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Wanda Monteiro

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Silvia Camossa

Silvia Camossa

“Sou Amazônida, vim da seiva quente de Benedicto Monteiro, um Poeta e Pescador de Sonhos, semente plantada no templo sagrado e fértil de Wanda, Mulher Guerreira, Mãe na mais pura definição. Cheguei no Outono, nascendo às margens do rio Amazonas. Nasci na hora do crepúsculo, contemplada pelo Sol. Fui banhada e batizada em águas amazônicas. Aprendi a respirar água, a ouvir a voz do vento, a sentir o cheiro da chuva, a nadar na malha de mururés. Me encantei com a voz da mata. Fui seduzida pelo olhar da restinga. Me vesti de terra, bebi o rio, cresci e verdejei. Sob o signo da Mãe Natureza, visto ambivalência!.Sigo, transitando na fronteira entre a impassividade da razão que me atordoa, que me distancia, que me confina, que me objeta, e a emoção que me testemunha, me aproxima, que me explica, que me intui e me confere o ideal de existir.

Umbrais, veredas, cantares, prantos, odes, abismos e saltos. Faces e interfaces de líricos-eus que se aproximam e se distanciam na complexidade de seus imaginários e percursos. Esse livro pede ao leitor descerrar os olhos sobre essa profusão de imagens. Enxergar a sutileza do traço e assinatura de cada úterovoz. Uma linguagem poética que requer escuta e afeto pois que sua leitura se traduz em ato litúrgico como litúrgico é o ato da escrita. A poesia concebida pelo Feminino. Não o feminino da identidade e condição social, meramente, referidas a fatores biológicos e ao nível das conservadoras representações sociais. Não. Não mais. Mas sim, o feminino como uma categoria política. Pois que, no espectro atual do universo feminino, a tese a mulher é uma categoria biológica foi substituída pela antítese a mulher é uma construção social. Esta nova e revolucionária percepção questiona e relativiza o caráter absoluto dos conceitos, pois nela reside a força transformadora do Feminino. Esse livro reúne a voz poética de Poetas nascidas sob esse tão

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profanado signo do Feminino. A produção literária dessas mulheres se insere em um contexto histórico de mudanças, de liberação,de lutas e direitos. E essa inserção pode ser sentida em cada escritura que se revela como afirmação da subjetividade feminina. Uma escritura de mulheres que por sua intensa humanidade transcende à questão do gênero porquanto são Poetas. As Mulheres Poetas – Na Literatura Brasileira essa obra, idealizada, organizada e editada, com primor e abnegação, pelo talentoso escritor Rubens Jardim, mapeia e revela ao leitor a intensa topografia da lavoura poética formada pela fecunda e rica lavra de nossas poetas. Uma colheita que contribui imensamente para a memória da produção poética na literatura brasileira. Uma antologia de mulheres poetas, seres de linguagem. São Aracnes tecendo teias de significações. São Ariadnes que não se deixam guiar por Teseus porque não negam a vida, e sim, empreendem reinventá-la. São mulheres que destroem o mito e se negam à palavra sensata, pois que abrem, largamente, seus ouvidos para ouvir o inaudível. São seres que têm a “anima” para ver e transver o mundo. Elas abrem seus olhos para ver o invisível, decifrar complexos enigmas, para se acharem e se perderem em labirintos porque deles sabem seu começo e recomeço. São filhas desobedientes de Eva que fazem o leitor comer o fruto da linguagem: a poesia. A poesia, fruto que aflora os sentidos e proporciona a amplidão das percepções. Esta é a contrafação mítica pelo gesto que não instala a morte da carne, mas sim, sua ressureição no verbo. São mulheres cuja escrita poética vem da voz-útero – nascedouro de rios de linguagens que convergem para esse manancial de significações. Um manancial que para ser lido e desvelado requer olhos que possam enxergar suas invisibilidades e ouvidos para a escuta sutil das nuances e tons de suas tão diversas vozes.

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