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Simone Teodoro

(1981)

Poeta paulistana, é formada em jornalismo pela ECA, com especializações em edição de livros e jornalismo literário. Se lá no sol (2005) foi seu livro de estréia. Em seguida, participou de antologias no Brasil e no exterior. Trabalhou na Radiobrás, revista Cult, edição brasileira do Le Monde diplomatique. Seu livro, Vário Som, foi finalista do Prêmio Jabuti, em 2013.Publicou, ainda Notas errantes (2017) e das crônicas de Reforma na Paulista e um coração pisado (2013), assim como O gosto da cidade em minha boca (2018), entre outras obras.

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nas malocas no cais sodré faltam reboco e cortinado sobeja amor pombas fofocam a vida por detrás dos vidros das alturas me contam as novidades elogio a beleza de suas penas verdes rubras as patas flexionadas sentinelas tão seguras de si não jogo tranças nem alpiste como esta grade é baixa vertigens acometem quem se aproxima demais do abismo

AMÉRICA É preciso amar rapidamente ler todos os livros interessantes pintar os quadros com urgência transformar toda farinha em pão registrar todos os sentimentos

antes que as cabeças sejam cortadas.

CIDADE ÁCIDA palco de horrores e amores solmáforo acusando:

raios peligrosamente UV

(perigo! perigo! peles brancas e azuis)

olhos fechados a luz não queima

atravessa

cidade ácida vem me incendiar

(1981)

Poeta tocantinense, é escritora, preparadora de textos e professora de literatura. Já morou em Goiânia, Campinas e Dublin. Reside em São Paulo desde 2008. É bacharel em letras pela Unicamp e pós-graduada em filosofia pelo Mackenzie. Autora dos blogs Subvertidas (2011/2013) e Chistes e Poesia (2007/2014). Tem publicado poemas e contos em revistas eletrônicas como Lavoura, Ruído Manifesto, Gueto e Quatetê. Em 2018, integrou a coletânea Degredo da revista Gueto. O Sonho do Tempo é seu primeiro livro solo.

Maria cheiro de alho e cebola Teu rosto só lembro embaçado Pelo vapor da panela de arroz Lá onde teus desejos fumegavam, Maria Toda a antipoesia Das avós de mãos enrugadas, enregelhadas Cabeças de algodão Pontes, verrugas, muletas Sorrisos amarelos de tabaco

Cadeiras na varanda da casa De onde o movimento lento Maria das ruas Teciam histórias da gente comum Da gente tua Maria

A mulher enlouquecida nua deitando-se sobre os carros O homem enlouquecido nu volteando-se bailarino, cantando o Menino Jesus Meninos meninas esmagados sob tratores Estradas de terra impaludismo migração miséria Alho e cebola o cheiro das tuas palavras, Maria Fumaça o teu rosto imortal, imemorial Perdido no tempo em que o tempo Podia esculpir O mármore das avós

............................................................................................ Duas adolescentes sentadas no batente à porta de um motel Letreiro luz neon vermelha e azul Cada uma um filho no colo uma criança de colo Cada uma na outra mão um cigarro São Paulo Brigadeiro Luís Antônio 23h Achei que valia uma foto Uma das meninas larga o cigarro Mecanicamente saca da bruzinha um peito triste O rebento suga sem deleite aparente Outra foto

(1981)

Poeta paulista, produtora de cenários e ilustradora, faz parte do grupo Poesia Maloqueirista, criado a partir de leitura de poemas feitas em bares de Paraty na Flip de 2005. Na infância morou no Espirito Santo, mas voltou para Santo André ainda criança e aos 19 foi morar em São Paulo. Frequenta saraus, participando de projetos como Não Funciona, C.A.I.M.A.L. e Terra Vermelha. Já lançou Primeiro Voo, Cigarros Poéticos, Salto, Selva.

MUDO respira, no fundo pra sentir que ainda está dentro. Com as mãos, o peito e as extremidades em formigamento. Pressente a queda. Sente a vertigem (vinho raro). Salta. se arrebenta... engasga com o sangue, degusta o suor e acorda, ainda tonto do que houvera, vivo, mas não intacto, mudo, mas não calado.

A SELVA Nas profundezas de minhas paixões sinceras Onde não existe o ecoar das palavras Mora a minha força mais bruta Cada vez que me abala a dúvida Com os poros em descompasso Eu sei que ela esta viva Devo dizer que estou livre apenas onde não há palavras Devo dizer que aperto, eu mesma, minhas amarras Cada vez que explico o que dizem os meus olhos Cada vez que corro pra longe de mim Cada vez que falam mais alto os contratos E eu sou uma selva Sou a mesma mata serena Que amedronta ao cantar da lua Sou uma deusa plena que tem medo de ser nua. Estou procurando velas para não estar sem trilha E apago com paixão velas e brasas Para não deixar de ser selva Nunca.

(1981)

Poeta gaúcha,é advogada e vive em Curitiba. Seus poemas foram publicados pela primeira vez em caixas de fósforo, coleção Fogo do Verbo, em 2008. O primeiro livro, poema dilema, foi publicado em 2009. O segundo, sem título, integra o projeto Instante Estante de incentivo à leitura. Publicou o livro poema pássaro (2015) e está na Antologia Blasfêmeas: mulheres de palavra(2016). Seu último livro, Na língua da manhã silêncio e sal saiu em 2017.

o Guaíba indo lindo, limpo, no postal do gringo .................................................................................... todas as palavras com suas mutações contagiam meu corpo

por isso sofro desde a sombra até o osso

.................................................................................... o sapo coaxa. bonito? só a sapa acha. ..................................................................................... quando nasce um poema

o poeta tem morte certeira

é possível ver no futuro texto

a funda cicatriz do recomeço ...................................................................................... que silêncio é este que me atravessa o crânio como se ele fosse um cânion?

(1981)

Poeta mineira, é escritora e videoartista. Escreve para a revista literária La Ninfa Eco (Oxford, Reino Unido) e coedita a Liberoamerica (revista transoceânica). Dirigiu os curtas Sou Indesejável (2018) e Depois do Sétimo Dia (2020). É integrante do coletivo de mulheres do audiovisual Anarchas e autora de Arame Farpado (2ª. Edição, Penalux, 2018). Teve trabalhos de videoarte exibidos em festivais no Brasil e no exterior.

CURTAS DE MEUS LONGAS II Sou a mesma figura que caminhou ao lado de ideais que sucumbiram ao tempo: assisti a Revolução Francesa apesar de ter nascido no Brasil de 1981. Fui agente comunista, embora nunca tenha comido criancinhas.

E agora sou um fruto capitalista: apodrecido dentro do mercado.

III Toda minha moral mente e toda minha imoralidade é demente.

WOOLFS & STORNIS AQUI DENTRO Eu sou desordem. Exterminadora de Eus passados. Alma em cálice de vida. Corpo entregue à ruína. Eu sou canção do exílio – inteligência colonizada. Segredo para mais de 500 anos. Império de sem terras, de sem tetos e de sem vergonhas. Meu sexo é algema, mácula e saia longa. Meus olhos esperam o não sei o quê. Curso pontes e pinguelas desafiando Leis e o Reich da Gravidade. FILHOS DE MADALENA Alastra-se um cobertor virótico neste solo. Quem dorme não terá mais chance de dizer: Bom dia! Fazemos nossa parte: vendemos nossas vidas. Hoje nossas genitálias rendem o prato do dia

(1981)

Poeta cearense, foi criada em Natal e se considera potiguar. É engeneira química e também dramaturga. Publicou três livros de poesia: Por Cada Uma (2011), em parceria com quatro outras poetas potiguares; Livro de Sete Cabeças (2016); e Das Coisas Que Larguei na Calçada (2016).

NÃO LIMPE OS PÉS ANTES DE ENTRAR Entre com a lama, a grama, a poeira e a areia do mar. Entre com o barulho das ruas, do samba e dos versos do poeta de mesa de bar. Entre com o cheiro do asfalto, do ônibus lotado e do pastel de carne com suco de maracujá. A porta está aberta, pode entrar:Eu quero minha alma suja e feliz.

ORIGAMI nem sempre somos o que queremos ser. um dia, pássaros. um dia, papel amassado no chão. [somos as dobraduras da vida]

A POESIA (MENTE) A poesia está na sala. Nos restos em cima da mesa. Inquieta e sedutoramente viva. A poesia está no quarto. Na poeira debaixo da cama. Tranquila e assustadoramente só. A poesia sorri, Debocha e diz: — A poesia não está. E assim a poesia descaradamente é.

(1981)

Poeta paranaense, vive no Amazonas, formou-se em letras e especializou-se em linguística pela UFAM. Fez mestrado e é professora de língua portuguesa e literatura na rede pública de ensino Publicou os livros de poemas: Fractais e À margem da luz(2007), Simetria do caos (2011), Rosa de Sombra (artesanal e em versão digital, 2013) e À sombra do iluminado (2017).

A PRAÇA Distribuição de indigentes ignorados pela intransigência. Ignota discrepância de uma singular civilização. Desmedidos, censurados em larga instância, de uma força dividida, em dissipação. Expressão desenganada e corrompida, de um povo desiludido pela ganância. No ácido da ferida, absorvidos pela ânsia. Jaz um grito: dissolvam-se os parâmetros, recomponha-se o veredicto.

NA PELE Escrevendo na pele o gosto da paixão, deixei derramar no meu ser muitos dos teus anseios. Mergulhaste fundo, minha boca entreaberta, um refluxo selvagem. Olhos de fenda, minha ardente ilusão. Envolvido pela ternura, desperta-me deste sonhoi de estar longe de ti iluminando as trevas dentro e fora de mim.

(1981)

Poeta carioca, é atriz, bacharel em letras e performer. Em 2011 lançou o livro de poemas O Exercício no Mundo com Luis Alexandre Louzada e Denise Fraga. Foi publicada nas revistas Um Conto, Diversos Afins, Estrelas Vagabundas e Zebra, estas duas últimas pela UFRJ.

tem um rinoceronte no meu pátio que me flameja toda noite não há metáfora que sustente meu quadril dolo encardido que ensurdece os ossos como uma mancha. tenho entre os dedos um crucifixo pagão que me faz sangrar como eu sempre quis. novena que entorpece. as horas no meu corpo são como escombros, altares perdidos no oceano. ......................................................................................... o odor entre minhas pernas , meu diálogo mais esquizofrênico, denuncia minhas velhas pegadas. uma alcova fertilizando promessas uma altura encardindo meus excessos . o óleo que produzo rasga minha língua e mancha a memória dos meus tornozelos. ando manca pelas redomas de tua igreja, pelas profecias atônitas de uma virgem. o sangue que me jorra me reduz a um beijo pontiagudo. escombros em precipício. carne que não envelhece. teu tempo é grave e minhas pernas querem deter tua fuga. nuvem cigana. alçar voos de serpente lambuzar esse fingido diálogo beber nosso líquido numa catedral sem deuses.

costura de uma noite pagã.

(1981)

Poeta carioca, tem poemas publicados nas revistas eletrônicas Mallarmargens, Zunái, Musa Rara, Diversos Afins, além de blogs e no site do Centro Cultural São Paulo. Incluída nas antologias: Desvio para o Vermelho, Amar, verbo atemporal e História Íntima da Leitura.

o medo entrará em nossa casa nos recortando como num conto de Cortázar não saberemos por quê por fim, foragidos do perímetro de um país o coração na saudade eloquente e pagã forjada nas distâncias das coisas não paridas - mesmo partidas as coisas têm um nome ouço os espaços vagos do dia em que nascemos

PÃO CEGO DA POESIA mastigo o ermo das palavras quando não quero dizê-las estendo os braços, frágeis de sentido por algo como a luz. ou a fome

VIGÉSIMO ANDAR Tenho dias de ficar entorpecida com as montanhas, em parte alguma. Alargada pelas florestas, onde a verticalidade varia como o câmbio – flutuo sem pés nem asas pela chacina de elevadores que incomunicam o alto, sem confidências.

(1981)

Poeta mineira, estudou letras na Universidade Federal de Minas Gerais, foi professora de literatura e fez mestrado na mesma instituição. Fez aulas de artes marciais, desistiu rápido e decidiu seguir carreira religiosa: foi católica carismática e quase irmã carmelita. É leitora compulsiva de poesia. Distraídas Astronautas (2014) é seu livro de estreia. Publicou depois Movimento em falso(2016). Atualmente coordena as atividades de incentivo à leitura da Biblioteca Pública de Belo Horizonte. Mas confessa: “poderia ter sido engenheira, lutadora de MMA, freira ou saxofonista. Uma vida só não basta: sou poeta.”-

SOBRE ARDER Eu sei Ousei flertar com claridades Mas sou filha do breu E agora me recolho Barroca e contorcida

(Minhas frágeis asas de cera...) E ela era um verão Inteiro em minha cama Ardendo

NÃO ERA Não era vento: Era ser forte Era ser fraco E, às vezes, sem rumo.

Não era chama: Era um gosto na língua Era umidade entre as pernas Era angústia de amar.

Não era outono: Era a superfície da pele Alcatifada por rugas. Não era um trilho de trem Uma estação ferroviária Um aeroporto Nem mesmo o mar Com um barco distante: Era a vida que restava Acorrentada à ausência.

Não era chuva: Era tristeza pura. E só.

(1981)

Poeta paulista, nasceu em Campinas. Formou-se em Direito pela USP, é mestre e doutoranda em Sociologia pela Unicamp. É autora do livro Interpeles (2008) e organizadora do livro Tempo de Jabuticabas (2016). Idealizou o Coletivo Ocupecompoesia, que promove ações político-poéticas na cidade de São Paulo.

ME ilumina-me pensava ele diante do vagalume: então o dissecava até o caroço da morte mas aprendi anatomia consolava-se em pânico diverte-me pensava ele diante do brinquedo eletrônico: então o destroçava e remontava triunfante ama-me pensava ele diante de Ana:

EPITÁFIO nada jamais há de tocarme sem esquar tej ar a nã o ser talvez a joaninha de minha primeira infância

VIGÉSIMO ANDAR Tenho dias de ficar entorpecida com as montanhas, em parte alguma. Alargada pelas florestas, onde a verticalidade varia como o câmbio – flutuo

(1981)

Poeta paulistana, é formada em Letras pela PUC-SP e leciona língua portuguesa e literatura. Passos ao redor do teu canto é seu primeiro livro de poemas e integra a Coleção Patuscada, projeto premiado com o ProAC – Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo.

DECOMPOR A fruta apodrece (não que eu assim quisesse) como vão de escada e escuridão. Vivo onde as moscas contornam minha ausência. Faço de mim escambo com o vento. Estaria a dois passos do que tem sido. Desfaço na estrada e vou fincando em cada poste abandonado em cada curva desvio a voz que em mim fala para decair na tarde verde vegetal e não querer mais nada da vida. Se assim se mostra no que decompõe a essência, deixo ao que o coração abra em tempo do que regressa o sumo maduro a colher o sêmen entrar dentro da ferida das coisas saber de que material são feitas e conter sua substância - expor sua ferida em um trauma aberto lá onde dói a fibra do fino fio corrói-se a essência sem luz.

(1981)

Poeta gaúcha,.teve sua escrita notada nas redes sociais quando seus textos começaram a ser publicados em blogs e revistas eletrônicas de literatura contemporânea no Brasil e em Portugal. Participou da antologia ‘Contemporâneas’ na revista Vidas Secretas, editada por João Gomes. Publicou poemas também no Livro da Tribo, pela Editora da Tribo. É colaboradora/curadora na Mallarmargens, revista virtual de poesia e arte contemporânea. Publicou o livro “Orquídea Trepadeira e outras flores ordinárias”, em 2017, pela Editora Benfazeja; em 2018 publicou “Os Mortos do Apartamento 21”, pela Editora Patuá.

Revezava um dia para cada: o policial nas quartas e sextas, o ex-presidiário nas terças e quintas. Nos finais de semana eles ficavam com suas respectivas esposas e eu inventava um terceiro que não me cobrasse nada. E toda segunda feira eu deixava livre para chorar em paz. * Meu amor me trocou por um aplicativo de sexo casual o amor me trocou por unidos venceremos e um pé de Iemanjá pisando descalça no chão da sala onde deitei e esfreguei a buceta em posições absurdas de ballet. Trocou meu Grimório por um livro de São Cipriano. O amor me trocou por um quarteirão com queijo batatas fritas coca-cola, trocou seis por meia-dúzia trocou uma nota de quinhentos, trocou meu vôo de lugar, trocou 3 gramas na biqueira me trocou por uma vídeo-chamada, me trocou por cabeçada na parede, cortou a testa de fora a fora e me trocou como trocasse de cueca zorba modelo antigo de algodão me trocou por uma banda de metal sueca me trocou por uma viagem a Helsinque e a Finlândia inteira, o amor me trocou por uma paisagista calma e equilibrada como devem ser as paisagens. O amor me trocou por um jardim de amor-perfeito e dentes brancos. * e eu sabia irritar um homem como ninguém eu sabia dizer a coisa certa na hora errada pra ofender de forma sangrada e imperdoável eu sempre soube ter a língua cheia de alfinetes porque um homem duro e impenetrável me parece por demais enfadonho a placidez mórbida sobretudo é inadmissível e isso vai além da minha vontade própria é quase involuntário espezinhar por gosto e propósito só pra ouvir o grito obter resposta ver mostrar por dentro ver até onde eles vão e nessas de brincar de ‘espete o bonequinho’ me lasquei bonito quando eles explodiam geralmente os estilhaços furavam meus olhos por isso fiquei cega toda vez que fui embora.

(1982)

Poeta pernambucana, é jornalista, fotógrafa e vive e trabalha entre Colônia e Berlim, na Alemanha. Lançou os livros Autotomia (fotografia), Polaróides (2014) e O Martelo(2016). Tem trabalhos fotográficos publicados por diversas revistas internacionais.

coisas no metrô acontecem muitas coisas na alemanha mas ninguém se olha nem na alemanha e nem no metrô pra mulher de burca todo mundo olhou mas ninguém a viu ninguém julga ter algo a ver com isso. ........................................................................................ embaixo da burca há uma mulher.

GAIA CIÊNCIA é proibido cuspir no prato é proibido dormir no asfalto é proibido trepar no mato é permitido açoitar as massas

é permitido erigir as farsas é permitido morrer às traças (paremos, portanto, de fingir que Nietzsche estava errado quando enlouqueceu às portas de explicar esse caralho) AS MULHERES POETASacontecem muitas NA LITERATURA BRASILEIRA 101

(1982)

Poeta paulista, formou-se em letras e fez mestrado pela UNESP (Araraquara). É autora do romance Castelos tropicais (2015), do livro de poemas Instruções para lavar a alma (2016) e do livro de crônicas Vibração e descompasso (2017). Escreve para diversos sites e em 2017 teve poemas gravados no CD Lavar a Alma. Morou na Austrália, Chile e Hungria.

entre silêncios e entrelinhas entre peles e recantos entre vãos e desvios entre a coincidência dos olhares e a refração dos espelhos entre os escafandros e os nus em pelo Amar é sempre um tiro no escuro

MISSÃO é fácil escrever um poema difícil é – pelas décadas que se agregam pelos vícios que me pegam pelos sonhos que se quebram – não deixar morrer o olhar de encantamento

é fácil escrever um poema difícil é fazer do corpo templo capturar na veia e no verso os ritmos do silêncio

é fácil escrever um poema talvez leve alguns minutos apenas talvez surja num sonho numa alvorada do peito numa madrugada embriagada difícil é deixar a fenda aberta despir as máscaras desconstruir os passos reinventar a existência cotidianamente

é fácil sentar e escrever um poema difícil é resistir e fazer da vida poesia

(1982)

Poeta paulista, nasceu em Ribeirao Preto, é tradutora e pesquisadora. Publicou Repátria no Brasil (2015) e na Itália (Carta Canta, 2017) e 16 poemas + 1 em Nova Iorque (edição de autora, 2017) e em Reykjavík (Sagarana forlag, 2017). Organizou as cartas de Ungaretti a Bruna Bianco (Mondadori, 2017) e traduziu, entre outros, Elena Ferrante. Morou na Itália, na Espanha, na Malásia e, por alguns meses, na Índia e no México.

RUA ABÍLIO SOARES A casa caiu e o vazio fisga fundo a ferida. A rua muda, a sombra nua espraia o sol, meus passos passam

CATEDRAIS Força sutil e estrondosa a nossa catedral erguida no peito vazio –no silêncio dos olhos, sós e incessantes construímos um penhasco, ponte de uma dor a outra. Como todo ser vivo, hoje estamos cada um com seu vício.

É O NASCER DO DIA QUE RASGA O PEITO DOS AMANTES É o nascer do dia que rasga o peito dos amantes, como o verde que colore ois olhos, na mesma diagonal, o desenho de um milagre. Plantar na terra pés com o coração e não ir mais embora agora que colocaste o mar no céu. Enquanto na gargante brota-se a línguia dos antepassados navegadores meu olhar permanece no horizonte.

(1982-2014)

Poeta paranaense, editora e artista visual. Foi mestre em literatura pela UFPR e viveu em Curitiba. Publicou o livro de bolso literário-visual OQ? (2006), em parceria com C. L. Salvaro. Também publicou fanzines coletivos, Potlatch (2 edições)e Lá (5º edição). Morreu, lamentavelmente, em março de 2014 víotima de uma partada cardíaca durante viagem para Florianópolis.

PETRÓLEO sombra: carne incorpórea colada no tempo. corpo imaterial, ou a fisicalidade do ausente. o negativo de uma materialidade anterior –silhueta de fumaça na parede branca. (o que se fotografa são fantasmas) eu sou o livro-fogo que queima, negro. estive sempre aqui (mas isso não é visível). agora há o resquício, e há também a imagem que me cria, para que eu siga sendo este outro.

agora sou um traço de pólvora. a fotografia-fuligem, a imagem-pó –o livro-espectro.

ENTARDECER voam em bando. estardalhaço. feito vento nas folhas barulhentas. as asas, simultâneas: tambores. avoada, nem vê, de perto. o fim de tarde sonoro a manchar o céu (alaranjado) com sua listra negra e ligeira.

(1982)

Poeta paulistana, é cientista social formada pela Universidade de São Paulo com mestrado em sociologia pela Universidade Nova de Lisboa. Lançou seu primeiro livro de poemas, Tempestade Musicada, em 2018. Enigmas de Jaguar e Jasmim, seu segundo livro, veio dois anos depois, em 2020.

ROTINEIRA CONTRADIÇÃO Cheia de arte de palavras cheia de rimas de conexões lógicas impróprias

Cheia de vida cheia de raiva cheia de fome cheia de vôo cheia de rios, lotada de sonhos e ilusões

(a liberdade na terra se esconde e a felicidade se torna a tranquilidade vazia da repetição)

Estou farta, porque tranquila estou cheia, porque ausência liberta, porque aprisionada

E fracassada porque nasci na selvagem vida dos homens e sou fêmea, que carinho

– Eu estou cheia porque a vida

Vazia

(1983)

Poeta paulistana, historiadora, amante das letras e das artes. Colabora com conteúdos para revistas digitais, possui um blog na Revista Digital Obvious (obviousmag.org/coisas_de_dri) e é uma das organizadoras do projeto literário Senhoras Obscenas, na qual além de suas poesias contribui com os resgates de memórias de escritoras ofuscadas. Participa também do coletivo de arte “Gestus”.

Em um labirinto de espelhos entrei Porém, não era meu reflexo que ali identifiquei Era algo muito semelhante, mas com outro semblante que aos encantos me entreguei Côncavo e convexo Entre uma curva e outra um afeto, uma afronta O pensamento em confusão Sem bússola ou mapa, nem rumo ou direção.

O que agora refletia não tinha aspecto, nem fisionomia Tão abstrato quanto desenho, por pingos de chuva formado, no vidro embaçado. Buscava uma saída, uma pista Que retirasse essa sensação De que algo sugava meu coração Então o sol levantou... Em uma claridade transcendente Iluminou (in)utilmente Cada espelho ali presente Como um vulcão em erupção O chão tremeu de excitação Um trinco, uma rachadura, explosão Fui lançada pelos ares Cacos soltos e em pares Dissipada no vácuo do espaço Cada pedaço que voou levou um pouco do que sou 106 AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRAFormando então, minha constelação.

(1983)

Nascida em 1983 na periferia de São Paulo, cresceu em Nova Soure, pequena cidade da Bahia, terra natal de seus pais. Em 1996, retornou à capital paulista, momento em que inicia seu diálogo com a cultura hip-hop. Criadora do Mjiba, fanzine de poesia, que circulou entre 2001 e 2005, a autora começou a frequentar os Saraus da Cooperifa em 2004. Poeta, jornalista, editora da Agenda Cultural da Periferia, locutora da Rádio Comunitária Heliópolis foi co-organizadora da Antologia Pretextos de Mulheres Negras com Carmen Faustino e textos de 20 poetisas negras. Publicou o livro de poemas Águas da Cabaça(2012) e foi incluida em algumas antologias como Cadernos Negros, Negrafias, entre outras.

MULHERES CAMPESINAS No meio da noite, mãos de foice Pra lavoura de pragas, mulheres gafanhotos Noticie a invasão, nosso nome é ocupação Para germinar capital estéril, Sangue nosso não regará solo infértil Antes que o planeta seja vento e poeira Guardamos sementes boas nas carapinhas Espalharemos nos milharais nossas bandeiras Mulheres em luta, escrito nas muralhas e nas veias

ÁGUAS DE CABAÇA Esse fruto seco que tudo carrega Elixir dos deuses e do diabo Águas para o banho Águas que matam a sede É vida, é ventre Quando pensam que morri Renasço nas mãos de uma mulher Ser cabaça, ser fértil simples, discreta suave, dura e impermeável Reverberar o som com suas sementes

COMIGO-NINGUÉM-PODE Assentei no meu portão Uma erva poderosa Planta milagreira De banir Olho de Seca Pimenteira Para reforçar Espada de São Jorge Arruda e Alecrim Não há olho gordo que me derrube Não há mal que me assole Pois na minha casa o que não falta É Comigo-Ninguém-Pode

(1983)

PIERROT

Poeta paulistana, é psicóloga de formação. Especializou-se em Fenomenologia Existencial e Psicodrama. Trabalha com os tipos psicológicos de Jung e análises comportamentais para indivíduos e equipes. Filha de dois escritores e jornalistas, sabia que sua vida estava predestinada à literatura. Foi em Lisboa, no ano de 2008, que passou a escrever compulsivamente. Participou de diversas antologias e encontros poéticos, no Brasil e em Portugal. Em 2018 lançou Viver é Fictício, pela Laranja Original.

“Estou lendo um romance de Louise Erdrich. A certa altura, um bisavô encontra seu bisneto. O bisavô está completamente lelé (seus pensamentos têm a cor de água) e sorri com o mesmo beatifico sorriso de seu bisneto recém nascido. O bisavô é feliz porque perdeu a memória que tinha. O bisneto é feliz porque não tem, ainda, nenhuma memória. Eis aqui, penso, a felicidade perfeita. Não a quero.” Eduardo Galeanoem O livro dos abraços. Uma caixinha de música, às vezes, dá corda a mim. A poesia gorda me envaidece com seus versos, perfeitos. Eles vêm, sonhos oraculares, em cores de Van Gogh e voz do Salvador. É difícil dar-lhes nomes, ou decidir o primogênito. Gostava de morar na beleza primeira que tem as letras, antes da oração. Uma boneca antiga visita-me a infância. Faz do passado uma colheita de outono. Uma caixinha de música, às vezes, dá cordas em mim. Manipula meus títeres anteriores. E vai-se embora como a nuvem derradeira que insiste em acariciar o Tejo. Uma caixinha de música, às vezes, desperta o pierrot aprisionado no brinquedo. Dilacera as dores cicatrizadas. Dá risada dos projetos juvenis. No dia em que a caixinha de música for abreviada pela obviedade, talvez seja feliz. A memória, Poética, é sempre lapso dos possíveis futuros.

(1983)

Poeta paulistana, possui poemas e artigos sobre cinema e literatura publicados em sites da internet, revistas e jornais. Classificou-se em 3º lugar em um festival de música e literatura da USP e foi finalista da 15ª edição do Prêmio Nascente, Publicou o livro Pleno Deserto, em 2009.

NO SUMIDOURO Ao redor do quarto migra um cortejo de aves. Não vemos pois estamos fechados. Ao redor do quarto um barco repousa em um mar sem ondas. Não vemos pois estamos partindo. Ao redor do quarto baleias abertas e peixes mortos cobrem a angra. Não vemos pois estamos sangrando. Porque estamos sozinhos não vemos suicidas engolfados nas brânquias tóxicas dos cardumes. Não vemos

a morte solitária dos corais. Não vemos a embarcação vazia permanecer no silêncio das águas. Não vemos: pois estamos no escuro.

DESENCANTO As mesmices cotidianas desmoronam quando estamos juntos. Parece que o tempo pára e averigua que cintilamos de volúpia. Consumidos pela alegria de trazer à tona um prazer legítimo que não se repete em mil eras. De repente, depois da viagem, voltamos a nos ver entre os limites das paredes: nossos corpos não vêm mais com paisagens, ou entre nuvens de luz furta-cor e néon.

Já não somos deuses.

(1983)

Poeta paulista, é também musicista e professora.Já lecionou música e teatro para deficientes cognitivos.Deu aulas particulares de inglês e francês.Verossímil, seu primeiro livro, foi publicado em 2016. Em seguida, em 2017, publicou Carente e em 2018 trabalhou com o projeto KasatoMaru, cartões postais da cidade de São Paulo com um haicai sobre cada foto. Ela confessa não lembrar o título do primeiro poema e diz que escreve há muito tempo. “Desde pequena, minha mãe me recitava Ricardo Reis enquanto contava sobre o meu nome.”

LULALALALA Carta para o prisioneiro Você foi o primeiro candidato que eu votei e eu votei em você pela pri,meira vez que você se elegeu, fiquei até convencida com os meus 20 anos que o meu voto fazia muita diferença. Lembro eu passeando pelo corredor de fotos, bem antes da Dilma, impressionante: eles são tão parecidos um com o outro. A mesma cara lisa em todas as fotos no corredor em Brasília menos você sorrindo, fica parecendo mais ser humano que presidente da República! Ah é esqueci o Itamar que parece com medo. A diferença entre algo que desperta atenção e um benefício ou ganância é so uma questão de interpretação mas não estou interessada em definições. Impressionante: eles são tão parecidos um como outro só você parecendo mais ser humano que presidente da República!

FEMININO Ser mulher no seio da aurora é como ter flor que existe nos olhos, porque sorveu ilusórios propósitos e alguma dor.

É viajar no sonho de outrem ou nadar no cume do céu, completamente nua, no centro de um picnic público.

(1983)

Poeta carioca, é feminista, mãe felina de três gatos e mora atualmente em Goiânia. Mestranda em Literatura, é mediadora do clube Leia Mulheres de Goiânia, integra o projeto E-cêntrica, é uma das co-criadoras e ex-integrante do coletivo Minaescriba e faz parte da organização do festival literário [eu sou poeta]. Já publicou em Mallarmargens, Escritoras Suicidas, Germina, Subversa e Parentêses, além de ter integrado coletâneas das editoras Patuá (Antologia Patuscada, 2016), Selo Demônio Negro (Maus Escritores, 2009) e Nega Lilu (Os olhos do Bilheteiro, 2016)

NO AÇOUGUE DA AV.PADRE PEREIRA, dividi o corpo em partes: a cabeça, congelei as pernas, enviei por correio as mãos, guardei na cabeceira o resto, joguei fora.

DUPLICADA a tristeza é dessas coisas que se avizinham se avizinham se agigantam e tomam conta de tudo. traz consigo o afago despretensão revistas velhas e mais uma escova no banheiro eu e minha tristeza andamos de mãos dadas por aí pegamos ônibus fazemos feira tomamos sorvete e quando ela se vai feito água de banho resta o vazio.

(1983)

Poeta paulista, nascida em Santo André, conquistou notoriedade como atriz. interpretando Mariana, na novela “América”na TV Globo em 2005. Sua beleza e talento despertaram a atenção da Globo, que a escalou para outros trabalhos. Três anos depois, assinou contrato com a Rede Record. Estreou em poesia neste ano de 2019 com o livro Mergulho no Anticeu.

QUEDA LIVRE Caiu sem cálculos matemáticos, arriscou-se em queda livre escorregou pelo retângulo dos prédios, absorveu a vida lá de dentro sentiu o ar cortar os pulmões e rasgar a vda em pedaços não era mais um corpo, era uma equação física jogada ao chão

SUBMERSA Perdi o fôlego imersa já era mar a alma inundada transbordava em dores que flutuavam sobre a água como corpos mortos a boiar sem rumo e cada vez mais submersa eu mergulhava em mim com uma única certeza: a superfície era o único lugar onde eu não queria estar

CONTRAFLUXO Mar de gente à minha frente buzinas gritavam na mente passos rápidos e urgentes empurravam meu corpo ausente a lugares em que eu sempre resisti estar

(1983)

Poeta paulista, vive atualmente em Fortaleza. Formada em arte dramática (ECA/USP) e história (UNESP), coordena o Centro de Artes 7 Setembro. Participa de saraus, festivais de arte, eventos literários e palestra sobre poesia, literatura, gênero e artes e é engajada em movimentos sociais como o MST e o Movimento Arrastão. Publicou os livros de poesia: Tambores pra n’zinga (2012), A Duração do Deserto (2014), Geografia dos ossos(2017) e Quando vieres ver um banzo cor de fogo(2017). Tem poemas traduzidos para o espanhol, esloveno e inglês e participa em diversas antologias no Brasil e no exterior.

ENREDANDO LIBERDADE em lugar de poesia então eu cruzo as pernas com essa cara falsificada de foda-se. chiarescuro.

entenda.

aquela ribanceira ficou toda assoreada e era tão escuro e tanto vento e tamanha solidão, que montanha despenquei forte escorregada, esses malditos sapatos de plástico roxo. nãnã de lama. e você não estava lá pra me estender o braço esquerdo como bem-casadinho numa igreja de santa clara. entendo.

suas pernas lazarentas e essa cara falsificada de te venero. chiarescuro.

e não estou numa igreja de são francisco pra te cuidar. amor, ateu amor.

ÚLTIMO ESTUDO PRA O DESAPEGO velhos títulos brincam de ricochetear o marejo d’ os meus olhos. esfrego-os um pequeno desastre me afunda na poltrona vazia, a echevaria apodrece. os livros que me roubou desaparecem da estante letraa-letra, grandes sorvos de esfaimento

mais adentro mais adentro ainda te esqueço

(1984)

Poeta brasiliense, reside desde criança em Florianópolis. É formada em relações internacionais. Possui contos, crônicas e poemas publicados em antologias. Realizou duas exposições de poesia no espaço cultural da Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Em 2009 teve seu conto O intangível publicado na Revista Cult (138). Mais adiante foi contemplada com a Bolsa para Autores com Obra em Fase de Conclusão, recebida da Biblioteca Nacional com a qual pôde publicar seu primeiro livro de contos Uns traços, todos imponderáveis (2010) Integra a antologia Cantares Catarinas - A Nova Poesia Catarinense (2010)

APAGÃO Esse tédio de ficar sem luz me leva a escrever coisas tão escuras! Acendo as idéias para ver se consigo continuar minha leitura.

THE NIGHT CAFE Contemplo as escadas de van Gogh.

Consulto o relógio na parede. A cinco passos está o meu cliente. Nele me debruço se me vejo. Nele habita o clima, o verde da mesa de sinuca que me convida a ser só. Um casal ao longe não cabe em mim. Um bêbado sentado também sou eu. Por inúmeros motivos me condeno a manter-me em pé, entre parênteses. Creio que haja vida após a morte e que os olhos são os ouvidos das minhas paredes. Porém, me detenho no pensamento que mede o tamanho do meu taco — e se confio ou não, é mais embaixo o buraco que procuram minhas mãos.

CRI-A-TIVA Quando eu era criança, E olhava para o topo das árvores, Eu não sabia o que era o passarinho.

Bastava observar

E eu era um passarinho.

(1984)

Poeta carioca, nascida em Duque de Caxias e morando em São João do Meriti, sempre afastada dos centros do Rio. Desde 2007 vive em São Paulo. Publicou quatro livros de poemas:A fila sem fim dos demônios descontentes (2006), Balés(2009) , Rapapés & apupos (2010) e Rua da Padaria(2013).

LUDIBRIO vou enterrar cada parte junto ao rasto impreciso dos mínimos sinais e sobre cada indício construir um cemitério de notícias qualquer dia apareça de surpresa como um soluço.

NEIGHBORHOODS se o mundo não fosse esse aterro de máquinas barbas pilhas débitos prazos e canetas marca-texto medos dúvidas e embalagens tetrapak se o mundo não fosse um aterro de babacas ou se o mundo não fosse um abrangente e resumido aterro de sinônimos

e se essa rua se essa rua fosse tua eu ia me mudar pra lá.

(1984)

Poeta paraibana, é cineasta e exerce o ofício de artista multimídia. Estudou música na EMAN, com habilitação em violino, e filosofia na UFPB, onde pesquisa estética filosófica. Parte da sua obra está presente na internet, em exposições individuais e mostras coletivas, como por exemplo a Vídeopoéticas II, que aconteceu no Centro Cultural São Paulo, em 2014 .Também estuda grego clássico.

O cinema não existe mais naquele prédio Antigo eles Agora Só cultuam Deus mas ainda vendem o ingresso pra quem quiser entrar No Paraíso.

POEMA O verso deita o oito e o infinito se levanta A POESIA FUGIU DO PAPEL Saltou aos olhos em câmeras e bits Criou formas com sprays e mármores A poesia trocou a métrica Pela coreografia E ganhou as teclas sorvendo jornais A poesia agora só canta em teatro É a maestrina titular Que de olhos atentos Rege outras formas.

A poesia que já reinventou o poema Agora só reinventa a vida.

(1984)

Poeta gaúcha, é tradutora e jornalista. Já teve poemas colocados em ônibus e trens de Porto Alegre. Foi publicada em antologias e revistas literárias e selecionada em alguns concursos. Seu livro de estréia, Eletrocardiodrama (2017) conquistou o prêmio Academia Rio-Grandense de Letras. Mas antes disso, seu trabalho já aparecia por aí. Seus versos estavam em postes. Em paredes de ônibus e do metrô. Nas ruas, próximo às pessoas. “Acho importantíssimo que a arte vá até as pessoas”, reflete.

no meu fundo de poço a água vem até o pescoço pra garantir que eu volte sempre de alma lavada

LEIA ANTES DE USAR não, aqui não há lugares reservados [de antemão já lhe adianto: nem adianta olhar para os lados] o ambiente não é climatizado os assentos não são flutuantes e máscaras de oxigênio não cairão sobre suas cabeças para sua segurança e conveniência informamos que a vida não vem equipada com saídas de emergência

CORTE a faca em punho a alma em riste e uma só jura: nunca mais voltaria a ser aquela tola de hoje em diante choraria apenas pelas cebolas

(1984)

Poeta pernambucana, é feminista, produtora e apreciadora de arte, além de frequentadora de saraus da periferia da zona sul de São Paulo. Publicou poemas em duas antologias: Sarau do Binho, e Pretextos de Mulheres Negras. Seu primeiro trabalho autoral foi a obra poética Terra Fértil(2014).

ANTÍTESE Pediram um corpo escultural Eu não tinha.

Quiseram uma mulher ignorante eu já tinha lido o suficiente pra me proteger. Sugeriram que não opinasse em assuntos de homem Eu nunca consenti em calar.

Disseram que eu fosse esposa Eu não quis casar. Discursaram que as mulheres são frágeis Eu não tive tempo de exercitar fragilidades. Orientaram que não freqüentasse bares Eu não pude negar as esquinas. Quiseram controlar meu jeito de vestir e falar Eu não vi sentido em deixar de seguir minhas vontades. Apostaram que eu teria um subemprego Eu vislumbrei ir mais distante.

Transaram comigo e depois fingiram não me conhecer Eu aprendi a ignorar os imbecis. Disseram que eu não amamentasse para o peito não cair Eu amamentei até cair.

Submeteram meu corpo e meu psicológico à violência Eu me juntei a outras como eu para superar. Compraram vaidades para que eu me adequasse Eu envaideci aprendendo palavras de ordem na luta. Exigiram fidelidade e submissão Eu rompi por amor próprio. Cagaram mil e uma regras de conduta Eu mandei pra puta que pariu E sorri, feliz.

(1984)

Poeta paulistana, graduou-se em letras pela USP e é mestre em estudos portugueses pela Universidade nova de Lisboa. Seu primeiro livro , Cantos de Estima, (2009) teve duas edições de materiais, tamanhos e tiragens diferentes. Publicou também Alforria Blues ou Poemas do Destino do Mar,(2013 ) e O túnel e o acordeom (2013)

Estou sempre a espera de ver. Vou na frutaria de olhos muito abertos vez em quando meus ombros se fecham quando muito chama a ver. Temem o fogo que se alastra entre estalos nas estruturas.

Preciso dissolver um pouco dos vigiantes olhos para encontrar todos os olhares que tenho por onde. É assim que vejo também a confusão. A confusão tem algumas coisas para me ensinar. Essa pouca relação é a nossa. Meu esteio é claro quando estou pisando meu chão diamantado de dentes de cada animal que comi para me tornar humana. E assim poder dizer.

Mas eu sei sou tão pontual nasci para esperar os deuses não. Dia desses ganharei outra velocidade. Serei planta. E hei de continuar iluminada pela água.

(1984)

Poeta mineira, nasceu na pequena Padre Paraíso, Vale Jequitinhonha. Abandonou o curso de letras “por temer conhecer demais tudo aquilo que amava” e se formou em educação física. Escreve poesia desde os 12 anos e publica seus escritos no blog suave coisa. Estreou em livro em 2010, com O silêncio Tange o Sino, com apresentação do poeta Carlos Vogt.

NASCENTE córrego cachoeira ribeirão

eu choro pra pertencer à paisagem CASARÃO no corredor o vai vem das saias onde eu me agarrei no quintal o fantasma da mangueira no canto da sala a cadeira da minha avó onde um dia a dor me esperará

ESTAÇÃO tenho um outono no corpo de onde as coisas caem

vejo doçura nas roupas espalhadas pelo chão

AFINAÇÃO há que se aprender a tirar silêncio das coisas quando uma coisa produz silêncio ela está pronta

(1984)

Poeta goiana, morou em mais de uma dezena de cidades. Em 2014, participou do Festipoa declamando poemas. Publicou os livros Inversos Paralelos (2013), O que tirei da mala (2015) e Breves verdades e outras mentiras (2017) e tem poemas publicados nos dois volumes da antologia Hiperconexões: realidade expandida (2013 e 2014), a primeira antologia de poemas sobre o pós-humano da literatura brasileira, organizada pelo escritor Luiz Brás.Também é criadora do projeto ‘Gota a gota’, com a artista plástica Shirley Soares.

CRIME tenho tendências assassinas

mato saudades com golpes de falta de ar

DOAÇÃO tirou do armário o que não servia não queria e nem sabia que tinha tirou tudo e colocou de volta só o que usaria o par de asas ficaria ótimo com os pés descalços

DESORDEM Passava uma mão nos cabelos domando os fios que brigavam com o vento

Com a outra mão domava a saia que subia e descia causando vergonha nas coxas brancas

Com menos mãos do que queria domava o que dava e seguia

(1984)

Poeta paulista, é revisora, tradutora e produdora cultural. Tem poemas publicados em em revistas e jornais, impressos e digitais, e na coletânea do Prêmio SESC de Poesia 2014 (Brasília, DF). Seu primeiro livro foi lançado em 2015 pela editora Cozinha Experimental, do Rio de Janeiro (Coleção Kraft n.7: Rita Barros). É autora do blog Sede de Pedra e coautora do projeto Antares 21, realizado em Sevilha (Espanha), onde também publicou um libreto em espanhol.

1. ANDE movo-me. meus olhos temporais destroem tudo ao redor do umbigo do mundo [nas bocas rasgadas um retumbar de gemidos] cega a cordilheira me lambe morde mastiga engole o tempo a cólera e os cartões-postais

ORQUESTRA PARA DANÇAS VIOLENTAS havia muito tempo numa noite [essa bandida essa bandida] e um drama estilhaçado no meio-fio between my dreams and the real things enquanto olhávamos nossos sapatos à cabeceira da pista havia nesse drama uma cenografia íntima um país estrangeiro um sussurro rompendo a névoa rasgando o quadro rasgando nosso contorno liquefeito pequenas dádivas havia um deus sitiado nesse som

(1984)

Poeta carioca, é graduada em psicologia. Estudou a poeta Sylvia Plath no mestrado em Teoria Psicanalítica e é atualmente doutoranda em Literatura Comparada (UFF), Trabalha como tradutora, revisora, astróloga, taróloga, figurinista. Seu primeiro livro de poesia, A vidanos vulcões, foi publicado em 2016.. Tem poemas publicados em revistas como Mallarmargens, Escamandro, Garupa, Germina. Seu segundo livro, Mulher sob a influência de um algoritmo, venceu a terceira edição do Prêmio Cepe Nacional de Literatura e será publicado em 2018. Seu próximo livro, Madame leviatã, encontra-se no prelo.

AUTOGEOGRAFIA INFAME há que se pagar um preço pela tentativa risível de erigir uma pessoa sobre uma falha sísmica.

estátuas de sal não são realmente pessoas, percebe? dissolvem-se em nevoeiro marítimo antes do amanhecer:

meu demônio-meridiano é uma mulher de corpo ampulheta [um duplo] e honestamente, não sei bem o que fazer com tantas curvas.

a mim, sempre agradou o sul para onde escorregam [salvos do abate] todos os novilhos brancos e também os pardos; a verdade é que um pacto com o trópico de antes me mantém ainda por aqui, entre os comensais.

mas tenho brotado oceanos [como uma boa menina - em segredo] para fugas e travessias.

(1984)

Poeta gaúcha, é professora de Literatura Brasileira e escritora. Mestra em Estudos Literários Aplicados - Letras/UFRGS, ministra a oficina de escrita criativa “Mulher Negra, Meu Corpo, Minha Voz,”. Tem três livros publicados: “Flor” (2009), “Poerotisa” (2019) e “Pequenos grandes lábios negros” (2020). Faz parte do catálogo “Intelectuais Negras Visíveis” (UFRJ) e é acadêmica da Academia de Letras do Brasil/Rio Grande do Sul na cadeira 100 com a Patrona Lélia Gonzales.

RETORNO AO ATLÂNTICO NEGRO Quero escrever uma carta para colocar numa garrafa e lançar ao mar. O mar do Atlântico negro... o mar que na sua ressaca traz à beira da praia os corpos dos imigrantes,refugiados, expatriados, que junto de suas crianças correram em busca de uma vida melhor e encontraram a morte... Ah, esqueci! Esqueci que essa era uma carta de amor para a humanidade. Mas quem pode exigir amor, quando tem criança morrendo de fome, ou em meio a uma guerra? Como posso falar em amor, quando famílias inteiras morrem afogadas nesse mar de sangue, numa diáspora forçada, que refaz a rota do descobrimento numa rota de desespero e de cobrança de tudo que nos arrancaram, terra, língua, saberes, cultura, espiritualidade. Como é necessária a reeducação do homem branco! Esse homem que vive de privilégios,desde sempre, montado nas costas dos negros e brincando de cavalinho com as amas-de-leite negras... Como vamos educar o respeito ao diferente para o homem que objetifica os corpos das indígenas e das negras? Como vamos dar liberdade a tantos negros inocentes que lotam as prisões pagando por crimes que não cometeram pagando pelo crime de ser um corpo negro... Se meu coração falasse, ele sangrava... E eu escreveria essa carta com sangue e não jogaria mais ao mar, mas amarraria no corpo de um pássaro para enviar aos céus Socorro!

(1984)

Poeta paulista, nasceu em Marília cidade do interior do estado de São Paulo nomeada a partir daquele famoso poema de Thomás Antônio Gonzaga. Já morou em São Carlos, Barcelona e Londres. É professora de Literatura e Orientadora do Programa de Residência Educacional da Faculdade SESI-SP de Educação. É mestre em Spanish Portuguese and Latin American Studies pela King’s College de Londres (2013) e pós-graduada em Arte, Crítica e Curadoria pela PUC-SP (2012).Foi professora visitante em Londres e há mais de uma década mora na paulicéia desvairada.Com seu Livro do Preenchimento (2020) Ana ficou em terceiro lugar no Festival de Poesia de Lisboa.

Porque é de poesia minha vida secreta e a pública também. Afinal como ser mãe sem ser poeta? Mães criam o outro e poetas também mães só existem quando têm o outro e poetas também mães amam o outro com tanta veemência querem saber como sentem sentir o mesmo e poetas também. Uma rosa é uma filha é o maior poema vive e só pode vem de nós seguir existindo origem mas nos outros.

.......................................................................................... Dentre múltiplas capacidades deveres dores e gostosuras que temos mulheres pela vida uma delas quase corriqueira parir corpos masculinos e antes criar hormônios de homem testículos e pênis dentro de nós e por meio de nós permiti-los ao mundo.

(1984)

Poeta paulistana é filha de mãe paulista e pai paraibano. É atriz formada pelo Célia Helena em 2006 as custas do trabalho como vendedora no shopping. Seu primeiro contato com o teatro foi aos 10 anos após ligar escondida para um curso que achou nas páginas amarelas, do qual passou a ir todas as quintas-feiras, atravessando a cidade de ônibus com sua mãe, que a esperava durante toda a tarde num sofá preto na recepção. Rotina que continuou aos 12 anos num curso do Teatro Vento Forte, do lendário artista argentino radicado no Brasil, Ilo Krugli. Poeta sem pretensão. Vegetariana pela causa animal e pelo desejo de equilíbrio do nosso ecossistema tão comprometido pela exploração humana..

Fim de tarde chuvosa, logo desejo um bolo de fubá e um cheiro de café: Eu sou um clichê

ALÉRGICOS pode conter traços de poesia

SAIA JUSTA Pra casos como este, fingirei saber o que não sei; depois bebo um drink, solto uma gargalhada e, sorry, acho que exagerei, meu Uber já chegou.

É como se eu estivesse em alto mar à deriva, no balanço das águas. Quanto mais eu me mexo, mais o balanço aumenta. Quanto mais eu nado em busca de uma direção, mais o mar me agita, me vira, me revira, me turva a visão, me enjoa. É como se eu me deitasse sobre o mar e deixasse meu corpo ser aquela água –imóvel em sua limitação/carne, porém móvel como o todo oceanírico, Deixando de ser gota para ser mar. É como se a sintonia da rádio dependesse do não esforço –e a música toca [dizem que toca]. Aqui ainda não tocou, mas tá quase um blues esse balanço-deriva 126 AS MULHERES POETASsem destino-fim. NA LITERATURA BRASILEIRA

(1985)

Poeta paranaense, já foi professora de inglês, fez tradução e estágio em biblioteca pública. Atualmente trabalha como redatora de conteúdo para internet, em São Paulo. Publicou os livros O relógio de pulso (2011) e Não conheço ninguém que não seja artista(2015). Ganhou visibilidade ao traduzir Milk and Honey, de Rupi Kaur, indiana radicada no Canadá que virou febre mundial e fez um tremendo sucesso no Brasil com o título de Outros Jeitos de Usar a Boca.

VUPT só leu um livro na vida que falava sobre o vento com voz fina se lhe escrevo um verso e leio em voz alta não vê graça

não sabe ouvir pausas como as minhas nossas idas e voltas

agora não adivinha que carrego um poema pra entregar antes que vá embora junto com a ventania

MAPA DO TESOURO menino vestido de pirata eu sei que os carnavais têm sua graça

por isso eu respiro engraçado

quanto te vejo sinto meus braços

acenando para navios parados

(1985)

Poeta carioca, nasceu e vive na periferia do Rio de Janeiro. É professora da rede pública e mestre em literatura portuguesa pela UERJ. Filha de camelôs, leu o primeiro livro de poesia aos dezessete anos. Em 2010, esteve entre os vencedores do prêmio Off-Flip. Publicou no Plástico Bolha, Mallarmargens, Germina, Flanzine (Portugal). Teve textos traduzidos para o inglês no projeto Contemporary Brazilian Short Stories (Califórnia). Participou das antologias Algum vazio nesta paz fajuta e Clube da Leitura Vol. III. Com a exposição itinerante Dor, percorre espaços estigmatizados da cidade. NÃO é seu livro de estreia(2016)

lembra quando eu subi na janela fiquei de pé e chovia eu quis que você tivesse medo e me pegasse por trás como fazem os policiais com os suicidas da golden gate mas você fez o santo de rabo de olho a boca caiu o cabelo cobriu a testa eu não entendo eu quis entender o pau duro na minha bunda criança o que era aquilo os pelos grossos e o hálito pesado do trabalho sujo agora é a fila do mercado e o celular despertando a parte que escapa à rotina: café com leite arroz tipo 1 sexo com o vizinho segredos cimentados nas calçadas dos subúrbios –o homem ainda estava com o rosto deitado nas minhas pernas feto de pele velha ossos largos pelos brancos quando eu disse eu não mais darei nomes aos meus filhos e eles não mais serão escravos.

..................................................................................... na estrada de terra da cidade vazia a criança preta empunha um pedaço de pau. ela está nua e vê-se um corpo tão prematuro quanto ruínas. a boca intumescida da criança preta gutura morte ao rei! e na aridez inalcançável dos pés descalços resiste a criança tão criança e velha, sozinha e livre –o sino da igreja abandonada toca todo dia na hora errada.

(1985)

Poeta mineira, é escritora e dramaturga. Manteve, dos 15 aos 25 anos, o blogue Pensamento Polaroid – que deixou de ser blogue para se tornar um fanzine de incentivo à leitura. Pensamento Polaroid é hoje conhecido no Brasil e no exterior como o único fanzine literário no mundo com um trabalho completamente manual – desde a capa até os textos. Já Publicou nas seguintes revistas: Caliban, Diversos Afins, Alagunas, Mallarmargens, Ruído Manifesto e Desvario, é também colaboradora da revista literária InComunidade (Portugal). Lançou em 2019, seu livro de poemas “Patuá” (Coralina). Próximo lançamento para 2020, o livro de poemas “Flor de Sal” (Penalux).

SÓLIDO Saber da pedra sua inscrição sua saliência. Da pedra saber sua ranhura sua mística. Saber da pedra sua crueza, sua concretude. Da pedra saber sua manifestação rocha moinho lama. Saber da pedra destino sua sina rupestre marcando o tempo do caminho

.................................................................................. abalo e esquecimento carne de solidão fulgor este tempo última viagem vozes, memórias algum afago este tempo cruel e imenso em despedidas fixa em mim fundas águas - medo e susto oco nas palavras e corpo que não mais levita.

(1985)

Poeta curitibana, é também ficcionista, publicou Embrulho Líquido(2012) e participou da antologia Fantasma Civil (2013) organizada por Ricardo Corona para a Bienal Internacional de Curitiba. Segundo Corona, “o desconcertante poema Embrulho Líquido fala do que é vagar pelo mundo como um ser dividido, homem e mulher num só corpo. Também fala do sexo que não diz seu nome e que perambula pelas esquinas de Dalton Trevisan, pelas estações-tubos e pelos caminhos tortuosos de parques ecológicos. Um texto com efeito de tiro certeiro.e que tem “a força de um Jean Genet do século 21.”W

Na esquina, caça e caçadora se cruzam. ElaEle de quadris silíconados, ritmo SALTO ALTO, fiel ao que a mantém ob scena : em frente à cena. No quarto, de quatro, a presa se livra do seu terno e gravata abrindo seu fractal (o cuspe escorre a canaleta das costas

até o anel de couro)

Minha língua-cunete o faz trair sua etimologia oco. Azulei-o e ele melou de nena minha neca.

....................................................................................... Entende o que estou dizendo? Dar é feminino de dor.

O etimólogo que persegue palavras (dando proteína para a filosofia) dirá que não.

DAR É VERBO. Verbo é masculino.

Entende o que estou dizendo? É másculo dizer “no princípio era o verbo.”

(1985)

Poeta mineira, é graduada em letras e mestra em teoria da literatura pela UFMG. Já publicou poemas em algumas revistas digitais. Seu livro de estréia é Desejada Dor(2013)

BUMERANGUE As palavras, lancei-as ao mundo.

O vento, agressivo, trouxe-os de volta.

Me golpearam!

AMOR IDEAL Convergimo-nos irresistivelmente um para o outro. Todo o resto é divergência insuperável.

JOGO DE PREFIXOS Quero unir o inútil ao agradável.

Os que desejam o útil

fiquem também com o desagradável.

(1985)

Poeta carioca, participou da abertura da Flip DE 2016,, ocasião em que leu e ironizou um poema bem ruim de Michel Temer. Trabalhou com o documentarista Eduardo Coutinho, como assistente de direção, nos filmes Um Dia na Vida, As Canções e Últimas Conversas. Publicou os livros de poemas: Calcanhar(2010) e Desalinho(2015).

ORQUESTRA Não há cortina para esconder os músicos nem mesmo a música se esconde nos instrumentos.

Está tudo aos olhos da platéia porque a sinfonia não se pode ver senão nos gestos do maestro.

À minha frente, antes do primeiro comando, pode estar o violoncelista em terno preto, como muitos ouvintes.

Quando se sentam os músicos cada um em seu tempo afina seu instrumento e acerta a folha da primeira sinfonia: confusa algaravia.

Então vem o regente sob uma saraivada de palmas com sua vara de condão.

Os músicos ajeitam a coluna alisam os traços do rosto e encaram o maestro

que, com dois olhos apenas cruza com todos que têm nele a mira buscando a confirmação de que pode começar.

Tão logo soerga a batuta e soe o primeiro acorde ouve-se, milagrosamente, o silêncio.

(1985)

Poeta paulistana, é doutora em letras, pesquisadora e tradutora da área de grego antigo e coeditora da Revista Libertinagem, de arte e literatura erótica, e uma das fundadoras da plataforma de ensino e difusão cultural Literartéria. Participa da organização de diferentes saraus espalhados pela Pauliceia. Lançou seu primeiro livro de poemas, “Acúmulo” durante a FLIP 2018, na Casa do Desejo, em Paraty.

não é sina pouca percorrer no futuro passos passados: silencia sinos.

peço, de trago em trago que entre potência e exaustão eu ainda seja possível

PRAZOS digo sexta porque soa longe, digo sexta como quem diz outra vida, porque essa semana já é bastante, como a anterior, a outra, a próxima, a existência percorrida, esse correr inexorável de existir, ser gente e não criado-mudo, cômoda de três gavetas, capa de chuva, porta-níquel, - desenho na parede -, digo sexta porque não é hoje, e isso, se não me basta, já me serve um bom tanto: apenas hoje,

AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA 133 não.

(1985)

Poeta curitibana, publicou três livros de poemas: Minimoabismo (ed. Patuá, 2014), semifinalista do Prêmio Oceanos 2015, Ardiduras (ed. 7Letras, 2016) e O amor embebedou as feras (ed. Kotter, 2019). É sócia-fundadora do projeto literário Pulmões Versos. No mestrado refletiu o primeiro livro de poemas de Herberto Helder nas lentes do surrealismo.

POEMA Somos uma torrente de sangue destruindo cidades escrevemos enquanto esta gente é traficada, temos à mão a luz do sol, e achamos que isso é pouco depredamos todo o tipo de vida quem nos deu esse direito? não somos escritores, não somos poetas fazemos parte do time das gárgulas hora a hora nosso canto é ouvido pelos corvos: que empáfia! Achamos que é por nós se as frutas pudessem, fugiriam de nossos dentes e as cidades só abraçariam animais e plantas mas o homem acha que é por ele que o espaço silencia e vê tudo como um mistério a ser decifrado se esquece do poder de Deus

na hora da fome pendura amuletos e dança, dança tal qual uma galinha sem cabeça, à espera da própria sangria

(1985)

Poeta paulista, morou em Itajaí e vive em Florianópolis. Artista visual, é formada em Artes Plásticas pela Udesc e mestra em literatura pela UFSC. Publicou seu primeiro livro aos 15 anos: Mar e Avelãs (2001) e o segundo aos 21 :A data invisível do poema(2006). Vieram depois: Trêmulo(livro-CD, 2008) e Álbum Vermelho (2010). Na performance trabalhou ao lado de Ricardo Corona e Ricardo Aleixo. É a escritora mais jovem nas áreas de literatura, artes visuais, música e poesia em Santa Catarina e na ala dos Poetas Singulares (grupo de poetas catarinenses).Percorreu mais de 22 municípios com a performance poético-musical “Zunido de Poema”

ONÍRICA Eu sonho tanto e quando perguntam que eu fiz na noite anterior penso que estou dormindo.

AGUARDE Perto da roupa que mofou uma ausência

pronta para vestir a incerteza

da sua volta

AMOR MODERNO Ele me ama na esquina, como se eu fosse comprável. Só nos comunicamos por mensagem.

Às vezes é dia de escrever, as vezes é dia de perceber, anotar o mundo.

Assim ele me ama: como se tivesse dia de não-amor, dia de a gente se olhar sozinhosó pra si mesmo.

Me ama como se eu tivesse em outro país, como se eu não fosse trazer o pão.

Ele sempre esquece quando fico doente.

(1985)

Poeta manauara, é jornalista, professora, crítica de cinema e escritora. Publicou o livro de poesia Véu sem voz (2014), além de poemas em diversas revistas e jornais literários. Publicou também ensaios nos livros “Documentário brasileiro – 100 filmes essenciais” (2017) e “Animação brasileira – 100 filmes essenciais” (2018). Seu último livro de poemas, Alerta, Selvagem (2019) foi considerado o melhor livro inédito de poesia do Prêmio Literário Cidade de Manaus em

EU SOU O PERIGO Minha loucura é traiçoeira. Me deixa cambaleante mas funcional.

Quando eu cair Vai ser pra valer. Fendas surgirão no solo de acordo com os vãos dos dedos dos pés.

Quando eu chorar Vai ser pra valer. A chuva vai descer irregular Num raio em forma de lágrima.

Quando eu cair Vai ser pra valer. Terapeutas se vestirão de arqueólogos Pra escavar os destroços.

Que fique claro –respiro. Eu sou o perigo.

CINEMA Sou o fantasma incolor que entra e sai – escreve e vai. eu parto. Sou o velho da bilheteria o moço do projetor o vulto no último assento. Mas todo fantasma tem uma história e todo vulto tem um rosto polido pelas luzes partidas na escuridão. Alguém conta meu passado e me dá um nome.

(1986)

Poeta paraibana, é licenciada em pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba e participou de várias antologias nacionais. Foi premiada no VI Festival de Poesia Encenada do Sesc Paraíba, em 2010 . No mesmo ano publicou seu primeiro livro, Solfejo de Eros, Na sequência, vieram Mistrais(2014, prêmio Augusto dos Anjos), Zarabatana(2016) e Magmáticas Medusas(2018).

CORPOESIA Escrevo para derrubar paredes Cegar tua íris Apunhalar as veias Atear delírios Traduzir-me em sílabas Queimando dentro de ti

O QUARTO Lúmen de livros

Arena antiga As fábulas esfaqueadas pela chuva

Aquoso pacto de corpos É líquido o amor

SYLVIA QUEIMA Vênus da alcova, Sílfide messalina Viciada em adesivos de nicotina Insone & neurastênica, dopada e deprimida Permita-me lamber sua iconoclastia Mariposa de danças noturnas Fênix feérica, Noiva da Morte Godiva Camélia rubra, jorrando seu perfume que asfixia. Me põe nos lábios o vinho docemente nínfico Teus versos são belos crimes Sinfonia de gozos e guizos Teu punhal de palavras Fogo que dança pelo meu corpo.

(1986)

Poeta paulistana, é atriz e fotógrafa. Dedica-se à poesia falada e escrita. Seu trabalho em poesia falada pode ser visto na crescente cena paulista de slam (campeonatos de poesia autoral falada,) no seu canal no Youtube e também nos vídeos “Cuidado: Inflamável” e “Mal Menor”, ambos lançados no ano de 2015. Mantém o blog Semeaduras (isabelapenov.blogspot.com)

A CONCEPÇÃO Ela já tinha engolido sapos, risos, esperma e palavras. Gritaram-lhe: “Engole esse choro!” Engoliu e ele choveu dentro dela. De madrugada procurou um papel: tinha lhe brotado um poema.

PRIMEIRA ELEGIA A poesia é uma velha amiga que mora muito longe de mim. De vez em quando fazemos contato, trocamos mensagens breves, marcamos encontros que nunca acontecem. A vida é difícil, estamos cansadas, não há tempo. Mas quando ela sabe que estou em desespero como hoje Se ela apenas desconfia do meu desespero cruza os céus e os oceanos me atravessa correndo em meu auxílio. Entra sem bater (ela tem a chave) e come comigo em silêncio. Vigilante me observa na madrugada insone (ela nunca dorme) Se move pela casa como se habitasse aqui dentro há muito tempo (ela sabe exatamente onde guardo as coisas) Lava meus pés doloridos sem fazer perguntas. Ela não tem pressa. Ela só vem cuida de mim e passa. (A vida é difícil, 138 AS MULHERES POETASestamos cansadas, NA LITERATURA BRASILEIRA não há mais tempo.)

(1986)

Poeta brasiliense, é jornalista e escreve poesia desde os 13 anos.. Publicou alguns poemas na coletânea Maria Clara: universos femininos. Inúmeros poemas de sua autoria têm circulado em espaços das redes sociais: Revista Zunái, Musa Rara, Mallarmargens, Ellenismos, Germina, entre outros. Seus textos podem ser encontrados em http:// laramaral-teatrodavida.blogspot.com/.

LETARGIA Amo como quem morre Não de tanta entrega Mas de deixar-se corroer Para restar o silêncio de um corpo E a falta do sentir

Escrevo como quem vive Reencarnando personagens Possivelmente mais tristes Até que eu seja só partícula De algo que não me reconheça

VERSO INTRAGÁVEL Numa hora dessas eu abriria a porta da rua sentaria ao sereno e fumaria um cigarro no entanto, sofro de outro vício

acendo um poema mas ele não me traga nem me larga deixo-o queimar.

AFIADA Dezenas de gumes des(a)fiando-me na lâmina, brilho do metal sem sangue centenas de direções cortando meu mundo

é de pavio curto e quer me implodir

(1986)

Poeta paulistana, é graduada em psicologia com especialização em Reich. Finalista do 61º Prêmio Jabuti e do 4º Prêmio Rio de Literatura, com o livro “um corpo negro” (2018), selecionado para criação e publicação de poesia pelo (ProAC), da Secretaria de Cultura do governo do Estado de São Paulo. Tem publicado os livros Triz (2016), Coração na Boca (2012) e algumas participações em revistas e antologias nacionais e internacionais. Edita as revistas literárias Parênteses e Adelitas e dedica-se a ações que combatem a invisibilidade das mulheres no meio literário. Participou da organização da coletânea GOLPE: antologia-manifesto (2016), um grito de diversos artistas contra o golpe político-jurídico-midiático. É sócia-fundadora e editora da nosotros. Vive em Curitiba.

ATÉ SÓ RESTAR O DEPOIS

sobre o dia 29 de abril de 2015, em Curitiba.

pudesse, recordaria se havia sol antes daquela tarde quando tudo se resumiu a cinza:

fumaça, um quase aquele estado de consciência frágil entre estar acordado & desmaiar. pudesse, recordaria o cheiro antes daquela tarde quando tudo se confundiu a gás pólvora sangue. recordaria quais eram minhas atividades inúteis antes de acessar a internet& navegar entre as notícias para descobrir o alvo dos helicópteros que sobrevoavam a cidade destruindo destruindo destruindo qualquer segundo de silêncio inibindo os gritos pudesse, eu recordaria o antes:

(1986)

Poeta gaúcha, é formada em filosofia, cursa especialização em epistemologia e metafísica e trabalha como professora. Publicou poemas nas revistas Zunái, Germina, Pausa e Eutomia, no Portal Cronópios e em diversos blogs. Participou da Miniantologia Poética do Centro Cultural de São Paulo, organizada por Claudio Daniel e publicou Perséfone, plaquete da coleção Poesia Viva. Publicou seu primeiro livro ,A Mulher Submersa, em plena pandemia, começo de junho de 2020 e está sendo celebrada como uma grande revelação.

I

penso na mulher que é inacessível como uma estrela de sal. as horas caem uma sobre a outra, apócrifas e eu sigo pensando na mulher que pensa na palavra sem dizê-la. mantendo-a na língua como uma hóstia

II

entre as meninas há aquelas que são especialmente silenciosas dormem junto com suas bonecas antes de apagarem a luz do abajur olham-nas longamente inclinam-se para beijá-las, cercando seus corpinhos de pano com relâmpagos

-

são muitas, essas meninas; e cheiram a algodão e lágrima nos cabelos, um nevoeiro de teias de aranha. na pele, os sinais das luas, do eclipse. a sombra no púbis, no umbigo o sono nos lábios entreabertos. uma mesma noite atravessa os anos pela boca das mães até a boca das meninas e da boca das meninas até a boca das bonecas num ciclo de perpetuação da fome

[COMEÇARIA DIZENDO...] começaria dizendo o que não posso que teus suores formam hieróglifos de sal na pele e que um rosário misterioso se enrola a teus pulsos quando me amas começaria dizendo que tua respiração tem vista para o mar e que à noite me debruço ali, silenciosamente meus cabelos de água-viva minha língua de virgem madrepérola e que à noite e que me debruço e morro em tua respiração

(1987)

Poeta paulista, nasceu em Sorocaba, e vive em São Paulo desde 2005. É formada em artes visuaispela FAAP e também estudou Design Editorial. Participou da Antologia Portapoema e produziu alguns livros independentes: Para desprender dores (2011) e Poemas de sofá - achados ordinários de uma caipira (2012). Publicou Chá de Jasmim (2014), premiado pelo ProAC em 2013, na categoria poesia.

GEOLOGIA essas minhas linhas da mão me dizem que nasci sem sorte pro amor a linha do coração: uma trilha entrecortada descontínua atravessada andarilha seguem até o meio da palma, aos buracos aos tropeços, ainda que sem pedra no caminho do médio ao indicador como se o abismo fosse apenas um vão entre os dedos

QUEDA LIVRE a lógica de um poema às vezes não é clara mas ele segurando um chumaço de papoula em uma das mãos, me estende a outra e diz pula comigo?

(1987)

Poeta paulistana, fez curso de cinema na Universidade Federal Fluminense. Voltou pra São Paulo em 2010 e, no ano seguinte publicou seu livro de poemas NÃO FALO(2011). Atualmente se dedica à permacultura, música, comunicação não-violenta, meditação e outres aprendizados – além da poesia.

1 O mar: um fato, uma gota e já é mar. Amor: um fato, uma gota e já é mar.

AMAR Matutando. Não sei o vento que me bate na cara. Se me levanta ou se me resiste, e não sei em que sentido: de cima pra baixo ou contra meu grito, não sei em qual abismo estou voando.

CALEIDOSCÓPIO A presença é mais poderosa do que a simpatia, a fotografia - dizem as mulheres quêchua dribla as almas, os cometas nos espelham, a saudade é um artifício dos deuses pra nos lembrar quantos mundos somos.

(1987)

Poeta carioca, é formada em cinema e publicou poemas em sites e revistas eletrônicas como Cronópios, Triplov e Zunái. Já participou de vários festivais literários (entre eles o Artimanhas Poéticas, realizado em 2009 no Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro) e esteve presente na Bienal Internacional de Curitiba, em 2013.

PIAZZOLA buenos aires hora zero piazzolla, o que faz aí? tá certo, têm algumas estrelas cadentes mas...o palco não combina melhor com os teus sapatos? diga-me, piazzolla quantas unhas são necessárias para arranhar o pescoço de um tango aflito? o teu bandoneon exala fervor e o fervor habita o céu e o inferno cabe nas preces e nas súplicas dos anjos barrocos em chamas piazzolla!? está rasgando tangos com os demônios celestes? está deflorando notas com os pupilos de lúcifer? ao menor indício do teu som libertinos viram seres alados e os providos de asas sucumbem ao centro da terra um brinde aos que te escutam com a alma pelo avesso. ........................................................................................... na casa ao lado espiritos inquietos sobem e descem escadas como se o melhor a fazer fosse subir e descer escadas são 3:47 o sono das 3:00 já foi perdido agora no ponto dos conscientes espero a dormência dos sentidos calem esses passos como calaram as almas dentro da casa escura amarrem esses pés como fizeram com as vozes na gaiola da mordaça tirem seus valiuns das gavetas e entrem nas sombras dos cobertores morfeu, acuda esta gente! dardos com soníferos no centro das testas 144 AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRAareia movediça ao redor das camas e uma injeção de sonhos mudos na espiral dos meus ouvidos.

(1987)

Poeta fluminense, nascida em Nova Iguaçu, passou a infância entre os estados de Pernambuco e São Paulo. Na adolescência iniciou trabalhos que abriram portas para outros estados e cidades. Foi assim que morou três anos em João Pessoa como educadora.Voltou para São Paulo em 2011 e vive aqui atualmente. Publicou A poesia e o tempo em movimento (2018), participou de várias antologias e vários saraus.Seu último livro, Não me Calo, saiu em 2019.

Pela família: Fale Pela fome: Fale Pela injustiça: Fale Pelo doente: Fale Pelas mulheres que são mortas: Fale E se não te escutarem, Grite:

NÃO ME CALO!

FORA DA ESTANTE Eu não sou frágil embora te pareça porcelana moldada aos seus desejos a menina dos seus sonhos eu sou real nunca fui nem sombra do seu ideal sou natural a espontaneidade me foi tirada por suas ações hoje eu sou bibelô apenas a espera de ser retirada da estante da poeira ser real no seu mundo de fantasia.

(1987)

Poeta santista, é formada em letras, fezmestrado em literatura contemporânea na USP e vive em São Paulo. Atua como revisora, preparadora e tradutora de textos. Já teve poemas publicados em varias antologias e marcou presença nas revistas Zunái e Mallarmargens. Seu livro bilíngue Chacharitas & Gambuzinos foi publicado em agosto de 2015.

BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA Mostrei o meu pé E o cara tremeu 9 anos de balé - eu disse E o cara gemeu 4 de ginástica olímpica E o cara lambeu 3 de futebol Põe na minha cara - ele disse Mais 2 de judô E o cara gozou.

DO CLAUSTRO A PIA Não dá pra por o filho de novo no ventre Não dá pra por o vômito de novo pra dentro Não dá pra expor o íntimo e sair isento Tinha que sair, saiu a tempo: o filho morto, o gosto fétido, o sentimento. LUGAR DE ESPERA Ser mãe e contar nos dedos quantos anos faltam para colocá-los pra fora. Mas não tenho pressa tenho tempo e dentro de mim todos os filhos do mundo.

(1987)

Poeta paulista, edita, traduz, revisa e escreve. Publicou Brevida (2011), diário aleatório – site/livro em parceria com Thany Sanches e Jezebel, ilustrado por Mariana Coan, integrando o projeto Boca Santa. Tem textos publicados em diversas coletâneas, como a Ávida Espingarda (2010), Modo de Usar (SP/RJ), Almanaque Lobisomem (SP), Minotauro (RJ), É Assim que o mundo acaba (RJ) e Granja (SP). Os poemas selecionados fazem parte de Correspondência, seu primeiro livro de poesia. Escreve há algum tempo no microclima, que está um pouco abandonado, mas pretende renascer dos escombros.

agradeço sem palavras sua aparição a lembrança do meu nome agradeço as gravatas as admiráveis gravatas e lamento a sua ausência aqui tudo vai intranquilo mas me acalma o instante ver sua alma disposta ao vento que passa (sua alma nebulosa) é verão na borda do atlântico faz sol e mar mas não podemos não, não podemos agora

DEZANOTAÇÕES SOBRE A POESIA assim recomeço, me perdi vi Baudelaire milimétrico, construído pela primeira vez pois bem há os que ganham por pontos os de nocaute e os momentos amargos que já passei projetos poéticos passam a perna p-p-p-p o projeto poético, um enganador eu, um muito menor (debutante no auge da hysteria – saltinhos) um projétil, nenhum rimbaud nem meio rilke muita potência, pouca questão as solas dos pés ardem no chão os olhos não estão prontos para rever o resto desse que se vai fica e lança um abraço demasiado AS MULHERES POETASapertado NA LITERATURA BRASILEIRA 147

(1987)

Poeta carioca, foi bolsista na PUC-Rio e é mestre em literatura, cultura e contemporaneidade por essa mesma universidade. Em 2010, publicou seu primeiro livro de poemas, Dezembro. Não faz muito tempo se juntou ao time de educadores do Projeto Jovem Rocinha, onde deu aulas na Oficina da Palavra.

O ESTRANHO Desde que nasci Nunca tive outra suspeita: Tem alguém no telhado Que me espreita.

Desde que nasci, nunca fui Ao contrário; sempre quis ser.

Desde que eu fui, Quando vim a ser Fabriquei saudades, Desculpas para esse choro.

Desde que nasci nunca duvidei: Tem alguém no telhado, eu sei.

ORIGAMI com a mesma precisão que corto meus lábios faço origamis de ventania. dobro um boneco de neve, um barco, uma língua. seco meus cortes com origami e saliva

CARROSSEL de manhã na praia eles combinam o que farão à noite de noite, na festa eles combinam de ir à praia amanhã.

(1988)

Poeta pernambucana, é formada em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco. Juventude, seu livro de estreia, ganhou o Prêmio Maraã de Poesia em 2017. Laís vive no Recife onde trabalha como procuradora do Município.

TEIA não há seguro contra o estar no mundo nem tua casa te previne contra o assalto da existência as janelas não impedem o vento e o cortejo de passos de te trazerem signos do nada o silêncio acusa que estás no centro de coisas que não oferecem consolo porque apenas remetem a teu exílio o expediente de levantar da poltrona e abrir a porta da geladeira mede o intervalo de tempo gasto e não sabes de que te serviria mais teu olhar interroga paredes e detém-se numa lamparina em vão um inseto debate-se contra o vidro não há senão esta só e única realidade

à beira do Capiberibe ou do Nevá

REITERAÇÕES SOBRE UM TEMA o vento no canavial as bandeirinhas de Volpi os leões que Hokusai desenhou todos os dias por 219 dias até morrer

a forma não se atinge nunca na reiteração das coisas no tempo as coisas – elas mesmas são outras e tu outro és

e o café as camisas brancas o assoalho da casa, o qual pisaste e tornarás a pisar, numa configuração nunca idêntica, porque a madeira desbota e teus cabelos vão a cinza

viver – eis a fissura é estar inacabado até o fim

(1988)

Poeta carioca, estreou com o livro Dobradura, em 2008. Lançou também as plaquetes Pra não ficar na gaveta e Bichinhos de luz, em tiragens limitadas. Seu livro Pingue-Pongue, em parceria com Armando Freitas Filho, foi lançado em 2012. Seus poemas estão em várias antologias. Rabo de Baleia(2013) é seu último livro.

há na esquina da rua um piano que toca notas esparsas em lá menor

nunca vi o rosto de quem se esconde por trás de acordes sustenidos

e que desfila dedos no teclado com a leveza de quem sustenta passarinhos no ar

COSTELAS DE ADÃO não serve de nada a janela a não ser para amparar do vidro do carro a estrada que escapa veloz e separar a montanha do céu noturno na linha que divide o escuro do ainda mais escuro você no banco um pouco mareado estar perto não quer dizer muito enquanto ainda não se chega lá olhar pela janela uma tontura a mesa que espera em casa firme em suas quatro pernas sustenta o vaso verde e nele duas costelas de adão as folhas estão prestes a irromper do vaso assim que a luz for acesa são fogos de artifício estourando na fotografia

(1988)

Poeta baiana, é mestre em literatura e diversidade cultural e doutoranda em literatura e cultura pela UFBA. Está presente em diversas coletâneas. É autora de O trem vermelho que partiu das cinzas (2014) e com os originais Na Pata Do Cavalo Há Sete Abismos conquistou o prêmio nacional de poesia da Academia de Letras da Bahia(2013). Este ano integra o Circuito de Escritores pelo Arte da Palavra, promovido pelo Sesc, percorrendo cidades brasileiras e propagando a literatura.

FENDA Há tempo o menino ficou lá fora. Espera, espreita a barra da porta, mas já não pode passar. Todos os longos anos de preparo –escola, dentista, boxe –e a busca pelos jogos de montar, pelo seio roído da mãe que já foi. Uma vida de busca e solidão, a passagem do peito fechada: só o túmulo aberto da infância.

EXERCÍCIO Cerrar os olhos para que a última lágrima cresça. Cerrar os olhos para que o mundo seja memória. Abrir os olhos para que, afinal, tudo se perca.

FICÇÃO A história é uma trégua sem memória uma rua que não se habita é um passado que se move uma eternidade de sete dias. E entre concubinas, napoleões e marias o que permanece é o ópio de cada molde.

(1988)

Poeta pernambucana, já morou no Pará e vive atualmente no Rio de Janeiro , onde faz doutorado na UFRJ e estuda as relações entre Poesia e Psicanálise. É mestre em psicologia, e está finalmente preparando o material para publicação de seu primeiro livro: todas as mães são tiranossauras.

eu parti como se cada figura minha precisasse de abandono. saio de casa ao amanhecer de corpo mudo deixo minhas tralhas, lençóis, livros que há anos ardem em meu respirar e te renuncio cautelosa, além do horizonte matutino onde naturalmente as coisas se transformam e as memórias se desfiguram, ingênuas em nosso despertar. eu sinto muito, pai mas já não conseguia suportar minha outra mulher.

O SEGREDO DA MULHER DE SUA VIDA não sobra nada de mim a não ser essa parte miúda que se chama liberdade

2 POEMAS DOS ESTRANGEIRISMOS EM MIM esta cidade envelhece meu vocabulário me perde em lados esquerdos de rotina em barulhos desérticos no meu corpo sem tempo hora e fome para mim ou qualquer coisa a me esperar quando chego em casa ............................................................................................ estou na metade do caminho e já não sei o que é memória

dói a minha língua de tão não saber de tão não ter de quem ouvir essa renúncia sem palavras

(1988)

Poeta paulistana, foi uma das atrações mais provocadoras do sarau que marcou a abertura da 14ª festa literária de Paraty, em 2016. Ela apresentou 3 poemas que fizeram até o chão tremer. Um era dedicado às mulheres negras. O outro aos meninos da Fundação Casa. E, por último, sobre a cultura do estupro que vitimiza milhões de mulheres – no qual ela encontrou um espacinho para mandar aquele recado a Jair Bolsonaro e Eduardo Cunha. Mel faz parte do coletivo Poetas Ambulantes e é uma das organizadoras do Slam das Minas-SP, batalha de poesia para o gênero feminino . Já publicou dois livros de poemas:Fragmentos Dispersos(2013) e Negra Nua Crua (2016).

Verdade seja dita Você que não mova sua pica pra impor respeito a mim. Seu discurso machista, machuca E a cada palavra falha Corta minhas iguais como navalha NINGUÉM MERECE SER ESTUPRADA! Violada, violentada Seja pelo abuso da farda Ou por trás de uma muralha Minha vagina não é lixão Pra dispensar as tuas tralhas Canalha! Tanta gente alienada Que reproduz seu discurso vazio E não adianta dizer que é só no Brasil Em todos os lugares do mundo, Mulheres sofrem com seres sujos Que utilizam da força quando não só, até em grupos! Praticando sessões de estupros que ficam sem justiça. Carniça! Os teus restos nem pros urubus jogaria Pq animal é bicho sensível, E é capaz de dar reboliço num estômago já acostumado com tanto lixo Até quando teremos que suportar? Mãos querendo nos apalpar? Olha bem pra mim? Pareço uma fruta? Onde na minha cara tá estampado: Me chupa?! Se seu músculo enrijece quando digo NÃO pra você Que vá procurar outro lugar onde o possa meter Filhos dessa pátria , Mãe gentil? Enquanto ainda existirem Bolsonaros Eu continuo afirmando: Sou filha da luta, da puta A mesma que aduba esse solo fértil A mesma que te pariu!

(1988)

Poeta gaúcha, nascida em Jaguari, interior do Rio Grande do Sul, vive em Porto Alegre desde 2007. É graduada em comunicação social pela PUCRS e atualmente faz o curso de letras na UFRGS. Começou a escrever poemas ainda quando criança. Publicou os livros Mosaicos (2014) e Sal, topázio e mercúrio ( 2015)

Há coisas que não cabem em um poema: a suave ondulação que se desenha na superfície da água quando a cigarra gentil se molha. BALADA DAS DUAS DA MANHÃ entre eu e você já nasci estragada estrela contrária madrepérola de sal havana capitalizada não importa o que eu faça o que mude ou a música que cante pra você algo sempre falta em mim cafe moído com açucar demais o certo na hora errada grão de milho extraviado na caatinga muito sono pra pouca noite a verdade que ainda não é verdade coração que não bate amor não importa o que eu faço o que eu sou nunca boa o suficiente suficientemente desamada desarmada entre sorrisos bobos amanhecendo longe... longe não 154 AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA importa

(1988)

Poeta paulista, nasceu em Presidente Prudente (SP) em 1988. É autora de Cumulonimbus (2017), eu não consigo parar de morrer (2019) e foi contemplada pelo ProAC/SP com a obra Desterro, lançada na FLIP.

Eu moro nos atrasos e por isso ninguém nunca me encontra Eu me exilo no bolso rasgado do teu terno azul – aquele reservado para os velórios dos parentes distantes Eu sou minúscula por vezes invisível Eu moro na poeira oculta dos idiomas extintos Eu submerjo das águas da fonte central da cidadela de três mil membros – dizimada há mais de meio século Quando fito o espelho nem me percebo sou maleável, sou um elástico de cabelo desses que se perde um por dia por aí ............................................................................... eu construo uma antessala com balões de gás hélio e reciprocidades fico apanhada ao seu dedo mindinho como se um furacão nos cingisse e você fosse a esperança derradeira as mesas estavam postas mas foi tudo derrubado

(1988)

Poeta paulista é pesquisadora e artivista cultural. É autora do livro de poesia Caravana (2013). Se dedica também aos textos para crianças e jovens. Ganhou o Prémio Lusofonia de Portugal (2012) na categoria conto infantojuvenil. De lá pra cá muitos textos engavetados, alguns publicados em revistas digitais e antologias diversas, entre elas as mais recentes ABCDelas (2022) e É agora como nunca (2017). Atualmente escreve seu próximo livro e ministra oficinas de criação literária para mulheres e crianças.

CRINAS

para Déborah Erê

no chão os pés dos meninos da rua 4 e a boca de um cavalo imaginário que come o lixo e flores daninhas sem sela, sem chinela

um conto distante toma conta dos olhos: um vilarejo longínquo onde Tolstói contava histórias com menos talento que a babá aos moleques polianos em meio ao campo de bétulas

aqui ao lado o terreno baldio, os velhos, os pregões e este cavalo parece encantado, o que faz ele assim solto, sem sela? sem ser possível montá-lo a caminhar unicamente tudo unicamente porque pode

meninos pernambucanos éguas russas andando na beira da praia comendo os restos das coisas bebendo água salgada

o cavalo de madeira da memória balangava

cavalos de rua lentamente pastando e as crianças brincam a rua em volta

e a crina ao vento a crina ao vento a crina ao vento

(1989)

Poeta paulistana, cursou filosofia na USP e já publicou dois livros: Carta Branca (2011) e Vitamina (2013). Colabora com o site Mix Brasil e com as revistas Germina, Zunái, Diversos Afins,Ventos do Sul, Cabeça Ativa e Originais Reprovados.

DEFESA DA POETISA palavra de mulher: homem nenhum morreu de parto.

SE OLVIDANDO não é porque as paredes têm ouvidos que meus poemas vão ficar aí pregados se olvidando calados.

– marque-os com orelhas use-os como moleques de recado sei que não são diplomas, mas quem sabe contratos? meta-os no bolso ou trate-os como ataduras pra machucado

mas não os deixe por aí, enforcados.

PRESA NA MEMÓRIA Eu celebro os vestígios, os fragmentos, as ruínas, a completude, que inventamos sendo apenas estilhaços.

Eu celebro o amor,

a impossibilidade.

(1989)

Poeta paulistana, estudou letras e trabalha na área editorial. Participou da antologia poética É que os hussardos chegam hoje (2014) e da Revista DiVersos (editada e publicada em Portugal, 2014). Seus textos estão em algumas revistas digitais. Publicou seu primeiro livro de poemas, Marambaia, em 2013 e foi uma das selecionadas na categoria de poesia do II Prêmio Ufes de Literatura (Edufes, 2014).

diz o musgo: nunca, nunca se arrisque em trilhas isso de cutucar vespeiros vai empolar tua vida na volta ir falando (muito eloquente) de litorais, espantar moscas com as braçadas mais notáveis e cuidar para não chorar baixinho a ardência da pele quando cair a noite um minuto que fraquejei e me botaram num escafandro sem espaço pros braços

O PORO A PELE antigo afeto que lhe ofereça toques moles, comedimento nas conversas, um afago cru mas não, jamais quis morar em peito tão vago e sem janelas abertas fazer barulho raspando o fundo levar do doce o que lhe é mais íntimo; degustá-lo nu

OBJETIVO ESPECÍFICO tirar da calma o peso, tirá-lo dos nervos. não é que tudo venha em rio manso, no morno das estações: venha ainda sem aviso, tromba d’água. falar das pedras, ser a voz da pedra. fazer-se: depois fazer um silêncio impossível. atentar a coisas sem verbo, que façam perder a hora: o movimento das folhas de carambola, o ritmo das suas mãos na massa (sentido anti-horário).

(1989)

Poeta soteropolitana, mora em Vitória desde 1996. É jornalista, mantém o projeto literário Livros por Lívia e também faz parte do núcleo editorial da Revista Trino, sobre literatura brasileira contemporânea. Carne viva é seu primeiro livro de poemas..

veias enferrujadas sangue duro corações engarrafados

tentamos negar nossas origens mas o ódio e a mágoa são hereditários ainda assim é irremediável amar e eu não sei fingir igual a minha mãe e a mãe dela mas você sabe machucar igual ao seu pai e o pai dele ....................................................................................... só é mudança se passar pelo corpo tem que dilatar os poros arranhar a pele embaraçar os cabelos sufocar o coração até ele querer pular para fora do peito para respirar porque a gente só entende do que é feito quando vê ....................................................................................... nem toda morte é sangue o fim pode ser limpo facas hesitam palavras não

(1989)

Poeta paulista, é pedagoga e mestre em educação. Escritora, poeta e tradutora, dedica-se à área literária desde 2014. Traduziu diversos autores americanos e latino-americanos, entre eles, Alejandra Pizarnik, Denise Levertov, Emily Dickinson, May Swenson, Silvina OCampo e Williams Carlos Williams. É colaboradora de portais nacionais e internacionais, escrevendo também ensaios. Autora dos livros Nepente (2015) e Sombras & Luzes (2016), Seu ´último livro, Tríptico Vital ,(3º lugar ProAC 2016) dedicadoà Hilda Hilst, teve lançamento na Flip de 2018.Possui poemas e entrevistas publicadas em revistas e fanzines de Portugal e Brasil.

À memória de Allen Ginsberg O peso do mundo é o peso do sonho. Sob o fardo do amor, Sob o feitio da ilusão. O peso do mundo é um fator irreal. Sob o feitiço do perverso, Sob a finura do convexo. Mas quem de nós poderá negá-lo? Se a leveza é invenção abstrata. Se a natureza é limite brutal. Paraísos movem-se mais adentro. Peregrinos progressos rarefeitos. Moléculas de uma frágil história. Em céus que desabam, petrificados. Pois nenhuma elucidação, América, Há de salvar-nos. Nenhuma religião, Kaddish, Será poesia. Nenhuma dor, atemporal.

III São hemisférios os meus olhos. Ainda que crepitem os séculos. Ainda que naufraguem no presente. E não posso adiar o amor que sinto. O amor suporta o peso corpóreo. Atravessa a pobreza, o ódio, o abandono. Abraça o que se renega. Conduz o que não se mede. À sombra de uma árvore, resistimos. O amor e eu. No coração que é vertigem. Em vias remotas e poeiras estelares. Tudo é afinal, indiferente. Porque não posso adiar a vida.

(1989)

Poeta cuiabana, vive em São Paulo. É autora do projeto Onde jazz meu coração, criado em 2013 com o objetivo de expandir a voz da literatura feminina-- nas redes sociais e nas ruas através da publicação de poemas e fotografias. Mistura corpo com poesia e cola uns lambes por aí. Sua página no facebook é seguida por mais de 150 mil pessoas e ela conquistou uma comunidade de fãs que inclui famosas como Mariana Goldfarb, Giovanna Lancellotti, Yanna Lavigne. Seu livro de estreía, Tudo Nela Brilha E Queima - Poemas De Luta E Amor, foi publicado em 2017. A professora negra é abertamente lésbica e procura falar de amor sem distinção de gênero em seus textos.

um dia decidi ser eu e nunca mais voltei atrás

SOBRE RECOMEÇOS é sempre assim boa parte da gente morre pra outra parte começar a se sentir viva novamente

................................................................................... saudade é foda escuto aquele som do seu riso mas nunca é você é sempre memória

IDENTIDADE foi uma mulher negra e escritora de pele e alma como a minha que me ensinou sobre os vulcões e as rédeas e os freios sobre os tumultos dentro do peito e sobre a importância de ser protagonista nunca segundo plano se você encostar a mão entre os seios vai sentir os rastros de nossas ancestrais

somos continuidade das que vieram antes de nós ...................................................................................... da vida eu quero poemas orgasmos almas entrelaçadas batimentos livres trocas sinceras e revolução

(1989)

Poeta mineira, nasceu em Alfenas e cresceu nas ruralidades de Paraguaçu. Além de poeta é bordadeira e integrante da Academia Paraguaçuense de Letras. Graduada em História (UFOP) é mestra em Museologia e Patrimônio (UNIRIO), inscreve com as linhas e as letras o que suspeita no mundo. É autora do livro Maio (2018) e Cartografias do Corpo que Canta (2021). Possui poemas publicados em antologias e coletâneas – Antologia Ruínas (2020) e Tomar Corpo (2021). Seu último livro ,Cartografias do corpo que canta ,foi contemplado com Lei Aldir Blanc e tem apoio do Ministério do Turismo e do Governo do Estado de Minas Gerais.

a vida me quer atenta e conciliadora das minhas memórias. um beija-flor invade a casa e já não me lembro do sangue vulcânico que tinge os papéis sobre a mesa. costuro no meu braço as mulheres que já fui. ............................................................................................. escrever para apagar a letra para decompor as imagens arrancar as folhas rente à derme escrever para apagar traçar sete vezes sobre a página pequenas ondas que se avolumam conforme a existência das palavras apagar as palavras dissolver letras imagens os significados das palavras com sal com algas com os corais que mantêm a temperatura da terra estável enterrar as palavras entre duas palmeiras queimar cada palavra até que atinja a voz e não atinja mais nada. ................................................................................................. afundo meus dedos no tempo. encontro um potro recém-parido que se enrosca as patas dianteiras a pisotear pequenos destinos.

como peixe entre tarrafas me debato para arrancar sua crina e fazer dela meada tecer as palavras que de tanto ditas se desfazem quando afundo meus dedos no tempo.

(1989)

Poeta paraense, formou-se em história ainda no Pará e estudou história da arte pela PUC em São Paulo, cidade onde reside atualmente. Além de poeta, é fotógrafa, trabalho que em sua cidade natal utilizou para fomentar a cultura paraense como o carimbó, em trabalhos como a exposição fotográfica Coisas de Carimbó, no ano de 2015. Produziu em parceria as duas primeiras edições do evento literário Poesia, Música e Outros Escritos, evento que deu origem a SubVersiva Produção Cultural Indepedente. No Teatro atuou como atriz e sonoplasta por 14 anos junto a Cia Theatro de Performances e Espetáculos. Hoje transita ativamente por diversas expressões artísticas e atualmente trabalha em seu próximo livro.

CÂIMBRA

(Para ler ao som de Please Please Please Let Me Get What I Want,The Smiths)

Existe uma crueldade no teu silêncio Teu silêncio me faz gritar para dentro Meu grito para dentro apodrece as minhas palavras Minhas palavras são uma desesperança A desesperança dança segurando as mãos dos bichos Os bichos habitam debochadamente o meu estômago existe uma crueldade no teu silêncio (enquanto tua boca grita rancor por baixo do lábio cerrado) estômago. oco. âmago. amargo. Devia dizer-te o que penso em não dizer Devias estar ali sentado em cima do teu silêncio Com a imagem borrada pela fumaça do café Enquanto de palavras e saltos apavorados no coração eu me alimento Devias? Desvios? Ca-lei. A regra minha que não falha é falhar Falhei e não disse o que pensava em não dizer Meu coração tem câimbra A fumaça do café dança sozinha Há silêncio ensur-desce-dor E nada pode trazer mais azar do que deixar uma garrafa de vinho pela metade.

(1989)

Poeta nascida em Terezina, publicou poemas em zines, jornais, revistas, blogs e sites. É graduada em história e especialista em História Cultural, pela Universidade Estadual do Piauí e mestra em Educação, pela UNINOVE. É servidora pública federal e exerce o cargo de Auxiliar de Biblioteca, no Instituto Federal do Piauí. É escritora, autora da obra “Mar Grave” (2018) e escreve no blog Lustre de Carne. “A literatura é a forma de me conhecer e de existir. Existir quando eu escrevo e quando eu leio, porque é quando a gente se encontra e se perde também”, afirma Renata Flávia.

CHIFRE DE BOI E MADRE PÉROLA carrego entre os dedos os campos secos que atravessaste eu teria me arranhado em você facilmente poderia ter corrido mas fui caindo e do fundo coletei do mar o brilho mais difuso para ornar minhas mãos frias que deslizaram no vento até te tocar é teu pedaço aqui? esse aro que me cerca a pele lembrando seu nariz a sugar todo ar do meu pescoço é teu o que não queres mais? se esse não querer te pertence ainda é teu tudo que você se desfaz? um róseo doce cravejado no duro deserto de mim não tem você aqui é ilusão pensar que tem sou eu o boi e a pérola a que se desfaz e a desfeita o mar inteiro e o arranhado dolorido as mãos no vento buscando os limites de mim preciso atravessar minha vastidão para chegar até você dores madres pedaços campos inteiros devastados para achar essa que sou uma vívida luz deitada num escuro buraco.

(1990)

Poeta carioca, crítica de arte, bacharel em filosofia pela UFF, onde atualmente cursa o mestrado na linha de estética e filosofia da arte. Trabalha com mediação educativa, artes visuais, oficinas de criação poética e performance. Escreve muito, lê mais ainda e é obcecada por documentários de arte. Além disso, é colaboradora da revista caliban e co-fundadora e integrante da disk musa. Seu primeiro livro de poemas chama-se Bigornas (2017). Segundo diz Tarso de Melo, no prefácio, “seus poemas voam como bigornas e querem demolir o mundo sobre o qual desabam. É assim que ela chega: “fracassar eu fracassei/ mas antes arremessei/ poemas/ como bigornas”.

MANUAIS A gente sabe que está vencendo no capitalismo Quando nos procuram pra falar só de trabalho Você me diria ah, mas qual a necessidade disso tudo que fazemos vira poesia, tem eco Ao passo que eu ué, você fez uma panela enorme de lentilhas essa semana qual a necessidade de toda essa lentilha? Essa desistência é provisória Tudo será superado Domingos transgênicos tabagismo danças húngaras Talvez seja mesmo de aceitar Que a toda hora há alguém traduzindo — mal traduzido Uma obra do Nietzsche

PARTIDA Já não somos mais as mesmas Desde que voltamos Lembro das vezes Que você lamentou Porque não como peixe E nada de origem animal Não posso te acompanhar No seu maior prazer Ontem mesmo estive Acuada feito animal Nas suas mãos Não sou capaz Muito menos você Explico de qualquer jeito Como fogem os animais Se você tenta machucá-los E uma alface não reage Quando você a corta AS MULHERES POETASEstou de partida NA LITERATURA BRASILEIRA 165

(1990)

Poeta mineira, de João Monlevade, publica anualmente na antologia paulista Cadernos Negros. É colunista do blog Ecos da Periferia. Cursou graduação em letras e literatura na Universidade Federal de Viçosa. Atualmente faz mestrado em estudos literários na Universidade Federal de Juiz de Fora, onde reside.

DOSE NEGRA Uma dose negra na garganta só para começar o dia vamos parar de hipocrisia pois todo dia a resistência vem violenta como poesia

SILÊNCIO Consigo ler os silêncios com a perspicácia de quem lê o percurso dos rios. A vida a brincar conosco fazendo de nós mesmos um profundo poço em que jogamos palavras em forma de desejo Pois o mundo inteiro roda em nosso peito E o silêncio é uma faísca que promove indizíveis incêndios de indiferença comodismo e absoluta descrença de que a vida só a nós pertence e o ego sempre vence quando não rompemos com todas as prisões manifestadas em oportunistas opiniões daqueles que inventam, mas não vivenciam a única oportunidade que temos de ser positivamente humanos

Saibam que meu silêncio é diferente Ele arrancará todos os dentes Daqueles que falsamente sorriem.

(1990)

Poeta paulistana, é publicitária, redatora e apaixonada por cultura em geral. Escreve desde criança, pesquisa desde antes do Google e tem como hobbie a troca de ideias e palavras sobre literatura, cultura pop, periferia e negritude. Está fazendo mestrado em Estudos Africanos na Universidade do Porto, em Portugal. Tem dois minicontos publicados na edição de 2014 do Livro da Tribo e um poema publicado pela Editora Quelônio para a antologia Eu Escritor(a).

DIÁRIO DE UM GOLPE Aqui onde A mulher preta tampa O rosto, a cor, a alma Com base branca Onde são quatro Os filhos da moça Dois descalços Dois sem touca Na cinza manhã fria O orelhão ainda é Uma ponte pra Bahia Aqui onde Sente como uma mocinha! Preto não sai da linha Que a senhora tricota Com o cerne entristecido Aqui onde O homem vende espetinho Alheio aos direitos dos bichos E dos humanos O chicote estrala na viela O soco cala a boca dela Eles invadem Sem mandado, sem sequela E eu sou livre Para cobiçar o pulo Da plataforma de ferro acobreado Aqui onde todo dia é 64 E nada está nos trilhos.

(1990)

É paulista de berço e brasiliense de coração. Formada em Letras pela Universidade de Brasília (UnB). é mestre em Estudos Literários pela Universidade Complutense de Madri, e professora de línguas e literatura. Lançou seu primeiro livro, Palavra de Copo Virado, em 2021. Publica poemas em revistas literárias e é colaboradora do portal fazia poesia. Tem medo do avião, mas não da viagem. Já morou em 9 cidades. Se entende muito bem com gatos.

VOCAÇÃO PARA NAUFRÁGIOS tenho vocação para naufrágios deixo o canto da sereia me guiar sou capitã de um navio fantasma ancorado no mais fundo do mar entre sal e algas marinhas um mau presságio eu tenho vocação para naufrágios navegar até a ilha de lesbos no intuito único de trocar carícias com a poeta mitológica fazer amor como se fosse poesia partindo um verso aqui lá, um afago eu tenho vocação para o estrago tomando rum, sem tomar rumo errante marinheira à deriva do destino brincar de sátira com ninfas libertinas eu tenho vocação para a ruína mas se a sirena chama eu largo tudo e enlouquecida me atiro em seus braços de mar morrer assim ninada é privilégio eu tenho vocação para naufrágios

NAVEGAR é preciso disse o poeta maior naufragar é impreciso imprevisível imprescindível isso digo eu

(1990)

Poeta carioca, escritora, curadora, pesquisadora e agitadora cultural. Voo é seu primeiro livro. Concebido de forma inovadora, é apresentado como um livro-objeto; não existe nele elemento que não contenha voltagem poética. Inclusive a capa, elaborada pelo poeta Sergio Cohn.

SINOPSE todos os dias os pássaros. todos os dias voam. da janela vejo os que voam em bando. planando.

os que voam sozinhos batem suas asas muito mais vezes. da alvorada ao crepúsculo.

onde os pássaros pousam é onde eu queria estar. ........................................................................................ sou os dias sem chão dos pássaros

eu grito pelas montanhas e ninguém ouve eu uivo pela selva e nada se move

o agora

entre o sim e o não que deriva no vento de quatro sou ele sou ela sou falo sou fenda

(1991)

Poeta mineira, é graduada em letras pela UFMG, com um semestre de intercâmbio na Université Charles-de-Gaulle - Lille 3. Publicou no jornal Letras, Desfaces e zines como o Amendoim e o Barkaça. É autora do livro Por Aqui (2013) premiado com o primeiro lugar no concurso “Só Para Poetas”, da Edith (encabeçada por Vanderley Mendonça e Marcelino Freire). Foi incluída na coleção Leve um Livro, com a seleção de poemas Pó de Asfalto(2016).

a menina ve TV e repete a palavra até perder sentido em breve irá repetir o mundo e esperar que faça sentido

TOMEI CORAGEM tomei coragem me chamei para sair comi pizza à luz de velas bebi vinho e relaxei comprei um doce no café ao lado dei uma volta na lagoa me fudi a noite toda

PRO LEOPARDI parece: melhor que viajar é arrumar a mala melhor que o fato é a imaginação melhor que a data é a véspera melhor que o orgasmo é o tesão seja como for, a poesia é melhor que o amor

(1991)

Poeta cearense, nasceu em Juazeiro do Norte, na região do Cariri. É escritora, cordelista e autora dos livros As Lendas de Dandara e Heroínas Negras Brasileiras. Atualmente vive em São Paulo, onde criou o Clube da Escrita Para Mulheres. Até o momento, tem mais de 60 títulos publicados em Literatura de Cordel, incluindo a coleção Heroínas Negras na História do Brasil. Redemoinho em dia quente ganhou o prêmio APCA de Literatura na Categoria Contos/Crônicas.

saí para a varanda aos 14 graus da tarde sem blusas viria a primavera as roupas leves — mas meu peito é pesado e quente dentro de mim não faz brisa é sempre mormaço . FÁBULA desistir é coragem difícil somos programados para tentar deslizando aos barrancos a pele das pernas esfolada os pulsos marcados pelos rosários é preferível morrer sorrateiramente em gorduras açúcares refluxos pedras nos órgãos no peito mas desistir essa é uma coragem que todos não temos

(1991)

Poeta catarinense,é doutoranda em teoria literária pela UFSC, que estuda a crítica feminista e gênero. Seu primeiro livro, Terra Molhada(2018) celebra o amor entre mulheres e se encaixa no segmento de literatura lésbica. Ela mesma diz:” é uma literatura de resistência. Principalmente lésbica, mas também feminista.”

traduzi seu nome pra língua do meu corpo de hoje em diante te chamarei umidade

....................................................................... eu plantei meus pés na terra por sete dias por sete tardes eu reguei observei o sol chegar em 7 manhãs em sete noites eu senti as raízes que começavam lentamente a construir caminhos no chão fértil no 8º dia eu virei flor aí você chegou para me colher e eu não queria morar mais ali eu queria fincar raízes no seu peito terra adubada com dor

........................................................................ nos seus dedos mora sempre um pouco de mim

(1991)

Poeta carioca é eswcritora e jornalista. É autora dos livros Microscópio (2017), Lágrimas Não Caem no Espaço (2018) e o recém-lançado Tudo Coisa da Nossa Cabeça, todos editados pela 7Letras.

SINAIS o nervosismo mastiga as unhas o frio eriça os pelos do braço a vergonha tem bochechas vermelhas o tesão faz despencarem cataratas, ergue monumentos a fome devora o bom humor a tristeza mingua o prazer aperta os olhos a sedução mordisca os lábios a felicidade inventa dentes pelo rosto a ansiedade umedece mãos o sono escancara a boca a raiva dói nos nós dos dedos

COMEÇOS sabonetes filhotes relacionamentos: coisas que não deveriam ficar expostas ao tempo o tabuleiro de xadrez da mesa da praça continua

FINS terminar um livro um casamento onde estaria daqui a alguns anos o personagem o marido sobreviverá ele à estante às memórias o livro: podemos reler.

(1992)

Poeta paulista, é formada em Letras na USP. Arrisca versos desde criança, tendo publicado Estilhaço, em 2017, pela editora Patuá (disponível para venda no site da editora). Participa também da antologia Sangue (2019), da Urutau. Tem experiência na área de Letras Modernas com ênfase em teoria e crítica literária francesa, tendo estudado a produção ensaística de Barthes e sua relação com a escritura literária de Ana Cristina César. Atualmente, aprofunda a reflexão sobre Barthes em iniciação científica contemplada pelo CNPq. Mantém a página Estilhaços, onde divulga seus trabalhos no Facebook.

BARRO presença disforme que dá vida ao que não tem nome argila amorfa que dá forma a todo espanto: o adorável adorante helianto

VITRAIS outro dia lancei um livro de poemas isso dizem fazem os poetas não sei se acredito acato visto a carapuça que me serve só de brincadeira ou digo da melancolia que me custa fazer poemas do azul fúcsia das pupilas dilatadas guardando segredos impossíveis da íris feita de espelhos coloridos ou trincados meus olhos inventando narrativas sagradas que eu não pude ver

ANUNCIAÇÃO não espere que inaugure um universo repleto de galáxias-possibilidade por que o faria? nem que as musas tenham sussurrado nos meus frios e surdos ouvidos (tão cansados dos ritmos fáceis) não espere que eu acenda a palavra aqui não há luz só uma espera profunda e grave profunda e grave espera

(1992)

Poeta pernambucana, é formada em letras pela universidade Federal de Pernambuco (UFPE), declamadora, atriz e performer. Com seus espetáculos de récita performática, Não Os Queríamos Sagrados e Sala de Estar, Luna tem participado de importantes eventos literários (Balada Literária/ SP; Festipoa Literária/RS; Festival Internacional de Poesia do Recife/ PE; Jornada Literária Portal do Sertão/ PE; Bienal do Livro de Pernambuco/PE e outros). Seu livro de estréia, Aquenda, o amor às vezes é isso foi lançado em julho de 2018, foi finalista do prêmioJabuti e tem recebido destaque da crítica local e nacional.

MARTELO O amor bate seu martelo sempre no mesmo prego até acertar o dedo

HÁ DIAS Há dias em que necessito silêncio e não quero me mexer e não quero falar e não quero abrir os olhos nem sair de dentro de mim Há dias em que sou paz e guerra tumulto condensado em meu tumulo alguém que tenta ler o futuro no lodo das horas procurando sonhos dentro de um balde Há dias tenho sono vivo exausta da ignorância alheia E sinto saudade do pé de manga da minha rua onde eu empinava pedras e não pensava na morte

(1992)

Poeta carioca, é historiadora de arte e co-editora da revista Usina. Cursou a PPGArtes da UERJ e a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Trabalhou em diversos museus: Dom João VI, Museu de Arte e na Chácara do Céu. Não tem nenhum livro publicado.

4. encontrava-me baldia terra salgada de fronteiras estéreis buscava em par de olhos os sonhos desabrigados a pele vestida de miudezas frescas nua do profundo e de repente o garoto rondava meus cantos ermos minhas quinas pontudíssimas minha janela dura defeituosa sem que eu pudesse casar as mãos nas suas mechas negras violentas de vida estive então a cuspir tudo a enquadrar o mundo e arredondar as ruas estive a dançar nas bordas do risco pra fecundar meu cultivo de ramagens inexplicáveis e é a entrega uma selva que sacode o horizonte.

(1993)

Poeta alagoana, é formada em magistério e é bacharel em serviço social pela Universidade Federal de Alagoas. Atualmente publica periodicamente na revista Alagunas e em sua página do facebook que tem por título Doce Intuição de Vênus. Vive em União dos Palmares, terra natal de Jorge de Lima e de Zumbi.

PALAVRÃO A palavra é uma dor no nervo ciático, É um tiro de raspão, Que fere, mas não mata A palavra é hepática, Causa pena e comoção, É um pensamento ricocheteado, Que cai na boca do mundo Ora como riso, ora como choro A palavra é dona do próprio nariz E sai agalopada de um coração venenoso Mas no último suspiro é só ela que salva, Ainda bem que os mudos também falam. Palavra é um desejo despercebido, um sentimento desavisado, É um cisto que precisa ser retirado, senão incomoda, que nem cisco em lente de contato.

INVERNO Na vida, o risco Na boca o grito No olho, um cisco No quarto, suspiro A noite, chuvisco.

(1993)

Poeta brasiliense, vive em Macaé. É professora de literatura, atriz, contadora de histórias e uma das organizadoras do projeto Língua do P, para incentivo da leitura, produção e fruição da poesia. Escreve poesias desde que leu seu primeiro poema (quadrilha, Drummond) na escola. Publicou dois livros infantis e agora se prepara para publicar seu primeiro livro de prosa e poesia. Acredita que poesia é pura bruxaria e não há inquisição que a pare!-

BALANÇA DEVAGAR Me assaltaram a alma Numa esquina entre o que eu acho e entre o que eu penso. Coloco na balança tudo olhares, cartas, enigmas, chuva, cabelo bagunçado sorrisos, bom dias, cuspe, beijo, penetração, fracasso desejo coloco na balança tudo espera: balança tudo. Balança o mundo e a gente não supera coloco na balança a falência do estado a falência do meu estado o socorro cochichado um pé estalado corrida medo coragem vontade colidimos no tempo, quando olhei pra tudo já era 64 de novo a balança quebrou dividimos os ombros pra pesar dividimos os ombros em pesar. Meu coração agora tem pressa. Sem metáforas é pressa de balançar pra demolir. CONTOS DE FADA PARTE DOIS Nada foi real, mas doeu como se fosse. E aí o silêncio. Eu não quero silenciar Mas o primeiro grito Sempre sai de mim Na torre da gente Na serpente que diz 178 AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRAQue o fruto do conhecimento É atrevimento sem volta.

(1993)

Poeta paulista, nasceu e reside em Assis, interior de SP. Alma de caipira cósmica e essência azul estelar com terra vermelha. Seu primeiro livro, Andromeda sob os pés, foi publicado em 2017 depois de ela vencer o concurso promovido pela Editora PRIMATA. Antes disso, ela já havia participado de um outro concurso, Mapa Cultural Paulista, onde teve um poema classificado e publicado numa antologia.

[ ] eu esse lugar de passagem essa via transitória de quem chega e de quem vai eu uma bifurcação que habito num lapso de tempo meu limite acrônico meu concomitante desvanecer eu a derreter o meu próprio espectador eu, um não-lugar.

[ ] todo dia atingimos a magnitude absoluta em algum lugar um núcleo galáctico colide com a via láctea rastreamos os objetos astronômicos mais brilhantes do nosso céu profundo encontramos astros dentro de nós localizados a 2,4 milhões de anos-luz o livro das estrelas fixas foi impresso com a tinta celular de nosso plasma algum astrônomo persa escreveu nosso nome em uma carta estelar alguma constelação ancestral sonhou com o corpo humano e fundiu pacientemente o projeto primata da nossa vida Andrômeda está sob os nossos pés.

(1994)

Poeta brasiliense, é microcroempresaria, produtora cultural e autora de dois livros: Amin e os livros mágicos e Andar de passarinho (2017). Tem participação em uma das antologias do projeto Palavra é Arte, da Cultura Editorial de Barris, Salvador (BA). Recitou seus poemas em saraus do Poemação, no Beijódromo da Universidade de Brasília (UnB); do Contra-in-Versos, em Planaltina (DF); da Cultura de Classe; do Coletivo de Poetas, com o qual é coautora de um livro inédito; na Feira do Livro de Brasília; da Academia Taguatinguense de Letras, na II Bienal do Livro de Brasília. Também organizou a coletânea VOZ -poesia falada, livro com a participação de 15 escritores de Brasília.

VENTO DE AGOSTO A bruxa improvável que sou. Voa na fé de mim mesma Dirigindo numa vassoura A 200 kilometros por hora Se eu disser que vai chover A chuva cai. Se eu disse que vai nevar Se prepare para congelar Eu conheço bem o céu. E as minhas turbulências E antes de lutar com os inimigos Me primavero inteira Dou uma surra de pétalas Em quem não tiver perfume. Não sou anjo nem barata E vou voar assim mesmo Fora da asa.

ANAL – FÉ - BATISMO Tem dias que eu não escrevo Tem dias que eu escravo. Encaro as palavras Encravo um livro. Eu não quero um ISBN. Eu quero algo que risque. Uma folha de papel Higiênico... Um graveto e um pedaço de praia. Eu quero fazer tinta de vaidade. E preencher uma pena. Eu quero um vidro embaçado E um dedo afiado. Eu quero autografar meu verso Com a minha digital. E que o analfabetismo Nunca perca o lirismo. Eu não sei escrever. Mas eu sei fazê meu nomi.

(1994)

Poeta paulista, é artista e pesquisadora do corpo em artes circenses, dança e poesia. É terapeuta corporal formada em massagem ancestral tailandesa pela International Training Massage School. Publicou o livro de poemas Anotações sobre o azul (2016).

INSÔNIA Meu corpo não tem cor, idade, sexo ou pátria restaram os pés ansiando pela dança a mão trêmula que não cessa de escrever enquanto a poesia me berra por todos os poros e não deixa dormir : eu obedeço.

POEMA XVI Para transitar de um corpo ao outro, Bebi Pedro Comi Pedro Dentro e fora Fora e dentro Dentre verbos Dentre versos Tão im-próprios. Inda assim, Todo dia Toda a pele Me ardia, Feito bruxa na fogueira.

XII Caminho pelas ruas pedindo licença por ser mulher Caminho pela casa da mãe pedindo licença por ser triste Caminho entre os amigos pedindo licença por ser criança Caminho entre os amores pedindo desculpa por ser simples E no arrebol, quando o coração em claroescuro desdobra e acelera em trottoir Coloco meu casaco ocre, busco na noite pés pra caminhar.

(1994)

Poeta nascida na cidade de Rolim de Moura , em Rondônia, começou a escrever na infância. Tem formação universitária em Pedagogia, e atualmente dedica-se exclusivamente à escrita. Cultiva solidão e se planta ao silêncio para sobreviver. Escreve. E nas horas vagas, existe.,O lançamento de seu primeiro livro, Folhas dos Ossos ou o tratado das coisas insignificantes aconteceu em 2017.

Haverá um dia que serei apenas letra

e no meu epitáfio será gravado […] “ela, de tanto ser nada, tornou-se palavra.” ........................................................................................... Nalgum momento da vida é preciso

desmoronar

[todo início já foi um entulho] […] Recriar-se é uma contínua

desconstrução de escombros.

............................................................................................ Sou uma metáfora no mundo.

[quero ser real]

Uma canção cantada pelas folhas que caem das árvores.

A celebração da fruta que amadurece.

(1994)

Poeta, prosadora e bonequeira, é filha de retirantes nordestinos e vive em Taboão da Serra, zona metropolitana de São Paulo. Bacharel e licencianda em letras pela USP, é autora, leitora, pesquisadora e professora do ensino básico. Autora de Pequenas ficções de memória, (2018), da publicação virtual independente Canções para desacordar os homens (2020) e de Pedra sobre pedra, (2020).

REENTRÂNCIAS amar as mãos e os pés do homem negro saber quantas de suas canelas fugiram de polícias milícias quantas vezes seus ombros caíram em mãos atrás da cabeça amar suas impressões digitais debaixo dos calos de trabalho e música amar suas cicatrizes de skate cerol e bala perdida amar seu sobrenome sem pai amar seu corpo estirado no chão vivo ou morto (sempre morto) amar seus traumas suas neuroses amar suas contradições amar sua ejaculação precoce sua ejaculação retardada sua impotência diante dos absurdos da vida amar as canções que ele ama amar os poemas que ele odeia escrever sobre sua percepção de mundo respeitar seu silêncio exercitar sua paciência despertar sua delicadeza perceber a minúcia atrás da couraça protetora saber arrancá-lo à força de seu pesadelo pôr-se à beira do precipício que é amar um homem negro ser gentil na queda esquecer a colisão.

(1994)

Poeta paulistana, cursa letras na Universidade de São Paulo, desde sempre escreveu prosa e agora se arrisca a escrever poesia. Não é ilustradora profissional, mas exibe seus rabiscos com certo orgulho de autodidata. Gosta do número 487.

veja só que desperdício só deixar o dia passar na intenção de apagar qualquer indício teu

DIADORIM amo a forma como seus cílios escuros se mexem quando descortinam seus olhos curiosos que vagam – de certa forma atentamente – enquanto você tenta encontrar as palavras certas. elas não existem em verdade eu já procurei em todos os lugares que você pode imaginar amo te olhar enquanto você olha as coisas pensando em não sei mais o que e por fim você diz e diz e diz e tudo soa como poesia pra mim ................................................................................... me falta a capacidade de me encaixar não pertenço daqui da margem vendo de longe talvez seja melhor, apesar de tudo .................................................................................... todos os dias alguém perde o último trem ou quase alguém sempre chega num dia diferente do que saiu alguém sempre sai ao encontro de ninguém findo o dia

(1995)

Poeta mineira, cursa letras na Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, cidade onde reside desde 2014.. Participa do grupo Aedos de declamação, apresentando-se em saraus, lançamentos de livros e outros eventos. “Lux” (2015) é seu livro de estreia, que conta com a apresentação de três importantes poetas: Lau Siqueira, Marcelo Adifa e Sérgio de Castro Pinto.

não dá pra notar que ando sempre virada ao avesso

sou sem costura, sem etiqueta, sem fim nem começo. ................................................. meu trevo tem três folhas meu olho grego está míope minha figa tem mão aberta

toda sorte desse mundo nunca é certa.

...................................................... à noite todos os homens são pardos todos os drinques são dardos e todos os bêbados são bardos.

(1995)

Poeta mineira, é escritora, performer e pesquisadora. Mestra em literatura brasileira pela UFMG, é autora das obras de poesia Oswald pede a Tarsila que lave suas cuecas (2019, premiado pelo Ministério da Cultura), Anticorpo (2017), Poétiquase (2015), e do livro-objeto de ficção Carne (2019). Organizou as coletâneas A Porca Revolucionária: ensaios literários sobre a obra de Hilda Hilst (2018) e Poéticas do devir-mulher: ensaios sobre escritoras brasileiras (com Constância Lima Duarte e André Magri, 2019). Seu livro inédito Tinha um Pedro no meio do caminho foi premiado pela Secretaria Especial de Cultura (2019).

CONFUSÃO MIMÉTICA eu não sou eu Sebastião Uchôa Leite este eu que está aí pomposo cheio de si se querendo todo achando que é o rei da cocada preta este eu não sou eu não viu? juro que eu – eu de verdade –eu sou ótima conversada despojada e no máximo princesa dessa cocada NA CONTRAMÃO DA GRAVATA célebre imortal maravilhoso branco me bate uma vontade de ser sujeito lírico neutro infectado por aquela visão tão objetiva & masculina

porque se eu fosse raimundo

mas antes sequer de terminar o raciocínio meu útero bate na porta: esse mês não

(1996)

Poeta paulistana, é graduada em letras pela Universidade de São Paulo. Em 2019 publicou Cartografia do Silêncio , contemplado com o edital Proac poesia, em 2018. Tem poemas e contos publicados em algumas revistas, como a Garupa e a Raimundo.

ANOTAÇÕES PARA UM AUTORRETRATO I 57 quilos

206 ossos

braços/dedos/seios/ombros/dentes

um tanto de grito e garra guelra e asa &pelos&cauda&trompa

II me dói tanto esse corpo de dentro

III eu checo esse rosto no espelho todos os dias com esperança de que tenha se tornado meu .................................................................................. bicho mar que me chama me puxa me [tenta me tira o chão de debaixo dos pés molha os papéis que esqueço nos bolsos traz peixe concha caranguejo caramujo traz e leva os cacos de outros dias largados pela areia bicho mar que ruge tão forte que enfeitiça como se o marulho fosse o canto [das sereias bicho mar vim te pedir pra receber meu corpo e me ensinar a força a concentração [a coragem necessárias para todos os mergulhos

(1997)

Poeta nascida em Parnaíba, Piauí, é autora do livro de contos In Vivo (2017) e do livro de poemas Ponto Crítico da Noite (2020) Colaborou em revistas como Ler&cia, Vacatussa e Mallarmargens. Ela espera que em outros multiversos seja também baixista de alguma banda, cultivadora de cogumelos, padeira, vendedora de plantas e escritora de novo, só que dessa vez uma escritora famosa.

O MAIS COMPLETO DOS SERES os homens sabem trocar pneus, tocar mais de um instrumento, mexer em fiação, acender fogo para assar carne. os homens são catedráticos, cultos, diversos, varonis, magistrais: eles fazem a boa literatura, as maravilhas arquitetônicas, os aeroplanos para as aeromoças desfilarem. os homens sabem, inclusive, que eu só sou lésbica porque ainda não encontrei o homem certo: quem, afinal, sabe o que eu quero, se não um homem? eles são excelentes em corte costura cama mesa & banho: os bons motoristas, pais, esportistas, investidores, cabeleireiros, críticos de arte. os homens sabem fazer tudo, exceto uma coisa irrelevante demais para pertencer à vastidão masculina: ouvir de uma mulher que eles não sabem o que estão fazendo.

(2000)

Poeta brasiliense, começou a escrever com 13 anos, usando cadernos com capa simples, para não chamar atenção. Gosta de fotografar, catar conchinhas na praia e curtir poemas de Juliana Motter, Leminski e Fernando Pessoa. Em outras áreas suas predileções recaem sobre Frida Kahlo, Picasso, Van Gogh, Sebastião Salgado, Mick Jagger e Djavan. Publicou o livro Circunscisfláutica (2015).É a mais nova integrante de As Mulheres Poetas.

injusta essa saia justa em que você nos colocou não sei se saio se ensaio se fico não sei se você ficou essa história não tem verbo não tem concordância não sei se é conto ou prosa mas sei que ainda é criança ........................................................ sou fruto da fruta que se descasca se despedaça se decompõe quando alguém ameaça me tirar do pé até que eu cresça amadureça e aí seja o que deus quiser ........................................... a garoa aqui também é pranto em são paulo só morre são quem nasce santo

(2000)

Poeta paulistana, é fascinada pelos celtas, pelas bonecas russas e, principalmente, pela linguagem, que ela define como “exercício criativo, social e, sobretudo, corporal”. Descobriu a poesia aos 12 anos e a prosa aos 16 - e, desde então, nunca mais as largou. Em 2016, publicou o livro Clair de Lune, e participou da Antologia Senhoras Obscenas.

AMÉRICA LATINA Me faça mujer Como las putas de Colombia Como a carne dos açougues argentinos Ou as mulatas do Brasil Ah Me faça révolucion Como as cubanas Que dançam em volta do fogo Me faça Madura Como as crianças da Venezuela E me faça fria como as brancas neves descendo as montanhas chilenas Mas me faça caliente Como as niñas Cheias de vigor Do México Porém, lhe peço Não me faça triste Miserável; Descartável Como os prédios caídos As veias abertas As putas não pagas E o choro não escutado Da América Latina

(2000)

Poeta potiguar, já foi chamada de pequena notável e poeta prodígio. Afinal não e qualquer um que publica um livro de poemas com 12 anos de idade, né não? Pois foi o que ela fez. Depois vieram Por isso eu amo em azul intenso(2015) e finalmentee Piruetas (2017).Com 17 anos Regina traz na bagagem três livros de poemas.E foi incluída por Heloisa Buarque de Hollanda no livro As 29 Poetas Hoje. Importante lembrar que a escritora e crítica literária, Heloísa Buarque de Hollanda foi autora de uma antologia histórica, 26 Poetas Hoje, que se tornou um clássico.

NÃO EXISTEM PORTAS NESSA CASA Um dia estive na estrada esperando o futuro E descobri que o amor se acaba aos poucos como o derradeiro farelo da Terra na boca de um jacaré E isso dói como dói uma cascata direto nas costas castigadas de um povo Mas é assim que caminha o mundo: numa corrida Em uma hora alguém chega e há uma reviravolta de 360 graus e sua pele 40, 50, mais que o Rio de Janeiro E nunca se sabe de onde vem aquela pessoa com quem nunca você sonhou mas estará ao seu lado daqui a 5, 10 ou mil anos num túmulo de pedra Também não se sabe a porcentagem de tempo em que caminharão juntos Nem se você estará ao lado de um assassino, poeta ou vendedor de salgado desses que ficam horas na cozinha e quando se deitam na rede têm cheiro de empada de camarão e você cheira e que delícia Mas o amor se acaba aos poucos E é preciso sempre esquecer isso para que haja amor, para que haja começo

(2001)

É potiguar de nascença, paulista de criação e brasiliense de passagem. Nascida no primeiro ano do milênio, quando o sol passava pela constelação de peixes. Cursa Letras na Universidade de Brasília, onde reencontrou-se com o teatro, atuou nas produções “Um não sei o que, que nasce não sei onde” e “Quando eu quero eu viro bicho” (2019), de dramaturgia coletiva estreado no festival Cometa Cenas. Atualmente aventura-se como dramaturga para o Coletivo de Teatro Enleio. Seu primeiro livro, O Olho Esquerdo da Lua, foi lançado em novembro de 2021.O poeta e crítico Claudio Daniel considera um dos melhores livros de poeia publicados nos últimos anos.

GEMA Banhar a sede da relva com o beijo primeiro tornar-se pétala, lágrima Brilho início cega, cria o findar da fonte tateia: raízes na boca Viver como se acabasse de nascer Nascer como se acabasse de morrer.

ECO DE LUSCO-FUSCO Escuto a água arranhando o vidro Suas unhas rascunham calmaria e flores Esqueço como a água sente a pele Esqueço como a água rasga a pele Os dias arranham o vidro Esfolam as flores que a água rascunhou Dissipam a face que a noite tingiu O fogo a guerra os mortos, já não os sinto Eles ainda vivem sob os sulcos do asfalto Mas eu, tingida de noite, esqueço. QUANDO A MARESIA COCHICHA VELHAS ANGÚSTIAS Perdoe o medo do mar, meu bem, mas grave o vestígio da saudade, do vinho esquecido no fundo da taça. Crave os dentes sadios naquela coragem ínfima que repousa como alga no âmbar da epiderme, quando a maré enche e lhe umedece o vazio do esôfago. O desejo enrosca sua lã em meus nervos e salpica sobre a pele esporos corpulentos, insaciáveis, como se proferisse cantigas enrijecidas de mel e sal nos meus poros.

Após um longo trabalho garimpando vozes femininas dentro da poesia brasileira, realizamos em dezembro de 2017 o primeiro Sarau das Mulheres Poetas, no auditório do IAMSPE (Hospital do Servidor). Naquela ocasião, reunimos 15 poetas e uma atriz que apresentou a performance-esquizofrênica Sou ela ou serei eu? No segundo Sarau das Mulheres Poetas, realizado em maio de 2018, na Casa das Rosas, resolvemos ultrapassar os limites do efêmero e conferir maior durabilidade e capilaridade ao evento. Esse é o sentido desse livrinho*, de pequena tiragem, mas feito com esmero e cuidado profissional. Espero que ele possa contribuir na direção desse projeto. Ou seja: que o ótimo trabalho que as mulheres poetas estão realizando mereça a atenção e o interesse de leitores e críticos. Foi por essa razão que iniciei esse trabalho de pesquisa em meados de 2011. Após um tremendo desabafo em meu site, criticando esse boicote, resolvi correr atrás das vozes poéticas das mulheres. E para que isso não ficasse circunscrito a mim mesmo, meu site virou o site das mulheres poetas. Nesses 6 anos e meio deixei de publicar qualquer outra coisa. E usei os dois espaços que tenho no facebook para divulgar cada poeta incluída na série. Posso garantir que não me arrependi. Garimpando em diversas regiões do Brasil encontrei muito ouro e muita pedra preciosa. Lamentavelmente, grande parte dessa riqueza estava escondida através do legado remanescente do machismo e da educação patriarcal. Mas é bom que se esclareça: em Portugal, França e Inglaterra ocorreu o mesmo boicote com escritoras do século 19. Hoje essas questões estão sendo revistas e resgatadas. Algo que é bom para todos nós. E posso adiantar que a transformação dessa série, que reúne mais de 400 poetas e mais de 1600 poemas, em livros digitais está concluída.São 3 volumes, todos já prontos e disponíveis gratuitamente aos interessados na plataforma Issuu. O primeiro obteve a assinatura de Maria Valeria Rezende na apresentação.O segundo de Wanda Monteiro e o terceiro de

Mirian de Carvalho.

Vencida essa primeira etapa, agora vou batalhar para que alguma editora transforme esse trabalho em livro impresso.Conto com a colaboração e ajuda de todos.

Belo, importante e imprescindível trabalho. Amador Ribeiro Neto Rubens, uma alegria imensa poder partilhar o vosso trabalho em Portugal Jorge Vicente Rubens, ficou muito bom o livro! Muito útil num universo cultural em que a poesia masculina parece sempre ter mais peso.Tomara que consiga transformá-lo em livro impresso! Marina Colasanti Rubens Jardim, grande divulgador da poesia, acaba de dar mais uma notável contribuição, reunindo no livro As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira muitos dos seus principais nomes. Valdir Rocha Minha homenagem para o seu trabalho pioneiro: As Mulheres Poetas. Por sua contribuição ficará para sempre na História da Literatura Brasileira. Sonia Sales Teu trabalho de pesquisa tem a densidade de um Alfredo Bosi...na hst da Literatura Brasileira, além de poeta exímio.um grande pesquisador com um feeling inovador à produção da poesia feita por mulheres no país. Carmen L. Fossari Este maravilhoso projeto de Rubens Jardim é um grande e especial presente deste poeta tão generoso com a arte, a poesia, a cultura e a literatura - para nós. Um presente para nós, poetas mulheres brasileiras. Um presente para leitores, professores e pesquisadores. E, sem dúvida, para a própria Poesia. É uma honra fazer parte. Rubens merece todos os aplausos, pois, mantendo ativa sua vibrante produção individual, também organiza e coordena muitos projetos sempre voltados à divulgação da literatura, ao congraçamento, ao encontro e aos diálogos. Parabéns, Rubens, por fertilizar de arte o nosso cotidiano e o nosso universo. Beatriz Helena Ramos Amaral Belo trabalho, meu caro poeta! Ronaldo Werneck Gratidão a você por seu trabalho de pesquisa e divulgação da poesia feminina brasileira. Esta edição está primorosa, detalhada! Eliane Accyoli Fonseca Forte e linda antologia “As Mulheres Poetas”... fruto da dedicação, esplêndida pesquisa do querido poeta Rubens Jardim!!! Imperdível leitura! Patrícia Claudine Hoffmann

Essa obra, idealizada, organizada e editada, com primor e abnegação, pelo talentoso escritor Rubens Jardim, mapeia e revela ao leitor a intensa topografia da lavoura poética formada pela fecunda e rica lavra de nossas Poetas. Uma colheita que contribui imensamente para a memória da produção poética na literatura brasileira. Wanda Monteiro Rubens Jardim, que há anos estuda e divulga nossas mulheres poetas, lança um livro - gratuito - sobre elas. Recomendo. Renato Janine Ribeiro Parabéns pelo excelente trabalho. Antonio Carlos Secchin Livro digital organizado por Rubens Jardim faz um rico mapeamento da poesia brasileira contemporânea de autoria feminina. Claudio Daniel Quanta dedicação e determinação. Que honra fazer parte. Que orgulho tenho de você, poeta, que tanto valoriza as mulheres poetas! Uma grande obra. Das mais importantes para a história da poesia neste país! Leila Ferraz Admiro seu trabalho. E como poeta mulher reconheço o bem que fazes para tornar visível o trabalho de uma massa de escritoras que embora de qualidade não têm praticamente nenhum reconhecimento. Solange Padilha O trabalho de Rubens em prol da Poesia é precioso. Somos privilegiados por sermos poetas contemporâneos dele. Betty Vidigal Esta pesquisa de Rubens Jardim é histórica , merece estar dentro e fora dos muros acadêmicos. Ser prestigiada pelo MEC, MInC.... Rosana Banharoli não tenho palavras para expressar o quanto admiro e sou grata por esse seu trabalho, Impecável!! Cássia Janeiro Sua série é incrível, pioneira, necessária! Nina Rizzi Projeto da maior importância para a poesia brasileira escrita por mulheres. Karen Debertolis Trabalho fantástico do Rubens Jardim, descobrindo e coletando poemas escritos por mulheres brasileiras. Achou e divulgou verdadeiras jóias raras Leda Beck

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