1 minute read

Pollyana Furtado

Next Article
Juliana Meira

Juliana Meira

(1980)

Poeta mineira, é jornalista, mãe de duas filhas . Começou a escrever em meios eletrônicos ainda na adolescência O Caderno das Inviabilidades é seu primeiro livro de poemas e foi semifinalista do Premio Oceanos de Literatura 2017. Tem poemas publicados também em revistas eletrônicas como Escamandro e Literatura.br.

Advertisement

O CADERNO DAS INVIABILIDADES Minha vontade irremediável de listar palavras inviáveis. Inviáveis, sua barba ou cabelos. O avião, incapaz de remediar minhas convicções inviáveis ou o defeito no lobo da orelha. Minha perversidade. O que me ocorre embaixo do chuveiro.

A ereção inviável e o beijo. Os homens inviáveis. Os homens, de onde nada nasce. Onde não há menstruação não cabe vida, as mãos injustas e protetoras dos homens. Os filhos inviáveis dos homens cujo desejo me torna inviável. Os pés grandes demais, os olhos dos homens que não sabem chorar, ou nem só falar, os homens que não sabem. Os homens e seus pelos inviáveis, suas mãos sujas, seu tesão exposto.

O homem que me alimenta, inviável, o caderno de inviabilidades, a quem sorvo diariamente na cama da casa que eu fiz viável para o homem morar. O homem cuja inviabilidade eu exponho debaixo do lençol a cada dia, todos os dias, na inviabilidade selada com o anel, o olhar pobre ora meu, ora dele, diante ao mesmo tempo do dever inviável e do

mero amor,

livre de mim, livre dele, o amor insone sobre a cama feita ao lado da janela voltada para o prédio vizinho à revelia de nós dois.

This article is from: