreciation of consumers about the use of semiindustrial plant fiber Amazon tucuma-i (Astrocaryum acaule) for product development: A market study. Abstract: This article describes opinions and ideas provided by 408 people in a survey, with respect to the semi-industrial use of an Amazon natural fiber for the products manufacture. The study was developed from the literature review, a questionnaire application and data analysis in terms of frequencies, level of significance and calculation of averages. The results presented were: the consumer profile, the levels of discretion, consumption and use of products developed from natural fibers. As well the consumer position on the inclusion of new raw materials market, the degree of acceptance of the tucumã-i fiber (Astrocaryum acaule) for semi-industrial use of the products and the relevant aspects to this process. In conclusion, despite his high approval of the proposed theme, the public has also directed his interest toward technological adaptation of the raw material, in order not to compromise their intrinsic values. The material quality should be the main factor considered in this process, in

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order to facilitate both their market access and its use in the manufacturing of semi-industrial products. In this way it could provide benefits to future consumers. Keywords: Study of Opinion; Amazon Fiber Plant, Semi-Industrial Product. 1. Introdução A identificação de oportunidades é uma etapa permanente no processo de desenvolvimento de novos produtos. Ela representa a busca sistemática de informações que permitem a organização competitiva para a comercialização de produtos ou serviços. Assim, tanto um quanto o outro, pode dispor de uma grande probabilidade de sucesso se satisfazer, com benefícios, as necessidades expressas pelo mercado (COOPER, 1993). Estudar as influências e as características do comportamento do consumidor, a fim de obter condições de um planejamento mais eficaz das ações para a concepção de propostas adequadas, de uso e de desenvolvimento de novos produtos, torna-se indispensável para um bom posicionamento no mercado, uma vez que a sondagem de opiniões baseia-se na idéia de que os seus resultados contêm a expressão da vontade popular e representa uma maneira efetiva de conhecer o que as pessoas pensam, contribuindo para uma investigação mais séria e eficaz sobre a metodologia do desenvolvimento de produto, que possa reduzir riscos e intervalos para a sua utilização (CHAMPAGNE, 1998). Neste contexto, o presente estudo descreve uma análise do posicionamento dos consumidores sobre o uso semi-industrial da fibra vegetal amazônica de tucumã-i (Astrocaryum acaule) para o desenvolvimento de novos produtos, razão pela qual se encontra centralizado nos seguintes objetivos:  Identificar o perfil dos consumidores;  Observar os níveis de apreciação, consumo e razão do uso de produtos concebidos a partir das fibras vegetais;  Conferir o número de aprovação à inserção de novas fibras vegetais no mercado;  Verificar o grau de aceitação para o uso semi-industrial da fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule) para o desenvolvimento de novos produtos;  Identificar os aspectos considerados relevantes ao processo; 2. Fibras vegetais e novos produtos As fibras vegetais, por serem abundantes, de baixo impacto ambiental e oferecerem propriedades tecnológicas adequadas às aplicações na indústria, estão se tornando alternativas atrativas do ponto de vista econômico e sustentável, o que vem aumentando através dos avanços nas pesquisas orientadas a sua utilização (GUIMARÃES et al., 2010). Para Aguiar Neto (1996), o campo de emprego das fibras vegetais é bastante amplo, abrangendo aplicações clássicas na indústria têxtil com a confecção de novos produtos, sobretudo, para a produção de tecidos naturais com composições variadas, enfatizando a reutilização e a reciclagem de materiais e participando do movimento de conscientização ao meio ambiente. Outra forma de emprego é o desenvolvimento de peças para acabamento interno de veículos, apresentando propriedades mecânicas, térmicas e acústicas bastante relevantes (MARINELLI et al., 2008). Fibras como: a juta, o sisal, o coco, o rami, o cânhamo, a fibra de madeira, o bagaço de cana e várias outras, são exemplos de recursos vegetais que têm sido utilizados como matérias-primas para compor materiais novos e apresentando-se como grandes potenciais

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comerciais (BLEDZKI & GASSAN, 1999). O crescente interesse pelo conhecimento sobre as estruturas das fibras vegetais e suas propriedades, as quais auxiliam na produção de novos produtos e de novas aplicações, mostra-se cada vez mais em evidência tanto para o âmbito científico como para o campo mercadológico (MENDES, 1992). A busca por informações e aspectos que possam contribuir para o desenvolvimento de produtos, são características desejadas pelo mercado consumidor que impulsiona os processos de investigação para analisar e trabalhar em todos os possíveis setores, como por exemplo: na identificação de novas fibras, na produção de fios, na tecelagem, nos acabamentos, nos equipamentos e, etc. Tudo isso, formando parte de um processo de tomada de decisão complexo e interativo com vários estágios e filtros. Portanto, é preciso estar ciente que: a velocidade, a eficiência e a qualidade do trabalho é que determinará a competitividade do novo produto, assim como, é imprescindível ter o conhecimento necessário sobre a matéria-prima a ser empregada durante todo o prodecimento (TAKAHASHI & TAKAHASHI, 2007). 2.1 Os benefícios identificados na fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule) A busca por novas matérias-primas naturais é um incentivo que vem partindo da indústria, da ciência e de alguns países em desenvolvimento, com o intuito de desenvolver novos produtos que apresentem boa qualidade, funcionalidade, conforto, aspectos ecossustentáveis e que venham a atender às necessidades de uso e de aplicação para o mercado. Partindo desse princípio, a fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule) está sendo apontada como uma boa opção para o desenvolvimento de novos produtos, por se tratar de um recurso vegetal proveniente de palmeira amazônica (Figura 01) com produção sustentável, realizada por comunidades indígenas e caboclas localizadas no Alto Rio Negro - estado do Amazonas, região norte do Brasil (SOUZA et al., 2004 ).

Figura 1. Palmeira de tucumã-i (Astrocaryum acaule) e a sua área de localização no estado do Amazonas

A qualidade da matéria-prima, os aspectos sócio-culturais e a demanda de mercado são fatores considerados positivos e estratégicos à fibra, uma vez que têm chamado a atenção

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de turistas, ONGs (Organizações Não-Governamentais), Institutos de Investigações Tecnológicas e Empresas do ramo industrial (MENEZES et al., 2005). Grande parte da potencialidade econômica da matéria-prima encontra-se nas folhas, com a extração de fibras de alta resistência, utilizadas para o desenvolvimento de produtos artesanais (MIRANDA, 2001). A fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule) também conhecida como tucum, é um fio resistente, podendo ser utilizado de várias maneiras de acordo com a necessidade econômica. Além da produção de fios, a fibra ainda viabiliza a confecção de tecidos (Figura 2), dos quais são fabricados produtos como: redes, bolsas, esteiras, toalhas de mesa, descansos para pratos, tapetes, capas, cortinas, mantas, chapéus, acessórios e, etc (MACIEL, 2007).

Figura 2. Fibra, fio, tecidos e alguns produtos de tucumã-i (Astrocaryum acaule)

Sua estrutura vegetal apresenta propriedades tecnológicas compatíveis à produção têxtil (Tabela 1), com aspecto ecológico, uma vez que é biodegradável e sua obtenção e produção não demandam processos químicos de alto custo ambiental (MACIEL, 2008). Características Organolépticas Físicas Químicas

Itens Cheiro e gosto Aparência Textura Densidade Teor de umidade Toxidade Resistência

Mecânicas Elasticidade Flexibilidade Fonte: Adaptado de Maciel (2007)

Dados → indistintos → brilho natural e tom amarelado → lisa, macia e alinhada em direção às pontas → satisfatória com resultado igual a 1.49 g/cm³ → padrão desejável com variação entre 11,82% e 11,59 % → índice nulo para reação tóxica → resistente a lavagem a seco ou a base de água e sabão → resistente ao calor (máximo a 200ºC); → resistente à tração com variação em média de 18 kg/cm2 → boa elasticidade, não apresenta casos de rompimentos bruscos → boa flexibilidade em testes de manuseio e desdobramento da fibra

Tabela 1 – Propriedades tecnológicas da fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule) compatíveis à produção têxtil

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De acordo com Maciel (2008), esses dados foram comparados com outros produtos similares, conforme os parâmetros referentes às legislações cabíveis à produção têxtil estabelecidos pelo Instituto de Pesos e Medidas de São Paulo (IPEM/SP), a fibra vegetal amazônica apresentou aspectos tecnológicos compatíveis à produção de tecidos naturais, inclusive, com valores próximos aos identificados na fibra de algodão e, ainda, destacou-se com um número de informações significativas quanto aos critérios relacionados à: cor, cheiro, gosto, textura, teor de umidade e toxidade, quando comparada ao sisal e à juta. Apesar das vantagens, é compreensível que para a fibra formar parte da relação das matérias-primas vegetais, devidamente preparadas ao uso, processo de fabricação e comercialização de produtos - sobretudo têxtil, se faz necessário desenvolver um estudo que possa aprimorar tais benefícios, canalizando-os em prol de torná-la um produto de grande diferencial para o mercado. Um estudo que identifique, compreenda e sistematize informações, para auxiliar na evolução do vegetal - considerando os princípios artesanais e empíricos observados em seu universo, poderá reunir e construir dados científicos que justifiquem o seu processo de adaptação ao uso e fabricação de novos produtos a um contexto mais elevado - nesse caso o semi-industrial, podendo validar a inovação e o diferencial por ela oferecidos. 2.2 Processos de gestão e fabricação de produtos adaptados à tecnologia semi-industrial Quando a sondagem de opiniões retrata o interesse sobre o uso ou a concepção de um novo produto para o mercado, podemos perceber que as necessidades e exigências dos consumidores são grandes, uma vez que, a satisfação do cliente é derivada da proximidade entre as expectativas do comprador e o desempenho percebido do produto (KOTLER, 2005). Um produto bem planejado e eficiente compreende a adequada relação entre os processos de gestão e fabricação, coerentemente, adaptados às tecnologias com estratégia de operações claras, abrangentes e de caráter eco-sustentável. Todos esses, de modo a fazer parte de uma ação (processo) que recebe uma entrada (input), transforma (agregando valor) e gera uma saída (output), onde tanto o produto quanto o serviço possui valores agregados, com a finalidade de atender às expectativas do cliente (HARRINGTON,1993). Faria (1992) ressalta que transformar os insumos em produtos é uma função da tecnologia, que deve ser compreendida como o conjunto de conhecimentos aplicados a um determinado tipo de atividade e não apenas às máquinas. Essa atividade contempla a troca de conhecimento técnico (transferências de tecnologia), utilizado no desenvolvimento de novos produtos ou processos, entre os indivíduos ou as organizações envolvidas, sendo ou podendo estar incorporado em equipamentos de produção ou em produtos manufaturados ( MT. AUBURN ASSOCIATES,1995). Segundo Lopes et al. (2008), é nesse contexto que a gestão, participa como é um fator base para a melhoria contínua das tecnologias produtivas, que amplia os níveis de eficiência, reduz as perdas e maximiza os lucros, possibilitando medir o desempenho do processo através de indicadores e verificando a evolução gerada pelas melhorias. Exercer atividades, cuja gestão e a tecnologia estão focadas na fabricação de produtos e/ou na prestação de serviços, implica trabalhar com um processo de negócios (GONÇALVES, 2000).

Diante disso, promover um produto com características artesanais - mas com aspectos tecnológicos favoráveis para o uso têxtil, a um nível de qualidade mais elevado e que satisfaça as expectativas dos consumidores sem comprometer a sua essência vegetal, a identidade cultural e o

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conhecimento dos indivíduos que trabalham com a matéria-prima, requer uma atenção maior quanto ao emprego da tecnologia adequada. Para tanto, sugere-se o processo semi-industrial como uma ponte entre os conhecimentos artesanais e industriais que possa contribuir para a evolução do recurso vegetal em estudo, de modo a levá-lo a um posicionamento significativo dentro do mercado, aprimorando as suas etapas de produção - com o apoio de ferramentas e métodos não rudimentares como moldes e instrumentos, qualificando sua estrutura e acabamento final, como forma de estabelecer uma padronização propícia a uma linha de gestão e de fabricação para novos produtos.

3. Procedimentos Metodológicos A pesquisa é de caráter descritivo, exploratório e explicativo utilizando técnicas quantitativas e qualitativas baseadas em pesquisa bibliográfica e documental (GIL, 2002). Para identificar o perfil dos consumidores e o seu posicionamento quanto ao uso semiindustrial da fibra vegetal amazônica de tucumã-i (Astrocaryum acaule) para o desenvolvimento de novos produtos, foram coletados dados a partir da aplicação de um questionário, construído em blocos temáticos obedecendo a uma ordem lógica na elaboração das perguntas, cujo roteiro contém perguntas abertas (respostas livres), fechadas (duas opções), e de múltipla escolha (fechada com uma série de respostas possíveis), apresentando um total de 33 questões, elaboradas a partir de temas relevantes apontados na literatura e da necessidade da obtenção e construção de informações para o tema proposto. A seleção dos entrevistados foi aleatória, buscando cobrir os potenciais consumidores em termos de produtos a base de fibras naturais vegetais, assim a aplicação do questionário foi realizada via internet e teve como princípio técnico o uso do conceito "bola de neve" evidenciado por Bailey (1992), o qual sugere estabelecer alguns contatos iniciais na comunidade de interesse e esses contatos passam a indicar outros e assim em diante, de forma a construir redes de informantes. A técnica proporcionou uma interação efetiva entre os informantes e a pesquisa. O procedimento foi realizado num prazo de dois meses, considerando o tempo para aplicação do questionário, a tabulação das informações por meio de suporte computacional, o armazenamento das questões e suas respostas em um banco de dados e para a análise dos resultados, sendo iniciado no mês de agosto de 2010. A amostra foi composta por 408 entrevistados (273 mulheres e 135 homens), sendo a maioria de nacionalidade brasileira e pertencente à cidade de Manaus, com idades variando de 20 a 73 anos. Portanto, para a presente publicação, que é parte de um estudo de tese de doutorado, foram explorados os resultados de sete questões do documento aplicado com os consumidores sobre o uso semi-industrial da fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule) para a fabricação de produtos, em consonância com os objetivos do artigo e observando os seguintes aspectos: 1. Perfil dos consumidores; 2. Apreciação das fibras naturais vegetais para fabricação de produtos; 3. Consumo de produtos feitos com fibras vegetais; 4. Razão atribuída ao uso de produtos desenvolvidos com fibras vegetais; 5. Aprovação da inserção de novas fibras vegetais no mercado de produtos; 6. Aceitação da fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule) para o uso semi-industrial em produtos; 7. Variáveis consideradas importantes para o uso semi-industrial da fibra tucumã-i (Astrocaryum acaule) em produtos. Os dados quantitativos foram organizados e analisados a partir da distribuição de freqüência, tabelas de contingencia - verificando o nível de significância das variáveis estudadas, através do teste Qui-quadrado = X2 → (p≤0,05), e cálculo de médias.

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4. Análise dos Resultados 4.1 Perfil dos consumidores A amostra com 408 entrevistados apresentou como nacionalidade dominante, a brasileira (n= 395; 96,8%) e teve a cidade de Manaus, capital do Amazonas, como a localidade com o maior número de participantes (n=324; 79,4%). O público feminino foi dominante (n=273; 66,9%), enquanto que a representatividade masculina foi menor (n=135; 33,1%). A elevada participação feminina se dá em função do Brasil possuir 3,9 milhões de mulheres a mais que homens e a cidade de Manaus apresentar um número maior de habitantes do sexo feminino (n= 922,2; 51,18%) quando comparado ao número de habitantes do sexo masculino (n= 879,7; 48,8%), de acordo com os dados do IBGE (2010). A faixa etária identificada no universo amostral varia de 20 a 73 anos. No entanto, foram os consumidores de 24 a 29 anos de idade que representaram a grande maioria dos consultados (n= 120; 29,4%). O nível de escolaridade teve maior concentração na categoria de diplomados e pósgraduados (n=130; 31,94%). Quanto à renda familiar, foi observado que 77,9% (n=318) apresenta um ingresso mensal de mais de 5 salários-mínimos (SM). No que se refere ao estado civil, prevaleceram as pessoas solteiras (n=261; 64%), seguidas dos consumidores casados (n= 125 ; 30,6%). A situação ocupacional mostrou-se dividida em três grandes grupos distintos: empresários (n = 125; 30,6%), profissionais do design (n= 117; 28,7) e, por fim, estudantes (n= 73; 17,9%). 4.2 Apreciação do uso das fibras naturais vegetais para a fabricação de produtos Quando questionados sobre o uso das fibras naturais vegetais para a fabricação de produtos, os entrevistados apresentaram um nível de apreciação bem alto e através deste posicionamento foi possível observar melhor o perfil desse tipo de consumidor (Tabela 2). SIM (n = 389) n %

Variáveis

NÃO (n=19) n %

TOTAL (N=408) n %

X2

Gênero Masculino Feminino

127 262

94,1 96

8 11

5,9 4

135 273

100 100

0,39

Até 23 anos De 24 a 29 anos De 30 a 37 anos Mais de 37 anos

83 115 98 93

96,5 95,8 95,1 93,9

3 5 5 6

3,5 4,2 4,9 6,1

86 120 103 99

100 100 100 100

0,85

Fundamental Médio Graduado Pós-graduado

27 125 107 136

93,1 96,2 94,7 100

2 5 6 0

6,9 3,8 5,3 0

29 130 113 136

100 100 100 100

0,90

> de 1salário mínimo De 1 a 2 salários mínimos De 3 a 4 salários mínimos < de 5 salários mínimos

10 15 63 301

100 100 96,9 94,7

0 0 2 17

0 0 3,1 5,3

10 15 65 318

100 100 100 100

0,58

Solteiro Casado Divorciado Viúvo

248 121 15 5

95 96,8 93,8 83,3

13 4 1 1

5 3,2 6,3 16,7

261 125 16 6

100 100 100 100

0,44

Estudante

71

97,3

2

2,7

73

100

Faixa etária

Nível escolar

Renda familiar

Estado civil

Ocupação

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114 117 15 10 62

97,4 93,6 100 83,3 93,9

3 8 0 2 4

2,6 6,4 0 16,7 6,1

117 125 15 12 66

100 100 100 100 100

0,18

Fonte: Autores Tabela 2 – Nível de apreciação do uso das fibras vegetais para o desenvolvimento de produtos

Em relação ao item questionado, o público feminino mostrou-se predominante (n=262; 96%). Os consumidores com idade de 24 a 29 anos foram os que mais demonstraram apreciam o uso das fibras naturais vegetais para o desenvolvimento de produtos (n=115; 95,8%). Os entrevistados com pós-graduação representaram o nível de escolaridade com maior número de apreciação e com porcentagem total em relação ao número de seus integrantes (n=136; 100%). A renda familiar identificada foi superior a cinco salários mínimos (n=301; 94,7%); Quanto ao estado civil dos consumidores, os solteiros foram a maioria (n=248; 95%) e como ocupação profissional, os empresários foram os mais favoráveis (n=117; 93,6%) ao uso das fibras vegetais para o desenvolvimento de produtos. Com respeito às variáveis observadas, sobre a questão avaliada, não há um nível de significância estatística → X2 → (p≤0,05), ou seja, a apreciação do uso das fibras vegetais para a fabricação de produtos não se diferenciou segundo o sexo, faixa etária, nível de escolaridade, renda familiar, estado civil ou ocupação, na amostra estudada. 4.3 Consumo de produtos desenvolvidos com as fibras vegetais A maior parte dos consumidores, além de apreciar o uso das fibras vegetais em produtos, também demonstrou - com um número bastante alto de participantes, que consume esse tipo de produto (Tabela 3). Opinião Sim Não Total Fonte: Autores

Quantidade 331 77 408

Percentual 81,1% 18,9% 100%

Tabela 3 – Nível de consumo de produtos desenvolvidos com fibras vegetais

No universo amostral analisado, o consumo de produtos desenvolvidos a partir do uso das fibras vegetais pelos consumidores é bem elevado (n= 331; 81,1%). Foi observado que apenas 18,9% dos entrevistados não utilizam produtos com essa característica específica. 4.4 Razão e valor atribuído ao uso de produtos desenvolvidos com as fibras vegetais A justificativa, pelo alto consumo de produtos desenvolvidos com as fibras vegetais, é atribuída aos vários tipos de artigos produzidos a partir dessas matérias-primas (Tabela 4). Motivo Preço Variedade Textura Não é interessante Outras Total Fonte: Autores

Quantidade 37 286 10 41 34 408

Percentual 9,1% 70,1% 2,5% 10% 8,3% 100%

Tabela 4 – Razão atribuída ao uso de produtos feitos com as fibras vegetais

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Os entrevistados consideraram o fator ‘variedade’ (n=286; 70,1%) um elemento diferencial e ao mesmo tempo estimulante para o consumo de produtos nesse segmento. Segundo eles, a quantidade de itens e as inúmeras formas de aplicação das fibras vegetais oferecidas no mercado, se constituem num leque de alternativas que desperta o interesse dos consumidores. Com esse posicionamento sobre o consumo e a razão, os participantes afirmaram acreditar que o uso desse tipo de produto possui um valor extremamente significativo (Tabela 5). Valor Pouco importante Importante Muito importante Bastante importante Total Fonte: Autores

Quantidade 11 89 116 192 408

Percentual 2,7% 21,8% 28,4% 47,1% 100%

Tabela 5 – Valoração atribuída ao uso de produtos feitos com as fibras vegetais

De acordo com a amostra analisada, a maior parte dos entrevistados (n=192 ; 47,1%) consideraram ser ‘bastante importante’ o uso de produtos desenvolvidos com as fibras vegetais. O grau de importância atribuído corresponde não somente ao fator ‘variedade’, mas também se justifica pelo fato dos produtos fabricados com as matérias-primas naturais vegetais apresentarem baixo custo tecnológico, serem eco-eficientes, diferenciados, inovadores, resistentes e ainda possuírem a capacidade de oferecer conforto e qualidade aos seus consumidores. 4.5 Aprovação da inserção de novas fibras vegetais no mercado de produtos Os níveis de aceitação do uso das fibras vegetais para o desenvolvimento de produtos e de consumo desses produtos deixaram bem claro o posicionamento positivo dos entrevistados. Da mesma forma, os participantes demonstraram estar de acordo com a inserção de novas matérias-primas para uso no mercado de produtos (Tabela 6). Opinião Sim Não Total Fonte: Autores

Quantidade 405 3 408

Percentual 99,3% 0,7% 100%

Tabela 6 – Razão atribuída ao uso de produtos feitos com as fibras vegetais

Segundo o universo amostral, o índice de aprovação apresentou um número bem elevado por parte dos consumidores consultados (n=405 ; 99,3%). Os entrevistados acreditam que novas fibras vegetais para o mercado de produtos podem oferecer boas e mais vantagens para o seu processo produtivo; para o alcance de benefícios socio-econômicos - como geração de emprego e renda; para o aprimoramento tecnológico, para o lançamento de novas categorias de uso e fabricação de novos produtos. 4.6 Aceitação do uso semi-industrial da fibra natural amazônica de tucumã-i (Astrocaryum acaule) para a fabricação de produtos O grau de aceitação sobre o uso semi-industrial do objeto de estudo proposto foi bastante elevado. O perfil dos consumidores, identificado em um primeiro momento - durante o questionamento sobre o nível de apreciação do uso das fibras vegetais para o

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desenvolvimento de produtos, permaneceu o mesmo. No entanto, os números de aprovação demonstrados para este quesito foram maiores (Tabela 7), devido os participante terem considerado alguns dos aspectos importantes já identificados na fibra em estudo, como: a presença de características tecnológicas propícias à fabricação de produtos, a prática tradicional e reconhecida no uso artesanal, o forte valor da denominação de origem - matéria-prima amazônica e as novas possibilidades para aplicação, nas mais variadas categorias de produtos, e para o alcance de novos mercados. SIM (n = 406) n %

Variáveis

NÃO (n=2) n %

TOTAL (N=408) n %

X2

Gênero Masculino Feminino

135 271

100 99,3

0 2

0 0,7

135 273

100 100

0,31

Até 23 anos De 24 a 29 anos De 30 a 37 anos Mais de 37 anos

85 119 103 99

98,8 99,2 100 100

1 1 0 0

1,2 0,8 0 0

86 120 103 99

100 100 100 100

0,55

Fundamental Médio Graduado Pós-graduado

29 129 112 136

100 99,2 99,1 100

0 1 1 0

0 0,8 0,9 0

29 130 113 136

100 100 100 100

0,84

> de 1salário mínimo De 1 a 2 salários mínimos De 3 a 4 salários mínimos < de 5 salários mínimos

10 15 65 316

100 100 100 99,4

0 0 0 2

0 0 0 0,6

10 15 65 318

100 100 100 100

0,90

Solteiro Casado Divorciado Viúvo

259 125 16 6

99,2 100 100 100

2 0 0 0

0,8 0 0 0

261 125 16 6

100 100 100 100

0,76

Estudante Designer Empresário Autônomo Func. Público Outra

73 116 125 15 12 65

100 99,1 100 100 100 98,5

0 1 0 0 0 1

0 0,9 0 0 0 1,5

73 117 125 15 12 66

100 100 100 100 100 100

Faixa etária

Nível escolar

Renda familiar

Estado civil

Ocupação

0,72

Fonte: Autores Tabela 7 – Nível de aceitação do uso das fibras vegetais para o desenvolvimento de produtos

Portanto, analisando o posicionamento dos consumidores para este quesito, foi observado que: a representatividade feminina continuou como maioria (n=271; 93,%). Todavia, o número de participação masculina apresentou um acréscimo e com uma porcentagem total de aprovação (n=135; 100%) da fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule) para o uso semi-industrial em produtos. A faixa etária de 24 a 29 anos, considerada a maior dentro do universo amostral, também apresentou acréscimos em números de participação (n=119; 99,2%), da mesma forma os consumidores que possuem pós-graduação (n=136; 100%), eles fizeram parte do nível de escolaridade com maior número de participantes e com porcentagem de aceitação total para o questionamento feito. A renda familiar identificada foi superior a cinco salários mínimos (n=316; 99,4%). O estado civil com maior destaque foi

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composto pelos consumidores solteiros (n=259; 99,2%). Os empresários demonstraram ser o grupo com maior aprovação sobre o tema proposto (n=125; 100%), inclusive com uma porcentagem total de aceitação, em números de participantes representados. De acordo com o quesito analisado, as variáveis observadas não apresentaram um nível de significância estatística → X2 → (p≤0,05), ou seja, a aceitação do uso semi-industrial da fibra natural amazônica de tucumã-i (Astrocaryum acaule) para a fabricação de produtos, não se diferenciou segundo o sexo, faixa etária, nível de escolaridade, renda familiar, estado civil ou ocupação, na amostra estudada. 4.7 Aspectos considerados importantes para o uso semi-industrial da fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule) em produtos. Os participantes também opinaram sobre quais fatores devem ser considerados indispensáveis para o processo e a utilização semi-industrial da fibra (Tabela 8). Segundo eles, é preciso que a matéria-prima ofereça vantagens relacionadas à essência do objeto, às propriedades físicas e mecânicas e ao meio ambiente. Aspectos Qualidade do material Resistência Aspecto biodegradável Conforto Durabilidade Outras

Total (Médias) 3,38 3,31 3,24 3,23 3,13 3,10

Tabela 8 – Aspectos considerados importantes para o uso semi-industrial do objeto de estudo

Sendo assim, os entrevistados consideraram como ‘muito importantes’ todas os aspectos apresentados (médias > 3) . No entanto, numa escala de 1 a 4 – onde 1 significa ‘pouco importante’ e 4 ‘bastante importante’, o fator ‘qualidade do material’ foi o mais relevante e deve ser o elemento prioritário a ser respeitado (m= 3,38), sendo reforçado pelos fatores de ‘resistência’ (m=3,31) e ‘biodegradável’ (m= 3,24). Para o universo amostral, um estudo focado sobre tais aspectos poderá preparar melhor a fibra para o seu correto uso semiindustrial, garantindo a fabricação de produtos diferenciados e apropriados para essa segmentação de mercado e ainda oferecendo benefícios aos seus consumidores. 5. Considerações Finais Este artigo apresentou uma sondagem de opiniões sobre o uso semi-industrial da fibra vegetal amazônica de tucumã-i (Astrocaryum acaule) para o desenvolvimento de produtos. O universo amostral foi composto por consumidores de produtos fabricados com fibras vegetais. A partir de dados bibliográficos e outras investigações iniciais foi possível desenvolver e aplicar um questionário para verificar o grau de aceitação dos participantes sobre o tema abordado. A técnica aplicada auxiliou no processo de identificação do perfil dos consumidores e a análise das opiniões considerou uma alta aceitação da fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule) como uma nova opção de matéria-prima vegetal a ser utilizada no mercado de produtos - não somente artesanais. De acordo com as informações identificadas, o público alvo para usufruir os produtos semi-industriais a serem fabricados a partir desse recurso natural, poderá ser: mulheres solteiras com faixa etária entre 24 e 29 anos, de nível superior completo, recebendo mais de 5 salários mínimos e com a ocupação profissional focada para empresas. Para esse tipo de consumidor, que demonstrou ser a maioria, os produtos confeccionados a partir das fibras

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vegetais, além de serem considerados muito importante por apresentarem eco-eficiência e aspectos biodegradáveis, também oferecem uma grande variedade de artigos, que podem contemplar desde os acessórios até os itens para decoração. Especificamente à fibra de tucumã-i (Astrocaryum acaule), o público entrevistado ressalta que a matéria-prima necessita de um preparo tecnológico que reforce os seus valores intrínsecos e garanta a qualidade do material de modo a favorecer tanto a sua inserção quanto o seu uso no mercado dos produtos semi-industriais e, ainda, de forma à beneficiar os seus futuros consumidores. Referências AGUIAR NETO, P. P. Fibras têxteis. v. 1. Rio de Janeiro: SENAI-CETIQT, 1996. BAILEY, K. D. Methods of Social Research. McMillan. Nova York, EEUU. 553pp., 1992. BLEDZKI, A. K. & GASSAN, J. Composites reinforced with cellulose based fibres.Progress in Polymer, Science Elsevier Sci., v.24, p.221-272, 1999. CHAMPAGNE, Patrick. Formar opinião: o novo jogo político. Petrópolis: Vozes, 1998. COOPER, R. G. Winnig at New Products. Addison-Wesley Publishing Company, 1993. FARIA, J. H. Tecnologia e Processo de Trabalho. Curitiba: UFPR, 1992 GONÇALVES, J. E. L. As Empresas São Grandes Coleções de Processos. RAE - Revista de Administração de Empresas. , v. 40, n.1, p. 6-19, Jan./mar. 2000. GUIMARÃES, M. et al. Caracterização anatômica da fibra de bambu (Bambusa vulgaris) visando sua utilização em compósitos poliméricos. Revista Iberoamericana de Polímeros 11(7), 442-456 SLAP, 2010. HARRINGTON, H. J. Aperfeiçoando Processos Empresariais. São Paulo: Makron Books,1993. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Dados do censo Demográfico no ano de 2010. KOTLER, PHILIP. Marketing essencial: conceitos, estratégias e casos. 2 ed. São Paulo: Prentice Hall, 2005. LOPES, MARCO AURÉLIO B. et al. Gestão de processos: fatores que influenciam o sucesso na sua implantação. XXVIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Rio de Janeiro, 2008. MACIEL, K. M. F. Estudo da Viabilidade Técnica da Fibra de Tucumã-i (Astrocaryum acaule) para Produção de Tecido a ser utilizado na Indústria de Confecções. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais e Ambientais). Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Manaus -Amazonas, 2007. MACIEL, K. M. F. Technical Viability of Tucumã-i Fibre (Astrocaryum acaule) for Production in Textile Industry. ECOWOOD 2008, 3 rd International Conference & Exhibition on Environmentally-compatible forest products. Univerdidade Fernado Pessoa. Oporto, Portugal, 2008. MARINELLI, ALESSANDRA L. et al. Desenvolvimento de Compósitos Poliméricos com Fibras Vegetais Naturais da Biodiversidade: Uma Contribuição para a Sustentabilidade Amazônica.Polímeros: Ciência e Tecnologia, vol. 18, nº 2, p. 92-99, 2008. MENDES, T. M. F. F. Propriedades de resistência à tração e ao impacto de compósitos poliéster sisal - Um estudo comparativo. Dissertação de mestrado, UFRN, 123p., Natal, 1992. MENEZES, M. R. et al. Cadeia produtiva das fibras vegetais extrativistas no estado do Amazonas. Governo do Estado do Amazonas - Manaus: SDS. Série Técnica. Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, 4.32p.; il., 2005. MIRANDA, IRES PAULA DE ANDRADE. Frutos e Palmeiras da Amazônia. Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Manaus – Amazonas – Brasil, 2001. MT. AUBURN ASSOCIATES. Technology Transfer to Small Manufactures: A Literature Review. Relatório final. Somerville, 1995.

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Características da Inovação: Uma Revisão de Literatura. Simone Sartori <simone.eng.prod@gmail.com> Resumo: Estudos confirmam que projetos de inovação radical e incremental necessitam de diferentes estratégias e estruturas, diferentes modelos de adoção de tecnologias, diferentes ambientes, fatores organizacionais e processos. O objetivo deste estudo foi mapear as características da inovação, o que permite identificar uma linguagem comum, normalizar as melhores práticas e abordagens na implementação dos sistemas de gestão da inovação. A metodologia de adotada caracteriza-se como bibliográfica, exploratória e descritiva. Encontrou-se dois padrões de inovação: padrão 1: inovação radical, tecnológica, geração de inovação, focado em produto, com modo de aprendizagem STI; padrão 2: inovação incremental, adoção de inovação, focado em processos e métodos organizacionais, usando o modo DUI. Essa organização das características de inovação possibilita coordenação e cuidadosa gestão aos inúmeros recursos que são necessários para inovar, estendendo-se além dos aspectos tecnológicos e de produto, voltando-se para a organização e as pessoas que a constitui. E, esse trabalho acrescenta às pesquisas correntes, quando, as organizações consistem de múltiplas características, contribuindo para práticas de gestão na inovação. Palavras-Chave: Desenvolvimento Organizacional; Características de Inovação; Gestão

Features of Innovation: A Review of Literature. Abstract: Studies confirm that projects radical and incremental innovation requires different strategies and structures, different models of technology adoption, different environments, organizational factors and processes. The objective this study was to map the characteristics of innovation, which allows us to identify a common language, standardize best practices and approaches in the implementation of the management of innovation. The scientific methodology of research adopted it was characterized as an explanatory, exploratory and descriptive research. It was found two patterns of innovation: pattern 1: radical innovation, technological, innovation generation, focused on product and sti mode of learning; pattern 2: incremental innovation, adoption of innovation, focusing on organizational processes and methods, using dui mode of learning. This organization the characteristics of innovation provides coordination and careful management to the many resources that are needed to innovate, extending beyond the technological aspects and product, turning to the organization and the people that is. And, this work adds to current research, when organizations consist of multiple characteristics, contributing to management practices of innovation. Keyword: Organizational Development, Characteristics of Innovation, Management. 1. Introdução A velocidade nos negócios intensifica a concorrência e cada vez mais as organizações buscam pela diferenciação, inovando continuamente, garantindo competitividade à longo prazo. Cada organização deve ser capaz de reconhecer suas necessidades e capacidades a fim de estabelecer estratégias inovativas, quando, a inovação corresponde à implementação de 52


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uma nova ou significativamente melhorada solução para a empresa, novo produto, processo, método organizacional ou de marketing, com o objetivo de reforçar a sua posição competitiva, aumentar a performance, ou o conhecimento (FRASCATI MANUAL, 2004). Em 1956 com as publicações de Robert Solow, e em 1934 com Schumpeter, a inovação tem sido reconhecida como o motor do desenvolvimento econômico e o fatorchave para a competitividade das empresas e, conseqüentemente, dos países (KLINE; ROSENBERG, 1986) Pesquisas passadas e presentes continuam com os trabalhos voltados para gestão da inovação, desempenho da inovação e/ ou a relação entre um ou dois atributos da inovação. Por exemplo, Miles and Snow (1978) focam em tipos de estratégias de negócios (defensores, analisadores e prospectores); Pullen et al. (2009) relacionam inovação radical e inovação incremental; Nelson e Winter (2005) e Dosi (2006) relacionam o tamanho da organização com o grau de formalização da inovação; Dampour e Wischnevsky (2006) focam em pequenas/grandes organizações e o grau de autonomia na inovação (geração ou adoção da inovação); Escalfoni et al. (2011) apresentam um método para capturar, organizar e compartilhar o conhecimento organizacional usando tipos de indicadores para extrair características de inovação colaborativa; Gorovaia e Windsperger (2010) apresenta mecanismos de transferência do conhecimento – tácito/explícito; para Zack (1998), o conhecimento pode ser classificado como processual (know-how), causal (know-why), condicional (know-when) e relacional (know-with); Lundvall and Lorenz (2007), Lundvall (1992), Xiaobin e Xuejun (2007) apresentam dois modos de inovação: STI (Ciência, Tecnologia e Inovação) que busca pela alta inovação tecnológica e o modo DUI (aprender fazendo, usando e interagindo) que foca na aprendizagem baseada na experiência. Os esforços para ser inovativo diz respeito ao modo como as empresas criam, adquirem e/ou combinam seus recursos com vistas a inovar. Estudos confirmam que projetos de inovação necessitam de diferentes estratégias e estruturas, diferentes modelos de adoção de tecnologias, diferentes ambientes, fatores organizacionais e processos, pessoas, conhecimentos, entre outros. Assim, este trabalho de pesquisa busca mapear as características da inovação, o que permite identificar uma linguagem comum, normalizar as melhores práticas e abordagens na implementação dos sistemas de gestão da inovação. Justifica-se que os determinantes para o sucesso empresarial e as oportunidades para as empresas têm mudado. Há uma crescente necessidade de rapidez e flexibilidade do pensamento inovador, orientado a oportunidades e criatividadeo quanto à aquisição e gestão de recursos. 2. Referencial teórico Esta pesquisa fundamenta-se na integração de duas vertentes: os atributos da organização e os atributos da inovação. Ou seja, as organizações podem ser vistas a partir das características intrínsecas que possuem e, as práticas e procedimentos determinam os processos de inovação. As principais discussões da literatura são apresentadas a seguir. 2.1 Caracterização das empresas As empresas de negócios buscam posicionamento no mercado, seja pela dimensão ou estratégica. Estratégia é uma condição prévia necessária à atividade de inovação; as empresas têm de tomar decisões sobre os tipos de mercados que servem ou tentam criar, e os tipos de inovações que neles tentarão introduzir (MANUAL DE OSLO, 1997). As estratégias de negócio podem ser agressiva, tradicional, exploradora e analisadora. 53


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A estratégia agressiva é caracterizada como sendo inovadora, voltada para a conquista de liderança, colocando a empresa adiante de seus competidores. É empresa cuja estratégia de crescimento, seja diversificando, seja expandindo, apóia-se numa complexa capacidade instalada para produzir, que é alimentada por sólidos projetos em pesquisa e desenvolvimento dos quais resulta constantemente novos produtos. A implementação da estratégia agressiva implica possuir recursos: pesquisa aplicada, desenvolvimento experimental, design engenharia, serviços técnicos, patentes, planejamento a longo prazo, etc. A estratégia tradicional é aquela onde os produtos da empresa sofrem pouca ou nenhuma mudança. A adoção dessa estratégia é motivada por adequação ao mercado e obtenção de rentabilidade (BERTERO, 1977). A postura exploradora é caracterizada por empresas que continuamente buscam oportunidades de mercado, experimentando respostas às inclinações emergentes do ambiente; frequentemente, criam mudanças e incertezas às quais os concorrentes devem responder. Na postura analisadora, tenta-se manter um quadro estável, limitada linha de produtos ou serviços, que operam rotineiramente e eficiente através da utilização de estruturas e processos formais (PULLEN et al., 2009). Ter uma posição dominante é importante para uma organização ser capaz de executar as ações necessárias para atingir os objetivos que estão definidos nas estratégias. As tecnologias que são utilizadas são fundamentalmente novas, o que leva ao controle do ambiente e com ele ter alta dominância, estando à frente dos seus concorrentes e do mercado, focando na inovação radical. Por outro lado, as empresas que focam na inovação incremental devem melhorar os seus produtos para acompanhar o mercado (PULLEN et al., 2009). De acordo com a perspectiva empresarial, organizações de pequeno porte são consideradas mais inovadoras porque são mais flexíveis, tem alta habilidade para se adaptar e melhorar, e tem menos dificuldade para aceitar e implementar a mudança (NORD; TUCKER, 1987). Na perspectiva corporativa, grandes organizações são consideradas mais inovativas porque possuem maiores recursos financeiros, instalações mais complexas e diversas, mais profissionais e trabalhadores hábeis, e alto conhecimento técnico (HITT et al., 1996). Ambos os argumentos não são claros. Quando a idade e tamanho das empresas empreendedoras são comparadas com as grandes e estabelecidas unidades, verifica-se que idade e tamanho não influencia significativamente na geração ou na adoção da inovação (DAMPOUR; WISCHNEVSKY, 2006). Inovação não guarda correlação com tamanho da organização. Internamente, encontram-se as características organizacionais do tipo: processos flexíveis ou processos estruturados, equipes autônomas ou estruturadas, estrutura informal, formal, orgânica ou mecânicas. Nos processos estruturados, as tarefas a serem executadas são bem determinadas e seguem um conjunto de regras conhecido por todos os envolvidos em sua execução; não tendem a variar ao longo do tempo normalmente muito rígidos para facilmente suportar a mudança nos processos, em contrapartida oferecem o máximo de eficiência e automação em processos padronizados. Nos processos flexíveis é perrmitido modificações nas especificações dos processos e dinamicamente as acomoda nas instâncias em execução (CRUZ, 2005). Altos níveis de estruturação/formalização estão positivamente relacionados com o desenvolvimento gradual de novos produtos, enquanto os baixos níveis de formalização são necessários para o desenvolvimento bem sucedido de produtos radicais (TUSHMAN; SMITH, 2002.)

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Em geral, pode-se dizer que inovação é reforçada por estruturas orgânicas ao invês de estruturas mecânicas. As estruturas orgânicas promovem a inovação quando há liberdade de regras; participação e informalidade; pouca burocracia; equipes inter-disciplinares; quebra de barreiras departamentais; comunicação cara a cara; ênfase na interação, criatividade e objetivos; olhar para fora da organização e buscar idéias externas; flexibilidade a mudanças. Já as estruturas mecanicistas dificultam a inovação: separação departamental rígida e especialização funcional; hierárquica; burocracia; muitas regras e procedimentos estabelecidos; comunicação formal; longas e lentas tomadas de decisões; pouca liberdade individual de ação; comunicação escrita (AHMED, 1998). As organizações conduzem aos mais complexos tipos de trabalho formal, que são feitos para resistir à mudança e para manter o status quo. As estruturas hierárquicas são bem definidas, com regras e procedimentos, bem como, usam de máquinas repetitivas. Ao mesmo tempo a instabilidade sustenta todas as organizações humanas; e, mais complicado que a estabilidade, são os imprevisíveis padrões de comportamentos (KOBERGA et al., 2003). Em uma organização existem conhecimentos mais complexos, sistêmicos, tácitos e de difícil explicitação, sistematização, comunicação e gestão, coexistindo com conhecimentos mais simples, independentes e explícitos, baseados na experiência, passíveis de sistematização, estoque, transferência e gestão (BALESTRIN, 2007). Nas organizações humanas, o conhecimento das pessoas é crucial para o desempenho das atividades, sendo um significativo recurso organizacional (DAVENPORT, 2005). O conhecimento tácito consiste em modelos mentais, crenças e convicções de cada colaborador individual, estando profundamente arraigado à ação, aos procedimentos, aos valores e às emoções de cada indivíduo, reside no interior do indivíduo e é difícil expressar em palavras (GARUD; NAYYAR, 1994). Já o conhecimento explícito é o conhecimento que pode ser codificado, pois é facilmente compartilhado e comunicado (MESO; SMITH, 2000); pode ser formalizado em termos de dados, fórmulas científicas, especificações ou manuais, sendo processado e transmitido de modo relativamente fácil. A gestão do conhecimento é uma abordagem para a descoberta, captura e reutilização tanto do conhecimento tácito (existente na mente das pessoas) como do conhecimento explícito (digital ou em papel), bem como os meios culturais e tecnológicos que permitem que o processo de gestão do conhecimento possa ser bem sucedido (RECORDS, 2005). O conhecimento simples envolve menos incertezas causais, o que possibilita seu entendimento com uma menor quantidade de informações; o conhecimento complexo apresenta mais incertezas causais e, por isso, demanda maior quantidade de informações para possibilitar a sua compreensão (BALESTRIN, 2007). Conhecimento que pode ser escrito pode ser repassado para os outros e ser absorvido por aqueles que podem ler e compreender o idioma específico. Mas absorver tal conhecimento raramente é automático - a idéia de menos esforços na "transferência do conhecimento" é normalmente enganoso e a “mente preparada” ajuda muito quando se trata de absorver o conhecimento codificado. Mais ainda, muitas vezes o conhecimento pode ser parcialmente mas não totalmente escrito como, por exemplo, um típico livro de instruções. A fim da subposição das mensagens sobre o mundo, você precisa ter algum conhecimento prévio sobre o assunto. A fim de implementar "receitas" sobre como gerenciar e mudar o mundo você precisa antes ter habilidades e competências . O conhecimento codificado, sozinho, não é economicamente útil (JENSEN et al., 2007) A comunicação e a colaboração são fundamentais para tratar o conhecimento e incentivar a inovação. A comunicação formal é aquela claramente definida, e até mesmo 55


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desenhada, seguindo as linhas do organograma organizacional, fornecendo uma visão nítida da origem das transmissões planejadas para a organização. A formalidade da comunicação deriva da estrutura normativa da organização e através de diversos veículos estabelecidos pela instituição como: os impressos, os visuais, os auditivos, os eletrônicos, entre outros. Com relação a informalidade no processamente de comunicação nas organizações, considera-se algo como não definido, manifestando-se de várias maneiras e, de forma concreta, através de rumores sem fluxo comunicativo controlado (MARÍN, 1997). Simplesmente decidir que a organização deve ser inovadora não é suficiente. Essa decisão deve ser apoiada por ações que criam um ambiente no qual as pessoas estão confortáveis com a inovação (AHMED, 1998). A cultura refere-se a valores e crenças que são compartilhadas pelos membros da organização (SCHEIN, 2004). Esta pode lidar com liderança, hierarquia, clima informal/formal, flexibilidade e expontaneidade, liberdade para criar, estabilidade, previsibilidade, controle, natureza do trabalho, relações interpessoais, entre outros. O clima organizacional é definido pela atitude dos indivíduos sobre a organização – o grau de confiança, conflito, moral, recompensas, credibilidade no líder, a resistência à mudança e bodes expiatórios. O clima é compartilhamento de percepções tanto formais quanto informais, de políticas organizacionais, práticas e procedimentos. Em relação ao desempenho da inovação, o clima é um facilitador de processos criativos que levam as novas idéias nas organizações. As empresas diferem em sua capacidade de reconhecer e explorar as oportunidades. Os recursos organizacionais preparam a organização para gerar ou adotar a inovação. Dentre os recursos importantes das empresas inovativas, encontra-se: colaboradores especialistas, capacidade financeira, tecnologia, fontes internas/externas de mudança. Os colaboradores capacitados são considerados um recurso-chave de uma empresa inovadora (OSLO, 1997). O papel do capital humano na inovação é importante tanto para a empresa quanto em nível agregado. E, uma empresa não se transforma e evolui no sentido da inovação de forma “natural”. Isto requer boas doses de empreendedorismo, determinação, esforço e de organização. 2.2 Caracterização da Inovação A inovação é um processo complexo e a escala de atividades requeridas para a inovação pode variar consideravelmente (MANUAL DE OSLO, 1997). Pode-se definir a inovação como radical ou incremental; as organizações podem gerar ou adotar a inovação; e, tal inovação pode ter uma menor ou maior importância para economia. Nas palavras de Schumpeter, inovações radicais provocam grandes mudanças no mundo, enquanto inovações „incrementais‟ preenchem continuamente o processo de mudança (MANUAL DE OSLO, 1997). Para inovação radical bem sucedida, deve-se seguir uma estratégia de negócios prospectora, combinado a altos níveis de dominância (MILES; SNOW, 1978). As inovações radicais são associados com as organizações que têm cultura experimental, clima empresarial, estrutura descentralizada, processos de trabalho flexível, estruturas informais, perfis de recursos humanos heterogéneos e fortes competências técnicas ((TUSHMAN; SMITH, 2002; DAMPOUR; WISCHNEVSKY, 2006). Para o sucesso de inovação incremental, deve-se combinar uma estratégia de negócio analisadora com um baixo nível de posição dominante (MILES; SNOW, 1978). Inovação incremental depende mais das estruturas tradicionais (TUSHMAN; SMITH, 2002), estando associados a organizações que tem uma cultura de eficiência, uma estrutura centralizada, os 56


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processos formalizados e mecanismos de coordenação (DAMPOUR; WISCHNEVSKY, 2006). Algumas inovações, incrementais em termos técnicos, pode ter um impacto crucial na economia. Isso será verdade para uma pequena mudança técnica que resolve um problema de gargalo de importância estratégica. Uma inovação radical, em termos técnicos, sinaliza um novo paradigma tecnológico, e por razões técnicas prematuras, pode ter um impacto limitado sobre a economia (LUNDVALL, 1992). Quanto mais radical a inovação, menos importante são as informações de mercado porque trata-se de inovação radical com o surgimento de um novo paradigma dominante, em vez de lidar com ativos complementares (PULLEN et al., 2009). As inovações radicais junto com inovações incrementais são importante para a sustentabilidade econômica das organizações que estão ligadas a pesquisa e desenvolvimento de vantagens competitivas e de sobrevivência a longo prazo (BOWER; KEOGH, 1996). A inovação radical e incremental pode ser adotada ou gerada. O processo de geração de inovação inclui o reconhecimento da oportunidade, investigação, concepção, desenvolvimento comercial, comercialização e distribuição. O processo de adoção de inovação é concebido de modo a incluir dois principais sub-processos: iniciação e implementação. O processo de geração é mais emergente e pode ser caracterizado pela variação, pesquisa, experimentação e descoberta, como a exploração; o processo de adoção é mais planejado, e pode ser caracterizada pela seleção, refinamento, escolha e execução. As organizações que geram inovação é um objetivo fim, isto é, um dos principais objetivos ou valores fundamentais da organização é produzir algo novo. Para as organizações que adotam inovação é apenas um meio de facilitar e contribuir para os objetivos principais da organização (DAMPOUR; WISCHNEVSKY, 2006). A inovação é vista como um processo contínuo, cumulativo, que envolva não só inovação radical e incremental, mas também a difusão, absorção e utilização de inovação (LUNDVALL, 1992). O mínimo requerido para ser considerado inovação é a de que o produto, processo, método organizacional ou de marketing seja novo ou significativamente melhorado do ponto de vista da empresa. O que inclui produtos, processos e métodos implementados pela primeira vez pela empresa ou adotados de outras empresas (FRASCATI MANUAL, 2004). A distinção entre inovações de produto e processo é importante porque sua adoção requer diferentes habilidades organizacionais: as inovações de produtos requer que as empresas assimilem padrões de necessidade dos clientes, design, e fabricação do produto; inovações em processos requer que as empresas aplicam a tecnologia para melhorar a eficiência no desenvolvimento de produtos e comercialização (DAMANPOUR; GOPALAKRISHNAN, 2001). Inovações técnicas e inovações em produto são mais de indústrias-específicas, isto é, são mais padronizados em toda a indústria, enquanto inovações administrativas e de processo são mais "organização-específica, ou seja, são geralmente exclusivas para unidade de adoção. Inovações em organizações-específicas não podem ser imitadas sem modificações significativas para torná-la compatível com a estrutura, cultura e sistemas de adoção da organização, assim, são menos propensos a replicação (COTEC; INESC, 2008). A inovação possui processo diversificado de conhecimento. O conhecimento pode surgir de diferentes modos: aprender usando, fazendo ou interagindo (modo DUI); promovendo pesquisa e desenvolvimento e criando acesso ao conhecimento explícito – Ciência, Tecnologia e Inovação (modo STI) (LUNDVALL; LORENZ, 2007). 57


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O modo “Ciência, Tecnologia e Inovação” (STI), é baseada na produção e utilização do conhecimento codificado científico e técnico. O modo “fazendo, usando e interagindo” (DUI), se baseia em processos informais de aprendizagem baseada na experiência e knowhow (LUNDVALL; LORENZ, 2007). O modo STI requer um sistema formal de gestão de informação e conhecimento explícito, no entanto, o modo de DUI necessita de poderosa relações humanas. O modo STI de inovação tende ao estabelecimento por meio de teorias científicas e práticas; o modo DUI de inovação é, obviamente, enraizado na sociedade e relações humana. STI e DUI não são apenas um modo de inovação, mas também um estilo de aprendizagem (XIAOBIN; XUEJUN, 2007). O modo STI depende principalmente do conhecimento know-why, conhecimento explícito e previsão da atividade principal da inovação para obtenção, produção e utilização do conhecimento explícito por abordagens científicas; o modo DUI depende principalmente do know-how local e coletivo para conduzir a atividade de inovação (JENSEN; LUNDVALL, 2007). O modo STI desempenha um importante papel na pesquisa e desenvolvimento de departamentos das grandes empresas; modo DUI está consagrado na estrutura organizacional e de relacionamento. Na verdade, a inovação de uma empresa é geralmente a combinação destes dois modos com diferentes relações (XIAOBIN; XUEJUN, 2007). Inovação não é totalmente independente, nem totalmente determinada pela estrutura econômica e da configuração institucional - trajetórias de desenvolvimento tecnológico sempre mostrou um certo grau de aleatoriedade. Assim, o processo de inovação não é totalmente acidental, nem totalmente determinado pela estrutura econômica e institucional. A análise dos sistemas de inovação nos ajuda a compreender e explicar, porque a tecnologia se desenvolve em uma determinada direção, e em uma determinada taxa, mas um forte elemento de aleatoriedade sempre permanecerá (LUNDVALL, 1992). 3. Metodologia Para o entendimento e cumprimento do objetivo deste trabalho, usou-se da pesquisa bibliográfica, exploratória e descritiva. Usou-se da pesquisa bibliográfica pertinente ao assunto, abrangendo artigos científicos internacionais publicados num período entre 1978 à 2010. A bibliografia oferece meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente e permitir ao cientista o reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de suas informações (TRUJILLO, 1974). O uso da pesquisa exploratória objetiva a formulação de questões ou de problema (LAKATOS & MARCONI, 2007), teve por finalidade desenvolver hipóteses, clarificar conceitos, obter descrições quantitativas e qualitativas do objeto em estudo. A pesquisa descritiva possibilita o desenvolvimento de um nível de análise em que se permite identificar as diferentes formas de fenômenos, sua ordenação e classificação, bem como, permite ao pesquisador uma melhor compreensão do comportamento de diversos fatores e elementos que influenciam determinado fenômeno (OLIVEIRA, 2004, p.114). Como resultado dessa tarefa, construiu-se um mapa de características dos processos de inovação, o que permite identificar uma linguagem comum, as melhores práticas e abordagens na implementação dos sistemas de gestão da inovação 4. Resultados e discussões A análise dos padrões de inovação proporciona uma visão geral do funcionamento da organização inovativa. Encontrou-se dois perfil de padrão de inovação, conforme Figura 1, constituindo o mapa de inovação: 58


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i) Padrão 1 - Inovação radical, tecnológica, geração, produto, STI ii) Padrão 2: Perfil 2 - Inovação incremental, adoção, processos, método organizacional, DUI

Figura 1 – Mapa de Inovação

4.1 Padrão 1 - Inovação radical, tecnológica, geração, produto, STI A Geração de Inovação radical requer alta tecnologia, P&D, patentes, parceria com universidades e institutos de pesquisa. A organização pode engajar-se em pesquisa básica para ampliar seu conhecimento dos processos fundamentais relacionados com o que produz; pode engajar-se em pesquisa estratégica (no sentido de pesquisa de relevância para a indústria, mas sem aplicações específicas) para ampliar a gama de projetos aplicados que tem à sua disposição, e pesquisa aplicada para produzir invenções específicas ou modificações de técnicas existentes; pode desenvolver conceitos de produtos para julgar se são factíveis e viáveis; um estágio que envolve: (i) desenho do protótipo; (ii) desenvolvimento e ensaios; e (iii) pesquisas adicionais para modificação do desenho ou de suas funções técnicas (MANUAL DE OSLO, 1997). Organizações que geram inovação radical são criativas e apresentam flexibilidade e expontaneidade e permitem ao colaborador liberdade de criar e ter autonomia individual. A autonomia é definida como ter o controle sobre meios e os fins do próprio trabalho. Há dois tipos de autonomia (AHMED, 1998): autonomia estratégica: a liberdade para definir própria agenda; autonomia operacional: a liberdade de atacar um problema, uma vez que foi acordado pela organização, de forma que sejam determinada pelo próprio indivíduo. A organização interna possibilita gerar inovação radical quando há: team-work; coordenação; cooperação; compartilhamento de informação; recursos humanos heterogêneo; reconhecimento de oportunidade; P&D; testes; produção; marketing e distribuição; competências para criar mudança; regime empreendedor; baixos níveis de formalização; estratégia agressiva; estilo horizontal de gerenciamento com distribuição do poder de decisão; 59


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pequenas unidades ou organizações devem combinar um clima empresarial com uma cultura autocrática e estrutura da equipe autónoma; jovens; não estabelecidas (ETTLIE, 1984; DAMPOUR; WISCHNEVSKY, 2006). As organizações com foco em inovação radical estão à frente dos seus concorrentes e do mercado. As tecnologias que são utilizadas são tão fundamentalmente novas para que possam controlar seu ambiente e com ele ter alta dominância (PULLEN et al., 2009). Uma estratégia mais agressiva e exploradora promove a inovação radical. Tais estratégias são mais apropriadas, uma vez que são fortemente focadas em oportunidades de mercado e tendências emergentes (ETTLIE et al., 1984). Para sucesso de inovações radicais, organizações devem seguir estratégia de negócio prospectora, combinando com alto nível de dominância. As tecnologias que são utilizadas são fundamentalmente novas que possam ter controle de seu ambiente com ele e ter alta dominância (PULLEN et al, 2006). Gerar inovação radical significa a criação de novas tecnologias, produtos ou serviços que irá influenciar drasticamente a competitividade da empresa (DAMPOUR; WISCHNEVSKY, 2006). A geração de inovação radical necessita de comunicação e colaboração horizontal e informal, como forte liderança – atitutes; marketing. A cultura deve ser experimental, juntamente com clima informal; com flexibilidade e expontaneidade, liberdade para criar e knowledge-friendly. Nesse contexto, a cultura organizacional deve garantir o envolvimento e colaboração das pessoas, promover o compartilhamento da informação e do conhecimento (DAVENPORT et al., 1998). E, a geração da inovação precisa estar em torno do conhecimento. Uma base de conhecimento analítico domina as atividades econômicas. O conhecimento científico permite a criação de conhecimento baseado em modelos formais, ciência codificada e processos racionais (LUNDVALL; LORENZ, 2007). E o conhecimento explícito pode ser formalizado em termos de dados, fórmulas científicas, especificações ou manuais, sendo processado e transmitido de modo relativamente fácil (GARUD; NAYYAR, 1994). As organizações que se ligam de forma mais sistemática as fontes de conhecimento codificado e científicos são capazes de encontrar novas soluções e desenvolver novos produtos que os tornam mais competitivos (JENSEN et al., 2007). Há um processo diversificado de conhecimento. Explorar a inovação através do modo de inovação STI requer equipes autônomas, com versão forte em DUI, Know-why, KnowWhat, uso de tecnologias de informação e comunicação como ferramentas para codificar e compartilhar o conhecimento, disseminação do conhecimento, meios de proteção escritos (LUNDVALL; LORENZ, 2007). E, considerando que gerar a inovação consiste em gerir os processos de criação de valor, do conhecimento, desenvolvimento organizacional e propriedade intelectual e de reporting, gerir o conhecimento utilizado e produzido durante a execução dos processos e gerir as interações entre os vários participantes da organização, tal gestão por processos deve possuir baixa formalização, com trabalho flexível, estruturas informais, organizações descentralizadas que facilitam a inovação (ETTLIE, 1984; XIAOBIN; XUEJUN, 2007). 4.2 Padrão 2 - Inovação incremental, adoção, processos, método organizacional, DUI A adoção de Inovação incremental requer planejamento, seleção, refinamento, escolha e execução de inovação adequada, menor mudança técnica, estratégia tradicional e analisadora.

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As organizações que adotam a inovação podem engajar-se em muitas atividades que não têm nenhuma relação direta com P&D, mas ainda assim, desempenham um papel importante na inovação e no desempenho corporativos (MANUAL DE OSLO, 1997): identificar novos conceitos e tecnologias de produção; desenvolver unidades pilotos e depois instalações de produção em larga escala; adquirir informações técnicas, pagando taxas ou royalties por invenções patenteadas, ou adquirir know-how e competências através de vários tipos de consultorias de engenharia e projeto; competências humanas importantes para a produção podem ser desenvolvidas (através de treinamento interno) ou adquiridas (por contratação); criar nova oportunidade ou fazer uso da oportunidade existente. Organizações que adotam inovação invocam mais capacidades organizacionais e gerenciais para selecionar e assimilar a inovação. A adoção de inovação é mais prevalente em grandes empresas, já estabelecidas (DAMPOUR; WISCHNEVSKY, 2006), uma vez que, requer uma combinação de um clima empresarial, uma cultura hierárquica e baixo nível de dominância (PULLEN, et al., 2009); regime rotinizado; centralização e formalização (ETTLIE et al., 1984); mecanismos de coordenação; capacidades organizacionais e gerencias para para absorver e assimilar inovação; reconhecimento da necessidade, busca/sensibilização, avaliação, seleção, adaptação, implementação e rotinização; recursos organizacionais; experiência com mercado. Inovações incrementais podem ajudar a competitividade de uma empresa sem fazer produtos ou serviços existentes obsoletos. As inovações incrementais refinam e melhoram as técnicas existentes (DAMPOUR; WISCHNEVSKY, 2006). Produto tecnologicamente aprimorado é um produto existente cujo desempenho tenha sido significativamente elevado. Um produto simples pode ser aprimorado (em termos de melhor desempenho ou menor custo) através de componentes ou materiais de desempenho melhor, ou um produto complexo que consista em vários subsistemas técnicos integrados pode ser aprimorado através de modificações parciais em um dos subsistemas (MANUAL DE OSLO, 1997). Um mercado dominado por estratégias de crescimento tende a reforçar os mecanismos estruturais para a inovação incremental – complexidade e formalização (ETTLIE, et. all, 1984); processos de trabalho estruturados, foco em melhoramento de produtos, processos, mercado; produtos ou processos tecnologicamente aprimorados. Ainda, os projetos, geralmente, são de curto prazo, orientada e focada na estabilidade, previsibilidade controle (TUSHMAN; SMITH, 2002; PULLEN et al., 2009). Enquanto a ciência ou o conhecimento científico tem por objetivo apoiar o desenvolvimento tecnológico na prática, ainda é o caso de que, na maioria dos campos, muito da prática permanece parcialmente compreendido e, muito da prática envolve problemas que os profissionais só aprendem trabalhando sem qualquer entendimento mais sofisticado. Tal conhecimento pode surgir pelo modo de inovação DUI – fazendo, usando e interagindo refere-se à interação entre pessoas e departamentos, interação das ações entre indivíduos (SPENDER, 1994), know-how e Know-who (LUNDVALL; LORENZ, 2007), poderosas relações humanas (XIAOBIN; XUEJUN, 2007), compartilhamento de rotinas, processo cumulativo e socialmente construído. Quase todas as inovações refletem o conhecimento já existente, combinado a novas formas. O conhecimento simples envolve menos incertezas causais, o que possibilita seu entendimento com uma menor quantidade de informações de ação. A base de conhecimento sintético prevalece em ambientes industriais onde a inovação tem lugar à aplicação e ou combinação de conhecimento existente. Muitas vezes isso ocorre em resposta à necessidade de resolver problemas específicos de resultantes da interação com clientes e fornecedores 61


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(LUNDVALL; LORENZ, 2007). Já o conhecimento tácito liga-se diretamente a pessoas e apresenta difícil formalização, estando profundamente arraigado à ação, aos procedimentos, aos valores e às emoções de cada indivíduo, dinâmico - criado a partir de interações sociais entre indivíduos, grupos e organizações e humanista - essencialmente relacionado à ação humana, e que apresenta maiores dificuldades em seu gerenciamento (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). O fato do conhecimento ser, simultaneamente, entrada e saída dos processos de inovação, isto é, o conhecimento é utilizado para executar os processos de inovação e novos conhecimentos são criados como resultado desses processos sugere que os processos de conhecimento e de negócio deve ser geridos de forma integrada ao longo dos respectivos ciclos de vida. De fato, os processos inovativos são um meio excelente de entrega do conhecimento, bem como um espaço para a criação do conhecimento. Por outro lado, as informações sobre um processo de inovação em si e o resultado da sua execução constituem um conhecimento valioso que pode e deve ser reunido e formalizado com o objetivo de melhorar o desempenho da organização. 5. Considerações Finais Por sistema de gestão da inovação de uma empresa, entende-se o conjunto de processos, conhecimentos e interações que a empresa considera relevantes para o seu desempenho. Do ponto de vista da gestão da inovação são necessárias práticas e métodos organizacionais para a sustentabilidade crescimento organizacional. Do ponto de vista tecnológico, as tecnologias da informação e da comunicação são fundamentais para tratar o conhecimento e incentivar a inovação. Para o desenvolvimento organizacional, a criatividade humana e o conhecimento tácito são consideradas as principais fontes de inovação contínua, estando presentes nas duas formas de conhecimento e de inovação DUI - Doing, Using and Interacting e STI - Science, Technology and Innovation. Em muitos casos, em diferentes unidades, projetos ou áreas de atividade da mesma empresa, estarão presentes os 2 padrões. Mesmo assim, a identificação com um padrão de inovação é útil na definição de um Sistema de Gestão da Inovação, uma vez que os processos, conhecimentos e indicadores mais relevantes, bem como a cultura, o tipo de equipes de inovação e os mecanismos de comunicação e interação mais adequados são diferentes. A inovação fundamenta-se na existência de condições e recursos que a organização disponibiliza para a execução de projetos e atividades de inovação. Desta forma, torna-se evidente que o processo de inovação envolve um alto grau de complexidade, exigindo a combinação de uma série de características das mais distintas naturezas para que seu funcionamento seja pleno e para obtenção dos benefícios propostos pela sua incorporação na estratégia da empresa. Como sugestão para estudos futuros, propõe-se um estudo de caso em diferentes organizações afim de validar o mapa de inovação proposto, de forma que seja obtida uma visão mais ampla da gestão da inovação. Referências ABECKER. A., BERNARDI, A., HINKELMANN, K.; KÜHN, O.; SINTEK, M. Toward a Technology for Organizational Memories. IEEE Intelligent Systems, v.13, n.3, p.30-34, 1998. AHMED, P. K. Culture and climate for innovation. European Journal of Innovation Management, v.1, n.1, p. 30–43, 1998. ALONSO, G.; AGRAWAL, D; ABBADI, A.E.; MOHAN, C. Functionality and limitations of current workflow management systems. CA, USA, 1997.

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